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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL,
ARQUITETURA E URBANISMO
ARQUITETURA RURAL REFERENTE À PRODUÇÃO DE
MORANGO E CULTURAS COMPLEMENTARES NA REGIÃO
DE ATIBAIA-SP.
Antonio Laercio Perecin
Campinas
2009
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i
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO
Antonio Laercio Perecin
ARQUITETURA RURAL REFERENTE À PRODUÇÃO DE MORANGO E
CULTURAS COMPLEMENTARES NA REGIÃO DE ATIBAIA-SP.
Tese apresentada à Comissão de Pós-
graduação da Faculdade de Engenharia
Civil, Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Estadual de Campinas, como
parte dos requisitos para a obtenção do
título de Doutor em Engenharia Civil, na
área de concentração de Recursos
Hídricos.
Orientador: Prof. Dr. André Munhoz de Argollo Ferrão
Campinas
2009
ii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DA ÁREA DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - BAE - UNICAMP
P413a
Perecin, Antonio Laercio
Arquitetura rural referente à produção de morango e
culturas complementares na região de Atibaia -SP /
Antonio Laercio Perecin. --Campinas, SP: [s.n.], 2009.
Orientador: André Munhoz de Argollo Ferrão.
Tese de Doutorado - Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e
Urbanismo.
1. Construções rurais - Arquitetura. 2. Morango -
Cultivo. 3. Pavilhões para exposições - Arquitetura. 4.
Patrimônio cultural. 5. Planejamento regional. I.
Argollo Ferrão, André Munhoz de. II. Universidade
Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo. III. Título.
Título em Inglês: Rural architecture on the production of strawberry and
complementary crops in the region of Atibaia - SP
Palavras-chave em Inglês: Rural building architecture, Strawberry cultivation,
Exposition buildings architecture, Cultural property,
Regional planning
Área de concentração: Recursos Hídricos
Titulação: Doutor em Engenharia Civil
Banca examinadora: José Teixeira Filho, Fernando Cezar Leandro Scramim,
Paulo Augusto Romera e Silva, Antonio Carlos Demamboro
Data da defesa: 31/08/2009
Programa de Pós Graduação: Engenharia Civil
iii
iv
Dedicatória
À Marilza, Roberta e Fabiano.
v
Agradecimentos
Ao Prof. Dr. André Munhoz de Argollo Ferrão pela orientação, sempre apontando novos
caminhos.
Ao senhor Osvaldo Maziero, presidente da Associação dos Produtores de Morango e
Hortifrutigranjeiros de Atibaia e Região e ao senhor Mário Inui, sem os quais esta pesquisa não
teria sido possível, pois foram eles que incansavelmente nos indicaram aos demais produtores.
Agradeço também a João Fernandes Fontes, Rafael Maziero, Tadashi Suzuki, José
Lopes Camargo, Milton Matsumoto, Pérsio Giraldi, Meire Giraldi, Roberto Tanaka, Manoel
Tanaka, Élcio Spinassi e Pedro João de Mário (Fuca) pelas informações.
A todos os trabalhadores anônimos que trabalhando de sol a sol pararam por algum
momento para me dar informações. Todos eles me fizeram compreender porque este País se
desenvolve apesar de tudo.
Agradeço aos colegas de curso Matheus Guerra Cotta, Evelyn Gregory Moraes, Débora
Mortati e Luci Merthy Martins Braga, pelo companheirismo.
vi
As rosas não falam, elas simplesmente exalam o
perfume que roubam de ti.
(Cartola)
Ou,
A primeira regra e a mais fundamental de todas é
ver os fatos sociais como coisas.
(Durkheim)
vii
Resumo
PERECIN, Antonio Laercio. Arquitetura rural referente à produção de morango e culturas
complementares na região de Atibaia -SP. 2009. Tese (Doutorado em Engenharia Civil, Área:
Recursos Hídricos). Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. Universidade
Estadual de Campinas, UNICAMP. Campinas SP.
O trabalho visa mostrar que é possível correlacionar a arquitetura rural, bem como o patrimônio
cultural da cidade de Atibaia-SP, através da análise das diferentes escalas do arranjo produtivo do
morango e culturas complementares, com os processos que nele ocorrem. A arquitetura rural aqui
é vista como aquela resultante dos processos de produção agrícola e assume importância quando
é necessário conhecer um determinado espaço rural com a finalidade de planejamento do
desenvolvimento regional. Nesse sentido é útil para aqueles que necessitam tomar decisões
empresariais e para os que projetam políticas públicas para incentivo de certos setores
importantes da economia regional, bem como àqueles encarregados do projeto de engenharia que
visam materializar essas decisões e essas políticas. Concluiu-se que existe uma correlação entre
os processos que ocorrem no arranjo produtivo e a arquitetura que dele resulta.
Palavras-chave: Arquitetura Rural, Arranjos Produtivos Locais, Produção do Morango,
Planejamento Regional, Paisagem Cultural.
viii
Abstract
PERECIN, Antonio Laercio. Rural architecture on the production of strawberry and
complementary crops in the region of Atibaia - SP. 2009. Thesis (Ph.D. in Civil Engineering,
Area: Water Resources). Faculty of Civil Engineering, Architecture and Urbanism. State
University of Campinas, UNICAMP. Campinas SP.
The work aims to show that it is possible to correlate the rural architecture and the cultural
heritage of the city of Atibaia-SP, through the analysis of the different scales of production
arrangement of strawberry crops and complementary to then, with the processes that occur
therein. The rural architecture here that is seen as resulting from processes of production and is
important to know when a rural area with the aim of regional development planning. In this sense
it is useful for those who need to make business decisions and for those who design public
policies to encourage certain important sectors of the regional economy as well as those
responsible for engineering project aimed at realizing those decisions and those policies. It was
concluded that there is a correlation between the processes that occur in production arrangement
and architecture that follows it.
Keywords: Rural Architecture, Local Productive Arrangements, Production of Strawberry,
Regional Planning, Cultural Landscape.
ix
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 3.1 – Modelo de arranjo produtivo ........................................................................ 30
Figura 4.1 – Imagem da unidade A ...................................................................................
38
Figura 4.2 – Imagem da unidade B ................................................................................... 39
Figura 4.3 – Imagem da unidade C ................................................................................... 41
Figura 4.4 – Imagem da unidade D ...................................................................................
42
Figura 4.5 – Imagem da unidade E ................................................................................... 43
Figura 4.6 – Imagem da unidade F ................................................................................... 45
Figura 4.8 – Imagem da unidade G ...................................................................................
46
Figura 4.9 – Imagem da unidade H ...................................................................................
48
Figura 4.10 – Imagem da unidade I .................................................................................. 50
Figura 5.1 – Preparação do terreno com a grade .............................................................. 54
Figura 5.2 – Construção do canteiro ................................................................................. 54
Figura 5.3 – Parte do equipamento destinada a revolver o solo ....................................... 55
Figura 5.4 – Faixas de nutrientes aplicados sobre o canteiro ........................................... 56
Figura 5.5 – Irrigação inicial do canteiro, por aspersão ....................................................
56
Figura 5.6 – Processos de capina ...................................................................................... 57
Figura 5.7 – Colocação das mangueiras de irrigação por gotejamento ............................ 58
Figura 5.8 – Colocação do plástico ................................................................................... 58
Figura 5.9 – Início da floração após a aplicação do plástico ............................................ 59
Figura 5.10 – Canteiros em fase mais adiantada .............................................................. 60
Figura 5.11 – Canteiro preliminar com estrutura de sombreamento ................................ 60
Figura 5.12 – Morango replantado com estrutura de sombreamento ............................... 61
Figura 5.13 – Morangueiro replantado ............................................................................. 62
Figura 5.14 – Reservatórios com barragem para irrigação ............................................... 63
Figura 5.15 – Reservatórios com dique paralelo ao curso de água ...................................
64
Figura 5.16 – Tomada de água direta no rio ..................................................................... 64
Figura 5.17 – Estação de bombeamento da unidade B ..................................................... 65
Figura 5.18 – Estação de rebaixamento de tensão ............................................................ 66
Figura 5.19 – Conjunto de bombeamento complementar ................................................. 66
Figura 5.20 – Caixa de medição de energia ...................................................................... 67
Figura 5.21 – Conjunto motor-bomba acionado por motor diesel .................................... 67
Figura 5.22 – Pequeno conjunto motor-bomba acionado por motor diesel ...................... 68
Figura 5.23 – Pequeno sistema de ferti-irrigação e filtragem ........................................... 69
Figura 5.24 – Sistema de ferti-irrigação e filtragem com maior dimensão ...................... 69
Figura 5.25 – Pequeno sistema de filtragem com filtros de areia e de placas .................. 70
Figura 5.26 – Sistema de distribuição por gravidade ........................................................
70
x
Figura 5.27 – Sistema com bombeamento sem caixa de água ..........................................
71
Figura 5.28 – Vista complementar do sistema com bombeamento sem caixa de água .... 71
Figura 5.29 – Morango em ponto de colheita ................................................................... 73
Figura 5.30 – Colheita do morango .................................................................................. 73
Figura 5.31 – Morangos em ponto de colheita na unidade B ........................................... 74
Figura 5.32 – Cestas para colheita .................................................................................... 75
Figura 5.33 – Material para colheita e embalagem ........................................................... 75
Figura 5.34 – Embalagem plástica para transporte ........................................................... 76
Figura 5.35 – Embalagem antes da montagem ................................................................. 77
Figura 5.36 – Galpão para embalagem permanente ......................................................... 77
Figura 5.37 – Abrigo provisório para embalagem ............................................................ 78
Figura 5.38 – Abrigo provisório de um meeiro para embalagem ..................................... 78
Figura 5.39 – Câmaras frigoríficas ................................................................................... 80
Figura 5.40 – Plantação de pimentão como forma de rotação de cultura com o morango 81
Figura 5.41 – Plantio de flores .......................................................................................... 81
Figura 5.42 – Plantio de milho doce ................................................................................. 82
Figura 5.43 – Apicultura ................................................................................................... 83
Figura 5.44 – Apicultura - complementar ......................................................................... 83
Figura 5.45 – Culturas complementares na unidade C ..................................................... 84
Figura 5.46 – Moradias das famílias dos proprietários das unidades produtivas ............. 86
Figura 5.47 – Moradias das famílias dos proprietários das unidades produtivas nas
unidades C e D .................................................................................................................. 87
Figura 5.48 – Moradia das famílias dos meeiros das unidades produtivas .......................
87
Figura 5.49 – Moradia da família do encarregado da unidade produtiva F ...................... 88
Figura 5.50 – Galpões para manutenção de equipamentos ............................................... 89
Figura 5.51 – Galpão para a manutenção de equipamentos da unidade C ....................... 90
Figura 5.52 – Galpão para a manutenção de equipamentos da unidade F ........................ 90
Figura 5.53 – Viveiro para formação de mudas ................................................................
93
Figura 5.54 – Mudas extraídas para replante em outra unidade ....................................... 93
Figura 5.55 – Vista aérea do conjunto arquitetônico da festa durante o evento de 2008 95
Figura 5.56 – Portal do parque onde ocorre o evento anual ............................................. 96
Figura 5.57 – Igreja de São João .......................................................................................
96
Figura 5.58 – Imagem interna da igreja ............................................................................ 97
Figura 5.59 – Pavilhão de exposições ............................................................................... 97
Figura 5.60 – Vista interna do pavilhão de exposições durante a festa de 2008 .............. 98
Figura 5.61 – Galpão para venda de produtos .................................................................. 98
Figura 5.62 – Galpão para o restaurante italiano .............................................................. 99
Figura 5.63 – Imagens complementares do galpão para o restaurante italiano ................ 99
Figura 5.64– Outras imagens complementares do galpão do restaurante italiano ............
100
Figura 5.65 – Imagem externa do galpão do restaurante japonês ..................................... 100
Figura 5.66 – Vistas internas do galpão para o restaurante japonês ................................. 101
Figura 5.67 – Palco para apresentações durante os eventos ............................................. 101
Figura 5.68 – Imagem interna do palco ............................................................................ 102
Figura 5.69 – Morango premiado em 2007 ...................................................................... 103
Figura 5.70 – Atividades particulares durante a festa de 2008 ......................................... 104
Figura 5.71 – Entrada do Parque Municipal Edmundo .................................................... 104
xi
Figura 5.72 – Salão de venda de flores na festa de 2008 .................................................. 105
Figura 5.73 – Salão de venda de flores na festa de 2008 .................................................. 106
Figura 5.74 – Praça de alimentação na festa de 2008 ....................................................... 106
Figura 5.75 – Espaço para a venda de frutas na festa de 2008 ......................................... 107
Figura 5.76 – Embalagens para a comercialização do morango na festa de 2008 ........... 108
Figura 5.77 – Embalagens do morango empilhadas na festa de 2008 .............................. 109
Figura 5.78 – Outros tipos de frutas comercializadas na festa de 2008 ............................
109
Figura 5.79 – Localização e acesso à cidade .................................................................... 111
Figura 5.80 – Localização na Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí .................. 112
Figura 5.81 – Barragem e reservatório no rio Atibaia ...................................................... 116
Figura 5.82 – Vertedor da barragem ................................................................................. 117
Figura 5.83 – Serra de Itapetinga ...................................................................................... 117
Figura 5.84 – Vistas complementares da Serra de Itapetinga ........................................... 118
Figura 5.85 – Fazenda Santana ......................................................................................... 119
Figura 5.86 – Fazenda Santana – tulha, senzala e terreiro ................................................ 119
Figura 5.87 – Fazenda Santana – detalhes internos .......................................................... 120
Figura 5.88 – Fazenda Santana – parlatório ..................................................................... 120
Figura 5.89 – Fazenda Santana – casa de colônia e capela ...............................................
121
Figura 5.90 – Fazenda Santana – outros imóveis ............................................................. 121
Figura 5.91 – Fazendola ....................................................................................................
122
Figura 5.92 – Vistas complementares do terreiro e tulha ................................................. 122
Figura 5.93 – Detalhes de drenagem do terreiro ............................................................... 123
Figura 5.94 – Museu municipal ........................................................................................ 125
Figura 5.95 – Igreja do Rosário ........................................................................................ 125
Figura 5.96 – Igreja do Rosário em 1946 ......................................................................... 126
Figura 5.97 – Igreja Matriz ............................................................................................... 127
Figura 5.98 – Sobrado Júlia Ferraz ................................................................................... 128
Figura 5.99 – Congada ...................................................................................................... 129
Figura 5.100 – Festas do Morango ................................................................................... 131
Figura 5.101 – Apresentações individuais com taikos ..................................................... 131
xii
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 4.1 – Dados geográficos da unidade A ............................................................... 37
Tabela 4.2 – Dados geográficos da unidade B ............................................................... 38
Tabela 4.3 – Dados geográficos da unidade C ............................................................... 40
Tabela 4.4 – Dados geográficos da unidade D ............................................................... 41
Tabela 4.5 – Dados geográficos da unidade E ............................................................... 42
Tabela 4.6 – Dados geográficos da unidade F ............................................................... 44
Tabela 4.7 – Dados geográficos da unidade G ............................................................... 46
Tabela 4.9 – Dados geográficos da unidade H ............................................................... 47
Tabela 4.10 – Dados geográficos da unidade I ...............................................................
49
Tabela 5.1 – Principais cultivares do morango – empresa Multiplanta ......................... 91
Tabela 5.2 – Coordenadas geográficas da cidade de Atibaia ......................................... 110
Tabela 5.3: Área Cultivada, Município de Atibaia, Estado de São Paulo, 2007/2008 ...
113
Tabela 5.4 – Estância de Atibaia – População ............................................................... 115
xiii
SUMÁRIO
Página
1
INTRODUÇÃO...........................................................................
1
2
OBJETIVOS ...............................................................................
3
2.1 Considerações a respeito dos objetivos da pesquisa
....................
4
2.2 Exclusões ...........
...........................................................................
4
3
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................
7
3.1 Arquitetura rural
...........................................................................
7
3.1.1 Paisagem cultural
.........................................................................
9
3.1.2 Locais com eventos tradicionais: Event Places
...........................
12
3.1.3 Arquitetura rural e os arranjos produtivos locais
.........................
16
3.1.4 Visão de processos, enfoque sistêmico
........................................
22
3.1.5 O espaço urbano e o rural
..............................................................
26
3.1.6 O lugar e a globalização
...............................................................
28
3.2 Um modelo conceitual de pesquisa para a arquitetura rural
........
30
3.2.1 Escala das unidades envolvidas no arranjo produtivo
..................
31
3.2.1.1 Aspectos relativos à organização da produção
.............................
32
3.2.1.2 Aspectos relativos ao edifício e aos equipamentos
......................
32
3.2.1.3 Aspecto agroecológico
.................................................................
33
3.2.2 Escala regional
..............................................................................
33
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
.................................
35
4.1 Forma de abordagem
....................................................................
35
4.2 Forma de escolha das unidades estudadas
...................................
36
4.3 Unidades produtivas estudadas
....................................................
36
4.4 Unidade fornecedora estudada
.....................................................
45
4.5 Unidades distribuidoras estudadas
...............................................
47
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
.................................................
51
5.1 Elementos de arquitetura rural na escala das unidades
envolvidas no arranjo produtivo ...................................................
51
5.1.1 Unidades produtivas
.....................................................................
51
5.1.1.1 Perfil dos proprietários e tamanho das propriedades
...................
51
5.1.1.2 O processo de organização do trabalho na produção
...................
52
xiv
5.1.1.3 A arquitetura dos canteiros para a produção do morango
............
53
5.1.1.4 O processo de plantio e manejo do morango
...............................
55
5.1.1.5 O processo de irrigação
................................................................
63
5.1.1.6 O processo de colheita e embalagem
...........................................
72
5.1.1.7 As culturas complementares
........................................................
80
5.1.1.8 As moradias vinculadas à produção do morango
.........................
86
5.1.1.9 Os galpões para guarda e manutenção de equipamentos
.............
89
5.1.2 Unidades fornecedoras
.................................................................
90
5.1.3 Unidades distribuidoras
.................................................................
94
5.1.3.1 Festa do Morango e Expolegumes
...............................................
94
5.1.3.2 Festa de Flores e Morangos de Atibaia
........................................
104
5.2 Elementos de arquitetura rural na escala regional
........................
110
5.2.1 Barragem e reservatório da Usina Hidrelétrica de Atibaia
..........
116
5.2.2 A paisagem da Serra de Itapetinga
...............................................
117
5.2.3 Patrimônio arquitetônico, cultural e religioso
..............................
118
5.2.3.1 Fazenda Santana
...........................................................................
118
5.2.3.2 Fazendola
.....................................................................................
122
5.2.3.3 Museu Municipal João Batista Conti
...........................................
124
5.2.3.4 Igreja Nossa Senhora do Rosário
.................................................
125
5.2.3.5 Igreja de São João Batista
............................................................
126
5.2.3.6 Sobrado Júlia Ferraz
.....................................................................
127
5.2.4 Festas populares e manifestações folclóricas
...............................
128
5.2.4.1 Congada
........................................................
................................
128
5.2.4.2 Cavalhada
.....................................................................................
129
5.2.4.3 Festa da comunidade de origem japonesa
....................................
130
6 CONCLUSÕES
............................................................................
133
7 RECOMENDAÇÕES
..................................................................
136
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
.........................................
137
1
1 INTRODUÇÃO
A Arquitetura Rural aqui é vista como aquela resultante dos processos de produção
agrícola e assume importância quando é necessário conhecer um determinado espaço não urbano
com a finalidade de planejamento regional e de seu ordenamento para o desenvolvimento
regional.
Nesse sentido, é útil para os que necessitam tomar decisões empresariais e para aqueles
que projetam políticas públicas para incentivo de certos setores importantes da economia regional
ou são encarregados dos projetos de engenharia que visam a materializá-las.
Este trabalho filia-se a uma linha de pesquisa acadêmica voltada para o planejamento
regional e ao estudo do patrimônio e paisagem.
Visa a conhecer os processos que ocorrem na região de Atibaia SP, e que estão
relacionados a uma importante atividade econômica que nela ocorre, que é a produção de
morangos e as outras culturas a ela associadas. Utiliza-se da categoria de análise conhecida como
Arranjos Produtivos Locais que vem sendo largamente utilizado em estudos com escopo similar
ao deste, por estudiosos do planejamento regional e equipes encarregadas de políticas públicas
para o desenvolvimento regional.
As escalas consideradas foram a das unidades produtivas, fornecedoras de insumos e
distribuidoras, relacionadas ao arranjo produtivo local e à escala regional onde foi levado em
consideração o patrimônio arquitetônico e cultural da cidade, pois estes são parte importante dos
atrativos para os consumidores de morango.
2
O objetivo fundamental do trabalho foi caracterizar a Arquitetura Rural da região de
Atibaia-SP, tendo como base o arranjo produtivo do morango e culturas complementares,
procurando detectar a possibilidade de existir uma correlação com os processos de produção
agrícola que ocorrem na região.
3
2 OBJETIVOS
O objetivo desta pesquisa é:
Caracterizar a Arquitetura Rural da região de Atibaia-SP, tendo como base o arranjo
produtivo do morango e culturas complementares.
Esse objetivo desdobra-se em:
1 Construir um modelo conceitual do arranjo produtivo em duas escalas: escala das
unidades (produtivas, fornecedoras e distribuidoras) e escala da região. O intuito desse modelo
conceitual é tornar mais claras as inter-relações entre os agentes que atuam no arranjo produtivo.
2 Identificar os processos relevantes que interferem na arquitetura rural na escala das
unidades do arranjo produtivo do morango e culturas complementares.
3 Identificar os principais processos e elementos culturais que interferem na
arquitetura rural do morango e culturas complementares na escala regional.
4 – Caracterizar a Arquitetura Rural no âmbito do arranjo produtivo.
A hipótese de trabalho é:
É possível correlacionar a arquitetura rural, bem como o patrimônio cultural da cidade
de Atibaia-SP, com os processos que ocorrem no arranjo produtivo do morango e culturas
4
complementares, através da análise dos mesmos, nas escalas das unidades envolvidas e regional,
constantes no modelo conceitual apresentado no capítulo 3.
2.1 Considerações a respeito dos objetivos da pesquisa
A visão da arquitetura rural objeto desta pesquisa envolve todos os processos de
produção, incluindo as estruturas de plantio, estufas, sistemas de irrigação, aspetos relativos à
logística interna e externa, marketing, vendas (rede de distribuição) e serviços. Foram
verificados, também, os aspectos relacionados às economias de escala.
São estudadas as estruturas edificadas para abrigar os equipamentos e os produtos nas
diversas fases do processo, o planejamento do espaço físico (especialmente o espaço produtivo),
a arquitetura das construções complementares (galpões, depósitos e câmaras frigoríficas), bem
como a sede da unidade e as habitações dos trabalhadores.
Destaque é dado também aos elementos do patrimônio cultural, objetivados através dos
elementos arquitetônicos, tais como antigos casarões e senzalas, terreiros, casas de colônias,
capelas, engenhos, equipamentos para produção de energia, destacando-se métodos construtivos e
materiais utilizados.
Envolvem as soluções que visam a contornar os problemas climáticos, preparo dos
produtos para transporte, melhoramento genético das plantas capaz de proporcionar alta
produtividade, resistência às pragas, qualidade e uniformidade dos produtos, forma de dispor dos
rejeitos relativos ao processo produtivo.
2.2 Exclusões
Não fazem parte desta pesquisa os seguintes aspectos:
5
A questão ambiental relativa à produção agrícola de forma geral e do morango em
especial, principalmente nos aspectos de sustentabilidade e disponibilidade de água para a
continuidade da produção.
O aspecto da contaminação dos cursos de água em função da produção agrícola e da
utilização de fertilizantes, defensivos e erosão.
Melhoria dos processos produtivos e das relações de trabalho de forma a remunerar
melhor os produtores e trabalhadores, bem como melhorar as condições de trabalho e
acomodação dos trabalhadores, propiciando a diminuição do êxodo para outras atividades.
Especulação imobiliária quanto aumento do valor da terra, a ocupação de áreas
potencialmente utilizáveis para a produção agrícola, bem como o impacto na qualidade da água.
Quantificação da renda gerada pelo setor de produção agrícola e seu impacto sobre a
economia local.
6
7
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Arquitetura rural
Na literatura, é difícil encontrar estudos que trabalham a arquitetura rural sob o enfoque
de uma arquitetura da produção, como se pretende neste trabalho. O que pode ser encontrado
prioriza a história da arquitetura, principalmente no que se refere à habitação, no período do café
(LEMOS, 1999, 2000; SAIA, 1995), salientando uma preocupação com a compreensão do espaço
por meio da cultura.
Com uma abordagem que engloba os conceitos empregados nesta pesquisa, situam-se os
trabalhos de Argollo Ferrão (2004b; 2004c), que a partir de pesquisas sobre a arquitetura da
produção rural cafeeira no Estado de São Paulo (ARGOLLO FERRÃO, 1998; 2004a), identificou
quatro níveis de estudos, que são:
Nível regional: as regiões produtoras de café, a lógica da ocupação dos espaços
geográficos e a evolução da infra-estrutura de apoio.
Nível da propriedade: estuda a arquitetura das fazendas de café, enfatizando os
aspectos relativos aos padrões arquitetônicos compatíveis com o modo de produzir
em cada período do ciclo cafeeiro.
Nível do edifício e do maquinário: enfatiza a arquitetura do núcleo industrial das
fazendas, incluindo o terreiro, a tulha e a casa de máquinas, além do layout interno e
externo dos edifícios para a eficiência das operações envolvidas de secagem e
8
beneficiamento dos grãos. Levou-se em conta também o patrimônio industrial
envolvido nas fazendas de café.
Nível agro-ecológico: enfatiza a arquitetura do cafezal, na qual estava previsto o
manejo das lavouras de forma que houvesse proteção contra as intempéries, ao
mesmo tempo racionalizando o manejo das plantações, a colheita e os processos
pelos quais passavam os produtos. Considerou-se também a própria arquitetura do
cafeeiro, com os trabalhos de melhoramento genético do cafeeiro de forma a
propiciar uma planta com formato, tamanho, resistência de ramos e folhas e outros
atributos, capazes de proporcionar um ganho de produtividade.
Sobre o método de abordagem sistêmica e visão de processos para o estudo e
caracterização da arquitetura rural, Argollo Ferrão (2004b, p. 16; 2004c, p. 140) propõe o que ele
denomina de “vetores de co-evolução”, que têm a ver com os aspectos que inter-relacionam o
processo produtivo e o processo cultural com a arquitetura rural.
O primeiro vetor diz respeito à compreensão dos processos culturais que afetam e são
afetados pelo complexo produtivo. Leva-se, então, em consideração fatos da história local,
regional, nacional e até mesmo mundial, assim como as características geográficas,
socioeconômicas, ecológicas e as demais que compõem o contexto que se pretende estudar.
O segundo vetor diz respeito aos processos produtivos, que envolvem a questão de
desenvolvimento de ciência e tecnologia e que estão diretamente ligados à evolução da
arquitetura rural.
Estes dois vetores salientam a co-evolução no contexto do complexo de produção, tendo
em vista a integração dos processos culturais e dos processos produtivos.
O terceiro vetor, que expressa a co-evolução dos dois primeiros vetores, representa o
processo de conformação da arquitetura do processo de produção agrícola em estudo.
9
Esses níveis de estudo e os vetores de co-evolução são os eixos que estruturam a nossa
pesquisa, e deixam claros os aspectos que a norteiam. Houve, pois, a necessidade de levar em
conta a realidade natural e social, a questão do espaço e tempo, e da utilização de conceitos que
aproximem a pesquisa, o mais possível, da realidade em sua complexidade.
3.1.1 Paisagem cultural
Diversos autores têm estudado o espaço geográfico e também a arquitetura da produção
agrícola sob a categoria de análise denominada Paisagem Cultural.
Segundo Sabaté (2004), as origens do termo paisagem cultural poderia ser rastreada a
partir dos historiadores alemães e geógrafos franceses do final do século XIX, mas a sua
conceituação atual apareceu no início do século XX. O professor Carl Sauer estendeu seu uso nos
ambientes universitários norte-americanos na década de 1920. Para este, uma paisagem cultural é
o resultado da ação de um grupo social sobre a paisagem natural. A cultura é o agente, o natural o
meio; a paisagem cultural o resultado.
Baseado nesse conceito, foi criado o Laboratório Internacional de Paisagens Culturais
1
,
em setembro de 2001, em Barcelona, Espanha, por vários professores e pesquisadores do
Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Universitat Politècnica de Catalunya (UPC),
com o objetivo de desenvolver pesquisas e a promoção da paisagem cultural. Essa infra-estrutura
resultou, com o suporte do governo da Catalunha, do município de Barcelona, bem como de
outras agências governamentais e instituições independentes, em importantes estudos ligados ao
planejamento local, destacando-se um estudo sobre a bacia hidrográfica do rio Llobregat.
(SABATÉ; SCHUSTER, 2001; SABATÉ, 2004) A partir da experiência desse laboratório surge
então a seguinte definição: Paisagens Culturais são aquelas áreas geográficas associadas a um
evento, uma atividade, um personagem histórico, que contém valor estético, de memória e
cultural.” (SABATÉ; FRENCHMAN; SCHUSTER, 2004)
1
International Laboratory on Cultural Landscape.
10
Na literatura proveniente desses estudos são citados diversas pesquisas e trabalhos de
planejamento para o desenvolvimento local, nos Estados Unidos e em todo o mundo. Nesta
mesma linha, podem ser também encontradas pesquisas no Brasil, Uruguai, Argentina e Chile
(SABATÉ, 2004).
No Brasil, esse conceito foi utilizado também por Argollo Ferrão (2005) para o estudo
da paisagem cultural do café.
Ainda na Europa, têm sido feitas pesquisas transdisciplinares utilizando essa categoria
de análise (TRESS; TRESS, 2001; JAKOBSEN; HELS; MCLAUGHLIN, 2004) e houve um
evento acadêmico no qual foram expostas pesquisas realizadas em todo o mundo (TRESS et. al.,
2004).
Nesta vertente de estudos (TRESS; TRESS, 2001) destaca-se que, na ciência, paisagem
é o ponto focal de um conjunto de disciplinas e um campo de interesse para muitos. Nesse
contexto, introduziu-se um conceito transdisciplinar para paisagem, que compreende cinco
dimensões e ilustra como ocorre a interação entre as pessoas e a paisagem, com um embasamento
para as ciências naturais e sociais.
Essas cinco dimensões são:
Paisagem como uma entidade espacial.
Paisagem como uma entidade mental.
Paisagem como uma dimensão temporal.
Paisagem como um nexo entre natureza e cultura.
Paisagem como um sistema complexo.
Por razões metodológicas, essas dimensões são descritas uma após a outra, embora não
existam separadamente, mas co-existam. Desta forma, e sempre de acordo com esses autores
(TRESS; TRESS, 2001, p. 147-149), apresenta-se o significado de cada uma.
11
A paisagem como uma entidade espacial refere-se ao fato de que esta tem uma dimensão
material e, portanto, é uma realidade palpável. Na longa tradição de pesquisa sobre a paisagem
geográfica, bem como acerca da ecológica, a paisagem como uma entidade espacial foi a pedra
angular de todo o debate científico sobre a mesma, além da adição de outros significados. Hoje,
existe um amplo consenso sobre o fato de que as paisagens têm uma dimensão espacial.
Paisagem como uma entidade mental está embasada na percepção, que é influenciada
pela capacidade de nossas mentes para a percepção seletiva, que está sempre embutida no
contexto social e cultural dos indivíduos e da sociedade. Nossa visão de paisagens é um produto
da cultura. Por conseguinte, a mesma paisagem pode ser percebida de maneiras diferentes
conforme os observadores. Notemos que a paisagem se desenvolveu em um processo de co-
evolução com as pessoas, não existiria na sua forma atual, sem influência humana. Estas duas
primeiras dimensões do conceito de paisagem ilustram a relação dualista entre as pessoas e a
paisagem.
A dimensão temporal das paisagens remete à visão geral do conceito de paisagem
histórica e envolve uma compreensão e percepção que varia ao longo do tempo. Paisagens não
são estáticas, mas sujeitas a mudanças em curso. O tempo, entretanto, tem sido muitas vezes
relegado para segundo plano, quando as funções da paisagem são freqüentemente explicadas com
modelos estáticos.
A paisagem como nexo entre natureza e cultura está centrada sobre as relações mútuas
que existem entre as três dimensões anteriores. Desde que os seres humanos evoluíram, passaram
a alterar as paisagens. Paisagens de hoje são o resultado visível desse processo histórico, ou seja,
elas resultam não somente de processos naturais, nem exclusivamente de processos culturais.
Este conceito implica que as pessoas influenciam a paisagem, mas também esta influencia as
pessoas. Por conseguinte, a paisagem é o ponto exato onde a natureza e a cultura entram em
contato, que as esferas materiais e mentais ocorrem juntas. Natureza e cultura não são
homólogas, mas sim complementares, são entidades que se sobrepõem. Ciências naturais,
ciências sociais e humanas que pesquisam esse assunto também devem ser vistas como entidades
complementares.
12
A análise da paisagem como um sistema complexo é a quinta dimensão do seu conceito.
O pensamento sistêmico é um método de investigação científica que permite uma compreensão
de realidades complexas. Trata-se de focar as relações entre os subsistemas e vê-los no contexto
do todo e não apenas como entidades separadas. Cada subsistema pode ser analisado de forma
independente um do outro, mas é quando são combinados que podemos falar da paisagem
como tal. Na medida em que os subsistemas de paisagem são combinados em um único sistema,
estamos aplicando uma abordagem holística. Como parte do ecossistema humano total, a
paisagem é um sistema aberto que se comunica com o meio ambiente por fluxos de energia,
matéria e informação.
No Brasil, Santos salienta que paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o
conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as
sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida
que as anima”.(SANTOS, 2006, p. 103)
Ao estudar a arquitetura rural, o conceito de paisagem cultural salienta a necessidade de
levar em conta a realidade natural e social, em sua complexidade.
3.1.2 Locais com eventos tradicionais: Event Places
Várias atividades festivas acontecem em espaços bem singulares que lhes dão
características únicas. Ocorre muito freqüentemente que estas atividades e espaços são
intimamente relacionados. A discussão, neste caso, deve centrar seu foco sobre o que de
comunicativo, narrativo ou memorável dos lugares e eventos, em vez de meramente referir-se a
espaços e atividades. Estes lugares e eventos, então, são formas de transmitir informações que
divulgam a história de uma cidade ou região e suas tradições peculiares. A língua inglesa já tem
uma frase com a qual se reconhece o significado dessa relação entre lugares e eventos: event
places
2
.
2
Locais com eventos tradicionais a eles associados.
13
Normalmente o que se observa é a junção entre espaços únicos e relevantes (geralmente
públicos, ou pelo menos acessíveis ao público durante a ocorrência do evento), com eventos
periódicos, no qual ambos são importantes. Eles implicam a junção entre espaços públicos e
história da cidade, ou entre a forma física e significados. Têm-se assim alguns pontos de
referência que definem a imagem urbana e o caráter distintivo da cidade e seus habitantes, para
visitantes, estudiosos e às vezes aqueles que nunca a visitaram. São fatores importantes com os
quais se incrementa a promoção das cidades por meio da mídia.
Pode-se, através do estudo desses espaços e ambientes, obter várias informações que
poderão servir de referência para um enfoque mais sensível em termos culturais para o projeto
urbano, ajudando a melhorar o projeto e a gestão dos espaços públicos de comunicação e
melhorar (ou incrementar) as atividades culturais e os eventos.
Uma das muitas manifestações do processo de globalização é o incremento da
habilidade das cidades e territórios para atrair a atenção de visitantes, investidores, residentes,
estudiosos e curiosos. Verifica-se que a importância desses lugares diferenciados está
aumentando, e sobre alguns se pode dizer que estão caminhando para uma reabilitação. Essas
cidades qualificadas pela associação de história, pessoas e eventos estão incrementando sua
significação e adquirindo uma nova posição em uma economia baseada na informação.
A partir dessas constatações, a primeira hipótese, que norteou a referida pesquisa
(SABATÉ; FRENCHMAN; SCHUSTER, 2004), foi que os eventos deixam sua marca no local,
além da transformação momentânea que ocorre durante o evento. Entretanto, considera-se,
também, o corolário a essa afirmativa, ou seja, que as características dos lugares associados com
os eventos acabariam transformando os mesmos. Por extensão, pode-se imaginar que os eventos
modelam espaços e dessa forma transformam as cidades.
Seguindo esse raciocínio, os event places funcionariam como verdadeiros monumentos
que enriquecem a identidade das cidades e servem como atrações turísticas, além de conquistar
trabalhadores qualificados e novos moradores. Em conseqüência ficariam mais importantes no
futuro, podendo contribuir para a melhoria do recolhimento tributário da cidade, ajudando a
impulsionar projetos de renovação urbana e estimular a economia local.
14
Estudando e aprendendo com as características desses espaços, urbanistas podem
melhorar as suas intervenções em projetos de grande significação, que o “local” é examinado
como espaço físico que acolhe um evento, podendo perder-se parte de seu significado social,
urbano e histórico; mas simultaneamente, pode-se visualizar o local como o objeto de intervenção
do arquiteto e do urbanista, como forma fundamental de relacionar espaços com as pessoas, suas
atividades e histórias.
De acordo com
Sabaté, Frenchman e Schuster (2004), podem-se classificar os event
places como portadores de uma das seguintes tipologias:
Nodal ou concentrada: estes são eventos que ocorrem em um espaço claramente
definido e delimitado, como uma praça ou outra área confinada, que favoreça o
relacionamento, pois os participantes estão próximos e podem ter uma visão melhor
sobre como o evento se desembaraça.
Linear ou itinerante: aqui, encontram-se os eventos que se movimentam de um lugar
para outro, como é o caso dos desfiles e peregrinações. Em termos gerais, este é o
caso em que é favorecido o relacionamento mais dinâmico e participativo, uma
maior mescla da linha entre os espectadores e participantes e torna impossível ver o
evento como um todo.
Multinodal ou policêntrico: incluem múltiplos eventos que têm lugar
simultaneamente em diferentes locações em uma cidade ou em certa área. Favorece
o envolvimento de uma ampla variedade de diferentes grupos, encerrando uma
mistura de características das duas categorias anteriores.
Obviamente, escala é também um item importante que tem que ser levado em
consideração. Alguns event places podem ser considerados como ocorrendo em uma escala local,
como as que correm em uma área urbana mais ou menos confinada. Outros, às vezes, têm uma
escala diferente e podem ocorrer em uma área mais ampla ou simultaneamente em diferentes
cidades com certa coordenação e com características similares. Se esses eventos forem
examinados como um grupo, podemos imaginar um itinerário para a próxima edição do evento
ou também em muitos casos de uma cidade para a outra.
15
Conforme
Sabaté, Frenchman e Schuster (2004), uma seqüência de itens para nortear a
pesquisa pode então ser delineada:
1 – Sobre o evento: as origens, motivações, história, tipo, contexto, evolução, frequência
e localização do evento.
Este primeiro item deve conter uma descrição sucinta do evento, com ênfase em como
ocorre, a periodicidade, o perfil dos participantes, a origem histórica e como se relaciona a outros
eventos similares, como tem mudado com o tempo, o reconhecimento que recebe e ,finalmente,
outro festival ou evento que ocorre durante o evento principal.
Um dos aspectos é a evolução ao longo do tempo. Lugar e evento podem propiciar um
meio de expressão para uma dada sociedade e estão sujeitos a mudanças ao longo do tempo. A
história do encontro entre o lugar e o evento pode revelar caminhos diferentes de interpretação.
Há casos em que essa revelação é direta.
2 Sobre o local: a estrutura física, organização (permanente ou temporária), percepção
do lugar, descrição física e dimensões.
Este item deve descrever o lugar em torno (região, localidade, vizinhança etc.); como o
espaço é usado, sua forma e dimensões; tipos de elementos que o compõe; como o lugar é
transformado durante o evento.
3 Sobre o uso do lugar: a audiência do evento, período de ocupação e o tipo de
atividades que ocorrem.
Este item deve tentar explicar como o evento ocupa o lugar ou lugares; que tipo de
relação existe com os residentes, quem eles são e como participam, quantos visitantes o assistem
de onde vêm e para onde voltam.
4 Sobre a organização do evento: como o evento é divulgado e organizado e os atores
envolvidos.
16
Este item deve ser relacionado direta ou indiretamente à participação dos residentes
tanto quanto outros protagonistas enfocam os grupos responsáveis pela organização do evento,
sua natureza e mudanças que são efetuadas ao longo do tempo, esclarecendo sobre a preparação
do evento e dos eventos que ocorrem simultaneamente, preparam o seu orçamento e mensura a
publicidade necessária.
Baseados nos estudos efetuados, os autores (SABATÉ; FRENCHMAN; SCHUSTER,
2004) externaram algumas constatações importantes, que podem ser utilizadas em novos estudos:
A maioria dos eventos são profundamente enraizados na tradição coletiva, embora
possam ser objeto de invenção.
A característica mais importante dos lugares é que eles comunicam algo e são
significativos.
Na maioria dos casos examinados pelos estudos, o lugar e o evento estão
intimamente inter-relacionados.
O desenho (design) do lugar tem importância fundamental para o sucesso do evento.
Os organizadores devem ser hábeis para acomodar um número crescente de
visitantes nesses eventos e atuar de forma a causar impacto na mídia.
Apesar da importância do suporte financeiro e do apoio do poder público, a questão
fundamental está relacionada ao empenho e à participação dos organizadores locais.
3.1.3 Arquitetura rural e os arranjos produtivos locais
autores (SILVA; BATALHA, 1999) que tomam, para o estudo dos agronegócios, as
referências conceituais de enfoque sistêmico de produto (Commodity Systems Approach - CSA),
complementado pelo enfoque mais recente da gestão das cadeias de suprimento (Supply Chain
Management - SCM). A utilização desses dois modelos tem sido feita de forma conjunta, porque
o primeiro está relacionado com a observação macro do sistema e as medidas de regulação de
mercado, geralmente utilizadas por órgãos governamentais, enquanto o segundo enfoca os
mecanismos de coordenação do sistema usados por seus próprios integrantes.
17
Segundo (PEREIRA et.al., 2003), a abordagem CSA foi inicialmente apresentada no
trabalho de Davis e Goldberg (1957) da universidade americana de Harvard e através do conceito
de cadeias produtivas ou Filière que é, segundo Zylbersztajn (1995), produto da escola de
economia industrial francesa.
Para Zylbersztajn (2000) o sucesso e difusão do conceito de agronegócios a partir do
trabalho inicial de Davis e Goldberg se devem, em primeiro lugar, ao fato de ser de aplicação
imediata para a formulação de estratégias corporativas, sem muita necessidade de um suporte
teórico de natureza complexa, embora tenha embasamento na teoria neoclássica da produção, em
especial do conceito de matriz insumo-produto. Em segundo lugar, devido ao acerto na
antecipação das tendências dos agronegócios modernos.
Esse mesmo autor destaca alguns aspectos importantes que merecem destaque nesse
enfoque:
Focaliza o sistema de um único produto.
Define um lócus geográfico, o que mostra outra característica de delimitação do
campo analítico.
Trabalha explicitamente o conceito de coordenação, provendo importante espaço
para a análise institucional.
Reforça as características diferenciais dos sistemas dos agronegócios dos outros
sistemas industriais, colocando enorme importância nos fatores que influenciam nas
flutuações da renda agrícola.
No estudo de Scramim (2003) é mostrada a evolução do conceito de SCM, que vai além
de um novo nome para o conceito de logística, assumindo que esta é a integração dos processos
de negócio, desde o consumidor até o fornecedor original, gerando produtos, serviços e
informações que agregam valor ao produto. (COOPER et. al., 1997)
Scramim (2003, p. 15) nos informa-nos, citando
Cooper et. al. (1997), que nesse
processo existem fluxos bidirecionais de produtos, incluindo materiais e serviços, de
18
informações, bem como atividades operacionais e gerenciais associadas aos agentes
intervenientes
Segundo esse mesmo autor, no caso de cadeias de produção agroindustriais estes fatores
são agravados pelo fato de que as matérias-primas e produtos finais são perecíveis, acarretando
custos operacionais adicionais causados pela inutilização ou variação de qualidade dos mesmos.
Lambert et. al. (1997) salientam o papel da empresa-foco com as quais os membros de
uma cadeia de suprimento devem interagir de forma direta ou indiretamente para criar valor para
o cliente final. Além disso, os autores classificam esses membros como sendo agentes primários e
de suporte. Os agentes primários seriam todas aquelas empresas autônomas que desempenham
atividades operacionais ou gerenciais nos processos de negócios projetados para produzir para
um mercado ou um consumidor específico. Os agentes de suporte seriam aqueles que apenas
fornecem os recursos, conhecimento e equipamentos para os membros primários da cadeia de
suprimento.
Segundo Scramin (2003, p. 27) o estabelecimento de redes entre empresas (network)
pode ser uma ferramenta preciosa na melhoria da competitividade de uma cadeia agroindustrial
como um todo, expandindo o conceito de cadeia de produção, dada a tendência de agregação de
valor aos produtos agroindustriais que redundam em produtos cada vez mais complexos e que
coloca em questão o formato linear das cadeias agroindustriais, melhorando, ainda, a capacidade
de análise da problemática estrutural e gerencial das mesmas. Essa tendência tornaria a
abordagem em termos de rede de empresas mais apropriada para estudos relacionados ao
agronegócio.
Outro fator importante para as relações entre organizações, abordadas pela teoria da rede
de empresas (network), é a necessidade de as mesmas trocarem e compartilharem recursos. De
acordo com esse enfoque, as formas de colaboração não são somente baseadas em relações
econômicas, os agentes buscam alianças pela complementaridade de habilidades e são muitas
vezes baseadas na confiança, na lealdade ou simplesmente por oportunismo. (OMTA et. al.,
2001)
19
Para Scramin (2003, p. 27) o conceito de rede de empresas, diferentemente da
abordagem do SCM, não apresenta uma preocupação explícita com vínculos horizontais, entre os
elos da rede, mas acentua as relações verticais entre empresas pertencentes a um setor específico
de uma determinada indústria. A complementaridade entre o conceito de SCM e o de rede de
empresas apresenta bastante utilidade para o estabelecimento e para a análise de desempenho de
cadeias agroindustriais.
Assim, a cadeia de suprimentos deve ser vista como um conjunto de redes de empresas
interdependentes que agem em sintonia de forma a criar valor para o usuário final através do
projeto, do processamento e da comercialização e distribuição de produtos. Essa sintonia é
exatamente o que a gestão de cadeias de suprimento objetiva”. (SCRAMIM, 2003, p. 28)
Por sua vez, Lazzarini et al. (2001) introduziram o conceito de “cadeia de redes”
(netchain). Preenche-se com isso um espaço na literatura entre as abordagens de Cadeia de
Suprimentos e de Redes de Empresas. Esta cadeia de redes seria composta de um conjunto de
redes de empresas, constituídos por laços horizontais entre firmas de um mesmo setor econômico.
Ou seja, conforme Scramim: uma análise em termos de cadeia de redes explicaria as
diferenças entre transações horizontais (o mesmo elo) e transações verticais (entre elos),
mapeando como os agentes de cada elo da cadeia de suprimento estão transacionando entre si
(cooperação ou não) e com os demais agentes de outros elos. Além disso, mecanismos de
coordenação vertical e horizontal devem ser estudados e devidamente delineados para a busca
de eficácia da referida “cadeia de redes” na agregação de valor à sua demanda final”.
(SCRAMIM, 2003, p. 28)
É importante destacar que os autores citados, neste item, e a literatura econômica
clássica, tendem a contextualizar as empresas em termos de sistemas, setores, complexos
industriais, cadeias produtivas etc., mas não dão a devida relevância à sua localização.
(CASSIOLATO; LASTRES, 2003)
Não é o que acontece com Argollo Ferrão (2003a, p. 66), quando argumenta que, na
análise da arquitetura voltada para produção agrícola, é necessário considerar-se tudo o que
20
ocorre no que ele denomina de um sistema espacial específico, de uma determinada cadeia de
produção, assim deve-se considerar todo o espaço geográfico relativo àquela produção e não
somente o que ocorre no nível da unidade produtiva propriamente dita. Assim, construções que
fazem parte de determinada cadeia de produção, mesmo que situadas no meio urbano, devem ser
consideradas. (ARGOLLO FERRÃO, 2003a, p. 85)
Isso se torna importante porque, segundo o mesmo autor: ... em muitas regiões
brasileiras, as construções destinadas exclusivamente à produção agrícola, ou agroindustrial,
podem ser encontradas também nas cidades, e por isso o espaço da produção agrícola deixa de
ser necessariamente rural, de tal maneira que a produção desse espaço como linha de pesquisa
ou objeto de trabalho vem se tornando cada vez mais importante, exigindo dos profissionais
envolvidos o desenvolvimento de estudos específicos sobre a conformação de uma certa
arquitetura agrícola no contexto das construções rurais”. (ARGOLLO FERRÃO, 2003 a, p. 66)
Para estudar essas questões relativas à cadeia produtiva, levando-se em consideração a
questão local, muitos autores têm recorrido à categoria de análise denominada por Arranjos
Produtivos Locais (ou clusters, sistemas produtivos, distritos industriais), no intuito de verificar
tipologias de formação desses arranjos, quanto à gestão do relacionamento entre empresas,
estado, e demais instituições, e também para a verificação das economias externas pela atuação
em conjunto, baseando-se nas economias que ocorrem ao nível da aquisição de conhecimento
relativos a todas as etapas da cadeia produtiva, bem como o compartilhamento da cadeia de
distribuição, entre outros. Esses arranjos produtivos foram estudados por Marshall (1985), no
final do século XIX, e estão sendo renovados por estudos mais recentes, no caso brasileiro.
Assim, podemos citar Cassiolato e Szapiro (2003), que estudaram uma tipologia para os
arranjos produtivos para a realidade brasileira, levando em consideração arranjos produtivos
locais de micro e pequenas empresas e também a vantagem da adoção desse enfoque.
(LASTRES; CASSIOLATO; CAMPOS, 2006)
Destaca-se também o estudo de Suzigan, Garcia e Furtado (2003), que focaram a gestão
das relações entre micro, pequenas e médias empresas, tentando compreender as formas variadas
21
de coordenação e comando de diferentes agentes nas relações entre empresas, complementando
os mecanismos de mercado que eles denominaram de governança.
Com relação à atração de investimentos em empreendimentos locais, destacamos o
estudo de Marcusen (1995), que para isso construiu tipologias para a caracterização das unidades
produtivas levando em consideração o tamanho das firmas, conexões e inserção produtiva local e
no âmbito não local.
Outro estudo que chama atenção é o de Albagli e Maciel (2003), que utilizam o conceito
de capital social, para explicar como alguns ambientes são propícios a processos interativos e
cooperativos de aprendizado e de inovação, porque oferecem melhores condições de
competitividade e de desenvolvimento econômico e social, através dos costumes e das relações
de confiança, cuja densidade pode favorecer processos de crescimento e mudança.
O conceito de capital social, a partir dos escritos de Pierre Bourdieu, no início da década
de 1980, está circunscrito a uma interpretação que não se restringe ao aspecto econômico do
capital, mas se define essencialmente como o conjunto das relações sociais de que dispõe um
indivíduo ou grupo e que expressa recursos diferenciais de poder dentro de um determinado
campo de disputas. (BOURDIEU, 2007)
Para esses autores (ALBAGLI; MACIEL, 2003, p. 424), em uma abordagem que
diverge radicalmente de Bourdieu, James Coleman (1988) especifica formas de capital social que
é elevado onde as pessoas confiam umas nas outras e onde essa confiança é exercida pela
aceitação mútua de obrigações, e, ainda, quando as normas e sanções constituem o capital social
que encorajam os indivíduos a trabalharem por um bem comum, abandonando interesses próprios
imediatos.
Com relação à produção agrícola, destaca-se Le Bourlegat (2006) que estudou o caso do
arranjo produtivo local da fécula da mandioca no Centro-Oeste brasileiro, bem como Costa,
Andrade e Silva (2006) que estudaram o arranjo produtivo de frutas tropicais na região polarizada
por Belém do Pará e, ainda, Campos e Botelho (2006) que estudaram a sustentabilidade do
arranjo produtivo de floricultura tropical de Manaus.
22
Dois fatores principais levam à utilização desses estudos, no presente trabalho:
Em primeiro lugar, como poderá ser observado mais adiante, existe um
compartilhamento da infra-estrutura logística e dos locais onde ocorrem as feiras e mercados
permanentes, bem como do patrimônio cultural, como forma de viabilização dos negócios. Daí a
necessidade de estudar também esses locais, porque fazem parte da cadeia de produção.
Em segundo lugar, porque, embora a produção agrícola em estudo não tome uma forma
estruturada e institucionalizada como o caso de Holambra (PEREIRA, 2003), nem por isso se
de uma forma espontânea e aleatória. Existe, e isso deve ficar claro durante esta pesquisa, certa
racionalidade, com a qual são conduzidos os negócios locais, na área de produção agrícola.
3.1.4 Visão de processos, enfoque sistêmico
Nos seus estudos sobre a arquitetura rural brasileira, Argollo Ferrão (2003b; 2004b;
2004c) destaca a existência de grande diversidade e complexidade e a necessidade de uma visão
de processos e do enfoque sistêmico, que o levaram a desenvolver o Método e Pesquisa
Orientada a Processos Método POP Aplicado nesta pesquisa (ARGOLLO FERRÃO, 2008),
que se realiza nas fronteiras e pontos de contato entre diversas disciplinas que são a arquitetura, o
urbanismo, a engenharia de recursos hídricos, a engenharia agrícola, a geografia e os diversos
ramos de pesquisas sociais, podendo ser realizada tanto por um só pesquisador quanto por uma
equipe, que vem sendo denominada por interdisciplinar, e que pode culminar em um novo campo
de pesquisa. (JUPIASSU, 2006, p. 38)
Ocorre outra possibilidade, a pesquisa transdisciplinar, quando se atravessa as
disciplinas visando à criação de um campo de conhecimento onde seja possível existir um novo
paradigma (Kuhn, 2005) ou um novo modo de coexistência e diálogo entre os pesquisadores, sem
que haja uma hierarquia entre as diversas disciplinas e os seus diversos modos de
problematização e experimentação.
23
Segundo o físico Nicolesco (1999), a pesquisa transdisciplinar, tendo como base a
necessidade de compreensão dos resultados mais gerais da ciência moderna, aparece como uma
necessidade histórica de se promover uma integração e uma recomposição do conhecimento
fragmentado. Diferentemente da pesquisa disciplinar, ela se interessa pela dinâmica gerada pela
ação de vários níveis de realidade. Sem constituir uma nova disciplina, utiliza o conhecimento
disciplinar e dele se alimenta. Não se trata, portanto, de passar ao largo do conhecimento
disciplinar, mas de encontrar uma forma de integração.
Nessa mesma linha de pensamento, D’Ambrósio (2001) argumenta que a fragmentação
do conhecimento não possibilita a percepção e enfrentamento de situações novas que ocorrem em
intervalos de tempo cada vez mais curtos, cuja complexidade é crescente devido aos fatos novos
que ocorrem em decorrência da introdução de novas tecnologias.
A visão de processos propicia uma ferramenta importante para lidar com essa crescente
complexidade. A principal constatação, na revisão bibliográfica sobre processos, é que este é
tratado como um conceito primário em boa parte dos textos consultados e por isso é utilizado sem
nenhuma definição ou na forma composta, como processo de produção, processo de projeto,
processo administrativo, controle de processos e outros. Passa-se então à definição do conceito
composto sem maior explicação do conceito de processo propriamente dito.
As definições diretas de processo são, na verdade, voltadas especificamente a processos
em que se gera um produto, para atender a expectativa de um cliente, e sempre embutido no
conceito mais amplo de sistemas, pois citam sempre a questão das entradas” (input) e “saídas”
(output). É o que se constata em Gonçalves. (2000a, 2000b)
O que se observou é que o conceito de processo está, quase sempre, vinculado ao de
sistemas ou é a forma encontrada para expressar a operação do sistema.
Os conceitos desenvolvidos por Gattaz Sobrinho (2002; 2003), se referem a processo de
um modo mais amplo, aplicável a qualquer processo, e por isso será dada ênfase a eles, tendo em
vista que se pretende adotá-los. Esse autor é membro fundador do “Society for Design and
Process Science” (SDPS), autodenominada “The First Professional Transdisciplinary Society”
24
que tem como missão catalisar a mudança, possibilitando novas visões que apontem na direção
de novas soluções alternativas para os crescentes problemas complexos que está enfrentando a
civilização atual. Essa sociedade tem como objetivo, entre outros, promover e apoiar o
desenvolvimento do desenho de processos e a denominada ciência do processo aplicada às
disciplinas tradicionais da engenharia. (S
OCIETY
,
2007)
Gattaz Sobrinho trabalha com princípios para modelar, simular, emular e encenar
processos, que torna possível eliminar abstrações e enxergar melhor a realidade. Para esse autor,
os princípios que serão tratados mais a frente, são em número de dezoito, mas é possível
acrescentar mais cinco.
Além dos princípios, ele desenvolve um núcleo de conceitos que são de fundamental
importância para a compreensão da questão dos processos. Os principais conceitos e seus
significados, extraídos e adaptados a partir dessa visão, são:
Processo: é um conjunto de referências que o contexto diz que se deve satisfazer para
adicionar valores.
Referências: são normas, axiomas e leis às quais é necessário satisfazer.
Valor adicionado: é uma diferença entre o desejo que se tem em uma visão futura e
aquilo que existe hoje. Essa diferença é o valor adicionado.
Insumos: aquilo que sofre a transformação. Os insumos, na verdade, são valores que
se adquire do contexto.
Infra-estrutura: o que está pronto para ser usado, que incluem os perfis humanos, os
recursos tecnológicos e recursos materiais. São valores que são utilizados para
transformação.
Transformação: é o que acrescenta o valor adicionado.
Com relação ao contexto, podemos acrescentar, conforme Santos: A questão não é,
pois, de levar em conta causalidades, mas contextos. A causalidade poria em jogo as relações
entre elementos, ainda que essas relações fossem multilaterais. O contexto leva em conta o
movimento do todo”. (SANTOS, 1997, p. 11)
25
Somente o movimento do conjunto, do todo, ou do contexto, é que pode valorizar cada
parte e congregá-la no todo.
Quanto aos princípios de processo, a partir de Gattaz Sobrinho (2002; 2003), e também
Argollo Ferrão (2008), destacam-se aqueles que estão mais ligados aos objetivos desta pesquisa:
Mudança: é o ponto central na visão de processos, pois é ela que ocasiona o
acréscimo de valor, ou seja, o valor adicionado.
Contextualização: o processo depende do contexto, e não pode ser independente
deste. Se for tratado de forma independente, a abstração impedirá que a visão do
processo represente a realidade. Não se adapta a realidade ao processo, mas o
processo à realidade, ou seja, a realidade deve ser compreendida como ela é, e não
como uma abstração.
Co-evolução: responsável pela alteração contínua no processo. Nele estão embutidas
as necessidades evolutivas dos processos que serão estudados.
Inclusão: deverão ser consideradas todas as visões dos atores que fazem parte da
realidade que está sendo estudada. Estas visões são inseparáveis desta realidade. Para
que a visão do processo seja a mais completa possível, todas as visões devem estar
representadas.
Paralelismo: Os processos representam uma realidade dinâmica, aleatória e paralela
(a realidade não é seqüencial e linear), e como se trata da representação da realidade,
os processos também são paralelos.
Fracamente estruturado: leva em conta que a estrutura da realidade em processo
muda continuamente com o tempo. Portanto, o que deve ser estudada é a mudança de
valor.
Exponenciação: um valor provoca a existência de outros, assim devemos buscar
esses outros valores. Isso gera uma adição exponencial onde cada valor resultante é
base para uma nova exponenciação.
O Professor Dr. André Munhoz de Argollo Ferrão vem desenvolvendo e aplicando essa
visão de processos desde 2003 em uma disciplina do Programa de Pós-Graduação em Engenharia
26
Civil da UNICAMP, denominada “Método de Pesquisa Orientada a Processos”. Esse esforço
baseou-se inicialmente nos textos de Gattaz Sobrinho (2002, 2003), porém vem co-evoluindo
sistematicamente, conforme se realizam as pesquisas no âmbito do Laboratório de
Empreendimentos – LABORE, do Departamento de Recursos Hídricos da FEC-UNICAMP. Essa
experiência, única em nível de pós-graduação, que tem como objetivo integrar os princípios em
uma visão de processos, ganhou autonomia evoluindo para um método de pesquisa.
3.1.5 O espaço urbano e o rural
Em pesquisas como esta, torna-se necessário, também, considerar o conceito de espaço
geográfico de uma forma mais ampla.
Tendo como objetivo a renovação da geografia, Santos (1997, 2004, 2006) desenvolveu
extensos estudos a esse respeito.
Em uma primeira concepção, ele utiliza os conceitos de forma, função, estrutura e
processo, para descrever as relações que explicam a organização do espaço (SANTOS, 2004,
p.153), onde, resumidamente, a forma é como os objetos geográficos são percebidos e o arranjo
que os mesmos apresentam em um determinado momento do tempo; a função indica uma tarefa
ou atividade que se pode esperar de uma forma; a estrutura indica a inter-relação de todas as
partes de um todo, ou seja, o seu modo de organização, e o processo pode ser definido como a
ação contínua, implicando uma mudança, desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer,
ao longo de um intervalo de tempo. (SANTOS, 2004, p.153; 1997, p.50)
Sobre a potencialidade desses conceitos, acrescenta que os mesmos, tomados
individualmente, dão uma representação parcial e limitada do mundo, mas considerados em
conjunto, entretanto, transformam-se em uma base teórica e metodológica com a qual se pode
discutir os fenômenos espaciais em sua totalidade. (SANTOS, 1997, p. 52)
27
Na concepção mais recente, entretanto, na procura de definição da geografia, considera
que a essa disciplina cabe estudar o conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de
ação que formam o espaço.” (SANTOS, 2006, p. 62).
Fica bastante explícito no desenvolvimento desses conceitos, o esforço para relacionar o
espaço natural e a atuação humana no sentido de sua transformação. Para ele, a principal forma
de relação entre o homem e a natureza, é dada pela técnica. Destaca então: As técnicas são um
conjunto de meios instrumentais sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao
mesmo tempo cria espaço.” (SANTOS, 2006, p. 25)
A importância da consideração do tempo na análise do espaço geográfico foi, também,
destacada por Santos, que enfatizou: “As técnicas, de um lado, dão-nos a possibilidade de
empiricização do tempo e, de outro lado, a possibilidade de uma qualificação precisa da
materialidade sobre a qual as sociedades humanas trabalham.” (SANTOS, 2006, p. 54)
Outra questão importante, que deve ser considerada, é como tem sido o desenvolvimento
das atividades no meio rural brasileiro. A partir da década de 1980, observa-se um crescimento
das ocupações não-agrícolas (GRAZIANO DA SILVA, 1996) e um dos vetores desse
crescimento vem sendo apontado como a piscicultura, turismo rural, hotéis-fazenda e eventos
diversos relativos ao meio rural. (GRAZIANO DA SILVA, 2002, p. 90)
Isso chama atenção para o aspecto observado nesta pesquisa, relativo à conservação das
sedes de antigas fazendas de café e que hoje funcionam como segunda residência dos seus
proprietários.
Ocorrem também, em grande número, na região estudada, empreendimentos
imobiliários, cujas unidades servem de segundas residências (ou residências secundárias)
(TULIK, 1995, 2000), definidas por Tulik, como sendo alojamentos turísticos particulares,
utilizados temporariamente, nos momentos de lazer, por pessoas que têm seu domicílio
permanente em outro lugar”. (TULIK, 2000, p.196).
28
Neste trabalho, essas concepções de espaço estão presentes. À gica que preside o
espaço da produção agrícola, eminentemente local, se sobrepõe a lógica de um mundo
globalizado. A proximidade com os grandes centros representados pelas regiões de São Paulo,
Campinas e São José dos Campos, verdadeiros nós de uma sociedade organizada em rede,
conecta-se com os interesses e aspirações locais, como será visto a seguir.
3.1.6 O lugar e a globalização
Santos (2006, p. 171) chama a atenção, também, para o fato de que a sociedade e o
espaço geográfico estão em recíproca evolução, em função do estado das técnicas. Atualmente,
está-se vivendo em um período em que os objetos técnicos tendem a ser, também,
informacionais. Assim, tem-se algo novo, que Santos (2006, p. 138) chama de meio técnico-
científico-informacional, que caracteriza o período denominado de pós-modernidade.
Tendo em conta esse meio, Santos (2006, p. 262) defende que é possível imaginar uma
geografia das redes, pois toda a infra-estrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou
de informação, e que é representada pelos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus nós de
bifurcação ou de comunicação, se encontra sobre o território.
Essa questão está na ordem do dia, e outros autores, como Castells (2006, p. 468) a
examinam sob uma nova lógica espacial que ele chama de espaço de fluxos. Em contraposição a
essa lógica, apresenta a organização espacial historicamente enraizada de nossa experiência
comum, que é o espaço de lugares. Menciona, ainda, o reflexo dessa oposição dialética entre o
espaço de fluxos e espaço de lugares nos debates atuais sobre a arquitetura e projeto urbano.
O espaço de fluxos não permeia toda a experiência humana na sociedade em rede, pois a
grande maioria das pessoas vive em lugares e, portanto, percebe seu espaço com base no lugar.
Define então: Um lugar é um local cuja forma, função e significado são independentes dentro
das fronteiras da contigüidade física”. (CASTELLS, 2006, p. 512)
29
O que ocorre são, na prática, relações entre globalização e localização, de forma
simultânea. (CASTELLS, 2006, p. 517)
Harvey (2006, p. 257) aponta que nas últimas décadas ocorre uma intensa fase de
compressão do tempo-espaço, que tem tido um forte impacto sobre as práticas político-
econômicas, sobre o equilíbrio de poder de classe, bem como sobre a vida social e cultural.
Esse autor salienta o papel mutante da espacialidade na sociedade contemporânea, pois
se aqueles que se encarregam das decisões percebem as qualidades espacialmente diferenciadas
dos lugares que compõe a geografia do mundo, é possível que os alterem de um modo que os
torne mais atraentes para um capital altamente móvel. Os dirigentes locais podem, por sua vez,
programar estratégias de controle da mão-de-obra local, de melhoria de habilidades, de
fornecimento de infra-estrutura, de política fiscal, de regulamentação estatal, entre outras, para
conseguir o desenvolvimento local. Assim, os lugares dotados de qualidades especiais se tornam
um importante trunfo na competição espacial entre localidades, cidades, regiões e nações.
(HARVEY, 2006 p. 268)
Outro autor, Augé, fala de consideráveis modificações físicas, com concentrações
urbanas, transferências de população e multiplicação daquilo que ele chama de “não-lugares”, por
oposição à noção de lugar. Os não-lugares são: tanto as instalações necessárias à circulação
acelerada de pessoas e bens (vias expressas, trevos rodoviários, aeroportos) quanto os próprios
meios de transporte ou os grandes centros comerciais, ou ainda os campos de trânsito
prolongado onde são estacionados os refugiados do planeta. Porque vivemos uma época,
também sob esse aspecto, paradoxal: no próprio momento em que a unidade do espaço terrestre
se torna pensável em que se reforçam as grandes redes multirraciais, ampliam-se o clamor dos
particularismos; daqueles que querem ficar sozinhos em casa ou daqueles que querem
reencontrar uma pátria, como se o conservadorismo de uns e os messianismo dos outros
estivessem condenados a falar a mesma linguagem a da terra e das raízes.(AUGÉ, 1994, p.
36)
Tal situação caracteriza o que levou Benko a sugerir que se está atravessando um
período em que se tenta pensar global e agir de forma local”. (BENKO, 1999, p. 145)
30
3.2 Um modelo conceitual de pesquisa para a arquitetura rural
Com base na revisão bibliográfica, e para a sua complementação, apresenta-se uma
representação do modelo conceitual esquematizado através da Figura 3.1:
Figura 3.1 – Modelo de arranjo produtivo
Fonte: Adaptado de MARKUSEN, 1995 e ARGOLLO FERRÃO, 2004b; 2004c.
Esta forma de representação salienta os aspectos levantados por Argollo Ferrão (2004b;
2004c), com relação aos níveis de pesquisa, e também os arranjos produtivos marshalianos
apresentados por Markusen (1995).
As linhas representam as inter-relações em dois sentidos que ocorrem entre os agentes
envolvidos no arranjo produtivo, sob os aspectos das relações sociais, de informação, de
n
n
Unidades produtivas
Unidades fornecedoras
n
Unidades distribuidoras
n
2
n
1
n
2
1
n
n
n
2
n
1
Região
Consumidores
Fornecedores de Insumos
31
conhecimento, de aprendizagem, culturais, políticas, técnicas, comerciais e financeiras. Indicam,
também, os fluxos de produtos, no sentido dos fornecedores para os distribuidores (e
consumidores).
As figuras geométricas representam as unidades envolvidas no arranjo produtivo, ou
seja, as unidades produtivas (círculo), as unidades fornecedoras de insumos (retângulo) e as
unidades distribuidoras dos produtos (triângulo). Estas últimas representam as unidades
destinadas à distribuição dos produtos e nesta pesquisa são os locais onde ocorrem os eventos
ligados ao arranjo produtivo.
Os consumidores (retângulo à direita) representam o mercado para a produção do
morango, no arranjo produtivo local.
A mancha representa a região estudada, onde ocorrem as unidades produtivas e
eventualmente unidades fornecedoras de insumos e unidades distribuidoras.
O intuito desse modelo conceitual é tornar mais claras as inter-relações entre os agentes
que atuam no arranjo produtivo.
3.2.1 Escala das unidades envolvidas no arranjo produtivo
Nas unidades produtivas, fornecedoras e distribuidoras serão estudados os aspectos
discutidos na revisão bibliográfica, referentes ao método adotado por Argollo Ferrão (1998;
2004a; 2004b), ou seja:
32
3.2.1.1 Aspectos relativos à organização da produção
Envolvem todos os processos de produção, incluindo as estruturas de plantio, estufas,
sistemas de irrigação, aspetos relativos à logística interna e externa, marketing, vendas (rede de
distribuição) e serviços.
Serão verificados, também, os aspectos relacionados às economias de escala. Conforme
salienta Porter: economias de escala podem resultar de eficiências na operação real de uma
atividade em uma escala mais alta, bem como de aumentos que não chegam a ser proporcionais
na infra-estrutura ou despesas indiretas necessárias para aumentarem uma atividade, à medida
que ela cresce”. (PORTER, 1989, 65)
Ou seja, uma diminuição do valor resultante do rateio dos custos fixos à medida que
aumenta a escala de produção. Entendam-se aqui como custos fixos todos aqueles que são
assumidos pelo produtor, independentemente da quantidade que ele venha a produzir.
3.2.1.2 Aspectos relativos ao edifício e aos equipamentos
Envolve a arquitetura dos edifícios e leva em conta que em muitos casos os
equipamentos são parte integrante dos mesmos.
Foram estudadas as estruturas edificadas para abrigar os equipamentos e os produtos nas
diversas fases do processo, o planejamento do espaço físico (especialmente o espaço produtivo),
a arquitetura das construções complementares (galpões, depósitos e câmaras frigoríficas), bem
como a sede da unidade e as habitações dos trabalhadores.
Destaque foi dado também aos elementos do patrimônio cultural, objetivados através
dos elementos arquitetônicos, tais como antigos casarões e senzalas, terreiros, casas de colônias,
capelas, engenhos, equipamentos para produção de energia, destacando-se métodos construtivos e
materiais utilizados.
33
3.2.1.3 Aspecto agroecológico
Envolvem as soluções que visam a contornar os problemas climáticos, preparo dos
produtos para transporte, melhoramento genético das plantas capaz de proporcionar alta
produtividade, resistência às pragas, qualidade e uniformidade dos produtos, forma de dispor dos
rejeitos relativos ao processo produtivo.
3.2.2 Escala regional
Neste item são estudadas a lógica da ocupação dos espaços geográficos e a evolução da
infra-estrutura de apoio, que envolvem os processos que ocorrem e estão interligados com a
produção agrícola, como é o caso do patrimônio arquitetônico e dos eventos ligados à cadeia de
produção.
Um segundo aspecto es relacionado à arquitetura e infra-estrutura dos pontos que
servem de atrativo para os consumidores dos produtos. Trata-se de pontos de prática de esportes,
turismo e de lazer
34
35
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.1 Forma de abordagem
Nas unidades produtivas, fornecedoras e distribuidoras foram estudados os aspectos
discutidos na revisão bibliográfica, inclusive no modelo conceitual de pesquisa da arquitetura
rural, referentes ao método adotado por Argollo Ferrão. (1998; 2004a; 2004b)
Nas visitas às unidades produtivas foram feitas as localizações das mesmas, através da
obtenção das coordenadas geográficas e altitude, com a utilização de equipamento do tipo GPS
(Global Positioning System)
3
. Nessa ocasião ocorreram entrevistas com os produtores rurais com
o intuito de obter dados referentes à forma da estruturação da produção e a organização do
trabalho, bem como um histórico da propriedade.
Foi feita, também, em cada unidade, a documentação fotográfica relativa aos processos
de produção do morango e em especial dos aspectos ligados à arquitetura rural.
Com relação às unidades distribuidoras relacionadas ao arranjo produtivo local, onde
ocorrem os eventos como feiras e exposições e as festas tradicionais que acabam atraindo
consumidores para os produtos agrícolas da região, foram utilizados os resultados das pesquisas
de Sabaté, Frenchman e Schuster (2004), que tratam do conceito de Event Places.
3
Sistema de Posicionamento Global.
36
4.2 Forma de escolha das unidades estudadas
Na fase inicial da pesquisa, quando se pretendia levantar a maior parte das propriedades
produtivas do morango na região, observou-se uma grande dificuldade de acesso às unidades
produtivas, pois os seus proprietários se comportavam de forma arredia à visita e ao levantamento
fotográfico.
Procurou-se, então, a Associação dos Produtores de Morango e Hortifrutigrangeiros de
Atibaia e Região com o intuito de se obter um suporte institucional visando a um primeiro
contato com os produtores intermediados pela associação. Mesmo assim houve muitos casos de
insucesso.
Junto com as lideranças da associação levantaram-se as unidades produtivas que ao
mesmo tempo pudesse representar todas as etapas do processo produtivo e também houvesse
possibilidade de acertar as visitas. Disso resultou uma pequena lista com as quais essa liderança
mantinha um contato prévio, explicando a necessidade da colaboração com a pesquisa, após a
qual havia um segundo contato por parte do pesquisador para a visita.
Dessa lista resultaram as unidades produtivas que serão apresentadas no próximo item.
4.3 Unidades produtivas estudadas
As unidades produtivas estudadas são todas de produtores vinculados à Associação dos
Produtores de Morango e Hortigranjeiros de Atibaia e Região e são as seguintes:
Unidade A, cujos dados de localização estão na Tabela 4.1:
37
Tabela 4.1 – Dados geográficos da unidade A
Tipo de unidade: Produtiva.
Propriedade: Família Maziero.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 04' 29,67690''
Longitude (W): -46 40' 27,45461''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 747,545
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
O contato foi feito com o Sr Osvaldo Maziero, atual presidente da associação já citada.
A propriedade possui aproximadamente 30 hectares e pertence a uma família de origem
italiana. A unidade produtiva foi iniciada pelos pais do entrevistado, aproximadamente 43
anos, vindo da cidade de Jundiaí. Estão na segunda geração, com os irmãos trabalhando juntos e
da terceira geração somente dois membros permaneceram na produção agrícola.
A cultura principal é o morango, mas como forma de rotação de cultura é produzido
também o milho doce (próprio para a pamonha), além de uma pequena atividade relacionada ao
gado leiteiro.
Os produtos são vendidos na festa do morango e para distribuidores diversos, como os
entrepostos de São Paulo e Campinas, além de indústrias alimentícias de Jundiaí.
O milho é comercializado para produtores de pamonha e feirantes em Várzea Paulista,
Francisco Morato, Jundiaí e Caieiras.
A organização da produção é feita baseada no núcleo familiar, que gerencia a
propriedade e com diversos meeiros que assumem em caráter familiar a produção de cada talhão.
Na Figura 4.1 apresenta-se uma imagem com a localização dos principais imóveis e dos
processos produtivos observados. Vê-se a sede contendo a moradia da família proprietária, um
galpão para manutenção de equipamentos, o reservatório de água para a irrigação com a estação
de bombeamento e as áreas de cultivo do morango e da cultura complementar.
38
Figura 4.1 – Imagem da unidade A
Fonte: GOOGLE, 2009.
Unidade B, cujos dados de localização estão na tabela 4.2:
Tabela 4.2 – Dados geográficos da unidade B
Tipo de unidade: Produtiva.
Propriedade: Família Inui.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 08' 02,05310''
Longitude (W): -46 37' 15,23661''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 770,136
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
O contato foi com o Sr. Mário Inui, de uma família de origem japonesa. A formação da
propriedade começou com os pais que vieram da localidade de Guaiçara, no interior do Estado de
Sede da unidade:
Casa da família,
galpão de
manutenção, estação
de bombeamento da
irrigação e moradias
de meeiros.
Reservatório
Área destinada ao plantio do
morango.
Área destinada ao plantio do
milho doce.
39
São Paulo. A família está na terceira geração na unidade produtiva, mas esta última não assumiu
a atividade agrícola.
Plantam morango, consorciado com flores, principalmente crisântemos, e alguns
legumes, como o pimentão, para estabelecer o rodízio de culturas.
Na Figura 4.2 apresenta-se uma imagem com a localização dos principais imóveis e dos
processos produtivos observados. Vê-se a sede contendo a moradia da família proprietária, um
galpão para manutenção e guarda de equipamentos, o reservatório de água para a irrigação com a
estação de bombeamento e as áreas de cultivo do morango e das culturas complementares.
Figura 4.2 – Imagem da unidade B
Fonte: GOOGLE, 2009.
Unidade C, cujos dados de localização estão na tabela 4.3:
Sede da unidade:
Reservatório
Área destinada ao plantio do
morango.
Estufas destinadas ao plantio
de flores.
40
Tabela 4.3 – Dados geográficos da unidade C
Tipo de unidade: Produtiva.
Propriedade: Família Giraldi.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 06' 12,99968''
Longitude (W): -46 34' 55,18577''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 731,924
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
O contato foi com o Senhor Pérsio Giraldi e sua esposa, Sra. Meire, sendo ele da terceira
geração de uma família de origem italiana. A formação da propriedade começou com os avós que
já estavam radicados na região.
Plantam morango e têm na apicultura a atividade complementar.
Na Figura 4.3 apresenta-se uma imagem com a localização dos principais imóveis e dos
processos produtivos observados. Vê-se a sede contendo a moradia da família proprietária, um
galpão para manutenção e guarda de equipamentos, o reservatório de água para a irrigação com a
estação de bombeamento e as áreas de cultivo do morango e da cultura complementar.
41
Figura 4.3 – Imagem da unidade C
Fonte: GOOGLE, 2009.
Unidade D, cujos dados de localização estão na tabela 4.4:
Tabela 4.4 – Dados geográficos da unidade D
Tipo de unidade: Produtiva.
Propriedade: Família Matsumoto.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 04' 37,36109''
Longitude (W): -46 41' 09,44053''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 754,274
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
O contato foi mantido com o Sr. Milton Matsumoto e cultivam o morango.
Sede da unidade:
Reservatório
Área destinada ao
plantio do morango.
Local destinado à apicultura
42
Na Figura 4.4 apresenta-se uma imagem com a localização dos principais imóveis e dos
processos produtivos observados. Vê-se a sede contendo a moradia da família proprietária, um
galpão para manutenção e guarda de equipamentos, o reservatório de água para a irrigação com a
estação de bombeamento e a área de cultivo do morango.
Figura 4.4 – Imagem da unidade D
Fonte: GOOGLE, 2009.
Unidade E, cujos dados de localização estão na tabela 4.5:
Tabela 4.5 – Dados geográficos da unidade E
Tipo de unidade: Produtiva.
Propriedade: Família Tanaka.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 04' 59,43550''
Longitude (W): -46 40' 24,91331''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 794,890
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
Sede da unidade:
Reservatório
Área destinada ao
plantio do morango.
43
O contato foi mantido com os Srs. Manoel Tanaka e Roberto Tanaka.
A propriedade é de um irmão do Sr. Manoel.
Plantam o morango e as culturas complementares são a uva Niágara (desde 1997),
abobrinha e couve flor.
Na Figura 4.5 apresenta-se uma imagem com a localização dos principais imóveis e dos
processos produtivos. Observa-se a sede contendo a moradia da família proprietária, a área de
cultivo do morango e das culturas complementares.
Figura 4.5 – Imagem da unidade E
Fonte: GOOGLE, 2009.
Unidade F, cujos dados de localização estão na tabela 4.6:
Sede da unidade:
Área destinada ao
plantio do morango.
Local destinado à cultura da
Uva Niágara.
44
Tabela 4.6 – Dados geográficos da unidade F
Tipo de unidade: Produtiva.
Propriedade: Arrendada pelo Sr. Elcio Spinassi.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 02' 25,01027''
Longitude (W): -46 38' 53,16365''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 800,898
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
O contato foi mantido com os Sr. Elcio Spinassi.
Trata-se de propriedade arrendada para a produção de morangos.
Na Figura 4.6 apresenta-se uma imagem com a localização dos principais imóveis e dos
processos produtivos. Observa-se a sede contendo a moradia da família do encarregado da
produção, um galpão para guarda e manutenção de equipamentos e as áreas de cultivo do
morango.
45
Figura 4.6 – Imagem da unidade F
Fonte: GOOGLE, 2009.
Tomou-se como referência as unidades produtivas visitadas sob todos os aspectos
relativos à escala das unidades envolvidas no arranjo produtivo, de forma conjunta, tamanha a
inter-relação entre esses aspectos, que são os relativos à organização da produção, ao edifício, aos
equipamentos e agroecológico.
A apresentação será feita com base nos processos observados.
4.4 Unidade fornecedora estudada
Unidade G, cujos dados de localização estão na Tabela 4.7:
Sede da unidade:
Área destinada ao
plantio do morango.
Área destinada ao
plantio do morango.
46
Tabela 4.7 – Dados geográficos da unidade G
Tipo de unidade: Fornecedora.
Propriedade: Arrendada pelo Sr. Elcio Spinassi.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 05' 35,03247''
Longitude (W): -46 36' 26,03470''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 772,299
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
Com relação às unidades fornecedoras de insumos, a principal ocorrência foi referente à
multiplicação de mudas do morangueiro, verificada na unidade G, mostrada na Figura 4.8, onde
aparece a área que foi destinada ao viveiro de multiplicação das mudas do morango.
Figura 4.8 – Imagem da unidade G
Fonte: GOOGLE, 2009.
Área destinada ao
viveiro de mudas de
morango.
47
4.5 Unidades distribuidoras estudadas
Unidade H, cujos dados de localização estão na Tabela 4.9:
Tabela 4.9 – Dados geográficos da unidade H
Tipo de unidade: Distribuidora.
Propriedade:
Associação dos Produtores de Morango e Hortifrutigrangeiros de
Atibaia e Região.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 04' 23,99605''
Longitude (W): -46 40' 43,70500''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 773,020
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
Trata-se do local onde ocorre a Festa do Morango e Expolegumes. Este evento é
promovido anualmente pela Associação dos Produtores de Morango e Hortifrutigranjeiros de
Atibaia e Região.
A idéia da promoção da festa surgiu após a construção da igreja, onde ocorreu, em 1981,
uma quermesse na festa junina de São João, para a qual foram convidados amigos do senhor
Duílio Maziero, produtor de morangos da região, e outros membros a comissão organizadora,
provenientes da cidade de Jundique se interessaram pela aquisição de morangos que estavam
sendo comercializados por alguns produtores locais.
Daí surgiu a idéia da promoção da festa do morango e outras culturas da região, cuja
primeira edição ocorreu em 1983, estando em sua 26ª edição (2009).
Essa associação foi criada em março de 1987 (ASSOCIAÇÃO, 2007), sem fins lucrativos
para congregar os interesses dos produtores da região e possibilitar o desenvolvimento da
promoção da feira. A idéia foi encampada por produtores que doaram o terreno, que possibilitou
a expansão do patrimônio da associação que vem paulatinamente incrementando o seu
patrimônio arquitetônico com construções permanentes para a promoção da festa.
48
A festa ocorre normalmente na última semana do mês de junho e na primeira semana do
mês de julho de cada ano. Portanto, já no período de férias escolares, e a freqüência prevista para
a edição, em 2009, segundo os organizadores é de 125.000 visitantes em sete dias de festa.
Cabe destacar que durante o restante do ano esse patrimônio é utilizado também para
comportar um posto de saúde da prefeitura e os salões de exposição servem para cursos
promovidos por entidades da região interessadas no artesanato e outras atividades de
desenvolvimento social e econômico.
A localização dos imóveis que compõem o conjunto arquitetônico onde ocorrem as festas
todos os anos pode ser verificada na Figura 4.9. São constituídos pelo galpão de venda de frutas,
galpão de exposições, restaurante de comidas típicas italianas, palco com posto de saúde, igreja e
restaurante com comidas típicas japonesas.
Figura 4.9 – Imagem da unidade H
Fonte: GOOGLE, 2009.
Salão de
Esposições
Restaurante
Japonês
Restaurante
Italiano
Igreja
Galpão de venda
de frutas
Palco/Posto de saúde
49
O acesso ao mesmo foi asfaltado em 2003, pelas municipalidades de Jarinu e Atibaia,
tendo em vista que a divisa entre os dois municípios fica a meio caminho do acesso através da
rodovia SP-354, que liga a Rodovia D. Pedro I a Campo Limpo Paulista.
Unidade I, cujos dados de localização estão na Tabela 4.10:
Tabela 4.10 – Dados geográficos da unidade I
Tipo de unidade: Distribuidora.
Propriedade: Associação Hortolândia – Parque Municipal Edmundo Zanoni.
Coordenadas:
Latitude (S): -23 06' 58,90710''
Longitude (W): -46 32' 14,79074''
Datum: WGS 1984 (GPS)
Altitude barométrica (m): 807,867
Equipamento utilizado: GPS Garmin 60CSx.
Fonte: Dados obtidos pelo autor, Jun. 2009.
Trata-se do local onde ocorre a Festa de Flores de Morangos de Atibaia. Este evento, que
é promovido anualmente pela Associação Hortolândia de Atibaia, se encontra em sua 29ª edição,
tendo começado somente como festa das flores, e a partir de 1985 com a entrada da Associação
dos Produtores de Morangos de Atibaia e Região passou a ser também dos morangos.
A Figura 4.10 mostra uma imagem onde constam os principais imóveis utilizados nessa
festa, que são o salão de exposições, praça de alimentação, galpão de venda de frutas e o galpão
de venda de flores.
50
Figura 4.10 – Imagem da unidade I
Fonte: GOOGLE, 2009.
A iniciativa é ligada à comunidade de origem japonesa, em sua maioria produtores de
flores.
Nos últimos anos a freqüência à festa foi de aproximadamente 118.500 visitantes em
2006, 102.000 visitantes em 2007 e 87.000 visitantes em 2008, segundo informação da
associação, e atrai visitantes de vários estados.
O evento ocorre em um espaço público que é o Parque Municipal Edmundo Zanoni.
Possui uma área de aproximadamente 38.700 metros quadrados e oferece atrações para os
visitantes, composta por playground, lanchonete, passeios de pedalinho no lago e ampla área
verde, além de abrigar o Museu de História Natural e o Salão do Artesão, que são duas atrações
permanentes.
Salão de
Esposições
Galpão para venda
de frutas
Praça de
alimentação
Galpão de venda
de flores
51
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O modelo conceitual apresentado no capítulo 3, cuja representação foi desenvolvida e
apresentada através da Figura 3.1, assim como os procedimentos metodológicos referentes ao
capítulo 4, foram aplicados sobre os dados colhidos em campo, cujo foco é a cultura do morango,
bem como as culturas complementares à mesma.
Os resultados obtidos e a discussão correspondente são efetuados neste capítulo,
seguindo as mesmas escalas estabelecidas no modelo conceitual desenvolvido no capítulo 3, que
são a escala das unidades envolvidas no arranjo produtivo e a escala regional.
5.1 Elementos de arquitetura rural na escala das unidades envolvidas no arranjo
produtivo
Foram discriminados três tipos de unidades envolvidas no arranjo produtivo local do
morango e culturas complementares em Atibaia-SP, as unidades produtivas, as unidades
fornecedoras e as unidades distribuidoras.
5.1.1 Unidades produtivas
5.1.1.1 Perfil dos proprietários e tamanho das propriedades
52
Quatro unidades produtivas encontradas o familiares, havidas por herança,
representadas pelas unidades A, B, C e D, e todas estão na terceira geração de proprietários. Uma
pertence a um dos irmãos e a família trabalha na propriedade, caso da unidade E. A unidade F é
extensiva e a terra é arrendada.
No caso de unidades familiares, a segunda geração está à frente da produção agrícola e
os filhos somente em parte permanecem nessa atividade, o restante trabalha nas cidades. Os
poucos que permaneceram na propriedade atuam principalmente em funções de gerenciamento
ou logística.
Quando a produção é extensiva e que a propriedade é arrendada, ocorre o
desdobramento da produção em mais de uma propriedade arrendada e além da região de Atibaia,
havendo produção em outros municípios como em Jundiaí em outras localidades do Sul de Minas
Gerais.
Não existe uma linha divisória nítida referente à extensão da produção e a propriedade.
Assim, existem unidades produtivas familiares com pequenas produções e outras também
familiares, mas com produção mais extensiva.
5.1.1.2 O processo de organização do trabalho na produção
Também não existe uma linha divisória nítida entre as diferentes formas de organização
do trabalho na produção, no caso do morango e culturas complementares.
Em uma graduação que varia das unidades produtivas menores para as mais extensivas,
foram encontradas aquelas cuja organização da produção é baseada estritamente na mão de obra
familiar, como é o caso das unidades C e E; também algumas com núcleo familiar, mas com
trabalhadores contratados, como no caso da unidade B, outras com núcleo familiar, mas com
parcerias, ou seja, a utilização de “meeiros”, como é o caso das unidades A e D; existem ainda as
unidades com organização totalmente feitas com parcerias, como é o caso da unidade F.
53
Os meeiros normalmente são estruturados em torno de famílias que assumem
determinado lote, denominado “talhão”, e recebendo do produtor as mudas e os demais insumos,
executam toda a mão-de-obra produtiva, do plantio à colheita, em nível familiar, incluindo
jovens, e ficam com parte dos resultados por ocasião da venda do produto.
Essa distinção é importante, pois se observou uma diversidade na arquitetura da
produção em função dessa variação, como veremos.
5.1.1.3 A arquitetura dos canteiros para a produção do morango
O terreno a ser preparado para o cultivo do morango, normalmente, foi utilizado em
outra cultura com a finalidade de estabelecer uma rotação para evitar pragas que se desenvolvem
com o uso contínuo da terra em uma mesma cultura. Esse procedimento foi observado em todas
as unidades estudadas.
Na unidade C, após um descanso da terra por um ano, são plantadas algumas culturas
como o milho ou girassol, cultivado durante aproximadamente 45 dias, o suficiente para que a
folhagem possa ser utilizada como massa verde a ser incorporada como nutriente.
Procede-se, então, a análise e correção do solo, seguida da preparação do terreno.
O início da preparação é feito com o processo de tombamento do solo, em alguns casos,
e o preparo com a grade na maioria das vezes, como primeiras intervenções sobre o terreno. A
Figura 5.1 mostra o processo de preparação do terreno com a grade, observado na unidade A.
54
Figura 5.1 – Preparação do terreno com a grade
Foto do autor, 2009.
Em seguida, utiliza-se um equipamento destinado à construção dos canteiros, como pode
ser visto na Figura 5.2, observado na unidade A.
a – Equipamento construindo o canteiro
Foto do autor, 2009.
b – Equipamentos para a construção do canteiro
Foto do autor, 2009.
Figura 5.2 – Construção do canteiro
Esse equipamento possui detalhes mecânicos destinados a revolver o solo e dar o
formato e a profundidade necessária ao canteiro. A Figura 5.3 mostra maiores detalhes da parte
do equipamento que tem essa finalidade.
55
Figura 5.3 – Parte do equipamento destinada a revolver
o solo
Foto do autor, 2009.
O canteiro, em função da regulagem do equipamento, tem em torno de 1,10m de largura
e a altura com relação ao ponto mais baixo é entre 0,25m e 0,30m. Observa-se uma grande
padronização, em conseqüência dessa mecanização, que leva à repetição do mesmo gabarito para
todas as propriedades.
Neste item foi possível verificar um relacionamento colaborativo entre os produtores que
trocam a prestação de serviços, utilizando os equipamentos com fornecimento de mudas, para
citar um exemplo.
5.1.1.4 O processo de plantio e manejo do morango
Para a obtenção de frutas de qualidade, com uniformidade do fruto, um dos pré-
requisitos essenciais é a utilização de mudas de alta qualidade genética e sanitária, em local sem
probabilidade de contaminação por fungos e bactérias que sejam agressivos ao morangueiro. A
produção das mesmas será tratada mais adiante no item sobre as unidades fornecedoras de
insumos.
O plantio é feito a cada 0,30m, tanto no sentido longitudinal quanto transversal.
56
É feita uma adubação sobre o canteiro, em forma de faixas que irão, ao receber as gotas
de água de irrigação por aspersão, infiltrar e garantir a absorção pela planta. Estas faixas de
adubagem são feitas entre uma fileira transversal de morangueiros e a próxima, de tal forma que a
distância entre uma faixa e outra é também de 0,30m. A Figura 5.4 mostra essas faixas de
nutrientes aplicados sobre o canteiro recém-plantado, obtida na propriedade A.
a – Faixas de nutrientes, com o canteiro fotografado no
sentido longitudinal
Foto do autor, 2009.
b – Faixas de nutrientes, com o canteiro fotografado no
sentido transversal
Foto do autor, 2009.
Figura 5.4 – Faixas de nutrientes aplicados sobre o canteiro
Durante esse período, a irrigação é feita por aspersão conforme pode ser visto na Figura
5.5, obtida na unidade A.
a – Linha de tubos para a aspersão
Foto do autor, 2009.
b – Equipamento para aspersão
Foto do autor, 2009.
Figura 5.5 – Irrigação inicial do canteiro, por aspersão
57
Nesse período, conforme pode ser observado na figura 5.6, obtida na unidade A, é feita a
manutenção para evitar o nascimento de plantas daninhas que venham a concorrer com o cultivar.
Ela é feita de forma manual ou com uma pequena enxada, com aproximadamente 12cm, que
estabelece uma capina superficial, evitando o rebaixamento do nível do canteiro, o que é
considerado prejudicial pelos agricultores porque alteram a uniformidade do gradiente de
umidade, à qual a planta tem acesso.
Observe-se a posição de trabalho bastante desfavorável em termos ergonômicos.
a – Capina manual
Foto do autor, 2009.
b – Capina com pequena enxada
Foto do autor, 2009.
Figura 5.6 – Processos de capina
Com aproximadamente 45 dias após o plantio, inicia-se a irrigação por gotejamento e os
canteiros são protegidos com plástico. O processo de instalação das mangueiras pode ser
observado na Figura 5.7, cujas fotos foram obtidas na unidade A. Observou-se certa
improvisação para facilitar o desenrolar do tubo de gotejamento.
58
a – Aplicação das mangueiras
Foto do autor, 2009.
b – Conexão das mangueiras
Foto do autor, 2009.
Figura 5.7 – Colocação das mangueiras de irrigação por gotejamento
Quanto à aplicação do plástico após a instalação dos tubos de gotejamento veja-se a
Figura 5.8, obtida, também, na unidade A.
a – Plástico recém aplicado
Foto do autor, 2009.
b – Detalhe da mangueira sob o plástico
Foto do autor, 2009.
Figura 5.8 – Colocação do plástico
A proteção com a manta plástica visa a evitar o contato do fruto com o solo, mantendo-o
livre de impurezas, que podem depreciar a qualidade e reduzir a conservação no período pós-
colheita, e regulariza a temperatura do solo. De forma complementar, evita a compactação do
solo que normalmente ocorrer devido à irrigação por aspersão ou chuva. A cobertura do solo tem
ainda ação sobre as plantas invasoras, dispensando as capinas que causam danos ao sistema de
59
raízes superficiais do morangueiro, as quais são responsáveis pela absorção de água e nutrientes.
(SANTOS; MEDEIROS, 2005)
Além disso, este tipo de cobertura apresenta algumas vantagens como criar um ambiente
com baixa umidade relativa, diminuindo a incidência de fungos, especialmente aqueles que
ocasionam a deterioração dos frutos, estimulando a produção precoce de frutos, além da
facilidade de transporte para o local e instalação, com relação aos outros tipos de cobertura. As
desvantagens ficam por conta do custo maior e do estímulo ao desenvolvimento de ácaros, devido
ao microambiente interno seco. (SANTOS; MEDEIROS, 2005)
Essa operação de colocação do plástico é efetuada por ocasião do início da primeira
floração, aproximadamente 30 a 40 dias após o plantio, como pode ser visto no detalhe da Figura
5.9, obtida na unidade A. A floração ocorre até quatro vezes em cada temporada de plantio.
Figura 5.9 – Início da floração após a aplicação do
plástico
Foto do autor, 2009.
Os canteiros cultivados, em fase mais adiantada e próxima do início da colheita, têm o
aspecto o da Figura 5.10, cuja imagem à esquerda foi obtida na unidade F e a imagem à direita na
unidade E. Observa-se, ainda, a cobertura do solo, entre um canteiro e outro, com material
vegetal, que facilita o trânsito de trabalhadores em situação de muita umidade e formação de
barro.
60
a – Canteiro na fase próxima à colheita
Foto do autor, 2009.
b – Canteiro em outra propriedade na fase próxima à colheita
Foto do autor, 2009.
Figura 5.10 – Canteiros em fase mais adiantada
Essa cobertura com palha tem, ainda, a mesma finalidade da manta plástica quanto à
proteção e manutenção da umidade, com menor custo.
Na unidade B, o plantio das mudas, recebidas de um fornecedor externo, foi feito em um
canteiro preliminar, que aparece na Figura 5.11, onde se destaca a estrutura de sombreamento,
similar a uma estufa, denominada casa plástica, utilizando estrutura de madeira e plástico
transparente.
a – Canteiro preliminar
Foto do autor, 2006.
b – Estrutura de sombreamento
Foto do autor, 2006.
Figura 5.11 – Canteiro preliminar com estrutura de sombreamento
61
Chama-se a atenção para a linha de tubos, mais visível no canto superior esquerdo, com o
equipamento para irrigação por aspersão, e junto à folhagem das plantas outra linha de tubos,
mais visível no terço inferior direito, para a irrigação por gotejamento.
Em fase posterior, ocorre o replante em outro canteiro, estruturado e também protegido,
como a que aparece na Figura 5.12, mantendo a irrigação por gotejamento e por aspersão.
Figura 5.12 – Morango replantado com estrutura de
sombreamento
Foto do autor, 2006.
Após o replante é mantida a irrigação por gotejamento e por aspersão, o que pode ser
visto na Figura 5.13.
62
a – Irrigação por gotejamento
Foto do autor, 2006.
b – Irrigação por aspersão
Foto do autor, 2009.
Figura 5.13 – Morangueiro replantado
Os tipos de estrutura para a cobertura variaram. Ocorreram as estruturas com um arco
superior apoiado em pontaletes a cada 3,60m e estruturas de uma água apoiadas em pontaletes
a cada 7,00 metros, cobertas com plástico transparente.
A cobertura com a casa plástica, que ocorreu nessa unidade, pode trazer vantagens, não
na fase inicial, mas durante todo o período de produção, e decorre do fato de que não
variedades de morango totalmente resistentes a pragas e doenças. O controle químico torna-se
cada vez mais difícil, pois, com o tempo, os microorganismos adquirem resistência aos
agroquímicos. Por outro lado, o consumidor tolera cada vez menos os agrotóxicos. (ANTUNES
et al., 2005)
O uso da casa plástica visa a evitar os efeitos da chuva, granizo, geada, neblina ou falta
de umidade atmosférica ou mesmo danos provocados pelo vento. (MEDEIROS; SANTOS, 2005;
ANTUNES et al., 2005) De forma complementar, reduz a umidade das folhas do morangueiro
com reflexos positivos na diminuição da ocorrência de doenças que atacam a parte aérea, amplia
o período de safra, permite o uso de técnicas de desinfecção de solo com técnicas como a
solarização ou a aplicação de produtos fumigantes. (ANTUNES et al., 2005)
63
Uma desvantagem do cultivo em ambiente protegido é que devido às mudanças na
estrutura dificulta-se a rotação de áreas, prática usual em função das doenças oriundas do solo.
(ANTUNES et al., 2005)
5.1.1.5 O processo de irrigação
Como destacado no item 5.1.1.4, a irrigação é fundamental no processo de produção do
morango. No presente item será estudado o processo de captação, bombeamento e distribuição da
água.
Os reservatórios de água para utilização no processo de irrigação diferem em diversos
casos e variam de uma simples barragem para reter a água até diques paralelos aos cursos de
água. Na Figura 5.14 observam-se alguns casos encontrados, onde a imagem esquerda, obtida na
unidade B, é de um reservatório com uma pequena barragem para garantir o armazenamento da
água e garantir o afogamento da tomada de água. A imagem direita, obtida na unidade C, é de um
reservatório de pequenas dimensões, também com barragem transversal ao leito do curso de água.
a – Reservatório com pequena barragem do curso de
água
Foto do autor, 2009
b – Reservatório com pequenas dimensões e barragem
ao longo do curso de água
Foto do autor, 2009.
Figura 5.14 – Reservatórios com barragem para irrigação
64
Na Figura 5.15, a imagem esquerda, obtida na unidade A, é de um reservatório formado
com a construção de um dique paralelo ao curso de água. A imagem direita, obtida na unidade D,
tem solução igual, mas o reservatório tem menor dimensão.
a – Reservatório com dique paralelo ao leito do curso
de água
Foto do autor, 2009.
b – Reservatório com pequenas dimensões e dique
paralelo ao curso de água
Foto do autor, 2009.
Figura 5.15 – Reservatórios com dique paralelo ao curso de água
Em outros casos, o bombeamento é feito a partir do próprio leito do rio, como pode ser
observado na figura 5.16, obtida na unidade F.
Figura 5.16 – Tomada de água direta no rio
Foto do autor, 2009.
65
Quanto à estação de bombeamento, podem-se observar através da Figura 5.17 dois
aspectos da encontrada na unidade B, na qual se pode observar o abrigo, a linha de recalque e o
conjunto motor-bomba.
a – Linha de recalque
Foto do autor, 2009.
b – conjunto motor-bomba
Foto do autor, 2009.
Figura 5.17 – Estação de bombeamento da unidade B
Na Figura 5.18, cujas imagens também foram obtidas na unidade B, vê-se a estação de
rebaixamento de tensão de energia utilizada na unidade produtiva como um todo e na estação de
recalque.
66
Figura 5.18 – Estação de rebaixamento de tensão
Foto do autor, 2009.
Outra estação, encontrada na unidade A, pode ser observada na Figura 5.19, sendo
destacados o abrigo e o conjunto motor-bomba.
a – Abrigo
Foto do autor, 2009.
b – Conjunto motor-bomba
Foto do autor, 2009.
Figura 5.19 – Conjunto de bombeamento complementar
Na Figura 5.20 vê-se o centro de medição de energia fornecida para a mesma propriedade
e para a estação de recalque.
67
Figura 5.20 – Caixa de medição de energia
Foto do autor, 2009.
Foram encontrados também conjuntos motor-bomba acionados por motor diesel como o
mostrado na Figura 5.21, cujas imagens foram obtidas na unidade F, que representam o conjunto
motor-bomba e o tanque de combustível montado sobre uma pequena carreta que é substituída
quando o combustível for consumido.
a – Conjunto motor-bomba a diesel
Foto do autor, 2009.
b – Tanque móvel de diesel
Foto do autor, 2009.
Figura 5.21 – Conjunto motor-bomba acionado por motor diesel
68
Na unidade produtiva C também foi encontrado um conjunto motor-bomba acionado por
combustível diesel, de menor dimensão, e sem nenhuma proteção, mostrado na Figura 5.22.
Figura 5.22 – Pequeno conjunto motor-bomba
acionado por motor diesel
Foto do autor, 2009.
É notória a contradição entre a tecnologia aplicada no bombeamento e a arquitetura
atendendo apenas a necessidade mínima de proteção da bomba, ou sem nenhuma proteção.
Nos sistemas de irrigação por gotejamento foram encontrados dispositivos para filtragem,
do tipo filtro de discos, destinada a evitar entupimentos da linha de tubos de gotejamento e,
juntos, dispositivos tipo Venturi para introdução de nutrientes através da água. Esta operação é
conhecida como ferti-irrigação. A Figura 5.23 mostra os dispositivos utilizados para esse fim na
unidade E.
69
a – Sistema com dispositivo Venturi e filtro de placas
Foto do autor, 2009.
b – Dispositivo Venturi em maior detalhe
Foto do autor, 2009.
Figura 5.23 – Pequeno sistema de ferti-irrigação e filtragem
Constatou-se também a existência de dispositivos de maiores dimensões, utilizados na
unidade produtiva F, com a mesma finalidade. Na Figura 5.24 pode-se observar a bateria com
dois filtros de areia, três filtros de discos e o dispositivo de ferti-irrigação.
a – Sistema com dispositivo Venturi e filtro de placas
Foto do autor, 2009.
b – Dispositivo Venturi em maior detalhe
Foto do autor, 2009.
Figura 5.24 – Sistema de ferti-irrigação e filtragem com maior dimensão
Encontraram-se também equipamentos de menor dimensão de filtros de areia, na unidade
produtiva C, como os da Figura 5.25, conjugado com filtro de discos. O dispositivo tipo Venturi é
colocado somente por ocasião da adição de nutrientes.
70
Figura 5.25 – Pequeno sistema de filtragem
com filtros de areia e de placas
Foto do autor, 2009
A adução e distribuição da água de irrigação são feitas de duas formas principais. A
primeira delas consiste em proceder ao bombeamento para uma caixa de água em um ponto
elevado do terreno, e em seguida a irrigação é feita por gravidade. Esse é o caso apresentado na
Figura 5.26, encontrado na unidade produtiva B.
a – Caixa de água situada em um ponto alto do terreno
Foto do autor, 2009.
b – Linha de tubos de distribuição da água
por gravidade a partir de uma caixa de água
Foto do autor, 2006.
Figura 5.26 – Sistema de distribuição por gravidade
71
A segunda forma, encontrada na unidade A, representada na figura 5.27. A distribuição é
feita diretamente com sistema de bombeamento em funcionamento e com a pressão
proporcionada por ele, sem a utilização de caixa de água.
a – Linha de tubos de recalque
Foto do autor, 2009.
b – Derivação da linha de recalque para atender um
trecho da área a irrigar
Foto do autor, 2009.
Figura 5.27 – Sistema com bombeamento sem caixa de água
A Figura 5.28 mostra imagens complementares da mesma unidade produtiva.
c – Derivação de tubo para trecho descendente na
distribuição
Foto do autor, 2009.
d – Linha descendente de tubos e as derivações para
irrigação por aspersão
Foto do autor, 2009.
Figura 5.28 – Vista complementar do sistema com bombeamento sem caixa de água
72
5.1.1.6 O processo de colheita e embalagem
A colheita começa aproximadamente aos 60 dias após o plantio das mudas, dependendo
das condições do clima, do tipo de solo, dos processos de produção, do método de produção das
mudas e do morangueiro, e poderá ser prolongada por 4 a 6 meses, em função do período de
iluminação e disponibilidade de água. A época de colheita varia de junho a novembro na região
em estudo. A cor é o parâmetro mais importante para definir o ponto de colheita dos morangos.
De modo geral, o fruto deve ter no mínimo 50% a 75% da superfície de cor vermelho-brilhante,
quando destinado para consumo fresco. O ponto de colheita pode variar também em função da
distância do tempo de transporte, da temperatura ambiente, da cultivar e da finalidade do produto.
(RUFINO, 2005)
O sabor do morango é um dos aspectos mais importantes de qualidade exigidos pelo
consumidor, e é condicionado em parte pelo balanço açúcar/acidez do fruto, mas também pela
classificação dos frutos durante a colheita, quando devem ser eliminadas as frutas deformadas,
danificadas por fungos ou insetos, ou as muito maduras. (RUFINO, 2005)
A Figura 5.29 mostra um trecho de uma plantação de morango em ponto de colheita, na
unidade produtiva A. Observe-se que ao mesmo tempo em que há morangos em ponto de
colheita, já aparece a floração das próximas frutas.
73
a – Morango em ponto de colheita
Foto do autor, 2009.
b – Morango em ponto de colheita e floração
Foto do autor, 2009.
Figura 5.29 – Morango em ponto de colheita
Na Figura 5.30 na mesma unidade, imagens de trabalhadoras procedendo à colheita.
Observe-se, também, a posição desfavorável dos trabalhadores, em termos ergonômicos.
c – Vista de trabalhadoras colhendo o morango
Foto do autor, 2009.
d – Vista complementar de trabalhadoras colhendo o
morango
Foto do autor, 2009.
Figura 5.30 – Colheita do morango
Em outra unidade, a D, a Figura 5.31 mostra outras imagens do morango em ponto de
colheita. Note-se que junto com os morangos maduros existem outros ainda verdes.
74
a – Morangos verdes e maduros
Foto do autor, 2009.
b – Morangos maduros e floração
Foto do autor, 2009.
Figura 5.31 – Morangos em ponto de colheita na unidade B
A qualidade do morango está também estreitamente ligada aos processos de colheita,
classificação e embalagem. Sendo frutos bastante perecíveis, as perdas após colheita e durante a
distribuição podem alcançar níveis importantes, caso não sejam utilizadas técnicas corretas, o que
pode acarretar prejuízos ao produtor, ao comerciante e ao consumidor. (RUFINO, 2005)
Durante a colheita, devem ser evitados golpes, feridas ou outro tipo de dano à fruta, pois
provocam suscetibilidade ao ataque de microorganismos. As cestas de colheita normalmente são
feitas de taquara ou madeira, com uma ou mais divisões para pré-classificação, e devem ser
forradas com papel limpo e apropriado. Na classificação é importante não misturar morangos
com graus de maturação e tamanhos diferentes na mesma embalagem. (RUFINO, 2005)
A embalagem adequada é importante para evitar danos físicos ao produto. Estas
embalagens devem ser novas, limpas e não provocar alterações internas ou externas na fruta. As
embalagens utilizadas variam conforme o mercado de destino, mas de modo geral usam-se
caixetas (cumbucas) de madeira, papelão ou poliestireno expandido, caixas de plástico
transparente com tampa ou uma embalagem com uma base de poliestireno e filme polimérico.
(RUFINO, 2005)
As cestas utilizadas na colheita são as mostradas na Figura 5.32, confeccionadas com
taquaras de bambu trançado ou de madeira, e encontradas na unidade C. O material utilizado para
75
forração da cesta de material trançado é de refugos de embalagem do tipo “Tetra Pak”,
descartados no processo de montagem de caixas para leite longa vida. Placas inteiras do produto
são refugadas no processo de montagem e são utilizadas de várias formas nos locais visitados.
Neste caso, serve para facilitar a higiene da cesta na época da colheita.
Figura 5.32 – Cestas para colheita
Foto do autor, 2009.
Na unidade produtiva F, a cesta para colheita é feita de madeira. Na Figura 5.33 vemos os
dispositivos utilizados na seqüência de embalagem, quando o produto é colocado nas cumbucas
de filme plástico. Estas são encaixadas em um molde para evitar a deformação das mesmas e em
seguida são colocadas à razão de quatro por unidade nas caixas de papelão, para transporte.
Figura 5.33 – Material para colheita e embalagem
Foto do autor, 2009.
76
No caso de distribuição direta, efetuada por empresas comerciais, a embalagem pode ser
feita em caixas plásticas em vez de caixas de papelão como pode ser visto na Figura 5.34, obtida
na unidade C.
Figura 5.34 – Embalagem plástica para transporte
Foto do autor, 2009.
As caixas de papelão são montadas no local onde é efetuada a embalagem. Uma amostra
da embalagem antes da montagem pode ser vista na Figura 5.35, obtida na unidade produtiva B.
77
Figura 5.35 – Embalagem antes da montagem
Foto do autor, 2009.
Quanto ao local para embalagem existem galpões, como o da Figura 5.36, da unidade
produtiva B que é uma construção permanente.
a – Vista externa
Foto do autor, 2009.
b – Vista interna
Foto do autor, 2006.
Figura 5.36 – Galpão para embalagem permanente
Verificou-se a existência, também, como pode ser visto na Figura 5.37, obtida na unidade
C, de locais onde é construído um abrigo provisório, utilizando placas de material refugado do
tipo “Tetra Pak”.
78
Figura 5.37 – Abrigo provisório para embalagem
Foto do autor, 2009.
Nas unidades onde a produção é feita com meeiros, cada parceiro constrói o seu local
destinado à embalagem, de forma a propiciar o controle da qualidade e quantidade do morango
produzido, que redundará na sua remuneração, conforme pode ser visto na Figura 5.38, obtida na
unidade produtiva F.
a – Vista externa
Foto do autor, 2009.
b – Vista interna
Foto do autor, 2009.
Figura 5.38 – Abrigo provisório de um meeiro para embalagem
Esses galpões em sua maioria são feitos também com material descartado do tipo “Tetra
Pak” que, devido à reflexão dos raios solares pela película fina de alumínio, possibilita um clima
mais ameno no interior do galpão, melhorando o conforto do trabalhador e a conservação do
79
morango durante o período da noite, quando o mesmo for colhido à tarde e enviado às unidades
de distribuição ao amanhecer do dia seguinte.
Naquelas propriedades onde a produção é familiar uma tendência ao galpão de
embalagem ser uma construção permanente, como é o caso das unidades A e B. Isso, entretanto,
não é uma regra fixa, pois na unidade C, de produção estritamente familiar, e por motivo alegado
de falta de recursos, a embalagem é feita em um pequeno galpão provisório.
Na produção extensiva com meeiros, o galpão para embalagem é uma construção
provisória. Cada parceiro constrói o seu local destinado à embalagem, de forma a propiciar o
controle da quantidade produzida que redundará na remuneração do parceiro, como é o caso da
unidade F.
casos em que se torna necessária a utilização de câmara frigorífica, seja na
conservação de produtos, como na fertilização de certas mudas de flores que germinam em baixas
temperaturas. A Figura 5.39 mostra duas câmaras frigoríficas encontradas na pesquisa, nas
unidades A e B. Segundo os produtores, o estado de conservação reflete o período em que as
unidades foram visitadas. Normalmente, no período próximo à colheita do morango, e nos casos
em que a distribuição será feita para compradores que exigem o congelamento ou a simples
refrigeração, as câmaras são higienizadas e pintadas.
Principalmente na unidade A, a câmara frigorífica é utilizada em duas situações. A
primeira ocorre quando o produto é destinado às centrais de distribuição em Campinas e São
Paulo, na qual o produto, após a embalagem no galpão de campo, feita pelos parceiros, é levada
para a câmara frigorífica onde sofrerá um choque térmico baixando a temperatura até 3°C.
No segundo caso, quando o produto é destinado à industrialização o mesmo é congelado
à temperatura de 15°C abaixo de zero.
80
a – Unidade produtiva A
Foto do autor, 2009.
b – Unidade produtiva B
Foto do autor, 2009.
Figura 5.39 – Câmaras frigoríficas
5.1.1.7 As culturas complementares
Constatou-se em todas as unidades produtivas visitadas a rotação de culturas e outras
culturas complementares. No caso da unidade produtiva B foi observada a rotação com a
produção do pimentão. O intuito era o aproveitamento da estrutura do canteiro e do sistema de
irrigação, já pronta. Esse fato pode ser observado na Figura 5.40.
81
Figura 5.40 – Plantação de pimentão como forma de
rotação de cultura com o morango
Foto do autor, 2006.
Nessa mesma propriedade também o cultivo de flores que também necessitam de
irrigação e estufas, que o morango vinha sendo cultivado com essa estrutura. A figura 5.41
mostra a produção de flores nessa unidade produtiva.
a – Estufas para o plantio de flores
Foto do autor, 2009.
b – Irrigação das flores com
espaguete
Foto do autor, 2009.
Figura 5.41 – Plantio de flores
Neste caso a irrigação é localizada, utilizando mangueiras finas conhecidas como
espaguetes. Esse sistema de irrigação leva a água do tubo distribuidor tronco até a o vaso de flor.
Observe-se também a estrutura de madeira que isola os vasos de flores do solo e do contato com
pragas.
82
Na unidade A, a rotação é feita com o plantio de milho doce (próprio para pamonha),
que é mostrado na Figura 5.42, com o aproveitamento do sistema de irrigação.
a – Cultura do milho doce
Foto do autor, 2009.
b – Irrigação do milho doce
Foto do autor, 2009.
Figura 5.42 – Plantio de milho doce
Essa atividade propicia o plantio o ano todo com intervalo de quatro meses, mantendo
constante essa cultura.
Na unidade C foi encontrada a apicultura como atividade complementar, como é
mostrada na figura 5.43.
83
a – Caixas para apicultura
Foto do autor, 2009.
b – Centrífuga para extração do mel
Foto do autor, 2009.
Figura 5.43 – Apicultura
A Figura 5.44 é complementar com relação à apicultura, mostrando na imagem à direita
o imóvel construído para o manuseio do mel e à esquerda os produtos já embalados.
a – Mel em embalagens prontas para a comercialização
Foto do autor, 2009.
b – Pequeno galpão para o trabalho como mel
Foto do autor, 2009.
Figura 5.44 – Apicultura - complementar
84
Na unidade E as culturas complementares são a abobrinha, couve-flor e uva Niágara. A
Figura 5.45 mostra a cultura da abobrinha e da uva. Após o final da temporada do morango, a
estrutura de canteiro e irrigação por aspersão será aproveitada para o plantio da couve-flor.
a – Abobrinha
Foto do autor, 2009.
b – Uva Niágara
Foto do autor, 2009.
Figura 5.45 – Culturas complementares na unidade C
Nas unidades D e F, mais extensivas, não foram encontradas culturas complementares.
Na unidade C as atividades complementares são o plantio do tomate e a apicultura.
Embora seja uma unidade estritamente de mão-de-obra familiar, a diversificação se justifica por
pessoa da família que prefere essa atividade.
Na unidade E a diversificação das culturas se dá com o plantio da abobrinha, do
morango, da uva Niágara e da couve-flor que são cultivadas em diferentes épocas entre si.
Existem quatro eixos explicativos para a questão da diversidade de culturas agrícolas
encontradas nas unidades estudadas.
O primeiro deles envolve a questão da necessidade de rotação das culturas como forma
de evitar a ocorrência de pragas quando o morango é plantado por vários anos sucessivos em um
mesmo local.
85
O segundo se refere ao período de cultivo do morango, na região estudada, que
normalmente vai do final do mês fevereiro até o final de novembro. A colheita e,
conseqüentemente, a entrada de recursos financeiros só ocorrem entre o final do mês de junho até
o final do ciclo. Outra cultura com ciclo diferente resolve a questão da maior regularidade entre a
entrada e saída de recursos financeiros durante o ano todo.
O terceiro é o do melhor aproveitamento da mão-de-obra durante todo o ano, pois em
caso contrário não haveria como viabilizar as parcerias com os meeiros que ficariam boa parte do
ano sem trabalho.
O quarto é o da economia de escala. Nas unidades familiares (Unidades A, B, C e E) ela
é obtida com o melhor uso do solo, fator escasso e de alto o valor na região. É obtida também
pelo melhor aproveitamento dos sistemas de irrigação e, em alguns casos, pela infra-estrutura
deixada pelo morango, como os próprios canteiros construídos e protegidos que podem ser
utilizados em outra cultura. Na unidade F, em que ocorre somente a cultura extensiva do
morango, a própria quantidade plantada no limite da parcela arrendada, resolve essa questão.
No caso da unidade A, a cultura do morango é complementada com o milho doce (para
confecção de pamonha) que possibilita a produção durante todo o ano, com ciclos iniciados a
cada quatro meses e que utiliza também o sistema de irrigação, bem como parte dos
equipamentos de preparo do terreno.
No caso da unidade produtiva B, foi observada a rotação com a produção do pimentão.
O intuito era o aproveitamento de parte da estrutura do canteiro e do sistema de irrigação,
pronta, para a produção do pimentão. A outra solução, para a melhoria dessa escala, foi o
desenvolvimento do cultivo de flores que também necessitam de irrigação.
Observe-se que todas essas culturas guardam um fator de sinergia (ANSOFF, 1977)
entre si, que é a irrigação e parte da estrutura de proteção, que justifica a diversificação, embora
haja uma variante no sistema de irrigação que é o uso de irrigação localizada por meio do
denominado espaguete que leva a água do tubo distribuidor tronco até o vaso de flor, e da
estrutura de madeira que o isola do solo e do contato com pragas.
86
O quinto eixo explicativo é a valorização da terra, pois a região é muito atrativa para os
empreendimentos imobiliários que estão sendo implantados, com preços bastante interessantes,
propiciando, com o tempo, o abandono da produção agrícola a favor da especulação imobiliária.
Essa parece ser ao mesmo tempo a força e a fraqueza da região, como veremos no item relativo à
escala regional.
5.1.1.8 As moradias vinculadas à produção do morango
Com relação à moradia das famílias dos proprietários das unidades produtivas,
destacamos as constantes na figura 5.46, todas de caráter permanente e construídas em alvenaria
de tijolos revestidos e com coberturas de telhas cerâmicas.
a – Unidade produtiva A
Foto do autor, 2009.
b – Unidade produtiva B
Foto do autor, 2009.
Figura 5.46 – Moradias das famílias dos proprietários das unidades produtivas
E também as da Figura 5.47.
87
C – Unidade produtiva C
Foto do autor, 2009.
d – Unidade produtiva D
Foto do autor, 2009
Figura 5.47 – Moradias das famílias dos proprietários das unidades produtivas nas unidades C e D
Com relação à moradia das famílias dos meeiros das unidades produtivas, destacamos as
constantes na Figura 5.48, de caráter permanente, em alvenaria de tijolos revestidos parcialmente
e bastante rústicas.
a – Unidade produtiva A
Foto do autor, 2009.
b – Unidade produtiva D
Foto do autor, 2009.
Figura 5.48 – Moradia das famílias dos meeiros das unidades produtivas
E também as da Figura 5.49, ocupada pela família de um encarregado da unidade,
construída com placas de compensado para construção, de caráter provisório, e coberta com
telhas de fibrocimento.
88
Figura 5.49 – Moradia da família do encarregado da
unidade produtiva F
Foto do autor, 2009.
As moradias dos proprietários têm, visivelmente, um nível melhor do que a dos
trabalhadores, mas são, também, bastante modestas, o que mostra o baixo nível de renda que
ocorre nesse setor de produção.
As moradias dos trabalhadores são de caráter mais permanente e feito de alvenaria de
tijolos, embora com padrão de acabamento no limite da habitabilidade, quando pertencem a
unidades produtivas familiares. Tomam um caráter mais provisório e precário à mediada que
pertencem a unidades produtivas extensivas.
Pode-se explicar esse fato, observando que não a propriedade da terra, somente o
arrendamento, além da necessidade de rotação do local de cultura do morango. Não existe,
portanto, a motivação para a construção de moradias permanentes.
Não se observa uma lógica para a ocupação do espaço como nas produções industriais,
pois as construções vão ocorrendo próximas à moradia do proprietário, na medida em que são
necessárias. Somente na unidade A observou-se que as moradias dos trabalhadores estão
construídas ao longo de um caminho que dá acesso à estrada vicinal que atende a região.
89
5.1.1.9 Os galpões para guarda e manutenção de equipamentos
Os galpões de guarda e manutenção dos equipamentos ocorrem em todas as unidades, e
sendo construções simples e rústicas e de caráter permanente. Somente na unidade F, em que a
produção é extensiva e em terra arrendada, o galpão foi construído em estrutura metálica devido à
maior facilidade de desmontagem e aproveitamento em outra unidade produtiva.
Na Figura 5.50 estão os galpões de manutenção de equipamentos das unidades A e B.
a – Unidade A
Foto do autor, 2009.
b – Unidade B
Foto do autor, 2009.
Figura 5.50 – Galpões para manutenção de equipamentos
No caso da unidade A, o mesmo galpão abriga a parte de embalagem, as câmaras
frigoríficas e a guarda e manutenção dos equipamentos.
Para a Unidade C temos a Figura 5.51.
90
Figura 5.51 – Galpão para a manutenção de
equipamentos da unidade C
Foto do autor, 2009.
Na unidade F, mais extensiva, observamos um galpão maior e com um pátio de
estacionamento com vários equipamentos que fazem o rodízio, mostrados na Figura 5.52.
a – Galpão.
Foto do autor, 2009.
b – Equipamentos.
Foto do autor, 2009.
Figura 5.52 – Galpão para a manutenção de equipamentos da unidade F
5.1.2 Unidades fornecedoras
A principal ocorrência na região se refere à reprodução de mudas clonadas e adquiridas
externamente, e visa ao barateamento, tendo em vista a produção intensiva praticada.
91
Para a obtenção de frutas de qualidade uniforme, um dos pré-requisitos essenciais é a
utilização de mudas convenientemente preparadas sob o ponto de vista genético e sanitário, em
local sem probabilidade de contaminação por fungos e bactérias que sejam agressivos ao
morangueiro. A partir de plantas matrizes das variedades que interessa produzir, certas empresas
especializadas produzem as matrizes das mudas. Essas matrizes são multiplicadas por alguns
produtores locais e comercializadas aos demais.
Essa unidade recebe as matrizes de morangueiro de uma empresa nacional
(MULTIPLANTA, 2009), situada no município de Andradas, na região sul do Estado de Minas
Gerais, que utiliza técnicas de biotecnologia vegetal (clonagem asséptica de plantas em
laboratório e aclimatação controlada em estufas).
As plantas matrizes são produzidas pelo processo de cultura de meristemas,
micropropagação e aclimatação em estufas, para ficarem isentas de pragas e doenças.
As matrizes são adquiridas em bandejas com 128 unidades, prontas para o plantio direto
no viveiro, para a formação das mudas.
As principais cultivares produzidas pela empresa constam na Tabela 5.1.
Tabela 5.1 – Principais cultivares do morango – empresa Multiplanta
Cultivares Origem
Ano de
Introdução
Utilização Descrição Comentários
Oso Grande
Universidade
da Califórnia,
USA
1987 Mesa
Frutos grandes,
firmes e doces.
- Grande aceitação
no mercado.
- É atualmente a
mais plantada no
país.
Camarosa
Universidade
da Califórnia,
EUA
1992 Mesa
Precoce, frutos
grandes, firmes e
de bom sabor.
- Coloração
vermelha intensa.
- Resistente ao
transporte.
Dover
Universidade
da Flórida,
EUA
1979 Mesa
Frutos firmes,
ácidos, de
coloração
vermelha intensa
e boa conservação
pós-colheita.
- Produtividade
alta, adequada para
industrialização e
mercados distantes
da área de
produção.
92
Tudla
(Milsei)
Tudela,
Espanha
1992 Mesa
Frutos grandes e
firmes, coloração
vermelha
brilhante.
Sweet
Charlie
Universidade
da Flórida,
USA
1997 Mesa
Precoce, frutos
firmes e doces.
- Alta
produtividade.
Toyonoka Japão 1975
Fruto de
excelente aroma e
sabor.
- Produtividade
média.
- Normalmente
consegue preço
diferenciado no
mercado.
Campinas
(IAC-2712)
IAC,
Campinas,
SP
1960 Mesa
Precoce, rústica,
frutos doces e
macios.
- Boa
produtividade.
Flórida
Festival
Universidade
da Flórida,
EUA
2000
Cultivar precoce,
frutos grandes,
firmes, coloração
vermelha e
excelente aroma e
sabor.
- Alta
produtividade.
Aromas
Universidade
da Califórnia,
EUA
1997 Mesa
Frutos de
excelente
qualidade,
grandes, firmes,
de coloração
vermelha intensa.
- Cultivar de dias
neutros.
- Alta
produtividade.
Diamante
Universidade
da Califórnia,
EUA
1997 Mesa
Frutos grandes e
firmes de
coloração
vermelha interna
e externa.
- Cultivar de dias
neutros.
Fonte: MULTIPLANTA, 2009.
Na unidade fornecedora G, o plantio direto no viveiro, para a formação das mudas, da
variedade Flórida Festival, pode ser observado na figura 5.53.
93
a – Canteiro com mudas prontas para o replante
Foto do autor, 2009.
b – Mudas prontas para o replante
Foto do autor, 2009.
Figura 5.53 – Viveiro para formação de mudas
Na Figura 5.54 é mostrada a extração das mudas destinadas a plantio em outras
unidades.
Figura 5.54 – Mudas extraídas para replante em outra
unidade
Foto do autor, 2009.
Conforme informações colhidas na unidade G, o canteiro para o viveiro de mudas é feito
em unidade diferente da produtora, em canteiro com aproximadamente 3 metros de largura,
construído após aragem e gradeamento, recebe adubação antes do plantio.
94
As matrizes são plantadas a aproximadamente 2 metros uma da outra e se reproduzem
cobrindo completamente o canteiro.
Após o desenvolvimento das mudas elas são distribuídas para as unidades produtivas da
região.
5.1.3 Unidades distribuidoras
É neste aspecto que fica mais clara a utilização da categoria de análise dos “event places”,
podendo ser percebida a evolução do parque arquitetônico destinado aos eventos com a própria
dinâmica dos mesmos. Os edifícios que compõem as unidades foram construídos por etapas que
podem ser observadas pelas diferenças entre os detalhes construtivos.
Mostram também o melhor padrão das construções e estado de conservação com relação
às unidades produtivas, que levam a considerar os resultados financeiros mais favoráveis que os
eventos propiciam quando comparados com a própria produção agrícola.
A explicação para a continuidade observada nos eventos descritos a seguir, durante mais
de 25 anos, é a finalidade que os eventos têm de proporcionar a possibilidade de venda direta ao
consumidor e incentivar a demanda, tendo em vista que mesmo as barracas particulares também
produzem gêneros que têm o morango como insumo, como pizza de morango, sorvetes e doces.
As características da região propiciam a afluência de público e garantem o sucesso dessas
duas versões anuais da festa, que em grande medida é uma repetição em todos os seus aspectos,
exceto pela ênfase na cultura de flores na Festa das Flores e Morangos de Atibaia.
5.1.3.1 Festa do Morango e Expolegumes
Ocorre na unidade distribuidora H, como já vimos.
95
Vista aérea da área do conjunto arquitetônico pertencente à Associação, que pode ser
aquilatado pela Figura 5.55, cuja imagem foi gerada por ocasião da 2 edição da Festa do
Morango, em 2008.
Figura 5.55 – Vista aérea do conjunto arquitetônico da festa durante o evento de 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
A Figura 5.56 mostra o portal do parque, que recebeu o nome de Duílio Maziero, um dos
líderes idealizadores do evento e da associação, tendo sido o seu primeiro presidente.
96
a – Imagem fora do período da festa
Foto do autor, 2009.
b – Imagem durante a festa de 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.56 – Portal do parque onde ocorre o evento anual
A igreja de São João, início do conjunto arquitetônico, é vista na Figura 5.57, em uma
imagem à esquerda obtida antes do evento de 2009 e durante o evento de 2008, à direita.
a – Imagem fora do período de festa
Foto do autor, 2009.
b – Imagem durante a festa de 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.57 – Igreja de São João
Na Figura 5.58 aparece uma vista interna da igreja, durante a festa de 2009.
97
Figura 5.58 – Imagem interna da igreja
Foto do autor, 2009.
Foi construído um galpão de exposições, onde ocorrem os concursos e exposições de
produtos da região e dos produtos premiados durante o evento de cada ano, mostrado na figura
5.59.
a – Imagem fora do período de festa
Foto do autor, 2009
b – Imagem durante a festa de 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.59 – Pavilhão de exposições
A vista interna desse galpão, durante a festa de 2008, é mostrada na Figura 5.60.
98
a – Exposição do morango
Fonte: BELUSO, 2008.
b – Vista interna geral
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.60 – Vista interna do pavilhão de exposições durante a festa de 2008
Foi construído, também, um galpão para venda dos produtos durante o período do evento,
mostrado na figura 5.61.
a – Imagem fora do período de festa
Foto do autor, 2009.
b – Imagem durante a festa de 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.61 – Galpão para venda de produtos
Durante o evento é organizado um restaurante promovido pela comunidade de origem
italiana, com comidas típicas italianas, mostrado na figura 5.62.
99
a – Imagem externa durante a festa de 2009
Foto do autor, 2009.
b – Imagem interna durante a festa de 2009
Foto do autor, 2009.
Figura 5.62 – Galpão para o restaurante italiano
Vistas complementares desse galpão são mostradas na Figura 5.63.
a – Imagem externa durante a festa de 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
b – Imagem interna durante a festa de 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.63 – Imagens complementares do galpão para o restaurante italiano
É possível observar que o galpão do restaurante italiano foi construído em etapas, através
da estrutura do telhado, comparando-se a parte central apresentada na imagem apresentada à
direita na Figura 5.63 e a parte referente à cozinha, apresentada no lado esquerdo da Figura 5.64,
e a parte adicional do galpão apresentada no lado direito desta mesma imagem.
100
a – Área da cozinha
Fonte: BELUSO, 2008.
b – Área adicional do galpão
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.64– Outras imagens complementares do galpão do restaurante italiano
Durante o evento é organizado, também, um restaurante promovido pela comunidade de
origem japonesa, com comidas típicas, cuja imagem externa obtida fora do período de festas é
mostrada na figura 5.65.
Figura 5.65 – Imagem externa do galpão do restaurante
japonês
Foto do autor, 2009.
Com relação à parte interna, apresenta-se a Figura 5.66, cujas imagens foram obtidas
durante o evento em 2008.
101
a – Imagem interna do galpão durante a festa em 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
b – Imagem da área da cozinha durante a festa de 2008
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.66 – Vistas internas do galpão para o restaurante japonês
Foi construído ainda um palco externo para as atrações apresentadas durante a festa, que
pode ser observado no lado esquerdo da Figura 5.67. No lado direito consta a imagem do mesmo
imóvel na sua parte posterior, voltada para a rua, e que é utilizado durante todo o ano como posto
de saúde.
a – Imagem externa fora do período de festas
Foto do autor, 2009.
b – Imagem externa da parte posterior fora do período
de festas
Foto do autor, 2009.
Figura 5.67 – Palco para apresentações durante os eventos
Na figura 5.68 mostra-se uma imagem interna do mesmo palco obtida em uma
apresentação da comunidade de origem japonesa, durante a festa de 2008.
102
Figura 5.68 – Imagem interna do palco
Fonte: BELUSO, 2008.
Durante a festa são promovidos diversos eventos como a eleição da rainha da festa, o
concurso para premiação do melhor morango produzido no ano e outros eventos, como a
apresentação do Bom Odori” e outras apresentações típicas da colônia japonesa que será
comentada quando for procedido o estudo em escala regional. Na Figura 5.69 está reproduzida a
imagem do morango premiado em primeiro lugar na festa de 2007, da variedade Camarosa.
103
Figura 5.69 – Morango premiado em 2007
Fonte: BELUSO, 2008.
A associação hoje é mantida em grande parte pelo resultado apresentado pela festa,
contando com um zelador dos imóveis e um administrador profissional, e para isso são vendidas
cotas para empresários no ramo de eventos montarem seus quiosques e aparelhos de lazer. A
Figura 5.70 mostra os mesmos durante a festa de 2008.
104
a – Vista dos quiosques particulares
Fonte: BELUSO, 2008.
b – Vista complementar dos quiosques particulares
Fonte: BELUSO, 2008.
Figura 5.70 – Atividades particulares durante a festa de 2008
5.1.3.2 Festa de Flores e Morangos de Atibaia
Ocorre na unidade distribuidora I, como já vimos.
A figura 5.71 mostra a entrada do parque no período de realização da festa em 2008.
Figura 5.71 – Entrada do Parque Municipal Edmundo
Zanoni durante a festa de 2008
Foto do Autor, 2008.
105
A Figura 5.72 mostra dois aspectos complementares do salão de comercialização de flores
do evento ocorrido em 2008. Construído com uma estrutura metálica desmontável e vem sendo
utilizada e remontada ao longo de vários anos.
Trata-se de construção que se tornou necessária à medida que a festa vem evoluindo e
foram necessários mais espaços para a exposição.
a – Vista interna do salão.
Foto do autor, 2008.
b – Vista interna complementar do salão.
Foto do autor, 2008.
Figura 5.72 – Salão de venda de flores na festa de 2008
As imagens da Figura 5.73, da festa de 2008 mostram aspectos do pavilhão de exposição
do Parque Edmundo Zanoni. Observe-se que a imagem da direita é do mesmo balcão de
exposições já visto na festa do mesmo ano da Associação dos Produtores de Morango em
Junho/julho do mesmo ano.
106
a – Exposição de frutas e legumes
Foto do autor, 2008.
b – Exposição de flores
Foto do autor, 2008.
Figura 5.73 – Salão de venda de flores na festa de 2008
A Figura 5.74 mostra outras estruturas metálicas desmontáveis para a praça de
alimentação com espaços locados para empresas especializadas em eventos.
a – Vista da praça de alimentação
Foto do autor, 2008.
b – Vista complementar da praça de alimentação
Foto do autor, 2008.
Figura 5.74 – Praça de alimentação na festa de 2008
A figura 5.75 mostra os boxes destinados à comercialização do morango durante a festa
em 2008.
107
a – Espaço para a venda de frutas
Foto do autor, 2008.
b – Boxe para venda de morangos
Foto do autor, 2008.
Figura 5.75 – Espaço para a venda de frutas na festa de 2008
A Figura 5.76 mostra o morango comercializado na festa de 2008, onde se destaca a
diversidade das embalagens. Na imagem da esquerda vemos o morango na embalagem
tradicional de taquaras de bambu e à direita a mais recente “cumbuca” em filme plástico
acomodada em caixa de papelão à razão de quatro por caixa.
108
a – Embalagem em taquaras de bambu
Foto do autor, 2008.
b – Embalagem em “cumbucas” de filme plástico
acomodadas em caixas de papelão
Foto do autor, 2008.
Figura 5.76 – Embalagens para a comercialização do morango na festa de 2008
A Figura 5.77 mostra as caixas de papelão com “cumbucas” de filme plástico empilhadas,
o que dá uma idéia da quantidade de caixas que podem ser sobrepostas. Essa característica das
caixas facilita o manejo das mesmas no transporte.
109
Figura 5.77 – Embalagens do morango empilhadas na
festa de 2008
Foto do autor, 2008.
A Figura 5.78 mostra outros tipos de frutas, no caso pêssegos e nêsperas, comercializadas
na festa de 2008 e suas respectivas embalagens.
a – Pêssegos.
Foto do autor, 2008
b – Nêsperas
Foto do autor, 2008.
Figura 5.78 – Outros tipos de frutas comercializadas na festa de 2008
Como na Festa do Morango da Associação dos Produtores ocorre, também, o Bom
Idori” e outras apresentações típicas da colônia japonesa bem como das demais comunidades de
imigrantes, que serão comentas quando for procedido o estudo em escala regional.
110
5.2 Elementos de arquitetura rural na escala regional
Nesta escala são estudadas a gica da ocupação dos espaços geográficos e a evolução
da infra-estrutura de apoio, que envolvem os processos que ocorrem e estão interligados com a
produção agrícola, como é o caso do patrimônio arquitetônico e dos eventos ligados à cadeia de
produção. Nesse nível tem destaque a arquitetura e a infra-estrutura que a região apresenta.
A cidade de Atibaia
4
foi fundada em 1665 por Jerônimo de Camargo, e era a primeira
parada obrigatória de descanso e reabastecimento dos tropeiros que saiam de São Paulo rumo aos
sertões de Minas Gerais e Mato Grosso. (RUSCHMANN, 1999)
A localização geográfica da cidade é apresentada na Tabela 5.2.
Tabela 5.2 – Coordenadas geográficas da cidade de Atibaia
Latitude: 23º 6’ 50” Sul
Longitude: 46º 32’ 29” Oeste
Fonte: ATIBAIA, 2006.
Encontra-se no entroncamento das rodovias Fernão Dias e D. Pedro I, distando 52km de
São Paulo, 56km de Campinas e 62km de São José dos Campos, os grandes centros dinâmicos da
região. De forma esquemática, o acesso rodoviário à cidade é o que se apresenta na Figura 5.79.
4
Água boa para se beber em tupi-guarani.
111
Figura 5.79 – Localização e acesso à cidade
Fonte: Adaptado de GOOGLE MAPS, 2009.
O que torna a região atrativa ao público e consumidores dos produtos agrícolas da região,
com ênfase neste caso para o morango, é em primeiro lugar a sua excepcional localização no
entroncamento de dois importantes eixos rodoviários, que a interligam aos mais importantes e
populosos centros dinâmicos da economia da região e do País.
Em segundo lugar as características próprias da cidade que, apesar de estar localizada a
aproximadamente 60km dos centros dinâmicos citados, tem conseguido preservar e incentivar
o patrimônio cultural e arquitetônico que possui.
Ao freqüentar a região é possível perceber a diferença, levantada por Augè (2005), entre
os lugares e os não-lugares. Os primeiros representados pelas próprias unidades estudadas e os
segundos pelos dois eixos rodoviários citados. Quem somente trafega por esses eixos não tem
nenhuma condição de aquilatar o tipo diferente de vida que é propiciado pela região, mesmo em
sua proximidade.
O território do município de Atibaia está localizado na bacia hidrográfica do rio de
mesmo nome e por alguns de seus afluentes. O rio Atibaia nasce da confluência dos rios
112
Cachoeira e Atibainha, nos limites territoriais com os municípios de Piracaia e Bom Jesus dos
Perdões e pertencem às Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), conforme pode ser
observado na Figura 5.80.
Figura 5.80 – Localização na Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
Fonte: Adaptado de ANA, 2007.
Segundo Conti (2001b, p.29), a produção agrícola de Atibaia começou no século XVIII,
com o cultivo de cereais, principalmente o trigo. No final do século XIX iniciou-se a produção do
café, com grande sucesso, que se estendeu até meados do século passado.
Em 1902, a Câmara Municipal de Atibaia passou a incentivar o plantio de trigo e linho,
repassando aos agricultores as sementes recebidas da Secretaria da Agricultura do Estado do São
Paulo. (ZANONI, 2005, p. 27)
A partir de 1938, noticiou-se que o Sr. Augusto Lourenço e outros produtores
produziam o morango, de forma incipiente, em canteiros de suas hortas. A produção era vendida
113
com as frutas embaladas em cestinhas de bambu, na feira da cidade, que ocorria aos domingos.
Produziam-se também geléias desse fruto.
Somente em julho de 1956 aparecem as primeiras notícias da produção de morango na
forma atual, fruto da produção por parte do Sr. K. Nishiguti, em sua propriedade situada no bairro
Piqueri, sob a orientação do engenheiro agrônomo Davinir de Castro Peres, que era o
responsável, nessa época, pela Casa da Lavoura de Atibaia. (ZANONI, 2005, p. 153-154)
É, também, a partir desse mesmo período o início do plantio das demais frutas
produzidas na cidade. (CONTI, 2001b, p.31)
O estudo efetuado por Silva (2000, p.91), com dados de 1995, referentes à área plantada,
aponta para o cultivo do morango como a principal atividade agrícola do município, seguida pelo
café, pêssego, uva e outras.
Além disso, Silva (2000, p. 90), utilizando dados de 1997, destaca que o município é o
maior produtor regional de morango, pêssego e goiaba, o segundo maior produtor regional de
caqui e o terceiro em produção de uva.
Baseando-se em dados mais recentes (SÃO PAULO (Estado), 2008), constantes da
Tabela 5.3, verifica-se que a cultura do morango é a principal da cidade, tanto com relação ao
número de unidades produtivas agrícolas (UPA), com 71 unidades, como à área cultivada, com
250,1ha. Saliente-se também a importância da área cultivada do milho com 1.380,2ha e a
floricultura (corte, viveiros de flores e ornamentais) somando 801,6ha, que foram culturas
complementares estudadas.
Tabela 5.3: Área Cultivada, Município de Atibaia, Estado de São Paulo, 2007/2008
CULTURA N. DE UPAs
ÁREA CULTIVADA
(Em hectares)
Outras gramíneas para pastagem 487
8.743,1
Eucalípito 160
2.667,5
Braquiara 143
1.579,3
Milho 226
1.380,2
114
Floricultura para corte 182
553,9
Outras olerícolas 67
283,4
Morango 71
250,1
Capim-napier (ou capim-elefante) 36
238,9
Viveiro de flores e ornamentais 69
191,2
Feijão 103
166,6
Pêssego 51
164,0
Uva rústica 37
164,0
Tangerina 18
133,5
Aveia 2
105,0
Cana-de-açucar 26
72,1
Floricultura para vaso 16
56,5
Pinus 2
54,1
Chuchu 10
53,6
Uva fina 11
42,9
Goiaba 18
38,8
Caqui 17
37,4
Pomar doméstico 45
35,6
Brócolos (ou brocolis) 9
34,0
Araucária (ou pinheiro-do-parana) 1
32,0
Abóbra (ou jerimum) 21
27,0
Couve-flor 11
26,9
Ameixa 12
26,3
Larnaja 12
22,5
Gramas 6
22,0
Horta doméstica 33
20,9
Fonte: SÃO PAULO (Estado), 1998.
Segundo a mesma fonte, o Município de Atibaia é o maior produtor de morango do
Estado de São Paulo, com uma participação de 30,74%, e o Município de Jarinu, vizinho e
terceiro maior, com 41 unidades produtivas e área cultivada de 101,21ha, correspondendo
12,44% da produção, e com produtores também vinculados à Associação dos Produtores de
Morangos de Atibaia e Região.
115
De acordo com o Plano Diretor da Estância de Atibaia (ATIBAIA, 2006), a população
da cidade é a constante da Tabela 5.4.
Tabela 5.4 – Estância de Atibaia – População
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL, RESIDENTE, URBANA, RURAL E FLUTUANTE
Ano
População
Residente
Flutuante(*) Total Geral
Urbana Rural Total
1950
7.117
11.335
18.452
18.452
1960
8.957
14.094
23.051
23.051
1970
20.380
16.459
36.839
36.839
1980
48.445
9.362
57.807
57.807
1991
83.757
11.585
95.342
19.068
114.410
2000
96.874
14.426
111.300
22.260
133.560
(*)2005
113.237
13.914
126.851
25.370
152.221
Fonte: ATIBAIA, 2006.
(*) Estimativa PEA
Observe-se nessa tabela a estimativa de que a população flutuante situa-se em torno de
20% da população total, o que indica uma afluência à cidade em fins de semana, feriados e nas
férias, caracterizando, como foi visto, o fenômeno da residência secundária. Sob esse aspecto
Tulik (1995, p.157), utilizando-se de dados do período 1980-1991, aponta a cidade de Atibaia
como um dos pólos receptores, onde 15,60% dos domicílios possuem ocupação ocasional.
Serão apontados nos próximos itens os aspectos importantes do patrimônio cultural e
arquitetônico da cidade que são umas das justificativas dessa população flutuante e da ocorrência
da questão da residência secundária.
Além disso, representam um atrativo para os consumidores dos produtos da cidade, em
especial o morango, o que justifica a sua presença nesse estudo.
116
5.2.1 Barragem e reservatório da Usina Hidrelétrica de Atibaia
A Usina Hidrelétrica de Atibaia foi construída em 1928 e atendia, durante o período de
operação, além de toda a cidade de Atibaia, as cidades vizinhas de Jarinu, Bragança Paulista e
Bom Jesus dos Perdões. A partir de 1969, quando a CESP assumiu o sistema de fornecimento de
energia, a usina passou a funcionar somente nos horários de pico. Atualmente está sem atividade,
e devido à sua qualidade ambiental, a área da represa da usina foi transformada, pela lei estadual
5280, de 04/09/86, em Área de Preservação Ambiental (APA).
A barragem foi construída em alvenaria de pedra granítica aparelhada, assentadas com
argamassa. A Casa de máquinas possui um acervo patrimonial da engenharia referente ao
equipamento gerador de energia, que permanece instalado e disponível para visitas controladas.
Como referência observe-se as fotos da figura 5.81.
a – Barragem
Foto do autor, 2007.
b – Reservatório.
Foto do autor, 2007.
Figura 5.81 – Barragem e reservatório no rio Atibaia
A Figura 5.82 mostra uma imagem do vertedor da barragem.
117
Figura 5.82 – Vertedor da barragem
Foto do autor, 2007.
5.2.2 A paisagem da Serra de Itapetinga
Possui paisagem serrana, onde se encontra o Pico da Pedra Grande, de onde partem os
praticantes de vôo livre. Esse pico tornou-se um marco de referência da cidade e pode ser
avistado de vários pontos, conforme Figura 5.83, e a partir do mesmo podem-se avistar várias
cidades próximas.
a – A partir do Jardim do Lago
Foto do autor, 2007.
b – A partir da parte central da cidade
Foto do autor, 2007.
Figura 5.83 – Serra de Itapetinga
Outras imagens da Serra de Itapetinga podem ser vistas na Figura 5.84.
118
.a – A partir da Rodovia D. Pedro I
Foto do autor, 2005.
b – Campo de pouso de vôo livre
Foto do autor, 2005.
Figura 5.84 – Vistas complementares da Serra de Itapetinga
A Pedra Grande foi tombada pelo Condephaat em 1983, sua formação geológica data de
600 milhões de anos. Com 1450 m de altitude e uma superfície de aproximadamente 200.000
metros quadrados, sendo o ponto mais alto do município, ideal para a prática de vôo livre.
5.2.3 Patrimônio arquitetônico, cultural e religioso
Com relação ao patrimônio arquitetônico, destacaram-se os seguintes:
5.2.3.1 Fazenda Santana
Remanescente de antiga fazenda produtora de café, encontra-se em bom estado de
conservação a casa sede que, segundo informações colhidas no local, remonta ao final do século
XIX. Na Figura 5.85 vê-se a fachada da casa sede e o terreiro de café.
119
a – Casa sede.
Foto do autor, 2005.
b – Casa sede e terreiro
Foto do autor, 2005.
Figura 5.85 – Fazenda Santana
Na Figura 5.86, vêem-se os remanescentes da tulha e, já demolida parcialmente, a
senzala que ainda hoje funcionam como depósito. Na mesma figura, em maior detalhe, observa-
se a pavimentação do terreiro, com tijolos de barro.
a – Tulha e remanescente da senzala
Foto do autor, 2005.
b – Detalhe do piso do terreiro
Foto do autor, 2005.
Figura 5.86 – Fazenda Santana – tulha, senzala e terreiro
Na Figura 5.87, estão os detalhes das portas e janelas assentadas em paredes construídas
em taipa de pilão.
120
a – Detalhe da porta e parede
Foto do autor, 2005.
b – Detalhe da janela
Foto do autor, 2005.
Figura 5.87 – Fazenda Santana – detalhes internos
Na Figura 5.88 são mostradas duas perspectivas do parlatório, uma do ouvinte e outra do
orador, bem como do muro de contenção do terreiro, construído com pedras assentadas com
argamassa.
a – Parlatório sob a perspectiva do ouvinte
Foto do autor, 2005.
b – Parlatório sob a perspectiva do orador
Foto do autor, 2005.
Figura 5.88 – Fazenda Santana – parlatório
Em seqüência, a Figura 5.89 mostra uma casa da colônia de empregados da unidade
produtiva, construída após abolição da escravatura e uma capela.
121
a – Casa de colônia
Foto do autor, 2005.
b – Capela
Foto do autor, 2005.
Figura 5.89 – Fazenda Santana – casa de colônia e capela
Na Figura 5.90 aparecem as construções referentes a uma baia e curral, que
recentemente foi iniciada a criação de gado leiteiro.
a – Baias e curral
Foto do autor, 2005.
b – Casa para o administrador
Foto do autor, 2005.
Figura 5.90 – Fazenda Santana – outros imóveis
Esta unidade está em bom estado de conservação e é utilizada como segunda residência
do atual proprietário.
122
5.2.3.2 Fazendola
Outra unidade produtiva do período do café é a denominada Fazendola. Atualmente é
utilizada como segunda residência do proprietário. As fotos constantes da Figura 5.91, exibem o
estado atual.
a – Ao fundo casa original remodelada
Foto do autor, 2005.
b – Conjunto atual
Foto do autor, 2005.
Figura 5.91 – Fazendola
Um remanescente que ainda se encontra em perfeito estado de conservação e na forma
original é o amplo terreiro de café e uma das tulhas que aparecem nas imagens complementares
da Figura 5.92.
a – Terreiro e tulha
Foto do autor, 2005.
b – Terreiro e tulha – complementar
Foto do autor, 2005.
Figura 5.92 – Vistas complementares do terreiro e tulha
123
A Figura 5.93 mostra detalhes de drenagem dos terreiros.
a – Murta com sarjeta em alvenaria de tijolos para
escoamento da água de chuva
Foto do autor, 2005
b – Canaleta constante de rebaixo no piso de tijolos
para o escoamento da água
Foto do autor, 2005
Figura 5.93 – Detalhes de drenagem do terreiro
Segundo Camargo (2005), a história desta fazenda confunde-se com a história da cidade
de Atibaia e com a chegada a São Paulo, das famílias de sobrenomes Pires e Camargo, que até
hoje dão nome a várias ruas da cidade. Em 1531, quando Martim Afonso de Souza aportou no
Brasil, vieram de Portugal alguns membros da família Pires, ricos mercadores com grande
influência política junto à corte portuguesa e se instalaram em São Paulo e São Vicente. Essa
família recebeu, então, no sistema de capitânias hereditárias, uma grande área de terra na região
correspondente ao município de Atibaia.
Mais ou menos na mesma época vindos de Sevilha, na Espanha, chegaram os não menos
influentes Camargos, liderados por Giuseppe Camargo. Desde logo houve uma acirrada disputa
política entre estas duas famílias para obtenção de liderança junto à câmara de vereadores de São
Paulo e São Vicente (CAMARGO, 2005). Essa disputa política, com mortes entre as partes, irá
marcar os primeiros anos da vida de Atibaia, que terminou em 1722 com a anistia geral aos
envolvidos. (CONTI, 2001a)
As terras pertencentes à família Camargo compreendiam cinco mil alqueires paulistas,
sendo tocada por escravos, que foram substituídos por colonos italianos. Chegou a ter cinco
124
milhões de pés de café plantados no conjunto de fazendas, sendo a Fazendola a menor delas.
(CAMARGO, 2005)
No início do século passado, em 1922, a família proprietária fez a doação de um lote de
26 alqueires, onde havia uma queda d’água, para a construção da que é hoje conhecida como
Usina da Represa, para a geração de energia elétrica para a cidade de Atibaia e arredores,
mediante uma cláusula de encargo hereditário relativo ao uso de energia. (CAMARGO, 2005)
5.2.3.3 Museu Municipal João Batista Conti
Foi construído em 1836 para abrigar a Cadeia e o Fórum Municipal, e tornou-se museu a
partir de 1952. Possui, como acervo, peças a partir de 1665, de caráter artístico e histórico, e
documentos do Brasil Colônia e Império, além de fotos antigas de Atibaia e seus moradores.
Destaque-se, como referência, o selo “Olho de Boi”, da época do Brasil Império, emitido em
1843, e que foi o primeiro selo do Brasil e das Américas e o segundo do Mundo, além de uma
moeda de vidro, feita pelos fenícios por volta de 1000 a. C. (RUSCHMANN, 1999)
O prédio erigido em taipa ainda conserva as pedras rústicas do piso e parte do
madeiramento original, lavrado a machado, bem como as grades colocadas em meados do culo
passado. Desde o seu tombamento pelo SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional), em 1956, passou por vários processos de reforma e conservação. (RUSCHMANN,
1999) Na Figura 5.94, a fachada do edifício.
125
Figura 5.94 – Museu municipal
Foto do autor, 2006.
5.2.3.4 Igreja Nossa Senhora do Rosário
Calcula-se que tenha sido construída 180 anos e passou por uma reconstrução em
1872, e por pelo menos mais três reformas, entre 1914 e 1916, entre 1953 e 1954, além de outra
mais recente em 2002. Foi construída para ser freqüentada pelos escravos, quando era conhecida
como Igreja de Nossa Senhora dos Homens Pretos. (RUSCHMANN, 1999)
A fachada atual consta da Figura 5.95.
Figura 5.95 – Igreja do Rosário
Foto do autor, 2006.
126
Outra foto, de 1946, consta na figura 5.96, mostrando as modificações ocorridas na
fachada.
Figura 5.96 – Igreja do Rosário em 1946
Fonte: COSTA, 2005.
5.2.3.5 Igreja de São João Batista
Originou-se da capela edificada por Jerônimo de Camargo, em 1665. Segundo
Ruschmann (1999), passou por diversas reformas e ampliações, destacando-se as seguintes:
1698 Antonio Prado da Cunha, genro de Jerônimo de Camargo, empreendeu a
primeira reforma com ampliação da capela.
1744 – Reforma feita pelo povo.
1795 – Trabalhos do entalhador José Francisco de Oliveira no altar-mor.
1865 – Maior e decisiva reforma empreendida por José Lucas Siqueira Campos.
127
1912 – Reforma inteira feita pelo Padre Kohly, quando surgiram as arcadas.
1940 – Feito o revestimento da frente pelo padre Abril.
A fachada atual consta da Figura 5.97.
Figura 5.97 – Igreja Matriz
Foto do autor, 2006.
5.2.3.6 Sobrado Júlia Ferraz
O primeiro documento que se refere ao imóvel, com certeza, data de 1834. Trata-se de
uma escritura de venda. Foi transformado em sobrado em 1845. Recebeu diversas reformas até a
grande reforma de 1903, quando o edifício adquiriu a aparência que apresenta hoje. Foi tombada
pelo Condephaat em 1975, a pedido da família proprietária. Abriga desde 1977 uma feira de
artesanato (RUSCHMANN, 1999). A fachada consta da Figura 5.98.
128
Figura 5.98 – Sobrado Júlia Ferraz
Foto do autor, 2006.
5.2.4 Festas populares e manifestações folclóricas
Com relação às festas populares e manifestações folclóricas, destacam-se:
5.2.4.1 Congada
De origem africana, trazida pelos escravos, de caráter religioso e que representa a luta
entre o bem e o mal (cristãos e infiéis). É constituído por cortejos com danças coletivas que
representam ou não um auto. Cada grupo de Congada representa um ‘Terno’ e é caracterizado
pela cor da farda. (RUSCHMANN, 1999)
O primeiro registro da realização da Congada em Atibaia é uma publicação do jornal “O
Atibaiense” e data de 1907. É organizado pela Paróquia de São João Batista e um grupo de
festeiros. A Paróquia é quem organiza o calendário das festividades onde o Ternos de Congos
participam (Levantamento dos mastros de N. S. do Rosário e São Benedito e a descida dos
mesmos).
Atualmente existem cinco Ternos de Congos:
129
Branco – Chácara Regina.
Vermelho – Bairro do Portão.
Azul – Morro Grande.
Rosa – Bairro do Alvinópolis.
Verde – Centro da cidade.
Desde 1972, as apresentações são subsidiadas pela prefeitura e acontecem na época
de Natal, sem local pré-estabelecido. As fotos da Figura 5.99 mostram uma apresentação dos
mesmos.
a –Congada – terno vermelho
b – Congada – terno verde
Figura 5.99 – Congada
Fonte: ALVIN NETO, 2007.
5.2.4.2 Cavalhada
A cavalhada relembra a guerra entre cristãos e os mouros e foi trazida para o Brasil
pelos portugueses e espanhóis. Antigamente realizavam-se diversas competições que
representavam as lutas entre mouros e cristãos. Atualmente está descaracterizada, mas ocorre
todos os anos, no final do mês de dezembro, com a participação de cavaleiros de todo o Estado de
São Paulo, que recebem troféus de participação. (RUSCHMANN, 1999)
130
5.2.4.3 Festa da comunidade de origem japonesa
O Bon Odori teve origem no Japão, entre lavradores. É uma festa que expressa gratidão
pela safra abundante. Foi trazida para o Brasil pelos migrantes japoneses, que possuem
numerosos descendentes na cidade. (RUSCHMANN, 1999)
A dança consiste em dar voltas ao redor do palanque onde ficam os taikos (tambores
japoneses) e a percussão é o único som. Um círculo de japonesas vestidas a caráter realiza
movimentos delicados e simples com cinco gestos básicos: colher, ceifar, semear, agradecer e
festejar. A festa é realizada na primeira quinzena de junho, mês de comemoração do aniversário
da cidade, no pátio do mercado municipal, onde são colocadas as barracas de comida típica e o
local é todo enfeitado caracteristicamente. (RUSCHMANN, 1999)
Em Atibaia, os taikos, chegaram em 1963, doados pela prefeitura de Fukushima Ken.
Em 1968 a colônia japonesa da Província de Fukushima, radicada em Atibaia recebeu de
Fukushima (1º berço do Bon-Odori), o conjunto de Bombao para serem usados nas festividades.
O Bon-Odori é um atrativo complementar não na comemoração do Aniversário da
Cidade, como também na Festa do Morango e Expolegumes, promovido pela Associação dos
Produtores de Morango e Hortifrutigranjeiros de Atibaia e Região e na Festa das Flores e
Morangos. Na Figura 5.100, a apresentação do Bon Odori, nas festas relativas à produção do
morango.
131
a – 25ª Festadas Flores e Morangos – 2005
Fonte: VIDEO E PHOTO, 2005.
b – Festa do Morango e Expolegumes em 2007
Fonte: BELUSO, 2007.
Figura 5.100 – Festas do Morango
Na Figura 5.101 apresentações individuais com os taikos.
a – 25ª Festadas Flores e Morangos – 2005
Fonte: VIDEO E PHOTO, 2005.
b – 25ª Festa das Flores e Morangos – 2005
Fonte: VIDEO E PHOTO, 2005.
Figura 5.101 – Apresentações individuais com
taikos
132
133
6 CONCLUSÕES
Concluiu-se que existe uma correlação entre os processos que ocorrem no arranjo
produtivo do morango e culturas complementares com a arquitetura que deles resultam.
Os objetivos da pesquisa foram alcançados que as inter-relações previstas pelo
modelo conceitual do arranjo produtivo em duas escalas (escala das unidades (produtivas,
fornecedoras e distribuidoras) e escala da região) ocorrem entre os agentes.
Foi possível identificar os processos relevantes que interferem na arquitetura rural na
escala das unidades do arranjo produtivo do morango e culturas complementares bem como na
escala regional, e caracterizar a arquitetura rural no âmbito do arranjo produtivo do morango e
culturas complementares de Atibaia-SP.
De forma sumarizada reproduzem-se as principais constatações da pesquisa que
corroboram as afirmações acima.
Observou-se que não existe uma linha divisória nítida referente à extensão da produção e
a propriedade. Assim, ocorrem unidades produtivas familiares com pequenas produções e outras
também familiares, mas com produção mais extensiva.
Também não se uma linha divisória nítida entre as diferentes formas de organização
do trabalho na produção, no caso da produção do morango e culturas complementares. Em uma
graduação que varia das unidades produtivas menores para as mais extensivas, foram encontradas
aquelas cuja organização da produção é baseada estritamente na mão-de-obra familiar, outra com
134
núcleo familiar, mas com trabalhadores contratados, outras com núcleo familiar, mas com
parcerias, ou seja, a utilização de “meeiros”, e outra, com a organização totalmente feita com
parcerias.
As moradias dos proprietários têm, visivelmente, um nível melhor do que a dos
trabalhadores, mas são também bastante modestas, o que mostra o baixo nível de renda que
ocorre nesse setor de produção nesta região.
As moradias dos trabalhadores são de caráter permanente e feitas de alvenaria de tijolos,
embora com padrão de acabamento no limite da habitabilidade, quando pertencem a unidades
produtivas familiares. Tomam um caráter provisório e precário à mediada que pertencem a
unidades produtivas extensivas.
Os galpões destinados à embalagem tendem a seguir organização do trabalho na
produção. Naquelas propriedades onde a produção é familiar uma tendência ao galpão de
embalagem ser uma construção permanente. Na produção extensiva com meeiros, o galpão para
embalagem é uma construção provisória. Cada parceiro constrói o seu local destinado à
embalagem, de forma a propiciar o controle da quantidade produzida que redundará na sua
remuneração.
Existem cinco eixos explicativos para a questão da diversidade de culturas agrícolas
encontradas nas unidades estudadas.
O primeiro deles envolve a questão da necessidade de rotação das culturas, como forma
de evitar a ocorrência de pragas, quando o morango é plantado por vários anos sucessivos em um
mesmo local.
O segundo é a constatação de que outra cultura com ciclo diferente resolve a questão da
maior regularidade entre a entrada e saída de recursos financeiros durante o ano todo.
135
O terceiro é o do melhor aproveitamento da mão-de-obra durante todo o ano, pois, caso
contrário, não haveria como viabilizar as parcerias com os meeiros que ficariam boa parte do ano
sem trabalho.
O quarto é o das economias de escala obtidas com o melhor uso do solo e
aproveitamento dos sistemas de irrigação.
O quinto é o do alto valor da terra, devido à especulação imobiliária, levando à
necessidade de um melhor aproveitamento.
Nos locais onde ocorrem as festas ligadas ao arranjo produtivo pode ser percebida a
evolução do parque arquitetônico com a própria dinâmica dos eventos.
Os edifícios que compõem o conjunto arquitetônico foram construídos por etapas que
podem ser observadas considerando-se os próprios partidos arquitetônicos e estruturais das
construções.
Apresentam também um melhor padrão das construções e estado de conservação com
relação às unidades produtivas, o que possibilita considerar que nos eventos existem melhores
condições de acumulação financeira quando comparados com a própria produção agrícola.
As características da região propiciam a afluência de público e garantem o sucesso dessas
duas versões anuais de festas relacionadas à produção do morango.
O que torna a região atrativa à afluência de público e consumidores dos produtos
agrícolas locais, com ênfase neste caso para o morango, é em primeiro lugar a excepcional
localização no entroncamento de dois importantes eixos rodoviários que se interligam aos mais
importantes e populosos centros dinâmicos da economia da região e do País.
136
137
7 RECOMENDAÇÕES
Durante este trabalho observaram-se diversos aspectos que não foram incluídos nos seus
objetivos e que merecem novas pesquisas, que são:
Necessidade de estudos focando a questão ambiental relativa à produção agrícola de
forma geral e do morango em especial, principalmente nos aspectos de sustentabilidade e
disponibilidade de água para a continuidade da produção.
O aspecto da contaminação dos cursos de água em função da produção agrícola e da
utilização de fertilizantes, defensivos e erosão.
Estudos para a melhoria dos processos produtivos e das relações de trabalho de forma a
remunerar melhor os produtores e trabalhadores, bem como melhorar as condições de trabalho e
acomodação dos trabalhadores, propiciando a diminuição do êxodo para outras atividades.
Estudo do impacto da especulação imobiliária quanto ao aumento do valor da terra, a
ocupação de áreas potencialmente utilizáveis para a produção agrícola, bem como o impacto na
qualidade da água.
Quantificação da renda gerada pelo setor de produção agrícola e seu impacto sobre a
economia local.
138
139
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