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músicas e danças seus. Acho que a paisagem araraquarense vai fazer
sucesso, pois está funcionando maravilhosamente nos testes. O grupo do
TECA todo participa, com desempenhos equilibrados, fazendo tipos roceiros.
Inezita Barroso, que ouviu as músicas, quis levá-las para São Paulo. Já
temos propostas para lançamento em discos, antes da apresentação do
filme.
- No cinema, que posição você toma como diretor?
- Subjetivamente acho que Rosselini está com a razão. Bom mesmo é o
realismo psicológico, em que pretendo me aprofundar com todo o grupo.
Formalmente, acho que os italianos também estão com a razão e por isso
formo ao lado dos neo-realistas.
- Tecnicamente com quem você conta?
- Com um grupo da terra capitaneado por um profissional de singular
competência, o polonês Edward Freund, que virá trabalhar conosco
principalmente porque reconheceu as qualidades do grupo. O som sairá
daqui mesmo. Gostaria imensamente de apresentar o Coral Araraquarense,
que reputo excelente. E vou lançar um artista plástico da terra que acho um
grande furo: Mestre Dito, bem maior que Mestre Vitalino. Depois eu falo mais
a respeito. O filme mostra a terra, que neste caso é araraquarense, e o céu,
que, neste caso, é caboclo, com anjos de asas de papel crepom, cantando o
Tutu Marambá. O tema, de tão brasileiro, tem empolgado os intelectuais. Há
previsões de que, se conseguirmos nível artístico e técnico, agradaremos
em cheio aos estrangeiros, com nossa cor local. Pessoalmente acho que a
linguagem do sentimento é universal. Em qualquer parte ama-se, odeia-se,
morre-se e nasce-se. E disso é feito o nosso filme. Temos uma linda lição de
renúncia, trabalho e ternura que todos entenderão. Quase metade do filme
será feita em exterior. A família Lupo veio ao nosso encontro e cedeu-nos
suas terras, seus recursos, seu apoio e sua bondade, com simplicidade e
calor. Precisávamos de tudo isso. Os locais são belíssimos. Estamos
gratíssimos. Acho que vocês, que gostaram de nós no teatro, também nos
aplaudirão. Precisamos de todos para vencermos. Não teríamos conseguido
o que conseguimos com o TECA, não fora a generosidade geral. Agora
então é que precisamos mais ainda. Não estaremos nos dirigindo a grupos
isolados, como no teatro. Todo o Brasil vai nos ver, nos julgar. Dizer que, ou
somos sangue novo e esperança pátria ou fabricantes noviços de abacaxis,
desta vez sediados na província. Temos trabalhado muito, trabalhado até a
exaustão. E estamos só no começo da labuta. À prefeitura de Araraquara
não vamos pedir o que não nos pode dar, mas iremos pedir. E estamos
certos de receber de “seu” Rômulo (Lupo, prefeito) e dos nossos bons
amigos da Câmara o apoio de que tanto necessitamos nesta grande
aventura.
- E o capital, Wallace, de onde veio?
- De um grupo que acredita no nosso talento e acha que o moço precisa de
plataforma para construir o Brasil de amanhã. E nesse grupo, um homem
singular, o Sr. Savério Ianelli, o mais entusiasta de todos e que, sem
conhecer, como o afirma sorrindo confiante, coisa nenhuma de cinema, diz
que o talento, o idealismo e o valor que temos demonstrado nunca
passariam sem apoio numa cidade civilizada, a menos que tivesse morrido o
último coração reconhecido de Araraquara. Na realidade temos feito um
pouquinho só. Mas se Deus ajudar, faremos muito ainda pela nossa
sociedade e o mundo em que vivemos. Pessoalmente, faço cinema pelo
mesmo motivo porque fiz teatro: porque o mundo está tão pobre, triste e
desesperançoso. A gente tem que oferecer um pouquinho de beleza ou de
amor ou de esperança. Dentro de alguns dias daremos a primeira rodada de