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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
Sílvia Maria Pereira Soares
BANCO DE SEMENTES, CHUVA DE SEMENTES E O USO DE TÉCNICAS DE
NUCLEAÇÃO NA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE UMA CLAREIRA
DOMINADA POR Melinis minutiflora P. BEAUV.
Juiz de Fora
2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA
SÍLVIA MARIA PEREIRA SOARES
BANCO DE SEMENTES, CHUVA DE SEMENTES E O USO DE TÉCNICAS DE
NUCLEAÇÃO NA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE UMA CLAREIRA
DOMINADA POR Melinis minutiflora P. BEAUV.
Dissertação apresentada ao Programa de
s-graduação em Ecologia da
Universidade Federal de Juiz de Fora, como
parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Mestre em Ecologia
Aplicada à Conservação e Manejo de
Recursos Naturais.
Orientadora: Profª. Drª. Patcia Carneiro Lobo Faria
Co-orientador: Prof. Dr. Sebastião Venâncio Martins
Juiz de Fora
2009
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Soares, Sílvia Maria Pereira
Banco de sementes, chuva de sementes e o uso de técnicas de
nucleação na restauração ecológica de uma clareira dominada por
Melinis minutiflora P. Beauv. / Sílvia Maria Pereira Soares. -- 2009.
109 f. :il.
Dissertação (Mestrado em Ecologia Aplicada à Conservação e
Manejo de Recursos Naturais)-Universidade Federal de Juiz de Fora,
Juiz de Fora, 2009.
1. Capim gordura. 2. Regeneração (Femenos biológicos). 3.
Plantas nativas. I. Titulo
CDU 633.2
SÍLVIA MARIA PEREIRA SOARES
BANCO DE SEMENTES, CHUVA DE SEMENTES E O USO DE TÉCNICAS DE
NUCLEAÇÃO NA RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA DE UMA CLAREIRA
DOMINADA POR Melinis minutiflora P. BEAUV.
Dissertação apresentada ao Programa de
s-graduação em Ecologia da
Universidade Federal de Juiz de Fora, como
parte dos requisitos necessários para a
obtenção do grau de Mestre em Ecologia
Aplicada à Conservação e Manejo de
Recursos Naturais.
Aprovado em 28 de abril de 2009.
Banca Examinadora
Orientadora: Profª. Drª. Patcia Carneiro Lobo Faria
Universidade Federal de Juiz de Fora
Co-orientador: Prof. Dr. Sebastião Venâncio Martins
Universidade Federal de Viçosa
Profª. Drª. Vera Lex Engel
Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho” /Botucatu
Juiz de Fora
Abril de 2009
Dedico estes escritos à minha querida família: Pai,
Mãe, Irmãos, Virgínia, Tia Lúcia, Tia Rosane,
que me apoiaram incondicionalmente em todos os
momentos.
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que me ajudaram na realização
deste trabalho de forma direta ou indireta, em especial:
À Prof
a
Patcia Carneiro Lobo Faria que, com tanta dedicação e paciência, me orientou
ao longo de todo o trabalho e se apresentou como uma amiga.
Ao Prof. Sebastião Venâncio Martins pelo apoio e auxílio no desenvolvimento desse
projeto.
À Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, por conceder a licença para a realização da
pesquisa na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida.
À Prof. Juliane Floriano L. Santos pelo auxílio nas análises estatísticas e orientação no
controle das formigas cortadeiras.
Ao amigo Paulo Garcia, pelos esclarecimentos, auxílio no trabalho de campo e na
taxonomia.
Aos amigos Leandro Elias, Alba Cordeiro, JoHugo Ribeiro e Talita Aperibensi pelo
auxílio nos trabalhos de campo e companheirismo.
À Prof. Fátima R. G. Salimena e a todos do Herbário CESJ pela ajuda na identificação
das plantas.
Ao João Paulo C. Araújo pela paciência e elaboração dos mapas.
Aos professores do Departamento de Botânica/UFJF pelo apoio.
Ao Programa de s-graduação em Ecologia pelo auxílio durante todo o
desenvolvimento desse trabalho.
À Universidade Federal de Juiz de Fora pela bolsa de monitoria durante o primeiro ano
e à CAPES pela concessão da bolsa de estudo durante o segundo ano.
Ao Sr. Miguel, vigia da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida.
Aos funcionários da Casa de Vegetação.
Ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro e à Arcelor Mittal Brasil Aços Longos pela
doação das mudas.
À querida prima Tati pelo auxílio na aquisição de artigos e a hospedagem durante
minhas idas à Viçosa.
À amiga Camila Reis pela correção do resumo em inglês.
RESUMO
Melinis minutiflora (Poaceae) é uma espécie de origem africana que tem causado
grandes problemas em ambientes naturais no Brasil. Ela é uma espécie exótica invasora
muito agressiva e de difícil controle. Em Juiz de Fora, MG, ela domina uma área de
clareira antrópica no interior da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida. Este
trabalho teve como objetivos avaliar o potencial de regeneração dessa clareira, através
da caracterização do banco de sementes e da chuva de sementes e avaliar o potencial de
diferentes métodos de restauração ecológica baseados na nucleação. O banco de
sementes foi quantificado em 12 amostras sob árvores (SP) e 12 em locais abertos, sob
capim (SC), com dimensões de 25x25x3cm. A quantificação das sementes foi feita
através da germinação, acompanhada por 4 meses em casa de vegetação. No interior da
clareira foram capinados 10 transectos de 2,5x15m, onde foram instaladas 10 parcelas
com os seguintes tratamentos: controle (sem capina), capina (regeneração autóctone),
capina e transposição de solo (regeneração alóctone), monitoramento da chuva de
sementes (coletores de 1m²) e plantio de mudas, todos monitorados durante 12 meses.
As amostras para a transposição do solo foram coletadas sob a vegetação do entorno da
clareira, em 10 parcelas de 1,0x0,5x0,1m aleatoriamente alocadas, essas foram
espalhadas em 10 parcelas de 1,0x1,0m. Foram plantadas mudas de Schinus
therebinthifolius, Trema micrantha e Virola bicuhyba em 3 diferentes tratamentos, com
5 repetições, compondo parcelas com apenas uma muda (P1); parcelas com 3 mudas
da mesma espécie (P2) e parcelas com 3 mudas, sendo uma de cada espécie (P3). O
banco de sementes apresentou uma densidade dia de 12.646,67 ± 9.428,06
sementes/m
2
, sendo que 93% eram da família Poaceae. Não houve diferença
significativa na densidade do banco de sementes entre amostras oriundas de SP e SC.
SP apresentou menor diversidade (H’ = 0,22) que SC (H’ = 0,39). Em ambas as
condições houve o predomínio de espécies herbáceas. Na chuva de sementes foram
amostrados 140.701 diásporos com predominância de espécies anemocóricas e
herbáceas, sendo que 93% dos diásporos pertencem a M. minutiflora. Na regeneração
autóctone foi amostrada, no último mês de monitoramento, uma densidade de 57,2 ±
52,4 plantas/m², foram identificadas 39 espécies, com a predominância de herbáceas,
sendo que as mais abundantes, depois de M. minutiflora, foram Borreria alata, Sida
glaziovii e Crotalaria pterocaula. Na transposição do solo, a densidade média
amostrada no último mês de monitoramento foi de 46,7 ± 41,8 plantas/m², sendo
reconhecidas 66 espécies, com a predomincia de herbáceas, e poucos representantes
de espécies arbóreas como Apuleia leiocarpa, Cecropia sp, Croton urucurana, e Trema
micrantha. Mudas de S. therebinthifolius e T. micrantha apresentaram um bom
crescimento em altura e diâmetro, que não diferiram estatisticamente entre P1, P2 e P3.
A taxa de mortalidade foi nula para S. therebinthifolius, de 20% para T. micrantha, em
especial no tratamento P2, e de 88% para V. bicuhyba. Todos os tratamentos, com
exceção do plantio de mudas, apresentaram a dominância de espécies herbáceas e a
forte presença de M. minutiflora, mostrando que o manejo do capim-gordura é
necessário para acelerar a regeneração na clareira.
Palavras-chave: capim-gordura, regeneração natural, plantas nativas.
ABSTRACT
Melinis minutiflora (Poaceae) is an African species that has been a big problem in
natural environments in Brazil. It is an invader exotic species that is very aggressive and
its control is difficult. In Juiz de Fora, MG, it dominates an anthropic gap area in the
Biological Reserve Santa Cândida. The objectives of this work were to evaluate the
natural regeneration by characterization of the seed bank and seed rain of this gap and
evaluate the potential of different restoration ecology methods based on nucleation. The
seed bank was quantified in 12 samples under trees (SP) and 12 ones in opened places,
under grass (SC), with dimensions of 25x25x3cm. The seeds quantification was made
through germination, monitored during 4 months in green house. Inside of the gap were
weeded 10 transects of 2,5x15m, where were installed 10 parcels with the following
treatments: control (without weeding), weeding (autochthonous regeneration), seed rain
monitoring (traps of 1m²) and the planting, all monitored during 12 months. The soil
transposition samples were collected under around vegetation of the gap in 10 parcels of
1,0x0,5x0,1m allocated randomly, these were spread in 10 parcels of 1,0x1,0m. Schinus
therebinthifolius, Trema micrantha and Virola bicuhyba plants were planted in 3
different treatments with 5 repetitions compounding parcels with only one plant (P1);
parcels with 3 plants of the same species (P2) and parcels with 3 plants with one of each
species (P3). The seed bank showed a density of 12.646,67 ± 9.428,06 seeds/m
2
that
93% of the plants were of Poaceae family. There was not significant difference in seed
bank density of SP and SC samples. SP presented less diversity (H’ = 0,22) than SC
(H’ = 0,39). In both conditions there was herbaceous species predominance. In the seed
rain were sampled 140.701 seeds with anemochorous and herbaceous predominance,
being that 93% of the seeds belong to M. minutiflora. In the autochthonous regeneration
was sampled, in the last monitored month, a density of 57,2 ± 52,4 plants/m², were
identified 39 species with herbaceous predominance, being that the most abundant,
after M. minutiflora, were Borreria alata, Sida glaziovii and Crotalaria pterocaula. In
the soil transposition, the last monitored month density was 46,7 ± 41,8 plants/m², being
recognized 66 species with herbaceous predominance and a few representative tree
species like Apuleia leiocarpa, Cecropia sp, Croton urucurana, and Trema micrantha.
S. therebinthifolius and T. micrantha plants showed a good height and diameter growth
that had not a statistical difference between P1, P2 and P3. The mortality rate was null
to S. therebinthifolius, of 20% to T. micrantha, especially in the P2 treatment, and of
88% to V. bicuhyba. All treatments, except planting, presented the herbaceous species
domain and the strong presence of M. minutiflora, showing that the molasses grass
management is necessary to accelerate the gap regeneration.
Keywords: molasses grass, natural regeneration, native plants.
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................ 10
2 - REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................... 12
2.1 - ESPÉCIES INVASORAS .............................................................................. 12
2.2 - BANCO DE SEMENTES .............................................................................. 15
2.3 - CHUVA DE SEMENTES.............................................................................. 18
2.4 - RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA .................................................................. 20
3 - ÁREA DE ESTUDOS ..................................................................................... 24
4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 31
CAPÍTULO 1 - BANCO DE SEMENTES DE UM TRECHO DE
CLAREIRA DOMINADA POR Melinis minutiflora (Poaceae) P. Beauv.
LOCALIZADA NA RESERVA BIOLÓGICA MUNICIPAL SANTA
CÂNDIDA, MG. ...................................................................................................
37
1.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 37
1.2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................... 39
1.3 RESULTADOS ............................................................................................. 43
1.4 DISCUSSÃO ................................................................................................. 47
1.5 CONCLUSÃO ............................................................................................... 51
1.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 51
CAPÍTULO 2 - CHUVA DE SEMENTES EM UMA CLAREIRA
DOMINADA POR Melinis minutiflora (POACEAE) P. BEAUV.
LOCALIZADA NA RESERVA BIOLÓGICA MUNICIPAL SANTA
CÂNDIDA, MG. ...................................................................................................
55
2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 55
2.2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................... 57
2.3 RESULTADOS ............................................................................................. 60
2.4 DISCUSSÃO ................................................................................................. 66
2.5 - CONCLUSÃO ............................................................................................... 69
2.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 70
CAPÍTULO 3 - REGENERAÇÃO NATURAL, TRANSPOSIÇÃO DO
BANCO DE SEMENTES E PLANTIO DE MUDAS, INSTALADOS EM
PEQUENOS NÚCLEOS, EM UMA CLAREIRA DOMINADA POR
Melinis minutiflora P. BEAUV. NA RESERVA BIOLÓGICA MUNICIPAL
SANTA CÂNDIDA, MG. ..................................................................................... 73
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 73
3.2 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................... 76
3.3 RESULTADOS ............................................................................................. 82
3.4 DISCUSSÃO ................................................................................................. 92
3.5 - CONCLUSÃO ............................................................................................... 101
3.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 102
5- DISCUSSÃO GERAL ..................................................................................... 106
6 - CONCLUSÕES GERAIS ............................................................................... 108
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 108
10
1 - INTRODUÇÃO GERAL
Desde a época da colonização, os recursos das florestas da Mata
Atlântica foram explorados intensivamente, incluindo os ciclos de exploração do pau-
brasil e posterior retirada de sua vegetação para o cultivo da cana-de-açúcar, do café, do
cacau e da pecuária. Mais recentemente, a cultura de soja e a expansão de
reflorestamentos com eucaliptos e pinus vêm sendo as causas da perda da
biodiversidade (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2005).
Estas atividades reduziram drasticamente a área de cobertura vegetal da
Mata Atlântica, que estava restrita a apenas 7,3%, no ano de 1998 (CAPOBIANCO,
1998). Além disso, atividades como o corte ilegal de madeira, a retirada ilegal de
plantas e animais, a introdução de espécies exóticas e a expansão urbana, prejudicam a
estabilidade dos fragmentos remanescentes (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2005).
De acordo com CAPOBIANCO (1998), entre os anos de 1985 a 1995,
foram desmatados cerca de 11% da Mata Atlântica, sendo que Minas Gerais foi o
segundo estado que apresentou maior desmatamento, com 88 mil hectares, em cinco
anos. O autor também afirmou que, segundo análises de cartas, a cidade de Juiz de Fora
teve um impressionante índice de desflorestamento entre 1990 e 1995.
O ritmo acelerado do desmatamento na Mata Atlântica (CAPOBIANCO,
1998; GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2005), assim como a sua alta diversidade
biológica (MYERS et al., 2000; GALINDO-LEAL &MARA, 2005; PINTO &
BRITO, 2005; DRUMMOND et al., 2005), a colocam entre os 25 biomas do mundo de
maior prioridade para a conservação (MYERS et al., 2000).
Segundo a IUCN (1994), uma das mais importantes ações para a
conservação da biodiversidade é a criação de áreas protegidas. Nos últimos 40 anos
11
houve um aumento considerável de criação de Unidades de Conservação (UCs) na Mata
Atlântica (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2005).
Entretanto, ainda é difícil avaliar a proteção real da biodiversidade nas
UCs, pois muitas delas não possuem o aparato básico necessário para manter sua
biodiversidade, como planos de manejo, inventário de plantas e animais, fiscalização e
monitoramento (GALINDO-LEAL & CÂMARA, 2005).
Além da ausência dos planejamentos e das ações de gestão nas UCs,
outro problema enfrentado em algumas UCs é a presença de espécies exóticas com o
potencial invasor (PIVELLO et al., 1999; MARTINS et al. 2004; ZILLER, 2005;
CATHARINO & SILVA 2007; MORAES & PEREIRA, 2007). As espécies exóticas
invasoras podem alterar os processos ecológicos naturais, comprometendo o ciclo de
vida de espécies nativas a ponto de substituí-las, tornando-se dominantes (PITELLI,
2007).
Segundo ZILLER (2005) as pesquisas com espécies invasoras no Brasil
começaram a partir de 2003. A autora afirmou que a falta de um levantamento nacional
sobre as espécies exóticas invasoras e a falta de conhecimento sobre estas espécies
dificultou até hoje os esforços de conservação e a efetividade de manejo em Unidades
de Conservação.
A vegetação da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida (RBMSC),
Juiz de Fora/MG, apresenta algumas espécies exóticas, dentre elas Melinis minutiflora
P. Beauv. (capim-gordura), que é considerada uma espécie invasora. Esta espécie
domina uma área de clareira, com aproximadamente 1 hectare, no interior da RBMSC,
e, provavelmente, vem impedindo a regeneração da vegetação nativa nessa área.
Diante deste contexto, o presente trabalho teve como objetivos avaliar o
potencial de regeneração dessa clareira, dominada por M. minutiflora, através da
12
caracterização do banco e da chuva de sementes, assim como avaliar o potencial de
diferentes métodos de restauração ecológica baseados na nucleação.
2 - REVISÃO DA LITERATURA
2.1 - ESPÉCIES INVASORAS
Ao longo dos tempos, durante o processo evolutivo, sempre houve
migração de espécies de um ambiente para outro. No novo ambiente, algumas espécies
imigrantes são eliminadas pelas populações autóctones, enquanto outras sobreviveram e
se tornaram parte integrante da biodiversidade local. Com a ação do homem, a
circulação das espécies entre os ambientes aumentou consideravelmente (PITELLI,
2007) e, hoje, as espécies exóticas se tornaram uma das grandes preocupações dos
pesquisadores, pois são consideradas a segunda maior causa das extinções de espécies
em todo o mundo, estando atrás, apenas, da fragmentação de hábitats (CORADIN,
2006).
As espécies invasoras são organismos introduzidos em um novo
ambiente que, por apresentarem a capacidade de se disseminar naturalmente, com o
tempo invadem o ambiente produzindo uma alteração significativa na sua composição,
estrutura ou nos processos do ecossistema (PITELLI, 2007), impedindo a regeneração
de espécies nativas (ESPÍNDOLA et al., 2005). Assim, nem sempre uma espécie
exótica é invasora, mas espécies invasoras são exóticas ao sistema que foi invadido
(SCARANO, 2006).
O sucesso das espécies invasoras no novo hábitat se deve ao fato de elas
o possuírem relações evolutivas com a biota natural, com isso apresentam baixos
níveis de interações interespecíficas (WILLIANS & MARTINEZ, 2000; PITELLI,
13
2007). Portanto, em algumas situações, as espécies exóticas não encontram inimigos
naturais, o que facilita a sua dispersão e seu estabelecimento (PITELLI, 2007).
Segundo LORENZI (2008) algumas plantas exóticas invasoras são
consideradas pioneiras e possuem grande agressividade competitiva, uma vez que
possuem maior capacidade de aproveitamento dos recursos vitais disponíveis, como luz,
água, nutrientes e gás carbônico. Além disso, elas produzem muitas sementes com
grande longevidade e facilidade de dispersão.
Em todo o mundo há problemas com espécies invasoras. Nos Estados
Unidos, por exemplo, a espécie exótica joá-bravo (Solanum viarum Dunal) constitui
hoje um grande problema em áreas de proteção ambiental, beiras de estradas, pastagens
e em algumas culturas agrícolas (PITELLI, 2007).
No Brasil, as espécies invasoras também constituem um sério problema.
Em um levantamento realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2003, para a
elaboração do Primeiro Informe Nacional Sobre Espécies Exóticas Invasoras”, foram
catalogadas um total de 543 espécies exóticas invasoras, incluindo fauna, flora e
microorganismos. Desse total de espécies, 176 são de organismos que afetam o
ambiente terrestre, 66 afetam o ambiente marinho, 49 afetam águas continentais, 155
afetam os sistemas de produção da agricultura, pecuária e silvicultura, e 97 afetam a
saúde humana (CORADIN, 2006).
Em se tratando da flora, existem, atualmente no Brasil, gramíneas
africanas que causam grandes problemas para vegetação nativa, como por exemplo, as
espécies Andropogon gayanus Kunt., A. leucostachyus Benth., A. selloanus (Hack.)
Hack Brachiaria decumbens Stapf e Melinis minutiflora, dentre outras, que ameaçam a
integridade dos ecossistemas (FILGUEIRAS, 1990).
14
Como exemplo do problema causado por gramíneas invasoras, podemos
citar a Reserva Biológica Poço das Antas. A reserva possui cerca de 40% de sua área
coberta por vegetação gramiide, formada em grande parte por gramíneas exóticas. A
presença dessas espécies dificulta a regeneração da floresta e facilita a ocorrência de
incêndios (MORAES & PEREIRA, 2007).
A espécie Melinis minutiflora (capim-gordura), segundo o MINISTÉRIO
DA AGRICULTURA, citado por SILVA & HARIDASAN (2007), foi introduzida no
Brasil de forma acidental pelas navegações que faziam o tráfico negreiro no período
colonial e, hoje é utilizada em pastagens, pois produz uma forragem apreciada pelo
gado, principalmente o leiteiro (FILGUEIRAS, 1990).
O capim-gordura é uma planta extremamente agressiva (FILGUEIRAS,
1990), apresenta metabolismo fotossintético do tipo C
4
, se propaga através de rizomas
(SILVA & HARIDASAN, 2007), possui uma intensa produção de sementes com alto
potencial de germinação, é resistente ao fogo, porém não tolera sombreamento
(FILGUEIRAS, 1990). Em um trabalho feito no Parque Nacional de Brasília,
MARTINS et al (2004) constataram que o fogo o promove um controle eficaz do
capim-gordura.
PIVELLO et al. (1999), em um trabalho realizado na Reserva Biológica
do Cerrado das Emas, avaliaram a abundância e a distribuição de gramíneas nativas e
exóticas e constataram que M. minutiflora apresentou a segunda maior freqüência
absoluta e o maior índice de cobertura, estando distribuída em toda a reserva e,
juntamente com a espécie nativa Echinolaena inflexa (Poir.) Chase (Poaceae),
apresentou a maior dominância.
O impacto da presença de M. minutiflora dificultando a regeneração
natural em diferentes biomas tem sido alertado tanto para áreas de Cerrado
15
(HOFFMANN, et al. 2004; MARTINS et al., 2004; FREITAS & PIVELLO, 2005)
como de Mata Atlântica (CATHARINO & SILVA, 2007).
Estudos voltados para o controle biológico de espécies invasoras ainda
são escassos na literatura. Com isso, se faz necessária a continuidade de estudos que
visem o conhecimento sobre a biologia das espécies com potencial invasor, visando
estabelecer formas de manejo para possibilitar a manutenção e/ou o estabelecimento das
espécies nativas (FREITAS & PIVELLO, 2005; CORADIN, 2006).
Apesar da falta de estudos de controle biológico para espécies invasoras,
formas de manejo simples, como a retirada mecânica de algumas espécies, dependendo
das características da área degradada podem se mostrar eficientes no controle da espécie
invasora e permitir que espécies nativas retomem o ambiente natural de forma gradativa
(FREITAS & PIVELLO, 2005; CORADIN, 2006).
Um exemplo de manejo de espécie invasora que vem se mostrando
satisfatório é o do Parque Estadual do Ibitipoca MG, onde M. minutiflora se encontra
presente em ambientes campestres e em alguns locais com potencial de vir a ser uma
floresta. Segundo alguns depoimentos, o capim-gordura vem reduzindo ao longo do
tempo, devido à ação de seu controle realizada por funcionários do parque e também
pela retomada de espécies nativas graças à estabilidade ambiental local, após a retirada
do gado da região. Com isso, M. minutiflora não representa mais uma ameaça para a
flora nativa (HERRMANN, 2006).
2.2 - BANCO DE SEMENTES
O destino das sementes após sua dispersão é incerto. Algumas podem
germinar assim que chegam ao solo, outras podem ser perdidas através de ataques por
patógenos e predadores, sofrerem algum tipo de dano sico ou, ainda, podem entrar em
16
estágio de dormência e ficar armazenadas no solo, formando o banco de sementes.
Dependendo da espécie ou da condição do ambiente, as sementes estocadas no solo
podem ficar nessa condição por alguns dias ou até anos (HARPER, 1977).
O banco de sementes pode consistir em um depósito de elevada
densidade de sementes que representa um potencial de regeneração após distúrbios que
levam à abertura de clareiras, situação que cria condições favoráveis para a germinação
de algumas espécies (FENNER, 1985). Além disso, o banco de sementes representa
uma carga getica em potencial e fonte de diversidade para as comunidades vegetais
ao longo do tempo (FREITAS & PIVELLO, 2005).
Segundo FENNER (1985) e GARWOOD (1989) as espécies pioneiras
são dominantes no banco de sementes, pois possuem capacidade de entrar em
dormência sob condições desfavoráveis à germinação, podendo permanecer viáveis no
solo por longo período. Em um trabalho realizado com o banco de sementes de espécies
do gênero Cecropia, HOLTHUIZEN & BOERBOOM (1982) verificaram que as
sementes das espécies de Cecropia obtusa Trécul e C. sciadophylla Mart. , consideradas
pioneiras, possuem grande longevidade, podendo ficar estocadas no solo por vários
anos.
As sementes de espécies de estádios mais avançados da sucessão natural,
geralmente contêm maior teor de umidade e são grandes, o que pode dificultar sua
incorporação ao solo, deixando-as mais expostas ao ataque de predadores, resultando na
diminuição da sua longevidade (HOPKINS & GRAHAN, 1983). Além disso, elas
possuem uma incapacidade de entrar em dormência, o que faz com que haja uma baixa
representatividade dessas sementes no banco (VÁZQUEZ-YANES & OROZCO-
SEGOVIA, 1993).
17
O destino das sementes que ficam armazenadas no solo também é
variado. Algumas podem sofrer predação ou ataque de patógenos, perder a viabilidade
ou podem germinar, possibilidades que significam a saída do banco de sementes. Esses
mecanismos que promovem a saída das sementes assim como a entrada dessas no solo
constituem a dinâmica do banco de sementes (HARPER, 1977).
A dinâmica de entrada e saída de sementes afeta continuamente a
densidade do banco (FORNARA & DALLING, 2005), que varia, também, de acordo
com a comunidade vegetal. A densidade do banco de sementes tende a ser menor em
florestas maduras do que nas secundárias (GARWOOD, 1989; ARAUJO, et al 2001).
O estudo do banco de sementes em um fragmento florestal em
Viçosa/MG revelou que o número de sementes aumenta no sentido floresta secundária,
capoeira e pasto (LEAL FILHO 1992). Segundo UHL et al. (1981), essa diferença na
densidade entre formações vegetais, ocorre devido a vários fatores, como uma maior
densidade de espécies pioneiras em florestas jovens, assim como a chegada de sementes
pertencentes a pastagens próximas, dentre outros. Além da variação da densidade do
banco, ocorre também a variação na composição de espécies ao longo do espaço e do
tempo, de acordo com a dinâmica da comunidade vegetal (HARPER, 1977; FENNER,
1985).
Conhecimentos sobre a riqueza e a abunncia de espécies presentes no
banco de sementes podem fornecer informações sobre o potencial de regeneração de
uma comunidade (WILLIAMS-LINERA, 1993) e se “constitui em um importante
elemento para a conservação, a recuperação e o manejo de áreas naturais” (FREITAS &
PIVELLO, 2005). Sendo assim, diversos autores têm destacado a sua utilização através
da transposição do solo, como forma de manejo sustentável para a restauração de áreas
18
degradadas (RODRIGUES & GANGOLFI, 2001; REIS et al., 2003; SOUZA et al.,
2006; GANDOLFI & RODRIGUES, 2007; MARTINS, 2007).
2.3 - CHUVA DE SEMENTES
A produção de sementes é importante para a manutenção da diversidade
genética de uma população, pois é através do movimento de pólen entre indivíduos e da
dispersão de sementes que ocorre o movimento de genes dentro e entre populações
(WILSON, 1992). Com isso, o padrão de dispersão de sementes contribui para a
estrutura genética da populão, aumentando a sua diversidade genética, o que faz com
que o potencial de respostas à selão natural da população também aumente
(HAMRICK & LOVELESS, 1986).
A dispersão de sementes a partir da planta e pode ocorrer de forma
autocórica, processo no qual não depende de agentes externos, onde a liberação da
semente ocorre por balística (explosão do fruto) ou pela queda do fruto através da força
da gravidade (barocoria), ou através de agentes dispersores como o vento, a água e os
animais (JOLY, 1970). Assim, os frutos e as sementes possuem características
morfológicas que os permitem serem dispersos por agentes específicos. Há, como
exemplo, diásporos alados ou com plumas que possuem como agente dispersor o vento;
os diásporos dispersos por animais podem possuir ganchos, tricomas ou coberturas
pegajosas que grudam no corpo do animal, e os que possuem cores vistosas, cheiro
forte, polpa carnosa ou arilo como atrativo para o animal que irá se alimentar deles
(ALMEIDA-CORTEZ, 2004).
Segundo ELLNER & SHIMIDA (1981), citados por FENNER (1985), os
rios tipos de dispersão podem ter evoluído como resultado da seleção natural para as
19
características que aumentam as chances das sementes ficarem melhor alocadas no
ambiente, o que garante um maior sucesso no seu estabelecimento.
Nas florestas tropicais, os padrões sazonais de frutificação definem a
variação temporal no fluxo dos propágulos para uma determinada área durante o ano e
entre diferentes anos (FOSTER, 1985 apud GROMBONE-GUARATINI &
RODRIGUES, 2002). Outros fatores bióticos e abióticos também podem influenciar a
dispersão das sementes, tanto no tempo como no espaço (AUGSPURGER, 1983). Um
exemplo da influência desses fatores é o processo de dispersão diferenciado entre
clareiras e áreas de dossel mais fechado, pois as condições existentes em cada um
desses ambientes podem dificultar ou facilitar a ação de agentes dispersores (SCHUPP
et al., 1989).
Nas clareiras, por exemplo, espera-se a dispersão de uma menor
proporção de espécies zoocóricas, uma vez que a maioria dos animais dispersores evita
esses locais, tanto pela baixa oferta de recursos para os frugívoros, quanto por serem
locais onde os animais ficam mais expostos a predadores (SCHUPP, et al. 1989).
GORCHOV et al. (1993), em um trabalho de dispersão de sementes
realizado na Amazônia Peruana, puderam comprovar a diferença na densidade das
sementes dispersas entre clareira e dossel fechado. Seus resultados mostraram que no
interior da floresta a densidade de sementes dispersas é maior que a densidade dentro de
clareira, em especial para as ornitocóricas. Na dispersão dentro da clareira, ocorreu um
número maior de sementes próximo à borda da floresta, ou seja, à medida que se afasta
da borda da floresta em direção ao centro da clareira, a densidade de sementes tende a
diminuir.
Sendo a dispersão de sementes um fator importante na regeneração da
comunidade vegetal, limitações nesse processo comprometem a entrada de novos
20
indivíduos na comunidade (HOLL, 1999). Estudos sobre a chuva de sementes podem
fornecer informações úteis sobre abundância, distribuição espacial, densidade e riqueza
de espécies (GROMBONE-GUARATINI & RODRIGUES, 2002), assim como dados
sobre a importância relativa dos agentes dispersores na comunidade vegetal
(MEDELLING & GAONA, 1999). Todas essas informações sobre o padrão da
dispersão podem contribuir para o manejo da vegetação, pois definem as possibilidades
de estabelecimento das plantas e, consequentemente, a conservação das espécies.
2.4 - RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA
A recuperação da vegetação é uma prática antiga, realizada por diferentes
povos, em diferentes épocas e regiões, que possuía objetivos muito específicos como
controle da erosão, estabilidade de taludes, melhoria visual, dentre outros, e se
caracterizava como sendo uma prática de plantio de mudas, sem a preocupação do
estudo teórico (RODRIGUES & GANDOLFI, 2001).
Mais recentemente, visando à recuperação do ambiente natural, além dos
objetivos específicos de recuperação da vegetação, surge a Ecologia da Restauração,
que tem como prática a Restauração Ecológica. No Brasil, ela surgiu como ciência a
partir da década de 80 (ENGEL & PARROTA, 2003).
Na fase em que a restauração ecológica se consolidou como uma ciência,
o objetivo de seus projetos era o de restaurar o ambiente degradado exatamente da
forma como existia no passado, o que pode ser entendido como recuperar todas as
populações que ali existiam, assim como todos os processos ecológicos (RODRIGUES
& GANDOLFI, 2001; ENGEL & PARROTA 2003).
Naquela época, os projetos de restauração utilizavam dados
fitossociológicos e florísticos de comunidades vegetais em estádios avançados da
sucessão e tinha-se a utopia de que a comunidade restaurada levaria ao surgimento de
21
uma floresta madura e idêntica (em estrutura e composição) a que existia no passado
(ENGEL & PARROTA, 2003; GANDOLFI & RODRIGUES, 2007).
Com o avanço da Ecologia da Restauração como ciência, os seus
objetivos foram sendo modificados. Atualmente o que se entende como o objetivo da
restauração ecológica é a recuperação da estabilidade e integridade biológica dos
ecossistemas naturais, para que esses possam ser auto-sustentáveis (RODRIGUES &
GANDOLFI, 2001; BARBOSA, 2001; ENGEL & PARROTA 2003). A lei federal
9.985/00 inciso XIV do artigo define a restauração como sendo a restituição de um
ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua
condição original”.
Segundo JORDAN III et al. (1993) a ecologia da restauração vai além da
ação de restaurar os ambientes, sendo também uma forma prática de testar conceitos da
ecologia, consistindo em um campo vasto de pesquisas ecológicas, ligando a teoria com
a prática. Como por exemplo, no estudo de ecologia de comunidades, poderia ser
investigado se a recuperação apenas de hábitats seria suficiente para o restabelecimento
das espécies, ou quais níveis de riqueza e de diversidade de espécies permitiriam a
perpetuação de uma comunidade, dentre outras questões (PALMER et al., 1997).
O desafio atual está em transformar os conhecimentos científicos em
ações práticas de conservação, manejo e principalmente de restauração dos ambientes
naturais, que consigam, efetivamente, garantir a perpetuação dessas áreas, com custos
mais baixos e num menor tempo possível (GANDOLFI & RODRIGUES, 2007). Mas,
de certa forma, houve um grande avanço nas pesquisas voltadas para o
desenvolvimento de sistemas de restauração nos últimos anos (ENGEL & PARROTA,
2001).
22
Com a utilização do conhecimento acumulado sobre a formão,
estrutura e dinâmica das florestas tropicais, os programas de manejo e restauração
florestal deixaram de ser simples práticas agronômicas e silviculturais e estão
assumindo a difícil tarefa de reconstrução das complexas interações da comunidade. A
partir disto, o aumento da diversidade de espécies, o aumento da diversidade genética, a
sucessão ecológica e a dinâmica do ecossistema passaram a ser os principais focos da
restauração ecológica (RODRIGUES & GANDOLFI, 2001; KAGEYAMA et al.,
2003).
Sendo a biodiversidade uma das preocupações da restauração ecológica,
e com o amulo de conhecimentos de ecologia vegetal, hoje já se sabe que, nos
projetos de restauração que contemplam o plantio de mudas, deve ser utilizado o maior
número de espécies possíveis e essas devem corresponder à flora regional, para que se
obtenha maior sucesso no projeto (RODRIGUES & GANDOLFI, 2001, BARBOSA,
2001; BARBOSA et al., 2007; GANDOLFI & RODRIGUES, 2007).
O problema da utilização de poucas espécies na restauração foi
confirmado em uma avaliação dos projetos de reflorestamento no estado de São Paulo,
com pelo menos 10 anos de implantação, realizado pelo Instituto de Botânica de São
Paulo (BARBOSA et al., 2007). Os resultados mostraram uma situação preocupante em
relação à perda da biodiversidade e o estado de declínio em que se encontravam os
reflorestamentos realizados com espécies nativas em todo o estado, o que levou a
Secretaria de Estado de Meio Ambiente de São Paulo a criar a Resolução SMA 47/03,
que traz orientações para os reflorestamentos heterogêneos, sendo que uma das
principais recomendações é: um mero nimo exigido de 80 espécies para a
recuperação de áreas com mais de 1 ha.
23
Atualmente, vários modelos de plantios vêm sendo testados, sendo um
deles o modelo de Ilhas de Diversidade, que constitui no plantio de espécies pioneiras
recobrindo toda a área e a complementação com pequenos blocos de não pioneiras, estas
se expandindo naturalmente no futuro para as áreas não plantadas (KAGEYAMA &
GANDARA, 2004).
Além da prática do plantio, dependendo da condição de degradação da
área, estão sendo sugeridas técnicas que utilizem a regeneração natural como forma de
promover processos ecológicos que ocorrem no ambiente natural (RODRIGUES &
GANDOLFI, 2001; REIS et al. 2003; REIS & TRES, 2007; MARTINS, 2007). Nessa
linha de pensamento, REIS et al. (2003) propuseram a implantação de pequenos núcleos
de diversidade, aproveitando o potencial de regeneração natural na área degradada, que
eles denominaram de técnicas de nucleação, seguindo Yarranton & Morrison.
De acordo com YARRANTON & MORRISON (1974), a nucleação pode
ser entendida como o processo de sucessão de uma área que se a partir do
estabelecimento de uma ou mais espécies em pequenas porções, núcleos, no local. Com
o passar do tempo novas espécies se juntam aos núcleos, pois encontram o micro
ambiente mais procio para o seu estabelecimento, expandindo o núcleo, com a
tendência de cobrir toda a área.
Partindo desse pensamento, não seria necessária a implantação de
técnicas de restauração em toda a área e sim em pequenos núcleos de diversidade, então,
com o passar do tempo, a área seria totalmente coberta pela vegetação, através da
sucessão natural que se daria a partir dos núcleos (REIS et al., 2003).
A utilização do banco de sementes, da chuva de sementes, assim como a
implantação de poleiros artificiais, podem ser implantados em núcleos na área a ser
24
restaurada, aproveitando a regeneração natural (REIS et al. 2003), permitindo a inclusão
de outras formas de vida além das arbóreas (RODRIGUES & GANDOLFI, 2001).
Deste modo, a utilização de métodos que permitam o aproveitamento da
regeneração natural são, atualmente, os caminhos mais promissores para alcançar o
objetivo da restauração (NAVE, 2005) que é promover uma nova dinâmica de
sucessão ecológica, onde ocorram veis intensos de interação entre produtores,
consumidores e de decompositores, num ciclo contínuo de mortes e nascimentos”
(TRES, 2006).
3 - ÁREA DE ESTUDO
A Reserva Biológica Municipal Santa Cândida (RBMSC), com 113,3
hectares (Figura 1 e 2), situa-se no município de Juiz de Fora (21º41’20’’S e
43º20’40’’W), Zona da Mata de Minas Gerais, na região oeste da cidade, fazendo divisa
com os bairros São Pedro, Caiçaras, Jardim Cachoeira e Recanto dos Bruggers.
A ocupação da Zona da Mata de Minas Gerais teve início no começo do
século XVIII, com a abertura do Caminho Novo, que passava ao longo de trechos do rio
Paraibuna (afluente do rio Paraíba do Sul), feito a pedido do rei de Portugal, para tornar
o acesso à Região das Minas mais rápido (OLIVEIRA, 1966; LESSA, 1985; BOTTI,
1994).
No final do século XVIII e início do século XIX, a cultura do cafoi
introduzida em toda a região do Vale do Paraíba do Sul (OLIVEIRA, 1966; STAICO,
1976; LESSA, 1985; BOTTI, 1994) e, mais tarde, foi substituída pela criação de gado, o
que deu origem a grandes áreas de pastagem (STAICO, 1976).
O município de Juiz de Fora apresenta relevo bastante dissecado, com
colinas ncavo-convexas e vales, apresentando altitudes entre 467m e 1.104m, cujo
clima é do tipo Cwa (Classificação de Köppen) – mesotérmico, com verão chuvoso e
25
Figura 1 Vista aérea da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida. A área circulada
indica a área do presente estudo.
Figura 2. Detalhe da clareira localizada na
Reserva Biológica Municipal Santa Cândida. A
área circulada indica o trecho onde foram
instaladas as parcelas de estudo.
26
quente (CENTRO DE PESQUISAS SOCIAIS-UFJF, 2007). Segundo STAICO (1976),
em Juiz de Fora a predominância de solos do tipo latossolo vermelho-amarelado,
podendo ocorrer, também, o solo do tipo podzólico vermelho-amarelado.
A vegetação do município é classificada como sendo Floresta Estacional
Semidecidual Montana (IBGE, 1992). A RBMSC apresenta uma vegetação formada por
uma floresta secundária que se regenerou após o abandono das atividades ecomicas
como a criação de gado e o cultivo do café (GARCIA, 2007). Porém, nem toda a área da
reserva foi totalmente regenerada; uma clareira antrópica de aproximadamente 1
hectare em seu interior, alvo do presente estudo ,dominada por Melinis minutiflora P.
Beauv. (capim-gordura) (Figura 3), que já podia ser identificada no local, com base em
uma fotografia aérea de 1959 (Figura 4).
Figura 3 Vista de parte da clareira localizada em uma encosta na Reserva Biológica
Municipal Santa Cândida, Juiz de Fora MG, mostrando a dominância de Melinis
minutiflora e alguns indivíduos arbustivo-arbóreos. a, b: vista da parte superior da
encosta; c e d: vista da parte inferior da encosta.
a b
c d
27
Figura 4 Imagem aérea da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida no ano de
1959. A área circulada na figura indica o trecho que hoje envolve a área de estudo.
Imagem cedida por Jorge Staico.
A clareira recebe incidência direta de luz solar no final da manhã e
durante a tarde, por se localizar na face oeste de uma encosta, que representa a área
onde o experimento foi montado (Figura 2 e 5). No interior da clareira ocorrem alguns
indivíduos arbóreos e arbustivos, principalmente os de Alternanthera brasiliana (L.)
Kuntze (Amaranthaceae), Baccharis serrulata (Lam.) Pers. (Asteraceae), Bidens
segetum Mart. ex Colla (Asteraceae), Chromolaena sp. (Asteraceae), Eupatorium
dimorpholepis Baker (Asteraceae), Vernonia polyanthes Less. (Asteraceae),
Erythroxylum sp. (Erythroxylaceae); Alchornea sp (Euphorbiaceae), Croton urucurana
Baill. (Euphorbiaceae), Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr. (Fabaceae),
Piptadenia laxa Benth. (Fabaceae), Aeghiphila sellowiana Cham. (Lamiaceae), Luehea
28
sp. (Malvaceae), Cupania ludowigii Somner & Ferruci (Sapindaceae), Acnistus
arborescens (L.) Schltdl (Solanaceae) e Solanum lycocarpum A. St.-Hil (Solanaceae).
Das espécies citadas anteriormente, a que mais se destaca é P.
gonoacantha, conhecida popularmente como pau-jacaré, que se encontra distribuída por
toda a clareira através de indivíduos isolados, sendo que em alguns pontos ocorre um
adensamento de indivíduos .
O solo na clareira é distrófico, sendo que a área mais íngrime da encosta
apresenta um solo de textura muito argilosa e é álico, enquanto a área mais baixa (plana)
da encosta apresenta uma textura de argila
1
. Ambas as regiões possuem baixas
concentrões de fósforo, potássio, magnésio e outros elementos, como pode ser
observado no quadro 1.
GARCIA (2007) constatou que a vegetação da RBMSC apresenta
trechos que se encontram em estádios intermediários de sucessão, que diferem entre si
quanto à sua estrutura e composição, sendo alguns mais preservados e outros mais
perturbados. Segundo os resultados encontrados por ele, em dois trechos de borda da
floresta houve a predominância de espécies pioneiras, gerando índices sucessionais de
1,89 e 1,91; enquanto que nos trechos do interior, as secundárias tardias foram as mais
representativas, com índices de 2,17, 2,19 e 2,21. Essa diferença pode ser atribuída às
diferentes condições ambientais presentes na borda da floresta, assim como a
perturbação antrópica, comprometendo a regeneração natural (GARCIA, 2007).
1
Análise de solo feita a partir de uma amostra composta, para cada uma das áreas (íngreme e plana),
formada a partir de 10 subamostras de solo coletadas com trado com profundidade de 20 cm..
29
Figura 5 - Cartograma de declividade e localização de transectos experimentais
instalados em uma clareira dominada por Melinis minutiflora, localizada na Reserva
Biológica Municipal Santa Cândida.
30
Quadro 1 Características químicas do solo de duas áreas de uma clareira dominada por
Melinis minutiflora, localizada na Reserva Biogica Municipal Santa Cândida. A1:
área mais alta; A2: área mais baixa; H+Al: extrato de acetato de cálcio 0,5 mol/L pH
7,0; SB: Soma de Bases trocáveis; (t) CTC: Capacidade de troca catiônica efetiva; (T)
CTC: Capacidade de troca catiônica a pH 7,0; V: índice de saturação de bases; m: índice
de saturação de alunio; P-rem: fósforo remanescente.
pH P K Ca²
+
M
+
Al³
+
H+Al
SB (t) (T) V m P-rem
H
2
O
mg/dm³ cmol
c
/dm³ % mg/L
A1
4,76
0,9
31
0,24
0,09
0,67
9 0,41
1,08
9,41
4,4
62 14
A2
5,16
1 41
0,45
0,22
0,48
7,9 0,77
1,25
8,67
8,9
38,4
13,9
Essa diferença na estrutura da vegetação apresenta reflexos tanto na
chuva quanto no banco de sementes. SOARES (2007) constatou diferenças na
diversidade da chuva de sementes em trechos de interior e borda da reserva, com índices
de diversidade de Shannon iguais a 1,52 e 0,97, respectivamente. Dentre os 70
morfotipos 40 estavam presentes no interior e 53 na borda. Os ambientes apresentaram
23 espécies em comum, o que resultou em uma similaridade de 31%. Os trechos de
interior mostraram maior diversidade e menor densidade do que os trechos de borda.
Diásporos zoocóricos foram abundantes na borda nos meses mais úmidos, enquanto que
nos meses mais secos sua abundância foi maior no interior.
A variação estrutural na vegetação da reserva se reflete também em uma
variação espacial e temporal na densidade de sementes que constituem o banco de
sementes em diferentes trechos de interior e borda (SILVA, 2007).
Por estar localizada na Zona de Expansão Urbana (Lei Municipal n°
6910/86), a reserva possui bairros que vêm sendo instalados em seu entorno e sofre
grande pressão antpica, sendo a extração de madeira e a ocorrência de inndios em
alguns trechos de borda, como os ocorridos em setembro de 2003, agosto de 2006 e
agosto de 2009, uma das principais ameaças à biodiversidade local. Também é possível
encontrarmos evidências de rituais religiosos, assim como grande deposição de lixo
31
(GARCIA, 2007), em especial em suas bordas. Essas evidências mostram a necessidade
da elaboração de um plano de manejo para minimizar os impactos que ocorrem na
RBMSC.
4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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37
CAPÍTULO 1
BANCO DE SEMENTES DE UM TRECHO DE CLAREIRA DOMINADA POR
Melinis minutiflora (POACEAE) P. BEAUV. LOCALIZADA NA RESERVA
BIOLÓGICA MUNICIPAL SANTA CÂNDIDA, MG.
1.1- INTRODUÇÃO
O banco de sementes representa um dos potenciais de regeneração das
comunidades vegetais, pois nele se encontram sementes em estado de dormência, que
esperam” condições ambientais favoráveis para germinar (FENNER, 1985). Além de
um potencial de regeneração, o banco de sementes também representa uma carga
genética em potencial, sendo fonte de diversidade para as comunidades vegetais ao
longo do tempo (FREITAS & PIVELLO, 2005).
A composição e a densidade do banco de sementes são influenciadas pelo
padrão de dispersão de sementes e pelos fatores s-dispersão, como a predação, a ação
de patógenos e a germinação, que tornam a densidade do banco muito variável no
tempo e no espaço (HARPER, 1977). A idade da formação vegetal também pode
influenciar na densidade do banco de sementes, que tende a diminuir com o avanço da
regeneração (LEAL FILHO, 1992, BAIDER et al. 2001).
Segundo GARWOOD (1989), no banco de sementes de florestas
maduras a riqueza de espécies tende a aumentar significativamente com o aumento da
área amostrada, enquanto que em florestas em regeneração ou em campos agricultáveis
abandonados, o número de espécies não aumenta muito à medida que se aumenta a área
amostral. Nas florestas maduras uma predominância de sementes de espécies
arbóreas estocadas no solo, enquanto as florestas jovens ou em regeneração e os campos
38
agricultáveis são dominados por ervas e arbustos pioneiros (HALL & SWAINE, 1980;
PUTZ & APPANAH, 1987).
Nas florestas tropicais, a grande maioria das espécies possui sementes
dispersas por animais (HOWE & SMALLWOOD, 1982), e grandes clareiras, ou
clareiras recém criadas, são locais evitados pela maioria dos animais dispersores de
sementes, sendo esse um dos principais fatores que influenciam a baixa densidade de
sementes de espécies arbóreas em áreas abertas. Essas áreas, além de oferecerem poucos
recursos para os frugívoros, podem oferecer perigos para pássaros pousarem (SCHUPP
et al. 1989).
Dependendo do tamanho da clareira, a dispersão de sementes no seu
interior pode ficar comprometida, afetando a densidade do banco. GORCHOV et al.
(1993) verificaram que a chegada de sementes no interior de uma clareira aberta pelo
corte das árvores, no interior da Amazônia Peruana, foi menor que nas áreas intactas,
tanto em riqueza de espécies, quanto na abundância. Esse decnio foi mais pronunciado
considerando-se as espécies dispersas por pássaros, que tendem a não se aventurar em
áreas abertas.
Potencialmente, as árvores remanescentes em clareiras servem como
poleiros para pássaros e morcegos dispersores de sementes, possibilitando que esses
animais, ao pousarem, dispersem as sementes colhidas nas matas próximas,
aumentando, assim, o número de sementes e a riqueza de espécies embaixo dessas
árvores (HOWE & SMALLWOOD, 1982; LEAL FILHO, 1992; REIS et al., 2003).
Considerando-se a realidade atual da elaboração de planos de manejo
para unidades de conservação, além de contribuir com o futuro plano da Reserva
Biológica Municipal Santa Cândida (RBMSC), buscou-se com o presente trabalho,
responder às seguintes perguntas: (1) Qual é a composição do banco de sementes de
39
uma área de clareira antiga, em meio a uma floresta secundária urbana? (2) Sementes de
espécies pioneiras arbóreas, frequentemente observadas no entorno de uma grande
clareira dominada por capim, são facilmente encontradas no banco de sementes dessa
clareira? (3) Árvores esparsas, encontradas nessa clareira, atuam como poleiros para
animais dispersores, favorecendo a criação de um banco de semente com maior riqueza
e densidade do que em locais sem poleiro?
1.2 - MATERIAL E MÉTODOS
1.2.1 - ÁREA DE ESTUDO
O trabalho foi realizado na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida,
um fragmento florestal urbano com 113,3 ha (RBMSC; 21°45’43.78’’ S e
43°23’32.42’’ W) situado no município de Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas
Gerais. A vegetação da RBMSC se regenerou após o abandono de atividades
econômicas, como o cultivo de café e a criação de gado, apresentando trechos em
diferentes estados de conservação (GARCIA, 2007).
A cidade de Juiz de Fora apresenta um relevo bastante dissecado, com
colinas côncavo-convexas e vales, com altitudes entre 467m e 1.104m, clima do tipo
Cwa (classificação de Köppen), mesotérmico, com verão chuvoso e quente (CENTRO
DE PESQUISAS SOCIAIS-UFJF, 2007). Segundo STAICO (1976), em Juiz de Fora há
a predomincia de solos do tipo latossolo vermelho-amarelado, podendo ocorrer,
também, o solo do tipo podzólico vermelho-amarelado. A vegetação natural é
classificada como Floresta Estacional Semidecidual Montana (IBGE, 1992).
No interior da floresta há uma clareira antpica, situada em uma encosta,
decorrente da não cicatrização após abandono das atividades econômicas (segundo foto
aérea de 1959, Figura 3) e de distúrbios posteriores, e se encontra dominada por Melinis
40
minutiflora P. Beauv. (Poaceae), possuindo alguns indivíduos arbustivo-arbóreos,
esparsos, principalmente de Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F. Macbr (Fabaceae).
Análises feitas com o solo da área mais íngreme da encosta da clareira revelaram que
sua textura é muito argilosa, é álico, apresenta pH igual a 4,76 e baixas concentrações
de fósforo, potássio, magnésio e outros elementos, como pode ser observado no Quadro
1.
1.2.2 - AMOSTRAGEM DO BANCO DE SEMENTES
A coleta do banco de sementes foi realizada na área mais alta da clareira,
em duas condições: uma sob árvores, para avaliar sua provável função de poleiros (sob
poleiro - SP), e outra em locais abertos, sem árvores (sob capim - SC). Para tanto, o
capim-gordura foi retirado através de capina, com o auxílio de enxada e foice, para a
exposição de pequenas áreas de solo. Foram coletadas 12 amostras em cada condição
(SP e SC), utilizando-se um gabarito de 25 x 25 cm, sendo a amostra de solo retirada
com o auxílio de uma pá, até 3 cm de profundidade. Dessa forma, cada amostra possuía,
aproximadamente, uma área de 625 cm
2
e volume de 1.875 cm
3
, totalizando uma
amostragem de 1,5 m
2
e 45 dm
3
.
As amostras foram armazenadas em sacos plásticos, identificadas de
acordo com a procedência, transferidas para caixas plásticas e mantidas em casa de
vegetação, coberta por sombrite 50% e regadas diariamente (Figura 1.1). Foram
mantidas 3 caixas com vermiculita como controle à chegada de diásporos externos.
A presença das sementes viáveis foi quantificada a partir da emergência
das plântulas (FENNER, 1985), durante 4 meses (final de agosto a inicio de dezembro
de 2007). Durante a contagem, as plantas eram retiradas das caixas e descartadas, com
exceção das plantas desconhecidas, que foram transplantadas para sacos plásticos para
41
Figura 1.1 Amostras do banco de sementes, coletadas em uma clareira dominada por
Melinis minutiflora, alocadas em casa de vegetação.
serem identificadas após crescimento. Foi feito o revolvimento do solo de maneira a
permitir a germinação das sementes enterradas.
A identificação das plantas foi feita no herbário CESJ, para os materiais
que chegaram a florescer; o reconhecimento de plantas estéreis foi realizado através da
comparação com fotos apresentadas por LEITÃO FILHO et al. (1972), ARANHA et al.
(1972), BACCHI et al. (1972); KISSMANN & GROTH (1995) e LORENZI (2008) e,
ainda, pela comparação com material biológico obtido em outros trabalhos da equipe no
local (SOARES, 2007; SILVA, 2007).
1.2.3 - ANÁLISE DOS DADOS
A análise quantitativa do banco de sementes foi expressa mediante o
cálculo da densidade absoluta (DA), conforme fórmula abaixo, sendo utilizado o teste t
(ZAR, 1999) para comparar as duas condições de amostragem (SP e SC).
Onde: N = número total de propágulos, A = área em m
2
.
DA = N
A
42
Para as espécies mais abundantes foi calculada a freqüência absoluta para
cada condição (SP e SC), pelo uso da fórmula:
onde: FA(i) = freqüência absoluta da espécie i (%), pi = número de amostras em que
ocorre a espécie i, P = número total de amostras.
A semelhança florística entre as duas condições (SP e SC) foi analisada
pelo índice de similaridade de Jaccard (DURIGAN, 2004), considerando:
onde: a = total de espécies presentes em uma das áreas, b = total de espécies
presentes na outra área, c = n° de espécies comuns a ambas as amostras.
O índice de diversidade de Shannon (H’), juntamente com o teste t
proposto por Hutcheson (ZAR, 1999) e a Equidade de Pielou (DURIGAN, 2004), foram
utilizados para descrever e comparar a diversidade de espécies presentes no banco de
sementes coletado sob poleiros (SP) e sob capim (SC), assim como o índice de
diversidade de Simpson (D) (PINTO-COELHO, 2000) de acordo com as fórmulas:
onde: pi = proporção entre o número de indivíduos registrados da espécie i e o número
total de indivíduos da amostra, ln = logaritmo natural, s = número total de espécies,
H’ = índice de diversidade de Shannon, H’
máx
= diversidade de espécies sob condões
H’
max.
= ln S
H’
j =
H’
max.
H’
1
- H’
2
t =
S H’
1
- H’
2
s
H’ = - (pi) x (ln pi)
i=1
D = 1 - (pi)²
FA(i) = pi x 100
P
Cj = c
(a+b-c)
43
de máxima equidade, S = número de espécies identificadas, S H’
1
- H’
2
= desvio-padrão de
H’
1
e H’
2
.
1.3 - RESULTADOS
Durante os 4 meses de monitoramento do banco de sementes foram
quantificadas 18.970 plântulas germinadas, representando uma densidade média de
12.646,67 ± 9.428,06 sementes/m
2
. Desse total, aproximadamente 93% correspondeu a
gramíneas, razão pela qual as plantas foram identificadas como de Poaceae spp, sendo
que Melinis minutiflora foi a espécie mais abundante.
A densidade do banco de sementes sob poleiro (SP) foi de 13.878,6
sementes/m
2
10.605,4) e não diferiu (p= 0,53) da observada sob capim (SC),
quantificada em 11.414,7 ± 8.370,8 sementes/m
2
, com predomínio de Poaceae spp nos
dois ambientes (Tabela 1.1).
Dentre as plântulas germinadas, foram reconhecidas 31 morfoespécies,
sendo 13 identificadas ao nível de espécie, 6 ao vel de gênero e 12 ao vel de família
(Tabela 1.1, Figura 1.2). Os dois ambientes o diferiram quanto à riqueza de espécies,
sendo 23 em SP e 22 em SC, apresentando uma similaridade de Jaccard igual a 0,45.
Não foram incluídas em nenhuma categoria taxonômica 238 plântulas (1,25%) como
conseqüência da morte antes do reconhecimento.
O índice de diversidade de Shannon do banco de sementes sob poleiro
(SP) foi 0,22, com uma equidade de 0,07, enquanto que sob capim (SC) foi igual a 0,39,
com uma equidade de 0,13. Os índices de diversidades das duas condições de
amostragem foram significativamente diferentes (t = 9,14; t
c 0,05
= 1,96), e a baixa
equidade de SP e SC indicam que grande parte das plantas amostradas pertence a
44
Figura 1.2 Exemplares de algumas espécies amostradas no banco de sementes de uma
clareira dominada por Melinis minutiflora, localizada na Reserva Biológica Municipal
Santa Cândida. a: Borreria alata; b: Croton lundianus; c: Solanum americanum; d:
Luehea sp; e: Ambrosia scabra; f: Gnaphalium purpureum; g: Facelis apiculata; h:
Sida carpinifolia; i: Lepidium sp; j: Commelina nudiflora; k: Vismia cf. guianensis.
poucas espécies. Resultado que também pode ser observado através do índice de
diversidade de Simpson, que foi de 0,08 para SP e de 0,15 para SC.
Houve a predominância de espécies herbáceas (Figura 1.4), sendo que a
categoria Poaceae spp foi a mais abundante, seguida por Borreria alata, Sida glaziovii,
e Lepidium sp (Tabela 1.1). Essas espécies também foram as mais freqüentes, tanto em
SP quanto em SC, com exceção de Lepidium sp. Melinis minutiflora teve uma
freqüência de 100% em SP e SC, Borreria alata apresentou uma freqüência de 100%
em SP e 83,3% em SC, Sida glaziovii de 83,3% em SP e 75% em SC, enquanto que
Lepidium sp apresentou apenas 25% de freqüência em SP e SC.
Como pode ser observado na Figura 1.3, apenas 4 espécies possuem
hábito arbóreo, que estão representadas por poucos indivíduos, sendo elas: Vismia cf.
guianensis, Cecropia sp, Croton sp, e Luehea sp. Somente 1 espécie, pertencente à
família Asteraceae, possui hábito arbustivo e as lianas foram representadas pelas
a
b
c
d
e
g
i h
f
j k
45
Tabela 1.1 – Relação, abundância e caracterização ecológica das espécies amostradas no
banco de sementes em uma clareira dominada por Melinis minutiflora, localizada na
Reserva Biológica Municipal Santa Cândida. SP: sob poleiro; SC: sob capim; D:
síndrome de dispersão; H: hábito; AN: anemocórico; AU: autocórico; Z: zoocórico; AR:
arbóreo; b: arbustivo; HE: herbáceo; L: liana.
Família Espécie SP SC D H
Asteraceae
Ambrosia scabra Hook. & Arn.
1 6 AN HE
Facelis apiculata Cass.
1 - AN HE
Gnaphalium purpureum L.
- 1 AN HE
Asteraceae sp 1 3 3 AN HE
Asteraceae sp 2 1 6 AN HE
Asteraceae sp 3 2 2 AN HE
Asteraceae sp 4 4 1 AN HE
Asteraceae sp 5 2 - AN HE
Asteraceae sp 6 1 - AN HE
Asteraceae sp 7 - 2 AN HE
Asteraceae sp 8 - 2 AN HE
Asteraceae sp 9 - 1 AN B
Brassicaceae
Lepidium sp.
6 416 AU HE
Commelinaceae
Commelina nudiflora L.
3 - AU HE
Convolvulaceae
Ipomoea sp.
2 2 AU L
Euphorbiaceae
Croton lundianus Müll. Arg.
15 5 AU HE
Croton sp
- 3 AU AR
Fabaceae
Zornia reticulata Sm.
- 1 Z HE
Hypericaceae
Vismia cf. guianensis (Aubl.) Choisy
2 1 Z AR
Malvaceae
Luehea sp.
1 - AU AR
Sida carpinifolia L.
2 1 AU HE
Sida glaziovii K. Schum.
184 62 AU HE
Melastomataceae
Melastomataceae spp. - 28 - -
Phylantaceae
Phyllanthus tenellus Roxb.
38 - AU HE
Poaceae Poaceae spp. 9832 7800
AN HE
Rubiaceae
Borreria alata DC.
126 152 AU HE
Rubiaceae sp 1 - 3 - HE
Spermacoce palustris (Cham. & Schltdl.)
Delprete
2 - AU HE
Sapindaceae
Serjania sp.
3 - AN L
Solanaceae
Solanum americanum Mill.
1 - Z HE
Urticaceae
Cecropia sp.
1 1 Z AR
Indeterminadas
176 62
Total
10.409
8.561
46
espécies Ipomoea sp e Serjania sp. (Tabela 1.1).
A grande maioria das plantas amostradas possui síndrome de dispersão
anemocórica, seguidas das autocóricas e zoocóricas, tanto para SP como para SC
(Tabela 1.2). Esse mesmo padrão também ocorreu para as espécies (Figura 1.4), onde
48,3% do total das espécies identificadas são anemocóricas, 37,9% são autocóricas, e
apenas 13,8% são zoocóricas.
Arbóreo
Arbustivo
Herbáceo
Liana
Figura 1.3 Abundância de espécies amostradas no banco de sementes, de acordo com
o hábito de vida, em uma clareira dominada por Melinis minutiflora, localizada na
Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, no período de janeiro a dezembro de 2008.
Tabela 1.2 Abundância de plântulas obtidas a partir do banco de sementes, de acordo
com o tipo de dispersão, em uma clareira dominada por Melinis minutiflora. SP: sob
poleiro; SC: sob capim.
N° de plantas
Dispersão
SP SC
Anemocoria
9.850 7.824
Autocoria 379 641
Zoocoria 4 3
47
Anemocoria
Autocoria
Zoocoria
Figura 1.4 Abundância de espécies amostradas no banco de sementes, de acordo com
o tipo de dispersão, em uma clareira dominada por Melinis minutiflora, localizada na
Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, no período de janeiro a dezembro de 2008.
1.4 – DISCUSSÃO
A dominância de M. minutiflora já era esperada, uma vez que a produção
intensa de sementes é uma de suas características (FILGUEIRAS, 1990; MARTINS,
2006), sendo estimada entre 200 a 280 Kg de sementes por hectare (MARTINS, 2006).
Além disso, ela se encontra distribuída em quase toda a clareira.
GASPARINO et al. (2006) também encontraram a predominância de
gramíneas no banco de sementes de uma pastagem, em região de mata ciliar no Paraná.
Eles obtiveram um número médio de 96 graneas/m², seguidas das espécies herbáceas,
com 73,23 plantas/m², e as arbóreas com 0,12 indivíduos/m². NETO et al. (2007), em
um trabalho realizado com o banco de sementes em fragmento de Floresta Estacional
Semidecidual Montana, verificaram que 30,2 % das espécies amostradas eram
graminóides e 29,2 % de hábito herbáceo-cis.
A grande riqueza de espécies herbáceas também foi encontrada por
ARAUJO et al. (2004), que apesar de terem estudado o banco de sementes de uma
48
formação florestal, mais de 80% das plantas eram herbáceas. Esses autores, também
amostraram espécies do gênero Borreira, Sida, Ipomoea e a espécie Solanum
americanum. LEAL FILHO (1992) também encontrou um baixo número de espécies
arbóreas em um pasto igualmente dominado por M. minutiflora.
Esses resultados podem ser explicados pela capacidade de dormência das
espécies ruderais, que podem permanecer dormentes por anos (LORENZI, 2008)
estocadas no solo, formando o banco de sementes persistente (GARWOOD, 1989). Essa
capacidade pode ser vista como um importante mecanismo para a sucessão, pois
aumenta a chance de escies pioneiras ocorrerem no banco de sementes, uma vez que
grande parte dessas espécies possui sementes com capacidade de dormência
(GUEVARA SADA & GÓMEZ-POMPA, 1972).
Segundo COSTA et al. (2002), a abundância de plantas herbáceas é uma
característica de áreas agrícolas e ambientes perturbados. Nas áreas agrícolas essas
espécies são indesejáveis, pois podem comprometer a produção das plantas cultivadas,
com isso alguns estudos sobre o banco de sementes em diferentes condições de manejo
das áreas de cultura vêm sendo desenvolvidos, com o objetivo de diminuir a ocorrência
dessas espécies nessas áreas (SILVA & DIAS, 2001; MONQUEIRO &
CHRISTOFFOLETI, 2005; IKEDA et al., 2007; ISAAC & GUIMARÃES, 2008).
Algumas espécies herbáceas se proliferam rapidamente em locais abertos
e estão aptas a suportar condições climáticas adversas, tolerar elevadas e baixas
temperaturas, ambientes úmidos e secos, assim como variações no suprimento de
oxigênio, apresentando grande capacidade de produzir sementes (CHRISTOFFOLETI
& CAETANO, 1998). Esse é o caso do capim-gordura que domina a área do presente
estudo, assim como o banco de sementes.
49
A baixa abundância de espécies arbóreas também foi encontrada por
CUBIÑA & MITCHELL AIDE (2001), que realizaram um trabalho com a chuva e o
banco de sementes de um pasto, adjacente a uma floresta secundária, em Porto Rico.
Eles amostraram 35 espécies arbóreas na floresta, que haviam frutificado durante o ano
em que realizaram o estudo, porém menos da metade dessas espécies tiveram sementes
amostradas na chuva e no banco de sementes do pasto ao lado da floresta, e apenas 5
espécies arbóreas foram amostras em uma distância maior que 4m de distância da borda
da floresta. Os autores atribuíram esses resultados ao comportamento dos frugívoros.
Em um trabalho de dispersão de sementes na RBMSC, SOARES (2007)
constatou que houve uma considerável dispersão de sementes zoocóricas na floresta,
sendo que as espécies mais abundantes foram Miconia urophylla, M. cinnamomifolia
Cecropia pachystachya e C. glaziovi. Além disso, na mata do entorno da clareira
ocorrem indivíduos pertencentes a esses gêneros, assim como outras espécies
zoocóricas.
De acordo com RICHARDS (1996), Snow, em 1981, afirmou que as
sementes de Melastomataceae são dispersas por animais generalistas, o que faz com que
tenham a chance de serem mais amplamente dispersas. Porém, no banco de sementes do
presente trabalho foram amostrados poucos indivíduos de Melastomataceae e apenas
dois indivíduos de Cecropia. Apenas um indivíduo Cecropia foi amostrado em SP, o
outro indivíduo desse gênero e os da família Melastomataceae foram amostrados em
SC.
Plantas de Cecropia spp e de Melastomataceae foram amostradas de
forma abundante no banco de sementes da RBMSC (SILVA, 2007) e de uma área
localizada no Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (CORDEIRO et al.,
50
2007), cujas amostras foram mantidas sob as mesmas condições experimentais,
revelando não ser este o fator limitante.
Esses resultados sugerem que, apesar da presença de indivíduos
arbustivo-arbóreos na clareira, os animais dispersores o costumam freqüentá-la
constantemente, mesmo porque, a maioria dos indivíduos remanescentes na clareira não
possui atrativos para a fauna. Segundo SCHUPP et al. (1989), os animais evitam as
clareiras por que, além de oferecerem poucos recursos para os frugívoros, são locais que
oferecem perigosos para esses animais.
Mesmo com a baixa abunncia de plantas da família Melastomataceae,
sua presença no banco de sementes pode ser muito importante para a regeneração da
área, como afirmou BROKAW (1987), que relatou a elevada ocorrência de espécies de
Miconia colonizando clareiras, o que sugere o seu importante papel na regeneração
desses ambientes.
Porém, as características de áreas dominadas por gramíneas impedem o
desenvolvimento das sementes que são dispersas, como a temperatura mais elevada, o
déficit hídrico que ocorre na época do inverno, a alta taxa de predação por formigas,
entre outros. Além dessas características, o capim-gordura impede grande parte das
sementes de alcançarem o solo, e as que alcançam, possivelmente, não encontram
condições procias para a germinação (LEAL FILHO, 1992).
Em um trabalho realizado em 4 pastagens cultivadas de diferentes
idades, localizadas na Amazônia Central, COSTA et al. (2002) verificaram que nas
pastagens onde havia uma menor cobertura de gramínea cultivada, o banco de sementes
apresentou maior densidade do que as pastagens onde havia maior cobertura de
gramíneas.
51
Segundo LEAL FILHO (1992), se a área de pasto onde ele realizou seu
estudo do banco de sementes tivesse sofrido alguma intervenção para a retirada do
capim-gordura, a regeneração natural poderia ter ocorrido de forma mais rápida, além
de ter promovido o enriquecimento do banco de sementes.
1.5 CONCLUSÃO
Apesar da clareira está inserida dentro de um fragmento florestal, o
banco de sementes se apresentou com baixa densidade, sendo dominado por espécies da
família Poaceae, principalmente por Melinis minutiflora. Esses resultados sugerem que
a sucessão vegetal na clareira se dará de forma lenta, necessitando de um intervalo de
tempo muito grande para que se forme um dossel. Com isso há a necessidade de uma
intervenção no local para acelerar a sua regeneração. Sendo assim, é necessário realizar
o manejo do capim-gordura, aliado a técnicas que promovam a revegetação na clareira.
1.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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55
CAPÍTULO 2
CHUVA DE SEMENTES EM UMA CLAREIRA DOMINADA POR Melinis
minutiflora (POACEAE) P. BEAUV. LOCALIZADA NA RESERVA
BIOLÓGICA MUNICIPAL SANTA CÂNDIDA, MG.
2.1 INTRODUÇÃO
Os ecossistemas naturais estão em constante mudança, que podem ser de
curto, médio e longo prazo. Além disso, eles podem sofrer distúrbios naturais ou
antpicos, que provocam mudanças em maior ou menor grau. Nos ambientes florestais
o distúrbio pode ser caracterizado pela abertura no dossel (ENGEL & PARROTA,
2003).
Nas clareiras condões microclimáticas diferentes da mata fechada,
como maior incidência de luz, o que aumenta a temperatura e diminui a umidade
(BROKAW, 1982; SCHUPP et al., 1989). Essas características proporcionam condições
favoráveis para o estabelecimento de alguns grupos de plantas, como é o caso das
pioneiras (BROKAW, 1982; TABARELLI & MANTOVANI, 1999).
Além das difereas estruturais e microclimáticas entre clareira e dossel,
o padrão de dispersão dentro das clareiras também ocorre de forma diferenciada do
padrão de dispersão dentro da floresta, uma vez que, as condições existentes em cada
um desses ambientes podem dificultar ou facilitar a ação de agentes dispersores
(SCHUPP et al., 1989).
Em um trabalho de dispersão de sementes realizado na Amazônia
Peruana, GORCHOV et al. (1993) verificaram que à medida que se afasta da borda da
floresta para o interior da clareira a densidade de sementes dispersas diminui, e que no
interior da floresta a densidade de sementes dispersas é maior do que dentro da clareira.
56
Da mesma forma, CUBIÑA & MITCHELL AIDE (2001) verificaram que quanto mais
afastado da borda da floresta menos sementes chegaram a um pasto abandonado. Por
outro lado, HOLL (1999) não encontrou essa diferença de densidade de sementes
dispersas entre clareira e dossel.
O fato de existirem ou não árvores remanescentes em uma clareira
influencia na dispersão das sementes zoocóricas, uma vez que a maioria das árvores e
arbustos em florestas tropicais é dispersa por animais. Essas árvores podem servir como
poleiros para aves dispersoras (HOWE & SMALLWOOD, 1982).
Em áreas com grandes perturbações, quanto maior a clareira mais
comprometida estará sua regeneração, uma vez que a falta de dispersão de sementes é
um fator limitante para regeneração da comunidade vegetal (HOLL, 1999). Segundo
CUBIÑA & MITCHELL AIDE (2001), em pastos abandonados a ausência da chuva de
sementes é um dos maiores fatores limitantes da regeneração natural.
Investigações sobre a chuva de sementes podem fornecer informações
úteis sobre abundância, distribuição espacial, densidade e riqueza de espécies
(GROMBONE-GUARATINI & RODRIGUES, 2002), assim como dados sobre a
importância relativa da diferença dos agentes dispersores na comunidade vegetal
(MEDELLING & GAONA, 1999).
O objetivo do presente trabalho foi caracterizar a chuva de sementes em
uma clareira dominada por Melinis minutiflora P. Beauv. (Poaceae), situada no interior
de uma reserva florestal, buscando responder as seguintes perguntas: (1) O entorno
florestal dessa grande clareira favorece uma chuva de sementes diversificada para o
interior da clareira? (2) Apesar da dominância de M. minutiflora na clareira, ocorre
chegada de diásporos de espécies zoocóricas arbustivo-arbóreas vindas do entorno
florestal?
57
2.2 - MATERIAL E MÉTODOS
2.2.1 – Área de estudos
O trabalho foi desenvolvido em uma clareira antpica de
aproximadamente 1 hectare, dominada por M. minutiflora (capim-gordura), localizada
em uma encosta no interior da Reserva Biológica Municipal Santa Cândida (RBMSC),
Juiz de Fora MG. A RBMSC está localizada em uma região com relevo bastante
dissecado, de colinas côncavo-convexas e vales, em altitudes entre 467m e 1.104m. O
clima predominante é do tipo Cwa (classificação de Köppen), mesotérmico, com verão
chuvoso e quente (CENTRO DE PESQUISAS SOCIAIS-UFJF, 2007) e apresenta uma
vegetação natural classificada como Floresta Estacional Semidecidual Montana (IBGE,
1992).
Na área onde hoje é a RBMSC eram realizadas atividades de cultivo e
criação de gado (GARCIA, 2007; SOARES, 2007). Ela foi criada em 1983 para atender
ao programa de uso e ocupação do solo municipal, o qual inclui a criação de áreas
verdes pelo poder público (GARCIA, 2007).
Apesar de estar protegida por lei, por se localizar em área urbana a
RBMSC sofre grande pressão antpica, principalmente junto às áreas de borda, que são
locais de fácil acesso, onde se observam evidências de corte de árvores, rituais
religiosos e lixo (GARCIA, 2007; SOARES, 2007). Incêndios também têm sido
frequentes em trechos de borda da reserva, cuja regeneração foi alvo de estudos
(GARCIA et al. em preparo). A reincidência de incêndios justifica a necessidade da
continuidade dos monitoramentos, assim como da proposição de atividades que visem
sua conservação.
58
2.2.2 - Chuva de sementes
Para caracterizar a chuva de sementes na clareira, foram utilizados 10
coletores confeccionados com base de madeira (Figura 2.1), com dimensões de 1 x 1 x
0,5 m e cobertos por um tecido TNT (tecido não tecido). Os coletores foram instalados
na clareira após a remoção do capim-gordura através da capina. O conteúdo depositado
nos coletores foi retirado mensalmente, durante 1 ano (janeiro a dezembro de 2008),
com o auxílio de um recipiente plástico e colocado em sacos plásticos devidamente
etiquetados com os números dos respectivos coletores.
A triagem do material foi realizada em laboratório, com o auxílio de
microscópio estereoscópico e pinça. Os diásporos obtidos na triagem foram
quantificados e armazenados em sacos plásticos de acordo com os tipos morfológicos,
para posterior identificação. Foram considerados como diásporos as sementes e os
frutos viáveis (com a semente desenvolvida e sem sinal de dano sico, seja por
predação ou decomposição). Os frutos com mais de uma semente foram abertos e essas
contadas. Diásporos muito pequenos e extremamente numerosos tiveram sua quantidade
estimada através de sua massa.
Após a triagem, o material restante foi colocado em caixas do tipo
Gerbox, sobre papel de filtro umedecido e mantido em Germinador FANEM, à
temperatura constante de 30ºC e fotoperíodo de 12 horas (luz fluorescente branca e luz
do dia) para detectar a presença de diásporos muito pequenos. Esses foram
quantificados e identificados após a germinação e crescimento das plântulas. No
Figura 2.1 Coletor de sementes instalado
em uma clareira dominada por Melinis
minutiflora, localizada na Reserva
Biológica Municipal Santa Cândida.
59
entanto, não foi possível a identificação de todas as plântulas, uma vez que muitas
morreram antes da identificação e outras não cresceram o suficiente para serem
identificadas. As não identificadas foram contadas e mantidas na categoria “plântulas”.
Os diásporos foram identificados por comparação com o material obtido
em outro trabalho realizado com a chuva de sementes na RBMSC (SOARES, 2007),
com material coletado na área de estudo, durante o desenvolvimento deste trabalho, com
o uso de literatura especializada (BARROSO et al, 1999) e pela comparação com fotos
apresentadas por LORENZI (1992 a, b). O sistema de classificação adotado foi o APG II
(SOUZA & LORENZI, 2008).
2.2.3 - Análise dos dados
Os frutos e as sementes foram classificados quanto à ndrome de
dispersão, considerando três categorias: autocóricos”, “anemocóricos” e “zoocóricos”,
de acordo com VAN DER PIJL (1982). Os diásporos também foram categorizados em
classes de tamanho, de acordo com o comprimento do maior eixo, sendo que para os
diásporos das espécies da família Asteraceae o aquênio foi medido desconsiderando o
papus.
A densidade da chuva de sementes foi comparada entre a estação seca e
chuvosa, através do teste t (ZAR, 1999). Também foi calculada a freqüência absoluta,
para as espécies mais abundantes, através da fórmula:
Onde: FA(i), freqüência absoluta da espécie i (%), pi = número de coletores em que
ocorre a espécie i, P = número total de coletores.
FA(i) = pi x 100
P
60
Para a análise qualitativa dos dados foram calculados os índices de
diversidade Simpson (D) (PINTO-COELHO, 2000) e de Shannon (H’), assim como a
Equidade de Pielou (DURIGAN, 2004), pelas fórmulas:
Onde: pi = proporção entre o número de indivíduos registrados da espécie i e o número
total de indivíduos da amostra, ln = logaritmo natural, s = número total de espécies, j =
equidade de Pielou, H’
máx
= diversidade de espécies sob condições de máxima equidade.
2.3 - RESULTADOS
Durante o período de 1 ano, foram quantificados 140.701 diásporos,
sendo que 131.163 (93%) pertencem a uma única espécie, Melinis minutiflora. A chuva
de sementes foi mais abundante nos meses de julho e agosto (Figura 2.2 a), com 69.398
e 45.244, respectivamente, devido à presença dos diásporos do capim-gordura. Contudo,
se excluirmos essa espécie da análise, os meses mais abundantes passam a ser outubro
(3.102) e novembro (3.048), sendo Vernonia polyanthes (Asteraceae) a espécie mais
representativa, em ambos os meses (Figura 2.2 b). Abril foi o mês que apresentou a
menor dispersão de diásporos, com a exclusão ou não do capim-gordura.
Não houve diferea significativa na quantidade de sementes dispersas
entre a estação chuvosa e a seca (p = 0,68). Isso ocorreu por causa da grande variação
da abundância de sementes entre os meses, apesar dos dados brutos mostrarem a
tendência de uma maior dispersão nos meses de menor precipitão (Figura 2.3 a, b).
H’
max.
= ln s
H’
j =
H’
max.
s
H’ = - (pi) x (ln pi)
i=1
D = 1 - (pi)²
61
2,99
2,71
3,93
3,56
4,65
3,75
2,93
3,71
4,84
2,42
2,28
1,91
1
10
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
N° de diásporos (Log)
1,86
2,67
3,48
3,5
2,45
2,4
2,71
2,06
2,61
2,94
2,3
2,22
1
10
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
N° de diásporos (Log)
Figura 2.2 Abundância da chuva de sementes em uma clareira dominada por Melinis
minutiflora, na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, Juiz de Fora, MG, no ano
de 2008. Os resultados foram transformados em logaritmos na base 10 para facilitar a
escala de visualização. a: todas as espécies, b: com a exclusão de M. minutiflora
Os diásporos anemoricos foram predominantes na chuva de sementes,
sendo dispersos durante todo o ano, com maior abundância nos meses de julho e agosto,
por causa do capim-gordura, sendo que nos meses de outubro, novembro e dezembro
(Figura 2.3 b), também houve uma considerável dispersão de sementes de espécies da
família Asteraceae (Tabela 2.1).
Depois dos diásporos anemoricos, os zoocóricos foram os que tiveram
um maior número de representantes (725 sementes). Suas sementes apresentaram maior
a
b
62
0
50
100
150
200
250
300
350
J F M A M J J A S O N D
de sementes
0
100
200
300
400
500
600
Precipitão (mm)
ZOO AU Precipitão (mm)
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
80000
J F M A M J J A S O N D
N° de sementes
0
100
200
300
400
500
600
Precipitação (mm)
ANM Precipitão (mm)
Figura 2.3 – Precipitação (mm) e abundância de sementes, de acordo com a síndrome de
dispersão, amostradas na chuva de sementes em uma clareira dominada por Melinis
minutiflora, localizada na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, no período de
janeiro a dezembro de 2008. a: diásporos zoocóricos e autocóricos, b: diásporos
anemocóricos; ZOO: zoocoria; AU: autocoria; ANM: anemocoria. Dados de
precipitação obtidos junto ao Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da
UFJF, coletados no campus da UFJF.
b
a
63
abundância no final da estação chuvosa e na seca, que compreendem os meses entre
março a junho e o mês de agosto, sendo que Cenchrus cf. echinatu (Poaceae) foi a
espécie mais abundante (Tabela 2.1). As sementes autocóricas foram as menos
abundantes (492 sementes), mas também apresentaram maior dispersão na estação seca,
sendo que maio e junho foram os meses com maior número de sementes (Figura 2.3 a).
Foram reconhecidos 39 morfotipos, 16 identificados ao vel de espécie,
10 ao nível de nero, 7 apenas ao nível de família (Tabela 2.1 e Figura 2.4). Os 6
morfotipos restantes não foram incluídos em nenhuma categoria taxonômica, sendo
considerados como “indeterminados”. O índice de diversidade de Simpson foi 0,13 e o
de Shannon foi 0,26. A equidade foi igual a 0,19, o que mostra que poucas espécies
foram responsáveis pela maior proporção de sementes dispersas.
Além de M. minutiflora, as espécies mais abundantes foram Vernonia
polyanthes (6.020 diásporos, Asteraceae), Cenchrus cf. echinatus (686, Poaceae)
Erechtites spp. (371, Asteraceae), Chromolaena cf. maximilianii (365, Asteraceae) e
Borreria alata (342, Rubiaceae). Com isso, Poaceae foi a família mais representativa
(132.241 indivíduos), seguida de Asteraceae, com 7.674 indivíduos.
As espécies mais freqüentes, amostradas em todos os coletores, foram M.
minutiflora, Chromolaena cf. maximilianii, Vernonia polyanthes e Asteraceae sp. 3,
seguidas de Pennisetum purpureum, Austrocritonia velutina, Erechtites spp. e
Asteraceae sp. 2, com 80% de freqüência.
A família de maior riqueza foi Asteraceae, com 11 espécies, seguida de
Poaceae, com 5 e Fabaceae e Rubiaceae, ambas com 4 espécies. As demais famílias
estão representadas por apenas 2 espécies ou 1, como pode ser observado na Tabela 2.1.
64
Tabela 2.1 – Relação, abundância e caracterização ecológica das espécies amostradas na
chuva de sementes em uma clareira dominada por Melinis minutiflora, localizada na
Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, no período de janeiro a dezembro de 2008.
D: síndrome de dispersão; H: hábito; A: abundância de sementes; AN: anemocoria; AU:
autocoria; Z: zoocoria; AR: arbóreo; B: arbustivo; HE: herbáceo; L: liana.
Família Espécie D H A
Asteraceae
Austrocritonia velutina (Gardner) R.M.King &
H.Rob.
AN AR 133
Baccharis serrulata Pers. AN AR 44
Chromolaena cf. maximilianii (Schard.) R. M.
King & H. Rob.
AN B 365
Erechtites spp. AN HE 371
Pterocaulon balansae Chotad AN HE 201
Vernonia polyanthes Less. AN AR 6.020
Asteraceae sp 1 AN - 40
Asteraceae sp 2 AN - 195
Asteraceae sp 3 AN - 267
Asteraceae sp 4 AN - 32
Asteraceae sp 5 AN - 6
Euphorbiaceae Croton lundianus (Didr.) Müll. Arg. AU HE 26
Fabaceaae Chamaecrista nictitans (L.) Moench AU HE 60
Crotalaria spp AU HE 14
Piptadenia laxa Benth. AU AR 6
Trifolium sp AU HE 3
Malpighiaceae Banisteriopsis sp AN L 1
Malvaceae Sida glaziovii K. Schum. AU HE 21
Melastomataceae Melastomataceae spp - - 38
Moraceae Ficus sp. 1 Z - 4
Ficus sp. 2 Z - 24
Poaceae Andropogon sp AN HE 251
Cenchrus cf. echinatus L. Z HE 686
Melinis minutiflora P. Beauv. AN HE 131.163
Pennisetum purpureum Schumach. AN HE 138
Poaceae sp 1 AN HE 3
Rhamnaceae Colubrina sp AU AR 13
Rubiaceae Borreria alata (Aubl.) DC. AU HE 342
Psychotria pleiocephala Müll. Arg. Z AR 1
Richardia brasiliensis Gomes AU HE 11
Spermacoce latifolia Aubl. AU HE 9
Sapindaceae Cupania sp Z AR 1
Serjania sp AN L 1
65
Figura 2.4 – Exemplares de algumas espécies amostradas na chuva de sementes em uma
clareira dominada por Melinis minutiflora, localizada na Reserva Biológica Municipal
Santa Cândida, no período de janeiro a dezembro de 2008. a: Trifolium sp, b:
Chamaecrista nictitans , c: Crotalaria sp, d: Croton lundianus, e: Colubrina sp, f: Ficus
sp 2,: g: Ficus sp 1, h: Borreria alata, i: Spermacoce latifolia, j: Cenchrus cf.
echinatus, k: Melinis minutiflora, l: Andropogon sp, m: Pennisetum purpureum, n:
Erechtites sp, o: Vernonia polyanthes, p: Asteraceae sp 3, q: Chromolaena cf.
maximilianii , r: Pterocaulon balansae, s: Austrocritonia velutina , t: Asteraceae sp 4.
Em relação ao tamanho, a grande maioria das espécies possui diásporos
menores que 2 mm (Figura 2.5). Houve a predominância de espécies herbáceas, com 15
espécies, seguida das arbóreas, com 8 espécies, sendo que apenas 2 espécies são lianas e
1 arbustiva (Tabela 2.1).
a
b
c
d
e
f
g
h
i
j
k
l
m
o
p
q
r
s
t
n
66
0
5
10
15
20
25
1 ┤2 mm 2 ┤4 mm 4 ┤8 mm 8 ┤16 mm 16 ┤32 mm > 32 mm
N° de Escies
Figura 2.5 Distribuição do número das espécies em classes de tamanho dos diásporos,
obtidos na chuva em sementes de uma clareira dominada por Melinis minutiflora,
localizada na Reserva Biológica Municipal Santa Cândida, no período de janeiro a
dezembro de 2008.
2.4 DISCUSSÃO
De acordo com os resultados de GORCHOV et al. (1993) e CUBIÑA &
MITCHELL AIDE (2001), os ambientes de clareira recebem menor deposição de
sementes do que os ambientes florestais. Porém, se compararmos o atual trabalho, onde
foram amostradas 14.070,1 sementes/m², com o trabalho de SOARES (2007), que
amostrou 3.991,6 sementes/m², em um trabalho de chuva de sementes realizado em
trechos da floresta da RBMSC, nota-se um resultado contrário ao daqueles autores.
Esses diferentes padrões podem ser explicados pelas características das
clareiras onde foram realizados os estudos da chuva de sementes, ou pelo método
empregado. No trabalho de GORCHOV et al. (1993), eles abriram a clareira em meio a
um fragmento florestal através do corte de árvores, onde não havia a presença de
gramíneas ou espécies ruderais. CUBIÑA & MITCHELL AIDE (2001), apesar de terem
realizado o estudo da dispersão de sementes em um pasto, quantificaram apenas as
sementes de espécies arbóreas. no presente estudo, assim como no de SOARES
(2007), foram quantificadas todas as sementes, independente da forma de vida.
67
Outro fator que contribuiu de forma significativa para a elevada
densidade de sementes amostradas na clareira foi a presença de sementes de M.
minutiflora, que corresponderam 93%. Essa é uma espécie que possui uma produção
intensa de sementes (FILGUEIRAS, 1990; MARTINS, 2006), estimada entre 200 a 280
Kg de sementes por hectare (MARTINS, 2006) e se encontra distribuída em toda a
clareira.
Segundo LEAL FILHO et al. (2007), as gramíneas apresentam um
potencial elevado de dispersão de sementes dentro de clareiras, provavelmente devido à
redução da competição por espaço e recursos com outros grupos, que pode ser explicado
pela rapidez com que essas plantas ocupam clareiras recém formadas, produzindo e
dispersando grandes quantidades de sementes internamente.
A predominância dos diásporos do capim-gordura e de outras espécies
com muitos diásporos resultou em uma baixa equidade (0,21). SOARES (2007) tamm
obteve baixa equidade no ambiente de borda da floresta da RBMSC (0,24). A
predomincia de poucas espécies com muitos diásporos também foi amostrada por
SILVA (2008) em ambientes perturbados de clareira e área queimada, em trechos de
Mata Atlântica.
A predominância de diásporos anemocóricos, dispersos ao longo de todo
o ano, seguiu o padrão de dispersão proposto por SCHUPP et al. (1989). Segundo esses
autores, nas clareiras ocorre maior chegada de sementes anemocóricas porque os
animais dispersores de sementes evitam ir nelas, pois são locais que possuem poucos
recursos para os frugívoros. Além disso, apresentam perigo para certos animais
dispersores de sementes. A predominância de sementes anemocóricas também foi
amostrada por SANTOS (2005), em um trabalho realizado em clareiras de diferentes
68
tamanhos, e no estudo de LEAL FILHO et al. (2007), onde ocorreu um reduzido
número de propágulos introduzidos nas clareiras via dispersão zoocórica.
Ainda comparando os resultados encontrados por SOARES (2007), com
os do presente trabalho, foi possível perceber a diferença da dispersão entre os diásporos
zoocóricos sob o dossel e na clareira. Na área de mata fechada, a autora identificou 25
espécies zoocóricas, enquanto que na clareira foram reconhecidas apenas 5 espécies.
Grande parte das sementes da família Asteraceae amostrada na chuva de
sementes pertence às espécies com indivíduos já estabelecidos na clareira como
Austrocritonia velutina, Baccharis serrulata, Chromolaena cf. maximilianii e Vernonia
polyanthes.
Com a exclusão de M. minutiflora, os meses de maior dispersão foram
outubro e novembro, assim como no trabalho de SOARES (2007), sendo que, em
ambos os trabalhos, as espécies mais abundantes nesses meses pertencem à família
Asteraceae, Vernonia polyanhtes e Vernonanthura diffusa (Less.) H. Rob.,
respectivamente.
Segundo JANZEN (1967 apud MORELLATO & LEITÃO-FILHO,
1992), o período entre o final da estação seca e o início da chuvosa pode oferecer boas
condições para a germinação das sementes, como maior umidade e maior probabilidade
de receber luz, o que favorece também o desenvolvimento das plântulas. Entretanto, não
houve diferença estatística na quantidade de diásporos dispersos entre a estação chuvosa
e a seca.
A predominância de espécies ruderais em clareiras também foi amostrada
por SANTOS (2005). Dependendo das espécies ruderais, que são tidas como pioneiras,
a sua grande abundância pode ser positiva, uma vez que o seu estabelecimento permite
que o processo da sucessão ecológica ocorra de forma gradual, com a substituição das
69
espécies ao longo do tempo, até que se forme uma floresta madura, se for uma matriz
florestal. Porém esse não é o caso do capim-gordura, que impede o estabelecimento das
outras espécies.
Segundo MONQUERO & CHRISTOFFOLETI (2005), EGLEY (1983)
afirmou que as sementes de várias espécies de plantas ruderais são ortodoxas e,
portanto, podem ser quiescentes se alguns dos fatores ambientais limitarem a
germinação ou podem estar em estado de dormência. Essas sementes passam, então, a
formar o banco de sementes, um potencial de regeneração da comunidade vegetal
(HARPER, 1977).
De acordo com RICHARDS (1996) as sementes de espécies pioneiras
tendem a ser pequenas, o que corrobora com os resultados obtidos nesse estudo, onde a
grande maioria das espécies amostradas possuem menos de 2 mm e pertencem a
espécies ruderais, tidas como pioneiras. Produzir sementes pequenas possibilitou o
sucesso dessas plantas, uma vez que produzir sementes pequenas possibilita a produção
de grande quantidade, assegurando que a dispersão tenha mais êxito (FENNER, 1985).
2.5 CONCLUSÃO
A chegada de sementes do entorno da clareira foi baixa, uma vez que a
maioria das sementes amostradas pertence a espécies presentes na clareira, sendo M.
nimutiflora a mais representativa, seguida de V. polyanthes. Isso mostra a necessidade
de utilizar técnicas que promovam a chegada de sementes da área do entorno da
clareira, principalmente técnicas de atração de frugívoros, facilitando a chegada de
espécies zoocóricas.
70
2.6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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73
CAPÍTULO 3
REGENERAÇÃO NATURAL, TRANSPOSIÇÃO DO BANCO DE SEMENTES
E PLANTIO DE MUDAS, INSTALADOS EM PEQUENOS NÚCLEOS, EM
UMA CLAREIRA DOMINADA POR Melinis minutiflora P. BEAUV. NA
RESERVA BIOLÓGICA MUNICIPAL SANTA CÂNDIDA, MG.
3.1 - INTRODUÇÃO
As espécies exóticas invasoras têm sido objeto de grande preocupação,
pois causam alterações nos ambientes nos quais invadiram, chegando a causar a
extinção de espécies nativas, em todo o mundo (CORADIN, 2006). Na Reserva
Biológica Municipal Santa Cândida (RBMSC), Juiz de Fora-MG, a ocorrência de
algumas espécies exóticas, sendo Melinis minutiflora (capim-gordura) uma delas, que é
considerada uma invasora (FILGUEIRAS, 1990).
M. minutiflora domina uma área de clareira antrópica no interior da
RBMSC e, provavelmente, vem impedindo a regeneração da vegetação nessa área. Essa
é uma espécie extremamente agressiva, que produz uma elevada quantidade de
sementes com alto potencial de germinação, é resistente ao fogo (FILGUEIRAS, 1990)
e se propaga através de rizomas (SILVA & HARIDASAN, 2007).
O manejo do capim-gordura e o uso de técnicas utilizadas na restauração
ecológica podem ser essenciais para auxiliar a regeneração natural nessa clareira,
facilitando o recrutamento de novos indivíduos na comunidade.
A ecologia da restauração, por se tratar de uma ciência recente e de
caráter multidisciplinar, vem sendo delineada e redefinida constantemente (ENGEL &
PARROTA, 2003). Suas práticas têm mostrado um grande avanço nos últimos anos.
Atualmente, modelos de plantio mais eficientes do que os utilizados nos primeiros
74
projetos de restauração vêm sendo propostos e, ainda, estão sendo testados outros
modelos visando à diminuição dos seus custos, além de se obter mais sucesso na
reconstrução de uma floresta que se torne auto-sustentável (KAGEYAMA &
GANDARA, 2004).
Segundo RODRIGUES & GANDOLFI (2001) apenas o plantio de
espécies nativas não garante a sobrevivência destas mudas, nem a reconstrução da
floresta. As florestas são resultantes de um processo de sucessão ecológica, no qual
ocorre um gradual aumento e substituição de espécies ao longo do tempo, assim como
um aumento da complexidade do ecossistema (MATTHES & MARTINS, 1997).
Com isso, hoje as pesquisas estão voltadas para modelos de restauração
que utilizem os potenciais da regeneração natural das áreas degradadas, que possam
restabelecer interações ecológicas e outros processos ecológicos (RODRIGUES &
GANDOLFI, 2001; BARBOSA & BABOSA, 2007). Além dos conhecimentos
ecológicos dos ecossistemas florestais já acumulados, são necessários mais estudos
sobre a dinâmica das florestas tropicais, assim como o envolvimento das pesquisas no
desenvolvimento de tecnologias que possam ser mais baratas e acessíveis
(KAGEYAMA & GANDARA, 2004).
Atualmente, podemos citar algumas técnicas que utilizam a regeneração
natural e que estão sendo recomendadas como a semeadura direta, a instalação de
poleiros, a transposição do banco de sementes, dentre outras (RODRIGUES &
GANDOLFI, 2001; REIS et al., 2003; MARTINS, 2007).
Apesar do aproveitamento da camada superficial do solo de áreas que
serão desmatadas para o objetivo de recuperar áreas degradadas ser uma prática
utilizada há bastante tempo por empresas mineradoras, o seu uso com o objetivo de
aproveitar as sementes armazenadas no solo (banco de sementes), foi pouco estudado
75
(PEDERSON & VAN DER VALK, 1989). Recentemente, alguns trabalhos m
mostrado a viabilidade da transposição do banco de sementes para restauração de uma
área degradada, cobrindo-a toda ou em parte, em diferentes condições (NAVE, 2005;
JAKOVAC, 2007).
Além da utilização do banco de sementes de áreas que serão desmatadas,
alguns autores recomendam que pequenas porções de solos de áreas preservadas sejam
utilizadas na restauração de áreas degradadas, de forma que não comprometa a
regeneração das áreas doadoras. Essas porções seriam alocadas em pequenos núcleos,
ao longo da área degradada, com o intuito de acelerar o processo da sucessão ecológica
e aumentar a biodiversidade local (RODRIGUES & GANDOLFI, 2001; REIS, et al.,
2003, SAMPAIO, 2006).
A formação de pequenos núcleos, através de diferentes técnicas de
restauração, pode aumentar a riqueza de espécies e pode, também, proporcionar
interações ecológicas que garantam um maior sucesso para a restauração. Isso ocorre
porque as técnicas de nucleação imitam a sucessão ecológica, onde espécies pioneiras
melhoram o ambiente permitindo o estabelecimento de novas espécies, tendendo cobrir
toda a área com o passar do tempo (REIS et al., 2003).
SAMPAIO (2006), em um trabalho de restauração realizado em
pastagens abandonadas em florestas estacionais deciduais, constatou que a utilização
das técnicas como semeadura, transposição de serapilheira e plantio de mudas em
núcleos foi positiva para o aumento da riqueza de espécies na regeneração da área.
Apesar dos avanços nas pesquisas sobre restauração ecológica, sua
continuidade é necessária para que todos os tipos de formações vegetais possam ter
modelos de restauração eficientes, e que abranjam as particularidades de cada um dos
ecossistemas, como a diversidade, os processos ecológicos e os fatores de degradação.
76
Atualmente, os ecossistemas mais estudados no Brasil, no âmbito da restauração
ecológica são os de matas ciliares, enquanto os outros ecossistemas ainda possuem
grandes lacunas para serem preenchidas (BARBOSA, 2001).
Com isso, este trabalho teve como objetivos, (1) avaliar o potencial de
regeneração do banco de sementes de uma clareira dominada por Melinis minutiflora,
após a remoção de indivíduos dessa espécie invasora, (2) avaliar o processo de sucessão
após a transposição do solo oriundo de trechos de floresta adjacentes à clareira e (3)
avaliar o desenvolvimento de mudas de Trema micrantha (L.) Blume (Ulmaceae),
Schinus therebinthifolius Raddi (Anacardiaceae) e Virola bicuhyba (Schott ex Spreng.)
Warb. (Myristicaceae) plantadas em pequenos núcleos na clareira, como formas de
promover a restauração de áreas dominadas pelo capim gordura, especialmente em
pequenas propriedades.
3.2 - MATERIAL E MÉTODOS
3.2.1 - Área de estudo
A Reserva Biológica Municipal Santa ndida (RBMSC; 21°45’43.78’’
S e 43°23’32.42’’ W) está situada na região urbana do município de Juiz de Fora, na
Zona da Mata de Minas Gerais. Essa é uma região com relevo bastante dissecado,
apresentando colinas ncavo-convexas e vales, com altitudes entre 467 e 1.104m. O
clima é do tipo Cwa (classificação de Köppen), mesotérmico, com verão chuvoso e
quente (CENTRO DE PESQUISAS SOCIAIS-UFJF, 2007) e a vegetação natural é
classificada como Floresta Estacional Semidecidual Montana (IBGE, 1992). Segundo
STAICO (1976), em Juiz de Fora há a predominância de solos do tipo latossolo
vermelho-amarelado, podendo ocorrer, também, o solo do tipo podzólico vermelho-
amarelado.
77
A RBMSC é um fragmento florestal urbano com 113,3 hectares e possui,
em seu interior uma clareira antrópica de aproximadamente 1 hectare, onde foi realizado
o presente trabalho. Essa clareira é dominada por Melinis minutiflora e com a presença
de indivíduos arbustivo-arbóreos esparsos, principalmente de Piptadenia gonoacantha
(Mart.) J.F. Macbr (Fabaceae). A clareira está situada na face oeste de uma das vertentes
dos morros que comem a reserva. Análise de solo indicou que o solo da clareira é
distfico, e apresenta uma textura muito argilosa na região mais alta do terreno e
textura de argila para a mais baixa, sendo que ambas as regiões possuem baixas
concentrões de fósforo, potássio, magnésio e outros elementos (Quadro 1).
3.2.2 - Implantação dos núcleos de restauração
Antes da implantação dos núcleos foi realizada a capina da espécie M.
minutiflora em 10 transectos de 2,5 x 15m, para a instalão de parcelas de 1x1m, com
os seguintes tratamentos: (1) regeneração natural a partir do banco de sementes da área
(autóctone); (2) transposição do banco de sementes; (3) plantio de mudas e (4) parcelas
controle, nas quais a capina foi realizada apenas no seu entorno (transecto). Os
transectos foram instalados em áreas com duas categorias de declividade: 5 em trechos
com 0 a 20º e 5 com 21 a 30º (Figura 4).
Cada transecto recebeu ao menos uma repetição de cada tratamento,
sendo a ordem da disposição realizada através de sorteio. O experimento foi montado no
mês de novembro de 2007, logo após o início das chuvas, uma vez que não se pretendia
proporcionar a rega aos tratamentos.
O controle de formigas cortadeiras foi realizado com a aplicação de
formicida em isca granulada, à base de sulfluramida. Quatro meses após a instalação
dos experimentos, em março de 2008, foi feita uma limpeza nas faixas, através da
78
capina, para facilitar o acesso às parcelas, assim como a limpeza nas parcelas do plantio
de mudas, para impedir que o capim-gordura abafasse as mudas.
A identificação das plantas foi realizada a partir de coleta de amostras
dos indivíduos dentro das parcelas ou em suas imediações, através da comparação com
material depositado no Herbário CESJ da Universidade Federal de Juiz de Fora, com a
literatura especializada (LEITÃO FILHO et al., 1972; ARANHA et al., 1972; BACCHI
et al., 1972; KISSMANN & GROTH, 1995; LORENZI, 2008) e por especialistas,
adotando-se o APG II (Angiosperm Phylogeny Group) como sistema de classificação
(SOUZA & LORENZI, 2008). As amostras de material fértil foram depositadas no
Herbário CESJ/UFJF.
3.2.2.1 - Controle
Parcelas controle foram implantadas em cada transecto, pela manutenção
de trechos com capim-gordura que não foram capinados, a fim de se avaliar a
colonização das mesmas por novas espécies.
3.2.2.2 - Regeneração natural autóctone
O monitoramento do processo de regeneração natural da vegetação da
área da clareira, após a retirada do capim-gordura, foi realizado em parcelas de 1 x 1m,
delimitada por estacas e barbantes, em cada transecto.
A germinação das sementes presentes no banco autóctone foi
acompanhada mensalmente, no período de dezembro de 2007 a novembro de 2008,
através da quantificação e identificação das plantas estabelecidas e o seu conjunto
analisado através da estimativa visual da cobertura vegetal das parcelas, em
porcentagem (0-100%).
79
3.2.2.3 Transposição do banco de sementes
Amostras de solo, incluindo a serapilheira, foram coletadas em parcelas
de 1 x 0,5 x 0,1m (RODRIGUES & GANDOLFI, 2001), definidas aleatoriamente nas
áreas de mata no entorno da clareira. O material coletado foi acondicionado em sacos
plásticos e transportado para os transectos. Cada amostra foi depositada sobre parcelas
de 1 x 1m, previamente capinadas e após a remoção de uma camada superficial do solo
(3cm), formando, então, uma parcela de 1m² com uma camada de 5cm de solo
transposto.
A avaliação da regeneração foi realizada mensalmente, no período de
dezembro de 2007 a novembro de 2008, através da quantificação da germinação, do
estabelecimento e do reconhecimento de novas plantas. Foi realizada, também, a
estimativa visual da área de cobertura vegetal das parcelas, em porcentagem (0-100%).
3.2.2.4. – Plantio de mudas
Foram alocadas 35 parcelas de 1m², para a realização do plantio de
mudas, distribuídas nos transectos e no entorno desses (Figura 4). As covas foram
abertas com dimensões de 40 x 40 x 40 cm, e receberam uma proporção de 3:1 de terra
e esterco de boi, além de aproximadamente 20g de NPK na proporção de 4-14-8.
As espécies utilizadas no plantio foram Trema micrantha (L.) Blume
(Ulmaceae), Schinus therebinthifolius Raddi (Anacardiaceae) e Virola bicuhyba (Schott
ex Spreng.) Warb. (Myristicaceae). O tamanho médio inicial das mudas de T.
micrantha, S. therebinthifolius e Virola bicuhyba era 48,64 cm (± 5,8 cm), 49,3 (± 10, 8
cm) e 43,3 cm (± 8,6 cm), respectivamente.
Essas espécies foram escolhidas por serem nativas da região e
produzirem frutos que são consumidos pela fauna. T. micrantha é considerada pioneira,
ocorrendo em todos os tipos de ambientes, exceto nos muito úmidos, produzindo grande
80
quantidade de sementes anualmente. S. therebinthifolius, também é considerada
pioneira, além de ser comum em ambientes úmidos, como beira de rios e várzeas
úmidas, ocorre também em terrenos secos e pobres. V. bicuhyba é considerada uma
espécie clímax exigente de luz, pom, pode ser encontrada em capoeiras e clareiras
abertas na mata, e produz semente anualmente (LORENZI, 1992). Além disso,
GARCIA (2007) encontrou S. therebinthifolius e V. bicuhyba ocorrendo em trechos de
interior da RBMSC.
Os tratamentos (Figura 3.1) de plantio consistiram nas seguintes
composições:
P1 parcelas com apenas uma planta, com 5 repetições para cada espécie (15
parcelas no total);
P2 parcelas com 3 plantas da mesma espécie, sendo 5 repetições para cada
espécie (15 parcelas no total);
P3 parcelas com 3 plantas, sendo uma de cada espécie, com 5 repetições (5
parcelas no total).
Figura 3.1 Representação das parcelas de 1x1m, ilustrando a composição dos plantios
de mudas. a: parcela com uma muda; b: parcela com 3 mudas da mesma espécie; c:
parcela com 3 mudas de espécies diferentes.
Para avaliar o desenvolvimento das mudas foram mensurados o diâmetro
do caule (mm), aferido na altura do solo com um paquímetro, e a altura total da muda
(cm), medida com um metro de madeira. O crescimento em altura foi calculado a partir
a
b
c
81
da diferença entre a altura final e a inicial para cada muda. As medidas foram tomadas
mensalmente no período de dezembro de 2007 a novembro de 2008.
3.2.7 – Análise dos dados
A semelhança florística, observada entre os tratamentos regeneração
natural autóctone e banco de sementes transposto, foi analisada pelo índice de
similaridade de Jaccard (DURIGAN, 2004), considerando:
Onde: a = total de espécies presentes em uma das áreas, b = total de espécies
presentes na outra área, c = n° de espécies comuns a ambas as amostras.
Foi calculada, também, a freqüência absoluta de ocorrência para as
espécies mais abundantes, através da fórmula:
Onde: FA(i), freqüência absoluta da espécie i (%), pi = número de coletores em que
ocorre a espécie i, P = número total de coletores.
O teste t (ZAR, 1999) foi utilizado para comparar a cobertura média entre
as 5 parcelas alocadas na área de menor declividade (0 a 20°) com as 5 parcelas da área
mais íngreme (21 a 30°) da regeneração autóctone. Para a comparação da cobertura
vegetal nas parcelas após a transposição do banco de sementes entre as parcelas das
diferentes declividades e para comparar a cobertura entre a regeneração natural
autóctone e a transposição do solo, foi utilizado o teste o-paramétrico de Mann-
Whitney (ZAR, 1999).
O crescimento das mudas entre os 3 tratamentos de plantios, foi
comparado pelo teste estatístico ANOVA, juntamente com o teste de Tukey (ZAR,
Cj = c
(a+b-c)
FA(i) = pi x 100
P
82
1999), considerando a taxa de crescimento em altura e a taxa de crescimento do
diâmetro, exceto para taxa de crescimento do diâmetro de T. micrantha, no qual foi
utilizado o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis (ZAR, 1999), uma vez que as
variâncias das amostras eram desiguais.
3.3 RESULTADOS
As a implantação dos experimentos observou-se a ocorrência de 5
meses bastante chuvosos, seguidos do s de abril/2008 com menos chuva, e de 4
meses bastante secos (Figura 3.2). O total pluviométrico de 2008 foi 1993, 7 mm e, com
a inclusão dos meses de novembro e dezembro de 2009 o total chegou a 2460,7mm.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
N D J F M A M J J A S O N D
Meses 2007/2008
Precipitão (mm)
0
5
10
15
20
25
Temperatura (°C)
Figura 3.2. Precipitação e médias mensais de temperatura para o município de Juiz de
Fora, no período de novembro de 2007 a dezembro de 2008. Dados obtidos junto ao
Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da UFJF, coletados no campus da
UFJF.
3.3.1 – Controle
A ocorrência de novos indivíduos (5 ± 3,4 plantas/m²) nas parcelas
controle, ou seja, nas que não sofreram capina, foi observada na borda das parcelas.
Isso indica que, as plantas germinaram a partir da retirada do capim-gordura em volta
das parcelas (Figura 3.3), o que proporcionou maior iluminação e espaços abertos.
83
Sendo assim, é possível notar que M. minutiflora realmente impediu a germinação e o
estabelecimento de outras plantas. Dentre as espécies que germinaram nessas parcelas
podemos citar Borreria alata, Pterocaulon balansae, Crotalaria pterocaula e Ipomoea
aristolochiifola.
3.3.2 - Regeneração natural autóctone
Com exceção dos indivíduos de M. minutiflora, que foram quantificados
através da cobertura, a densidade média do número de plantas no primeiro mês de
monitoramento (dezembro de 2007) foi o de 78,8 ± 42,8 plantas/m². Houve uma
redução na densidade de plantas ao longo dos meses, que variou devido ao predonio
da mortalidade em relação à entrada de novas plantas ao longo do tempo. Com o início
da estação chuvosa, a densidade média nos dois últimos meses, outubro (48,9 ± 37,5
plantas/m²) e novembro (57,2 ± 52,4 plantas/m²) de 2008, aumentou em relação aos
meses anteriores, porém foi menor que a do primeiro mês.
As a capina, as parcelas que foram destinadas à análise da regeneração
natural autóctone mostraram um rápido aumento da cobertura vegetal (Figura 3.4 a). As
principais espécies responsáveis pela cobertura vegetal foram Borreria alata,
Acanthospermum australe, Crotalaria pterocaula e Cenchrus cf. echinatus, que
juntamente com o capim-gordura alternaram a dominância em algumas parcelas. Entre
os meses de junho a setembro, ocorreu uma redução na cobertura, como decorrência da
morte de boa parte dos indivíduos de B. alata, A. australe, C. pterocaula e C. cf.
Figura 3.3 Detalhe de uma das parcelas
controle, mostrando as plantas que germinaram
na borda da parcela.
84
echinatus, que são espécies anuais (Figura 3.4 a e 3.5). A cobertura média voltou a
aumentar no mês de outubro, com a entrada de novos indivíduos nas parcelas.
Em relação à declividade do terreno, houve diferença significativa na
cobertura vegetal (p = 0,01), entre as parcelas da região mais plana e as da região mais
íngreme. As parcelas da região mais plana apresentaram porcentagem média de
cobertura maior (74,4 ± 22,6 %) do que as parcelas da região de maior declividade (49,8
± 20,6 %), sendo que, o capim-gordura foi mais abundante nas parcelas mais planas.
As parcelas dominadas pelo capim-gordura apresentaram menor
abundância de indivíduos do que as parcelas que tiveram as espécies B. alata, A.
australe e C. pterocaula como dominantes. As espécies B. alata, A. australe foram
dominantes nas parcelas de maior declividade, enquanto que C. pterocaula foi
dominante em apenas uma parcela, localizada na região plana.
Como resultado da regeneração natural, foram reconhecidos 41
morfotipos, sendo 21 identificados ao vel de espécie, 4 ao vel de gênero, 6 ao vel
de família e 10 permaneceram como “indeterminadas” (Tabela 3.1). As espécies mais
representativas foram M. minutiflora, C. pterocaula, B. alata e Sida glaziovii, sendo que
M. minutiflora, C. pterocaula e S. glaziovii foram amostradas durante todos os meses, e
B. alata esteve ausente entre os meses de junho a setembro, reaparecendo em outubro.
Essas espécies também foram as mais frequentes, sendo que M.
minutiflora e S. glaziovii tiveram 100% de freqüência, B. alata 90%, C. pterocaula
80%, seguidas de Erechtites hieraciifolius com 70%. Embora B. alata tenha
apresentado menos indivíduos nos meses entre fevereiro e maio, foi nesses meses que
ela apresentou maior cobertura vegetal, pois é uma espécie que cresce de forma
prostrada, ocupando uma área maior do que as plantas eretas. Das espécies que foram
85
0
20
40
60
80
100
120
dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov
Cobertura vegetal (%)
0
10
20
30
40
50
60
70
dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov
Cobertura vegeta (%)
Figura 3.4 – Cobertura vegetal de parcelas submetidas à capina de M. minutiflora,
seguidas da regeneração autóctone (a) e da transposição de solo (b), em uma clareira
localizada no interior da Reserva Biológica Municipal Santa ndida, Juiz de Fora,
MG. Os valores indicam a média e o desvio padrão.
possíveis identificar e determinar o hábito de vida, a grande maioria é herbácea (86,6%),
2 são arbustivas e 1 é liana.
A espécie que apresentou recrutamento de novos indivíduos ao longo dos
meses, mesmo na estação seca, foi S. glaziovii, enquanto que, para a maioria das
espécies o recrutamento das plantas ocorreu durante as chuvas.
a
b
86
Tabela 3.1 Relação, ocorrência e hábito das espécies amostradas em parcelas
submetidas a diferentes tratamentos após a capina de Melinis minutiflora, uma invasora
dominante em uma clareira localizada no interior da Reserva Biológica Municipal Santa
Cândida. TS: Transposição de solo; RN: regeneração natural, H: hábito; L: liana; HE:
herbáceo; AR: arbóreo; B: arbustivo.
Tratamentos
Família Espécies
TS RN
H
Apocynaceae Oxypetalum appendiculatum Mart. x - L
Asteraceae Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze x x HE
Ageratum fastigiatum (Gardner) R.M. King & H. Rob. x - B
Ambrosia scabra Hook. & Arn. - x HE
Blainvillea biaristata DC. x - HE
Erechtites hieraciifolius (L.) Raf. Ex DC. x x HE
Erechtites valerianifolius (LinknexnSpreng.) DC. x - HE
Eupatorium dimorpholepis Baker - x HE
Asteraceae sp 1 - x HE
Asteraceae sp 2 - x HE
Asteraceae sp 3 x x HE
Asteraceae sp 5 - x HE
Asteraceae sp 6 x x HE
Asteraceae sp 7 x - HE
Asteraceae sp 8 x - HE
Asteraceae sp 9 x - HE
Asteraceae sp 10 x - HE
Cannabaceae Trema micrantha (L.) Blume x - AR
Convolvulaceae
Convolvulaceae sp 1 x - L
Ipomoea aristolochiifolia G. Don x - L
Ipomoea cf. purpurea (L.) Roth - x L
Euphorbiaceae Alchornea sp x -
Croton lundianus (Didr.) Müll. Arg. x x HE
Croton sp x - AR
Croton urucurana Baill. x - AR
Euphorbia sp 1 x x HE
Euphorbia sp 2 - x HE
Manihot cf. hemitrichandra Müll. Arg. x - HE
Euphorbiaceae sp 1 x x HE
Fabaceae Apuleia leiocarpa Vogel x - AR
Chamaecrista nictitans (L.) Moench x x HE
Crotalaria pallida Aiton x x HE
Crotalaria pterocaula Desv. x x HE
Indigofera suffruticosa Mill. - x B
87
Tabela 3.1 – continuação ...
Tratamentos
Família Espécies
TS RN
H
Fabaceae Mimosa pudica L. x - HE
Mimosa sensitiva L. x - HE
Trifolium sp - x HE
Zornia reticulata Sm. x - HE
Fabaceae sp 1 x - -
Lamiaceae Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze - x HE
Aegiphila sellowiana Cham. x - B
Malvaceae Sida carpinifolia L. x - HE
Sida glaziovii K. Schum. x x HE
Sida urens L. x x HE
Triumfetta rhomboidea Jacq. x - HE
Phylantaceae Phyllantus tenellus Roxb. x x HE
Poaceae Cenchrus cf. echinatus L. x x HE
Melinis minutiflora P. Beauv. x x HE
Poaceae sp 1 x - HE
Rubiaceae Borreria alata (Aubl.) DC. x x HE
Richardia brasiliensis Gomes x x HE
Spermacoce latifolia Aubl. x - HE
Spermacoce palustris (Cham. & Schltdl.) Delprete x x HE
Solanaceae Acnistus arborescens (L.) Schltdl. x x B
Solanum sp 1 - x -
Solanum sp 2 x - -
Sterculiaceae Waltheria indica L. - x HE
Urticaceae Cecropia sp x - AR
Verbenaceae Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl x - HE
88
Figura 3.5 Fotos de uma das parcelas da regeneração natural, de uma clareira
dominada por Melinis minutiflora, localizada no interior da Reserva Biológica
Municipal Santa ndida, em diferentes meses. a: dezembro de 2007; b: abril de 2008;
c: junho de 2008; d: novembro de 2008.
3.3.3 – Transposição do banco de sementes
No primeiro mês de monitoramento após a transposição do banco de
sementes foi observada uma densidade dia de 37 ± 55,4 plantas/m², sem incluirmos
os indivíduos de M. minutiflora. Com a morte de alguns indivíduos, essa média
diminuiu ao longo dos meses que se seguiram, uma vez que a taxa de entrada de novos
indivíduos nas parcelas foi menor que a taxa de mortalidade. No início da estação
chuvosa de 2008 (outubro e novembro), ocorreu um leve aumento no número médio de
plantas.
A cobertura vegetal (Figura 3.4 b e 3.6) das parcelas que receberam a
transposição do solo aumentou ao longo do tempo, em função do crescimento das
plantas, principalmente daquelas com o crescimento prostrado, como de algumas lianas,
a
b
c
d
89
Figura 3.6 - Fotos de uma parcela, contendo o banco de sementes transposto, em
diferentes meses. a: dezembro de 2007; b: fevereiro de 2008; c: julho de 2008; d:
novembro de 2008.
gramíneas e herbáceas (Tabela 3.1). Porém, a partir de maio a cobertura média começou
a diminuir, por causa da morte dos indivíduos já estabelecidos, principalmente de B.
alata. Assim como o número de indivíduos, a cobertura teve um novo aumento nos
meses de outubro e novembro de 2008, com o início da estação chuvosa.
Parcelas localizadas nas regiões mais planas apresentaram uma cobertura
média de 65 ± 25,8 %, que foi significativamente maior (p < 0,001) do que a cobertura
média das parcelas das áreas mais íngreme, que tiveram uma cobertura média de 11,1 ±
4 %.
Foram amostrados 66 morfotipos, sendo 32 reconhecidos ao nível de
espécie, 5 ao vel de nero, 10 ao nível de família e 19 permaneceram como
“indeterminadas”. A família de maior riqueza foi Asteraceae, com 11 espécies, seguida
a
b
c
d
90
de Fabaceae, com 8, e Euphorbiaceae, com 7 (Tabela 3.1). As espécies mais abundantes
e com 100% de freqüência foram S. glaziovii, B. alata e M. minutiflora.
Apesar de o solo transposto ter sido retirado de trechos de mata no
entorno da clareira para o qual se esperava o predonio de pioneiras arbóreas, houve a
dominância de espécies herbáceas. Dentre as espécies amostradas, apenas 9 possuem
hábito arbustivo-arbóreo, sendo elas Acnistus arborescens, Aegiphila sellowiana,
Ageratum fastigiatum, Alchornea sp, Apuleia leiocarpa, Croton sp, Cecropia sp, Croton
urucurana, e Trema micrantha.
3.3.5Plantio de mudas
Ao final de 12 meses, não houve diferença significativa no crescimento
em altura das mudas de S. therebinthifolius entre as 3 formas de plantio (p = 0,12),
provavelmente em função da grande variação de crescimento entre as mudas, observada
devido à retomada do crescimento após danos por predação, detectados principalmente
em plantas do tratamento P3 (3 mudas diferentes) (Figura 3.7a e 3.8).
Apesar de não ter ocorrido diferença estatística no crescimento em altura
das mudas nos três tratamentos, elas apresentaram uma tendência de crescerem melhor
em P2 e de menor crescimento em P3, provavelmente por causa da competição
interespecífica (Figura 3.8).
Na taxa de aumento do diâmetro (Figura 3.7 b), P2 e P3 diferiram
estatisticamente (p = 0,03), sendo que, as mudas da mesma espécie plantadas juntas
(P2) apresentaram maior crescimento em diâmetro do que as mudas plantadas com as
outras espécies (P3). as mudas plantadas sozinhas (P1) não apresentaram diferença
significativa na taxa de crescimento de diâmetro com as mudas de P2 e P3. Nenhuma
muda de S. therebinthifolius morreu, durante o período de um ano.
91
0
20
40
60
80
100
120
140
160
P1 P2 P3
Crescimento em altura (cm)
0
5
10
15
20
25
30
35
P1 P2 P3
Crescimento em diâmetro (mm)
Schinus therebinthifolius Trema micrantha
Figura 3.7 - dias da taxa de crescimento em altura (a) e diâmetro (b) das mudas de
Schinus therebinthifolius e Trema micrantha, plantadas em diferentes densidades, em
uma clareira dominada por Melinis minutiflora, localizada no interior da Reserva
Biológica Municipal Santa Cândida, MG. P1: plantio com apenas uma muda; P2:
plantio com três mudas da mesma espécie; P3: plantio com três mudas de espécies
diferentes. A terceira espécie foi Virola bicuhyba que apresentou alta mortalidade. Os
valores indicam a média mais o desvio padrão. * Médias diferem estatisticamente pelo
teste de Tukey ao vel de 5% de probabilidade.
*
*
a
b
92
Da mesma forma que S. therebinthifolius, as mudas de T. micrantha não
apresentaram diferença significativa no crescimento em altura entre os plantios (p =
0,58), porém apresentaram uma tendência de maior crescimento em condição de
competição interespecífica (P3) (Figura 3.7a e 3.8). Apesar de não apresentarem
diferenças no aumento de diâmetro (p = 0,75) (Figura 3.7 b), as mudas tiveram uma
taxa de 20% de mortalidade, concentradas especialmente em P2.
Além do bom desenvolvimento das mudas de S. therebinthifolius um
indivíduo floresceu seis meses após o plantio (maio) (Figura 3.9 a). As mudas de T.
micrantha também apresentaram um bom crescimento, sendo que uma frutificou no
mês de dezembro (Figura 3.9 b), o que corresponde a 13 meses após o plantio.
Virola bicuhyba apresentou a maior taxa de mortalidade, sendo que das
25 mudas que foram plantadas, apenas 3 sobreviveram, representando uma mortalidade
de 88%. Das mudas sobreviventes, 2 foram plantadas em P1 e 1 em P3. Elas
apresentaram taxas de crescimento em altura de 27 cm, 6 cm e -38 cm, respectivamente.
3.4 DISCUSSÃO
3.3.1 – Regeneração natural autóctone e transposição do banco de sementes
As características microclimáticas de áreas dominadas por gramíneas
podem impedir o desenvolvimento das sementes que chegam nessa área, como a
temperatura mais elevada, o déficit hídrico que ocorre na época do inverno, a alta taxa
de predação por formigas, entre outros. Além dessas características, o capim-gordura
impede que grande parte das sementes alcance o solo, e as que chegam até ele,
possivelmente, não encontram condições propícias para a germinação (LEAL FILHO,
1992).
93
Figura 3.8 Curvas de crescimento em altura de mudas de Schinus therebinthifolius e
Trema micrantha plantadas em diferentes densidades, em uma clareira dominada por
Melinis minutiflora, localizada no interior da Reserva Biológica Municipal Santa
Cândida, MG. P1: plantio com apenas uma muda; P2: plantio com três mudas da mesma
espécie; P3: plantio com três mudas de espécies diferentes. A terceira espécie foi Virola
bicuhyba que apresentou alta mortalidade. Os valores indicam a média mais o desvio
padrão. Ano de 2007 e 2008.
Trema micrantha
0
50
100
150
200
dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov
Altura (cm)
P1 P2 P3
Schinus therebinthifolius
0
50
100
150
200
dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov
Altura (cm)
94
Figura 3.9 Detalhe de duas mudas plantadas em uma clareira dominada por Melinis
minutiflora, localizada no interior da Reserva Biológica Municipal Santa ndida, MG.
a: Schinus therebinthifolius com inflorescência; b: Trema micrantha com dois frutos,
destacados por círculos.
Observando os resultados registrados nas parcelas de controle, foi
possível notar o impedimento que o capim-gordura causa no estabelecimento de outras
espécies.Houve o estabelecimento de outras plantas somente na borda dessas parcelas,
onde ocorreu maior entrada de luz e o capim-gordura estava mais baixo, devido a capina
no entorno.
A alta taxa de germinação em dezembro de 2007 e nos meses de outubro
e novembro de 2008, tanto no banco de sementes autóctone como no alóctone, ocorreu
na estação chuvosa. PEREIRA & VELINI (2003), avaliando os efeitos de sistemas de
cultivo no cerrado sobre a dinâmica de populações de plantas daninhas, constataram que
a maior abundância de espécies daninhas ocorre devido às primeiras chuvas do ano
agrícola. BLANCO et al. (1994), analisando a distribuição mensal de emergência dessas
plantas, também observaram que, em média, 70% da emergência das plântulas
resultaram do primeiro fluxo de germinação das sementes, em conseqüência das
primeiras chuvas.
Segundo CERDÁ & GARCÍA-FAYOS (1997), em áreas de talude, o
deslocamento de solo e o escoamento superficial de água são fatores que dificultam e
podem até impedir a colonização da vegetação, principalmente por causa da perda de
a b
95
sementes. COSTALONGA (2006), estudando o banco de sementes de uma floresta
madura e de pasto adjacente a esta, localizados em uma encosta, encontrou uma maior
densidade de sementes na porção inferior do talude, em ambos os ambientes.
Isso mostra que a menor taxa de cobertura na transposão do banco de
sementes nas áreas mais altas possivelmente ocorreu devido à perda das sementes,
juntamente com a parte da camada de solo. a regeneração natural autóctone, a maior
cobertura na região mais plana, provavelmente foi por causa da grande concentração de
sementes nessas áreas.
Como a perda de solo em taludes pode prejudicar a regeneração natural, a
utilização da técnica de transposição de solo em taludes é mais eficiente se utilizar
métodos para a contenção do solo (JAKOVAC, 2007), assim como a contenção de
sementes e nutrientes, possibilitando que a regeneração tenha maior sucesso, ocorrendo
de forma mais rápida.
A abundância das plantas herbáceas na regeneração natural autóctone e
no banco de sementes transposto pode ser um fator positivo, pois essas espécies podem
ser fundamentais no processo de sucessão, atuando como pioneiras no ambiente
perturbado (ARAUJO et al., 2004; LORENZI, 2008). Segundo CHRISTOFFOLETI &
CAETANO (1998), essas espécies se proliferam rapidamente em locais abertos e estão
aptas a suportar condições climáticas adversas, tolerar elevadas e baixas temperaturas,
ambientes úmidos e secos e variações no suprimento de oxigênio, apresentando grande
capacidade de produzir sementes.
Segundo PUTZ & APPANAH (1987), o banco de sementes das florestas
tropicais é constituído, basicamente, por espécies pioneiras herceas e arbustivo-
arbóreas de ciclo de vida curto. Porém, grande parte das espécies herbáceas não é
componente das florestas tropicais. No entanto, aparecem em grande número no banco
96
de sementes, pois, geralmente apresentam dormência facultativa, além de possuírem
mecanismos eficientes de dispersão (VÁSQUEZ-YANES & OROZCO-SEGOVIA,
1987).
Em um trabalho com o banco de sementes em uma Floresta Estacional
Decídua ripária, ARAUJO et al. (2004) verificaram que mais de 80% das espécies
amostradas no banco de sementes eram herbáceas. Eles também encontraram espécies
dos gêneros Borreria, Sida e Ipomoea. BAIDER et al. (2001) também amostraram no
banco de sementes de uma floresta Atlântica Montana uma maior abundância de plantas
herbáceas, assim como MARTINS et al. (2002), em um estudo de regeneração após
fogo em uma Floresta Estacional Semidecidual.
A riqueza de espécies da família Asteraceae, tanto na regeneração natural
autóctone como no banco de sementes alóctone, pode ser positivo. Segundo BECHARA
(2005), as asteráceas exercem funções fundamentais, como intensa atração de insetos
polinizadores e servem de alimentação para herbívoros. Mas o seu principal potencial
ecológico é a alta produtividade, dando grande contribuição para a formação de
serapilheira e acumulação de matéria orgânica no solo, principalmente aquelas anuais
ou bi-anuais. Além disso, com os aglomerados herbáceo-arbustivos que formam, as
asteráceas proporcionam um equilíbrio dinâmico entre a vegetação e o solo.
Crotalaria pterocaula é uma espécie que merece destaque, pois
apresentou um rápido crescimento, atingindo altura de aproximadamente 1 m,
mostrando ser uma espécie com potencial para ser utilizada no controle do capim-
gordura. Além disso, as espécies do gênero Crotalaria são utilizadas na adubação verde
e cobertura do solo por serem plantas pouco exigentes e com grande potencial de
fixação biológica de nitrogênio (NEVES, 2009). MESCHEDE et al. (2007), em um
trabalho de supressão de plantas daninhas no Cerrado, concluíram que a crotalária
97
demonstrou ter boa capacidade na supressão de plantas invasoras, por causa da grande
capacidade de cobertura do solo.
Comparando a composição florística entre a regeneração natural da
clareira e a da transposição do banco de sementes, observou-se que, a transposição do
solo foi efetiva na introdução de novas espécies para a área perturbada, inclusive de
espécies arbustivas, como Apuleia leiocarpa, Croton urucurana e Trema micrantha, o
que não ocorreu na regeneração natural autóctone. Além disso, a germinação do capim-
gordura foi menor nas parcelas contendo o solo alóctone do que no banco de sementes
autóctone.
Segundo BASSO et al. (2007), a transposão do banco de sementes pode
ter um resultado satisfatório na introdução de uma grande quantidade de espécies na
área degradada, mas torna-se mais eficiente na introdução de espécies que formam o
banco de sementes permanente e apresentam um comportamento agrupado na natureza,
como as pioneiras C. urucurana e T. micrantha.
Além disso, na transposição do solo, além de sementes, são levados
juntamente com o solo, seres vivos (microrganismos decompositores, fungos
micorrízicos, bactérias nitrificantes, minhocas, etc) responsáveis pela ciclagem de
nutrientes, pela reestruturação e fertilização do solo, e materiais minerais e orgânicos, o
que auxilia na recuperação das propriedades físico-químicas do solo degradado e por
conseqüência na revegetação da área (REIS et al., 2003).
Outro ponto importante, tanto da regeneração natural como do banco
alóctone, foi a interação planta-animal proporcionada a partir do estabelecimento das
plantas nesses pequenos núcleos formados. De acordo com KAGEYAMA &
GANDARA (2004), quando se visa à restauração de um ecossistema, não se pode
pensar somente na reintrodução de plantas na área degradada. Segundo esses autores,
98
BAWA (1985) afirmou que a interação entre plantas e animais nas florestas tropicais é
muito intensa, pois são relações fundamentais como a polinização, dispersão de
sementes e herbivoria/predação.
Além disso, as plantas que morrem são incorporadas ao solo, permitindo
a disponibilização do nitrogênio fixado e de outros nutrientes retidos, melhorando a
qualidade do solo e dando continuidade aos ciclos de alguns dos elementos da natureza
(ODUM, 1988). A partir desses processos, pode ser possível atingir o princípio
fundamental da restauração ecológica que, segundo TRES (2006) é: promover uma
nova dinâmica de sucessão ecológica, onde ocorram níveis intensos de interação entre
produtores, consumidores e de decompositores, num ciclo contínuo de mortes e
nascimentos”.
3.4.2 – Plantio de mudas
As mudas de S. therebinthifolius apresentaram um bom desenvolvimento
em todas as três formas de plantios, num período de um ano, diferindo somente no
aumento do diâmetro entre P1 e P2, além disso, o apresentaram nenhuma
mortalidade. De acordo com BAGGIO (1988), essa é uma espécie que apresenta uma
grande plasticidade ecológica e se distribui desde o Nordeste do Brasil, passando pelo
Estado do Rio Grande do Sul, Argentina e Paraguai.
OLIVEIRA (2004), em um trabalho de avaliação das alterações morfo-
fisiológicas de S. therebinthifolius crescendo em solo contaminado e não contaminado
por petróleo, concluiu que ela é uma espécie que pode ser utilizada em solos
contaminados por petróleo, uma vez que apresentou um crescimento aceitável,
mostrando ser uma espécie tolerante a esse tipo de contaminação.
99
Em um projeto de revegetação na Reserva Poço das Antas, RJ, MORAES
& PEREIRA (2007) verificaram que as mudas de S. therebinthifolius apresentaram
altura média (2,49 m, área 1 e 2,10 m, área 2) e diâmetro médio (4,94 cm, área 1 e 4,15
cm, área 2) maiores do que os do presente trabalho. Essa diferença pode ser devido à
forma de plantio, assim como a diferença das características ambientais, uma vez que o
tipo de formação vegetal da Reserva de Poço das Antas é de Floresta Ombrófila Densa
Submontana.
A floração de uma das mudas de S. therebinthifolius pode ter tido um
papel importante para o processo ecológico de interação planta-animal. Segundo LENZI
et al. (2003), CARVALHO (1994) afirmou que essa é uma espécie que possui flores
melíferas e atraentes para diversos visitantes florais. Além disso, a ocorrência de alguns
insetos nas mudas dessa espécie pode ser uma indicação de que ela é uma boa
formadora de núcleo para a promoção da sucessão ecológica.
As mudas de T. micrantha, também, apresentaram um bom
desenvolvimento, não diferindo a taxa de crescimento em um ano, entre os 3
tratamentos. Segundo CARVALHO (1994 apud LENZI et al. 2003), essa é uma das
primeiras espécies arbóreas a ocorrer em áreas abandonadas, e apresenta uma boa
adaptação a solos de baixa fertilidade e em terrenos desnudos. Porém, a baixa
concentração de N limita o crescimento em altura das plantas dessa espécie, e o
aumento do diâmetro é limitado pela falta de N, P e B (VENTURIN et al. 1999).
Assim como S. therebinthifolius, T. micrantha se mostrou uma boa
formadora de núcleo, pois proporcionou alimento para algumas espécies de insetos e os
frutos que comaram a ser produzidos poderão atrair animais dispersores de sementes,
possibilitando a chegada de sementes de outras espécies na área degradada, dando
continuidade ao processo de regeneração.
100
De acordo com BECHARA (2005), somente o desenvolvimento em
altura não é um bom parâmetro para avaliar a restauração ecológica, pois acarreta uma
visão reducionista dos aspectos ecológicos. As áreas em restauração são compostas por
sistemas e subsistemas complexos e dinâmicos. Nesse sentido, seria importante avaliar
se as plantas estão se reproduzindo, recrutando descendentes, isto é, se está ocorrendo
fluxo gênico, e quais as interações interespecíficas (dispersão de sementes, polinização
e herbivoria) e funções ecológicas (cobertura e inibição de gramíneas invasoras,
capacidade facilitadora de regeneração natural, potencial nucleador) que as mudas estão
possibilitando.
A alta taxa de mortalidade de V. bicuhyba pode ter ocorrido por causa da
grande exposição ao sol, uma vez que ela é tida como uma espécie clímax exigente de
luz (LORENZI, 1992). STANO et al. (2007), em um estudo sobre a estrutura de
populações de espécies arbóreas em uma Floresta Ombfila Densa Submontana,
amostraram o maior número de indivíduos de V. bicuhyba na menor classe de tamanho,
o que mostra que ela germina normalmente no interior da floresta, não necessitando de
luz. Segundo os autores, o recrutamento para classe seguinte necessita, possivelmente,
de condições de luminosidade e outros meios e recursos, que pode estar ligado às
aberturas criadas no dossel, proporcionando assim, um crescimento rápido.
STANO et al. (2007) também verificaram que as plantas de V. bicuhyba
apresentam crescimento lento em diâmetro em relação ao crescimento em altura, onde
demonstraram ser mais altas que espessas, indicando que seus caules, apesar de
flexíveis e com pouco diâmetro, são suficientemente resistentes para suportar a copa,
possibilitando ir ao encontro da luz no dossel.
Esses resultados mostram que o plantio de V. bicuhyba para a restauração
de áreas degradadas deve ser realizado após o plantio de outras espécies de crescimento
101
rápido e boa capacidade de sombreamento, como forma de enriquecimento da
diversidade na área. Pois assim, as mudas dessa espécie terão maiores chances de
sobreviverem.
Outra possibilidade, a ser testada, para a utilização de V. bicuhyba seria o
seu plantio em grupos adensados com um maior número de mudas, onde suas mudas
ficariam no centro do grupo, cercadas por espécies pioneiras, onde essas mudas das
laterais formariam uma bordadura beneficiando a muda central.
3.5 CONCLUSÃO
Os resultados mostraram que o capim-gordura tem dificultado a
regeneração natural da clareira, sendo necessário o seu manejo. Porém, somente a sua
retirada não é suficiente. É necessária a implantação de técnicas que introduzam
espécies capazes de competir com o capim-gordura, além da manutenção da área.
A transposição do banco em áreas de encosta deve ser realizada
juntamente com técnicas de contenção do solo, para evitar sua perda. Em áreas
dominadas por M. minutiflora, a implantação de pequenos núcleos (1m²) com a
transposição de solo não tem um efeito satisfatório, se não houver um constante
monitoramento da área.
O resultado do plantio de mudas se mostrou bem satisfatório. As mudas
utilizadas, com exceção das de V. bicuhyba, apresentaram rápido crescimento, tendo
condições de competir com o capim-gordura.
Devido à alta taxa de mortalidade das mudas de V. bicuhyba talvez fosse
conveniente sua utilização no enriquecimento de plantios, quando já houver uma
cobertura vegetal que proporcione sombreamento para essa espécie clímax.
102
3.6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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106
5 - DISCUSSÃO GERAL
As fontes de regeneração natural (banco e chuva de sementes e
regeneração autóctone) da clareira dominada por Melinis minutiflora, estudadas no
presente trabalho, assim como a transposição do banco de sementes da mata do entorno
da clareira, apresentaram resultados semelhantes.
Em todos esses tratamentos houve a predominância de espécies
herbáceas, principalmente do capim-gordura. Até mesmo na chuva de sementes foram
amostradas poucas sementes de espécies arbóreas. Outra característica comum entre os
experimentos foi a baixa diversidade.
HALL & SWAINE (1980) e PUTZ & APPANAH (1987) afirmaram que
em florestas maduras predomincia de sementes de espécies arbóreas estocadas no
solo, enquanto as florestas jovens ou em regeneração e os campos agricultáveis são
dominados por ervas e arbustos pioneiros. A presença de poucas espécies zoocóricas e
muitas espécies de hábito herbáceo, em banco de sementes de pastagens, também foi
observada por GASPARINO et al. (2006) e NETO et al. (2007). A predominância de
espécies ruderais na chuva de sementes também foi verificada por LEAL FILHO (1992)
e SANTOS (2005).
A alta produção de sementes do capim-gordura (FILGUEIRAS, 1990)
refletiu nos resultados do banco de sementes e da chuva de sementes, sendo dominante
em ambos. Das espécies identificadas, Borreria alata, Croton lundianus e Sida glaziovii
foram comuns em ambos os monitoramentos, sendo mais abundantes no banco do que
na chuva de sementes. Na regeneração natural, M. minutiflora também foi abundante.
Além dos indivíduos estabelecidos na clareira, as plantas anuais
oriundas da regeneração natural também refletiram na chuva de sementes, como:
Trifolium sp., Borreria alata, Crotalaria spp., Sida glaziovii e Richardia brasiliensis.
107
As espécies B. alata, C. lundianus, Sida glaziovii, Phyllanthus tenellus,
Spermacoce palustris e algumas espécies da família Asteraceae foram comuns no banco
de sementes e na regeneração natural. Grande parte das espécies amostrada no banco de
sementes não germinou na regeneração natural, provavelmente por causa da área
amostral.
De acordo com PICKET (1976) os hábitats das espécies pioneiras
possuem diversidade limitada por causa das condições severas do ambiente. As clareiras
possuem condições ambientais como maior incidência de luz, o que aumenta a
temperatura e diminui a umidade, características que proporcionam condições para o
estabelecimento de espécies pioneiras (BROKAW, 1987; SCHUPP et al., 1989).
O fato de a clareira do presente estudo estar em uma encosta voltada para
a face oeste, ocorre uma elevada incidência solar. Segundo RIBEIRO et al. (2008), no
hemisfério sul, os raios solares incidem mais diretamente sobre as faces voltadas para o
norte, e depois para as faces voltadas para o oeste. Essas faces recebem maior
quantidade de calor do que as faces leste e sul. Essa alta incidência solar favorece o
crescimento de M. minutiflora.
Diante da grande quantidade de espécies ruderais que germinaram na
regeneração natural foi possível concluir que somente a retirada do capim-gordura não
se mostrou satisfatória para dar continuidade à regeneração da área. O plantio de mudas
e até mesmo a transposição do banco de sementes contribuíram para a entrada de
indivíduos arbóreos, mesmo que em baixa densidade na transposição do solo.
Além da retirada do capim-gordura e da implantação de técnicas que
visem à restauração ecológica é necessária a manutenção da área para garantir o
estabelecimento de novos indivíduos na comunidade, e que esses possam sombrear o
108
capim-gordura. Segundo FILGUEIRAS (1990), M. minutiflora é uma espécies que não
tolera sombreamento.
6 - CONCLUSÕES GERAIS
- Com a retirada de Melinis minutiflora novos indivíduos foram recrutados na
comunidade. Porém, a retirada do capim-gordura não é suficiente para acelerar a
regeneração natural. Essa espécie produz grande quantidade de sementes e após a
retirada dos indivíduos adultos, novos indivíduos germinam e crescem rapidamente,
sendo difícil para as outras espécies competirem com ela. Para permitir que espécies
perenes se estabeleçam é necessária a manutenção da área por um período maior que um
ano.
- O plantio de mudas se mostrou satisfatório e as mudas de Trema micrantha e Schinus
therebinthifolius apresentaram um bom desenvolvimento, podendo ser utilizadas em
áreas florestais dominadas por M. minutiflora.
- É recomendável que a transposição do banco de sementes seja feita de forma a cobrir
toda ou grande parte da área a ser restaurada. Para áreas de talude deve ser feita a
contenção do solo para evitar a sua perda, conseqüentemente evitar a perda de sementes.
A utilização da transposição do banco de sementes em pequenos núcleos deve
apresentar resultados mais interessantes do que o do presente trabalho se for utilizado
como forma de enriquecimento da área a ser restaurada, quando houver um maior
número de indivíduos arbóreos ou arbustivos cobrindo a área.
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Arrival and survival in tropical treefall gaps. Ecology, 70(3): 562-564.
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