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num movimento de ação/reação/interação, de um entendimento da igualdade como
produção da uniformidade e não como direito à diferença.
São discursos padrão da deficiência, onde encontramos visivelmente as
necessidades educacionais especiais e invisivelmente o aluno. Contudo, o diagnóstico é
um dos fatores que precisam ser observados, mas não considerados como decisivos.
Além dele, existem outros fatores que constituem o sujeito, tais como, o contexto social
onde está inserido e as situações de aprendizagens que já foram vivenciadas pelos
ANEEs.
Wertsch (1996, p.135) destaca os conceitos de Bakhtin no que se refere ao
enunciado, como unidade real da comunicação verbal; a voz como a personalidade ou a
consciência falante, o dialogismo e a multivocalidade, e a linguagem social e gênero de
discurso:
Um falante qualquer de uma língua natural toma suas falas de enunciados
reais e concretos e não de frases ou palavras de um dicionário. Ele sempre
expressa um ponto de vista particular, e sempre se dirige a alguém. Sua fala,
portanto, contempla pelo menos duas vozes e, por isso, é inerententemente
dialógica, pois buscam as respostas, as concordâncias, as discordâncias, e não
a interpretação literal. Esse falante utiliza sempre uma linguagem social
específica, que espelha sua posição social e seu pertencimento profissional ou
geracional. Por outro lado, ele sempre fala em contextos sociais e culturais
bem específicos e para isso usa gêneros de discurso ligados a essas situações.
Nesse sentido, um gênero de discurso não é uma forma de linguagem, mas
uma forma típica de enunciado.
É possível perceber também, o quanto os discursos sobre os alunos com
necessidades educacionais especiais revelam nossas concepções. E o quanto esses
discursos sobre o sujeito falam de nós mesmos, ao apresentar um modo diferente de vê-
lo, provenientes das nossas leituras e da nossa própria formação. O que trazemos
conosco, através do nosso meio e das nossas relações.
O que nos chama a atenção são as diferenças existentes no olhar sobre a atitude
do comportamento, isto é, a diferença entre o que o sujeito é e o que ele faz, num
discurso padrão de deficiência.
Moysés, (2001, p. 23) afirma que:
Perceber e assumir os limites do olhar coloca limites à pretensão avaliatória.
Não podemos deixar de registrar que a não-percepção de limites costuma
chegar a tal ponto que os avaliadores não apenas acreditam em seu acesso
direto ao objeto da avaliação, como ainda no acesso às intenções de quem
está sob avaliação. Anotação sobre as intenções de quem está sendo avaliada,
geralmente negativas, com destaque para a agressividade, são frequentes nos
laudos, evidenciando a carga de juízos de valor incorporada à avaliação, ao
diagnóstico.