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alternativas de sociabilidade e condições de saúde e higiene
– conseqüências, como o quer Mumford, de sua decadência
moral.
O estudo mais detalhado das áreas residenciais, se
comparado ao dos principais núcleos da cidade, tem a
vantagem de revelar as atividades de grupos sociais de
menor visibilidade. As páginas da História da Vida Privada
que tratam das relações de vizinhança nas cidades italianas,
ao final da Idade Média, são ricas em informações acerca da
sociabilidade entre a juventude – tema até então ausente
em nosso estudo.
A seguir, observamos como os jovens
se reuniam e se divertiam.
A “amistosa familiaridade que distingue o privado ampliado
na Itália” nasce, segundo Roncière, na infância,
desabrochando nas brincadeiras. As crianças de um bairro
formavam bandos – as brigates – os quais misturavam
meninos e meninas, sem nenhuma preocupação com os
meios sociais: “o filho de um rico comerciante pode formar
A prostituição remete a outro gênero de encontro mal visto pelas autoridades municipais: o jogo. Roncière
aborda essa paixão que beirava o vício e reunia pessoas de diversas partes da cidade. Muito embora os
jogadores se reunissem pelo prazer do jogo, não do contato com outros jogadores, essa prática merece ser
citada:
“Há em primeiro lugar o jogo, o jogo por excelência, o jogo de azar (ad zurdum) que é um jogo de dados.
As pessoas se entregam a eles por toda parte, com paixão, de dia ou sobretudo à noite, em casa (e
reencontramos o privado doméstico), em certos lugares tolerados (feiras, mercados), porém ainda mais
de maneira clandestina em toda parte onde um espaço, mesmo restrito, pode abrigar e dissimular
alguns jogadores e um toco de vela: mercados desertos, loggie, desvãos de portas, soleiras de palácios,
ruelas, cantos de praça, ribanceiras de um rio etc. Grupos aí se aglomeram, em meio às vociferações
surdas, reunindo ao acaso dos encontros desconhecidos originários dos mais diversos bairros,
inteiramente fora dessa sociabilidade normal que une duas pessoas dos mesmos bairros ou das mesmas
paróquias. E, no entanto, essa fauna do jogo (como aquela mais evanescente, episódica e dispersa dos
homossexuais), a despeito do desconforto, do frio, das rondas policiais (que a dão a conhecer), agarra-
se com paixão àquilo que reúne. Excrescência particular, secreta, exigente mas corrente da sociabilidade
privada, ela tem seu lugar nesse percurso panorâmico do privado.” (RONCIÈRE, 1990, p.173)
Não foi possível tratar separadamente da juventude em relação aos períodos anteriores, ela aparece
ocasionalmente. Na Grécia, por exemplo, os rapazes estavam presentes com certo destaque no ginásio,
enquanto as moças e crianças participavam do gineceu junto às mulheres adultas.
Figura 58. 1496 d.C. – Alemanha –
Albrecht Dürer. Xilogravura. “A
casa de banho”. (Museu de Arte
de Cleveland)