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pena”
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, como se falava na época, mas bem aceitos pelos leitores de então. Um pouco
acima destes se encontram os romances O Homem (1887) e O Livro de uma sogra
(1895), mas nada que se compare aos pertencentes ao segundo grupo: O Mulato (1881);
Casa de pensão (1884) e O Cortiço (1890). José Aderaldo Castello afirma que, dentre
os romances de teor naturalista, apenas “O Coruja” (1887) possui páginas bem
realizadas e personagens dignos da obra maior de Aluísio Azevedo.
Em 1884, três anos após o lançamento de O Mulato, Aluísio escreve a Afonso
Celso pedindo-lhe um emprego; isso reforça a afirmativa de que o ofício de escritor não
lhe pagava as contas, como afirmara Valentim Magalhães
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. Pede ele um cargo – “seja
lá o que for, tudo serve” – para que possa escrever Casa de pensão e não ter mais de
fabricar Mistérios da Tijuca. Mesmo achando feio e ridículo o que está a fazer, reforça o
pedido por se encontrar em uma situação desesperadora.
De 1882 a 1895 escreve – sem interrupção – romances, contos e crônicas, além
de peças de teatro, em colaboração com Artur Azevedo e Emílio Rouède
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. Segundo
Orna Messer Levin, “Aluísio Azevedo assumiu o compromisso com o ofício literário
como uma espécie de obsessão profissional”. (2005, p.26) Alguns críticos entendem
que Aluísio Azevedo jamais realizou a obra sonhada, já que o autor teria consumido
toda a imaginação nos folhetins. Apenas teria legado para a posteridade três romances
de peso: O Mulato, Casa de Pensão e O Cortiço. O último faria parte de um grande
ciclo imaginado à maneira de uma comédia humana ‘científica’, no espírito da série Les
Rougon-Macquart
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, de Émile Zola; a história natural e social de uma família no
Segundo Reinado, em alguns volumes. Não teve tempo, contudo: morreu de infarto em
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Refere-se à expressão latina currente calamo, que significa escrever às pressas, sem preocupações com
o estilo, num tom corriqueiro e leve. A expressão “ao correr da pena” era o título da coluna de José de
Alencar, no Correio Mercantil, no Rio de Janeiro; nela o autor tecia comentários sobre assuntos gerais, e
hoje é uma referência direta a Alencar; não na maneira de escrever, mas na leveza dos assuntos, uma vez
que o folhetim era o principal meio de circulação da prosa ficcional durante o segundo quadrante do
século XIX.
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Valentim Magalhães (Antônio Valentim da Costa Magalhães – Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1859 —
Rio de Janeiro, 17 de maio de 1903) foi um jornalista e escritor brasileiro e um dos fundadores
da Academia Brasileira de Letras. Afirmava ele que Aluisio Azevedo era no Brasil talvez o único escritor
que ganhava o pão; as letras no Brasil ainda não davam para a manteiga.
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Emílio Rouède nasceu em Avignon, França, em 1848. Chegou ao Brasil em 1880 e, na XXVI Exposição
Geral de Belas Artes, em 1884, expôs as obras Saco de Alferes e Naufrágio de Montserrat, dos irmãos
Artur e Aluísio Azevedo. Entre este e Emílio Rouède cedo despontou uma amizade, tendo os dois escrito,
em parceria, cinco comédias, todas elas encenadas com êxito: Venenos que Curam, O Caboclo,Um Caso
de Adultério, Lições para Maridos e Em Flagrante Delito.
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A série Les Rougon-Macquart consiste em um relato da decadência de uma família em conseqüência da
hereditariedade e do ambiente, com particular ênfase sobre questões como alcoolismo, doença e
degeneração moral. Os livros mais famosos da série são A Taverna sobre os operários de Paris e
Germinal, um romance proletário que aborda a mineração de carvão no norte da França.