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fronteiras; do povoamento; do cultivo e do comércio; da tributação; das relações de
trabalho dos índios; do casamento e da figura do ‘Diretor’, substituto dos missionários. Este
documento, segundo Andrade (1978), pode ser considerado como o marco inicial do
projeto pedagógico pombalino, em decorrência da imposição do Português como língua
oficial do império, que passou a ser utilizada para o ensino dos índios no Brasil, e da
exclusão dos jesuítas das atividades educativas nas colônias portuguesas. D. José I, ao
justificar a sua luta contra a Companhia de Jesus, critica, através de Mendonça Furtado, o
modo pelo qual os índios foram conduzidos, e a sua total exclusão dos mistérios da
“Sagrada Religião” e dos padrões mínimos de civilidade, cultura e comércio. Seria,
segundo o monarca, necessário “civilizar estes até agora infelices, e miseraveis Póvos, para
que sahindo da ignorancia, e rusticidade, a que se achão reduzidos, possam ser uteis a si,
aos moradores, e ao Estado” (PORTUGAL, 1830, p. 508). Através dos argumentos
apresentados, fica clara a associação feita entre as ações Jesuíticas e a ideia de atraso
cultural e de prejuízo para o Estado
26
. A expulsão dos padres da Companhia de Jesus se
tornava cada vez mais necessária para que a ordem pudesse ser estabelecida, uma vez que o
modo pelo qual a conversão dos gentis foi pregada pela Companhia de Jesus não
contemplava o projeto pombalino de desenvolvimento do Estado.
O total repúdio às ações jesuíticas foi responsável pela ordem dada por Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, ainda em 1757, par a expulsão de 15 jesuítas do Grão-Pará e
Maranhão. Dentre eles destaca-se a figura do padre alemão Lourenço Kaulen (1716-?),
autor da Relação Abreviada das Coisas Notáveis da Nossa Viagem do Desterro do Pará a
Lisboa
27
. Nesta obra, Kaulen registra os percalços da viagem, a falta de segurança da
26
A tentativa em se utilizar a Língua Portuguesa nas colônias brasileiras é anterior a 1755. Através do Alvará
de 12 de fevereiro de 1727, o superior das missões do Estado do Maranhão recebeu a ordem de impor a
obrigatoriedade da instrução em língua portuguesa, sob a alegação de que se os alunos utilizarem o Português
“poderão receber os mistérios da fé católica, e ter maior conhecimento da luz da verdade, e com esta
inteligência melhor executar em tudo o que pertencer ao meu real serviço e terem maior afeição aos mesmos
portugueses”. (MARANHÃO, 1948, p. 214). Percebe-se, dessa forma, uma argumentação teológica, ao
contrário daquela utilizada no Diretório dos Índios, que apresenta uma justificativa eminentemente política.
27
Nome completo da obra: Relação das coisas notáveis da nossa viagem do desterro do Pará para Lisboa, a
qual fizeram dez religiosos da Companhia, Padre Domingos Antônio, Reitor do colégio do Pará, Luiz
álvares, Manuel Afonso, Manuel dos Santos, Joaquim de Carvalho, Antônio Meisterburg, Lourenço Kaulen,
João Daniel, Joaquim de Barros, Anselmo Eckart; e alguns dez religiosos de São Francisco, na nau chamada
Nossa Senhora do Atalaia, no ano de 1757. Esse livro foi objeto de pesquisa da professora de História:
Patrícia Domingos Woolley Cardoso, no IHGB – Arquivo 2-3-13. Além dos padres citados no título, havia
ainda, segundo Cardoso (2006), o pe. Visitador, Francisco de Toledo, o pe. Reitor do Maranhão, José da