A designação de uma palavra, em alguns casos, remete à palavra seguinte por
aproximação significativa e por semelhança fônica, formando um todo em que os elementos
citados se relacionam à ausência da incidência da luz direta do sol. Assim temos um rol de
substantivos cujo campo semântico pertence à obscuridade: “musgo”, por ser uma planta que
se desenvolve à sombra, “veludo”, por ser um tecido cujas cerdas bem tramadas não permitem
a passagem da luz, “fungo”, “vulto”, “profundo”, “escuro”, “bulbo” (quando subterrâneo).
Palavras que indicam fechamento: “casulo”, “caramujo”, “túmulo”, “molusco”,
“muro”, “búzio”, “canudo”, “entulho”, “pedregulho” (quando se refere aos seixos retirados do
fundo dos rios); no campo simbólico do triste, podemos encontrar as palavras “soluço” e
“urubus”; além disso, vocábulos que lembram o sujo, o mórbido e o putrefato: “muco”,
“húmus”, ”furúnculo”, “pus”, “esturro” e, ainda, “defunto” que é uma palavra da morte.
Todos esses campos semânticos já foram arrolados por Alfredo Bosi (2000).
Assim, se nos inteirarmos de todos os possíveis significados dos vocábulos utilizados
por Arnaldo Antunes, é possível perceber que o significado de uma palavra remete ao
significado da outra e, no caso desse poema, todas representam elementos que se modificam
pela ausência do sol, abrindo a possibilidade para um terceiro significado, ou seja, cada
palavra tem uma definição particular e, dentro do contexto, adquire o significado sugerido
pelas outras palavras que a acompanham e se transformam no significado geral do poema, ou
seja, a utilidade do sol, confirmada pela expressão final, “sê o tu do si de tudo”. Nessa
expressão há, também, um jogo entre os vocábulos em que o pronome pessoal “tu”, seguido
da contração “do”, se identifica fônica e morfologicamente com o pronome indefinido “tudo”.
“sem com” (p. 16)
Oito vocábulos, todos com três ou quatro letras, com significado autônomo, mais o
fragmento “igo”, escritos em nove linhas, ocupam o centro da página, de cima até embaixo,
deixando um grande espaço em branco nas laterais, característica da poesia concreta.
A preposição “sem” é lida isoladamente, enquanto a preposição “com” pode ser unida
à palavra seguinte, formando o pronome “com(igo)” e o substantivo “com(ando)”, como a
representar o sentido das próprias palavras, em que “sem” significa ausência e “com”
presença, “sem”, isolamento, “com”, acompanhamento, podendo acoplar-se a uma segunda