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influência no comportamento dos outros a ponto de poder afirmar que sua queda representaria
a queda de seus concidadãos.
Aristóteles diz também que, ao compor, o poeta poderia apoiar-se em nomes de
pessoas que existiram, geralmente, em um mito, embora pudessem também ser inventados.
De acordo com Esperanza Gurza (1977), La Celestina é uma obra cheia de contradições, a
começar pelos nomes. Melibea, por exemplo, nome de origem grega que significa voz melosa,
se converte em um instrumento de Eros e de destruição, fazendo com que o doce se torne
amargo ao prenunciar sua própria morte com sua rouca voz de cisne.
Encontramos, ainda, em um dicionário de mitologia grega a existência de três
personagens mitológicas com esse nome e entre elas há uma que protagoniza uma história de
amor, assim como em La Celestina. O mito é narrado da seguinte forma:
(Melibéia). Apaixonada por Aléxis e por ele igualmente amada,
comprometeu-se a desposá-lo. Os pais, no entanto, deram-na em casamento
a um outro pretendente. Aléxis, inconformado, exilou-se. No dia das
núpcias, Melibéia jogou-se do alto do teto de sua residência, mas,
estranhamente, nada lhe aconteceu. Como uma alucinada, fugiu em direção
ao porto e entrou no primeiro barco que encontrou. As velas
espontaneamente se inflaram e conduziram-na até um local onde se
encontrava o grande amor de sua vida. Aléxis preparava, no momento, um
banquete com seus amigos. Casaram-se, de imediato, e, cheios de gratidão
para com os deuses, ergueram em Éfeso um santuário a Ártemis,
denominada Autômata, porque a nau se pusera em movimento sozinha, e
Eepidieta, por que Melibéia chegou no momento exato de pôr-se à mesa para
o banquete, que se transformou numa festa nupcial (BRANDÃO, 1992, p.
100).
Esse mito, além do nome, lembra em algumas ações a personagem rojiana. Podemos ver, por
exemplo, o desejo de seus pais em casá-la com outro, ainda que, neste caso, não soubessem da
existência do relacionamento dela com Calisto. Assim que fica sabendo, através de Lucrecia,
do propósito deles em casá-la, ela diz assim: [...] “Si passar quisiere la mar, con él yré; si
rodear el mundo, lléveme consigo [...]” (XV, p. 547) ; como vimos no mito, a jovem é levada
pelas águas do mar até seu amado. O comentário de Melibea careceria de sentido, se fosse