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habilidades e comportamentos de leitura e escrita que lhe permitam fazer o maior e
mais eficiente uso possível das capacidades técnicas do ler e escrever.
Nesse ponto, é preciso ressaltar que o conceito de letramento, de uma forma ampla,
permite ainda abrigar práticas letradas de indivíduos não alfabetizados. Um indivíduo pode
não saber ler e escrever, isto é, ser analfabeto, mas ser letrado, porque se envolve em práticas
sociais de leitura e de escrita. Como vivemos numa sociedade em que as letras, as palavras
estão por toda parte, as pessoas que convivem com elas obrigam-se a descobrir formas de usá-
las, já que precisam tomar o ônibus, ir a dados lugares, comprar determinados produtos,
manusear dinheiro etc., o que significa que, embora não estejam alfabetizadas em nível
escolarizado, essas pessoas, do “seu jeito”, utilizam a leitura como prática social. Da mesma
forma, a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los, brinca de
escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material escrito e percebe seu uso e
função. Embora ainda “analfabeta”, já penetrou no mundo do letramento, já é letrada.
O conceito do que é ser alfabetizado também vem evoluindo, e já incorpora as noções
de letramento. Durante muito tempo, considerava-se analfabeto o indivíduo incapaz de
escrever o próprio nome; nas últimas décadas, é a resposta à pergunta se sabe ler e escrever
um bilhete simples que define se o individuo é analfabeto ou alfabetizado. Ou seja, da
verificação apenas da habilidade da codificação do próprio nome, passou-se à verificação da
capacidade de usar a leitura e a escrita para uma prática social. Embora essa prática seja
bastante limitada, já se evidencia a busca de um “estado ou condição de quem sabe ler ou
escrever mais que a verificação da simples presença da habilidade de codificar em língua
escrita, isto é, já se evidencia a tentativa de avaliação do nível de letramento, e não apenas a
avaliação da presença ou ausência da tecnologia do ler e escrever” (SOARES, 2001, p. 37).
Do ponto de vista individual, o aprender a ler e a escrever engloba alfabetizar-se, deixar de ser
analfabeto, tornar-se alfabetizado, adquirir a “tecnologia” do ler e escrever e envolver-se nas
práticas sociais de leitura e de escrita. Essa nova prática tem conseqüências pois altera o
estado ou a condição do indivíduo em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos,
cognitivos, lingüísticos e até mesmo econômicos.
A alfabetização implica a aquisição de uma tecnologia: codificar em língua escrita
(escrever) e decodificar a língua escrita (ler). Não basta, porém ao aluno adquirir essa
tecnologia: ele precisa usá-la em práticas sociais de leitura e escrita, em práticas de
letramento. Não são processos independentes, mas interdependentes e indissociáveis: a
alfabetização se desenvolve no contexto de/e por meio de práticas sociais de leitura e de
escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este, por sua vez, só pode desenvolver-se