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Melissa de Fátima Bueno
“AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E
PERCEPÇÃO DO SUPORTE FAMILIAR
EM HIPERTENSOS”
Itatiba
2009
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Melissa de Fátima Bueno
AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E
PERCEPÇÃO DO SUPORTE FAMILIAR
EM HIPERTENSOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade São Francisco para obtenção do
título de Mestre.
ORIENTADOR: PROF. DR. CLÁUDIO GARCIA CAPITÃO
Itatiba
2009
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Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias do Setor de
Processamento Técnico da Universidade São Francisco.
158.98 Bueno, Melissa de Fátima.
B943a Avaliação da ansiedade e percepção do suporte familiar
em hipertensos. -- Itatiba , 2009.
75 p.
Dissertação
(mestrado) – Programa de Pós-Graduação
Stricto
Sensu
em Psicologia da Universidade São Francisco.
Orientação de: Cláudio Garcia Capitão
1. Ansiedade. 2. Suporte familiar. 3. Avaliação
psicológica. 4. BAI. 5. IDATE. 6. IPSF. I. Título. II. Capitão,
Cláudio Garcia.
iii
iv
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus por iluminar o meu caminho e permitir realizações
na minha vida pessoal e profissional.
Agradeço ao meu pai, a minha mãe, ao meu filho, ao meu noivo e ao meu irmão por
proporcionarem um “suporte familiar” adequado em todos os momentos, sem o apoio,
amor, carinho e compreensão de vocês a realização desse sonho seria impossível.
Ao Orientador Prof. Dr. Cláudio Garcia Capitão, um exemplo a ser seguido,
obrigada pela paciência, apoio e aprendizagem, por transmitir segurança e tranquilidade nos
momentos difíceis, sobretudo, pela oportunidade de realizar o estágio docente, expresso
profunda admiração e gratidão.
Ao Prof. Dr. Makilin Nunes Baptista e ao Prof. Dr. Ricardo Primi, pelas
contribuições e apontamentos pertinentes, principalmente na qualificação.
Ao Prof. Dr. Fabián Javier Marín Rueda e Profª. Dra. Selma de Cássia Martinelli
pela participação da banca examinadora e pelas valiosas contribuições.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação da Universidade São Francisco,
pela convivência enriquecedora e disponibilidade em colaborar.
Aos amigos e colegas do Programa de Pós-Graduação, foi importante
compartilharmos alegrias e incertezas, com vocês a caminhada se tornou mais leve.
Aos colegas de trabalho e pacientes da Unidade Básica de Saúde, sem vocês nada
faria sentido.
v
RESUMO
Bueno, M. F. (2009). Avaliação da ansiedade e percepção do suporte familiar em
hipertensos. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Psicologia, Universidade São Francisco, Itatiba, SP.
Sob a perspectiva de que a saúde se caracteriza por um estado multidimensional que
envolve três domínios, saúde física, psicológica e social e que a Psicologia na Saúde tem
como campo de pesquisa e intervenção a interface desses três domínios, o presente estudo
tem como objetivo correlacionar indicadores de ansiedade e de percepção do suporte
familiar em pessoas portadoras de hipertensão e buscar evidências de validade convergente
entre as variáveis dos instrumentos, Inventário de Ansiedade de Beck e o Inventário de
Ansiedade Traço-Estado. Estudos indicam que a hipertensão não tem causa única, mas é
resultado da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais e também está
relacionada à ansiedade. O suporte familiar pode ser considerado um aspecto social
presente no processo de saúde-doença. O estudo foi realizado com 70 pessoas com
diagnóstico médico de hipertensão, com idade entre 27 e 65 anos, que recebem atendimento
em uma Unidade Básica de Saúde. Os instrumentos utilizados foram um Questionário de
Identificação, Inventário de Ansiedade de Beck (BAI), Inventário de Ansiedade Traço-
Estado (IDATE) e Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF). Os resultados
indicaram níveis altos de ansiedade e níveis baixos de percepção do suporte familiar,
portanto, as correlações encontradas entre indicadores de ansiedade (BAI e IDATE) e IPSF
foram negativas e significativas. As correlações encontradas entre os sintomas de ansiedade
(BAI) e ansiedade-traço/estado foram positivas e significativas. Esses dados corroboram
com as bases teóricas e pesquisas da área, que postulam que hipertensos apresentam
indicadores de ansiedade elevados e que níveis mais baixos de percepção do suporte
familiar podem estar relacionados com níveis mais altos de ansiedade.
Palavras-chave: ansiedade; suporte familiar; avaliação psicológica; BAI; IDATE; IPSF.
vi
ABSTRACT
Bueno, M. F. (2009). Anxiety Assessment and family support perception in hypertensive
outpatients. Master Degree Dissertation. Stricto Sensu Psychology Post Graduation
Program, Universidade São Francisco, Itatiba, SP.
Under the perspective that health is characterized by a multidimensional condition that
involves three areas, physical, psychological and social in the field of Psychology Health is
the research and intervention of these three areas, this study aims to correlate indicators of
anxiety and family support perception in people with hypertension and to seek evidence of
convergent validity between the variables of the instruments of Beck Anxiety Inventory and
State-Trait Anxiety Inventory. Studies indicate that hypertension has no single cause but is
the result of the interaction of biological, psychological and social factors and it is also
related to anxiety. The family support may be a social aspect in the process of health and
disease. The study was conducted with 70 people with medical diagnosis of hypertension,
aged from 27 to 65 years-old, receiving care at a Basic Health Unit. The instruments used
were a questionnaire of identification, Beck Anxiety Inventory (BAI), State-Trait Anxiety
Inventory (STAI) and the Inventory of Perceived Family Support (IPSF). The results
indicated high levels of anxiety and low levels of family support perception, therefore, the
correlations found among indicators of anxiety (BAI and STAI) and IPSF were negative
and significant. The correlations found between the symptoms of anxiety (BAI) and state-
trait anxiety were positive and significant. These data corroborate with the theoretical bases
and research in the area, which postulate that hypertensive patients have elevated indicators
of anxiety and lower levels of family support perception may be associated with higher
levels of anxiety.
Keywords: anxiety; family support; psychological assessment; BAI; STAI; IPSF.
vii
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.............................................................................................................01
1. FATORES ENVOLVIDOS NO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA / HIPERTENSÃO
ARTERIAL.........................................................................................................................03
1.1.
A
NSIEDADE
.............................................................................................................05
1.2.
S
UPORTE FAMILIAR E SUA PERCEPÇÃO
....................................................................14
2.
AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA ....................................................................................24
3. OBJETIVOS...................................................................................................................30
4. MÉTODO........................................................................................................................31
4.1.
P
ARTICIPANTES
......................................................................................................31
4.2.
I
NSTRUMENTOS
.......................................................................................................31
4.2.1. Questionário de Identificação.. ...........................................................................31
4.2.2. Inventário de Ansiedade de Beck........................................................................32
4.2.3. Inventário de Ansiedade Traço-Estado...............................................................33
4.2.4. Inventário de Percepção de Suporte Familiar.....................................................35
4.3. Procedimento..........................................................................................................38
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................40
5.1.
M
ÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS
...........................................................................40
5.2.
A
NÁLISE DESCRITIVA DOS PARTICIPANTES
.............................................................40
5.3.
A
NÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS
...........................................................................44
5.4.
R
ELAÇÕES ENTRE ANSIEDADE E PERCEPÇÃO DO SUPORTE FAMILIAR
......................49
5.5.
R
ELAÇÕES ENTRE SINTOMAS DE ANSIEDADE
(BAI)
E ANSIEDADE
-
ESTADO
/
ANSIEDADE
-
TRAÇO
(IDATE)...........................................................................52
5.6. Análises estatísticas complementares.....................................................................54
viii
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................61
7. REFERÊNCIAS .............................................................................................................63
ANEXOS .............................................................................................................................71
ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Frequência e porcentagem do estado civil dos participantes...............................41
Tabela 2. Frequência e porcentagem do nível de instrução dos participantes.....................42
Tabela 3. Frequência e porcentagem da etnia dos participantes..........................................43
Tabela 4. Frequência e porcentagem sobre com quem moram os participantes..................43
Tabela 5. Médias do escore bruto dos participantes (IDATE).............................................46
Tabela 6. Médias do percentil dos participantes (IDATE)...................................................47
Tabela 7. Escores dos participantes (IPSF)..........................................................................48
T
ABELA
8.
N
ÍVEIS DE PERCEPÇÃO DE SUPORTE FAMILIAR DOS PARTICIPANTES
.....................48
T
ABELA
9.
C
ORRELAÇÃO DE
S
PEARMAN ENTRE ESCORES DE
A
NSIEDADE
(BAI
E
IDATE)
E AS DIMENSÕES DO
IPSF............................................................................50
Tabela 10. Correlação de Spearman entre escore de Ansiedade (BAI) e percentil de
Ansiedade-Estado e Ansiedade-Traço (IDATE)................................................53
Tabela 11. Médias dos grupos 1 e 2 nos instrumentos BAI e IDATE.................................56
Tabela 12. Variância (F) e nível de significância (p) dos resultados dos participantes.......57
Tabela 13. Grupos de participantes (nível do BAI) comparados com as médias do Fator 1 e
2 do IPSF............................................................................................................58
Tabela 14. Grupos de participantes (nível do BAI) comparados com as médias do Fator 3 e
IPSF Total..........................................................................................................58
Tabela 15. Grupos de participantes (nível do BAI) comparados com as médias de
ansiedade-estado e ansiedade-traço.......................................................................................59
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Escore total dos participantes (BAI)....................................................................45
Figura 2. Níveis de ansiedade dos participantes..................................................................46
Figura 3. Comparação entre grupo 1 e grupo 2 - Análise de Cluster e T-Test....................55
xi
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1. Questionário de Identificação...............................................................................72
Anexo 2. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......................................................74
1
APRESENTAÇÃO
A saúde tem sido considerada um estado multidimensional que envolve três
domínios, a saber, saúde física, psicológica e social, não deve ser considerada apenas como
ausência de doenças. Dessa forma, a saúde física envolve hábitos relacionados ao
comportamento e ao estilo de vida. No outro domínio, a saúde psicológica, engloba a
capacidade de pensar de forma clara e objetiva, desenvolver uma auto-estima adequada,
consciência de bem-estar, criatividade, habilidades intelectuais, estabilidade emocional,
abertura às inovações e uma estrutura e funcionamento estáveis da personalidade. A saúde
social, por sua vez, implica em habilidades interpessoais, bons relacionamentos com família
e amigos e a participação em atividades socioculturais (Capitão, Scortegagna & Baptista,
2005).
Sob essa perspectiva, a Psicologia na Saúde tem como campo de pesquisa e
intervenção a interface desses três domínios, tendo como objetivo o estado completo de
bem-estar, constituindo-se como uma forma de compreender o adoecimento e as maneiras
pelas quais o homem pode manter-se saudável (Capitão, Scortegagna & Baptista, 2005).
Por meio de estudos que relacionam algumas variáveis (biológicas, psicológicas e sociais)
presentes no processo saúde-doença, pode-se pensar sobre intervenções mais adequadas e
trabalhos preventivos na área da saúde, nos quais a psicologia pode dar grandes
contribuições, compreendendo o homem como um ser biopsicossocial e multideterminado.
Assim, as atividades de intervenção e pesquisa em saúde devem ter um enfoque multi e
interdisciplinar (Enumo, 2003).
Remor (1999) define a Psicologia na Saúde como um campo interdisciplinar que
tem por finalidade realizar estudos relacionados à promoção, prevenção e tratamento da
saúde do indivíduo e da população para a melhoria da qualidade de vida. Straub (2005)
ressalta que o termo correto a ser utilizado é “psicologia na saúde” por não existir duas
2
psicologias, uma psicologia da saúde e outra psicologia da doença, a psicologia na (área da)
saúde engloba a vivência da pessoa e seu processo de adoecimento, envolvendo aspectos
psicológicos, estilo de vida, hábitos, cultura e aspectos familiares.
De acordo com Capitão, Scortegagna e Baptista (2005), a avaliação psicológica na
saúde configura-se como um importante recurso para a sistematização dos serviços de
saúde, podendo desempenhar um relevante papel social, como avaliar e documentar a
efetividade ou não de um tratamento, caracterizar a população atendida, traçar estratégias
de intervenção, prevenção e profilaxia, propor melhorias e novas políticas públicas no
campo da saúde. Diante desse contexto, e da percepção de demandas no trabalho em
Unidade Básica de Saúde, justifica-se o presente trabalho que tem como objetivo avaliar
indicadores de ansiedade e de percepção do suporte familiar em pessoas portadoras de
hipertensão.
Nas páginas seguintes serão apresentados alguns aspectos referentes ao processo
saúde-doença, hipertensão arterial, ansiedade, suporte familiar e sua percepção e avaliação
psicológica, enfocando a psicologia na área da saúde. Em seguida será discorrido sobre o
método, composto por, participantes, instrumentos e procedimento, e por fim serão
apresentados os resultados e discussão, as considerações finais, as referências utilizadas e
os anexos.
3
1. FATORES ENVOLVIDOS NO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA /
HIPERTENSÃO ARTERIAL
Num dos artigos que apontam a interface entre a psicologia na saúde e a psicologia
positiva, Calvetti, Müller e Nunes (2007) destacam que a partir da compreensão da
interação da pessoa com o ambiente, é possível ampliar o entendimento dos fatores de risco
e de proteção envolvidos no processo saúde-doença. Os fatores de risco estão relacionados
aos eventos negativos que aumentam a probabilidade da pessoa apresentar problemas de
saúde, como por exemplo, situações de estresse, adversidades, dificuldade de adaptação,
sintomas de ansiedade e depressão, limitações e falta de recursos. Os fatores de proteção se
referem às influências que transformam ou melhoram as respostas pessoais, podem
contribuir para o enfrentamento do processo saúde-doença e predizer resultados positivos,
como a qualidade de vida, sendo eles, resiliência, bem-estar subjetivo, otimismo, felicidade,
autodeterminação, esperança, criatividade, suporte social e familiar, habilidades
interpessoais, religiosidade e espiritualidade, entre outros.
Nesse contexto, um dos fatores de risco a ser considerado é a ansiedade e um dos
fatores de proteção é o suporte familiar, e um problema de saúde que atinge muitas pessoas
e pode ser considerado multideterminado é a hipertensão arterial. De acordo com o
Ministério da Saúde (2002), a prevalência estimada de hipertensão no Brasil é de 35% da
população acima de 40 anos, o que representa em meros absolutos um total de 17
milhões de portadores da doença. A maioria dessas pessoas (75%) recorre ao Sistema
Único de Saúde (SUS) para receber atendimento na atenção básica. O Ministério da Saúde
possui o Programa Nacional de Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus, que
compreende um conjunto de ações de promoção da saúde, prevenção, diagnóstico e
tratamento dos agravos da hipertensão. Esse programa tem como objetivo reduzir o número
de internações, a procura por pronto-atendimento, os gastos com tratamentos de
4
complicações, aposentadorias precoces e mortalidade cardiovascular, com a consequente
melhoria da qualidade de vida dos portadores.
A condição é chamada hipertensão quando a pressão arterial excede 140/90 de
forma consistente. A pressão arterial é a força exercida pelo sangue à medida que
comprime as paredes das artérias, se for elevada pode danificar os vasos e causar
arterosclerose e quando passa de 120/80, o risco de doenças cardiovasculares aumenta.
Frequentemente associa-se a diversas complicações, como doença cerebrovascular,
insuficiência cardíaca e insuficiência renal crônica. A hipertensão não tem causa única, mas
é resultado da interação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. A obesidade, a falta
de exercícios, o uso abusivo do sal em alimentos e o estresse excessivo podem produzir
hipertensão em pessoas que tenham predisposição biológica para a doença (Straub, 2005).
A hipertensão arterial é caracterizada como um transtorno atípico, por não revelar
uma sintomatologia específica que permita sua detecção, sendo que a avaliação do
hipertenso deve incluir a avaliação dos fatores psicossociais, por meio de instrumentos
adequados (Soares, 2005). Geralmente identificam-se três etapas que antecedem a
cronicidade da hipertensão, sendo elas, pressão reativa caracterizada por elevações da
pressão sistólica produzindo uma regulação hemodinâmica incorreta para determinadas
situações, nessa etapa os fatores psicossociais são os que mais contribuem para os elevados
níveis da pressão arterial; hipertensão boderline caracterizada por pressão sistólica e
frequência cardíaca elevadas por longo tempo, fatores que agravam os mecanismos
hemodinâmicos (álcool e nicotina, entre outros); e hipertensão essencial caracterizada por
pressão sistólica e diastólica elevadas, os principais fatores agravantes nessa fase são os
biológicos, mediados neuro-hormonalmente e disfunção renal (Fernández-Abascal, 2000).
Estudos apontam algumas características psicológicas associadas à hipertensão
arterial, Adler e Matthews (1994), Diamond (1982), Trigo, Rocha e Coelho (2000),
5
descrevem o hipertenso como um indivíduo conflituoso, conotado de hostilidade,
impaciência, brusquidão, ressentimento, ansiedade e sentido de urgência temporal,
geralmente expressam seus impulsos por meio de distanciamento, supressão, submissão,
complacência e expressão de ira.
De acordo com Lipp (2007), o tratamento da hipertensão arterial requer um trabalho
multiprofissional que contemple aspectos relacionados ao controle da ansiedade, do
estresse emocional, considerando as características psicológicas do paciente. O treino do
controle do estresse parece promover mudanças duradouras no estilo de vida do hipertenso
que favorecem a adesão ao tratamento, o gerenciamento da pressão arterial e a manutenção
de uma melhor qualidade de vida. Nos parágrafos seguintes procurou-se definir a
ansiedade, por se tratar de um aspecto psicológico presente nos processos de saúde-doença,
um fator de risco, inclusive na hipertensão.
1.1. Ansiedade
Sadock e Sadock (2007) afirmam que a complexidade da civilização, a rapidez das
mudanças e a perda de alguns valores religiosos e familiares tradicionais criam novos
conflitos e ansiedades para os indivíduos e para a sociedade. A ansiedade é parte integrante
da medicina psicossomática, da teoria e prática psiquiátrica e deve-se analisar sua
quantidade e seu efeito, diferenciando entre níveis normais e patológicos. Mesmo nos
pacientes sem danos estruturais, a ansiedade causada por sentimentos de incompetência,
inadequação e impotência é um aspecto de perturbação, pode ser um componente de muitas
condições médicas e de outros transtornos psiquiátricos.
Etimologicamente, a palavra ansiedade provém do termo grego Anshein, que
significa “estrangular, sufocar, oprimir”. O termo correlato, angústia, origina-se do latim,
onde angor significa “opressão” ou “falta de ar”, e angere quer dizer “causar pânico”. Tais
6
palavras latinas derivam da raiz indo-germânica Angh, indicando estreitamento ou
constrição, termos que se referem metaforicamente à experiência subjetiva característica da
ansiedade. A distinção entre ansiedade e angústia é feita por alguns autores, porém não
consenso a respeito do assunto (Graeff & Brandão, 1999).
No entanto, para Dalgalarrondo (2000), a ansiedade é definida como um estado de
humor desconfortável, uma apreensão negativa em relação ao futuro, uma inquietação
interna desagradável, inclui manifestações somáticas e fisiológicas (dispnéia, taquicardia,
vasoconstrição ou dilatação, tensão muscular, parestesias, tremores, sudorese, tontura, entre
outros) e manifestações psíquicas (inquietação interna, apreensão, desconforto mental, entre
outros). o termo angústia relaciona-se diretamente à sensação de aperto no peito e na
garganta, de compressão, de sufocamento, assemelha-se muito à ansiedade, mas tem uma
conotação mais corporal e mais relacionada ao passado.
Sadock e Sadock (2007) definem a ansiedade como uma sensação difusa,
desagradável e frequentemente vaga de apreensão, acompanhada de sintomas autonômicos
(cefaléia, perspiração, palpitações, aperto no peito, leve mal-estar epigástrico e
inquietação). É vista como um sinal de alerta, que serve para avisar sobre um perigo
iminente e possibilitar que a pessoa tome medidas para lidar com a situação, é uma resposta
a uma ameaça desconhecida, interna e de origem conflitiva. Difere do conceito de medo,
que é uma resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida e de origem não-conflitiva,
apesar de ser um sinal de alerta similar.
Freud (1932/1976) apresenta o conceito de ansiedade como um estado afetivo, com
combinações de alguns sentimentos de prazer-desprazer. Postula que a primeira ansiedade
do indivíduo se no momento do nascimento (ansiedade tóxica), que ocorre em
consequência da estimulação instintiva excessiva e o organismo não tem capacidade de
controlar. O autor faz distinção entre a ansiedade realística e a neurótica. A ansiedade
7
realística é considerada uma reação normal e compreensível frente a um perigo externo, que
provoca no indivíduo um estado de tensão motora aumentado, essa tensão pode gerar duas
reações diferentes, ou o indivíduo adapta-se à situação de perigo, fugindo ou se
defendendo, ou o estado de tensão aumentado predomina, causando mais ansiedade e
paralisando as ações da pessoa, apresentando, então, a ansiedade neurótica.
A experiência de ansiedade apresenta dois componentes, sendo eles a percepção de
sensações fisiológicas e a percepção de estar nervoso ou assustado, que pode ser aumentada
pelo sentimento de vergonha. Exerce efeito sobre o pensamento, percepção e aprendizado,
tende a produzir confusão e distorções perceptivas, podendo interferir no aprendizado,
reduzindo a concentração, a memória e a capacidade de associação. A ansiedade normal
acompanha frequentemente o crescimento e o desenvolvimento humano, as mudanças, as
experiências novas e ameaçadoras, o encontrar da própria identidade e sentido da vida.
Geralmente a ansiedade leva a uma ação com o objetivo de reduzir ou extinguir uma
ameaça, pode ser construtiva, ajudando a evitar danos e alertando a pessoa para a execução
de atos que eliminem o perigo. No entanto, a ansiedade pode ser patológica em virtude de
sua intensidade, duração e consequências, como uma resposta inadequada a determinado
estímulo. A ansiedade patológica pode ser um sintoma de transtorno de ansiedade orgânico
ou transtorno de ajustamento com humor ansioso (Sadock & Sadock, 2007; Barlow, 2000).
Os transtornos de ansiedade são classificados e descritos no Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais DSM-IV-TR (APA, 2003), como Transtorno de
Pânico Sem Agorafobia que é caracterizado por ataques de pânico inesperados e
recorrentes acerca dos quais o indivíduo se sente persistentemente preocupado; o
Transtorno de Pânico Com Agorafobia caracteriza-se por ataques de pânico e
agorafobia; Agorafobia Sem História de Transtorno de Pânico é definido pela presença
de agorafobia e sintomas tipo pânico sem uma história de ataques de pânico inesperados;
8
Fobia Específica apresenta ansiedade clinicamente significativa provocada pela exposição
a um objeto ou situação específicos e temidos, frequentemente levando ao comportamento
de esquiva; Fobia Social caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa provocada
pela exposição a certos tipos de situações sociais ou de desempenho, levando também ao
comportamento de esquiva.
O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é definido por obsessões, que causam
acentuada ansiedade ou sofrimento e/ou compulsões, que servem para neutralizar a
ansiedade; Transtorno de Estresse Pós-Traumático apresenta-se pela revivência de um
evento extremamente traumático, acompanhado por sintomas de excitação aumentada e
esquiva de estímulos associados com o trauma; Transtorno de Estresse Agudo
caracteriza-se por sintomas similares àqueles do Transtorno de Estresse Pós-Traumático,
ocorrendo logo após um evento extremamente traumático; Transtorno de Ansiedade
Generalizada é diagnosticado com a presença de ansiedade e preocupação excessivas e
persistentes por no mínimo, seis meses (DSM-IV-TR [APA, 2003]).
Tem-se ainda o Transtorno de Ansiedade Devido a uma Condição Médica Geral
que apresenta sintomas proeminentes de ansiedade considerados como sendo consequência
fisiológica direta de uma condição médica geral; Transtorno de Ansiedade Induzido por
Substância é representado por sintomas proeminentes de ansiedade, considerados como
sendo a consequência fisiológica direta de uma droga de abuso, um medicamento ou
exposição a uma toxina; Transtorno de Ansiedade Sem Outra Especificação é incluído
para a codificação de transtornos com ansiedade proeminente ou esquiva fóbica que não
satisfazem os critérios para qualquer um dos transtornos de ansiedade específicos definidos,
ou sintomas de ansiedade acerca dos quais existem informações inadequadas ou
contraditórias (DSM-IV-TR [APA, 2003]).
9
Os Ataques de Pânico e Agorafobia ocorrem no contexto de diversos outros
transtornos, por isso os conjuntos de critérios para Ataque de Pânico e para Agorafobia
podem ser diferenciados. Um Ataque de Pânico é representado por um período distinto no
qual há o início súbito de intensa apreensão, temor ou terror, associados com sentimentos
de catástrofe iminente, apresentando sintomas como falta de ar, palpitações, dor ou
desconforto torácico, sensação de sufocamento e medo de “ficar louco” ou de perder o
controle. A Agorafobia é a ansiedade ou esquiva a locais ou situações das quais pode ser
difícil (ou embaraçoso) escapar ou o auxílio pode não estar disponível, no caso de ter um
ataque de pânico ou sintomas tipo pânico (DSM-IV-TR [APA, 2003]).
Ebert, Loosen e Nurcombe (2002) definem quatro principais teorias etiológicas a
respeito dos transtornos de ansiedade, assim sendo, a Teoria Psicodinâmica considera os
transtornos de ansiedade como estando enraizados em um conflito inconsciente. O
mecanismo de defesa primário utilizado é a repressão, no qual os estados dos impulsos
inaceitáveis seriam mantidos fora da consciência e o fracasso da repressão poderia resultar
em ansiedade e no uso de mecanismos para manter a estabilidade intrapsíquica.
De acordo com a Teoria da Aprendizagem (ou Teoria Comportamental), um
transtorno de ansiedade se desenvolve quando as pistas ambientais se tornam, durante o
desenvolvimento, associadas com acontecimentos geradores de ansiedade, dessa forma, a
preocupação e o medo se tornam condicionados e se repetem com o fim de evitar o reforço
negativo intermitente. A evitação periódica bem-sucedida de um resultado negativo reforça
o comportamento.
A Teoria Cognitiva considera a ansiedade como resultado de crenças distorcidas a
respeito de si mesmo, do mundo e do futuro (tríade cognitiva). Assim sendo, os transtornos
de ansiedade envolvem crenças irracionais que interpretam os acontecimentos de maneira
10
incorreta, exageradamente perigosa ou ameaçadora, resultando em respostas automáticas a
pistas internas ou externas que desencadeiam ansiedade.
Por sua vez, as Teorias Biológicas sustentam que a ansiedade e o medo têm um alto
valor adaptativo, por aumentar a capacidade de sobrevivência (fuga da ameaça). O
entendimento da natureza biológica da ansiedade foi estimulado pela elucidação das ações
das drogas que reduzem os sintomas dos transtornos de ansiedade. Essas observações o
divididas em três grandes áreas, nas quais anormalidades no funcionamento foram
associadas com vários transtornos de ansiedade, sendo elas, o complexo receptor do ácido
gama amino-butírico (GABA) receptor de benzodiazepnícos - canais de cálcio; o núcleo
do locus coeruleus noradrenérgico; e o sistema serotonérgico, especialmente os núcleos da
rafe e as suas projeções.
Vale ressaltar que Sadock e Sadock (2007) apresentam considerações sobre as
Teorias Existenciais que oferecem modelos para o transtorno de ansiedade generalizada,
para o qual não existe um estímulo especificamente identificável para a sensação de
ansiedade crônica. O conceito central é de que as pessoas tornam-se conscientes de um
profundo vazio em suas vidas, uma percepção que pode tornar-se mais perturbadora do que
a aceitação de sua morte inevitável, dessa forma, a ansiedade é a resposta de uma pessoa a
esse imenso vazio de existência e significado.
Nesse contexto, Andreatini, Lacerda e Zorzetto (2001) afirmam que o transtorno de
ansiedade generalizada (TAG) é o transtorno mental mais encontrado na clínica
(prevalência de 9,5% a 17%). Apresentam os seguintes medicamentos com eficácia
comprovada em estudos controlados e disponíveis; os benzodiazepínicos, buspirona,
antidepressivos, betabloqueadores, antipsicóticos e extrato de kava-kava e apresentam as
principais linhas de pesquisa de novos fármacos ansiolíticos, algumas derivadas do
mecanismo de ação de drogas já disponíveis e outras se originam da observação de estudos
11
sobre o envolvimento de outros neurotransmissores na ansiedade, como por exemplo,
neuropeptídeos e glutano.
A ansiedade generalizada caracteriza-se pela presença de sintomas ansiosos
excessivos, a pessoa vive tensa, preocupada, nervosa ou irritada. Os sintomas mais
frequentes são insônia, dificuldade em relaxar, agitação constante, irritabilidade aumentada,
dificuldade de concentração e sintomas físicos, como, taquicardia, tontura, cefaléia, dores
musculares, epigastralgias, formigamentos e sudorese fria (Dalgalarrondo, 2000).
É relevante para esse estudo, e de acordo com Cruz, Zangrossi e Graeff (1998);
Spielberger, Gorsuch e Lushene (2003), diferenciar a ansiedade como estado e como traço.
A ansiedade-estado é aquela observada em um dado momento da vida do indivíduo, é um
estado emocional transitório, usualmente associada a algum evento estressógeno, podendo
ser elevada ou atenuada devido à apresentação ou retirada do evento, é caracterizada por
sentimentos de tensão e apreensão conscientemente percebidos, que variam em intensidade
no decorrer do tempo. A ansiedade-traço é uma característica do indivíduo, uma propensão
para sentir maior ou menor grau de ansiedade, sendo essa predisposição determinada por
influências genéticas e por experiências prévias do indivíduo, é a forma como a pessoa
tende a reagir em situações percebidas como ameaçadoras. As pessoas que apresentam
níveis elevados de ansiedade-traço tendem a apresentar também veis elevados de
ansiedade-estado, por reagirem às situações como se fossem ameaçadoras ou perigosas com
maior frequência.
Nos parágrafos seguintes, apresentamos algumas pesquisas pertinentes sobre
ansiedade e hipertensão. Florindo (1991) desenvolveu um estudo para avaliar a ansiedade-
traço e a ansiedade-estado, de 50 pacientes hipertensos de um Centro de Saúde, foi
utilizado como instrumento de medida, o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE).
Os resultados demonstraram interações entre ansiedade e atividade cardiovascular
12
(hipertensão). A autora enfatiza a necessidade da equipe de saúde e o próprio paciente
lidarem adequadamente com a ansiedade, por ser um fenômeno psíquico presente no
processo do surgimento da doença e durante o tratamento.
Markovitz, Matthews, Kannel, Cobb e D`Agostinho (1993) mediram a ansiedade, os
sintomas de raiva, a expressão de raiva e a pressão arterial, por meio do instrumento
Framingham Heart Study”, em um estudo longitudinal, durante 18 anos, com 1.123
participantes (497 homens e 626 mulheres), inicialmente normotensos. Os resultados
demonstraram que os sujeitos que apresentaram valores altos no traço de ansiedade tinham
duas vezes mais probabilidade de desenvolver hipertensão.
Mac Fadden e Ribeiro (1998) realizaram um estudo com o objetivo de investigar os
dinamismos psicológicos, possivelmente envolvidos na etiologia da hipertensão arterial,
por meio do teste de Rorschach e entrevista psicológica. A amostra foi constituída por 20
pacientes hipertensos, de ambos os sexos, com faixa etária entre 27 e 55 anos. Os resultados
revelaram que o bloqueio da expressão afetivo-emocional, o predomínio de dinamismos
imaturos e subjetivos da personalidade e a presença de ansiedade podem atuar sobre o
sistema nervoso autônomo, favorecendo crises hipertensivas transitórias que, ao longo do
tempo, podem transformar-se em crises permanentes (hipertensão arterial).
Chaves e Cade (2002) desenvolveram um estudo descritivo correlacional com o
objetivo de verificar a relação entre estratégias de enfrentamento com os estados de
ansiedade e de depressão em pessoas portadoras de hipertensão arterial. Participaram do
estudo 78 mulheres que recebiam tratamento no InCor (Instituto do Coração) da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo, foram utilizados três Inventários, sendo eles,
Enfrentamento de Folkman e Lazarus, Ansiedade de Spilberger e Depressão de Beck. Os
resultados demonstraram que a amostra, em sua maioria, apresentava média de traço e
estado de ansiedade moderada e ausência de depressão. Além disso, fuga-esquiva foi a
13
estratégia de enfrentamento que prevaleceu, demonstrando associação entre depressão e
estratégias de enfrentamento menos efetivas, porém não havendo diferença estatisticamente
significativa entre estratégias de enfrentamento e ansiedade.
Com o objetivo de avaliar sintomas depressivos e nível de ansiedade nos pacientes
com hipertensão arterial, Barud e Kowalik (2004) fizeram um estudo com 38 hipertensos,
sendo 17 mulheres e 21 homens, com idade média de 53 anos. Para coleta de dados
utilizaram a escala de ansiedade e depressão de Zigmond e Snaith (HADS) e o inventário
Estado-Traço de Ansiedade de Spielberger, Gorsuch e Lushene (STAI). Os resultados
revelaram uma ocorrência moderada de sintomas depressivos nos pacientes com
hipertensão e um nível elevado de ansiedade-estado e ansiedade-traço. Os pesquisadores
observaram que esses pacientes reagem com ansiedade desproporcionalmente elevada,
como uma pré-disposição comportamental.
Visando avaliar a influência da ansiedade e o risco de desenvolver a hipertensão
arterial, infarto do miocárdio e derrame, Gafarov, Gromova, Gagulin, Ekimova e
Santrapinskiy (2007) desenvolveram um estudo longitudinal com 2.149 homens com idade
entre 25 e 64 anos, durante 10 anos. Foi utilizada a escala de Spielberg para estimar a
ansiedade e o modelo de regressão Cox-proporcional para estimar o risco relativo. Os
resultados indicaram que um alto nível de ansiedade pode predizer um alto risco de
hipertensão e problemas cardiovasculares em homens de meia-idade.
Em um estudo, Lemos, Gottschall, Pellanda e Müller (2008) estabeleceram o
objetivo de investigar a associação entre depressão, ansiedade e qualidade de vida em
pessoas que sofreram infarto do miocárdio - IAM (um problema que pode ocorrer em
comorbidade com a hipertensão). Os participantes foram 168, divididos em três grupos: 60
internados com diagnóstico de IAM, 49 ambulatoriais com diagnóstico de doença
cardiovascular sem infarto e 59 da população em geral, sem diagnóstico de doença
14
cardiovascular, de ambos os sexos, com idade entre 35 e 65 anos. Os instrumentos
utilizados foram o Inventário de Depressão de Beck (BDI), o Inventário de Ansiedade de
Beck (BAI) e o Teste de Qualidade de Vida (WHOQOL). Os resultados sugerem que os
transtornos de depressão não são desencadeados pelo IAM, mas que estão presentes antes
da admissão hospitalar, que os pacientes internados com diagnóstico de IAM e os pacientes
ambulatoriais apresentam níveis mais elevados de ansiedade, e em relação à qualidade de
vida, o domínio físico apresentou valores mais baixos no grupo controle ambulatorial.
Pode-se compreender, após essas considerações, a ansiedade como um dos aspectos
psicológicos presentes no processo de adoecimento em pessoas que tem hipertensão. Nos
parágrafos seguintes, buscou-se contextualizar porque o suporte familiar pode ser
considerado um aspecto social e um fator de proteção, presente no processo saúde-doença.
1.2. Suporte familiar e sua percepção
Baptista (2005), após revisão da literatura e de pesquisas na área, concluiu que um
alto nível de percepção de suporte familiar está relacionado com baixa prevalência de
transtornos ansiosos e de humor e também pode influenciar positivamente nos resultados do
tratamento psicoterápico. Ross e Mirowsky (2002) apontam que a percepção de adequado
suporte familiar está relacionada com o aumento do senso de segurança em relação à
sobrevivência, em indivíduos com constantes crises de saúde, e pode reforçar hábitos
saudáveis. As pessoas que percebem um suporte emocional por parte da família esperam
viver por mais tempo, ou seja, apresentam esperança de vida subjetiva mais elevada.
De acordo com Castro, Campero e Hernández (1997), o suporte social, do qual o
suporte familiar é considerado como uma parte, é um conceito multidimensional e
complexo, e associa-se com a saúde dos indivíduos. Pode ser considerado uma das
variáveis de impacto do estresse sobre a saúde. O efeito do suporte social pode ser
15
compreendido de duas formas; como efeito direto, que favorece os níveis de saúde
independente do nível de estresse e como efeito amortecedor, que protege o indivíduo dos
efeitos dos eventos de vida estressantes. Os autores postulam que apesar da complexidade
dos fenômenos, os indivíduos que possuem relações de apoio social, principalmente
familiar, com frequência possuem melhores condições de saúde física e mental.
Nesse contexto, Ceberio (2006) ressalta que a família pode ser considerada como
um dispositivo social capaz de influenciar os indivíduos em seus relacionamentos futuros,
funciona como um dos principais pilares da vida psíquica das pessoas, podendo influenciar
nos padrões de comportamento, nos sentimentos de pertencimento social e na saúde mental.
Todos os grupos sociais, inclusive a família, são permeados de processos complexos de
comunicação e relacionamento, sistemas de crenças, regras próprias, valores em comum e
funções específicas. O autor aponta que as famílias vêm sofrendo modificações importantes
nas últimas décadas, tais como, menor número de filhos, maior número de divórcios,
mulheres trabalham fora, homens auxiliam nas tarefas domésticas, regras e funções menos
rígidas, maior proximidade entre pais e filhos, menor aglutinação, entre outras.
Ao estudar a influência da família na vida das pessoas, é necessário compreender o
conceito de suporte familiar, que pode ser entendido como o grau de afeto, confiança, ajuda
e apoio entre os membros da família. O suporte familiar, bem como cada pessoa o percebe,
é importante para uma vida mais saudável e feliz, abrangendo questões relativas às
complexas relações que se estabelecem entre os membros de uma família, sendo também
um aspecto relevante do suporte social (Moos, 1990).
Vários autores, como por exemplo, Procidano e Heller (1983), Castro, Campero e
Hernández (1997) e Baptista (2005) destacam a importância da percepção do suporte
familiar, sendo que o suporte percebido não é idêntico ao suporte realmente recebido, mas
estão diretamente ligados. A percepção do suporte familiar encontra-se influenciada por
16
fatores pessoais, traços estáveis e mudanças temporais. Assim sendo, as mudanças
familiares, como separação, morte, casamento dos filhos, entre outras, são sentidas de
maneira e intensidade diferentes por seus membros, ou seja, o que pode representar
insegurança e perda da estabilidade para alguns, não tem o mesmo significado para outros.
Ainda nessa direção, Baptista e Oliveira (2004) entendem suporte familiar como
manifestação de atenção, carinho, diálogo, liberdade, proximidade afetiva, autonomia e
independência existente entre os integrantes da família (características psicológicas),
diferindo do conceito de estrutura familiar que se refere ao número de pessoas pertencentes
a uma família, sua disposição e composição (características físicas). Diferentes estruturas
familiares podem oferecer suporte familiar adequado, não havendo relação direta entre
esses dois conceitos, é o que afirmam McFarlene, Bellissimo e Norman (1995) após um
estudo realizado com 810 estudantes com o objetivo de verificar a relação entre a estrutura
familiar, a integração familiar e o bem estar dos filhos na adolescência, comparando as
famílias intactas com as que sofreram mudanças estruturais.
Segundo Olson (2000), o suporte familiar envolve compreender a família como um
sistema em funcionamento, que implica no resultado do desenvolvimento de seus membros
e nas maneiras de enfrentamento de situações complexas. O autor apresenta um modelo de
suporte familiar dividido em três dimensões, sendo elas, coesão, flexibilidade e
comunicação. A coesão é definida como o vínculo emocional que os membros da família
têm entre si, incluindo limites, alianças, tempo, espaço, amizade, decisões, interesses e
recreação. A flexibilidade refere-se ao equilíbrio entre mudanças e estabilidade de papéis e
regras frente à necessidade de adaptação, incluindo liderança, controle, disciplina e
negociação. A comunicação é considerada uma dimensão facilitadora, pois permite o
movimento das famílias e negociações das outras duas dimensões, inclui empatia,
habilidade de escuta, clareza, continuidade, consideração e respeito.
17
Para Campos (2004), o principal efeito do suporte familiar está relacionado com a
maneira pela qual o receptor percebe o apoio como satisfatório, sentindo-se amado,
valorizado, compreendido, reconhecido, acolhido, protegido e cuidado, participando de
uma rede de recursos e informações que são compartilhadas. Essa percepção é que o
fortalece para enfrentar o ambiente, trazendo consequências positivas para seu bem-estar,
tais como, redução do estresse, aumento da auto-estima e do bem estar psicológico. Não
bastando estar inserido numa rede social, é fundamental que essa rede propicie a
oportunidade de relacionamentos suportivos, oriundos de relações interpessoais próximas e
acolhedoras. Dessa forma, as principais funções da família são a afetiva, a socializadora e a
cuidadora. O autor cita vários estudos que relacionam suporte social, família, estresse,
ansiedade e doença e conclui que a família, quando funciona como suporte social para seus
membros, pode proporcionar melhores condições de enfrentamento do estresse, seja
oriundo de crises internas ou externas, e superação ou prevenção das doenças.
Os conflitos familiares são considerados fatores de estresse social, que é um dos
fatores ambientais de risco para o desenvolvimento da hipertensão e cardiopatias, dentre
outros como, problemas financeiros, precárias condições de trabalho e moradia,
dificuldades de transporte e violência. Estudos indicam que incluir a família em programas
de atenção ao paciente hipertenso e à doença cardiovascular, pode facilitar a adesão ao
tratamento e o maior controle da pressão arterial (Burd & Tavares, 2004).
Segundo Caplan (1976, citado por Campos, 2004), sistemas de suporte implicam em
padrões duradouros de vínculos que contribuem de maneira significativa para a manutenção
da integridade física e psicológica do indivíduo. O autor enuncia as funções da família
como sistema de suporte, sendo elas, coletora e disseminadora de informação, fornecedora
de orientação e feedback, fonte de ideologia, guia e mediadora na solução de problemas,
fonte de serviços práticos e ajuda concreta, refúgio para repouso e recuperação, referência e
18
grupo-controle, fonte validadora da identidade e apoio emocional. Por ser a família fonte
primária da identidade e reforçadora, ela é importante no enfrentamento de crises.
Famílias inteiras podem vivenciar situações de estresse particulares, como
mudanças de vida e eventos importantes, sendo que esses fatores podem desencadear
repercussões sobre a saúde do grupo. Dessa forma, se a família funcionar com versatilidade
e maiores recursos pode favorecer a percepção de suporte adequado. O suporte familiar,
quando presente e principalmente percebido, pode agir como protetor para eventos vitais
estressantes, podendo moderar o efeito negativo da situação, protegendo contra a incerteza,
cuidados precários, violência e isolamento. A idéia de proteção envolve não apenas evitar o
surgimento de doenças, mas também proteger quanto ao grau de incapacitação da mesma
(Mota, Franco & Motta, 1999).
Carneiro (1992) ressalta a importância de a família atuar de forma integrada, mas
preservando a individualidade, sendo fundamental na dinâmica familiar a comunicação
funcional, regras coerentes e flexíveis e liderança compartilhada. Quando cada membro da
família desempenha um papel específico, bem definido, adequado e flexível, a família pode
ser facilitadora da saúde emocional, e assim, funcionar como um sistema de suporte para
seus membros.
De acordo com Ackerman (1986), não existe família idealmente saudável, as
famílias são ou predominantemente saudáveis ou predominantemente doentes, do ponto de
vista psiquiátrico, sendo possível distinguir em determinadas famílias, alguns componentes
de funcionamento familiar saudável e outros desqualificados. Dessa forma, pode-se medir a
profundidade e nocividade da falha na adaptação familiar de acordo com o nível no qual a
família lida com seus problemas. O autor afirma que, independente do nível social e
econômico, a vida familiar pode agir como um tipo de correia transmissora de conflito e
ansiedade patogênicos, tornando-se uma fonte de contágio emocional doentio. Cada família
19
tende a ser caracterizada por focos típicos de ansiedade e conflito que aparecem
nitidamente quando as relações familiares não conseguem satisfazer as expectativas
emocionais de seus membros. Existem incontáveis padrões de comportamento familiar e
diferentes graus de sucesso ou falha de adaptação nos papéis familiares, podendo-se pensar
na família como mensageira de elementos que predispõem à doença ou à saúde. Nos
parágrafos seguintes descrevemos algumas pesquisas pertinentes, que analisaram os efeitos
do suporte familiar no processo de saúde-doença.
Procidano e Heller (1983), realizaram um estudo de validação da escala de suporte
social proveniente da família - Perceived Social Support from Family (PSS-Fa), esse
instrumento aborda a necessidade de suporte, informação e realimentação provinda da
família. Os resultados demonstraram correlação negativa entre suporte social familiar,
depressão e ansiedade, ou seja, as pessoas que apresentaram níveis altos de suporte social
familiar apresentaram níveis baixos de sintomatologia depressiva e ansiosa. Os autores
apontam que as principais variáveis inseridas no suporte familiar foram à provisão de
informações, conforto e suporte emocional proveniente da família.
Com o objetivo de avaliar a prática de respostas dos pais, Favarelli, Panichi,
Pallanti, Paterniti, Grecu e Rivelli (1991) avaliaram 32 pacientes com diagnóstico de
transtorno do pânico por meio do Parental Bonding Instrument (PBI), um instrumento de
auto-relato, desenvolvido para ser aplicado em adolescentes, mede duas dimensões
antagônicas do suporte familiar, sendo elas, superproteção versus permissão de
autonomia/independência e rejeição/indiferença versus carinho. Os pacientes avaliados
foram comparados com 32 pessoas saudáveis (grupo controle). Concluiu-se que o grupo de
pacientes com desordem do pânico identificou os pais como sendo significativamente
menos atenciosos, mais superprotetivos e menos consistentes quanto às atitudes parentais.
20
Visando estudar o efeito de fatores psicossociais em pacientes com hipertensão
durante o tratamento hospitalar, Hong, Han e Liu (2000) desenvolveram uma pesquisa com
124 pacientes hipertensos internados. Os participantes foram divididos em grupo de
tratamento eficaz (81 sujeitos, com idade média de 48,3 anos) e grupo de tratamento
ineficaz (43 sujeitos, com idade média de 49,7 anos), de acordo com os resultados do
tratamento farmacológico. Os instrumentos utilizados foram escala de comportamento,
escala do evento de vida, escala de avaliação do suporte social e escala de ansiedade Self-
Rating. Os resultados indicaram que os sujeitos do grupo de tratamento ineficaz
apresentaram mais características de comportamentos inadequados, eventos de vida mais
negativos, mais sintomas de ansiedade e receberam menos suporte da família. Os autores
sugeriram mais atenção aos fatores psicossociais dos pacientes com hipertensão que
recebem tratamento hospitalar.
Após levantamento teórico realizado por Baptista, Baptista e Dias (2001), os autores
indicam que existem amplas evidências de que problemas relacionados à estrutura e suporte
familiar estão relacionados a desordens psiquiátricas infantis. Apontam também que não se
pode pensar em uma causa específica para a depressão, pois como na maioria dos
problemas humanos, é mais adequado falar em multifatores, sendo eles,
biológicos/genéticos, psicológicos e sociais, que se inter-relacionam. Dessa forma, os
profissionais na área da saúde devem estar atentos para os diversos fatores, com o objetivo
de desenvolver um diagnóstico mais preciso e realizar uma intervenção mais adequada.
Frances, Palarea, Ojeda, Ramal e Aleman (2001) fizeram um estudo com o objetivo
de verificar a relação entre depressão, ansiedade, estresse, deficiência do suporte social e
hipertensão arterial. Foram analisadas as diferenças entre dois grupos, sendo um deles
composto por 73 hipertensos e o outro, grupo de controle, composto por 73 nomotensos,
ambos com idades entre 21 e 65 anos. Os resultados demonstraram que o grupo de
21
hipertensos apresentou níveis mais altos de ansiedade e depressão em relação ao grupo
controle, não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de estresse e suporte
social.
Com o objetivo de analisar a influência do apoio social familiar no cuidado de
pessoas com diabetes tipo 2, uma das doenças crônicas também prevalentes na atualidade,
que pode inclusive se apresentar em comorbidade com a hipertensão, Rossi (2005) realizou
um estudo com 51 participantes. Foram utilizados dois instrumentos, sendo eles, entrevista
individual para a caracterização das pessoas participantes e a Técnica do Incidente Crítico,
para obtenção dos relatos positivos e negativos de eventos que envolveram os familiares.
Os resultados apontam para a importância do envolvimento da família no tratamento e a
participação em grupos, que pode contribuir para a adesão e a prevenção de complicações
agudas e crônicas.
Baptista, Baptista e Torres (2006) desenvolveram um estudo objetivando
correlacionar a presença de sintomatologia depressiva e ansiosa com suporte social em
gestantes durante o pré-natal num Centro de Saúde, do qual participaram 44 gestantes, com
idade entre 18 e 35 anos. Foram utilizados para a coleta de dados um questionário de
identificação, a Escala de Depressão Pós-parto de Edinburgh (EPDS), o Inventário de
Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e uma Escala de Percepção de Suporte Social (EPSS).
Os resultados indicaram que 29,5% apresentaram sintomatologia depressiva, 70,5%
sintomas ansiosos controlados (ansiedade-estado) e 56,8% referiram possuir alto suporte
social. Verificou-se correlação positiva entre a escala de depressão e ansiedade-estado (r=
0,52, p= 0,000) e ansiedade-traço (r= 0,74, p= 0,000), além de correlação negativa entre as
escalas de suporte social com ansiedade-estado (r= -0,43, p= 0,004) e ansiedade-traço (r= -
0,51, p= 0,000) e suporte social com depressão (r= -0,41, p= 0,006). Desta forma, os
resultados demonstraram a importância do suporte social no período de gestação.
22
Com o objetivo de verificar se a dificuldade econômica, ou seja, se um status sócio-
econômico (SES) mais baixo correlacionava-se positivamente com baixo desempenho
escolar, comportamento agressivo, abuso de substância, ansiedade, e depressão; e se o
suporte familiar e a identificação cultural correlacionavam-se negativamente com estas
dificuldades, Guerrero, Hishinuma, Andrade, Nishimura e Cunanan (2006) desenvolveram
uma pesquisa com 216 adolescentes. Para a coleta de dados utilizaram testes que avaliaram
o suporte familiar, a informação demográfica básica, algumas variáveis sociais, o
desempenho escolar, a depressão, a ansiedade, a agressão e o abuso de substância. Na
amostra pesquisada, baixo SES correlacionou-se com o baixo desempenho na escola. Nos
adolescentes com baixo SES, o suporte familiar se apresentou como um forte fator protetor,
também contra a ansiedade, a depressão, dificuldades acadêmicas, comportamentais e
emocionais.
Demanuele e Brigham (2006) realizaram uma pesquisa com o propósito de
identificar sequelas cognitivas em pacientes com hipertensão arterial pulmonar e investigar
as relações entre sequelas cognitivas e depressão, ansiedade e qualidade de vida. Para a
coleta de dados foram utilizados testes neuropsicológicos e questionários. Participaram do
estudo 46 adultos com hipertensão arterial pulmonar e os escores foram comparados com
dados da população geral. Foi verificado que 58% dos pacientes com hipertensão arterial
pulmonar apresentaram sequelas cognitivas, 25% apresentaram nível moderado a severo de
depressão e 19% nível moderado a severo de ansiedade. Valores mais baixos na qualidade
de vida foram associados com memória de trabalho mais prejudicada. Os autores
concluíram que os pacientes com hipertensão arterial pulmonar apresentaram dificuldades
cognitivas, depressão, ansiedade e baixa qualidade de vida e ressaltaram a importância de
outras pesquisas que relacionem esses construtos. Os autores apresentaram os resultados
como uma “conclusão” e demonstraram uma tendência a generalizar os resultados, no
23
entanto, deve-se tomar cuidado com a generalização de resultados como o desse estudo,
devido ao tamanho pequeno da amostra.
Souza (2007), considerando a hipótese de que quanto melhor a percepção do suporte
familiar, melhor o estado de saúde mental, fez um estudo buscando evidências de validade
entre o Inventário de Percepção do Suporte Familiar (IPSF) e o Questionário de Saúde
Geral de Goldberg (QSG). Os participantes foram 530 estudantes universitários, com idade
entre 17 e 54 anos. Os instrumentos utilizados foram questionário de identificação, IPSF e
QSG. Foi observado que a melhor percepção do suporte familiar está relacionada com
menor sintomatologia de estresse psíquico (r= -0,17, p= 0,000), desejo de morte (r= -0,15,
p= 0,000), desconfiança no desempenho (r= -0,16, p= 0,000), distúrbios do sono (r= -0,13,
p= 0,002) e psicossomáticos (r= -0,10, p= 0,015) e menor severidade da doença mental (r=
-0,18, p= 0,000).
Visando buscar evidências de validade baseadas na relação com outras variáveis,
entre o Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF) e a Escala de Vulnerabilidade
ao Estresse no Trabalho (EVENT), Aquino (2007) fizeram um estudo com 414 estudantes
universitários, com idade média de 25 anos, sendo 56,8% deles do sexo feminino. Foram
utilizados os instrumentos IPSF, EVENT e um questionário de identificação, para
caracterização da amostra. Após as análises dos resultados, foram encontradas correlações
negativas entre as dimensões do IPSF e da EVENT (r
s
= -0,24 e p=0,000), conforme
esperado, indicando que quanto maior a percepção do suporte familiar, menor a
vulnerabilidade ao estresse.
Baptista, Souza e Alves (2008) realizaram um outro estudo utilizando o Inventário
de Percepção de Suporte Familiar (IPSF) e o Beck Depression Inventory (BDI), com o
objetivo de buscar evidências de validade para a Escala de Depressão (EDEP) relacionada a
outras variáveis. A amostra foi composta por 157 universitários, com idades entre 18 e 51
24
anos (M= 23,22; DP= 6,4) sendo 75,5% do sexo feminino. O coeficiente de correlação de
Spearman (r
s
), utilizado para análises não paramétricas demonstrou correlação positiva da
EDEP com o BDI (r
s=
0,75; p< 0,000) e correlações negativas com o IPSF e seus fatores,
sendo para o fator Afetivo consistente (r
s
=-0,36; p< 0,000), para o fator Adaptação (r
s=
-
0,37; p< 0,000), no fator Autonomia (r
s
=-0,32; p< 0,000) e na soma Total (r
s
=-0,42; p<
0,000), indicando que quanto maior a sintomatologia depressiva (outro fator psicológico
presente no processo saúde-doença), menor o suporte familiar percebido.
Tais considerações levam a pensar que a ausência de um suporte familiar adequado
pode estar relacionada, entre outras coisas, ao processo de adoecimento, com o aumento da
ansiedade, do estresse e de sintomas depressivos. Dessa forma, sua inadequação poderia
comprometer a saúde, compreendida de acordo com a definição da Organização Mundial
da Saúde, como bem-estar físico, mental e social (Spink, 2003). A ansiedade, por sua vez,
pode ser considerada um fator psicológico de risco envolvido no processo saúde-doença,
inclusive na hipertensão. Sob a perspectiva de que esse estudo pretende utilizar
instrumentos para avaliar os construtos ansiedade e percepção do suporte familiar, serão
realizadas, a seguir, algumas considerações sobre a avaliação psicológica.
2. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Segundo Alchieri, Noronha e Primi (2003), a avaliação psicológica está baseada no
método científico e deve ser compreendida como um processo que pode incluir (ou não) a
aplicação de instrumentos psicológicos, embora os testes padronizados sejam um
importante recurso para se alcançar os objetivos da avaliação psicológica. Analisar os
parâmetros psicométricos dos instrumentos, referentes aos itens (elaboração e análise), a
fidedignidade ou precisão e validade são importantes, pois indicam a qualidade e segurança
na utilização dos testes psicológicos.
25
De acordo com Anastasi e Urbina (2000), os testes são importantes ferramentas
utilizadas na avaliação psicológica, à medida que formam uma amostra objetiva e
padronizada do comportamento e tem contribuído efetivamente nas mais variadas áreas da
vida das pessoas. No entanto, esse crescimento tem sido acompanhado por alguns usos
inadequados e expectativas irreais. Os profissionais encontram dificuldades em avaliar os
instrumentos, conhecem pouco seus propósitos e quais informações vão poder obter sobre a
pessoa que está sendo avaliada, e como seus resultados poderiam ser interpretados e
integrados aos dados obtidos para conduzir a tomada de decisões.
Com o objetivo de regulamentar o uso de testes psicológicos e verificar seus
parâmetros psicométricos, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) constituiu a Comissão
Consultiva em Avaliação Psicológica e em 2003 publicou a resolução 002/2003
definindo a regulamentação para construção de instrumentos, de acordo com princípios
reconhecidos pela comunidade científica, especialmente os desenvolvidos pela psicometria.
Após a promulgação da resolução pelo CFP, vários estudos foram desenvolvidos, e de
acordo com o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos, foram enviados para o CFP um
total de 185 testes, dos quais 105 receberam o parecer favorável, 59 parecer desfavorável e
os demais permanecem em análise (SATEPSI, CFP, 2009).
Pasquali (2001) considera os testes psicológicos, instrumentos de medida em
Psicologia, dessa forma, devem apresentar características que justifiquem confiar nos dados
que produzem. A psicometria definiu a precisão e a validade como qualidades que
viabilizam a confiabilidade das inferências feitas a partir dos resultados e para garantir tais
propriedades, os procedimentos necessitam de uniformidade na coleta de dados e no
tratamento, realizado por meio da padronização, ou seja, é necessária condição padronizada
e definida na pesquisa para aplicação dos testes (Alchieri & Cruz, 2004).
26
Um dos parâmetros psicométricos importantes, a precisão, fidedignidade, ou
confiabilidade se refere à consistência dos resultados obtidos pelas mesmas pessoas em
diferentes ocasiões quando reexaminadas pelo mesmo teste, ou por um conjunto de itens
diferentes e equivalentes, ou sob condições variáveis de teste. Deve-se definir a variância
de erro e o coeficiente de correlação que expressa o grau de correspondência, ou
relacionamento, entre dois conjuntos de escores (Anastasi & Urbina, 2000).
A validade, outro parâmetro psicométrico importante, refere-se ao quanto realmente
o teste mede o construto à que se propõe medir, indicando o que se pode inferir dos escores
do teste. Existem vários processos de verificação da validade, por isso não é correto afirmar
que um teste é válido, mas verificar se o teste possui evidências de validade para a
interpretação de um tipo de resultado. Assim, os testes psicológicos devem estar em
constante processo de validação. Uma das formas de evidências de validade são as
evidências baseadas nas relações com outras variáveis, que buscam correlações entre os
escores do teste e outras variáveis que meçam o mesmo construto ou relacionados e com
variáveis que meçam construtos diferentes (Urbina, 2007), serão essas as evidências de
validade verificadas nesse estudo. Evidências de validade convergentes podem ser
verificadas por meio de uma correlação positiva, conforme aumenta a intensidade de uma
variável, aumenta também a intensidade de outra. Evidências de validade divergentes
podem ser verificadas por meio de uma correlação negativa, conforme aumenta a
intensidade de uma variável, a outra diminui (Sisto, 2007; Anastasi & Urbina, 2000).
Pasquali (2001) ressalta que os psicometristas recorrem a uma série de técnicas para
demonstrar a validade dos instrumentos, essas técnicas podem ser resumidas em três
classes, sendo elas, validade de construto, validade de conteúdo e validade de critério que
pode ser dividida em validade preditiva e validade concorrente. A validade de construto ou
conceito é a forma mais fundamental de validade, verifica se o instrumento realmente mede
27
ou representa o comportamento que deseja medir. As técnicas que auxiliam nessa
identificação, são correlações com outros testes, análise fatorial e consistência interna.
A validade de conteúdo, por sua vez, consiste essencialmente no exame sistemático
do conteúdo do teste. É importante que os itens constituam uma amostra adequada, para
que o comportamento testado possa ser analisado assegurando que os aspectos mais
importantes estejam incluídos nos itens do teste e em proporções corretas. a validade de
critério se refere aos procedimentos que indicam a efetividade de um teste para predizer o
desempenho específico de um indivíduo, existindo dois tipos, a validade preditiva e a
validade concorrente (Anastasi & Urbina, 2000).
A padronização é importante devido à necessidade de uniformidade dos
procedimentos no uso de testes psicológicos, desde precauções na aplicação aos critérios
para a interpretação dos resultados obtidos. Um dos objetivos da padronização dos
instrumentos é garantir que a coleta de dados seja de boa qualidade e mais uniforme, pois
uma aplicação mal feita compromete os resultados. Para garantir uma boa administração
dos testes é necessário seguir os critérios estabelecidos no manual, utilizar adequadamente
o material, verificar o ambiente físico, o ambiente psicológico, aptidões e conhecimento do
aplicador, aparência e comportamento durante a testagem (Anastasi & Urbina, 2000).
Nas pesquisas realizadas durante o presente estudo, encontrou-se os seguintes
instrumentos de avaliação da ansiedade: apenas o Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)
com parecer favorável pelo CFP, o Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e o
IDATE-C (forma utilizada com crianças) que estão com parecer desfavorável no CFP,
provavelmente devido à falta de estudos no Brasil, pois nas pesquisas internacionais o
IDATE é o instrumento mais utilizado na avaliação da ansiedade, e nas pesquisas
internacionais, a Hospital Depression and Anxiety Scale (HADS) desenvolvida por
Zigmond e Snaith e a Escala de ansiedade Self-Rating. Os instrumentos que avaliam
28
suporte familiar encontrados foram: Entrevista Familiar Estruturada, Inventário de Estilos
Parentais (IEP) e Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF), todos esses com
parecer favorável no CFP e encontrou-se pesquisas com a Escala de Percepção de Suporte
Social (EPSS).
Keedwell e Snaith (1996) fizeram um levantamento a respeito das escalas de
ansiedade mais utilizadas e apresentaram as seguintes escalas de avaliação clínica: escala
de ansiedade de Hamilton (HAM-A; Hamilton, 1959); escala de ansiedade de Beck (Beck
et al., 1988); escala clínica de ansiedade (Clinical Anxiety Scale - CAS; Snaith et al.,
1982); escala breve de ansiedade (BAS; Tyrer et al., 1984); escala breve de avaliação
psiquiátrica (BPRS; Overall et al., 1962) e escalas de auto-avaliação: inventário de
ansiedade traço-estado (IDATE; Spielberger et al., 1970, STAI); escala de ansiedade de
Zung (Zung, 1971); escala de ansiedade manifesta de Taylor (Taylor, 1953); sub-escala de
ansiedade do Symptom Checklist (SCL-90; Derogatis et al., 1973); POMS (Profile of
Mood States - POMS; Lorr e McNair, 1984); escala hospitalar de ansiedade e depressão
(HADS; Zigmond e Snaith, 1983). Segundo esses autores as escalas de Hamilton e de Beck
são as escalas de avaliação clínica mais utilizadas e o IDATE e a sub-escala de ansiedade
do "Symptom Checklist" (SCL-90) são os instrumentos de auto-avaliação mais utilizados.
Baptista (2009), após os estudos realizados para o desenvolvimento do Inventário de
Percepção do Suporte Familiar (IPSF), aponta que as maiores iniciativas de construção de
testes para avaliar suporte familiar ocorreram na década de 80 e apresenta os seguintes
instrumentos internacionais: Family Assessment DeviceFAD (Epstein, Baldwin e Bishop,
1983), Parental Bonding Instrument - PBI (Parker, Tupling e Brown, 1979), Family
Satisfaction Scale - FSS (Carver e Jones, 1992) e Perceived Social Support from Family -
PSS-Fa (Procidano e Heller, 1983). No Brasil, a avaliação do suporte familiar também vem
se desenvolvendo, mas o autor ressalta que nenhum desses instrumentos avalia a percepção
29
de suporte familiar, sendo eles: Entrevista Familiar Estruturada - EFE (Carneiro, 1983),
Questionário de Percepcão dos Pais QPP (Pasquali & Araújo, 1986), Medida de
Satisfação Familiar (Lummerts & Biaggio, 1987), Inventário de Estilos Parentais - IEP
(Gomide, 2003), Inventário de Práticas Parentais IPP (Benetti & Balbinotti, 2003) e
Familiograma – FG (Teodoro, 2006).
Considerando a necessidade de ampliar estudos na área e que a saúde e as
enfermidades o determinadas por múltiplos fatores etiológicos - genéticos, bioquímicos,
psicológicos e sócio-ambientais, os quais podem interagir de modo complexo e sua
compreensão requer um entendimento sofisticado, justifica-se a construção, validação e
aplicação de instrumentos psicológicos que possam aprimorar a avaliação psicológica no
contexto da saúde (Capitão, Scortegagna & Baptista, 2005).
Vale ressaltar que o método de pesquisa utilizado no presente estudo foi o
delineamento correlacional, com o objetivo de identificar relações entre variáveis, ou seja,
verificar se duas ou mais variáveis são relacionadas e como é essa relação, por meio de
procedimentos estatísticos, principalmente o teste de correlação, sem estabelecer uma
relação de causa e efeito (Sisto, 2007).
30
3. OBJETIVOS
Diante dos aspectos levantados, o presente trabalho tem como objetivo geral
correlacionar indicadores de ansiedade e de percepção do suporte familiar em hipertensos,
tendo como hipótese que níveis mais altos de ansiedade podem estar relacionados com
níveis mais baixos de percepção do suporte familiar (evidências de validade divergentes).
Os objetivos específicos desse estudo são:
- Avaliar os níveis de ansiedade em pessoas portadoras de hipertensão;
- Avaliar os níveis de percepção do suporte familiar em hipertensos;
- Buscar evidências de validade convergentes entre os instrumentos Inventário de
Ansiedade de Beck (BAI), que avalia sintomas de ansiedade, e o Inventário de Ansiedade
Traço-Estado (IDATE), que avalia ansiedade traço (característica do indivíduo) e ansiedade
estado (circunstancial).
31
4. MÉTODO
4. 1. Participantes
O trabalho foi realizado com 70 pessoas, com diagnóstico médico de hipertensão
arterial há 3 anos ou mais, com idade entre 27 e 65 anos, média 52,3 e desvio padrão de 8,9.
Os participantes realizam tratamento em uma Unidade Básica de Saúde numa cidade do
interior do estado de São Paulo. Quanto ao gênero, 52 (74,3%) são do sexo feminino e 18
(25,7%) do sexo masculino. Outras características dos participantes estão detalhadas nos
resultados e discussão, especificamente na análise descritiva dos participantes.
4. 2. Instrumentos
Foram utilizados nesse estudo um Questionário de Identificação, o Inventário de
Ansiedade de Beck – BAI (Cunha, 2001), o Inventário de Ansiedade Traço-Estado –
IDATE (Spilberger, Gorsuch & Lushene, 2003) e o Inventário de Percepção de Suporte
Familiar – IPSF (Baptista, 2005; 2009).
4.2.1. Questionário de Identificação (Anexo 1)
Foi elaborado um instrumento com 9 questões fechadas, algumas com alternativas,
com o objetivo de identificar algumas características dos participantes, pertinentes à
pesquisa e que não constavam no cabeçalho dos testes. As questões foram referentes ao
tempo que o participante apresenta hipertensão arterial, se apresenta outra doença crônica,
se passou por algum problema sério no último mês, etnia, número de filhos, com quem
mora atualmente, tempo de casamento, renda familiar e tipo de moradia (características
sócio-econômicas).
32
4.2.2. Inventário de Ansiedade de Beck (BAI)
Foi utilizado para medir o nível de ansiedade (sintomas), sendo o único instrumento
desse tipo com normas para o Brasil, aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia,
disponível para compra e de aplicação prática (Santos & Canguçu, 2004). Em 1998 Beck e
colaboradores criaram o instrumento Beck Anxiety Inventory (BAI) com o objetivo de
medir a ansiedade clínica, utilizando para a pesquisa 1.086 sujeitos provenientes de hospital
psiquiátrico, sendo 42% homens e 58% mulheres. Os sujeitos selecionados foram
chamados para uma entrevista clínica, na qual foram administrados os testes: Anxiety
Checklist (ACL), The Physician´s Desk Reference checklist (PDR) e Situational Anxiety
Checklist (SAC). Diante dos resultados desses três testes, foi criada uma primeira escala
com 86 itens e aplicada em 810 sujeitos. Após, foram realizados vários estudos de
diferentes tipos de evidências de validade e precisão chegando-se a escala final que passou
a conter 21 itens. Cada item dessa escala descreve um sintoma comum de ansiedade e o
sujeito deve responder o quanto se incomodou com cada sintoma durante a última semana
(Cunha, 2001).
A escala de 21 itens apresentou alta consistência interna (α = 0,92) e correlação de
itens de 0,30 a 0,71 (média = 0,60) na amostra norte-americana. Em uma sub-amostra de 83
pacientes foi reaplicado o BAI após uma semana da primeira aplicação e a correlação foi de
0,75. A análise fatorial da correlação interna dos 21 itens do BAI foi realizada para
confirmar a distinção com o Inventário de Depressão de Beck (BDI), obtendo-se um
resultado moderadamente alto, dessa forma, os parâmetros psicométricos encontrados
podem ser considerados satisfatórios. As evidências de validade, por meio de análise
fatorial exploratória, identificaram dois fatores: o fator somático e o fator de ansiedade e
pânico. Na amostra brasileira a consistência interna do instrumento apresentou
propriedades adequadas (coeficiente de fidedignidade acima de 0,90). O BAI, na maioria
33
dos itens, apresenta uma correlação com um nível de significância de p<0,001. Na
estimativa de correlação entre o teste e re-teste, com o intervalo de uma semana, o resultado
foi de 0,53 (p<0,001) (Cunha, 2001).
A validade de conteúdo do BAI foi realizada por pessoas especializadas (juízes),
que consideraram os itens representativos. Na versão brasileira a evidência de validade
convergente foi estabelecida em um estudo de correlação do BAI com o IDATE
(Spielberger, Gosuch & Lushene, 1979), verificando-se uma correlação significativa com
os dois tipos de ansiedade nele descritos, Traço (r = 0,78; p<0,001) e Estado (r = 0,76;
p<0,001). Apesar do BAI ter sido criado originalmente para pacientes de hospital
psiquiátrico, os estudos realizados demonstraram adequação à população geral. A versão
em português das escalas de Beck foi aplicada em diversos tipos de pacientes, em
estudantes e pessoas da comunidade, sendo utilizado em 1.388 pacientes ambulatoriais com
diagnóstico misto (Cunha, 2001).
A aplicação do Inventário de Ansiedade de Beck é auto-administrada, com tempo
estimado de 5 a 10 minutos, e caso o examinador considere necessário auxiliar o
examinando, utiliza-se a aplicação oral com tempo médio de 10 minutos. Os critérios para
correção, dos escores da versão em português do BAI, constituem uma série escalar de 0 a
3 pontos cada e a soma total dos escores pode variar de 0 a 63 pontos. Assim sendo, os
resultados diferem quanto ao grau de ansiedade: nível mínimo de 0 a 10; nível leve de 11 a
19; nível moderado de 20 a 30 e nível grave de 31 a 63 (Cunha, 2000).
4.2.3. Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE)
Esse instrumento de autoria de Spielberger, Gorsush e Lushene começou a ser
construído em 1964, com o objetivo de se obter uma medida de estado (A-estado) e Traço
de ansiedade (A-traço), que pudesse ser utilizado com adultos normais. Foram selecionados
34
itens que apresentassem correlação com escalas de ansiedade, como as de Cattell e Sheir,
de Taylor e a de Welsh. Como a maioria das escalas media traço, muitos itens foram
reformulados para chegar a um instrumento que, com diferentes instruções, pudesse avaliar
tanto o estado como o traço de ansiedade (Spielberger, Gosuch, & Lushene, 2003). Esse
instrumento não foi incluído na lista do CFP, por não existir estudos suficientes de validade
e normatização no Brasil, no entanto, observa-se que nas pesquisas internacionais o IDATE
é o instrumento mais utilizado para avaliar ansiedade.
Ao avaliar uma série de medidas de ansiedade, Levitt (1967, citado por Spielberger,
Gosuch, & Lushene, 2003) considerava o IDATE como o instrumento mais
cuidadosamente desenvolvido, tanto do ponto de vista teórico como metodológico.
Atualmente o IDATE é constituído por dois conjuntos de itens para avaliar duas dimensões
de ansiedade, como estado transitório e como traço relativamente estável da personalidade.
Apesar de ter sido criado para ser utilizado com pessoas saudáveis, pesquisas
demonstraram a sua utilidade também para a avaliação de casos psiquiátricos (Cunha,
2000).
Biaggio e Natalício (1979, citados por Cunha, 2000) fizeram a tradução brasileira
que constituiu um trabalho metodologicamente cuidadoso, apresentando normas para
adultos e adolescentes. Cada uma das escalas consiste em 20 itens, os indivíduos devem se
auto-avaliar numa escala de quatro pontos. As categorias escalares para A-estado são: 1.
Absolutamente não; 2. Um pouco; 3. Bastante; 4. Muitíssimo e as categorias escalares para
A-traço são: 1. Quase nunca; 2. Às vezes; 3. Frequentemente; 4. Quase sempre. O IDATE
pode ser utilizado com adolescentes e adultos e o material é distribuído pelo CEPA, consta
de manual e protocolo denominado Questionário de auto-avaliação. A forma de
administração pode ser individual ou coletiva e não tempo limite, o tempo varia
conforme o nível de escolaridade e as condições emocionais, sendo necessário
35
aproximadamente de 6 a 12 minutos para cada escala individual, e de 15 a 20 minutos,
aproximadamente para ambas as escalas (Cunha, 2000).
Para analisar o escore é necessário identificar previamente quais os itens que devem
ser contados diretamente e quais se devem inverter (10 itens devem ser contados
inversamente na escala A-estado e 7 na escala A-traço), obtidos os escores para cada item,
esses são somados e determina-se a amostra normativa mais apropriada, consulta-se a
tabela localizando-se o escore bruto observado e obtendo-se o escore “T”, ou a ordem
percentílica correspondente (Cunha, 2000).
4.2.4. Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF)
Esse instrumento, construído por Baptista (2009), aprovado pelo Conselho Federal
de Psicologia, teve como base diversos instrumentos nacionais e internacionais, tais como o
Family Adaptability and Cohesion Evaluation Scale (FACES-III) de Olson, Portner e
Lavee (1985); o Family Assessment Device (FAD) de Epstein, Baldwin e Bishop (1983); o
Family Satisfaction Scale (FSS) de Carver e Jones (1992); o Perceived Social Support from
Family (PSS-Fa) de Procidano e Heller (1983); o Family Awareness Scale (FAS) de Green,
Kolevzon e Vosler (1985); o Parental Bonding Instrument (PBI) de Parker, Tupling e
Brown (1979) e o Questionário de Estilos Parentais de Gomide (2003).
Inicialmente foi realizada uma pesquisa com 100 estudantes universitários de
Psicologia, com os quais foi feita a seguinte pergunta aberta: “Na sua opinião, o que é uma
família ideal?”. Partindo-se dos dados encontrados e com base nos instrumentos adotados
como parâmetro, foi feito um agrupamento desses dados em dimensões pré-existentes
(Afiliação e Pertencimento; Afetividade Familiar; Conflito e resolução de Problemas
Familiares; Papéis e Funções Familiares; Familiaridade/Funcionamento Geral; Aceitação
36
Familiar; Apoio Familiar; Comunicação Familiar), e em seguida, transformados em
perguntas (Baptista & Souza, 2007).
Foram feitas adaptações com os 192 itens iniciais no que diz respeito à adequação
de palavras e expressões para a língua portuguesa e à padronização do tipo de pergunta para
a escala likert de quatro pontos (nunca, poucas vezes, muitas vezes, sempre), adotada no
inventário de aplicação inicial, além da padronização do tempo verbal das afirmações.
(Baptista, 2005). Para a validade de construto e precisão foi realizada a análise dos
componentes principais, análise fatorial exploratória com rotação varimax (com o objetivo
de se obter uma análise da ortogonalidade dos fatores), além do cálculo do Alfa de
Cronbach para a precisão. Após a análise realizada pelo modelo de Rasch constando que a
escala likert de quatro pontos não discriminava suficientemente bem todos os intervalos,
esses foram diminuídos para que os dados apresentassem melhor ajuste em todos os itens,
dessa forma, readaptou-se os dados para uma escala likert de três pontos, a saber, “sempre
ou quase sempre”, “às vezes”, “quase nunca ou nunca” (Baptista & Souza, 2007).
Posteriormente, realizou-se uma pesquisa com 1.064 estudantes com idade entre 17
e 64 anos, de instituições particulares e públicas de São Paulo. As dimensões do IPSF
foram analisadas segundo a rotação equamax, quartimax e oblimin, para saber qual dessas
análises respondia melhor ao construto em questão. Calculou-se também a precisão do
instrumento, fazendo uso do alfa de Cronbach, observando-se que os quatro fatores não
se mostraram satisfatórios, que 10 itens do primeiro fator (Afetividade), aglutinaram-se
com seis itens da dimensão Consistência Familiar. Foi solicitada então, uma análise com
três dimensões, com cargas fatoriais acima de 0,30, eingenvalues acima de 1,0 para saber se
essas dimensões se agrupariam novamente em uma só (Baptista, 2005). O instrumento final
IPSF constou assim de 42 itens e três dimensões:
37
Fator 1 Afetivo-Consistente: contém 21 itens, evidencia as relações afetivas
positivas intrafamiliares, desde o interesse pelo outro, até a expressão verbal e não-verbal
de carinho, proximidade, acolhimento, comunicação, interação, respeito, empatia, clareza
nas regras e papéis exercidos, consistência de comportamentos e verbalizações e
habilidades na resolução de problemas. Esse fator apresentou o valor do Alfa de Cronbach
de 0,91.
Fator 2 Adaptação Familiar: composto de 13 itens que expressam sentimentos
negativos em relação à família, como isolamento, exclusão, raiva, vergonha, relações
agressivas (brigas e gritos), irritação, incompreensão, e ainda percepção de relações de
competição na família, interesse e culpabilidade entre os membros em situações de conflito.
Os itens dessa dimensão devem ser pontuados inversamente para que possam ser calculados
com valência igual aos itens das outras duas dimensões. Esse fator apresentou o valor do
Alfa de Cronbach de 0,90.
Fator 3 Autonomia Familiar: representado por 8 itens, demonstra a percepção de
autonomia que o indivíduo tem de sua família, o que denota relações de confiança,
privacidade e liberdade entre os membros da família. Para esse fator foi encontrado Alfa de
Cronbach de 0,77.
Os resultados são obtidos calculando-se os escores de cada fator e também um
escore geral, intitulado Suporte Familiar Total, referente à soma das pontuações obtidas em
todos os fatores, expressando a percepção geral do indivíduo em relação ao suporte familiar
recebido, quanto maior o escore, melhor a percepção do indivíduo em relação ao suporte
familiar. Atribui-se zero ponto às respostas “quase nunca ou nunca”; um ponto para “às
vezes” e dois pontos para as respostas “quase sempre ou sempre”. O escore total pode
variar de 0 a 84, sendo que um escore de 0 a 53 é considerado um nível Baixo de percepção
do suporte familiar, um escore de 54 a 63 é considerado nível Médio-Baixo, um escore de
38
64 a 70 é considerado Médio-Alto e um escore de 71 a 84 é considerado um nível Alto, de
acordo com a pontuação total da tabela independente do Grupo de Sexo (Baptista, no
prelo).
O manual do Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF), elaborado por
Baptista (2009) apresenta vários estudos sobre suas qualidades psicométricas. Foram
realizados estudos de validade baseados nas relações existentes entre o construto suporte
familiar e outras variáveis, incluindo traços de personalidade, suporte social, autoconceito,
saúde mental, lócus de controle, auto-eficácia e vulnerabilidade ao estresse no trabalho
(Aquino, 2007; Baptista, Alves & Santos, 2008; Baptista & Dias, 2007; Baptista, Santos,
Alves & Souza, no prelo; Rigotto, 2006; Souza, 2007).
Quanto à confiabilidade (ou fidedignidade) foram realizados quatro estudos,
citando-se o estudo publicado por Baptista e Dias (2007) que também demonstrou boas
qualidades psicométricas do IPSF, a pesquisa teve como objetivo avaliar a fidedignidade
por meio de três métodos, a saber, teste-reteste, consistência interna e duas metades, em
uma amostra homogênea. Participaram da pesquisa 14 cuidadoras de filhos internados em
UTI Pediátrica. Os resultados foram comparados com outras pesquisas realizadas com
grandes amostras e demonstraram variarem de adequados a excelentes, em relação aos
parâmetros psicométricos recomendados internacionalmente.
4.3. Procedimento
Foi realizado contato com o Secretário de Saúde, responsável pela Unidade Básica
de Saúde (UBS) e com o médico responsável pelo Programa Nacional de Atenção a
Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus (proposto pelo Ministério da Saúde), e explicado
os objetivos da realização desse trabalho, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade São Francisco.
39
Os participantes foram encaminhados pelos dicos e foram colocados panfletos
pela UBS para informar sobre a pesquisa, assim, os participantes agendaram a aplicação
dos testes na recepção, formando grupos. Inicialmente a pesquisadora pensou em grupos de
10 pessoas, mas não foi possível devido ao baixo nível de escolaridade dos participantes
(detalhamento na “caracterização da amostra”), dessa forma, a pesquisadora precisava
explicar alguns itens dos testes e algumas vezes realizar a aplicação oral. A aplicação dos
instrumentos ocorreu de forma auto-administrada com 43 participantes (61,4% da amostra)
e com 27 participantes (38,6% da amostra) foi necessária à aplicação oral, realizada pela
pesquisadora, devido à dificuldade em leitura e compreensão desses participantes.
Os Instrumentos foram aplicados em grupos de 5 pessoas ou menos, pois algumas
agendavam e acabavam não comparecendo, muitos participantes relatavam dificuldade de
conseguir transporte. Primeiramente foi entregue aos participantes o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexo 3), em duas vias, constando todas as
informações pertinentes à pesquisa e as dúvidas foram esclarecidas pela pesquisadora. Logo
após, o Questionário de Identificação (tempo médio de 5 minutos), o BAI (tempo médio de
15 minutos), depois o IPSF (geralmente 25 minutos) e por último foi aplicado o IDATE
(tempo médio de 25 minutos), de modo que os participantes não responderam dois
instrumentos que avaliam a ansiedade sequencialmente. O tempo médio de aplicação dos
instrumentos, para cada grupo foi de 1 hora e 10 minutos.
40
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Método de análise dos dados
Os resultados obtidos foram submetidos a tratamento estatístico por meio do
programa Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 11.5. Foram realizadas
análises descritivas das características dos participantes, dos indicadores de ansiedade,
percepção do suporte familiar, ansiedade estado e ansiedade traço. Também foram
realizadas análises correlacionais entre os escores do BAI e do IPSF, utilizando-se o teste
paramétrico de Pearson (r) com o objetivo de identificar possíveis relações entre ansiedade
e percepção do suporte familiar e se buscou evidências de validade convergente entre o
BAI e o IDATE por meio do coeficiente de correlação de Pearson (r), o nível de
significância adotado para as análises foi de p 0,05. Posteriormente foram realizadas
análises estatísticas complementares, a Análise de Cluster (Aglomerados), com o objetivo
de analisar os tipos de respostas dos participantes, a prova de comparação de médias One-
Sample T Test, a Análise de Variância (ANOVA) para verificar se existem diferenças entre
as médias e o teste post hoc de Tukey para explorar as diferenças entre os vários conjuntos
de médias.
5.2. Análise descritiva dos participantes
Analisando as características dos participantes, em relação ao estado civil, a maioria
52 (74,3%) relatou ser casado e os outros 25,7% estavam entre solteiros, divorciados e
viúvos. É importante comparar esses dados com a literatura e outros estudos, pois de acordo
com McFarlene, Bellissimo e Norman (1995), Baptista e Oliveira (2004), diferentes
estruturas familiares podem oferecer suporte familiar adequado, não havendo relação direta
entre o conceito de estrutura familiar e suporte familiar, os dados do presente estudo
corroboram com essa idéia, pois a maior parte das famílias são intactas (74,3% - casados) e
41
os níveis de percepção do suporte familiar foram baixos (dados apresentados na análise
descritiva dos dados). A frequência e porcentagem do estado civil dos participantes podem
ser visualizadas na Tabela 1.
Tabela 1. Frequência e porcentagem do estado civil dos participantes
Estado civil Frequência Porcentagem
Solteiro 6 8,6
Casado 52 74,3
Divorciado 5 7,1
Viúvo 7 10,0
Total 70 100,0
Quanto ao nível de instrução, a maior parte da amostra 25 (35,7%) cursou até a
série, apenas 13 participantes (18,6%) possuem o ensino fundamental completo e 17
(24,3%) possuem o ensino médio completo. Os participantes apresentaram um baixo nível
de escolaridade, o que pode ter contribuído para os níveis baixos de percepção do suporte
familiar. Nota-se que, apesar do manual do IPSF não apresentar restrições quanto à
escolaridade, na maior parte dos estudos realizados foram utilizadas amostras universitárias
(Aquino, 2007; Baptista, 2009; Baptista, Souza & Alves, 2008; Souza, 2007). Os dados a
respeito da escolaridade dos participantes podem ser analisados na Tabela 2.
42
Tabela 2. Frequência e porcentagem do nível de instrução dos participantes
Nível de Instrução Frequência Porcentagem
Alfabetizado 3 4,3
Até a 4ª série 25 35,7
5ª à 7ª série 9 12,9
Fundamental completo 13 18,6
Médio incompleto 3 4,3
Médio completo 17 24,3
Total 70 100,0
Sobre a presença de outras doenças crônicas, 41 (58,6%) dos participantes relataram
não apresentar outros problemas de saúde além da hipertensão e 14 (20%) relataram
apresentar diabetes, esses dados convergem com Gafarov e cols. (2007), Lemos e cols.
(2008), Rossi (2005), Straub (2005), entre outros, que postulam sobre a prevalência de
comorbidades entre diabetes e hipertensão e que um alto nível de ansiedade pode predizer
um alto risco de hipertensão e problemas cardiovasculares, além disso 11 participantes
(15,7%) relataram apresentar colesterol, 2 (2,9%) disfunção cardíaca e 2 (2,9%) obesidade.
Ao verificar a etnia, 49 (70%) dos participantes consideram-se brancos e devido à
presença de poucas pessoas de etnia negra (apenas 10 14,3%) não foi possível comparar
com dados de algumas pesquisas que indicam maior prevalência de hipertensos na
população negra, esses dados constam na Tabela 3.
43
Tabela 3. Frequência e porcentagem da etnia dos participantes
Etnia Frequência Porcentagem
Branco 49 70,0
Negro 10 14,3
Pardo 9 12,9
Índio 2 2,9
Total 70 100,0
A respeito da questão “com quem mora atualmente”, que investiga a estrutura
familiar (composição – características físicas), a maioria dos participantes, 40 (57,1%)
responderam com esposo (a) e filhos, apenas 4 (5,7%) moram sozinhos e 3 (4,3%) com pais
e irmãos, os outros 32,8% moram apenas com os filhos, com marido/esposa e outras
pessoas, esses dados estão disponíveis na Tabela 4.
Tabela 4. Frequência e porcentagem sobre com quem moram os participantes
Com quem moram Frequência
Porcentagem
Sozinho 4 5,7
Com pais e irmãos 3 4,3
Com esposo e filhos 40 57,1
Apenas com os filhos 7 10,0
Com marido/esposa 8 11,4
Outros 8 11,4
Total 70 100,0
44
No que se refere às condições econômicas a maioria dos participantes 46 (65,7%)
relatou ter renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos, apenas 6 (8,6%) tinham até 1 salário
mínimo e 18 (25,7%) entre 3 e 6 salários mínimos. Quanto ao tipo de moradia 51 (72,9%)
relataram residir em casa própria, 10 (14,3%) casa alugada e 9 (12,9%) em casa emprestada
(caseiros). Quando questionados sobre sua ocupação atual 17 (24,3%) dos participantes
responderam ser “do lar”, 10 (14,3%) caseiros ou trabalhadores rurais, 10 (14,3%)
empregadas domésticas ou diaristas, 9 (12,9%) aposentados e 24 (34,3%) relataram
trabalhar em outras funções.
Esses indicadores demonstram um nível sócio-econômico baixo na amostra
estudada, que pode também ter influenciado nos altos níveis de ansiedade e no baixo nível
de percepção de suporte familiar, pois podem ser considerados fatores de risco, ou seja,
eventos negativos, as situações de estresse, as adversidades, as limitações e a falta de
recursos que aumentam a probabilidade da pessoa apresentar problemas de saúde (Calvetti,
Muller & Nunes, 2007; Castro, Campero & Hernández, 1997; Mota, Franco & Motta,
1999).
5.3. Análise descritiva dos dados
A análise dos resultados do Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) indica uma
Média do escore total dos participantes de 24,44, com Desvio Padrão de 13,46, Mediana
24, pontuação mínima 0 e pontuação máxima 57, esses dados podem ser observados na
Figura 1.
45
70N =
BAI - Escore Total
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
Figura 1. Escore total dos participantes (BAI)
Classificando por meio do manual do BAI, quanto ao nível de ansiedade, é
interessante notar que 24 (34,3%) apresentaram nível Grave de ansiedade e 20 (28,6%)
nível Moderado, apenas 14 (20%) apresentaram nível Mínimo de ansiedade e 12 (17,1%)
apresentaram nível Leve. Ao analisar os resultados obtidos, observa-se níveis elevados de
sintomas de ansiedade na amostra desse estudo, que estão em concordância com outros
estudos, como, Demanuele e Brigham (2006), Florindo (1991), Lemos, Gottschall, Pellanda
e Müller (2008), Markovitz, Matthews, Kannel, Cobb e D`Agostinho (1993), entre outros,
que avaliaram aspectos psicológicos presentes no processo de saúde-doença, nos quais a
ansiedade foi considerada como um fator de risco. Os resultados citados podem ser
observados na Figura 2.
46
Nível de Ansiedade - BAI
0
5
10
15
20
25
30
M
í
ni
m
o
Leve
M
oderado
Grave
Frequência
Figura 2. Níveis de ansiedade dos participantes (BAI)
Os resultados do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) mostram que a
Média do escore bruto para Estado de ansiedade foi de 49,64 e a Média do escore bruto
para Traço de ansiedade foi de 49,06, um pouco mais baixa do que a Ansiedade-Estado,
esses resultados estão detalhados na Tabela 5.
Tabela 5. Médias do escore bruto dos participantes (IDATE)
Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
A-Estado 30 68 49,64 10,127
A-Traço 24 67 49,06 9,691
De acordo com os dados normativos fornecidos por amostras da população
brasileira no manual do IDATE, a Média do Percentil dos participantes para ansiedade-
estado foi de 70,93 com desvio padrão de 25,92 e a Média do Percentil para ansiedade-
traço foi de 70,09 com desvio padrão de 24,89, como mostra a Tabela 6.
47
Tabela 6. Médias do percentil dos participantes (IDATE)
Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
A-Estado 11 98 70,93 25,921
A-Traço 1 99 70,09 24,897
Os dados dessa amostra demonstram um nível elevado de ansiedade-estado
(circunstancial) e ansiedade-traço (característica do indivíduo), que estão de acordo com
alguns estudos, dentre eles, os de Barud e Kowalik (2004), Demanuele e Brigham (2006),
Florindo (1991), Gafarov, Gromova, Gagulin, Ekimova e Santrapinskiy (2007), Markovitz,
Matthews, Kannel, Cobb e D`Agostinho (1993), que apresentam interações entre ansiedade
e hipertensão, considerando a ansiedade como um dos fenômenos psíquicos presente no
processo de saúde-doença, como um dos fatores de risco, relacionados a eventos negativos
que aumentam a probabilidade da pessoa apresentar problemas de saúde.
Analisando os escores do Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF), a
Média do escore total dos participantes foi de 51,74, que pode ser considerado um Nível
Baixo de percepção do suporte familiar, de acordo com o manual, com desvio padrão de
14,54, mínimo 18 e máximo 84. A Média do fator 1 - Afetivo-Consistente foi de 22,26 com
desvio padrão de 8,38, a Média do fator 2 - Adaptação Familiar foi de 17,54 com desvio
padrão de 5,22, e a Média do fator 3 - Autonomia Familiar foi de 11,94, com desvio padrão
de 3,03, esses dados estão na Tabela 7.
48
Tabela 7. Escores dos participantes (IPSF)
Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
(F1) Afetivo-Consistente 3 42 22,26 8,38
(F2) Adaptação Familiar 6 26 17,54 5,22
(F3) Autonomia Familiar 5 16 11,94 3,03
Total – IPSF 18 84 51,74 14,54
Os resultados do IPSF indicaram que 38 (54,3%) dos participantes apresentaram um
nível total de percepção de suporte familiar Baixo, 18 (25,7%) apresentaram um nível
Médio-Baixo, apenas 7 (10%) apresentaram um nível Médio-Alto e 7 (10%) apresentaram
nível Alto, os dados estão mais detalhados na Tabela 8, que também apresenta os resultados
de cada um dos 3 fatores.
Tabela 8. Níveis de percepção de suporte familiar dos participantes
Nível
IPSF
(F1) Afetivo-
Consistente
(F2) Adaptação
Familiar
(F3) Autonomia
Familiar
Total
IPSF
F % F % F % F %
Baixo 36 51,4 36 51,4 16 22,9 38 54,3
Médio-Baixo
18 25,7 18 25,7 22 31,4 18 25,7
Médio-Alto 9 12,9 8 11,4 12 17,1 7 10,0
Alto 7 10,0 8 11,4 20 28,6 7 10,0
Total 70 100,0 70 100,0 70 100,0 70 100,0
49
Os resultados do presente estudo indicaram níveis baixos de percepção do suporte
familiar, esses dados corroboram com pesquisas da área, como Aquino (2007), Baptista
(2005), Baptista, Baptista e Dias (2001), Baptista, Baptista e Torres (2006), Favarelli,
Panichi, Pallanti, Paterniti, Grecu e Rivelli (1991), Rossi (2005), Souza (2007), Spink
(2003), entre outros, que relacionam níveis baixos de percepção do suporte familiar com
alta prevalência de transtornos ansiosos, transtornos de humor e outros problemas de saúde.
Esses estudos apontam a necessidade de mais atenção aos fatores psicossociais dos
pacientes com hipertensão, demonstram a importância do suporte social, principalmente do
suporte familiar, que se oferecido e percebido de forma adequada, pode se apresentar como
um fator de proteção presente no processo saúde-doença. a inadequação do suporte
familiar pode favorecer o comprometimento da saúde, compreendida de acordo com a
definição da Organização Mundial da Saúde, como bem-estar físico, mental e social.
5.4. Relações entre ansiedade e percepção do suporte familiar
Considerando o objetivo geral do estudo, foi realizada uma análise correlacional
entre indicadores de ansiedade (resultados do BAI e IDATE) e o nível de percepção do
suporte familiar (resultados do IPSF). As pontuações dos instrumentos que medem a
ansiedade indicam que quanto maior o escore, maior é o nível de ansiedade e a pontuação
do IPSF indica que quanto maior o escore, melhor a percepção do suporte familiar. No
presente estudo, a maioria das correlações encontradas foram negativas, significativas e
moderadas (evidências de validade divergentes), como era esperado, pois valores altos de
ansiedade estão associados com valores baixos de percepção do suporte familiar
(Ackerman, 1986; Baptista, 2005; Burd & Tavares, 2004; Campos, 2004; Hong, Han &
Liu, 2000). Esses dados podem ser melhor visualizados na Tabela 9.
50
Tabela 9. Correlação de Pearson entre escore de Ansiedade (BAI e IDATE) e as
dimensões do IPSF
(F1) Afetivo-
Consistente
(F2) Adaptação
Familiar
(F3) Autonomia
Familiar
Total
IPSF
BAI - Escore Total r= -0,42
p= 0,000
r= -0,45
p= 0,000
r= -0,35
p= 0,003
r= -0,47
p= 0,000
A-Estado r= -0,52
p= 0,000
r= -0,49
p= 0,000
r= -0,22
p= 0,073
r= -0,52
p= 0,000
A-Traço r= -0,48
p= 0,000
r= -0,50
p= 0,000
r= -0,34
p= 0,004
r= -0,53
p= 0,000
Esses dados sugerem, no presente estudo, que hipertensos tendem a apresentar
níveis altos de ansiedade, com estado de humor desconfortável, apreensão negativa em
relação ao futuro, apresentando sintomas físicos, como taquicardia, tensão muscular,
parestesias, tremores, sudorese, tontura e sintomas psíquicos, como inquietação, apreensão,
desconforto e medo (Cruz, Zangrossi & Graeff, 1998; Dalgalarrondo, 2000; Sadock &
Sadock, 2007). Esses altos níveis de ansiedade identificados, se relacionam com níveis
baixos de percepção do suporte familiar, indicados pela correlação entre o BAI e o escore
Total do IPSF de r= -0,49; p= 0,000, assim sendo, quanto maior os níveis de ansiedade,
menor o suporte familiar percebido, essas pessoas não percebem uma manifestação de
atenção, carinho, diálogo, liberdade, proximidade afetiva, autonomia e independência entre
os membros de sua família (Baptista & Oliveira, 2004; Castro, Campero & Hernández,
1997; Hong, Han & Liu, 2000; Moos, 1990;).
As correlações encontradas corroboram com outros estudos como os de Procidano e
Heller (1983), em que os resultados apresentaram correlação negativa entre suporte social
51
familiar e ansiedade, apontando as principais variáveis inseridas no suporte familiar como a
provisão de informações, conforto e suporte emocional proveniente da família, entre outros,
como Baptista, Baptista e Dias (2001), Favarelli, Panichi, Pallanti, Paterniti, Grecu e Rivelli
(1991), Frances, Palarea, Ojeda, Ramal e Aleman (2001), Guerrero, Hishinuma, Andrade,
Nishimura e Cunanan (2006) e Hong, Han e Liu (2000).
É importante ressaltar o estudo realizado por Baptista, Baptista e Torres (2006), pois
também utilizou o instrumento IDATE, correlacionando-o com a Escala de Percepção de
Suporte Social (EPSS), dessa forma, pode-se comparar as correlações encontradas com as
correlações do presente estudo. No estudo citado foram encontradas correlações negativas
entre as escalas de suporte social com ansiedade-estado (r= -0,43; p= 0,004) e ansiedade-
traço (r= -0,51; p= 0,000), no presente estudo foi encontrado coeficientes de correlação
semelhantes para A-estado (r= -0,52; p= 0,000) e A-traço (r= -0,53; p= 0,000) e a
percepção do suporte familiar, que está inserida no contexto de suporte social.
Analisando as correlações do BAI com cada dimensão do IPSF, definidas por
Baptista (2005/2009) tem-se, com o Fator 1 - Afetivo-Consistente r=-0,42; p= 0,000,
indicando que quanto maior o nível de ansiedade, menor a percepção quanto às relações
afetivas positivas na família, interesse entre os membros, expressão de carinho, clareza nos
papéis e regras e menor a habilidade de enfrentamento de problemas. Para o Fator 2
Adaptação Familiar tem-se r= -0,45; p= 0,000, indicando que quanto maior o nível de
ansiedade, maior a percepção de sentimentos negativos em relação à família, como
isolamento, exclusão, raiva, vergonha, relações agressivas, irritação, incompreensão,
competição e culpabilidade na família. A correlação encontrada foi negativa, mas
interpreta-se dessa forma porque os itens desse fator são invertidos para que se calcule com
valência igual aos itens das outras duas dimensões. Quanto ao Fator 3 Autonomia
Familiar a correlação encontrada foi de r= -0,35; p= 0,003, indicando que quanto maior o
52
nível de ansiedade, menor a percepção de autonomia, confiança, privacidade e liberdade
que o indivíduo tem de sua família.
As correlações encontradas entre A-Estado, A-Traço e IPSF-Total foram negativas,
significativas e moderadas, indicando que quanto maior o nível de estado e traço de
ansiedade, menor a percepção do suporte familiar (total). No entanto, observa-se que
apenas a correlação entre A-Estado e o Fator 3 do IPSF não foi significativa (r= -0,22;
p=0,073), indicando que provavelmente o estado de ansiedade não tem relação com a
autonomia familiar.
Esse estudo evidenciou a relação entre altos níveis de ansiedade e níveis baixos de
percepção do suporte familiar em hipertensos, em concordância com outros estudos citados,
no entanto, é necessário considerar a possibilidade de existirem outros fatores que
influenciaram nesses resultados, principalmente as precárias condições sócio-econômicas
dos participantes e que a percepção do suporte familiar do hipertenso e a maneira pela qual
ele interage com sua família podem ser distorcidas devido à presença de características
psicológicas, como, hostilidade, impaciência, brusquidão, ressentimento, ansiedade e
sentido de urgência temporal. De qualquer forma, ressalta-se a importância de se considerar
aspectos psicossociais presentes no processo saúde-doença (Adler & Matthews, 1994;
Diamond, 1982; Straub, 2005; Trigo, Rocha & Coelho, 2000).
5.5. Relações entre sintomas de ansiedade (BAI) e ansiedade-estado/ansiedade-
traço (IDATE)
Foi realizada uma análise correlacional entre o nível de sintomas de ansiedade,
resultados do BAI e o nível de ansiedade-estado (circunstancial) e ansiedade-traço
(característica do indivíduo), resultados do IDATE. As pontuações dos 2 instrumentos que
medem a ansiedade indicam que quanto maior o escore, maior é o nível de ansiedade. No
53
presente estudo, foram encontradas correlações positivas e significativas, como era
esperado, pois valores altos de sintomas de ansiedade devem estar associados com valores
altos de estados de ansiedade e traço de ansiedade (evidências de validade convergentes).
Essas correlações constam na Tabela 10.
Tabela 10. Correlação de Pearson entre escore de Ansiedade (BAI) e percentil de
Ansiedade-Estado e Ansiedade-Traço (IDATE)
A-Estado A-Traço
BAI - Escore Total r= 0,58
p= 0,000
r= 0,60
p= 0,000
A correlação encontrada entre o escore do BAI e Ansiedade-Estado (r= 0,58; p=
0,000) demonstra que quanto mais altos os níveis de ansiedade apresentando sintomas
físicos e psíquicos, maior o estado de ansiedade observado em um dado momento da vida,
associado a algum evento estressógeno, podendo ser elevado ou atenuado devido à
apresentação ou retirada do evento. O escore do BAI também se correlacionou
significativamente e positivamente com a Ansiedade-Traço (r= 0,60; p= 0,000), indicando
que quanto maior a presença dos sintomas de ansiedade, mais a pessoa apresenta uma
propensão para sentir ansiedade, sendo essa predisposição determinada por influências
genéticas e por experiências prévias, como uma característica do indivíduo (Cruz,
Zangrossi & Graeff, 1998; Spielberger, Gorsuch, & Lushene, 2003).
Esses resultados convergem com outros estudos que demonstram a presença de
níveis consideráveis de ansiedade em hipertensos, apontando a ansiedade como um dos
fatores de risco presentes no processo de adoecimento, dentre eles, Barud e Kowalik
(2004), Chaves e Cade (2002), Florindo (1991), Gafarov, Gromova, Gagulin, Ekimova e
54
Santrapinskiy (2007), Mac Fadden e Ribeiro (1998), Markovitz, Matthews, Kannel, Cobb e
D`Agostinho (1993).
É importante citar que a correlação encontrada (significativa e positiva), nesse
estudo, entre a Ansiedade-Estado e a Ansiedade-Traço foi de r= 0,80; p= 0,000, pode ser
considerada alta, o que era esperado, pois o indivíduo que apresenta um estado elevado de
ansiedade, num dado momento de vida, geralmente apresenta uma propensão, como uma
característica, para sentir um maior grau de ansiedade. De acordo com estudos, como Barud
e Kowalik (2004), Cruz, Zangrossi e Graeff (1998), Spielberger, Gosuch, e Lushene (2003),
as pessoas que apresentam níveis elevados de ansiedade-traço tendem a apresentar também
níveis elevados de ansiedade-estado, por reagirem às situações como se fossem
ameaçadoras ou perigosas com maior frequência.
5.6. Análises estatísticas complementares
Foi realizada também a Análise de Cluster (Aglomerados), com o objetivo de
analisar as características das respostas dos participantes nos instrumentos, classificar e
separar em grupos por tipos de respostas semelhantes, para que os resultados possam ser
melhor comparados (Martins, 2002). A Análise de Cluster foi realizada com os resultados
do IPSF que identificou dois grupos, ou seja, “agrupou” os participantes em dois grupos de
acordo com o tipo de resposta no IPSF. O grupo 1, composto por 46 participantes,
apresentou médias mais altas de percepção do suporte familiar do que o grupo 2, composto
por 24 participantes, que apresentou médias mais baixas de percepção do suporte familiar.
Posteriormente realizou-se a prova de comparação de médias (One-Sample T Test),
para comparar as médias dos resultados dos instrumentos que mediram a ansiedade (BAI e
IDATE) entre os grupos 1 e 2, formados pela Análise de Cluster - IPSF, nota-se que os dois
grupos se distribuem de maneira semelhante quanto aos resultados dos níveis de ansiedade,
55
ou seja, médias altas no BAI e mais altas ainda no IDATE (Ansiedade-Traço e Ansiedade-
Estado). No entanto, o grupo 2, com médias mais baixas de percepção do suporte familiar e
composto por menos participantes, apresentou Ansiedade-Estado um pouco mais elevada
do que Ansiedade-Traço, o que não ocorreu no grupo 1. Esses dados podem ser melhor
observados na Figura 3 e na Tabela 11.
testes
IDATE traçoIDATE estadoBAI
Estimated Marginal Means
80
60
40
20
2
1
Average Linkage
(Between Groups)
Estimated Marginal Means of MEASURE_1
Figura 3. Comparação entre grupo 1 e grupo 2 - Análise de Cluster e T-Test
56
Tabela 11. Médias dos grupos 1 e 2 nos instrumentos BAI e IDATE
Grupos
Nº de
Participantes Média Desvio Padrão
Erro Padrão
da Média
BAI – Total 1 46 21,35 14,46 2,13
2 24 30,38 8,84 1,80
A-Estado 1 46 63,20 27,34 4,03
2 24 85,75 14,31 2,92
A-Traço 1 46 63,48 26,78 3,95
2 24 82,75 14,19 2,89
Esses dados reforçam que essa amostra composta por hipertensos, apresentou níveis
baixos de percepção do suporte familiar, relacionados a altos níveis de ansiedade. De
acordo com vários autores, como Calvetti, Müller e Nunes (2007), Capitão, Scortegagna e
Baptista (2005), Soares (2005), entre outros, que compreendem a ansiedade e o suporte
familiar como fatores presentes no processo saúde-doença, e postulam que a avaliação e o
tratamento da hipertensão e de outros problemas de saúde devem considerar os fatores
psicossociais envolvidos.
Foi realizada também a Análise de Variância (ANOVA) com o objetivo de
comparar o relacionamento das variáveis estudadas, verificando se existem diferenças entre
as médias de grupos. A variância total (F) descreve a distância entre a média geral e o valor
mais distante (Dancey & Reidy, 2006). Os participantes foram divididos em quatro níveis
de ansiedade, de acordo com os resultados obtidos por meio do BAI. A Tabela 12 apresenta
os valores da variância e indica que as diferenças apresentadas pelos grupos são
significativas (p), ou seja, as diferenças entre as condições são improváveis de ter ocorrido
apenas por erro de amostragem.
57
Tabela 12. Variância (F) e nível de significância (p) dos resultados dos participantes
Entre Grupos
F P
Fator 1 – IPSF 5,51 0,002
Fator 2 – IPSF 6,91 0,000
Fator 3 – IPSF 5,59 0,002
IPSF – Total 7,66 0,000
A-Estado 13,30 0,000
A-Traço 10,61 0,000
Posteriormente foi realizado o teste post hoc de Tukey para explorar as diferenças
entre os vários conjuntos de médias, ou seja, para analisar como foram as diferenças
encontradas, comparando os quatro grupos formados pelo nível de ansiedade do BAI com
as médias obtidas nos outros instrumentos. O grupo de participantes que apresentou nível
Grave de ansiedade, composto pela maioria dos participantes (N=24), apresentou médias
mais baixas no Fator 1 - Afetivo-Consistente do IPSF (M= 18,67), no Fator 2 Adaptação
Familiar (M= 14,71), no Fator 3 Autonomia Familiar (M= 10,67) e no IPSF Total (M=
44,04). o grupo que apresentou nível Mínimo de ansiedade, composto pela minoria dos
participantes (N= 14), apresentou médias mais altas no Fator 1 - Afetivo-Consistente do
IPSF (M= 28,64), no Fator 2 Adaptação Familiar (M= 21,21), no Fator 3 Autonomia
Familiar (M= 14,29) e no IPSF Total (M= 64,14). Esses dados reforçam as discussões
realizadas anteriormente, pois os participantes que apresentaram maiores níveis de
ansiedade, foram os que apresentaram menores níveis de percepção do suporte familiar, e
podem ser analisados na Tabela 13 e na Tabela 14.
58
Tabela 13. Grupos de participantes (nível do BAI) comparados com as médias do Fator 1 e
2 do IPSF.
BAI N Fator 1 – IPSF Fator 2 – IPSF
1 2 1 2
Grave 24 18,67 14,71
Moderado 20 20,85 17,00 17,00
Leve 12 24,33 24,33 19,83
Mínimo 14 28,64 21,21
Tabela 14. Grupos de participantes (nível do BAI) comparados com as médias do Fator 3 e
IPSF Total.
BAI N Fator 3 – IPSF BAI N IPSF – Total
1 2 1 2
Grave 24 10,67
Grave 24 44,04
Leve 12 11,08
Moderado 20 50,20
Moderado 20 12,35
12,35
Leve 12 55,25
55,25
Mínimo 14
14,29
Mínimo 14
64,14
Esses dados concordam com estudos que postulam sobre o processo de
adoecimento, envolvendo aspectos psicológicos, estilo de vida, hábitos e aspectos
familiares. Sabe-se que a hipertensão não tem causa única, mas resulta da interação de
fatores biológicos, psicológicos e sociais. Esses estudos também relacionam suporte social,
família, estresse, ansiedade e doença e indicam que quanto maior os sintomas de ansiedade,
menor o suporte familiar percebido, dessa forma, os indivíduos que não possuem relações
59
de apoio familiar e possuem a ansiedade elevada, dentre outros fatores, com frequência
possuem piores condições de saúde (Ackerman, 1986; Baptista, Baptista & Dias, 2001;
Campos, 2004; Castro, Campero & Hernández, 1997; Hong, Han & Liu, 2000; Straub,
2005).
Em relação às comparações de médias entre o BAI e o IDATE, observa-se mais
evidências de validade convergente, pois o grupo de participantes que apresentou nível
Mínimo de ansiedade (BAI), composto pela minoria dos participantes (N= 14), apresentou
as médias mais baixas em Ansiedade-Estado (M= 47,64) e Ansiedade-Traço (M= 50,86). Já
o grupo de participantes que apresentou nível Grave de ansiedade (BAI), composto pela
maioria dos participantes (N= 24), apresentou as médias mais altas em Ansiedade-Estado
(M= 87,08) e Ansiedade-Traço (M= 87,21). Esses dados reforçam as discussões realizadas
anteriormente, que quanto maior a presença de sintomas de ansiedade (BAI), maior a
presença do estado de ansiedade e do traço de ansiedade (IDATE), e podem ser analisados
na Tabela 15.
Tabela 15. Grupos de participantes (nível do BAI) comparados com as médias de
ansiedade-estado e ansiedade-traço
BAI N A-Estado A-Traço
1 2 1 2
Mínimo 14 47,64
50,86
Leve 12 55,50
58,17
Moderado 20
77,10
70,15
70,15
Grave 24
87,08
87,21
60
Níveis altos de sintomas de ansiedade (BAI) se relacionaram com níveis altos de
ansiedade-estado, caracterizada por um estado emocional transitório e circunstancial, e com
níveis altos de ansiedade-traço, compreendida como uma característica do indivíduo, uma
propensão para sentir maior ou menor grau de ansiedade (Cruz, Zangrossi & Graeff, 1998;
Spielberger, Gorsuch, & Lushene, 2003). Dessa forma, esse estudo converge com estudos
que apontam à ansiedade como uma das características psicológicas associadas à
hipertensão arterial e que o tratamento requer um trabalho multiprofissional que contemple
aspectos relacionados ao controle da ansiedade, do estresse emocional e de outras
características psicológicas dos pacientes (Adler & Matthews, 1994; Diamond, 1982;
Florindo, 1991; Lipp, 2007; Trigo e cols., 2000).
61
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O método de pesquisa que norteou o presente estudo foi o delineamento
correlacional, com o objetivo de verificar se duas ou mais variáveis são relacionadas e
como se estabeleceu essa relação, sem no entanto, estabelecer uma relação de causa e
efeito. Assim sendo, as variáveis, ansiedade e percepção do suporte familiar se
correlacionaram de maneira negativa e significativa, nessa amostra de hipertensos (níveis
altos de ansiedade correlacionados a níveis baixos de percepção do suporte familiar), mas
pode haver outros aspectos envolvidos nesses resultados, como por exemplo, as condições
sócio-econômicas dos participantes, dentre elas, baixo nível de instrução, falta de
perspectiva profissional e baixa renda familiar.
Após analisar os resultados pode-se considerar que os objetivos propostos pelo
presente estudo, de correlacionar indicadores de ansiedade e de percepção do suporte
familiar, bem como correlacionar o teste BAI com o IDATE foram atingidos e as hipóteses
foram confirmadas. A amostra de hipertensos apresentou níveis altos de ansiedade
relacionados a níveis baixos de percepção do suporte familiar (evidências de validade
divergentes entre BAI e IPSF). Os níveis de ansiedade foram altos nos dois instrumentos
que avaliaram esse construto (evidências de validade convergentes entre BAI e IDATE).
É importante ressaltar que os construtos avaliados podem ser considerados como
dois fatores presentes no processo saúde-doença, a ansiedade como um fator de risco e o
suporte familiar, quando suficiente e bem percebido, como um fator de proteção. No
entanto, existem outros fatores, de risco e de proteção, envolvidos no processo saúde-
doença, tais como, hábitos de alimentação, estresse, adversidades, depressão, falta de
recursos, prática de atividades físicas, resiliência, qualidade de vida, bem-estar subjetivo,
habilidades interpessoais, espiritualidade, entre outros, que devem ser analisados em outros
estudos. Também, deve-se considerar que a percepção do suporte familiar do hipertenso e a
62
maneira pela qual ele interage com sua família podem ser distorcidas devido à presença de
algumas características psicológicas, tais como, hostilidade, impaciência, ressentimento,
ansiedade e expressão de impulsos por meio de distanciamento, supressão, submissão,
complacência e ira.
O presente estudo contribuiu para reforçar a complexidade do processo saúde-
doença envolvendo vários fatores de risco e de proteção, e que realmente a saúde deve ser
compreendida como um estado multidimensional envolvendo a saúde física, psicológica e
social. Dessa forma, fica evidente que a Psicologia na área da Saúde, incluindo a Avaliação
Psicológica nesse contexto, pode contribuir para a compreensão do adoecimento e das
maneiras para manter a saúde, contribuindo nos tratamentos e prognósticos das doenças
crônicas, com intervenções mais adequadas, mas sobretudo, com trabalhos preventivos e
políticas públicas que visem uma melhor qualidade de vida.
Os assuntos tratados e os construtos avaliados, não foram esgotados, destaca-se a
importância da realização de estudos com outros fatores envolvidos no processo saúde-
doença, da hipertensão arterial e de outros problemas de saúde e estudos que possam suprir
as limitações desse, tais como, verificar a relação dos níveis de ansiedade e percepção do
suporte familiar com outras variáveis, com amostras diferentes, estudos que comparem um
grupo de hipertensos com um grupo de pessoas que não tenha hipertensão (grupo controle)
e estudos que controlem o uso de medicamentos.
63
7. REFERÊNCIAS
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Urbina, S. (2007). Trad. Dornelles, C. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre:
Artmed.
71
Anexo 1
Questionário de Identificação
72
Questionário de Identificação Código: ________
1- Hipertensão há quantos anos? __________
2- Apresenta outra doença crônica? __________________
3- Passou por algum problema sério no último mês: ( ) Não
( ) Sim. Qual? ________________________________________________
4- Etnia:
( ) Branco
( ) Negro
( ) Asiático
( ) Índio
( ) Pardo
5- Possui filhos?
( ) Não
( ) Sim. Quantos? ______
6- Com quem mora atualmente?
( ) Sozinho
( ) Com pais e irmãos
( ) Com esposa(o) e filhos
( ) Apenas com os filhos
( ) Apenas com marido/esposa
( ) Outros: ___________________________________
7- Se casado, há quanto tempo? ______________
8- Renda Familiar:
( ) até 1 salário mínimo
( ) entre 1 e 3 salários mínimos
( ) entre 3 e 6 salários mínimos
( ) entre 6 e 10 salários mínimos
( ) Acima de 10 salários mínimos
9- Moradia:
( ) casa própria
( ) casa alugada ( ) casa emprestada Outros:_____________
73
Anexo 2
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE)
74
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (1ª via)
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – CHE/USF
TÍTULO DA PESQUISA: “AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E PERCEPÇÃO
DO SUPORTE FAMILIAR EM HIPERTENSOS”
Eu,......................................................................................................................(nome,
idade, RG, endereço), abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para
participar como voluntário do projeto de pesquisa supracitado, sob a responsabilidade dos
pesquisadores Melissa de Fátima Bueno do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Psicologia da Universidade São Francisco e Dr.Cláudio Garcia Capitão (Orientador).
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:
1- O objetivo da pesquisa é avaliar indicadores de ansiedade e a percepção do
suporte familiar em pessoas portadoras de hipertensão;
2- Durante o estudo serão aplicados os instrumentos: Inventário de Ansiedade de
Beck (BAI), Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e Inventário de Percepção de
Suporte Familiar (IPSF);
3- As respostas aos instrumentos poderão causar constrangimento;
4- Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente
sobre a minha participação na referida pesquisa;
5- Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na
pesquisa;
6- A interrupção da minha participação não causará prejuízo ao meu eventual
atendimento, cuidado e tratamento pela equipe responsável;
7- Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos
serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua
publicação na literatura científica especializada;
8- Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco
para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do telefone: (11)
4534-8023;
9- Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Melissa de Fátima
Bueno, sempre que julgar necessário pelo telefone (11) 9783-0390;
10- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanece
em meu poder e outra com o pesquisador responsável.
Vargem, ___ / ___ / __ Assinatura do Voluntário:........................................................
Pesquisador Responsável: Melissa de Fátima Bueno – Psicóloga
75
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (2ª via)
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – CHE/USF
TÍTULO DA PESQUISA: “AVALIAÇÃO DA ANSIEDADE E PERCEPÇÃO
DO SUPORTE FAMILIAR EM HIPERTENSOS”
Eu,......................................................................................................................(nome,
idade, RG, endereço), abaixo assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para
participar como voluntário do projeto de pesquisa supracitado, sob a responsabilidade dos
pesquisadores Melissa de Fátima Bueno do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Psicologia da Universidade São Francisco e Dr.Cláudio Garcia Capitão (Orientador).
Assinando este Termo de Consentimento estou ciente de que:
1- O objetivo da pesquisa é avaliar indicadores de ansiedade e a percepção do
suporte familiar em pessoas portadoras de hipertensão;
2- Durante o estudo serão aplicados os instrumentos: Inventário de Ansiedade de
Beck (BAI), Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) e Inventário de Percepção de
Suporte Familiar (IPSF);
3- As respostas aos instrumentos poderão causar constrangimento;
4- Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente
sobre a minha participação na referida pesquisa;
5- Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na
pesquisa;
6- A interrupção da minha participação não causará prejuízo ao meu eventual
atendimento, cuidado e tratamento pela equipe responsável;
7- Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos
serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua
publicação na literatura científica especializada;
8- Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Francisco
para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa através do telefone: (11)
4534-8023;
9- Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Melissa de Fátima
Bueno, sempre que julgar necessário pelo telefone (11) 9783-0390;
10- Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanece
em meu poder e outra com o pesquisador responsável.
Vargem, ___ / ___ / __ Assinatura do Voluntário:........................................................
Pesquisador Responsável: Melissa de Fátima Bueno – Psicóloga
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