Eu sei que nós matava 15 vacas todo dia de manhã, de segunda a
sexta e os bahiminas comprava tudo. Porco, nós matava 18 a 20
porcos a cada três dias. Eles compravam tudo, nós vendia muito,
todo mundo comia, todo mundo bebia e era uma fartura imensa. E
em T. Otoni de um modo geral, as poucas lojas que tinha, mas as
que tinha vendiam, inclusive não tinha esse negócio de vender roupa
pronta como tem hoje, era corte de pano, aqueles rolos de pano e
quando a gente chegava pra comprar eles iam desenrolando aquilo.
Eu via tudo, aquele movimento, o dinheiro circulava em T. Otoni.
144
Então houve, realmente, uma queda muito grande para Teófilo Otoni
porque vinha para cá, como pagamento para funcionários, uma nota
preta que entrava. E também o transporte era muito mais barato, de
passageiros... por exemplo, quem queria comprar alguma coisa lá
em Carlos Chagas – gado, material de construção, etc. o transporte
era muito mais barato e isso não trazia prejuízo para a ferrovia não,
porque enquanto um caminhão trás trinta toneladas numa estrada
boa, uma ferrovia, mesmo deficitária, transportava trinta e cinco
toneladas em cada veículo, isso eu posso garantir porque era eu
quem controlava. E locomotivas dessas a vapor, puxava 8, 10
veículos numa estrada toda sinuosa, é muito mais vantagem do que
colocar 10 carretas para transportar essa mercadoria.
145
A cidade era outra, assim, naquele tempo não existia banco, o
pagamento era feito na empresa. Tinha o tesoureiro, ele ia ao banco,
tirava aquele dinheiro, e colocava o dinheiro dentro do envelope, eu
entregava pra cada um. Não tinha aquele negócio de depositar em
conta bancária. Isso veio surgir depois da década de 60.
146
Eles (os ferroviários) formavam uma classe bastante fortalecida,
como viria a ser, anos mais tarde, os funcionários do Banco do Brasil.
O comércio girava em torno deles, pois eles tinham um salário, uma
remuneração muito boa.
Quanto terminou essa Bahia-Minas foi um caos para a cidade em
todos os aspectos. Social, econômico.
A produção escoava, havia movimento, etc. e tudo isso acabou com
a extinção da Bahia-Minas.
147
Percebemos que há um consenso entre os habitantes da cidade de que o
período de funcionamento da ferrovia foi um período de grande desenvolvimento
econômico e social para a cidade. Os recursos proporcionados pela Bahia-Minas
através do pagamento dos salários para os funcionários promoveu o fortalecimento
do comércio, gerando empregos indiretos e melhoria para todos. Não pode ser
esquecida aqui a importante contribuição para a vida cultural da cidade que contava
144
OLIVEIRA, Sidônio Rodrigues. Entrevista concedida no dia 17 de novembro de 2005
145
FERREIRA, José. Entrevista concedida no dia 10 de agosto de 2006.
146
FARINA, Glair. Entrevista concedida no dia 16 de julho de 2006.
147
BRUNO, Laura. Entrevista concedida no dia 29 de dezembro de 2005.