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UFRJ
A RETA, A CURVA E O SOM
A i n t e g R A ç ã o d A A c ú s t i c A A o p R o J e t o A p A R t i R d o A R q U i t e t o
Maria Julia de Oliveira Santos
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura PROARQ, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários para obtenção do título de Doutor em Ciências de Arquitetura –
Área de Conforto Ambiental.
Orientador: Prof.ª Elizabete Rodrigues de Campos Martins, D.Sc.
Rio de Janeiro • Março de 2009
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A RETA, A CURVA E O SOM
A i n t e g R A ç ã o d A A c ú s t i c A A o p R o J e t o A p A R t i R d o A R q U i t e t o
Maria Julia de Oliveira Santos
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura PROARQ, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários para obtenção do título de Doutor em Ciências de Arquitetura
– Área de Conforto Ambiental.
Aprovada por:
Profª. Dra. Elizabete Rodrigues de Campos Martins, D.Sc.
Orientador
Profª. Dra. Maria Lígia Fortes Sanches, D. Sc.
Prof. Dr. Pablo César Benetti , D. Sc.
Prof. Dr. Mauro César de Oliveira Santos , D. Sc.
Profª Dra Maria Lygia Niemeyer, D. Sc.
Rio de Janeiro • Março de 2009
Santos, Maria Julia de Oliveira
A RETA, A CURVA E O SOM - A INTEGRAÇÃO DA ACÚSTICA AO PROJETO A PARTIR DO
ARQUITETO
Santos, Maria Julia de Oliveira – Rio de Janeiro: UFRJ/PROARQ, 2009.
xviii, 210 f. il.; 29,7cm
Orientador: Elizabete Rodrigues de Campos Martins
Tese (doutorado) - UFRJ/PROARQ/ Programa de Pós-graduação em Arquitetura, 2009.
Referências Bibliográca: f.204-209
1. Conforto acústico 2. Projeto de Arquitetura 3. Arquitetura escolar I. Martins, Elizabete
de Campos. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em
Arquitetura – PROARQ.
III. A reta, a curva e o som - A integração da acústica ao projeto a partir do arquiteto
RESUMO
v
A RETA, A CURVA E O SOM
A i n t e g R A ç ã o d A A c ú s t i c A A o p R o J e t o A p A R t i R d o A R q U i t e t o
Maria Julia de Oliveira Santos
Orientador:
Profª. Elizabete Rodrigues de Campos Martins, D.Sc.
Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura
PROARQ, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Doutor em
Ciências de Arquitetura – Área de Conforto Ambiental.
A presente tese de doutorado tem por objetivo investigar a rao da evidente negligência
a acústica no processo do projeto, a partir do sentido a ela atribuído por estudantes,
professores e arquitetos. Procurou-se nesse trabalho constatar a hitese de que os
arquitetos não consideram a acústica como condicionante essencial no processo de
concepção do projeto. Para obter-se sua confirmação ou negação, a pesquisa verifica a
formação de estudantes de arquitetura no campo em estudo. Em seguida analisa-se um
tema de projeto escolas em que se demonstra a necessidade do seu emprego para
obtenção de uma boa arquitetura. E por último, questionam-se estudantes e profissionais
da área para identificar de que modo eles correlacionam a acústica aos projetos. A partir
das respostas, confirmou-se que a arquitetura é extremamente rica e diversificada para
se restringir simplesmente a duas opções certo ou errado. Pom caberá sempre aos
arquitetos, após pensar no interesse do elemento humano, decidir o que priorizar na
arquitetura e atuar como elo entre o conhecimento teórico e a prática projetual.
Palavras-chave: 1. conforto acústico 2. ensino 3. Projeto 4. arquitetura escolar
Rio de Janeiro • Março de 2009
vii
ABSTRACT
THE LINE, THE CURVE AND THE SOUND
A c o U s t i c s A n d d e s i g n i n t e g R A t i o n p R o v i d e d b y t h e A R c h i t e c t
Maria Julia de Oliveira Santos
Advisor:
Profª. Elizabete Rodrigues de Campos Martins, D.Sc.
Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura
PROARQ, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Doutor em Ciências de
Arquitetura – Área de Conforto Ambiental.
This piece of work intends to investigate the reason for the evident negligence given to acoustics in
the process of a project, starting from the meaning attributed to the topic in question by students,
professors and architects. Eorts have been made to prove the hypothesis that architects do not
consider acoustics as being essential to the project. In order to obtain a conrmation or denial,
the research veries how architects have been guided in the learning process in this eld of study.
After that, a project theme is analyzed – schools – where it must be demonstrated the necessity for
its use to acquire architecture of good quality. Finally, students and professionals who work in the
area are given a questionnaire to identify the manner they correlate acoustics with the projects.
According to their answers, we came to the conclusion that architecture is extremely rich and
diversied to be simply restricted to two options right or wrong. Nevertheless, the architects are
the ones, after having thought about human interests, to decide about which aspect must come
rst in architecture, and act as a link between theory and practice.
Keywords: 1. acoustic comfort ,2. education 3 .design, 4. architecture school
Rio de Janeiro • Março de 2009
ix
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que acreditaram que este trabalho poderia ser realizado e que me estimularam
a não desistir. Sobretudo, aos éis amigos da confraria de Zineide que acompanharam o
processo de perto torcendo para que desse certo.
Um especial agradecimento à minha orientadora, Profª. Elizabete Martins pela paciência,
estímulo e dedicação durante a condução desse trabalho.
Aos funcionários do NPD – Cláudio Muniz, João Peruche e Roberta Salles, pela ajuda na
obtenção de imagens e textos do acervo.
À Ivani Bursztyn pela grande ajuda na formulação e análise dos dados relativos ao estudo de
campo.
À Maria da Guia pelas discussões sobre o tema e revisão do texto, formulando críticas
construtivas que contribuíram para o seu aperfeiçoamento.
À Cristina Malafaia e Tia Lili por ajudarem a desatar alguns nós, pelas fotos e desenhos cedidos,
e a amizade de sempre.
Ao rio Saleiro por ter possibilitado uma incursão temporária ao mundo da losoa, e estar
sempre atento às notícias na mídia sobre som.
Ao meu marido Paulo Sérgio por entender a importância deste projeto, por respeitar as minhas
escolhas, por seu estímulo e apoio.
Aos meus lhos, Paula, João e Beatriz, por compreenderem as horas em que me ausentei
da vida doméstica e pela “força constante; inclusive a digitação feita por Bibi , desenhos e
diagramação feitos por Paula e a revisão da lista de guras e tabelas por João.
À minha mãe, por me ensinar desde cedo a não temer obstáculos.
SUMÁRIO
xi
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................19
CAPÍTULO 1:
A TEORIA DE ACÚSTICA NO CURSO DE ARQUITETURA ................................................................33
1.1- OS FUNDAMENTOS ACÚSTICOS ..................................................................................................................................................................................34
1.2 - PROPAGAÇÃO DO SOM EM RECINTOS FECHADOS .......................................................................................................................................44
1.3 - COMPORTAMENTO DO SOM AO AR LIVRE ...........................................................................................................................................................48
1.4 - CONDICIONAMENTO ACÚSTICO ...............................................................................................................................................................................50
1.5 - PRIVACIDADE .........................................................................................................................................................................................................................57
1.6 - O RUÍDO .....................................................................................................................................................................................................................................58
1.7 - TRANSMISSÃO DE RUÍDO ................................................................................................................................................................................................62
1.8 - ISOLAMENTO AOS RUÍDOS ...........................................................................................................................................................................................65
1.9 - ISOLAMENTO AOS RUÍDOS AÉREOS .........................................................................................................................................................................67
1.10 - RUÍDO POR VIA ESTRUTURAL ..................................................................................................................................................................................81
1.11 - APLICAÇÕES PRÁTICAS/ EXEMPLOS DE CÁLCULOS PARA PROJETOS ..............................................................................................83
1.12 - INTRODUÇÃO À ACUSTICA URBANA ....................................................................................................................................................................97
1.12.1 - SOM E SAÚDE ...................................................................................................................................................................................................................98
CAPÍTULO 2:
ARQUITETURA ESCOLAR ...........................................................................................................111
2.1 - INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................................................................................................111
2.2 - O PROJETO ESCOLAR ....................................................................................................................................................................................................113
2.3 - ANÁLISE DOS PROJETOS ATRAVÉS DA ACUSTICA .........................................................................................................................................115
2.3.1 - ROTEIRO DE ANÁLISE ..................................................................................................................................................................................................115
2.4 - ESPOS ESPECÍFICOS ...................................................................................................................................................................................................131
CAPÍTULO 3:
A ACÚSTICA NA COMPREENSÃO DE ESTUDANTES E ARQUITETOS ............................................141
3.1- METODOLOGIA. ...................................................................................................................................................................................................................141
3.2 - OS RESULTADOS .................................................................................................................................................................................................................143
SUMÁRIO
xii
3.2.1 - O QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS .................................................................................................................................................143
3.2.1.1 - AS RESPOSTAS AS QUESTÕES ABERTAS .......................................................................................................................................................143
3.2.1.2 - AS QUESTÕES FECHADAS ....................................................................................................................................................................................149
3.2.2 - O QUESTIONARIO APLICADO AOS PROFESSORES ....................................................................................................................................168
3.2.2.1 - AS QUESTÕES ABERTAS .........................................................................................................................................................................................169
3.2.2.2 - AS RESPOSTAS DOS PROFESSORES RELATIVASÀS QUESTÕES FECHADAS ..............................................................................174
3.2.3 - AS ENTREVISTAS COM OS ARQUITETOS ..........................................................................................................................................................179
3.2.3.1 - AS RESPOSTAS DOS ARQUITETOS RELATIVAS ÀS QUESTÕES ABERTAS ...................................................................................179
3.2.3.2 - AS RESPOSTAS DOS ARQUITETOS RELATIVAS ÀS QUESTÕES FECHADAS ..............................................................................187
3.3 - DISCUSSÃO ...........................................................................................................................................................................................................................192
CONSIDERÕES FINAIS ...........................................................................................................199
BIBLIOGRAFIA E FONTES DE PESQUISA.....................................................................................204
LISTA DE FIGURAS
xiii
CAPÍTULO 1
Figura 1.1- Propagação do som .............................................................................................................................................................................................35
Figura 1.2 – Faixa de freqüência audível ...........................................................................................................................................................................35
Figura 1.3 – Espectro onda sinusoidal ................................................................................................................................................................................37
Figura 1.4 – Forma de onda ......................................................................................................................................................................................................38
Figura 1.5 – Relação entre pressão sonora e nível de intensidade sonora ..................................................................................................41
Figura 1.6 – Esquema do ouvido humano ......................................................................................................................................................................43
Figura 1.7 – Distribuição do som sobre a superfície ..................................................................................................................................................44
Figura 1.8 – Reflexão do som ...................................................................................................................................................................................................45
Figura 1.9 – Incidência e reflexão do som sobre superfície convexa ..............................................................................................................45
Figura 1.10 – Superfície côncava ...........................................................................................................................................................................................46
Figura 1.11 – Ilustração de ocorrência de difração do som ..................................................................................................................................47
Figura 1.12– Painéis difusores para aplicação em tetos ou paredes ................................................................................................................47
Figura 1.13 – Triangulo sonoro ABC .....................................................................................................................................................................................49
Figura 1.14 – Efeito do vento ...................................................................................................................................................................................................49
Figura 1.15 – Reverberação em recinto fechado .........................................................................................................................................................50
Figura 1.16 – Material de espuma de poliuretano para ser aplicado na parede ou teto ....................................................................51
Figura 1.17- Medidores de nível de pressão sonora ..................................................................................................................................................60
Figura 1.18 – Curvas de avaliação de ruído (NC)..........................................................................................................................................................61
Figura 1.19 – Espectro do ruído .............................................................................................................................................................................................62
Figura 1.20 – Transmissões diretas ou indiretas: duas situações de localização do ambiente ........................................................64
Figura 1.21- Ilustração do efeito mola ................................................................................................................................................................................71
Figura 1.22 – Perda por transmissão (PT) .........................................................................................................................................................................73
Figura 1.23– Paredes descontínuas .....................................................................................................................................................................................76
Figura 1.24 – Ante – câmara e porta com material absorvente .........................................................................................................................78
Figura 1.25– Laje flutuante: corte esquemático ...........................................................................................................................................................81
Figura 1.26– Laje flutuante sobre camada de amortização ..................................................................................................................................82
Figura 1.27 – Espaço acústico aberto e fechado ......................................................................................................................................................102
LISTA DE FIGURAS
xiv
Figura 1.28 - A via expressa: Linha Amarela; Conexão Lagoa-Barra ...............................................................................................................103
Figura 1.29 - Hierarquização das vias em relação ao entorno ..........................................................................................................................103
Figura 1.30 - Exemplos de implantação .........................................................................................................................................................................104
Figura 1.31 - Escalonamento entre as edificações ...................................................................................................................................................104
Figura 1.32 - Uso do escalonamento na edificação ................................................................................................................................................104
Figura 1.33 - Espaço de transição ......................................................................................................................................................................................105
Figura 1.34 - Exemplo de ruas: bairros do Grajaú e Leblon / RJ .......................................................................................................................105
Figura 1.35 - Rua em “U” e Rua em “L ...............................................................................................................................................................................106
Figura 1.36 - Configuração e disposição dos edifícios nas ruas .......................................................................................................................106
Figura 1.37- Soluções de organização das vias na quadra ................................................................................................................................107
CAPÍTULO 2
Figura 2.1- Escola Municipal Edmundo Bittencourt - Benfica ..........................................................................................................................116
Figura 2.2 - Escola Municipal Cícero Pena - Copacabana ....................................................................................................................................116
Figura 2.3 - Escola Municipal Barão de Itacurussá - Tijuca ...................................................................................................................................116
Figura 2.4 - Circulação com o uso de jardim auxiliando na absorção sonora .........................................................................................120
Figura 2.5 - Circulação com teto não plano e uso de material absorvente sobre as paredes .......................................................120
Figura 2.6 - Circulação com parede não ortogonal ................................................................................................................................................120
Figura 2.7 - Vista da circulação com paredes não paralelas ...............................................................................................................................121
Figura 2.8 - Circulação com paredes não paralelas, em planta ........................................................................................................................121
Figura 2.9 - Variação da área da fachada exposta ao ruído da via ..................................................................................................................122
Figura 2.10 - Trecho da linha amarela que tangencia uma escola estadual .............................................................................................122
Figura 2.11 - Salas de aula afastadas dos setores mais ruidosos e voltada para área com maior arborização. ...................123
Figura 2.12 - Salas de aula periféricas, voltadas para as áreas externas com grande movimento de tráfego. ....................123
Figura 2.13 - Salas de aula resguardadas do som exterior, voltadas para o interior do lote. ..........................................................123
Figura 2.14 - Foto da maquete do Colégio Experimental Paraguai–Brasil ................................................................................................124
Figura 2.15 - Planta do primeiro piso ...............................................................................................................................................................................125
Figura 2.16 - Agrupamento ....................................................................................................................................................................................................125
LISTA DE FIGURAS
xv
Figura 2.17 - Bloco único .........................................................................................................................................................................................................125
Figura 2.18 - Pavilhonar ............................................................................................................................................................................................................125
Figura 2.19 - CIEP Samuel Wainer Tijuca: Vista aérea do sítio e elevação ...............................................................................................125
Figura 2.20 - Escola Padrão Sergio Vieira de Mello – Leblon: Vista aérea do sítio e elevação .........................................................126
Figura 2.21 - Bloco das salas de aula e piloti ................................................................................................................................................................127
Figura 2.22 - Pátio da Bandeira, Fachada da área de circulação .......................................................................................................................127
Figura 2.23 - Parque aquático e vista do ginásio .......................................................................................................................................................127
Figura 2.24 - Escola Municipal Cícero Penna ...............................................................................................................................................................128
Figura 2.25 - Escola Barão de Itacurussá: vista da entrada para secretaria e pátio coberto ............................................................128
Figura 2.26 - Escola Fazendária – Maceió Face NO ..................................................................................................................................................129
Figura 2.27 - Escola Fazendária – Maceió Face SE ....................................................................................................................................................129
Figura 2.28 - O material de revestimento contribuindo na percepção do espaço ..............................................................................130
Figura 2.29 - Sala de informática, revestimento das paredes com material absorvente, uso de poltrona estofada
auxiliando na redução da reverberação .......................................................................................................................................................................130
Figura 2.30 - Sala de estudos – uso de material absorvente sobre a janela, no piso, no teto e em parte do mobiliário . . 130
Figura 2.31- Salas de aula “paisagem ...............................................................................................................................................................................131
Figura 2.32- Espaço cafauzão sem tratamento acústico ....................................................................................................................................132
Figura 2.33- Auditório com paredes em tijolo maciço, placas absorventes, teto direcionando o som ..................................134
Figura 2.34- Aplicação de placas difusoras na parede lateral, curva de visibilidade acentuada ..................................................134
Figura 2.35- Diversidade de áreas e materiais em um pátio para ensino fundamental....................................................................135
Figura 2.36- Roda da leitura na sala de aula .................................................................................................................................................................135
Figura 2.37- Canto da leitura .................................................................................................................................................................................................136
Figura 2.38- Refeitório em espaço multiuso ................................................................................................................................................................136
Figura 2.39- Refeitório de uma escola padrão do Rio de Janeiro....................................................................................................................136
LISTA DE TABELAS E QUADROS
xvi
CAPÍTULO 1
Tabela 1.1 - Filtros de 1/3 e 1/1 oitava ................................................................................................................................................................................36
Tabela 1.2 - Velocidade do som em alguns materiais .............................................................................................................................................. 38
Tabela 1.3 - Potência acústica de fontes diversas ........................................................................................................................................................39
Tabela 1.4 - variação da intensidade para fonte sonora pontual .......................................................................................................................39
Tabela 1.5 - Exemplos de níveis de intensidade de fontes sonoras..................................................................................................................40
Tabela 1.6 - Valores em dBA para tipos de conversação..........................................................................................................................................43
Tabela 1.7 - Distância de inteligibilidade da fala para um esforço vocal determinado ........................................................................53
Tabela 1.8 - Tempo de reverberação recomendado para ambientes escolares ......................................................................................56
Tabela 1.9 - Conversão de dB para dB(A) ..........................................................................................................................................................................60
Tabela 1.10 - valores dBA e NC recomendados em escolas ..................................................................................................................................62
Tabela 1.11 - Coeficiente de transmissão .........................................................................................................................................................................63
Tabela 1.12 - Valores para K na transmissão indireta..................................................................................................................................................65
Tabela 1.13 - Isolamento de laje em concreto...............................................................................................................................................................65
Tabela 1.14 - Valores de STC ......................................................................................................................................................................................................66
Tabela 1.15 - Níveis lei de massa e lei de freqüência .................................................................................................................................................67
Tabela 1.16 - Valores de freqüência critica .......................................................................................................................................................................69
Tabela 1.17 - Atenuação acústica de paredes ...............................................................................................................................................................69
Tabela 1.18 - Redução do ruído de portas .......................................................................................................................................................................78
Tabela 1.19 - Distâncias recomendáveis em função da janela ............................................................................................................................80
Tabela 1.20 - Redução acústica de vidros .........................................................................................................................................................................80
Tabela 1.21 - Níveis Teste em lajes flutuantes de 4cm sobre diferentes materiais resilientes .........................................................83
Tabela 1.22 - Impacto do ruído na saúde .........................................................................................................................................................................98
Tabela 1.23 - Níveis de ruído para conforto acústico .............................................................................................................................................100
Tabela 1.24 - Níveis Critério, em dB(A)para Ambientes Externos (NBR 10151/2000) ..........................................................................108
Tabela 1.25 - Níveis (NCA), em dB(A), para Ambientes Externos (NBR 10151/2000) ...........................................................................109
LISTA DE TABELAS E QUADROS
xvii
CAPÍTULO 2
Tabela 2.1 - Nível de Voz em dB ...........................................................................................................................................................................................118
Tabela 2.2 - Valor dB(A) e NC recomendados em escolas ..................................................................................................................................131
Tabela 2.3 - Valor dB(A) e NC recomendados em ambientes de escolas. .................................................................................................134
CAPÍTULO 3
Quadro 01 - Grau de importância dos departamentos de acordo com os alunos entrevistados .............................................150
Quadro 02 - Problemas arquitetônicos e sua influência na qualidade do espaço escolar .............................................................151
Quadro 03 - Ordenação dos elementos de influência no estudo preliminar do projeto ................................................................157
Quadro 04 - Escala de opiniões/ atitudes .....................................................................................................................................................................160
Quadro 05 - Pontuação atribuída a cada resposta ..................................................................................................................................................162
Quadro 06 - Problemas arquitetônicos e sua influência na qualidade do espaço escolar .............................................................174
Quadro 07 - Ordenação dos elementos de influência no estudo preliminar do projeto ................................................................176
Quadro 08 - Escala de opiniões/ atitudes .....................................................................................................................................................................177
Quadro 09 - Pontuação atribuída a cada resposta ..................................................................................................................................................178
Quadro 10 - Problemas arquitetônicos e sua influência na qualidade do espaço escolar .............................................................187
Quadro 11 - Ordenação dos elementos de influência no estudo preliminar do projeto ................................................................189
Quadro 12 - Escala de opiniões/ atitudes .....................................................................................................................................................................190
Quadro 13 - Pontuação atribuída a cada resposta .................................................................................................................................................191
xviii
LISTA DE GRÁFICOS
CAPÍTULO 1
Gráfico 1.1 - Curvas isofônicas.................................................................................................................................................................................................42
Gráfico 1.2 - Diagrama de Bolt ................................................................................................................................................................................................48
Gráfico 1.3 - Distância entre orador e ouvinte ...............................................................................................................................................................54
Gráfico 1.4 - Índice de articulação ........................................................................................................................................................................................55
Gráfico 1.5 - Absorção por membrana ..............................................................................................................................................................................57
Gráfico 1.6 - Painel ressonador e ressonador de cavidade ....................................................................................................................................57
Gráfico 1.7 - Lei de massa ...........................................................................................................................................................................................................67
Gráfico 1.8 - Variação do isolamento em paredes duplas ......................................................................................................................................70
Gráfico 1.9 - Índice de redução acústica de uma parede dupla .........................................................................................................................71
Gráfico 1.10 - Ábaco para cálculo da redução sonora de paredes descontínuas ....................................................................................77
Gráfico 1.11 - Desempenho do isolamento de porta comum ............................................................................................................................79
CAPÍTULO 3
Gráfico 3.1- Frequência média das respostas dos alunos....................................................................................................................................152
Gráfico 3.2- Frequência média das respostas dos professores .........................................................................................................................175
Gráfico 3.3- Frequência média das respostas dos arquitetos ............................................................................................................................188
INTRODUÇÃO
1919
A reta, a curva e o som: a integração da acústica ao projeto a partir do arquiteto foi o
titulo adotado para a pesquisa desenvolvida, partindo-se da hipótese que os arquitetos não
consideram a acústica como condicionante essencial no processo de concepção do projeto.
A reta e a curva expressam a própria arquitetura. Derivadas do ponto e da linha cuja extensão
produz o plano, que ao combinar-se com outros, atua como elemento denidor do espaço
(CHING1993)
1
. O espaço está relacionado não apenas à visão, mas à audição e a outros dos
nossos cinco sentidos.
E um dos objetivos da arquitetura é despertar sensibilidades humanas (FURUYRAMA
2
1997).
Assim, o movimento da superfície, o seu material de composição e suas dimensões guardam
estreita relação com o som. Deste modo, ao se pensar em um projeto, deve-se pensar no som o
qual está sempre a ele intrínseco.
Na pesquisa desenvolvida no mestrado
3
cujo foco situava-se nas escolas de primeiro grau
do município, vericamos as suas condições acústicas, constatando que diversas escolas
estudadas não se adequavam ao uso ao qual se destinavam. Apresentavam níveis de ruído
interno ultrapassando àqueles recomendados pela norma, e alguns dos estabelecimentos
apresentavam inclusive condições de insalubridade que comprometiam a saúde vocal dos
professores e a capacidade de aprendizado dos alunos.
Naquela época, constatamos nas entrevistas com professores e alunos, a sua insatisfação
quanto à qualidade do espaço de ensino em que conviviam. O incomodo provocado pelo
ruído era sempre por todos apontado. E de modo bastante expressivo também ressaltavam
a diculdade da comunicação em sala, mesmo em locais nos quais o vel de ruído o se
apresentava tão elevado, reiterando a inuência da solução espacial arquitetônica da sala de
aula na inteligibilidade do som.
Alguns anos após a defesa da dissertação, certiquei-me de que as deciências acústicas
encontradas em espaços para ensino pouco haviam mudado. Apesar de ter havido, por parte
do poder municipal a preocupação em melhorar seu espaço físico tornando-o mais atrativo
para os alunos e professores, e, deste modo valorizando a própria imagem da escola na cidade.
Investiram nos conceitos de luz e cor, buscaram uma nova linguagem na composição dos
edifícios, arriscaram no uso de novos materiais, mas a acústica continuou esquecida. Essa
resistência em o modicar soluções consolidadas ao longo dos anos foi reforçada pela crítica
que Coelho Neto
4
fez aos arquitetos ao dizer:
(...). Todas as disciplinas humanas mudam porque
muda o homem menos a arquitetura
5
: os conceitos de
proposição, utilização e fruição do espaço continuam
essencialmente os mesmos. O arquiteto ainda é uma
espécie de ditador ao qual o usuário se submete em
termos absolutos e denitivos: ele nada pode contra
o “projeto”. No entanto, o espaço vive, respira e isso
quer dizer que exige mudanças. [...]
Essa cristalização apontada por Coelho Neto foi que conduziu a reexão sobre a intrigante
ausência da acústica na maioria dos discursos em defesa de propostas projetuais. Esta ausência
foi que me impulsionou a investigar os porquês da “invisibilidade acústica, por grande parte dos
prossionais da arquitetura na concepção de projetos. Do reduzido emprego da acústica na fase
de concepção, e das discussões sobre o que leva o arquiteto a esquecer” um pouco a acústica,
surgiu a pergunta: Qual o sentido atribuído à acústica por estudantes , professores e arquitetos?
INTRODUÇÃO
20
Lendo o memorial que acompanha as obras publicadas em revistas especializadas, ou nos
trabalhos desenvolvidos nos cursos de graduação, raramente nos deparamos com um texto
que descreva a acústica como um fundamento para a concepção da proposta, exceto quando o
objeto arquitetônico é, por exemplo, um teatro ou uma casa de espetáculo.
No meio acadêmico, aos poucos, o conteúdo desenvolvido na disciplina acústica começa a
fazer parte do projeto de arquitetura. Semelhante ao que ocorre nas justicativas de memoriais
de projetos realizados por prossionais, a acústica é apenas mencionada em determinados
programas ou então quando o próprio tema requer sua central e evidente presença, como um
projeto para cinema, ou sala de concerto, entre outros. No entanto, o som está presente em
qualquer espaço habitado e conseqüentemente, faz parte indistintamente do nosso cotidiano.
A constatação do descaso atual em relação ao som foi ressaltada por Norval Baitello Jr
6
., com
a intenção de despertar nossa reexão sobre importante tema:
[...] Vivemos, profundamente, a a última das nossas
bras, dentro de um mundo da visualidade. Que
evidentemente não começou agora, mas que foi se
desenvolvendo e foi se sosticando de tal maneira
que todos nós podemos suspeitar que estamos nos
tornando surdos. O valor do som é tão menor que o da
imagem no nosso mundo e no nosso tempo, que este
fato pode ser lido em inúmeros momentos da nossa
vida e do nosso cotidiano. [...] Na vida e no trabalho
acadêmico, tem mais peso quem escreve um livro do
que quem dá bons cursos. Os sistemas de avaliação são
todos fundados sobre a escrita, que pertence ao reino
da visualidade, a mesma escrita que nasceu das formas
mais arcaicas de conservação da informação.
Com o desenvolvimento da escrita e sua consolidação como instrumento de comunicação,
a visão passou, através dos séculos, a exercer seu domínio. Vivemos a civilização da imagem.
E devido a tal fato desaprendemos a perceber nossos outros sentidos assim como nossa
capacidade de captar sensorialmente as múltiplas mensagens emitidas por um espaço
edicado pela fruição dos usuários. Nas suas descrições, costumeiramente adotam o sentido
da visão para construir uma narrativa composta da apreciação das dimensões, das cores, da
intensidade da luz, dos materiais, enm, dos aspectos relacionados apenas ao olhar.
O predomínio da visão sobre os outros sentidos e sua conseqüente parcialidade nos
processos cognitivos, é uma particularidade do mundo moderno ocidental, pois até o século
XVI, a audição e o olfato eram os sentidos dominantes
7
. Estes sentidos, segundo Marc Bloch
8
,
representavam a visão, e os homens se ouvindo e sentindo odores, imaginavam e criavam suas
próprias historias, pinturas, arquiteturas e culinárias, dignicando os aspectos intelectuais e
culturais de cada região. Contemporaneamente pasteurizados pela globalização da visão.
No feto em formação no útero o primeiro sentido desenvolvido é a audição, e mesmo
antes do quinto mês de gestação ele reage a estímulos sonoros. E, pouco a pouco,
responde às mensagens sonoras do mundo exterior do qual é convidado a participar mesmo
antes de nascer.
INTRODUÇÃO
2121
Ouvimos os outros antes de -los, senti-los ou tocá-los. Ouvimos a fala antes de falar e de
compreender o que é dito. Sentimentos de segurança e pertencimento se formam a partir da
comunicação oral e as comunidades sociais se formam apoiadas no exercício de saber escutar
seus componentes. Esta constatação permite-nos entender que a audição é um sentido social.
Não podemos ignorar que fazemos parte de um mundo repleto de sonoridade, tonalidades,
timbres, barulhos e palavras. Raramente avaliamos quão complexas são a nossa dependência
do som, por consideramos natural e banal nossa capacidade de identicar com precisão e em
fração de segundos, os sons presentes no ambiente cotidiano. Ignoramos, que desta conduta
fundamental depende nossa sobrevivência, anal, o som nos informa sobre presenças,
constância, mudanças súbitas e perigo. O som nos orienta.
Quando conscientemente percebemos sons, o processo siológico torna-se psicológico.
Nesse momento, o som deixa o mundo físico da vibração, e entra no mundo psicológico da
informação. Internamente, seria a passagem da sensação à percepção do som. No cotidiano, a
experiência auditiva está voltada para identicar coisas, embora, mais interessada na natureza
dos sons do que propriamente na localização de sua fonte sonora.
Entretanto, em situações especícas, como por exemplo, caminhar por um parque, ou até
mesmo circular em um ambiente escuro, tornamo-nos conscientes da localização do som.
Estas habilidades de identicar e localizar os sons foram elaboradas ao longo de nossa história
evolutiva, através da construção do sentido biológico do espaço e do tempo.
A mudança da cultura oral para a escrita provocou a alteração de um espaço sonoro para um
espaço visual. Diferentemente da audição, a visão funciona com o sentido de distância: largura,
altura e profundidade, embora possamos localizar um objeto através da diferença do tempo
de reexão do som e de sua intensidade. A distancia é apreendida pela intensidade do som
emitido por uma fonte sonora. Por exemplo, se alguém nos chama, sabemos se está próximo
ou distante devido à intensidade da sua voz.
Apesar de a visão ter sido condicionada às informações espaciais, enquanto a audição, ao
nosso instrumento de registro das informações temporais, a combinação dos dois sentidos
permitirá a plena compreensão do espaço edicado. Um tempo maior ou menor no percurso do
som em um ambiente informará se este tem dimensões generosas ou reduzidas. Ao batermos
palmas, percebemos o som com maior ou menor intensidade, em parte, pelas características
da fonte sonora, mas também pela especicidade dos materiais de revestimento utilizados.
Esta sonoridade também é resultante das formas adotadas no projeto através do movimento
das superfícies integrando o volume do ambiente. O que se ouve, em parte, traduz o tamanho
do local e as características dos materiais componentes dos revestimentos.
O valor do som no século XXI é sensivelmente menor que o da imagem em nosso mundo.
Este fato pode ser evidenciado em inúmeros momentos cotidianos de nossas vidas. Em todas as
esferas das atividades humanas e da cultura contemporânea, detecta-se o predomínio da visão
sobre a audição o que pode ser observado nas transformações dos programas de necessidades, e
em soluções de projeto de arquitetura de interiores. É usual a solicitação de um ambiente “home
theatre no qual são adotadas várias telas de TV de plasma expressando o domínio da imagem.
A atitude cultural acima mencionada tem sido observada e criticada por vários autores. Bruno
Munari
9
nos diz:
Muitos designers projetam ainda hoje apenas para
o sentido da visão. Preocupam-se unicamente em
produzir algo belo de se ver e não lhes interessa que o
objeto resulte depois desagradável (...) Da mesma forma,
quando um desses designers projeta um restaurante,
não leva em consideração a acústica e, por isso, quase
todos os restaurantes são muito barulhentos.
INTRODUÇÃO
22
A audição requer um tempo de uxo, aquele do nexo, das conexões, das proposições, das
relações, dos sentidos e do sentir. Nenhum outro sentido pode registrar impulsos tão minúsculos
quanto nossa audição. “Nosso sentido auditivo é de fato uma maravilha e ultrapassa de longe a
capacidade da visão em muitos aspectos”, arma George Leonard
10
( apud Berendt,1993).
Se em um balde forem misturados três pigmentos diferentes, nossos olhos perceberão a
nova cor como única, enquanto que, quando ouvimos três instrumentos musicais tocados
simultaneamente identicamos o som de cada um deles separadamente. A particularidade
da nossa capacidade auditiva associada ao comportamento do som torna-se condicionante
de um dos objetivos almejados por projetistas na concepção de salas para concertos, pois
quanto mais bem projetadas forem, melhores serão as condições para se identicar os distintos
instrumentos que compõem uma orquestra, independente da posição do ouvinte na sala de
concertos.
Para Tadao Ando
11
,
“[...] Um espaço não é uma coisa só. É um lugar para
muitos sentidos: visão, audição, tato e as coisas
incontáveis que acontecem em meio a tudo isso [...]
arquitetura o é apenas uma forma, não é apenas a
luz, não é apenas o som, não é apenas o material, mas
a integração ideal de tudo. O elemento humano é a
chave que reúne tudo isso [...]”.
Como conseqüência, a relação do homem com o espaço construído é multisensorial. As
características de um espaço, dadas por sua materialidade (na qual se insere a forma), dimensão
e conforto ambiental, são igualmente registradas pelos órgãos do sentido.
Hertzberger
12
destaca que:
(...)o projeto deve estar harmonizado com todos os
dados intelectuais e emocionais que o arquiteto possa
imaginar e deve relacionar-se com todas as percepções
sensoriais do espaço, no qual o som é signicativo não
pelo que é ouvido, mas, também pelas associações
que desperta(...).
Esta idéia é rearmada por Rasmussem
13
ao observar que a arquitetura pode ser ouvida.
Considerando que, “recinto de formatos e materiais diferentes reverberam de modo diverso,
teremos percepções distintas dos sons nos vários ambientes de um edifício.
O trabalho de sonoplastia adotado em radio-novelas nos serve de exemplo. Os ambientes
e o estado emocional das personagens são reconhecidos através dos sons. A audição permite
criar em nossas mentes imagens a partir do que se ouve. Essas o imagens geradas por
nexos, sentidos e são, então, aquelas que estimulam a criação - a imaginação. Diferentemente
daquelas que são oferecidas prontas, de modo a cercear a capacidade imaginativa, impedindo
que se pratique o que MUNARI(2002)
14
diz, “a imaginação é o meio para visualizar, para tornar
visível aquilo que pensam a fantasia, a invenção e a criatividade”.
INTRODUÇÃO
2323
Quando percebemos um espaço e a sensação que este nos transmite, nem sempre somos
conscientes de que se trata de um processo complexo do qual participam distintos sentidos,
tendo a audição como um dos protagonistas. É o som que permite ao homem adquirir
informações do contexto ou do ambiente no qual está imerso. E esta informação abrange
desde os componentes especicamente sonoros do ambiente acústico, até as suas qualidades
espaciais: um ambiente aberto, fechado, mobiliado ou vazio.
Alguns espaços residenciais permitem que se identique o movimento de seus residentes
pelo som. Os sons da água saindo do chuveiro, das panelas em uso na cozinha, do ato de ligar
ou de desligar um computador sinalizam e indicam as atividades em execução. A habitação se
expressa sonoramente. Uma casa com crianças ou jovens, normalmente é rica na sua expressão
sonora, e marcadamente silenciosa à medida que, aos poucos, estes crescem e vão saindo da
moradia dos pais.
Neutra
15
descreve a visita a uma igreja como uma experiência sonora única:
quando caminhamos através da nave de uma catedral
medieval, o impacto de nossos passos no pavimento
de pedra, ou a reverberação de uma contida tosse torna
possível, ou mesmo se torna em si ppria uma impressão
essencial, vital do espaço arquitetônico. Tais sons,
acusticamente elucidam o material de invólucro. Paredes
de pedra podem ter eco, mas peças de veludo quase não
reverberam e não sinalizam nada ao ouvido. (...) Como
numa apresentação em auditório, o ritual durante a
missa, na verdade, nos revela o interior da igreja. É errado
pensar que a catedral somente contenha velas, cantores,
um órgão eloqüente. As modulações do coral, a força dos
baixos, os pianíssimos e diminuendos iluminam o grande
interior acusticamente assim como as velas o fazem
visualmente.
Este som contido na “visão auditiva” da arquitetura, na qual cada espaço arquitetônico é
distinguido por seu próprio som oriundo de suas formas e materiais envolventes, registrando
a intenção de um resultado acústico pré-concebido, é também observado por Rasmussem
16
ao descrever o som dos tecidos das vestimentas femininas no ambiente residencial. Com a
inexistência da acústica na pré-concepção do projeto, os espaços arquitetônicos transmitirão
resultados que, entregues a própria sorte, soarão sem transmitir sensações especiais.
Para Norberg Schulz
17
, o que nos falta é consciência de nossos problemas, ou seja,
compreendermos o que projetamos; o processo construtivo; e os meios para chegar as suas
soluções. Ele destaca que:
(...) o arquiteto não trabalha no vazio, seus produtos
dão soluções a problemas suscitados pelo ambiente e
suas soluções têm igualmente um efeito retroativo (...).
A reação ao emprego da acústica, talvez ainda espelhe uma antiga idéia dos tempos da
Beaux Arts, ressaltada por Reyner Banham:Se havia algo contra o que Guadet se mostrava
hostil, era contra os estudos físicos exatos como base para o projeto
18
.
INTRODUÇÃO
24
A hostilidade guadeniana contra os estudos físicos, no qual se inclui a acústica, parece ter
mantido sua continuidade contemporaneamente. Em parte, esta antipatia se justica pela falta
da integração imediata dos conceitos na pratica do projeto, destinando à acústica a idéia de
uma disciplina rígida e com pouco emprego nas soluções arquitetônicas.
O baixo envolvimento por parte dos arquitetos em aplicar os conceitos de acústica aos
projetos foi o que motivou o desenvolvimento da pesquisa. alguns anos vem-se observando,
através de trabalhos de consultoria, que muitas alterações em projetos executados poderiam
ser evitadas se, logo no início, fossem aplicados conceitos acústicos básicos. Projetos bem
resolvidos em diversos outros campos, algumas vezes, deixam de ser considerados excelentes,
porque não cuidaram da qualidade acústica. Por que tal fato acontece?
A acústica tem sido uma ciência pouco aplicada como ferramenta no desenho dos espaços
arquitetônicos e urbanísticos. De certa forma, o som na cultura ocidental ainda não é um
elemento expressivo como na cultura oriental
19
, na qual a visão é menos valorizada. E o tempo,
que é parte do som, no ocidente é considerado linear, como se tudo fosse monocórdio. Uma
consideração errônea, como ressaltou Lina Bo Bardi dizendo:
Mas o tempo linear é uma invenção do Ocidente, o
tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado
onde, a qualquer instante, podem ser escolhidos
pontos e inventadas soluções, sem começo nem m
20
.
As inventivas soluções surgidas num instante, como a expressa pela cultura oriental,
que devido à sua maior sensibilidade ao som, valorizam naquela região o desenho acústico
associado ao projeto. A cultura oriental, como explicava Lucien Febvre
21
desenvolveu sua
sensibilidade de “ver com os ouvidos”, como o deveríamos fazer “anando” nossas ferramentas
acústicas no desenho a m de melhorar o espaço arquitetônico e urbanístico.
Anal, por que, apesar do avanço do conhecimento e de recursos tecnológicos, continuamos
ainda a nos deparar com espaços extremamente ruins quanto ao conforto acústico ou, então,
pobres quanto ao uso do som como estímulo sensorial?
Os primeiros estudos conhecidos sobre som se remetem a Pitágoras (580 a.C.–500 a.C.), que
ao estudar a relação entre a largura de um corpo vibrante e a altura do som, realiza o primeiro
experimento sonoro deduzido numericamente na história da ciência. Um experimento
precisamente sonoro. Durante o período de desenvolvimento da cultura helênica julgava-se
que as propriedades do som e a sensação de audição teriam origem na losoa da proporção
dos números e na harmonia dos tons. Os Pitagóricos (550 a.C.) observaram que quando dois
alaúdes monocórdios eram tocados simultaneamente existia uma especial consonância,
no som ouvido, quando a relação entre o comprimento das suas cordas era 2:1, ou seja, que
uma corda tivesse metade do comprimento da outra, iniciando, a partir dessa observação, a
matematização do som. Apesar disto, os registros indicam que Aristóteles (384 - 322 a.C.) foi um
dos primeiros a tentar explicar o som como resultado do movimento do ar, e, este produzido
pela ação da fonte sonora.
Entretanto, o maior testemunho do conhecimento dos Gregos sobre acústica, são seus
anteatros, alguns hoje em dia ainda utilizados. Esta boa qualidade acústica se deve justamente
a três regras fundamentais, ainda consideradas por qualquer projetista na atualidade: boa
linha de visão para o palco, o uso de uma parede reetora na zona posterior do palco e o ruído
ambiente reduzido.
INTRODUÇÃO
2525
A arte da construção de teatros abertos tornou-se, nesta época, a mais importante
manifestação da técnica da Acústica.
Os romanos também consideraram as características acústicas para a construção dos seus
teatros. O tratado escrito por Marco Vitrúvio Polião (25 A.C.) prescreve no livro V, capítulos III
ao IX como se deve projetar teatros ao ar livre garantindo sua salubridade e boas condições de
audição e inteligibilidade da voz. Neste escrito, o arquiteto romano destaca a importância da
escolha do sítio, a importância de observar a direção dos ventos e a topograa que inuenciam
na propagação do som, reforçando suas inuências na compreensão da palavra falada ou
cantada. (Maciel
22
, 2006) Vitruvio também recomenda o uso dos vasos ressonantes, que
servem para a amplicação da voz, cuja existência é constatada nas ruínas dos teatros gregos e
romanos. É interessante destacar que o estudo sobre ressonadores, só vai ocorrer no século XIX,
em 1859, desenvolvido por Helmholtz.
O estudo de Vitrúvio sobre audibilidade em teatros ao ar livre assinala o despertar da acústica
como ciência. Observa-se neste arquiteto seu grande entendimento sobre a propagação do
som ao ar livre e seu reconhecimento como uma onda esférica (ibidem, 2006). Os conceitos de
ressonância, difração, difusão e eco, a partir dos seus estudos, são introduzidos e associados ao
desempenho acústico do espaço.
2. o ob J e t o
Ao término da dissertação de mestrado concluí que a maior parte dos problemas acústicos
em edicações surge a partir do desenho e das especicações dos materiais, o que reassegura
sua importância na fase inicial do projeto. Considerando como premissa esta constatação
conclusiva, compreendi que o objeto de estudo para o desenvolvimento dessa nova pesquisa
deveria ser o sentido da acústica na formação dos arquitetos, tendo como sujeitos, o estudante
e o prossional de arquitetura.
Esta empreitada exigia inicialmente o conhecimento de um dos componentes da formação
dos arquitetos nas escolas de arquitetura: o conteúdo de acústica, a m de entendermos
o modo como o estudante de arquitetura o assimila. É importante compreender os motivos
pelos quais os prossionais pouco aplicam os princípios básicos de acústica que constam da
sua formação.
Essa etapa da pesquisa gerou um impasse: podia-se solicitar aos docentes de acústica o
conteúdo programático do curso, ou aos discentes as anotações de aula. Porém, entendeu-se que
essa atitude poderia ser mal compreendida por parte dos prossionais e gerar constrangimento.
Como a ementa é a documentação ocial dos programas de curso, decidiu-se que ela seria a
fonte de pesquisa adotada. Nas escolas em que estão publicadas como documento eletrônico,
retiramos esta ementa dos sites. Nas demais, obtivemos nas secretarias dos cursos.
Anteriormente a reforma proposta pela portaria n.º 1770, de 21 de dezembro de 1994, do
Ministério da Educação e do Desporto, que xa as diretrizes curriculares e conteúdos mínimos para
seus cursos, a acústica era um dos itens da disciplina física aplicada à arquitetura, pertencendo
ao grupo de disciplinas de caráter técnico que pouco se relacionavam com os trabalhos
desenvolvidos nos ateliês. Após a reforma, no Rio de Janeiro, essa disciplina passou a pertencer
ao grupo de conforto ambiental, facilitando sua integração com a disciplina de projeto.
Pesquisando junto aos coordenadores das escolas de arquitetura no Rio de Janeiro, constatei
que na maioria delas a disciplina acústica arquitetônica é oferecida no quarto período quando
os alunos iniciaram projeto. Nos cursos do Instituto Metodista Bennett, nas Faculdades
Integradas Silva e Souza, na FAU da Universidade Santa Úrsula, no curso de arquitetura da
Universidade Estácio de Sá, e da Gama Filho, assim como na FAU da Universidade Federal do
INTRODUÇÃO
26
Rio de Janeiro, ela é parte da disciplina Conforto Ambiental. Porém, no curso de arquitetura
aberto em 2001 na PUC-RJ pertencente aos departamentos de Engenharia Civil, Artes &
Design e História, a acústica ainda é parte da disciplina “aspectos físicos aplicados ao conforto
ambiental” em cuja ementa transparece sua pouca anidade com o projeto de arquitetura.
Excepcionalmente, a acústica é oferecida como uma disciplina obrigatória no Curso de
Arquitetura da Universidade Gama Filho e como disciplina eletiva na Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da UFRJ, constando da grade curricular subseqüente à disciplina Conforto
Ambiental I.
De modo geral, podemos constatar nas ementas dos diversos cursos, que a bibliograa sofreu
poucas atualizações, deixando de acompanhar um processo de aprimoramento dos conteúdos
bibliográcos para arquitetos. Não faz parte desse trabalho o estudo do currículo ou a discussão
das formas de ensino de acústica, e muito menos o julgamento de Instituições. O conteúdo da
disciplina é abordado para que se estabeleça um parâmetro entre teoria e prática.
Ao longo dos anos docentes, tem-se observado uma evolução do trabalho integrado entre
projeto de arquitetura e conforto ambiental. Todavia, indiscutivelmente o predomínio dos
conteúdos relativos às questões térmicas e lumínicas empregados no projeto, em detrimento
dos aspectos acústicos, bem como a predominância desses aspectos nas discussões práticas
desenvolvidas nos ateliês. Essa ausência ou presença limitada dos aspectos sonoros no projeto
acadêmico, nos fomentou algumas indagações: Por que os alunos, futuros prossionais da
arquitetura de um modo geral apresentam diculdades em reconhecer e aplicar os conceitos
acústicos nas questões projetuais? Quais os atributos do projeto que eles valorizam?
3. ob J e t i v o s d A p e s q U i s A
O objetivo desse trabalho é identicar, a partir do sentido atribuído à acústica pelos
estudantes, professores e arquitetos, a razão da evidente negligência a acústica no processo
de projeto.
As questões anteriormente propostas esboçaram o caminho percorrido pela pesquisa,
intencionando demonstrar que a acústica é parte do processo de concepção do projeto. Sua
participação tem início a partir da escolha do terreno, continua por todas as etapas do estudo
preliminar, consolidando-se na fase de execução.
Para reconhecimento, análise dos fenômenos acústicos, e demonstração da teoria aplicada,
mantivemos o edifício escolar, complementando a pesquisa com questionários aplicados a
discentes, docentes e prossionais que projetaram edifícios escolares.
4. Me t o d o l o g i A
Conduziu-se a pesquisa conforme as seguintes etapas metodológicas:
Revisão da literatura• - visou o aprofundamento dos temas relacionados ao objeto
estudado, através da realização de uma pesquisa bibliográca e eletrônica nos campos da
acústica, arquitetura, psicologia ambiental e do método qualitativo de pesquisa.
Estudo de campo• - objetivou a compreensão do problema através de pesquisa com
uma população denida, para a qual foram sistematizados dados relativos ao grupo de
estudantes, professores e arquitetos, selecionados para responder o questionário.
INTRODUÇÃO
2727
Foram revistos os fundamentos de acústica aplicados à arquitetura seguindo o programa
contido na ementa da UFRJ, assim como aos aspectos teóricos relativos ao desenvolvimento
de projeto. Em seguida, reviu-se a parte teórica relativa à arquitetura escolar à medida que
escolhemos o edifício de ensino para ilustrar o emprego dos conceitos de acústica no projeto.
A teoria sobre pesquisa qualitativa fundamenta os questionários, cujas perguntas foram
construídas intencionando-se cruzar o conteúdo teórico sobre arquitetura escolar, com o
conteúdo de acústica arquitetônica. Estes questionários foram aplicados a um grupo pré-
determinado de estudantes e professores pertencentes à instituição universitária, cujo objetivo
foi identicar de que modo a acústica foi por eles entendida, e se a mesma constitui-se num
fator de inuência nas decisões projetuais.
Para embasar a condução da investigação, na qual observamos as prioridades projetuais
de prossionais e estudantes na solução arquitetônica de edifícios escolares, assim como as
deciências acústicas ainda existentes neste tipo de edicação, julgou-se necessário a revisão
de literatura de três temas:
Acústica arquitetônica • para o aprofundamento do entendimento da teoria de acústica
recebida pelos estudantes de arquitetura durante sua formação prossional. Fundamentada
nas ementas dos cursos de diferentes instituições, na bibliograa adotada, e nos estudos
desenvolvidos pelos seguintes autores: EGAN(1972), MEISSER( 1973) JOSSE (1975),
ARIZMENDI(1980), ARAU (1999), SILVA (2005), BISTAFA(2006)
Arquitetura de escolas• esta pesquisa visou a compreensão do projeto do espaço físico
das escolas, a partir da acústica, associando-a aos conteúdos relativos à teoria do projeto e
psicologia ambiental. Para tal, foram consideradas essenciais as pesquisas desenvolvidas por
STRUMPF (1984), Lima (1989), SANTOS (1992), NELSON (2000), PERKINS (2001), MONTANER
(2002), Fedrizzi (2002), DOMENECH (2002), kahn (2003), ELALI (2003, 2008), Fernandes
(2008), hartzberger (2006)
Pesquisa qualitativa• objetivou-se o entendimento dos métodos e técnicas para a
construção dos questionários aplicados aos alunos e prossionais, e elaboração das
entrevistas bem como os procedimentos adequados para a análise do conteúdo das
respostas. As pesquisas desenvolvidas na área de pesquisa social por BAUER e GASKEL
(2002); RICHARDSON (1999); BARDIN (1995) foram de suma importância neste trabalho.
Os questionários foram aplicados diretamente a cada um dos entrevistados por ser necessário
compreender as prioridades dos alunos e dos prossionais relativas ao projeto, e, se destas
a acústica era parte integrante. Adotamos dois tipos de questões: as abertas, aquelas cujas
respostas são discursivas, associadas às fechadas, cujas respostas são escolhidas num elenco
de itens. Destas, quatro abertas e cinco fechadas destinaram-se aos discentes e cinco abertas e
três fechadas aos professores. As respostas às perguntas abertas foram categorizadas conforme
capitulo III desta tese, e posteriormente analisadas.
INTRODUÇÃO
28
As entrevistas dirigiram-se apenas ao grupo de cinco arquitetos com experiência e
realização individual em projeto de escolas. As entrevistas foram dirigidas por onze questões
adotadas para direcionar a condução da conversa. Após sua transcrição procedeu-se a análise
do conteúdo. A entrevista focou um único tema o projeto de escolas - na qual as questões
foram colocadas de forma que se compreendesse:
As prioridades dos arquitetos ao desenvolver seus projetos
O objetivo perseguido durante o desenvolvimento da proposta
Os consultores que dão apoio à equipe
As referências projetuais que guiam a proposta
Critério de avaliação de projetos
Interdisciplinaridade aplicada aos projetos
5. es t R U t U R A s d A te s e
Iniciamos este trabalho motivados por questões relativas ao ato de projetar e a sua
interação com a acústica durante este processo. Partindo-se de uma postura crítica quanto ao
valor secundário atribuído ao som nos dias atuais, iniciamos a pesquisa em que nossa meta
foi comprovar a hipótese que os arquitetos não consideram a acústica como condicionante
essencial no processo de concepção do projeto.
A forma como o ensino de acústica tem se desenvolvido nos cursos de arquitetura de
diversas Universidades, em parte, é co-responsável pelo distanciamento dos arquitetos na
aplicação do conteúdo teórico nos projetos. Aos poucos fomos entendendo como isso ocorre
no processo de desenvolvimento da pesquisa, cujo resultado constituiu o corpo deste trabalho
obedecendo a seguinte divisão: Introdução, três capítulos e considerações finais.
Organizamos o Capítulo 1 a partir das seguintes questões: qual o conteúdo de acústica que
é oferecido nos cursos de graduação em arquitetura do município do Rio de Janeiro? Qual
o conteúdo programático da disciplina? Para responder a estas perguntas foi necessário
fazer um levantamento das ementas das escolas de arquitetura do município do Rio. Após
a vericação individual de seus conteúdos, explicitamos o conteúdo do corpo teórico da
acústica ministrado semestralmente, intencionando identicar se estes conteúdos o
subsídios ou não, para solução das questões projetuais que estudantes e prossionais terão
de enfrentar.
No Capítulo II , faz-se a análise da arquitetura escolar. O o condutor dessa etapa da pesquisa
foi a vericação dos princípios acústicos aplicados ao projeto, iniciado pela contextualização
das mudanças ocorridas no espaço escolar brasileiro. Em seguida, observando-se as diversas
soluções de projeto escolar, alguns deles adotados como referência projetual por diversos
arquitetos, identicamos onde ocorrem as falhas mais comuns no campo da acústica,
vericando no conteúdo teórico da disciplina, se esta possibilita ou não, o desenvolvimento
de uma arquitetura com qualidade.
INTRODUÇÃO
2929
O Capítulo III destinou-se à compreensão da acústica como instrumento de projeto pelo
grupo formado por estudantes, professores e prossionais. Nele utilizamos como ferramenta
de investigação o questionário composto por perguntas abertas, questões fechadas e
entrevista. Inicialmente, organizamos o material relativo às perguntas abertas feitas aos
estudantes e categorizamos as respostas dadas. Em seguida, organizamos os quadros
relativos às respostas das questões fechadas, acompanhados posteriormente da justicativa
teórica de cada pergunta. Quanto aos professores e prossionais o procedimento foi
idêntico. No entanto, como as questões fechadas foram iguais para os três grupos, não foi
necessário repetir as justicativas teóricas. A tabulação dos dados gerou informações que
puderam ser discutidas ao nal desse capítulo.
Nas Considerações finais fez-se uma reexão sobre o material pesquisado. Após a ordenação
dos dados distribuídos por todos os capítulos conrmou-se a hipótese desta tese: os arquitetos
não consideram a acústica como condicionante essencial no processo de concepção do projeto.
Para a maioria, ela não é relevante; e quando confrontada com outros elementos sensoriais,
como a luz e o calor, é desprezada. Não ocupa a memória imediata dos projetistas, salvo em
condições especícas quando a proposta envolve grandes espaços de comunicação.
Quando inquiridos diretamente sobre a importância do som nos projetos, grande parte dos
entrevistados o apontou como fator signicativo. No entanto, quando o questionamento foi
feito de forma indireta, este valor não foi reconhecido. As considerações nais apontam para a
necessidade de adaptação do material didático, de forma que o trabalho prático desenvolvido
nos ateliês consiga, de fato, ter parte de suas decisões consubstanciadas na acústica. Permitindo
que no futuro, como prossionais, se habituem a pensar o projeto fazendo uso dos conceitos
relativos a propagação do som. Após uma avaliação dos resultados, entendeu-se que para o
arquiteto as decisões se adequam às circunstâncias do projeto, razão pela qual, em algumas
situações abstrai-se dos aspectos sonoros do edifício priorizando outros atributos.
NOTAS
31
1
CHING, F. Arquitectura:Forma, Espacio y Orden. Mexico, Ediciones Gustavo Gilli, 1993
2
FURUYRAMA, Massao Tadao Ando. São Paulo, Martins Fontes, 1998.
3
SANTOS, Maria Julia de O. Ruído no ambiente escolar: causas e conseqüências – Dissertação de mestrado
defendida no ProArq, FAU, UFRJ, 1993
4
Coelho Neto, J. Teixeira – A construção do sentido na arquitetura, Ed.Perspectiva, São Paulo, p.70
5
grifo nosso
6
Baitello Jr., N - A cultura do Ouvir - Seminários Especiais de Rádio e Áudio - Arte da Escuta - ECO. 1997.2 ;
Portal de comunicação, cultura e mídia; http://revista.cisc.org.br, consulta em maio de 2006
7
Os gregos já exaltavam o valor da visão, no entanto, foi a partir dos conceitos da geometria que a visão tornou-
se o sentido de maior expressão nas artes e arquitetura.
Segundo Pallasmaa, a crescente hegemonia do olho caminhou em paralelo com a autoconsciência ocidental
e a separação cada vez maior entre o eu” e o mundo, a vista nos separa do mundo, ainda que o restante dos
sentido nos una a ele. A visão é o sentido dominante nos escritos dos arquitetos modernos. Diversas anotações
de Le Corbusier ilustram esse domínio: o homem olha a criação da arquitetura com seus olhos, que estão a
1,70m do solo.
8
FEBVRE, Lucien, Combates pela Historia. Lisboa:Editorial Presença, 1985
9
MUNARI, Bruno. Das Coisas Nascem Coisas, 2ª tiragem, Ed. Marins Fontes, São Paulo, 2002, p.373
10
BERENDT, Joachim-Ernst. Nada Brahma: A música e o universo da consciência. São Paulo : Cultrix,1993 p. 71
11
AUPING, Michael. Tadao Ando – Conversas com Michael Auping. Editorial Gustavo Gili AS, Barcelona, 2003, p. 25
12
HERTZBERGER, Herman. Lições de arquitetura. 2 ed. São Paulo: Ed. Marins Fontes, 1999 p.229
13
RASMUSSEM, Steen Eiler. Arquitetura Vivenciada. Ed. Martins Fontes, 1986
14
MUNARI,Bruno. Op. cit.
15
Neutra, Richard, Survival through design, Oxford University Press, New York, 1954
16
Op. cit.
17
Norbert- Schulz, Christian - Intenciones em Arquitectura, Editorial Gustavo Gilli, 1998 p.130
18
BANHAM, Reyner - Teoria e projeto na primeira era da máquina. São Paulo: Perspectiva, 1979, p.29
19
Os Vedas declaram: “Brahman é mais ínmo que o mais ínmo e mais vasto que o mais vasto. O corpo humano é
feito de cinco elementos – terra, água, fogo, ar e éter. Estes elementos estão associados com os cinco sentidos: olfato,
paladar, visão, tato e audição. A presença ou ausência destes cinco atributos do olfato, paladar, visão, tato e audição
determina a imanência dos elementos.[...] O quarto elemento, o ar, é mais leve que o fogo, pois ele tem apenas dois
atributos: som e forma. Esta é a razão por que ele paira por todos os lados e é mais imanente que o fogo. O quinto
elemento, o éter, é mais leve que o ar e é o mais irrestrito dentre os elementos em sua capacidade de permear. A razão
para isto é que ele é caracterizado apenas pelo atributo do som. Onde existe éter? Ele existe em todos os lugares porque
a energia do som permeia a criação inteira. Diz-se: “O éter é a vastidão vazia do próprio Cosmos” (Verso em Sânscrito).
O som é a única qualidade do éter.[...] O som é o atributo do éter. Este som é o AUM primordial, constituído pelas três
sílabas A-U-M. Vocês devem ouvir cuidadosamente este som primordial Aum. O homem também é a personicação
do som. A origem divina dos cinco elementos básicos. Sanathana Sarathi - Vol. 43 - Número 7 - 7/2000
20
Lina Bo BARDI, coordenador editorial Marcelo Ferraz, São Paulo: Instituto Lina Bo e Pietro M. Bardi, 1966, p. 327.
21
Lucian Febvre, op. Cit
22
MACIEL, J. M. Vitruvio Tratado de Arquitetura, INST PRESS, Lisboa 2006
33
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
o conteúdo teÓRico de AcústicA dAdo nAs escolAs de ARqUitetURA
1.0– in t R o d U ç ã o
Os diversos cursos de arquitetura oferecidos no Rio de Janeiro sofreram, através dos anos,
modicações na sua grade curricular. Inserida inicialmente na disciplina de Instalações, pertencente
ao departamento de tecnologia, o estudo da onda sonora pertence à área de mecânica, justicando
em anos posteriores sua inclusão na disciplina intitulada Física Aplicada. Devido a complexidade do
tema e sua abrangência, foi feito um recorte na acústica para adequá-la ao curso de arquitetura
acústica arquitetônica.
Atualmente, na maioria das instituições de ensino é parte do conteúdo da disciplina de Conforto
Ambiental. Na FAU/UFRJ é oferecida em dois períodos; inicialmente como parte do conteúdo de
conforto ambiental, em seguida, complementarmente como disciplina eletiva. No entanto, observa-se
que a procura por parte dos alunos para cursar a disciplina ainda é pequena, indicando que não
uma compreensão por parte deles da sua importância na formação prossional.
Antes de mil novecentos e setenta, a bibliograa de apoio era bastante restrita. A maioria dos textos
apresentava uma linguagem característica da área de engenharia com pouquíssima referência
aos problemas comumente enfrentados por arquitetos durante o processo de projeto. Dos livros
nacionais pioneiros que foram adotados nos cursos do Rio de Janeiro destacamos os escritos por
Lauro Xavier Nepomuceno
1
, com características estritamente físicas, por Benjamin de Carvalho
2
,
que tenta uma parcial aproximação com o projeto, assim como por Paulo Sá e Luiz Alberto Palhano
Pedroso
3
estudando problemas de ruído na cidade.
Nos livros americanos e europeus, de difícil importação na época para a maioria dos estudantes
brasileiros, é que se encontravam conteúdos técnicos desenvolvidos com intuito de melhor elucidar
problemas nas edicações ou no meio urbano. Deste grupo, temos os clássicos Acustical Desining in
Architecture, de Knudsen & Harris e o LAcoustique dans lês bâtiments de Conturie, ambos da cada
de cinqüenta.
A partir dos anos setenta, temos o livro do Prof. Pérides Silva
4
da UFMG Astica Arquitetônica
auxiliando na formão dos arquitetos cariocas. Hoje em dia, na sua quinta edão, continua a ser o livro de
refencia nacional.
Com uma abordagem mais próxima da engenharia, temos o livro do Prof. Samir Gerges da UFSC
– Ruído Industrial. Editado em dois mil e seis, o livro do Prof. Silvio Bistafa – Acústica Aplicada ao
Controle do Ruído é rico em exemplos práticos e a sua discussão dos resultados facilita bastante a
compreensão dos conceitos.
Souza, Almeida e Bragança escreveram o Bê a Bá da acústica arquitetônica que procura mostrar aos
estudantes as correlações entre o projeto e a acústica. É um ótimo livro de introdução, que prepara o
aluno para resolver questões básicas de projeto e o estimula a consultar outros títulos, com conteúdo
mais detalhado no campo da física.
Porém, ao compararmos o conteúdo dos diversos títulos recomendados, nacionais ou estrangeiros,
identicamos uma estrutura comum exposta nos sumários que revela, em parte, o conhecimento
sobre o tema que é passado aos estudantes de arquitetura.
Observamos que de forma direta, na literatura de consulta, somente nos capítulos que tratam do
tema condicionamento acústico é feita uma abordagem temática direcionada para a arquitetura de
auditórios ou salas de aula. A seqüência tradicionalmente desenvolvida no atelier de projeto, ou
seja, análise do local, partido arquitetônico, implantação, setorização, não é focada na maior parte
da bibliograa de acústica arquitetônica. Neste capítulo, baseado nos diversos sumários de livros
citados e nas ementas da disciplina de acústica da FAU/UFRJ, ordenou-se o conteúdo objetivando
reconhecer a área de domínio de estudantes e de prossionais nesse tema.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
34
1.1 os F U n d A M e n t o s A c ú s t i c o s .
Ao pensarmos o som, automaticamente resgatamos da nossa memória alguma lembrança sonora que
pode nos ser agradável ou incômoda. Cada pessoa reage de modo especíco ao som. No entanto, a sua
ausência é tão perturbadora quanto o excesso provocado por níveis de intensidade inadequados que
comprometem a saúde física e mental. A interação entre os sons produzidos e sua captação constitui as
percepções e ações sonoras diárias, tais como a característica sonora das comunicações interpessoais,
a constante excitação dos sentidos acrescido dos valores simbólicos estimados aos sons.
De acordo com Ching
5
(1998) as qualidades espaciais da forma, proporção, escala, textura, luz e som
dependem das propriedades de delimitação do espaço, sendo que nossa percepção dessas qualidades
constitui freqüentemente uma resposta aos efeitos combinados das propriedades encontradas. O
impacto sensorial provocado pela forma física da cidade afeta seus habitantes que são submetidos a
uma enorme carga de tensão perceptiva. Segundo ROMERO
6
,
os caracteres morfológicos do espaço onde o som se
propaga serão os componentes essenciais de sua estrutura
a u d í v e l ”.
Porém, não podemos esquecer que as edicações são os componentes principais desse meio, por
isso iniciaremos nosso estudo sobre o som compreendendo o seu comportamento e em seguida sua
inuência nas edicações e no meio urbano.
pR o p R i e d A d e s d o s o M - c o n c e i t U A ç ã o
A física nos dá dois conceitos para a palavra som:
1) Som – vibração, perturbação física que percorre um meio qualquer de propagação.
2) Som – sensação sonora, psico-siológica, que é captada pelo nosso ouvido.
O meio normal de propagação do som até chegar ao nosso aparelho auditivo é o ar.
O som não se propaga no vácuo.
O som vibração pode ser percebido tanto pelo tato como visualmente.
O som sensação psico-siológica depende do meio elástico de propagação e do aparelho auditivo
para ser percebido.
35
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
A p R o p A g A ç ã o d o s o M
É gerada por um corpo que vibra, transmitindo suas vibrações ao meio que o rodeia. Se observarmos
o ar dentro de um pistão em movimento veremos que ele se comprime e rarefaz-se alternadamente.
Entre uma zona comprimida e uma rarefeita existe uma diferença de pressão. Esta variação de pressão
chega às moléculas vizinhas do meio criando ondas longitudinais. No entanto as moléculas não se
deslocam, elas oscilam em torno de sua posição de equilíbrio. A distância máxima que elas se afastam
do centro de equilíbrio chama-se amplitude.
Fig.1.1 – Propagação do som.
FR e q ü ê n c i A
Freqüência é o número de oscilações completas que a partícula executa por segundo. Sua grandeza é
o Hertz (Hz) ou ciclos por segundo (cps), sendo simbolizada por (f).
A faixa de freqüência audível pelo homem inicia-se em 20 Hz e termina em 20.000 Hz.
Fig.1.2 –Faixa de freqüência audível
O tempo necessário para que a partícula execute uma oscilação completa é expresso pelo
período (T).
f=1/T
Quando dois sons têm como freqüências respectivas f1 e f2 diz-se que se acham separados pelo
intervalo f2/f1 e que denem uma banda de freqüência de largura
f= f2-f1
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
36
Em acústica arquitetônica e principalmente em estudos de isolamento utilizamos normalmente as
freqüências de faixas de oitava. Chamamos de oitava o intervalo entre duas faixas de freqüência cuja
razão é igual a 2, ou seja, f2/f1= 2N onde N é o intervalo entre duas freqüências. Por questões de
normatização outorga-se um papel preferencial às oitavas cujas freqüências centrais são:
BANDA DE 1/1 OITAVA HZ BANDA DE 1/3 OITAVA HZ
Freqüência central Freqüência central
16
16
20
25
31.5
31.5
40
50
63
63
80
100
125
125
160
200
250
250
315
400
500
500
630
800
1000
1000
1250
1600
37
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
2000
2000
2500
3150
4000
4000
5000
6300
8000 8000
10000
12500
16000 16000
TAB. 1.1 – Filtros de 1/3 e 1/1 oitava.
Podemos subdividir a faixa de freqüência audível em:
Sons de freqüência baixa- 20 a 360 Hz•
Sons de freqüência média- 360 a 1.400 Hz•
Sons de freqüência alta- 1.400 a 16.000 Hz•
A o n d A s o n o R A
tom Puro: Quando o som é puro, suas vibrações, ao serem registradas, apresentam a forma de uma
curva periódica, regular, sinusoidal. Um instrumento musical simples como o diapasão emite um
som deste tipo.
No entanto, na prática raramente encontramos sons puros.
Fig.1.3 - Espectro da onda sinusoidal.
som comPlexo: Toda onda sonora pode ser considerada como superposição de vários tons puros
ou simples. Um som qualquer pode ter innitos componentes ou harmônicos simples, e esses
componentes podem ser determinados por analisadores de som.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
38
O comprimento de onda é a distância que o som percorre durante o tempo correspondente a uma vibração completa. É
representado por (λ) e é expresso em metros.
λ= v.t λ= v/f
Fig 1.4 – Forma de onda: a) tom puro; b) ruído
Fonte: BISTAFA 2006
ve l o c i d A d e d o s o M
A velocidade de propagação de um som é expressa em m/s, e é função da densidade do meio em que se propaga, em
especial da temperatura. A velocidade do som no ar a 15°C é aproximadamente 340,9 m/s e a 22°C é de 345 m/s.
A variação de temperatura inui no valor nal de velocidade que pode ser calculada por:
v= (331,4 + 0, 607. t) m/s
v= λ. f
VELOCIDADE DO SOM E OUTROS MEIOS
água 1.435 m/s
alvenaria 3.000 m/s
madeira 1.000 m/s
aço 5.000 m/s
vidro 5.000 m/s
borracha 100 m/s
TAB. 1.2 – Velocidade do som em alguns materiais.
39
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
po t ê n c i A Ac ú s t i c A
Uma fonte de ruído pode ser caracterizada pela sua potência acústica, que é a energia acústica
liberada pela fonte por unidade de tempo. É expressa em Watt.
EXEMPLOS DE FONTES
Voz feminina 0,002 watt
Voz masculina 0,004 watt
Piano 0,27 watt
Automóvel a 100 Km/h 100 watt
TAB. 1.3 – Potência acústica de fontes diversas
in t e n s i d A d e d o s o M
É a quantidade de energia sonora, expressa em Watt, que atravessa um metro quadrado da área
perpendicular na direção em que o som se propaga.
I= W/ S = Watt/ m
Quanto mais afastados estamos de uma fonte sonora, menor será a quantidade de energia que nós
vamos receber.
Para ondas esféricas (emitidas por fonte pontual) a intensidade do som varia inversamente com o
quadrado da distância.
Relação entre distancia e intensidade de fonte sonora pontual
distância x 2x 4x 8x ...
intensidade I I/4 I/16 I/64 ...
TAB. 1.4 – variação da intensidade para fonte sonora pontual
Em alguns casos podemos considerar como fonte pontual uma pessoa falando, um único veículo
dando partida, um compressor, etc.
O som mais fraco que uma pessoa com audição normal pode perceber tem intensidade igual a watt/
m ou watt/ cm. É representado por Io (nível de referência).
o n í v e l d e i n t e n s i d A d e
A lei psicofísica de Weber-Fechner7 aplicada ao som diz: “Os incrementos de sensação correspondem
a incrementos iguais ao logarítimo da intensidade do estímulo sonoro.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
40
Então temos que:
Sendo:
I- a intensidade de um som qualquer.
Io - a intensidade mínima audível pelo ouvido humano.
O nível de intensidade pode também ser calculado a partir de valores de pressão sonora (no caso de
uma onda plana ou esférica sem reexão).
NI (dB) = 20 log (P/Po)
Sendo:
P- pressão sonora emitida por um som qualquer.
Po- pressão sonora mínima audível (0,0002 dina/cm - pressão de referência).
Para uma fonte pontual, atuando em campo aberto, o nível de intensidade cai 6dB cada vez que se
dobra a distância.
Convencionou-se que o início da percepção de um som se a partir de 0 dB, chegando ao valor
máximo suportado pelo ouvido humano de 140 dB.
Para uma melhor compreensão da escala em dB seguem alguns valores ilustrativos:
Valores em dB Fonte
0 dB Limiar de audibilidade, silêncio
absoluto.
20 Tic-tac do relógio.
30 Murmúrio.
40 Ambientes muito tranqüilos.
50 Riacho calmo.
60 Conversação normal a 1 metro.
70 Conversação alta.
80 Área de trânsito intenso.
90 Caminhão pesado a 5 metros.
100 Buzina a 1 metro (limiar da dor).
110 Discoteca.
120 Perfuratriz pneumática.
130 tio de manobras de avião.
TAB. 1.5. – Exemplos de níveis de intensidade de fontes sonoras
41
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Fig.1.5- Relação entre pressão sonora e nível de intensidade sonora.
pe R c e p ç ã o d o s o M /A s p e c t o s p s i c o -Fí si c o s
Segundo Marco
8
, o ouvido não adiciona simplesmente os níveis de intensidade recebidos. Ele os
associa de forma complexa.
Dois sons de iguais intensidades resultam para o ouvinte em um acréscimo de 3 dB ao nível de som
inicial.
Ex.: Um aluno fala a 60 dB.
Dois alunos falam a 63 dB.
Quatro alunos falam a 66 dB ...
Sons de mesma intensidade, mas de freqüências diferentes, não são percebidos pelo homem da
mesma forma. O timbre também modica a percepção sonora.
O ouvido percebe melhor sons agudos e sons médios, os sons graves oferecem maior diculdade de
percepção.
Estudando este fenômeno, Fletcher e Munson
9
vericaram que existe um lugar geométrico no
qual o ouvido humano percebe os sons igualmente, mesmo sendo suas intensidades e freqüências
diferentes. (ver gráco 1.1)
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
42
Graf. 1.1 – Curvas Isofônicas: mesmo nível de audibilidade para tons puros. Fonte: Knudsen
Este gráco mostra como a sensibilidade do ouvido varia com a freqüência do som recebido. Ele
se refere à audição bi-aural de tons puros, e a freqüência de referência é 100 Hz. No gráco estão
marcados alguns pontos ilustrativos:
Um tom grave de 1.000 Hz, com intensidade física de 60 dB, produz a mesma sensação de intensidade
de um tom médio de 1.000 Hz com intensidade de 40 dB.
Sendo 1.000 Hz a freqüência de referência, ca estabelecida uma escala de audibilidade em FON.
Então para um som de nível de pressão sonora de 60 dB, na faixa de 63 Hz, o nível de audibilidade
será 40 FON.
MA s c A R A M e n t o
Em locais ruidosos este fenômeno é facilmente exemplicado e vai dicultar para os ouvintes a
compreensão das palavras emitidas. Quando temos fontes sonoras distintas atuando simultaneamente
em um local, acabamos por ter diculdade de perceber o som que queremos ouvir de uma fonte
particular. Assim torna-se necessário elevar o nível de som desejado para se obter a percepção
correta. Ocorre mascaramento quando um som interfere na percepção de outro. (BISTAFA 2006)
o o U v i d o h U M A n o
O aparelho auditivo se divide em três partes:
ouvido externo:•
Pavilhão auditivo e conduto auditivo externo.
Tímpano (membrana circular que se deforma e vibra sob efeito das variações de pressão).
43
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
ouvido médio• :
Cadeia de ossos que funcionam como um sistema amplicador.
Trompa de Eustáquio: canal condutor de ar que permite o equilíbrio de pressões aéreas dos
dois lados do tímpano.
ouvido interno:•
Cóclea: suporte das células auditivas.
Vestíbulo: parte receptora do sistema de equilibrio
Fig. 1.6 - Esquema do ouvido humano.
Um decibel (1dB) é aproximadamente o menor valor de pressão que pode ser percebido pelo ouvido
com tons puros em condições de laboratório.
Para ruídos e sons complexos, a menor variação de intensidade perceptível pelo ouvido é a de
ordem de 3 dB.
A v o z h U M A n A
O órgão fonador humano é uma fonte sonora, sendo que a potência da voz humana é muito
pequena, cerca de 50 microwatt. Um indivíduo falando em condições normais em campo aberto,
sem obstáculos, não consegue ser ouvido se o observador está a 11m de distância ou mais.
Dependendo da potência, qualquer outro som originado em um recinto irá mascarar a voz humana,
tornando-a facilmente inaudível. Em salas de aula, por exemplo, aparelhos de ventilação ou
refrigeração ruidosos tornam possível o mascaramento da voz do professor.
Tipo de fala Nível som em dBA
Sussurro 15 a 20 dB
Fala normal a 1m 60 dB
Fala alterada 65 dB
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
44
Tipo de fala Nível som em dBA
Fala gritada, mas sem esforço 70 dB
Criança gritando 90 dB
TAB. 1.6 – Valores em dBA para tipos de conversação.
1.2. pR o p A g A ç ã o d o s o M e M R e c i n t o s F e c h A d o s
co M p o R t A M e n t o d o s o M s o b R e A sU p e R F íci e
Ao ir de encontro a uma superfície a onda sonora reage do seguinte modo:
Parte da energia incidente se reete, voltando ao meio de incidência;•
Parte dissipa-se no interior da superfície e parte é transmitida através da superfície.•
Fig.1.7- Distribuição do som sobre a superfície.
Re F l e x ã o
Quando incide sobre uma superfície rígida, o som é, em grande parte, reetido sendo semelhante ao
comportamento da luz, desde que a superfície seja grande em comparação ao comprimento da onda
e do som incidente.
45
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Por esta semelhança teremos o ângulo de incidência (i) igual ao ângulo de reexão (r).
Fig. 1.8 - Reexão do som.
Baseando-se neste princípio, podemos desenvolver estudos geométrico-acústicos simplicados
fazendo uso da imagem virtual da fonte a m de observarmos para onde se dirige a onda sonora
reetida.
A incidência do som sobre superfícies planas e convexas resulta em raios sonoros reetidos e bem
distribuídos no interior das salas.
Fig. 1.9 – Incidência e reexão do som sobre superfície convexa.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
46
Entretanto, a incidência do som sobre superfícies côncavas faz com que as ondas sonoras reetidas
tendam a convergir para um ponto comum; o foco.
Fig. 1.10 - Superfície côncava.
O foco é um elemento problemático quando se localiza na área de ouvintes porque pode favorecer
o aparecimento de eco no local ou o enfraquecimento do som, devendo, portanto, ser evitado.
Superfícies planas ou paralelas, distribuídas em salas de direito elevado também favorecem o
aparecimento de eco naquela localidade.
di F R A ç ã o
É a mudança sofrida na direção de uma onda sonora devido ao seu encontro com um obstáculo.
O fenômeno dependerá da relação entre o tamanho do obstáculo e o comprimento da onda. Por
conta deste fenômeno o som passa por pequenas frestas ou orifícios, por cima de muros, contorna
anteparos e colunas.
O desconhecimento deste princípio causa muitos transtornos nas edicações. O uso de elementos
permeáveis como venezianas, cobogós e treliças no fechamento de superfícies torna os ambientes
expostos aos sons e sem privacidade.
Em espaços como feira de exposições, em que os ambientes são separados por divisórias e estão
inseridos em um grande salão, pode-se observar o fenômeno e seu grau de incômodo quando o local
tem muitas pessoas.
Quando o tamanho do obstáculo é menor que o comprimento de onda do som (λ) haverá difração.
Se o obstáculo é maior que o comprimento de onda do som, haverá sombra acústica.
47
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Fig. 1.11 – Ilustração de ocorrência de difração do som.
di F U s ã o
É simplesmente a troca de direção da onda quando vai de encontro a uma superfície rígida. É o
espalhamento ou distribuição aleatória da onda sonora sobre a superfície. Isto ocorre quando o
obstáculo ou superfície tem o mesmo tamanho do comprimento da onda sonora (λ).
Fig. 1.12 – Painéis difusores para aplicação em tetos ou paredes.
ge o M e t R i A d A s s A l A s
A acústica geométrica dos raios sonoros constitui um procedimento gráco simplicado, porém útil
para o planejamento da geometria dos ambientes e distribuição dos materiais acústicos.
Cada local tem a sua particularidade, porém para a forma paralelepípidica, que é muito utilizada,
podemos estabelecer que as proporções ideais são de 5 x 3 x 2 para comprimento, largura e altura
respectivamente. (ARIZMENDI 1980)
O controle das proporções auxilia que seja evitado nos ambientes o fenômeno de ressonância. Esse
fenômeno é provocado pelas ondas contidas no ar existentes no local em que, ao encontrarem as
ondas produzidas pelo som propagado em sentido contrário, produzirão ondas estacionárias. Para
cada dimensão de sala existe uma freqüência na qual o comprimento de onda coincide com esta
dimensão e, ao se produzir esta coincidência, o fenômeno que se traduz em uma intensicação
da vibração, ou seja, do nível sonoro aparecerá. Recomenda-se que sejam evitadas as superfícies
paralelas, pois o eco pulsatório pode somar-se a ressonâncias muito marcadas. O diagrama de
Richard Bolt é empregado na orientação quanto à relação entre as dimensões ótimas de um recinto
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
48
que se encontram denidas pela área clara do diagrama, sendo X = largura/altura e Y= comprimento/
altura nos eixos de coordenadas.
Graf. 1.2 Diagrama de Bolt
Fonte: ARIZMENDI
1.3. coMpoRtAMento do soM Ao AR livRe.
Experiência feita ao ar livre, em um meio de característica absorvente com um determinado grupo
de pessoas, permitiu que se conhecesse o comportamento do som nessas condições. A partir dessas
experiências foi constatado que:
a- Para que se escute o que uma pessoa diz com o nível de voz igual a 60 dB, o ouvinte deve estar no
máximo à 11m da fonte sonora;
b- Se ouvirmos o que é dito a mais de 11m é porque existem superfícies capazes de reforçar o som
através de reexões;
c- Se a distância entre a fonte sonora e o receptor é igual ou maior a 11m haverá a percepção de dois
sons distintos devido ao atraso do som reetido.
Esta última observação tornou-se útil também em recintos fechados. Se a distância entre a fonte
sonora e a superfície reetora é igual ou maior a 11m, teremos a percepção do eco no interior da
sala. O eco também depende do tipo de superfície reetora.
49
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Para evitar a percepção de duas vozes distintas devemos observar a relação:
Fig. 1.13- Triangulo sonoro ABC
Se A+B+C < 22m - percepção de som único.
Se A+B+C = 22m – percepção de dois sons distintos.
Se A+B+C =34m – haverá ECO.
Ao ar livre, em condições normais de temperatura e vento (temperatura constante e ausência de vento), a intensidade
do som varia na razão inversa ao quadrado da distância, ou seja, se dobrarmos a distância do observador, teremos uma
perda de 6dB.
ve n t o e t e M p e R A t U R A
São elementos que isoladamente ou combinados modicam o percurso do som e sua velocidade podendo criar zonas de
sombra acústica.
Mesmo quando o vento sopra a favor da propagação do som, sua velocidade não deverá ser superior a 15 Km/h no local.
Fig.1.14- Efeito do vento.
Fonte: BISTAFA; SILVA; JOSSE
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
50
Ab s o R ç ã o d o s o M n o A R
A viscosidade e umidade do ar, a variação térmica, a radiação e a própria absorção molecular atuam
como elemento de atenuação do som na sua propagação, dependendo da freqüência. Em climas
quentes e secos a redução pode chegar a 16 dB.
Os sons de freqüência alta (agudos) são mais facilmente absorvidos pelo ar do que os sons graves.
Isto justica porque quanto mais nos afastamos de uma fonte, mais grave parece o som.
1.4. condicionAMento Acústico
Uma sala de boas condições acústicas para a palavra deve assegurar a compreensão perfeita do que o
locutor diz e evitar que o mesmo se submeta a um esforço vocal para ser compreendido.
Re v e R b e R A ç ã o d o s o M
Fig. 1.15- Reverberação em recinto fechado.
As superfícies existentes em um recinto fechado dão origem a múltiplas reexões do som. Destas
múltiplas reexões resulta uma persistência do som no local; a reverberação do som.
Se a reverberação continua por muito tempo após a extensão do som direto acabará por perturbar
a clara percepção do som. Se ao contrário disso o som cessa imediatamente acaba por dicultar
a percepção em pontos distantes da fonte. Por isso, para uma sala de estudo, a reverberação é um
dado signicativo.
De acordo com as superfícies absorventes existentes nas salas e o seu volume, o tempo de reverberação
se modicará. Cada tipo de atividade requer um tempo ideal de reverberação.
Wallace Sabine
10
foi quem relacionou o tempo de reverberação às características do local e chegou à
seguinte equação.
TR= 0,161 .volume da sala
absorção da sala
51
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
A equação é adequada para locais com absorção média e baixa.
Toda sala, de acordo com o tipo de atividade que desenvolve, tem um Tempo de Reverberação Ideal.
No gráco 1.2 conhecendo-se a atividade do local e seu volume, encontramos o TR ideal do ambiente.
Graf. 1.2- Tempo de Reverberação ideal
Fonte: NBR 12 179/1992
MAt e Ri Ai s p o R o s o s
Têm como características a presença de ar no seu interior. Oferecem boa absorção para freqüências
altas e é pouco expressivo em baixas freqüências. No entanto se aumentarmos a sua espessura, a
absorção nas baixas freqüências cresce paralelamente.
Alguns exemplos: lã de rocha, lã de vidro, tecido de algodão, espuma de poliuretano
Fig. 1.16 – Material de espuma de poliuretano para ser empregado sobre parede ou teto.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
52
Ab s o R ç ã o
Materiais porosos têm melhor capacidade de absorção do som. Seu grau de absorção é conhecido
através do coeciente de absorção do material, simbolizado por (α).
Teoricamente um material innitamente rígido, com capacidade máxima de reexão, terá seu
coeciente de absorção igual a zero. Já uma superfície vazada, por exemplo uma janela aberta, tem
coeciente de absorção igual a 1.
Todo material acústico deve ter em sua especicação o valor de α, que varia de acordo com a
freqüência do som.
EXEMPLO
Material Superfície concreto
125 HZ 0.02
500 HZ 0.03
100 HZ 0.04
Fonte ABNT – NBR 12 179/1992
A absorção de uma sala será o somatório das diversas superfícies absorventes existentes no local. Na
formula de Sabine ela aparece do seguinte modo:
Tr = 0, 161 . V
ΣSα
sendo: S – área da superfície
α– coeciente de absorção do material que a reveste.
Coeciente dio de absorção – α 
α = S ΣSα
Ele irá caracterizar se uma sala, mesmo sem tratamento, tem características absorventes. Isto
poderá ocorrer quando o volume da sala for grande.
Para salas cujo o α  é maior ou igual a 0,30 adota-se a fórmula de Eyring, onde:
Tr = 0, 161 . V
-2,3 ΣS log (1-α )
53
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Em uma sala de aula, a absorção se dará de forma signicativa pelas próprias pessoas, pelas janelas e
portas quando deixadas abertas.
A reverberação de sala de aula deverá ser curta para que haja uma boa compreensão do que é dito
em seu interior.
Várias soluções podem ser adotadas com o objetivo de aumentar a absorção de uma sala de aula.
Podemos empregar materiais porosos sobre o teto, adotar painéis vibrantes sobre as paredes, utilizar
cortinas e etc.
int el i gi bi li dA de
Em locais onde o uso da palavra é um instrumento de trabalho, e para que suas condições acústicas
sejam satisfatórias, é necessário que haja uma boa inteligibilidade da palavra. No entanto, para que
seja mantida a privacidade do ambiente, não se deve, fora dele, compreender o que é dito no seu
interior.
Em salas de aula a condição de inteligibilidade do ruído externo deve ser a mais baixa possível. É
inteiramente inadequado que se ouça de uma sala de aula o que o professor ou aluno de uma sala
vizinha fale quando ambas as salas estão em atividade. Ruídos provenientes do exterior (ou interior)
também serão capazes de reduzir a inteligibilidade por mascaramento
ní v e l d e i n t e R F e R ê n c i A c o M A F A l A
Estudos desenvolvidos por BERANEK
11
mostram que é possível estimar a diculdade em se manter
uma conversação em função da interferência causada pelo ruído, através da avaliação do SIL (Speach
Interference Level – Nível de Interferência da Fala) do ruído em questão.
A norma ISO 3352 (E) 1974 dene o SIL4 como a média aritmética dos níveis sonoros nas faixas de
oitava centradas em 500, 1000, 2000 e 4000 HZ e apresenta na tabela 1.7 as distâncias máximas nas
quais a conversação pode ser considerada satisfatoriamente inteligível (compreensão não inferior a
95% das frases) em função do nível vocal e do SIL.
O gráco 1.3 nos mostra valores limites superiores do SIL, em dBA, com os quais é possível
estabelecer comunicação verbal nas condições indicadas.
Distancia (m) Normal Alto Muito Alto Grito
0.30 65 71 77 83
0.60 59 65 71 77
0.90 55 61 67 73
1.20 53 59 65 71
1.50 51 57 63 69
3.60 43 49 55 61
TAB.1.7 – distância de inteligibilidade da fala para um esforço vocal determinado.
Fonte: Cahieurs du C.S.T.B.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
54
Graf. 1. 3 – distância entre orador e ouvinte
Fonte: Cahiers du CSTB; BISTAFA
ín d i c e d e A R t i c U l A ç ã o
O SIL, além de sua utilidade imediata na determinação das condições em que as mensagens
poderão ser compreendidas, pode ser utilizado no cálculo do IA (Articulation Index – índice de
articulação) que é, na verdade, o parâmetro mais diretamente ligado à interferência com a conver-
sação, tanto em inteligibilidade como em privacidade.
O conceito de índice de articulação provém do fato de que os níveis sonoros dos sons que constituem
a fala variam constantemente desde valores de 12 dB acima do nível médio da voz, até 18 dB abaixo
deste nível. A presença do ruído faz com que essa variação diminua de amplitude, diminuindo a
articulação das palavras pronunciadas. Segundo JOSSE12 o índice de articulação pode ser calculado
pela fórmula:
IA=(L-SIL)
Onde L é a medida aritmética dos níveis máximos da fala nas faixas de oitava centradas em 500,
1000, 2000, e 4000 HZ na posição do ouvinte.
O gráco 1.4 apresenta uma relação entre o valor do índice de articulação e as condições de
comunicação e privacidade entre dois pontos dados.
Todos os aspectos da comunicação oral estão envolvidos neste critério. Deve-se, em qualquer caso,
levar em conta o fato de que o valor de L depende do nível vocal, da distância entre indivíduos e
da eventual inuência de barreiras entre eles. No caso em que se deseja privacidade, o valor de SIL
pode ser ajustado de forma que o valor de I.A. caia e se atinja o grau de privacidade desejado. Ao
se desejar a comunicação, deve-se tentar reduzir ao máximo o valor de SIL através do isolamento
sonoro contra ruídos indesejáveis e do controle da reverberação local, uma vez que o nível sonoro
reverberante da própria voz do locutor inuencia o índice de articulação.
55
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
GRAF. 1.4- Índice de articulação
Fonte: Cahiers du CSTB; BISTAFA
Ac ú s t i c A d e s A l A s
Tomemos como exemplo uma sala de aula: qualquer que seja o seu tipo de uso (para a palavra ou
música), há a necessidade de receber um tratamento acústico.
A nalidade será adequar as condições de reverberação da sala de maneira que não haja excessos
de reexões propiciando a formação de ecos no seu interior já que este fenômeno é capaz de gerar
um desconforto na escuta porque diculta a compreensão do que é dito. Também, uma sala muito
absorvente acaba por dicultar o entendimento de algumas sílabas, e por isso não é considerada
uma boa solução.
Outra razão que nos leva a buscar um tratamento para as salas é o excesso de barulho que possa
haver no seu interior. Aumentar a absorção das salas não modica o ruído da fonte sonora, mas
contribui para diminuir o incômodo do ruído reetido dentro da sala.
O tempo de reverberação ideal, para salas cujo volume ca em torno de 90 m e 210 m dado pela
NB-12 17913, varia de 0,48 s a 0,58 s em 500 Hz. A boa acústica de uma sala de aula obtém-se, em
geral, por uma duração correta do tempo de reverberação e, em parte, pela sua forma.
Para se obter um tempo de reverberação adequado, é preciso que se use corretamente os materiais
sobre as superfícies. No entanto, é preciso que se distribua os materiais de forma cuidadosa, para que
não se diculte a emissão do som. Devemos evitar a colocação de materiais absorventes próximos da
fonte sonora (professor ou conferencista). Porém, em locais onde a fonte é perturbadora, devemos
aplicar os materiais o mais próximo possível destas fontes.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
56
Em todos os locais onde o uso da palavra ou da música não exija boa compreensão (ginásios, hall
de entrada, corredores, escadas, pátios, refeitórios, etc.), o tempo de reverberação deve ser reduzido
ao máximo. Isso se faz necessário porque são áreas naturalmente ruidosas devido à concentração de
pessoas e quando muito reetoras produzem um ruído ambiente muito incômodo.
Um tempo de reverberação muito longo torna os sons da fala desagradáveis. Se for muito baixo,
ocasiona um cansaço suplementar ao professor devido ao esforço vocal a que se submete para se
fazer ouvir pelos alunos mais distantes (ver tabela).
Tempo de reverberação para salas com v> 300 m
Sala de aula teórica 0,7 a 0,9 s
Sala de aula teórica e canto ocasional 0,9 a 0,11 s
Sala de canto 1,1 a 1,3 s
Sala de festa 1,1 a 1,6 s
TAB. 1.8 – Tempo de reverberação recomendado para ambientes escolares.
Dentro dos critérios de escolha de um material acústico para emprego em escolas, devemos dar
especial atenção às condições de propagação ao fogo e durabilidade.
Existem três categorias de materiais absorventes, as quais descreveremos a seguir.
di A F R A g M A s
Também chamados de membrana, são chapas delgadas afastadas da parede com ar no seu interior.
Constituem assim um tipo de ressonador onde a freqüência de ressonância é relativamente baixa e
fácil de calcular.
O máximo de absorção se produz para freqüência de ressonância, dada pela equação:
sendo: mmassa surfácica da membrana em Kg/m;
ddistância da lâmina de ar em metros.
57
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Graf. 1.5– Absorção por membrana – painel com e sem perfuração
Fonte: MEISSER
Este tipo de absorvente é utilizado para baixas freqüências, sendo fácil de calcular e executar. Ele
pode ser utilizado como painel de avisos ou suporte para exposição de trabalhos de alunos. A
membrana pode ser executada em madeira, placas de gesso ou outro material similar.
os Re s s o n A d o R e s d e he l M h o l t z
Para utilizarmos os ressonadores de Helmholtz em um ambiente devemos conhecer seu
funcionamento. Eles são constituídos de placas perfuradas (gesso, madeira, metal), colocadas a certa
distância das paredes ou do teto de modo que se aprisione entre elas uma parcela de ar.
Este conjunto se comporta como um grande número de ressonadores, onde cada orifício representa
a abertura de um ressonador. A absorção destes dispositivos é seletiva, isto é, oferece melhor
desempenho para uma determinada freqüência, que geralmente se encontra na faixa entre 1000 e
2000 Hz. No entanto, acrescenta-se, como complementação, materiais porosos no conjunto, havendo
assim uma diminuição de seletividade da freqüência.
Graf. 1.6 Painel ressonador e ressonador de cavidade
Fonte: BISTAFA, MEISSER, JOSSE, ARIZMENDI
o F e n ô M e n o d e f l u t t e r é c h o (ec o s Mú l t i p l o s ).
Quando duas paredes paralelas (paredes laterais ou parede e teto) são muito reetoras e as outras
são mais ou menos absorventes, a acústica da sala acaba sendo muito desagradável. Com efeito, estas
paredes paralelas acabam por favorecer uma ressonância acentuada traduzindo-se em particular,
no caso de sons breves, para uma série de ecos muito repetitivos (utter–écho). É necessário que
em qualquer projeto evite-se cair neste caso. Nas construções deve-se dar particular atenção a
corredores muito compridos com direito elevados e revestidos de material pouco absorvente.
Eles estarão sujeitos a esse fenômeno, e se tornarão fontes incômodas de propagação de ruído dentro
da edicação.
1.5. pRivAcidAde.
Tomemos por exemplo um projeto de escola. A privacidade da sala de aula é uma das metas
principais que o projetista deve buscar no desenvolvimento e execução do projeto. A escolha do
material da parede divisória deverá ser feita objetivando-se um bom grau de redução sonora entre
os ambientes.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
58
Se conseguirmos condições favoráveis de privacidade em escolas, evitamos que a médio prazo os
professores sofram danos em suas cordas vocais e que os alunos tenham diculdade de assimilar
o conteúdo que lhes é explicado. Os problemas vocais aparecem inicialmente nas mais simples
formas, como por exemplo, uma breve rouquidão (disfonia). Mas com o tempo este quadro pode
evoluir para sintomas mais graves como perda temporária da voz (afonia).
Estes distúrbios são provocados pelo esforço vocal ao qual o professor é submetido ao dar aula em
salas barulhentas, podendo provocar o afastamento do prossional temporária ou denitivamente.
Independentemente dos problemas vocais, a privacidade é necessária em projetos residenciais, de
escritórios, consultórios médicos entre tantos outros.
1.6. o RUído.
Atualmente já observamos uma crescente preocupação das pessoas com a elevação do ruído nos
meios urbanos.
Cada vez mais programas educativos e documentários procuram alertar para os danos provocados
pelo ruído à nossa saúde. O ruído interfere no nosso equilíbrio emocional possibilitando reações
agressivas de uma pessoa exposta à sua ação por longos períodos o que diculta a concentração e
a consolidação da memória assim como a conversação. E quando atinge níveis elevados (igual ou
maior a 100 dB) provoca dor no aparelho auditivo, favorecendo a perda temporária da audição.
Atualmente a partir de pesquisas feitas em outros países temos conhecimento de que o ruído
também propicia o aparecimento de problemas cardiovasculares, diabetes, infecção muscular,
problemas articulares, hipertensão, entre outros. Embora pouco se saiba, estudos iniciados
alguns anos por Parrado
14
constataram que crianças recém-nascidas e fetos são os que mais sofrem
os efeitos do excesso de barulho .
De maneira geral os efeitos do barulho excessivo podem ser classicados da seguinte maneira:
Interferência da comunicação verbal;•
Incômodo ou desconforto;•
Alterações irreversíveis do aparelho auditivo;•
Stress;•
Alterações psicológicas;•
Crianças expostas ao ruído têm diculdade no aprendizado escolar e no convívio social.
Adolescentes tendem a car agressivos. Adultos podem car dopados” pelo ruído, tornando-se
apáticos ou instáveis.
O incômodo provocado por um ruído é um dado complexo porque depende do grau de sensibilidade
do ouvinte e de sua reação psicológica frente a um determinado ruído. Por exemplo, o choro de
uma criança poderá passar despercebido se for encarado como um ruído insignicante, mas para
os ouvintes que o associam a alarme, descuido ou sofrimento ele será bastante incômodo. Outro
exemplo que pode ser citado é fato real: o Colégio Marista São José, no Rio de Janeiro, tem aos fundos
do terreno uma encosta que confronta com o morro do Borel. Quando tiroteios no morro que
ecoam no interior da escola, tem-se a sensação sonora de que a fonte do ruído está lá. O incômodo
se torna grande porque a esse ruído associa-se falta de segurança, medo e dor, e raramente alunos e
professores se portam com indiferença a ele.
59
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Um ruído também se torna incômodo quando é de grande intensidade e se propaga em um local
onde o nível do ruído de fundo do ambiente está em níveis mais baixos (35-40 dB). Por isso,
determinados ruídos incomodam mais à noite do que durante o dia.
Além da intensidade, outro elemento de inuência é o tom. Estudos mais desenvolvidos concluíram
que o ruído agudo é mais nocivo ao aparelho auditivo do que outro de mesma intensidade porém
de tom mais grave. Entendemos por agudo os sons de freqüências acima de 1500 Hz, no entanto
faixas de freqüências excepcionalmente baixas (em torno de 100 Hz) também são muito nocivas.
A faixa de freqüências audíveis pelo homem, conforme já citamos, inicia-se em 20 Hz e se estende
até 20.000 Hz.
Também podemos relacionar como incômodos o ruído contínuo, o irregular (com variação de
intensidade e freqüência) e o ruído periódico. Pessoas que sofrem de problemas nervosos têm
pouca ou nenhuma tolerância a estes dois últimos tipos de ruído.
Em virtude de tantas inuências negativas podemos concluir que o ruído não é um elemento
bem-vindo em nenhum tipo de local, principalmente naqueles cuja atividade exija concentração
e produtividade. Nesse perl se insere o ambiente escolar que é um local de aprendizado onde a
comunicação verbal é o principal instrumento de trabalho.
Se uma sala de aula ca exposta a níveis de ruídos inadequados, fatalmente o professor se verá
obrigado a elevar o nível da voz para se fazer entender e manter a atenção da turma. Este tipo de
esforço, quando se torna freqüente pelo professor, favorece o aparecimento de distúrbios vocais
citados anteriormente.
cR i t é R i o s p A R A A v A l i A ç ã o d o R U í d o
O incômodo produzido pelo ruído, conforme falamos anteriormente, é algo muito pessoal e que
depende de uma série de variáveis interligadas.
Alguns estudos foram feitos com objetivo de estabelecer um método de medir o desconforto através
da medida do nível de ruído.
Estabelecer normas de medida do ruído nos auxilia, no caso especico das escolas, a garantir
condições aceitáveis de conforto para as pessoas que realizam tarefas nas quais a concentração é
necessária. A normatização do local evita que as condições de ruído favoreçam a dispersão e também
ajuda a estabelecer as condições adequadas de comunicação no local, pois o ruído de fundo não deve
mascarar a palavra nem provocar fadiga.
Cada país tem suas próprias normas e recomendações sobre o índice de níveis de ruído para escolas
ou outros tipos de ambientes.
Entre as mais relevantes temos:
ISO- (International Standard Organization)•
1996-1 (2003) 1996-2 (2007)
BS- (British Standard) •
AFNOR- (Association Francaise of Normalization)•
NFS 31-010 (1996)
ABNT- (Associação Brasileira de Normas Técnicas)•
NBR 10 151 e 10 152/2000
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
60
cR i t é R i o s d e M e d i ç ã o
Diversas escalas e critérios foram desenvolvidos para quanticar o conforto acústico de um am-
biente. No caso geral de projetos, estes critérios devem ser empregados com o objetivo de iden-
ticar locais insalubres ou inadequados para receber a implantação da edicação e também para
posteriormente (após execução do projeto) vericar se as instalações se encontram em condições
acústicas satisfatórias.
ciRc Ui t o s d e c o M p e n s A ç ã o A, b, c, e d.
O ouvido humano não é igualmente sensível a todas as freqüências. Circuitos eletrônicos de
sensibilidade variada com a freqüência, de forma a modelar o comportamento do ouvido humano,
são padronizados e classicados como A, B, C e D.
O circuito A aproxima-se das curvas de igual audibilidade (curvas isofônicas pag. 35) A escala A
despreza as baixas freqüências menos sensíveis ao ouvido humano. Ela simula o ouvido humano.
Os circuitos B e C são análogos ao circuito A, que empregados para sons de elevado nível de
pressão sonora. O circuito D foi criado especicamente para sons de ruído de avião. É grande sua
utilização em aeroportos.
O que mais se usa é o ltro A, uma vez que os ltros B e C não fornecem uma leitura tão próxima ao
ouvido humano como esse ltro.
A conversão de dB para dB(A) se processa pela adição ou subtração de valores, por faixa de
freqüência, aos resultados obtidos nas medições, de acordo com a tabela 1.9:
63 Hz 125 Hz 250 Hz 500 Hz 1 kHz 2 kHz 4 kHz 8 kHz
-25 -15 -8 -3 0 +1 +1 -1
TAB.1.9 – Conversão de dB para dB(A)
Fonte: BISTAFA
ní v e l d e p R e s s ã o s o n o R A - db(A)
É uma grandeza que fornece uma leitura global em dB, ou dB(A), sem informar dados sobre a
distribuição deste nível por freqüência. É uma medida simplicada que pode ser efetuada com
um medidor de nível sonoro de menor porte. Em medidores dotados de ltro de ponderação, esta
leitura é obtida com ltro A.
As guras abaixo mostram os tipos de medidores que são empregados para leituras em dB(A).
Fig. 1.17- Medidores de nível de pressão sonora.
61
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
ní v e l d e i n t e R F e R ê n c i A n A c o M U n i c A ç ã o v e R b A l
Uma das conseqüências do excesso de ruído, como por exemplo, nos ambientes escolares é a baixa
produtividade dos alunos e maior agitação em sala de aula, obrigando também que o professor fale
muito alto em sala, sacricando seu aparelho vocal e interferindo nas salas de aulas vizinhas. O
sacrifício das cordas vocais também pode ocorrer em ambientes de lazer, como bares e restaurantes
mal projetados.
Conforme visto anteriormente é possível calcular o nível de interferência vocal a m de se obter
condições adequadas de inteligibilidade (SIL 4).
Existem outros critérios de uso mais restrito como PNC (Prefered Noise Criteria- Critérios
Preferidos de Ruído), as curvas NR (Noise rating), PNL (Perceived Noise Level - vel de ruído
percebido), entre outros. No entanto, a medida na escala de compreensão A (dBA) é a que apresenta
melhores resultados. Primeiro por ser simples de medir e junto a isto poder classicar os ambientes
de trabalho em salubres ou insalubres, dependendo do nível de ruído do local.
Na verdade, a questão de critérios de ruído transcende os aspectos puramente técnicos. As
questões econômicas e o respaldo tecnológico envolvidos também devem ser considerados na
escolha de um critério.
cU R v A s d e A v A l i A ç ã o d e R U í d o nc (no i s e cR i t e R i A ).
Com a intenção de limitar os níveis de ruído em ambiente de ocupação humana, foram criadas
em 1957 as curvas critério de ruído( Noise criteria curves, NC) também conhecidas como curvas
N C ê ”.
Este critério é baseado em uma série de curvas estabelecidas de acordo com levantamentos e estudos
detalhados. Através dessas curvas é possível classicar o ruído de fundo admissível para diversas
atividades por faixa da oitava.
Fig.1.18– Curvas de avaliação de ruído (NC)
Fonte: NBR 10 152
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
62
Curvas de avaliação de ruído NC podem ser encontradas na norma NBR 10 152/2000 e na norma
ISO 1996-1/2003. No exemplo a seguir apresentamos valores referentes a ambientes de escola.
Locais/Escolas dB(A) NC
Biblioteca, S.Musica, Sala
Desenho
35 - 45 30 - 40
Sala de aula, Laboratório 54 - 50 35 - 45
Circulação 45 - 55 40 - 45
Administração 35 - 45 30 - 40
Refeitório 40 - 50 35 - 45
Auditórios 35 - 45 40 - 60
Sala de informática 45 - 65 40 - 55
Ginásio esportivo 45 - 60 30 - 40
Tabela 1.10- valores dBA e NC recomendados em escolas.
Fonte: Cahiers du C.S.T.B.
1.7 tRAnsMissão de RUído.
Os ruídos podem ser transmitidos de um local para outro por meio aéreo ou pelo corpo sólido. É
necessário sempre vericar o meio de transmissão de ruído que chega a um ambiente para que se
possa em seguida estabelecer o tratamento necessário.
An á l i s e d o s R U í d o s .
Um ruído é uma combinação de sons de freqüência e intensidades diferentes. Não se pode analisar
a altura de um ruído por uma única freqüência. É necessário que seja analisado por banda de
freqüências.
A analise é feita por um sonômetro, e se traduz por uma curva denominada Espectro do Ruído.
Fig. 1.19 - Espectro do ruído.
63
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
tR A n s M i s s ã o p o R v i A A é R e A
São os que nos chegam da rua através dos muros e das aberturas. São também os que vêm da viz-
inhança através das paredes, portas e janelas.
O ruído da conversação, trânsito, ocinas mecânicas e obras públicas são exemplos de ruídos aéreos
identicados em diversos locais.
O índice de redução acústica R dene a capacidade de isolamento entre o meio receptor e o meio
transmissor. Este índice é expresso em decibéis e está ligado ao fator de transmissão pela relação:
R= 10 log 1
τ
Onde τ é o coeciente de transmissão:
Material τ
Laje de concreto, 10 cm com isolamento
de 2,5cm
0,000025
Parede de Tijolos, 25 cm, com revestimento
comum de argamassa caiada
0,000008
Janela fechada, de vidro simples 5mm 0,0011
Janela fechada, de vidro duplo 5mm 0,00027
Porta fechada de madeira compensada
3,5cm de espessura
0,001
Tab 1.11 – Coeciente de transmissão
Fonte: SILVA, P.
A transmissão de energia acústica de um local para o outro pela parede de separação é chamada
transmissão direta. Ela depende de dois fatores: o índice de redução acústica da parede e a superfície
da parede.
A transmissão de energia acústica pelas paredes laterais são chamadas de transmissões indiretas ou
transmissões secundárias. Dependem da natureza das paredes laterais e do tipo de ligação destas
paredes com a parede de separação.
A natureza mais ou menos reverberante do local receptor tem uma importância sobre o nível sonoro
neste local. Se as paredes do local são rígidas e lisas, a energia transmitida direta ou indiretamente ao
local permanece durante mais tempo que no caso de paredes absorventes.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
64
Fig. 1.20 - Transmissões diretas ou indiretas: duas situações de localização de ambientes.
tR A n s M i s s ã o p e l o c o R p o s Ó l i d o : R U í d o d e i M p A c t o
O nível de ruído de impacto normalizado se calcula a partir do conhecimento do nível Ln do piso,
da ecácia (índice de melhoramento) ∆L do revestimento, da direção de propagação (direta ou em
diagonal). No caso da transmissão se dar por via indireta (diagonal) considera-se a massa surfácica
da parede vertical.
O valor ∆L (índice de melhoramento) é determinado em laboratório sobre uma laje de concreto de
14cm sem revestimento cujo Ln = 83 dBA. Os materiais submetidos a teste são colocados sobre esta
laje padrão, e a medição indica o novo valor Ln1 do conjunto. A diferença Ln-Ln1 nos dará o valor
de ∆L do material, que expressa a redução em dB pela laje padrão de 83 dBA após a colocação do
material.
Segundo Meisser
15
o índice de melhoria de um revestimento de piso colocado sobre uma laje de peso
igual ou superior a 350 Kg/m deve ser superior a 21 dB e quando a laje for inferior a 350 Kh/m
deve ser superior ou igual a 25 dB.
Para se calcular as transmissões diretas e indiretas temos as seguintes fórmulas:
A) Transmissão direta: •
Lnat= 135 - 30 log e - ∆L 10 log V
Onde: e – espessura da laje em concreto em cm.
Lecácia do revestimento de piso em dBA.
V volume do local de recepção em m
B) Transmissão em diagonal (indireta):•
Lnat= 135 - 30 log e - ∆L - 10 log V- K
Valores de K são dados em função de m’/m; sendo m’ a massa surfácica da parede entre as
salas e m a massa da laje.
65
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
K m’/m
0 < 0,7 ou parede leve em alvenaria
2 < 0,85 ou parede leve sem ser em alvenaria
4 de o,85 a 1,09
6 de 1,1 a 1,39
8 ≥ 1,4
TAB. 1.12 – valores para K na transmissão indireta
Fonte: CSTB
Espessura Massa surfacica
Kg/m
Ruído rosa Ln
14 340 54 83
18 430 59 78
22 530 62 75
Tab1.13– isolamento de laje em concreto.
Fonte: CSTB
1.8 - isolAMento Aos RUídos.
Quando a onda sonora encontra uma superfície que separa dois locais, ela se distribui da seguinte
forma: parte da energia se reete para dentro do local de emissão, a outra parte é absorvida pela
parede e transformada em calor e uma parte nal atravessa a parede (ver gura 1.7).
O isolamento acústico pode ser classicado de diversas maneiras:
- Isolamento acústico bruto ou puro (Db)
- Índice de redução acústica (R), calculado em laboratório.
- Classe de transmissão sonora (CTS)
is o l A M e n t o bR U t o
Para determinar o grau de isolamento para os ruídos aéreos existentes entre dois locais, mede-se o
nível sonoro L1 no local emissor (onde está a fonte do ruído) e o nível sonoro L2 no local receptor.
A RETA, A CURVA E O SOM
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66
A diferença L1 - L2 é chamada de isolamento bruto ou isolamento puro entre locais.
Db = L1 - L2 = R + 10 log A/Sp
Onde:
Db: isolamento acústico bruto (dB)
L1: nível de pressão no local de emissão (dB)
L2: nível de pressão no local de recepção (dB)
R: índice de redução acústica da parede que separa os dois locais (dB)
A: área de absorção equivalente do local de recepção (m)
Sp: superfície da parede separadora (m)
Como citamos anteriormente, a capacidade de isolamento da superfície analisada varia de acordo
com sua natureza, superfície e condições de reexão das paredes do local de recepção.
Esta é a classicação de isolamento mais adequada para avaliação de recintos fechados.
cl A s s e d e t R A n s M i s s ã o s o n o R A – (stc).
Indicador global das características de isolamento sonoro de uma superfície, analisado por faixa de
freqüência (índice adotado pelo IPT).
Para caracterizar a perda na transmissão de uma partição por meio de um único número com o
objetivo de facilitar a comparação de desempenho de diferentes partições. Originalmente chamado
de sound tramission class” (STC).
Classe de transmissão sonora de materiais construtivos *
Partição STC
Vidro 6mm de espessura 26
Chapa de madeira compensada de 18mm de
espessura
28
Parede dupla de chapa dry-wall de 12mm de
espessura xadas em caibros de 5x10cm
33
Chapa de aço de 6mm de espessura 36
Parede de tijolo de 10cm de espessura 41
Parede de blocos de cimento de 15 cm de
espessura
42
Parede de concreto armado de 30 cm de espessura 56
Parede dupla : tijolos de 20cm, cavidade de 5cm,
tijolos de 10cm de espessura
65
*valores indicativos. Utilizar valores de STC fornecido pelo fabricante
Tab. 1.14 – Valores de STC
Fonte: BISTAFA
67
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
1.9 - isolAMento Aos RUídos AéReos.
le i d e M A s s A
Quanto mais pesada for uma parede, mais ela irá isolar; este é o princípio da lei de massa. Quando
as modalidades de construção permitem, deve-se tirar partido deste princípio. Mas o aumento
excessivo do peso da superfície não corresponde, na mesma proporção, à redução do ruído.
Podemos dizer que a média de perda por transmissão de uma parede rígida e pesada aumenta de 4 a
6 dBA quando o peso se duplica, tendo a parede massa surfácica de até 150 Kg/m; acima desse valor
o acréscimo na redão sonora será de 12 dB.
Aplicando-se o gráco da lei de massa, podemos calcular a redução do som.
Graf. 1.7 - lei de massa
Fonte: JOSSE
O nível sonoro do ruído irradiado é tanto menor quanto mais pesada for a parede e também quanto
mais alta for a freqüência do som incidente.
Lei Experimental da Massa
Massa surfac. (kg/m) Redução (dB) Freqüência (Hz) Redução (dB)
25 32 125 32
50 36 250 36
100 40 500 40
200 44 1000 44
400 48 2000 48
Tabela 1.15 – lei de massa e lei de freqüência
Fonte: MEISSER
A RETA, A CURVA E O SOM
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68
pA R e d e s i M p l e s
Entende-se por paredes simples nos estudos de isolamento acústico quatro tipos distintos:
Parede simples homogênea – composta por um único material •
Parede simples heterogênea composta por materiais diversos, porém rigidamente unidos •
entre si. (parede de tijolo oco com emboço e reboco, revestida com pastilhas.
Parede simples contínuas – têm a mesma estrutura por toda a superfície ( parede cega)•
Parede simples descontínua diversidade de material na execução. (parede com vão, ou •
com janela ou com porta)
Dentro do possível é necessário escolher os materiais e sua espessura de tal forma que a freqüência
crítica da parede seja muito baixa ou muito alta, de modo que não reduza seu isolamento. A
freqüência crítica de uma parede diminui quando o peso e a rigidez da parede aumentam.
As paredes leves, em geral, têm espessura pequena, o que leva a terem menor rigidez e a freqüência
crítica ter valor elevado. As paredes pesadas, por terem maior espessura, apresentam maior rigidez e
a freqüência crítica situa-se na faixa mais baixa.
Quando a parede é constituída de material oco (tijolo), é difícil avaliar a freqüência crítica da parede
em função de sua espessura.
A experiência mostra que a freqüência crítica de uma parede feita com material vazado é inferior
a freqüência crítica de uma parede de mesma massa construída de elementos plenos de mesma
natureza.
A freqüência crítica é a freqüência onde se produz a coincidência, quer dizer, o encontro da onda
plana aérea e a onda de exão dentro da parede. Ela fragiliza o isolamento.
Sendo: fc = freqüência crítica.
v = velocidade do som.
e = espessura da parede.
ρ= densidade do material que constitui a parede.
E = módulo de Young (coeciente de elasticidade)
69
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Material Massa volumétrica Freqüência Critica p/
espessura =1cm
Borracha 1000 85000
Poliestireno expandido 14 14000
Aço 7800 1000
Alumínio 2700 1300
Vidro 2500 1200
Tijolo maciço 2000 a 2500 2500 a 5000
Concreto 2300 1800
Gesso 1000 4000
Cortiça 2560 18000
chumbo 10600 8000
Tab. 1.16 – Valores de freqüência critica
Fonte: MEISSER
Paredes R dB
6 mm madeira compensada 24
12 mm revestimento de gesso 33
22 mm revestimento de gesso sobre tela de metal 37
100 mm bloco de alvenaria com cavidade, leve e com reboco em ambos os lados 40
100 mm tijolo com superfície selada 41
150 mm bloco de cerâmica, com 2 camadas de pintura em cada lado 41
200 mm parede densa de concreto 48
Tab 1.17 – atenuação acústica de paredes
Fonte: ALCAN
pA R e d e s d U p l A s
O uso de paredes duplas permite obter isolamento acústico superior aos dados pela lei de massa
para paredes simples.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
70
A qualidade do isolamento oferecido por uma parede dupla depende essencialmente:
da escolha do material;•
da montagem dos elementos da parede;•
da espessura da lâmina de ar;•
da espessura e capacidade de absorção do material escolhido para ser empregado na câmara •
de ar, que terá a função de atenuar as ressonâncias do sistema.
imPortante:
O isolamento de uma parede dupla não corresponde à soma dos isolamentos de duas paredes simples
que a constituem.
Variação do isolamento:•
O aumento do isolamento acústico de uma parede dupla em função da freqüência do som é
superior ao obtido por uma parede simples. Em paredes simples o aumento é de 4 a 6 dB por
oitava. Em paredes duplas é de 6 a 18 dB por oitava.
Graf. 1.8 Variação do isolamento em paredes duplas
Fonte : JOSSE
FR e q ü ê n c i A cR ít ic A (F o ).
O isolamento de uma parede simples cai quando a freqüência do som incidente corresponde à
freqüência crítica (ou freqüência de ressonância) da parede. No caso de uma parede dupla, cada
elemento que a come possui uma freqüência crítica.
Para esta freqüência, o índice de redução de uma parede dupla é menor do que o de uma parede
simples de mesma massa. A freqüência de ressonância é pequena se a espessura da lâmina de ar é
grande e se os painéis são pesados.
71
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Quando a parede está submetida a ondas que chegam com uma incidência normal, podemos
calcular a freqüência de ressonância pela fórmula:
Sendo: d = distância entre as paredes ou painéis em cm.
m1 e m2 = peso de cada painel em Kg/m.
Fig 1.21- Ilustração do efeito mola.
Quando a parede está submetida a ondas que chegam com uma incidência qualquer, a freqüência
de ressonância é calculada por:
Para ser acusticamente ecaz, uma parede dupla deverá ser composta de elementos de massa e
rigidez diferentes.
Graf. 1.9– índice de redução acústica de uma parede dupla em que os elementos têm freqüência crítica
diferente e iguais.
Se a freqüência do som incidente é inferior à freqüência de ressonância da parede dupla, a câmara
de ar não tem ecácia e o conjunto vibrará como se houvesse uma ligação rígida entre os painéis.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
72
Se a freqüência do som incidente é superior à freqüência de ressonância da parede dupla, a câmara
de ar transmitirá mal o movimento de um painel a outro. Neste caso o índice de redução acústica da
parede dupla é melhor do que o de uma parede simples de mesma massa.
A presença de um material absorvente entre paredes amortiza o movimento da onda, diminui a
ressonância da lâmina de ar que, então, aumenta o isolamento da parede.
A complexidade do mecanismo de transmissão do som por uma parede dupla é muito grande e
é difícil estabelecer fórmulas gerais para o cálculo do índice de redução. Uma parede simples
bem realizada é preferível a uma parede dupla mal executada de massa igual. Para paredes duplas
compostas por painéis leves é conveniente manter uma boa distância entre eles.
De maneira geral, recomenda-se que a freqüência crítica (ou de ressonância) seja pequena, próxima
a faixas em que o ouvido seja pouco sensível. O ideal é que ela seja inferior a 80 Hz para o uso de
painéis leves e superiores a 4000 Hz no uso de painéis pesados.
freqüência de ressonância da lâmina de ar•
A lâmina de ar comprimida entre dois elementos de uma parede dupla é muitas vezes a
sede de ressonâncias. As freqüências de ressonância são ligadas à espessura da lâmina de
ar. Aumentando-se a espessura da lâmina de ar diminui-se a freqüência de ressonância.
Inversamente, quando se aumenta a freqüência de ressonância é porque se reduziu a espessura
da lâmina de ar.
É importante que se escolha a espessura da lâmina de ar de forma que sua freqüência de
ressonância que distante do valor da freqüência do som incidente, possibilitando com isto
que se obtenha um bom isolamento.
As freqüências de ressonância da lâmina de ar são dadas pela fórmula:
Sendo: n = 1, 2, 3,... (a ressonância é sobretudo, caracterizada para n= 1).
c = velocidade de propagação do som no ar (340 m/s).
d = espessura da lâmina de ar em metros.
ressonância quando a freqüência do som emitido dentro da lâmina de ar é igual a c/ 2d ou
múltiplo n.c/ 2d, onde:
fo= n. 340 = n. 170
influência das ligações rígidas entre Painéis•
dois Painéis Pesados:
Se dois painéis pesados estão interligados rigidamente em vários pontos, basta um submeter-
se a uma ação vibratória que estas vibrações chegarão rapidamente ao segundo painel.
Haverá transmissão direta do som pelos pontos de contato entre eles, e o conjunto se
comportará como uma parede simples com diversas freqüências críticas.
73
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Quando os painéis são pesados é conveniente o uso, em um dos painéis de, materiais
absorventes acústicos (bras minerais, vegetais, espumas plásticas, etc.).
um Painel Pesado e outro leve:
O painel leve normalmente está xado sobre barrotes de madeira que estão xados sobre a
parede pesada. Neste caso a parede não pode assemelhar-se a uma parede dupla. As ligações
são muitas e um dos painéis é muito leve em relação ao outro. Este sistema permite corrigir
certos defeitos da parede pesada. Para isto é suciente que o elemento de duplicação tenha um
índice de redução acústico alto na faixa de freqüência crítica da parede pesada.
Contrário a isso, se o elemento de duplicação tem uma freqüência crítica mal situada, na zona
entre 100 e 3200 Hz, sua presença pode ser problemática.
dois Painéis leves:
Se não um material absorvente entre os painéis, a transmissão se pelo ar situado na
câmara. Em geral os montantes de xação são supercialmente rígidos para evitar que o painel
vibre.
Se o espaço está preenchido com material absorvente, a transmissão se principalmente
pelos montantes. Neste caso o melhor, na montagem, é que se mantenham as armações
independentes.
Fig 1.22- Perdas por transmissão (PT).
tR A n s M i s s õ e s i n di R e tA s p o R p A R e d e s d U p l A s
Na verdade, é necessário haver cuidado com esta escolha, pois nem sempre seu rendimento é
satisfatório. Se as paredes duplas são leves, há aumento de mais uma superfície para transmissão do
som. Daí a necessidade de se utilizar uma junta de material elástico para impedir as transmissões
indiretas.
Na maioria dos casos é preferível o uso de uma parede simples, pesada e de massa idêntica a das
paredes adjacentes.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
74
in F l U ê n c i A d A p o R o s i d A d e d o M A t e R i A l
Quando uma parede é porosa, as ondas sonoras se chocam com a parede e agitam o ar que se encontra
nos poros e nas juntas de união. Essa agitação se transmite entre eles e atravessa a parede. De acordo
com o diâmetro dos poros, a parede transmite uma quantidade maior ou menor de energia.
Uma parede de concreto celular, quando submetida a testes, demonstrou as variações que ocorrem
em função da lei de massa e porosidade. Primeiramente, conhecendo sua massa (110 Kg/ m),
previram que seu índice de redução acústica seria de 41 dB nas freqüências médias. No entanto, na
prática, ao se realizar a medição, este valor caiu para 17 dB.
Acrescentando à parede, em uma das faces reboco caiado, sua massa cresce para 125 Kg/ m, e pela
lei de massa experimental sua redução é ainda em torno de 41 dB na freqüência média. Submetida a
outro teste, a parede apresentou o índice de redução acústica de 24 dB.
Podemos concluir que foi a vedação parcial dos poros que permitiu o aumento da redução, pois o
peso pouco variou para que se chegasse a um acréscimo de 7 dB.
A lei de massa permite determinar o isolamento de paredes simples, vedadas ao uxo de ar.
Uma forte porosidade da parede associada a juntas defeituosas, ou rebocos insucientes, ou material
com porosidade grosseira e aberta, formam, juntos, uma queda de isolamento.
tR A n s M i s s õ e s i n di R e tA s
Para um estudo completo de transmissão do som entre ambientes é necessário um estudo tanto de
transmissão direta quanto outro de transmissão indireta.
As transmissões indiretas serão responsáveis por uma queda no índice de redução da parede
divisória entre as salas.
As perdas para as paredes laterais são cerca de 5 dB e a queda no isolamento total vem expressa pela
fórmula:
D= R + 1 + 10 log S/ A – a
Sendo:
a = 0 dB  parede divisória muito leve.
a = 5 dB paredes laterais de alvenaria. M>= 150 Kg/m
a = 6 dB  parede lateral (1) de alvenaria. M< 150 Kg/m
a = 7 dB paredes laterais (2). M< 150 Kg/m
75
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Análise das transmissões indiretas quando:
a) todas as Paredes são Pesadas
Se, por exemplo, o teto está ligado rigidamente à parede de separação, as ondas de exão que vão de
encontro ao teto são atenuadas ao passar pelo fechamento. Há uma reclusão de alguns decibéis nas
freqüências medidas.
A energia irradiada no local receptor é menor do que se as paredes fossem independentes. No caso de
todas as paredes serem pesadas não há necessidade de tornar independente a parede intermediária
entre as salas de aula e as adjacentes.
B)uma das Paredes laterais é mais leve que a Parede de seParação
A fonte sonora cria ondas de exão internas na parede mais leve. Isto torna possível que a energia
irradiada pela parede mais leve seja superior à energia transmitida diretamente pela parede divisória
entre as salas.
As transmissões indiretas são mais importantes que as transmissões diretas, e são elas que
condicionam o isolamento entre dois locais. Neste caso não adianta aumentar o isolamento da
parede de separação pois o resultado sofrerá uma queda expressiva.
Na prática observa-se que o que prevalece é o índice de redução das paredes laterais.
c) as Paredes laterais são Pesadas e a Parede de seParação é leve
Haverá um aumento da transmissão do som pela parede divisória entre salas devido ao contato com
o teto. As paredes adjacentes praticamente não interferirão.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
76
Para evitar o efeito nocivo das transmissões secundárias, é melhor que a parede localizada entre as
salas e as paredes adjacentes tenham valores de redução semelhantes ou, então, que na execução da
obra tornem-se elementos independentes.
d) uso de reBaixamento no teto
Neste caso é conveniente que a parede separadora até a laje. Se a parede termina no rebaixo, haverá,
além da transmissão pelo rebaixo, reexões entre o rebaixo e a laje que aumentarão a transmissão de
ruído entre as salas.
pA R e d e s d e s c o n t í n U A s
As paredes descontínuas estão compostas por muitos elementos de dimensões e índices de redução
diferentes. Estas paredes não têm o mesmo índice de redução acústica por toda sua superfície.
Podemos exemplicar como paredes descontínuas as superfícies dotadas de portas ou janelas,
aberturas para ventilação, canalizações e similares.
Para calcularmos o índice médio de redução da superfície precisamos conhecer o índice de redução
de cada elemento que a compõe, assim como suas áreas.
Fig. 1. 23 – Paredes descontínuas.
Fonte: MEISSER
Conhecida a diferença entre R1 e R2, e a relação entre as supercies S1/ S2, podemos entrar com
estes dados em um ábaco que nos dará o valor de R, índice de redução acústica médio da parede.
77
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Graf. 1.10 – ábaco para cálculo da redução sonora de paredes descontínuas)
Fonte: MEISSER
po R t A s
Para locais escolares as portas podem situar-se de três maneiras:
as que separam as salas do corredor, que devem ter um índice de redução (R) igual ou maior •
a 20 dBA para que o conjunto isole cerca de 26 dBA;
as que pertencem à parede divisória entre duas salas de aula. •
O isolamento do conjunto deve car em 38 dBA e o índice R da sala deve ser superior ou •
igual a 33 dBA;
Para estas duas disposições podemos adotar dois tipos de portas:
a - Portas isoplanas – portas compostas por duas chapas leves de compensado, separadas por uma
câmara de ar no seu interior. O índice de redução acústico é muito baixo, é preciso ter suas frestas
vedadas para que sua redução que em torno de 25 dB.
Podem ser utilizadas em locais cuja atividade em seu interior seja pouco ruidosa.
b - Portas maciçaspesadas ou de composição melhor desenvolvida. Permitem a obtenção de um
índice de redução adequado para salas ligadas às circulações. Tem um isolamento que varia de 25 a
32 dB.
c - Portas especiais as que separam um local particularmente barulhento de outro; devem ter o
índice R da porta superior a 40 dB. Essas portas são classicadas como portas acústicas, e devem ser
utilizadas em áreas bem especícas. Portas com este padrão não são de simples execução. Requerem
mão-de-obra especializada, fechamento sob pressão e ferragens especiais.
A RETA, A CURVA E O SOM
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78
Elemento Atenuação média em dB
Porta comum 6 kg/m, batentes normais soleira c/
fresta aberta
18 dB
Idem, com fresta da soleira vedada 24+/- 3 dB
Porta comum 15 kg/m, batentes normais soleira
c/ fresta aberta
27+/- 2dB
Idem, c/ batentes revestidos de feltro e vedação
da fresta da soleira
30+/- 2dB
Porta especial 40 kg/m, batentes estanques
fechamento de pressão, dobradiças e fechaduras
especiais
38+/- 2 dB
Duas portas em série, idênticas à anterior
separadas por câmara de ar de 40cm de
profundidade
Tab.1.18 – Redução do ruído de portas
Fonte: KNUDSEN
in F l U ê n c i A d A e s t A n q U e i d A d e s o b R e o i s o l A M e n t o
Os sons de freqüência elevada (pequeno comprimento de onda) passam facilmente através dos
batentes e das soleiras das portas.
Existem regras que devem ser observadas:•
ajustar a porta perfeitamente sobre o quadro;•
limitar a fresta de funcionamento a 2 mm;•
dispor as juntas de estanqueidade sobre os batentes; não devem ser excessivamente rígidas •
nem muito grossas;
assegurar se a junta de ligação entre a esquadria e alvenaria está bem realizada;•
vedar a fresta formada entre a soleira e a porta.•
Muitas vezes é conveniente para o projetista criar uma ante-câmara, onde naturalmente será
utilizado o sistema de porta dupla.
Fig. 1.24- Ante - câmara e porta com material absorvente.
79
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Portas comuns de 4 cm de espessura, oferecem redução sonora em torno de 15 a 20 dBA. Com
portas de 80 cm chega-se a obter uma perda de transmissão de 32 dBA.
Graf. 1.11– desempenho do isolamento de porta comum
1-Com vedação das frestas.
2-Sem vedação.
Fonte: MEISSER
Segundo Meisser, se uma parede de 10 m de área oferece um isolamento de 40 dB ao ser dotada de
uma abertura de 1/10 de sua área, o isolamento cai para cerca de 30 dB.
A estanqueidade é um elemento de inuência expressiva em paredes compostas. A queda de
isolamento provocada pela presença de uma abertura está ligada à freqüência do som transmitido.
Uma abertura de pequenas dimensões (frestas, orifícios de pequeno diâmetro, etc.) passagem a
sons agudos. Isto ocorre em portas que não recebem detalhamento cuidadoso.
Os visores também precisam estar bem vedados. Um visor sem vidro, como infelizmente se em
algumas escolas, devido ao seu tamanho (15 x 30 cm) permite a entrada de uma faixa diversicada
de freqüência, comprometendo as condições de isolamento do local.
JA n e l A s
Os problemas de entrada de ruído da rua e da vizinhança, em geral, podem ser resolvidos efetivamente
somente se prescindirmos do uso de janelas abertas. Para construções em climas tropicais, para que
se use janela aberta, deve-se antes de tudo procurar posicioná-la corretamente.
Um bom isolamento de janela envolve a estanqueidade do conjunto. Isto implica em vedar batentes
com materiais elásticos, cuidas da xação do vidro e da própria esquadria na alvenaria.
A espessura do vidro é um fator importante e deve-se dar preferência a vidros com espessura igual
ou maior a 6 mm. Em áreas excessivamente ruidosas, seria bom o emprego do vidro duplo. Um
conjunto em vidro duplo com 4 mm de vidro, 6 mm de ar e 4 mm de vidro oferece a proteção
térmica satisfatória e nos um índice R compreendido entre 28 dBA e 30dBA para um ruído de
tráfego (ruído route).
Janelas de correr oferecem poucas condições de isolamento e o devem ser utilizadas em
áreas ruidosas.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
80
Janelas voltadas para
área ruidosa
Condição de trabalho Distancia da abertura
ao nível da rua
Sala com janelas abertas (10m) Muito boa, aceitável + de 700 m
+ de 70 m
Sala com janela simples
fechada ( 14m)
Muito boa, aceitável + de 50 m
+ de 8 m
Sala com janela dupla(14m) Muito boa Sem restrição
Tab.1.19- Distâncias recomendáveis em função da janela
Fonte: Cahiers du C.S.T.B
Espessura
total
interno Espaço entre
vidros
externo dB
Vidro simples “oat”
3mm 3mm 23
6mm 6mm 28
12mm 12mm 31
19mm 19mm 36
25mm 25mm 37
Vidro duplo com câmara de ar
24mm 6mm 12mm 6mm 32
68mm 6mm 50mm 12mm 39
118mm 6mm 100mm 12mm 40
168mm 6mm 150mm 12mm 42
Vidro duplo com câmera de ar com uma das folhas em vidro laminado
24mm 6mm 12mm 6mm lamin. 36
30mm 6mm 12mm 12mm lamin. 39
43mm 6mm 25mm 25mm lamin. 43
TAB. 1.20- Redução acústica de vidros
Fonte: ALCAN
81
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
1.10 RU í d o p o R viA es t R U t U R A l
São muitas as superfícies sujeitas à ação dos ruídos de impacto em uma escola. São ruídos causados
por queda de objetos no solo, arrastar de cadeiras, canalizações, aparelhos de refrigeração e etc.
A superfície normalmente mais sujeita a esta ação de ruído é a horizontal, ou seja, o piso da
construção. No entanto a ação de um impacto pode também ser percebida nas superfícies verticais
por ação direta (ventiladores, aparelhos de refrigeração) ou de forma indireta.
Em escolas de primeiro grau, basicamente, teremos maior inuência do ruído provocado pelas
próprias pessoas. Nas de segundo grau prossionalizante, além das pessoas, temos também como
fonte de ruído em algumas salas, equipamentos mecânicos.
pRi n cí pi o d e is o l A M e n t o A o RU í d o
Para se impedir a propagação dos ruídos de impacto é necessário que haja uma capa elástica de
proteção sobre o piso sujeito à vibração.
A função da capa elástica é de evitar que a vibração se propague pela laje e de encontro às paredes,
aumentando com isso, a transmissão do ruído para as salas vizinhas.
Sabemos que o choque sobre solos produz vibração, não só no solo, como também nas paredes que
a ele estão interligadas. Assim, se o choque se produz sobre a laje da sala (1), um ruído aéreo na sala
(3) é produzido pelo som e pelas paredes. Na sala (4) os ocupantes serão incomodados como os da
sala (3) e o mesmo ocorrerá na sala (2)
o U s o d A l A J e F l U t U A n t e
Chamamos de laje utuante uma capa de concreto ou outro material de 3 ou 4 cm de espessura,
moldada no local, superposta à laje existente, tendo materiais elásticos entre ela e a laje estrutural.
Quando mais espessa for a camada amortizadora, melhor será a redão sonora, dependendo da
característica do material empregado.
Fig. 1.25- Laje Flutuante: corte esquemático.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
82
os materiais da camada amortizadora•
Existem diversos materiais que podem ser empregados sob lajes utuantes. A escolha vai depender
do grau de isolamento necessário, da carga atuante, da durabilidade e etc.
Podemos citar como exemplo:
Lã de vidro ou de rocha apresentada em placas ou rolos de espessura diferente;
Fibras de madeira em placa, geralmente tratada para se tornar imputrescível;
Polietileno – em rolo, só é sensível a temperaturas muito elevadas
(>80 °C). Como exemplo temos o Ethafoam®;
Borracha – muito elástica, caso este material seja utilizado também no acabamento deve ser
protegido dos raios solares e dos vapores ácidos;
Corta em placas, geralmente sob uma camada de asfalto;
Molas especiais de uso especíco em bases de máquinas. Como exemplo temos o Vibrachoc
e Vibranihil.
Para uma boa execução recomenda-se que nenhuma parte da laje utuante tenha contato direto
com as paredes da sala; ela deverá car “ilhadasobre o material (ou materiais) resiliente.
Também devemos evitar todas as ligações rígidas entre a laje estrutural e a laje utuante, tais como
tubulações, madeiramentos, etc.
1-piso acabado
2-zona de amortização
Fig 1.26 – lajes utuantes sobre camada de amortização.
83
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Material Resiliente espessura Resultados (*)∆L em
Db
Lã de rocha 0,9
2
26 (26-38-39)
31(31-38-37)
Lã de vidro 1,3
0,25
28(28-46-47)
23(23-28-31)
Borracha 0,4
1,2
19(22-19-22)
25(25-35-44)
Poliestireno expandido 1 20(20-29-32)
feltro industrial 0,8 21(21-33-40)
(*)os nºs entre parênteses correspondem a freqüências graves, médias e agudas
respectivamente.
TAB. 1.21 Teste em lajes utuantes de 4cm sobre diferentes materiais resilientes. Laje estrutural de 14cm.
Fonte: MEISSER
1.11 AplicAções pRáticAs/ exeMplos de cálcUlos
pARA pRoJetos.
O objetivo deste item é dar alguns exemplos de aplicações práticas que podem ser feitas a partir
das descrições teóricas desenvolvidas nos itens anteriores. Não se trata de um roteiro de cálculo
para um projeto acústico especíco, mas são mostras de algumas situações questionadas durante o
tratamento acústico de um local.
ex e M p l o d e c á l c U l o d e i s o l A M e n t o d e p A R e d e s s i M p l e s
Duas salas são separadas por um anteparo cujo índice de redução R é de 30 Db em 500 Hz. A sala
1 possui uma área de absorção (A1) igual a 5 m. A sala 2 possui uma área de absorção (A2) igual
a 15 m.
A área (S) da parede divisória é 10 m.
Qual o isolamento bruto (Db) dentro de cada local?
Local 1: Fonte no local 2
Db= R + 10 log A1/ Sp = L2 – L1
2 1
Db= 30 + 10 log 5/ 10 = 27 dB
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
84
Local 2: Fonte no local 1
Db= R + 10 log A2/ Sp = L1 – L2
1 2
Db= 30 + 10 log 15/ 10 = 31,7 dB
ex e M p l o d e c á l c U l o d e i s o l A M e n t o d e p A R e d e s c o M p o s t A s
Qual o isolamento bruto entre duas salas de aula, cuja parede divisória contém uma porta, sabendo-
se que:
Sala 1 – área (A1) = 5 m;
Sala 2 – área (A2) = 15 m;
R1 parede – 30 dB;
S parede – 8 m;
R2 porta – 20 dB;
S porta – 2 m.
Calcular o índice de redução médio da parede. Calcular o coeciente de transmissão T de cada
material.
R = 10 log 1/ T
a)Cálculo do coeciente de transmissão T da alvenaria:
R1 = 30 dB
30 = 10 log 1/ T ; onde T = 0,001
b) Cálculo do coeciente de transmissão T da porta:
R2 = 20 dB
20 = 10 log 1/ T ; onde T = 0,01
c) Cálculo do coeciente médio de transmissão (Tm )da parede:
Tm = -----------------------------
Sendo:
S – área total da parede em m;
Sn – área de cada material que a compõe m;
Tn – coeciente de transmissão de cada material que a compõe;
85
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Tm = = 0,0028
d) Cálculo de redução média Rm da parede:
Rm = 10 log 1/ Tm
Onde:
Rm = 10 log 1/ 0,0028 = 25,5 dB
Cálculo do isolamento bruto:
Local 1
Db = R + 10 log A/ S
Db = 25,5 + 10 log 15/ 10
Db = 27,2
conclusão: Houve um decréscimo de 4,5 dB no isolamento bruto do local 1 devido à existência da
porta.
in F l U ê n c i A d A t R A n s M i s s ã o i n di R e tA s o b R e o i s o l A M e n t o d A p A R e d e
Duas salas de aula (A) e (B) idênticas, de volume igual a 168 m cada, são separadas por uma parede
homogênea cujo índice de redução R é igual a 48 dB, na freqüência de 500 Hz, e sua área (S) é 24 m.
As duas salas dão para um corredor de acesso (C) cujo volume é 84 m. As separações dão para o
mesmo corredor e constituem-se cada por 26 m de fechamento cujo índice R é igual a 30 dB em
500 Hz, e uma porta plana de 2 m cujo índice R é igual a 20 dB.
Analisando-se o som que caminha pela parede do corredor até B, com a porta fechada, temos:
Duração da reverberação dos locais:
- Sala B – 1 segundo em todas as freqüências;
- Corredor – 2 segundos em todas as freqüências.
Supõe-se que:
a) A transmissão do som se dá unicamente por intermédio do campo reverberante (as portas estão
muito afastadas uma da outra);
b) As transmissões indiretas de encontro com a superfície vidrada são insignicantes.
O nível de pressão acústica direto do local B resulta de uma transmissão direta pela parede que o
separa do local A e de uma transmissão indireta pelo corredor C.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
86
1)Transmissão direta de A para B.
Cálculo de isolamento bruto obtido no local B (transmissão direta)
Db = R + 10 log A/ Sp
Sendo Sp – área da superfície da parede (24 m)
Cálculo de absorção equivalente (A) no local de recepção
A= 0,161.168
Isolamento bruto (Db)
Db = 48 + 10 log 26,8/ 24 = 48,4 dB
2)Transmissão indireta de A para C e de C para B.
Calcular o isolamento obtido direto pelo corredor (transmissão de A para C). O fechamento não é
homogêneo, ele é constituído de duas partes, alvenaria e porta, não possuindo o mesmo coeciente
de transmissão do som.
Índice de redução da parede:
R1 = 30 dB – alvenaria
R2 = 20 dB – porta
3)Cálculo do coeciente de transmissão médio Tm da parede:
R = 10 log 1/ T
Conforme vimos no item 1.13.2., teremos:
T alvenaria = 0,001;
T porta = 0,01
O cálculo do coeciente médio de transmissão é:
Cálculo do índice de redução R da parede entre a sala e corredor:
R = 10 log 1/ 0,0016 = 27,9 dB
87
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Isolamento bruto obtido dentro do corredor:
Db = R + 10 log A/ S
Sabendo que a reverberação (T) no corredor é de 2 segundos, e o volume 84 m:
Db = 27,9 + 10 log 6,7/ 28 = 21,7 dB
Calcular o isolamento bruto (Db) obtido dentro da sala (B) – transmissão do corredor C para a sala B.
Db = 27, 9 + 10 log 26,8/ 28 (local de recepção B)
Db = 27,7 dB
Isolamento bruto nal obtido dentro do local B.
A para C para B:
21,7 + 27,7 = 49,4
O que se constata com este exemplo é que mais energia sonora passa pela via indireta (Db = 48,4 dB)
do que pela via direta (Db = 49,4 dB).
O nível sonoro dentro do local B decorre do isolamento das duas transmissões. A diferença dos
isolamentos obtidos, marcados sobre o ábaco, nos um valor em dB que deverá ser subtraído do
isolamento de valor mais baixo. Este valor nal representa o isolamento bruto na sala B.
Freqüência: 500 Hz
Db transmissão: direta A  B 48,4 dB
Db indireta: A  C  B 49,4 dB
Diferença dB: 1
Valor obtido no ábaco de isolamento: 2,5 dB (Graf. 1.8)
Isolamento do local B: 48,4 – 2,5 = 45,9 dB
determinação do isolamento acústico de uma Parede duPla•
Exemplo:
Parede dupla construída em tijolo.
Espessura da 1ª parede: 10 cm;
Espessura da 2ª parede: 5 cm;
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
88
Espessura da lâmina de ar: 4 cm;
Massa volumétrica do tijolo: 2000 Kg/m.
A lâmina de ar é preenchida por material broso.
Massa surfácica dos elementos:
Primeiro elemento: 200 Kg/m;
Segundo elemento: 100 Kg/m.
- Massa total da parede: 300 Kg/m.
- Isolamento previsto pela lei de massa: em 500 Hz – 47 dB;
- Isolamento obtido pela parede dupla: em 500 Hz – 53 dB (47+6);
- Freqüência crítica de cada elemento:
fc – primeiro elemento = 2500/10 = 250 Hz;
fc = segundo elemento = 2500/5 = 500 Hz.
Queda de isolamento na freqüência crítica: 5 a 6 dB.•
O material absorvente reduz consideravelmente as freqüências de ressonância da lâmina de ar.
Freqüência de ressonância do sistema.
f0= 51Hz
O exemplo apresenta duas freqüências críticas mal percebidas dentro da curva de isolamento da
parede dupla já que o ouvido é pouco sensível a ambas.
A presença do material absorvente eleva a freqüência de ressonância da parede dupla aumentando o
afastamento da zona de boa percepção auditiva.
A chegada das transmissões provenientes das paredes adjacentes são superiores àquelas da parede
considerada. Dentro deste caso é o conjunto de transmissões (parede, piso, teto) que condicionam o
isolamento entre dois locais.
89
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
eMpRego dA AbsoRção.
Ad e q U A R o t e M p o d e R e v e R b e R A ç ã o M o d i F i c A n d o o t e t o d A s A l A
Características do local  Sala de aula
Comprimento  10 m
Largura  9 m
Altura 4 m
Volume  360 m
Paredes e tetos  painel de gesso
Piso  90 m
Portas comuns  0,80 x 2,10m
Janelas de vidro simples  2,00 x 2,5m
Nº de cadeiras  25 unidades
mobiliário  área de absorção( S α)= 3 unidades de absorção
Calculo da absorção na freqüência de 1000Hz
Superfícies Área(m) Coeciente de
absorção ( α)
Unidades de
absorção (Sα)
Parede 133,64 0,03 4,0
Teto 90 0,03 2,7
Piso 90 0,03 2,7
Porta 3,36 0,09 3,02
Janela 15 0,12 1,80
Pessoas 25 0,45 11,25
Mobiliário 3,0
Área de absorção Sα = 28,47
Duração do Tempo de Reverberação: uso da fórmula de Sabine
Tr = 0, 161 . V
ΣSα
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
90
Consultando o gráco de tempo de reverberação ideal, vericamos que o valor recomendado é
0,7 seg.
Então a absorção ideal é:
A sala precisa absorver 82 unidades de absorção.
Desconsiderando o teto no somatório das absorções teremos:
Calculo da absorção na freqüência de 1000Hz, sem o teto
Superfícies Área(m) Coeciente de
absorção (α)
Unidades de
absorção (Sα)
Parede 133,64 0,03 4,0
Teto 90 ? ?
Piso 90 0,03 2,7
Porta 3,36 0,09 3,02
Janela 15 0,12 1,80
Pessoas 25 0,45 11,25
Mobiliário 3,0
Área de absorção sem o teto = 25,77
Para o teto absorver adequadamente teremos:
Sα= 82-25,77 ≈ 56 ua
Sendo sua área 90 m, o material adequado para revesti-lo terá:
= 56/90 = 0,63 na freqüência de 1000 Hz
Atenção: Se o teto corretivo estiver suspenso e não colado, ele interferirá
a)Na redução sonora das paredes laterais
b)Na diminuição do volume da sala
91
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Opções : Materiais com coeciente de absorção em torno de 0,63 em 1000 Hz
a)Chapa perfurada maciça, 12 mm espaçada 5 mm da parede (0,61)
b)Chapa leve, lã de madeira, 50 mm, diretamente em parede rígida (0,60)
c)Chapa leve lã de madeira, com espaço de 5 cm, vazio, (0,65).
Re d U ç ã o d A R e v e R b e R A ç ã o e M U M A s A l A d e A U l A q U A n d o n ã o é p o s s í v e l
A l t e R A R A s c o n d i ç õ e s d o t e t o .
Características da sala:
Volume: 108 m
superfícies material Área S – m
Piso Taco em peroba 36
Teto Pintura sobre reboco 36
parede Pintura sobre reboco 43,48
janela veneziana 6
porta madeira 2
Quadro-negro Laminado melamínico 6
mobiliário madeira 11,52
pessoas 36
CONDIÇÕES DE ESTUDO – sala lotada, veneziana aberta, porta fechada
TR ideal = 0,5 seg.
Fonte: NB- 12 179
SALA ANTES DO TRATAMENTO
superfícies Área S – m α 500Hz S α
Piso 36 0,06 2,16
Teto 36 0,03 1,08
parede 43,48 0,02 0,86
janela 6 1,00 6,00
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
92
superfícies Área S – m α 500Hz S α
porta 2 0,06 0,12
Quadro-negro 6 0,03 0,18
mobiliário 11,52 0,06 0,69
pessoas 36 0,44 15,84
Total 177 26,93
Total das áreas= 177 m
Total da superfície de absorção=26, 93 ua
 Quando α< 0,5 usa-se a fórmula de SABINE para cálculo do TR
rmula de Sabine
A sala está reverberante. O tempo ideal é 0,5 seg. (inferior ao valor encontrado) É necessário
reduzir o tempo até 0,5 ou no máximo até 0,55 seg.
Solução Proposta: adotar painéis absorventes sobre as parede (18 m), sem modicar os outros
materiais existentes.
superfícies Área S – m α 500Hz
Piso 36 0,06 2,16
Teto 36 0,03 1,08
parede 25,48 0,02 0,50
painel 18 ? ?
janela 6 1,00 6,00
porta 2 0,06 0,12
Quadro-negro 6 0,03 0,18
TR ideal= 0,161.V ideal = 0, 161.108 = 34,76 seg
ΣSα 0,5
93
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
mobiliário 11,52 0,06 0,69
pessoas 36 0,44 15,84
26,57
Sα sem os PAINÉIS = 26.57
dos PAINÉIS = 34.76 – 26.57 = 8.79
α dos PAINÉIS = 0,45
Material com desempenho próximo: cortiça ou tapete = 0,37
Sα do painel feito em cortiça ou tapete: 18 x 0,37 = 6.6
Sα acrescido dos PAINÉIS
26.57 + 6.6 = 33.17
Cálculo do TR da sala, com emprego dos PAINÉIS:
OK tempo aceitável
TR ideal = 0,5 seg. Tolerância + 10% ou - 10%
A opção desse material para os PAINÉIS faz com que eles sejam úteis como mural nas salas de aula.
Re d U ç ã o d o R U í d o e M F U n ç ã o d A A b s o R ç ã o .
Fo n t e d e R U í d o n o in teR i o R d o l o c A l
Exemplo – Refeitório
Característica do local a tratar:
Comprimento 25 m Teto – placa de gesso Portas de 0,80 x 2,10 m Janelas – 32 m
Largura – 9 m Piso – vinílico Altura – 3.80 m Parede alvenaria com
reboco pintado
vel sonoro ambiente – 70 dB a 1000 Hz (o ruído é exclusivamente reverberante)
Para se obter uma redução do nível sonoro, é preciso aumentar a absorção das superfícies do local.
Um teto rebaixado em 30 cm com material absorvente reduzirá bastante a reverberação do local e
do nível sonoro.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
94
Calculo da absorção do local em 1000Hz
superfícies Antes do tratamento Após tratamento
S m α S m α
Parede 219,68 0,03 6,59 199,28 0,03 5,97
Teto 225 0,03 6,75 225 0,76 171
Piso 225 0,04 9 225 0,04 9
Portas 6,72 0,09 0,60 6,72 0,09 0,60
janelas 32 0,012 3,84 32 0,012 3,84
A1 26,78 A2 190,41
Absorção antes do tratamento (A1) 26,78
Absorção após o tratamento (A2) 190,41 m2
Redução do ruído em função da absorção do local:
R = 10 log A2 R = 10 log 190,41 = 8 dB
A1 26,78
Ou seja, o ruído no refeitório cairá 8dB, cando em 62 dB.
Fo n t e d e R U í d o e x t e R n A A o l o c A l
Exemplo – Sala de aula contígua a um atelier barulhento.
Característica do local a tratar:
Atelier em atividade: nível sonoro a 90 dB (A)
Sala de aula: nível de ruído de fundo 48 dB (A) – (Recomendado pela NBR)
Isolamento da parede de separação 30 dB
vel sonoro na sala quando o atelier está em atividade 60 dB (90-30 dB)
SOLUÇÃO – Tratamento acústico da sala de aula.
- Reforço do isolamento da parede – um ganho em torno de 7 dB é possível com a técnica de parede
dupla.
- Redução do nível sonoro do atelier a partir do aumento expressivo de sua absorção (7 dB; por
exemplo).
95
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
RESULTADO:
- Nível sonoro do atelier após tratamento: 90-7 = 83 dB.
- Isolamento da parede reforçada: 30 + 7 = 37 dB.
- Nível de ruído proveniente do atelier que se escutará em sala: 83-37 = 46 dB.
CONCLUSÃO – Os ruídos provenientes do atelier cariam abaixo do ruído de fundo da sala.
cálcUlo do nível de RUído de iMpActo
Calcular o nível de ruído de impacto sobre o piso (Ln), por transmissão direta a partir dos
seguintes dados:
e – espessura da laje – 12cm
V – volume do local de recepção – 120 m
∆L – piso vinílico sobre forro – 16 dB
Ln = 135-30 log e - ∆L – 10 log . V
Ln = 135-30 log 12 – 16 – 10 log 120
Ln = 135 – 32 – 16 – 21 = 66 dB
Para escola Ln < 74 dB, onde se conclui que o piso está satisfatório.
Calcular o nível de ruído de impacto sobre o piso (Ln) por transmissão indireta a partir dos
dados:
e – espessura da laje – 14 cm
v – volume do local – 120 m
∆L – piso vinílico sobre o forro – 16 dB
m – 340 Kg
m1 – 200 Kg
Ln = 135 – 30 log e - ∆L – 10 log v-k
Cálculo do K*
16
:
m = 200 = 0,58
m 340
0,58 K=0 ( Tab. 1.11 pg 47)
Ln = 135-30 log 14-16-10 log 120-0
Ln = 64 dB
Conclusão – O piso atende satisfatoriamente porque Ln<74 dB
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
96
e x e M p l o d e c á l c U l o d e i s o l A M e n t o v i s A n d o p R i v A c i d A d e d A s A l A d e A U l A .
Cálculo do isolamento de uma parede que separa duas salas
Objetivo A redução do som deve ser suciente para tornar ininteligível toda conversação a voz
normal na sala contígua.
Dados: Escola MARC FERREZ – projeto João Filgueiras Lima
vel de Ruído de Fundo Medido em Faixa de Oitava
Hz 500 1000 2000 4000
Db 48 46 42 40
veis mais Altos de Conversação = (Voz do Professor)
Hz 500 1000 2000 4000
Db 68 66 60 55
Índice de Inteligibilidade adotado: IA = 0,1
Solução:
Média do nível mais alto de conversação dentro do local de emissão:
68+66+60+55 = 62,5 dB
4
vel Médio do Ruído dentro do local de recepção:
48+46+42+40 = 44 dB
4
Chamamos de x a redução do som entre dois locais, na oitava de 1000 Hz.
Sabendo-se que a variação por oitava é 6 dB (ver item 1.4)teremos:
(x-6) a redução na oitava de 500 Hz
(x+6) a redução na oitava de 2000 Hz
(x+12) a redução na oitava de 4000 Hz
IA= (L-SIL)
30
97
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
A medida do nível máximo da palavra dentro do local de escuta corresponde a (62,5 x 3 dB),
sendo que x representa a redução do som sobre a parede intermediária entre local da fonte e local da
recepção.
Se o índice de articulação pedido é 0,1, então:
0,1 = (62,5 – X– 3 Db) – 44
30
X = 18,5
A parede deverá ter uma capacidade de redução ao som em 1000 Hz
de 18,5 . Para efeito de calculo adotou-se 18 dB
Em 2000 Hz ----- 18 dB + 6 dB = 24 dB
Em 500 Hz ----- 18 dB – 6 dB = 12 dB
Em 4000 Hz ----- 18 dB + 12 dB = 30 dB
Classicação da Sala – curva de critério NC 45
Conclusão – como a sala está dentro da curva NC adequada concluímos que, para as paredes com
10 cm de espessura (aproximadamente) que a escola adota em concreto e cujo R = 40 dB, haverá
condições de privacidade satisfatória entre as salas de aula.
1.12 i n t R o d U ç ã o à A c U s t i c A U R b A n A
Nos itens anteriores compreendemos o comportamento do som sobre as superfícies, os princípios
de isolamento ao ruído e o condicionamento acústico dos ambientes. A partir da reexão, absorção
e transmissão do som, vericamos sua inter-relação com a edicação e de posse desse conhecimento
podemos projetar ambientes sonoramente confortáveis adequados aos mais diversos usos.
No entanto, não podemos nos esquecer que os edifícios são elementos componentes do meio
urbano e a partir do seu desenho, distribuição e localização, inuirão também na qualidade sonora
do lugar.
A acústica ambiental, ou seja, a conciliação do desenho da cidade com as diversas fontes atuantes
não se detém apenas nos aspectos físicos do som. Neste estudo os aspectos sociais, psicológicos,e
siológicos da comunidade analisada são considerados. A paisagem sonora e o conforto acústico
focam a interação da escuta às condições de bem-estar, qualidade sonora ambiental e sociedade. No
entanto, para um conforto acústico urbano adequado é imprescindível relacionar o som ambiente às
condições microclimáticas do meio.
A acústica urbana tem sua expressão no conjunto edicado. A morfologia do espaço urbano,
composta pelos lotes, traçado das ruas, altura das construções, os vazios, a vegetação e o relevo
inuem diretamente na distribuição dos sons provenientes das mais diversas fontes. Cada um desses
elementos interage de forma própria com os sons incidentes. De certa maneira, a acústica urbana
tem como princípio direcionador a prevenção ao ruído visando a saúde auditiva e psicológica dos
citadinos. A poluição sonora torna-se um problema evidente e progressivamente mais grave à
medida que aumentam o volume do tráfego, o porte da cidade e a densidade da estrutura urbana.
( NIEMEYER,2007).
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
98
A bibliograa nacional existente na área de acústica voltada para estudantes de arquitetura não aborda
esse tema em profundidade. No entanto, diversos trabalhos apresentados em congressos nacionais e
internacionais têm mostrado que há um interesse crescente por parte dos pesquisadores brasileiros
nesse tema. As pesquisas desenvolvidas pelo CETUR3 – Centre Detudes Dês transports urbains, nos
anos setenta e oitenta embasaram a produção de teses e dissertações voltadas para a acústica urbana
possibilitando que parte desse material escrito fosse adaptado e adotado como material didático em
algumas instituições. Do mesmo modo, os trabalhos publicados pela Universidade da Catalunha e
a pesquisa sobre som urbano contida no Projeto Ruros – Rediscovering the Urban Realm and Open
Space concluído em 2007 fundamentaram diversos materiais didáticos.
Observa-se que poucos são os cursos de graduação no nosso município que abordam a acústica
urbana. Identicamos que, de forma sintetizada, é importante constar do conteúdo programático:
As fontes sonoras e suas características físicas, sociais, psicológicas e culturais.•
O efeito das construções do entorno e do mobiliário urbano na acústica ambiental•
Característica e uso dos sons mais presentes no meio.•
Legislação relevante•
Relação entre acústica e outros aspectos relacionados ao desenho urbano.•
1.12.1 s o M e s A ú d e
A poluição sonora é caracterizada pelo ruído, que é o som indesejado, e é considerada como uma
das formas mais graves de agressão ao homem e ao meio ambiente. O limite tolerável de som para
o ouvido humano é de 50 dB (A) como estabelece a Organização Mundial de Saúde (WHO), no
documento publicado em 1999 Guidelines for Community Noise .
Impacto de Ruídos na Saúde – Volume/Reação Efeitos Negativos
Exemplos de Exposição
volume reação efeitos negativos exemplos de
locais
até 50 db confortável (limite
da OMS)
nenhum rua sem tráfego.
acima de 50 db o organismo humano começa a sofrer impactos do ruído.
De 55 a 65 Db A pessoa ca em
estado de alerta, não
relaxa
Diminui o poder
de concentração
e prejudica a
produtividade no
trabalho intelectual.
Rua com tráfego de
baixa intensidade.
99
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
De 65 a 70 Db (início
das epidemias de
ruído)
O organismo
reage para tentar
se adequar ao
ambiente, minando
as defesas
Aumenta o nível
de cortisona no
sangue, diminuindo
a resistência
imunológica. Induz a
liberação de endorfina,
tornando o organismo
dependente. É por isso
que muitas pessoas
só conseguem dormir
em locais silenciosos
com o rádio ou TV
ligados. Aumenta
a concentração de
colesterol no sangue.
Bar ou restaurante
lotado
Acima de 70 O organismo ca
sujeito a estresse
degenerativo além de
abalar a saúde mental
Aumentam os
riscos de enfarte,
infecções, entre
outras doenças
sérias
Praça de
alimentação em
centros comerciais
Ruas de tráfego
intenso.
Obs.: O quadro mostra ruídos inseridos no cotidiano das pessoas. Ruídos eventuais
alcançam volumes mais altos. Um trio elétrico, por exemplo, chega facilmente a 130 Db(A),
o que pode provocar perda auditiva induzida, temporária ou permanente
TAB 1.22 – Impacto do ruído na saúde
Fonte : WHO – Guidelines for Community Noise
Além disso, o organismo humano sofre de estresse, aumentando consideravelmente o risco de
doenças como o próprio comprometimento auditivo com ruídos acima de 85 dB (A). É também
sabido que, quanto maior o tempo de exposição do ouvinte, maior o risco de sofrer danos auditivos.
Entretanto, se a poluição sonora for restrita a uma determinada região ou área, o problema pode
ser considerado localizado e às vezes de pequena proporção, mas quando ela atinge grande parte
da cidade, como no caso do trânsito intenso e dos corredores de tráfego, a questão estende-se e
generaliza-se por atingir os moradores próximos às vias públicas barulhentas, como também
aqueles que por elas passam, tornando-se então problema de saúde pública. As áreas da cidade onde
se concentram bares e restaurantes são consideradas, muitas vezes, zonas de elevado índice sonoro
no período noturno e, por esta razão, fora dos parâmetros recomendados pela OMS.
A crescente conscientização ambiental sobre o problema do ruído tem dado lugar ao desenvolvimento
de diferentes métodos de avaliação de seu impacto na saúde e na qualidade de vida da população. A
partir dos anos sessenta, a investigação no campo da saúde vem dando importância à determinação
das moléstias derivadas do ruído e, preventivamente, tem elaborado normas que possam evitá-las.
Para o interior das edicações a norma NBR-10152, nível de ruído acústico, da ABNT, xa os níveis
de ruído de fundo de acordo com os diferentes tipos de edicações e utilização dos seus ambientes
como mostra a tabela 1.23, indicando os níveis sonoros para o conforto através dos seus valores
mínimos e máximos toleráveis.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
100
Locais dB(A) NC
Hospitais
Apartamentos, enfermarias,
berçários, centros cirúrgicos
35 – 45 30 – 40
Laboratórios, áreas para uso do
público
40 – 50 35 – 45
Serviços 45 – 55 40 – 50
Escolas
Bibliotecas, salas de música, salas
de desenho
35 – 45 30 – 40
Salas de aula, laboratórios 40 – 50 35 – 45
Circulação 45 – 55 40 – 50
Hotéis
Apartamentos 35 – 45 30 -40
Restaurantes, salas de estar 40 – 50 35 – 45
Portaria, recepção, circulações 45 – 55 40 -50
Residências
Dormitórios 35 – 45 30 – 40
Salas de estar 40 – 50 35 – 45
Auditórios
Salas de concerto, teatros 30 – 40 25 – 30
Salas de conferência, cinemas,
salas de uso múltiplo
35 – 45 30 -35
Restaurantes 40 – 50 35 – 45
Escritórios
Salas de reunião 30 -40 25 – 35
Salas de gerência, salas de
projetos e de administração
35 – 45 30 – 40
Salas de computadores 45 – 65 40 –60
Salas de mecanograa 50 – 60 45 – 55
101
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Igrejas e templos (cultos
meditativos)
40 -50 35 – 45
Locais para esporte
Pavilhões fechados para
espetáculos e atividades
esportivas
45 -60 40 -55
Tab. 1.23 Níveis de ruído para conforto acústico. Fonte: ABNT- NB 10 152
O que se reete nos estudos do campo objetivo do som, através de dados quantitativos, vem
denindo o grau de incômodo a partir de suas medições. No entanto, os estudos mais recentes
passam também a abordar os aspectos subjetivos relacionados com a apreensão e a representação do
ambiente sonoro.
pe R c e p ç ã o so n o R A
Aragonés
18
(1998) mostra como a resposta ante um determinado estímulo surge não apenas pelo
aspecto físico ao qual é submetido, mas também pelo signicado que lhe é atribuído pelo próprio
sujeito. Ou seja, o sujeito percebe e reconstrói o mundo através de seus próprios valores, suposições,
e expressões vitais (Lopez–Barrio
19
2004). Neste sentido, pode-se armar que o espaço sonoro é
afetado por sentimentos, por fatores comportamentais e culturais e por signicados que permitam
falar de uma dimensão subjetiva superposta a uma realidade objetiva.
Apesar disso, a incorporação de aspectos subjetivos ao estudo do meio ambiente sonoro, não implica
em reduzir o valor do enfoque físico com a qual a acústica tradicional analisa este campo. Trata-se,
ao contrário, justamente de enriquecer o campo da física, introduzindo uma nova dimensão: a da
imagem subjetiva do espaço sonoro e sua interação entre as pessoas, o som e o meio.
O ruído é hoje considerado como um mal urbano embora a percepção desse problema dependa
das expectativas culturalmente variáveis a respeito daquilo que se constitui como negativo. Por ser
fácil determinar que o ar é puro ou impuro e que a água está limpa ou suja, pois estas são valores já
assimilados pela sociedade, outras formas de degradação do ambiente não são ainda tão facilmente
vericadas apesar das duas vertentes que vêm tentando esclarecer o que vem a ser risco em nossa
sociedade. A primeira está relacionada aos problemas que se convertem em objeto de preocupação
quando impõem um dano signicativo aos seres humanos e à natureza; a segunda identicada com
a não relação da preocupação ambiental que não está automaticamente relacionada à magnitude do
dano, mas ao seu signicado deste para a sociedade.
O que nos conduz ao questionamento sobre o próprio signicado de ruído? Ele não esgota ou
desgasta o ambiente, não “usamatéria prima, não devasta, mas deteriora o ser humano e seus efeitos
(auditivos e extra-auditivos) degradam suas relações sociais.
A sociedade moderna é atraída por sons fortes. E sua elevada intensidade oferece, de fato, prazer.
Existe atualmente um culto ao ruído? Nos pers comportamentais identica-se que os habitantes dos
países nórdicos conformam uma sociedade mais silenciosa e exigente quanto aos padrões sonoros.
Os habitantes de países localizados nas áreas tropicais, por característica climática, vivenciam
mais os espaços externos, exibindo um comportamento de maior produção e tolerância ao ruído.
Danceterias, academias de ginástica, shows, casas de festas, templos religiosos, propagandas em
carros de som, e, até mesmo, brinquedos barulhentos permeiam a vida dos citadinos brasileiros,
expondo-os aos efeitos do ruído, tais como: perda auditiva, estresse, doenças gástricas, mudanças de
humor; sintomas que dicilmente serão correlacionados por leigos ao ruído.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
102
Por não provocar danos visíveis, o ruído ainda é pouco combatido na nossa sociedade. Porém
nem todo som é ruído. É preciso que aprendamos também a ouvir e usar o som de forma positiva,
concebendo uma paisagem sonora dinâmica e agradável à audição. No livro Arquitectura acústica,
poética y diseño de Francesc Domènech, encontramos um novo aspecto de estudo acústico. A visão
positiva do uso do som a partir da sua percepção nas edicações e nas cidades.
es p A ç o Ac ú s t i c o
O espaço acústico dene-se por duas situações: aberto e fechado.
O espaço acústico aberto caracteriza-se por um campo sonoro direto (ou campo livre) em que a
atenuação do som emitido pela fonte varia em função da distância entre a fonte e o receptor. Como
a existência da edicação alteraria a classicação do espaço, pois atuaria como superfície reetora,
será desconsiderada esta situação.
Fig. 1.27 – Espaço acústico aberto e fechado.
Espaço Acústico Fechado caracteriza-se por um campo sonoro semi-reverberante. O ruído sofre
diversas reexões - o nível sonoro reduz-se lentamente, sendo mais ou menos o mesmo em todos
os pontos do espaço. A perda de energia a cada reexão ou quando a onda sonora encontra um
caminho livre, sem obstáculos, produz a atenuação do nível sonoro. Diferentemente do que ocorre
no espaço aberto, o nível sonoro não depende apenas da distância fonte/receptor. No entanto,
pode sofrer alterações em função de outras variáveis, como a capacidade de absorção dos planos
reetores. Comparando-se uma mesma fonte, a mesma distância, o nível sonoro percebido em um
espaço acústico fechado é superior ao do espaço aberto por ser um somatório do som direto com as
múltiplas reexões. (CETUR 1981, NIEMEYER 1998).
Várias ruas das zonas residenciais do nosso município, independentemente do bairro, se enquadram
nesta classicação. A diversidade ocorre quanto ao gabarito das edicações, tipologia, material
empregado na fachada e tamanho da caixa de rua.
A vi A
Para o estudo acústico é fundamental distinguir a rua da via. Chamaremos de via o espaço destinado
ao deslocamento dos veículos.
As vias de tráfego variam entre si em função de características particulares como largura da pista,
tipo de trafego, relação entre veículos leves e pesados. De acordo com o seu porte são classicadas
como via local, coletora, arterial, expressa e rodovia.
103
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
O tipo de pavimentação, o uso de juntas de dilatação, a qualidade e o estado de conservação da
via resultarão em diferentes formas de percepção do som. A necessidade do uso de quebra-molas
ou redutores de velocidade contribui para o aumento do nível sonoro. A velocidade do tráfego e a
sinalização adotada para controle da travessia de pedestres (ou dos veículos) inuirão diretamente
na propagação do som.
Figura 1.28 – A via expressa: Linha Amarela /RJ; Conexão Lagoa-Barra/ RJ.
Uma via margeada de edifícios vai responder a critérios diferentes aos de uma auto-estrada
implantada em tecido urbano pouco denso. Infelizmente identicamos casos recentes de intervenção
urbana na cidade do Rio de Janeiro onde esta premissa foi ignorada. 6 O planejamento de um
espaço urbano não pode desconhecer as vias de circulação próximas, sob pena de comprometer o
funcionamento das atividades que nele serão desenvolvidas, do mesmo modo que a implantação de
uma via de tráfego pesado, ou o aumento do volume de tráfego que por ela ui, não pode desconhecer
as características do tecido urbano que a envolve.
Deste modo, torna-se imprescindível buscarmos exemplos que contemplem essas situações distintas
que tornam a percepção do som diferenciada.
A i M p l A n t A ç ã o d A v i A n o t R A ç A d o U R b A n o
É necessário que se crie um parâmetro com relação à hierarquização destas vias e seus afastamentos
das edicações, ou seja, pode-se priorizar a redução de ruído para as edicações através do
afastamento das vias mais ruidosas, adotando, para identicação, a classicação das vias apresentadas
anteriormente, denidas como vias de trânsito, vias arteriais, vias de circulação e vias de distribuição,
considerando a primeira como a mais ruidosa, devido a maior velocidade, intensidade e percentual
de veículos pesados, até a última, nesta ordem, considerada de menor nível ruído.
Esta separação, além de ser feita apenas pelo afastamento, pode também ocorrer em função da
hierarquização das edicações de entorno com seus usos especícos, como zonas de comércio ou
industriais, que já possuem níveis de ruídos aceitáveis mais elevados, associadas à tipologia das vias
como mostra o exemplo na gura 1.29. (CETUR, 1981;MALAFAIA, 2002)
Fig. 1.29 – Hierarquização das vias em relação ao entorno.
Fonte: MALAFAIA
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
104
A i M p l A n t A ç ã o e A v o l U M e t R i A d A s e d i F i c A ç õ e s
Com relação ao conforto acústico na implantação de uma edicação, pode-se conseguir melhor
qualidade sonora projetando-se a distribuição do uso das edicações ou de cada ambiente interno, de
acordo com a sua utilização. Deve-se priorizar o maior distanciamento das possíveis fontes ruidosas
ou utilizando volumetrias que promovam menor reexão do som entre elas, como as apresentadas
na gura 1.30 comparando várias soluções entre certas e erradas. ( MALAFAIA 2002)
Fig 1.30 – Exemplos de implantação.
Fonte: MALAFAIA
A proteção das edicações em relação aos ruídos pode ser encontrada nas propostas apresentadas
pelo CETUR(1981) através do uso de escalonamento entre a edicação fronteira à via e às
subseqüentes, como mostra a gura 1.31.
Figura 1.31 – Escalonamento entre as edicações.
Fonte: CETUR, desenho MALAFAIA
Quando a proteção deve ser prevista para a edicação que é confrontante à via, a forma de atenuação
do ruído pode ser feita através também de um escalonamento, agora no próprio edifício, como
mostra a gura 1.32 reduzindo os níveis sonoros para os andares superiores devido a este recuo.
Fig 1.32 – Uso do escalonamento na edicação.
Fonte: CETUR, desenho MALAFAIA
105
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Outra solução pode ser encontrada como forma de proteção, utilizando o isolamento do som para os
ambientes internos através de fechamento total e maior espessura das paredes das fachadas voltadas
para as fontes de ruído. Ou ainda, localizar nestes ambientes voltados para estas fachadas, espaços de
transição como circulações verticais ou horizontais, e, no caso da necessidade de aberturas de vãos,
criar varandas com muretas de proteção funcionando como barreiras de som, e utilizando materiais
absorventes sobre as paredes e tetos destas varandas, reforçando o efeito de ltro entre a rua e os
ambientes internos que devem ser protegidos, não impedindo assim a ventilação e iluminação
natural destes compartimentos como acontece na opção por vedação total da fachada.
Fig. 1.33 – Espaços de transição.
Fonte: CETUR, desenho NIEMEYER
A RUA
A rua é o espaço de encontro e de troca (SANTOS, 1988). Como espaço acústico envolve a via de
circulação e seu entorno imediato, e as calçadas até o alinhamento das fachadas
É um campo sonoro homogêneo que envolve a fonte. Fonte e receptor estão no mesmo local. O
ruído percebido depende das características das superfícies reetoras: a pavimentação da pista e das
calçadas, do alinhamento, revestimento, rugosidade e movimentação do plano das fachadas. Em
ambiente urbano, os materiais mais freqüentemente utilizados (concreto, vidro, cerâmica, asfalto)
possuem baixo coeciente de absorção sonora, reetindo quase toda a energia incidente. A rua
pode, também, ser compreendida como espaço intermediário entre dois elementos urbanos - a via
de tráfego e o edifício.
Fig. 1.34- Exemplos de ruas: bairros do Grajaú e Leblon/RJ.
A fachada é um elemento que altera a propagação sonora devido a sua composição e disposição. O
ruído percebido na rua é diferente daquele percebido no interior das edicações. A distância entre
a fachada e a testada do lote alterará o nível de ruído que chega a edicação. A solução paisagística
adotada neste espaço interferirá nos mecanismos de propagação do som.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
106
Duas são as congurações básicas:
Fig 1.35 - Rua em “U” e Rua em “L.
Rua em “U” : limitada, de ambos os lados, por edicações altas, coladas nas divisas, formando •
barreiras contínuas. A relação entre a altura dos prédios e a distância entre fachadas é superior
a 0,2 (H/L > 0,2). O campo acústico é semi-reverberante e as reexões sobre as fachadas têm
grande peso no nível sonoro total.
Rua em “L : quando os edifícios formam barreira apenas de um dos lados, ou se a relação •
entre a altura dos prédios e a distância entre fachadas é inferior a 0,2 (H/L < 0,2). A propagação
sonora aproxima-se do campo direto ou livre .
Na disposição e conguração dos edifícios nas ruas podemos identicar algumas variações
na implantação que possibilitarão percepções variadas tais como: aberta para a zona de ruído,
bloqueando a zona de ruído (g1.36) pátios centrais, pátios opostos à rua e formação de pátios
abertos para a rua em que a disposição permite o aumento da intensidade do ruído por reexão.
Fig 1.36 - Conguração e disposição dos edifícios nas ruas.
Fonte : PRINZ, desenho NIEMEYER
A q U A d R A o U q U A R t e i R ã o
No urbanismo moderno encontramos diversas soluções de planicação de núcleos urbanos cuja
setorização adequada das atividades auxiliará na qualidade sonora do ambiente.
Do ponto de vista acústico, consideraremos a quadra como uma porção do espaço urbano limítrofe
ao local da emissão, porém dele separada por uma barreira que provoca uma ruptura na propagação
sonora (SEMIDOR, 1997). A quadra recebe o som que, emitido pela via, é propagado ao longo da
rua, e os edifícios que a compõem funcionam como barreira protegendo os espaços, privados ou
não, situados no seu interior.
107
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
A distribuição das edicações na quadra, quando bem solucionada, permite que haja menor
exposição ao ruído (ARIZMENDI, 1983). O quarteirão pode ter no seu espaço interior duas opções
fundamentais: uma concepção funcional, que o utiliza como área complementar às necessidades
urbanas, e outra que integra o centro do quarteirão como espaço coletivo (Figura 1.37 a e b).
Pouco explorados no nosso desenho urbano, os espaços semi-públicos situados no interior das
quadras possibilitam áreas com ambiência acústica agradável, estimulando a permanência de seus
usuários (KRIER, 1985).
Fig. 1.37- Soluções de organização das vias na quadra.
a– edicações menos exposta ao ruiído viário; b – edicações mais expostas
Fonte: ARIZMENDI, desenho NIEMEYER
Certas atividades (comércio, clubes, escolas, bar, estacionamentos) situadas na quadra podem
constituir, por si mesmas, fontes de ruído urbano. A quadra é dotada de uma identidade sonora
própria, fruto do seu desenho urbano e da cultura local.
A l e g i s l A ç ã o
Na esfera federal, o controle da poluição sonora do meio ambiente é regido pela Resolução no 1 do
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente, de 8 de março de 1990.
A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer
atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas,
inclusive as de propaganda política obedecerá, no
interesse da saúde, do sossego público, aos padrões,
critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução.(...)
São prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os
ns do item anterior aos rdos com níveis superiores
aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.151
- Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas Visando o
Conforto da Comunidade, da Associão Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT.” (CONAMA, 1990)
A NBR 10151, adotada como parâmetro para avaliação de impacto sonoro, foi recentemente revisada
e os critérios e métodos de medição por ela estabelecidos estão em conformidade com os padrões
internacionais adotados pelas normas ISO7 e IEC8. ( NIEMEYER 2007)
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
108
O Nível de Ruído Ambiente corresponde ao Nível de Ruído Equivalente (LAeq) registrado na
ausência do ruído gerado pela fonte potencialmente causadora de impacto sonoro. “Se o nível de
ruído ambiente, Lra, for superior ao valor da Tabela para a área e o horário em questão, o NCA
assume o valor do Lra(NBR 10151/2000).
Tipos de áreas Diurno Noturno
Áreas de sítios e fazendas 40 35
Vizinhanças de hospitais
(200 metros além da divisa)
45 40
Área estritamente
residencial urbana
50 45
Área mista,
predominantemente
residencial, sem corredores
de trânsito.
55 50
Área mista, vocação
comercial e administrativa,
sem corredores de trânsito.
60 55
Área mista, vocação
recreacional, sem corredores
de trânsito.
65 55
Área mista até 40 metros
ao longo das laterais de um
corredor de trânsito
70 55
Área predominantemente
industrial
70 60
Tabela 1.24 – Níveis Critério, em dB(A)para Ambientes Externos
(NBR 10151/2000)
Em áreas urbanas, com freqüência, o ruído ambiente devido principalmente ao tráfego de veículos,
ultrapassa os valores recomendados pelo NCA, dicultando a aplicação dos valores recomendados
pela norma.
109
CAPÍTULO 01
A teoriA de AcústicA no curso de ArquiteturA
Tipos de Áreas Período Diurno Período Noturno Zoneamento Municipal
Áreas de sítios e
fazendas
40 35 Zonas de preservação e conservação
de unidades de conservação
ambiental e zonas agrícolas
ZCVS, ZPVS, Áreas Agrícolas
Área estritamente
residencial urbana
ou de hospitais ou de
escolas
50 45 ZRU
Área mista,
predominantemente
residencial.
55 50 ZR1, ZR2, ZR6, ZRM, ZOC
Área mista, com
vocação comercial e
administrativa
60 55 ZR3, ZR4, ZR5, ZUM, CB de ZR, ZC, ZCS
Área mista, com
vocação recreacional
65 55 ZT, AC, ZP, CB de ZT
Área
predominantemente
Industrial
70 60 ZPI , ZI, ZIC, CB de ZI
Obs: Os níveis máximos de sons e ruídos permitidos em ZE serão vericados de acordo com os usos previstos
em cada sub-zona em correlação com a tabela acima.
Tabela 1.25 – Níveis (NCA), em dB(A), para Ambientes Externos (NBR 10151/2000)
No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente através da Resolução n0 198, estabeleceu a padronização
dos procedimentos de scalização da poluição sonora. Os níveis de ruído ambiental permitido são estabelecidos, por
similaridade, entre a NBR 10151 e o Zoneamento Municipal (tabela 1.22).
Os limites de horário para o período diurno e noturno são denidos pelas autoridades municipais, de acordo com os
hábitos da população. Na cidade do Rio de Janeiro o período diurno é o intervalo de tempo compreendido entre 7:00 e
22:00 horas do mesmo dia, e o período noturno o tempo compreendido entre 22:00 horas de um dia e 7:00 horas do dia
seguinte (Decreto n0 5.412, 1985).
No próximo capítulo, vericaremos de que modo esse conteúdo teórico é cobrado na prática. No início do desenvolvimento
do projeto, seu idealizador, seja estudante ou prossional de arquitetura tem de organizar uma série de informações e
priorizar suas ações de modo que o objeto concebido no estudo preliminar atenda satisfatoriamente às necessidades do
cliente e dos futuros usuários da edicação. Entre os diversos fatores necessários para que haja qualidade no projeto,
a acústica deverá estar elencada entre os itens relativos ao conforto ambiental. Vejamos a seguir, no próximo capítulo,
como isso poderá ocorrer.
111
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
2 A ARqUitetURA escolAR
2.1 in t R o d U ç ã o
O lugar do ensino ocupou os jardins e as praças gregas, os mosteiros e as capelas quando a educação
era responsabilidade da Igreja, e a própria casa do professor para apenas, no nal do século XIX,
instalar-se em local próprio voltado para a atividade educacional.
Este interesse para criar, no sentido de construir a edicação escolar surge, segundo Souza
1
(1998):
(...) em determinado momento, políticos e educadores
passaram a considerar indispensável à existência de ca-
sas escolares para a educação de crianças, isto é, passaram
a advogar a necessidade de espaços edicados expres-
samente para o servo escolar. Esse momento coincide
com as décadas nais do século XIX e com os projetos
republicanos de difusão da educação popular.
No Brasil, com a República instaura-se a idealização do “homem novo” exigindo que se repense seu
ambiente mais organizado e higienizado. O espaço físico da cidade como o das escolas requer assim,
melhor ordenação. A escola se converte então num lugar de referencia para as cidades que por sua
vez a considera como “modelo. Os edifícios escolares ganham destaque nas cidades, ocupando lo-
cais privilegiados, simbolizando “os novos templos da civilização” marcando a paisagem local. Sou-
za
2
(1998) acrescenta:
(...) o edifício escolar torna-se portador de uma identicação
arquitetônica que o diferenciava dos demais edifícios públi-
cos e civis ao mesmo tempo em que o identicava com um
espaço próprio – lugar especíco para as atividades de ensi-
no e do trabalho docente. (...) O espaço escolar passa exercer
uma ação educativa dentro e fora de seus contornos.
Os edifícios escolares surgem então com uma nalidade especíca, ou seja, um lugar para a forma-
ção do cidadão. Entretanto, somente após a Revolução de 1930, quando Getulio Vargas assume o
poder, a educação passa a ser entendida como prioridade nacional, e a reivindicação dos educadores
brasileiros se realiza com a criação, a 14 de novembro, do mesmo ano, do Ministério de Educação e
Saúde. Dois anos depois, no Congresso de Educação de 1932, vinte e seis intelectuais envolvidos em
campanhas regionais de educação e reforma do ensino, como Anísio Teixeira e o professor Fernando
de Azevedo elaboram o “Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova” no qual abordam os problemas do
ensino e traçam as devidas diretrizes para sua transformação (BARRADAS
3
2006).
A partir da gestão de Anísio Teixeira como Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, entre
1931 e 1935, na Secretaria de Educação é que o projeto arquitetônico inteiramente focado no edifício
escolar visando o ensino nacional brasileiro se materializa. Neste período Anísio Teixeira já acumu-
lava a experiência do cargo de Diretor de Instrução, cargo que exerceu de 1924 a 1929 no estado da
Bahia e como explica Noemia Barradas:
[Anísio Teixeira] entendia a educação como uma atividade
de caráter preponderantemente técnico e especializado e,
como tal, requeria espaços adequados e convenientemente
projetados. O edifício escolar era colocado como “base -
sica e preliminar para o programa educacional projetado.
Havia necessidade de uma rede física para sustentá-los. A
carência de edifícios para a grande demanda, a precarieda-
de da rede escolar, além dos problemas com a localização e
a distribuição, forma e isolamento, iluminação, ventilação
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
112
e uma serie de fatores que tornariam impossível a im-
plantação de projetos nos ideários da Manifesto dos Pio-
neiros da Escola Nova, em construções existentes.
Ter instalações adequadas signicava para Anísio Teixeira sinônimo de trabalho educativo, a base -
sica preliminar para qualquer programa educacional e, indispensável à realização de todos os planos
de ensino propriamente dito (TEIXEIRA
4
1935).
O mal do Brasil, segundo Anísio Teixeira (1932) não era apenas a falta de escolas mas a própria es-
cola existente. Ele considerava que mais grave do que a negligência em abrir escolas era julgar que o
programa escolar limitava-se à simples “alfabetização” - a escola não ensinava a pensar - creditando
importância à arquitetura explicando que:
(...) o prédio escolar e as suas instalações atendam pelo
menos, aos padrões médios da vida civilizada e que o ma-
gistério tenha a educação, a visão e o preparo necessários
a quem não vai apenas ser a maquina de ensinar intensiva-
mente a ler, a escrever e a contar, mas vai ser o mestre da
arte difícil de bem viver (TEIXEIRA, 1935).
Foi essa idéia de mestres ensinarem a arte difícil do bem viver” que possibilitou incorporar conquis-
tas pedagógicas às arquitetônicas enriquecendo o programa do segundo campo disciplinar com an-
teatros, bibliotecas, refeitório, jardins e áreas verdes” o que promoveu, no caso do Rio de Janeiro, a
reapropriação de espaços de sociabilidade crescentemente sonegados às classes trabalhadoras pelas
reformas urbanas que lhes empurravam para os morros ou periferia da cidade(NUNES
5
,1993).
A escola municipal Argentina, projeto do arquiteto Enéas Silva, foi o marco da moderna arquitetura
escolar da cidade daquele período. Localizada no bairro de Vila Isabel, esta escola representa o mo-
delo “platoon
6
idealizado por Anísio Teixeira e transposto para a arquitetura através de seu partido
em dois eixos ortogonais “desencontrados” denidor das circulações.
Ao escrever para a revista da Prefeitura do Distrito federal em 1935 sobre os projetos desenvolvidos
para as novas escolas do governo de Pedro Ernesto, Enéas Silva informa o que balizou a proposta:
Sendo a construção do prédio escolar pela sua própria espe-
cialização um problema de ordem mais pedagógica do que
puramente construtiva, cabe ao arquiteto a tarefa de integrar
completamente na concepção educativa social da organiza-
ção escolar e pesquisar todas as exigências psicológicas e bio-
lógicas da criança, sua mentalidade, maneira de viver, de agir
e de julgar as coisas; conseqüentemente concretizar em arqui-
tetura os princípios de segurança, salubridade, expansão, e-
xibilidade, conveniência, aspecto arquitetônico e economia,
características essenciais de eciência de um prédio escolar
7
.
Apesar dos avanços até então conquistados no campo da arquitetura escolar no antigo Distrito Fede-
ral os exemplos mais signicativos e inovadores desse tipo de edicação concentraram-se na gestão
do Prefeito Mendes de Morais. Construiu-se nesta gestão, por exemplo, a Escola Edmundo Bitten-
court, que integra o conjunto habitacional Prefeito Mendes de Morais conhecido como Pedregulho,
projetada pelo arquiteto Aonso Eduardo Reidy, a qual é considerada por muitos o melhor exemplo
da arquitetura moderna brasileira do nal da década de 1940.
Outro período próspero para a arquitetura escolar foi a década de 1960. O antigo Estado da Guana-
bara era governado por Carlos Lacerda e o Departamento de Construções e Equipamento Escolar
dirigido pelo arquiteto Francisco Bolonha, antigo colaborador de Reidy, constituindo uma gestão na
qual se construíram 231 novas escolas.
113
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
Este período, identicado na arquitetura como “o das escolas do Bolonhanão encerra a prodão
escolar. Entretanto, é possível constatar que o processo de desenvolvimento deste programa , após a
gestão de Bolonha, quase sempre sobrepôs a quantidade em detrimento da qualidade. Amesmo
projetos assinados por arquitetos de renome acabam sofrendo a pressão da quantidade, acarretando
a perda das qualidades espaciais e comprometimento do conforto ambiental. As escolas intituladas
CIEP, popularmente conhecidas como “Brizolões, executadas na década de oitenta exemplicam
os malefícios da produção em série. Contemporaneamente é a escola padrão
8
, a nova proposta
arquitetônica para as escolas públicas no município do Rio de Janeiro. Dotadas de plasticidade mar-
cante e comprometidas em oferecer espaços mais aprazíveis para a educação, em alguns momentos
o resultado ca comprometido por conta das limitações físicas dos terrenos e problemas causados
pelo entorno.
2.2 o p R o J e t o e s c o l A R
A arquitetura escolar, adotada como exemplo de análise desta pesquisa, relaciona-se ao nosso reco-
nhecimento deste espaço como de importância suma na consolidação do homem como cidadão. A
escola, mais que a habitação, polariza as aspirações da nossa sociedade para com ela mesma
9
. Sua
arquitetura representa papel relevante para a materialização da função pedagógica na formação do
sujeito, uma vez que as relações do indivíduo com o espaço fazem parte dos primeiros aprendizados
culturais e não cessam de se desenvolver”
10
. São formas de aprendizagem, como nos explica ESCO-
LANO
11
(1993):
[...] el espacio-escuela es además un mediador cultural em
relación a la génesis y formación de los primeros esquemas
cognitivos y motóricos, es decir, un elemento signicativo
del curriculum, una fuente de experiencia y aprendizaje.
Más aún, la arquitectura escolar, [...] puede ser considera-
da incluso como una “una forma silenciosa de enseñanza
Essa arquitetura apontada por Escolano como partícipe de um programa educador invisível e silen-
cioso é aquela que requer espaços com as condições propicias à reexão, adequada ao uso, tanto para
o docente quanto para o discente.
O espaço escolar deve compor-se de um conjunto sicamente coerente tendo em vista que, como
vimos anteriormente, é a partir dele que se desenvolvem as práticas pedagógicas. O espaço arquite-
tônico produz sensações ricas em signicados que marcam, expressivamente ou não, a memória de
seus usuários por toda vida. Deste modo, a partir desta qualicação, o espaço físico escolar pode ser
interpretado sob uma nova condição, a de um ambiente (LIMA
12
, 1989).
Ao analisar-se detalhadamente os projetos para os edifícios escolares, compreende-se o modo como
cada arquiteto reete, questiona e equaciona os diversos problemas na resolução de um projeto esco-
lar e, dentre eles, os sonoros, os quais particularmente interessam nesta pesquisa.
O ambiente físico de uma escola, quer dizer, sua estrutura e suas signicações simbólicas são apon-
tadas, em diferentes estudos, como determinantes das experiências dos alunos que a freqüentam, em
relação a seu aprendizado e desenvolvimento.
Evidentemente o ambiente físico com nalidades pedagógicas, exigirá que, na elaboração do projeto
para uma escola, observe-se rigorosamente inúmeros critérios, dentre os quais os fatores ambientais,
cuja inuência é determinante para o bem estar dos usuários. Entre estes fatores o som assume papel
relevante, pois é parte do mundo perceptivo do qual a edicação faz parte, e interferirá diretamente
na comunicação verbal entre professores e alunos.
Os princípios da acústica arquitetônica aplicados em escolas evita que diversos problemas ocasiona-
dos pela interferência do ruído ou pela reverberação dos ambientes comprometam os processos de
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
114
aprendizado desenvolvidos com os alunos. Não podemos ignorar que um ambiente de ensino pode-
abrigar crianças ou jovens com décit de atenção, assim como portadores de deciência auditiva e
visuais na composição do corpo discente.
Crianças com diculdade de concentração em ambientes ruidosos pioram o seu rendimento inte-
lectual. O resíduo auditivo, para os que fazem uso de aparelhos, e a necessidade de gravar as aulas
para os que têm limitações visuais, exige ambientes com qualidade sonora. Esta, por sua vez, é fruto
de uma arquitetura bem solucionada, em que a sensibilidade do projetista para estas necessidades é
peça fundamental. Por isso, o projeto para uma escola não pode ser resumido ao cumprimento de
um programa, ao contrario, o objeto arquitetônico deve criar um lugar “onde é bom fazer uma certa
coisa”
13
, do modo como explica Louis Kahn:
Eu não conheço melhor serviço que um arquiteto possa
prestar, como prossional, do que o de compreender que
todo edifício deve servir à instituição do homem, quer seja
ela a instituição do estado, quer a da casa, ou a da aprendi-
zagem, da saúde, ou do lazer
14
.
(...) Um edifício é um mundo dentro do mundo.
Edifícios que personicam lugares de culto, ou de habita-
ção, ou de outras instituições do homem devem ser feitas
ao seu caráter
15
.
Desde meados do século XX muito se investigou sobre a relação entre pedagogia e propostas ar-
quitetônicas especícas para escolas. A expansão da construção de edifícios escolares pelo Estado
incluiu, no ensino da arquitetura, o projeto de escola como proposta fundamental.
O espaço escolar na sua perspectiva histórica, isto é, considerando-o como obra humana situada no
tempo e no território, nos permite ler na sua arquitetura as marcas do seu tempo como um lugar de
relações humanas – neste caso, relação pedagógica – traduzindo o modo como a sociedade se orga-
niza, qual visão de mundo é hegemônica e quais suas contradições. O espaço escolar assim se cons-
titui como um documento material, visível, que expressa os modelos, opções estéticas e os costumes,
tanto do passado quanto do presente. Então, considerando a representatividade do edifício escolar,
elaborou-se neste capítulo uma análise destas edicações, sob o enfoque do conforto acústico.
O International Institute of Noise Control Engineering INCE Noise and Reverberation Con-
trol for Schoolrooms, é o comitê internacional habilitado a investigar a acústica de escolas, a m de
balizar os critérios e condições mínimas aceitáveis para eciência acústica das edicações escolares
através de estudos (GONZÁLES e PÉREZ
16
, 2002). Embora no Brasil inexista um órgão representa-
tivo da área de acústica, especíco às análises e recomendações de projetos de escolas, direcionamo-
nos utilizando a NBR 10152/2000 como suporte para vericarmos se as condições propostas no pro-
jeto e após sua execução, estão dentro dos parâmetros recomendados de conforto acústico. Porém, o
que um projeto objetiva visando a qualidade acústica pode ser resumido em três fatores:
Inteligibilidade garante a boa comunicação verbal entre os usuários, e em especial entre •
professores e alunos;
Privacidade – evita a interferência do som entre ambientes;•
Salubridade – previne a saúde auditiva e psicológica dos usuários, tomando como referência •
as normas estabelecidas.
Assim, seguindo o roteiro básico para o desenvolvimento de projeto, como o utilizado nos ateliês
com os alunos, estabeleceu-se uma co-relação das diversas etapas de estudo com o som. Embora as
escolas selecionadas para ilustrar este estudo se localizem no município Rio de Janeiro, este procedi-
mento poderá ser aplicado em escolas de qualquer localidade.
115
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
2.3 An á l i s e d o s p R o J e t o s A t R A v é s d A A c ú s t i c A
Inicialmente faz-se necessário explicar as escolhas das escolas que serão utilizadas como exemplo
para o emprego da análise acústica neste capítulo.
Inicialmente foram selecionadas para uma análise um pouco mais detalhada três escolas perten-
centes ao município do Rio de Janeiro com qualidades arquitetônicas que ilustram a diversidade de
pensamentos por parte dos projetistas na hora de conceber e justicar um projeto.
Duas delas são escolas citadas como referência de projeto escolar por muitos arquitetos, e foram pro-
jetadas por prossionais que contribuíram para a história da arquitetura escolar moderna no Rio de
Janeiro. No caso da escola Edmundo Bittencourt, do arquiteto Aonso Eduardo Reidy, o conceito do
edifício, a composição e a escala do conjunto são alguns dos elementos destacados.
A escola Cícero Penna, do arquiteto Francisco Bolonha, representa um ciclo de racionalização do
edifício escolar em que era priorizada a produção do maior número possível de escolas a m de
atender a crescente demanda populacional.
A escola Barão de Itacurussá pertence ao grupo de escolas projetadas no início do Estado Novo. Sua
inclusão se deve a qualidade da sua arquitetura que demonstra a possibilidade de integração plena
dos princípios acústicos ao projeto. Pertence ao grupo de escolas tombadas pelo município.
Os sítios das três escolas fornecem situações distintas de análise que também são enriquecedoras ao
trabalho.
Outras escolas serão citadas como ilustração pontual de alguma situação especíca que relacione a
acústica ao projeto.
2.3.1 Ro t e i R o d e A n á l i s e
a localização•
Além dos limites da parcela de terreno no qual se edicará uma escola, é possível deparar-se com
uma variedade de situações que, de alguma forma, serão reetidas na edicação. Como por exem-
plo, o aumento crescente, ao longo dos anos, do tráfego motorizado, as transformações formais do
entorno, o emprego de novos materiais nas edicações circunvizinhas, a variação da topograa, o
regime de ventos, os múltiplos usos das construções à volta, a vegetação, a água, fatores que isolados
ou em consonância inuenciam na paisagem sonora
17
especíca e própria de cada local.
Considerando que a maioria das edicações escolares encontram-se dentro do espaço urbano, e
este, se encontra em constante mutação, Pedrazzi et al.
18
(2001) armam que nas cidades atuais, os
habitantes estão imersos em ambientes ruidosos procedentes de grande número de fontes sonoras,
exteriores e interiores aos edifícios. Motivo que inuenciasignicativamente na escolha adequada
do lote para a implantação de uma escola, requerendo a observação das condições atuais do meio
e do nível de ruído de fundo que deverá, não apenas atender as exigências da legislação municipal,
mas prever possíveis modicações futuras do entorno, para que a proposta não que inadequada
precocemente.
Parte destas transformações, relativas ao impacto do ruído de tráfego em edicações escolares, foi
estudada por Fernandes e Viveiros
19
(2002), através da analise dos indicadores de ruído urbano e dos
parâmetros de inteligibilidade da fala. Esta pesquisa ressalta que no planejamento das construções
escolares, o nível de ruído emitido pelas vias de tráfego próximas deve ser considerado, durante
o horário de maior uxo, no período de atividades escolares. Concluíram que um dos principais
objetivos de uma regulamentação nacional para controle do ruído urbano deve ser a de planejar a
cidade, levando em conta o impacto das rodovias em áreas onde as atividades desenvolvidas têm
necessidades acústicas especiais. É importante discutir a projeção de crescimento futuro da via de
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
116
tráfego e, conseqüentemente, os futuros níveis de ruído do local que abrigará uma escola, de modo
que esta não perca precocemente sua qualidade ambiental (ZANNIN
20
et al., 2005).
Esta é uma preocupação importante e deveria ser adotada na cidade do Rio de Janeiro que se localiza
em uma região de clima tropical úmido e, por seu perl climático, requer o máximo de circulação de
ar nos ambientes em períodos de temperatura mais elevada. Apesar do vento ser um condicionante
necessário no projeto, a permeabilidade adotada para o edifício poderá torná-lo incompatível ao
meio face às características sonoras do local. Por outro lado, não é possível ignorar que a escola é
uma fonte sonora expressiva na sua vizinhança, e até mesmo considerada como fator de incômodo,
principalmente se situada em áreas estritamente residenciais.
A característica topográca do terreno poderá bloquear ou não os sons provenientes do entorno ou
da própria edicação. Por este motivo, recomenda-se, sempre que possível, o uso de taludes e o apro-
veitamento dos desníveis do próprio terreno. Contudo, o fator de maior inuência sonora no local
será o volume de tráfego das vias circundantes. Por isso, deverá ser o primeiro item a ser observado.
A atenuação sonora em campo livre, quer dizer em tecido urbano aberto, é da ordem de 6dB(A)/dd
21
para fontes pontuais e de 3dB(A)/dd para fontes lineares (ruído de tráfego). Veículos automotores
têm domínio nas baixas freqüências, e estas alcançam grandes distâncias em função do seu compri-
mento de onda sonora.
A boa localização de uma escola, caso haja à volta do lote vias de grande porte, depende das dimen-
sões do terreno. É necessário que haja afastamento suciente entre a edicação e a rua para que se
consiga uma boa atenuação sonora.
Comparando a implantação das três escolas selecionadas para análise, ilustramos as condições so-
noras ocorridas em cada uma delas:
Na gura 2.1, observamos a situação da escola Edmundo Bittencourt, pertencente a conjunto habi-
tacional de baixa densidade em Benca, construída sobre um terreno não plano com face para três
ruas, em uma área de pouco trafego rodoviário. Embora esteja implantada acima do nível da rua
principal Capitão Félix e o som, por suas características físicas, propagar-se com movimento
ascendente, a escola recebe parte do som reetido desta rua. Na área interna do lote excelente
arborização, reduzindo, em parte, as superfícies de reexão e favorecendo uma ambiência sonora
agradável como o som de folhas ao vento e pássaros.
Já a escola Cícero Pena em Copacabana, gura 2.2, foi construída sobre um lote exíguo, de esquina,
mais árido, situado entre a Av. Atlântica e a Rua República do Peru. Há uma diferença marcante das
características sonoras do local, comparando-se o período da sua inauguração com os dias atuais.
Fig. 2.2 – Escola Municipal Cícero Pena –
Copacabana
Fonte: Google Maps
Fig. 2.1 – Escola Municipal Edmundo
Bittencourt – Benca
Fonte: Google Maps
Fig. 2.3 – Escola Municipal Barão de
Itacurussá – Tijuca
Fonte: Google Maps
117
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
Hoje, temos uma esquina ruidosa, com tráfego intenso de veículos. A proximidade do semáforo,
para travessia de pedestres, aumenta o nível de ruído do local nos momentos de partida dos veícu-
los. O som incidente sobre as empenas dos edifícios limítrofes ao lote é reforçado pelas múltiplas
reexões. Por ter pouco afastamento em relação às vias, o edifício ca excessivamente exposto aos
ruídos, obrigando que sua arquitetura produza um maior isolamento.
Localizada em uma rua residencial mista a Andrade Neves que faz conexão viária com a área
central do bairro da Tijuca, a escola Barão de Itacurussá, gura 2. 3, tem apenas uma das faces do
lote voltada para a rua. As outras duas faces do terreno são limitadas pelas empenas dos edifícios re-
sidenciais de grande porte existentes à sua volta, e aos fundos foi construída outra escola municipal.
Um ponto de ônibus localizado em frente ao muro da escola causará aumento do ruído de fundo do
meio nos momentos de parada e partida do veículo. Porém, as salas de aula não estão voltadas para a
face frontal do lote, com isso, há uma redução da captação dos sons externos.
Das três escolas observadas, a localizada em Copacabana é que se encontra na localização acustica-
mente menos privilegiada. Com pouco recuo em relação à rua e com um terreno de proporção mí-
nima, seria necessário, para resguardá-la dos sons incidentes provenientes do exterior, que a implan-
tação do edifício formasse uma barreira nos limites expostos às ruas, interiorizando-a. As empenas
dos edifícios vizinhos atuam como superfícies reetoras, tornando o meio um campo reverberante.
Por ser, no entanto, um bloco único, com as aberturas distribuídas por toda periferia do volume, ela
ca totalmente exposta aos ruídos da rua.
Terrenos destinados a escolas deveriam ter grandes dimenes com localizões previstas em um plano
diretor, de modo que fossem selecionados em áreas resguardadas da degradação sonora. Nas escolas des-
tinadas ao ciclo pré-escolar e ensino fundamental, lotes exíguos e expostos a ruídos excessivos comprome-
tem a qualidade do trabalho pedagógico. Da mesma forma que entendemos ser inaceivel uma escola em
que a iluminação é insuciente, uma escola exposta ao ruído também não se justica
22
. (NELSON, 2000)
os e l e M e n t o s c o M p o n e n t e s d o p R o g R A M A
É imprescindível que o arquiteto compreenda minuciosamente a dinâmica das atividades que serão
desenvolvidas no interior da edicação por ele projetada. Na fase de elaboração do programa ele re-
conhecerá quais ambientes necessitam de maior privacidade e aqueles que atuarão como fonte sono-
ra, pelo tipo de atividade nele desenvolvida. Esta divisão é, a grosso modo, analisada na organização
dos setores que conformam o próprio programa:
Setor administrativo/técnico pedagógico•
Setor pedagógico•
Setor de vivência•
Setor de serviços•
Integrando estes setores, existem as circulações e acessos.
O setor administrativo interliga a escola com o exterior. É um setor movimentado onde o contato
com o publico em geral é permanente. Telefonemas, reuniões, atendimento aos familiares dos alu-
nos e fornecedores, enm, uma área em que há uma produção de som razoável, sem que necessite de
alto grau de privacidade. Por isso mesmo, em muitas soluções de implantação é usado como área de
transição entre a rua e o setor pedagógico.
O setor pedagógico por sua própria natureza exige condição favorável à percepção do som ambiente
porque atua no processo educacional, mas ao mesmo tempo deve ser resguardado dos excessos so-
noros que possam comprometer a comunicação verbal entre alunos e professores.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
118
A comunicação verbal é quesito fundamental em qualquer sociedade humana. A interferência na
comunicação da palavra perturba atividades prossionais, educacionais ou domésticas comuns; cria
um ambiente desfavorável ao convívio e torna-se um grande incômodo.
A tabela abaixo indica as condições em que se obtém uma inteligibilidade mínima aceitável em fun-
ção da distância e nível de voz necessário.
Distância(m) Normal Alto Muito alto Grito
Valores em decibel (dB)
0.30 65 71 77 83
0.6 59 65 71 77
0.9 55 61 67 73
1.2 53 59 65 71
1.5 51 57 63 69
3.6 43 49 55 61
Tabela 2.1 – Nível de Voz em dB
Fonte: GERGES, S.N. Y. 1992
Também não podemos ignorar os malefícios que o ruído pode causar à saúde, tanto no campo físico
quanto no emocional. O relatório da Environmental Protection Agency USA (KRYTER
23
,1985)
concluiu que o ruído não afeta somente a audição, podendo também causar a não percepção de
outras comunicações sonoras, interferência na atenção, na concentração e no trabalho mental, mo-
dicação de humor, perturbação do relaxamento mental.
As salas de aula do tipo universal, assim como os laboratórios, deverão ocupar a zona privilegiada
do terreno, quer dizer, resguardada do ruído externo, e também isoladas entre si para manter a pri-
vacidade das atividades desenvolvidas em seu interior. Os laboratórios de química e biologia, por
exemplo, em virtude do uso de válvulas para a despressurização de gases utilizados nas experiências,
geram ruídos. Em escolas dotadas de ocinas de carpintaria ou similar, que use equipamentos gera-
dores de ruídos, estes espaços deverão ser afastados daqueles que necessitam de maior privacidade.
As salas multiusos, salas de música ou outras com características sonoras semelhantes também de-
vem car afastadas das salas universais.
Em muitos estudos, foi constatado que as fontes sonoras internas aos ambientes escolares, por
vezes, são mais perturbadoras do que as fontes sonoras externas. Compete então, ao projetista aten-
ção especial com todos os ambientes geradores de ruído. No entanto, é importante que o som não
seja visto apenas como vilão. Independentemente das exigências da NBR 10 152/98, que estabelece
os níveis máximos de ruído em alguns ambientes de ensino, é imprescindível que o arquiteto tenha
sensibilidade para explorar o lado positivo do som.
Uma prática educacional salutar para a criança em formação é proporcioná-la possibilidades para
que desenvolva sua percepção sonora de forma natural. DOMÈNECH
24
, nos diz que:
“los niños necesitan experimentar por si mismos mo
suenan las cosas que los rodeam. Este espíritu lúdico sono-
ro se conserva poco, a consecuencia da la educacion que se
119
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
recebe, que tiende a eliminar casi todo el sonido supéruo
o que no sirve para la estricta comunicacíon pautada.
Criar ambiências na área do projeto, onde os sons da natureza possam ser percebidos, exercitando a capa-
cidade sonora e a concentração dos alunos, sem dúvida é um ganho signicativo na proposta projetual.
Para que o ambiente de estudo funcione adequadamente sem interferências internas, é necessário
que seja dada atenção especial à localização da área de vivência da escola. Este setor é composto por
espaços recreativos, de socialização e de atendimento à saúde dos alunos. Conforme a solução dada
haverá maior ou menor grau de liberdade de uso dos espaços com a escola em atividade.
Na escola Edmundo Bittencourt, o arquiteto Reidy localiza a área esportiva em posição oposta às
salas de aula e o pátio de recreação no piloti, abaixo do bloco de ensino. No entanto, por ser esta es-
cola pequena, o recreio se realiza num único horário, não interferindo nas atividades de sala de aula.
Não se pode também ignorar a inuência da piscina como superfície de reexão sonora. Quando
exposta ao ar livre, deve estar localizada afastada da área pedagógica, porque ao ser utilizada, os
sons de vozes e do impacto na água serão reforçados. Se colocada em áreas cobertas, a alta umidade
do ar deteriora rapidamente os materiais absorventes que possam ser empregados sobre o teto para
reduzir as reexões.
Na escola Barão de Itacurussá, a solução adotada também protege as salas de aula do ruído do pátio
de recreio. Localizado à frente do edifício, junto com a cantina e o refeitório, o pátio é utilizado como
uma zona de transição entre a rua e a edicação, ao ser posicionado na face oposta às salas de aula.
É muito comum, que por uma opção de conforto no uxo, os projetistas aproximem excessivamente
o setor pedagógico do refeitório. Neste ambiente, a característica dos materiais empregados o torna
um ambiente reexivo, favorecendo o reforço do som no seu interior, e por conseqüência, inuindo
nocivamente em sua vizinhança.
Na escola Cícero Penna, o lote impôs a solução em monobloco. Desta forma, não há opção de se-
parar as zonas internas ruidosas. O setor de vivência se funde aos outros setores comprometendo
a privacidade.
O setor de serviço é uma fonte de ruído interno um pouco menos expressiva que os pátios recreati-
vos, ginásios e parques aquáticos. No entanto, é necessário resguardar-se de equipamentos e ativida-
des cujo nível de ruído, combinado com a freqüência do som, possa produzir um grande incômodo.
Entre eles, podemos exemplicar a bomba de recalque, as máquinas da ocina de manutenção e
reparos, e os equipamentos de ar condicionado. Do mesmo modo é necessário ter atenção à localiza-
ção da área de carga e descarga e estacionamento.
O partido adotado para a escola municipal Barão de Itacurussá, quanto a este aspecto sonoro, teve a
vantagem da localização do conjunto — pátio, cantina e refeitório— na frente da edicação. Esta so-
lução propicia que o ruído produzido pelo movimento do abastecimento da despensa e saída de lixo,
não interra nas classes de ensino. De forma semelhante, isto ocorrerá na área de carga e descarga,
e estacionamento. Em escolas, estes ambientes têm um grau de inuência expressivo na qualidade
acústica da edicação.
Quando se dene a circulação, há sempre uma preocupação em torná-la confortável para o usuário,
segura e próxima aos pontos de escape, evitando-se, assim, percursos muito longos. Para a acústica,
alguns destes princípios também são signicativos, pois com circulações mais curtas há a redução de
sons propagados. Se for possível resolver o problema das circulações sem que haja paralelismo entre
as superfícies, melhor será o resultado sonoro. Paredes paralelas mantêm a reexão do som por mais
tempo, favorecendo o seu reforço, e, com isso, sua permanência por mais tempo no local, tornando
o ambiente sonoramente desagradável. Strumf
25
(1984) relata que as soluções arquitetônicas para as
circulações ou corredores baseiam-se no planejamento geral. Quanto maior o seu comprimento, a sua
altura, e menor a sua largura, o resultado será pior acusticamente por favorecer a excessiva reverbera-
ção. Um corredor situado entre a fonte de ruído e a sala de aula ajuda a reduzir os níveis de ruído:
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
120
Corredor fechado sem tratamento acústico - reduz de 1 a 2 dB; •
Corredor aberto para um lado, sem tratamento acústico - reduz de 2 a 3 dB; •
Corredor fechado com tratamento acústico - reduz 3 dB; •
Corredor aberto com tratamento acústico - reduz de 3 a 4 dB. •
O uxo em uma escola não deve ser desprezado. Alunos e professores mudam de sala com a na-
lidade de desenvolver novas atividades em outros locais, e, raramente, o deslocamento do grupo
consegue ser feito sem barulho. Hoje em dia, com o uso de celulares, é muito comum professores e
alunos se deslocarem, em alguns estabelecimentos de ensino, em direção à circulação, a m de aten-
der às chamadas telefônicas. Também nas áreas de aglomeração como o átrio, halls e foyer haverá
aumento da propagação do som em função do volume do local.
Pode-se minimizar o excesso de reexão nesses ambientes reduzindo a área das superfícies reeto-
ras. Isto quer dizer, inicialmente, resolver a forma - adotar como solução as circulações não paralelas,
e em seguida, fazer uso complementar de elementos absorventes conforme as ilustrações abaixo:
Fig. 2.4 – Circulação com o uso de jardim auxiliando na
absorção sonora
Fonte: http:// www.arcoweb.com.br; consulta em 12/04/2008
Fig. 2.5 – Circulação com teto não plano e uso de material
absorvente sobre as paredes
Fonte: Educational Facilities 1995-96, The American Institute of
Architects Press
Fig. 2.6 – Circulação com parede não ortogonal
Fonte: http:// 11870.com/pro/lois-arquitectura,
consulta em 08/10/2008
121
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
Fig. 2.7 – Vista da circulação com paredes não paralelas
Fonte: www.arqchfoundation.org; consulta em 08/10/2008
Fig. 2.8 – Circulação com paredes não paralelas, em planta
Fonte: www.arqchfoundation.org; consulta em 08/10/2008
A i M p l A n t A ç ã o
A implantação de uma edicação está estreitamente relacionada à qualidade nal da sua materia-
lização. É nesta fase que o arquiteto deve considerar todos os fatores ambientais que interferirão
diretamente na qualidade da edicação. Nas escolas, quando ocorre a ação de um ruído prejudicial
ao desenvolvimento das atividades em uma sala de aula, se este for aéreo, o usuário será obrigado a
fechar portas e ou janelas para barrá-lo. Se for de impacto, deverá interromper a ação na fonte.
Ao ignorar a inuência dos sons provenientes do entorno, a qualidade do projeto pode ser seria-
mente comprometida. Para um nível de ruído incômodo, que comprometa a comunicação verbal
entre alunos e professores, só restará ao usuário o connamento. No clima tropical úmido, em que
a ventilação natural deve ser incentivada nas soluções de projeto, obrigar o uso de janelas fechadas,
e por conseqüência, a utilização do ar condicionado, não é uma proposta anada com o conceito de
sustentabilidade tão presente na arquitetura deste século.
Iniciar uma proposta corretamente sob a ótica da acústica implica em reconhecer às características
sonoras do local do projeto e imediatamente adequar a solução do edifício, desde a sua implantação,
de forma que as múltiplas sensações oferecidas pelo som estejam em sintonia com os ambientes.
A disposição e conguração do edifício inuem diretamente na maior ou menor exposição dos am-
bientes da escola aos sons propagados na área.
First Floor
1- Galleria
2- General classroom
3- Studio
4- Project room
5- Science lab
6- Faculty Oce
7- Administration
8- Cafeteria
9- Gymnasium
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
122
Fig. 2.9 Variação da área da fachada exposta ao ruído da via – a e b indicam situações distintas de
implantação.
Fonte: Desenho de Ana Paula Santos.
Nos grandes centros urbanos a rarefação de terrenos com boas dimensões, que permita a proposição
de edifícios escolares com espaços externos generosos, tem dicultado a aquisição de lotes adequa-
dos para este m. Os espaços livres no afastamento são signicativos porque atuarão como zona de
defesa aos ruídos externos.
Com o aumento da demanda da população e a necessidade de maior oferta do número de vagas
escolares para cobrir as necessidades do Estado, os critérios de análise de adequação do lote são
consubstanciados mais em aspectos políticos do que em fatores urbanos. Muitas vêzes, a mudança
do entorno do sítio, ocorre com grande velocidade. A falta de uma visão analítica sobre o que poderá
ocorrer em anos futuros tem provocado alguns desastres sonoros em diversas edicações para ensi-
no. Da mesma maneira, a falta de sensibilidade por parte de urbanistas, tem promovido o assassi-
nato” acústico de algumas. O exemplo abaixo ilustra uma tentativa de correção do problema sonoro
que acarretará perdas para a ventilação e iluminação do edifício.
Fig. 2.10 – Trecho da linha amarela que
tangencia uma escola estadual.
Fonte: Foto – MALAFAIA
123
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
Observando a implantação das três escolas inicialmente selecionadas no Rio de Janeiro, podemos
vericar suas condições acústicas atuais:
o p A R t i d o
Conforme vimos na introdução deste capítulo, para Anísio Teixeira, a arquitetura escolar exerce papel
preponderante no processo pedagógico. O espaço edicado deve ser proposto de forma a atuar como
estimulador dos sentidos dos alunos auxiliando-os no desenvolvimento de sua criatividade, sociabili-
dade e afetividade. Ele inui no comportamento de docentes, discentes e funcionários; deve ser adap-
tado à diversidade de usos e às novas práticas pedagógicas que se desenvolverão ao longo dos anos.
O partido arquitetônico é o caminho escolhido para resolver os problemas detectados no programa,
no sítio, na legislação, etc. Ao assumir o partido, o arquiteto escolheu entre tantas soluções possíveis
a que melhor se adéqua às necessidades especícas do projeto, sem ignorar a característica do entor-
no. Modelos horizontais em um ou dois pavimentos cam mais resguardados dos ruídos difundidos
pela vizinhança. os modelos verticais inseridos em locais de edicações mais baixas cam mais
sujeitos aos ruídos distantes. (ARIZMENDI 1980; JOSSE 1975)
26
Ou seja, salas de aula localizadas
nos andares mais altos estão mais propícias à ação dos ruídos do entorno.
A defesa do partido adotado costuma ser feita no memorial justicativo, informando sobre o pro-
grama, sobre a intenção do arquiteto em tornar a escola um local atrativo para seus usuários, sobre
as dimensões do edifício, sobre a tecnologia adotada e se exibilidade na proposta construtiva.
Também há de se reportar sobre a segurança e as inuências regionais, que, de algum modo, criam
particularidades na solução.
Em geral, dos componentes ambientais, o arquiteto, costuma fazer referência ao que de fato vê: a luz
e a insolação. Sobre este aspecto o arquiteto Richard Neutra
27
reconhece que a visão humana é, dos
sentidos, o mais desenvolvido, e o de maior inuência sobre a consciência, propondo que devemos
rejeitar a noção de que somente a percepção dos sentidos fácil e conscientemente registrados é que
conta. Para o arquiteto,
são raras as inuencias ambientais cuja percepção cons-
ciente é garantida; entretanto, podem tornar-se particular-
mente perniciosas se faltar consciência para corrigi-las, ou
neutralizá-las.
E. M. Edmundo Bittencourt
E. M. Cícero Penna
E.M. Barão de Itacurussá
Fig. 2.11 – Salas de aula afastadas dos setores mais
ruidosos e voltada para área com maior arborização.
No bloco das salas existem duas zonas de transição: a
varanda e a circulação. Há conforto.
Fonte: O autor
Fig. 2.12 – Salas de aula
periféricas, voltadas para as
áreas externas com grande
movimento de tráfego. Não
zona de transição. Alto
desconforto.
Fonte: O autor
Fig. 2.13 – Salas de aula
resguardadas do som exterior,
voltadas para o interior do lote.
uma zona de transição que
isola as salas do ruído da rua e
do pátio. Alto conforto.
Fonte: O autor
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
124
No memorial do projeto para a escola Edmundo Bittencourt, que é muito bem resolvida quanto à
acústica, não há quaisquer comentários que ressalte este aspecto no projeto. A setorização do espaço
de vivência e do conjunto pedagógico antecipadamente soluciona os problemas relacionados aos
ruídos internos, muito comuns em edifícios escolares. Porém, analisando o texto sobre o projeto,
observa-se que os aspectos pedagógicos, a insolação e ventilação foram os condutores da proposta:
A escola primária é sem dúvida, um dos mais importan-
tes elementos da comunidade. [...] A transformação quase
radical dos métodos de ensino acarretou naturalmente pro-
fundas modicações no plano do edifício escolar.[...] A sala
de classe é um elemento básico de uma escola moderna. Sai
do tipo tradicional para constituir uma unidade individual
que permite uma relação mais íntima entre mestres e alu-
no, maior exibilidade na disposição do mobiliário e maior
contato com o exterior, utilizando espaços ao ar livre ime-
diatamente ligados às mesmas.[...]As condições locais do
terreno, bem como o propósito de orientar as salas de classe
para o sul lado da sombra –, levou-nos a adotar a forma
quadrada para as mesmas. O corredor de circulação, no
lado norte, guarnecido por peças de terracota que o prote-
gem do excesso de insolação, permite o estabelecimento da
ventilação cruzada [...] As salas de classe prolongam-se em
amplos terraços ao ar livre, nos quais, nos dias mais quen-
tes, são realizados trabalhos escolares” (BONDUKI
28
1999).
A maneira como o setor pedagógico é denido, com dois espaços periféricos intermediando o exte-
rior com a sala, são entendidos pela acústica como “espaços de transição” porque criam uma barrei-
ra aos sons externos. Ao mesmo tempo, o uso de peças de terracota cobogó – na circulação evita
o excesso de reexão, tão comum em corredores, quando são inteiramente fechados por paredes. A
decisão de voltar a superfície vazada para o pátio da Bandeira, local de uso esporádico com pouca
propagação de ruído, também é uma boa solução acústica.
Observando-se outra escola do arquiteto, o Colégio Experimental Paraguai–Brasil, constata-se que
apesar de continuar não fazendo menção sobre o som na descrição do projeto, a implantação e a
setorização contemplam a boa acústica.
Fig. 2.14 – Foto da maquete do Colégio Experimental Paraguai-Brasil
Fonte: Arquivo NPD/FAU/UFRJ
125
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
Fig 2.15 Planta do primeiro piso: observa-se que as salas são posicionadas na face oposta da área de
vivência; afastadas da entrada, do ginásio e do parque aquático.
Fonte: Arquivo NPD/FAU/UFRJ
Nas três escolas adotadas como exemplo, observamos partidos distintos que resultaram em maior
ou menor grau de privacidade sonora.
No entanto, a variação do programa, as condições do sítio e o conceito proposto podem gerar outros
partidos arquitetônicos.
Fig. 2.16 Agrupamento
Fonte: O autor
Fig. 2.17 Bloco único
Fonte: O autor
Fig. 2.18 Pavilhonar
Fonte: O autor
No Rio de Janeiro, a diculdade de encontrar bons terrenos que atendam as demandas na área de
ensino público exige que se desenvolva um estudo mais consciencioso da inuência do som na cons-
trução de futuras escolas. Exemplicamos nas escolas abaixo ilustradas, que a solução de implanta-
ção adotada diculta uma proposta de correção acústica com baixo custo orçamentário.
O CIEP Samuel Wainer foi implantado entre duas ruas de grande movimento no bairro da Tijuca.
Fig. 2.19 – CIEP Samuel Wainer – Tijuca – Vista
aérea do sítio e elevação
Fonte: Google Maps
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
126
Como o partido arquitetônico está embasado no uso da ventilação cruzada, existem sobre as facha-
das aberturas permanentes que possibilitam também a entrada do ruído do tráfego. A linearidade
do edifício associada a uma grande permeabilidade, as salas de aula distribuídas por toda extensão,
complementadas por reduzido afastamento em relação às vias, são incompatíveis com a redução
signicativa da entrada de ruídos no interior das classes. Com isso, o nível de intensidade sonora no
interior da escola ca acima do máximo recomendado pela NBR
29
, prejudicando a saúde psicológica
e auditiva de alunos e professores.
Na escola municipal Sérgio Vieira de Mello, localizada num lote de esquina no bairro do Leblon, a
proposta de implantação volta o setor pedagógico para duas fontes sonoras expressivas: a quadra
esportiva coberta e a via de tráfego. Com um ponto de ônibus localizado na frente da edicação, a
cada parada e partida dos veículos, o som propagado terá o reforço das reexões provenientes do
piso da quadra, da sua cobertura e da empena da construção vizinha. Com isso, o espaço da quadra
será uma zona reverberante que interferirá diretamente nas salas de aula. O partido não favorece a
proteção sonora, pois os grandes vãos de ventilação e iluminação cam excessivamente expostos aos
ruídos externos.
A F o R M A
A arquitetura, para diferentes autores, é compreendida como a arte da concepção de espaços. Acres-
centa-se que a arquitetura é a arte e a técnica de bem pensar espaços humanos. E como toda arte
implica numa forma e numa técnica para a materialização de um objeto. A concepção, ou o processo
de reexão na arquitetura se realiza através de desenhos, formando a representação gráca de um
determinado objeto que representará um estabelecimento, identicado como o projeto. Este, por
sua vez, será materializado após sua construção em um Edifício, que por premissa, deverá funcio-
nar perfeitamente, quer com o lugar no qual foi edicado, quer por seu uso prático, tanto funcional
quanto pelas técnicas e materiais com os quais foi construído.
Entretanto, o valor adquirido por um objeto da arquitetura, pelo conjunto de atributos que o torna
singular, residirá, na maioria absoluta dos casos, em seus aspectos visuais, ou seja, pelo desenho que
confere sua forma, o que distingue os edifícios entre si permitindo agrupá-los por tipos. A forma
é, em ultima análise, a experiência direta entre leigos, especialistas e a arquitetura. Mas, para que a
forma adquira signicado arquitetônico deverá ser entendida conforme Henry Focillon: “como es-
trutura essencial e interna, como construção do espaço e da matéria
30
, como adotado por Montaner,
ou seja, “a expressão de uma estrutura interna
31
perfeita.
Fig. 2.20Escola Padrão Sergio Vieira de Mello
Leblon – Vista aérea do sítio e elevação
Fonte: Google Maps / www.skyscrapercity.com,
consulta em 10/10/2008
127
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
Esta idéia tambem se expressa para Louis Kahn
32
da seguinte maneira:
“La arquitectura no consiste meramente em cubrir las áre-
as prescriptas por el cliente. Es la creación de espacios que
evoquen el sentimiento de su uso adecuado. [...]La forma
implica uma armonia de sistemas, um sentido de ordem y
de lo que individualiza uma existência. La forma no tiene
gura ni dimension. La forma en arquitectura, caracteri-
za una armonia de espacios adecuada para cierta activi-
dad del hombre. [...] concibo a la escuela como um médio
ambiente constituido por espacios en los cuales se puede
estudiar satisfactoriamente.
As formas das superfícies planas, convexas e côncavas reagem de diversas maneiras ao serem
tocadas pelo som distribuindo o raio sonoro reetido, quer aumentando a sua difusão no meio ou
concentrando-o. A combinação destas formas geradesenhos de edicações e de ambientes com
sonoridades distintas. A escala do edifício, sua volumetria, as dimensões dos ambientes, associadas
aos materiais construtivos e aos revestimentos, serão co-autores dos sons locais. Ao decidir a forma
da edicação e dos ambientes internos do edifício, o projetista estará minimizando ou acentuando
fenômenos acústicos, que, por sua vez, denirão uma personalidade sonora para a edicação.
A composição formal dos volumes na escola Edmundo Bittencourt é resultado de uma composição
de superfícies curvas e planas. Ao realizarmos o percurso interno e externo à edicação percebemos
sonoridades e sensações nos diferentes espaços resultantes da variedade de materiais utilizados na
sua execução.
Os diferentes setores desta instituão foram criados por ambientes bem denidos tanto no campo
espacial, formal e material. Por conseqüência, as sensões visuais e sonoras percebidas o tão
variadas que cada ambiente emite sua própria mensagem sonora através dos seus elementos: o
bloco das salas de aula, o piloti que abriga o refeitório e cozinha, o ginásio, o parque aquático, e o
pátio da Bandeira.
Fig. 2.21 – Bloco das salas de aula
e o pilotis
Fonte: Foto do autor
Fig. 2.22 – Pátio da Bandeira, Fachada da
área de circulação
Fonte: Foto do autor
Fig. 2.23 – Parque aquático e vista do
Ginásio
Fonte: Foto do autor
Já a solução em bloco único adotado para a Escola Municipal Cícero Penna, composto por superfí-
cies planas e ortogonais entre si, como a maioria das edicações escolares favorece as múltiplas re-
exões devido ao paralelismo que combinado com a rigidez do material resulta em um ambiente re-
verberante. A constância do material e da espacialidade, complementadas por aberturas distribuídas
por todos os planos de fachada, contribuem para que haja pouca diversidade sonora na edicação. A
ausência de espaços de transição na fachada expõe as salas de aula diretamente ao ruído externo.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
128
A Escola Municipal Barão de Itacurussá, também composta por planos ortogonais com pouca va-
riação de materiais, surpreendentemente permite a percepção de sonoridades distintas. O tamanho
do lote, em parte, favorece a diversidade. No desenho da sua concepção ocorreram pequenas modi-
cações espaciais entre ambientes que foram sucientes para criar sonoridades diferenciadas entre
alguns deles.
É possível reconhecermos auditivamente o pátio de entrada com pé direito elevado, a cantina com
poucas aberturas e recoberta por ladrilhos, a secretaria localizada na mesma fachada do pátio, mas
com dimensões inferiores, o auditório e as áreas de circulação, ora abertas, ora fechadas.
Fig. 2.25 – Escola Barão de Itacurussá:
vista da entrada para secretaria e pátio
coberto
Fonte: Foto do autor
A forma é um fator de estímulo visual e auditivo para os alunos. A aproximação entre projetista e
usuários pode fazer da arquitetura escolar um instrumento perceptivo rico e complementar aos tra-
balhos pedagógicos desenvolvidos nas classes.
As p e c t o s c o n s t R U t i v o s
Todos os fatores relacionados anteriormente compreensão dos elementos componentes do progra-
ma, setorização, implantação e partido conjugados aos aspectos construtivos do projeto estrutu-
ram uma arquitetura voltada para o bem estar dos seus usuários quando elaborada criteriosamente.
Ao se conceber uma escola, projetamos um conjunto de ambientes dotados de formas, com dimen-
sões próprias, iluminação adequada às múltiplas atividades desenvolvidas no interior do edifício,
condições térmicas coerentes com o micro clima local, assim como com condições acústicas favo-
ráveis ao desenvolvimento das atividades. É imprescindível que os ambientes projetados ofereçam
Fig. 2.24 – Escola Municipal Cícero
Pennabloco único com grande
permeabilidade aos sons externos
Fonte: Foto – Arquivo NPD/FAU/UFRJ
129
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
condições de privacidade, proteção, aconchego, tranqüilidade e segurança, entre tantas outras solici-
tações, de forma que o espaço projetado cumpra seu m.
Parte da adequação do ambiente projetado tem suporte no seu sistema construtivo. Composto pela
estrutura, fechamentos e preenchimentos dos espaços que darão suporte à forma, o sistema conjuga-
do aos materiais denirá a sonoridade do local. Os materiais, por sua vez, deverão atender às solici-
tações térmicas, acústicas, decorativas e estar adequados ao princípio construtivo proposto.
Quando a edicação é implantada em uma área de ambiência sonora agradável, sem que os níveis de
ruído exijam por parte da construção uma solução com alto isolamento, os materiais de fechamento
periférico podem ser mais leves, e a solução formal com maior permeabilidade. Caso contrário, a
arquitetura do edifício terá de ser denida por materiais mais pesados e com menos aberturas.
Fig. 2.26- Escola FazendáriaMace
Face NO voltada para rodovia AL 101 norte: poucas aberturas e domínio da alvenaria.
Fonte: http:// www.arcoweb.com.br, consulta em 12/04/2008
Fig. 2.27 – Escola Fazendária – Maceió
Face SE voltada para o mar, menor ação de ruído;
material menos isolante, maior integração com o
exterior.
Fonte: http:// www.arcoweb.com.br, consulta em
12/04/2008
Os materiais empregados nas superfícies internas precisam garantir a privacidade do local, evitando
a transmissão do som entre as salas através do seu índice de isolamento e permitir que, na comuni-
cação verbal, as reexões do som ocorram dentro de um tempo que não prejudique a compreensão
das palavras. A utilização de elementos construtivos duros e lisos que incorrem em altos tempos de
reverberação do som, compromete a inteligibilidade da fala e com isso, o processamento das infor-
mações (GONZÁLEZ e PÉREZ, 2002; CARBONE e MERCANTI, 2003)
33
.
Quando a tecnologia empregada na execução de escolas priorizava o uso de tijolos maciços ou blo-
cos de concreto, a falta de privacidade não era um problema muito grave. Com a necessidade de di-
minuir os custos da construção civil, as empreiteiras impuseram paredes menos espessas executadas
com materiais leves que oferecem redução mínima do ruído. Ainda pouco empregada nos edifícios
públicos, a tecnologia de paredes secas dry-wall sofre resistência em função do seu peso reduzi-
do e de sua espessura, sugerindo que não oferecem bom isolamento. Pesquisas na área de materiais
nos mostram que espessuras diferentes das chapas componentes das paredes do tipo dry-wall, asso-
ciadas ao material empregado no seu interior e ao cuidado na montagem do sistema, conseguem ter
bons índices de STC
34
, semelhantes e por vezes superiores aos materiais convencionais.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
130
Conforme vimos no capítulo anterior, a teoria da acústica nos mostrou que o recomendável em es-
colas é que a fachada deva ter paredes com STC não inferior a 45, as janelas e portas externas devem
apresentar STC por volta de 30. Os pisos desses cômodos, entre unidades distintas superpostas, de-
vem ter STC I em torno de 50.
Os materiais de acabamento têm um papel complementar altamente signicativo para a acústica.
Conjugarão o desempenho técnico do material, representado por sua capacidade de absorção, com a
humanização dos espaços, possibilitando criar ambientes ecientes e visualmente agradáveis.
Relembrando, os materiais interferem diretamente na reverberação das salas. Quanto maior a sua
capacidade de absorção, menos reexões ocorrerão no local. Nossa realidade econômica restringe
muito o orçamento da obra em edifícios públicos para ensino na fase de acabamento, no entanto, se
a escola abriga alunos com diculdades visuais, a textura e sonoridade dos materiais serão relevantes
na compreensão do espaço por elas.
Fig. 2.28 – O material de revestimento contribuindo na percepção do espaço. O movimento da superfície
evita a formação de ecos no local.
Fonte: http:// archrecord.construction.com/schools
Portanto, além dos materiais industrializados convencionais, cabe ao arquiteto buscar soluções criati-
vas com menor custo que possam auxiliar na absorção do som nos locais onde esta se faz necessária.
Fig. 2.29 – sala de informática, revestimento das
paredes com material absorvente, uso de poltrona
estofada auxiliando na redução da reverberação.
Fonte: foto de Carolina Serra
Fig. 2.30 – sala de estudos – uso de material
absorvente sobre a janela, no piso, no teto e em
parte do mobiliário.
Fonte: foto de Carolina Serra
131
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
2.4 es p A ç o s e s p e c í F i c o s
A s A l A d e A U l A o U s A l A U n i v e R s A l
A sala de aula, principal elemento componente do setor pedagógico, precisa atender ecazmente
todas as atividades desenvolvidas no seu interior. Duas falhas de projeto que devem ser evitadas na
concepção de salas de aula dizem respeito à privacidade, ou seja, a interferência do ruído externo
e a reverberação que interferirão na inteligibilidade da fala. O primeiro atributo é que garante o
direito de desenvolver a atividade pedagógica de forma livre sem interferir ou sofrer interferência
dos ambientes vizinhos. Então, cantar, bater palmas, tocar algum instrumento, correr, enm, poder
experimentar diversas formas de comunicação e expressão deve ter a cumplicidade da arquitetura.
Esta corrobora com a liberdade de uso do espaço através da solidez das suas vedações, ou seja, lajes,
paredes e portas devem ter bons índices de isolamento. E preferencialmente, a sala deve estar voltada
para uma área de vista e sonoridade aprazível de forma que o ruído de fundo não mascare a voz do
professor, evitando que os ambientes limítrofes abriguem atividades muito ruidosas. As salas do tipo
paisagem, interessantes sob a ótica da integração, não oferecem bons resultados acústicos e interfe-
rem radicalmente no comportamento dos seus usuários.
Fig. 2.31 – Salas de aula “paisagem”, redução das condições de privacidade, exigem alto controle disciplinar
e nível de voz pouco intenso.
Fonte: Educational Spaces, v2, A Pictorial Review
A recomendação para ruído de fundo expresso pela curva NC ou Critério de Ruído, de modo que
se garanta uma excelente compreensão da fala, é que este deve variar entre 30-35 (REYNOLDS et
all.1992 apud PERKINS 2001)
35
. Também podemos adotar como diretriz o valor de 35 dBA como
referência para o Nível de Ruído da sala, evitando ultrapassá-lo.
Local dB(A) NC – Critério de ruído
Salas de aula, Bibliotecas, pequenas
salas de conferência, salas de
atendimento privado na secretaria
35 - 45 30 - 35
Tabela 2.2 – Valor dB(A) e NC recomendados em escolas
Fonte: ABNT,NBR 10152/2000
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
132
A inteligibilidade da fala é garantida quando se alcança valores adequados para o tempo de reverbe-
ração e também para a relação sinal/ ruído (S/R)
37
. Uma sala de aula com 0,5 segundo de TR e + 10
dB de S/R terá aproximadamente 90% de inteligibilidade da fala. Se o TR permanece com 0,5 segun-
do, mas, a relação S/R varia para 0dB, a inteligibilidade cai para 55%. Se há aumento do TR, o grau
de compreensão da fala também se modica. Vejamos, se o TR é de 1,5 segundo e a relação S/R é +10
dB, a inteligibilidade cai para 75%, e com o mesmo TR se a relação S/R cai para 0dB, a inteligibilida-
de é reduzida para 30% (SEEP; GLOSEMEYER; HULCE; LINN; AYTAR, 2002)
38
.
No fundo da sala, próximo a aparelhos de ar condicionado, próximo a janelas e portas, a relação S/R
é menor.
É importante relembrar que os materiais especicados pelo arquiteto inuirão diretamente no TR,
do mesmo modo que a localização da sala a exporá a uma maior ou menor quantidade de ruído que
denirá a relação S/R.
Para salas de 50m recomenda-se distâncias máximas entre aluno e professor variando de 7 à 10m,
quando este conduz simultaneamente toda a turma. Quando esta é composta por pequenos grupos,
e a relação é mais intimista, o recomendado é de 1 à 3m (STRUMPF 1984)
38
.
Quanto à reverberação, mais uma vez reforçamos que será obtida com a especicação adequada dos
materiais associados a uma volumetria compatível com o número de alunos que utilizarão as salas.
Salas de aula com pé direito alto, pisos e paredes reexivas são problemáticas. A combinação desses
elementos produzirá uma sala sujeita a ecos e reverberações o que inviabilizará a inteligibilidade,
principalmente em turmas de pré-escola.
Fig. 2.32 – Espaço “cafauzão” sem
tratamento acústico: pouca absorção,
tempo de reverberação elevado.
Diculdade de comunicação verbal e alto
desconforto acústico.
Fonte: Foto – João Parucher
No Brasil não temos norma de recomendação para TR em salas de aula, no entanto, a American
Speech-Language-Hearing Association (ASHA) e a American National Standards Institute (ANSI)
dos EUA, estabelece como TR ideal para classes, 0.4 à 0.7segundos com S/R de + 15dB. Para volumes
até 283m a ANSI recomenda um TR de 0.6 segundos e salas com volume entre 283 m e 566 m, o
TR de 0.7 segundos.
Pode parecer técnico em excesso, mas, com o uso de material absorvente no teto e localizando a
sala de aula em área pouco ruidosa, consegue-se atingir estas condições. Ruído de fundo elevado
e tempo de reverberação produzem efeito adverso no processo de aprendizado. Crianças entre 6
e 13 anos exigem um maior nível sonoro na comunicação. Crianças pequenas o menos atentas
que os adultos, exigindo ambientes muito tranqüilos e com ótimas condições de audição e com-
preensão da palavra, principalmente aquelas que tenham problemas de aprendizado ou distúrbios
comportamentais.
133
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
A s A l A d e M ú l t i p l o s U s o s
Considerada como sala curingasob a ótica funcional, ela aparece no programa de escolas como
uma sala para abrigar qualquer atividade complementar como música, interpretação, dança, reunião
de pais, etc. Em acústica, a diversidade de uso em um mesmo ambiente não é considerada uma boa
proposta porque, de acordo com a fonte e o tipo de atividade, as solicitações relativas ao som serão
diferentes. Por exemplo, o tempo de reverberação para a fala e para a música em um mesmo volume
de sala é diferente. Um saxofone e uma pessoa cantando têm intensidades diferentes. A voz humana
falada está contida em uma faixa de freqüência menor que a faixa de freqüência de um instrumento
musical. Então, de certo modo, será o uso da música que predominará na decisão acústica de uma
sala de múltiplo uso. Essas diferenças se reetem na seleção de materiais de revestimento, que pre-
cisam atender ao TR, materiais de vedação, que devem ter STC elevado de modo a evitar a vibração
das superfícies e, com isso, barrar a transmissão do som, no detalhamento de piso, portas e janelas
e na localização da sala que deverá car afastada das chamadas salas universais ou qualquer outro
ambiente que requeira maior grau de privacidade.
gi n ás i o
O ginásio esportivo é uma fonte de ruído expressiva para a escola e sua vizinhança sempre que está em
atividade. Sua localização deverá facilitar o acesso de visitantes e o seu escoamento, sem que perturbe
outras atividades que ocorram simultaneamente na escola. Na proposição, três questões precisam ser
solucionadas antecipadamente: o controle da reverberação que será alta devido à volumetria, a redu-
ção da transmissão sonora para o exterior que deverá ser compatibilizada com a ventilação natural,
assim como o ruído gerado pelo uxo de pessoas.
É possível reduzir a propagação do som no interior do ginásio com o emprego de baes (que são
xados sobre a estrutura metálica que sustenta a cobertura) e com o uso de material absorvente na
parte mais alta das paredes.
Sua localização deve ser afastada do setor pedagógico e de outros ambientes que necessitem de maior
privacidade. No entanto, podem-se abrigar salas sobre o ginásio, desde que a laje intermediária tenha
elevado STC I e a atividade não exija nível sonoro muito reduzido. Na relação vertical entre os am-
bientes deve ser adotado um espaço tampão, que pode ser utilizado como depósito ou circulação.
AU d i t Ó R i o
O auditório é a expressão máxima da acústica porque nele o conjunto de princípios físicos for-
ma das superfícies, o isolamento e a reverberação combinados e bem solucionados o tornam um
ambiente adequado para os diversos tipos de atividades que possa vir abrigar. Nele, o arquiteto
identica que o desenho nasce a partir dos três conceitos físicos e que a especicação dos mate-
riais, assim como sua distribuição no ambiente, interferirão no resultado sonoro nal do recinto.
É um dos poucos espaços em que os projetistas reconhecem ser necessário o conhecimento teó-
rico de acústica, não para as denições do desenho e especicações, como para a escolha do
sistema de refrigeração do ar, cuja velocidade não deve gerar ruído na sala da iluminação articial
e de sonorização.
É projetado de modo que o seu TR atenda à fala e à música respectivamente, e o desenho do teto
favoreça a distribuição do som por todo local. A necessidade de difusão do som interage com as so-
luções plásticas dos painéis difusores, e a curva de visibilidade complementa tecnicamente o espaço.
O isolamento aos ruídos externos é imprescindível ao bom funcionamento da sala para a qual o NC
recomendado pode ser visto na tabela abaixo.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
134
Local dB(A) NC – Critério de ruído
Grandes auditórios e teatro 25 - 30 20 - 25
Pequenos auditórios, salas de
conferência, pequenas salas de
apresentação
30 - 35 25 - 30
Tabela 2.3 – Valor dB(A) e NC recomendados em ambientes de escolas
Fonte: ABNT,NBR 10152/2000
Semelhante ao ginásio esportivo, o auditório tem vida própria no edifício podendo ser utilizado em
horários simultâneos com as atividades de ensino. Por isso, mais uma vez, citamos a inuência na
denição do percurso do uxo de pessoas e da carga e descarga que atuarão como fonte de ruído.
Fig.2.33 – Auditório com paredes em tijolo maciço, placas
absorventes, teto direcionando o som
Fonte: Educational Facilities 1995-96,
The American Institute of Architects Press
Fig. 2.34 – Aplicação de placas difusoras
na parede lateral, curva de visibilidade
acentuada.
Fonte: Foto Carolina Serra
o pá t i o
Quando nos referimos ao ambiente escolar não podemos ignorar que este é constituído por seus
espaços internos e externos, entre os quais reconhecemos no pátio um dos locais que marcam o
edifício de ensino.
Nos grandes centros urbanos, com a transformação da rua, a perda dos quintais na habitação unifa-
miliar, o adensamento excessivo e as modicações comportamentais da sociedade que se reetem na
segurança, a cada dia é mais comum a permanência por um longo tempo das crianças nas institui-
ções de ensino. Com isso, para muitas delas, o pátio da escola é o único espaço externo seguro para
exercerem diversas atividades recreativas e pedagógicas em que a psicomotricidade, a cognição e a
socialização são desenvolvidas (FEDRIZZI, 2002, FERNANDEZ & ELALI, 2008)
39
.
No entanto, na maioria das escolas brasileiras, o pátio é compreendido apenas como local transitó-
rio, em que as crianças usam no momento em que não têm aula. Espera-se de um pátio bem pro-
jetado que ele propicie a integração entre os alunos, estimulando a socialização e, com isso, o com-
partilhamento. Seu dimensionamento, materiais, multifuncionalidade de equipamentos e espaços
associados ao desenho permitirão maior ou menor envolvimento entre os alunos, não esquecendo
que a densidade elevada levará a stress e conitos (ELALI, 2003)
40
.
135
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
Fig 2.35 – Diversidade de áreas e materiais em um pátio para ensino fundamental
Fonte: http:// ecoprojecto.edu, consulta em 07/06/2008
Levando em consideração tais aspectos em que educadores, psicólogos e paisagistas reconhecem no
pátio uma área essencial ao pleno desenvolvimento infantil, em que a comunicação verbal é estimu-
lada como parte do seu processo de desenvolvimento, o som propagado no seu interior não pode ser
inibido. Por isso mesmo, sua localização, seja o pátio coberto ou descoberto, será sempre o primeiro
fator a ser considerado no momento da sua proposição. Pátios cobertos são mais reverberantes devi-
do às múltiplas superfícies de reexão. Sempre que possível, deve-se empregar material absorvente
no teto e reduzir as superfícies verticais de modo que se reduza o excesso de reexão do som.
es p A ç o s d e l e i t U R A e bi bl i o te c A s
Cada escola, com a especicidade de séries que atende, terá uma variação na escala da biblioteca.
Nas edicações que abrigam a pré-escola, o cantinho da leitura contido no grande espaço da sala de
aula pode ser compreendido como a escala inicial. Em seguida esse espaço vai sofrendo modica-
ções e se converte na área da biblioteca conforme tradicionalmente a reconhecemos. De qualquer
forma, esse é um espaço que requer muita sensibilidade na sua proposição e na solão da sua arqui-
tetura de interiores.
Espaços de leitura que podem ser integrados
visualmente e sonoramente à natureza, produ-
zem uma atmosfera mais relaxante e favorável
à prática da atividade. Quando são obrigados a
um maior grau de connamento imposto por
um entorno ruidoso, é necessário que também
se controle a reverberação de forma que não haja
excesso de reexão no seu interior. Um espaço
de leitura deve ser rico de opções de mobiliário
para os seus usuários. Com isso, o uso de estofa-
dos, almofadas e forrações no piso contribuirão
para a proposição de ambiente mais aconche-
gante e menos reverberante. Para a área admi-
nistrativa da bibliotecária, assim como a área
para estudos em grupo, pode-se adotar a solução
de boxes transparentes, ou, se opacos, comple-
mentados com visores que tenham boa capaci-
dade de isolamento, com absorção no teto.
Fig. 2.36 – Roda da leitura na sala de aula. Tratamento de piso
diferenciado no local auxilia na identidade do espaço e na acústica
Fonte: Educational Facilities 1995-96, The American Institute of Architects Press
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
136
Fig. 2.37 – Canto da leitura, o uso de material absorvente no
piso torna o local mais aconchegante e auxilia no controle da
reverberação
Fonte: Educational Facilities 1995-96, The American Institute of
Architects Press
Re F e i t Ó R i o s e co z i n h A s
Refeitórios são categorizados como espaços de vivência, o que signica área de convívio e socializa-
ção, além de cumprir a sua função básica como espaço de alimentação. É um espaço conjugado ao
pátio coberto e à cozinha de onde provêm os alimentos que serão servidos aos alunos. A integração
ao pátio favorece os dias de evento em que a escola recebe visitantes e necessita de maior acomoda-
ção de pessoas. Alguns arquitetos integram o refeitório ao espaço de eventos, exibilizando seu uso.
Justamente por ser uma área de convívio, é necessário que se observe as condições de reverberação,
de forma que o ambiente não se torne sonoramente incômodo e inóspito. Como uma prevalência
de materiais rígidos recomendados para atender às solicitações de higiene dos ambientes e facilitar a
sua manutenção, será necessário aplicar como recurso a absorção no teto ou, então, adotar superfície
vazada nos fechamentos de forma que, com a difração do som, as reexões sejam reduzidas. O NC
recomendado é 35 – 45 o que nos dá uma variação de 40 -50 dB (A).
Fig. 2.38 – refeitório em espaço multiuso
Fonte: Educational Facilities 1995-96, The American
Institute of Architects Press
Fig. 2.39 – refeitório de uma escola padrão do Rio
de Janeiro
Fonte: www.skyscrapercity.com, consulta em
10/10/2008
Na cozinha, por abrigar um número menor de pessoas, e por ter volume inferior ao refeitório, não
necessidade de empregar materiais absorventes, o que, de algum modo, seria inadequado por
causa do vapor propagado na zona de cocção.
Uma leitura sobre a obra de Louis Kahn auxiliou na visão crítica do papel da escola tanto na for-
mação do arquiteto como na sua atuação prossional, e reforçou a sua escolha ao ser inserida neste
trabalho para análise. Para o arquiteto, a instituição é denida do seguinte modo:
137
CAPÍTULO 02
ArquiteturA escoLAr
[...] A razão inicial da “instituiçãoé de importância ca-
pital, pois o são as características atuais que importam,
uma vez que estas nos dão a indicação de necessidades
passageiras. O consenso geral é o sinal daquilo que subsiste
apesar das acometidas do tempo. Quando um edifício não
obtém essa aprovação e suas formas não possuem qualida-
des indiscutíveis, a arquitetura, conquanto obedeça suma-
riamente a uma função, é insuciente para resolver todos
os problemas que se lhe apresentam; ela deve ir além dos
dados do programa e tornar-se tão exemplar quanto uma
instituição.[...] A na instituição, com o que tal noção
tem de incondicionado, origina-se do mesmo espírito que
inspira o arquiteto que leva a sério sua missão.
41
[...]
No próximo capítulo, aplicou-se um questionário cujo objeto de investigação é a representação da
acústica para estudantes de arquitetura e arquitetos no projeto de escola. Relacionou-se alguns as-
pectos do projeto escolar neste capítulo com a intenção de mostrar que mesmo sem ser especialista é
possível e imprescindível pensar o som em todas as fases do projeto; ou como nos diz Kahn, “ir além
dos dados do programa. Em especial, o que se defende é que ele seja considerado desde o estudo
preliminar, a partir da implantação, evitando correções tecnicamente possíveis, mas de custo exor-
bitante. As respostas obtidas poderão nos esclarecer se há, hoje em dia, uma maior consciência por
parte daqueles que projetam que a acústica não pode ser negligenciada.
NOTAS
138
1
SOUZA, ROSA F. Templos de Civilização; a implantação da escola primária graduada no estado
de São Paulo: ( 189-1910). São Paulo: Fundação UNESP, 1998. p.122.
2
SOUZA, op. Cit. p.123;
3
BARRADAS, N. L. F. Arquitetura Escolar Carioca: Edicações Construídas entre 1930 e 1960.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura) PROARQ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
2005, p.20 e 29.
4
TEIXEIRA, A. S. O sistema escolar do Rio de Janeiro, D.F. Rio de janeiro: Departamento de
Educação da Diretoria Geral de Instrução Pública p. 39.
5
NUNES C. A escola redescobre a cidade: reinterpretação da modernidade pedagógica no espa-
ço urbano carioca – 1910-1935. Niteroi, RJ, UFF. p. 120.
6
Escola platoon -- O sistema “platoonera constituído de salas de aula comuns e salas especiais
para auditório, música, recreação e jogos, leitura e literatura, ciências,desenho e artes indus-
triais; e o seu funcionamento dava-se pelo deslocamento dos alunos, através de “pelotões, pelas
diversas salas, conforme horários pré-estabelecidos.
7
OLIVEIRA, B.S. – A modernidade ocial: A arquitetura das escolas públicas do Distrito Federal
(1928-1940) Dissertação de mestrado, USP, 1991, p.190.
Grifo nosso nos princípios de salubridade e conveniência, que podem ser relacionados a acústica.
8
Escola padrão - Teresa Rosolem de Vassimon é a autora do projeto arquitetônico, que adota a
verticalização e a concepção modular. O objetivo, segundo a arquiteta, é oferecer uma estrutura
física moderna, mais ampla e funcional, com ambientes especiais para leitura, vídeo, informáti-
ca e áreas para lazer e esporte.
9
OLIVEIRA, B. S, op. cit.,
10
CLAVAL,Paul. A geograa Cultural. Florianópolis: Editora da UFSC, 1999.p.189
11
ESCOLANO, Agustín. La arquitectura como programa. Espacio-Escuela y currículum in Histo-
ria de La educacion. Salamanca: Edições Universidade de Salamanca. 1993-4.
_____ e VIÑAO FRAGO, A., Currículo, espaço e subjetividade: a arquitetura como programa.
Tradução: Alfredo Veiga Neto. Rio de Janeiro:DP&A, 1998.
12
LIMA, M. M. S. A cidade e a criança. São Paulo: Nobel. 1989
13
KAHN, Louis Conversa com estudantes, Barcelona: Gustavo Gilli, 2002, p.31.
14
Ibidem KAHN, op. Cit. p. 21.
15
Ibidem, KAHN, op. Cit. p. 31.
16
GONZÁLES, V. E. G.; PÉREZ, J. M. L. Estudio de inteligibilidad en aulas de navarra. In: Proc. of
the Int. Forum Acusticum Sevilha, Sevilha, 2002.
17
Paisagem sonora é uma terminologia estabelecida e utilizada por M. Schafer para denir o som
que nos rodeia resultante de desenhos espontâneos ou pré-concebidos do meio construído e/
ou natural. M. Schafer é músico e desde os anos 70 desenvolve pesquisa sobre sons, percepção e
ambiente.
18
PEDRAZZI, T.; ENGEL, D.; KRÜGER, E.; ZANNIN, P.H.T. Avaliação do desempenho acústico
em salas de aula do Cefet – Pr. In: ENCAC, Florianópolis, 2001.
NOTAS
139
19
FERNANDES A. G.; VIVEIROS, E B. Impacto do ruído de tráfego em edicações escolares:
uma metodologia de avaliação para o planejamento urbano. In: XX Encontro da SOBRAC, II
Simpósio Brasileiro de Metrologia em Acústica e Vibrações – SIBRAMA, Rio de Janeiro, 2002.
20
ZANNIN, P.H.T. et all. Ambiente urbano e percepção da poluição sonora. Ambiente e socieda-
de, vol. 8, nº2, Campinas, Julho / dezembro 2005
21
dd –indica dobro da distância
22
NELSON, Peggy B. – Improving Acoustics in American Schools, Language, Speech, And Hea-
ringServicesInSchools•Vol.31•389–390•October2000
23
KRYTER, K.D. e eects of noise on man. Menlo Park: Academic Press INC., 1985. p.37
24
DOMENÈCH, F. D. Arquitectura acustica , Poetica y deseño, Edicions UPC, 2002 p.38
25
STRUMPF, M.F. Acoustic in schools. e Institute for the Developement of Education & Welfa-
re Buildings. Telaviv, 1984.
26
ARIZMENDI, Luis J. Tratado Fundamental de Acústica en La Edicacion, Pamplona, EUNSA,
1980.
JOSSE, R La Acústica en la Construcion, Ed. Gustavo Gilli SA, Barcelona, 1975
27
NEUTRA, R; in SCHIMID, A. L. A idéia de conforto – reexões sobre o ambiente construído.
Curitiba, Pacto ambiental, 2005 p.99
28
BONDUKI, N – Aonso Eduardo Reidy, São Paulo, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi 1999
29
NBR – norma brasileira
30
FOCILLON, Henrry A vida das formas, Lisboa: Edições 70, 1997, p.8.
31
MONTANER, Josep Maria As formas do século XX, Barcelona: Gustavo Gilli, 2002, p.10.
32
KAHN, Louis I. Forma y Deseño, Ed. Nueva Visión 2003, p. 8.
33
GONZALES e PEREZ – op.cit.
CARBONE, C.; MERCANTI, A. Evaluation of acoustic treatment carried out in school canteens
in the municipality of Rome. In: Proc. of the Int. Euronoise Naples, Itália, 2003. p. 1-5.
34
STC – Sound Transmission Class ou Classe de Transmissão Sonora
35
PERKINS, L.B. Elementary and secondary schools. USA. Wiley & Sons. 2001
36
Na maioria dos ambientes de ensino, o mais importante para a exata percepção da fala não é
isoladamente o valor do nível de ruído do local e sim a relação entre a intensidade do sinal( fala)
e a intensidade do ruído local. Esta relação é referida como sinal/ruído (S/R). Por exemplo, um
ambiente muito bom para ensino teria um S/ R + 12dB, ou seja, o nível de intensidade da voz de
um emissor ( professor ou aluno) estaria acima do ruído de fundo, 12 dB.
37
SEEP, B.; GLOSEMEYER, R.; HULCE, E.; LINN, M.; AYTAR, P. Acústica de salas de aula. Re-
vista de Acústica e Vibrações, n. 29, 2002.
38
STRUMPF, M.F. Acoustic in schools. e Institute for the Developement of Education & Welfa-
re Buildings. Telaviv, 1984.
NOTAS
140
39
FEDRIZZI, B. (2002). A organização espacial em pátios escolares grandes e pequenos. In V. Del
Rio, C. R. Duarte & P. A. Rheingantz (Orgs.), Projeto do lugar: Colaboração entre Psicologia,
Arquitetura e Urbanismo (pp. 221-229). Rio de Janeiro: Contra Capa.
FERNANDES, O.S.; ELALI, G.A. Reexões sobre o comportamento infantil em um pátio esco-
lar: o que aprendemos observando as atividades das crianças. Paidéia (Ribeirão Preto) v.18 n.39
Ribeirão Preto 2008
40
ELALI, G. A. O ambiente da escola: O ambiente na escola: Uma discussão sobre a relação
escola-natureza em educação infantil. Estudos de Psicologia, 8(2), 309-319. 2003.
41
GIURGOLA R. e MEHTA, J : Louis I . Kahn, São Paulo, Martins Fontes, 1994 – (coleção arqui-
tetos)
141
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
3 A AcústicA nA coMpReensão de estUdAntes
e ARqUitetos
A partir da hipótese que os arquitetos não consideram a acústica como condicionante essencial
no processo de concepção do projeto, adotou-se realizar um trabalho investigativo junto ao grupo
de estudantes e arquitetos, a m de compreendermos o modo como as questões sonoras são, por
eles, entendidas. Como principio metodológico adotamos a coleta de dados por entrevistas e
questionários, posteriormente analisados objetivando a compreensão do modo como este grupo
reage à inclusão da acústica no processo projetual.
3.1 Me t o d o l o g i A
O trabalho foi conduzido segundo a metodologia de pesquisa qualitativa, que é uma tentativa de
compreensão detalhada dos signicados e características situacionais apresentada pelo entrevistado
1
( RICHARDSON, 1999)
Dividimos a metodologia em duas partes:
Revisão teórica• visou o aprofundamento dos temas relacionados ao objeto estudado através
da realização de uma pesquisa bibliográca e eletrônica nos campos da acústica, arquitetura,
psicologia ambiental e do método qualitativo de pesquisa.
Pesquisa de campo• objetivou a compreensão do problema através de pesquisa com um
grupo especíco, composto por estudantes e prossionais da arquitetura selecionados para
responder o questionário. Esta pesquisa visou o esclarecimento das questões consideradas
importantes para a constatação do problema.
Organizamos três tipos de questionário: um especíco para a equipe de professores de ensino do
projeto, em que as perguntas abertas foram aplicadas sob a forma de entrevista diretiva
2
. Outro,
voltado para os alunos e um terceiro com entrevista diretiva aplicada a um grupo de arquitetos. O
questionário foi estruturado por perguntas abertas e fechadas.
Estruturou-se o questionário seguindo as orientações contidas em Richardson (1999).
Mesmo conhecendo os limites do emprego deste instrumento de pesquisa, a sua principal
vantagem é a obtenção de informações por um mero expressivo de pessoas em um tempo
relativamente curto.
Nossa grande preocupação relacionava-se à veracidade das respostas. Seriam os entrevistados, ou
os respondentes dos questionários, verdadeiros em suas respostas, ou estes apenas expressariam
o que o entrevistador gostaria de ouvir? (BAUER & GASKEL, 2002)
3
Por isso evitamos durante a
construção das perguntas a abordagem direta sobre o som, decidindo desenvolvê-las a partir de um
objeto arquitetônico para assegurar a idéia ressaltada por Bauer e Gaskel:
a amostragem, [assegura] eciência na pesquisa ao
fornecer uma base lógica para o estudo de apenas partes
de uma população [que], no entanto é necessário [para]
que haja representatividade [e] que os resultados sejam
aceitos sem contestação
4
.
os c o M p o n e n t e s p e s q U i s A
Ao decidir-se que haveria um grupo de estudantes compondo parte do grupo pesquisado, e ao
vericarmos que no município do Rio de Janeiro temos sete Instituições de ensino que oferecem
o curso de arquitetura, estabelecemos nosso recorte da população respondente a partir de duas
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
142
imposições prévias: alunos que tivessem cursado a disciplina conforto acústicoe, simultaneamente,
na disciplina de projeto, o tema, arquitetura de escolas.
Entretanto, ao analisar as grades curriculares das instituições, vericamos que tanto no Instituto
Metodista Bennet como nas Universidades Estácio de , Santa Úrsula e PUC a disciplina de
conforto acústico é ministrada independentemente do período em que é oferecida a disciplina
projeto escolar.
Vericou-se que o tipo de população que queríamos selecionar para compor a mostra de estudantes
encontrava-se apenas nos cursos de arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ/
FAU e Universidade Gama Filho - UGF, nas quais o tema - arquitetura de escolaé ministrado
após o termino do conteúdo básico de conforto ambiental, onde se insere a acústica, no qual são
também abordados os aspectos térmicos e visuais do projeto. Ressaltamos também, que na disciplina
Conforto Ambiental 2” da FAU/ UFRJ, são introduzidas as primeiras noções de acústica do curso
de arquitetura.
Apesar da coincidência do tema e de período, nas duas Instituições, o número de alunos inscritos
e de professores ministrando a disciplina é superior na FAU/UFRJ. E em virtude de, no período de
nossas entrevistas, existirem no quinto período do curso da FAU/ UFRJ seis turmas da disciplina
PAIII – Projeto de Arquitetura III, com doze alunos em média, nosso foco restringiu-se aos limites
do curso ministrado nesta Instituição, por ser referência no ensino de arquitetura e conformar um
grupo signicativo para nossa análise.
Logo, tanto os alunos como professores, participaram da pesquisa no término do primeiro
semestre letivo, imediatamente após a entrega da etapa nal do projeto da escola. Este foi um
momento adequado para a formulação das respostas, pois todos ainda estavam com o processo do
desenvolvimento do projeto presente em suas memórias. Dos setenta questionários distribuídos,
recebemos cinqüenta e três respondidos.
Ao todo foram onze arquitetos entrevistados, e este grupo compôs-se de seis professores de projeto e
de cinco arquitetos selecionados a partir da sua produção. Todos têm escritórios ativos no município
do Rio de Janeiro e já projetaram escolas. Neste grupo incluem-se arquitetos de distintas gerações,
cuja experiência prossional, por si só, já justicava a escolha.
A F o R M U l A ç ã o d A s q U e s t õ e s
O questionário aplicado aos alunos tem, inicialmente, perguntas abertas objetivas sobre o trabalho
desenvolvido na disciplina de projeto. Um questionário similar foi dirigido especialmente aos
professores, objetivando compreender se, no discurso referente à prática do ensino de projeto, a
acústica está presente. Porém, as questões abertas foram aplicadas sob a forma de entrevista diretiva
aos onze arquitetos: professores e não professores. Os três grupos, complementando a série de
perguntas, respondem a três perguntas fechadas relativas à prática de projeto. No entanto, os alunos
têm acrescentado aos seus questionários duas perguntas fechadas abordando interdisciplinaridade.
As questões abertas, aplicadas aos alunos, compunham-se de perguntas relativas às suas intenções
e resultados obtidos no trabalho prático desenvolvido durante o período letivo, sublinhado pelas
diculdades enfrentadas, e pelo conteúdo interdisciplinar explorado. Intencionou-se obter respostas
reveladoras sobre o entendimento do projeto para um edifício de ensino, bem como a denição das
prioridades adotadas no seu desenvolvimento.
Para reforçar a importância da interdisciplinaridade, elaboramos questões fechadas, organizando as
opções de resposta em escala de atitude
5
, de modo que, a princípio, o aluno reconhecesse entre as
disciplinas aquelas que mais o ajudaram no desenvolvimento do projeto. Em seguida, com intuito de
identicarmos se a questão sonora é reconhecida e priorizada no projeto fora dos padrões técnicos
143
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
tradicionais, desenvolvemos questões baseadas em situações ou em elementos relacionados ao
projeto onde, indiretamente, a inuência do som deveria ser percebida.
Finalmente, vinham as armativas relativas à setorização, dimensionamento, e materialidade,
onde a opção para as respostas restringia-se à concordância ou à discordância. Em cada uma das
armativas, subliminarmente há um principio acústico que inui na qualidade do ambiente.
O questionário destinado aos professores foi organizado de modo análogo ao realizado com os
alunos. Os encontros foram individuais e as respostas às questões gravadas. Ao término da gravação,
os professores preencheram o formulário referente questões de múltipla escolha. As questões
formuladas aos professores da disciplina de Projeto de Arquitetura III tiveram como o condutor
cinco questões relativas ao trabalho desenvolvido no atelier.
3.2 os Re s U l t A d o s
3.2.1 o q U e s t i o n á R i o A p l i c A d o A o s A l U n o s
as quatro questões aBertas
Conforme anteriormente explicado, foram elaboradas quatro questões a m de que, a partir de suas
respostas, pudéssemos reconhecer quais eram os elementos signicativos, para os alunos, adotados
da concepção ao desenvolvimento do projeto de um edifício escolar.
O primeiro passo da analise visou a compreensão critica do sentido empregado nas respostas e a
identicação do signicado de algumas expressões subjetivas. Em seguida, como metodologia de
análise, as respostas produzidas por este grupo foram organizadas por categorias. Adotamos esta
técnica, sugerida por Bardin
6
(1977), a m de reduzir o volume de informações obtidas. Através de
palavras-chaves, compreendemos o signicado aferido pelos alunos.
Como inicialmente explicamos, o grupo de estudantes cursava o quinto período do curso de
graduação em arquitetura e desenvolviam durante o semestre um projeto para uma escola de
primeiro e segundo graus, referenciada no programa do Colégio de Aplicação da Universidade
Federal do Rio de Janeiro – CAP- UFRJ.
3.2.1.1 As R e s p o s t A s à s q U e s t õ e s A b e R t A s
As respostas à questão 1A : “Qual a meta de um projeto de edifício para o ensino?” revelaram que,
para os estudantes, este tipo de projeto deve atender a objetivos situados nos mais diversos campos
que, a partir das palavras chave extraídas do próprio texto por eles produzidos, proporcionou a
organização das quatro categorias a seguir:
1 categoria técnico-funcional
No campo da arquitetura a função é, para um edifício, um elemento vital. É justamente através
da função, do caráter do uso de um objeto arquitetônico que o arquiteto estabelece sua primeira
comunicação com o cliente, solicitante de um projeto, assim tornando-se sua função geradora.
Tratando-se da condição primeira de um edifício, com o caráter de uso que expressa as necessidades
e condições que o tornam habitável (MARTINEZ 2000)
7
.
A idéia de função não é simples. A função pode ser objetiva ou subjetiva. Existem vários tipos
inter-relacionados de funções, tais como as necessidades práticas ou materiais dos ocupantes de
um edifício, a expressão funcional da construção, as necessidades psicológicas de seus ocupantes
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
144
a função social e a função simbólico-monumental da arquitetura. O funcionalismo é associado
geralmente aos dois primeiros: “necessidades práticas ou materiais dos ocupantes de um edifício” e
a expressão da construção.
8
( ZURKO 2005)
Os termos ou as expressões: “prático, acessível, seguro, integrado, inclusivo, adequado para
a atividade de ensino, que tenha boas condões espaciais, boas condições ambientais,
escala adequada, conforto térmico e conforto acústicoforam por eles expressas para definir
a meta a ser alcançada no projeto. Mas qual seria o significado destes termos ou expressões na
linguagem projetual?
Entendemos que ter um edifício prático como meta, expressa o desejo de criar um objeto de fácil
manutenção, adequado a sua atividade m, cuja planta se componha por circulações lógicas e
bem denidas, facilitando a leitura do objeto arquitetônico concebido. O termo adequado também
incorpora outro citado que também se refere à necessidade de ter um objeto arquitetônico, uma
escala adequada. Isto quer dizer que ter um edifício bem dimensionado implica em possuir
“boas condições espaciais adequadas a todas as atividades de destino de seus usuários. O que se
visa à possibilidade de um edifício ter as condições favoráveis de acessibilidade, noção também
sinônima de “inclusivo. Um edifício inclusivo é aquele que previamente foi pensado para o abrigo
e uso, interno e externo, e com segurança por alunos com limitações físicas. A segurança é
também associada à relação do edifício com seu entorno. Os muros, os portões, as boas condições
de visibilidade interna e externa ao edifício associam-se à segurança tanto para as escolas como para
todos os outros tipos de edicações. No entanto, outra meta a ser atingida no projeto é a de que a
segurança não deva prejudicar a “integraçãodo edifício, fato que pode ocorrer na relação entre o
interior e o exterior de duas maneiras quer intramuros, quer extramuros.
Quanto ao aspecto ambiental, no qual a acústica se insere, as colocações do grupo foram distintas.
respostas genéricas objetivando as condições ambientais no projeto para o edifício escolar. Ou seja,
o projeto deve contemplar boas condições térmicas através de trocas térmicas favoráveis resultantes
das reações dos materiais construtivos, envolvendo, não apenas as condicionantes ventilação e
insolação, como também a boa condição de iluminação natural a m de proporcionar ao usuário as
condições ideais no desenvolvimento de atividades de escrita e leitura, entre outras, em ambientes
adequados às condições sonoras dentro dos padrões recomendados.
Existem também as respostas cuja meta projetual foi o conforto, ou indicaram as condições de
conforto que, na primeira leitura, podem ser entendidas como uma expressão da arquitetura de
interiores, embora paulatinamente conrmem que também relacionam-se ao conforto ambiental
em função das combinações contidas no texto, como por exemplo: a meta foi conseguir ter o
conforto associado à plástica do edifício ou então ter conforto no projeto conseguindo boa
insolação e evitando ruídos”, além dos que explicitamente utilizaram o termo conforto térmico e
conforto acústico.
Entretanto a armativa de que a meta de um projeto para o edifício de ensino era ser funcional
é em geral expressa de forma signicativa. Esta repetição nos permitiu então estabelecer várias
combinações com os seguintes pares declarados: “funcional e acessível, funcional e agradável,
funcional e confortável, funcional e interessante, funcional e diferente. O termo funcional foi
compreendido como um atributo técnico rígido do projeto necessitando ser complementado por
outro que expressasse as sensações dos usuários.
2 categoria sensação/vivência
Esta segunda categoria de respostas relacionou como meta para o projeto, os aspectos subjetivos
derivados de situações por eles vivenciadas e que, em seu entendimento, são signicativas para os
usuários. Considerando a relação homem-espaço, o edifício construído deixa de ser visto apenas
por suas características físicas (construtivas) e passa a ser avaliado e ou discutido como espaço
145
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
experenciado, quer dizer aquele que é sujeito à ocupação, à leitura, à reinterpretação e modicações
pelos usuários (ELALI, 1997)
9
.
Os aspectos subjetivos são aqueles considerados por Malard (1993)
10
como os captados pela
composição dos materiais, das cores, das texturas e das formas do ambiente, em conjunto com
as condições térmicas, acústicas, lumínicas e dimensionais vivenciadas no espaço congurado,
caracterizando os aspectos comportamentais.
Assim, ao selecionarmos os termos desta categoria decidimos por: aconchegante”, “acolhedor,
confortável, agradável” e “bem-estar” presentes em quase todas as respostas, e entendemos
que para a maioria dos estudantes é imprescindível que o projeto seja prazeroso aos sentidos dos
usuários. Os seus signicados, vericados nos dicionários da língua portuguesa
11
, expressam
sentidos análogos, traduzindo “necessidade de estar amparado sicamente, sem tensões ou stress.
No entendimento de Nogueira (2005)
12
,
(...) a reão do homem diante de um sistema espacial
arquitetônico é uma das molas-mestra que deveria
prevalecer e mover a construção de um edifício. O sentir”
e “vivenciar” os espaços para os leigos é a condão de
fruição real para terem uma visão mais completa, da
percepção e concepção dessa realidade espacial.
Para Alvar Aalto (1982)
13
uma arquitetura pensada para não resolver os problemas psicofísicos do
espaço, mas seus problemas formais por exemplo, é contra o homem, é reacionária. Cabe ao arquiteto
estar atento a tudo que está em torno do homem e às suas necessidades. Portanto, intencionar uma
arquitetura confortável, reete a preocupação do prossional com as condições de bem estar físico e
emocional do homem o que tem inuência de seis fatores: luz, cor, som, aroma, textura e forma, os
quais para GAPPELL (1995)
14
terão grande impacto no psicológico como no físico humano.
Neste conjunto de fatores que exercem inuência direta sobre o humano, o som representa
um papel de extrema signicância, relacionando-se diretamente com a forma e a textura dos
ambientes, bem como nas dimensões espaciais e os materiais utilizados em sua execução como
ressaltou MALARD (1993)
15
.
Apesar de no primeiro momento o contato com as expressões subjetivas empregadas nas respostas
não exibirem claramente a intenção almejada no projeto, foi nesta categoria de respostas que
vericamos as preocupações relativas aos usuários, por parte dos alunos.
3 categoria motivação
A arquitetura, segundo Louis Kahn: (2003)
16
(...) não consiste meramente em cobrir as áreas prescritas
pelo cliente. É na criação de espaços que evoca o
sentimento de uso adequado (...). Concebo a escola como
um meio ambiente constituído por espaços nos quais se
pode estudar satisfatoriamente (...). Reita então sobre
o signicado de escola, em contraste com uma escola ou
instituição (...) o espírito Escola, a essência da vontade de
ser – é o que o arquiteto deve expressar com seu desenho.
Esta teoria de Khan sobre a importância de se compreender a essência de um tema projetual foi
vericada num grupo de respostas manifestas através de expressões ou princípios que objetivem,
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
146
no projeto, o estimulo de seus usuários, ou propicie: o interesse dos alunos”, o aprendizado,
a criatividade, a boa formação do indivíduo, o ensino, reconhecendo que o edifício deva
cumprir um papel, e que este é a expressão de sua função social.
Um pensamento que se complementa através a idéia de Norberg-Shulz, quando arma que: “O meio
projetado, cumpre um m na comunicação entre os homens: cria expectativas, guia o pensamento e
o comportamento, desilude ou satisfaz” (NORBERG-SHULZ, 2001)
17
.
O projeto para um edifício escolar é intrínseco a sua própria proposição com complexas solicitações.
Entretanto aquela que melhor relaciona a proposta pedagógica à edicação se traduz no o condutor
para a concretização nal do objetivo central, embora sejam as soluções espaciais arquitetônicas
aquelas que melhor representarão as respostas positivas, ou as negativas, por parte dos usuários.
Quer dizer, um ambiente que se constitui pelo emprego técnico de cores, luz, som e vegetação e
na resposta emocional que estes oferecem terá grandes possibilidades de estimular seus usuários
a vivenciar o espaço de modo positivo, e estabelecendo, por isso, um canal de comunicação entre
todos, favorecendo o envolvimento dos alunos na participação dos eventos promovidos pela escola.
No entanto, parte deste processo de integração entre o edifício e o usuário pode ser rompido se,
acusticamente, o meio for repulsivo.
É importante ressaltar que a percepção dos sons integra o processo pedagógico dos alunos.
Conseguir distinguir sons, perceber os sons da natureza, ter condições de estabelecer a comunicação
verbal em níveis sonoros adequados faz parte do processo de formação do aluno. O ruído diculta
substancialmente a concentração, comprometendo o interesse dos alunos e, conseqüentemente, a
qualidade do ensino. É imprescindível que desde a concepção projetual, isto é, da fase inicial do
projeto, as fontes sonoras nocivas sejam bem identicadas e, de modo criativo, o arquiteto exerça o
controle na fonte ou no meio de propagação do som.
4 categoria exPressão/linguagem
Em outro grupo de respostas, encontramos as palavras: com plasticidade, diferente”,
“interessante, com identidade de fácil entendimento para expressar o que eles queriam
alcançar com o objeto proposto. Entre elas, as palavras criativo e convidativo se repetiram em
diversos questionários indicando a preocupação dos alunos em produzir algo novo, mas com
capacidade de atrair pessoas.
As idéias manifestam-se e se exteriorizam por meios como a fala, a escrita e o desenho, e signos aos
quais identicamos como linguagem. Assim como a lingüística, esse sistema simbólico, no viés da
semiótica ou da semiologia, é também utilizado no campo da arquitetura para se compreender o
signicado de seus objetos: os edifícios. A linguagem apresenta variações de acordo com as culturas
das sociedades no tempo e, por ser evolutiva, está sempre sujeita a transformações. Assim, através
dos símbolos procura-se aproximar o objeto da idéia. Embora não exista uma lógica taxonômica
neste processo, uma vez que a interpretação de idéias contenha o componente subjetivo além
de variar com o tempo, esta linguagem deverá ser clara, a m de se constituir como um veículo-
mensagem da própria idéia.
A reexão sobre o signicado do espaço construído para edifícios escolares implica em inicialmente
observar que ele pode ser apreendido se relacionado a um status diferente, ou seja, que ele é
proposto para ser assumido como um espaço para a formação e para a produção do conhecimento,
independente das condições que possa representar: público, especializado, superior, fundamental,
entre outros. Analisar o espaço escolar é, de certo modo, entender os sentidos que deverão ser
despertados nos usuários e vericar de que maneira suas proposições espaciais e formais serão por
eles compreendidas, como explica Elvan Silva:
147
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Para o uso corrente basta entender que a percepção espacial
é, fundamentalmente, um ato sensorial, decorrente da
resposta provocada por estímulos visuais, auditivos
18
,
táteis e sinestésicos presentes nos elementos da expressão
arquitetônica [...]. Em tais condições, conclui-se que ao
arquiteto compete, na realidade, descrever com precisão
a forma a ser construída; sua particular concepção do
espaçose materializará no efeito produzido pela forma
arquitetônica, e carece de signicado pela forma.
(SILVA, 1983)
19
.
A escola é investida de valores que são simbolicamente construídos por duas dimensões que lhe
dão amplo sentido. A primeira refere-se à sua contribuição com o desenvolvimento intelectual do
cidadão valor de base e a segunda refere-se à estrutura emocional dos alunos, na qual o som
atua signicativamente. Por estes motivos, os edifícios não são objetos indiferentes ou neutros, ao
contrário, eles inserem-se na paisagem urbana cotidiana dos indivíduos, na imagem da cidade e,
conseqüentemente, na própria imagem da escola que poderá ser convidativa, interessante, diferente,
como expuseram os estudantes entrevistados sobre suas intenções projetuais.
O edifício escolar é a manifestação de uma linguagem para a contemplação dos transeuntes. Razão
pela qual os estudantes entrevistados expressaram que tinham como meta projetual criativa conceber
um edifício de fácil entendimento, dotado de plasticidadee com “identidade.
Essa imagem metafóricaé aquela que comunica a função, o signicado plástico e icônico do edifício,
tanto para seus usuários como para os transeuntes, armando sua presença no contexto no qual se
insere, o que suscitará no publico em geral sentidos que variarão de acordo com a aparência geral do
objeto e sua sonoridade. Ou seja, a arquitetura se manifesta por sua localização no tecido urbano,
por sua materialidade através da cor, da textura, da transparência, da opacidade, da geometria e pela
dinâmica do todo que o objeto deseja comunicar, no qual se inserem os sons.
Questão 1 B - o traBalho realizado atingiu seu oBjetivo?
Para os estudantes entrevistados responder esta questão não foi muito confortável. Esta formulação
os obrigou a reetir sobre o que produziram durante o semestre letivo, reconhecer até que ponto
avançaram no campo do conhecimento, seu ritmo de produção e as circunstâncias que os levaram
ao produto nal. De qualquer modo, tiveram que vericar os atributos utilizados que os zeram
realizar corretamente ou não seu projeto.
Algumas respostas foram referentes ao exíguo tempo do período letivo para realizar o trabalho,
cumprindo os prazos estabelecidos pelos professores da disciplina como fator de impedimento à
qualidade do projeto realizado.
Para parte dos alunos, que perseveraram até o nal, a sensação de ter alcançado o objetivo do projeto
se conrmou ao terem conseguido cumprir plenamente o programa, adotando como foco especial
os alunos, atores de todas as decisões empregadas e, para os quais as proposições priorizavam
estimular o convívio.
Outro grupo de respostas considerou a funcionalidade do edifício como o fator de alta expressividade
na conquista da meta nal. Para estes, as soluções consideradas adequadas como,a setorização,
a relação espacial entre os ambientes, a denição das circulações, o dimensionamento dos
ambientes, a ventilação, a iluminação natural, a integração do edifício com as áreas livres e a
detalhada análise do entorno, foram os fatores que os auxiliaram concretizarem satisfatoriamente
suas propostas. Houve também aqueles que consideraram importantes a resolução das questões
térmicas do edifício, observada desde sua orientação, na fase de implantação, até as soluções
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
148
plásticas adotando elementos de sombreamento nas fachadas., o que lhes fez reconhecer o
resultado positivo do seu projeto, pois para eles, adequou a solução formal às necessidades do
conforto ambiental, incluindo o conforto lumínico.
Outro aspecto apontado como objetivo do projeto foi a forma. Bem resolvida para alguns, mas
frustrante para outros. Neste grupo, o uso da cor se insere como um dos aspectos da forma. Em
relação aos signicados, alguns ressaltaram “ter conseguido dar identidade ao edifício. Para
outros este alcance se realizou justamente por terem desenvolvido espaços de fácil compreensão,
agradáveis e diferentes”.
Entretanto, quanto à acústica, de extrema signicância neste tipo de arquitetura, observou-se a
partir das respostas que não foi objeto de interesse desses estudantes do curso de arquitetura. O uso
do som no espaço escolar jamais foi mencionado, nem explorando os sentidos dos usuários, nem
sobre seu controle, quando os níveis sonoros atingirem patamares insuportáveis.
De um modo geral, referem-se ao conforto ambiental, entretanto essa abordagem é facilmente
identicável como relativa às condições climáticas do local.
Questão 1 C Qual a maior difiCuldade enfrentada por voCês durante o
desenvolvimento do projeto?
A diculdade inicial relatada foi a de atender todos os itens do programa proposto. Para alguns,
o desao foi manter a taxa de ocupação determinada e dimensionar de modo coerente os espaços,
de modo que se adequassem aos usos, respeitando a legislação. A segunda diculdade se relacionou
à proposição formal que deveria car coerente com o conceito proposto e, este, por sua vez, com
o uso da edicação. A forma deveria ser inovadora, icônica, integrando o ginásio ao corpo
do edifício principal, conciliando as escalas”.
O ginásio de esportes é, por alguns, identicado como uma fonte de ruídos. Houve aqueles que se
referiram explicitamente à diculdade em localizar corretamente o ginásio a m de evitar que a
escola casse exposta a barulhos”.
No entanto, para vários interrogados a diculdade localizava-se na organização dos setores e no
modo de integrá-los. Isto é, como resolver as circulações de maneira que os percursos fossem os
menores possíveis para que o edifício fosse adequado à escala da criança e de sua acessibilidade?
Alcançar as condições de conforto é o constante desao apontado, quer para orientar o edifício
no terreno, quer para resolver plasticamente as proteções das fachadas, atendendo às necessidades
térmicas de todos os ambientes. Ao conforto, somam-se a questão da integração do interior com
o exterior, solucionando adequadamente o paisagismo, integrando-os as questões pedagógicas
exigidas pelo projeto. Para tanto, foi necessário um expressivo número de horas de trabalho
a m de obterem resultados satisfatórios. Razão pela qual o tempo para a elaboração do projeto foi
ressaltado como o grande obstáculo a ser vencido.
Questão 1 d Quais foram os aspeCtos interdisCiplinares por voCê Considerados ao
desenvolver seu projeto?
Como explicamos anteriormente, nossas entrevistas realizaram-se com alunos cursando o
quinto período do curso de arquitetura e urbanismo. Neste estágio, possuem no conjunto das
disciplinas cursadas, razoável representação de todos os departamentos da faculdade. Logo, ao
formularmos nossas questões, o intento era vericar o modo como interligavam as informações
obtidas nos períodos anteriores e as do período em curso com sua produção no atelier de projeto
de arquitetura.
149
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Nas respostas vericamos que parte dos discursos anteriores se repetia, ao descreverem os desaos
enfrentados para atingir a bom termo seu projeto. Embora o destaque da relação interdisciplinar
sobre o conforto ambiental fosse quase unanimemente apontado, não reconheceram a acústica como
parte da disciplina, nem tampouco sua importância, sobre a qualidade do ambiente construído. Com
os fatores térmicos, mostraram grande preocupação em tornar o edifício confortável. Quer dizer,
para a maior parte dos entrevistados há uma ruptura entre o conforto térmico, o que privilegiam, e o
acústico, porque, talvez, julguem que deva ser solucionado à posteriori.
O termo conforto ambiental é utilizado de maneira genérica, indicando a intenção de atingir
níveis adequados de iluminação natural e ou articial, de cores que favoreçam à reexão da luz e
à sensação térmica, às condições de temperatura e umidade, compatíveis ao clima e às estações do
ano nos trópicos, em utilizar materiais adequados às trocas de calor que ocorrerão no meio, em
explorar adequadamente a ventilação natural através de modelos de aberturas e suas disposições nas
fachadas, a utilização de ventilação mecânica ou ar-condicionado quando necessário.
Quanto ao universo sonoro, muito poderia ser explorado no campo sensorial. É importante que se
entenda o som, inicialmente, como algo positivo, rico em informações subjetivas que podem auxiliar
no processo educacional.
Desta maneira, a arquitetura também é capaz de mostrar o que não é realmente visível, e despertar
associações do que não tínhamos consciência antes. Se conseguirmos produzir uma arquitetura
que seja capaz de incorporar diferentes níveis, de tal modo, que as diversas realidades, tal como
encontradas nas diversas camadas da consciência, possam ser reetidas no projeto, então o
ambiente arquitetônico poderá visualizar essas realidade e dizer algo “sobre o mundo” aos usuários.
(HERTZBERGER, 1999).
20
As outras disciplinas também citadas foram os “sistemas construtivos e estruturais. O que foi
pertinente, tendo em vista que, no quinto período, eles adquiriram o conhecimento das técnicas
construtivas, sobre os materiais e compreenderam como interage a estrutura com a forma da
edicação.
Nesta fase, aprendem as propriedades dos materiais de construção e seus respectivos papéis na
construção do edifício, suas propriedades acústicas de isolamento do som subdivididas em isolamento
do ruído aéreo e o do impacto, segundo nossa explicação no capitulo anterior. No caminho, entre a fonte
sonora e o receptor, muitas soluções podem ser dadas para reduzir a transmissão sonora. Além disso,
os materiais m propriedades de absorver e reetir o som incidente sobre as superfícies. Portanto,
quando o projetista dene os materiais, em parte, ele está criando a ambiência sonora do edifício.
Sobre a disciplina paisagismo, responderam que a partir do trabalho prático desenvolvido nos
ateliês, conseguiram compreender e visualizar as soluções que favoreciam a maior integração do
interior com o exterior do edifício. Sob a ótica da acústica, esta disciplina possibilita aos estudantes
aplicar conceitos sonoros que estão relacionados ao uso da vegetação, da terra e da água. Estes
aspectos possibilitam a exploração do caráter sensorial do edifício nos jardins, hortas, equipamentos
recreativos das áreas de lazer, nas fontes ou espelhos dágua, locais nos quais o som sempre estará
presente de alguma forma.
3.2.1.2 As q U e s t õ e s F e c h A d A s
Conforme citamos anteriormente, elaboramos questões fechadas, voltadas inicialmente, para uma
identicação parcial do conteúdo curricular e em seguida questões voltadas para o projeto.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
150
Questão 2 a e 2B ClassifiQue o grau de importânCia das disCiplinas a agora
cursadas, seus resultados soBre o Projeto e aquelas que você considerou
imPortantes e ou muito imPortantes, indicando três , e assinalando o dePartamento
que as oferece.
Tendo em vista que ambas as questões são complementares, as respostas foram então analisadas em
conjunto.
Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ as disciplinas se organizam dentro da estrutura
de seis departamentos, a qual, apesar das diversas critica recebida, ainda se mantém. Estes
departamentos são: Análise e Representação da Forma DARF; de Estruturas DE, de Tecnologia
da Construção DTC—, de Historia e Teoria DHT, de Projeto de Arquitetura DPA e o de
Planejamento Urbano e Regional — DPUR.
Os estudantes, ao ingressarem no quinto período, já tiveram experiências com disciplinas de
todos os departamentos da FAU, adquirindo com isso uma visão crítica dos conteúdos nelas
desenvolvidos. Nosso particular interesse era detectar se, tanto a disciplina de conforto ambiental,
como o departamento ao qual pertence correlacionavam-se, com o modo como os entrevistados
expressavam esta correlação. Constatamos que o DHT foi o departamento apontado pelos
estudantes como aquele no qual inexiste qualquer interface com o projeto; o DARF, o DE e o DTC
foram considerados importantes por reconhecerem que o conteúdo das disciplinas oferecidas por
estes departamentos são aplicáveis na prática do projeto nos ateliês.
Na escolha das disciplinas oferecidas por estes três departamentos, a única, cuja escolha foi quase
unânime, foi o Conforto Ambiental I e II, seguida de Processos Construtivos, ambas oferecidas pelo
DTC. As duas disciplinas escolhidas guardam estreita relação com a acústica, apesar de não ter sido
mencionada a interdisciplinaridade entre elas e o projeto.
O DPA foi, para os entrevistados, considerado o departamento mais signicativo, não somente por
abrigar um conjunto de disciplinas práticas Projeto de Arquitetura I à V além das complementares
obrigatórias e optativas — nas quais efetivamente aplicam e reúnem o conhecimento adquirido nas
disciplinas de outros departamentos, nos projetos que desenvolvem nos semestres do curso. Além
desta experiência, o DPA lhes é importante por entenderem que nele se conjugam as atividades m,
características da prossão do arquiteto: a reexão sobre o ato de projetar.
Departamento
Sem
importância
Pouco
importante Importante
Muito
importante
Freqüência
média
Número de respostas
DPA 5 48 3.90
DARF 7 25 21 3.26
DTC 9 26 18 3.16
DE 13 25 15 3.03
DHT 5 26 19 3 2.86
Quadro 01 - Grau de importância dos departamentos de acordo com os alunos entrevistados
151
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Quadro resumo das respostas:
As questões fechadas relativas ao projeto de escolas aplicadas aos alunos
As três últimas questões fechadas relacionaram-se, diretamente, ao projeto de escola. No capítulo 2,
apresentou-se grande parte da teoria de projeto sobre o tema, relacionando-a a teoria da acústica,
de forma que auxiliasse na leitura crítica das respostas dadas a estas questões. Para que as respostas
não cassem vagas, sem um respaldo teórico, após a apresentação do quadro de respostas, foram
acrescidas observações referentes aos elementos componentes das perguntas.
Questão 2 C em sua opinião em Que medida os proBlemas aBaixo relaCionados
têm influênCia na Qualidade do espaço esColar? — opções de resposta: muito,
médio,Pouco, sem imPacto.
Escala de
avaliação
Muito Médio Pouco
Sem
impacto
Freqüência
média
Número de respostas
Ofuscamento na
sala de aula 44 7 2 0 3.8
Ausência de área
verde 38 11 4 0 3.6
Circulações
longas 16 26 11 0 3.0
Falta de
privacidade na
sala 14 25 11 3 2.9
Uso de telha
metálica simples 16 20 13 4 2.8
Cores
inexpressivas 8 27 17 1 2.6
tio de
recreação
central 7 23 20 3 2.6
Ausência de
estacionamento 3 5 30 15 1.9
Quadro 02 - problemas arquitetônicos e sua inuência na qualidade do espaço escolar
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
152
Graf. 3.1 – freqüência média das respostas dos alunos
Justicando a formulação da pergunta
A questão sobre os problemas relacionados à concepção espacial e suas inuências na constituição
da qualidade do espaço escolar iniciou a série de perguntas aos entrevistados. A interpretação do
conceito de qualidade na arquitetura foi descrita por NOGUEIRA( 2005)
21
como sendo aquela que
[...] apreendida em um edifício refere-se ao conjunto de
propriedades e características que satisfaçam as exigências
programáticas, explícitas ou implícitas, requisitadas por
seu usuário principal [...] ela é também a resposta do
sistema de espaços de um edicio adequado às atividades
exercidas no interior de um objeto arquitetônico,
construído com perfeição e precisão ligadas a sua própria
existência.
As exigências relativas ao sistema de espaços inserem-se nos itens elaborados para as entrevistas.
A sua formulação privilegiou sobretudo, os problemas projetuais organizados em dois grupos ,nos
quais o som adquire no primeiro, importância substancial e, no segundo, relativa. No primeiro
grupo as questões se identicam com aquelas do próprio conteúdo básico da disciplina acústica, na
qual se atrelam a constituição material de uma edica纺ão e as necessidades acústicas decorrentes.
São eles:
circulações longas, •
falta de privacidade na sala de aula, •
o uso do pátio de recreação central, •
ausência de área verde, •
uso de telha metálica simples•
Cabe informar que o item área verde representa área externa arborizada, com solo não pavimentado,
dependente das dimensões do lote.
153
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Os demais itens que não estabelecem uma relação tão direta com o som são:
ofuscamento luminoso na sala de aula,•
paredes revestidas com cores inexpressivas,•
ausência de estacionamento. •
A teoria relativa a cada item que compõe as perguntas
Os cinco problemas nos quais vericamos uma relação signicativa com o som são identicados
no conteúdo básico de acústica. Os alunos do quinto período dominam parte desse conteúdo,
mesmo que não tenham cursado a disciplina eletiva “ conforto acústico.
Como eles, ou os prossionais, podem associar o conteúdo de acústica ao desenvolvimento do
projeto? A explanação que se segue está relacionada especicamente a esta questão e procura
mostrar a interface entre acústica e projeto. As demais perguntas componentes do questionário
serão apresentadas da mesma forma.
oBservões teóricas relativas a questão 2c.
Primeiro grupo de respostas : fatores mais relacionados ao som
1 corredores longos
As circulações compõem o sistema distributivo dos edifícios, sendo um elemento signicativo no
estudo funcional. Os grandes percursos connados tornam os deslocamentos monótonos, pouco
atrativos, exaustivos e ruidosos conforme exposto no capitulo anterior. Dependendo das proporções
adotadas e dos materiais decididos para o revestimento, o resultado sonoro pode ser neutro ou
incômodo. Por exemplo, com uma gargalhada ou com o som emitido pelo tipo de sapato com o qual
se circula, o resultado sonoro poderá ser suciente para perturbar o meio. O excesso de reexão
poderá ser reduzido quando for possível adotar materiais absorventes no teto ou em parte das
paredes laterais, apesar disto, o desconforto físico permanecerá. O deslocamento cotidiano através
destas circulações provocará reações sonoras difíceis de serem controladas por seus usuários e tanto
as crianças quanto os adultos, de algum modo, manifestarão este desagrado. Embora seu aspecto
negativo seja melhor identicado pelos alunos muito mais pelo aspecto da acessibilidade, do que
propriamente do sonoro. O fato é que a adoção das extensas circulações resultará em conseqüências
nefastas para o edifício.
2 falta de Privacidade nas salas
A privacidade é uma necessidade vital para o bom funcionamento de uma escola. Salas sem privacidade
permitem que os sons dos ambientes vizinhos sejam ouvidos, do mesmo modo que o som propagado
no seu interior é ouvido por estes. Quanto maior a clareza do som percebido nos espaços contíguos,
piores serão as condições de privacidade do ambiente. Ambientes de ensino que, em geral, adotam
anteparos de meia altura são exemplos de como a baixa privacidade interfere conforto sonoro desses
locais. Os professores são obrigados a falar alto porque os sons dos espaços vizinhos invadem o seu
ambiente de trabalho e, ao mesmo tempo, travam uma luta constante para manter a concentração dos
alunos nas atividades desenvolvidas em classe. Tecnicamente, a baixa privacidade está diretamente
relacionada ao índice de isolamento do ambiente. Ele varia de acordo com o desenho da superfície,
com a característica do material empregado nos fechamentos e com a tipologia das esquadrias.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
154
Lamentavelmente a privacidade não foi um item considerado pelos estudantes como relevante à
qualidade do espaço, o que demonstra pouca associação da acústica à rotina de uma sala de aula
na compreensão do projeto. Nas salas de aulas, nos auditórios, nas salas de orientação educacional,
entre outros, a privacidade é fundamental para seu funcionamento pleno. É ela que garante que sons
provenientes das conversações, do canto, dos instrumentos musicais e das caixas de som quem
restritos aos ambientes ao qual são destinados, gerados, sem interferência, nos espaços vizinhos. A
privacidade é justamente o item que nos detém no estudo e reexão exaustiva na composição dos
setores, nas distâncias entre os ambientes que atuam como fonte sonora ou como receptores de som,
nos percursos das instalações de ar-condicionado, nos modelos de esquadrias, espessura das paredes
de vedação e lajes de piso e teto. Parece que a privacidade foi interpretada como condição oposta
à integração. Como na primeira questão aberta, a integração é considerada meta de projeto por
muitos alunos, crê-se que este mesmo grupo não entende que a falta de privacidade é tão importante
quanto a integração no projeto e ambas podem e devem ser objetivo nos projetos.
3 quanto ao uso de telhas metálicas simPles
As telhas, como sabemos, podem ser utilizadas com ou sem forro abaixo delas. Comumente são
adotadas como cobertura de pátios ou em ginásios, sustentadas apenas por treliças metálicas. No
campo sonoro este material, altamente reexivo, cuja velocidade do som sobre ele é muito mais alta
que no ar, ao receber qualquer estímulo sonoro, propagará com muita facilidade o som incidente,
criando ambientes altamente reverberantes. Aqueles que tiveram a experiência de um período com
chuvas intensas, abrigados sob um espaço cuja cobertura foi executada com telhas metálicas simples,
não terão duvidas sobre o grave problema acústico, causado pelo som das águas sobre a cobertura.
O metal, por ser um excelente condutor sonoro, facilitará a propagação do som, que poderá atingir
níveis sonoros acima de 80 dB. Mesmo tendo conhecimento deste problema, os entrevistados apenas
associaram as telhas com recheio de poliuretano à redução térmica da transmissão calor. No entanto,
as telhas com recheio garantem a qualidade térmica e acústica dos ambientes construídos.
Foi interessante observar que, para os entrevistados, a ausência de áreas verdes traz para o projeto
piores conseqüências do que o uso de telhas metálicas simples. O que nos leva a crer que desconhecem
o desempenho deste material. Uma vedação em alvenaria apresenta um isolamento de cerca de 40
dB, enquanto a telha com recheio isola cerca de 15dB do som incidente e a telha metálica simples
não oferece condições de isolamento.
A utilização de forro, caso seja adotado no projeto, reduzirá parcialmente o ruído. Porém, por
existirem outros caminhos de penetração do som propagado além do teto, será imprescindível
vericar todas as possibilidades de entrada e/ou saída do som.
4 Pátio de recreação central
Conforme abordamos no capítulo anterior, num programa de necessidades para uma escola,
sobretudo aquelas destinadas ao ciclo fundamental, o pátio é um dos itens fundamentais solicitados.
Ele é considerado o espaço para a descontração plena, é o lugar no qual ocorrem as manifestações
espontâneas, por isto sua localização deverá prever que a atividade nele desenvolvida não interra
sonoramente nos outros ambientes.
A localização centralizada auxilia no controle visual dos estudantes, no entanto, seguramente
ocasionará perturbações sonoras na sua vizinhança imediata durante os momentos de recreação. Se
for coberto, o som será reforçado pelas reexões sobre o teto, aumentando seu tempo de permanência
no meio, ocasionando um ambiente ainda mais barulhento.
Uma vez que, comumente, este espaço é utilizado para ensaios de festas da escola, atividades físicas
complementares e, por vezes, aulas ao ar livre, esta opção pode criar restrições quanto ao horário e o
tempo de uso do pátio de forma que não interra nas atividades pedagógicas.
155
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
A relação entre as dimensões do pátio e altura do edifício deve ser considerada - quanto mais alto for
o edifício, maior será a diculdade para o som se extinguir em função das múltiplas reexões sobre
as superfícies internas.
Curiosamente, os entrevistados manifestaram-se apontando que o uso do pátio central tem pouca
inuência na qualidade do projeto, colocando-o no mesmo patamar das cores inexpressivas,
aparentando pouca reexão sobre os aspectos acima mencionados.
5 ausência de área verde
Caso o terreno de uma escola não tenha área suciente para a inclusão de área verde ou se, por opção
do projetista, este não quiser adotá-la no programa de necessidades, a sua ausência não impede que
haja qualidade acústica no edifício. Este item tem expressão quanto ao valor que lhe é atribuído por
parte dos usuários, principalmente nas áreas urbanas. As áreas externas, quando são parcialmente
pavimentadas com área gramada, reduzem a reexão do som sobre o piso externo. O uso de cercas
vivas, ou renques de árvores, ajudam a ltrar parte do som, mas não são barreiras signicativas para
ruídos de intensidade elevada. Gerges (2000)
22
conclui que para uma atenuação de 2 dB em 1kHz é
necessário uma área com alta densidade de árvores à dez metros de distância da fonte e com uma
largura igual a vinte metros. Quando a grama for densa e houver folhagens no solo, essa atenuação
pode aumentar para 4 dB. A vegetação, mesmo oferecendo pouca atenuação sonora em função da
área que ocupa, pode servir como barreira visual, ocasionando um efeito psicológico mais favorável
ao receptor. Tem um efeito razoável na ambiência sonora do meio urbano pelos efeitos da absorção e
do mascaramento. Desempenham a mesma função de um revestimento absorvente quando aplicada
sobre o solo ou faces da edicação atenuando os sons agudos.
Para a maioria dos entrevistados, este é um fator de grande signicado. Quer pelo aspecto mais
humanizado que as áreas verdes podem conferir ao edifício, tornando a paisagem exterior mais
atrativa e envolvente, ou pelas correções climáticas que elas podem oferecer ao objeto arquitetônico
agindo, sobretudo, na proteção da insolação Apesar de propiciar momentos de percepção do vento
através da sonoridade das folhas e galhos em movimento, dos pássaros atraídos pelas espécies
vegetais, ou quando utilizada como revestimento de pisos e paredes externas reduzindo, como
explicamos anteriormente, parte da reexão dos sons incidentes, ainda assim é incorreto interpretar
que as massas verdes reduzirão os sons de grande intensidade se não estiverem associadas a distâncias
consideráveis. As áreas verdes são bem-vindas na integração entre o espaço exterior e o interior,
entretanto, sob o foco da acústica, é possível pensar um edifício acusticamente excelente sem que
este seja dotado de áreas verdes. No entanto, como a arquitetura exige um pensamento sensorial
pleno, a vegetação é muito expressiva aos cinco sentidos.
Segundo grupo de respostas : fatores menos relacionados ao som
Os outros problemas propostos, embora não se relacionem de forma muito signicativa com a
acústica do edifício, são elementos ainda expressºivos para a qualidade do projeto de espaço para
ensino. São eles:
6 ofuscamento da sala de aula
Fenômeno relacionado à luz natural ou articial, o ofuscamento produz um alto incômodo visual
quando detectado em áreas de trabalho. É provocado pelo excesso de luz derivada da incidência
direta do sol sobre o plano de trabalho ou do uso inadequado de uma luminária.
Considerado, pela maioria dos respondentes, como o item de maior relevância para que o espaço
escolar tenha qualidade, é reconhecido pelos estudantes como fator de alta inuência nos ambientes
podendo atuar negativamente na execução de todas as tarefas pedagógicas.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
156
Como a visão é dominante no processo de ensino e aprendizado contemporâneo, nada mais coerente
que o ofuscamento seja selecionado como o problema mais importante. Porém, esta resposta deveria
ser seguida imediatamente do problema relacionado ao som a privacidade. Anal vivemos em
uma sociedade áudio-visual, em que a imagem desprovida de som não tem impacto. Ao assistirmos
a um documentário sobre arquitetura, sem som, ou sem imagem, a nossa imaginação produzirá a
complementação necessária, de forma certa ou errada.
7 cores inexPressivas.
A maioria das respostas indicou que este fator tem pouca relevância e inuência na qualidade
do espaço, no que discordamos inteiramente. Embora as cores para alguns, seja exclusivamente
decorativa, elas exercem uma inuência psicológica nos usuários, inuindo no aumento ou na
diminuição do nível de estimulo do aluno no ambiente. Kandisnsky
23
arma que a cor provoca uma
vibração psíquica. E associa esta vibração ao eco ou ressonância de um instrumento musical cujas
cordas agitadas por um outro instrumento vibram por sua vez. Para ele, o olho está associado a
todos os outros sentidos.
8 ausência de estacionamento
Dependendo da localidade em que a escola será inserida e do número de funcionários que tem, este
é um problema que causará grande impacto na funcionalidade do projeto. Este item foi considerado,
entre todos, o menos relevante para a qualidade do espaço escolar.
O estacionamento interfere acusticamente no edifício de ensino se estiver mal localizado. É
necessário que na implantação ele se posicione longe das salas de aula ou de outro ambiente cuja
atividade exija maior concentração. No entanto, a sua inexistência não garante que ruídos de veículos
não interram na escola. É preciso considerar a característica do tráfego das vias circunvizinhas, as
localizações destas em relação ao lote, os afastamentos da edicação e o posicionamento das suas
aberturas. Dentre as opções propostas, considerar a ausência de estacionamento pouco signicativa
é concebível, anal ela não compromete as condições básicas para o bom uso e funcionamento da
edicação.
Questão 2 d Considerando a fase do estudo preliminar do seu projeto, ClassifiQue
Por ordem de imPortância os asPectos aBaixo (sendo 1 o mais imPortante e 8 o menos
imPortante)
Sem mencionar diretamente o som, se confortável ou desconfortável, selecionamos oito fatores dos
múltiplos a serem observados por arquitetos no desenvolvimento de um projeto, entre os quais o
som constava explicitamente a m de vericar como os entrevistados valoravam nele a signicância
da acústica.
Assim em um universo de elementos possíveis selecionamos oito importantes na organização inicial:
o sentido da via de tráfego, a insolação, as árvores frutíferas existentes no terreno, a topograa, as
fontes sonoras oriundas do entorno, os ventos dominantes, a legislação edilícia e urbanística e as
edicações no entorno imediato.
O quadro 03 nos dá o resumo das respostas, nos mostrando o modo de compreender a acústica,
pelos entrevistados.
157
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Escala de
importância 1 2 3 4 5 6 7 8
Elementos de
inuencia Número de respostas
Insolação 33 16 1 1 1 1
Fontes sonoras
pertencentes
ao entorno 4 21 8 10 5 1 4 0
Ventos
dominantes 3 10 17 3 5 5 5 5
Topograa 8 1 5 10 4 10 7 7
Edicações
existentes
no entorno
imediato 2 2 6 9 19 6 5 4
Sentido da via
de tráfego 1 0 8 4 5 12 11 12
Árvores
frutíferas
existentes no
terreno 1 0 4 4 9 6 14 15
Legislação 4 3 10 8 6 11 6 5
Quadro 03 - Ordenação dos elementos de inuência no estudo preliminar do projeto
oBservões teóricas relativas à questão 2d.
Sentido da via de tráfego
O sentido da via de tráfego guarda estrita relação com o local do projeto, pois denirá a distribuição
dos acessos à edicação. Estes demarcam os pontos de transição em que se passa de um sistema
espacial urbano ao arquitetônico, e inuirá diretamente na decisão para a distribuição funcional do
edifício escolar. Entre as opções de resposta, o sentido da via de tráfego não é signicativo quando
correlacionado à acústica.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
158
Árvores frutíferas existentes no terreno
A preservação das espécies vegetais existentes no local do projeto é sempre um desao para o
projetista. Árvores frutíferas têm valor paisagístico e nalidade pedagógica neste tipo de edicação.
Se existem em grande quantidade, formando uma massa arbórea, auxiliam na absorção do som, na
puricação do ar, e contribuem na formação de áreas de sombra.
Fontes sonoras pertencentes ao entorno
Colocamos explicitamente em um dos itens o som como um dado para avaliação dos respondentes,
e, de acordo com a sua pontuação, poderemos averiguar se ele é expressivo para o projetista.
Reconhecemos como fonte sonora a interferência do tráfego rodoviário, ferroviário e metrô, o
tráfego de aviões, atividades comerciais geradoras de ruídos, assim como outras. A legislação
urbana, através do zoneamento, previne a salubridade do local que receberá a escola, coibindo
atividades produtoras de ruído muito próximas ao terreno, e estabelecendo valores máximos para o
ruído de fundo. No entanto, é preciso considerar que a escola é também fonte sonora, desta forma as
edicações existentes no entorno imediato carão sujeitas aos ruídos provenientes desta edicação
do mesmo modo que esta cará sujeita aos ruídos produzidos no entorno.
Edicações existentes no entorno imediato
Esse item, em particular, é muito rico no que se refere às suas inuências, pois não apenas traduz
a interferência sonora através das reexões sobre as superfícies externas dos elementos que
compõem o entorno em conjunto com os sons produzidos pelas edicações, como também inui
no sombreamento, no bloqueio dos ventos, no calor irradiado e na visão da paisagem produzida por
estas construções, entre outras.
Os edifícios, assim como a topograa, podem cumprir o papel de barreira acústica e bloquear parte
dos sons provenientes do entorno.
Topograa
A topograa também se relaciona com o som de modo particular. Como ele se propaga de forma
ascendente, terrenos em altura cam mais sujeitos aos sons de longa distância. Por outro lado,
de maneira oposta, terrenos em declive cam dentro uma zona de sombra sonora, podendo car
resguardados de ruídos provenientes das vias de tráfego e construções localizadas em pontos mais
altos. No entanto, a topograa tende a ser vista, inicialmente, como um fator de localização da
edicação, raramente sendo considerada como um fator correlacionado ao som.
Ventos dominantes
Os ventos dominantes reetem inicialmente uma preocupação climática e relacionam-se diretamente
ao conforto térmico do edifício. No entanto, a localização de uma abertura pode ser excelente para as
entradas de vento e a circulação do ar, e desastrosa quanto à acústica, principalmente se o entorno for
ruidoso. O primeiro reexo de defesa, por parte do usuário, será fechar a abertura, comprometendo
a ventilação do ambiente.
Insolação
É compreensível que em um clima tropical o sol seja priorizado no projeto, de modo que seja evitado
o aquecimento excessivo dos ambientes de maior permanência. Podemos desenvolver diversos
dispositivos de sombreamento, plasticamente interessantes para o edifício para serem empregados
em fachadas que cam sujeitas à uma insolação inadequada. No entanto, quando identicamos no
terreno uma zona sujeita a ruídos intensos, mesmo que tenha uma insolação favorável, o melhor que
fazemos é evitar ou reduzir ao máximo os vãos abertos para esta direção. Seria uma falha de projeto
159
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
permitir que grandes aberturas em salas de aula quem voltadas para uma insolação privilegiada,
mas expostas aos ruídos do entorno, se estes atingem níveis inadequados. É mais fácil criar elementos
compositivos para proteger a edicação da incidência do sol, que dos ruídos...
Legislação
Existe um conjunto de leis que submetem os projetos de escolas, mas que variam entre estados e
municípios. Essas leis, regidas no âmbito municipal, estadual e federal, referem-se a variadas
exigências que têm de ser cumpridas para que o projeto seja aprovado. A legislação, em parte,
deveria garantir a qualidade dos projetos, mas, infelizmente, nem sempre é o que vemos na prática.
No nosso município, em particular, temos um código de posturas confuso e pouco eciente. No
código de obras e edicações, leis e decretos, denem o é que permitido na construção ou no meio
urbano. No âmbito da acústica, as normas não contemplam todos os ambientes de uma projeto,
desta forma, caberá ao projetista ter sensibilidade e conhecimento para propor adequadamente as
soluções. No município do Rio de Janeiro, o código de zoneamento da cidade permite a construção
de escolas em ZR1 zona estritamente residencial. Nesse caso a legislação é falha porque ignora a
escola como fator de impacto ambiental na área que será implantada.
comentando as resPostas dos estudantes relativas a questão 2d
Destacaram-se como os elementos mais relevantes para o projeto seguindo a ordem de
importância: a insolação, as fontes sonoras e os ventos. Em seguida, da quarta a oitava
classicação, isto é, os menos importantes: topograa,os edifícios existentes nas vizinhanças, o
sentido das vias e as árvores.
Vários entrevistados manifestaram-se sobre a possibilidade de pontuar mais de um elemento como
o mais importante, pois para eles, a insolação, as fontes sonoras e os ventos seriam selecionados
com o mesmo grau de importância. Como esses três elementos interferem e sofrem interferência do
entorno, a opção edifícios existentes no entorno imediato, ao se posicionar no quinto lugar da escala
de importância, demonstra que não há compreensão da relação entre a edicação e as características
ambientais do entorno. Não podemos ignorar que os edifícios fazem sombra, que seus usuários
produzem sons agradáveis ou desagradáveis, bloqueiam ou permitem a circulação dos ventos
Surpreende a legislação não se rmar em nenhuma opção denitiva. Ela não chega a ser subestimada
pelos respondentes, no entanto, entre as escolhas, reete a dúvida dos estudantes em reconhecê-la
como parte do projeto. Em parte, isso demonstra que elementos que dependem de regulação na
arquitetura, como a acústica, o sol e os ventos cam um pouco à margem do conjunto. De modo
geral, na arquitetura européia, para exemplicar, o rigor do cumprimento das exigências relativas à
edicação impostas aos arquitetos faz que estes priorizem a legislação tanto nos projetos prossionais
quanto nos acadêmicos. A norma ISO International Organization for Standardization - Avaliação
de Desempenho em Edifícios, (ISO 6241 : 1984 Performance Standards in building Principles for
their preparation and factors to be considered e ISO 7162 : 1992, Performance standards in building.
Contents and format of standards for evaluation of performance) é um dos principais instrumentos
para que a legislação seja cumprida.
Esta indiferença também pode ser interpretada como parcial desconhecimento, por parte dos
estudantes, das diversas normas relacionadas às edicações e ao meio urbano, na qual a astica
se insere.
Na análise do conjunto de respostas, aferimos que o conteúdo de conforto ambiental é bem
assimilado pelos estudantes, exercendo forte inuência na etapa inicial do estudo projetual.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
160
Entretanto, à primeira impressão, nos pareceu que diculdades para reconhecer o som como
partícipe do projeto. Isto é, reconhecem a importância do som, no entanto não identicam de que
maneira a acústica está presente no projeto. Como o sol é mais visível, e a resposta corporal evidencia
mais rapidamente o desconforto provocado por ele no nosso clima, é compreensível que esteja em
primeiro lugar.
Questão 2 e assinale o Que pensa soBre as afirmativas aBaixo: ConCordo
integralmente, concordo Parcialmente, discordo integralmente ou discordo
Parcialmente.
Essa questão foi proposta considerando a possibilidade de concordância ou discordância das
armativas por parte dos respondentes. Nove armativas referentes a aspectos funcionais e técnicos
do edifício foram propostas. Em cada uma delas existe uma relação com o som, no entanto, em uma
primeira leitura essa conexão pode ser inibida por fatores funcionais mais explícitos. Vejamos o que
existe nas entrelinhas:
A resposta correta, sob a ótica da acústica, obteve valor quatro, a resposta incorreta valor um, e
as intermediárias três e dois. O resultado nos mostrou que do máximo de 36 pontos ao mínimo
de 9 pontos que poderiam alcançar na questão, das respostas contabilizadas, vericamos que os
respondentes atingiram o mínimo de 18 pontos e o máximo de 33 pontos.
Estabelecemos na escala de pontuação as seguintes classicações:
De 9 a 15 – BAIXA•
De 16 a 22 – REGULAR•
De 23 a 29 – BOA•
De 30 a 36 – Alta Consideração dos Aspectos de Acústica•
Essa pontuação geral nos sinaliza que há, de modo geral, por parte dos alunos participantes da
pesquisa, uma percepção razoável dos problemas que algumas decisões arquitetônicas podem
provocar. No entanto, observa-se na maioria das respostas, pouco conhecimento teórico relativo às
questões sonoras.
Opiniões
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Armativas Número de respostas
1-O edifício escolar
deve ser permeável 11 34 4 4
2-Ginásio esportivo
deve estar próximo
ao bloco de ensino 3 14 18 18
161
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Opiniões
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Armativas Número de respostas
3- As características
do entorno
inuenciam
no partido
arquitetônico 19 25 3 6
4-Ocinas, salas de
música e grêmios,
devem car
integrados às salas
tipo. 14 27 3 9
5-Na localização do
refeitório e cantina
deve ser priorizada
a redução do
percurso dos alunos
em relação às salas 8 24 7 14
6-Salas muito
profundas são
adequadas para
viabilizar uma
grande população
de alunos 1 12 29 11
7-O pátio coberto
centralizado, com
as salas à sua volta
é a melhor opção de
localização porque
favorece o controle
visual durante o
recreio ou outra
atividade 6 19 12 16
8-Revestimentos
cerâmicos no piso
e paredes são as
melhores opções
neste tipo de
edicação. 6 31 4 12
9-Pé direito acima
de 4m ajuda no
conforto acústico
das salas 9 18 15 11
Quadro 04- Escala de opiniões / atitudes.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
162
Armativas
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Pontuação atribuída a cada resposta
01 3 4 1 2
02 1 2 4 3
03 4 3 1 2
04 1 2 4 3
05 1 2 3 4
06 1 2 4 3
07 1 2 4 3
08 1 2 4 3
09 1 2 4 3
Quadro 05- Pontuação atribuída a cada resposta .
oBservões teóricas relativas a questão 2e.
O edifício escolar deve ser permeável
As conseqüências do emprego da permeabilidade, comumente adotada na arquitetura moderna
através do uso de cobogós , venezianas, ou vão livre, é bastante questionável quando se pensa o
projeto a partir da acústica. Dependendo das características do lugar no qual a escola será implantada
ou construída, seu resultado poderá ser adequado ou não. Embora a permeabilidade esteja associada
primeiramente ao uso da luz natural, aos ventos e a fruição da paisagem natural, podendo trazer
resultados interessantes para o projeto, a parceria entre ela e o som nem sempre propicia um
resultado satisfatório. Se no entorno imediato houver a ação de fontes sonoras agressivas, ela deve
ser abolida, porém, se o nível de intensidade do som do local for aceitável, ela será recomendável. No
entanto, o exercício perceptivo para o reconhecimento dos sons existentes no entorno, assim como a
medição do seu nível de intensidade, é essencial.
Essa questão, conforme citou-se anteriormente, foi proposta de modo que pudéssemos vericar se
os respondentes associam entre as armativas, situações de projeto em que o desconforto sonoro se
faz presente, e por isso devem ser evitadas.
A primeira armativa “o edifício escolar deve ser permeável” recebe concordância irrestrita de onze
alunos, demonstrando que estes ainda não associam às aberturas à possibilidade de entrada e saída
do som, e com isso, expor o edifício ou a vizinhança, aos sons ou ruídos que serão propagados no
meio. Também desconsideraram outros fatores ambientais que não foram citados, assim como
aspectos comportamentais. Para concordar plenamente, o respondente necessitaria de mais dados
descritivos sobre o local do projeto e sobre as características da edicação.
163
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
No entanto, um pouco mais da metade da população entrevistada concorda parcialmentecom a
armativa, ou seja, reconhece que por outros fatores de projeto tais como, o clima, a luz, a paisagem,
o conceito, ele pode ser permeável. Porém, existem características do lugar que impõem que esta
permeabilidade seja controlada, como por exemplo, a presença do ruído.
As respostas —“discordo parcialmente e discordo totalmentereceberam quatro votos cada. Nesta
questão, discordar totalmente de uma armativa genérica, sem ter no mínimo dados do entorno,
é radicalizar desnecessariamente. Para uma edicação proposta em clima tropical úmido, onde a
integração visual é importante, não se justica pensar o edifício negando por princípio torná-lo
permeável. Discordar parcialmente demonstra que o projetista, inicialmente, prefere um edifício
mais fechado, o que é bom para que que resguardado da inuência dos sons externos à escola, mas
péssimo para a ventilação e fruição da paisagem. Porém, tolera que ele estabeleça um maior contato
com o exterior, face a outras imposições do projeto.
Ginásio esportivo deve estar próximo ao bloco de ensino
Essa opção de vizinhança é problemática. Os ginásios esportivos são inegavelmente fontes sonoras
com inuência signicativa no entorno quando se exercem atividades em seu interior. Apitos,
ruídos do impacto de bolas sobre as superfícies, vozes, todas estas fontes isoladas ou em conjunto
reverberando produzem ruídos que ultrapassam os limites físicos do ginásio pela área de ventilação
permanente. O ginásio, é por natureza, um objeto espacial reverberante por suas próprias dimensões
e volumetria. Ele é também um objeto, que necessita de alta taxa de circulação do ar, o que implica
na adoção de grandes aberturas, facilitando o escape do som produzido internamente por atividades
esportivas ou de lazer às áreas externas.
O tratamento acústico em ginásios, através do uso de matérias absorventes é possível (PERKINS,
2001)
24
, embora o custo dessa decisão certamente seja muito alto. Para evitar este tipo de problema e
outros futuros, é importante se estudar mais demoradamente a setorização do projeto. O que é mais
correto, simples e barato.
A resposta correta seria discordar terminantemente. Do total de entrevistados, dezoito discordaram
totalmente da proposta, valor igual aos que optaram por discordar parcialmente. Contudo, não
é possível ignorar que dezessete alunos acreditam não existir problemas na questão proposta,
demonstrando que não reconhecem a inuência sonora de um ginásio sobre sua vizinhança.
As características do entorno inuenciam no partido arquitetônico
Considerando que um projeto origina-se de uma concepção abstrata, os elementos existentes no lugar
serão condicionantes para a delimitação dos limites da intervenção arquitetônica. A característica do
entorno inuenciará nas decisões formais, funcionais e técnicas do edifício. Identicar a presença do
som nesta fase projetual e associá-la ao desenho de concepção de um objeto permitirá que na relação
entre os três elementos forma, aspectos funcionais e técnicas construtivas haja equilíbrio
e, com isso, obtenha-se um objeto arquitetônico com a qualidade ambiental ideal. O diagnóstico
detalhado, considerando modicações futuras no meio urbano, precedido do desenho, evita que
ocorram modicações signicativas na edicação após a obra, a m de corrigir as falhas sonoras
(PERKINS 2001)
25
Não devemos subestimar as características do lugar. Ao contrário, precisamos aumentar a nossa
sensibilidade para seus componentes. Em parte identicamos que a indiferença ao meio vem se
reduzindo. Isso tem se modicado com o passar dos anos. Hoje compreendemos que a arquitetura
se insere em lugares que são denidos por substantivos, pela qualidade dos seus elementos, por
valores simbólicos e históricos; é ambiental e está fenomenologicamente com o corpo humano.
(MONTANER 2000)
26
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
164
Verica-se que cerca de dezenove alunos concordam totalmente que o entorno inui no partido
arquitetônico e vinte cinco concordam parcialmente. Somados, formam um grupo expressivo.
Relembrando as respostas das questões anteriores, em especial a 2D, onde estão relacionados os
elementos ambientais, os estudantes apontaram a insolação como o fator mais importante no estudo
preliminar. Por isso, é provável que, ao deterem-se na análise do entorno, tenham observado tanto
o sombreamento provocado pelas edicações, como as características sonoras do lugar. Durante a
visita feita ao local escolhido para a implantação do projeto, ao produzirem o diagnóstico da área,
costumam observar as fontes sonoras e relatar se os níveis sonoros são desconfortáveis ou não.
Lembramos que na época das entrevistas, o diagnóstico era realizado para um terreno existente na
Avenida Maracanã no bairro da Tijuca. Um local de entorno consolidado, com um canal que marca
de modo dominante a paisagem, complementado por edifícios altos e grande uxo de veículos. O
local abrigaria o projeto de uma escola de primeiro e segundo graus.
Nove respondentes, ou seja, quase vinte por cento do grupo entrevistado, discordam da armativa,
enfatizando a baixa compreensão da área na qual projetaram e sua inuência sobre o objeto
projetado.
Ocinas, salas de música e grêmios, devem car integradas às salas tipo
As salas tipo ou as salas universais são consideradas como aquelas que receberão os alunos para as
atividades teóricas cotidianas. Nelas, o projetista concentra suas atenções a m de criar um espaço
adequado e propício ao aprendizado. as ocinas são espaços para o ensino de disciplinas que
exijam equipamentos especícos para o desenvolvimento de aulas práticas. Por exemplo, em uma
escola para o ensino fundamental são usuais as ocinas de arte, que caracterizam um espaço para a
criação; em uma escola técnica, as ocinas abrigam a prática de mecânica, elétrica, marcenaria,
entre outras. Em que são semelhantes? Nos ruídos de suas atividades, que podem atingir níveis
indesejados e inadequados ao conforto acústico das escolas. O grêmio tem características
semelhantes, por ser um espaço para a livre conversação e integração social. Estes três tipos de salas
de aulas, não devem car próximos às salas universais. Isso indica que as respostas corretas devem
estar inseridas no grupo que discorda totalmente ou então naquele que discorda parcialmente. Essa
última opção é uma resposta aceitável, tendo em vista que há possibilidade das salas pertencerem ao
mesmo setor, sem que haja aproximação física entre elas.
As respostas, surpreendentemente apontaram a opção concordo parcialmente e concordo
totalmente, demonstrando a inexistência de domínio e compreensão das atividades desenvolvidas
nas salas de aulas, tampouco, a percepção dos sons produzidos nestes ambientes.
A palavra integração é muito presente na questão 1A, na qual justicaram a meta do projeto.
Portanto, parece que para a maioria dos alunos é inaceitável pensar na possibilidade de criar
ambientes não integrados, mesmo havendo perdas na qualidade dos espaços. Por outro lado, há um
reduzido número de estudantes que aceita o risco de não integrar, selecionando as armativas mais
corretas: discordo totalmente e discordo parcialmente.
Na localização de refeitório e cantina deve ser priorizada a redução do percurso dos alunos
em relação às salas de aula
O sistema distributivo de um edifício é responsável pelos uxos de homens, máquinas e equipamentos
através das zonas funcionais. Ele é uma resposta da proposição arquitetônica à ligação entre os
diferentes setores que compõem todo projeto. A redução do percurso é sempre positiva, desde que
a aproximação das zonas não inua de modo nocivo nas atividades desenvolvidas no interior dos
ambientes.
165
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Os refeitórios e cantinas são, reconhecidamente, ambientes nos quais o comportamento dos alunos
é mais expansivo, pois são usados em momentos de descontração. São locais nos quais os alunos
podem rir, usar a voz num tom mais elevado, ou até mesmo terem outras manifestações sonoras.
(PERKINS 2001)
27
Além do comportamento dos usuários, os equipamentos utilizados nestes espaços
tais como louças, talheres e garrafas, entre outros, também contribuem para maior propagação
do som. Priorizar a redução do percurso, neste caso, favorece a perda do conforto acústico, pois
aproxima do setor pedagógico um ambiente ruidoso.
No percurso dos alunos já ocorre uma produção intensa de ruído originado pela conversação entre
eles. O dimensionamento de refeitórios deveria incluir, preferencialmente, toda a população da
escola, pois, ao contrário, se o uso for feito por parte da população em intervalos regulares, isto
ocasionará grandes conitos sonoros. Anal, o deslocamento de cada grupo produzirá ruído na
circulação que será somado aos do próprio refeitório.
As respostas demonstraram que a maioria dos alunos não identica os compartimentos apontados
na questão como áreas de interferência sonora. Por isso, priorizam a redução do percurso, até
porque estão envolvidos com as exigências relativas à acessibilidade. Do total, trinta e duas respostas
concordaram que o caminho entre salas e refeitório deve ser o menor possível. E apenas vinte e
um discordam, incluídos nesse grupo, apenas sete respostas corretas, referentes à opção discordo
parcialmente. Por que esta resposta é considerada a mais correta? Porque se a população for
reduzida, todos irão ao refeitório simultaneamente, sem que haja prejuízo no conforto sonoro das
salas; se for uma pré- escola, a atividade dirigida não é prejudicada pelo percurso de outras crianças;
os ambientes podem estar próximos, mas em oposição na localização.
Salas muito profundas são adequadas para viabilizar uma grande população de alunos.
Em uma escola, as salas de aula precisam ter ótima iluminação e ventilação, excelentes condições
de visibilidade e ótima compreensão das palavras emitidas. Para os alunos que carem situados
mais ao fundo do ambiente, em salas com este tipo de solução, a visão do quadro ou da tela de
projeção será ruim e haverá diculdade de interação com o professor. Em função da volumetria,
serão reverberantes, não permitindo a boa inteligibilidade dos sons sem que haja um tratamento
especíco para a correção do tempo de propagação destes. (ARAU 1999) Em resumo, mesmo que a
legislação de ensino permita uma população superior a quarenta e cinco alunos em sala, o arquiteto
sabe que o espaço físico terá de receber uma atenção especial quanto ao seu dimensionamento,
detalhamento, e especicação.
O perl do teto, que quase nunca é considerado, pode favorecer a audibilidade ao fundo da sala,
porque reduz a diferença entre a distância percorrida pelo som direto, e o reetido.
Vinte e nove alunos escolheram a resposta mais adequada: discordaram totalmente. E onze
discordam parcialmente. Provavelmente consideraram a diculdade visual causada pelo excesso
de profundidade, ou ainda, pela própria capacidade numérica de alunos na sala, que por si, é
desagradável e pouco pedagógico.
Como nas questões anteriores, um número expressivo de respondentes não reconheceu a existência
signicativa de ruídos provenientes do ginásio, e do refeitório, e é pouco provável que identiquem
as diculdades acústicas que este tipo de sala gera. Parte desse grupo está presente nas treze respostas
que concordam com essa conguração de sala. Este desenho, combinado com os materiais rígidos
dos seus revestimentos, propicia a formação de diversos fenômenos acústicos, que comprometem
a qualidade do som emitido. Por isso, haverá diculdade de compreensão da fala do professor nas
ultimas leiras de carteiras.
O pátio coberto centralizado, com as salas à sua volta é a melhor opção de localização
porque favorece o controle visual durante o recreio ou outra atividade.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
166
Esta opção, voltada para o controle visual dos alunos é uma das solicitações exigidas ao arquiteto em
projetos para as escolas municipais face ao quadro restrito de funcionários auxiliares que controlam
os espaços externos aos das salas de aula.
Não perder o aluno de vista é sempre uma questão imposta durante o processo projetual. Porém, o
pátio centralizado, coberto ou não, toda vez que nele se praticar uma atividade, ela interferirá nos
ambientes à sua volta. Se estas atividades puderem ser controladas através do horário e do tempo de
uso, sem que haja prejuízos para os membros da escola, o pátio central será adequado. No entanto,
se o horário de uso for restrito e, se ao utilizá-lo, o comportamento dos alunos for excessivamente
controlado, armamos que esse pátio está erroneamente localizado.
Para Reis-Alves (2003)
28
existe entre o pátio e as salas de aulas uma relação dicotômica. Pois para que
o pátio possa exercer sua função plena de lazer, é melhor que se localize afastado da área pedagógica.
Desse modo assegura-se que os sons ou os ruídos produzidos no pátio durante o período de
recreação não afetem as salas de ensino e ou as áreas de atendimento ao publico, como secretaria e
direção. Mesmo em se adotando circulação periférica, formando uma zona de transição entre o pátio
e as salas para auxiliar na redução da transmissão sonora entre essas duas áreas, não é recomendado
que o tio recreativo situe-se no centro da edicação. No entanto, um pátio contemplativo, com
jardim, fonte ou espelho dágua, não é inadequado na localização central.
A maioria das respostas a esta questão se distribuiu entre opções opostas. Dezenove alunos
concordam parcialmente e dezesseis discordam parcialmente. A maior pontuação entre as respostas
foi dada para a opção discordo totalmente, que foi opção de doze alunos.
Um pátio recreativo é uma fonte de ruído signicativa quando estiver em atividade. Não há
como conciliar seu uso com as salas de aula. Concordar totalmente é reiterar que a visão é mais
importante entre todos os sentidos, sublinhando que muitos estudantes não reconhecem o tio
como um elemento de perturbação do edifício. Concordar parcialmente demonstra que mesmo os
alunos reconhecendo, parte dos problemas que irão surgir, por conta desta decisão, eles não querem
arriscar uma nova proposição. Digamos que, este, é um modelo tradicional de implantação e
atende satisfatoriamente ao conceito de centralidade.
Revestimento cerâmico no piso e nas paredes são as melhores opções neste tipo de
edicação
O conhecimento das propriedades dos materiais propiciará o uso correto destes para cada situação
arquitetônica. Os materiais de construção, entre tantos papéis aos quais irão responder, tais como:
estrutural, de vedação ou de cobertura, de preenchimento, de proteção contra as intempéries, de
isolamento térmico, decoração, de preservação e de transmissão de luz, tem também um papel
sonoro a cumprir, (WESTON, 2003)
29
. É fundamental que o material de vedação isole o som aéreo, e
que o piso seja proposto de forma que se reduza o ruído de impacto.
A manutenção é um fator primordial no edifício escolar. Para o arquiteto é um desao conciliar
as necessidades técnicas e estéticas que são expressas pelo material, associados ao custo do
empreendimento e a imposição de durabilidade. Pisos e paredes especicados em cerâmica, para
alguns gestores, reduzem o custo de manutenção feita com pintura, cujo desempenho acústico é
semelhante. Porém, as cerâmicas são mais duráveis e podem ser esteticamente interessantes à
composição. O problema é que por não terem porosidade signicativa, quase não absorvem o som
incidente, tornando o local sujeito a excesso de reexões. Alguns elementos complementares, tais
como quadro de avisos em material poroso ou prateleiras com livros, podem auxiliar na absorção do
local. No entanto, não são componentes freqüentes em todas as salas. Portanto, para especicar este
material, é relevante que o arquiteto saiba se o valor do tempo de reverberação (SILVA 2005)
30
está
adequado ao volume da sala.
167
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Como os materiais inuem no valor do TR, a simulação do cálculo, antes de uma decisão nal,
auxiliará o projetista a optar pela melhor solão. Caso haja verba, o tratamento do teto com forros
absorventes é o mais recomendado e não apresenta tantos conitos com a durabilidade.
Materiais rígidos, por sua pouca porosidade, têm baixa capacidade de absorção sonora, alcançando
a faixa de freqüência de 500Hz (que é a da freqüência da voz humana) um coeciente de absorção
inferior a cinco por cento do som incidente (ARAU,1999)
31
.
Ora, se revestimos uma sala de aula com pisos e paredes em material cerâmico, o resultado sonoro
será desagradável. A absorção estará desequilibrada quanto à distribuição dos materiais, propiciando
uma elevada reverberação na sala de aula. Quer dizer, na prática teremos uma sala de aula com
superposição sonora, resultante do excesso reexões do som, o que dicultará a compreensão das
palavras.
As respostas revelam que os estudantes ainda não discutem plenamente a inuência dos materiais
na arquitetura. Falta questionar mais sobre a decisão tomada. A maioria das escolhas expressa
preocupação apenas com um fator a durabilidade, associada ao menor custo de manutenção—
desconsiderando os demais fatores, que em conjunto, interferem na qualidade do ambiente.
Outras perguntas podem ser feitas, independentes da questão sonora, para conrmar se esta é a
melhor opção, como por exemplo: Qual será a sensação de estar numa sala com esta especicação?
Parecerá um ambiente de ensino? Encostar-se à parede nos dias de inverno, será muito incômodo?
Visualmente é atrativa? Troca de instalações, caso seja necessária algum dia, é simples com esse
material?
Embora, no universo de respostas, a maioria tenha decidido por concordo parcialmente, esta não
é a resposta mais correta, mas revela ao menos que o grupo entende que não é só a manutenção que
dene escolhas de materiais. Há um número reduzido de discordantes e entre eles, apenas quatro,
discordam totalmente. Quer dizer, apenas este restrito grupo de alunos, reconhece efetivamente
que esta solução é inadequada para o local.
direito acima de 4,00 m ajuda no conforto acústico das salas
O pé direito de uma sala é um elemento inuente na sua volumetria. Associado a uma boa
distribuição de aberturas, e a detalhamentos pertinentes, a altura auxilia na ventilação natural, na
iluminação e afasta do usuário a zona de calor que se forma próxima ao teto. Porém, associado à
largura e ao comprimento da sala, o direito em salas retangulares, pode produzir uma relação
geométrica que cria um ambiente sonoramente desconfortável, com ecos e ressonâncias. (ARAU
1999)
32
.
O conforto acústico em um ambiente implica na adequação do tempo de reverberação à atividade
que nele se desenvolve, aliado a uma forma que favoreça a distribuição equânime do som para os
ouvintes, além da sua localização e os materiais empregados na sua estruturação possibilitarem o
isolamento necessário dos ruídos.
O direito associado à largura e ao comprimento da sala dene o volume do vazio, cando este valor,
diretamente proporcional ao tempo de reverberação. Porém, será a característica do revestimento
das superfícies que denirá se o som incidente será mais ou menos absorvido. Como, de modo geral,
no nosso no país, adota-se como solução para as salas de aulas a pintura sobre a alvenaria, cuja
absorção é reduzida, o uso de pé direito elevado implica num ambiente reverberante. Considerando-
se que para a fala, os ambientes reverberantes são inadequados por afetar a inteligibilidade das
palavras, concordar com a armativa não é a resposta mais correta.
A maioria das construções residenciais executadas a partir dos anos oitenta, no Rio de Janeiro,
teve o pé direito bastante reduzido com o aval da legislação municipal. É possível que grande parte
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
168
dos respondentes, por morarem nessas edicações, vivencie todo o desconforto de um ambiente
de altura reduzida e acredite que maiores alturas sejam adequadas ao projeto. Porém, a pergunta é
objetiva quanto à acústica, não cabendo, neste caso, outra associação.
Através das respostas desta questão, vê-se que o conhecimento acústico por parte dos estudantes
ainda é muito pequeno. Mais da metade dos entrevistados concordaram com a armativa.
Considerando que aparentemente eles se preocupam mais com o conforto térmico dos ambientes, é
provável que este grupo de respondentes tenha raciocinado a partir das necessidades em resolver os
problemas da ventilação dos ambientes por ser uma solução compatível ao clima local.
3.2.2 o qUes t i o náR i o A p l i c A d o A o s pR o F e s s o R e s
A equipe de PA III é composta por seis professores efetivos com mais de dez anos de experiência
docente. Essa disciplina, após a modicação do currículo em 2004, teve sua carga horária reduzida
para 90 horas semestrais objetivando sua melhor integração com a disciplina de conforto ambiental
para que os alunos, ao desenvolverem seus trabalhos, utilizassem os equipamentos do laboratório
de conforto. Atualmente o laboratório atende a parte de conforto térmico, com Heliodon e alguns
sowares para a simulação térmica, além de sowares destinados a simulação do desempenho da luz
natural nas edicações.
Segundo os professores da disciplina de projeto, a primeira parte do curso é dedicada à fundamentação
do tema. Nesta, os alunos trabalham uma série de exercícios sob forma de seminários voltados para
a formação de seu pensamento teórico e critico sobre o projeto a ser posteriormente desenvolvido.
A equipe docente organizou uma programação de curso bastante detalhada da qual retiramos os
critérios de avaliação adotados para que possamos entender quais foram, para eles, os elementos
considerados signicativos do projeto durante o desenvolvimento do trabalho dos alunos,
posteriormente empregados na etapa de avaliação. Esses critérios foram:
critérios de avaliação
Ao início de cada trabalho deverão ser explicitados com clareza os critérios a ser avaliados na
avaliação dos trabalhos. Como critérios gerais serão vericados os seguintes pontos:
processo projetual: conceituação/fundamentação teórica que embasam as propostas/a)
estudos; evolução da idéia, coerência e adequação na integração da proposta projetual com
os condicionantes culturais, geográcos, técnico construtivos, ambientais, econômicos e
culturais.
coerência entre os valores e conceitos expressos no memorial e a proposta projetual;b)
qualidade estética: composição, volumetria, relação com o entorno urbano, relação e c)
hierarquia entre ambientes internos e externos (privados, semi-públicos e público);
viabilidade técnico-construtiva (construtibilidade) adequação e coerência entre: materiais, d)
sistemas e elementos construtivos; entre programa arquitetônico e concepção arquitetural;
da linguagem /representação dos elementos estruturais, de cobertura, de embasamento, das
vedações e dos materiais de acabamento;
adequação ambientae) l: atendimento às recomendações para conguração e implantação do
edifício e dos seus principais elementos, privilegiando a ventilação natural e o controle da
radiação solar;
169
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
adequação, coerência e hierarquia dos aspectos físico-funcionais: dimensionamento e f)
organização dos ambientes externos e internos; do seu mobiliário/equipamento; acessos e
uxos; circulações horizontais e verticais;
participação em sala de aula, interesse pelo tema, pontualidadeg)
apresentação do projeto: organização, clareza, expressão oral, escrita, gráca e maqueteh)
Outro dado signicativo para nossa pesquisa foi o “roteiro de visita fornecido aos alunos. De
acordo com a organização do curso, as turmas são subdivididas em quatro grupos para facilitar
a organização dos relatórios produzidos após observação em campo dos quais são analisados os
quatro itens seguintes:
a) aspectos funcionais;•
b) aspectos históricos e de evolução urbana; •
c) • aspectos ambientais e paisagísticos;
d) aspectos arquitetônicos e urbanísticos.•
O item c”, especialmente relacionado a aspectos ambientais e paisagísticos, solicita que o aluno
observe “aspectos do meio ambiente local” considerando a insolação, ventilação, poluição (sonora,
atmosférica, visual, etc.), indicando focos de poluição e focos de atratividade.
Após compreendermos a metodologia adotada, os exercícios aplicados e os critérios de avaliação,
iniciamos a entrevista. Nossa intenção fundamentou-se em detectar se o som aparecia como um fator
signicativo do projeto no discurso dos professores e no seu trabalho de orientação desenvolvido
nos ateliês.
3.2.2.1 As q U e s t õ e s A b e R t A s
Primeira pergunta: No trabalho produzido no atelier, o que norteou o desenvolvimento do
projeto de escola?
O projeto desenvolvido na disciplina seguiu o programa do CAP Colégio de Aplicação da UFRJ
que atende do ensino fundamental ao ensino médio. Para a maioria dos professores, o que direcionou
seu trabalho no período, foi enfatizar que um espaço para ensino é fruto da linha pedagógica
adotada pela escola que, bem compreendido pelo autor do projeto, originará ambientes agradáveis e
adequados às diversas atividades desenvolvidas no seu interior”.
Esses professores também iniciam seus alunos na percepção do contexto urbano, do qual devem
retirar as informações que justiquem suas decisões sobre os espaços públicos e privados, sobre a
identidade do edifício, e a hierarquia dos volumes. Organizam palestras e visitas às escolas públicas
no intento de facilitar a compreensão do conceito, programa, legislação e tecnologia para embasar as
propostas dos alunos.
Neste processo de formação “há uma intenção de estimular o aluno a trabalhar os elementos
abstratos que inuenciam no projeto, ou seja, que eles dediquem um tempo de reexão sobre o
que é a escola, seu papel na sociedade, seu signicado para a comunidade, de que modo exercerá
inuência no local que será implantada, entre outros
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
170
No início dos trabalhos, eles recebem a orientação dos professores da equipe sobre o roteiro da visita
ao terreno cujo relatório deverá abordar aspectos urbanos em que o uso do solo e a legislação têm
peso expressivo, assim como as características ambientais do local, onde será inserido o projeto.
Nessa análise do entorno são observadas a insolação e a ventilação que, para a maioria dos
professores, são os elementos mais signicativos do conforto ambiental, além da vegetação e das
fontes de ruído.
Alguns professores acreditam ser, o quinto período, “um momento importante para o exercício
crítico sobre a legislação,” por isso solicitam aos alunos que desenvolvam uma pesquisa para
posteriormente vericar as contradições existentes no conteúdo da edilícia vigente.
É importante frisar que a orientação geral sobre o trabalho a ser desenvolvido é, antecipadamente
discutida e denida por todos os docentes da equipe.
Eles também procuram mostrar aos alunos a existência de uma metodologia de desenvolvimento do
projeto que os acompanhará sempre, independentemente do tema proposto. Apesar disto, o trabalho
no atelier varia de acordo com as características metodológicas e valores projetuais individuais de
cada professor” embora, que claro, que todos dedicam muita atenção ao processo construtivo e
ao partido estrutural. Em comum acordo, adotam como objeto arquitetônico de referência a escola
municipal Edmundo Bittencourt, projetada pelo arquiteto Aonso Eduardo Reidy, pertencente ao
conjunto Pedregulho em Benca.
A escolha desta escola relacionou-se ao fato de pertencer a um conjunto arquitetônico que é um
marco na arquitetura moderna do país,” muito visitada por arquitetos e estudantes estrangeiros que
vêm ao Brasil estudar a nossa arquitetura.
O primeiro elemento valorizado nesta obra é o da sua resistência ao tempo; com mais de cinqüenta
anos ela se mantém atual em suas soluções formais, funcionais e técnicas. Por ser uma escola pequena,
com seis salas de aula, é fácil compreender e memorizar sua organização espacial facilitando as
futuras discussões em sala de aula sobre o edifício.
A sua escala favorece a observação de particularidades que auxiliarão na orientação dos projetos
desenvolvidos posteriormente pelos alunos.
O uso do brise-soleil, as varandas integradas às salas de aula permitindo a exibilidade do espaço
pedagógico, as soluções de ventilação cruzada que não compromete a privacidade das salas, são os
itens apontados pelos docentes que justicam torná-la uma referência para os alunos.
Um dos professores observa que nas palestras sobre edifícios escolares municipais e estaduais
oferecidas aos estudantes inscritos na disciplina, entre os aspectos funcionais do edifício o
conforto ambiental foi também abordado. No entanto, no entendimento deles, “os alunos custam a
compreender os princípios de conforto que se manifestam no processo de implantação do edifício,
tais como a insolação e a ventilação. Infelizmente, muitas vezes, “essa diculdade continua presente
no TGF – trabalho nal de graduação.
Na visita feita pela equipe de PA III à escola Edmundo Bittencourt, os docentes aproveitaram para
mostrar as boas soluções de conforto adotadas por Reidy, contrapondo-as com escolas que também
adotaram a ventilação cruzada, mas têm um problema acústico grave devido à localização dos vãos.
O intuito das visitas é mostrar aos alunos as modicações marcantes ocorridas na arquitetura
de escolas ao longo do tempo, enfatizando a possibilidade da adoção de soluções simplicadas
conferirem identidade ao edifício, de como conseguir boa iluminação natural e sombreamento nas
salas de aula.
171
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Para os entrevistados, os espaços de ensino por eles vivenciados antes do ingresso na faculdade,
exercem uma inuência muito forte sobre suas decisões de projeto, e alguns alunos acabam por
reproduzi-los sem questionamentos. Observa-se uma tendência comum entre os alunos quanto ao
uso do pátio central no edifício proposto e a adoção de espaços compartimentados, pouco exíveis,
impeditivos às novas experimentações.
Este problema, adicionado ao da escassez de livros nacionais especícos sobre o tema, segundo
alguns entrevistados, diculta uma visão plena do que é produzido no país, no entanto, a bibliograa
internacional revela que em outros países a arquitetura de escolas é mais atrativa, humanizada e
tecnologicamente mais diversicada do que a que produzimos no Brasil”. Além dos investimentos na
execução e manutenção dos edifícios serem muito maiores, diferentemente do que ocorre entre nós.
Para os professores da disciplina, o trabalho desenvolvido durante o semestre nos ateliês visa,
sobretudo, despertar os alunos para essa reexão,ou seja, a produção da arquitetura dentro da
nossa realidade cultural e social, fortalecendo neles as argumentações que justiquem suas propostas,
além das questões arquitetônicas próprias ao projeto em curso.
Segunda pergunta: O trabalho desenvolvido pelos alunos atingiu o objetivo proposto?
Para a equipe docente os alunos envolveram-se e participaram com entusiasmo no trabalho
desenvolvido no atelier apesar da heterogeneidade entre eles. Para um dos professores, por sua
turma ser homogênea, foi fácil conduzir as discussões e obter resultados que integrassem diversos
aspectos do projeto, inclusive os relacionados ao conforto ambiental. No entanto, para os outros
professores, pelo fato de alguns aspectos de conforto ainda causarem dúvidas entre os discentes,
alguns elementos são apenas reproduzidos, impelindo-os a adotar soluções pouco adequadas para
um edifício público, como por exemplo, o telhado verde.
De qualquer modo, a observância da insolação é o fator mais cobrado. Um dos professores lamenta
que haja pouca referência bibliográca sobre acústica integrada ao projeto, principalmente sobre
auditórios, por isso costuma trabalhar o tema junto aos alunos a partir de problemas construtivos
identicados em ambientes de ensino como, por exemplo, escolas que adotaram paredes de meia
altura na sala de aula, comprometendo a privacidade do local, ou as que empregaram material
construtivo único como o concreto, que produzirá ambientes excessivamente reexivos.
Outros professores salientam que, é muito graticante acompanhar a evolução da proposta ao
longo do período. O trabalho no atelier obriga que o aluno exercite sua capacidade de argumentação
ao receber e formular crítica aos projetos.As defesas são feitas através de seminários, e, por vezes,
o trabalho que será desenvolvido ao longo do período é escolhido pelos colegas de sala entre três
soluções apresentadas. “Porém, um fator limitador nos resultados que provém do desenho de
arquitetura que, de modo geral, é muito fraco entre os alunos
A boa conceituação do projeto, que alguns alunos conseguem denir, nem sempre resulta em um
objeto exeqüível.De modo geral o aluno ainda não domina e não é atento ao aspecto técnico do
projeto, mas “há uma evolução nas soluções formais do edifício e na compreensão da sua função.
Para alguns professores “há criatividade nas propostas apresentadas pelos discentes, no entanto, o
resultado formal da maioria dos projetos, é modesto.
Terceira questão: Na sua visão de orientador, qual a maior diculdade que os alunos
enfrentaram durante o projeto?
Expressar o conceito do projeto. No geral, resolver as questões relacionadas a soluções técnicas e
aos aspectos construtivos da edicação (sistemas, materiais, técnicas).
A espacialidade é outro problema a ser enfrentado. Entender que existem espaços para muitas, poucas
e pouquíssimas pessoas e que ele precisa ser compatível a estes quantitativos.O baixo domínio da
visão espacial também cria diculdades, segundo os professores, na proposição dos volumes e acessos
verticais e, de modo geral, os alunos insistem em denir o projeto só com o estudo em planta baixa.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
172
O mau hábito de trabalhar a idéia a partir da planta sem o estudo tridimensional é combatido através
da solicitação da maquete. “Por não dominar o desenho de representação, o aluno não consegue
expressar gracamente sua idéia de forma clara. Deste modo, a maquete entra como instrumento
complementar que o auxilia na compreensão tridimensional do objeto.
Alguns dedicam muito tempo às questões plásticas e conceituais não elaborando a execução do
projeto.” Com isso, vão se distanciando do aspecto utilitário do edifício.
Observa-se que “as questões abstratas do entorno, tais como a morfologia, seu histórico, e a
diversidade de implantação dos edifícios nos lotes, não são assimiladas pelos alunos, por isso alguns
professores dedicam um número de horas do projeto ao estudo das áreas externas e sua relação com
o edifício.
Outra diculdade apontada se refere à resistência dos alunos em inovar o espaço de ensino,
mantendo-o muito rígido e compartimentado. “Ignoram ou não aceitam as novas possibilidades
das práticas de ensino e, com isso, deixam de propor espaços mais integrados, exíveis e menos
especializados. Custam a se libertar da inuência dos espaços vivenciados por eles até o ensino
médio, retardando a experimentação de novas propostas”.
Por último, constata-se nos depoimentos que o tempo de desenvolvimento para o projeto foi mais
um dos obstáculos a ser vencido.
Quarta questão: Quais os aspectos interdisciplinares que foram trabalhados no projeto?
A equipe de PAIII desenvolve um trabalho pedagógico que procura resgatar o conhecimento
adquirido nas disciplinas cursadas nos períodos anteriores e estimula a integração do projeto com as
outras disciplinas oferecidas no período. Observa-se que um emprego dos conteúdos desenvolvidos
nas disciplinas do Departamento de Representação da Forma - DARF, através dos conceitos e
estudos volumétricos da edicação. Entre as disciplinas oferecidas através do Departamento de
Tecnologia da Construção DTC, os conteúdos de instalações hidráulicas e saneamento básico,
desenvolvidas no período, são aplicados no projeto, assim como alguns conteúdos das disciplinas do
Departamento de Estrutura - DE. No entanto, segundo os professores, os alunos ainda são tímidos
na proposição de vãos, balanços e espaçamento de pilares não relacionando a proposta estrutural à
proposta construtiva.
Os professores de conforto ambiental facilitaram a integração da sua disciplina aos projetos
desenvolvidos à medida que aplicaram neles os conceitos de insolação e ventilação.Segundo os
docentes, na palestra sobre as escolas do CIEP e na visita feita à escola Edmundo Bittencourt,
pertencente ao conjunto habitacional do Pedregulho, eles tiveram algumas orientações sobre as
condições acústicas do projeto a partir da análise do emprego da ventilação cruzada nas salas de
aula.
Foi solicitado pelos professores que eles aplicassem o conhecimento adquirido nas disciplinas
de materiais e técnicas construtivas na especicação do trabalho produzido nos ateliês. Enm, a
intenção da equipe de orientadores é recuperar os conteúdos que se aplicam imediatamente ao
projeto e despertar o aluno para a importância de continuar a trocar informações com o corpo
docente da FAU”.
Quinta questão: As disciplinas dadas até o período de PAIII (5º período) dão base para o
desenvolvimento de um bom trabalho? Por quê?
“ A maior parte dos alunos vem com boa base conceitual e teórica em termos formais e funcionais,
porém encontram diculdades na solução de problemas relacionados aos aspectos técnicos da
edicação, tais como estruturas, telhados e instalações entre outros tantos.
173
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Quanto a esse aspecto, uma crítica aos conteúdos desenvolvidos, que não incluíram visitas
a obras em andamento. A experiência adquirida no Trabalho Integrado, junto ao PAII, que
desenvolveram no período anterior, auxiliou muito na compreensão por parte dos alunos de que
ninguém projeta sem trocar conhecimento.Desta forma, reforça-se a importância dos conteúdos
desenvolvidos nas disciplinas dos departamentos de Tecnologia, Estruturas e Forma. “No entanto, é
preciso que se estimule o aluno a buscar informações com outros professores. Ele precisa pensar na
caixa dágua, na cisterna, no lixo, no reservatório de incêndio, nos materiais que pode usar em um
auditório ou em outra parte do edifício.
Observa-se na maioria das falas, a necessidade de tornar aplicável, por parte do aluno, o
conhecimento adquirido anteriormente. “Ele precisa dominar os conteúdos que informam sobre
o tamanho da calha que usará, a altura e largura da viga onde empregano auditório da escola
material absorvente ou reetor. Porém, segundo alguns entrevistados, se não houver da nossa
parte, um direcionamento sobre o que ele precisa denir no projeto, o resultado acaba sendo muito
supercial.
A maquete é uma ferramenta de auxílio no desenvolvimento dos trabalhos, por isso é importante
que eles saibam fazer”. Os que dominam a técnica conseguem ir ajustando o produto, até obter um
bom resultado. “Porém, de modo geral, a expressão gráca é lastimável. Parece que os alunos temem
desenhar, fazer croqui, gastar papel. Por reconhecermos que o desenho de arquitetura é muito fraco,
retardamos o uso da representação gráca por computador que, por conseqüência, também não é boa.
Em parte, isso compromete o resultado das turmas. “Por vezes acompanhamos trabalhos cuja idéia
e partido arquitetônico são, no conjunto, muito interessantes. No entanto, devido à diculdade de
expressão gráca, o resultado é frustrante.
O uso de programas que contêm simulações como o sketch-up permite que eles estudem o percurso
do sol e veriquem as sombras projetadas no terreno, pois “no nosso clima, ignorar o sol é uma falha
injusticável.” Eles podem obter a mesma resposta utilizando o heliodon , no entanto, na opinião dos
professores consumiria muitas horas de trabalho. Para testar a proposta no laboratório de conforto,
é necessário que antecipadamente façam as maquetes da edicação e dos elementos componentes
do entorno e, nesse caso, é fundamental saber gerenciar o tempo.
Alguns professores adotam a prática de solicitar aos alunos que tragam o projeto que desenvolveram
no período anterior. Com isso, esperam compreender as carências dos alunos e atacar os pontos
decientes logo no início dos exercícios. Reconhecem que haverá maior unidade nos conteúdos
teóricos à medida que haja diálogo com a equipe de professores de projeto do período anterior.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
174
Terminada a etapa de entrevistas, foram aplicadas aos professores três questões fechadas, idênticas às
respondidas pelos alunos. Omitimos os comentários referentes à construção das questões e a teoria
de acústica relacionada, porque estes já foram feitos quando abordamos as respostas dos alunos no
item 3.2.1.2.
3.2.2.2 As R e s p o s t A s d o s p R o F e s s o R e s R e l A t i v A s à s q U e s t õ e s F e c h A d A s :
Questão 2C em sua opinião em Que medida os proBlemas aBaixo relaCionados têm
influênCia na Qualidade do espo esColar? opções de resposta: muita; média;
Pouca, sem imPacto.
Escala de
importancia Muito Médio Pouco
Sem
impacto
Frequencia
Problemas Número de respostas
Circulações longas 4 2 0 0 3.7
Ausência de área
verde 4 2 0 0 3.7
Ofuscamento na
sala de aula 6 0 0 0 4.0
Cores
inexpressivas 0 5 1 0 3.3
Falta de
privacidade na sala 2 2 2 0 3.0
Uso de telha
metálica simples 4 2 0 0 3.7
tio de recreação
central 2 4 0 0 3.3
Ausência de
estacionamento 1 1 2 2 2.1
Quadro 06 - problemas arquitetônicos e seu grau de inuencia na qualidade do espaço escolar
175
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Gráf. 3.2 – Frequencia média das respostas dos professores
Observamos nas respostas dos professores que o ofuscamento continua como o elemento de maior
preocupação no projeto da escola. Em seguida, equivalentes, os problemas causados por extensas
circulações, ausência de área verde e uso de telha metálica simples. A falta de privacidade na sala
de aula é considerada menos problemática do que o uso de cores inexpressivas, que está no mesmo
patamar de incômodo causado pelo uso do pátio central.
Mais uma vez, as respostas reforçam o domínio da visão sobre a audição. Também sugerem que há
um “mascaramentodo som pelos elementos que atuam imediatamente nas decisões contidas no
processo de desenho da edicação. Entre os que aparecem de forma difusa na questão 2C, temos :
o conceito - pátio central•
o uxo - circulações longas•
a luz - ofuscamento nas salas e cores inexpressivas•
o paisagismo - ausência de áreas verdes•
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
176
questão 2d - considerando a fase de estudo do seu Projeto, classifique Por ordem de
imPortância os asPectos aBaixo (sendo 1 o mais imPortante e 8 o menos imPortante)
Escala de
importância 1 2 3 4 5 6 7 8
Problemas : Número de respostas
Insolação 5 1 0 0 0 0 0 0
Fontes sonoras
pertencentes ao
entorno 0 4 1 1 0 0 0 0
Ventos
dominantes 0 0 3 1 2 0 0 0
Topograa 0 0 1 3 2 0 0 0
Legislação 0 0 0 0 1 3 0 2
Árvores frutíferas
existentes no
terreno 0 0 0 0 0 0 5 1
Sentido da via de
tráfego 0 0 1 0 0 2 0 3
Edicações
existentes no
entorno imediato 1 1 0 1 1 1 1 0
Quadro 07- Ordenação dos elementos de inuência no estudo preliminar do projeto
Nesta questão, a insolação, as fontes sonoras e os ventos dominantes são considerados, para
os entrevistados, os três aspectos mais signicativos na fase do estudo preliminar. Os três juntos
compõem o tripé de conforto ambiental.
É interessante observar que nesta questão, como se faz referência ao som de forma direta, ele aparece
como o segundo componente da escala de importância. No entanto, na questão anterior, ao citarmos
a falta de privacidade nas salas, opção em que ele aparece um pouco camuado, o seu grau de
importância, para os respondentes, é diluído entre as oito opções. Na freqüência das respostas, a
privacidade aparece como menos importante do que a ausência de áreas verdes.
Por outro lado, ao fazermos uma comparação entre as resposta das questões 2C e 2D , vericamos
que para a maioria, na 2C, a ausência de áreas verdes era muito signicativa. No entanto, nesta
questão, a vegetação (representada por árvores frutíferas) cai para a penúltima classicação na
escala de importância. Aparentemente esta queda acontece, porque a existência de árvores frutíferas
no terreno pode, dependendo da localização, ser mais um desao que o projetista não quer enfrentar
face a tantos outros mais impeditivos à qualidade do projeto..
Outro aspecto curioso diz respeito à composição do entorno. O grau de importância a ele atribuído
não se consolida em nenhum valor. No entanto, as edicações componentes do entorno, de acordo
com sua altura e distribuição na quadra, associadas às características das fontes sonoras locais,
tornarão o local mais, ou menos ruidoso. Também inuirão diretamente na insolação e nos ventos.
177
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Então, nos parece que, apenas quando o som é citado de forma direta, ou quando o incômodo
provocado por ele é reconhecido rapidamente, como no exemplo das telhas metálicas simples, é que
se toma representativo, e com isso ocorre uma conscientização da sua interferência no projeto.
A legislação, mais uma vez mostra-se inexpressiva na escala de valores, mas está mais bem denida
entre os professores do que entre os estudantes.
questão 2 e - assinale o que você Pensa das afirmativas aBaixo:
Opiniôes
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Armativas: Número de respostas
1-O edifício escolar
deve ser permeável. 2 4 0 0
2-Ginásio esportivo
deve estar próximo ao
bloco de ensino. 0 0 4 2
3- As características do
entorno inuenciam
no partido
arquitetônico. 4 2 0 0
4-Ocinas, salas de
música e grêmios,
devem car
integrados às salas
tipo. 1 4 0 1
5-Na localização do
refeitório e cantina
deve ser priorizada a
redução do percurso
dos alunos em relação
às salas. 0 5 0 1
6-Salas muito
profundas são
adequadas para
viabilizar uma grande
população de alunos. 0 1 3 2
7-O pátio coberto
centralizado, com
as salas à sua volta é
a melhor opção de
localização porque
favorece o controle
visual durante o
recreio ou outra
atividade 0 2 0 4
8-Revestimentos
cerâmicos no piso
e paredes são as
melhores opções
neste tipo de
edicação. 1 4 0 1
9-Pé direito acima de
4m ajuda no conforto
acústico das salas. 0 1 5 0
Quadro 08- Escala de opiniões / atitudes.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
178
Armativas
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Pontuação atribuída a cada resposta
01 3 4 1 2
02 1 2 4 3
03 4 3 1 2
04 1 2 4 3
05 1 2 3 4
06 1 2 4 3
07 1 2 4 3
08 1 2 4
09 1 2 4 3
Quadro 09- Pontuação atribuída a cada resposta .
Conforme vimos anteriormente, estabelecemos, na escala de pontuação, as seguintes classicações:
De 9 a 15 – BAIXA•
De 16 a 22 – REGULAR•
De 23 a 29 – BOA•
De 30 a 36 – Alta Consideração com os Aspectos Acústicos•
As respostas dos professores atingiram o mínimo de vinte pontos e o máximo de trinta pontos.
comentando as resPostas:
Como os alunos, na questão relativa à permeabilidade, os professores em sua maioria, concordam
parcialmente com a armativa.
Em função das necessidades do nosso clima, e do tipo de atividade em análise, justicamos
anteriormente que o emprego da permeabilidade é aceitável quando pouca interferência dos
ruídos externos. Há também os que adotam a permeabilidade (capacidade da forma físico- espacial
para permitir a integração e acessibilidade) como conceito- meta do projeto.
A concordância parcial, conforme justicamos, é a opção mais correta, porque indica que o
respondente observará as condições locais antes de tomar uma decisão, ou então, no caso da
permeabilidade ser o conceito proposto para o projeto, analisará sua adequação. Aqueles que
concordam totalmente com a armativa dão a impressão de que para eles, o conceito é o fator
dominante para o qual converge toda a proposição. Por isso, postergam as discussões funcionais.
Na década de sessenta nos EUA, houve alguns experimentos de escola cuja proposta partiu do
conceito de permeabilidade. Justicava-se no memorial, maior integração entre alunos e professores.
No entanto, passado algum tempo vericaram que a solução interferia signicativamente no
comportamento de todos, ocasionando alguns conitos, motivo pelo qual a idéia, aos poucos, foi
abandonada.
Quanto ao ginásio, por ser uma fonte sonora facilmente reconhecida, ninguém concorda com a
armativa. Porém, as ocinas e salas de música não são entendidas da mesma forma. Parece que ao
179
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
inserir-se na pergunta a palavra “integração, esta acaba sugestionando a maioria dos respondentes a
interpretar que a proximidade entre as salas é adequada.
Entre os professores, as características do entorno são reconhecidas como elemento de inuência
na proposição de novas edicações. A maior parte dos respondentes concorda totalmentecom
a armativa. No entanto, alguns têm algumas reservas quanto a esta opção. Não crêem que apenas
as características do entorno inuam no partido. Que elementos podem ser complementares ao
entorno? As questões relativas à acessibilidade, os fatores culturais, a tecnologia e o custo da obra são
alguns exemplos.
O pátio centralizado e coberto divide as opiniões. De qualquer modo, a opção discordo parcialmente
prevalece entre os respondentes. Essa resposta tira um pouco a prioridade do controle visual, quase
sempre imposto na localização do pátio. Os respondentes abrem espaço para novas reexões quanto
à localização de áreas recreativas em edifícios escolares. A idade dos usuários e as características do
seu comportamento durante o período de recreação orientarão o projetista na decisão.
Quanto ao revestimento cerâmico, entendemos que, ao escolherem revestimento cerâmico para piso
e paredes, as prioridades são a manutenção e a resposta visual do ambiente projetado. O som nem
é cogitado. Porém, quando se faz menção ao conforto acústico das salas com direito acima de
quatro metros, quase todos reconhecem que não é a melhor solução.
3.2.3 As en t R e v i s t A s c o M o s AR q U i t e t o s
As entrevistas destinaram-se exclusivamente a um grupo de cinco arquitetos que projetaram, nos
últimos anos, escolas públicas ou privadas.
O corpo da entrevista compôs-se de onze questões, todas direcionadas à prática do projeto.
Inicialmente respondiam explicando sobre sua maneira, em geral, de projetar, para em seguida
explicar sobre o projeto para o edifício escolar especicamente.
A decisão da escolha de prossionais pertencentes a gerações variadas fundamentou-se na
diversidade das suas formações acadêmicas e vivência prossional. Desse modo, vericaríamos se
reetiriam diferenças em suas observações sobre o desenvolvimento de projetos e, principalmente,
se no discurso proferido haveria alguma referência ao som.
As onze questões que constituíram o corpo da entrevista foram todas direcionadas para a prática
projetual e organizadas de modo que, inicialmente, o respondente explicasse de forma geral sua
maneira de projetar para em seguida responder às perguntas especícas sobre o projeto para o edifício
escolar. As respostas foram transcritas em conjunto, representando a visão do grupo de prossionais.
Codicamos cada arquiteto com a sigla A1, A2,... A5, a m de preservar suas identidades.
3.2.3.1 As R e s p o s t A s d o s A R q U i t e t o s R e l A t i v A s à s q U e s t õ e s F e c h A d A s .
Quais as prioridades que você estabelece ao iniciar um projeto?
A1 - A prioridade é o cliente. O que ele pensa, deseja e espera do arquiteto será o o condutor
do meu trabalho. Mesmo que sua forma de pensar seja muito diferente do que eu penso sobre um
determinado tema de projeto, ainda assim, procurarei respeitá-lo.
A2 O cliente, que pode ser privado ou público e o programa. O programa tem que estar muito
bem construído para não prejudicar o desenvolvimento da proposta arquitetônica. No Canadá, o
programa é uma fase de projeto paga independentemente.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
180
A3 – Parto do princípio que todos os projetos são iguais. No entanto, cada caso é um caso, em que
irão variar as prioridades. Vejo quatro elementos a denir: espaço, função, forma e técnica. O tema
mais o cliente implicam em prioridades que terão de ser atendidas. Lembrando que é fundamental
compreender o cliente, suas necessidades e sua rotina.
A4 – Ouvir o cliente, entender qual o desejo dele. Elaborar um bom programa e cuidar dos aspectos
relativos à ventilação e insolação. Estudar o usuário socialmente.
A5 – Compreender o cliente e vericar se suas solicitações são pertinentes.
Em um projeto de escola isso se mantém ou sofre alguma variação?
A1 - O projeto de escola é fruto da linha pedagógica que será desenvolvida. Cabe ao arquiteto
compreender o que é esse projeto, para que o edifício reita esta intenção. O cliente pode ser público
ou privado, mas ambos têm de ser ouvidos e atendidos nas suas solicitações.
A2 O cliente de escola é um pouco complexo porque é um cliente não usuário. O cliente é a Diretora
e ou a Secretaria Municipal, Estadual ou a União devidamente representados, que interpretarão
os alunos. Então, o projeto precisará ter exibilidade para atender a este usuário desconhecido.
A experiência que tive com a empresa municipal Rio Urbe foi um pouco traumática. Os prazos
impostos eram exíguos para o desenvolvimento de um trabalho criterioso. Com isso gerou-se um
desconforto muito grande, porque não pudemos trabalhar a linguagem do edifício.
A3 - Escola é um tema que por si só já é um caso especíco. Receberá inuência do cliente, do lugar e
da cultura. Nesse tipo de projeto o importante é não errar quanto a saúde do usuário, sua segurança
e seu bem-estar. Segurança em escola é fundamental. Reete-se na altura do peitoril, no controle dos
acessos, enm, está relacionada a questões funcionais. A imagem do edifício, a sua cor, também são
fatores expressivos relacionados ao tema.
A4 - Em um projeto de escola eu tenho que entender qual o desejo da diretora, dos alunos e qual o
sítio em que vou projetar, pois ele será um dos comandantes da solução. Em seguida tenho que olhar
com atenção os usuários e estudá-los socialmente. Lembrar que são pessoas que você está ajudando
a formar. É preciso entender sua faixa etária, pois mudando a idade, muda a proposta.
A5 Trabalhei durante muitos anos na Prefeitura executando e desenvolvendo projetos de
escolas. Havia uma solicitação por parte das professoras que pediam modicações no programa e
nos projetos. A partir do levantamento de dados sobre as escolas existentes pudemos vericar as
necessidades e as reformas necessárias. Então, o cliente, que nesse caso é a Secretaria de Educação,
continua sendo a prioridade no projeto. No entanto, pudemos ter algumas experiências em que a
comunidade (representando o usuário) participou opinando e dando sugestões que auxiliaram na
adaptação de novos programas.
O que difere, no caso especíco das escolas municipais, é que o cliente (a diretora) exerce um papel
cerceador pela falta de infra estrutura, como de funcionários. Como têm responsabilidade civil
sobre os alunos até o raio de 1 km do edifício, ela assume um papel controlador sobre a segurança
do aluno que acaba se reetindo na arquitetura. Ela também assina o habite-se da escola, reforçando
sua responsabilidade e poder frente ao projeto.
Em sua opinião qual o objetivo de um projeto de edifício escolar?
A1 - Tornar o aluno um cidadão, despertar sua consciência política, e o edifício atuar como palco
na formação desse aluno. Penso a escola como uma cidade onde o pátio é a praça que possibilita as
manifestações públicas.
181
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
A2 Creio que trabalhar a exibilidade e sua expressão arquitetônica. Mostrar que a arquitetura é
mais abrangente do que a idéia de um gestor que, dentro de alguns anos, não estará mais à frente do
espaço construído. Vou dar um exemplo: iniciando a carreira, atendi sem contestação o desejo de
um diretor que não queria piscina na área de lazer do espaço cultural que estava sendo proposto,
porque, na sua visão, isso traria uma série de problemas de manutenção e controle. Anos depois, o
novo diretor, que toma posse com o edifício executado, quer a piscina. E os usuários que nunca
foram ouvidos também querem... O que quero destacar é que a arquitetura é muito maior do que a
opinião absoluta de um diretor transitório.
A3 Além de atender ao trio saúde, segurança e bem-estar, conseguir uma solução simples, ser
legível, ou seja, fácil de circular, legível, clara e didática. O aluno pode aprender várias coisas na
escola. Aprende a interagir e a viver nas cidades. O pátio é um tipo existente em todos os temas e
muito presente na memória dos alunos. É um espaço vazio aglutinante que move a escola. É o espaço
de interação social onde se junta o externo com o interno normalmente. Mesmo que o cliente não
peça, é bom constar no projeto.
A4 O objetivo é que ele tenha espaços de vivência interessantes que integrem os usuários. É
necessário que tenha boa iluminação, ventilação, insolação e um bom programa. Em especial, a
minha atenção se volta para os espaços que o aluno usa quando não está em aula. Recuperando na
memória o Colégio Pedro II, onde estudei, lembro como os alunos usavam o tio, os cantinhos...
Do mesmo modo o pátio do Instituto de Educação, a área de espera dos pais, a cantina... O que vivi
anteriormente auxilia na resolução de questões projetuais. Há um processo de sedução pelo espaço
quando o projeto é bem feito. É importante entender o perl do usuário porque ele se rebate no
espaço exterior. Para o aluno, o espaço mais interessante é fora da sala. É onde ele brinca, come e se
comunica com outros.
A5 – Oferecer aos usuários um espaço adequado ao desenvolvimento das suas atividades. Portanto
é imprescindível que tenha boas condições de iluminação, ventilação e insolação. A escala é também
outro fator signicativo. Infelizmente temos algumas escolas públicas com sérios problemas de
dimensionamento, sem áreas de recreação, verdadeiros caixotes. Outras se perdem no super
dimensionamento das áreas externas, tornando o pátio uma área opressiva e intimidadora.
Em projetos de escolas há a necessidade de trabalhar com consultores? Quais e por quê?
A1 - Inicialmente trabalhamos com consultores da área pedagógica que nos orientam quanto ao
comportamento dos alunos e de que modo eles utilizam o espaço de ensino. Também consultamos
prossionais da área de iluminação, instalações em geral e estrutura, porque não somos especialistas
nesses assuntos. Cabe à equipe do escritório desenvolver os estudos relativos ao projeto, como por
exemplo, a insolação.
A2 Sim, como em qualquer projeto. Não sei se existem consultores especícos de escola, até porque
nos projetos que desenvolvi, conforme foi citado, os prazos não permitiam maiores aprofundamentos.
Sei que existem para conforto e acústica, mas para outras coisas eu desconheço. O município tem
um interlocutor pedagógico, mas não é um consultor. O melhor consultor de projeto é um arquiteto
que domina o assunto.
A3 – Sim. Porém, como domino o tema, adoto menos consultores do que em outros projetos. Tenho
para paisagismo, sinalização, instalação hidro-sanitária/esgoto, cozinha industrial, instalações
elétricas, TV, para-raio e aterramento da rede, gerador lógica comunicação, telefone, legislação,
estrutura, calculista de concreto, ferro e madeira, infra-estrutura de solo/fundações. Às vêzes, uma
casa tem um maior número de consultores do que uma escola. Por exemplo, consultor de marketing,
facilities e segurança não são comuns em projetos de edifícios para ensino. No entanto, hoje em dia,
são contratados por incorporadores em projetos multifamiliares e em projetos comerciais.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
182
A4 – Depende do projeto. Até hoje não precisei de consultor da área educacional porque os clientes
são educadores. Na PUC tivemos um professor doutor da área de sociologia como cliente. Os
consultores com quem trabalhei nos projetos de escola são os mesmos que consulto em outros
projetos. Instalações, estrutura, ... No projeto que z para a Nigéria um especialista do ICP Instituto
de Ciências para o Petróleo que nos orientou e a MHA
33
(que está fazendo o CENPS no Fundão) nos
deu o apoio técnico complementar para os assuntos especícos.
A5 A Secretaria de Educação, o setor de engenharia do município, o IPP e o INEPAC quando
necessário.
Em que momento do projeto você os contrata?
A1 - No caso da escola pública, os pedagogos pertencem à Secretaria de Educação e são contatados
no início do desenvolvimento do programa, e os outros prossionais contratados na fase de
desenvolvimento do anteprojeto.
A2 – Não sei se para escola eu teria um consultor. Sei que teria para conforto, acústica...
A3 Conforme citei, sobre o que domino não contrato consultoria e penso que o arquiteto tem
obrigação de dominar alguns aspectos técnicos do edifício como, por exemplo, a iluminação. Porém,
consultores podem ser solicitados nas três fases de projeto. Em geral, não consultor na fase de
estudo preliminar. A fase de projeto legal é uma fase de entrada de muitos consultores como, por
exemplo, o corpo de bombeiros, que nos orientam sobre sprinklers, entrada de água, e legislações
especícas. Vencido o projeto legal entra o anteprojeto com as suas necessidades, enm, de acordo
com a particularidade do lugar e suas condições entram mais ou menos consultores, quando,
inicialmente desenvolvem os conceitos especícos às instalações.
A4 – Todos entram na fase de execução.
A5 – A SME, INEPAC e SMU, IPP
34
no estudo preliminar, a engenharia na fase de anteprojeto e na
execução.
Há algum projeto de escola que seja referencia para você? Por quê?
A1 - Para mim a grande referência, mesmo não sendo escola, são os projetos hospitalares do
arquiteto João Filgueiras Lima - Lelé para a rede Sarah, porque traduzem todas as preocupações
com a qualidade do edifício. A intenção de tornar o espaço mais humano para o cliente explorando
sensações distintas, o uso da luz natural e a tecnologia adotada priorizando a modulação são
elementos marcantes que se adéquam ao edifício para ensino. Como minha mãe é professora,
lembro das vêzes que a acompanhei à escola municipal na qual trabalhava e isto, de algum modo, me
serve de referência. Lembro que havia problema de escala, era barulhenta, não gostava do material
de construção do edifício e sua ausência de cor, no entanto, adorava o refeitório, que transmitia com
a cozinha integrada um ar caseiro.
A2 – Minha referência é um projeto publicado na Revista Domus de 1979 de uma escola na Áustria
do arquiteto Hans Holain. A escola é composta por vários volumes. É um edifício pós-moderno que
abdica do bloco único. Não retrata essa escola atual que temos no Rio de Janeiro, que é reexo de
uma legislação exagerada que poupa excessivamente o aluno.
A3 – Os bons projetos de escola que conheço são frutos da cultura. Podemos citar os escandinavos,
os alemães, os holandeses e americanos. Hans Scharoun, Herman Hertzberger, Aldo van Eyck, Arne
Jacobsen e Richard Neutra são nomes de referência cujos projetos devem ser vistos e revistos.
No Brasil temos a escola do conjunto Pedregulho, do Reidy, simples e eciente. Porém, Scharoun
trabalha a diversidade entre o rígido e o informal. Adota sala de aula interna e externa. Diferentemente
183
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
do Pedregulho em que a varanda é acrescentada a sala como proteção ao sol, ele usa o espaço ao ar
livre como sala de aula no verão. O espaço ao ar livre também é usado para interação social dos
alunos. campo de futebol, horta, áreas de encontro, e o arquiteto explora muito a iluminação
zenital em todo o edifício. Continua sendo um projeto muito atual.
As escolas brasileiras são muito esquemáticas. As escandinavas são mais livres. As que foram
projetadas por Bolonha, considero certas coisas boas ... Ele assume o telhado; gosto dos
fechamentos cobogós, venezianas, no entanto não gosto do monobloco. As Proto-Modernistas,
como a escola Argentina e Getulio Vargas, lembram os italianos e escandinavos - são interessantes
volumetricamente.
A4 Não. No Brasil não! Nossos prazos são muito curtos, por isso nem sempre o resultado é o
melhor. O melhor no Brasil seria a USP, mas ainda não o considero como o melhor. De acordo com
os prazos estabelecidos para a entrega de um projeto não há tempo para se estudar adequadamente
outro considerado como referência. Eu tenho certa reserva com o termo referência projetualporque
me parece um vocabulário para justicar cópia. Não vou abrir o livro do Louis Kahan, porque não
vou seguir, mas com ele aprendi a fazer uso da luz. No entanto, não vou adotar suas janelas redondas
porque é o olhar dele naquele momento que gerou esta solução. No meu modo de projetar nunca
parto do conceito. Tenho uma biblioteca muito grande no escritório, e estamos sempre estudando.
Desse modo, os projetos são consultados independentemente do tema. É importante agregar o seu
olhar ao projeto consultado ou a uma situação vivida.
A5 – Não tenho dúvida que é a escola do conjunto Pedregulho – a Edmundo Bittencourt. Considero
este projeto do Reidy uma jóia da arquitetura. A solução do Ginásio é sensacional para o que era
feito na época. Eu a conhecia de livros e revistas de arquitetura. No entanto, a primeira vez que eu fui
visitá-la quei deslumbrada com a solução.
Revisando sua produção arquitetônica, qual o projeto de escola que você consideraria o
melhor e por quê?
A1 - Recentemente vivenciamos três experiências distintas. Projetamos uma escola privada dentro
de um condomínio classe AA, voltada para alunos estrangeiros, muito diferente dos padrões
adotados nas escolas brasileiras e fora da nossa realidade social. Depois recebemos a solicitação de
um projeto de escola prossionalizante com muita ênfase na tecnologia e, por ser reforma de um
edifício existente, com muitas limitações estruturais que nos obrigou a adotarmos uma arquitetura
mais fechada, contrariando nossa premissa de que a arquitetura de escola deve ser integrada ao
exterior.
A escola publica que projetamos em Recife é a que mais gosto, mesmo não sendo perfeita devido ao
seu caráter social que é muito marcante. Situamos o edifício próximo à rua de forma que estivesse
perto da comunidade e se tornasse referência para ela. O sítio ca em uma linha divisória de moradias
voltadas para classe media e baixa renda. Nosso escritório, por formação, valoriza muito o conceito
dos projetos e não há como escapar de sua proposição na fase de concepção do edifício. A escola é
um dos temas de projeto mais complexos e com o qual o arquiteto pode trabalhar porque desperta
a consciência do cidadão. É um tema que emociona, envolve e obriga o arquiteto reetir sobre a sua
contribuição social. Partimos do conceito de janelas e portas abertas para o conhecimentoe isso
é explorado no projeto, que com o uso dos brises horizontais criou uma linguagem compositiva
que traduziu a importância dada a esse elemento arquitetônico. A escola é simples, seu custo foi de
aproximadamente R$ 600,00 o m, mas o resultado nal cou dentro das nossas expectativas. O que
mais gostamos nela é sua expressão formal.
A2 Não considero as experiências que tive projetando escolas municipais como projetos
qualitativos. Foram projetos de cunho político, com prazo de nalização previsto para coincidir com
o calendário de eleições. Foram executados com estrutura metálica e gesso cartonado para atender
ao cronograma. Para o empreiteiro estes materiais não são convenientes porque aceleram o uxo de
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
184
caixa, em função da redução do tempo. As condições de entorno eram muito diferentes, em uma
delas, o anexo que estava sendo proposto teve de car colado a escola existente por falta de espaço,
comprometendo a entrada de luz e a ventilação. Na outra escola que cava em centro de terreno, foi
dado maior valor a área esportiva que era muito usada pelas crianças.
A3 O projeto que z para Aparecida de Goiânia resultou em uma boa escola. É uma escola eclética.
Tem modernidade, tem tradição... O programa é voltado para a pré-escola e fundamental. Não
ensino médio. Devido a um terreno difícil acabou resultando em uma escola com composição
movimentada. Os materiais ofereceram bom resultado. Usei paredes de alvenaria que me garantem
as condições acústicas e piso de alta resistência feito com desenho que tornou o espaço interessante.
Cabe ao arquiteto conhecer os materiais que especica; ele tem de ter domínio sobre o que projeta.
Ela recebe inuências e interpretações da obra do James Stirling , do Alvar Aalto, e dos brasileiros
que já citei.
A primeira escola que z para Osasco foi um acréscimo, também cou muito boa e é a que considero
melhor. Adotei como solução formal o que Franco Purine chama de “promiscuidade tipológica. Ou
seja: pátio + pavilhão + monoblocos tudo forma a escola. Um projeto de escola é a denição de
paredes e telhado, isso é o essencial. No entanto, que alvenaria, que revestimento que proporção?
Isso o torna arquitetura.
A4 – São propostas distintas. O que desenvolvi para a Nigéria é um Instituto de Ciências e Petróleo,
composto por dez laboratórios. É um projeto muito técnico, fechado, pesadão... Uso concreto e
brises metálicos que são materiais de fácil manutenção. É um projeto minimalista em que adoto a
modulação clássica de 1,25m herdada da escola de Chicago, onde a luz natural assume importância.
Tanto pode estar na Nigéria como no Arizona porque uso elementos de proteção ao sol e aproveito
a orientação sul para alguns laboratórios. No IAG da PUC a solicitação foi de um espaço de vivência
para os alunos da pós-graduação. Para a escola Corcovado, a proposta é de um edifício anexo ao
existente para abrigar os alunos do ensino fundamental.
Esta escola é a que mais gosto devido a sua localização e a solução formal que encontramos que é
muito leve. É composta por um conjunto de deques entrelaçados. Há várias alternativas em uma
única rotação. O sítio tem como vizinhança mata e edicações. É um projeto que além de ser solto,
leve, orgânico e provocador conseguiu obter sua própria identidade e está contextualizado. Não fere
a topograa do terreno, ele acompanha as curvas suavemente. Está assentado no nível +25m, mas
não é agressivo.
A5 A Escola Municipal Lins de Vasconcelos teve o projeto sob a minha coordenação. Considero
ser um bom projeto porque respeita as características do lugar, consegue um bom dimensionamento,
tem um espaço para a educação infantil, e na solução paisagística manteve uma mangueira adulta
existente no terreno integrando-a a rampa de acesso. É divertido para as crianças observar a
mangueira quando está com frutos, ao circularem pela rampa.
Analisando o seu projeto quais os aspectos interdisciplinares que foram trabalhados?
A1 - O conhecimento pedagógico, o conforto ambiental para controlarmos a luz das salas de aula e a
estrutura.
A2 – Estrutura
A3 Penso que é interessante trabalhar com um paisagista e com um artista plástico desde o início. A
interdisciplinaridade com o artista plástico é para a adoção da obra de arte na escola. No modernismo
o arquiteto denia onde haveria a intervenção do artista, como os painéis do Pedregulho, mas creio
que o artista é que deve denir. Com isso podem ser explorados aspectos sensoriais do edifício
a partir dos materiais, das texturas e sons que podem ser percebidos. Na arte você junta todo o
conhecimento, é uma questão didática importante.
185
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
A4 A topograa e a questão ambiental. No entanto, a Secretaria do Meio Ambiente está dicultando
sua aprovação.
A5 Aspectos pedagógicos relacionados ao projeto são denidos logo no início pela Secretaria
de Educação. Este projeto, por ser de edicação nova, trocou muita informação com o setor de
engenharia do município. No entanto, quando trabalhamos com reformas de edifícios tombados
temos de considerar os diversos aspectos relativos à restauração.
Qual o aspecto que mais o satisfez ao termino do projeto?
A1 - A reação do usuário, seu envolvimento com o edifício, o uso do espaço. Ver as crianças correndo
no pátio, vivenciando o edifício, foi muito emocionante. Do mesmo modo foi descobrir que a escola
incentivou os moradores da vizinhança a cuidar das suas casas e outras construções. Pintaram
fachadas, recuperaram telhados para carem à alturado novo edifício.
A2 Honestamente? Nenhum. Por questões de segurança, não consegui sequer voltar para ver o
projeto executado porque cavam em área de risco.
A3 – O espaço, proporção e a espacialidade resultante. Aalto e Zevi citam nas suas obras a
importância desses dois elementos no edifício. Quando vi o pátio da escola de Aparecida concluído,
cercado parcialmente por edifícios de três andares, mas abrindo em um dos pontos para a paisagem,
gostei do resultado espacial. A proporção é muito importante. É preciso estudar no local adotando a
escala real. Na Suíça, antes de aprovar uma casa, em algumas regiões, é necessário que seja feita sua
simulação volumétrica com linha para que o projeto seja aprovado pela comunidade.
Nossa escola de Aparecida cou mais colorida, diferente, compatível com o lugar e atendendo às
imposições do projeto. Uma escola é instituição, é soma de espaços, tudo tem de estar direito e
arrumado. Mas quem responde melhor esta questão é o usuário. Foi emocionante em uma visita,
ver um garotinho abrindo o armário dele, guardando seus pertences com todo cuidado para ir para
outra atividade na escola.
Em Osasco, o terreno da escola ca em uma área denominada “Rio de Janeiro de Osasco” por causa
da violência. Surpreendentemente, após a inauguração da escola e sua introdução na comunidade
local, o índice de violência baixou 30%. É muito difícil para o arquiteto retornar ao projeto executado
para analisá-lo, mas precisa ser feito. No entanto, quando se faz essa revisão a gente reete sobre o
que projetou e com isso vamos aprimorando nossas soluções e reduzindo nossos erros.
A4 O resultado compositivo do edifício do IAG
35
da PUC e vericar que o bar pertencente ao
térreo é super freqüentado pelos alunos e visitantes.
A5 Ver as crianças usando o espaço. A expressão facial delas mostrava que estavam aprovando o
projeto. Outro dado também marcante foi vericar que as construções vizinhas foram melhoradas
pelos seus proprietários procurando car “a altura” da nova edicação.
Existiu alguma diculdade a ser enfrentada durante o seu desenvolvimento?
A1 - A maior diculdade foi lidar com a construtora que era péssima. Ignoraram detalhamentos,
o acabamento das janelas cou abaixo do desejado, não respeitaram as especicações do projeto
paisagístico...
A2 – As empreiteiras
A3 Tempo de projeto e prazo. Na nossa realidade os prazos são atropelados e, na maioria dos casos,
o projeto sai precocemente para obra. Cada caso é um caso. Em Roraima tivemos problemas de
drenagem. Felizmente na visita inicial foi possível detectar. Foi necessário mexer na cota do terreno,
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
186
rever vários níveis. Também tivemos diculdades relativas à legislação local que era muito confusa.
Outro fator foi a inuência ambiental. A localização do terreno era muito próxima da rodovia e
como a questão ambiental interfere no meu desenho, tive de adotar uma barreira de árvores e voltar
as salas de aula para parte interna do edifício para que não cassem expostas ao ruído.
A4 – No Colégio Corcovado: enfrentar a burocracia da Secretaria de Meio Ambiente do município.
Na da Nigéria: obter as informações técnicas necessárias como, por exemplo, dados do nível de
sondagem do solo. O local é inóspito e politicamente tenso.
A5 A construtora e os scais que nem sempre são muito atentos. A diculdade de comunicação
entre os engenheiros e os arquitetos na execução da obra acaba comprometendo a qualidade de
execução do projeto. É fundamental que se desenvolva um caderno de encargos detalhadíssimo para
que não haja dúvidas e nem se cometa erros desnecessários.
O projeto atingiu o objetivo proposto? Sim, Não, por quê?
A1 - Sem dúvida. Porque despertou no usuário o sentido de valor. Ele entendeu que tem direito de
receber do estado o que é bom para ele. Então, nosso projeto, de algum modo, contribuiu para a
formação da consciência desse sujeito. Pode ser que entre as professoras haja alguma insatisfação
porque não pudemos ouvi-las tantas vezes como gostaríamos, mas creio que conseguimos transmitir
com a arquitetura dessa escola o valor que ela deve ter perante a sociedade.
A2 – Não, porque foram projetos sem expressão arquitetônica.
A3 - As escolas executadas são aprovadas pelo conselho do banco a partir da exibição do projeto. Em
muitos casos, por ser fora do Rio, só é possível ir vericar a obra três vezes durante a sua execução.
Então é preciso desenvolver um projeto básico muito bem feito, e isso nós produzimos com muito
cuidado. s temos que fazer um pacote técnico de desenho muito claro para os executores. E
felizmente conseguimos que eles compreendam todas as informações contidas nos desenhos que
compõem o projeto. Então, na minha visão, nós conseguimos atingir o objetivo.
A4 – Atingiu. Porque a resposta dos clientes foi a melhor possível. No projeto da Nigéria eu precisei
modicar a solução formal que anteriormente era mais leve. Se adotada, resultaria na necessidade de
uma viga de transição, inviável quanto ao custo e tempo de execução. No projeto feito para a PUC, o
uso contínuo do espaço atesta que foi bem aceito pelos usuários.
A5 Atingiu. No entanto é preciso relativizar esta resposta considerando a ótica da Secretaria. A
resposta dada por um arquiteto relaciona os aspectos arquitetônicos que tornam o projeto adequado
e interessante para os usuários. A resposta dada por um técnico da Secretaria estará visando o
aspecto quantitativo do edifício. Ou seja, para o técnico, o que conta é o número de salas que o
arquiteto conseguiu para abrigar o número de vagas que serão oferecidas no próximo período letivo.
Para os gestores do município a quantidade de escolas ou de salas de aula em um mesmo edifício é
estatisticamente mais signicativa do que a qualidade dos seus espaços.
Reiterando as explicações anteriores: as questões fechadas destinaram-se a alunos, a seus professores
de Projeto de Arquitetura III e a arquitetos que projetaram escolas, sem qualquer envolvimento
com a disciplina de projeto, lembrando que a parte teórica destas questões aparece justicada
no item 3.2.2.1 referente às respostas dos alunos. Apresentaremos então, os resultados obtidos e
subseqüentemente os comentários sobre as respostas dos arquitetos .
187
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
3.2.3.2 A s R e s p o s t A s d o s A R q U i t e t o s R e l A t i v A s à s q U e s t õ e s F e c h A d A s :
questão 2 c)- em sua oPinião, em que medida os ProBlemas aBaixo influenciam a
Qualidade do espaço esColar?
Escala de
avaliação Muito Médio Pouco
Sem
impacto
Freqüência
média
Problemas Número de respostas
Ausência de área
verde 3 2 0 0 3.6
Ofuscamento na
sala de aula 3 2 0 0 3.6
Circulações
longas 4 0 0 1 3.4
Falta de
privacidade na
sala 2 2 1 0 3.2
Uso de telha
metálica simples 2 2 1 0 3.2
tio de
recreação central 1 3 0 2 2.4
Ausência de
estacionamento 1 0 3 1 2.2
Cores
inexpressivas 1 1 2 1 2.0
Quadro 10 - problemas arquitetônicos e seu grau de inuência na qualidade do espaço escolar
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
188
Graf. 3.3 – freqüência média das respostas dos arquitetos
Mais uma vez conrma-se a preocupação com as condições visuais do ambiente. O ofuscamento,
acompanhado da ausência de área verde são os primeiros na escala de importância dos arquitetos.
Comparando com as respostas dos professores, a privacidade ganha um pouco mais de importância
neste grupo, ocupando o mesmo lugar na escala de importância que o incômodo causado pelo
uso de telhas metálicas. No entanto, considerando que as duas representam o som quase que de
forma direta, podemos interpretar que este ainda não alcança o mesmo grau de importância para
os arquitetos, como questões relacionadas ao uxo e acessibilidade. O pátio central de recreação
não impressiona pelo ruído provocado quando estiver em atividade. Para os projetistas, é mais
signicativa a integração favorecida pela sua localização central. E as cores inexpressivas, para este
grupo, são menos inconvenientes aos usuários do que a falta de estacionamento. Particularmente,
essa ordenação nal é um pouco contraditória com o discurso geral proferido na entrevista, no qual é
valorizada a questão cultural e o desejo do usuário. E nesse contexto, a cor assume mais importância
que o estacionamento.
189
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
questão 2d - considerando a fase de estudo do seu Projeto, classifique Por ordem de
imPortância os asPectos aBaixo (sendo 1 o mais imPortante e 8 o menos imPortante)
Escala de
importância 1 2 3 4 5 6 7 8
Problemas Número de respostas
Insolação 2 2 0 1 0 0 0 0
Ventos dominantes 0 0 2 2 1 0 0 0
Edicações
existentes no
entorno imediato 1 0 1 1 2 0 0 0
Fontes sonoras
pertencentes ao
entorno 0 1 1 0 0 2 0 1
Sentido da via de
tráfego 0 0 0 0 0 2 1 2
Árvores frutíferas
existentes no
terreno 0 0 0 0 0 0 3 2
Topograa 1 1 1 1 1 0 0 0
Legislação 1 1 0 0 1 1 1 0
Quadro 11- Ordenação dos elementos de inuência no estudo preliminar do projeto
As respostas dos arquitetos na questão 2D retratam uma maior valorização dos elementos climáticos
conjugados às características do meio urbano. Os quatro itens mais importantes são ocupados pela
insolação e ventos. Em seguida aparecem as edicações existentes no entorno. A correlação entre
esses três elementos é inteiramente coerente a partir da ordem de importância estabelecida pelos
respondentes. Anal, sol e vento podem ser bloqueados pelas edicações.
O som neste grupo é pouco valorizado. Ocupa a mesma escala de importância que o sentido da via
de tráfego que, conforme já analisamos, interferirá apenas na decisão de parte dos acessos.
A topograa não consegue se rmar em nenhum ponto marcante da escala. Cada respondente a
considera de forma diferenciada. No entanto, ocupa melhor posição entre os projetistas do que a
legislação. Esta, mesmo sendo cobrada ao nal do projeto para a obtenção da autorização de uso não
é, no conjunto de respostas, um fator expressivo no processo de concepção do projeto.
Mais uma vez, entre prossionais, as árvores existentes no terreno ocupam a sétima colocação.
Desta forma, mostram que a sua existência no terreno, não inui nas decisões relativas ao partido
arquitetônico e implantação, mesmo que estas contrariem a sua preservação.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
190
questão 2e - assinale o que você Pensa das afirmativas aBaixo:
Opinião
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Armativas Número de respostas
1-O edifício escolar
deve ser permeável. 1 3 0 1
2-Ginásio esportivo
deve estar próximo
ao bloco de ensino. 0 2 1 2
3- As características
do entorno
inuenciam
no partido
arquitetônico 3 1 1 0
4-Ocinas, salas de
música e grêmios,
devem car
integrados às salas
tipo. 2 1 0 2
5-Na localização do
refeitório e cantina
deve ser priorizada
a redução do
percurso dos alunos
em relação às salas. 1 2 1 1
6-Salas muito
profundas são
adequadas para
viabilizar uma
grande população
de alunos. 1 0 3 1
7-O pátio coberto
centralizado, com
as salas à sua volta
é a melhor opção de
localização porque
favorece o controle
visual durante o
recreio ou outra
atividade 1 3 0 1
8-Revestimentos
cerâmicos no piso
e paredes são as
melhores opções
neste tipo de
edicação. 2 2 0 1
9-Pé direito acima
de 4m ajuda no
conforto acústico
das salas 0 3 2 0
Quadro 12- Escala de opiniões/ Atitude
191
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
Armativas
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Pontuação atribuída a cada resposta
01 3 4 1 2
02 1 2 4 3
03 4 3 1 2
04 1 2 4 3
05 1 2 3 4
06 1 2 4 3
07 1 2 4 3
08 1 2 4 3
09 1 2 4 3
Quadro 13- Pontuação atribuída a cada resposta .
comentando as resPostas:
Os arquitetos, tal e qual os alunos e os professores, em sua maioria, concordam parcialmentecom a
primeira armativa. também aqueles que discordam. Apesar da resposta ser coerente sob o aspecto
sonoro, não podemos esquecer que em um projeto temos de atender a um conjunto de solicitações.
Neste caso, o clima do Rio de Janeiro, a necessidade de integração visual, e a acessibilidade não
devem ser esquecidos. Por isso, a resposta discordo parcialmente” recebe pontuação inferior.
Quanto ao ginásio, por ser uma fonte sonora potente, não deve car próximo do bloco de ensino.
Por isso, a opção de resposta pode ser discordo totalmente, ou então, discordo parcialmente. A
maioria dos respondentes pensa desse modo. Porém, quem concorde parcialmentecomo opção.
Nesse caso, se estão priorizando o percurso dos usuários, terão alguns problemas acústicos, cuja
correção posterior acarretará maior custo na obra. Mais uma vez, as ocinas e salas de música ainda
não são entendidas como áreas ruidosas por todo grupo. A maioria concorda com a armativa. Não
se conta que esta será uma integração problemática. O grêmio, por pertencer ao setor vivência,
não se justica no setor pedagógico. Na FAU/UFRJ, convive-se com situação semelhante por falhas
cristalizadas ao longo dos anos na organização e distribuição dos espaços.
As características do entorno, mais uma vez, entre os prossionais, é vista como um elemento de
inuência na proposição do partido. Porém, o som, conforme vimos nas respostas da questão 2D,
não é reconhecido como componente inuente deste entorno. Então, pode-se entender que serão as
edicações, através da sua escala e tipologia, a insolação, os ventos, a morfologia da área, a topograa
e a vegetação entre outros, que estarão atuando simultaneamente nas decisões do partido.
O pátio centralizado e coberto é considerado uma boa opção. O maior número de respostas indica as
armativas concordo totalmente e parcialmente. Mais uma vez, os aspectos funcionais relacionados
ao uxo e a visibilidade que se inserem no conceito de centralidade são os elementos que direcionam
as respostas. No entanto, neste grupo, em função das respostas obtidas nas entrevistas, podemos
entender melhor a escolha, mesmo que esta não contemple a teoria acústica. Para os arquitetos que
projetaram para o estado, o controle visual é praticamente um quesito obrigatório, reforçado pelo
limitado número de servidores que irão compor o quadro funcional de apoio. Para os arquitetos que
projetaram escolas pertencentes à rede privada, a realidade é outra. Dependendo do perl do curso e
do usuário, o pátio central pode ser proposto sem prejuízo ao conforto sonoro. Como, por exemplo,
em edicações para pós-graduação.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
192
Semelhante aos professores quando escolhem o revestimento cerâmico para piso e paredes, as
prioridades são a manutenção e a resposta visual do ambiente projetado. O som nem é cogitado.
Esse esquecimentodo som se conrma na última armativa. Quando se faz menção ao conforto
acústico das salas com pé direito acima de quatro metros, a maior parte dos respondentes concorda
parcialmente com a armativa. Ora, se adotamos um pé direito excessivamente alto, aumentamos a
reverberação da sala. Então, nessa questão, se somos atentos a interferência dos sons nos ambientes,
não podemos concordar nem totalmente, nem parcialmente com esta armativa.
Quanto à profundidade das salas, as respostas demonstram que para os arquitetos é um pouco mais
evidente a baixa qualidade espacial de salas muito profundas. Por experiência, muitos ainda lembram
o quanto era ruim as antigas salas de curso de vestibular, que abrigavam mais de cinqüenta alunos.
Nesses espaços, quem se posicionava mais ao fundo da sala, normalmente encontrava diculdade
para ver e ouvir o professor. Como nem sempre a ventilação era boa, o uso do ar condicionado
comprometia ainda mais a compreensão das palavras.
No entanto, no exemplo do refeitório e cantina, mais uma vez prevalece a preocupação com o uxo,
então, a maioria concorda com a redução do percurso. Atualmente, com as exigências decorrentes da
legislação referente à acessibilidade, ca muito difícil para o arquiteto aceitar que alguns percursos
precisam ser aumentados visando proteção sonora. No entanto, é uma discussão que precisa ser
estimulada entre projetistas.
3.3 discUssão
Observamos nesse capítulo, três visões distintas a partir do grupo selecionado para a pesquisa:
estudantes de arquitetura, professores e arquitetos.
As respostas dos estudantes apontam para a complexidade de informações que têm de ser conjugadas
para a obtenção de um bom projeto. Ao denirem a meta que pretendiam alcançar, as suas respostas
foram subdivididas em quatro categorias. Nelas, eles conseguem expressar uma grande preocupação
em obter um edifício que satisfaça aos usuários, e que os satisfaça como projetistas. No entanto,
não há, em nenhuma delas, respostas diretas em que façam referência ao som e indique ele que está
presente entre as suas preocupações.
Nas respostas pertencentes à categoria técnico-funcional, quando falam sobre a necessidade de
obter conforto ambiental” deixam transparecer, pelo cruzamento das respostas, que é o aspecto
térmico e lumínico que querem resolver corretamente. Aporque são conteúdos muito marcantes
na expressão do edifício, contribuindo nas discussões relativas à sua plasticidade.
Ao abordarem as sensações que podem ser obtidas com a arquitetura, deixam transparecer que
não percebem que o som relaciona-se diretamente com a forma, dimensões e texturas. Porém ao
desejarem “projetar um ambiente sem tensões ou stress, de alguma forma, estão aspirando um
ambiente em que o som contribua para o bem estar dos usuários.
Reconhecem que um ambiente de ensino precisa motivar seus usuários, mas falta associar que os
ruídos, ou sons indesejáveis, podem gerar um meio repulsivo e inóspito à produção intelectual,
comprometendo o desejo de projetar “um ambiente que estimule o aprendizado.
Ao analisarem se alcançaram a meta proposta, armam que conseguiram e fazem referência aos
mais diversos fatores, no entanto, o que prevalece nos discursos é a consecução do cumprimento do
programa de necessidades. Aliás, esse é um dos grandes desaos do trabalho do atelier de projeto a
cada período, entender e cumprir o programa relativo ao tema da edicação.
A localização do ginásio esportivo foi, para alguns, o maior obstáculo a ser enfrentado devido ao
barulho produzido no seu interior. Pela primeira vez, demonstram ter consciência da existência do
193
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
som e da sua conexão com o projeto. Porém, ao responderem sobre interdisciplinaridade, reforçam
a importância da disciplina conforto ambiental, entretanto, mais uma vez demonstram que
reconhecem nela o conforto térmico.
Apesar da disciplina conforto ambiental ser composta pelo tripé conforto térmico, lumínico
e astico na maior parte das zes, por todo o desconforto térmico que temos em alguns
meses do ano no Rio de Janeiro, as características do seu clima desperta discussões nos ateliês.
E as soluções para a correção ao desconforto provocado são imediatamente rebatidas através
de desenhos, na forma da edicão e no tratamento das fachadas. Ou seja, são sensões
rapidamente assimiladas e memorizadas pelos projetistas, posteriormente transpostas para a
linguagem arquitetônica com facilidade.
No conjunto de questões fechadas, inicialmente, apontam a disciplina de projeto, conforto ambiental
e processos construtivos como as mais importantes. E nas questões subseqüentes, caracterizam o
ofuscamento como o maior problema que inui na qualidade do espaço escolar, conrmando que a
visão é, para eles, o sentido mais valorizado por ser melhor percebido.
Em seguida, conforme as respostas da questão 2B reiteram que o conforto ambiental é muito
importante ao indicarem que a insolação, as fontes sonoras do entorno e os ventos são os três fatores
mais importantes a serem considerados no início do estudo preliminar.
Nas respostas referentes à escala de atitude, grande parte dos respondentes não reconhece o tio
como fonte sonora, os problemas sonoros causados por direito elevado, a interferência sonora
de refeitório e cantinas próximos às salas de aula, assim como salas de música e ocinas. Ou seja,
a percepção sonora deste grupo ainda está adormecida. Eles atendem às tradicionais imposições
do projeto, sem maiores questionamentos sobre a adequação, percurso reduzido, visibilidade e
dimensionamento favorável a ventilação.
As perguntas que surgem a partir das respostas dos alunos reportam-se a hábitos e costumes da
nossa sociedade. Será que a baixa percepção ao som ocorre justamente porque todos estão vivendo
em uma cidade barulhenta?
O meio urbano está cada vez mais ruidoso e, da mesma forma, muitas edicações. São veículos,
obras, ambulantes, telefones celulares que oferecem toques cada vez mais potentes, as pessoas
falam cada vez mais alto nas ruas, bares, e nos shoppings populares. Os aparelhos MP3, que
muitos usam para “mascarar” outros sons, estão tornando algumas pessoas um pouco surdas.
Enm, o bombardeio é tão intenso que, por defesa, se fecha o canal perceptivo com conseqüências
limitadoras para o projeto.
Nas cinco perguntas abertas destinadas aos professores, vericou-se que, também para o corpo
docente, a acústica ainda não é um elemento de inuência no processo de concepção do projeto.
Ao orientarem os alunos para a visita ao terreno, os elementos ressaltados no grupo dos fatores
ambientais foram apenas a insolação e a ventilação. A solicitação do levantamento de fontes sonoras
do entorno demonstra que uma intenção de considerar o som, mas esta acaba se perdendo
entre outras tantas exigências feitas aos alunos, pois se observa que sua repercussão ao longo dos
discursos inexiste.
Ao armarem que o objetivo foi atingindo, algumas ressalvas aparecem, entre estas, a de um
professor lamentando a exígua referência sobre acústica em escolas, principalmente sobre soluções
que possam ser empregadas em auditórios. Segundo ele, durante sua orientação, algumas situações
problemáticas e pontuais sobre o som são ilustradas com situações reais como, por exemplo, o
emprego da ventilação cruzada entre salas. Este tema - ventilação cruzada costuma ser um tema
abordado nas palestras proferidas por arquitetos convidados, em que, comumente, adotam como
exemplo as escolas do CIEP.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
194
Apesar das tentativas individuais de inserir a acústica na elaboração do projeto, ela ainda é
insuciente. Falta material didático proposto com linguagem clara e ilustrado com situações de
projeto que estabeleçam a conexão entre os fenômenos sonoros e a arquitetura.
Abordar a questão sonora em qualquer tempo do projeto é sempre positivo. Porem, quanto mais
precocemente isto for feito, melhor. A necessidade de adoção da ventilação natural nos edifícios
impõe uma discussão paralela sobre o som. Porém, este é um, entre tantos outros aspectos
signicativos, que entrelaçam a acústica às decisões do projeto, e que necessitam ser aplicados
desde o início dos estudos. Por outro lado, no cronograma do curso, quando a acústica é abordada
na disciplina de conforto ambiental, o estudo preliminar do projeto de escola está numa etapa
avançada, dicultando a revisão da proposta e a colaboração dos especialistas no tempo adequado.
Nas respostas dos arquitetos, durante as entrevistas, destacam-se duas grandes preocupações:
o usuário e a qualidade do espaço. Todos, indistintamente, querem, de alguma maneira, oferecer
o melhor espacialmente para alunos, professores e visitantes. Preocupam-se com os elementos
climáticos, com as características do sítio, com a identidade do edifício e seu papel político na
formação do aluno, com suas dimensões, com a segurança dos discentes e com os espaços de vivência.
Entretanto, nenhum se referiu ao som, elemento substancial na qualidade espacial de escolas.
Na abordagem sobre o objetivo do projeto, os arquitetos mesclam preocupações com o indivíduo e
com as soluções na arquitetura a m de tornar os espaços adequados e estimulantes para os usuários.
E novamente referem-se apenas ao sol, a luz e aos ventos como os elementos ambientais que precisam
ser bem solucionados no projeto. Não reconhecimento do som como um dos componentes do
tripé de conforto ambiental. Exatamente como os alunos e professores, os arquitetos só valorizam
dois sentidos : visão e tato.
Quanto à contratação de consultores, diferentes prossionais são relacionados, porém o único
arquiteto que mencionou a acústica, apenas informa que tem ciência de que existem consultores
dessa área, mas que não trabalhou com nenhum. Inicialmente alguns pensam em prossionais da
área pedagógica. Porém, ca muito evidente, a partir da lista de consultores descrita, que a estrutura
e as instalações em geral que priorizadas. As respostas não deixam transparecer se os arquitetos
não contratam um consultor em acústica porque dominam o tema ou porque a desconsideram. No
entanto, tomando por base respostas anteriores, parece que não contratam porque não vêm relação
signicativa com o som. Se o tema fosse, por exemplo, teatro a associação seria imediata.
Os projetos citados como referência foram ilustrativos para compreendermos o que os arquitetos
valorizam nos projetos. Dos exemplos citados, podemos entender, por analogia, que prezam a
expressão formal e a tecnologia, a permeabilidade, a durabilidade e a exibilidade dos espaços.
Algumas escolhas também indicam que, para alguns arquitetos, a acústica não faz parte do elenco
que qualica uma boa arquitetura.
Os projetos de arquitetos europeus e americanos citados trazem como marca comum a aplicação
de novos conceitos formais e pedagógicos. Nos europeus, por vêzes, a funcionalidade se sobrepõe à
forma. No entanto, por pertencerem a culturas muito diferentes da nossa, ca difícil estabelecer um
comparativo no campo sonoro, porque o comportamento dos usuários se modica radicalmente.
Inclusive a legislação urbana e edilícia é muito mais rigorosa quanto à questão sonora. Porém,
observa-se que são arquiteturas que se voltam mais para o interior do lote criando uma atmosfera
independente do entorno. As dimensões dos terrenos são mais generosas e as localidades, em
muitos casos, menos adensadas. De certa maneira, todas essas características parecem ser desejadas
pelo arquiteto.
Ao perguntarmos aos arquitetos sobre o melhor projeto de escola desenvolvido por cada um deles,
nossa intenção era ter, em alguma resposta, a qualidade sonora da edicação destacada, entre outros
predicados do edifício. Porém, apenas um, entre os cinco respondentes mencionou a acústica,
195
CAPÍTULO 03
A AcústicA nA coMpreensão de estudAntes
relacionando-a a escolha do material construtivo adotado na edicação. Todas as outras citações que
justicavam os projetos eram pertinentes, embora demonstrassem que, para a maioria, o conforto
em escolas está associado apenas à luz e à insolação.
No item relativo à interdisciplinaridade, o conforto é também ressaltado, no entanto, enfocando
mais uma vez apenas a luz natural.
Quanto ao aspecto do projeto que mais os satisfez, as respostas variaram entre o prazer de observar
a reação dos usuários no edifício, o resultado espacial da edicação e a inuência desta sobre a
vizinhança, estimulando a melhoria de outras construções.
Quantos às questões fechadas, observa-se na questão (2C), dois itens que se relacionam com o som
(circulações longas e ausência de área verde) foram apontados pela maioria dos prossionais como
os problemas que mais inuenciam na qualidade do edifício para ensino, seguidos do pátio central,
cuja localização é considerada pela maioria como um problema de dia importância na qualidade
do projeto.
Entretanto, quando cruzamos esta resposta com a questão (2E), vericamos que a maioria dos
respondentes “concordam parcialmente” que o pátio coberto central é a melhor opção de localização
no projeto, indicando que o controle visual dos alunos é uma questão prioritária.
Na questão (2D), a maioria das respostas nos mostram que as fontes sonoras do entorno não são
signicativas para os arquitetos, deste modo, podemos interpretar que, para os que aprovam a
localização central dos pátios, o som incidente nos ambientes à volta não é considerado como um
elemento inuente no projeto. Com essa resposta, conclui-se que na questão (2C), quando apontaram
a circulação longa como um problema muito signicativo para a qualidade do espaço de ensino, o
que motivou a escolha foi prioritariamente o fator dimensional do corredor e a acessibilidade.
Por analogia, deduzimos que, no segundo item (ausência de área verde), por tudo que observamos
anteriormente, a escolha foi feita a partir de diversos aspectos relacionados ao bem estar dos alunos,
no entanto, entre eles o som não estava incluído.
A maior parte dos entrevistados (alunos, professores e arquitetos) reconheceu que as características
do entorno têm importância na etapa do estudo preliminar, porém, entre eles, há os que concordam
que ocinas, salas de musica e grêmios devem car próximos às salas de aula.
A maioria dos respondentes também arma que refeitório e cantina devem car próximos ao setor
de ensino, priorizando a extensão do percurso em detrimento do conforto sonoro. Então, quando
algumas respostas indicam que o ginásio esportivo deve car afastado do bloco de ensino, temos a
impressão de que esta é uma decisão condicionada, sugerida pelos diversos edifícios de ensino que
adotam esta solução a partir dos anos trinta no Brasil, sem que, de fato, haja uma percepção de que o
som inuiria na sua localização.
Esta impressão é reforçada quando quase todos os respondentes concordam que revestimento
cerâmico sobre pisos e paredes é uma boa solução para salas de aula. Como já citamos na análise da
resposta dos alunos, a cerâmica tem baixo coeciente de absorção, e a sala, conforme sua dimensão,
tenderá a ser reverberante. Concordar que esta opção de revestimento é a melhor opção nos indica
que não há uma consciência plena das conseqüências relativas à escolha do material. E que antes de
tudo, conduzem o raciocínio do projeto focando a manutenção do edifício.
O que identicamos nas respostas dadas é que há pouca percepção do som em situações de projeto.
Entre os sentidos há uma supremacia da visão e do tato. Se tivéssemos citado em alguma pergunta
um outro elemento componente do programa, como por exemplo, o auditório, imediatamente
ocorreria a associação com o som. No entanto, espaços e materiais poucas vêzes são discutidos
relacionando-os à acústica, dicultando para os “não iniciados” uma co-relação dos fenômenos ao
processo projetivo.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
196
Dentro do grupo entrevistado, o que as respostas nos mostram é que para a maioria dos arquitetos
e estudantes de arquitetura, a acústica ainda é pouco associada ao processo de projeto e pouco
explorada como ferramenta inicial. Se o grupo fosse sabatinado sobre questões especícas
relativas ao som, provavelmente dariam respostas corretas. No entanto, no campo associativo é
que se perdem.
Tudo indica que não é uma questão de saber ou não saber acústica. E sim, da forma como o
pensamento sobre o projeto é organizado. O que é priorizado pelo projetista e por quê?
O controle físico é um dos aspectos mais estudados entre as incumbências de uma edicação.
A acústica, a iluminação, e o ar condicionado se converteram em especialidades altamente
desenvolvidas, nas quais o arquiteto, em parte, é competente. Como ele entende que é difícil
dominar todas as especialidades, aquelas com que tem menor empatia ou interesse, ele delega a outro
a solução dos problemas. Como nos dias atuais a imagem é um elemento forte na nossa sociedade, o
arquiteto, inicialmente, sente-se um pouco mais seduzido em resolver as questões visuais do projeto.
No entanto, ele também sabe que o resultado do projeto deve relacionar-se com todas as percepções
sensoriais do espaço. É como se travasse constantemente uma luta interna em que tem de enfrentar
contradições e oposições na sua lógica de projeto. Diante de tantas solicitações que têm de atender,
alguns elementos, como a acústica, acabam sendo empurrados para o m da la.
NOTAS
RICHARDSON, R.J. Pesquisa social, métodos e técnicas. São Paulo, Ed. Atlas AS, 19991
Na entrevista diretiva desenvolve-se a partir de perguntas pré-formuladas e com uma ordem 2
pré-estabelecida.
BAUER, Martin W. e GASKEL, George, Pesquisa Qualitativa com Texto , Imagem e Som – Um 3
manual prático, Petrópolois, RJ: Vozes, 2002
op.cit.4
As escalas de atitude são basicamente questionários aos quais são atribuídos valores numéricos 5
graduados a um conjunto de expressões verbais previamente escolhidas.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Edições 70, 19776
MARTINEZ, Alfonso C. Ensaio Sobre o Projeto. Brasília: Editora UNB, 20007
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Qualidade, Tese defendida na USP em 2005, p. 166
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FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio, consultado em htpp://aurelio.ig.com.br - acesso
em 2008
op.cit.12
AALTO,Alvar. La humanizacion de la arquitectura. 2 ed. Barcelona: Tusquets, 198213
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NORBERG-SCHULZ, C. Intenciones em Arqutectura, ed, Editorial Gustavo Gilli, S.A., 17
Barcelona,2001 ,p.78
grifo nosso18
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UFRGS; Brasília, MEC/SESu/PROED, 1983.
HERTZBERGER, Herman. Lições de arquitetura. 2 ed. São Paulo: Ed. Marins Fontes, 199920
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KANDINSKY, W. Do Espiritual na Arte e na pintura em particular. tiragem., São Paulo, 23
Martins Fontes, 2000
PERKINS, L.B. Elementary and secondary schools. USA. Wiley & Sons. 200124
Op.cit25
Op.cit.26
Op.cit.27
REIS-ALVES, Luiz Augusto dos ; PORTO, Maria Maia ; NIEMEYER, Maria Lygia Alves de . 28
Características do espaço sonoro em pátios internos. In: X Encontro nacional de conforto no
ambiente construído, 2003,
WESTON,R. Materiales,Forma y Arquitectura, Ed. Blume,Barcelona,200329
SILVA, Pérides Acústica arquitetônica e condicionamento de ar. 5 ed. Belo Horizante: EDITAL, 30
2005
ARAU,H. ABC de La Acústica arquitectónica Ed. Ceac, SA, 199931
Op.cit.32
A MHA é uma empresa de consultoria na área de automação e redes33
SME – Secretaria Municipal de Educação 34
INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
SMU – Secretaria Municipal de Urbanismo
IPP – Instituto Pereira Passos
IAG –Escola de Negócios da PUC Rio35
199
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao término dessa pesquisa, após um período tentando constatar, se, de fato, os arquitetos não
consideram a acústica como condicionante essencial no processo de concepção do projeto, e onde a
acústica se situa na sua escala de valores, é hora de avaliar o caminho percorrido.
No capítulo 1, ao reproduzir-se o conteúdo da disciplina de acústica, baseado nas ementas dos
cursos de arquitetura, verica-se que, tecnicamente, o prossional adquire conhecimento
suciente para reconhecer os fenômenos sonoros no desenvolvimento do projeto. Então, por que
não o aplica rotineiramente em qualquer tema de projeto? Por que só pensa na acústica quando é
solicitado a projetar os tradicionais temas a ela relacionados como auditório, teatro, cinema, ou sala
de concerto?
Um, entre outros fatores, que contribuem para a desconsideração do emprego da acústica no
processo de concepção, pode ser detectado ainda na fase de formação prossional. Ao fazer-se a
revisão do conteúdo teórico, observa-se que uma linguagem durae pouco integrada às situações
de projeto, que é pouco associativa ao processo de desenho, desestimulando seu uso posterior na
prática prossional por um arquiteto não especialista. Facilitaria para o estudante uma interpretação
e conversão dos conteúdos para uma linguagem que pudesse ser rapidamente assimilada e utilizada
em trabalhos práticos, desenvolvidos tanto nos ateliês como, futuramente, nos escritórios de
arquitetura. Seria uma adaptação do material didático, integrando a teoria à pratica, a m de que a
acústica se insira verdadeiramente como um instrumento participativo do processo projetual.
O modo como a acústica se interliga ao projeto foi sublinhado no capitulo 2.
Adotando como exemplo a arquitetura escolar, constatou-se que em cada decisão tomada, desde
a fase de implantação até ao detalhamento, a acústica está presente e integrada ao processo de
desenvolvimento do projeto. Porém, nem sempre o projetista se conta deste fato. Parece que o
arquiteto, em função das inúmeras solicitações que tem de atender durante a produção dos primeiros
desenhos, acaba priorizando aquelas que, de algum modo, são imediatamente notadas e cobradas
para a aprovação da proposta ou que terão mais peso na imagem nal da edicação, descuidando-se
de empregar os princípios básicos relativos ao comportamento do som.
Ao se consultar livros e periódicos de arquitetura, raramente em um memorial justicativo redigido
pelo arquiteto ou na crítica feita a uma edicação em análise, a questão sonora é abordada. Observa-
se, então, que desconsiderar a acústica é uma prática comum, não sendo característica de um grupo
especíco de arquitetos.
Descreve-se sobre a forma, sobre a luz, sobre as cores, os materiais e a estrutura, sobre a espacialidade,
enm, sobre os aspectos visíveis os quais a foto irá registrar. Deste modo, consolida-se uma maneira
de pensar o projeto em que o invisível é ignorado, embora exista, atue e inua nos ambientes.
A hipótese de que os arquitetos não consideram a acústica como condicionante essencial no processo
de concepção do projeto, conrmou-se nas pesquisas realizadas com estudantes de arquitetura e
prossionais da área.
Inicialmente, na análise das respostas do questionário aplicado aos estudantes, obteve-se parte
da conrmação. Nas questões abertas, dentro da categoria de respostas técnico-funcionais,
poucos alunos manifestaram, de forma direta, que tinham como meta criar um edifício escolar
com conforto acústico, evitando rdos. Outros optaram nas suas respostas por palavras que
expressam necessidades relacionadas ao prazer dos sentidos. Elas não indicam diretamente que o
som esteja entre suas preocupações, mas ao desejarem propor uma escolaconfortável, agradável
e acolhedora, entre outros adjetivos, indiretamente estão manifestando o desejo de obter um
ambiente sonoramente adequado. No entanto, este não é um processo mental consciente. A
preocupação com a acústica ocupa parte do pensamento dos estudantes, mas ainda não se
manifesta no discurso de forma clara e direta.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
200
Observa-se também, que o conforto ambiental é muito citado. Inicialmente como um dos objetivos
a ser alcançado no projeto, e, depois, como uma das disciplinas mais signicativas no trabalho
interdisciplinar incentivado no atelier. Porém, ca muito evidente na análise das respostas que,
quando se referem a conforto, na maioria das vezes ele está associado apenas ao clima, e as trocas
térmicas. Como se justica tal procedimento?
Inicialmente pela própria solicitação do clima do município do Rio de Janeiro; segundo, porque
no discurso de sustentabilidade, hoje tão valorizado na denição dos projetos, a questão energética
é muito mais presente e, portanto, mais cobrada do que a questão sonora. As características do
percurso do sol e as necessidades lumínicas do edifício são fatores que personalizam as soluções
propostas para a denição das fachadas, dando oportunidade para o projetista criar elementos
plásticos, que também auxiliam na composição do edifício. Nesse aspecto, as soluções para redução
sonora nas fachadas são menos desaadoras.
No conjunto de questões fechadas, as respostas revelam que a visão e o tato são os sentidos mais
percebidos, e, por isso mesmo os que, inicialmente, inspiram maior cuidado no projeto. A sensação
de calor sobre a pele, o aquecimento dos materiais que serão tocados, associados à excessiva
luminosidade do meio são situações de desconforto imediatamente assimiladas. Então, por
perceberem melhor estes dois sentidos, priorizam na qualidade do espaço escolar o ofuscamento,
as áreas verdes, os corredores longos e os ventos. Da mesma forma, reagem os professores e os
arquitetos entrevistados.
Ao classicarem os fatores mais importantes que interferem no desenvolvimento do estudo
preliminar, o som, por ser colocado de forma explícita na questão, consegue ser selecionado
como um fator de inuência. No entanto, professores e alunos se dão conta da sua importância.
Ele não faz parte das escolhas da maioria dos arquitetos, que valorizam mais a interferência dos
elementos climáticos.
Nas respostas à entrevista, o fato é conrmado. Praticamente não é feita nenhuma referência ao som.
Apenas dois arquitetos fazem uma rápida menção, mas sem maiores aprofundamentos.
Ao assinalarem as armativas, os três grupos demonstraram que sempre que há um confronto entre
percurso dos usuários e acústica, integração e acústica, facilidade de manutenção e acústica, o som
ca em segundo plano.
Integração, manutenção e percurso são três elementos marcantes nas decisões arquitetônicas e,
em especial, na arquitetura escolar. Compreende-se a diculdade do projetista em reconhecê-los
como coadjuvantes, em algumas situações especícas em que a acústica torna-se o referencial.
As respostas relativas à localização do ginásio, da cantina e do pátio demonstraram o quanto é
difícil, para a maioria, aceitar novas argumentações para justicar decies de projeto apoiadas
nos princípios de conforto.
A equipe de arquitetos selecionados para participar deste trabalho é altamente qualicada, e
laureada em seu currículo, com ampla experiência prossional e acadêmica. São extremamente
cuidadosos com a qualidade da informação transmitida a seus alunos ou estagiários. Formaram-
se em instituições consideradas de excelência. Então, por que se esquecemda acústica quando
descrevem o que priorizam na arquitetura escolar? Porque, ao apresentarem os primeiros esboços
do projeto ao cliente, eles sabem que este, não espera daqueles informações técnicas sobre o projeto.
O cliente antes de tudo quer ver o edifício e vai discutir o que é mais fácil para ele perceber. E a
acústica, apesar de agir diretamente sobre as sensações, geralmente, é trabalhada de forma técnica,
rígida e pouco envolvente.
201
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se o centro das atenções é o cliente, e sua segurança, saúde e bem-estar, (conforme foi citado por
um dos entrevistados) não podem ser descuidados, ca implícito que o som precisa ser tratado com
bastante atenção nos projetos. Anal, ambientes barulhentos ou ruidosos contribuem para o estresse
dos usuários. E ambientes silenciosos, por vezes, são angustiantes.
Uma das últimas cenas do lme Dancer in the Darkdo diretor Lars von Trier é muito marcante,
por conta do silêncio da cela na qual a personagem principal está isolada, e da angústia transmitida
por ela (que está perdendo a visão) ao tentar ouvir algum som na saída do tubo de exaustão, para ter
certeza de que há vida a sua volta.
Sabe-se que as necessidades humanas não se limitam à sobrevivência física, mas também incluem as
decorrentes da natureza espiritual do homem. A arquitetura atende a estes dois grupos. Interagimos
emocionalmente com os sentidos da visão, do tato (onde se inclui o calor), da audição e do olfato. A
arquitetura é espaço, forma, função e técnica, e nela se equilibram valores relacionados aos sentidos.
Para criar uma arquitetura plena é necessário contemplar todos os sentidos e esse é um dos grandes
desaos impostos ao projetista.
Na nossa cultura, a beleza é uma questão fundamental. Vivemos em uma sociedade em que a
imagem é muito valorizada. E este valor é transmitido para todas as coisas que nos envolvem.
Muitas vezes abdicamos de um determinado objeto, correto na sua funcionalidade, mas pouco
atrativo visualmente.
A maioria dos arquitetos entrevistados, ao indicarem do que mais gostaram nos seus projetos,
optaram pela forma. E, ao responderem sobre o que mais os satisfez, destacaram a reação emocional
dos alunos. Um elemento está relacionado ao outro.
Ao destacarem a forma, alimentam a esperança de que ela possa gerar uma emoção positiva nos
observadores. Um ambiente impressiona pelas sensações que causa nos seus usuários, e estas se
ligam imediatamente à memória. Alguns autores defendem a idéia de que o verdadeiro material da
arquitetura não é a construção em si é o comportamento das pessoas. Por isso, trabalhar o som
na arquitetura é dar possibilidade para que um ambiente venha a ser memorizado auditivamente
de forma positiva, coerente ao seu uso e função, permitindo que haja uma reação de prazer entre
seus usuários. Não esquecendo que ele é complementar aos outros sentidos e, juntos, alicerçam a
proposta de conforto.
Para que o arquiteto seja o elo na integração dos conceitos acústicos ao projeto, é imprescindível
que ele tenha inicialmente uma consciência holística do conforto
1
e da importância do seu papel na
consecução da qualidade de vida da sociedade.
Em seguida, é necessário que ele reconheça que o projeto, para ser pleno, deve relacionar-se com
todas as percepções sensoriais do espaço, do qual som é parte constituinte e signicativa para o bem
estar dos usuários e com nível de importância idêntico ao tato e à visão, expressos pelo conforto
térmico e lumínico dos ambientes. Porém, compreendendo que o ambiente construído é muito mais
rico e abrangente do que o cartesianismo que as normas nos imem.
A hipótese deste trabalho foi, pouco a pouco, ao longo de seu desenvolvimento, sendo comprovada.
A importância desta constatação não se limita a si própria. Ela foi também signicativa no
desencadeamento de reexões sobre os procedimentos possíveis que a ela se imbricam, a m de
avançar os estudos que propiciem o entendimento e a adoção efetiva da acústica em projetos da
arquitetura e do urbanismo.
1
Consciência holística do conforto visa atender as necessidades do conforto físico, necessidades psico-espirituais,
sócio-culturais e o conforto ambiental.
A RETA, A CURVA E O SOM
A integrAção dA AcústicA Ao projeto A pArtir do Arquiteto
202
Assim sendo, a partir da realização desta pesquisa vericou-se a possibilidade de seus desdobramentos
em outras futuras pesquisas, enfocando estudos sobre:
A percepção sonora na arquitetura.•
A interdisciplinaridade na arquitetura.•
O emprego do som como contribuição pedagógica na arquitetura dos ambientes escolares.•
O conteúdo de acústica desenvolvido nas escolas de arquitetura.•
O ensino de acústica e as novas formas de integração dos seus conteúdos teóricos ao projeto.•
Outros desdobramentos poderão surgir a partir da contribuição crítica de outros leitores. Mas,
é importante destacar que, neste trabalho, também conrmamos a partir das respostas dos
prossionais, que a arquitetura é extremamente rica e diversicada para se restringir simplesmente
a duas opções – certo ou errado. Na arquitetura o princípio da adequação cabe melhor. A adequação
pede que o ambiente sonoro seja coerente com a atividade nele desenvolvida.
Depois do elemento humano, o que deve ser priorizado na arquitetura será sempre um desao
para o projetista, e sofrerá variações de acordo com as circunstâncias do projeto. Neste trabalho
não a pretensão de querer tornar a acústica o centro do projeto, aporque iria de encontro
à livre escolha do arquiteto. O que se espera é que ela possa ser reconhecida como partícipe das
decisões projetuais, e contribua para a obtenção de ambientes saudáveis e expressivos. Reforça-se
a importância do trabalho pedagógico, ainda na fase de formação dos prossionais, que deverá
estimular a interdisciplinaridade entre acústica e projeto; para, posteriormente ter o arquiteto como
agente da aplicação do conhecimento teórico na prática projetual.
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