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deficiente: “O vocábulo deficiente traz em sua raiz latina o significado de fadiga,
esgotamento, defecção, defeito, incompletude, desertor, traidor, diminuído, abandono, revolta,
abalar, desanimar, perder as forças, transgredir [...] e, em sua raiz grega, deficiente é falta,
imperfeição numa obra, insuficiência”.
Percebe-se que os vocábulos pertinentes à deficiência refletem e envolvem conceitos
clínicos, corretivos e medicalizados, pressupondo uma busca à reparação, reabilitação e cura.
Compreender o surdo neste referencial é negar a surdez como diferença e compartilhar da
visão de surdez proposta pelo modelo clínico-terapêutico.
Em relação a esse modelo Skliar (1997) explica:
Medicalizar a surdez significa orientar toda a atenção à cura do problema auditivo, à
correção de defeitos da fala, ao treinamento de certas habilidades menores, como a
leitura labial e a articulação, mais que a interiorização de instrumentos culturais
significativos, como a Língua de Sinais. E significa também opor e dar prioridade ao
poderoso discurso da medicina frente à débil mensagem da pedagogia, explicitando
que é mais importante esperar a cura medicinal – encarnada atualmente nos
implantes cocleares – que compensar o déficit de audição através de mecanismos
psicológicos funcionalmente equivalentes (p.111).
O Oralismo, filosofia educacional, representa e compartilha desta visão, sustentando
a idéia de que a Língua de Sinais não constitui um verdadeiro sistema linguístico,
conceituando-a como um sistema de gestos sem estrutura gramatical e que impede a
aprendizagem da língua oral.
Segundo Goldfeld (1997, p.31) “O Oralismo percebe a surdez como uma deficiência
que deve ser minimizada através da estimulação auditiva. Ou seja, o objetivo do Oralismo é
fazer uma reabilitação da criança em direção à normalidade, à ‘não-surdez’”.
Esta visão sobre a surdez, segundo as idéias de Goldfeld, baseia-se em metodologias
que acreditam na reabilitação, estimulação auditiva precoce, leitura orofacial e oralização,
rejeitando qualquer forma de gestualização, bem como a língua de sinais.
Ainda em relação a esta visão, Goldfeld (1997, p.34) ressalta que no Oralismo: “o
surdo que consegue dominar as regras da Língua Portuguesa e consegue falar (oralizar) é
considerado bem-sucedido. O Oralismo espera que, dominando a língua oral, o surdo esteja
apto para se integrar à comunidade ouvinte”.
Outra filosofia educacional, a Comunicação Total, em oposição ao Oralismo,
acredita, que não é somente a aprendizagem da língua oral que garante o desenvolvimento do
surdo.