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situações de semi-escravidão do mineiro e do vaqueiro paraguaio, em território brasileiro,
para reduzir os custos de produção, conforme destacado a seguir:
Na área do mate, quase todo o trabalho de coleta e preparo da erva é feito por
paraguaios.
Sujeita-se o ervateiro ou mineiro aos processos de trabalho mais primitivos e brutais.
O transporte do fardo do mate, o “raio”, pesando algumas vezes mais de 150 quilos,
é feito hoje pelo ervateiro às costas; tal peso produz um intumescimento no pescoço
do mineiro, muito semelhante ao produzido pelo bócio.
O salário do empregado, muito baixo, é à base das arrobas transportadas. Daí, o
interesse do mineiro em transportar o máximo possível (CORRÊA FILHO, 1957, p.
54).
O próprio sucesso da empresa Matte Laranjeira foi atribuída à concorrência desleal,
desta com suas rivais paraguaias e argentinas, feita às custas da exploração da mão-de-obra.
2.2.6 A Marcha para o Oeste
A Marcha para o Oeste
36
, com relação a Mato Grosso e à fronteira, em especial,
repercutiu na criação, no ano de 1939, da Colônia Militar de Dourados
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e da Comissão
Especial de Revisão de Concessão de Terras na Faixa de Fronteira. Em 1943, foram
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Política territorial do Estado Novo de centralização do poder a fim de manter a integridade nacional e conter
os regionalismos, por meio de uma expansão para o Oeste. Mas, de fato, a “Marcha” resultou na ocupação e
nacionalização das fronteiras do Oeste, deixando uma lacuna territorial entre essas fronteiras e as franjas
povoadas do Leste (QUEIROZ, 1999).
Sobre a Marcha para o Oeste, Sprandel (1994, p. 19) acrescenta que “[...] Nacionalmente, começava a delinear-
se um grande projeto, chamado de ‘Marcha para o Oeste’. Nele, teve papel preponderante uma série de
intelectuais que, de uma forma ou outra, encontravam-se ligados às revistas
Estudos Brasileiros,
editada pelo
Instituto de Estudos Brasileiros, que começou a circular em julho de 1938, e
Novas Diretrizes,
do mesmo ano. Tais
revistas configuraram-se como tribuna para propostas de intelectuais como M. Paulo Filho, Moacyr Silva,
Nelson Werneck Sodré, Antônio Gavião Gonzaga, João Pinheiro Filho, Luís Amaral e Arthur Neiva. [...] Em
conferência realizada no Instituto de Estudos Brasileiros, em 10 de agosto de 1938, M. Paulo Filho alertava para
a ‘nacionalização e colonização de fronteiras’, referindo-se ao Brasil como ‘país das fronteiras abandonadas’,
notadamente no Sul do Mato Grosso, onde denunciava não haver uma população nacional.
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Foi criada em 16 de junho de 1939, juntamente com outras, na área de fronteira, pelo Decreto-Lei nº- 1.351,
visando:
a) nacionalizar as fronteiras do país, particularmente aquelas não assinaladas por obstáculos naturais;
b) criar núcleos de população nacional em trechos de fronteira situados defronte das zonas ou
localidades prósperas do país vizinho, bem como nos daquelas onde haja vias ou facilidades de
comunicação, rios navegáveis, estrada ou campos que dêem acesso ao território brasileiro;
c) promover o desenvolvimento da população nacional nas zonas ou localidades das fronteiras onde
haja exploração de minas, indústria pastoril ou agrícola em mãos estrangeiras do país limítrofe
(SPRANDEL, 1994).