Versão brasileira da SADS – LEVITAN ET AL.
56 – Rev Psiquiatr RS. 2008;30(1)
vez que nunca removerá todos os vieses quando
adaptado para uso em outra população
35
.
Em nosso estudo, tivemos que discutir algumas
questões relativas a termos específicos da língua inglesa,
como “on the edge” e “to walk up”, que não foram
facilmente traduzidos para o português brasileiro.
Portanto, foram transformados em termos locais de acordo
com nossa cultura. Também verificamos que alguns
tradutores tendem a excluir algumas palavras que no
português brasileiro corrente podem ser omitidas; no
entanto, optamos pela manutenção da estrutura do
instrumento original com o mínimo possível de alterações.
Alguns problemas geralmente encontrados na
tradução de instrumentos do idioma original para a língua-
alvo resultam do desconhecimento por parte dos
tradutores em relação à área de pesquisa. A diferença em
termos de significado subjetivo de palavras e termos que
existem em inglês para outra língua e cultura pode não
fazer sentido em uma tradução direta, retendo muitas das
formas literalmente gramaticais da língua-fonte
13,36
.
Problemas como esse têm sido uma causa potencial de
contaminação de dados em muitos estudos transculturais,
além de serem um obstáculo contra a equivalência
15
.
Observamos que o uso de dois tradutores foi
extremamente útil na construção da versão sintética, uma
vez que as versões puderam ser confrontadas e
discutidas. Quando discrepâncias foram identificadas,
discutimos extensamente as razões e propusemos
soluções. Weeks et al.
15
orientam os autores a repetir o
procedimento por diversas etapas, já que os tradutores
trabalham com os esforços de seus predecessores. Uma
limitação de nosso estudo foi o pequeno número de
indivíduos (n = 24) que leram e avaliaram o instrumento.
Esta limitação foi atenuada pelo uso de pessoas de
diferentes níveis de escolaridade que desconheciam
qualquer versão da SADS.
Apesar de termos recrutado avaliadores
independentes e “cegos”, seria interessante pedir a um
especialista que auxilie os autores no processo de
equivalência semântica. O especialista poderia lançar
luz sobre questões que não pudemos identificar, uma
vez que é raro que os autores sejam inteiramente cegos
ao estudo. Esta pode ser considerada outra limitação de
nosso estudo.
A aplicação do pré-teste mostrou que os
participantes entenderam as situações descritas na
escala, e muitas vezes se identificaram como tendo ações
ou sentimentos semelhantes aos dos enunciados em
relação à evitação e mal-estar social. É possível que
este instrumento, ao invés de diagnosticar fobia social,
identifique dificuldades sociais comuns apresentadas
por um grande grupo de pessoas.
A adaptação transcultural e a equivalência
semântica são apenas a primeira etapa na validação de
um instrumento em qualquer idioma. Para um uso
adequado do instrumento, este deve ter boa
confiabilidade e validade, além de boa sensibilidade e
especificação
24
. Este estudo é o primeiro passo rumo à
determinação desses fatores com a aplicação da versão
em português brasileiro da SADS em uma grande
amostra da população brasileira.
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