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Capítulo 1 – Epistemologia da Bioética
ética, portanto, consiste no fato de eu sentir a necessidade de praticar a
mesma reverência pela vida tanto para todos os viventes, quanto para mim
próprio (...) Um homem é realmente ético somente quando obedece ao dever
que lhe é imposto de ajudar toda a vida que ele seja capaz de socorrer e
quando faz alguma coisa para evitar ferir qualquer ser vivo. Ele não pergunta
se esta ou aquela vida é digna de solidariedade enquanto fim em si mesmo,
nem até que ponto é capaz de sentir. Para ele, a vida em si é sagrada.
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(SCHWEITZER, 1923).
Posteriormente, ratificou que ―uma ética que nos obrigue somente a preocupar-nos
com os homens e a sociedade não pode ter esta significação. Somente aquela que é universal e
nos obriga a cuidar de todos os seres nos põe, de verdade, em contato com o Universo e a
vontade nele manifestada‖ (SCHWEITZER, 1964, p.17).
Nesse mesmo sentido
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, dois precursores da Bioética também direcionaram os seus
trabalhos: Fritz Jahr e Aldo Leopold.
Fritz Jahr
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publicou um artigo, em 1927, intitulado Bio-Ethics: A review of the ethical
relationships of humans to animals and plants. Neste, propôs o ―Imperativo Bioético‖, que
estende o imperativo moral kantiano a todas as formas de vida: ―a regra para as nossas ações
pode ser a demanda bio-ética: respeite todos os seres vivos, em princípio, como um fim em si
mesmo e trate-o, se possível, como tal!‖
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(JAHR, 1927, p.4). Ao que se sabe, essa foi a
primeira obra a publicar a palavra Bio-Ética, embora sua contribuição não seja encontrada,
diretamente, na obra de Potter.
De outro modo, Aldo Leopold
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subsidiou enormemente a teoria potteriana
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. Segundo
Potter (1971, p.VI), ele antecipou a extensão da ética à Bioética ao reconhecer a ausência de
uma ética ambiental e ao suscitar a necessidade de ampliação da ética a todos os vivos:
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Tradução livre de: ―True philosophy must commence with the most immediate and comprehensive facts of
consciousness. And this may be formulated as follows: "I am life which wills to live, and I exist in the midst of
life which wills to live" (…) Just as in my own will-to-live there is a yearning for more life (…) the same
obtains in all the will-to-live around me (…) Ethics thus consists in this, that I experience the necessity of
practicing the same reverence for life toward all will-to-live, as toward my own (...) A man is really ethical only
when he obeys the constraint laid on him to help all life which he is able to succor, and when he goes out of his
way to avoid injuring anything living. He does not ask how far this or that life deserves sympathy as valuable in
itself, nor how far it is capable of feeling. To him life as such is sacred‖.
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Segundo Carvalho, Pessini e Campos Junior (2006, p.614), essa ampliação da ética influenciou os trabalhos
posteriores de Fritz Jahr, Aldo Leopold e Potter.
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Fritz Jahr foi um pastor protestante, filósofo e educador em Halle an der Saale (SASS, 2008, p.279).
37
Tradução livre de: ―The rule for our actions may be the bio-ethical demand: Respect every living being on
principle as a goal in itself and treat it, if possible, as such!‖ (SASS, 2008, p. 279).
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Aldo Leopold (1887-1948) nasceu em Burlington , Iowa. Engenheiro florestal graduado na Universidade de
Yale, concluiu seu Mestrado em 1909 e, desde então, passou a trabalhar no serviço florestal dos EUA. Em 1933,
passou a lecionar a disciplina de manejo de caça na Universidade de Wisconsin. No que diz respeito à
conservação da vida selvagem, ganhou notoriedade com o livro Sand County Almanac, publicado após a sua
morte em 1949. O seu texto The Land Ethics foi de grande relevância para a construção da Bioética.
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Potter dedicou o seu livro, Bioethics: bridge to the future (1971), a Aldo Leopold e reafirmou a construção do
legado de Leopold no seu outro livro Global bioethics: building on the Leopold legacy (1988).