147
aflição de sobreviver a ele. Paz às suas cinzas - ela merecia mais do que eu ser feliz.’ O
seu próprio sentimento por ele, como todo o amor quando vira paixão, nunca pode ser
contentado. ‘A diferença de nossas idades,’ ela disse, na morte dele, ‘muitas vezes
incomodava a minha felicidade durante o tempo que o possuí; e agora, se pudesse ser-me
devolvido, eu daria todo o resto dos meus anos de por seis meses; ’e ela rompeu com
auto-repreensão apaixonada, como se sob remorso por não dispensar atenções mais
afetuosas por ele.
Entretanto ela nunca esqueceu o seu respeito filial pela sua mãe. Admirou seus
raros talentos e o caráter puro, apesar da disparidade dos seus gostos. Na vida adulta ela
comentou com Madame Necker de Saussure, ‘Quanto mais eu vivo, mais entendo minha
mãe, e mais meu coração sente a necessidade dela.’ Esta boa autoridade assegura-nos que
‘a doçura extrema do caráter de Mademoiselle Necker sempre se manifestava quando sua
mãe dirigia-a qualquer repreensão. O respeito por ela foi sempre profundo e declarado.
Dotada desde a infância [57] de um raro poder de resposta arguta hábil e vívida, ela
nunca disse uma palavra, até mesmo nas ocasiões mais triviais, que poderiam mostrar-lhe
sob um aspecto desfavorável.’
151
151
Ainda mais tarde ela rejeitava com violenta indignação as reflexões de Madame de Genlis sobre
Madame Necker. Esta dama, a autora da época, havia sido freqüentadora do salon Necker, mas nunca foi
cordial. (Histoire etc. de Duchesse d’Abrantès, tomo i.) Mais tarde ela viu em madame de Staël uma rival
literária cujo grande sucesso ela não podia perdoar, mas perseguiu-a com críticas amargas e insistentes,
especialmente durante sua perseguição por Napoleão. Madame de Staël agüentou tudo pacientemente até as
críticas ciumentas atacarem a memória de sua mãe, quando, diz sua prima, ‘ela mostrou a maior irritação
que eu já havia testemunhado.’ ‘Ela pensa,’ ela exclamou, ‘que porque eu não me defendo, eu não
defenderei minha mãe? Deixe Madame de Genlis atacar minhas palavras, e meu caráter, o tanto quanto a
agrada, mas não minha mãe morta, minha mãe que só tem eu no mundo para defendê-la. Ela preferia meu
pai ao invés de mim, e ela tinha razão, sem dúvida; eu sinto que quanto mais eu tenho o sangue dela em
minhas veias, e enquanto esse sangue correr por elas, eu não permitirei que ela seja ultrajada.’ Ela teria
apelado para o público, se ela não estivesse convencida que qualquer publicação deste tipo poderia ter sido
repelida pelo atual governo da França, e poderia apenas aumentar a perseguição de sua família e amigos. O
ataque de Madame de Genlis a Madame de Staël foi feito no seu De l’Influence des Femmes sur la
Littérature Française, Paris, 1811. Nem Madame Necker, ou qualquer um de seus amigos, algum dia
quiseram que ela pertencesse à classe literária feminina; seu pequeno ensaio sobre Divorce foi sua única
obra publicada enquanto estava viva. Melanges eram apenas fragmentos publicados pelo seu marido depois
da morte dela. Ainda de seu volume de quase quatrocentas páginas, Madame de Genlis dedica mais do que
um oitavo a Madame Necker, duas vezes mais do ela dedica a Madamde de La Fayette, cinco vezes mais
do que a Madame de Sévigné, seis vezes mais do que a Madame Dacier, dezesseis vezes mais do que a
Madame Riccobini. Ela dedica a ela, afinal, mais espaço do que a qualquer outra personagem deste volume,
com exceção de Madame de Maintenon. O livro foi aparentemente publicado pela velha condessa maliciosa
com o propósito de depreciar Madame Necker, e atormentar sua bem sucedida filha. Ela caricaturou a
última no seu romance La Femme Philosophe. Ela tentou anos mais tarde, de acordo com Sainte-Beuve, se
reconcialiar por sua maldade anterior com Athenaïs, ou le Château de Coppet en 1807, um romance que