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J – E as rádios? Como foram os programas que o Tião fez? Na Rádio Nacional de São
Paulo, ou em outras onde ele atuou, ocorreu algum programa exclusivo?
L – O Tião Carreiro quando começou, cantava nos corredores da Rádio Tupi. Na época
tinha o programa “Alma da Terra” e eles tinham a equipe formada. Ali não entrava e nem
saia ninguém porque já estava completo. Esse programa, “Alma da Terra”, durou vinte e
cinco anos na Tupi de São Paulo, no tempo em que as rádios cobriam o país todo. Então, o
Tião Carreiro e Pardinho, naquele tempo, às vezes cantavam num programa de sábado à
tarde, na Rádio Tupi. E não tinha vaga para Tião Carreiro e Pardinho, você imagina heim,
isso naquele começo. Logo em seguida, ele foi cantar com o Carreirinho, mas também não
fizeram rádio porque o Carreirinho cantava com o Zé Carreiro na rádio Record, mas o Tião
não participou. Na época as fortes eram a Record e a Tupi, a Nacional era com Tonico e
Tinoco à tarde e de manhã com o programa “Alvorada Cabocla” com o Nhô Zeca onde
começaram o Vieira e Vieirinha. Mas o Tião só veio mesmo a se impor na Rádio Nacional,
com o Edgard de Souza e depois com o Oscar Martins e o Carlos Alberto, eram três linhas,
três horários, isso no comecinho de 1960. Lá eles ficaram muitos anos, depois passaram
para a Record com o Sebastião Victor, com a “Linha Sertanejo Classe A”. Depois o Zé
Bettio se apoderou dela e tirou o Sebastião Victor da jogada. Então eles continuaram lá até
acabar a Linha. E ficaram sem rádio. Mas, também, não precisavam mais, já tinha televisão.
J – E na televisão, em quais programas eles participaram?
L – Nessa época, nem Tonico e Tinoco iam. Por exemplo, em 1965, se não me falha a
memória, houve uma entrega de troféu Rockette Pinto na TV Record que na época era o
Paulo Machado de Carvalho. Lá tinha o programa da Jovem Guarda, com Roberto Carlos,
Renato Corte Real, e tinha um show mensal muito grande e um desses shows foi a entrega
do troféu, e o Tonico e Tinoco foram agraciados como melhor dupla do ano. E foram lá e
receberam, mas foram proibidos de cantar, foram embora pra casa. O diretor do programa
não deixou eles cantarem. Para você ver o preconceito. Ignorância! Isso não é nem
preconceito, isso é atraso, isso é burrice (rsrs). Mas então, pra você ver como era
perseguida nossa música caipira. Esse povo derrubou todas essas barreiras. Hoje, vocês
mais jovens que tocam a viola não só caipira mas de uma maneira mais clássica e tudo,
vocês tem o campo aberto, quem apanhou na cara fomos nós, e eu me incluo também no
meio, porque derrubamos o mato e até hoje eu ando derrubando. Pois, graças a Deus, ainda
estou por aí e eu participo de alguns debates aonde eu aperto essa caboclada, e se nego vem
com história e conversa fiada vai ter que reconsiderar e voltar rapidinho senão vai passar
vergonha. Então, veja bem, a televisão veio colaborar um pouco, a partir do programa que o
Tonico e Tinoco lançou na Bandeirantes que era a emissora que dava oportunidade. O
Geraldo Meirelles tinha um programa também, chamado “Canta Viola”, na Record, mas ele
nunca gostou de música caipira e sempre foi metido a modernizar e prestou um desserviço
para a música caipira. Então, surgiu o programa “Som Brasil”, com o Rolando Boldrin na
Globo, naquela época Tião Carreiro e Pardinho tocaram lá, depois ficou o Lima Duarte e
depois a Globo cortou do ar e nunca mais quis saber de música sertaneja a não ser com
esses ‘moderninhos’ que lançou numa época, os “amigos”. E a Globo sempre foi elitista,
uma empresa de elite e que também presta um grande desserviço para o Brasil, na minha
opinião.