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Quando eu já trabalhava aqui na cidade, que já tinha oficina então aparecia
bastante... Algum objeto, alguma coisa que era proveniente de uma caldeira
ou de uma serpentina [equipamento usado no aquecimento da planta da
hortelã nos alambiques de destilação]. Tudo que precisava pra isso ali. Pra
conserto. Então, eu sei que a gente soldava aquelas caldeiras quando tava um
trinco [danificadas].
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Nestas relações de trabalho que se moldaram, o oficio de mecânico fez o senhor
Theobaldo reconhecer-se e conhecer aquelas dinâmicas. O trabalho praticado em sua oficina é
marco na trama de suas lembranças. O entrevistado, numa dimensão resignificada, revelou o
campo social de sua atuação e observação das atividades com a hortelã. Numa forma de
reconstruir detalhadamente e, com voz cansada, ele expressou sua força narrativa
demonstrando como era feita a destilação da erva para a extração do óleo nos alambiques:
Então aquela caldeira era com a água e fogo. Lenha tinha sobrando. Então
dava aquela pressão de vapor. Daí pra carregar [encher a pipa do alambique]
era levado, enchido uma tina grande de material, assim de folha, quer dizer
de ferro. Folha grossa, chapa grossa. Daí, então, quando estava bem
carregado e socado aquele material ali dentro, daí se fechava em cima bem
fechado e ligava o cano do vapor, e daí abria a caldeira. Daí aquele vapor é
que cozinhava aquele produto e levava o óleo pra fora, pra baixo. Olha, ele
saía água. É que o vapor lá dentro com o tempo vira em água. Com aquele
calor aquele óleo sai e com a água ele desce, e daí quando desce tem uma
coisa que pega, uma lata, qualquer coisa põem debaixo. Mais era um
recipiente de vidro. Daí você via bem a separação do óleo e a água porque
era diferente. O óleo ia pro fundo e a água ia pra cima. Então, assim, e
muitos óleos, a maioria do óleo vai por cima e esse ia para o fundo. Um óleo
pesado. E daí quando eles tinham um certo prazo que ele ficava fervendo,
fica lambicando, eles falavam fica lambicando, daí quando viam que [não]
saia mais nenhum óleo, só água, isso eles tinham que saber, então
desligavam a... Aquela caldeira. Fechavam a caldeira e daí tiravam o tampão
de cima e daí por um trilho, tipo um trilho de trem, mais ou menos, aquele,
aquela uma, tina eles chamavam, ele corria em cima de rodas e lá diante
tinha um guincho, ele puxava aquele negócio pra cima, aquela tina, que era
cônica, puxava pra cima, daí aquela massa daquela rama de hortelã ficava ali
e sempre colocava num jeito que ela caía tipo um barranco, um pequeno
precipício que derrubava pra baixo. Depois largavam fogo [queimava-se a
massa que sobrava] pra não acumular demais. Porque isso, quando é
lambicado, assim isso pouco tempo que estava lá fora já pegava, podia
colocar fogo já queimava. Que ficava seco de tanto calor lá dentro [na tina
de destilação]. Daí eles guardavam aquele óleo e o comprador comprava
qualquer quantidade, se um tinha mais ou menos e... Era interessante.
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Ao reconstituir a atividade praticada por outros trabalhadores a lembrança do senhor
Theobaldo tornou-se palavra “pensada, praticada, escrita”. Palavras que podem ser entendidas
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Relato do senhor Theobaldo Augusto Frederico Mohr..., relato citado.
60
Idem.