GUERRA, M.A.F. UFPB-PPGCR 2009
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Branca Dias foi o símbolo do judaísmo e pode ser considerado em sua forma mais
completa: desordenado e doméstico. A mesma demonstrava através de suas ações o zelo que as
mulheres judias tinham ao cumprimento de manter a família e ao transmitir mesmo que de forma
sigilosa, ao seu povo a tradição religiosa da qual fazia parte. O judaísmo era transformado em
“religião domiciliar”, e Branca Dias é serva fiel desta tradição religiosa, repousa serena no meio
do “fogo religioso” existente no Nordeste colonial.
A personagem real, que a História nos permitiu conhecer, nasceu em Viana da Foz do
Lima, em Portugal, no século XVI, data imprecisa. Em Viana da Foz do Lima, Branca Dias era
cristã, cristã-nova, obrigada a ir à missa ao domingo, comungar três vezes ao ano e confessar nas
datas do natal e da páscoa, era forçada a participar dos rituais católicos para assim permanecer no
convívio social português. Veio para o Brasil junto com seus filhos ao encontro do então esposo
Diogo, e morreu provavelmente entre os anos de 1588 ou 1589 de morte natural, na capitania de
Pernambuco, nas proximidades do Engenho Camaragibe, para onde migraram muitos cristãos-
novos.
Segundo MELLO, (2000, p. 91-2):
[...] Branca Dias fora natural de Viana da foz do Lima (Minho). Ali, pelos
derradeiros anos da década de 1520, casara com Diogo, também cristão-
novo, comerciante grossista de tecidos. Por volta de 1540, não se sabe por
quê, Diogo se estabeleceu em Pernambuco, talvez fugindo a algum
problema com o recém- criado tribunal da Inquisição. Dez anos depois,
obteve do [capitão] donatário Duarte Coelho uma data de terra na várzea
do Capibaribe para erguer um engenho de açúcar. Branca Dias, que ficara
no Reino cuidando dos filhos, foi denunciada como judaizante pela
própria mãe e irmã, ambas já às voltas com o Santo Oficio. Presa, ela
terminou por confessar que seguia fiel às práticas judaicas, mas, tendo
abjurado, foi solta em 1545, sob condição de permanecer em Portugal, o
que na cumpriu, escapando com a filharada ao encontro do marido, a
menos que tenha sido degredada para o Brasil, versão a cujo respeito não
há prova documental, mas que corria no século XVI. Diogo achava-se
entregue às suas lides de proprietário rural quando um levante de índios
veio destruir-lhe o engenho, se é que chegou realmente a montá-lo.
Estabelecia em Olinda na rua dos Palhais, por trás da matriz do Salvador,