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A CONTRIBUIÇÃO DA REVOLUÇÃO DE 1817
definitivamente dos entraves mercantis que lhes impunha o colonialismo espanhol,
mas também através da institucionalização de monarquias constitucionais que,
regendo-se pelo sistema político de Londres, lhe dariam preferência também
no relacionamento político, em detrimento, por um lado, da república que ao
norte do continente se mostrava, já, nas Américas, competidor comercial
nada negligenciável, e, por outro, dos demais países europeus, avessos, ainda,
após a queda de Napoleão, ao sistema constitucional. Aquela inclinação de
Castlereagh pode ter representado, também, ademais da necessidade política
que realmente se fazia premente para a Europa de ter o Rei de Portugal de
volta ao velho Continente
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, um outro motor a insuflar a insistência com que a
Inglaterra agiria junto a D. João para pressioná-lo a voltar para Lisboa. Aquela
insistência bem poderia estar ligada, assim, à idéia de Castlereagh com relação
às colônias espanholas que se estaria aplicando, então, também ao Brasil. De
outro modo, como explicar plenamente os reiterados apelos britânicos para
aquele retorno (e, às vezes, mais que apelos, como a vinda ao Brasil, em
1816, do Vice-Almirante John Beresford, irmão do Marechal que estava à
frente da Regência em Lisboa, para expressamente vir buscar D. João
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)? A
Revolução de 1817, quanto a isso, mostrará também o empenho com que a
Inglaterra se esmeraria em manter senhora do Brasil inteiro a dinastia de
Bragança.
Palmella, naquele primeiro encontro com Castlereagh, logo após ter
conhecimento da insurreição no Brasil, travou com ele interessante conversa,
de que registrou o teor – a pedido do próprio Castlereagh – em memorando,
de que, por ofício, mandou cópia para o Conde da Barca. O aspecto mais
interessante, para o ponto de que trato aqui, dos comentários que faz em seu
ofício, é a observação de que a Inglaterra, embora aconselhando sempre a
volta de D. João, “conhece essa dificuldade no momento atual em que a volta
para a Europa poderia parecer desairosa para El Rei Nosso Senhor, e arriscaria
de expor as demais províncias do Brasil a transtornos iguais ao que
desgraçadamente aconteceu em Pernambuco”
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. E, de fato, a partir daí, a
Inglaterra, aproveitando, inclusive, o ensejo da partida da Arquiduquesa
Leopoldina, pugnaria pela ida de D. Pedro para Lisboa, permanecendo o Rei
no Brasil, ainda que temporariamente, resguardando-se, assim, a presença da
realeza em ambos os territórios da Monarquia bragantina. Trataria, inclusive,
de usar, para tal, o prestígio do Imperador da Áustria, instruindo seu embaixador
em Viena a interessar Sua Majestade Imperial no assunto
19
. O interesse britânico
na manutenção intercontinental do domínio da dinastia de Bragança era patente,