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FACULDADE DE PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Guinter Santana Lühring
AVALIAÇÂO DE TRAÇOS DE PSICOPATIA E ABUSO DE DROGAS EM
UMA AMOSTRA DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI.
Porto Alegre
2010
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Guinter Santana Lühring
AVALIAÇÃO DE TRAÇOS DE PSICOPATIA E ABUSO DE DROGAS EM
UMA AMOSTRA DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Psicologia da
Faculdade de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre em
Psicologia Clínica.
Prof. Dr. Gabriel Jose Chittó Gauer
Orientador
Porto Alegre, janeiro de 2010
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1
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária Responsável: Elisete Sales de Souza, CRB 10/1441
L951a Lühring, Guinter Santana
Avaliação de traços de psicopatia e abuso de drogas em
uma amostra de adolescentes em conflito com a lei / Guinter
Santana Lühring. – Porto Alegre, 2010.
68 f.
Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Fac. de
Psicologia, PUCRS.
Orientador: Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer
1. Psicologia. 2. Psicologia Clínica. 3. Psicopatia 4.
Psicopatologia. 5. Adolescentes - Violência. 6. Adolescentes
– Uso de Drogas. I. Gauer, Gabriel José Chittó. II. Título.
CDD 155.5
616.89
2
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
AVALIAÇÃO DE TRAÇOS DE PSICOPATIA E ABUSO DE DROGAS EM
UMA AMOSTRA DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
Comissão Examinadora
Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer
Presidente
Prof Dr. Prof. Ruth Gauer
PUCRS
Prof. Dra. Irani Argimon
PUCRS
Porto Alegre, Janeiro de 2010
3
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço ao Dr. Gabriel Gauer, meu orientador, professor e amigo,
por sua confiança em meu potencial e pela liberdade para desenvolver o trabalho, sem
nunca deixar de dar preciosas contribuições.
Uma pesquisa deste porte não é viável sem o apoio de grandes instituições.
Agradeço ao CNPq pelo apoio financeiro fornecido, e a FASE Novo Hamburgo, sua
diretoria e funcionários, pela colaboração com as instalações e toda a ajuda oferecida
durante o período da coleta de dados.
A todos os integrantes e colaboradores do Grupo de Avaliação e Intervenção em
Saúde Mental, pelas contribuições com o desenvolvimento deste trabalho, e outros que
realizamos juntos, além da amizade que neste grupo encontrei. Especialmente aos
colegas Ms. Ramiro Ronchetti, pelo início deste trabalho. Sua pesquisa foi de grande
relevância para que esta Dissertação pudesse ser desenvolvida. Tárcia Rita Davoglio,
companheira em muitos e cansativos dias de coletas de dados na FASE – NH.
Aos bolsistas e colaboradores Aline Rubim, Carissa Trevisan, Gabriela Kilian,
Jamile Moraes, Pedro Marini, pela colaboração na análise e tratamento de dados. Aos
amigos doutorandos, Leonardo Silva e Prisla Calvetti pela paciência e muitos momentos
dedicados a correção e leitura de meus manuscritos. Ao Dr. Silvio José Lemos
Vasconcellos, por sua ajuda como pesquisador adjunto. Ao Dr. David S. Kosson, pelo
treinamento com o PCL:YV, e pelo importante apoio dado a nossa pesquisa.
Agradeço ao Dr. José Carlos pelo suporte dado com seu amplo conhecimento em
estatística.
A meus pais, por todo o investimento feito em mim até os dias de hoje. A Manuela
Santos, por todo amor, carinho, apoio em importantes momentos e compreensão com os
finais de semana dedicados a pesquisa.
A caminhada aaqui não foi curta, e os momentos de estudo, onde somente o
silêncio e a concentração me permitiam ser produtivo o foram poucos. Sendo assim,
quero finalizar agradecendo a todos os amigos, o apenas os que estiveram próximo,
apoiando quando necessário, mas também a compreensão daqueles dos quais me afastei
ao longo deste tempo todo e que mesmo com a distância mantiveram acesa a chama da
4
amizade.
5
RESUMO
A violência é um problema que tem acompanhado a humanidade através dos
tempos, pois faz parte da constituição humana. De gênese multifatorial pode estar
relacionada a diversos fatores. Assim, todas as pessoas estão sujeitas a cometer atos
violentos, basta que o potencial para tal seja estimulado. Os estudos demonstram que na
maior parte dos episódios de violência, o uso de drogas pode tornar-se facilitador, ou
mesmo motivador de ações violentas e criminosas. As drogas podem ser estímulos,
motivos, respostas ou mediadoras de comportamentos. Neste estudo realizamos uma
avaliação de traços psicopáticos de adolescentes infratores com o uso do Inventário de
Psicopatia de Hare: Versão Jovens (PCL:YV) e relacionamos os escores obtidos com
dados sócio demográficos, história criminal e uso de substâncias. Para a análise dos
dados foi utilizado o pacote estatístico SPSS 11.0. As comparações das médias dos
escores obtidos no PCL:YV e das variáveis sócio-demográficas e uso de substâncias
foram efetuadas com Análise de Variância (ANOVA), Correlação de Pearson,
diagramas de dispersão, e teste t. Os resultados apontam que o maior consumo de
substâncias quanto à frequência, diversidade de substâncias e idade de início estão
relacionadas com a violência e traços psicopáticos.
Palavras chave
Psicologia; Psicologia Clínica; Psicopatia; Psicopatologia; Adolescentes; Violência.
6
ABSTRACT
Violence has been accompanying the human kind for ages since it’s part of its
constitution. Of multifactorial genesis, it may be related to various factors. Thus,
everybody is capable of having violent behaviour, as long as the potential for which is
stimulated. Studies have shown that in the majority of violent episodes drug intake
might work as a facilitator or a trigger for either violent or criminal actions. Drugs can
be stimulus, reasons, answers, or mediator to several behaviours. In this study we have
evaluated the psychopathic features of young lawbreakers by using the Psychopathy
Checklist - youth version (PCL:YV) and relating the obtained scores to
sociodemographical data, criminal antecedents and substances intake. For the analysis
of the data, the statistical package for social science for windows (SPSS 11.0) has been
used. The comparison of the average of the scores obtained from PCL: YV, the
sociodemographical variants and the substances intake have been brought about by
using the Analysis of Variance (ANOVA), Pearson’s Correlation, Dispersion diagrams
and T test. The results indicate that the major use of substances concerning frequency,
diversity of substances and age of onset are related to violence and psychopathic
features.
Keywords
Psychology; Clinical Psychology; Psychopathy; Psichopatology; Adolescents; Violence.
7
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS...........................................................................................................8
LISTA DE QUADROS.....................................................................................................9
LISTA DE GRÁFICOS...................................................................................................10
CAPITULO I - REVISÃO DE LITERATURA........................................................... 11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................28
CAPITULO II - ESTUDO EMPIRICO....................................................................... 35
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 56
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................60
APÊNDICE ................................................................................................................ 62
8
LISTA DE SIGLAS
APA American Psychiatric Association
CEBRID Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CVmPf Cortex Ventromedial Pre-frontal
DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de TranstornosMentais
ECA Epidemiological Catchment Area
FASE Fundação de Atendimento Sócio Educativo
ICD/CID Classificação Internacional de Doenças
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IL Illinois
IML Instituto Médico Legal
MHS Multi Health Systems
OMS Organização Mundial de Saúde
PCL – R Inventário de Psicopatia de Hare
PCL: YV Inventário de Psicopatia de Hare: Versão Jovens
PUCRS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
QSD-US Questionário Sócio Demográfico e de Uso de Substâncias
SNC Sistema Nervoso Central
TC Transtorno de Conduta
TDAH Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
TPAS Transtorno de Personalidade Anti-Social
9
LISTA DE QUADROS
Quadro I – Traços de Psicopatia por Cleckley
Quadro II Quantidade de indivíduos por delito em função da freqüência de uso de
drogas.
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico I – Relação entre idade de início do uso de substâncias e escore do PCL:YV
Gráfico II - Relação entre freqüência do uso de substâncias e escore do PCL:YV
Gráfico III - Relação entre diversidade de substâncias usadas e escore do PCL:YV
11
CAPITULO I
REVISÃO DE LITERATURA SOBRE
TRAÇOS DE PSICOPATIA E DROGAS DE ABUSO EM UMA AMOSTRA DE
ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
12
INTRODUÇÃO
A violência é um dos problemas mais complexos e preocupantes do mundo
(Gauer & Pereira, 2005) e pode estar relacionada a fatores culturais, econômicos,
políticos, psicológicos e biológicos, entre outros. De gênese multifatorial e não
totalmente explicada, pode ser vista como uma falha de comportamento quanto aos
limites da agressão aceitável e inaceitável.
Mesmo com todos os esforços e pesquisas que envolvem este tema, ele não foi
completamente explicado. Todas as pessoas estão sujeitas a cometer atos violentos e
moralmente condenáveis, basta que o potencial para tal seja estimulado, pois a violência
faz parte da constituição humana (Gauer, 2001). Considerando esta visão generalista,
acreditamos na existência de características específicas e diferentes limiares para que
uma pessoa desenvolva uma mente homicida, violenta e psicopática.
Alguns tipos de personalidade apresentam maior propensão a cometer atos
violentos e criminosos, sendo a personalidade psicopática a mais extrema neste aspecto.
Capazes de atos violentos pelo impulso de satisfazer uma vontade, pessoas com traços
de psicopatia o, com alguma freqüência, encontrados em instituições sócio educativas
ou carcerárias.
Os estudos demonstram que na maior parte dos episódios de violência, o uso de
drogas torna-se facilitador ou mesmo motivador da ação violenta e criminosa (Nessa,
Latif, Siddiqui, Hussain, Hossain, 2008; Priuli, & Moraes, 2007, Pechansky, Szobot, &
Scivoletto, S., 2004). Segundo Minayo, e Deslandes, (1998), as drogas podem ser
estímulos, motivos, respostas ou mediadoras de comportamentos sociais violentos.
Para encontrarmos uma relação causal entre determinadas drogas e a violência,
seria necessário saber se os comportamentos violentos ocorreriam ou não na mesma
situação, caso a droga não estivesse presente. Acreditamos que o efeito deste tipo de
substância pode agravar a conduta psicopática. Sendo assim, são objetivos do presente
estudo: revisar a literatura sobre o tema psicopatia e drogadição bem como realizar uma
avaliação de traços psicopáticos de adolescentes em conflito com a lei por meio do
Inventário de Psicopatia de Hare: Versão Jovens (PCL:YV), relacionando os escores
obtidos com o uso de substâncias e com os dados sócio demográficos.
Foram realizadas ao longo deste estudo, entrevistas com 185 adolescentes os
quais cumpriam medida sócio educativa, devido a condutas delitivas variadas. Nestas
13
entrevistas investigamos os traços de psicopatia, o uso de drogas e dados sócio
demográficos dos jovens, que permitiram criar um perfil do interno da instituição.
O trabalho foi dividido em dois capítulos, sendo o primeiro, uma revisão de
literatura. A primeira parte do conteúdo traz conceitos fundamentais sobre a violência e
o tema “drogadição”. Embora as substâncias com potencial de abuso sejam agrupadas
em oito classes: álcool, nicotina, cocaína, anfetaminas e êxtase, inalantes, opióides,
ansiolíticos benzodiazepínicos e maconha (Laranjeira et al, 2003), não foram incluídas
na revisão informações sobre os opióides, anfetaminas, e benzodiazepínicos, pois dentre
os indivíduos entrevistados não foi referido o uso para este tipo de substância.
Realizamos também, um breve histórico sobre Transtorno Anti-Social de
Personalidade e Psicopatia. Nesta parte objetivamos o esclarecimento entre as
diferenças entre psicopatia, sociopatia e transtorno anti-social de personalidade. Não
poderiam faltar colocações referentes à Adolescência e Transtorno de Conduta, pois a
amostra investigada neste estudo foi composta por adolescentes em conflito com a lei.
Além disso, o transtorno de conduta é um pré-requisito à psicopatia. Entretanto, cabe
ressaltar que nem todo o adolescente que apresenta transtorno de conduta será quando
adulto um psicopata. Porém, os psicopatas foram em sua maioria adolescentes com
transtorno de conduta. Esta afirmativa, no entanto, pode por muitos ser entendida como
contraditória. Como pode o transtorno de conduta ser um requisito a um psicopata e
nem todos os psicopatas terem apresentado durante seu período de adolescência tal
transtorno? Esta questão é respondida na parte final da revisão da literatura, onde
abordamos fatores neurológicos em estudos mais recentes acerca do tema psicopatia.
Na segunda parte ou pesquisa empírica, são apresentados os objetivos,
metodologia, análise de dados, resultados encontrados e conclusão. Este estudo foi
importante à medida que relacionou as drogas ao comportamento violento e psicopático,
e permitiu apresentar um perfil sócio demográfico do adolescente em conflito com a lei
e gerou novos questionamentos a serem investigados em pesquisas futuras.
Esta dissertação está vinculada a dois projetos coordenados pelo Prof. Dr.
Gabriel José Chit Gauer e pelo Prof. Dr. Silvio José Vasconcellos, intitulados
“Validação para o português (Brasil) do Inventário de Psicopatia de Hare: versão jovens
(PCL:YV) uma correlação com aspectos clínicos e psicossociais e uso de software
para avaliação de traços afetivos” ofício 527/08 (Anexo I), e “Avaliação psicológica e
situação jurídico-penal de adolescentes” ofício 0934/07 (Anexo II), aprovados pelo
Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e
14
a bolsa de mestrado do CNPq, numero de processo 566848/2008-2, edital 27/2007,
também vinculado a bolsa de produtividade do Prof. Dr. Gabriel J. C. Gauer e processo
vinculado à bolsa da FAPERGS ARD003/2009.
REVISÃO DE LITERATURA
A Organização Mundial da Saúde OMS (2002) define violência como sendo o
uso intencional da força, ou poder, em forma de ameaça contra si mesmo, outra pessoa,
grupo ou comunidade que ocasiona (ou tem grandes probabilidades de ocasionar) lesão,
morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento e privações. (Soethe, 2006). O
comportamento humano de acordo com Gauer (2001) deve ser compreendido a partir de
uma perspectiva bio-psico-social. As regras ajudam a manter a ordem social e nos
protegem de possíveis danos causados por sua transgressão. Elas nos ajudam a viver
juntos, como membros de uma família ou de uma comunidade. Ocasionalmente, é
normal que as regras sejam quebradas, no entanto, algumas pessoas não agem desta
maneira, e desde a infância se rebelam contra todo tipo de regulamento. E apesar de
todas as sanções a que estão sujeitas, tais como o castigo parental, o ostracismo, o
fracasso ou a prisão, elas permanecem presas em seu fosso de mau comportamento.
O comportamento violento está se tornando mais comum entre os adolescentes
(Trenchs Sainz de la Maza, Planas, Barcenilla, Cubells, & Fernández, 2008; Duailibi,
Ponicki, Grube, Pinsky, Laranjeira, & Raw, 2007). Em algumas situações, a
agressividade juvenil excede o limite da rebeldia, invadindo intensamente o âmbito da
crueldade e da criminalidade, como é possível observar em jornais e noticiários com
alguma freqüência. Exemplo disso são as ações das gangues, os franco-atiradores de
escolas, os queimadores de mendigos, os homicidas de grupos étnicos e as agressões
intrafamiliares.
A criminalidade na adolescência está diretamente relacionada à delinqüência
comum, pois os adolescentes com tal comportamento costumam agir por si, ou
vinculados a organizações débeis. Estes jovens colocam sua integridade física em risco
com freqüência, na realização de delitos de natureza variada, em que a sociedade, por
sua vez, manifesta dificuldades de suportar os índices de agressividade. Os agredidos
aceitam perder os bens materiais para garantirem a sua integridade física e moral. No
entanto, esse espaço de negociação parece estar diminuindo consideravelmente, visto
15
que muitos crimes não se resumem a uma agressão ao patrimônio, mas a pessoa,
comprometendo a integridade física e moral da vítima (Gauer, 1999).
Existe uma heterogeneidade substancial entre adolescentes quanto aos tipos de
delitos cometidos e a severidade e cronicidade do comportamento anti-social, bem como
quanto às suas motivações subjacentes (Forth, Kosson, & Hare, 2006). Ainda de acordo
com os mesmos autores, estudos com adultos tem demonstrado uma forte relação entre
psicopatia e crimes repetitivos graves. Também apontam que a presença deste
transtorno de modo geral está associada com um pobre prognóstico de tratamento. Este
fato evidencia a importância da identificação precoce de tais traços.
Alguns transtornos de personalidade apontam, com freqüência, dependência de
algum tipo de substância, sendo que 95% dos indivíduos com Transtorno de
Personalidade Anti-social apresentam dependência de álcool ou outras drogas, e que
30% faz uso de mais de uma substância (Zaleski, 2004).
Pesquisas indicam que dos crimes cometidos pelos adolescentes 68,6% são
contra o patrimônio, 15% tráfico de drogas e 1,3% contra a vida e a pessoa (Barnow,
Lucht, & Freyberger, 2001). Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) para
o ano de 2000 destacavam que morreram cerca de 1,6 milhões de pessoas no mundo
inteiro como resultado da violência (Priuli, & Moraes, 2007).
Drogas, Dependência e Abuso: Conceitos Fundamentais
Não se sabe ao certo a origem da palavra droga. Poderia ter vindo do persa droa,
que significa odor aromático, do hebraico rakab, perfume, ou do holandês droog,
substância ou folha seca. Substâncias ou drogas psicoativas são aquelas que modificam
o estado de consciência do usuário. Os efeitos são variados, podendo ir de uma
estimulação suave a severas alterações do funcionamento psíquico. Quando usada de
forma abusiva pode levar a manifestações de dependência. (Seibel e Toscano, 2001).
A Organização Mundial da Saúde - OMS (2002) define droga como qualquer
substância natural ou sintética que, administrada por qualquer via no organismo, afeta
sua estrutura ou função. Define como uso nocivo, um padrão de consumo de substância
que está causando dano a saúde. Outros autores definem drogas como substâncias que
alteram o estado de consciência do usuário gerando efeitos que perpassam desde uma
estimulação suave até efeitos alucinógenos (Dalla-Déa, Santos, Itakura, & Olic, 2004).
Todo o consumo de substâncias, seja ela lícita ou o, sofre influência de um
conjunto de fatores, os quais se influenciam mutuamente, e que aumentam ou diminuem
16
o risco de complicações em decorrência do uso. Estes fatores de risco para o surgimento
da dependência química podem ser de natureza biológica, psicológica e social. Os
fatores biológicos envolvem, além da predisposição genética, a capacidade do rebro e
do corpo em tolerar a presença constante da substância e metabolizá-la, assim como a
natureza farmacológica da substância quanto à toxidade e via de administração
escolhida. Os fatores psicológicos são referentes a distúrbios do desenvolvimento,
morbidades psiquiátricas, problemas de comportamento e repertório de habilidades
sociais, e expectativa quanto ao efeito da substância. Nos fatores sociais estão
envolvidos a estrutura familiar, escolaridade, opções de lazer, exposição a violência e
pressão do grupo de convívio para o uso (Marques & Ribeiro, 2006).
Uma vez ingerida, qualquer substância psicoativa, causa no usuário diversas
alterações metabólicas, relacionadas, pelo menos no primeiro momento, com efeitos de
prazer. Estes efeitos prazerosos associados ao consumo da droga incidem sobre o
funcionamento cerebral modificando as vias e redes neurais sobre as quais produzem
atuação. Portanto o uso continuado obriga o organismo a uma adaptação (Argimon,
2010).
A partir de questões particulares de cada indivíduo é desenvolvido um padrão de
consumo de substâncias. Quando o consumo de alguma droga é freqüente, compulsivo,
destinado a evitar os sintomas da abstinência e acompanhado por problemas físicos,
psicológicos e sociais, estamos nos referindo à dependência (Marques & Ribeiro, 2006).
O novo conceito para dependência química é descritivo, baseado em sinais e
sintomas, assim é vista como uma síndrome determinada através de diversos fatores de
risco. Foram estabelecidos padrões individuais de consumo que variam de intensidade
ao longo de uma linha contínua. Os problemas relacionados ao uso de substâncias
psicoativas dividem-se em: nenhum, leve, moderado, substancial e pesado (Laranjeira et
al, 2003). Nesta divisão o usuário pesado o qual possui graves problemas quanto ao uso
é o dependente.
A Associação Americana de Psiquiatria (2003) considera por Dependência de
Substância “a presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, comportamentais e
fisiológicos, indicando que o indivíduo continua utilizando uma substância, apesar de
problemas significativos relacionados a ela. Existe um padrão de auto-administração
repetida que geralmente resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo
de consumo da droga”.
17
Entende-se por tolerância a necessidade de maiores quantidades da droga para
atingir o mesmo efeito. E por abstinência, as respostas comportamentais, fisiológicas e
cognitivas mal adaptativas, de configuração e gravidade variáveis à redução da
concentração de uma substância no organismo de um indivíduo que manteve uso pesado
e prolongado da mesma. Após o desenvolvimento dos sintomas, a pessoa tende a voltar
a consumir a droga para aliviar ou evitar os sintomas (DSM-IV TR, 2003)
Os critérios de dependência, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos
Transtornos Mentais, IV edição, Revisada (DSM-IVTR), compreendem “um padrão de
uso disfuncional de uma substância, levando a um comprometimento ou desconforto
clinicamente significativo, ocorrendo durante qualquer tempo num período de 12 meses.
O diagnóstico de dependência pode ser sintetizado em três perfis básicos: 1) o
padrão de consumo e a presença de critérios de dependência; 2) a gravidade do padrão
de consumo e como ele complica outras áreas da vida; e 3) a motivação para a mudança
(Laranjeira et al, 2003).
Conforme a APA (2003), o Abuso de Substância é “caracterizado por um padrão
mal-adaptativo de uso, manifestado por conseqüências adversas recorrentes e
significativas relacionadas ao uso repetido da substância”. Pode haver um fracasso
repetido em cumprir obrigações importantes; uso em situações em que pode apresentar
risco de integridade física; múltiplos problemas legais, sociais e interpessoais
recorrentes. A diferença dos critérios de Dependência para Abuso é que neste último
não se inclui tolerância, abstinência ou um padrão compulsivo de uso. Um diagnóstico
de Abuso de Substância é cancelado por um de Dependência.
O uso de álcool, tabaco e outras drogas estão presentes em todos os países do
mundo. O consumo de drogas ilícitas atinge 4,2% da população mundial, sendo a
maconha a mais consumida, seguida pelas anfetaminas em segundo, a cocaína em
terceiro e opiáceos em quarto. As substâncias com potencial de abuso são agrupadas em
oito classes: álcool, nicotina, cocaína, anfetaminas e êxtase, inalantes, opióides,
ansiolíticos benzodiazepínicos e maconha (Laranjeira et al, 2003).
Mais da metade da população das Américas e Europa já fizeram uso de álcool
alguma vez na vida, sendo que a dependência acomete de 10% a 12% da população
mundial. Os problemas referentes ao consumo do álcool não estão necessariamente
relacionados ao uso crônico (Marques, Araújo, Laranjeira & Zaleski, 2010). No Brasil
existe uma estimativa que 6,6% da população está dependente da substância, sendo a
bebida mais consumida a cerveja. Em estudo realizados junto ao IML (Instituto Médico
18
Legal) foram analisados homicídios na cidade de Curitiba, e os resultados mostravam
que 53,6% das vítimas e 58,9% dos autores dos crimes estavam sob o efeito de bebidas
alcoólicas no momento da ocorrência criminal (Galduróz & Caetano, 2004).
Os sinais e sintomas da intoxicação por álcool caracterizam-se por crescentes
níveis de depressão central. Inicialmente a manifestação é de euforia leve, evoluindo
para tonturas, incoordenação motora, passando para confusão e desorientação, atingindo
graus variáveis de anestesia, entre eles o estupor e o coma (Marques, Araújo, Laranjeira
& Zaleski, 2010).
O consumo do tabaco é um dos piores problemas de saúde pública, o qual
abrange proporções internacionais. Segundo levantamento realizado pelo CEBRID
(Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, 2007), cerca de três
milhões de pessoas no mundo morrem precocemente devido a doenças relacionadas ao
tabagismo e aproximadamente um terço da população adulta mundial faz uso de
produtos do tabaco.
O cigarro e outras formas de uso do tabaco são capazes de provocar dependência
em decorrência da ação da nicotina, sendo que os processos farmacológicos e
comportamentais são similares aos que determinam a dependência da heroína e da
cocaína. A idade média para início de uso de tabaco está entre 13 e 14 anos, e quanto
mais precoce o início, maiores serão a gravidade da dependência e os problemas a ela
associados (Marques & Ribeiro, 2003; Marques, Araújo, Laranjeira & Zaleski, 2010).
O uso de estimulantes vem crescendo nas ultimas 3 décadas, principalmente da
cocaína, crack, e ecstasy. Segundo o I e II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de
Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado pelo CEBRID (2007), até 2005 7,2% dos
indivíduos do sexo masculino, entre 25 e 34 anos de idade, usaram cocaína ou crack
alguma vez na vida. Estas drogas são consumidas por 0,3% da população mundial
(Ribeiro, Romano, & Marques, 2003; Marques, Araújo, Laranjeira & Zaleski, 2010).
A população de usuários da cocaína é extremamente jovem, variando dos 15 aos
45 anos. O consumo da substância pode se dar por qualquer via de administração com
rápida e eficaz absorção pelas mucosas. O uso desencadeia euforia, efeito anestésico
local e sintomas físicos de natureza autonômica. Pode provocar complicações nos
sistemas cardiovascular, sistema nervoso central, além de complicações psiquiátricas
agudas como: ansiedade, agitação, heteroagressividade, sintomas paranóides e
alucinações (Marques, Araújo, Laranjeira & Zaleski, 2010).
19
O crack não é uma droga nova, de fato, o crack e a merla são a cocaína em sua
forma de base livre, uma nova forma de cocaína preparada e administrada. Para poder
ser fumada, o sal da cocaína precisa voltar a forma base, neutralizando-se o cloridrato
ou a parte ácida. O resultado deste processo é um produto potencialmente perigoso
devido sua impureza, composta por uma mistura da cocaína com bicarbonato de sódio
ou amônia e água destilada, resultando em pequenos grãos porosos, que são fumados
em cachimbos (Bordin, Figlie, & Laranjeira, 2004).
Conforme CEBRID (2004), todos os efeitos provocados no cérebro pela cocaína
também são causados pelo crack, entretanto o uso deste provoca maiores danos no
sistema vascular. Além disso, usuários entrevistados comentaram com alguma
freqüência sobre um estado de paranóia assim que o efeito desejado começa a passar.
Uma vez que o crack penetra no cérebro, os efeitos estimulantes iniciam, gerando uma
sensação de aumento das habilidades físicas e mentais do usuário (Bordin, Figlie &
Laranjeira, 2004).
Desde a década de 1930 a maconha é considerada um “problema social”. Alguns
países começaram a relacionar o abuso da maconha à degeneração psíquica, ao crime e
a marginalização do indivíduo, e é atualmente a droga ilícita mais usada. Nos EUA 40%
da população adulta já usou esta substancia psicoativa pelo menos uma vez, sendo que 1
em cada 10 usuários tornam-se dependentes em algum momento (Marques, Araújo,
Laranjeira & Zaleski, 2010).
Os efeitos da intoxicação aparecem após alguns minutos do uso, e são sintomas:
déficits motores e cognitivos. O consumo pode desencadear quadros temporários de
ansiedade, como pânico, ou sintomas psicóticos, sendo capaz de piorar quadros de
esquizofrenia. O uso prolongado pode causar prejuízos cognitivos, relacionados com
integração e organização de conteúdos, além de processos de atenção e memória.
Embora a maioria dos usuários não se torne dependente, o risco da dependência
aumenta conforme a extensão do consumo (Marques, Araújo, Laranjeira & Zaleski,
2010).
Os solventes ou inalantes estão entre as drogas mais usadas pelos estudantes de
escolas públicas brasileiras, e entre adolescentes de baixa renda. O mecanismo de ação
desta droga é pouco entendido, pois são muitas as classes químicas envolvidas e
associação entre diferentes solventes. As doses iniciais trazem sensação de euforia e
desinibição, risos imotivados e fala pastosa, seguidas de confusão mental, desorientação
e possíveis alucinações. Em uma fase seguinte, sintomas como a redução do estado de
20
alerta, perda da coordenação motora e consciência podendo ser seguido de convulsões,
coma e morte (Marques & Ribeiro, 2006).
Alguns autores enfatizam o consumo de drogas como um importante facilitador
de situações de violência. Não faltam evidências científicas da presença das mesmas,
nos homicídios, suicídios, violência doméstica, crimes sexuais, atropelamentos e
acidentes de trânsito (Laranjeira, Duailibi, & Pinsky, 2005; Moraes, 2001). Além disso,
o nas duas últimas décadas o aumento do uso de substâncias psicoativas com potencial
de abuso tem sido considerável, sendo alvo de preocupação da sociedade brasileira, e
este tipo de comportamento está se tornando mais precoce entre adolescentes e mesmo
crianças (Laranjeira, 2003).
Transtorno Anti-Social de Personalidade e Psicopatia
Profissionais da área da saúde têm dedicado sua atenção ao estudo de indivíduos
transgressores de leis e normas de conduta. Muitos conceitos foram desenvolvidos para
denominar estes quadros clínicos, tais como o de Psicopatia, Transtorno de
Personalidade Anti-Social, Sociopatia (Gauer & Cataldo, 2003) e Transtorno Dissocial
como no Código Internacional das Doenças (CID-10) (Gauer & Vasconcelos 2003).
Provavelmente uma das primeiras descrições registradas sobre algum
comportamento que pudesse se identificar à idéia de Personalidade Psicopática foi a de
Girolano Cardamo (1501-1596), um professor de medicina da Universidade de Pavia. O
filho de Cardamo foi decapitado por ter envenenado sua mulher (mãe do réu) com raízes
venenosas. Neste relato, Cardamo fala em “improbidade”, quadro que não alcançava a
insanidade total porque as pessoas que disso padeciam mantinham a aptidão para dirigir
sua vontade. Philippe Pinel utilizou a expressão “loucura sem delírio” para descrever
um padrão de comportamento de falta de remorso (Gauer & Cataldo, 2003).
Kraepelin, quando faz a classificação das doenças mentais em 1904, usa o termo
Personalidade Psicopática, que hoje utilizamos para referir-nos, precisamente, a este
tipo de pessoas que não são neuróticos nem psicóticos, também não estão incluídas no
esquema de mania-depressão, mas que se mantêm em choque contundente com os
parâmetros sociais vigentes. Em 1923, Schneider elabora uma conceituação e
classificação do que é, para ele, a Personalidade Psicopática. Schneider descarta, no
conjunto classificatório da personalidade, atributos tais como a inteligência, os instintos
e sentimentos corporais, valorizando como elementos distintivos o conjunto dos
sentimentos e valores, das tendências e vontades (Gauer & Cataldo, 2003).
21
Em 1952, o DSM-I apresentava a descrição de personalidade psicopática, sendo
que o transtorno abrangia um espectro muito maior de entidades do que hoje, incluindo
emocionalidade patológica (posteriormente personalidade histérica/histriônica). Dentro
desta personalidade, outros subtipos eram classificados. Entre eles, a reação anti-social,
aplicada à indivíduos “sempre em problemas com a lei, não aprendendo com a
experiência e incapazes de manter lealdade a pessoas, códigos ou grupos. Demonstram
hedonismo, imaturidade emocional, com falta de senso de responsabilidade e habilidade
para racionalizar seu comportamento de modo a parecer razoável e justificável”. Outros
subtipos de psicopatia incluíam dependência química, alcoolismo e desvios sexuais
(American Psychiatric Association, 1952).
As idéias de Cleckley tiveram participação direta no DSM-I (1952). Em 1941,
Cleckley escreveu um livro chamado “A scara da sanidade”, o qual se referia a esta
psicopatologia. Esta obra apresentou quatro revisões (Cleckley, 1976), constituindo-se
fundamental na compreensão da personalidade psicopatica. O autor definiu o transtorno
em termos semelhantes à visão contemporânea, como uma entidade distinta de outros
transtornos psiquiátricos e alterações comportamentais. Em 1964, Cleckley descreveu as
características mais freqüentes do transtorno que hoje chamamos psicopatia, as quais
podem ser definidas em 16 traços (Quadro-2).
Quadro 2 – Traços de psicopatia por Cleckley (1976)
1- sedução superficial e “inteligência astuta”
2- ausência de alucinações e outros sinais de pensamento irracional
3- ausência de ansiedade ou outros sinais de transtornos psiconeuróticos
4- incapacidade de manter vínculo de confiança
5- falta de sinceridade, desconfiança
6- ausência de arrependimento ou vergonha
7- comportamento anti-social
8- julgamento empobrecido e dificuldade em aprender com a experiência
9- egocentricidade e incapacidade para amar
10- relacionamentos superficiais
11- pobreza de insight
12- pobre relacionamento interpessoal
13- comportamento alterado e convidativo à bebida
14- raramente com conduta/atitude suicida
15- vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada
16- dificuldade em seguir/estabelecer um plano de vida.
22
Atualmente o conceito que se tem de psicopatia é o mesmo que se tem de
Transtorno Anti-social de Personalidade. Em algumas ocasiões, o termo “sociopata” é
utilizado no lugar de psicopata. O uso dessa expressão, hoje em desuso, era freqüente
nos anos 60 e 70, quando alguns pretendiam destacar a origem social do quadro. A
partir de 1968, a Associação Americana de Psiquiatria (APA) introduziu o conceito de
“Personalidade Anti-social” (DSM Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos
Mentais da APA). Apesar da descrição inicial se aproximar dos conceitos desenvolvidos
por Cleckley, as descrições posteriores forçaram um diagnóstico baseado em uma série
de comportamentos antissociais e atos delituosos, evitando a maioria dos traços de
personalidade tão bem descritos por Cleckley (Garrido, 2005).
Mesmo com os esforços em “simplificar critérios para o transtorno e incluir itens
mais tradicionais, típicos da psicopatia”, com o intuito de aumentar a “congruência e a
compatibilidade” entre o DSM-IV TR e a Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (ICD/CID 10; World Health Organization,
1990) o que se observa é uma manutenção de um constructo, que difere muito da
psicopatia. Alguns autores enfatizam que a psicopatia pode ser considerada um quadro
mais amplo que o TPAS, havendo uma considerável sobreposição no que se refere à
sintomatologia dos dois transtornos (Hare, & Neumann, 2005; Blair, 2003). De acordo
com essa perspectiva, a psicopatia não seria um sinônimo de TPAS, mas sim uma
extensão do mesmo quadro nosológico, sendo a psicopatia uma categoria mais ampla e
grave (Hare, 1991). O TPAS se refere fundamentalmente a condutas delitivas e anti-
sociais, a psicopatia além destas condutas abrange também aspectos dinâmicos e
traços da personalidade (Hare, & Neumann,2005).
De acordo com Hare (1996), o psicopata o é um insano, mas uma pessoa com
a capacidade para diferenciar o certo do errado. Ele sabe que o que esfazendo pode
prejudicar outra pessoa, porém não se importa. Ele pode escolher tomar ou o uma
atitude criminosa ou violenta, contudo, o que será um elemento crucial em sua tomada
de decisões é a possibilidade de uma retaliação imediata.
Outra crítica aos critérios de Transtorno de Personalidade Anti-Social: eles
representam uma quebra radical com a tradição e com a prática clínica (Cleckley, 1976),
com as versões anteriores do DSM-IVTR (American Psychiatric Association, 1952) e
com a nomenclatura diagnóstica internacional (ICD/CID 10;Wortld Health
Organization, 1990). Especificamente, o DSM-IV exclui, ou pelo menos não inclui de
23
forma explícita, características como egoísmo, egocentrismo, manipulação, falta de
empatia, dentre outros comumente e historicamente associados à psicopatia.
Conforme Robert Hare: Aqueles que preenchem os critérios para Transtorno
de Personalidade Anti-Social podem ser anti-sociais, porém diferem muito nas suas
motivações e nas características interpessoais, afetivas e psicopatológicas (...)
Paradoxalmente, os critérios para Transtorno de Personalidade Anti-Social parecem
definir uma categoria diagnóstica ao mesmo tempo ampla, abrangendo criminosos e
anti-sociais psicologicamente diferentes, e restrita, excluindo aqueles que possuem a
estrutura da personalidade compatível com a psicopatia, porém que não demonstraram
comportamentos específicos associados ao Transtorno de Personalidade Anti-Social”;
(Hare, Hart & Harpur, 1991).
Adolescência patológica e transtorno de conduta
A adolescência é um período de começo e extensão variáveis, marcando o final
da meninice e estabelecendo o início da maturidade. Este desenvolvimento envolve 3
níveis; o biológico, sinalizado pela aceleração final do crescimento do esqueleto e pelo
início do desenvolvimento sexual; o psicológico, caracterizado por uma aceleração do
crescimento cognitivo e formação da personalidade; e o social, um período de
preparação para o papel do jovem adulto (Pappalia, 2000).
Conforme Rocha e Levy (2003), o período da adolescência tende a ser mais
longo quanto mais complexa a sociedade, pois maiores são os requisitos para o status
adulto e mais imprecisos são os limites do adolescente. Em sociedades primitivas os
rituais de passagem da adolescência para a fase adulta o abruptos. Nas sociedades
industrializadas, a adolescência tornou-se um período confuso em decorrência do
grande numero de exigências e possibilidades, que não raro são contraditórias.
Segundo Erickson (1968), a identidade se forma à medida que as pessoas
resolvem três questões importantes: a escolha da ocupação, a adoção de valores nos
quais acreditar e segundo os quais viver e o desenvolvimento de uma identidade sexual
satisfatória. Quando os jovens têm problemas para estabelecer uma identidade
ocupacional, eles correm o risco de apresentar comportamentos com graves
conseqüências negativas, como gravidez precoce ou atividade criminosa.
O Transtorno de Conduta, o Transtorno Anti-Social de Personalidade e
Psicopatia caracterizam-se pela violação de direitos básicos das regras sociais e das
pessoas em geral, porque possuem pouca ou nenhuma empatia e preocupação com os
24
sentimentos alheios. Porém, o diagnostico para transtorno de Personalidade Anti-Social
pode ser feito após os 18 anos e, de acordo como DSM-IV TR (2003), apresenta
como critério (Critério C) evidências de Transtorno de Conduta com início antes dos 15
anos de idade. O modelo proposto por Hare para Psicopatia sugere a existência de
problemas comportamentais precoces (Forth et al., 2006). Quanto ao prognóstico,
alguns estudos ressaltam o fato de que o auge do comportamento anti-social costuma
ocorrer no final da adolescência e/ou início da vida adulta, sendo que os sintomas
mostram-se propensos a diminuir com o decorrer da idade (Gauer, & Vasconcellos,
2003).
Dois subtipos de transtorno de conduta são propostos. Um com início na
infância, e o outro na adolescência. O primeiro subtipo é definido por pelo menos um
critério característico de Transtorno de Conduta antes dos 10 anos de idade. Os
indivíduos que apresentam este tipo de transtorno são geralmente do sexo masculino,
freqüentemente demonstram agressividade física para com os outros e estão mais
propensos a desenvolverem Transtorno de Personalidade Anti-Social na idade adulta. O
segundo subtipo é definido pela ausência de quaisquer critérios característicos antes dos
10 anos de idade. Estes indivíduos estão menos propensos a comportamentos
agressivos, tendem a ter relacionamentos normais, estão menos propensos a Transtornos
de Personalidade Anti-Social na idade adulta (DSM-IV TR, 2003).
Fatores neurobiológicos
É importante investigar associações entre fatores biológicos e comportamentos
violentos e ou destrutivos, principalmente em crianças e adolescentes, pois é nesta fase
que adultos violentos, criminosos e antissociais começaram a mostrar este tipo de
comportamento.
Um dos primeiros casos a atrair a atenção dos neurocientistas foi o de Phineas
Gage, no século XIX. Gage teve seu crânio transfixado por uma barra de ferro, após um
acidente com explosivos. A barra entrou por sua bochecha esquerda, dilacerou o olho,
atravessou a parte frontal do cérebro e saiu pelo topo do crânio, do outro lado. Gage
perdeu a consciência por algum tempo e recuperou-se dos ferimentos causados pelo
acidente, apesar da gravidade. Contudo, tornou-se uma pessoa grosseira, desrespeitosa e
de gênio ruim, exatamente o oposto do que costumava ser. Ele passou a agir sem dar
importância para conseqüências, abandonou os amigos e seus planos futuros. Este caso
tornou-se muito conhecido e citado como uma das primeiras evidências científicas que
25
indicavam que a lesão nos lóbulos frontais pode alterar a personalidade, emoções e a
interação social (Le Doux, 1998). Casos estudados como o de Phineas Gage permitiram
identificar uma pseudopsicopatia, que não é desenvolvida, mas adquirida em razão de
uma lesão no lobo frontal (Blumer & Benson, 1975).
As neurociências vêm realizando estudos com o objetivo de identificar
anormalidades morfológicas e de funcionamento do “cérebro psicopata”. Embora
diferentes partes do cérebro estejam sendo estudadas, a amigdala está em evidência
entre as pesquisas, sendo constantemente apontada como uma parte “deficiente” do
cérebro em pessoas que desenvolvem a psicopatia ou apresentam traços da patologia.
Blair afirmava saber disto através de estudos que envolviam pacientes os quais tiveram
a amígdala cirurgicamente removida em tratamentos de epilepsia (Ilman, 1998).
Com o uso de imagens funcionais por ressonância magnética foram comparados
meninos com diagnóstico de Transtorno de Conduta (TC), com um grupo controle de
meninos com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH), pois este é comumente uma comorbidade do TC. Os resultados indicam uma
maior redução da ativação da amigdala cerebral em crianças com comportamento
antissocial (Herpertz, Huebner, Marx, Vloet, Fink, Stoecker, Shah, Konrad, & Herpertz-
Dahlmann, 2008).
Outro estudo (Dadds, Perry, Hawes, Merz, Riddell, Haines, Solak, &
Abeygunawardane, 2006) aponta que a habilidade de reconhecer o medo está presente
na amígdala. Esta capacidade é reduzida em pessoas com lesões na amigdala e
interessantemente em adultos psicopatas e adolescentes com traços de psicopatia. Esta
pesquisa suporta que a psicopatia e o mau funcionamento da amígdala estão
relacionados.
Blair e Coles (2000) mostram em suas pesquisas que adolescentes que
apresentam traços de psicopatia possuem deficiência em reconhecer expressões faciais
de medo e tristeza. Com base nestes achados, estudos similares com psicopatas adultos,
realizados com o uso de neuroimagem, apontam um funcionamento anormal da
amígdala. Contudo, não está claro se o caminho que conduz ao precoce
desenvolvimento da psicopatia é neuropsicológico, pela dificuldade de reconhecer as
expressões faciais emocionais de tristeza e medo, ou neurobiológico, por uma disfunção
da amígdala.
Além das pesquisas envolvendo a amígdala cerebral, outras partes do cérebro
também vem sendo estudadas. Diversas pesquisas (Boes, Tranel, Anderson, &
26
Nopoulos, 2008; Finger, Marsh, Mitchell, Reid, Sims, Budhani, Kosson, Chen,
Towbin, Leibenluft, Pine, & Blair, 2008) apontam também a existência de alterações no
córtex ventromedial pré frontal (CvmPF), e que o funcionamento destes sistemas estão
envolvidos na psicopatia. A amígdala é fundamental para a associação de estímulos de
reforço, punição, recompensa e no processamento de expressões emocionais. O CvmPF
é representativo no reforço das expectativas e, conseqüentemente, da tomada de
decisões.
Outro estudo (Huebner, Vloet, Marx, Konrad, Fink, Herpertz, & Herpertz-
Dahlmann, 2008) com adolescentes com transtorno de conduta aponta redução do
volume da massa cinzenta na região orbitofrontal esquerda e no lobo temporal
bilateralmente, incluindo amigdala e hipocampo. Os mesmos autores ainda afirmam que
análises de regressão em grupos clínicos indicam uma associação inversa entre os
sintomas de hiperatividade/impulsividade e anormalidades na massa cinzenta no córtex
frontoparietal e temporal.
Os dados sugerem que alterações neuronais em adolescentes com transtorno de
conduta com comorbidade de déficit de atenção e hiperatividade apresentam alterações
em áreas frontolímbicas semelhantes àquelas apresentadas por adultos com
comportamento anti-social.
Com a utilização de imagens por ressonância magnética, foi estudado um grupo
composto por 27 indivíduos psicopatas. Estas mostraram uma quantidade
significativamente reduzida no volume de massa cinzenta no córtex médio frontal
direito, córtex orbitofrontal bilateral, comparados ao grupo controle, composto por 32
integrantes. Déficits estruturais nestas áreas pré-frontais e na amígdala podem acarretar
em desequilíbrio emocional, pobre controle de comportamento, e uma tomada de
decisões morais prejudicada. Os resultados dos estudos se mostraram consistentes para
a hipótese de anormalidades na região orbitofrontal, cortex dorsolateral pré frontal e
amígdala, os quaiso bases neuronais cruciais no desenvolvimento da psicopatia
(Yang, 2008).
CONCLUSÃO
Quando falamos na conduta violenta de uma personalidade psicopática temos
um agravante: O uso de drogas. É freqüente a este tipo de personalidade o uso de
substâncias em algum nível, como: abuso ou dependência. Sabendo que as drogas o
27
facilitadoras ou motivadoras da violência, torna-se complexo identificar se um ato
violento ou criminoso foi cometido em decorrência de uma personalidade psicopática
ou movido pelo uso de drogas.
Em vista disto, pesquisas que visam identificar e compreender a psicopatia e a
drogadição tornam-se de grande importância. Estudos envolvendo psicopatas adultos
têm revelado que as alternativas terapêuticas atualmente existentes não vêm atingindo
resultados significativos. Por esta razão, é necessário colocar o foco nas crianças e
adolescentes. Ao nos referirmos a uma personalidade patológica, neste caso a
psicopática, é de grande pertinência que se explore a compreensão do problema de
forma precoce para que se possa desenvolver e aplicar diferentes intervenções
terapêuticas que venham a surtir efeito com este tipo de transtorno.
Muitos estudos ainda são necessários em diversos campos, para se compreender
a psicopatia e, por conseguinte, tentar tratá-la. A droga, por sua vez, ajuda a trazer a
tona o potencial para violência contido em cada um de nós. Assim, é de grande
relevância social, estudos no sentido de compreender o quanto a substância psicoativa
auxilia no desenvolvimento da psicopatia. São necessárias investigações que respondam
o quanto a droga pode conduzir um indivíduo a desenvolver uma personalidade
psicopática, ou se o indivíduo, pelos traços de psicopatia apresentados ainda na infância
busca precocemente o uso das drogas. Cabe ainda outro questionamento, se usuários de
drogas cometeriam os mesmos crimes caso não fizessem uso de substâncias psicoativas.
A psicopatia, o abuso de drogas e a violência estão originalmente juntas, entretanto é
necessário compreender o quanto uma interfere na outra.
Considerando as descobertas neurológicas envolvidas nesta psicopatologia,
torna-se indispensável a contínua busca de mais conhecimentos a fim de reforçar a
interface com a neurociência, objetivando a aquisição de mais uma importante
ferramenta no entendimento e tratamento do transtorno.
Pesquisas com jovens podem conduzir para o desenvolvimento de estratégias de
intervenções precoces concebidas para modificar a trajetória grave e persistente do
comportamento anti-social, bem como do comportamento adicto. Desse modo, também
é crucial a investigação minuciosa em crianças com idade até dez anos que apresentam a
sintomatologia, pois se trata de um grupo de risco para o desenvolvimento da
personalidade psicopática.
28
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35
CAPITULO II
ESTUDO EMPIRICO
AVALIAÇÃO DE TRAÇOS DE PSICOPATIA E ABUSO DE DROGAS EM
UMA AMOSTRA DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI.
36
INTRODUÇÃO
Inúmeros casos de violência são motivados pelo uso ou para o uso de drogas.
Este tipo de comportamento está se tornando mais comum entre os adolescentes
(Trenchs Sainz de la Maza, Planas, Barcenilla, Cubells, & Fernández, 2008; Laranjeira,
2005), os quais vêm excedendo os limites da rebeldia, envolvendo requintes de
crueldade além da contravenção legal. O crescimento da violência nos coloca frente a
situações inusitadas e para as quais temos de buscar novas abordagens, a fim de
encontrar novas soluções. Os estudos epidemiológicos nos auxiliam a delimitar o
problema e avaliar o grau em que este afeta os indivíduos e a sociedade.
Quando o consumo de alguma droga é freqüente, compulsivo, destinado a evitar
os sintomas da abstinência e acompanhado por problemas físicos, psicológicos e sociais,
estamos nos referindo à dependência (Marques & Ribeiro, 2006).O dependente passa a
viver pela droga, fazendo o possível para consegui-la, excluindo as barreiras morais.
Assim, o uso de drogas pode ser visto na atualidade por dois diferentes prismas:
segurança e saúde pública.
Dentre os usuários de drogas existem diversos tipos: os que fazem o dito uso
esporádico ou recreativo, os abusadores e os dependentes. Estes dois últimos
apresentam maior tendência a se envolverem em situações de risco e,
conseqüentemente, de violência. Conforme o DSM-I (1952), o uso de drogas é uma
característica associada à personalidade psicopática, entretanto não é especificado para
uso, abuso ou dependência.
Pensando de forma conjunta à problemática drogadição, em nível de
dependência ou abuso e psicopatia, teremos indivíduos sem empatia ou remorso,
capazes de qualquer comportamento para a obtenção de drogas. Em outras palavras,
estaríamos juntando a pólvora ao fogo e, como resultado, teríamos uma explosão de
violência. Cabe então o questionamento se os indivíduos com maior tendência à
psicopatia fazem mais uso de drogas.
A psicopatia pode ser vista como uma geradora de situações de violência. O
comportamento violento vem apresentando pobre prognóstico de tratamento. A falta de
evidências de intervenções eficazes se reflete na carreira criminosa de psicopatas
adultos. Por este motivo, a atenção deste estudo está voltada aos adolescentes em
37
conflito com a lei, pois acreditamos que com uma identificação do problema e
intervenções precoces o desenvolvimento de tais traços pode ser revertido ou evitado.
O presente estudo relaciona as drogas ao comportamento violento e psicopático.
Evidentemente, nem toda a violência está associada ao consumo de substâncias,
entretanto, são freqüentes as discussões sobre a legalização de algumas drogas, sob o
argumento que a violência em decorrência do tráfico seria reduzida. Contudo, outra
questão de maior complexidade poderia ser feita: seriam cometidos os mesmos crimes
sem o uso da droga, ou sem a fissura para obtê-la?
Nas paginas a seguir será apresentado um perfil sócio demográfico do
adolescente em conflito com a lei, de uma instituição de amparo sócio-educativo de
Novo Hamburgo. Estes dados serão correlacionados com traços de psicopatia,
identificados com o uso do PCL:YV, e com o uso de substâncias quanto a freqüência,
tipos de drogas e idade de início do uso.
Conforme o manual do PCL:YV, pesquisas realizadas nos Estados Unidos
apontam que o ponto de corte para traços de psicopatia para adultos (uso do PCL-R) é
30 enquanto no Canadá é 27. Para o PCL:YV não foi fornecido um ponto de corte, pois
a personalidade ainda está sendo formada. Da amostra coletada, 21,6% dos
entrevistados obtiveram escore igual ou superior a 30, e 34,6% obtiveram escores igual
ou superior a 27. A média geral obtida pela amostra investigada nos escores do PCL:YV
foi 23,18.
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Avaliar traços de psicopatia e uso de substâncias em adolescentes internos da
FASE (Fundação de Apoio Sócio-Educativo).
Objetivos Específicos
1- Identificar o perfil do menor infrator;
2- Verificar se existe alguma relação entre os dados sócio-demográficos,
drogadição e psicopatia.
3- Descrever os hábitos do uso de drogas quanto à freqüência, tipo de drogas
utilizadas e idade de início em adolescentes em conflito com a lei, verificando
correlação com os traços de psicopatia.
38
4- Verificar correlação entre o uso de drogas e fator Anti-social.
MÉTODO
Delineamento
Trata-se de estudo transversal, descritivo e correlacional.
Amostra
Foram incluídos no estudo 185 adolescentes internos da FASE, do sexo
masculino, com idades entre 12 e 18 anos, que apresentam histórico de repetidos atos de
violência, agressões a pessoas e a propriedade desde a infância.
critérios de inclusão:
Indivíduos pertencentes à faixa de idade proposta que concordaram em
participar do estudo e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo
III).
critérios de exclusão:
Foram considerado fatores de exclusão para a amostra detentos que não estavam
na faixa etária proposta, que estivessem severamente desorganizados, que
apresentassem déficit cognitivo percebidos pelos pesquisadores, que se recusassem a
participar ou não aceitassem assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Comentários Ético-Legais
A coleta de dados foi realizada na FASE após o prévio contato com a Diretoria
Geral do local. (Declaração de aprovação Anexo IV). Os pesquisadores se
comprometeram a manter a confidencialidade em termos da identidade das pessoas
entrevistadas e foram incluídos na pesquisa aqueles que concordaram em participar
da mesma e assinaram um termo de consentimento.
Procedimento de Coleta de Dados:
Inicialmente foi estabelecido contato com a FASE de Novo Hamburgo. Após a
aprovação da pesquisa nas dependências da entidade, foi iniciado o processo de
fidedignidade do instrumento, em abril de 2008. Cada visita era previamente agendada,
39
procurando adequar o horário dos pesquisadores ao horário de funcionamento da
instituição.
Os adolescentes foram encaminhados aleatoriamente pelos funcionários da
FASE e convidados a participar da pesquisa. Foi esclarecida aos indivíduos
entrevistados, individualmente, a natureza e o propósito da mesma e que eles possuíam
total autonomia para decidir se queriam ou o participar. Também foi salientado que a
pesquisa não lhes traria qualquer benefício imediato ou prejuízo.
Os adolescentes foram avaliados nas dependências da FASE por profissionais
com nível mínimo de graduação completa, treinados para o uso do instrumento de
avaliação de psicopatia em adolescentes. A aplicação do Questionário Investigativo de
Uso de Substâncias ocorreu de forma subseqüente à aplicação do PCL:YV, pelos
mesmos profissionais.
Instrumentos
PCL:YV
Foi utilizado para o presente estudo o manual, versão em português. O
Inventário para Psicopatia de Hare: Versão Jovens (PCL:YV
TM
), (Robert D. Hare, Ph.D.
e Multi-Health Systems Inc. 2003) é uma escala com 20 itens para a avaliação de traços
de psicopatia em adolescentes. O PCL:YV foi adaptado do Inventário Psicopatia de
Hare, uma das medidas de psicopatia para adultos mais amplamente utilizada.
Evidências extensivas da confiabilidade e validade do PCL-R
TM
podem ser encontradas
na segunda edição do Manual Técnico do PCL-R validado para o Português do Brasil
e aprovado como instrumento pelo Conselho Federal de Psicologia.
O PCL:YV consiste de um Guia de Entrevista e um Formulário de Contagem
Rápida usado para registrar as pontuações. O Guia de Entrevista inclui as questões de
entrevista recomendadas para extrair as informações. É fornecido espaço para o
entrevistador anotar as respostas. A entrevista abrange o âmbito do ajustamento escolar,
a história laboral, objetivos profissionais, história psiquiátrica, saúde, vida familiar,
relacionamentos interpessoais, uso de drogas, atitudes consigo mesmo e com os outros e
o comportamento anti-social na infância e adolescência. O Formulário de Resposta é
utilizado para registrar os escores do entrevistado em cada um dos 20 itens do PCL:YV.
Não são necessários o gabarito de contagem, nem os códigos, que o Formulário de
Resposta transfere automaticamente os valores para uma grade de escores.
40
O avaliador pode então obter o escore total para o PCL:YV e convertê-lo em
percentis de classificação ou escores T. Assim, o PCL:YV não se caracteriza por ser um
instrumento de avaliação comum, mas que implica o pesquisador em sua competência
técnica e subjetividade na elaboração dos resultados.
Para o desenvolvimento do PCL:YV, os autores tomaram como base o PCL-R.
Assim, de acordo com o manual, “o PCL:YV é uma extensão adaptada do PCL-R,
avaliando domínios e conteúdos similares” (Forth, et al, 2006; p9.). Como a versão
anterior, utilizada para adultos, o PCL:YV mede as características interpessoais,
afetivas, anti-sociais e comportamentais.
A aplicação e preenchimento do instrumento corretamente fornecem ao
aplicador um escore dimensional que representa o número e gravidade dos traços
psicopáticos apresentados pelo jovem. Um ponto de corte para psicopatia não é
fornecido, pois seria prematuro adotá-lo até que existam suficientes dados empíricos
sólidos sobre a permanência dos traços de psicopatia em adolescentes até a idade adulta.
No entanto, alguns investigadores, teoricamente, têm obtido resultados significativos
em pesquisa com o ponto de corte de 30, freqüentemente utilizado com criminosos
adultos. (Forth, et al, 2006; pp.9).
O estudo em questão também conta com a autorização por parte da MHS
(Multi-Health System - Canadá) que detém os direitos autorais para utilização e
comercialização da escala PCL:YV. O instrumento não foi incluído nos anexos.
confiabilidade do instrumento
A etapa de fidedignidade do instrumento foi realizada nos meses de abril e maio
de 2008. Esta etapa contou com um grupo de dois psicólogos (um doutor e um
mestrando) e dois psiquiatras (um pós-doutorado e outro mestrando). O procedimento
consistia em entrevistar um adolescente interno da FASE, nas dependências da
instituição. O grupo elegeu para tal um entrevistador, responsável pela condução da
entrevista e pontuação do seu inventário, enquanto os demais observavam a entrevista e
pontuavam seus respectivos inventários de forma independente.
O roteiro de entrevista utilizado foi o proposto pelo Dr. David Kosson, um dos
autores do instrumento e Prof. Adjunto da Rosalind Franklin University (Chicago, IL).
Em outubro de 2007, o então grupo de “Avaliação e Intervenção em Saúde Mental e
Bioética Clínica”, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico
(CNPq, bolsa de apoio ao pesquisador visitante, processo no 452959/2007-1), trouxe o
41
Dr. Kosson para treinamento dos participantes do estudo. O treinamento teve duração de
aproximadamente uma semana. Questões pertinentes à aplicabilidade do instrumento,
relacionadas à realidade do Brasil foram discutidas, não somente entre os pesquisadores,
mas com um dos autores do instrumento, o que possibilitou melhor compreensão e
aprendizado sobre o conteúdo proposto.
No momento seguinte, os resultados obtidos por cada um dos integrantes do
grupo em relação às entrevistas de cada um dos jovens foram submetidas à análise de
fidedignidade, utilizando o Coeficiente de Kendall. A análise foi realizada item a item e
pontuação total. O resultado total foi de 0,92 (p<0,01), representando um alto índice de
confiabilidade interavaliador.
Questionário de dados sócio-demográficos
Foi elaborado pelos pesquisadores um questionário Sócio-Demográfico
contendo as questões consideradas relevantes (Anexo V).
Questionário investigativo de uso de substâncias
Com o objetivo de investigar a sintomatologia sugestiva de transtorno
relacionado ao uso de substâncias foi utilizado o questionário de Galduróz, Noto, &
Carlini, (1997). Tais questões objetivam pesquisar uso e abuso de drogas, tipos de
substâncias utilizadas, idade do início do consumo, freqüência de uso, e a contribuição
do uso para a prática do delito (Anexo VI).
Procedimento de análise dos dados
Para a análise dos dados foi utilizado o SPSS 11.0. As comparações das dias
dos escores obtidos no PCL:YV e das variáveis sócio-demográficas e uso de substâncias
foram realizadas com Análise de Variância (ANOVA), Correlação de Pearson,
diagramas de dispersão e teste t.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil do interno da FASE
Com o uso do questionário sócio demográfico e de uso de substâncias foi
possível descrever o perfil da maioria destes adolescentes como sendo caucasianos
(60%), com idades entre 16 e 17 anos (60,5%) e baixa escolaridade, com somente
42
28,1% dos entrevistados tendo cursado além do sexto ano do ensino fundamental. Além
disso, 83,6% da amostra afirmava ter repetido pelo menos um ano letivo e 89,2% dos
entrevistados não estavam estudando no período em que cometeram a contravenção.
Assim, não é errado atribuir a esta população fracasso escolar, pois comumente estão
deslocados do ano letivo que cronologicamente teriam condições para cursar.
Aproximadamente 30% dos indivíduos entrevistados são reincidentes, e quase a
metade da população (49,3%) possui algum familiar que cumpriu pena ou medida
sócio-educativa. A razão do cumprimento da atual medida é distribuída em: 54,6%
assalto, 12,6% furto, 10,4% homicídio, 7,7% tentativa de homicídio, 6% latrocínio,
2,7% tráfico e 6% outros delitos. Chama a atenção que 23,8% dos crimes não são
apenas transgressões da lei, mas atos violentos que comprometem a integridade física
das vítimas, como homicídio ou a tentativa de homicídio e latrocínio.
Algumas comorbidades são comuns a psicopatia, como a hiperatividade, e
déficit de atenção (Finger, Marsh, Mitchell, Reid, Sims, Budhani, Kosson, Chen,
Towbin, Leibenluft, Pine, & Blair, 2008). No Questionário Sócio Demográfico e de Uso
de Substâncias (QSD-US), os adolescentes foram questionados se haviam em algum
momento consultado com psicólogo ou psiquiatra. 68,1% respondeu negativamente e
apresentaram média de escore 22,30 no PCL:YV. Já o grupo que afirmou ter consultado
algum profissional de saúde mental, composto por 31,9% da amostra, obteve maior
média nos escores do PCL:YV, 25,05. Quando questionados sobre o motivo, as
respostas mais comuns eram: “sou muito agitado” ou “por causa dos nervos”. Este dado,
entretanto, não foi significativamente estatístico.
Foi explorado no QSD-US se os indivíduos haviam sofrido algum tipo de
acidente em que tiveram traumatismo craniano, com que idade e qual a severidade. Tal
fato apresentou uma correlação baixa entre acidentes em que os entrevistados bateram a
cabeça e escores de psicopatia (r=0,199; p<0,01). A etiologia da psicopatia pode
também abranger na sua etiopatogenia problemas neurológicos. Existem diversos
estudos que apontam uma hipoatividade no córtex pré frontal e no ventromedial-pré
frontal, além de uma redução no tamanho e atividade do córtex anterior cingulado e das
amígdalas cerebrais (Boes, Tranel, Anderson, & Nopoulos, 2008; Finger, et al 2008;
Huebner, Vloet, Marx, Konrad, Fink, Herpertz, Herpertz-Dahlmann, 2008). Alguns
destes sintomas podem ser decorrentes de lesões cerebrais causadas por traumatismos.
As médias entre grupos obtidas do escore total do PCL:YV mostram que os
indivíduos que nunca bateram a cabeça apresentaram escores menores que os demais.
43
Estes apresentaram escore 21,93 (n=99) enquanto o grupo de indivíduos que afirma ter
“batido” a cabeça mais de uma vez obteve escore médio 29,33 (n=3). Embora baixa
(r=0,199; p<0,01), foi identificada uma correlação entre o número de vezes que bateram
a cabeça e o escore obtido. Existem neste contexto duas possibilidades: a) Os acidentes
crânio-encefálcos ocorridos com os adolescentes potencializaram ou desenvolveram a
tendência psicopática; ou b) as atividades realizadas pelos adolescentes com tendência a
psicopatia eram mais arriscadas, causando então acidentes onde os mesmos batiam a
cabeça.
Entretanto, convém salientar que a única fonte de informação referente a esta
questão foi o relato do próprio adolescente. Nenhum exame ou método científico foi
utilizado para verificar a extensão do dano relatado.
Relação entre os dados sócio demográfico
dados familiares.
A maioria dos jovens entrevistados (76,8%) vive com os pais ou pelo menos um
deles. A quantidade média de habitantes na mesma casa é de 4,6; modal 4 pessoas. As
famílias são freqüentemente numerosas, e os entrevistados tinham normalmente em
torno de 3 irmãos (modal) e em média 4,37. Apenas 25,9% dos entrevistados tinham a
2 irmãos. Os demais excediam esta quantia, chegando a 16 irmãos em um caso
específico. Apenas 6 indivíduos afirmaram serem filhos únicos.
Os adolescentes da amostra, em praticamente sua totalidade, eram provenientes
de uma população de baixa renda, inferior a 2 salários para 57,3% da amostra. Tomando
por base esta informação, podemos afirmar que a renda familiar média da amostra
estudada é inferior a meio salário por habitante da mesma casa, sendo que 50,3% dos
pais e 41,6% das mães possuem atividade laboral formal. Consideramos por atividade
laboral formal o trabalho realizado com carteira assinada, ou autônomo, desde que em
atividade reconhecida. Os “bicos” ou “biscates”, não eram reconhecidos como atividade
formal. Por exemplo: freqüentemente, os adolescentes entrevistados afirmavam que os
pais eram pedreiros. Quando estes trabalhavam para alguma empreiteira, a atividade era
considerada formal, do contrário, a atividade era considerada como informal. A renda
familiar não apresentou correlações significativas com os escores obtidos no PCL:YV.
Cleckley (1976), em sua definição de psicopatia, através de diversas vinhetas, afirmava
que este transtorno transcende as classes sociais.
44
Uso parental de substâncias psicoativas
Os adolescentes com alguma freqüência manifestaram que os pais fazem ou
fizeram uso de drogas. Consideramos como pais usuários os quais os adolescentes
afirmavam o uso ou dependência de substâncias ilícitas, ou o abuso / dependência de
substâncias licitas. O dito uso social” explicado como: “toma uma cerveja durante um
churrasco”, “fuma cigarros”, ou “às vezes toma um copo no fim de semana”, não foi
considerado como uso nocivo, pois tal comportamento pode ser observado como
conduta socialmente aceita na maioria das sociedades do mundo ocidental.
A correlação de Pearson para uso de drogas pelo casal foi baixa (r=0,238;
p<0,01), sugerindo uma baixa influência no uso de drogas entre os cônjuges. 31,4% da
amostra tinham, pelo menos, um dos pais usuários de drogas. 2,2% afirmaram que
ambos os pais faziam uso de drogas. Os 36,8% restantes relataram que nenhum dos pais
fazia uso de substâncias.
Dos adolescentes entrevistados, 29,7% o dispunham das respostas a respeito
da drogadição dos pais, por desconhecimento, falecimento de pelo menos um dos
parentes ou por não possuir contato próximo. Consideramos este viés como incerteza.
Obtivemos então a seguinte distribuição para o uso de drogas pelos pais: 73% de mães
não usuárias, 8,1% de mães usuárias, 18,9% de incerteza. Os pais por sua vez foram
apontados como 43,2% não usuários, 28,1% usuários e 28,7% de incerteza.
A média do escore obtido no PCL:YV para o grupo de indivíduos que ambos os
pais eram usuários foi de 25,75. Para o grupo que somente um dos pais era usuário foi
de 23,51, e para o grupo em que nenhum dos pais fazia uso de drogas a media foi
21,74. Encontramos uma baixa correlação entre os traços de psicopatia e uso de drogas
no ambiente familiar (r=0,146; p<0,05). Esta correlação foi encontrada especificamente
nos itens 6 (r=0,161; p<0,05), 11 (r=0,155; p<0,05), 12 (r=0,163; p<0,05) e 15
(r=0,207; p<0,01) do PCL:YV, que são respectivamente: ausência de remorso,
comportamentos sexuais impessoais, e problemas comportamentais precoces e
irresponsabilidade. Os resultados sugerem que o uso de substâncias psicoativas por
parte dos pais pode exercer uma pequena influência na conduta psicopática dos filhos.
Escolaridade
As médias do PCL:YV entre grupos mostraram-se superiores para grupos de
menor escolaridade, revelando uma baixa correlação negativa (r= -0,162; p<0,05). O
grupo que havia estudado, ou estava estudando até no máximo a série do ensino
45
fundamental obteve média 24,12 no PCL:YV. O grupo entre e série obteve média
22,92. O grupo do ensino médio obteve média 19,14. A mesma tendência pode ser
observada para a variedade de drogas utilizadas. O grupo de menor escolaridade
experimentou maior diversidade de drogas com uma baixa correlação negativa (r=-
0,162, p< 0,01). Conforme Romano (2004), o dependente em geral desenvolve
Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), sendo esta a comorbidade
mais prevalente entre os dependentes químicos. É caracterizada por: indiferença,
diminuição ou interrupção da atividade motora, diminuição ou perda da capacidade
cognitiva (deteriorização intelectual), passividade, apatia, isolamento, etc. Tal síndrome
pode ocasionar prejuízos escolares. Das crianças com TDAH, 40% vão desenvolver
personalidade anti-social, abuso de substâncias e conduta delitiva durante a
adolescência ou idade adulta.
As médias entre grupos apontaram também que aqueles com menor escolaridade
e os que haviam abandonado a escola há mais tempo apresentavam maior quantidade de
Medidas Sócio Educativas (MSE). O abandono escolar e a reincidência criminal
também obtiveram uma baixa correlação com os escores do PCL:YV (r= 0,157;
p<0,01).
Os grupos com menor escolaridade apresentaram uma baixa correlação negativa
(r=-0,246; p<0,01) com o numero de pessoas que habitavam a mesma casa. Ou seja,
quanto mais habitantes menor o nível de escolaridade.
A pouca escolaridade mostrou uma baixa correlação negativa para os itens 4 (r=-
0,197; p<0,01), 12 (r=-0,216; p<0,01) e 19 (r=-0,216; p<0,01), que são respectivamente:
mentira patológica, problemas comportamentais precoces, e graves violações da
liberdade condicional. O abandono escolar apresentou uma baixa correlação (r=0,246;
p<0,01) com o uso parental de substâncias.
As correlações entre os dados demográficos, uso de drogas e psicopatia foram
baixas. Estes dados colaboram com a explicação etiológica da psicopatia como sendo
multifatorial.
Drogadição quanto à freqüência, tipo de drogas utilizadas, idade de início e traços
de psicopatia
A amostra em praticamente sua totalidade confirmou o uso de algum tipo de
droga (98,4%), sendo que 2,2% da amostra não recordavam a idade que haviam
experimentado drogas pela primeira vez. 11,4% iniciaram o consumo com menos de 10
46
anos, 44,9% entre 10 e 12 anos, 37,8% entre 13 e 15 anos e 2,2% com idade superior
aos 15 anos. A idade de início de consumo de substâncias apresentou uma baixa
correlação negativa (r=-0,232; p<0,01) com os escores do PCL:YV. Estes resultados
sugerem que quanto mais jovem ocorre o uso de substâncias, maiores tendem a ser os
traços de psicopatia.
Na análise de variâncias entre grupos, os que iniciaram o consumo mais jovens
obtiveram medias mais elevadas nos escores do PCL:YV, sugerindo a existência de uma
relação entre a drogadição e os traços de psicopatia. O grupo que iniciou uso de drogas
antes dos 10 anos obteve escore 29,49; entre 10 e 12 anos, 23,80; de 13 a 15 anos,
21,07; e com mais de 15 anos, 15,25.
Gráfico I Relação entre idade de início do uso de substâncias e escore do
PCL:YV. Para < 10 anos (n=21); 10 a 12 anos (n= 83); 13 a 15 anos (n=70) e >15
anos (n=4).
O gráfico apresenta a relação entre a idade de início do uso de substâncias e das
médias dos escores do PCL:YV obtidos por cada um dos grupos referidos. É possível
observar que os escores diminuem conforme aumenta a idade de início do uso de
drogas. Mesmo a correlação sendo pequena, é possível observar uma diferença de quase
o dobro da pontuação média entre o grupo que começou o uso com idade inferior a 10
anos e o grupo que começou o uso com idade superior a 15 anos.
47
A mensuração quanto à freqüência do consumo de drogas foi distribuída em
quatro veis: uso diário, eventual, ocasional e raro, conforme proposto pela escala
utilizada do uso de substâncias (Galduróz, Noto, Carlini, 1997). O primeiro foi atribuído
ao indivíduo que afirmava usar alguma substância todos os dias. Este dado representa
48,6% da amostra. O segundo foi atribuído ao indivíduo que afirmava usar entre duas e
seis vezes por semana. Este dado representa 15,1% da amostra. O terceiro, aos
indivíduos que faziam uso de drogas até duas vezes por semana. Este dado representa
25,9% da amostra. O último, para os indivíduos que faziam uso de drogas em uma
freqüência inferior a uma vez por semana. Este dado representa 8,6% da amostra. Os
demais afirmaram nunca terem feito uso.
A freqüência no uso de drogas mostrou correlação média (0,333; p<0,01) com o
escore obtido no PCL:YV. A média dos escores obtidos foram 25,08 para uso diário,
23,45 para uso eventual, 22,23 para uso ocasional e 15,72 para uso raro. Os dados
sugerem que a freqüência do uso de drogas pode ser um indicativo de traços de
psicopatia.
Gráfico II - Relação entre frequência do uso de substâncias e escore do PCL:YV.
Para < diário (n=90); eventual (n= 28); ocasional (n=48) e raro (n=16).
Neste gráfico é possível observar a relação entre a freqüência de uso de
substâncias e os escores do PCL:YV obtidos pelos grupos referidos. Existe uma
48
tendência dos escores reduzirem conforme diminui a freqüência do uso. Convém
ressaltar que nem todo usuário de drogas é um psicopata, entretanto, os adolescentes da
amostra entrevistada, que faziam uso mais freqüente de substâncias obtiveram em média
maior escore no PCL:YV, conforme é possível observar no gráfico.
De acordo com Ferreira & Ferreira (2003), é comum ao dependente químico
desenvolver comportamentos antissociais, e conforme Zaleski (2010), 95% dos
pacientes com Transtorno de Personalidade Anti-social são dependentes de álcool e/ou
outras sustâncias. Assim, tornam-se freqüentes os furtos, aumento de agressividade,
tráfico, homicídios, prostituição, e um estado de tensão social que gera acidentes,
suicídios, conflitos familiares, ocupacionais, etc.
A variedade de substâncias usadas pelos indivíduos entrevistados apresentou
correlação média (r=0,412; p<0,01) com os escores obtidos no PCL:YV. As médias dos
indivíduos que usavam maior diversidade de drogas mostraram-se superiores. Para o
grupo de entrevistados que havia experimentado 7 diferentes tipos de drogas a média
dos escores obtidos no PCL:YV foi de 27,35; para os que experimentaram 6 tipos a
média foi 25,35; para 5 tipos 23,90; para 4 tipos 23,20; para 3 tipos 19,39; 2 tipos 18,61
e 1 tipo 15,83.
Gráfico III - Relação entre diversidade de substâncias usadas e escore do PCL:YV.
Para < 1 (n=9); 2 (n= 14); 3 (n=23); 4 (n=20); 5 (n=60); 6 (n=29) e 7 (n=28).
49
No gráfico acima observamos a relação entre grupos referentes à variedade de
drogas usadas e os escores do PCL:YV. As drogas referidas foram: nicotina, álcool,
maconha, crack, cocaína, inalantes (cola, solvente) e ácido. É possível observar que as
médias são crescentes, de acordo com a diversidade de drogas consumidas, ou seja, os
grupos que referiram maior diversidade de consumo apresentaram maior escore médio.
Os jovens relataram que as drogas usadas com maior freqüência foram o álcool
em primeiro (97,3%), em segundo a nicotina (87,6%), seguida pela cocaína (69,8%) e
crack (65,9%). Mais da metade dos entrevistados afirma ter feito uso de crack, maconha
e álcool no último ano.
Correlação entre o uso de drogas e fator Antissocial do PCL:YV.
Dos adolescentes entrevistados, 60,5% afirmaram que o fato de usarem drogas
não possuía qualquer relação com a contravenção cometida. Assim, não acreditavam
que o uso de drogas tivesse ocasionado ou potencializado a possibilidade de realização
da contravenção pela qual estava cumprindo pena.
O número de MSE que os entrevistados vinham cumprindo até o momento
mostrou correlação baixa para a variedade de drogas usadas (r=0,197; p<0,01), para a
freqüência de uso (r=0,180; p<0,05) e correlação negativa para idade de início de uso
de substâncias (r=-0,146; p<0,05). As médias no PCL:YV se mostraram progressivas
para o número de medidas sócio educativas cumpridas até o momento. As médias entre
grupos foram: para 1 MSE, 21,99 (n=131); para 2, 24,46 (n=36); para 3, 29,19 (n=14),
para 4, 30,17 (n=3) e para 5 ou mais 28,00 (n=1). É possível observar que o último
grupo obteve média inferior ao grupo com 3 MSE. Cabe ressaltar que somente um
indivíduo afirmou estar cumprindo a medida sócio educativa (n=1). Esta avaliação se
dá entre grupos, e este caso especificamente conta com apenas um indivíduo.
Algumas vezes quando entrevistados, os indivíduos não sabiam dizer por qual
razão estavam cumprindo medida ou aguardando por julgamento e afirmavam não ter
cometido nenhuma das contravenções descritas. Tal fato acontecia em parte devido à
grande quantidade de contravenções cometidas pelo jovem, que não sabia por qual delas
estava respondendo, ou simplesmente por manipulação de impressões. Ao cruzarmos os
dados de delitos cometidos com os de uso de substâncias, obtivemos o numero de
infratores em cada delito de acordo com a freqüência do uso de cada substância (Quadro
I).
50
Quadro II Quantidade de indivíduos por delito em função da freqüência de uso
de drogas.
Frequencia de uso
Delito Diário Eventual
ocasional
Raro Total
Furto
14
4
4
1
23
Assalto
48
16
29
7
100
Homicidio
8
3
6
2
19
Tent.
Homicidio
6
3
3
2
14
Latrocínio
6
2
2
1
11
Tráfico
5
0
0
0
5
Total 87
28
44
13
172
Dentre as contravenções especificadas, como: furto, assalto, homicídio, tentativa
de homicídio, latrocínio e tráfico, apresentaram os números mais expressivos em
quantidades de indivíduos os grupos que faziam uso diário de alguma substância. Além
disso, os grupos que manifestaram uso raro também expressam menor quantidade de
indivíduos em todos os delitos, conforme é possível perceber no Quadro II.
Alguns dos entrevistados referiram estar sob o efeito de drogas no momento em
que realizaram o delito, outros que cometiam o delito para obter dinheiro para adquirir a
droga. Assim, podemos mais uma vez perceber a droga como objetivo, motivadora ou
facilitadora de um ato delitivo.
Foram excluídos desta tabela os indivíduos que estavam incluídos na categoria
de delitos chamada “Outros”, composta por contravenções que apresentariam
quantidades inexpressivas individualmente, e também os indivíduos que afirmavam não
fazer uso de substâncias.
É possível perceber que mais da metade das contravenções foram cometidas por
indivíduos que faziam uso diário de alguma substância (n=87). A contravenção
cometida pelo maior número de indivíduos foi o assalto, sendo que 48% deles por
indivíduos que faziam uso diário de drogas.
Para correlacionar o uso de substâncias com a psicopatia, tomamos um fator
específico do PCL:YV chamado fator Anti-social. A análise que determinou os fatores
foi desenvolvida a partir de amostras internacionais. As pesquisas utilizando o PCL:YV
no Brasil são recentes, porém os resultados obtidos vêm mostrando alguma semelhança
com os resultados obtidos em pesquisas nos Estados Unidos.
51
Existe ampla evidência de uma tradição clínica que define psicopatia tanto em
termos de características de personalidade inferidas quanto comportamentos
socialmente desviantes (Cleckley, 1976; Hare, 2003). Recentemente, análises fatoriais
de grandes amostras de transgressores adultos sugerem que um modelo com quatro
fatores correlacionados fornece uma explicação muito boa para o padrão de covariância
entre os escores dos itens do PCL-R (Hare, 2003).
Adotamos como modelo de fator Anti-Social o Modelo Estrutural para a solução
de 4 fatores proposto por Hare (2003), o qual apresenta os itens: Dificuldade em
controlar a raiva (item 10), Problemas comportamentais precoces (item 12),
Comportamento criminoso grave (item 18), Violações graves da liberdade condicional
(item 19) e Versatilidade criminal (item 20).
Dificuldade em controlar a raiva.
O item Dificuldade em controlar a raiva”, apresentou baixa correlação para a
Freqüência do uso de drogas (r=0,206; p<0,01). As dias entre grupos se mostraram
superiores neste item para usuários diários, sugerindo assim, que usuários costumários
são mais violentos. Cabe aqui ressaltar, que a pontuação mínima para cada item é zero,
e o máximo é 2. As médias para uso raro foram 0,76 (n=17), para uso ocasional 1,33
(n=48), para uso eventual 1,32 (n=28) e para uso diário 1,46 (n=90).
A idade de início do uso de substâncias não apresentou correlações significativas
com a dificuldade em controlar a raiva. Entretanto, os indivíduos que iniciaram o uso
com idade inferior a 10 anos apresentaram média 1,71 (n=21); com idade entre 10 e 12
anos, média 1,42 (n=83); com idade entre 13 e 15 anos, média 1,15 (n=71) e com idade
superior a 15 anos, média 1,00 (n=4). É possível observar que as médias entre grupos
são sensivelmente mais elevadas quanto menor a idade do início do uso de substâncias e
tendem a diminuir de acordo com o aumento da idade de início do uso.
A variedade de drogas usadas apresentou baixa correlação (r=0,289; p<0,01)
com o item dificuldade em controlar a raiva, e as médias entre grupos obtidas não
mostraram um aumento proporcional à diversidade de drogas usadas. Porém, é possível
perceber claramente que a média mais alta entre grupos foi para o que consumia maior
quantidade de drogas. O grupo com menor média foi o que consumiu um tipo de droga.
O grupo que consumia 1 tipo de substância apresentou média 0,78 (n=9); para 2 tipos de
drogas, média 1,21 (n=14); para 3 tipos de drogas, média 0,87 (n=23); para 4 tipos de
drogas, média 1,15 (n=20); para 5 tipos de drogas, média 1,52 (n=60); para 6 tipos de
52
drogas, média 1,52 (n=29); e para 7 diferentes tipos de drogas, média 1,54 (n=28).
Não temos informações suficientes para afirmar se os indivíduos que utilizam
drogas em maior variedade e freqüência apresentam temperamento mais explosivo em
decorrência do uso de substâncias, ou se pela raiva mal administrada buscam na droga
uma forma de amenizá-la. Contudo, é fato que existe correlação entre o uso de drogas e
a dificuldade no controle da raiva, o que torna os infratores usuários de drogas mais
perigosos.
Um jovem com o alto escore neste item pode ser predisposto a comportamentos
agressivos súbitos e não provocados ou comportamento agressivo que parece excessivo
em relação às provocações. Este item descreve um jovem facilmente raivoso ou
frustrado, que pode ser descrito como “pavio curto” ou “cabeça quente” e tende a
responder a frustração, fracasso e críticas com comportamento violento ou com ameaças
e abuso verbal.
Problemas comportamentais precoces.
O item “problemas comportamentais precoces” apresentou baixa correlação com
a freqüência do uso de drogas (r=0,217; p<0,01). As médias entre grupos para este item,
quanto à freqüência do uso de substâncias, foram progressivas de acordo com a
demanda, sendo maiores para aqueles que fazem uso diário e menores para os que usam
raramente. As médias para uso raro foram 0,41 (n=17), para uso ocasional, 0,94 (n=48),
para uso eventual, 1,11 (n=28) e para uso diário, 1,14 (n=87). Os resultados sugerem
que indivíduos com problemas comportamentais precoces têm maior propensão ao uso
diário de drogas.
A idade de início no uso de drogas é definitivamente um indicador de problemas
comportamentais precoces, de acordo com Forth et al. (2006). Além da média
correlação negativa (r=-0,368; p<0,01) apresentada, as médias entre grupos obtidas para
este item mostram-se decrescentes, apontando que o grupo que iniciou uso de drogas
em idade inferior a 10 anos obteve a maior média para este item. Os jovens que
iniciaram o uso com mais de 15 anos apresentaram a média mais baixa. Os indivíduos
que começaram o uso com idade inferior a 10 anos apresentaram média 1,71 (n=21);
com idade entre 10 e 12 anos, média 1,11 (n=82); com idade entre 13 e 15 anos, média
0,71 (n=69) e com idade superior a 15 anos, média 0,25 (n=4).
A variedade de drogas usadas apresentou baixa correlação (r=0,244; p<0,01)
com o item. Os grupos que experimentaram maior variedade de drogas apresentaram
53
escores superiores àqueles que experimentaram poucas, porém não houve uma
proporcionalidade entre os escores, ou seja, as médias mais baixas e mais altas o
foram respectivamente para os grupos de 1 tipo de substância e para o de 7 tipos de
substâncias. Teria-se, entretanto, médias que iriam da menor a maior se o consumo
relativo à variedade de drogas fosse agrupado em três categorias: o consumo até 2 tipos
de substâncias; de 3 a 5 substâncias; e mais de 6 substâncias. Obtivemos para este item
as seguintes médias: o grupo que consumia 1 tipo de substância apresentou média 0,56
(n=9); para 2 tipos de drogas, média 0,54 (n=13); para 3 tipos de drogas, média 0,87
(n=23); para 4 tipos de drogas, média 0,84 (n=19); para 5 tipos de drogas, média 1,10
(n=59); para 6 tipos de drogas, dia 1,21 (n=29) e para 7 diferentes tipos de drogas,
média 1,21 (n=28). Este item sugere uma correlação, ainda que leve, para a quantidade
de drogas consumidas e problemas comportamentais precoces.
Importante salientar que o retraimento, a depressão e a ansiedade não são
considerados para pontuação neste item. O item “problemas comportamentais precoces”
descreve um jovem que teve graves problemas comportamentais com 10 anos ou
menos. Esses problemas podem incluir trapaças, furtos, roubos, empenhar-se em atear
fogo em algo, “matar” aulas, interrupção de atividade de classe, vandalismo, violência,
intimidações, fugas de casa, atividades sexuais precoces e abuso de substâncias. Esses
comportamentos são mais graves do que aqueles apresentados pela maioria das crianças
e, com freqüência, resultam em queixas dos outros, suspensão ou expulsão da escola e
contatos com a polícia ou profissionais da saúde mental. Um indivíduo que se envolve
em problemas comportamentais variados, freqüentes e persistentes quando criança,
recebe o escore 2 (pontuação máxima) .
Comportamento criminal grave.
Este item apresentou baixa correlação (r=0,214; p<0,01) com a freqüência do
uso de drogas. Entretanto, a média entre grupos mostra que usuários mais freqüentes
tendem a apresentar maior pontuação para o “comportamento criminal grave”. É
possível observar o crescimento das médias conforme aumenta a intensidade do uso. As
médias para uso raro foram 1,44 (n=16), para uso ocasional, 1,57 (n=47), para uso
eventual, 1,71 (n=28) e para uso diário, 1,79 (n=90).
A correlação com a idade de início do uso de substâncias foi baixa e negativa
(r=-0,204; p<0,01). Porém, na análise das médias entre grupos chama atenção que o
grupo de indivíduos que afirmou ter iniciado antes dos 10 anos de idade obteve grau
54
máximo (2) para este item. Assim podemos afirmar que na amostra estudada, a
totalidade dos indivíduos que iniciaram o uso de drogas com menos de 10 anos de idade
apresentam conduta criminal grave. Assim, é possível inferir que menores infratores que
fazem uso de drogas com idade inferior a 10 anos tendem a cometer crimes graves. Os
indivíduos que iniciaram o uso com idade inferior a 10 anos apresentaram dia 2,00
(n=21); com idade entre 10 e 12 anos, média 1,67 (n=82); com idade entre 13 e 15 anos,
média 1,61 (n=70) e com idade superior a 15 anos, média 1,5 (n=4).
A correlação foi média (r=0,320; p<0,01) para a quantidade de drogas
experimentada. As dias entre grupos foram de modo geral alta para praticamente
toda amostra. Sua distribuição não foi progressiva de acordo com a quantidade de
drogas consumidas. Obtivemos para este item as seguintes médias: o grupo que
consumia 1 tipo de substância apresentou média 1,00 (n=8); para 2 tipos de drogas,
média 1,71 (n=14); para 3 tipos de drogas, média 1,26 (n=23); para 4 tipos de drogas,
média 1,79 (n=19); para 5 tipos de drogas, média 1,80 (n=60); para 6 tipos de drogas,
média 1,69 (n=29); e para 7 diferentes tipos de drogas, média 1,93 (n=28).
Os grupos com jovens que afirmaram fazer uso de diversas substâncias (4 ou
mais) apresentaram médias mais elevadas, sugerindo uma tendência do comportamento
criminal grave quanto ao uso de múltiplas substâncias.
Este item descreve um adolescente que se envolveu em atividades criminais
graves. O comportamento criminal grave é definido por crimes violentos: assassinato,
assalto, roubo, posse de arma, assalto simples, roubo de carro, invasão de propriedade,
incêndio, fraude, tráfico de drogas, violações maiores ao dirigir, fuga, etc. Isso inclui
tanto acusações e condenações por infrações criminais, quanto atos criminais cometidos,
dos quais o jovem não foi acusado. De modo geral, os entrevistados tendem a minimizar
seu comportamento criminal, contando menos do que de fato realizaram, ou dando
menor ênfase ao delito.
Graves violações da liberdade condicional.
Este item apresentou baixa correlação (r=0,196; p<0,01) com a freqüência do
uso de drogas. As médias entre grupos foram: para uso raro 0,18 (n=17), para uso
ocasional 0,60 (n=48), para uso eventual 0,75 (n=28) e para uso diário 0,81 (n=90). As
médias entre grupos, embora tenham sido baixas, mostram-se proporcionalmente
crescentes quanto à freqüência do uso, sugerindo que o uso freqüente de substâncias
aumenta a tendência do indivíduo em burlar a medida sócio educativa. Embora não
55
tenha sido especificamente investigado, as tentativas de fuga de instituições sócio
educativas podem ser motivadas, entre outras razões, pelo desejo de usar a droga,
também conhecido por fissura.
A idade de início apresentou correlação negativa média (r=-0,300; p<0,01) com
as graves violações da liberdade condicional. Os indivíduos que iniciaram o uso com
idade inferior a 10 anos apresentaram média 1,10 (n=21); com idade entre 10 e 12 anos,
média 0,81 (n=83); com idade entre 13 e 15 anos, média 0,44 (n=71) e com idade
superior a 15 anos, média 0 (n=4). Os indivíduos que experimentaram alguma droga
com idade superior aos 15 anos obtiveram a pontuação zero para todo o grupo,
evidenciando nenhuma tendência a burlar o sistema sócio educativo. Este item seguiu a
tendência dos anteriores, apontando que as conseqüências do uso de drogas tendem a ser
mais severas quanto mais jovem o indivíduo passa a utilizá-las.
O item apresentou correlação média (r=0,323; p<0,01) com a variedade de
drogas usadas. Obtivemos para este item as seguintes médias: o grupo que consumia 1
tipo de substância apresentou média 0,00 (n=9); para 2 tipos de drogas, média 0,14
(n=14); para 3 tipos de drogas, média 0,43 (n=23); para 4 tipos de drogas, média 0,70
(n=20); para 5 tipos de drogas, média 0,70 (n=60); para 6 tipos de drogas, média 1,14
(n=29); e para 7 diferentes tipos de drogas, média 0,89 (n=28). Conforme é possível
verificar, os indivíduos que fizeram uso de um tipo de substância apresentaram zero nas
médias entre grupos, sugerindo nenhuma tendência a enganar o sistema sócio educativo.
Este item descreve um jovem que cometeu duas ou mais violações graves da
liberdade condicional ou que tenha, em duas ou mais ocasiões, fugido ou tentado fugir
de uma instituição de segurança. Todos os tipos de liberdade condicional o
considerados, incluindo liberdade condicional ou supervisão obrigatória, estágio
probatório, fiança e ausências temporárias ou licença. Descreve também as violações
graves da liberdade condicional definidas como: aquelas que resultam na revogação da
liberdade condicional ou envolvimento em atos criminais enquanto em liberdade
condicional.
Versatilidade criminal
A Versatilidade criminal apresentou baixa correlação (r=0,217; p<0,01) com a
freqüência do uso de drogas. O item obteve nas médias entre grupos resultados maiores
para aqueles que faziam uso com maior freqüência. As médias para uso raro foram 0,65
(n=17), para uso ocasional 1,00 (n=48), para uso eventual 1,00 (n=28) e para uso diário
56
1,23 (n=90).
A idade de início apresentou baixa correlação negativa (r=-0,193; p<0,01) com o
item. A média entre grupos apresentou resultados mais elevados para os jovens que
iniciaram o uso de drogas mais cedo. Obtivemos as seguintes médias: os indivíduos que
iniciaram o uso com idade inferior a 10 anos, média 1,62 (n=21); com idade entre 10 e
12 anos, média 1,06 (n=83); com idade entre 13 e 15 anos, média 0,97 (n=71) e com
idade superior a 15 anos, média 0,75 (n=4).
A variedade de drogas usadas apresentou baixa correlação (r=,0,291; p<0,01)
com o item. A media entre grupos não apresentou um aumento exato de acordo com a
quantidade de drogas utilizadas. Obtivemos para este item as seguintes médias: o grupo
que consumia 1 tipo de substância apresentou média 0,56 (n=9); para 2 tipos de drogas,
média 0,64 (n=14); para 3 tipos de drogas, média 0,78 (n=23); para 4 tipos de drogas,
média 1,20 (n=20); para 5 tipos de drogas, média 1,18 (n=60); para 6 tipos de drogas,
média 1,07 (n=29); e para 7 diferentes tipos de drogas, média 1,43 (n=28).
O grupo que menos experimentou drogas apresentou a menor dia, a qual foi
quase 3 vezes menor que o grupo que mais experimentou. Tal resultado sugere que a
quantidade de drogas utilizadas apresenta alguma relação com a versatilidade criminal.
O item versatilidade criminal descreve um jovem que se envolveu em muitos
tipos de atos criminais. É considerado somente o comportamento criminal cometido a
partir dos 11 anos, e é pontuado com base na variedade dos diferentes atos criminais
cometidos pelo adolescente e não pela severidade ou freqüência destes atos. Os atos
criminais são divididos em categorias e se um ato se encaixa em duas ou mais
categorias, a categoria mais violenta é escolhida. Um jovem precisa ter cometido seis
diferentes atos criminais para obter um escore de 2 nesse item.
BREVES CONSIDERAÇÕES FINAIS A TÍTULO DE CONCLUSÃO.
No Brasil o termo psicopatia é usado com maior expressão no campo jurídico, e
não como diagnóstico clínico no campo da psicologia ou psiquiatria. O DSM-IV TR
apresenta o diagnóstico Transtorno Anti-social de personalidade, que aborda algumas
questões, como: estilo de vida parasitário, repetidas contravenções e um histórico de
violência. Entretanto, o conceito de psicopatia, de acordo com o proposto por Cleckley
(1976) em sua obra “A mascara da sanidade” de 1941, era mais amplo que o Transtorno
57
Anti-social. O trabalho de Cleckley exerceu influência direta na elaboração do DSM-I
(1952), o qual mencionava a Personalidade Psicopática.
Em decorrência de um possível interesse da APA em simplificar a linguagem e,
por conseguinte, o diagnóstico do transtorno anti-social, algumas características
relevantes referentes à psicopatia foram deixadas de fora, ou pelo menos o foram
incluídas de forma explícita no manual. Tais características são: egoísmo, egocentrismo,
manipulação, falta de empatia, dentre outros comumente e historicamente associados à
psicopatia. Entretanto, concentraram sua atenção nas características comportamentais
relacionadas a atos de irresponsabilidade, violência ou criminalidade. Em nosso
entendimento, o Transtorno Anti-social de Personalidade e a Personalidade Psicopática
se sobrepõem em diversos aspectos, contudo o segundo seria uma progressão do
primeiro, assim como a personalidade Anti-Social está para um transtorno de conduta.
O PCL:YV, conforme o modelo proposto por Hare (2003), é dividido entre
quatro fatores, dentre eles o fator anti-social. Escolhemos este fator da personalidade
psicopática para analisar o quanto o uso de substâncias pode potencializar tais
características. Mesmo acreditando que a psicopatia apresenta mais do que apenas
características anti-sociais, optamos por iniciar por este fator, pois é difícil imaginar um
psicopata despido da conduta violenta e criminosa, enfatizada pela conduta anti-social.
Nossas análises apontaram que praticamente a totalidade da amostra de
adolescentes em conflito com a lei (98,4%) fizeram uso de drogas e apresentaram baixa
escolaridade, estando comumente deslocados do ano letivo que cronologicamente
teriam condições para cursar, e a maior parte da amostra não estava freqüentando a
escola quando cometeu a contravenção. Os grupos que apresentaram maior média no
PCL:YV foram e os grupos com menor escolaridade e que haviam abandonado a escola
a mais tempo. Chama atenção que praticamente a quarta parte dos crimes cometidos
comprometiam a integridade física das vítimas.
Quase um terço da amostra tinha pelo menos um dos pais usuários de drogas. Os
resultados sugerem que o uso de drogas pelos pais pode potencializar as características
psicopáticas nos filhos, bem como a busca pelas drogas quanto a variedade e freqüência
de uso. Segundo Del Moral e Fernández (1998), a genética do indivíduo também pode
interferir, tanto na busca, quanto na ação farmacológica das drogas.
Mesmo que 60,5% dos entrevistados tenham afirmado que o fato de usarem
drogas o possui qualquer relação com a contravenção cometida, pela qual está
58
cumprindo pena, os resultados sugerem uma tendência contrária. Os delitos eram com
freqüência realizados na tentativa de se obter recursos para a aquisição da droga.
Ao analisar nos adolescentes o uso de substâncias, foi investigada a idade de
início do uso de drogas, a freqüência de uso e a diversidade de drogas experimentadas.
Estes hábitos mostraram-se, em decorrência das correlações e médias entre grupos,
consistentes para afirmarmos que a drogadição e a psicopatia estão relacionadas. A
freqüência de uso e a diversidade de drogas apresentaram correlação média com os
escores do PCL:YV, e mesmo a correlação estatística sendo significativamente baixa
com a idade de início do uso de substâncias, a media entre grupos dos usuários com
menos de 10 anos foi bastante alta.
De acordo com Ferreira e Ferreira (2003), é comum ao dependente químico
desenvolver comportamentos antissociais, e conforme Zaleski (2010), 95% dos
pacientes com Transtorno de Personalidade Anti-social são dependentes de álcool e/ou
outras sustâncias. Esta afirmação corrobora com os resultados obtidos. Porém, cabe
ressaltar que mais estudos são necessários neste sentido para que se possa determinar se
o uso de drogas contribui para o desenvolvimento de uma personalidade psicopática, ou
se o indivíduo com traços psicopáticos precoces tende a buscar mais cedo, com mair
freqüência e variedade o uso de substâncias.
Embora não seja informado propositalmente um ponto de corte para o trabalho
com adolescentes, nos Estados Unidos o ponto de corte para adultos é 30 e no Canadá
27, e a média entre os adolescentes entrevistados foi 23,18. Grupos que iniciaram o uso
de drogas com idade inferior a 10 anos de idade apresentaram média nos escores do
PCL-YV 29,49. Aqueles que faziam uso diariamente apresentaram média 25,08. Os
grupos que experimentaram 7 drogas diferentes apresentaram média 27,35. Todos estes
obtiveram resultados acima da média geral. Desta maneira, verifica-se que, de modo
geral, os grupos que apresentaram as maiores médias são os que fazem uso mais intenso
de drogas, pela diversidade, freqüência ou idade de início.
Dentre as contravenções especificadas como: furto, assalto, homicídio, tentativa
de homicídio, latrocínio e tráfico, o grupo que fez uso diário de alguma substância
cometeu mais da metade das contravenções. Além disso, aqueles que manifestaram uso
raro também expressam menor quantidade de indivíduos por delito.
Ao analisar o uso de substâncias com o fator anti-social da psicopatia,
observamos separadamente cada um dos itens envolvidos neste fator. Convém lembrar
que o escore máximo, e por conseqüência, a média máxima a ser obtida em cada item
59
separadamente é 2. Para todos os itens que envolvem este fator, o uso de drogas
mostrou algum nível de significância quanto a freqüência, diversidade de drogas
experimentadas e idade de início, apresentando nas médias entre grupos escores maiores
para os que faziam uso diário, aos que consumiam 6 ou 7 diferentes tipos de drogas, e
aos que iniciaram o uso com idade inferior a 10 anos.
Os resultados apontaram os usuários costumários de drogas como mais
violentos. Não podemos, entretanto, afirmar se os indivíduos que utilizam drogas em
maior variedade, freqüência e em idade inferior a 10 anos são mais violentos pela
dificuldade em controlar a raiva causada pela droga, ou se pela dificuldade em controlar
a raiva, o indivíduo busca precocemente o uso de substâncias com o intuito de sedar
este sentimento.
A idade inferior a 10 anos para o início de uso já é por si um problema de
comportamento precoce, o qual apresentou uma média alta entre grupos (1,71). Além
disso, os resultados sugerem que indivíduos com problemas comportamentais precoces
apresentam maior propensão ao uso diário de drogas e buscam maior variedade de
substâncias também.
O item comportamento criminal grave apresentou revelações importantes a
respeito da drogadição na psicopatia, pois obteve os escores mais altos nas médias dos
grupos comparado aos outros itens. Este Resultado confirma que o dependente de
drogas perde, se não totalmente em grande parte, os parâmetros sociais e morais para
obter a droga. A análise deste item gerou a seguinte questão: o infrator usuário de
drogas é mais perigoso sob o efeito da droga ou sob a fissura que esta causa? O uso
diário apresentou média 1,79; o uso de 7 diferentes substâncias apresentou média 1,93;
enquanto o uso com idade inferior a 10 anos apresentou média 2. Este resultado aponta
de forma significativa que os jovens que fizeram uso de drogas em idade inferior a 10
anos apresentam, sem exceção, conduta criminal grave.
O item “Graves violações da liberdade condicional” apresentou correlações
significativas com a variedade de drogas usadas e a idade de início do uso. Sugerindo,
assim, que o uso precoce e indiscriminado de substâncias pode potencializar condutas
anti-sociais futuras, como: burlar o sistema sócio-educativo.
Existem grupos que defendem a liberação do uso de drogas, afirmando que o
tráfico gera violência. Entretanto, é necessário rever tal posição, considerando também
as correlações e médias anteriormente citadas, pois estas evidenciam que atos
criminosos são realizados em decorrência do uso destas substâncias.
60
A riqueza dos dados obtidos com esta pesquisa permite dar segmento ao estudo
da psicopatia. Sugere-se novas pesquisas que enfoquem a verificação de quantos
fatores, identificados como agravantes para a formação de uma personalidade
psicopática, fazem parte da história de um mesmo indivíduo, que tenha obtido uma alta
pontuação no PCL:YV. Acreditamos também que políticas educacionais para prevenção
do uso de drogas devem ser mais intensas e continuadas nas escolas e comunidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Drogas (ABEAD).
62
APÊNDICES
63
64
65
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Estamos realizando um estudo de avaliação psicológica e psicossocial
com adolescentes que cumprem medida sócio-educativa na FASE, o qual é
importante para ajudar os profissionais a compreender os fatores que
contribuíram para a internação e para, no futuro, apoiar intervenções
terapêuticas precoces aos adolescentes. Esta pesquisa implica na sua
participação em uma entrevista realizada por psicólogo ou psiquiatra. Além
disso, seu prontuário poderá ser examinado para verificar o histórico na FASE
e o tipo de delito que resultou na medida sócio-educativa, bem como, algum
monitor poderá ser chamado para fornecer informações sobre sua conduta na
Instituição. Esta pesquisa está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS,
sob a coordenação do Prof. Dr. Gabriel Gauer, pesquisador do grupo de
pesquisa Avaliação e Intervenção em Saúde Mental e Bioética Clinica.
Salientamos que as informações coletadas são confidenciais e serão
utilizadas tão somente para fins de pesquisa. Os dados obtidos serão
colocados à disposição da pesquisa anonimamente e sua identidade será
mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que
permitam identificá-lo.Sua participação nesse estudo é voluntária, porém, seu
maior desconforto será quanto à disponibilidade do tempo necessário para a
atividade. Seu beneficio sea contribuição para a compreensão do fenômeno
estudado e para a produção de conhecimento científico que poderá ajudar os
adolescentes.
Eu________________________________________________________
(nome completo do participante) declaro que fui informado sobre os objetivos
especificados acima de forma clara e detalhada. Recebi informações
especificas sobre o procedimento no qual estarei envolvido, do desconforto que
a pesquisa pode acarretar e dos benefícios esperados. Todas as minhas
dúvidas foram respondidas com clareza e sei que poderei solicitar novos
esclarecimentos a qualquer momento aos pesquisadores pelo fone
(51)33203550, ramal 7735, ou ao Comitê de Ética em pesquisa da PUCRS
através do fone 3320 3345.
____________________________________ ____/_____/________
Assinatura do participante Data
____________________________ ________________________
Dr. Gabriel J.C.Gauer
Pesquisador Orientador Pesquisador do PPGP/PUCRS
66
67
Questionário sócio demográfico
Identificação: Data:
Procedência: Naturalidade:
1. Idade: 2.Biotipo: ( )Caucasiano ( )Afro ( )Asiático ( )Índio ( )Mestiço
3. Escolaridade série __________ 4.Abandono/tempo:(0)estuda (1) (2) (3) (4) (5 ou +)
5. Repetência (0)nunca (1) (2) (3) (4) (5 ou +)
Situação Familiar
6. Com quem mora?
(1)Pais (2)um dos pais (3)um dos pais e step. (4)Avós (5)Tios (5)Irmãos (6)Outros
7. Renda média da família em SM: (0) Não respondeu (1)Menos de 1 (2) 1 a 2 (3) 2 a 5
(4) 5 a 10 (5) Mais de 10.
8. Familiares na mesma casa:__________ 9. Numero de irmãos:____________
10. Algum familiar preso ou em MSE? (0)Não (1) em 1º Grau (2)em 2º Grau (3) Distantes
11. Profissão da mãe:(0)Não trab. (1)Formal (2)Informal (3)Ilegal
12. Uso de Álcool / Drogas (1)S (0)N
13. Profissão do pai: :(0)Não trab. (1)Formal (2)Informal (3)Ilegal
14. Uso de Álcool / Drogas (1)S (0)N
15. Tipo de delito relacionado a MSE:
(1)Furto (2)Assalto (3)Homicídio (4)Tentativa (5)Latrocínio (6)Outro
16. Quantas vezes já esteve em MSE: (1) (2) (3) (4) (5 ou mais)
História Pregressa Médica
17. Teve acidente em que bateu a cabeça? (0)Nunca (1) (2) (3) (4) (5ou mais)
18. Idade (0)nunca (1) menos de 10 anos (2) 10 anos ou mais (3)muitas vezes
19.Severidade (0)nada (1) desmaio (2) perda cs
20. Doença física
(0)Nada (1)Infecto-parasitárias (2)Câncer (3)nutricionais e imunes
(4)Doenças do sangue e órgãos relacionados (5)Sistema nervoso e órgãos sensoriais
(6)Circulatório
(7)Respiratório (8)Digestivo (9)Genitourinário (10)Pele (11)músculo-esquelético e tecido
conjuntivo (12)Congênita (13)Ferimentos (14) não definida
21. Faz algum tratamento? (1)S (0)N 22. Acompanhamento psiquiátrico (1)S (0)N
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Questionário Para Uso de drogas
1. Fumou cigarro (não maconha)? 2. De um ano para cá você fumou? (1)S (0)N
3. Idade no primeiro uso: (0) nunca fumei (1) Não me lembro (____) anos
4. Experimentou maconha? 5. De um ano para cá você fumou? (1)S (0)N
6. Idade no primeiro uso: (0) nunca fumei (1) Não me lembro (____) anos
7. Usou cocaína? 8. De um ano para cá você usou? (1)S (0)N
9. Idade no primeiro uso: (0) nunca usei (1) Não me lembro (____) anos
10. Usou crack? 11. De um ano para cá você usou? (1)S (0)N
12. Idade no primeiro uso: (0) nunca usei (1) Não me lembro (____) anos
13 .Você já cheirou algum produto (exceto cocaína) para sentir um barato?
14. De um ano para cá você cheirou? (1)S (0)N
15. Idade no primeiro uso: (0) nunca usei (1) Não me lembro (____) anos
16. Usou outra substância psicoativa?
17. Qual? (0)Nenhuma (1)Loló/cola (2)Ácido (3)Ecstasy (4) Outra
18. De um ano para cá você usou? (1)S (0)N
19. Idade no primeiro uso: (0) nunca usei (1) Não me lembro (____) anos
20. Já tomou bebida de alcool 21. De um ano para cá você bebeu? (1)S (0)N
22. Idade na primeira vez que bebeu: (0) nunca usei (1) Não me lembro (____) anos
23. Qual o tipo de bebida alcoólica que você tomou por último?
(0) nunca tomei (1) cerveja ou chopp (2) destilado (3) vinho
24. Com que freqüência você costuma beber ou usar drogas?
(0) Nunca (1) diariamente (2) eventualmente (mais de 2X/ semana)
(3) ocasionalmente (1-2 X/semana) (4) raramente (1-2 X/ mês)
25. Você acha que o uso de drogas influenciaram na prática de seu delito? (1)S (0)N
26. Você já sofreu punição disciplinar por uso de drogas dentro da FASE? (1)S (0)N
27. Fora da FASE você já comercializou drogas?
(0) Não (1)Maconha (2)Cocaína (3)Crack (4)Duas anteriores (5)Todas
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