perceber que as classes sociais se misturavam, mesmo sendo uma porcentagem pequena, a favor da
população. Eles contavam casos e discutiam como iriam ajudar cada paciente. Você notava a
preocupação com o outro.
Quando, enfim, cheguei em campo com a agente de saúde Marcela, uma jovem de 23 anos,
que fazia quatro anos que era agente, esta me levou à casa da Dona Rosália, a qual era a mais famosa
da região. Batemos na porta e ela logo nos atendeu. Rosália tem 43 anos e reza há 20 anos, Contou-
nos que passou a ser benzedeira quando rezou em uma ferida de uma criança e curou-a. Mostrou o
material distribuído pelo Município no último treinamento, em janeiro de 2008. O material consta de
um livro , confeccionado em tecido com fotos e explicações das doenças, as fichas de acordo com
cada doença e soro caseiro. Dona Rosália é analfabeta e falou que a forma com que foi
confeccionado o livro ficou mais fácil dela entender.
O segundo benzedor visitado foi Emanoel, um senhor de 90 anos que rezava há 40 anos, este
também foi ao clube da AABB, em Sobral, receber o treinamento que o município havia dado.
Emanoel conta que aprendeu a rezar com duas tias, e que ele mais gosta é rezar em crianças. E hoje,
um neto e dois bisnetos dele também rezam.
Nesse mesmo bairro, Terrenos Novos, pude encontrar uma benzedeira que fugiu do esquema
que havia previsto para este trabalho. Conhecida como dona Tereza, 83 anos, católica desde seu
nascimento, reza há 42 anos, e há um ano se converteu para a igreja Batista. A conversão e o
batismo nas águas não baniram suas rezas. Dona Tereza conta ressentida que o pastor não gostava
que ela continuasse rezando, mas mesmo assim ela reza. “o pastor não quer que eu reze, mas não
agüento vê uma pessoa precisando de mim e eu não ajudar, tenho que rezar” . Tereza havia dito que
tinha aceitado Jesus, mas o pastor teria que entender que ela não podia deixar de rezar. A reza
executada para cada tipo de queixa já estava impregnada na sua cultura, era o que ela possuía de
melhor em si. Quando esta se deparou com o ato de tolher suas rezas e orações, sentiu – se mutilada,
tornando-se resistente a opinião da igreja.
Na sexta feira fui ao bairro Sumaré. Pude encontrar um benzedor conhecido como senhor
José, 40 anos, casado, não trabalha e fica em casa esperando as pessoas para rezar. Aos 20 anos
aprendeu com sua avó as orações e até hoje reza para todas as queixas, “espinhela caída”, “mal
olhado” entre outras. Hoje, tem dois sobrinhos que estão aprendendo com ele e afirma que toda vez
que vai fazer uma oração pede licença a Deus para usar seu nome para curar as pessoas.
Nesse mesmo dia, conversei com dona Maria do Carmo, 60 anos. Reza há 30 anos. Ela diz
que começou a rezar dentro de casa, para os filhos e depois para os netos, e foi percebendo mudança.
Logo depois que o tempo foi passando, as pessoas da rua pediam para ela rezar e assim ficou
conhecida na região.