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2.2. Escrita e “Referenciação”
A atividade discursiva pressupõe em sua constituição que façamos sistematicamente
referência a algum tópico-sujeito-situação a cujo processo denomina-se referenciação.
Sendo assim, a noção de elemento de referência se torna bastante ampla, podendo ser
representado por um nome, um sintagma, uma oração, ou até mesmo por todo um
enunciado. Na visão de LYONS (1981), a referência é a relação que se estabelece entre
expressões linguísticas e o que elas representam no mundo ou no universo discursivo. O
autor, portanto, assume como referência a relação existente entre uma expressão e
aquilo que essa expressão designa ou representa em ocasiões particulares de sua
enunciação.
De acordo com o que postula LYONS (1980, 1981), a referência ganha dimensões
generosas em se tratando de propriedades discursivas. Em primeiro plano, a referência
adquire a propriedade de ser “uma relação dependente do enunciado”, não aplicada,
portanto a itens lexicais isolados. Em segundo plano, a referência requer, para
constituir-se como fenômeno, a presença indispensável dos usuários da língua que, no
que tange a essa abordagem, assumem o papel de agentes e operadores da referência.
Cabe ao usuário da língua, no caso, cumprir o ato de referir-se a segmentos da
realidade pelo uso de uma “expressão referêncial.
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” O sucesso, portanto, da interação
discursiva nessa perspectiva depende sobremaneira da capacidade do seu interlocutor
conseguir, por meio da referência utilizada, identificar a entidade referida. A vinculação
da referência ao enunciado a partir de uma perspectiva claramente pragmática faz com
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São expressões referênciais aquelas expressões linguísticas pelas quais o locutor se refere a um
indivíduo, a um grupo de indivíduos ou a uma classe de indivíduos. A referência pode ser “definida”,
quando o referente é especificado e identificado, ou indefinida, quando o referente é específico , mas não
identificado. No primeiro caso incluem-se os sintagmas nominais definidos, os nomes próprios e os
pronomes pessoais, no segundo caso, incluem-se os pronomes indefinidos ou um sintagma nominal
introduzido por um artigo indefinido. Essa distinção é crucial para a construção e manutenção da
referência no desenvolvimento do texto.