questões relativas à produção e à recepção de textos, a autores e leitores, e por esta
razão apenas será impossível excluir a dimensão dos contextos culturais”. O risco, para
o autor, está em as abordagens e interesses dos novos estudos culturais absorverem os
estudos interartes, agindo como uma superdisciplina que, como informou, nos EUA e
no Reino Unido, ao longo da última década, ameaça também engolfar os estudos
literários e a literatura comparada. Seu texto é da década de 1990 e reflete a
preocupação de alguns estudiosos da teoria da literatura diante do até então recente
avanço dos estudos culturais
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nas instituições de ensino. O autor reconhece que os
estudos interartes, determinados pelas mesmas preocupações que dominam o discurso
crítico atual, devam freqüentemente coincidir com os objetivos dos estudos culturais,
porém, ressalta que os vários textos que combinam ou fundem códigos semióticos
diferentes requerem competência específica. Os estudos interartes, como disciplina
específica, teriam como uma de suas funções a formação de leitores equipados para
lidar com intertextualidade interartes.
É inegável, portanto, a necessidade do estudioso da literatura, interessado em
investigar paralelos específicos com “a pintura”, “o cinema”, a “música” etc,
complementar sua formação com estudos sobre a outra arte em foco, a fim de, lidando
com os diferentes códigos semióticos, desenvolver uma metodologia de trabalho. Nesse
sentido, consideramos que um excelente exemplo de aproximação entre literatura e
pintura na modernidade encontra-se no artigo “A linguagem indireta e as vozes do
silêncio”, de Merleau-Ponty (2004, p.73), publicado originalmente em julho de 1952, na
revista Les temps modernes. Ao distinguir na linguagem um uso empírico e um uso
criador, o autor observa que a “palavra no sentido da linguagem empírica – isto é, a
chamada oportuna de um signo preestabelecido – não o é em relação à linguagem
autêntica”. Nas expressões já adquiridas, “há um sentido direto, que corresponde ponto
por ponto a torneios, formas, palavras instituídas. Aparentemente, não há lacuna aqui,
nenhum silêncio falante”. Diferentemente, o sentido das expressões que se estão
realizando “é um sentido lateral ou oblíquo, que se insinua entre as palavras, é uma
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Walter Moser (1998, p.66), em artigo sobre os Estudos Literários (EL) e os Estudos Culturais (EC),
propondo uma visão positiva da tensão entre ambos, esclarece: “na fase de surgimento e estabelecimento
institucional dos EC, a integração pura e simples dos EL nos EC foi, de fato, sugerida muitas vezes. A
formulação do título de um recente livro de Antony Easthope faz disso um programa explícito: Literary
into Cultural Studies. No entanto, Easthope não é o único a propor essa relação particular, e sua
formulação desse projeto está longe de ser a menos atenuada. Brantlinger segue, igualmente, a mesma
linha de argumentação em apresentação dos Cultural Studies in Britain and America. Finalmente, em
Eagleton, encontramos uma retórica que, tendo descoberto na teoria literária muitos defeitos e
impossibilidades, acaba sugerindo a passagem dos EL aos EC.