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Neste trabalho, buscamos auxílio nas discussões apresentadas pela história cultural que
redescoberta nos anos 1970, vem se revigorando principalmente no meio acadêmico
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. O
campo da historia cultural explorado foi o das representações, como meio de buscar
significados para as representações historiográficas construídas por Arthur Reis em um
determinado período. Representações que receberam interpretações possivelmente geradoras
de práticas. Mas, estudar um intelectual como Reis é trabalho que não se realiza em poucas
linhas, necessitando, portanto, de outros trabalhos nesse sentido.
Tendo em vista que o “discurso histórico é, acima de tudo, representação, ou seja, a
manifestação, através da narrativa, de um sistema de representações ideológicas de um grupo
social, de uma comunidade, de um nação”
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,verificamos as raízes das representações
construídas por Arthur Reis e sua ligação com os grupos intelectuais de onde se originou.
Roger Chartier
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trabalha as noções de prática e representação, extremamente úteis à
realização desse trabalho. Chama a atenção para a contribuição de três autores na ampliação
das análises de história cultural, Michel Foucault, Michel de Certeau e Lois Marin que, apesar
de guardarem algumas diferenças entre si, defendem pontos comuns fundamentais, como a
relação entre as produções discursivas e as práticas sociais, isto é, a interdependência que há
entre a construção discursiva do mundo social e a construção social dos discursos. Dessa
forma, as práticas sociais são produtoras de discursos, assim como os discursos são moldados
de acordo com determinadas práticas que têm o poder de afirmá-los e limitá-los ao mesmo
tempo.
As práticas estão intensamente articuladas às representações. Assim, as diversas
formações sociais e culturais podem ser examinadas pela relação entre as práticas e as
representações. Este trabalho procurou analisar uma construção discursiva das representações
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Em Peter Burke podemos ver uma interessante discussão sobre os caminhos da história cultural que, longe de
ser prática nova, já era realizada na Alemanha, com essa denominação, há mais de duzentos anos. A
denominação “nova história cultural” passou a ser corrente entre os historiadores no final da década de 1980
trazendo em seu bojo um novo “paradigma”. Melhor compreendido, de acordo com Peter Burke, se analisados os
trabalhos dos quatro teóricos: Mikhail Bakhtin, Norbert Elias, Michel Foucault e Pierre Bordieu que trouxeram
contribuições significativas a esse campo do saber histórico. A história cultural se manifestou de várias formas
através do estudo da história das práticas, da fala, do experimento, da viagem com a intenção de compreender
suas significações, desvinculando-se do lado puramente teórico. Para Peter Burke, a conceituação do que seja
história cultural ainda espera por uma resposta definitiva, mas infere que talvez o deslocamento do objeto para o
método possa auxiliar nessa questão. Jacob Burchardt declarou ter usado a intuição, e “alguns descrevem seu
trabalho em termos de uma procura de significado, outros focalizam as práticas e as representações”. Cf.
BURQUE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 7.
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Buescu, Ana Isabel. “Um mito das origens da nacionalidade: o milagre de Ourique”. Conferência realizada na
Fundação Caloust Gulbenkian Outubro de 1987. Lisboa: Livraria Carta Editora, 1991. p. 49.
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CHARTIER, Roger. A beira da falésia: a história entre incertezas e inquietações. Porto Alegre: Ed.
Universidade/UFRGS, 2002.