Eu tenho em casa um folheto com as explicações para diagnóstico do
câncer de mama, mas não sabia como descobrir sobre câncer de
útero… (Citrino, 39 anos, casada)
Na primeira vez, eu olhei o médico, acho que foi onde eu me
descontrolei, o nervoso é tanto que batia a perna, eu não conseguia,
aí depois, eu falei, mas eu tenho que conseguir, mas depois o medico
conversou comigo, me explicou para o porquê era bom o exame e foi
me explicando tudo ... eu não me lembro se eu tampei o rosto com o
braço, acho que eu pus o braço em cima do olho, acho que foi aí eu
consegui me controlar ... daí então para mim foi normal, eu acho que
na hora da gente fazer o exame a gente fica ... nervosa, apreensiva ...
medo de ter alguma coisa horrível dentro da gente … (Petúnia, 37
anos, casada)
Eu tinha certa idéia sobre a doença, que era fatal, mas que se
descoberta ainda no início era fácil de tratar, que era uma inflamação,
que doía muito… (Flor de Laranjeira, 37 anos, solteira)
Eu tenho medo, né, de fazer, eu fico com vergonha pra olhar pra cara
do médico depois e também tem uns aí que pode ser até meu filho.
(Ametista, 33 anos, casada)
... ah! medo assim de estar doente, porque o povo conta histórias de
gente doente, de como é horrível, e realmente é horrível mesmo,
mas, para mim, foi tudo bem ... porque eu fiquei sabendo como que
estava por dentro de mim, e sabendo que eu não tenho nada, então
valeu à pena. (Quartzo , 37 anos, casada)
O sentimento mais identificado no relato das mulheres da amostra, que se
submetem ao exame de prevenção de forma regular é a vergonha. A mulher
expõe seu corpo, aflorando este sentimento, podendo ser justificado pelo tabu
do sexo, proveniente da educação recebida, bem como da falta de informação.
D´Oliveira e Senna (1996) referem que, o modo como são realizados os
exames, a explicação do seu sentido, da sua necessidade e da sua
importância, e a descoberta dos obstáculos ao exame são fundamentais na
reprodução ou transformação desta realidade e de seus simbolismos, haja
vista, que o exame, muitas vezes, representa para algumas mulheres, uma
espécie de ritual de sacrifício purificador para o corpo sempre imperfeito e
pecador, por isso o surgimento de sentimentos como a vergonha e o medo,
resultantes da pouca ou nenhuma autonomia da própria mulher sobre seu
corpo.