Não há também, diálogo, se não há uma intensa fé nos homens. Fé no seu poder de
fazer e de refazer. De criar e recriar. Fé na sua vocação de ser mais, que não é privilégio de
alguns eleitos, mas direitos dos homens.
A fé nos homens é um dado a priori do diálogo. Por isto, existe antes mesmo de que
ele se instale. O homem dialógico tem fé nos homens antes de encontrar-se frente a frente
com eles. Esta, contudo, não é uma ingênua fé. O homem dialógico, que é crítico, sabe que,
se o poder de fazer, de criar, de transformar, é um poder dos homens, sabe também que
podem eles, em situação concreta, alienados, Ter este poder prejudicado. Esta
possibilidade, porém, em lugar de matar no homem dialógico a sua fé nos homens, aparece
a ele, pelo contrário, como um desafio ao qual tem de responder. Está convencido de que
este poder de fazer e transformar, mesmo que negado em situações concretas, tende a
renascer. Pode renascer. Pode constituir-se. Não gratuitamente, mas na e pela luta por sua
libertação. Com a instalação do trabalho não mais escravo, mas livre, que dá a alegria de
viver.
Sem esta fé nos homens, o diálogo é uma farsa. Transforma-se, na melhor das
hipóteses, em manipulação adocicadamente paternalista.
Ao fundar-se no amor, na humildade, na fé nos homens, o diálogo se faz uma
realização horizontal , em que a confiança de um pólo no outro é conseqüência óbvia. Seria
uma contradição se, amoroso, humilde e cheio de fé, o diálogo não provocasse este clima
de confiança entre seus sujeitos. Por isto inexiste esta confiança na antidialogicidade da
concepção "bancária" da educação.
Se a fé nos homens é um dado a priori do diálogo, a confiança se instaura com ele. A
confiança vai fazendo os sujeitos dialógicos cada vez mais companheiros na pronúncia do
mundo. Se falha esta confiança, é que falharam as condições discutidas anteriormente. Um
falso amor, uma falsa humildade, um debilitada fé nos homens não podem gerar confiança.
A confiança implica no testemunho que um sujeito dá aos outros de suas reais e concretas
intenções. Não pode existir, se a palavra, descaracterizada, não coincide com os atos. Dizer
uma coisa e fazer outra, não levando a palavra a sério, não pode ser estímulo à confiança.
Não é porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança
enquanto luto e, se luto com esperança, espero.