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Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas
Aprendizagem nas Organizações: uma análise em nível grupal
envolvendo situações de trabalho na recepção de um hotel
Luciana Davi Traverso Nodari
São Paulo
2009
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Luciana Davi Traverso Nodari
Aprendizagem nas Organizações: uma análise em nível grupal envolvendo
situações de trabalho na recepção de um hotel
Tese apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Administração de Empresas da
Universidade Presbiteriana Mackenzie para a
obtenção do título de Doutora em
Administração de Empresas
Orientadora: Profa. Dra. Arilda Schimidt Godoy
São Paulo
2009
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Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Professor Dr. Manassés Claudino Fonteles
Decano de Pesquisa e Pós-graduação
Professora Dra. Sandra Maria Dotto Stump
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Professor Dr. Moisés Ari Zilber
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Administração de
Empresas
Professora Dra. Darcy Mitiko Mori Hanashiro
Este trabalho é dedicado a cinco pessoas muito especiais em minha
vida:
Meus pais, Carmen e João Arthur da Cunha Traverso. Sem vocês,
e seu amor, nada disso jamais teria acontecido! Não é possível
traduzir em palavras a minha gratidão por tudo o que vocês fizeram
e continuam fazendo por mim! Amo vocês!
Meus irmãos, Manoel e Sandra Davi Traverso. Vocês são luz,
inspiração, companheirismo e alegria em minha vida! Amo vocês!
Ao Rudy José Nodari Júnior. Embora nossos rumos sejam
diferentes daqui para frente, devo muito a você pelo que sou hoje.
Obrigada por ter feito parte de tantos momentos importantes na
minha vida. Obrigada por tudo!
E também é dedicado a duas pessoas sem as quais a realização
desta tese certamente teria sido muito mais difícil:
À minha amiga Marta Fabiano Sambiase Lombardi, uma irmã que
a vida me deu de presente!
À minha orientadora, professora Doutora Arilda Schimidt Godoy.
Sua competência, dedicação, paciência, conhecimento,
perseverança, comprometimento e sabedoria confirmam o
verdadeiro valor das palavras: orientadora e professora!
AGRADECIMENTOS
Às pessoas especiais que hoje fazem parte da minha família: Marlene Peliciolli Kehl, Maria
Esther Duran Traverso, João Manuel Duran Traverso e José Cristani.
Aos meus avós, Aracy e Manuel Traverso, Aurora e José Davi, pelas lembranças carinhosas,
pelos exemplos e pela saudade que deixaram.
A toda minha família, por fazerem com que a minha vida tenha muito mais alegrias e muito mais
pessoas com quem compartilhar as dificuldades e os momentos felizes. Em especial, às duas tias
que me acolheram enquanto esta pesquisa foi realizada: Rosa Traverso e Regina Fialho
Klusener.
À Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) e seus dirigentes, por permitirem que eu
realizasse este doutorado. Em especial, aos dirigentes que me apoiaram quando fui selecionada
no programa de doutorado: professor doutor Aristides Cimadon, professor doutor Luiz Carlos
Lückmann e professora mestre Ana Beatriz Brancher.
À diretora da Área de Ciências Sociais Aplicadas (ACSA), professora mestre Tânia Durigon,
pelo apoio incondicional.
À professora doutora Eliane Filippim e ao professor mestre Jairo Luiz Bahú pelo apoio e
incentivo ao longo do curso. A ajuda de vocês foi fundamental, especialmente durante o processo
de seleção do programa de doutorado. Muito obrigada!
A todos os colegas, professores e técnicos administrativos do ACSA, pelo apoio e colaboração,
especialmente durante os seis meses que antecederam a entrega deste trabalho.
Aos alunos da Unoesc, que me motivam a estar sempre atualizada e por tudo o que me ensinam
enquanto “trocamos” conhecimento. Sou muito grata a todos vocês!
Aos dirigentes do hotel pesquisado, por permitirem que eu fizesse a pesquisa livremente no
empreendimento e por fornecer todos os dados solicitados.
Aos funcionários do hotel, pela acolhida e carinho com que me receberam no empreendimento e
pela forma como colaboraram para que as informações fossem coletadas. Muito obrigada!
Ao professor doutor Reynaldo Cavalheiro Marcondes e à professora doutora Eliane Pereira
Zamith Brito que, além de competentes gestores, são também pessoas admiráveis.
A Dagmar Dolinger, pelo carinho, dedicação e profissionalismo com que trata todos os alunos
do programa de pós-graduação em Administração de Empresas da UPM.
Aos professores do programa de s-graduação em Administração de Empresas do Mackenzie
pelos ensinamentos.
Aos colegas do doutorado: André Fernandes Lima, Francisval de Melo Carvalho, Marta
Fabiano Sambiase Lombardi, Ramon Silva Leite e Rubens de Almeida Zimbres. Foi muito
especial tê-los como colegas e amigos!
A toda família Nodari pelo carinho com que me acolheram ao longo desses vinte anos! Muito
obrigada.
A todos os meus amigos, fundamentais para que a vida seja enriquecida com alegrias, permitindo
que os momentos difíceis sejam divididos, tornando-se mais leves. Em especial, àqueles com os
quais eu tive mais contato no período em que realizei essa tese: Michele Riqueti Tesser,
Morgana Baú, Eliane Filippim, Claudia Finger-Kratochvil, Edilaine Ferrandin, Daniel
Tesser, Júlio Kratochvil e Paulo Ferrandin.
Agradeço à família da Marta, Márcio Lombardi e Helena Sambiase Lombardi, e também à
Edvania dos Santos, a
Nãna, que me acolheram em sua casa em vários momentos.
Agradeço aos colegas da sala F do prédio 29 do Mackenzie, não somente por compartilharem seu
espaço de trabalho, mas, especialmente, por me receberem com tanto carinho: doutora Claudia
Klement, doutor Elvio Porto, doutora Karen Prado e mestre Patrícia Artoni.
Agradeço também às duas instituições que financiaram, em parte, esta pesquisa: Fundo
Mackenzie de Pesquisa e Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Campus de
Joaçaba.
Agradeço, com especial gratidão, às duas pessoas que deram suporte para que este trabalho fosse
realizado: Marisa Vargas e Rodrigo André Fernandes. Sem o apoio, dedicação,
profissionalismo e competência de vocês, teria sido quase impossível encerrar esta etapa! Muito
obrigada!
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO
..............................................................................................................
16
2
ARCABOUÇO TEÓRICO
...........................................................................................
29
2.1 APRENDIZAGEM INDIVIDUAL.............................................................................. 29
2.1.1
A aprendizagem pela experiência
.................................................................................
30
2.1.2
Características da aprendizagem pela experiência
.....................................................
32
2.1.3
A teoria da aprendizagem pela experiência
.................................................................
35
2.1.4
O desenvolvimento da aprendizagem pela experiência
...............................................
40
2.1.5
O papel da conversação na aprendizagem pela experiência
43
2.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL...................................................................
49
2.2.1
A teoria da ação.............................................................................................................
49
2.2.2
Ação, questionamento e conhecimento organizacional
..............................................
51
2.2.3
Aprendizagem organizacional sob o enfoque da teoria da ação
................................
54
2.2.4
Sistema de aprendizagem organizacional
....................................................................
59
2.3 INTEGRANDO APRENDIZAGEM INDIVIDUAL E ORGANIZACIONAL.............
60
2.3.1
O papel da aprendizagem individual e organizacional no modelo OADI-SMM
.....
61
2.4 APRENDIZAGEM COLETIVA E NOS GRUPOS DE TRABALHO........................ 68
2.4.1
Aprendizagem coletiva e o ciclo da aprendizagem organizacional
............................
68
2.4.2
A aprendizagem individual e a compreensão tácita das estruturas de
significados.....................................................................................................................
71
2.4.3
A aprendizagem organizacional e as estruturas de significados
................................
74
2.4.4
Como aprender coletivamente
......................................................................................
78
2.4.5
Características da aprendizagem organi
zacional nos grupos de trabalho...............
84
2.5
INTEGRANDO AS TEORIAS DA APRENDIZAGEM INDIVIDUAL,
ORGANIZACIONAL E NOS GRUPOS DE TRABALHO........................................ 94
2.6 AS BARREIRAS E OS FACILITADORES DA APRENDIZA
GEM NAS
ORGANIZAÇÕES ........................................................................................................
104
3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...............................................................
120
3.1 METODOLOGIA UTILIZADA....................................................................................
120
3.2 ESTUDO DE CASO QUALITATIVO..........................................................................
121
3.3 REALIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS.................................................................
123
3.3.1
As entrevistas
..................................................................................................................
123
3.3.2
A observação-participante
.............................................................................................
125
3.3.3
A análise documental....................................................................................................
..
126
3.4 PROCESSO DE ANÁLISE DE DADOS......................................................................
...
127
4
O LOCAL ESTUDADO E SEUS PARTICIPANTES..............................................
130
5
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS...........................................
143
5.1 O QUE OS RECEPCIONISTAS E AUXILIARES DA RECEPÇÃO FAZEM...........
144
5.2
COMO OS FUNCIONÁRIOS APRENDEM A REALIZAR AS TAREFAS NO
SETOR............................................................................................................................
161
5.3 ASSOCIAÇÃO ENTRE APRENDIZAGEM E MUDANÇA..................................... 176
5.4 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E DIFICULDADES DO DIA-A-DIA....................
187
5.5 COMUNICAÇÃO E APRENDIZAGEM.....................................................................
208
5.6 EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS E APRENDIZAGEM.......................................
219
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................
226
6.1
COMO OCORRE A APRENDIZAGEM NOS GRUPOS DE TRABALHO DO
ESPAÇO DA RECEPÇÃO DO HOTEL PESQUISADO..............................................
226
6.2
OS DADOS OBTIDOS NA PESQUISA E SUA RELAÇÃO COM O
REFERENCIAL TEÓRICO...........................................................................................
236
6.3 LIMITAÇÕES DO ESTUDO E SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS.................
245
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................
247
GLOSSÁRIO..............................................................................................................................
261
APÊNDICES..............................................................................................................................
263
APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido...................................................
264
APÊNDICE B – Roteiro de entrevistas................................................................................. 265
APÊNDICE C – Matriz de amarração das perguntas dos roteiros de entrevista...................... 287
ANEXOS....................................................................................................................................
291
ANEXO A – Questionário de avaliação.....................................................................................
292
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição da faixa etária.......................................................................
.................
138
Tabela 2 - Distribuição da escolaridade................................................................................
......
138
Tabela 3 - Tempo que trabalha no hotel..............................................................................
........
139
Tabela 4 - Tempo que trabalha na hotelaria.............................................................................
...
140
Tabela 5 - Escolha da hotelaria como profissão.....................................................................
....
140
Tabela 6 - Faixa etária do segundo grupo pesquisado..............................................................
141
Tabela 7 - Tempo de hotelaria do segundo grupo pesquisado..................................................
141
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Ligações interdepartamentais da recepção.....................................................
24
Figura 2 -
Dimensões estruturais subjacentes ao processo de aprendizagem
experiencial....................................................................................................
37
Figura 3 -
Dimensões estruturais subjacentes ao processo de aprendizagem pela
experiência e as formas básicas de conhecimento resultantes.......................
38
Figura 4 -
Teoria da aprendizagem pela experiência de crescimento e
desenvolvimento.............................................................................................
42
Figura 5 - Ação, questionamento e conhecimento organizacional..................................
53
Figura 6 - Ciclo simples e ciclo duplo de aprendizagem................................................
56
Figura 7 - O ciclo observa-acessa-desenha-
implementa da aprendizagem
individual........................................................................................................
62
Figura 8 - Modelo integrado de aprendizagem organizacional.......................................
.
67
Figura 9 - O ciclo da aprendizagem organizacional.................................................
........
70
Figura 10 - Elementos no ciclo da aprendizagem organizacional.....................................
79
Figura 11 - Um modelo de aprendizagem em teams de trabalho......................................
85
Figura 12 - Ciclo da aprendizagem individual e organizacional...........................
.............
101
Figura 13 -
Integração das teorias da aprendizagem individual, organizacional e nos
grupos de trabalho........................................................................................ 103
Figura 14 - Fonte de coleta de dados da pesquisa...........................................................
127
Figura 15 - Organograma do empreendimento.................................................................
135
Figura 16 - Compreensão dos funcionários sobre a estrutura
hierárquica do
empreendimento.............................................................................................
136
Figura 17 -
Espaço destinado ao lançamento de informações no sistema utilizado pelo
hotel................................................................................................................
159
Figura 18 -
Formas pelas quais os hóspedes encaminham suas sugestões e reclamações
à diretoria........................................................................................................
177
Figura 19 - Ações dos recepcionistas quando os resultados não se ajustam à
expectativa.......................................................................................................
202
Figura 20 - Elementos no ciclo
da aprendizagem organizacional no contexto do
empreendimento pesquisado..........................................................................
238
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 -
Análise das publicações na área da hotelaria .................................................
26
Quadro 2 -
As contribuições dos modelos de processos de aprendizagem para a
aprendizagem experiencial de Kolb...........................................................
.....
31
Quadro 3 -
Características dos estilos de aprendizagem............................................
........
39
Quadro 4 -
Cinco dialéticas da conversa na aprendizagem pela experiência...........
..........
45
Quadro 5 -
As principais características das cinco tensões dialéticas...............................
47
Quadro 6 -
Ilustração dos extremos dialéticos.................................................................
..
48
Quadro 7 -
Conceitos relevantes no modelo OADI-SMM................................................
66
Quadro 8 -
Diferenças entre os três tipos de significados.................................................
77
Quadro 9 -
Aspectos que favorecem ou inibem a aprendizagem nos grupos de
trabalho...........................................................................................................
87
Quadro 10 -
As diferenças entre os três tipos de grupo.......................................................
90
Quadro 11 -
Como os teams
organizacionais mapeiam os objetivos de aprendizagem
radical e incremental......................................................................................
92
Quadro 12 -
Comparativo das teorias utilizadas na revisão bibliográfica deste
trabalho...........................................................................................................
99
Quadro 13 -
Efeitos organizacionais das falhas de aprendizagem nos teams.....................
.
105
Quadro 14 -
Classificação dos diferentes tipos de barreiras de aprendizagem...............
.....
115
Quadro 15 -
Percepção sobre a forma de funcionamento atual das duas recepções...........
147
Quadro 16 -
Percepção sobre os auxiliares de recepção desempenhar as atividades dos
recepcionistas.................................................................................................
148
Quadro 17 -
Atividades realizadas na recepção do hotel....................................................
149
Quadro 18 -
Tarefas mais fáceis e mais difíceis desenvolvidas na recepção..................
.....
156
Quadro 19 -
Atividades mais importantes da recepção.......................................................
157
Quadro 20 -
Processos da recepção que funcionam adequadamente..................................
160
Quadro 21 -
Formas de aprendizagem informal dos funcionários da recepção.................
..
164
Quadro 22 -
Sugestões dos funcionários para o setor da recepção..............................
........
181
Quadro 23 -
Feedback
sobre as atividades desenvolvidas, na percepção dos funcionários
do setor............................................................................................................
187
Quadro 24 -
Situações-problemas identificadas............................................................
......
196
Quadro 25 -
Tomada de decisão na empresa, na percepção dos funcionários do
setor.................................................................................................................
202
Quadro 26 -
Situações identificadas que vão contra à teoria esposada da organização.....
207
Quadro 27 -
Percepção dos recepcionistas sobre a comunicação com os outros
setores.............................................................................................................
213
Quadro 28 -
Expectativa profissional dos funcionários do setor........................................
219
Quadro 29 -
Expectativa profissional dos funcionários que desejam permanecer na
hotelaria...........................................................................................................
221
Quadro 30 -
Expectativa profissional dos funcionários que desejam mudar de
atividade..........................................................................................................
221
Quadro 31 -
Percepção dos recepcionistas sobre as expectativas do
hotel quanto às
atividades que eles desenvolvem....................................................................
223
Quadro 32 -
A aprendizagem individual e no grupo de trabalho no contexto
pesquisado......................................................................................................
233
Quadro 33 -
Extremos dialéticos da conversação no contexto do empreendimento
pesquisado.......................................................................................................
236
Quadro 34 -
Sistema de aprendizagem organizacional no contexto do empreendimento
pesquisado......................................................................................................
237
Quadro 35 -
Aspectos que favorecem ao desenvolvimento de grupos que aprendem no
contexto do empreendimento pesquisado.......................................................
239
Quadro 36 -
Características dos grupos de baixa aprendizagem e o grupo do
empreendimento pesquisado...........................................................................
240
Quadro 37 -
Barreiras da aprendizagem no contexto do empreendimento pesquisado......
243
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1: Informação para os recepcionistas...............................................................
211
Fotografia 2: Bilhetes existentes na recepção do hotel três estrelas......................
...............
212
LISTA DE SIGLAS
ABIH - Associação Brasileira da Indústria de Hotéis
EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo
FNRH - Ficha Nacional de Registro de Hóspedes
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SETUR - Secretaria do Turismo do Rio Grande do Sul
SINDPOA - Sindicato de Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre
UH - Unidade Habitacional
Resumo
O presente estudo teve como objetivo descrever e analisar os processos de aprendizagem
individual e grupal que ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da recepção de
hotéis. Esta pesquisa evidencia a aprendizagem nos grupos de trabalho, o esquecendo, todavia,
que ela depende da aprendizagem individual para produzir efeito na aprendizagem
organizacional. A investigação foi realizada por meio do estudo de caso qualitativo aplicado no
espaço da recepção de um hotel de médio porte da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Como estratégias de pesquisa, foram utilizadas entrevistas com roteiros semiestruturados, a
observação participante e a análise de documentos. Os dados coletados foram analisados por
intermédio do processo de análise textual interpretativa, auxiliados pela elaboração de templates.
O grupo de funcionários pesquisado, composto por sete recepcionistas e três auxiliares de
recepção, apresenta, no geral, baixo nível de escolaridade. Foram aprendendo as atividades no
estabelecimento e se acostumando a essa realidade de tal forma que se acomodaram com as
situações e com as atividades que realizam. O aprendizado das atividades desempenhadas pelos
funcionários do espaço da recepção acontece, predominantemente, pela aprendizagem informal.
São identificadas poucas mudanças no setor, e os modelos mentais individuais prevalecem na
resolução dos problemas. As decisões são centralizadas pela direção, e os funcionários não
buscam nem recebem informações que permitam a criação de novos significados. Como
resultado desse contexto, percebe-se que a aprendizagem em grupo no ambiente pesquisado
apresenta mais barreiras do que aspectos facilitadores para seu desenvolvimento.
Palavras-chave: Aprendizagem nas organizações. Aprendizagem individual. Aprendizagem em
grupos de trabalho. Hotelaria.
Abstract
The objective of this study is to present and analyze the processes of individual and group
learning that occur in everyday work situations taking place at the reception area of hotels. This
research highlights the learning skills in work groups, not forgetting, however, that it depends on
the individual learning for effective organizational learning. The research was accomplished
using the qualitative case study applied in the reception area of a medium size hotel in the city of
Porto Alegre, Rio Grande do Sul. As research strategies, interviews were used with semi
structured itineraries, the participant observation and the analysis of documents. Data collected
were analyzed through the interpretative process of textual analysis, aided by the development of
templates. The employees' group researched presents, in general, low education level. They
learned the activities in the establishment and got so used to that reality in such a way that they
get comfortable with the situations and activities that they have to accomplish. The learning of
the activities performed by the employees of the reception area happens, predominantly, by the
informal learning. Few changes are identified in the industry, and individual mental models
prevail in the resolution of problems. Decisions are centralized by the management, and the
employees did not seek or receive information to enable the creation of new meanings. As a
result of this context, we find that group learning in the researched environment presents more
barriers than facilitators’ aspects to its development.
Keywords: Learning in organizations. Individual learning. Learning in work groups. Hostelry.
1 INTRODUÇÃO
As empresas, por meio da globalização, envolvem-se em lutas cada vez mais acirradas,
sendo vencedoras as organizações e economias que se adaptarem de forma intensiva às
demandas do mercado (REED, 1999). Nesse contexto, toda a estrutura permite ser repensada
ou recriada, para que os produtos e as empresas possam se manter nesse mercado, é preciso
que agreguem valor e sejam economicamente viáveis (BESANKO et al., 2005). Essa
agregação de valor pode ser alcançada por inúmeras escolhas estratégicas empresariais, entre
as quais, o melhor aproveitamento dos recursos humanos aparece como uma alternativa
importante.
Relacionado ao desenvolvimento dos recursos humanos, à área de comportamento
organizacional e inserido no processo de gestão empresarial, o campo da aprendizagem nas
organizações tem crescido de forma rápida (LYLES; EASTERBY-SMITH, 2003;
ANTONELLO, 2005), tornando-se amplamente conhecido nos últimos anos. Para Easterby-
Smith e Araujo (2001), existem dois grandes motivos que explicam essa promoção do
assunto: ter atraído a atenção dos acadêmicos de disciplinas díspares como, por exemplo, os
estrategistas de necios que perceberam que a habilidade de uma organização aprender
mais rápido do que seus concorrentes pode ser a chave para o sucesso; o fato de muitos
consultores e companhias terem identificado a importância comercial da aprendizagem para
as organizações.
A proliferação de estudos sobre o assunto gerou grande diversidade de perspectivas
de análise do fenômeno da aprendizagem no contexto organizacional, tanto no que se refere
às perspectivas pelas quais o assunto é compreendido quanto pelos diferentes níveis em que
pode ser observada no contexto da organização.
Diante da multiplicidade de pesquisa sobre o assunto, alguns autores desenvolveram
trabalhos que buscam orientar os pesquisadores da área, sistematizando o resultado das produções
sobre o tema em diferentes disciplinas, escolas de pensamento ou perspectivas. Na literatura
internacional, destacam-se os trabalhos de Shrivastava (1983), Tsang (1997), Easterby-Smith
17
(1997) e Pawlowsky (2001). No Brasil, esse tipo de estudo foi desenvolvido por Antonello (2002,
2005), Loiola e Bastos (2003) e Antonello e Godoy (2007, 2008).
Segundo Antonello e Godoy (2007), a literatura internacional sobre aprendizagem
organizacional encontra-se distribuída em sete principais perspectivas de análise, dependendo do
seu alinhamento teórico com outros campos do conhecimento: perspectiva psicológica
(subdividida em três correntes teóricas: comportamental, construção social e psicologia aplicada);
perspectiva sociológica (subdividida em cinco tradições: conflito, racional/utilitária,
Durkheiniana, microinteracionista e pós-moderna); perspectiva antropológica; perspectiva da
ciência política; perspectiva histórica; perspectiva econômica; perspectiva da ciência da
administração (subdividida em seis temas: cognitiva e do conhecimento, tomada de decisão e
adaptação, teoria de sistemas, cultural, aprendizagem na ação e estratégia/gerencial).
Outra forma de estudar a aprendizagem nas organizações é compreendê-la com base em
diferentes níveis (PAWLOWSKY, 2001), entre os quais, destacam-se os seguintes: individual;
grupal; organizacional; intraorganizacional; interorganizacional. No entanto, a subdivisão mais
comum entre os níveis de análise do fenômeno da aprendizagem costuma ser entre o individual e
o organizacional. No primeiro, o típico argumento é que a aprendizagem organizacional é um
tipo particular de aprendizagem feita na organização por indivíduos-chave; o resultado dessa
aprendizagem individual resulta em mudança organizacional. A segunda abordagem afirma que
as organizações podem aprender porque possuem capacidades que são idênticas ou equivalentes
às capacidades que os indivíduos possuem que os possibilita a aprender, ou seja, em relação à
aprendizagem, essa abordagem trata as organizações como se fossem indivíduos (KIM, 1993).
As teorias que estudam a aprendizagem nas organizações no nível individual destacam
que o comportamento dos indivíduos no contexto pode ser tanto os limitadores efetivos da
mudança organizacional quanto promovê-la, ou seja, compreendem que o indivíduo está no
centro do processo da aprendizagem organizacional. Essa corrente é muito forte na literatura de
aprendizagem nas organizações, especialmente, por apresentar teorias consistentes a respeito da
aprendizagem individual no contexto organizacional como, por exemplo, a “aprendizagem
experiencial” de Kolb (1984).
as teorias que tratam da aprendizagem no nível organizacional utilizam-se da
aprendizagem individual como um modelo que pode ser replicado no nível organizacional, ou
seja, consideram que os mesmos processos que ocorrem com a aprendizagem individual
18
acontecem no nível organizacional. Inseridos nessa perspectiva de análise, são encontrados
autores que procuram examinar a relação entre os níveis individual e organizacional com base em
modelos explicativos como, por exemplo, Argyris e Schön (1996), com a “teoria da ação”. Kim
(1993), com o “modelo integrado de aprendizagem organizacional”, procura integrar a
aprendizagem individual e organizacional. No entanto, esses autores acabam examinando as
ações dos membros da organização na condição de agentes responsáveis pela aprendizagem
organizacional em sua totalidade.
Ambas as abordagens, individual e organizacional, para a análise do femeno da
aprendizagem nas organizações, têm gerado questionamentos decorrentes das lacunas existentes
para a compreensão do fenômeno.
No nível do indivíduo, por exemplo, o motivo dos questionamentos refere-se à carência
de explicações sobre como é transferido o conhecimento do indivíduo para a organização e a falta
de esclarecimentos sobre como ocorrem os processos intervenientes por meio dos quais a
aprendizagem organizacional é criada (COOK; YANOW, 1995; EDMONDSON, 2002). No
nível organizacional, todavia, os questionamentos referem-se a descrever episódios da
aprendizagem individual que ocorrem dentro do contexto organizacional como sendo
aprendizagem organizacional e a focar os trabalhos nos efeitos das rotinas, apresentando
maior tendência a executar uma pesquisa limitada que preferência para entender
competências organizacionais corriqueiras (COOK; YANOW, 1995; EDMONDSON,
2002).
Esses questionamentos quanto ao nível de análise não se limitam à aprendizagem nas
organizações. Rousseau e House (1994), em estudos na área de comportamento organizacional
que analisam o fenômeno na perspectiva “micro” e “macro”, explicam que pesquisas que optam
por tal divisão correm os riscos de: supergeneralizar, assumindo conceitos semelhantes entre os
níveis; subestimar o efeito dos estudos no nível intergrupal, da organização no indivíduo e do
indivíduo no ambiente; reificar rotinas e eventos que também motivam as respostas dos
membros.
Rousseau e House (1994, p. 14) sugerem, então, uma postura intermediária para pesquisas
na área de comportamento organizacional, pela adoção da perspectiva “meso”, que se refere à
“integração da teoria micro e macro, no estudo de processos específicos de organizações que por
sua própria natureza são uma ntese dos processos psicológicos e socioeconômicos”. Pesquisas
19
meso ocorrem no contexto organizacional quando processos de dois ou mais níveis são
investigados de forma simultânea e quando alguns conceitos não podem ser investigados em um
nível apenas; dessa forma, uma abordagem “meso” é integrativa, pois pressupõe que incorpore
fatores de dois ou mais níveis (ROUSSEAU; HOUSE, 1994).
Na aprendizagem organizacional, essa divisão entre os níveis de análise encontra também
a possibilidade de um posicionamento “meso” para suas pesquisas. Dixon (1996), por exemplo,
divide o estudo da aprendizagem nas organizações em três tipos: a primeira, nos indivíduos que
constroem seus significados com base em suas experiências e treinamentos; a segunda, quando os
indivíduos oportunizam que seus significados pessoais sejam compartilhados com os outros na
organização; a terceira é a categoria coletiva de aprendizagem em que os momentos do passado
unem os membros da organização, permitindo que trabalhem em consonância uns com os outros.
Há, inclusive, uma preocupação com o desenvolvimento de pesquisas emricas no nível do
grupo, presente nos discursos de pesquisadores da área como: Cook e Yanow (1995), Crossan, Lane e
White (1999) e Edmondson (2002).
Acredita-se, no contexto deste estudo, que entendendo o fenômeno da aprendizagem nas
organizações pela perspectiva do nível grupal, será possível alcançar, outrossim, as principais
características e vantagens da abordagem “meso”, ou seja: observar os efeitos do contexto no
comportamento do indivíduo e do grupo; entender o contexto pelos processos psicológicos
individuais e também pelas dimicas sociais; expandir as unidades de estudo para incluir
características abstratas organizacionais, tais como rotinas, procedimentos e eventos (ROSSEAU;
HOUSE, 1994).
Considera-se, além disso, que a “aprendizagem pode de fato ser feita pelas organizações”
(COOK; YANOW, 1995, p. 431). No entanto, reforça-se a informação de que as ideias ocorrem
no nível individual e são compartilhadas no grupo em um processo integrativo. Neste trabalho
considera-se, portanto, que são os indivíduos, os processos sociais e as dinâmicas de grupo por
meio dos quais eles interagem estão entre os principais elementos que facilitarão ou inibirão a
aprendizagem nas organizações.
Outras possibilidades de análise da aprendizagem nas organizações em diferentes níveis,
tais como intra e interorganizacional, identificados por Pawlowsky (2001) e Pawlowsky, Forslin
e Reinhardt (2001), não serão abordados neste estudo. Ambas as perspectivas de análise fogem
ao escopo deste trabalho, cujo foco está voltado para a recepção dos hotéis, não entrando,
20
portanto, em questões sobre diferentes grupos dentro da organização, na perspectiva
intraorganizacional, nem avaliando diferentes empreendimentos representados pela perspectiva
interorganizacional.
Definindo, então, a aprendizagem nos grupos de trabalho como foco do estudo, faz-se
necessária a identificação das pessoas que pertencem ao grupo analisado, do contrário, a falta de
limitação amplia demasiadamente as possibilidades de análise. Para Alderfer e Smith (1982), um
grupo pode ser definido como um conjunto de indivíduos que apresentam cinco características:
estabelecem relações interdependentes uns com os outros; percebem a si mesmos como
representantes de um coletivo; são reconhecidos pelos não-membros como participantes de uma
coletividade; quando estão atuando, sozinhos ou em conjunto, mantêm relações de
interdependência com outros grupos; distribuem papéis em seu interior em virtude das
expectativas do próprio grupo e de seus membros.
Segundo Gibson (2001), um grupo é uma entidade com significância psicológica, uma
agregação social, reconhecida como unidade significativa pelos seus membros na qual um
número limitado de pessoas interagem, em bases regulares, para realizar um conjunto de
objetivos compartilhados e para os quais existem responsabilidades mútuas.
Delimitar o grupo a um conjunto de pessoas que possuem objetivos compartilhados,
responsabilidade mútua e interdependência é importante por dois motivos: o primeiro porque
delimita a unidade de análise, excluindo agregações sociais como multidões, por exemplo, por
não se reconhecerem como unidades e conjunto de pessoas, e como amigos, por não preencherem
ao objetivo de responsabilidade. Exclui até mesmo agregações sociais amplas, como um
departamento inteiro de uma organização, que m objetivos e responsabilidades comuns, mas
que não se concebem como um grupo, de forma que os membros não interagem em bases
regulares (GIBSON, 2001). O segundo motivo pelo qual essa delimitação é importante, e que
também justifica a utilização desse conceito no presente estudo, é porque inserindo,
responsabilidades e objetivos comuns, estabelece-se a necessidade de criação, mesmo que, às
vezes, inconsciente, de relações que envolvam trocas entre os indivíduos e o grupo, e é
justamente nessas interações que a aprendizagem organizacional pode ser gerada.
Portanto, na análise da aprendizagem nas organizações voltada para o nível grupal, deve
haver preocupação com a divisão existente nas relações do indivíduo com o grupo, e vice-versa,
compreendendo quando cada uma influencia e é influenciada pela outra. Isso acontece porque a
21
análise da perspectiva grupal envolve as atividades inter-relacionadas que têm no indivíduo a sua
base (WEICK; ROBERTS, 1993). É importante ressaltar inclusive que o termo grupo, nesta tese,
está sendo usado no mesmo sentido de Edmondson e colaboradores (1996, 1999, 2001, 2002,
2004, 2008) quando referem-se a teams na apresentação de seus trabalhos.
A preocupação presente neste estudo relacionada à compreensão dos processos de
aprendizagem individual e grupal que ocorrem nas situações de trabalho está alinhada às
tendências de pesquisa na área, identificadas nos artigos internacionais sobre o assunto. Lyles e
Easterby-Smith (2003), por exemplo, destacam o conhecimento (especialmente o de natureza
tácita), os aspectos sociopolíticos e a criação e transferência do conhecimento como algumas das
áreas promissoras para os trabalhos sobre a aprendizagem nas organizações. Antal, Lenhardt e
Rosenbrock (2001) explicam que os estudos na área tiveram mudanças significativas e
identificam, como um desafio-chave para os pesquisadores, a importância de se compreender
como a aprendizagem organizacional está inserida no contexto social, pois consideram que ela
encontra-se embutida nos processos de trabalho da organização.
Nos trabalhos nacionais, as preocupações presentes no projeto aqui desenvolvido também
são identificadas como relevantes para o desenvolvimento do tema da aprendizagem nas
organizações. Antonello e Godoy (2008) realizaram uma metatriangulação que analisa a
produção brasileira em aprendizagem nas organizações no período de 2000 a 2005 nos periódicos
nacionais e anais de congresso mais expressivos e consolidados na área da administração.
Esse estudo identificou que, dos noventa e quatro artigos analisados, o nível de análise
predominante foi o organizacional, seguido do individual, em detrimento de um maior
investimento na compreensão do nível grupal e do nível interorganizacional (ANTONELLO;
GODOY, 2008).
As autoras sugerem que “para desenvolver e avançar no estabelecimento do conceito e
estudos sobre a aprendizagem organizacional os pesquisadores precisam olhar para o nível
interpessoal” (ANTONELLO; GODOY, 2008, p. 69, grifo dos autores), destacando que
pesquisas que tenham como foco de análise novas unidades podem contribuir para que o
conhecimento nessa área de estudo se amplie.
Além disso, esse trabalho identificou que:
22
[...] apenas um quarto dos estudos desenvolveu-se junto a organizações públicas e são
escassas as investigações realizadas junto a organizações de pequeno e médio porte. [...]
Mas, continua marcante a tendência a se pesquisar organizações de segmentos mais
tradicionais e de grande porte. Portanto, uma agenda que contemple pesquisas
desenvolvidas junto ao Terceiro Setor, Agronegócios, Setor Público, por exemplo, e
organizações de pequeno e médio porte, mostra-se evidente, para também, incluir
estudos que envolvam redes de organizações e comunidades de aprendizagem
(ANTONELLO; GODOY, 2008, p. 66).
A pesquisa realizada, aqui apresentada, está em consonância com a sugestão das
pesquisadoras, pois o estudo empírico foi desenvolvido no setor de serviços, em um equipamento
hoteleiro de médio porte, situado na cidade de Porto Alegre (RS).
Foi necessário escolher também a área onde o estudo pudesse ser realizado. Nesse
aspecto, levou-se em consideração a formação da pesquisadora que, graduada em hotelaria e com
experiência na área, foi instigada a compreender de forma mais profunda como ocorre a
aprendizagem nesse contexto.
A escolha dessa área considerou também que os empreendimentos hoteleiros, por
envolverem a prestação de serviços, requerem grande número de colaboradores e, portanto,
possuem, normalmente, um organograma bastante diversificado, envolvendo diferentes tipos
de profissionais, o que poderia promover maiores oportunidades de interações entre os grupos
de funcionários desse tipo de estabelecimento.
No entanto, como o contexto da hotelaria é, ainda assim, muito amplo, tornou-se
necessário, tamm, especificar com qual dos grupos existentes em um hotel a pesquisa foi
realizada. O organograma hoteleiro varia muito de acordo com a estrutura, o porte e o tipo de
hotel, porém o que todos têm em comum é o objetivo de oferecer pernoite, pois “alugar quartos é
o principal negócio de um hotel e sua maior fonte de lucros” (POWERS; BARROWS, 2004, p.
199). A diferenciação entre um empreendimento e outro acontece pela qualidade do que é
oferecido e pela agregação de diferentes produtos e serviços, sendo assim, os setores essenciais
de um equipamento hoteleiro são: a recepção e a governança. Na maioria das vezes, esse dois
setores são complementados pelo setor de alimentos e bebidas, porém, quanto maior for o
empreendimento, mais complexas serão as atividades e maior será o número de departamentos
existentes.
A opção deste trabalho restringiu-se ao setor da recepção, pois, segundo Castelli (2005, p.
199), “a recepção do hotel é o ponto nevrálgico, visto que o hóspede mantém com ela um contato
constante”. Por recepção, compreende-se o “espaço onde se registram os hóspedes, se retiram as
23
chaves, correspondências ou recado, se obtém informações, se depositam valores e se pagam as
contas” (TORRE, 2001, p. 41).
Usualmente, a recepção situa-se em frente à porta de entrada do hotel e próxima ao hall;
dessa forma, é na recepção que o hóspede tem o seu primeiro contato com a empresa, seja para
efetivar sua hospedagem, seja para buscar informações, como destacam Vieira e Cândido (2002,
p. 53, grifo dos autores):
A recepção é o local onde o hóspede é primeiramente recebido em sua chegada, é a “sala
de visita do hotel”. É na recepção que o spede é recepcionado formando sua primeira
opinião sobre o hotel, e concepção final de uma hospedagem na hora do check out. É o
local onde ele invariavelmente se direciona para solicitar informações, fazer reclamações
eventuais, elogios e para pagar sua conta na saída do hotel.
Em razão do grande contato com os hóspedes, o desempenho profissional do grupo de
recepcionistas é vital para construir a imagem do hotel perante seus clientes, pois, na verdade,
eles representam a empresa no momento em que os serviços estão sendo consumidos (POWERS;
BARROWS, 2004).
De maneira geral, as funções dos recepcionistas, basicamente, consistem em efetuar
reservas, efetuar o registro de hóspedes, alimentar a manutenção de contas, prestar serviços de
atendimento permanente durante a hospedagem e proceder a saída e o acerto de conta dos
hóspedes. A partir da chegada ao hotel, o contato do hóspede com a recepção passa a ser intenso,
pois, nesse momento, ele passa a ser atendido pelo recepcionista para fazer os procedimentos do
registro de entrada, denominado check in (ou walk in no caso do hóspede não ter reservas), e para
obter as informações necessárias para sua estada no estabelecimento (SEBRAE, 2001).
Durante a hospedagem, o contato da recepção com os hóspedes também é veemente,
reforçando as duas características fundamentais do produto turístico que o difere dos demais
produtos industrializados: o contato direto entre prestador e cliente e o fato de que o usuário
participa da produção do serviço (BENI, 1998). Isso implica evidenciar que produção e
consumo” acontecem concomitantemente, denotando a importância do profissional da recepção
para o atendimento do cliente. Nessa fase, a recepção coordena todas as tarefas, atendendo aos
pedidos dos hóspedes, anotando recados, fornecendo informações e resolvendo imprevistos. Para
o cliente deixar o hotel, ou seja, para fazer o check out, é necessário que ele se dirija também à
recepção e solicite o fechamento da conta para pagamento e/ou faturamento das despesas.
24
Os processos organizacionais são interligados ao longo da estada do spede tanto nas
tarefas específicas da recepção quanto na comunicação entre os demais setores do hotel, pois o
serviço oferecido ao cliente envolve as demais atividades do empreendimento, tais como a
limpeza e manutenção das unidades habitacionais (UH), os serviços de alimentos e bebidas
(A&B) e lazer, entre outros. Além desses processos, a recepção também tem ligação com outros
setores operacionais do hotel que não atendem diretamente o hóspede, ou seja, com os
departamentos de marketing, recursos humanos e administrativo, por exemplo. Essa relação da
recepção com os setores do hotel pode ser visualizada na Figura 01:
Figura 1: Ligações interdepartamentais da recepção
Fonte: Sebrae (2001, p. 15). Adaptado pela autora.
A recepção acaba sendo a “central de informações” do hotel, pois uma vez que as
informações convergem para esse setor de forma abundante, tanto em relação aos hóspedes
quanto em relação à própria estrutura e funcionamento do hotel, configurando-se no “canal de
25
comunicação interna e externa do hotel. Através dele circulam constantes mensagens para
hóspedes, diretoria, gerência e funcionários” (SEBRAE, 2001, p. 99).
Três motivos foram cruciais na escolha desse setor: o primeiro é que a recepção é um
espaço estratégico nos empreendimentos hoteleiros, pois, usualmente, é localizada fisicamente
defronte à entrada principal, e a informação circula de forma abundante nesse espaço, porque, por
intermédio dele, é distribuída para os demais setores (ISMAIL, 2004). O segundo motivo é que
seus funcionários têm contato com diferentes grupos de pessoas, que variam dos altos cargos do
empreendimento até os funcionários da limpeza e inclui, também, os consumidores do produto
vendido, ou seja, os hóspedes do hotel (TORRE, 2001). O terceiro motivo é decorrente do fato de
que o trabalho em grupo é vital para o funcionamento do setor, pois, como os hotéis não fecham,
tanto os recepcionistas do mesmo turno como os dos turnos diferentes, precisam estar cientes de
tudo o que está acontecendo para conseguir desempenhar, de maneira adequada, suas funções
(CASTELLI, 2005). Portanto, é possível afirmar que, para o exercício de suas tarefas e bom
andamento do setor, o processo de aprendizagem seja fundamental.
Buscou-se, também, identificar a produção do conhecimento na área de hotelaria que
tivesse como temática de pesquisa a aprendizagem nas organizações e, para delimitar a
investigação, essa etapa do trabalho foi orientada pela lista de classificação dos periódicos do
sistema Qualis da Capes.
Consideraram-se as publicações com maior impacto na área de Turismo, ou seja, os
periódicos classificados entre a pontuação A1 e B4. Analisando a lista desses periódicos,
publicada no site da Capes (2009), foram identificadas e, portanto, pesquisados os artigos
existentes em cinco revistas: Passos, Revista de Turismo y Patrimonio Cultural da Universidad de
La Laguna na Espanha (B1); Estudios y Perspectivas em Turismo do Centro de Investigaciones y
Estudios Turísticos de Buenos Aires na Argentina (B2); Turismo em Análise da USP (B2);
Turismo Visão e Ação da Univali (B3); Revista acadêmica Observatório de Inovação do Turismo
da EBAPE FGV (B4). A análise feita nesses periódicos proporcionou observar que as pesquisas
realizadas especificamente na área da hotelaria têm recebido o seguinte enfoque, conforme o
Quadro 1:
26
Quadro 1: Análise das publicações na área da hotelaria
Enfoque 2000
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 TOTAL
Planejamento/gestão
2 2 1 4 3 1 5 5 1 - 24
Competitividade
- - 1 2 - - 2 4 - - 9
Recursos humanos
1 2 3 4 2 - 2 2 1 - 17
Desenvolvimento
sustentável
- 1 - 2 - 1 3 2 2 - 11
Educação
- - 1 - 1 3 1 - - 6
Tecnologia
1 - - 2 - - 2 - - - 5
Diversidade
- - - - - 1 1 - - 1 3
Hospedagem no meio rural
- - - - - - - 1 - 1 2
Total de Artigos
Publicados
4 5 6 14 5 4 18 15 4 2 77
Nota: hífen (-) indica que não houve pesquisa publicada com esse enfoque no respectivo ano.
Fonte: a autora.
Avaliando as pesquisas publicadas somente nas revistas com melhor classificação na lista
das publicações Qualis, com ênfase em Turismo, constatou-se que o assunto com maior
incidência na área de hotelaria está relacionado ao “planejamento e gestão” dos equipamentos
hoteleiros, com vinte e quatro publicações na área no período entre 2000 e 2009.
“Competitividade”, embora fortemente atrelado ao “planejamento e gestão”, aparece com ênfase
significativa, o que motivou separá-la em uma categoria específica, pois aparece com nove
publicações nesse período. Somando-se as duas categorias, “planejamento e gestão” e
“competitividade”, tem-se quase metade da publicação da área de hotelaria, 43%. “Recursos
humanos” é também uma área que vem chamando a atenção dos pesquisadores, com dezessete
publicações no período, seguida por “desenvolvimento sustentável”, com onze publicações. Com
menor ênfase aparecem publicações que discorrem sobre “educação”, com seis trabalhos;
“tecnologia” com cinco artigos; “diversidade”, com dois artigos com foco específico na
adequação de portadores de necessidades especiais ao contexto hoteleiro e um que fala sobre
gênero feminino; “hospedagem no meio rural” com dois trabalhos.
Observa-se, também, que trinta e dois artigos, 42% da publicação sobre hotelaria,
concentram-se no periódico “Turismo Visão e Ação”, da Univali de Santa Catarina. No período
analisado, não se identificaram pesquisas que aliassem a aprendizagem nas organizações à área
da hotelaria.
Considerando-se a carência de pesquisas no país com as características propostas neste
estudo, compreende-se haver oportunidade para investigar, por meio das práticas inseridas no
27
ambiente da recepção, como a aprendizagem ocorre a partir das interações dos indivíduos no
interior desse grupo de trabalho e com o ambiente externo.
A proposta deste estudo, portanto, ocorreu em virtude desses dois grandes motivos: o
primeiro decorrente da trajetória profissional da pesquisadora que, formada em hotelaria e com
experiência no ramo, possui conhecimentos sobre as rotinas, procedimentos e práticas de
trabalho. O segundo motivo é a escassez de estudos empíricos nacionais na área da hotelaria com
a abordagem proposta neste estudo, ou seja, olhando o fenômeno da aprendizagem nas
organizações na perspectiva dos grupos de trabalho.
Entendendo que as respostas podem oferecer contribuições para elucidar esses processos
que se apresentam ainda frágeis na literatura da área, realizou-se o estudo aqui apresentado. A
questão de pesquisa norteadora do trabalho é: Quais processos permeiam a aprendizagem que
ocorre nos grupos que têm como local de trabalho a recepção de um hotel?
Partindo desse questionamento, estabelecem-se como:
a) objetivo geral: descrever e analisar os processos de aprendizagem individual e
grupal que ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de um
hotel”
b) objetivos específicos:
- compreender e descrever como os indivíduos (chefes da recepção e
recepcionistas) aprendem (no nível individual e grupal) o trabalho desenvolvido
na “recepção de um hotel”;
- entender os aspectos que dificultam ou facilitam a efetivação da aprendizagem
(nos níveis individual e grupal) no espaço da “recepção de um hotel”.
Considerando-se os argumentos expostos e os objetivos do presente estudo, é feita,
inicialmente, uma descrição das teorias da aprendizagem no nível individual, organizacional e
grupal que se consideraram pertinentes ao exame deste objeto e local de estudo. Essa
apresentação consiste em uma síntese das principais ideias dos pesquisadores que estudam a
aprendizagem nas organizações na perspectiva da psicologia aplicada, cujas ideias contribuem
para entender o fenômeno da aprendizagem no nível do grupo. Na sequência, descrevem-se os
28
facilitadores e as barreiras da aprendizagem nas organizações, observando, novamente, o que
sugerem tais contribuições teóricas.
2 ARCABOUÇO TEÓRICO
Esta seção visa revisar alguns princípios e conceitos presentes na literatura sobre
aprendizagem nas organizações, com ênfase nas abordagens mais adequadas para o contexto
deste estudo. Para tanto, essa etapa foi dividida em seis grandes temas: aprendizagem individual;
aprendizagem organizacional; integração da aprendizagem individual e organizacional;
aprendizagem coletiva e nos grupos de trabalho; integração da aprendizagem individual,
organizacional e nos grupos de trabalhos; barreiras e facilitadores da aprendizagem
organizacional.
2.1 APRENDIZAGEM INDIVIDUAL
Autores da perspectiva individual acreditam que a aprendizagem organizacional ocorre
somente de duas maneiras, a primeira quando seus próprios membros aprendem, e a segunda pela
contratação de pessoas que tragam conhecimentos novos à organização (SIMON, 1991). Dessa
forma, a aprendizagem individual é compreendida como a mola propulsora que faz com que a
organização aprenda e se modifique. Entre os principais defensores dessa corrente de
pensamento, encontra-se Kolb (1984), que desenvolveu o conceito de Aprendizagem
Experiencial, especificamente orientado para o entendimento de como aprendem os indivíduos
adultos.
30
2.1.1 A aprendizagem pela experiência
Kolb (1984) desenvolveu a teoria da aprendizagem experiencial com o objetivo de
enfatizar o papel central da experiência no processo de aprendizagem individual. A aprendizagem
é compreendida, então, como “o processo pelo qual o conhecimento é criado através da
transformação da experiência” (KOLB, 1984, p. 38). Essa teoria foi criada com fundamentação
em autores da filosofia da educação, como John Dewey, e da psicologia, como Kurt Lewin e Jean
Piaget.
Para Dewey (1938 apud KOLB, 1984), a aprendizagem é um processo de feedback que
transforma os impulsos, sentimentos e desejos da experiência concreta em ações propositadas de
ordem maior, ou seja, devendo haver um desejo ou impulso de adquirir forças para efetivamente
promover mudanças. A tônica de seus estudos está no pensamento reflexivo na aprendizagem
decorrente da experiência (RIGANO; EDWARDS, 1998).
Para compreender a aprendizagem, Dewey (1938 apud KOLB, 1984) propõe um modelo
de três fases, que compreende: observação das condições do ambiente; conhecimento de
situações similares do passado; julgamento que analisa o que aconteceu para que adquira novo
significado. A ênfase da aprendizagem aparece como um processo dialético que integra
experiência e conceitos, observação e ação, em que os interesses dos aprendizes estão embutidos
nas suas histórias pessoais e nas suas visões de quem eles são no mundo e o que eles podem e
querem fazer. Do trabalho de Dewey, Kolb (1984), abstraiu especialmente que a experiência
aparece como foco formador para a aprendizagem.
Kurt Lewin (1951 apud KOLB, 1984), com seus trabalhos sobre dinâmica de grupo com
métodos de treinamento em laboratório e grupos de treinamento (T-groups), descobriu que a
aprendizagem é facilitada em um ambiente em que uma tensão dialética e conflito entre
experiência concreta imediata e julgamento analítico. O trabalho de Lewin também chamou a
atenção de Kolb sobre o envolvimento dos valores pessoais, pois Lewin enfatiza que tanto os
sentimentos quanto os pensamentos são importantes na aprendizagem individual.
Lewin (1951 apud Kolb, 1984) propôs um modelo de processo de aprendizagem
composto por quatro fases: a) experiência concreta como matéria-prima para a observação e
31
reflexão; b) observação e reflexão, momento no qual as observações são assimiladas; c) formação
de conceitos abstratos e generalizações na qual a assimilação da experiência permite a teorização;
d) teste da aplicação dos conceitos em novas situações que serve como guia nas ações para criar
novas experiências. A contribuição especial de Lewin para o trabalho de Kolb é a percepção da
importância de criar experiências pessoais que sirvam para iniciar o próprio processo de
questionamento e compreensão dos indivíduos (KOLB, 1984).
Apoiado na teoria de Jean Piaget, Kolb (1984) foca o aspecto cognitivo do aprendizado,
descrevendo como a inteligência é moldada pela experiência. A inteligência surge como um
produto da interação entre o indivíduo e o ambiente no qual ele vive, em que a ação é a chave
dessa interação. O modelo de processo de desenvolvimento humano proposto por Piaget (1970
apud KOLB, 1984) é composto por quatro estágios: estágio sensório motor, no qual o estilo de
aprendizagem é concreto e ativo; estágio representacional, em que a aprendizagem ocorre pela
manipulação e observação de imagens; estágio das operações concretas, no qual há um intenso
desenvolvimento da abstração simbólica; estágio das operações formais, em que os processos de
lógica representacional acontecem. Durante esses estágios, o indivíduo, ao se desenvolver,
também está aprendendo e, segundo Kolb (1984), a descrição da aprendizagem como um
processo dialético entre assimilação da experiência em conceitos e acomodação desses conceitos
para a experiência representa uma importante contribuição para entender “como” aprendem os
indivíduos adultos.
Resumindo, pode-se afirmar que essas três teorias influenciaram o trabalho de Kolb, como
pode ser mostrado no Quatro 2:
Quadro 2: As contribuições dos modelos de processos de aprendizagem para a aprendizagem experiencial
de Kolb
Contribuições para a aprendizagem experiencial de Kolb Autores
A aprendizagem como um processo dialético entre assimilação da experiência em
conceitos e acomodação desses conceitos para a experiência.
Piaget
A experiência como foco formador para a aprendizagem. Lewin e Dewey
Articulação dos valores guiando a aprendizagem experiencial. Lewin e Dewey
A aprendizagem como um processo que dura a vida inteira. Lewin, Dewey e Piaget
O desenvolvimento da aprendizagem ocorre por meio de algum propósito individual. Lewin, Dewey e Piaget
Fonte: elaborado com base em Kolb (1984).
Além dessas contribuições fundamentais, outras influências também foram importantes
para o trabalho de Kolb. A primeira oriunda da psicologia terapêutica, que acrescenta duas
32
dimensões importantes: o conceito da adaptação, que requer uma efetiva integração dos
processos cognitivos e afetivos, e o conceito do desenvolvimento socioemocional, que, ao longo
do ciclo da vida, descreve o processo de desenvolvimento adulto e o desafio que a aprendizagem
representa (KOLB, 1984).
A segunda contribuição, segundo Kolb (1984), está vinculada às pesquisas sobre o
cérebro, que buscam identificar as relações entre o funcionamento do cérebro e a consciência
humana, descrevendo as diferenças no funcionamento associado aos hemisférios direito e
esquerdo do cérebro.
A terceira contribuição para o trabalho de Kolb foi absorvida dos educadores radicais com
o conceito de consciência crítica. Essa visão serviu para “destacar o papel central da dialética
entre conceitos abstratos e experiências pessoais subjetivas nos conflitos educacionais e políticos
entre a direita, que prima pela manutenção da ordem social, e a esquerda, que valoriza a liberdade
individual e a expressão” (KOLB, 1984, p. 16). Com as contribuições dos educadores radicais, o
ambiente torna-se mais relevante para o contexto da aprendizagem experiencial proposta por
Kolb que, considerando todas as contribuições destacadas no texto acima, estruturam a teoria da
“Aprendizagem pela Experiência”.
2.1.2 Características da aprendizagem pela experiência
De acordo com Kolb (1984), a aprendizagem experiencial, incluindo ideias presentes em
Dewey (1938), Lewin (1951) e Piaget (1970), apresenta seis características básicas: a
aprendizagem é melhor concebida como um processo; a aprendizagem é um processo contínuo
pautado na experiência; o processo de aprendizagem requer a resolução de conflitos entre modos
dialeticamente opostos de adaptação do mundo; a aprendizagem é um processo holístico de
adaptação ao mundo; a aprendizagem envolve transações entre a pessoa e o ambiente; a
aprendizagem é o processo de criação do conhecimento.
33
Na aprendizagem experiencial, o ato de aprender é concebido como um processo e não
compreendido quanto a resultados. Essa teoria parte do pressuposto de que as ideias não são
elementos imutáveis do pensamento, ao contrário disso, elas são formadas e reformuladas pela
experiência. Os resultados da aprendizagem representam, então, somente registros históricos de
interpretações dos acontecimentos passados e, portanto, não representam o conhecimento do
futuro, esse é o motivo pelo qual Kolb (1984) justifica ser importante compreender a
aprendizagem na perspectiva do processo e não de seus resultados.
O conhecimento é continuamente testado nas experiências vivenciadas pelos aprendizes e
é mediado pela interação entre a expectativa do resultado e a própria experiência em si. Se uma
experiência não violar a expectativa de resultado, ela acaba não sendo valiosa para a
aprendizagem, pois nada de novo é aprendido, ou seja, mantém-se o status quo. Compreendido
dessa forma, toda aprendizagem passa a ser vista como reaprendizagem já que, para ser
considerada aprendizagem, os aprendizes estarão, na verdade, sempre reconstruindo e
ressignificando as experiências que vivenciam.
No processo de aprendizagem, o indivíduo precisa escolher, em cada situação de
aprendizado, seu posicionamento diante dos diferentes níveis existentes entre “ação versus
observação” e entre o envolvimento específico na experiência versus a reflexão abstrata da
situação. Nesse sentido, o processo de aprendizagem requer a resolução de conflitos entre modos
dialeticamente opostos de adaptação ao mundo (KOLB, 1984, p. 29). O aprendiz opta por papéis
mais ativos ou mais reflexivos, de acordo com a situação e o contexto de aprendizado em que se
encontra. Segundo Kolb (1984), a maneira pela qual os conflitos entre esses polos opostos são
resolvidos determina o nível do resultado da aprendizagem individual.
Para Kolb (1984, p. 31), a “aprendizagem é um processo holístico de adaptação ao
mundo”. É holística porque acontece em diferentes ambientes físicos e sociais e também em
todos os estágios da vida, que inicia na infância e transcorre até a senilidade dos indivíduos. Ao
mesmo tempo, é o maior processo de adaptação humana, pois envolve o funcionamento integrado
do organismo em toda a sua complexidade, ou seja, engloba pensamento, sentimento, percepção e
também o comportamento.
Kolb (1984) explica que, desconsiderar o ambiente como fonte de aprendizagem, é
contraprodutivo para a compreensão do processo que ocorre e gera conhecimento novo, isso
porque a aprendizagem envolve transações entre a pessoa e o ambiente no qual ela vive, porém
34
não apenas em momentos formais como o trabalho ou durante o ensino, mas em todos os
momentos da vida, ou seja, ao longo do dia-a-dia dos indivíduos. De acordo com Kolb (1984), a
relação entre a pessoa e o ambiente é simbolizada pelo duplo significado da palavra experiência:
[...] um subjetivo e pessoal, referindo-se ao estado interno da pessoa, como em “a
experiência da alegria e felicidade”, e o outro objetivo e ambiental, como em “ele tem 20
anos de experiência nesse trabalho”. Essas duas formas de experiência se interpenetram
se inter-relacionam de maneiras muito complexas, como, por exemplo, no velho ditado,
“ele não tem 20 anos de experiência, mas um ano repetido 20 vezes” (KOLB, 1984, p.
35, grifo do autor).
A aprendizagem é compreendida, então, como um processo ativo de interação entre
indivíduo e ambiente e pode acontecer ao longo de toda a vida, em todos os momentos da
experiência humana. O conhecimento, por sua vez, é o resultado das transações entre essas
experiências subjetivas e objetivas, portanto Kolb (1984, p. 36) acredita que a “aprendizagem é o
processo de criação do conhecimento”.
Na teoria da aprendizagem experiencial, para entender o conhecimento, resultado do
processo de aprendizagem, é preciso compreender sua epistemologia, ou seja, devem-se entender
suas origens, natureza, métodos e limites. Kolb (1984) utiliza a tipologia de diferentes tipos de
conhecimento de Pepper (1942), que sugere que todo o conhecimento é dividido em senso
comum e conhecimento culto. Essa diferença gera um contrassenso, pois, embora o senso comum
seja sempre aplicável como forma de explicar a experiência, ele é impreciso, uma vez que não se
aplica a todas as situações. O conhecimento culto, por outro lado, é preciso, no entanto é limitado
em aplicabilidade ou generalização, porque é baseado em hipóteses ou pressupostos do mundo,
considerando características específicas de determinada população e/ou amostra. Esse
contrassenso requer que os dois tipos de conhecimentos busquem equilíbrio por intermédio do
processo de reflexão, provocado pela aprendizagem experiencial.
Resumindo as características descritas sobre as teorias que descrevem a aprendizagem
experiencial, identificadas por Kolb (1984), enfatiza-se que, nessa teoria, a aprendizagem é
concebida como um processo holístico contínuo de adaptação ao mundo, que se pauta na
experiência, pois envolve transações entre pessoas e o ambiente e requer a resolução de conflitos
entre modos dialeticamente opostos de adaptação, criando, como resultado desse processo,
conhecimento novo.
35
2.1.3 A teoria da aprendizagem pela experiência
Assumindo que o contexto profissional do mundo globalizado requer profissionais mais
capacitados do que nunca, é pertinente compreender que a aprendizagem demandada pelas
pessoas que participam do mercado de trabalho é diferente daquela requerida nos bancos
escolares. A razão dessa diferença está no fato de que os profissionais já possuem muitas
habilidades desenvolvidas e são aprendizes experientes com necessidades de aprendizagem
únicas e complexas (BALLOU et al., 1999).
Considerando-se esse contexto, a teoria da “Aprendizagem pela Experiência” sugere uma
perspectiva holística e integrativa de aprendizagem que combina experiência, percepção,
cognição e comportamento. Nesse sentido, a aprendizagem é melhor concebida como um
processo no qual as ideias são formadas e reformuladas por intermédio da experiência vivenciada
pelos indivíduos, o que a torna uma contínua reaprendizagem que se apoia na interpretação
dessas experiência (KOLB, 1984).
Kolb (1984) descreve duas dimensões estruturais básicas do processo de aprendizagem. A
primeira é a dimensão da aquisição que compreende dois modos dialeticamente opostos de se
obter experiência: pela direta compreensão da experiência concreta imediata (experiência
concreta); ou pela indireta compreensão das representações simbólicas da experiência
(conceitualização abstrata).
A segunda é a dimensão da transformação, que também compreende dois modos
dialeticamente opostos de transformar a experiência: pela reflexão intencional (observação
reflexiva); ou pela ação extensional, ou seja, pela experiência ativa nas vivências de
aprendizagem (experimentação ativa).
Por experiência concreta (EC), Kolb (1984) entende o envolvimento real e efetivo nas
situações humanas, em que o sentimento é valorizado sobre o pensamento, dando-se preferência
pela abordagem artística sobre à racional. As pessoas que se orientam pela experiência concreta
tendem a se relacionar bem com os outros e, frequentemente, tomam decisões intuitivamente;
trabalham bem em situações não-estruturadas e adotam uma abordagem de mente aberta para as
situações da vida (KOLB, 1984).
36
A observação reflexiva (OR) refere-se ao posicionamento de entender o significado de
ideias e situações pela observação cuidadosa e descrição imparcial das ideias e situações. A
ênfase encontra-se na reflexão e não na ação, pois pessoas com essa característica se preocupam
com o entendimento e não tanto com a aplicação prática. As pessoas que se orientam pela
observação reflexiva tendem a intuir o significado de situações e ideias para observar suas
implicações, olhando as coisas de diferentes perspectivas e pontos de vista. Acreditam em seus
próprios pensamentos e sentimento para formar sua opinião e tendem a valorizar a paciência, a
imparcialidade e o julgamento refletido profundamente (KOLB, 1984).
Segundo Kolb (1984), na conceitualização abstrata (CA), privilegia-se o uso da lógica, de
ideias e conceitos. O pensamento é valorizado em oposição ao sentir, e a preocupação está na
construção de teorias gerais, ao invés de entender intuitivamente a singularidade das áreas
específicas. As pessoas que aprendem pela conceitualização abstrata tendem a planejar de forma
sistemática, manipular símbolos abstratos e realizar análises quantitativas, valorizando a precisão,
o rigor e a disciplina na análise das ideias.
A experimentação ativa (EA) refere-se à postura de influenciar pessoas ativamente,
mudando situações e valorizando as aplicações práticas em oposição ao entendimento reflexivo.
A ênfase está no pragmatismo da ação que busca resultados e não na procura pela verdade
absoluta. Pessoas com essa característica tendem a preferir executar tarefas, predispondo-se a
aceitar riscos para atingir seus objetivos, valorizando a influência que exercem no ambiente em
que atuam (KOLB, 1984).
Essas quatro dimensões, identificadas na figura 2, não devem ser separadas
analiticamente, embora em algumas circunstâncias estejam de maneira empírica correlacionadas,
pois elas não são um contínuo unitário, cada uma representa uma oposição dialética entre duas
dimensões independentes, mas que, mutuamente, complementam-se e podem aumentar o
aprendizado.
37
Figura 2: Dimensões estruturais subjacentes ao processo de aprendizagem experiencial
Fonte: elaborado com base em Kolb (1984).
As dimensões aquisição e transformação são modos independentes de se alcançar a
experiência, no entanto ambas representando contribuições iguais para o processo de
aprendizagem. Os aprendizes, se querem ser efetivos, precisam, então, desenvolver as quatro
diferentes habilidades que formam as dimensões estruturais básicas do processo de
aprendizagem: experiência concreta; observação reflexiva; conceitualização abstrata;
experimentação ativa (KOLB, 1976; 1984; BAKER; JENSEN; KOLB, 2005).
Essas quatro diferentes habilidades de aprendizagem formam o que Kolb (1984) chama de
estilos de aprendizagem.
Como resultado de nosso equipamento hereditário, da experiência de vida de cada um e
das exigências de nosso ambiente atual, a maioria das pessoas desenvolve estilos de
aprendizagem que priorizam determinadas habilidades de aprendizagem em detrimento
de outras. Resolvemos os conflitos entre ser ativo e reflexivo e entre ser imediato e
analítico de formas individualmente características (KOLB, 1997, p. 324).
38
Nas experiências vivenciadas diariamente, esse conflito entre ser ativo ou reflexivo e
entre ser imediato ou analítico é resolvido por meio de quatro formas básicas de conhecimento:
divergente; convergente; assimilativo e acomodativo. Na Figura 3 sintetizam-se esses estilos de
aprendizagem no contexto do ciclo de aprendizagem e da dialética de percepção e transformação.
Experiência Concreta
EC
Experimentação
Ativa
EA
Conceitualização
Abstrata
CA
Observação Reflexiva
OR
Acomodativo Divergente
AssimilativoConvergente
Transformação
Via
Intensão
Transformação
Via
Extensão
Captura
Via
Compreensão
Captura
Via
Apreensão
Figura 3: Dimensões estruturais subjacentes ao processo de aprendizagem pela experiência e as formas
básicas de conhecimento resultantes
Fonte: Kolb (1984, p. 42). Adaptado pela autora.
O conhecimento acomodativo é aquele voltado para a ação, visto que é resultante da
captura via apreensão (EC) e da transformação por extensão (EA). O conhecimento convergente
é derivado da capacidade de concentração em problemas específicos e na aplicação prática de
ideias, pois é resultante da captura via compreensão (CA) e transformação por extensão (EA). O
conhecimento divergente caracteriza-se pela avaliação de situações concretas com base em
39
diferentes perspectivas e é derivado da captura por apreensão (EC) e transformação por intenção
(OR). O conhecimento assimilativo, por sua vez, está relacionado à capacidade de criação de
modelos teóricos e é derivado da captura por compreensão (CA) e transformação por intenção
(OR).
No Quadro 3, são apresentadas as principais características desses quatro estilos básicos
de aprendizagem:
Quadro 3: Características dos estilos de aprendizagem
Estilo de
aprendizagem
Habilidades de
aprendizagem
predominantes
Pontos fortes do estilo Características do estilo Interesses do estilo
Convergente CA e EA Testes convencionais de
inteligência, nos quais
existe uma única resposta
ou solução correta para cada
pergunta ou problema.
Resolução de problemas,
tomada de decisão e
aplicação prática de idéias
Utilizam raciocínio
hipotético-dedutivo para se
concentrar em problemas
específicos
Tendem a ter interesses
técnicos específicos e
optam por se especializar
em ciências naturais.
Preferem lidar com
tarefas técnicas e
problemas em vez de
aspectos sociais e inter-
pessoais.
Divergente EC e OR Capacidade de imaginação e
consciência de significado e
valores.
Seu desempenho é melhor
em situações que exigem a
geração de ideias.
Capacidade de ver situações
concretas a partir de variadas
perspectivas.
A ênfase está na adaptação
pela observação, em vez da
ação.
Se interessam por pessoas
e tendem a ser
imaginativos e emotivos.
Têm interesses culturais
amplos e tendem a se
especializar em artes.
Assimilativo CA e OR Capacidade de criar
modelos teóricos.
Utilizam raciocínio indutivo:
assimilam informações
desencontradas e
transformam-nas em
explicações integradas.
Estão mais preocupados
com conceitos abstratos e
menos preocupados com
o uso prático das teorias.
Acomodativo EC e EA Realizar coisas, executar
planos, experimentos e se
envolver em novas
experiências.
Tendem a se sobressair em
situações nas quais precisem
adaptar-se a circunstâncias
imediatas específicas.
Tendem a se arriscar mais do
que os outros estilos de
aprendizagem.
Tendem a resolver
problemas de maneira
intuitiva (tentativa e erro).
Gostam de estar com
pessoas, embora por vezes
sejam tidos como
impacientes e
pressionadores.
Sua formação costuma
estar relacionada a áreas
técnicas ou práticas.
Fonte: elaborado com base em Kolb (1984, 1997).
Cada indivíduo desenvolve, de maneira particular, um estilo de aprendizagem que
apresenta pontos fortes e fracos. Kolb (1984) criou o Inventário de Estilo de Aprendizagem
(Learning Style Inventory – LSI), um instrumento utilizado para avaliar as orientações individuais
de aprendizagem.
40
O LSI requer que os indivíduos completem doze frases identificando por meio de
pontuação a melhor forma como eles aprendem e a que menos aprendem. O teste é categorizado
por intermédio de escolha forçada para pesar os modos de aprendizagem preferidos por um
indivíduo (EC, OR, CA, EA). Quatro escores medem a preferência do indivíduo pelos quatro
modos de aprendizagem e dois escores indicam a preferência do indivíduo por um dos polos das
duas dialéticas: conceituação/experimentação e ação/reflexão (KOLB, 1997).
Para Kolb (1997), os estilos de aprendizagem não são concebidos como traços fixos de
personalidade, são, na verdade, entendidos como estruturas possíveis que resultam de programas
individuais únicos das estruturas flexíveis da aprendizagem humana que foram desenvolvidas no
processo de socialização. Dessa forma, os estilos de aprendizagem são melhores compreendidos
como estágios adaptativos, ou seja, como orientações que alcançam estabilidade por meio das
transações que ocorrem com o mundo, uma vez que são desenvolvidos “como resultado de nosso
equipamento hereditário, da experiência de vida de cada um e das exigências de nosso ambiente
atual” (KOLB, 1997, p. 324)
Portanto, sempre que a orientação de um indivíduo ajuda-o a desempenhar bem suas
tarefas, sendo recompensado pelos resultados obtidos, ele mantém o padrão de suas orientações
de forma que favoreçam o aumento de suas habilidades, oportunizando que o estilo de
aprendizagem seja constantemente revisto e aprimorado.
2.1.4 O desenvolvimento da aprendizagem pela experiência
A teoria da aprendizagem pela experiência considera que o desenvolvimento do indivíduo
ocorre pela aprendizagem, portanto o processo de aprendizagem molda e atualiza o
desenvolvimento das potencialidades humanas. No entanto, essas potencialidades não são
unicamente as biológicas, pois se referem também às potencialidades decorrentes do processo de
socialização vivenciado pelos indivíduos, o que leva a crer que o desenvolvimento individual é
41
moldado não somente pelas características genéticas, mas também pelo sistema cultural do
conhecimento social (KOLB, 1984).
Pela imitação, comunicação com outros e interações com o ambiente sico, as
potencialidades de desenvolvimento dos indivíduos são oficializadas e praticadas até que sejam
internalizadas como um desenvolvimento independente que se torna uma característica daquele
indivíduo. Os aprendizes, se querem ser efetivos, precisam, então, desenvolver as quatro
diferentes habilidades que formam as dimensões estruturais básicas do processo de aprender e “a
aprendizagem se torna o veículo para o desenvolvimento humano via interações entre os
indivíduos com suas potencialidades biológicas e a sociedade com seus mbolos, ferramentas e
outros artefatos culturais” (KOLB, 1984, p. 133). O foco da teoria da aprendizagem pela
experiência está justamente nessas transações entre o conhecimento pessoal e social, ou seja, nas
interações dos indivíduos com os artefatos culturais da sociedade.
Segundo Kolb (1984), as leis e os limites do desenvolvimento humano nunca serão
descobertos que a natureza humana está constantemente emergindo nas transações entre os
indivíduos e sua cultura, isso requer que a aprendizagem tenha como característica a adaptação
pró-ativa ao contexto. O desenvolvimento individual, nesse mundo de mudanças, provém das
dialéticas da aprendizagem em relação a dois processos de funcionamento: a diferenciação e a
integração hierárquica.
Por diferenciação, Kolb (1984) compreende o aumento da complexidade das unidades e a
diminuição da dependência entre as partes, buscando refinar, discriminar e elaborar as categorias
de experiência e a variedade de comportamento, enquanto, ao mesmo tempo, aumenta a
independência de funcionamento entre as partes separadas. A integração hierárquica, por sua vez,
refere-se às respostas para a complexidade e difusão causada pelo aumento da diferenciação
criando flexibilidade na integração e organização da experiência, possibilitando lidar com
mudanças, incertezas do ambiente e desenvolvendo complexas construções da realidade que
fogem às normas simples e absolutistas da diferenciação, tais como bom ou ruim, por exemplo
(KOLB, 1984).
Para Kolb (1984), o desenvolvimento efetivo individual e cultural são encontrados em
quatro dimensões do desenvolvimento, conhecidas como: complexidade afetiva; complexidade
de percepção; complexidade simbólica; complexidade comportamental. Essas dimensões estão
inter-relacionadas no processo holístico de aprendizagem e estão representadas na forma de um
42
cone, conforme é mostrado na Figura 4, onde a base representa os menores estágios de
desenvolvimento e o topo representa o maior pico do desenvolvimento.
Aumenta a complexidade e relativismo via a
Complexidade Comportamental
Complexidade Perceptiva
CE
Complexidade Afetiva
Complexidade Simbólica
Acomodação
Convergência
Assimilação
Divergência
AE
AC
RO
Integração do modo adaptativo dialético
Individuo como
processo – transação
com o mundo
O indivíduo como
conteúdo -
interagindo com o
mundo
O indivíduo como
indiferente –
imerso dentro do
mundo
Integração Especialização Aquisição
Figura 4: Teoria da aprendizagem pela experiência de crescimento e desenvolvimento
Fonte: Kolb (1984, p. 141).
O desenvolvimento de cada dimensão aumenta de acordo com o crescimento da
complexidade e do relativismo nas experiências que os indivíduos vivenciam, o que representa o
consequente aumento do nível de integração do conflito dialético entre os quatro modos básicos
de aprendizagem. Nos estágios iniciais de desenvolvimento, o progresso em cada dimensão pode
ocorrer de forma independente das demais, no entanto, nos estágios mais altos, o
desenvolvimento em um modo produz o desenvolvimento nos outros, resultando na integração
43
das quatro dimensões, representadas na Figura 4 pela integração no topo do cone, à medida que
alcançam níveis mais complexos de desenvolvimento (KOLB, 1984).
Segundo Kolb (1984), o processo de desenvolvimento humano é dividido também em três
amplos estágios de maturação do desenvolvimento: aquisição, especialização e integração. O
estágio de aquisição é marcado pela aquisição das habilidades básicas de aprendizagem e das
estruturas cognitivas, tem origem no nascimento e perdura durante a adolescência do indivíduo.
O estágio da especialização se estende através da educação formal, incluindo também o
desenvolvimento profissional e as experiências recentes da idade adulta na vida pessoal e
profissional. Nesse estágio, o indivíduo atinge o senso da individualidade e se define no que se
refere a conteúdo, identificando coisas que tem habilidades para fazer, experiências vividas e
qualidades que possui. Também, representa o momento em que o indivíduo interage com o
mundo, no entanto, nesse estágio, não alteração do indivíduo no mundo e vice-versa (KOLB,
1984).
Para Kolb (1984), o estágio de integração não é necessariamente alcançado por todos os
indivíduos, isso porque esse estágio, que representa o estágio mais avançado, leva à confrontação
existencial entre as demandas sociais e as necessidades pessoais de satisfação. Essa
transformação de um estágio para outro pode se desenvolver como um processo de despertar
gradual ou como resultado de uma crise existencial decorrente de uma situação difícil e, muitas
vezes, não esperada, como um divórcio ou a perda do trabalho, por exemplo. Com esse novo
paradigma e de acordo com as características de cada indivíduo, as experiências pessoais mudam
os esquemas de referência usados para experimentar a vida, avaliar atividades e para tomar
decisões (KOLB, 1984).
2.1.5 O papel da conversação na aprendizagem pela experiência
A teoria da aprendizagem pela experiência, percebendo a relevância do contexto,
incorporou as trocas sociais de interação efetivadas por meio das conversas entre os indivíduos
como uma importante forma de aprendizado. Pelo processo de aprendizagem pela conversação,
44
Baker, Jensen e Kolb (2005) propõem que a construção de novos significados acontece
transformando, por meio das conversas, experiências coletivas em conhecimento.
Existem diferentes tipos de conversa, entre as quais, os autores destacam as conversas
públicas e privadas, que consideram o controle que os participantes têm sobre o que é incluído ou
excluído; as conversas entre grupos diversos, que destacam a pluralidade do mundo
contemporâneo; as conversas entre textos, que ocorrem entre escritores e leitores; as conversas
tecnológicas, resultado do avanço tecnológico da modernidade; as conversas imaginárias, que
acontecem na mente e nos sonhos dos indivíduos. Cada qual apresenta dinâmicas particulares, no
entanto todas representam “o processo de interpretação e entendimento da experiências humana”
(KOLB; BAKER; JENSEN, 2002, p. 1). A proposta da teoria da conversação na aprendizagem
pela experiência é vista como um processo de alcançar a compreensão interpessoal, de forma que
as contribuições de todos os participantes sejam valorizadas igualmente.
A escolha da palavra conversa, em vez de diálogo, para representar o nome desse
esquema teórico incorporado à aprendizagem pela experiência ocorre em virtude das razões
etimológicas de ambas as palavras. Enquanto diálogo remete a palavras como debate e discussão,
cujo sentido evidencia a existência de vozes opostas que buscam um sentido verdadeiro, a palavra
conversa remete a aspectos mais colaborativos e de interação contextual. Embora alguns autores
utilizem ambos os termos como sinônimos, segundo Baker, Jensen e Kolb (2005), a palavra
conversa vem sendo frequentemente mais utilizada por pessoas cuja ênfase esteja no
entendimento das experiências humanas motivo que reforça a escolha da palavra conversa, ao
invés de diálogo, como contribuição para a aprendizagem experiencial.
A abordagem dialética da perspectiva da conversa na aprendizagem pela experiência foi
escolhida por se tratar de um processo de criação de sentido alcançado pela interação entre
opostos e contradições que evidenciam as diferentes visões e perspectivas dos participantes.
Tradicionalmente, a dialética tem sido vista como um processo linguístico que leva à geração de
novas ideias e conceitos por intermédio da consciência das diferenças existentes entre dois ou
mais posicionamentos opostos. Essa interação e questionamento faz com que os indivíduos
reflitam sobre o assunto, considerando diferentes perspectivas e tendo, muitas vezes, que elaborar
suas ideias e seus conceitos com mais profundidade, pois precisam defender seu ponto de vista
e/ou conversar até que um consenso seja estabelecido (BAKER; JENSEN; KOLB, 2005).
45
A teoria da conversação como aprendizagem pela experiência, proposta por Kolb, Baker,
e Jensen (2002), apresenta, então, cinco dialéticas, mostradas no Quadro 4, na tentativa de
descrever contradições de um processo que está continuamente criando um contexto para a
conversa e, com isso, gerar aprendizagem.
Quadro 4: Cinco dialéticas da conversa na aprendizagem pela experiência
Apreensão
Compreensão
Reflexão
Ação
Discurso epistemológico
Recurso ontológico
Individualidade
Relacionalidade (relationality)
Status
Solidariedade
Fonte: Baker, Jensen e Kolb (2005, p. 415).
A dialética da apreensão e compreensão considera que a realidade é assimilada por
intermédio de dois distintos, mas inseparáveis, modos de conhecimento: concreto e abstrato. O
conhecimento concreto é chamado de apreensão, representa um processo imediato, orientado pelo
sentimento, que é tácito e subjetivo. O conhecimento abstrato, chamado de compreensão, é
considerado um processo linguístico, conceitual e interpretativo. Segundo James (1977 apud
BAKER; JENSEN; KOLB, 2005), por meio do sentimento, toma-se consciência das coisas que
acontecem e existem, no entanto, somente pelo pensamento, é que se sabe sobre elas, o que torna
a conversa também um processo de percepção, indo além da mera troca de conceitos sobre o que
é conhecido pelos indivíduos. Dessa forma, a conversa é afetada pelo contexto, pela maneira
como as pessoas “escutam” e “percebem” o que está acontecendo, já que muito do que acontece
na comunicação não é verbal pois, além de falar e escutar, acaba-se também percebendo, sentindo
e mostrando os sentimentos envolvidos naquele momento da conversa (KOLB; BAKER;
JENSEN, 2002; BAKER; JENSEN; KOLB, 2005).
A interação dialética entre reflexão (que se refere à intenção) e ação (que se refere à
extensão e amplitude dos atos) é elemento essencial na criação de significados, isso porque é a
reflexão que guia e informa o comportamento, assim, criam-se novas experiências concretas para
a reflexão, formando um contínuo que está sempre sendo atualizado. A conversa na
aprendizagem pela experiência, pela perspectiva desse processo dialético de reflexão e ão,
incorpora o processo de “receber e devolver”, pois as ideias e experiências são ressiginificadas,
passam a ser pensamentos, depois se materializam no discurso e na ação (KOLB; BAKER;
JENSEN, 2002; BAKER; JENSEN; KOLB, 2005).
46
Na dialética do discurso epistemológico e do recurso ontológico, fica evidenciada a
distinção do fazer e do ser, referindo-se às conversas atuais nas quais “o que os aprendizes
‘sabem’ influencia o que eles ‘experimentam’ e, contrariamente, o que eles ‘experimentam’
influencia o que eles ‘sabem’” (SHECKLEY et al. 1994 apud BAKER; JENSEN; KOLB, 2005,
p. 419). O discurso epistemológico é um processo linear, com movimento em relação ao futuro,
que nomeia as ideias e os conceitos gerados nas conversas. O recurso ontológico, por sua vez,
suaviza e aprofunda essa trajetória, em movimentos cíclicos; dessa forma, as ideias e os conceitos
adquirem novos significados quando os indivíduos retornam à mesma conversa para questionar
sobre suas experiências de uma forma diferente (KOLB; BAKER; JENSEN, 2002; BAKER;
JENSEN; KOLB, 2005).
Individualidade e relacionalidade são mais uma dimensão da dialética organizacional. Na
primeira, o indivíduo toma as experiências de vida como uma entidade isolada, enquanto na
segunda a vida é experimentada na inter-relação com os outros. Trata-se de um processo
intersubjetivo pois, enquanto a pessoa mantém o senso individual, ao mesmo tempo, está
consciente e aberta às influências e interferências dos outros. Está presente nessa dialética a
percepção de que “os indivíduos em suas conversas, criam, juntos, novas maneiras de entender
como eles se relacionam uns com os outros” (BAKER; JENSEN; KOLB, 2005, p. 422).
A tensão dialética entre status e solidariedade se refere à influência e posição dos
indivíduos dentro do grupo. Enquanto status diz respeito à “classificação” daquela pessoa no
grupo, a solidariedade se refere à forma como essa mesma pessoa está ligada interpessoalmente
com os outros no grupo. Sem o senso de posicionamento, ou seja, sem o status, situações em que
um ou mais participantes têm iniciativa e compartilham experiência e expertises, a conversa pode
perder a direção. Por outro lado, sem as conexões sociais no grupo, a solidariedade, a conversa
pode perder a conexão e relevância e não se beneficiar das diversas perspectivas e conhecimentos
individuais existentes no grupo (KOLB; BAKER; JENSEN, 2002; BAKER; JENSEN; KOLB,
2005).
No Quadro 5 apresentam-se as principais características das cinco tensões dialéticas da
conversa na aprendizagem pela experiência.
47
Quadro 05: As principais características das cinco tensões dialéticas
Dialética Relacionado a Características Foco da dialética Aspectos positivos da dialética
em grupos de trabalho
Aspectos negativos da
dialética em grupos de
trabalho
Apreensão
Conhecimento concreto Orientado por sentimentos.
Tácito, subjetivo, percepção direta.
Conhecimento Enfatiza a necessidade de reconhecer o
sentimento das pessoas e encora-las a
falar sobre experiências prévias como
uma maneira da empresa aprender
junto com base nas experiências
concretas coletivas.
Enfatizar qualquer um dos
extremos dessa dialética pode
diminuir a capacidade e abertura
para as conversas na empresa.
Compreensão
Conhecimento abstrato Processo interpretativo, conceitual e
linguístico.
Reflexão
Intenção Reflexão interna sobre os atributos
das experiências e ideias.
Criação de significados Tirar tempo para a reflexão do grupo é
uma maneira do grupo criar
oportunidades para revisitar ideias e
comentários que não haviam sido
explorados.
Abre oportunidade para a reflexão mais
profunda, encorajando a reflexão
individual e coletiva.
Esperar muito para agir pode
levar a organização a ficar
vulnerável e despreparada.
Ação
Extensão Ideias e experiências na perspectiva
do mundo externo.
Discurso
Epistemológico
Fazer Guiado pelo tempo linear.
Manifestação das ideias dos
indivíduos e experiências que se
tornam explícitas na conversa.
Lógico e cognitivo.
Conversas atuais Permite ao grupo explorar os aspectos
existentes por trás dos pressupostos
vigentes para efetivamente provocar
mudanças organizacionais.
Pode levar ao questionamento das
estruturas vigentes e interferir
também nas relações de poder
estabelecidas no grupo.
Recurso Ontológico
Ser Guiado pelo tempo cíclico.
Manifestação subjetiva do desejo de
rever ideias e conceitos.
Ontológico e subjetivo.
Individualidade
Dentro para fora Experiências como um processo
individual.
Percepção de si próprio.
Conhecimento separado.
Indivíduo e o grupo Os membros passam a confiar que
explorar as perspectivas dos outros e
tentar entender suas dimensões é
importante para o grupo.
Pode aumentar a construção de
relacionamentos de longo prazo.
Pode abrir oportunidade, criando
abertura para procurar também pessoas
externas à empresa.
Receio de ter que deixar de lado
as crenças e preferências
individuais podem afastar os
indivíduos do processo de
conversa.
Relacionalidade
(relationality)
Fora para dentro Experiência como conexão com os
outros.
Percepção da relação com os outros.
Conhecimento conectado.
Status
Posicionamento Hierarquização e posicionamento no
grupo.
Indivíduo no grupo Abre espaço para que os indivíduos se
insiram numa conversa com respeito e
entendimento mútuo.
A falta de hierarquização pode
fazer com que a conversa perca a
direção e o sentido.
Sem solidariedade, a conversa
pode se tornar sem objetivo e
repetitiva.
Solidariedade
Conectividade Conexão dos componentes no
contexto do grupo.
Igualdade entre os indivíduos do
grupo.
Fonte: elaborado com base em Kolb, Baker e Jensen (2002) e Baker, Jensen e Kolb (2005).
48
Segundo Baker, Jensen e Kolb (2005), qualquer um desses extremos identificados nessas
cinco dialéticas prejudicará de alguma forma o desempenho das conversas que, por sua vez, irão
afetar a efetivação da aprendizagem pela experiência, conforme se mostra no Quadro 6:
Quadro 6: Ilustração dos extremos dialéticos
Se Apreensão bloqueia Compreensão, então Ingenuidade.
Se Compreensão exclui Apreensão, então Racionalismo.
Se Reflexão nunca leva à Ação, então Estagnação.
Se Ação nunca é informada pela Reflexão, então Ativismo.
Se Discurso Epistemológico proíbe Recurso Ontológico, então Pensamento Coletivo.
Se Recurso Ontológico silencia Discurso Epistemológico, então Ruminação.
Se Individualidade recusa a Relacionalidade, então Isolamento e Alienação.
Se Relacionalidade sobrepõe Individualidade, então Fusão.
Se Status esmaga a Solidariedade, então Autoritarismo.
Se Solidariedade derruba o Status, então Etnocentrismo.
Fonte: Baker, Jensen, Kolb (2005, p. 425). Adaptado pela autora.
Os autores dessa teoria sugerem, portanto, a estruturação de um espaço para a
aprendizagem pela conversa, para evitar que qualquer um desses polos prevaleça e, com isso,
atrapalhe o processo de conversação a ser estabelecido pelos grupos. Esse espaço pode ser visto
como um local onde a conversa pode acontecer normalmente, em um processo que é auto-
organizado pela própria aprendizagem decorrente das interações dos indivíduos:
Conforme a conversa progride, um valor central normativo que estrutura a
conversação, desenvolve, e ao mesmo tempo, cria fronteiras que definem o espaço da
aprendizagem pela conversa. Essas normas determinam o que pode ser dito e não
dito, quem tem voz e quem não tem voz na conversa. Ao mesmo tempo, essas
normas criam fronteiras que definem quem está dentro ou fora da conversa. Aqueles
que não sabem ou se recusam a conformar-se ou participam em mudanças das regras
normativas do jogo são excluídos da conversação (KOLB; BAKER; JENSEN, 2002,
p. 64-65).
Essa é então a qualidade paradoxical da estruturação dessas fronteiras: inicialmente parece
que inibem ou bloqueiam a conversa, contudo esse espaço pode promover um local seguro e
aberto, necessário para que a aprendizagem pela conversa de fato aconteça sem que nenhum dos
49
polos dialéticos impeça seu progresso e efetivação (KOLB; BAKER; JENSEN, 2002; BAKER,
JENSEN, KOLB, 2005).
Considerando-se que as pessoas não podem viver isoladas de algum contexto social, a
conversa inserida na aprendizagem pela experiência busca, portanto, evidenciar a necessidade do
questionamento e participação dos indivíduos nas atividades desenvolvidas com seus pares. Isso
se torna relevante, pois, inseridos no contexto grupal, poderão construir significados
compartilhados e, portanto, mais ricos e complexos uma vez que advêm da experiência coletiva.
2.2 APRENDIZAGEM ORGANIZACIONAL
Apesar do importante papel dos indivíduos para a aprendizagem nas organizações, esse
processo de aprender pode ser considerado organizacional quando a empresa tornar-se hábil
em criar, adquirir e transferir conhecimentos (GARVIN, 1994), de forma que modifiquem suas
rotinas, estratégias e, até mesmo, que redirecione seu foco no mercado. Caso isso não aconteça, a
organização fica refém de seus funcionários, ou seja, sempre que alguém sair da empresa, o
conhecimento é perdido. Defendendo a corrente da aprendizagem no nível organizacional
existem diversas teorias, entre as quais, uma das mais importantes é a Teoria da Ação,
desenvolvida por Argyris e Schön (1996).
2.2.1 A teoria da ação
A “teoria da ação” (termo em inglês: TOA) foi desenvolvida por Argyris e Schön (1996) e
Argyris (1999). Esses autores defendem que os seres humanos têm uma espécie de “programa
na sua cabeça que os guia a agir em diferentes situações, sem que tudo precise ser constantemente
50
reaprendido, formando teorias que norteiam a forma dos indivíduos e organizações agirem
efetivamente.
Para Argyris e Schön (1996, p. 3, grifo do autor), a “‘aprendizagem’ pode significar tanto
um produto (algo aprendido) ou o processo que produz produto”. O conteúdo informativo
representa o produto da aprendizagem que se transforma em conhecimento, enquanto o processo
refere-se à aquisição, ao processamento e armazenamento da informação que se transformará em
conhecimento. Processo e produto de aprendizagem acontecem para um aprendiz, seja ele um
indivíduo ou uma organização.
Os autores consideram que é preciso linkar a aprendizagem organizacional com o
pensamento e ação de seus participantes, ideia essa que leva ao pressuposto de que o fenômeno
da transposição da aprendizagem do nível individual para o organizacional está intimamente
conectado, uma vez que um não acontece sem o outro. Argyris e Schön (1996) consideram que é
necessário esquecer essa diferença e tratar a aprendizagem organizacional como um processo que
ocorre nas organizações, com base na aprendizagem individual.
Nessa teoria, a organização é tratada como um agente impessoal que pode pensar, agir e
aprender; a aprendizagem organizacional é percebida como resultado obtido pelo melhoramento
das tarefas e aumento do desempenho organizacional ao longo do tempo. Embora a organização
seja analisada como um agente impessoal que pode “aprender”, sabe-se que é difícil determinar
sob quais condições os pensamentos e as ações dos indivíduos são diferentes dos pensamentos e
ações organizacionais, pois ambos estão fortemente inter-relacionados.
Em algumas situações, pode-se afirmar que as organizações sabem mais do que seus
indivíduos e, contrariamente, em outros casos, os indivíduos têm mais conhecimento do que a
estrutura organizacional permite armazenar. Essa diferença leva a crer que, em algumas
circunstâncias, a aprendizagem possa ocorrer para um grupo de trabalho, ou indivíduo, sem
necessariamente ocorrer no nível da organização em sua totalidade. Os autores sugerem que a
aprendizagem organizacional precisa ser entendida como “ambientes organizacionais” dentro dos
quais os indivíduos interagem pensando e agindo.
Os autores consideram relevante estruturar algumas distinções preliminares que oferecem
suporte para a compreensão da teoria da ação, sendo elas: ação organizacional; questionamento
organizacional e conhecimento organizacional.
51
2.2.2 Ação, questionamento e conhecimento organizacional
As “ações organizacionais não podem ser reduzidas às ações dos indivíduos, [...], ainda
que não exista ação organizacional sem ação individual” (ARGYRIS; SCHÖN, 1996, p. 8). É o
indivíduo que decide e age, mas ele faz isso considerando as crenças da coletividade, na condição
de um agente organizacional da ação que se apoia nas regras da instituição que representa. Essas
regras determinam os limites da coletividade, são criadas por seus membros e funcionam como
uma “constituição” para a organização criada. Muitas vezes, essas regras permanecem tácitas,
não havendo razão para explicitá-las a menos que algo diferente aconteça, como uma surpresa ou
uma crise, por exemplo.
Essas crenças coletivas fazem com que haja continuidade nas regras que governam o
comportamento de seus membros como indivíduos, mesmo que algumas pessoas saiam ou entrem
na organização. Pelo estabelecimento dessas regras, aceitas e legitimadas pelo grupo, a
coletividade torna-se capaz de agir.
Por ão organizacional, portanto, compreendem-se as ações executadas pelos
indivíduos. Essas ações, no entanto, são pautadas nas regras, crenças e valores da coletividade
que esses indivíduos representam.
Segundo Argyris e Schön (1996), se a coletividade alcança tal condição capaz de agir
para a organização, ela também realiza o processo de questionamento. O termo “questionamento”
foi, da mesma forma que na aprendizagem experiencial, gerado com base na teoria de Dewey
(1938 apud ARGYRIS; SCHÖN, 1996), ou seja, os autores compreendem o questionamento
como a união do pensamento e da ação, que advém da dúvida para a resolução da dúvida. Para
Dewey (1938 apud ARGYRIS; SCHÖN, 1996, p. 11), “a dúvida é construída como uma
experiência de uma situação problemática, provocada pelo desencontro entre o resultado
esperado da ação e o resultado de fato alcançado”. Tal diferença representa uma surpresa em
relação ao resultado da experiência, abrindo espaço para questionamento, e posterior ação,
preocupados em restabelecer o fluxo esperado de resposta.
Nem sempre os questionamentos dos indivíduos estão alinhados aos questionamentos da
organização, no entanto, quando ambos estão alinhados, “o questionamento individual alimenta e
52
ajuda a moldar o questionamento organizacional, o qual realimenta e molda os questionamentos
posteriores realizados pelos indivíduos” (ARGYRIS; SCHÖN, 1996, p. 11-12).
O questionamento organizacional acontece sempre que há um desencontro entre o
resultado esperado e o resultado alcançado com a ação realizada. O resultado do questionamento
organizacional pode tomar a forma de uma mudança no pensamento e ação que, como
consequência, produz uma mudança no design das práticas organizacionais e altera o
conhecimento existente na organização.
O conhecimento organizacional, presente nas tarefas executadas pelos indivíduos,
representa um sistema de crenças subjacentes à ação. O conhecimento se torna organizacional,
segundo Argyris e Schön (1996), em duas situações. A primeira nos arquivos da organização, nas
políticas organizacionais, nos mapas (formais e informais) e na cultura organizacional, uma vez
que tais artefatos, carregados de conhecimento organizacional, fazem com que a organização se
torne compreensível para si e para os outros. A segunda situação na qual o conhecimento se torna
organizacional é pelas rotinas e práticas, que devem ser inspecionadas e decodificadas até mesmo
quando os indivíduos são incapazes de traduzi-las em palavras. Essas rotinas e práticas
incorporam estratégias e formas de desempenhar tanto as tarefas mais simples quanto as mais
complexas, podendo envolver todo o sistema de produção ou se referir especificamente a algum
pequeno e pontual trabalho que precisa ser executado.
A diferenciação dos conceitos de ação, questionamento e conhecimento organizacional pode
ser observada na Figura 5:
53
Figura 5: Ação, questionamento e conhecimento organizacional
Fonte: elaborado com base em Argyris e Schön (1996).
O conhecimento organizacional é o elemento fundamental da TOA de Argyris e Schön
(1996). A TOA não se refere somente às estratégias da ação, refere-se também aos valores que
governam as escolhas das estratégias e os pressupostos nos quais as ações estão baseadas. A TOA
existe em duas diferentes formas: na teoria esposada, que é usada para explicar ou justificar
determinado padrão de atividade; na teoria em uso, que não está “dada” e precisa ser construída
pela observação dos modelos de ação (ARGYRIS; SCHÖN, 1996).
As teorias organizacionais em uso, normalmente, são tácitas e podem não “casar” com as
teorias esposadas da organização. Essas teorias permanecem tácitas porque não podem ser
descritas ou discutidas. Não são descritas porque os membros que a executam, muitas vezes,
sabem mais do que podem dizer e são incapazes de descrever o que está embutido no
desempenho diário de suas funções; não podem ser discutidas porque qualquer tentativa de
revelar suas incongruências com a teoria esposada poderia ser percebida como ameaçadora ou
embaraçante para os membros que formam a coletividade. Quaisquer que sejam as razões pelas
quais ela seja tácita, a teoria em uso conta muito para a estruturação da identidade organizacional
ao longo do tempo (ARGYRIS; SCHÖN, 1996).
54
2.2.3 Aprendizagem organizacional sob o enfoque da teoria da ação
Considerando-se as diferenças e relações entre ação, questionamento e conhecimento
organizacional, o contexto da aprendizagem organizacional é elaborado por Argyris e Schön
(1996) por meio de uma descrição mais precisa sobre o assunto.
Argyris e Schön (1996) argumentam que cada membro da organização constrói sua
própria representação da teoria em uso em sua totalidade, mas sua figura está sempre incompleta,
pois ela não representa a totalidade da organização. Então, o indivíduo empenha-se
continuamente para redescrever sua figura, considerando continuamente a si mesmo em relação
aos outros na organização. As descrições são refeitas por todos os indivíduos do grupo sempre
que as condições mudam, e o que existe, na verdade, é um contínuo de imagens individuais
mescladas em suas atividades dentro do contexto de interação coletiva.
Cada indivíduo na organização contém, portanto, uma particular, parcial e mutável
imagem de si em relação ao todo. As práticas da organização se originam dessas muitas imagens,
portanto a teoria em uso é dependente das formas pelas quais seus membros a representam. A
exploração da aprendizagem organizacional lida, então, não com uma entidade estática, mas com
um processo ativo de organização (ARGYRIS; SCHÖN, 1996).
A continuidade da organização, no entanto, não seria possível se dependesse
exclusivamente dessas imagens múltiplas de seus membros, pois, quando uma organização é
grande e complexa, seus colaboradores não podem contar com o contato face a face para ajudá-
los a ajustar suas imagens das teorias organizacionais em uso. Argyris e Schön (1996) explicam
que é necessário criar referências externas para guiar tais ajustamentos. Essas referências são
preenchidas com a existência de três artefatos: nos mapas, que contêm diagramas de fluxo de
trabalho, desenhos organizacionais, desenhos ou fotografias do local de trabalho; nas memórias,
que englobam os arquivos, registros, bases de dados, avaliações financeiras, ferramentas,
produtos e materiais de trabalho; nos programas, que envolvem as descrições procedimentais das
rotinas organizacionais. Esses artefatos, além de descreverem os modelos existentes das
atividades a serem desenvolvidas, servem como guia para ações organizacionais futuras. Para
Argyris e Schön (1996, p. 16):
55
Aprendizagem organizacional ocorre quando indivíduos dentro de uma experiência
organizacional com uma situação problemática questionam as crenças organizacionais.
Eles experimentam um desencontro surpreendente entre o resultado da ação esperado e o
alcançado e respondem a esse desencontro através do processo de pensamento e
posterior ação que os leva a modificar suas imagens da organização ou de suas
compreensões do fenômeno organizacional e para reestruturar suas atividades de forma a
buscar resultados e expectativas esperados mudando, dessa forma, as teorias
organizacionais em uso. Para se tornar organizacional, a aprendizagem que resulta do
questionamento organizacional deve tornar-se embutida nas imagens das organizações
existentes nas mentes dos indivíduos e/ou nos artefatos epistemológicos (os mapas,
memórias e programas) embutidos no ambiente organizacional.
Para que o produto do questionamento organizacional possa ser classificado como
aprendizagem, ele precisa incluir evidências de mudança nas teorias em uso da organização.
Muitas vezes, tais mudanças são mediadas pelas lições aprendidas com os questionamentos, no
entanto essas lições somente são classificadas como produtos da aprendizagem quando são
acompanhadas por mudança no comportamento, ou seja, quando apresenta mudança na teoria em
uso organizacional ou quando essas mudanças são embutidas nas imagens individuais que
guardam o conhecimento organizacional (ARGYRIS; SCHÖN, 1996).
A aprendizagem, partindo dessa realidade, parece sugerir a aquisição de conhecimento
válido e aplicável para a organização, porém esses autores advertem que nem sempre o resultado
da aprendizagem é positivo para a organização. Destacam, também, que o que é aprendido passa
por uma questão de juízo de valor, pois é preciso refletir sobre qual perspectiva se espera
eficiência e eficácia e para quais propósitos isso serve na organização. Tais situações serão
adequadamente discutidas, posteriormente no item 2.6, que aborda as barreiras da aprendizagem
nas organizações. Cabe, aqui, no entanto, esclarecer que Argyris e Schön (1996) consideram a
perspectiva da aprendizagem organizacional produtiva, tratando daquele tipo de aprendizagem
que resulta em ganhos para as organizações.
Argyris e Schön (1996) evidenciam três tipos de aprendizagem organizacional produtiva.
A primeira refere-se ao questionamento organizacional, de forma que a aprendizagem
instrumental proporciona melhoria no desempenho dos procedimentos. No segundo tipo, os
autores destacam o questionamento por meio do qual uma organização explora e reestrutura os
valores e critérios pelos quais ela define os significados e, partindo desse conhecimento, ela
melhora o desempenho. O terceiro tipo de aprendizagem organizacional refere-se aos
questionamentos pelos quais uma organização alcança a capacidade de aprender com base nos
56
dois tipos anteriores. Esses três tipos de aprendizagem referem-se, respectivamente, à
aprendizagem de ciclo simples, de ciclo duplo e deutero aprendizagem.
Quando um erro é detectado e corrigido sem questionar ou alterar os valores subjacentes
ao sistema, ou seja, às teorias em uso, tem-se a aprendizagem de ciclo simples. A aprendizagem
de ciclo simples “ocorre quando acertos são criados, ou quando erros são corrigidos mudando
somente a ação” (ARGYRIS, 1999, p. 68). Nesse caso, existe um único laço de feedback, que
surge como consequência do questionamento organizacional sempre que o resultado da ação não
atender às expectativas. Todavia, apesar das estratégias da ação terem sido modificadas, o
conjunto de normas e valores organizacionais permanecem inalterados (ARGYRIS; SCHÖN,
1996).
A aprendizagem de ciclo duplo significa a aprendizagem que resulta na mudança dos
valores da teoria em uso, assim como das estratégias e pressupostos. Nesse caso, existem dois
laços de feedback que conectam os efeitos observados da ação com as estratégias e valores
subjacentes a essa ação. O laço duplo de aprendizagem pode acontecer tanto no nível individual,
quando o questionamento provoca mudança nos valores das teorias em uso individuais, quanto no
nível organizacional, quando os questionamentos sobre os interesses organizacionais levam à
mudança nas teorias em uso da organização em sua totalidade (ARGYRIS; SCHÖN, 1996).
Segundo Argyris (1999), a aprendizagem de ciclo duplo acontece quando os erros detectados são
corrigidos primeiro, examinando e alterando as variáveis governantes e, somente depois dessa
análise, muda-se, então, a ação.
Esse processo do ciclo simples e duplo de aprendizagem pode ser visualizado na Figura 6:
Figura 6: Ciclo simples e ciclo duplo de aprendizagem
Fonte: Argyris (1999, p. 68). Adaptado pela autora.
57
A aprendizagem de ciclo simples é apropriada para a rotina e para os aspectos repetitivos
organizacionais, pois está fortemente pautada no trabalho diário. Esse tipo de aprendizagem,
acompanhada pelas rotinas organizacionais, domina a vida da organização, no entanto são
inimigas para encontrar soluções para os problemas difíceis da organização que são ameaçadores
ou que podem promover constrangimento às pessoas da organização (ARGYRIS, 1996).
A aprendizagem de ciclo duplo é mais relevante para aspectos complexos e não
programáveis, que, segundo Argyris (1999), assegura a competitividade da organização, visto que
esse tipo de aprendizagem busca mudanças mais profundas, uma vez que questiona os princípios
vigentes na organização.
Para que a organização consiga efetivar o ciclo duplo de aprendizagem, é preciso que os
indivíduos tenham consciência do seu modelo de teoria em uso e dos processos automáticos de
raciocínio que levam às respostas hábeis e automáticas que, entretanto, são contraprodutivas.
Realizando o duplo feedback requerido no ciclo duplo de aprendizagem, os indivíduos tornam-se
os responsáveis pelas mudanças que acontecem, ou não, na organização, decorrentes dos
processos de aprendizagem desenvolvidos no contexto sociocultural em que se encontram
inseridos (ARGYRIS, 1999).
O desafio para as organizações consiste em ajudar os indivíduos a transformarem suas
teorias esposadas em teorias em uso pela aprendizagem de um “novo” conjunto de habilidades
que é “sustentado” por um “novo” conjunto de valores (ARGYRIS, 1999). Como os indivíduos
não chegam ao ciclo duplo de aprendizagem sem refletir sobre suas ações, é necessário que sejam
reexaminados os processos de raciocínio utilizados, pelos quais as pessoas criam premissas que
são assumidas como válidas e a partir das quais se cria uma memória com as conclusões sobre
como agir em cada situação. A estruturação dessa memória é o que possibilita que o
conhecimento seja armazenado, do contrário, os indivíduos teriam que reaprender as mesmas
coisas a cada situação vivenciada.
As pesquisas sobre a efetivação da aprendizagem de ciclo duplo são ainda incipientes, os
próprios autores admitem que não conhecem literatura que ofereça descrição desse sistema, nem
mesmo conhecem uma organização que tenha desenvolvido efetivamente o sistema de
aprendizagem de laço duplo. Talvez, esse fenômeno seja raro de ser observado e descrito por dois
motivos: o primeiro por representar um estado ideal e, portanto, muito difícil de ser alcançado
completamente; o segundo porque está sempre em mudança, uma vez que desenvolve a
58
capacidade contínua de feedback duplo que, por sua vez, estará sempre questionando o status quo
existente na organização (ARGYRIS; SCHÖN, 1996; ARGYRIS, 1996).
Um importante tipo de aprendizagem de ciclo duplo é a deutero aprendizagem,
identificada pelos autores também como aprendizagem de segunda ordem, por meio da qual os
membros da organização devem descobrir e modificar o sistema de aprendizagem dos modelos
que prevalecem no questionamento organizacional, nesse caso, aprende-se a aprender. O
processo de deutero aprendizagem organizacional é “fortemente dependente da aprendizagem
deutero individual” (ARGYRIS; SCHÖN, 1996, p. 29) e é ainda mais difícil de ser observado e
analisado que a aprendizagem de ciclo duplo em razão da sua complexidade.
Não é simples distinguir os dois tipos de aprendizagem, pois suas fronteiras não são
suficientemente claras já que existe muita ambiguidade nos processos dos dois tipos de
aprendizagem. Para Argyris e Schön (1996), dois fatores complicam a distinção entre o laço
simples e duplo de aprendizagem. O primeiro é o tamanho e a complexidade da organização: as
teorias em uso organizacionais são estruturas compostas de muitas partes interconectadas, pois
algumas estruturas são locais e periféricas enquanto outras são fundamentais para toda a
estrutura. Outro aspecto importante do primeiro fator que dificulta a distinção dos dois tipos de
laço é que nem sempre o laço duplo da aprendizagem organizacional é de fundamental
importância para a organização em sua totalidade, pois isso depende também do grau no qual os
valores e as normas centrais estão envolvidos na organização.
O segundo fator que, segundo os autores, dificulta a distinção entre os dois laços é a
relação entre o processo e o produto da aprendizagem: embora a aprendizagem esteja diretamente
envolvida no que se refere a produtos do questionamento organizacional, é importante se
preocupar com os valores e as normas que governam os processos desses questionamentos
organizacionais. Torna-se importante, então, não somente perceber onde o questionamento inicia,
mas também o que ele gera. O ciclo duplo de aprendizagem dentro do questionamento
organizacional chama a atenção para um passo adiante, ou até mesmo muito mais além, pois
volta à questão para quem está refletindo e não somente para os fatos objetivos que motivaram o
questionamento, preocupando-se, também, com as razões e os motivos subjacentes àqueles fatos.
Isso faz com que os pressupostos e questionamentos que as pessoas e organizações possuem
também sejam analisados e questionados.
59
Resumindo, pode-se afirmar que a estrutura organizacional, composta por muitas partes
conectadas, e os pressupostos e valores existentes por trás dos questionamentos gerados
dificultam sobremaneira a identificação se a aprendizagem ocorrida na organização classifica-se
como sendo de laço simples ou duplo (ARGYRIS; SCHÖN, 1996).
2.2.4 Sistema de aprendizagem organizacional
Segundo Argyris e Schön (1996), um sistema de aprendizagem organizacional é formado
por estruturas não verdadeiras, compostas pelos próprios indivíduos, que direcionam o
questionamento existente e sugerem as regras pelas quais as pessoas devem se comportar na
organização, facilitando ou inibindo o questionamento organizacional. Juntas essas características
comportamentais e estruturais do sistema de aprendizagem criam as condições sob as quais os
indivíduos questionarão, ou não, o conhecimento organizacional, identificando tanto os aspectos
que podem ser recorridos ou evitados, quanto os dilemas que deverão ser publicamente testados
ou protegidos.
Por estrutura organizacional, Argyris e Schön (1996, p. 28) se referem a:
canais de comunicação (fóruns para discussão e debate, modelos formais e informais
de interação);
sistemas informais, incluindo sua mídia e tecnologias (o computador, por exemplo);
o ambiente espacial da organização na extensão que influencia os modelos de
comunicação;
procedimentos e rotinas que guiam o questionamento individual e interativo; e
sistemas de incentivo que influenciam o desejo de questionar.
Tais estruturas facilitam o questionamento organizacional e, por esse motivo, são
consideradas pelos autores como capacitadoras da aprendizagem. Por mundo comportamental da
organização, os autores se referem às qualidades, aos significados e sentimentos que condicionam
as interações entre os indivíduos dentro da organização, afetando o questionamento
organizacional.
60
O sistema de aprendizagem organizacional está fortemente relacionado com as teorias em
uso que os indivíduos apresentam em seu mundo comportamental, pois elas ajudam a criar e
manter o sistema de aprendizagem organizacional; esse sistema, por sua vez, reforça ou
reestrutura as teorias em uso individuais (ARGYRIS; SCHÖN, 1996).
2.3 INTEGRANDO APRENDIZAGEM INDIVIDUAL E ORGANIZACIONAL
A teoria de Kim (1993) apresenta uma proposta de integração entre a aprendizagem
individual e a organizacional por intermédio de modelo integrado, identificado como OADI-
SMM (termo em inglês para: observa, acessa, desenha, implementa modelos mentais
compartilhados). Nessa teoria, o link entre a aprendizagem individual e a organizacional é feito
pela integração entre os modelos mentais individuais e compartilhados. Segundo o autor, isso
acontece porque o pensamento construído nesses mapas mentais afeta como as pessoas e
organizações definem suas ações e estratégias em relação ao contexto em que estão inseridas.
O objetivo de Kim (1993) é elaborar uma teoria que explique o processo pelo qual a
aprendizagem deixa de ser individual e passa a fazer parte do contexto organizacional, buscando
superar os seguintes gaps encontrados na literatura sobre o assunto: ignorar o papel do indivíduo
na aprendizagem organizacional, antropomorfizando a organização; ser uma simplista extensão
da aprendizagem individual pela ênfase das complexidades organizacionais; ser dirigida de
alguma forma pelo que acontece no ambiente e não explicando quando a aprendizagem acontece
dentro da firma, independentemente do ambiente externo; ser responsabilidade de um grupo de
pessoas sem identificar o processo de transferência pela qual a aprendizagem é retida pela
organização.
Assim como Kolb (1984) e Argyris e Schön (1996), Kim (1993) também sugere que as
organizações aprendem via seus indivíduos e, por esse motivo, considera que compreender o
processo da aprendizagem individual é crucial para entender a aprendizagem no nível
organizacional, portanto sua teoria inicia pontuando aspectos importantes da aprendizagem no
nível individual.
61
Na sequência, para entender o processo existente entre aprendizagem individual e
organizacional, Kim (1993), partindo do papel da aprendizagem individual e da memória, leva
em conta os diferentes tipos organizacionais e especifica os mecanismos de transferência entre
aprendizagem individual e organizacional. Essa transferência é, nessa teoria, o coração da
aprendizagem organizacional, pois é por meio desse processo que a aprendizagem individual
começa a ser embutida na memória e na estrutura das organizações.
2.3.1 O papel da aprendizagem individual e organizacional no modelo OADI-SMM
Para Kim (1998, p. 63), aprender, no contexto do trabalho, significa duas habilidades
diferentes: “(1) aquisição de habilidades ou know-how, que implica a capacidade física de
produzir alguma ação, e (2) a aquisição de know-why, que implica a capacidade de articular uma
compreensão conceitual de uma experiência”. As duas habilidades juntas, know how e know why,
devem levar ao aumento da capacidade de alguém tornar uma ação efetiva, pois, assim, a
aprendizagem individual acontece de fato.
A aprendizagem individual pode acontecer em dois diferentes níveis: operacional e
conceitual (KIM, 1993). Aprendizagem operacional representa aprendizagem no nível
procedimental, no qual alguém aprende um procedimento de forma que desenvolva as
competências e habilidades necessárias para completar uma tarefa particular. Esse saber fazer é
facilmente observado nas rotinas organizacionais, desde as mais simples, tal como preencher um
formulário, até as mais complexas, como, por exemplo, manusear um equipamento de alta
tecnologia. A aprendizagem no nível operacional provoca mudança nas rotinas, estas, por sua
vez, também afetam o processo de aprendizagem operacional, desencadeando um processo de
influência mútua. Aprendizagem conceitual está relacionada “com o pensar sobre a forma como
as coisas são feitas em primeiro lugar, às vezes, desafiando a natureza ou existência das
condições que prevalecem, procedimentos ou concepções que levam a novos esquemas nos
modelos mentais” (KIM, 1993, p. 40). Segundo essa teoria, esses novos esquemas mentais podem
62
abrir oportunidades para romper com os processos existentes, provocando melhorias na
construção de um problema de maneiras radicais e diferentes.
A aprendizagem experiencial é a escola de pensamento que melhor acomoda esses dois
níveis de aprendizagem operacional e conceitual. Kim (1993) apropria-se do modelo apresentado
por Kolb, usando, no entanto, uma versão elaborada por Kofman (1992), que substitui os termos
originais, usados em Kolb, pela sigla OADI: observa-acessa-desenha-implementa, que “têm
claras conexões para as atividades realizadas no contexto organizacional” (KIM, 1993, p. 65),
visualizado na Figura 7:
Figura 7: O ciclo observa-acessa-desenha-implementa da
aprendizagem individual
Fonte: Kim (1993, p. 39). Adaptado pela autora.
O modelo OADI pressupõe que as pessoas acessam suas experiências, consciente ou
inconscientemente, pela reflexão de suas observações. Realizadas tais observações, as pessoas
constroem conceitos abstratos que aparentemente respondam às avaliações feitas na etapa
anterior e testam esses conceitos implementando-os no mundo concreto. Essa implementação
leva a novas experiências concretas que, por sua vez, permite recomeçar outro ciclo
continuamente.
63
Embora esse ciclo ajude a compreender a aprendizagem, para os propósitos do modelo
OADI-SMM, ele é incompleto porque não explicita o papel da memória. Nessa teoria, a memória
é que tem uma função crucial, pois é por meio dela que a aprendizagem individual é ligada à
organizacional (KIM, 1993).
Memória não significa a mesma coisa que aprendizagem; aprendizagem está relacionada
mais com a aquisição, enquanto memória tem relação com a retenção do que é adquirido pelas
pessoas e organizações, no entanto, separar os dois processos, é difícil, uma vez que eles são
inter-relacionados porque “o que já temos em nossa memória afeta o que nós aprendemos e o que
nós aprendemos afeta nossa memória” (KIM, 1993, p. 39).
Apesar de aprendizagem e memórias serem processos interconectados, é preciso
diferenciar e entender o papel da memória no processo da aprendizagem. Surge, então, o conceito
de modelos mentais, descritos por Senge (2006) como imagens internas, profundamente
armazenadas, que as pessoas possuem sobre como o mundo funciona. Essas imagens internas têm
uma poderosa influência no que as pessoas fazem porque afetam a forma como elas veem e
compreendem o mundo.
Os modelos mentais têm um papel ativo no que os indivíduos veem e fazem, pois eles
representam a maneira de uma pessoa ver o mundo, incluindo não somente as compreensões
explícitas, como também as compreensões implícitas. Esses modelos mentais proveem o contexto
no qual se e se interpreta a informação existente, portanto eles determinam se essa informação
é, ou não, relevante para o indivíduo:
Os modelos mentais podem ser generalizações simples, como “não se pode confiar nas
pessoas”, ou podem ser teorias complexas, como minhas premissas sobre os motivos
pelos quais os membros da minha família interagem de uma determinada forma. Mas o
mais importante é compreender que os modelos mentais são ativos moldam nossa
forma de agir (SENGE, 2006, p. 202, grifo do autor).
Os modelos mentais não ajudam a dar sentido do mundo que as pessoas veem, mas
podem também restringir a compreensão dos indivíduos para que faça sentido dentro dos
modelos mentais que eles possuem (KIM, 1993; SENGE, 2006). Esses modelos mentais são
interpretados pelas pessoas como verdadeiros até que sejam confrontados, questionados ou até
que eles não estejam mais adequados aos resultados esperados pelos indivíduos (KIM, 1993).
64
Para Kim (1993, p. 40), a aprendizagem individual é, portanto, “um ciclo de
aprendizagem conceitual e operacional que informa e é informado pelos modelos mentais”.
Como a organização aprende por intermédio de seus indivíduos, ela é afetada tanto direta quanto
indiretamente pela aprendizagem individual. No nível organizacional, no entanto, a complexidade
aumenta sobremaneira, pois o foco de análise deixa de ser o indivíduo e passa a ser uma grande
coleção de indivíduos.
A aprendizagem organizacional, por sua vez, na teoria OADI-SMM, considera, conforme
sugerem Cyert e March (1963 apud KIM, 1993) e Daft e Weick (1984), que as organizações são
sistemas comportamentais e interpretativos. Por sistemas comportamentais, Kim (1993) apoia-se
no fato de que as organizações são vistas como sistemas racionais adaptativos que aprendem pela
experiência, mudando seu comportamento em virtude do retorno obtido para, com isso,
adaptarem-se às tendências e permanecer competitivas no mercado.
A organização vista como um sistema de interpretação refere-se à capacidade de
interpretação do ambiente no qual a organização está inserida, tal capacidade é um requisito
básico tanto para as empresas quanto para os indivíduos. A capacidade de interpretação de uma
empresa formará a “visão de mundo”, denominada como weltanschauung, dessa empresa (KIM,
1993). Essa visão de mundo, que se refere às maneiras pelas quais a organização pode interpretar
o mundo, determina como a organização entende as respostas ambientais e também como a
organização escolhe se deve agir, ou não, sobre elas (DAFT; WEICK, 1984).
O ciclo de aprendizagem individual afeta a aprendizagem no nível organizacional,
exercendo influência nos modelos mentais compartilhados. Para Kim (1993, p. 44):
Aprendizagem organizacional é dependente do aprimoramento do modelo mental dos
indivíduos; tornar aqueles modelos mentais explícitos é crucial para desenvolver novos
modelos mentais compartilhados. Esse processo permite que a aprendizagem
organizacional seja independente de qualquer indivíduo em específico.
Portanto, o link que falta da aprendizagem individual para a organizacional, na teoria
OADI-SMM, acontece por meio dos modelos mentais compartilhados (termo em inglês: SMM).
Os modelos mentais compartilhados extrapolam o conceito de memória organizacional porque
esta se refere a tudo o que está contido em uma organização, enquanto os modelos mentais
65
individuais e compartilhados representam somente a parte da memória organizacional que é ativa,
ou seja, representam os aspectos para os quais a organização direciona sua atenção (KIM, 1993).
A ênfase nos modelos mentais como chave para a aprendizagem no vel grupal e, por
consequência, organizacional, está no fato de que a maioria do conhecimento existente e ativo da
organização está inserido nesses modelos mentais. muito mais sobre a firma do que é dito ou
escrito, sua essência está embutida mais nas pessoas, então, esses modelos mentais são
importantes porque tornam-se uma mistura do que é aprendido explicitamente com o que é
absorvido implicitamente. Os ativos intangíveis, frequentemente invisíveis, de uma organização
também residem nos modelos mentais individuais e contribuem para formar os modelos mentais
compartilhados. São os modelos mentais compartilhados que tornam o resto da memória
organizacional útil, pois: “sem esses modelos mentais, que incluem todas as interconexões sutis
entre os rios membros, uma organização será incapacitada tanto no aprendizado quanto na
ação” (KIM, 1993, p. 45)
Quando os modelos mentais são explicitados e compartilhados pelo grupo, a base do
significado compartilhado dentro da organização aumenta e, com isso, cresce também a
capacidade da organização para coordenação de suas ações, gerando, com isso, aprendizagem
tanto em nível grupal quanto em nível organizacional.
Para Kim (1993), os modelos mentais estão relacionados à aprendizagem nos dois níveis:
na aprendizagem conceitual, quando promove mudanças que levam a novas maneiras de olhar o
mundo; na aprendizagem operacional, que produz novas ou revisitadas rotinas que substituirão as
antigas. Dessa forma, os modelos mentais individuais, quando modificados, não contêm somente
os novos esquemas e rotinas, mas também acumulam o conhecimento sobre como essas rotinas se
encaixam dentro dos esquemas da organização. Compartilhando esse conhecimento, os modelos
mentais individuais tornam-se embutidos no weltanschauung, ou seja, na visão de mundo da
organização, alterando-a. Por outro lado, a forma como a organização percebe o mundo engloba,
e também modifica, o pensamento corrente dos indivíduos que a compõem.
Os principais conceitos que dão forma ao modelo OADI-SMM estão representados no
Quadro 7:
66
Quadro 7: Conceitos relevantes no modelo OADI-SMM
Conceitos
nível
individual
Detalhamento
Detalhamento Conceitos
nível
organizacional
Indivíduos
A organização aprende
por meio de seus
indivíduos.
Q
Q
u
u
a
a
n
n
d
d
o
o
a
a
a
a
p
p
r
r
e
e
n
n
d
d
i
i
z
z
a
a
g
g
e
e
m
m
o
o
c
c
o
o
r
r
r
r
e
e
Sistemas comportamentais e
interpretativos.
Organizações
Ciclo de
aprendizagem
individual
Mudança de crenças
individuais que afetam os
modelos mentais.
Todo o conhecimento que está
contido na organização.
Memória
organizacional
Modelos
mentais
individuais
Crenças individuais que
influenciam e são
influenciadas pelos
modelos mentais
compartilhados.
Representam aspectos que a
organização presta atenção, as
coisas que decide agir e as
experiências que decide
gravar. Incluem as diversas
conexões existentes entre
membros e rotinas
organizacionais.
Modelos
mentais
compartilhados
Fonte: elaborado com base em Kim (1993).
Para Kim (1993, p. 45), “a força do link entre os modelos mentais individuais e
compartilhados é uma função da quantidade de influência exercida por um indivíduo particular,
ou grupo de indivíduos, na organização”. A weltanschauung, por sua vez, é um reflexo da cultura
organizacional, que se encontra profundamente enraizada em pressupostos, artefatos e, também,
nas regras comportamentais que a empresa evidencia (KIM, 1993).
Todas essas relações que constroem o modelo integrado de aprendizagem organizacional
podem ser visualizadas na Figura 8:
67
Figura 8: Modelo integrado de aprendizagem organizacional
Fonte: Kim (1993, p. 44). Adaptado pela autora.
Resumindo, pode-se afirmar que, na teoria OADI-SMM de Kim (1993), a organização,
considerada um sistema comportamental interpretativo, aprende por meio de seus indivíduos.
A aprendizagem individual, por sua vez, ocorre pela mudança nas crenças individuais que afetam
os modelos mentais individuais; esses modelos mentais individuais influenciam e são
influenciados pela visão de mundo das organizações, que, em contrapartida, moldam os modelos
mentais compartilhado. Para Kim (1993), esses modelos mentais compartilhados são a chave da
aprendizagem no nível organizacional, pois eles aumentam a capacidade da organização para
coordenar novas ações tanto no nível operacional quanto no conceitual, sem, para isso, precisar
depender exclusivamente de uma pessoa. Tendo como base essa argumentação, Kim (1993)
Esquemas
de
entendimento
Rotinas
Apredizagem de
Circuito Duplo
Individual
(ACDI)
Weltanschauung
Rotinas
Organiza
cionais
Modelos
Mentais
Compar
tilhados
Apredizagem de
Circuito Duplo
Organizacional
(ACDO)
Ação Individual
Resposta Ambiental
Apredizagem de
Circuito Duplo
Apredizagem de
Circuito Simples
Individual (ACSI)
Apredizagem de
Circuito Smples
Organizacional
(ACSO)
Modelos
Individuais
Mentais
Apredizagem de
Circuito Simples
Aprendizagem individual
Conceitual
Operacional
Projetar
Avaliar
Implementar
Observar
Ação Organizacional
68
sugere que o processo de aprendizagem pode ser, de fato, observado no nível organizacional,
embora reconheça a falta de estudos empíricos que validem essa teoria.
2.4 APRENDIZAGEM COLETIVA E NOS GRUPOS DE TRABALHO
As características das pesquisas sobre aprendizagem nas organizações que se preocupam
com a perspectiva do grupo reforçam a importância do contexto no qual as pessoas se
relacionam, construindo e reconstruindo o conhecimento para gerar novas ações no âmbito
organizacional. Como importantes pesquisadoras dessa linha encontram-se Dixon (1999) e
Edmondson (1999, 2002). Dixon (1999) apresenta um modelo teórico que tem como objetivo
explicar como a aprendizagem em grupos ocorre na organização. Edmondson (1999, 2002)
descreve as características da aprendizagem em grupos de trabalho.
2.4.1 Aprendizagem coletiva e o ciclo da aprendizagem organizacional
Dixon (1999) explica que os seres humanos criam e alteram o ambiente onde vivem e,
portanto, precisam mudar para se adaptar ao conhecimento e ao contexto novo gerado pelo
próprio homem. Mudança e aprendizagem geram um movimento contínuo que se autorreforça e
tal situação não se refere apenas ao contexto social da humanidade, também é observada
intensamente no mundo do trabalho.
Atualmente, a maioria dos trabalhos requer que os indivíduos interpretem, analisem e
sintetizem informação; portanto, substituindo as tarefas procedimentais e previsíveis, os homens
tornam-se responsáveis por inferências, diagnósticos, julgamentos e tomada de decisões e, muitas
vezes, tais tarefas são demandadas sob pressão. Diante de tal contexto, a autora argumenta que os
69
empregados precisam aprender não somente a resolver os problemas existentes no trabalho, mas
também precisam ter consciência da forma como esses problemas são resolvidos. O papel da
gerência e supervisão nesse ambiente dinâmico e ambíguo também mudou, pois não se pode mais
permanecer no controle, o objetivo passa a ser o de estabelecer, conjuntamente com o grupo,
direções e objetivos (DIXON, 1999).
Esse contexto faz com que cada vez mais a aprendizagem passe a ser tarefa rotineira, de
tal forma que, segundo Dixon (1999, 2001), aprendizagem e trabalho acabam sendo considerados
termos sinônimos. A aprendizagem passa a ser vista, então, como uma variável crítica, uma vez
que as organizações estão “tentando entender como melhorar seus processos, como transferir
melhores práticas de uma parte da organização para outra, como incorporar mais rapidamente
novas tecnologias e como fazer uso coletivo dos subsistemas que conhecem todas tarefas da
aprendizagem” (DIXON, 1999, p. 6).
O ponto crucial, segundo Dixon (1999), é que, para a maioria dos problemas que a
organização enfrenta, não resposta correta, pois trata-se de problemas que nunca antes foram
vivenciados e, além disso, que acontecem dentro de um contexto mutável e de muita turbulência.
Para a autora, mesmo que existam respostas que funcionaram antes, o é garantido que elas
resolvam a situação, que o contexto é sempre diferente. Nesse sentido, é correto afirmar que
que a aprendizagem, e não o conhecimento em si, é o fator crítico de uma organização.
De acordo com Dixon (1999), três premissas fundamentais formam a base da
aprendizagem nas organizações. A primeira identifica o fato de que existem muitas respostas
certas, pois muitas maneiras de se alcançar o mesmo resultado; na segunda premissa, a autora
defende que as pessoas que estão envolvidas e são afetadas pelo problema são capazes de
encontrar as melhores respostas, desenvolvendo conhecimento útil para resolver seus problemas;
e a terceira premissa é que a aprendizagem ocorre em um contexto de trabalho e prática, portanto
a aprendizagem é resultado de esforço sistematizado e intencional.
Para Dixon (1999, p. 6, grifo nosso), a aprendizagem organizacional é “o uso intencional
dos processos de aprendizagem nos níveis do indivíduo, grupo e sistema, para continuamente
transformar a organização numa direção que aumente a satisfação de seus stakeholders”. O
conceito apresenta a palavra intencional, porque a autora acredita que todas as organizações
aprendem, em maior ou menor grau. No entanto, quando falta a intenção de aprender nos
diferentes níveis, individualmente, no grupo de trabalho ou em todo o sistema, a maioria das
70
organizações pode ser considerada aprendizes ineficientes, já que muito do que poderia ser
aprendido é desperdiçado ou, até mesmo, esquecido.
Dixon (1992) reforça que a aprendizagem precisa ser entendida como um processo, e não
como um resultado, porque a preocupação não está em acumular conhecimento para a
organização na verdade; a preocupação é com o que se deve fazer para corrigir erros e não repeti-
los, melhorando o desempenho organizacional. A principal premissa da autora é que “a
aprendizagem envolve a construção e reconstrução de significado e, como tal, é um processo
dinâmico” (DIXON, 1999, p. 7), no qual o conhecimento acumulado tem menor ênfase do que o
processo requerido para revisar e criar conhecimento novo sistematicamente.
Considerando-se essa perspectiva, Dixon (1999) apresenta um modelo de aprendizagem
nas organizações formado por um ciclo que contém as seguintes fases: difundir a geração de
informação; integrar a nova informação no contexto organizacional; interpretar a informação
coletivamente; autorizar os membros da organização a agirem baseando-se nos significados
desenvolvidos. Esse quarto passo alimenta o primeiro para gerar nova informação, em um
esquema que pode ser visualizado na Figura 9:
Figura 9: O ciclo da aprendizagem organizacional
Fonte: Dixon (1999, p. 64). Adaptado pela autora.
71
Para Dixon (1999), a aprendizagem não ocorre até que os membros da organização
consigam dar sentido à informação. Para ser considerada organizacional, essa atividade precisa
envolver o coletivo, não se limitando à interpretação individual. Isso significa que esse processo
não pode ser deixado solto, ao contrário, requer procedimentos organizacionais que o estimulem
e desenvolvam. Finalmente, quando os membros da organização conseguem dar sentido à
informação de forma coletiva, eles precisam de autorização para agir, tendo como base aquele
entendimento desenvolvido em conjunto.
Cabe destacar que “assim que nos voltamos para a aprendizagem coletiva devemos ver
que o contrário é também verdadeiro: a aprendizagem coletiva é dependente da individual”
(DIXON, 1999, p. 41). Antes, portanto, de compreender como se dá sentido à informação
coletivamente, é preciso compreender como os indivíduos criam sentido sobre o mundo.
2.4.2 A aprendizagem individual e a compreensão tácita das estruturas de significados
Dixon (1999) identifica que existem três maneiras pelas quais os indivíduos aprendem
algo: pela experiência direta, referindo-se ao recebimento de informações pelos cinco sentidos;
pela transmissão de informação, quando são transmitidas, e analisadas, ideias dos outros ou
quando se aprende por reportagens, leituras de livros, análises de fórmulas, entre outros; pela
reorganização do que os indivíduos sabem, representando o momento em que se constroem
novos significados. Essas três maneiras são utilizadas de maneira simultânea na maioria dos
processos de aprendizagem.
Considerando-se que os cinco sentidos são limitados nos seres humanos, a atenção filtra o
que se observa, embora essa seleção nem sempre seja consciente. É pela diferença que a atenção
é registrada pelos órgãos receptores, portanto tanto a ausência quanto a presença de algo pode
representar diferença para os indivíduos e captar-lhes a atenção. Contudo, somente se pode
afirmar que se aprende pela diferença quando ela é internalizada tempo suficiente para que seja
atribuído novo sentido a ela.
72
Nesse processo de dar sentido à informação, segundo Dixon (1997, 1999), os indivíduos
criam “estruturas de significados” com base nas informações resultantes das interações com o
mundo. Portanto, o que cada indivíduo percebe no mundo é uma interpretação dos dados que
existem, a qual será influenciada por diversos fatores, incluindo o contexto no qual a informação
está inserida, as estruturas de significados que foram desenvolvidas e os fatores genéticos
(DIXON, 1999). Dessa forma, cada indivíduo constrói a interpretação de seu mundo e, para cada
um, essa construção é diferente.
O fato de cada pessoa desenvolver uma interpretação única do mundo, segundo Dixon
(1999), é um inibidor natural da comunicação, ao mesmo tempo, a autora explica que é
justamente essa característica que permite aos indivíduos gerarem novas e diversificadas ideias.
Essa pluralidade torna os seres humanos, como espécie, criativos e inteligentes; além disso, para
a autora, são essas diferenças que estimulam e promovem a aprendizagem.
Dixon (1999) explica que as pessoas desenvolvem estruturas de significado tanto
intencionalmente quanto sem intenção. A primeira é chamada de “compreensão ativa”, pois
refere-se ao processo consciente no qual as pessoas tentam entender ou aprender algo. A outra
forma pela qual um indivíduo aprende acontece sem que o indivíduo almeje alterar suas
estruturas de significados, ou seja, em um processo inconsciente, chamado de “compreensão
tácita”. Essa forma de criação de significado tem grande impacto na aprendizagem individual
porque está atrelada à formação das estruturas tácitas de significados. Esse tipo de estrutura é
desenvolvido porque os seres humanos têm “espaço” limitado para processar dados, então,
utilizam-se do recurso da “categorização” para facilitar o processo de aprendizagem e otimizar o
“espaço” usado na memória. Portanto, os indivíduos são capazes de construir novas relações
apenas entre os dados que são capazes de guardar na memória ativa. Dessa forma, quanto melhor
a habilidade de organizar dados em categorias, melhor o nível de complexidade que essa pessoa
poderá pensar.
A compreensão cita de significados também influencia a aprendizagem por tornar as
estruturas de significados tácitas, ou seja, fazendo com que não seja necessário lidar com essas
estruturas diariamente de forma consciente. Dessa maneira, as estruturas de significados que as
pessoas usam repetidamente acabam tornando-se tácitas, em especial aquelas que sofrem poucas
alterações ao longo do tempo.
73
Para Dixon (1999), o fato de possuir estruturas de significado tácitas não significa que
elas foram esquecidas, pelo contrário, significa que apenas temporariamente perde-se a
consciência dessas estruturas, fazendo com que as ações tornem-se automáticas, ou seja, até que
essas estruturas sejam questionadas, não é preciso pensar sobre elas, pois tornam-se
inconscientes.
Tornando as estruturas de significados tácitas, segundo Dixon (1999), os indivíduos
apresentam duas vantagens: ganha-se mais “espaço” para processamento de ideias e associações
e adquire-se habilidade para responder com mais rapidez à situação do que o processo consciente
requer. No entanto, possuir estruturas de significados tácitas implica, por outro lado, a dificuldade
de testar a validade dessas estruturas, na consequente dificuldade de mudar essas estruturas de
significado tácitas e na propensão de construir e empregar inferências que não foram testadas e
que podem não ser válidas diante o novo contexto.
De acordo com Dixon (1999, p. 34), “alguns teóricos sugerem que aproximadamente 90%
das estruturas de significados humanas sejam tácitas”. As ideias abstratas tais como beleza,
justiça, amor e liberdade, por exemplo e a aquisição da linguagem e de muitas habilidades
foram aprendidas tacitamente, segundo a autora, pela exposição à cultura em que vivemos. A
compreensão tácita, somada às limitações humanas de captar a “verdade absoluta”, resulta no
desenvolvimento e manutenção de estruturas de significados que podem não ser verdadeiras.
Os seres humanos não apenas criam essas estruturas e significados que podem não ser
verdadeiros, como também tendem a mantê-los. Segundo Dixon (1999, p. 28), “os indivíduos
parecem ter uma preferência por interpretar o mundo em termos de suas estruturas de
significados existentes, que é outra forma de dizer que frequentemente vemos o que esperamos
ver”. Essa “reação” faz com que as pessoas mantenham um padrão, mesmo que esse padrão não
seja o mais adequado para o contexto.
Quando os indivíduos identificam informações que questionam as estruturas de
significado existentes, surge um sentimento de desconforto ou dissonância; nesse caso, os seres
humanos escolhem entre: negar a validade da informação, mantendo a estrutura existente ou
processar a nova informação, comparando-a com a estrutura de significado existente, até que a
nova compreensão seja alcançada, ou seja, até que seja reconstruído o novo significado (DIXON,
1999).
74
Para resolver esse conflito entre a criação e validade das estruturas de significados, Dixon
(1999) sugere que, ao mesmo tempo que as pessoas precisam agir de acordo com suas estruturas
de significados, pecisam também se esforçar para lembrar que outras relações que não são
vistas, mantendo-se sempre abertas a outras formas de ver o mundo e, consequentemente, estando
abertas a aprender.
Para Dixon (1999), as nossas ações, que incluem palavras, respostas físicas e até mesmo
instruções repassadas aos outros, são mediadas pelas nossas estruturas de significados. É possível
que seja reconstruído um significado sem que isso represente grande mudança na ão, o
contrário, no entanto, não acontece, pois, para uma nova ão se concretizar, é necessário mudar
a estrutura de significado dos indivíduos de alguma maneira. Se uma organização deseja que a
ação seja alterada, precisará trabalhar para mudar a estrutura de significado de seus funcionários,
pois eles precisarão de novas experiências que levem a novos resultados, para que possam
interpretar de diferente maneira e, dessa forma, possam modificar as ações e as estruturas de
significados existentes.
2.4.3 A aprendizagem organizacional e as estruturas de significados
“Tudo o que nós sabemos que sabemos e o que s não sabemos que sabemos, mas
sabemos, está armazenado como estruturas de significados” (DIXON, 1999, p. 26), e isso está
sempre sendo reconstruído num processo dinâmico de interação com o mundo. Portanto, uma
organização aprende pela capacidade de seus membros, no entanto isso não significa que a
aprendizagem organizacional seja somente a soma do conhecimento de seus membros, a
aprendizagem é, na verdade, o uso coletivo da capacidade de aprendizagem dos indivíduos.
Dixon (1997, 1999) explica que os membros da organização têm estruturas de significado
que podem ser categorizadas como: privada, acessível e coletiva. Essa categorização facilita a
compreensão das diferenças entre a aprendizagem organizacional e a aprendizagem individual.
Cada uma dessas estruturas de significado serão explicadas, de acordo com a visão dessa autora.
75
Para entender o sentido da expressão “estrutura de significado privado(ESP), a autora
parte da ideia de que cada pessoa na organização constrói significados individuais que dão
sentido ao que está acontecendo na organização com os colaboradores e consumidores. Os
indivíduos desenvolvem seus conhecimentos de diversas maneiras, tais como: participando de
cursos, lendo livros, falando com experts, entre outros. Nesse processo, as pessoas refletem sobre
suas ações, construindo e reconstruindo os seus significados privados.
A autora explica que uma organização pode ser repleta de indivíduos, experts em alguma
área, e, ainda assim, a organização pode não aprender, porque esses indivíduos mantêm privadas
as estruturas de significado que construíram, de tal forma, que elas permanecem dentro das
paredes de seus escritórios e não são compartilhadas. Significado privado, então, representa o
conhecimento que o indivíduo constrói, mas que não se torna acessível aos outros na
organização. Segundo Dixon (1999, p. 45), “quanto mais os indivíduos estiverem dispostos a
tornar o significado que eles estão construindo disponível aos outros na organização, mais ela é
capaz de aprender”.
A segunda categoria, “estrutura de significado acessível” (ESA), é aquela na qual os
indivíduos compartilham o conhecimento com os outros na organização. Quando o significado é
restrito a um indivíduo, ele fica “protegido” de questionamentos e, portanto, não se pode
identificar se estiver errado ou se for limitado em perspectiva. No entanto, quando o
conhecimento é compartilhado, naturalmente ele é questionado, então, as informações nas quais o
conhecimento está baseado, podem ser analisadas pelo grupo; é nesse momento que a
organização aprende.
A diferenciação teórica entre significado privado e acessível é gradual e flexível, pois, por
exemplo, os indivíduos podem estar dispostos a tornarem acessíveis os seus significados somente
em determinadas circunstâncias, ou podem querer compartilhar, de forma restrita, a informação
para alguns membros da organização. Isso equivale a afirmar que o mesmo significado pode, às
vezes, ser tanto privado quanto acessível.
Para Dixon (1997, 1999), essa categoria é análoga aos “corredores da organização”,
porque esse é o local onde importantes trocas de informações acontecem entre os funcionários.
Isso acontece, porque nesses ambientes o senso de hierarquia é menor, e os participantes sentem-
se iguais uns aos outros; além disso, com frequência, as conversas envolvem múltiplas
perspectivas, pois qualquer pessoa que estiver passando pode acrescentar suas contribuições. Pelo
76
mesmo motivo, as pessoas sentem-se livres para sair se o assunto não for interessante uma vez
que, nesse espaço, as normas que requerem que se finja interesse sobre o assunto não são
aplicáveis. Fala-se mais livre e abertamente nos corredores talvez porque, segundo a autora, as
pessoas falam com mais profundidade quando estão dispostas a discutir assuntos que, muitas
vezes, não se podem abordar em outros contextos.
Nesses corredores, o significado coletivo é estruturado, ou seja, o significado não é
somente trocado, mas é predominantemente construído enquanto o diálogo entre os membros da
organização acontece. No processo de interação em que cada pessoa articula seu significado e
também compreende como e no quê seu significado difere do que os outros construíram, os
indivíduos alteram as estruturas de significados que possuem.
Esses corredores correspondem a processos intencionais que a organização recorre para
facilitar a construção coletiva de significados. Segundo Dixon (1997, p. 27):
Os corredores são o único espaço no qual é possível para uma organização aprender. Ela
não pode aprender nos Escritórios Privados, embora a aprendizagem individual
certamente pode acontecer . Ela não pode aprender no Depósito, embora o significado
coletivo é continuamente reforçado neste espaço. Se as organizações irão aprender elas
necessitarão construir Corredores nos quais a aprendizagem pode ocorrer.
A “estrutura de significado coletivo” (ESC) pode ser entendida como aquela que os
membros da organização possuem em comum. Representa as normas, estratégias e pressupostos
que especificam como o trabalho é feito e que identificam os aspectos relevantes do trabalho.
Embora possa ser codificado em políticas e procedimentos, para ser de fato coletivo, é necessário
que faça parte da mente dos membros da organização. O significado coletivo, então, é criado
pelos membros da organização e, muitas vezes, “ele se torna tão familiar que as pessoas
esquecem que foram elas que criaram esses significados coletivos e começam a pensar que é
simplesmente ‘a maneira como as coisas são’” (DIXON, 1999, p. 48).
Os significados coletivos são identificados pela autora com o apoio da metáfora de um
depósito, representando um “local” no qual os momentos do passado são guardados, tornando-se
parte da memória organizacional. Tais significados mantêm os membros da organização juntos,
pois permitem que eles ajam em consonância uns com os outros, desenvolvendo um sentimento
de “pertencimento” nos indivíduos, e também evitam discussões desnecessárias sobre aspectos
que todos os membros da organização concordam. Contudo, os significados coletivos podem
77
também proporcionar impactos negativos para a organização, pois, em um mundo que muda
rápido, significados coletivos que eram vantagem em algum momento do tempo podem se tornar
obsoletos. Se esse significado coletivo for tácito, torna-se mais difícil ainda de ser examinado
pela organização e, dessa forma, a organização pode manter um significado coletivo que é
contraprodutivo, sem, no entanto, perceber isso.
Os significados coletivos também tornam difícil a introdução de novas ideias que
conflitam com os significados existentes, pois são vistos, por aqueles que os praticam, como
“verdades”, assim, não são questionados, porque os membros não sentem a necessidade de
reavaliar o que sabem de longos anos de experiência. Embora os significados coletivos de uma
organização mudem com o tempo, a autora afirma que “é difícil mudá-los radicalmente ou
subitamente porque seus membros continuamente reafirmam seus significados coletivos uns com
os outros” (DIXON, 1999, p. 49).
Dixon (1997) apresenta a diferença entre os três tipos de significados, conforme
organizado no Quadro 8:
Quadro 8: Diferenças entre os três tipos de significados
Significado privado Significado acessível
Significado coletivo
Metáfora Escritórios privados Corredores Depósito
Diferenças
Significado é construído
pelos indivíduos pelas suas
experiências.
Indivíduos possuem tanto
o significado explícito
quanto o tácito.
O que é conhecido pelos
indivíduos não é acessível
aos outros.
Significado coletivo é
construído entre os
membros da organização
por meio do diálogo.
Somente o significado
explícito pode ser
comunicado aos outros,
mas no processo o
significado tácito pode ser
revelado.
O que é conhecido pelos
indivíduos torna-se
acessível aos outros.
Significado é comum aos
membros da organização.
Tanto o significado
explícito quanto o tácito
são guardados no depósito:
significado explícito nos
documentos e políticas,
significado tácito na
cultura e ações dos
membros da organização.
O significado explícito que
é guardado em comum é
acessível, o significado
tácito que é guardado em
comum é inacessível.
Fonte: elaborado com base em Dixon (1997).
78
2.4.4 Como aprender coletivamente
Para que a aprendizagem organizacional seja efetivada, não é suficiente estimular os
membros para que troquem suas estruturas de significados acessíveis com os colegas, a
organização precisa facilitar os processos que promovem a aprendizagem coletiva. Por esse
motivo, Dixon (1995, 1999) sugere que o ciclo da aprendizagem organizacional é composto por
quatro diferentes passos: geração da informação difundida; integração da informação nova/local
no contexto organizacional; interpretação coletiva da informação; ter autoridade para ter ações
responsáveis baseadas na interpretação de significados.
Esses passos são circulares, de forma que o quarto passo, ter autoridade para ter ações
responsáveis no significado interpretado, gera ainda mais informação, impulsionando novamente
o recomeço do ciclo, conforme pode ser visualizado na Figura 10 deste trabalho. Quando esses
passos não estão interligados, a aprendizagem organizacional usualmente é desperdiçada.
A própria autora descreve a semelhança do ciclo da aprendizagem organizacional com o
modelo da aprendizagem experiencial, elaborado por Kolb (1984). Na aprendizagem
experiencial, são os indivíduos que se envolvem com experiências concretas, enquanto no nível
coletivo é necessário que todos os membros da organização se envolvam em práticas para captar
informações do ambiente externo, seja com consumidores e fornecedores, seja participando de
conferências, de forma que todos se engajem na produção de informação nova.
O segundo passo de Kolb (1984)é a observação reflexiva, processo esse no qual o
indivíduo reflete sobre uma experiência. No vel coletivo, como sugere Dixon (1999), todos
precisam que todas as informações fiquem disponíveis, e a tarefa consiste em integrar a
informação gerada no contexto organizacional.
O terceiro passo em Kolb é a conceitualização abstrata, ou seja, refere-se à indireta
compreensão das representações simbólicas da experiência. No nível organizacional, a tarefa de
interpretar a informação também é coletiva, no entanto esse processo é muito mais diversificado
pois os membros da organização vêm para a tarefa com diferentes perspectivas e,
consequentemente, existem diferentes maneiras de interpretar a informação. Essas diferenças são
cruciais para o processo da aprendizagem organizacional, pois sem elas não existe o
79
questionamento da lógica por trás dos raciocínios que levam à criação das novas estruturas de
significados privados.
No quarto passo de Kolb (1984), os indivíduos são capazes de testar suas conclusões por
intermédio da experimentação ativa. Da mesma forma, no nível coletivo, os membros devem ter
autorização para agir de forma coletiva sobre os novos significados que foram desenvolvidos
nesse processo. “Essa ão serve tanto para testar as interpretações feitas quanto para gerar nova
informação para dar continuidade a aprendizagem” (DIXON, 1999, p. 66).
Os elementos do ciclo da aprendizagem organizacional podem ser visualizados no
esquema teórico representado pela Figura 10:
Figura 10: Elementos no ciclo da aprendizagem organizacional
Fonte: Dixon (1999, p. 94). Adaptado pela autora.
80
O primeiro passo do ciclo da aprendizagem organizacional, sugerido por Dixon (1995,
1999), consiste na geração da informação difundida. Para que exista a aprendizagem na
organização, a autora sugere que o processo de geração da informação seja difundido na empresa
de tal forma que seja percebida como uma responsabilidade de todos os seus membros, em vez de
ser compreendida como uma tarefa limitada às funções especializadas para isso. A palavra
geração foi escolhida pela autora porque se refere tanto às informações coletadas externamente
quanto ao desenvolvimento interno de novas ideias.
Gerar informação externamente requer atravessar as fronteiras da organização para
interagir com o mundo externo. Não é a diferença em si, mas a compreensão das diferenças pela
autoconfrontação que acaba gerando a aprendizagem. A autoconfrontação significa que um
indivíduo, como um subsistema da organização, precisa ser capaz de confrontar os outros que
construíram um significado diferente, argumentando e também testando suas próprias ideias. Da
mesma forma, um departamento também deve ser capaz de confrontar outro departamento que
construiu um significado único para algo, pois a diversidade de ideias e perspectivas é necessária
para a aprendizagem.
Outro ponto importante para a geração da informação é a forma como ela é coletada, isso
porque “toda informação é influenciada e moldada por aqueles que a coletaram, informação que é
coletada centralmente e então distribuída, passou por várias camadas de filtros, que a
moldaram e de alguma forma a tornaram homogênea” (DIXON, 1999, p. 96), fazendo com que
desapareça o diálogo organizacional. Dixon (1995) sugere que a informação precisa ser coletada
pelos usuários primários dos dados, pois eles têm condições de fazer uma coleta de dados
genuína, levando para o diálogo organizacional dados primários diversificados e que não tenham
passado por filtros que padronizem a informação.
Muitas organizações limitam sua coleta de dados quando fontes informais são com
frequência, tão produtivas quanto às formais; por esse motivo, Dixon (1995, 1999) sugere que a
coleta de dados seja diversificada com o auxílio de múltiplas fontes, criando abertura das
fronteiras organizacionais para permitir a entrada de novas visões. Além disso, a autora sugere
que é necessário haver coleta contínua de informações, não para buscar uma resposta
específica para um problema identificado, mas também para identificar novos problemas. Esses
81
aspectos fazem com que a geração de informação externa ao ambiente seja uma fonte muito rica
e importante para gerar a aprendizagem organizacional.
Gerar informação internamente, por sua vez, representa a informação que é desenvolvida
dentro da empresa pelos processos executados na organização. Esse tipo de informação inclui
tempo para analisar sucesso e erro, criar experimentos para gerar nova informação e construir
pontos de checagem dentro das atividades, a fim de que possam se tornar autocorrigíveis.
O segundo passo do ciclo da aprendizagem organizacional consiste na integração da
informação nova/local no contexto organizacional, pois “a informação que é coletada
externamente e ou gerada internamente pode ser compreendida dentro do contexto total da
organização” (DIXON, 1999, p. 98).
Dixon (1999, p. 100) sugere que, “para resolver os problemas relacionados à distribuição
da informação, a organização não deve somente criar melhores processos para distribuição, deve
também questionar as estruturas de significados coletivas que mediam a completa e precisa
distribuição da informação”, pois todos os grupos da organização precisam oferecer aos demais
informações precisas, no tempo certo e completas.
O terceiro passo do ciclo da aprendizagem organizacional refere-se à interpretação
coletiva da informação. Essa fase é muito importante para a aprendizagem organizacional, pois
é nesse momento que a informação ganha sentido e passa a se estruturar como conhecimento
novo. Para Dixon (1995, 1999), receber informação e dar sentido a ela são processos muito
diferentes. Quando um indivíduo recebe informação ele,seletivamente, pode prestar atenção a ela,
mas quando formar novas relações é que se pode dizer que o indivíduo aprendeu. No caso da
aprendizagem organizacional, o processo é ainda mais complexo, pois cada indivíduo deve fazer
isso interagindo com os outros membros da organização, que estão também individualmente
engajados, e dessas interações os membros devem formar, de maneira coletiva, uma interpretação
da informação.
“O objetivo da interpretação coletiva é mais a redução equivocada da informação do que a
procura pelo consenso” (DIXON, 1999, p. 104), pois, alcançando a interpretação coletiva, cada
pessoa entenderá melhor o seu próprio raciocínio e também compreenderá, com mais clareza, os
dados que os outros estão usando para chegar aos seus significados. A interpretação coletiva pode
não apresentar como resultado uma resposta definitiva a um problema organizacional, no entanto
82
os membros da organização poderão entender os parâmetros do problema com maior clareza e
decidir como agir para solucioná-los com base na nova compreensão.
Um tipo de interpretação comum nas organizações, identificada por Dixon (1999), é
chamada interpretação de dados funil”, ou seja, quando alguém, gerente ou supervisor, coleta
informação importante dos subordinados e, com essas informações coletivas, essa pessoa
interpreta os dados sozinha e chega a uma conclusão. Baseado nessa interpretação, essa pessoa
informará aos subordinados as ações a serem tomadas, o que não é bom para a aprendizagem
organizacional por três motivos: porque essa informação é uma representação precisa da
realidade que, quando somada, pode dar uma “resposta correta”, sem, todavia, promover a
interpretação coletiva; por se tratar de uma informação que as pessoas têm, em vez de promover a
capacidade de dar significado, que é mais interessante para a aprendizagem; porque a
aprendizagem torna-se uma atividade de mão única em vez de promover o questionamento das
estruturas de significados vigentes no grupo (DIXON, 1999).
Entretanto, a oportunidade para interagir, por si só, não é suficiente para haver a
compreensão coletiva, é necessário que existam condições que aumentem a interpretação coletiva
da informação. Segundo Dixon (1999), essas condições incluem: informações e conhecimentos
distribuídos para que cada indivíduo se engaje na geração da informação de sua função; valores
igualitários a fim de que exista a liberdade de falar sem medo de punição e coerção; tamanho e
disposição física da organização para facilitar a interpretação coletiva da informação pela
própria distribuição do espaço físico; processos que facilitem o diálogo organizacional de
forma que as pessoas possam de fato revelar as estruturas de significados que possuem para
desenvolver a aprendizagem mútua, em que se aprende também com os pares.
O quarto e último passo do ciclo da aprendizagem organizacional refere-se a ter
autoridade para ter ações responsáveis baseadas na interpretação de significados. De acordo
com Dixon (1999), existe nos seres humanos uma propensão para fazer o que precisa ser feito,
sendo essa inclinação particularmente mais forte quando a pessoa tem conhecimento sobre os
assuntos envolvidos. No entanto,
[...] quando a organização envolve seus membros na geração da informação, coloca a
informação no contexto organizacional e quando os membros interpretam coletivamente
aquela informação, mas a organização não autoriza os membros a agirem sobre aquele
conhecimento que foi gerado, a aprendizagem é perdida (DIXON, 1999, p. 120).
83
Promover o entendimento do que precisa ser feito e ser impedido de agir sobre aquele
conhecimento pode promover a raiva nos grupos de trabalho, levando-os ao desespero e, em
algumas situações, à subversão (DIXON, 1999).
Às vezes, a compulsão para agir é tão grande que os membros fazem isso, apesar das
instruções claras de que não se deve agir; isso não significa, no entanto, que os funcionários da
organização fazem sempre tudo o que precisa ser feito; as circunstâncias a que a autora se refere
são aquelas nas quais a ação é tomada quando conhecimento sobre o assunto, ou seja, quando
os membros da organização têm a informação necessária, entenderam-na naquele contexto e
querem aplicá-la.
Quando uma empresa estrutura processos de aprendizagem organizacional e espera que
seus funcionários ajam com responsabilidade, de acordo com as estruturas de significados
desenhadas coletivamente, é imprescindível que esses funcionários tenham clareza da prudência
necessária nas suas ações, para fazer mudanças quando e onde elas forem necessárias. Em vez de
pré-descrever tanto quanto possível, Herbst (1974 apud DIXON, 1999) sugere que seja pré-
descrito o mínimo necessário, especificando somente os efeitos negativos, ou seja, os limites da
ação, em vez de especificar as ações a serem tomadas e, com isso, “engessar” a atuação das
pessoas que trabalham naquele setor. Dixon (1999) ressalta também que, assumindo os riscos e as
responsabilidades das ações, é importante destacar a necessidade de uma maneira mais justa de
distribuir os ganhos financeiros da organização, compartilhando os lucros com esse “novo” tipo
de colaborador que não mais reproduz somente o que lhe é solicitado, mas que se envolve com a
produção do conhecimento na organização.
Resumindo, existem sete pressupostos nos quais a aprendizagem organizacional está
baseada, de acordo Dixon (1999). Esses pressupostos referem-se a: os membros da organização
aprendem no momento em que estão executando suas tarefas, portanto aprendizagem e trabalho
são atividades profundamente interconectadas; na aprendizagem organizacional, não se tem como
foco a obtenção da “informação correta”, em vez disso, procura promover a criação de sentido
compartilhado com base nas experiências vivenciadas; a pluralidade de perspectiva ajuda a
perceber os aspectos que não são identificados nas experiências individuais; para que possa ser
dito que a aprendizagem ocorreu, os indivíduos e teams devem ser capazes de agir sobre o que
aprenderam; o que uma organização “sabe” não se concentra em uma pessoa ou em um grupo
pequeno de indivíduos, ao contrário, o que a organização “sabe” está distribuído entre todos os
84
seus membros; a coletividade da organização tem a capacidade de compreender os aspectos
difíceis que enfrenta e de sugerir mudanças para superar as dificuldades; por fim, as organizações
são entidades mutáveis e maleáveis que podem ser modificadas ao longo do tempo pelo diálogo
organizacional entre seus membros.
Felizmente, segundo Dixon (1995), se a aprendizagem fosse previsível, a humanidade
estaria limitada ao que já é conhecido, pois é justamente a imprevisibilidade da capacidade dos
seres humanos de aprendizagem que permite pensar em novas formas para criar, agir e inovar.
Cabe destacar, no entanto, que, conforme Dixon (1999), não existe maneira de aferir e verificar o
quanto é exclusivamente resultado de sucesso do processo de aprendizagem organizacional, pois
as empresas estão envolvidas em outras tantas iniciativas ao mesmo tempo tanto quanto estão
implementando processos de aprendizagem, e essas iniciativas, ou até mesmo as circunstâncias
gerais naquele período, podem perfeitamente ter alterado o desempenho assim como o próprio
processo de aprendizagem.
Em resumo, pode-se afirmar que, para Dixon (1999), a essência da aprendizagem nas
organizações visa direcionar a capacidade de seus funcionários para, por intermédio das
estruturas de significados coletivos, inventarem processos específicos de que precisam para
desenvolver a sua própria habilidade de aprender. Dessa forma, a autora acredita que, embora não
seja possível isolar as condições para mensurar os resultados da aprendizagem nas organizações,
esses processos tragam maior competitividade às empresas.
2.4.5 Características da aprendizagem organizacional nos grupos de trabalho
Edmondson e colaboradores m desenvolvido estudos sobre aprendizagem nas
organizações na perspectiva dos grupos de trabalho (EDMONDSON 1996, 1999, 2002, 2004,
2006, 2008; CANNON; EDMONDSON, 2001; EDMONDSON; BOHMER; PISANO, 2001;
GARVIN; EDMONDSON; GINO, 2008,). Esse grupo de pesquisadores realizou uma série de
pesquisas empíricas sobre o assunto, com base nas quais elaborou reflexões teóricas aqui
85
apresentadas que ajudam na compreensão dos processos de aprendizagem que acontecem no
nível grupal.
Para Edmondson (2002, p. 129, grifo nosso), a aprendizagem em team é definida como:
“um processo no qual o team escolhe ações, obtém e reflete sobre o feedback, e faz mudanças
para adaptar ou melhorar”. Esse tipo de aprendizagem é representada, por Edmondson (1996,
1999), em um modelo organizado em torno de quatro aspectos: as condições antecedentes,
formadas pela estrutura do grupo, ou seja, pelo contexto de apoio e pela preparação do líder do
grupo; as crenças do grupo, representadas pela segurança e eficácia do grupo; o comportamento
do grupo, referindo-se ao comportamento de aprendizagem do grupo; os resultados, que
equivalem ao desempenho, ou seja, se este satisfaz, ou não, às necessidades de seus
consumidores.
Esse modelo pode ser visualizado na Figura 11:
Figura 11: Um modelo de aprendizagem em teams de trabalho
Fonte: Edmondson (1999, p. 357). Adaptado pela autora.
Para a autora, a principal contribuição do modelo refere-se ao conceito de Segurança
Psicológica do Grupo que, de acordo com Edmondson (1999, p. 354), “é definida como uma
crença compartilhada de que o grupo é seguro para assumir riscos interpessoais”. Esse tipo de
crença tende a ser tácita e tranquiliza as pessoas do grupo para que possam agir, pois, nos grupos
em que se percebe a segurança psicológica, seus membros sabem que ninguém será rejeitado ou
punido por falar o que pensa. Apesar de envolver também a confiança, a segurança psicológica
vai além, porque descreve um clima de team caracterizado pela confiança interpessoal e pelo
respeito mútuo, no qual as pessoas sentem-se confortáveis para ser elas mesmas, têm coragem de
reconhecer seus erros e também assumem suas incertezas e dúvidas perante o grupo
86
(EDMONDSON, 1999). Em pesquisa relatada por Edmondson, Bohmer e Pisano (2001, p. 131,
grifo nosso), os autores evidenciam que:
Teams cujos membros se sentem confortáveis para dar sugestões, tentar coisas que
podem não funcionar, levantar problemas potenciais e admitir erros tiveram mais
sucesso em aprender o novo procedimento. Por outro lado, quando as pessoas sentiam-se
desconfortáveis agindo dessa forma, o processo de aprendizagem foi reprimido.
Para Cannon e Edmondson (2001), os membros do team decidem revelar os erros
cometidos se acreditarem que não serão rejeitados, ou seja, sentirem-se seguros no grupo; e se
acreditarem que o grupo é capaz de usar essa informação para gerar conhecimento, isto é, se
acreditarem na capacidade do grupo agir com eficácia.
Para que os indivíduos tenham confiança no grupo, as condições antecedentes, ou seja, a
estrutura do grupo, deve ser favorável. Dessa forma, a preparação do der do grupo e o apoio do
contexto contribuem de forma efetiva para facilitar a aprendizagem do grupo. Por apoio do
contexto, a autora refere-se à redução dos obstáculos e estruturação de passos concretos de
aprendizagem, amplamente difundidos na organização, que permitam aos membros do team se
sentirem confiantes sobre suas chances de sucesso. A preparação do líder tem influência direta na
segurança psicológica do grupo, pois ele pode fomentar um clima organizacional favorável ou,
em outro extremo, destruir as iniciativas de aprendizagem e colaboração existentes entre os
indivíduos do grupo (EDMONDSON, 1999).
De acordo com Edmondson (1996, 1999), a estrutura do grupo, somada à sua segurança
psicológica, resultará, ou não, no comportamento de aprendizagem dele. Esse comportamento
consiste em atividades realizadas pelos membros do grupo por meio das quais ele obtém e
processa informação, que permite à organização se adaptar, corrigindo rotinas ou inovando em
processos e serviços, e melhorando seu desempenho. Exemplos de comportamento de
aprendizagem nos grupos de trabalho incluem a procura por feedback, o compartilhamento de
informação não apenas entre os membros dos grupos, mas também entre os grupos da
organização, a iniciativa de pedir ajuda, de verbalizar os erros cometidos ou identificados, e de
experimentar e testar novas ideias.
Utilizando-se dessas estratégias de comportamento de aprendizagem, os grupos podem
detectar mudanças no ambiente, captar e agir sobre os desejos dos consumidores, melhorar a
87
compreensão coletiva sobre uma situação e, até mesmo, descobrir consequências inesperadas de
suas ações. O resultado desses comportamentos, que somente surgem quando o grupo possui
segurança psicológica suficiente, deverá, por sua vez, satisfazer às necessidades e expectativas
dos consumidores, promovendo a efetividade e o aumento da competitividade organizacional
(EDMONDSON, 1999).
Nem sempre os grupos, inclusive dentro da mesma organização, apresentam altos níveis
de aprendizagem. Isso acontece porque as pessoas têm crenças tácitas sobre respostas apropriadas
aos erros, problemas e conflitos, e essas crenças variam entre os diferentes grupos da própria
organização (CANNON; EDMONDSON, 2001). Todavia, Edmondson (1999) observou que
teams funcionais foram mais representativas nos grupos de baixa aprendizagem, enquanto grupos
de desenvolvimento de produtos, projetos e gestão estavam nos grupos de mais alta
aprendizagem. Avaliando esses diferentes grupos de trabalho, a autora identifica alguns aspectos
que favoreceram ou inibiram a aprendizagem nos grupos de trabalho examinados. Esses aspectos
são identificados no Quadro 9:
Quadro 9: Aspectos que favorecem ou inibem a aprendizagem nos grupos de trabalho
Team Apoio do contexto Comportamento do líder Segurança
psicológica do grupo
Comportamento
de aprendizagem
do grupo
Alta
aprendizagem
Apoio adequado.
Grupo tem acesso aos
recursos e informações
para ajudar a estrutura e a
execução do trabalho do
grupo.
Membros disciplinados e
habilidosos.
Pró-ativo, entusiasmado,
orientado para o
treinamento, organizado.
Coordenador (e não chefe).
Comprometido em ser um
bom orientador;
Mesmo quando o grupo
não tem um líder, um
membro exerce esse papel.
Membros expressam
respeito mútuo.
Teams escolhem
nomes engraçados
para o grupo para
encorajar a
irreverência e ideias
não-convencionais.
Unido.
Escuta os
consumidores.
Tem autonomia.
Busca feedback em
outros locais fora
do grupo.
Baixa
aprendizagem
Há adequado apoio, mas
o líder não está próximo
ao grupo.
Falta verdadeira
interdependência entre as
tarefas.
Informações e recursos
disponíveis para o grupo,
que frequentemente não
as usa porque percebe
como oportunidade para
hora extra.
Trabalho dividido em
tarefas especializadas.
Distante do local onde está
o grupo.
Age como um supervisor
tradicional, monitorando a
frequência, as atribuições
do trabalho e os resultados.
Age como um chefe,
distribui trabalhos e
monitora os progressos.
Falta de confiança.
Monitoramento dos
outros.
Julgamento dos
comportamentos.
Não são capazes de
confrontar outros
membros do team
abertamente.
Não pedem ajuda a
membros de outros
grupos.
Resiste ativamente
aos treinamentos.
Aparente falta de
comportamento de
aprendizagem.
Fonte: elaborado com base em Edmondson (1999).
88
O apoio do contexto contribui para explicar o comportamento de aprendizagem dos
grupos, no entanto oferece uma explanação incompleta, pois alguns grupos, embora não tenham
um contexto de suporte adequado, superam os obstáculos e desenvolvem mesmo assim
orientações para a aprendizagem. Edmondson (1999) sugere, então, que o apoio do contexto e
outras características do design do grupo contam pouco para o desenvolvimento do
comportamento de aprendizagem.
A autora acredita que seja possível que os grupos de trabalho superem as limitações em
seu contexto, desenvolvendo comportamentos de aprendizagem. os grupos de pouca
aprendizagem, entretanto, mantêm as crenças individuais sobre o ambiente do team, que leva à
negação de pensamentos e ações relevantes e torna mais difícil a tarefa de escapar das condições
de baixa aprendizagem. Dessa forma, teams de alta aprendizagem podem contornar os limitantes
da aprendizagem para melhorar sua situação, enquanto os de baixa aprendizagem são mais
propensos a ficar paralisados e ser incapazes de alterar sua situação se não sofrerem algum tipo
de intervenção (EDMONDSON, 1999).
A aprendizagem, tanto nos teams de alta quanto nos de baixa aprendizagem, para
Edmondson (2002), está fortemente atrelada ao contínuo processo de reflexão e ação,
caracterizado pelo questionamento e pela busca de feedback que reflete sobre os resultados
obtidos e discute os erros e as consequências inesperadas da ação. Para esta autora, reflexão
significa “compartilhar informação dentro do grupo, procurar feedback sobre o desempenho do
team, discutir os erros ou problemas, experimentar para ganhar insights” enquanto ação refere-se
a “fazer uma mudança, alcançar o fechamento de uma decisão, implementar resultados de um
experimento, finalizar um plano, melhorar o desempenho, transferir conhecimento novo para os
outros” (EDMONDSON, 2002, p. 134).
Reflexão e ação constituem-se em duas situações distintas, embora interligadas, que
podem ser observadas quando é, de fato, detectada a aprendizagem na organização. Todavia,
muitas vezes, esse processo não ocorre ou, então, somente parte dele acontece, o que leva à
identificação de três diferentes tipos de grupos de trabalho: aqueles que mostram evidência de
ambos (reflexão e ação); aqueles nos quais reflexão, porém não ocorre a mudança ou a nova
ação; aqueles sem evidência de comportamento de aprendizagem (EDMONDSON, 2002).
Os grupos em que a aprendizagem ocorre de fato, ou seja, observa-se a reflexão e a ação,
frequentemente procuram feedback, testam diferentes soluções parciais, analisam os resultados
89
dos insights e tentam fazer algo diferente e inovador. Neles, a troca de ideias e argumentos é
eficaz porque falam abertamente durante as reuniões e os conflitos são considerados normais e
saudáveis para o grupo, pois o questionamento os leva a repensar os procedimentos padrões. A
reflexão é alcançada pela procura intensa de dados relevantes, que pode ser buscada na conversa
com consumidores e também com outras pessoas da organização que não fazem parte
especificamente daquele grupo de trabalho. Esse tipo de grupo costuma verificar se o que
aprenderam é útil para, então, atualizar os demais grupos que são interdependentes deles na
organização (EDMONDSON, 2002). Destaca-se, também, nesse tipo de grupo, o respeito de uns
pelos outros, a falta de receio de serem reprimidos pelo líder e a sinceridade com a qual as
pessoas se expressam dentro do team (EDMONDSON, 1996). Para Edmondson (2004, p. 70-71,
grifo nosso):
Membros de um excelente team têm uma forma de coordenar as tarefas, antecipando e
respondendo às ações dos outros, e freqüentemente parecem desempenhar como um
conjunto único. [...] os indivíduos cansados fizeram mais erros que os outros; contudo,
trabalhando em team, eles foram capazes de coordenar e identificar os erros dos outros
Os grupos nos quais somente a reflexão acontece, segundo Edmondson (2002), são
caracterizados pelas discussões filosóficas, com reflexão profunda, mas sem “amarrar” os
resultados. O grupo acredita que encontrará uma única solução que será tão poderosa que a
resposta sobre o que fazer surgirá como consenso natural. Esse posicionamento, muitas vezes, é
confortável, pois o grupo não precisa se comprometer com novas estratégias, e os indivíduos não
precisam articular escolhas concretas, assumindo novos desafios e tarefas difíceis. As
insatisfações costumam não ser verbalizadas, e os membros do team raramente precisam
esclarecer os aspectos nos quais podem existir desentendimentos ou discordância. Pode-se
afirmar que, embora esse tipo de grupo aprenda, esse aprendizado não é rápido o suficiente já que
as mudanças são lentas, uma vez que o grupo costuma ser metódico, detalhista e muito
cuidadoso.
nos grupos sem evidência de comportamento de aprendizagem, as pessoas esperam um
problema acontecer para, então, procurar uma solução. Os membros desse tipo de team,
usualmente, costumam avaliar os problemas como possibilidades de aumentar os rendimentos
pelo acréscimo de horas extras. As tarefas são subdividas por especialização, os líderes
90
determinam as tarefas, e os membros têm interesse em manter esse contexto de trabalho no qual
não reflexão conjunta e, portanto, não se verifica aprendizagem individual. Observa-se que
falta feedback, que as pessoas do grupo não são escutadas, que elas não têm oportunidades para
crescimento dentro do grupo (EDMONDSON, 2002) e que são relutantes em admitir os próprios
erros para o team ou para seu líder (EDMONDSON, 1996).
As diferenças entre os três tipos de grupo estão sumariadas no Quadro 10:
Quadro 10: As diferenças entre os três tipos de grupo
Grupos em que há
reflexão e ação
Grupos em que há reflexão,
mas não há mudança ou
nova ação
Grupos sem evidência de
comportamento de
aprendizagem
Característica do
grupo
Experimentam diversas
soluções parciais,
analisam os resultados
dos insights e tentam algo
a mais.
Gostam de desafios e de
se comunicar.
Se engajam num tipo de
discussão filosófica.
Têm a esperança irreal de que
encontrarão um único ponto
que será tão poderoso que a
resposta sobre o que fazer na
sequência será clara.
Aprendem, mas não rápido o
suficiente.
Esperam um problema
acontecer.
Procuram não se intrometer
no serviço dos outros.
Avaliam os problemas como
possibilidades de aumentar
as horas extras.
As tarefas são subdividas
por especialização.
Feedback
Procuram feedback tanto
no grupo quanto fora
dele.
Não feedback efetivo,
procuram ao mínimo se expor
para evitar constrangimentos e
comprometimento.
Falta feedback, os membros
não são escutados e não há
oportunidades para
crescimento.
Reflexão
Ocorre troca eficaz de
ideias e argumentos.
Falam francamente em
seus encontros sobre os
aspectos que concordam e
sobre as discordâncias.
Os conflitos são
saudáveis, as discussões
são vivas, eficazes e
abertas.
Ocorre reflexão profunda e
criativa, recheada com
metáforas e ideais abstratos
mas que o “amarram” os
resultados.
Não discordam
produtivamente de seus
superiores, então esperam o
encontro acabar para falar
livremente nos corredores.
As discussões evitam que os
indivíduos coloquem pontos
de vista que possam ser
rejeitados pelos outros.
A reflexão está focada
internamente, raramente
alcança os outros na
organização.
Não reflexão conjunta
nem aprendizagem
individual.
Esperam o encontro acabar
para falar livremente nos
corredores.
Ação
Os experimentos do
grupo levam a mudanças.
O resultado final
representa a melhoria dos
esforços anteriores.
Buscam uma solução irreal
que seja perfeita.
Evitam articular escolhas
concretas e se comprometer
com uma nova estratégia.
As mudanças são lentas.
Evitam mudar as rotinas de
trabalho existentes.
Fonte: elaborado com base em Edmondson (2002).
91
O foco da aprendizagem nos grupos de trabalho busca a compreensão dos processos
interpessoais que influenciam os resultados da aprendizagem na organização, ou seja, que
influenciam a capacidade dos grupos promoverem, ou não, mudanças na organização. Para
entender esses processos interpessoais, é importante analisar tanto os ciclos de reflexões que
ocorrem nos grupos de trabalho quanto conhecer o comportamento dos indivíduos inseridos
nesses grupos.
A perspectiva do nível grupal na aprendizagem organizacional, na visão de Edmondson
(1999, 2002), enfatiza as percepções e os comportamentos interpessoais, pois é nesses momentos
de interação social que a aprendizagem pode ser gerada. O direcionamento da perspectiva do
grupo é focado nas interações entre um número pequeno de indivíduos e como estes alcançam o
processo de construção de novo conhecimento para, com base nele, iniciar uma nova ação. Essa
perspectiva evidencia um “importante link entre os fatores individuais, tais como o conhecimento
e o comportamento aos resultados em nível organizacional” (EDMONDSON, 2002, p. 144, grifo
nosso).
A perspectiva do grupo conecta, portanto, a análise entre indivíduo e organização, uma
vez que é nos momentos de interações que o team sentido à organização, ou seja, é pela
interação que seus membros compreendem o clima interpessoal, as normas, os objetivos e, até
mesmo, a função da empresa no mercado. Os indivíduos usam essa compreensão não somente
“para tomar decisões implícitas sobre o que a organização deveria fazer, mas também sobre o que
pode ser dito e o que é melhor não dizer no seu grupo de trabalho” (EDMONDSON, 2002, p.
144).
Para Edmondson (2002), a aprendizagem em grupo nas organizações tem como
característica ser: local, interpessoal e diversificada. A autora afirma que a aprendizagem
coletiva na organização é inerentemente local, pois o processo ocorre necessariamente focado em
algumas tarefas ou oportunidades limitadas ao contexto em que estão acontecendo. A
aprendizagem é concebida como um processo interpessoal que ocorre por meio da conversação,
entre um número limitado de pessoas interdependentes.
Por ser um processo interpessoal e interdependente, varia de grupo para grupo dentro da
mesma organização, o que o torna também um processo diversificado. Mas, não é diversificado
somente porque acontece em diferentes grupos de trabalho, abrangendo desde teams de produção
até aquelas da alta gerência. A aprendizagem é considerada um processo diversificado, porque a
92
continua
natureza de seu objetivo não é uniforme mesmo entre teams que convivem em uma única
organização. Edmondson (1999, 2002) também constatou em seus estudos que os resultados da
aprendizagem podem ser observados tanto em nível radical quanto em nível incremental.
Enquanto o resultado incremental ajuda a executar e melhorar as habilidades organizacionais
existentes, o resultado radical ajuda a organização a explorar e desenvolver novas habilidades.
Decorrente do fato da aprendizagem em grupo nas organizações ser local, interpessoal e
diversificada, é possível afirmar que os teams apresentam diferentes objetivos e resultados quanto
à aprendizagem. Nos teams em que o trabalho é altamente repetitivo e que não requer melhorias
ou modificações constantes, por exemplo, o comportamento de aprendizagem pode reduzir a
eficiência ou até diminuir o desempenho das unidades de trabalho. Para os teams que enfrentam
mudança ou incerteza, contudo, o risco de desperdiçar tempo pode ser bem pequeno em face do
ganho que se tem a possibilidade de obter do processo de aprendizagem. Nesse contexto, os
teams devem se engajar no comportamento de aprendizagem para compreender o ambiente e seus
consumidores e para coordenar as ações de forma efetiva, a fim de integrar de fato a reflexão e a
ação no contexto organizacional (EDMONDSON, 1999). A forma como os teams mapeiam os
diferentes objetivos de aprendizagem pode ser visualizada no Quadro 11:
Quadro 11: Como os teams organizacionais mapeiam os objetivos de aprendizagem
radical e incremental
Tipo do Team
Os Teams O Processo de Aprendizagem
Papel na
Aprendizagem
Organizacional
Tipo de
Aprendizagem
Desenvolver Insights
(Reflexão)
Ter Ação
(Mudar/Melhorar)
Team de alta
gerência
Diagnosticar o
contexto, criar
estratégia e visão,
desenvolver e
comunicar estratégia e
visão.
Radical
(Fazer coisas
novas)
Adquirir informação do
mercado e dos
competidores, analisar
as linhas de produto da
companhia,
desenvolver opções
estratégicas.
Acessar novos projetos
e mudanças.
Tornar robustas as
escolhas estratégicas,
comunicar nova
estratégia e autorizar
novos
desenvolvimentos de
projetos.
Team de
desenvolvimento
de produto
Desenvolver novos
produtos (para
implementar estratégia
e visão).
Escutar os
consumidores,
diagnosticar as
necessidades, desenhar
soluções e opções.
Integrar a voz dos
consumidores com as
necessidades de
fabricação e a direção
estratégica.
Experimentar com
soluções, fazer
escolhas, distribuir
projetos para a
produção.
93
conclusão
Tipo do Team
Os Teams O Processo de Aprendizagem
Papel na
Aprendizagem
Organizacional
Tipo de
Aprendizagem
Desenvolver Insights
(Reflexão)
Ter Ação
(Mudar/Melhorar)
Team de gerência
média
Executar e
continuamente
melhorar aspectos
específicos das
operações existentes na
organização.
Incremental
(Fazer as coisas
melhores)
Avaliar o desempenho
individual nas áreas
especializadas: baseado
no encontro com os
consumidores e com as
expectativas dos
empregados.
Avaliar as mudanças.
Implementar
mudanças quando
necessário.
Team de serviços
internos
Distribuir e
continuamente
melhorar serviços que
permitam diferentes
partes da organização
coordenarem-se uma
com as outras,
promovendo a
efetividade da
organização em sua
totalidade.
Distribuir serviços,
avaliar o desempenho
individual corrente,
perguntar por feedback
aos outros na
organização, projetar
mudanças apropriadas.
Avaliar as mudanças.
Implementar
mudanças quando
necessário.
Team de
produção
Executar e
continuamente
melhorar a fabricação
e/ou distribuir os
produtos da
organização.
Fazer produtos,
diagnosticar problemas
de qualidade, avaliar o
desempenho individual
corrente, perguntar aos
outros por feedback,
propor mudanças.
Avaliar as mudanças.
Implementar
mudanças quando
necessário.
Fonte: Edmondson (2002, p. 142). Adaptado pela autora.
Para que a aprendizagem radical e incremental possa ser implementada nas organizações,
Garvin, Edmondson e Gino (2008) identificaram três aspectos que favorecem ao
desenvolvimento de grupos que aprendem. Esses aspectos, que se complementam e até mesmo se
sobrepõem, referem-se a: desenvolver um ambiente favorável à aprendizagem; institucionalizar
processos e práticas concretas de aprendizagem; identificar no comportamento da liderança
atitudes que reforcem a aprendizagem.
Por ambiente favorável à aprendizagem, os autores referem-se à segurança psicológica,
para que os funcionários sintam-se confortáveis para se expressarem livremente; à apreciação das
diferenças, evidenciando que a aprendizagem acontece quando ideias contrárias são trazidas à
tona; abertura para novas ideias, sugerindo que é necessário assumir riscos e explorar assuntos e
ideias que nunca antes foram testadas ou pensadas pelo grupo; ao tempo para reflexão, referindo-
94
se à necessidade de pensar e, muitas vezes, rever os processos organizacionais consolidados pela
prática diária.
As práticas e processos concretos de aprendizagem envolvem diversos passos e
atividades amplamente distribuídas e difundidas na organização. Os processos de aprendizagem
abrangem desde a coleta, interpretação e geração da informação a a disseminação do
conhecimento por toda a organização. Desenvolver essas práticas e processos apropriados à
promoção da aprendizagem no contexto organizacional, “garantem que a informação essencial se
mova rápida e eficientemente às mãos e cabeças daqueles que precisam dela” (GARVIN;
EDMONDSON; GINO, 2008, p. 112).
Como a aprendizagem organizacional reconhecidamente é afetada pelo comportamento de
liderança, Garvin, Edmondson e Gino (2008) sugerem que possuir um líder que reforce a
aprendizagem no contexto do grupo e da organização é muito importante. Segundo esses
autores, isso acontece porque, quando as pessoas que estão no poder demonstram predisposição
para questionar os valores vigentes e mudar sempre que necessário, assumindo os riscos de suas
escolhas, os funcionários tendem a repetir o mesmo padrão, sentindo-se à vontade para sugerir
novas e diferentes ideias.
A aprendizagem organizacional pode ser vista, portanto, como um processo cascata de
oportunidades de aprendizagem em team, realizada independentemente, mas, ao mesmo tempo,
interdependente, uma vez que seus resultados, sejam eles incrementais ou radicais, geram
impactos no desempenho da firma (EDMONDSON, 2002) e, para que aconteçam, requerem a
existência das condições que favoreçam ao desenvolvimento da aprendizagem nos grupos da
organização (GARVIN; EDMONDSON; GINO, 2008).
2.5 INTEGRANDO AS TEORIAS DA APRENDIZAGEM INDIVIDUAL,
ORGANIZACIONAL E NOS GRUPOS DE TRABALHO
As teorias que referenciam o presente trabalho apresentam várias informações e
perspectivas importantes para a compreensão da aprendizagem nas organizações, no entanto
alguns conceitos, tais como experiência, teoria em uso e teoria esposada, modelos mentais
95
individuais e compartilhados, significados privados, coletivos e acessíveis, percepções e
comportamentos interpessoais são especialmente relevantes para a compreensão da aprendizagem
que ocorre nos grupo de trabalho que convivem no interior das organizações.
Kolb (1984) destaca o papel central da experiência no processo de aprendizagem
individual, envolvendo situações nas quais ideias vão sendo formuladas e reformuladas, tendo
como base as vivências passadas. É a experiência que inicia um ciclo de quatro fases, formado
por experiência concreta, observação reflexiva, conceitualização abstrata e experimentação ativa,
no qual o conhecimento será produzido. Argyris e Schön (1996) contribuem com a teoria da ação
(TOA), na qual evidenciam as diferenças existentes entre as teorias em uso e esposada e explicam
que os seres humanos desenvolvem uma espécie de “guia” que os orienta a agir na maioria das
ações. Esse “guia” acaba fazendo com que muitas atitudes sejam desenvolvidas tacitamente e, por
esse motivo, passam a não ser mais questionadas, podendo levar ao conformismo de que “as
coisas sempre foram assim” e, portanto, não precisam ser reanalisadas.
Kim (1993) contribui acrescentando o conceito de modelos mentais. Da mesma forma que
na teoria da ação, os modelos mentais individuais (MMI) representam a maneira de uma pessoa
ver o mundo, incluindo tanto as compreensões explícitas quanto as implícitas. Todavia, Kim
(1993) avança quando sugere que também as organizações desenvolvem seus modelos mentais,
chamando-os de modelos mentais compartilhados (MMC). O acréscimo desse conceito evidencia
que a organização não se torna refém dos indivíduos que a compõem, pois o conhecimento fica
registrado também nesses modelos mentais e, dessa forma, com a rotatividade de funcionários, a
empresa não perde seu conhecimento.
Dixon (1999) também entende que tanto os indivíduos quanto as organizações
desenvolvem formas de agir que norteiam suas ações, identificando-as como estrutura de
significado privado e coletivo. Na estrutura de significado privado (ESP), os indivíduos dão
sentido ao que está acontecendo, enquanto a estrutura de significado coletivo (ESC) explica como
o trabalho é feito e o que é importante naquela organização. Entretanto, Dixon (1999) apresenta
uma terceira estrutura de significado, a acessível, na qual as interações entre os grupos
acontecem. O conceito da estrutura de significado acessível (ESA) é de fundamental importância
para a compreensão da aprendizagem nos grupos de trabalho porque nela os indivíduos tornam o
conhecimento disponível aos outros para que ocorram os questionamentos. assim o
96
conhecimento será criado e as estruturas de significados privada e coletiva poderão ser
modificadas.
O forte das contribuições de Edmondson (2002) está na importância que ela atribui às
percepções e aos comportamentos interpessoais, pois a autora enfatiza que é nesses momentos de
interação social que a aprendizagem pode ser gerada. Ressaltam-se, dentre suas contribuições,
três aspectos, que se complementam e se sobrepõem, favorecendo ao desenvolvimento de grupos
que aprendem: o desenvolvimento de um ambiente favorável à aprendizagem; a
institucionalização de processos e práticas concretas de aprendizagem; a identificação no
comportamento de liderança de atitudes que reforcem a aprendizagem (GARVIN;
EDMONDSON; GINO, 2008).
Além dos aspectos citados, outros elementos presentes nessas teorias merecem ser
retomados uma vez que parecem especialmente relevantes para a compreensão do tema tratado
neste trabalho, entre eles, destacam-se: onde ocorre a aprendizagem; como a aprendizagem é
compreendida; quando ocorre a aprendizagem; o resultado da aprendizagem; a divisão da
aprendizagem em níveis.
Tanto Kolb (1984) quanto Argyris e Schön (1996) postulam que a aprendizagem ocorre
de forma efetiva no indivíduo. Os demais autores também destacam a importância da
aprendizagem individual para a aprendizagem organizacional, entretanto uma diferença de
enfoque, pois, para Kim (1993), Dixon (1999) e Edmondson (2002), a aprendizagem no nível
organizacional ocorre pelas interações entre o indivíduo e o grupo.
Corroborando com a visão desses autores, compreende-se que a aprendizagem
organizacional é dependente da aprendizagem individual, em um processo intimamente
conectado que acontece pela interação entre os indivíduos. Essa interação entre indivíduos refere-
se, como sugere Edmondson (2002), a um número pequeno de indivíduos, cabendo à organização
estruturar processos que transformem o conhecimento aprendido em práticas organizacionais.
quase um consenso, entre os autores que norteiam a revisão bibliográfica deste
trabalho, de que a aprendizagem precisa ser compreendida como um processo. Apenas Kim
(1993) a identifica como produto e Argyris e Schön (1996) acreditam que se trata tanto de um
processo quanto de um produto. A preocupação da aprendizagem ser compreendida como um
processo é pertinente, pois o que interessa na aprendizagem é, além da melhora no desempenho, a
continuidade dessa melhora, portanto mais importante do que o resultado em si é como as
97
pessoas da organização aprenderam determinado conhecimento. Compreendendo melhor como se
chegou ao conhecimento, é possível, mais facilmente, repetir experiências de sucesso e, também,
evitar os erros passados, o que leva a crer que é mais adequado para os pesquisadores, e
interessante para as empresas, compreender os processos da aprendizagem do que focar seus
esforços nas consequências, identificadas por “produtos”.
É básica, para todos os autores, a ideia de que qualquer processo de aprendizagem
envolve a reflexão, No entanto, para Argyris e Schön (1996), Kim (1993) e Dixon (1999), a
aprendizagem ocorre quando mudança na ação, enquanto Kolb (1984) e Edmondson (2002)
sugerem que tanto a reflexão quanto a ação devem estar presentes na concretização do ato de
aprender. Isso não significa que esses dois autores descartam a mudança como condição para a
aprendizagem, na verdade, eles identificam-na como parte relevante do processo de
aprendizagem, mas possibilitam uma abertura maior para que, havendo reflexão, mantenha-se o
padrão de alguma ação que a organização entende continuar sendo a melhor opção. Acredita-se
que essa abordagem seja mais adequada para analisar o fenômeno da aprendizagem com base em
grupos de trabalho.
É no resultado do processo de aprendizagem que existe a maior diferença de enfoque
entre os autores utilizados neste trabalho. Para Argyris e Schön (1996), o resultado da
aprendizagem é a mudança nas teorias em uso da organização; para Kim (1993), significa a
mudança nos modelos mentais compartilhados; em Dixon (1999), o resultado da aprendizagem
representa a construção e reconstrução de significados; Edmodson (2002) refere-se a mudanças
que busquem adaptação ou melhoria; enquanto Kolb (1984) explica que o resultado da
aprendizagem é o conhecimento.
Argyris e Schön (1996), Kim (1993) e Edmondson (2002) associam o resultado da
aprendizagem à mudança. Para que a mudança na ação aconteça, pressupõe-se que ela é
precedida pela reflexão. Então, se houve reflexão suficiente para gerar uma mudança que pode
ser constatada na ação dos membros de uma organização, acredita-se, seguindo o que sugere
Kolb (1984), que foi gerado conhecimento novo. Portanto, para este trabalho, entende-se que o
resultado da aprendizagem nas organizações é o conhecimento que será, de alguma forma,
colocado em prática no contexto em que foi desenvolvido.
Se os autores não apresentam consenso sobre o resultado da aprendizagem, por outro
lado, a maioria divide o resultado da aprendizagem em tipos. Utilizando terminologias, baseadas
98
em pressupostos diferentes, os autores apresentam pelo menos dois tipos de aprendizagem: um
mais simples, no qual as mudanças são menores e, geralmente, referem-se a melhorias nas rotinas
organizacionais, e outro mais complexo, que promove mudanças mais profundas as quais, muitas
vezes, altera os pressupostos nos quais as organizações se pautam. Nesse caso, encaixam-se
Edmondson (2002), com a aprendizagem incremental e radical, e Kim (1993), com a
aprendizagem conceitual e operacional. Argyris e Schön (1996) e Kolb (1984) avançam um
pouco mais quando defendem um terceiro tipo de aprendizagem no qual as pessoas e
organizações “aprendem a aprender”, identificado pelos autores como laços de ciclo simples,
duplo e deutero, e três níveis de feedback, respectivamente. Dixon (1999) não faz essa distinção,
nem mesmo cogita a diferença entre os níveis de resultado da aprendizagem.
Argyris e Schön (1996) pontuam que é difícil entender, analisar e identificar essa
diferença dos tipos por se tratar de uma divisão teórica. Edmondson (2002) relaciona os tipos
de aprendizagem com as funções dos grupos de trabalho nas organizações, ficando a
aprendizagem radical como objetivo dos teams de alta gerência e com os responsáveis pela
pesquisa e desenvolvimento, enquanto a incremental cabe aos teams de gerência média, serviços
internos e produção. O enfoque de Edmondson (2002) é apropriado para entender este trabalho,
uma vez que o grupo analisado não possui autonomia necessária para promover aprendizagem
que resultem em mudanças profundas na organização.
O resumo das principais características e diferenças entre os autores é apresentado no
Quadro 12:
99
Quadro 12: Comparativo das teorias utilizadas na revisão bibliográfica deste trabalho
Aprendizagem
experiencial
(KOLB, 1984)
Teoria da ação
(ARGYRIS; SCHÖN, 1996)
Modelo integrado de
aprendizagem
organizacional
(KIM, 1993)
Ciclo de aprendizagem
organizacional
(DIXON, 1999)
AO em grupos de trabalho
(EDMONDSON, 2002)
Ênfase
Aprendizagem individual. Aprendizagem organizacional. Aprendizagem organizacional. Aprendizagem nos grupos de
trabalho.
Aprendizagem nos grupos de
trabalho.
Definição de
aprendizagem
O processo pelo qual o
conhecimento é criado por
meio da transformação da
experiência.
AO ocorre quando os indivíduos
dentro da organização vivenciam uma
situação problemática, questionando
os pressupostos da organização. Eles
vivenciam um surpreendente
desencontro entre o resultado real e o
esperado da ação e respondem a esse
desencontro por um processo de
pensamento e posterior ação que leva-
os a modificar suas imagens da
organização ou sua compreensão do
fenômeno organizacional para
reestruturar suas atividades de forma
a equilibrar resultados e expectativas,
mudando, desse modo as teorias em
uso organizacionais.
Aumento da capacidade da
organização de efetivar a ação.
O uso intencional dos processos
de aprendizagem nos níveis
indivíduo, grupo e sistema, para
continuamente transformar a
organização numa direção que
aumente a satisfação de seus
stakeholders.
Um processo de aprimoramento
das ações organizacionais por
meio de melhor conhecimento e
compreensão.
Conceitos importantes
Experiência. Teoria da ação: teoria em uso e teoria
esposada.
Modelos mentais individuais e
compartilhados.
Estruturas de significados
privados, coletivos e acessíveis.
Percepções e comportamentos
interpessoais.
Onde ocorre a
aprendizagem
Indivíduo. Indivíduo. Interação indivíduo/grupo. Interação indivíduo/grupo. Interação indivíduo/grupo.
Aprendizagem
compreendida como
Processo. Produto e processo. Produto. Processo. Processo.
Aprendizagem ocorre
quando
Há reflexão e ação. Há mudança na ação. Há mudança na ação. Há mudança na ação. Há refleo e ação.
Resultado da
aprendizagem
Conhecimento. Mudança nas teorias em uso da
organização.
Mudança nos modelos mentais
compartilhados.
Construção e reconstrução de
significados.
Mudanças que busquem a
adaptação ou a melhoria.
Tipos de aprendizagem
Três níveis de feedback. Laços de aprendizagem: ciclo
simples, duplo e deutero.
Aprendizagem conceitual e
operacional.
Aprendizagem radical e
incremental.
Nota: hífen (-) indica que a autora não apresenta diferença entre os tipos de aprendizagem
Fonte: elaborado com base em Kolb (1984), Argyris e Schön (1996), Kim (1993), Dixon (1999) e Edmondson (1999, 2002).
100
Outro aspecto importante presente em três das cinco teorias utilizada neste trabalho
refere-se ao ciclo da aprendizagem. Kolb (1984), fundamentado em autores da filosofia da
educação e da psicologia, elabora um ciclo de quatro fases pelas quais o processo de
aprendizagem individual passa. Kim (1993), apropriando-se do modelo apresentado por Kolb,
mas usando uma versão elaborada por Kofman (1992 apud KIM, 1993), também estrutura um
ciclo de aprendizagem individual com características parecidas. Essas quatro fases são
representadas em formato de círculo, pois uma fase “alimenta” a próxima, em um contínuo que se
retroalimenta.
Dixon (1999) também propõe um ciclo da aprendizagem organizacional, em um contínuo
de quatro etapas. A própria autora destaca as semelhanças desse ciclo com o ciclo da
aprendizagem experiencial de Kolb (1984), no entanto pontua que as principais diferenças estão
na abordagem organizacional, pois direciona todas as etapas do processo, utilizando-se da mesma
linha de raciocínio, mas considerando as interações entre os indivíduos na organização.
Observa-se que, basicamente, a gica subjacente as quatro fases é muito similar, ou seja,
o indivíduo passa por uma experiência, reflete sobre ela, estrutura novas ideias e conceitos, testa
suas conclusões e, depois de novamente ter vivenciado a situação, reflete sobre ela, dando
continuidade ao ciclo.
101
Fases
Autores
Experiência
concreta
Observação
reflexiva
Conceitualização
abstrata
Experimentação
ativa
Kolb
1984
Vivenciar Refletir sobre o que
está acontecendo
Compreensão das
representações
simbólicas da
experiência
Testar, chegar a
conclusões
Observar Avaliar
Projetar Implementar
Kim
1993
Acessar pela
experiência
consciente ou
inconsciente
Refletir Desenhar ou
construir um
conceito abstrato
Testar
Gerar Integrar
Interpretar
Agir
Dixon
1999
Levantar dados Compartilhar
entendimentos
Dar sentido à
informação
Executar com base
no que foi gerado
em conjunto
Figura 12: Ciclo da aprendizagem individual e organizacional
Fonte: elaborado com base em Kolb (1984), Kim (1993) e Dixon (1999).
Embora Dixon (1999) acrescente ao ciclo da aprendizagem organizacional as interações
entre os indivíduos, acredita-se que o conhecimento gerado pela aprendizagem ocorre no
indivíduo pelas suas interações com os outros e no contexto no qual está inserido. A organização
entra com a tarefa de oportunizar processos e práticas concretas de aprendizagem, como sugerem
Garvin, Edmondson e Gino (2008), nas quais está embutido o processo de integração do
conhecimento gerado, como sugere uma das etapas do ciclo de aprendizagem de Dixon (1999).
Entende-se, portanto, que a aprendizagem organizacional apoia-se no ciclo da
aprendizagem individual que acontece nos momentos de interações e questionamentos de um
grupo de indivíduos. O processo de aprendizagem organizacional se realiza, portanto,
conjuntamente ao ciclo de aprendizagem individual. Por sua vez, o ciclo de aprendizagem
individual que parece oferecer melhores subsídios para entender os processos de aprendizagem
no nível do grupo é o de Kim (1993) porque, embora esse processo ocorra no nível individual,
refere-se aos momentos de interação que ocorrem no contexto organizacional, e os termos
escolhidos por esse autor para descrever as fases do ciclo de aprendizagem (observar, avaliar,
102
projetar, implementar), como o próprio Kim explicita, utilizam um vocabulário mais direcionado
ao ambiente empresarial.
Em grupos usualmente menores, como sugere Edmondson (2002), os indivíduos
observam os resultados e as consequências de suas ações; se o resultado se ajusta ao que se
espera, como sugerem Argyris e Schön (1996), então, repete-se a fase de implementação. A partir
do momento em que os resultados não se ajustam ao que foi esperado, os indivíduos, novamente
no contexto organizacional, avaliam os processos, projetam novas ideias e consensos e, com base
nessas novas percepções, implementam suas ações.
O que une o ciclo da aprendizagem individual à aprendizagem organizacional são os
questionamentos, presentes nas estruturas de significado acessíveis, sugeridas por Dixon (1999).
Nesse espaço, os indivíduos tornam o conhecimento disponível ao outro, e as premissas
individuais, bem como a de seus pares de trabalho, são questionadas para, dessa forma,
consolidar-se em novo conhecimento que deverá ser seguido pela implementação de uma nova
ação, seja ela uma mudança mais simples, que envolve os procedimentos e rotinas diárias, seja
mais complexa, que provoca transformações profundas na empresa.
A aprendizagem em grupos na organização considera, portanto, de um lado os indivíduos
e suas características comportamentais e, de outro lado, a organização com sua estrutura e
contexto organizacional. É pelas “interações que acontecem entre pessoas que estão tipicamente
situadas dentro de grupos ou teams menores” (EDMONDSON, 2002, p. 128, grifo nosso) que
uma organização pode aprender. Esse aprendizado, fruto da interação entre os indivíduos, tem
maiores chances de acontecer se a organização observar, e promover, os três aspectos que
facilitam a aprendizagem, sugeridos por Garvin, Edmondson e Gino (2008).
Essas relações da aprendizagem em grupo nas organizações podem ser observadas na
Figura 13:
103
Figura 13: Integração das teorias da aprendizagem individual, organizacional e nos grupos de trabalho
Fonte: elaborado com base em Kolb (1984), Argyris e Schön (1996), Kim (1993), Dixon (1999) e Edmondson (2002).
104
2.6 AS BARREIRAS E OS FACILITADORES DA APRENDIZAGEM NAS
ORGANIZAÇÕES
Para Levinthal e March (1993), a aprendizagem tem dois mecanismos que facilitam
seu processo: a simplificação e a especialização. A simplificação corresponde ao momento no
qual as organizações codificam seus resultados, classificando-os em sucessos e falhas, e
refletem sobre suas causas. Na especialização, algum tipo de mudança ocorre, tanto por meio
da substituição quanto pela adaptação da aprendizagem antiga pela nova. “Pela simplificação
da experiência e especialização das respostas adaptativas, a aprendizagem melhora, em média,
o desempenho organizacional. Contudo os mesmos mecanismos de aprendizagem que levam
às melhorias também tendem a limitar essas melhorias” (LEVINTHAL; MARCH, 1993, p.
101), uma vez que a própria aprendizagem reduz a reflexão, ocasionando a não identificação
de novos problemas.
Essa situação é ilustrada pelos autores por intermédio da metáfora “miopia da
aprendizagem”, representando o fato de que a aprendizagem, ao mesmo tempo que significa
aprender novas formas de executar as tarefas organizacionais, gera uma maneira de não ver o
que pode ser diferente. Levinthal e March (1993) identificam três formas principais de
miopia.
A primeira trata-se da miopia temporal, na qual a aprendizagem desenvolve nichos e
competências distintas mas, ao mesmo tempo, não se preocupa em estimular as habilidades
que não fazem parte desse grupo de competências já desenvolvidas. Como o contexto muda, é
possível que as habilidades requeridas para a organização também se modifiquem, no entanto,
como a aprendizagem privilegia o curto prazo, ou seja, as habilidades exigidas naquele espaço
temporal, tal comportamento pode comprometer a sobrevivência da empresa no longo prazo.
O segundo tipo de miopia é classificado como miopia espacial, nesse caso, a
aprendizagem tende a favorecer efeitos que ocorrem próximo aos aprendizes, negligenciando
“lugares” distantes, ou seja, representando a tendência de ignorar os cenários maiores. Essa
miopia é identificada no conflito existente nas estratégias organizacionais entre aqueles que
defendem a existência das firmas em busca de sua sobrevivência e os que se preocupam com
as pressões seletivas demandadas pelo ambiente.
Os autores identificam também a miopia do fracasso, destacando que, enquanto as
lições adquiridas do sucesso são privilegiadas pela aprendizagem organizacional, as falhas são
105
minimizadas. Com a aquisição da confiança pela valorização do sucesso, surge uma tendência
natural de produzir antecipadamente resultados e interpretações favoráveis desses resultado, o
que leva ao risco das falhas serem subestimadas.
Edmondson (2002), ao comparar a atuação de diferentes tipos de team, evidencia
algumas situações nas quais as falhas de aprendizagem apresentam implicações para a
organização, conforme observado no Quadro 13:
Quadro 13: Efeitos organizacionais das falhas de aprendizagem nos teams
Tipo do team Efeitos Organizacionais da Separação entre Insight e
Ação
Implicações para a Aprendizagem
Organizacional
Team de alta
gerência
A habilidade da organização para responder às
mudanças no mercado é severamente limitada: novas
estratégias não são articuladas; outros teams
organizacionais deixam de melhorar (ou fazer)
atividades que não o otimamente adaptadas para o
novo ambiente.
Exploração inadequada ou insuficiente
de novas capacidades para desenvolver
mudanças requeridas pelo mercado.
Team de
desenvolvimento
de produto
Um novo produto potencial não é introduzido, ou um
produto não tão bom é introduzido. Ao longo do
tempo, o desempenho da organização sofre com a falta
de tempo, alta qualidade dos produtos que atendem às
necessidades do mercado.
Team de
gerência média
O negócio persiste como da maneira usual. Conforme
o contexto muda, o desempenho organizacional sofre
pela falha de se adaptar em conformidade com as
operações contínuas.
Inadequada exploitation das
capacidades correntes perda de
oportunidades para melhorar custos,
eficiência ou qualidade.
Team de
produção
Um produto ou conjunto de produtos sofre pela
inadequada qualidade e aumento de custos,
prejudicando potencialmente a satisfação dos clientes
ou a rentabilidade.
Team de
serviços internos
A eficiência de coordenação entre as subunidades
organizacionais padece, oportunidades para melhorias
do desempenho individual e treinamento no trabalho
são perdidas.
Fonte: Edmondson (2002, p. 143). Adaptado pela autora.
A não-utilização das informações para a criação de conhecimento, seja ele individual
seja organizacional, abre espaço para a reflexão sobre os aspectos que dificultam e também os
que facilitam a aprendizagem nas organizações. No primeiro momento desta análise, serão
feitas considerações sobre as barreiras encontradas nesse processo, para, na sequência, fazer
algumas considerações sobre os facilitadores da aprendizagem nas organizações, apontados
pela literatura.
Nos autores que norteiam as orientações teóricas do presente estudo, é possível
verificar vinte e quatro tipos de barreiras que interferem no processo de aprendizagem
organizacional. Kim (1993), por exemplo, identifica sete barreiras que levam à criação de
ciclos incompletos de aprendizagem. O autor especifica que quatro desses ciclos foram
originados nos trabalhos de March e Olsen (1975), para quem a aprendizagem não acontece
106
nas situações denominadas por: aprendizagem de papel limitado; aprendizagem de audiência;
aprendizagem supersticiosa; aprendizagem por ambiguidade.
A aprendizagem de papel limitado se realiza quando a aprendizagem individual não
tem efeito na ação e no comportamento individual, porque o ciclo é quebrado pelas limitações
do cargo da pessoa ou pelos procedimentos operacionais padrão que inibem a ação. Nesses
casos, o conhecimento existe no indivíduo, mas os procedimentos organizacionais
permanecem os mesmos.
A aprendizagem de audiência ocorre quando a aprendizagem individual afeta a ação
organizacional de maneira ambígua, porque a ação individual tem pouco impacto na
organizacional. Muito da aprendizagem em política ou pesquisas são exemplos desse tipo de
quebra de aprendizagem, pois o resultado desse tipo de aprendizagem usualmente não é
ampliado e aplicado em toda a organização.
A aprendizagem supersticiosa ocorre quando o link entre a ação organizacional e as
respostas ambientais é muito frágil, nesse caso, a ação é tomada, as respostas são observadas,
inferências são tiradas e observa-se aprendizagem, no entanto não base real para relacionar
as conexões feitas entre ação organizacional e respostas ambientais. Argyris e Schön (1996)
referem-se também a esse tipo de barreira, explicando que, como a aprendizagem
organizacional leva a mudanças na teoria em uso, abre-se a possibilidade para que qualquer
mudança possa ser baseada nas lições de alguma ação. Todavia, essas lições podem ser falsas
ou não-aplicáveis, nesse caso, os resultados podem ser decorrentes de outras causas que não
as imaginadas e, portanto, a aprendizagem organizacional de fato não ocorre. March e Olsen
(1975) exemplificam que muito da aprendizagem da medicina e de técnicas administrativas
encontram-se nessa situação de aprendizagem supersticiosa.
a aprendizagem sob ambiguidade acontece quando é difícil descrever “o que
aconteceu o por quê” (MARCH; OLSEN, 1975, p. 3). A ação individual afeta a
organizacional que afeta o ambiente, mas as conexões causais entre os eventos não são claras.
A aprendizagem operacional ocorre, mas não se sabe exatamente se a aprendizagem
conceitual ocorreu. A aprendizagem organizacional, para ser efetiva, precisa avançar em um
processo balanceado de complementaridade de aprendizagem tanto em saber como quanto em
saber o porquê e, diante desse tipo de ambiguidade, não é possível dizer que houve
aprendizagem.
Além desses quatro fatores, Kim (1993) identificou mais três situações em que a
aprendizagem pode não ocorrer: aprendizagem oportunística; aprendizagem situacional;
107
aprendizagem fragmentada. A aprendizagem oportunística refere-se a situações nas quais a
organização propositadamente tenta desviar os próprios procedimentos padrões da empresa
por representarem um impedimento na execução de alguma tarefa em particular. Nesse
contexto, é preciso quebrar o link entre os modelos mentais compartilhados e a ação
organizacional, pois não tempo de esperar que toda a organização mude. Esse tipo de
quebra do ciclo de aprendizagem ocorre quando as ações organizacionais são tomadas com
base nas ações de um indivíduo, ou de pequeno grupo de indivíduos, e não com base nos
modelos mentais compartilhados na organização.
A aprendizagem situacional ocorre quando um indivíduo encontra um problema,
improvisa e, imediatamente, resolve o problema e inicia nova tarefa sem sistematizar aquele
conhecimento. O indivíduo esquece ou não codifica a aprendizagem para usá-la mais tarde,
nesse caso, o link entre aprendizagem individual e o modelo mental é quebrado. Como não há
mudança no modelo mental, não há também impacto de longo prazo, e a aprendizagem limita-
se à situação especificamente, e a organização não tem como absorver aquela aprendizagem.
Argyris e Schon (1996) também destacam esse tipo de barreira e classificam-na como near
misses”, representando situações nas quais quase, porém não completamente, a aprendizagem
organizacional ocorre. Para esses autores, em vez dos modelos mentais, são as teorias em uso
organizacionais que não são modificadas. Isso acontece em situações nas quais os membros
da organização têm insights que não se transformam em ão, ou em casos nos quais o
questionamento individual leva a ambos entendimento e ação, entretanto permanece fora das
atividades organizacionais e não produz nenhuma mudança nas teorias organizacionais em
uso.
No caso da aprendizagem fragmentada, segundo Kim (1993, p. 46), “o indivíduo
aprende, mas a organização como um todo não”. uma quebra entre o modelo mental
individual e o compartilhado e, em caso de perda de indivíduos, a organização perde também
o aprendizado, pois o conhecimento está nos indivíduos. Segundo Edmondson (2002), isso
pode ocorrer também no nível grupal, pois, mesmo quando um team aprende efetivamente, a
aprendizagem do grupo pode não ser observada em nível organizacional.
Argyris e Schön (1996) também identificam esse tipo de barreira em seus estudos,
ressaltando que existem situações nas quais o questionamento organizacional produz uma
mudança temporária nas teorias em uso, mas as novas compreensões associadas com a
mudança permanecem apenas em alguns indivíduos e, portanto, perdem-se quando esses
indivíduos saem da organização. Além dessa barreira, Argyris e Schön também contribuem
108
para a reflexão sobre os dificultadores da aprendizagem, apresentando cinco situações que
atrapalham a aprendizagem: poder; armadilha da competência; dificuldade em mudar as
teorias em uso; raciocíonio defensivo; rotinas defensivas.
O poder surge como uma barreira para a aprendizagem quando os membros do grupo
agem como se houvesse uma disputa na qual precisam ser feitas escolhas entre as solicitações,
e as prioridades são determinadas com base na dominação. Se o conflito adquire
características de um jogo de poder, mesmo que fique empate, nenhum dos lados aprende
sobre a natureza do conflito e seu significado para as teorias em uso. Algumas teorias em uso
são, inclusive, desenvolvidas para evitar confitos com algumas pessoas poderosas da
organização; dessa forma, escolhe-se trabalhar de forma coerente e passível de ser acreditada
que, ao mesmo tempo, permita-lhes permanecer dentro de uma zona de conforto. Dixon
(1999) também destaca o poder como barreira para a aprendizagem. A autora explica que não
é o fato de que alguns membros da organização saberem mais do que os outros que limita a
aprendizagem, mas é, na verdade, a percepção de valor das ideias dos outros. Assim, quando
se acredita que algumas contribuições valem mais do que outras, a aprendizagem fica limitada
no contexto da organização.
A barreira da armadilha da competência sugerida por Argyris e Schön (1996),
refere-se às situações em que a experiência de sucesso leva a organização a persistir com o
modelo familiar de pensamento e ação ao longo do tempo, no entanto “um comportamento
que produziu sucesso em determinado tempo, t, pode não mais produzi-lo se t+1”
(ARGYRIS; SCHÖN, 1996, p. 19). Edmondson (2008) também identifica esse tipo de
barreira na aprendizagem quando descreve que, às vezes, a empresa se julga incapaz de errar
em virtude do excesso de confiança, o que a leva a desconsiderar outros indicadores além dos
quais está habituada a analisar.
Outra barreira da aprendizagem, sugerida por Argyris e Schön (1996) e Argyris
(1996), refere-se à dificuldade em mudar as teorias em uso dos indivíduos e das
organizações. Os seres humanos aprendem suas teorias em uso ainda na infância, tornando-se
habilidosos em executar as tarefas que estão acostumados. Mesmo as tarefas mais complexas
são desempenhadas com tão pouco esforço, que as ações são produzidas como se fossem
automáticas. Isso faz com que as ações sejam inconscientes e não precisem mais ser
questionadas pelos indivíduos, e um processo que se autoreforça, pois, se os objetivos foram
alcançados, acredita-se que não existe motivo para mudar a ação.
109
A falta de motivação para mudar a ação evidencia que o conhecimento humano
apresenta um “teimoso apego a noções vigentes” (WOHSTETTER, 1962 apud ROBERTO;
BOHMER; EDMONDSON, 2006, p. 60), dessa forma, para se proteger, a mente humana
tende a ignorar percepções sutis de perigo, criando o hábito de perceber e enfatizar dados que
confirmem as visões e hipóteses que as pessoas acreditam e, ao mesmo tempo, desprezar as
informações que as contradigam (ROBERTO; BOHMER; EDMONDSON, 2006).
Salvo se houver perda de controle da situação ou algum aspecto interferir no processo,
os indivíduos manterão suas premissas e inferências tácitas para sustentar o status quo e,
mesmo que inconscientemente, inibir a aprendizagem genuína. Isso acontece porque, se as
teorias em uso são sancionadas e suportadas pela organização e pela cultura social, os
indivíduos têm poucas razões para identificar os problemas existentes e questionar as
respostas automáticas às quais estão habituados.
Dixon (1999) também identifica essa barreira na aprendizagem, explicando que os
indivíduos parecem ter preferência por interpretar o mundo de acordo com o que chama de
“estruturas de significados existentes”, ou seja, a autora descreve que, frequentemente vemos
o que esperamos ver, pois as pessoas parecem prestar atenção na informação que confirma as
estruturas existentes, suas teorias em uso, em vez de observar as informações que as refutam.
Para superar as respostas automáticas, no entanto, os indivíduos devem ir além das
experiências nas quais eles identificam as regras as teorias em uso e compreender os
aspectos que existem por traz dessas respostas automáticas.
Às vezes, os participantes demonstram interesse em resolver problemas do trabalho,
mas a forma como conduzem suas conversas, combinada com a sua própria censura, leva ao
diálogo defensivo (ARGYRIS; SCHÖN, 1999). Para Argyris e Schön (1996), uma conversa
pode produzir reações defensivas em todos os participantes de forma que reforça e intensifica
a defensividade, mesmo que inicialmente essa conversa tenha sido estruturada com intenções
positivas. Criam-se modelos de estratégias de ação que se autorreforçam e que inibem a
aprendizagem, que os autores chamam de inibidor primário dos loops. “Os loops são
primários no sentido de que eles são informados pelas teorias em uso dos participantes
durante as discussões face a face (especialmente quando envolvem situações embaraçantes ou
ameaçadoras)” (ARGYRIS, SCHÖN, 1999, p. 90). Essa situação acaba promovendo respostas
disfuncionais, que reforçarão a condição para o erro tendendo, ainda, a obscurecê-lo e torná-lo
incorrigível.
110
Essas respostas disfuncionais criam outra importante barreira da aprendizagem nas
organizações, denominada por Argyris e Schön (1996) como raciocínio defensivo. O
raciocínio defensivo consiste em tornar as premissas e inferências implícitas em argumentos
ou procedimentos que não podem ser testados ou questionados por outras pessoas. Isso faz
com que os indivíduos acreditem que tais premissas somente são testáveis dentro dos limites
da gica utilizada pelos atores que tiveram a habilidade da conclusão surgindo, então, a
lógica referencial própria, porque o teste não é designado para utilizar gica independente
daquela utilizada para gerar a primeira conclusão. Nessas condições, o raciocínio defensivo
torna-se sancionado como o raciocínio correto a ser usado, no entanto essa alternativa serve
apenas para exacerbar as condições para erro, pois diminuiu as condições de questionamentos
que levem à aprendizagem.
Existem dois motivos pelos quais os indivíduos, embora queiram resolver os
problemas organizacionais, utilizam o raciocínio defensivo, segundo Argyris e Schön (1996).
O primeiro está relacionado à forma como os indivíduos resolvem lidar com os aspectos
embaraçantes e ameaçadores, ou seja, está relacionado à falta de segurança psicológica. Como
os indivíduos são somente parte da resposta, o segundo motivo pelo qual o raciocínio
defensivo é utilizado está relacionado à estrutura organizacional, que reforça a existência dos
diálogos contraprodutivos por intermédio das rotinas defensivas, outra importante barreira
para a aprendizagem.
Conforme Argyris e Schön (1996, p. 99-100), as rotinas defensivas organizacionais
são:
[...] ações e políticas, legalizadas dentro do contexto organizacional, que pretendem
proteger os indivíduos das experiências ameaçadoras ou embaraçantes, enquanto ao
mesmo tempo previnem os indivíduos, ou a organização como um todo, de
identificar as causas do embaraçamento ou ameaça para corrigir os problemas
relevantes.
Edmondson (1999) também identifica as rotinas organizacionais como uma forte
barreira para o desenvolvimento da aprendizagem organizacional, especialmente por não
permitirem a reflexão, e Dixon (1999) explica que as rotinas defensivas são tão familiares
para os membros da organização que se tornam tácitas e, portanto, parte das estruturas
coletivas de significados e, com isso, não são mais questionadas pelo grupo.
As rotinas defensivas não permitem a reflexão, porque são baseadas em uma lógica
que é poderosa e profunda em seu impacto nos indivíduos e organização, pois, praticamente,
111
aniquilam os questionamentos. Essa gica, de acordo com Argyris e Schön (1996, p. 100),
pode ser expressa em quatro regras:
1. Aprimore as mensagens que contêm inconsistências;
2. Aja como se as mensagens não fossem inconsistentes;
3. Torne inquestionável a ambiguidade e inconsistência dessas mensagens;
4. Torne a inquestionabilidade do inquestionável também inquestionável.
Seguindo essa gica, a mensagem se torna inquestionável, e as rotinas defensivas
acabam sendo protegidas e reforçadas pelas mesmas pessoas que gostariam de se libertar
delas. Surge, dessa forma, uma das maiores “causas da rigidez e bengala organizacional: as
rotinas defensivas que ficam cada vez mais e mais forte enquanto os indivíduos responsáveis
por elas acreditam que é irreal ou, até mesmo, perigoso fazer algo sobre isso” (ARGYRIS;
SCHÖN, 1996, p. 101).
Por serem aceitas como inevitáveis e imunes à administração ou influência, a reação
mais comum dos indivíduos é possuírem um senso de total desamparo diante dessa situação.
Segundo Argyris e Schön (1996), uma maneira de se ter pouca escolha sobre as rotinas
defensivas é criar uma atitude cínica sobre ela, ignorando ou desprezando as evidências de
intenção de mudá-las e desconfiando das pessoas que queiram questioná-las. Além disso, os
autores explicam que “as pessoas freqüentemente dão aos outros conselhos que reforçam as
rotinas defensivas” (ARGYRIS; SCHÖN, 1996, p. 102).
Em organizações com contextos que promovem tais rotinas defensivas, conforme
Argyris e Schön (1999), o resultado é que os indivíduos vivenciam a desconfiança, o
distanciamento e o cinismo sobre a potencialidade para a aprendizagem organizacional
produtiva nos aspectos que são embaraçadores ou ameaçadores, o que caracteriza outra
importante barreira da aprendizagem nas organizações: a falta de segurança psicológica.
Essa barreira não é somente identificada por Argyris e Schön (1996) e Argyris (1999), é
também uma das barreiras mais enfatizadas por Edmondson (1999).
Para Cannon e Edmondson (2001), lidar negativamente com conflitos pode
desenvolver um clima organizacional em que o ambiente seja hostil e a confiança nas relações
pessoais seja quebrada, impactando diretamente na segurança psicológica dos indivíduos.
Nessas condições, o medo de ser ridicularizado, culpado por algum equívoco, ou o medo de
que os outros usarão o conhecimento dessas falhas contra eles, faz com que as pessoas tenham
112
receio de discutir sobre suas falhas ou sobre os pontos em que discordam da opinião dos
outros.
Ao admitir um erro ou pedir ajuda, um indivíduo pode parecer incompetente e ter sua
imagem abalada, ficando sujeito a custos tangíveis, tais como correr o risco de perder uma
promoção ou não conseguir captar um projeto, por exemplo. De acordo com Edmondson
(1999), os custos de imagem têm sido explorados em pesquisas sobre “manter as aparências”,
identificando que as pessoas valorizam a imagem e, nesse sentido, pedir ajuda, admitir erros e
procurar feedback exemplificam os tipos de comportamentos que representam uma ameaça
para a imagem. Desse modo, as pessoas na organização evitam ao máximo revelar seus erros
chegando até mesmo a ser incapazes de pedir ajuda, mesmo quando usar esses recursos
poderia trazer benefícios para o grupo ou organização.
Relacionado à falta de segurança psicológica, porém com enfoque um pouco diferente,
Dixon (1999) explica que outro motivo legítimo que pode levar um indivíduo a não aprender
é o fato de que o significado pode ter sido construído de alguma informação e, sendo
revelado, violaria a confiança de alguém. Isso faz com que as pessoas soneguem a informação
e o consequente aprendizado da organização.
Nos estudos de Edmondson, a autora apresenta, além da falta de segurança
psicológica, mais seis situações que dificultam a aprendizagem nos grupos de trabalho das
organizações: hábito de esconder os erros; falhas na comunicação; ignorar informações
importantes; reflexão incompleta; competição interna nociva; ameaça ambígua.
O hábito de esconder os erros engloba, segundo Cannon e Edmondson (2001), os
diversos tipos e magnitudes de erros: os evitáveis, os que não podem ser evitados e também os
erros atrelados aos relacionamentos interpessoais. Essa barreira está fortemente relacionada à
segurança psicológica, contudo ela, diferentemente desta, extrapola o contexto organizacional
pois refere-se ao processo de socialização dos indivíduos. Desde criança, as pessoas são
levadas a “fugir” dos erros, para não se machucarem ou para tirar as melhores notas na escola.
Esse comportamento faz com que olhar para os erros seja visto como uma dolorida tarefa que
expõe a autoestima, uma vez que os indivíduos buscam se manter ou se engajar em atividades
que reforcem seus conceitos e autoestima (CANNON; EDMONDSON, 2001). Esse
comportamento, no entanto, é nocivo para a aprendizagem pois, escondendo os erros, não se
pode compreender o que precisa ser mudado para obter um desempenho melhor.
Outra barreira, identificada por Edmondson (2002), refere-se ao fato de ignorar
informações importantes, de forma que as discussões do grupo tornam-se inefetivas, porque
113
informações que são importantes para compreender o contexto não foram compartilhadas pelo
grupo. Essa barreira está vinculada a outro aspecto limitante da aprendizagem: a falta de
tempo suficiente para reflexão que leva à reflexão incompleta.
Para Edmondson (2002), a aprendizagem pode falhar ao realizar a adaptação em
consequência da reflexão incompleta, pois os grupos não refletem sobre suas próprias ações,
ou até refletem, mas falham ao fazer as mudanças seguindo suas reflexões. Outras vezes,
como não tempo para a reflexão e, consequentemente, não tempo para a aprendizagem,
adotar, e aprender, novas práticas ou rotinas pode ser visto como prejudicial ao desempenho
organizacional no curto prazo. Outro problema relacionado à falta de reflexão é o
comportamento que visa resolver problemas, pois, segundo Tucker, Edmondson e Spear
(2002, p. 123):
Os comportamentos de solução de problemas que enfocam somente o remediar ou a
superação de obstáculos imediatos, impedem a aprendizagem organizacional,
porque o sucesso de curta duração diminui a motivação para remover as causas
subjacentes dos problemas e porque dados valiosos que podem ser usados para
justificar e esforços de remoção informacional são perdidos.
Outra barreira da aprendizagem organizacional refere-se às falhas da comunicação.
Isso ocorre porque os grupos, frequentemente, não conseguem se comunicar com os outros na
organização (ANCONA; CALDWELL, 1992), ou se comunicam, no entanto não conseguem
convencer os outros de adotar novas práticas organizacionais (ROTH; KLEINER, 2000 apud
EDMONDSON, 2002) para utilizar o conhecimento novo.
Edmondson (2002) também identifica que a competição interna nociva é mais uma
barreira da aprendizagem nas organizações. Ela surge quando as empresas utilizam a
premiação por desempenho, estimulando o não-compartilhamento de ideias, ou melhores
práticas, com colegas de outros grupos da mesma organização para se manterem
“competitivos” dentro da própria empresa.
A ameaça ambígua é outra barreira da aprendizagem nas organizações. De acordo
com Edmondson (2006, p. 60), ela representa um “sinal que pode ou não prenunciar
problemas futuros”. Como o alerta é ambíguo e o potencial para danos à empresa é incerto, as
organizações tendem a ignorar ou menosprezar o risco e, por esse motivo, esperam para ver
quais serão os resultados. A empresa é inclinada a interpretar mal a ameaça ambígua por três
fatores: cognição humana, dinâmica de grupo e cultura organizacional. A cognição humana
114
refere-se ao hábito de “perceber e enfatizar dados que confirmem as visões e hipóteses que
temos, desprezando informações que as contradigam” (EDMONDSON, 2006, p. 60-61). A
dinâmica do grupo refere-se ao clima de trabalho do team, à diversidade de pessoas (mesmo
que sejam todas competentes) e às diferenças de hierarquia e status, pois todos esses fatores
interferem na forma como as empresas analisarão os fatos. A cultura organizacional, por sua
vez, pode promover a necessidade de que toda conclusão precisa ser provada por estudos com
grandes amostras em níveis significativos, a fim de que quem “fareja o problema precisa
provar, com estudos estatisticamente relevantes, que a tecnologia traz riscos. Não espaço
para temores intuitivos e dados parciais. A potencial ameaça é enterrada em meio a exigências
rígidas de ‘prova científica’” (EDMONDSON, 2006, p. 62).
Dixon (1999) também acrescenta cinco situações que dificultam a aprendizagem nas
organizações: diminuir a vantagem competitiva do indivíduo; falta de estrutura adequada para
repassar informações; obstrução da informação; falta de autorização organizacional para agir;
hierarquia. Uma razão, que é o oposto da falta de segurança psicológica identificada por
Edmondson (1999), é o fato de que expor algum conhecimento pode diminuir a vantagem
competitiva do indivíduo. Sabendo, ou conhecendo, algum aspecto particular e necessário à
organização, o profissional possui um diferencial que, muitas vezes, o destaca em relação aos
demais e, portanto, esse motivo é forte o suficiente para que não seja compartilhado com os
colegas de trabalho. Outro aspecto que, segundo Dixon (1999), dificulta a aprendizagem nas
organizações é a falta de estrutura adequada para repassar as informações, de maneira
que os indivíduos acabam desistindo de compartilhar com os outros os resultados de seu
conhecimento.
No entanto, conforme Dixon (1999), às vezes, não é somente a falta de estrutura
adequada que bloqueia o compartilhamento das informações, ao contrário, às vezes, acontece
de forma deliberada a obstrução da informação. De acordo com Huber (1987 apud DIXON,
1999), há quatro formas de obstruir a distribuição da informação: aniquilamento da mensagem
pela distribuição seletiva da informação; resumo da mensagem, que acaba diminuindo o
tamanho da mensagem e, com isso, reduz o grande conjunto de informações; demora na
mensagem, referindo-se ao tempo no qual a mensagem é distribuída; modificação da
mensagem, identificando quando há distorção, propositada ou não, do significado.
Esses métodos são usados com regularidade por gerentes de níveis mais altos e têm o
objetivo de controlar a informação que os empregados recebem, mas o contrário também é
verdadeiro que também são usados por empregados para controlar a informação que os
115
continua
gerentes recebem. Além disso, são também empregados com efeito negativo entre as sub-
unidades de trabalho, sobretudo se a organização promover a competição interna nociva,
como sugere Edmondson (2002).
Outra barreira para a aprendizagem nas organizações, sugerida por Dixon (1999), é a
falta de autorização organizacional para agir. Esse tipo de barreira acontece quando a
quebra do ciclo da aprendizagem organizacional, ou seja, a organização envolve seus
membros na geração da informação, coloca a informação no contexto organizacional, os
membros interpretam coletivamente aquela informação, mas a organização não os autoriza a
agirem sobre aquele conhecimento.
Dixon (1999, p. 108) também identifica que a “hierarquia é um grande inibidor da
aprendizagem”. A hierarquia inibe a aprendizagem sempre que os subordinados deixam de
exprimir seus próprios recursos e conhecimentos; por outro lado, a hierarquia também inibe a
aprendizagem quando os superiores impõem os seus conhecimentos, ou mesmo quando
ambas as partes se distanciam e acabam não compartilhando o conhecimento. Essa estrutura
hierárquica tradicional, portanto, reduz a capacidade da interpretação coletiva da organização.
Sendo essas as vinte e quatro principais barreiras da aprendizagem identificadas nas
leituras, foi estruturado o Quadro 14, no qual se busca facilitar a visualização dos aspectos
que são, segundo os autores que norteiam esse estudo, os maiores limitadores para que a
aprendizagem ocorra de fato no contexto organizacional.
Quadro 14: Classificação dos diferentes tipos de barreiras de aprendizagem
Tipos de barreiras
Individuais Organizacionais
Autores
Aprendizagem situacional.
Aprendizagem fragmentada.
Falta de segurança psicológica.
Dificuldade em mudar as teorias em uso.
Raciocínio defensivo.
Aprendizagem supersticiosa.
Rotinas defensivas.
Armadilha da competência.
Poder.
Argyris e Schön
(1996)
Kim (1993)
Aprendizagem situacional.
Aprendizagem fragmentada.
Aprendizagem de audiência.
Aprendizagem oportunística.
Aprendizagem supersticiosa.
Aprendizagem de papel limitado.
Aprendizagem sob ambiguidade.
116
conclusão
conclusão
Tipos de barreiras
Individuais Organizacionais
Autores
Aprendizagem fragmentada.
Falta de segurança psicológica.
Dificuldade em mudar as teorias em uso.
Hábito de esconder os erros.
Rotinas defensivas.
Armadilha da competência.
Competição interna nociva.
Ignorar informações importantes.
Reflexão incompleta.
Ameaça ambígua.
Falhas na comunicação.
Edmondson
(1999)
Dixon (1999)
Falta de segurança psicológica.
Dificuldade em mudar as teorias em uso.
Diminuir a vantagem competitiva do
indivíduo.
Poder.
Rotinas defensivas.
Falta de estrutura adequada para repassar
informações.
Obstrução da informação.
Falta de autorização organizacional para
agir.
Hierarquia.
Fonte: elaborado com base em Kim (1993), Argyris e Schön (1996), Edmondson (1999) e Dixon (1999).
Além desses aspectos que acabam dificultando a aprendizagem, a literatura refere-se
também, embora com menos ênfase, aos fatores que facilitam a aprendizagem no contexto
organizacional. De acordo com Antonacopoulou (2001, p. 266-267):
O contexto no qual a aprendizagem ocorre poderia determinar o que e por que o
indivíduo escolhe aprender (ou seja, o motivo subjacente da aprendizagem), tanto
como determinar o modo provável pelo qual o indivíduo procura aprendizagem. No
contexto das organizações, em particular, um clima organizacional construtivo
encorajaria os indivíduos a ter atitudes positivas em relação à aprendizagem e
reconhecer as necessidades de desenvolver aprendizagem, superar sua própria
resistência à mudança, entender suas próprias deficiências como aprendizes e ser
mais abertos a experiências e prontos a aprender com elas
.
Segundo Dixon (1999), existem seis características que podem representar os
elementos críticos que qualquer processo necessita para facilitar o significado coletivo. A
autora explica que se não houver essas características, não será possível considerar que existe
o que ela denomina de “corredor de aprendizagem”. Essas seis características, no entanto,
podem ser consideradas como aspectos que facilitam a aprendizagem, não no contexto
relacionado aos “corredores”, como defende a autora, mas também em qualquer ambiente que
vislumbre o desenvolvimento da aprendizagem nas organizações em sua totalidade. Essas seis
117
características são: diálogo; igualitarismo; múltiplas perspectivas; focar-se nos membros da
organização; base de dados geradas pelos participantes; experiências compartilhadas.
Dixon (1999) explica que os diálogos, e não os discursos, são importantes para haver
aprendizagem pois eles são necessários para que os membros da organização interajam uns
com os outros, trocando informações, conclusões, raciocínios e questionamentos, em vez de
tão somente escutar os significados privados de outras pessoas. Além disso, a autora ressalta
que é por intermédio da fala que as pessoas organizam cognitivamente o que sabem; dessa
forma, o diálogo é interessante porque, para que aconteça, requer que o indivíduo compreenda
tanto a própria perspectiva quanto a do outro, e isso oportuniza a criação e revisão dos
significados privados.
A autora defende que a aprendizagem coletiva é mais efetiva quando os membros da
organização falam uns com os outros na condição de iguais e não como membros de uma
hierarquia, por esse motivo o igualitarismo é uma condição importante para que possa existir
aprendizagem nas organizações. Sem o fluxo livre de ideias, a aprendizagem perde a
espontaneidade, dessa forma, para haver aprendizagem, é necessário que as ideias sejam
julgadas pelo seu valor e não pelo valor do cargo de quem as sustenta.
No momento em que as pessoas concordam com tudo, ou que não percebem as
diferenças, não aprendizagem. Os indivíduos aprendem, portanto, quando discrepância
nas coisas que pensam, ou quando alguma informação questiona as ideias existentes, por isso,
quanto mais a tensão entre a diferença de opiniões for tolerada, maior será a possibilidade de
ideias novas surgirem. Desse modo, para ocorrer a aprendizagem, é necessário que,
intencionalmente, sejam desenvolvidas perspectivas múltiplas que estimulem o desafio às
práticas correntes ao mesmo tempo que a organização aceita e compreende a tensão que surge
enquanto a aprendizagem nova emerge. Quando a aprendizagem “encoraja as múltiplas
perspectivas, a probabilidade de que alguém ofereça uma nova maneira de reenquadrar os
problemas que a organização enfrenta, aumenta substancialmente” (DIXON, 1999, p. 53-54)
e, portanto, isso facilita a aprendizagem no contexto organizacional.
Segundo Dixon (1999), as duas premissas fundamentais dos corredores de
aprendizagem são: pessoas comuns, pensando junto, têm a capacidade para gerar respostas
plausíveis aos problemas da organização; não apenas uma solução para a maioria dos
problemas organizacionais, há muitas soluções potenciais que, se consensuadas entre os
grupos, em geral são eficazes aos problemas. A autora explica que, historicamente, as pessoas
se habituaram a esperar por respostas, entretanto “as respostas dos experts são úteis somente
118
quando os problemas organizacionais são de natureza técnica” (DIXON, 1999, p. 54-55).
Portanto, a autora sugere que, para que haja aprendizagem nas organizações, deva-se focar
nos membros da própria organização, pois, além de possuírem as respostas aos problemas
organizacionais, eles agirão de forma mais responsável se participarem dos processos
organizacionais e se tiverem como base suas próprias conclusões. Para tanto, eles devem ser
encorajados a participar da criação de significados coletivos no contexto organizacional.
Outro aspecto que promove a aprendizagem é fazer com que os participantes
apresentem as informações que coletam no contexto do trabalho, promovendo, assim, uma
base de dados gerada pelos participantes. Não utilizando os relatórios de outros e tendo
como base a fonte primária dos dados coletadas pelos participantes permite, na concepção de
Dixon (1999, p. 55), que o processo de “‘dar sentido’ seja menos baseado nas inferências e
mais baseado nos dados”. A autora destaca que o que contém o ato da aprendizagem coletiva
não são os dados, nem o compartilhamento deles, mas é a discussão, em si, dessas
informações entre os participantes.
A sexta característica que, de acordo com Dixon (1999), promove a aprendizagem é a
experiência compartilhada”. Os membros da organização possuem muitas experiências e,
compartilhando esse conhecimento, são capazes de gerar novas ideias, compreendendo
melhor diferentes aspectos da organização por entender sua função, e a dos outros, de uma
nova maneira. As experiências compartilhadas tornam-se, então, uma efetiva maneira de
construir significados conjuntos, porque aquela imagem é representativa para o grupo e, por
esse motivo, facilita o entendimento e a aprendizagem no contexto organizacional.
Observa-se que os facilitadores da aprendizagem são, muitas vezes, o oposto do que é
apresentado como inibidor da aprendizagem. Por exemplo, a falta de segurança psicológica,
identificada por Edmondson (1999), tem no clima organizacional construtivo, como sugere
Antonacopoulou (2001), o “outro lado da moeda” que, ao invés de bloquear, facilita a
aprendizagem. A própria Edmondson (1999, p. 352) explica que em ambientes nos quais as
“pessoas percebem as ameaças interpessoais e de carreira como suficientemente baixas, elas
pedem ajuda, admitem erros e discutem problemas”.
Cannon e Edmondson (2001) enfatizam também que a administração positiva do
conflito pode levar ao aprendizado, em especial quando as pessoas que compartilham
diferentes perspectivas sentem-se à vontade para confrontar abertamente as ideias dos outros.
Discussões e análise das falhas e incoerências em ambientes propícios “têm maiores chances
119
de resultar em aprendizagem profunda, insights mais criativos e soluções” (CANNON;
EDMONDSON,2001,p.165).
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste tópico de estudo, serão apresentados os procedimentos metodológicos
empregados na condução do presente estudo, descrevendo as opções da pesquisadora quanto à
metodologia utilizada na pesquisa. Faz-se a caracterização do estudo de caso qualitativo e dos
métodos de pesquisa utilizados: entrevista semiestruturada, observação participante e análise
documental, bem como descreve-se o processo analítico aplicado na análise dos dados.
3.1 METODOLOGIA UTILIZADA
A metodologia utilizada pautou-se nos pressupostos da pesquisa qualitativa, pois esse
tipo de pesquisa, de acordo com Taylor e Bogdan (1998), o pesquisador se preocupa com o
significado que as pessoas atribuem aos fatos de suas vidas. Considera-se que essa abordagem
oferece base para a compreensão e interpretação dos processos sociais subjacentes à
administração (GEPAHART, 1999), especialmente quando se busca compreender os
fenômenos “segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em
estudo” (GODOY, 1995, p. 58). Portanto, no presente estudo, o objetivo é entender os
significados atribuídos pelas pessoas envolvidas com o trabalho que se realiza na recepção de
hotéis e seu aprendizado.
Dos aspectos que caracterizam os estudos qualitativos mencionados por Godoy
(1995), três foram observados no estudo realizado: a pesquisa foi descritiva, teve no ambiente
natural a fonte direta dos dados e observou, como preocupação central, o significado que as
pessoas dão às coisas e à sua vida. É importante relembrar que os pesquisadores que adotam
métodos qualitativos entendem os estudos descritivos como aqueles que têm como propósito
documentar e descrever o fenômeno de interesse (MARSHALL; ROSSMAN, 1999),
organizando-o em suas partes componentes (MILES; HUBERMAN, 1994; ROESCH, 1999).
Nesse caso, a precisão dos detalhes, segundo Deslauriers e Kérisit (2008), fornecerá
informações contextuais que poderão servir para futuras pesquisas explicativas.
121
Para Easterby-Smith e Araújo (2001), a abordagem qualitativa vem oferecendo uma
contribuição significativa aos estudos da área da aprendizagem nas organizações. Nesse
sentido, o autor propõe a utilização dos métodos qualitativos e etnográficos e manifesta
crescente interesse no uso dos métodos narrativos e lingsticos para pesquisar esse femeno.
Considerando-se as características da pesquisa qualitativa e sua afinidade com o
campo da aprendizagem nas organizações, justifica-se, portanto, a escolha dessa abordagem
no presente estudo, a ser desenvolvido com base em um estudo de caso.
3.2 ESTUDO DE CASO QUALITATIVO
Segundo Merriam (1998), o termo pesquisa qualitativa é um guarda-chuva que
abriga inúmeras variões para se chegar à compreensão e explicação dos fenômenos
sociais que se pretende estudar, com o menor afastamento possível do ambiente natural. A
autora apresenta cinco tipos básicos de pesquisa qualitativa: estudo qualitativo básico ou
genérico; etnografia; fenomenologia; grounded theory; estudo de caso. O presente projeto
pertence à categoria do estudo de caso, na qual se utiliza, no design da pesquisa, técnicas
comuns aos trabalhos qualitativos como a realização de entrevistas, a observação no
campo e a análise de documentos.
Para Yin (2001, p. 32), “um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os
limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.”
Merriam (1998, p. 29) explica que os estudos de caso são: “particularistas, descritivos
e heurísticos”. Particularistas por estarem focados em uma situação ou evento particular, cuja
importância é advinda do que ele revela sobre o fenômeno objeto da investigação; descritivos
por representarem uma descrição completa e literal do que está sendo estudado; heurísticos
por possibilitarem o aparecimento de novos significados que podem levar a repensar o
fenômeno da investigação.
Portanto, o objetivo do estudo de caso é oferecer uma análise do contexto e do
processo que ilumine os aspectos teóricos que estão sendo estudados. Nesse tipo de
122
pesquisa, o femeno deve ser examinado de forma hostica, justamente porque tem
como foco compreender como o comportamento e/ou processo são influenciados pelo
contexto (HARTLEY, 1994). Um estudo de caso pode:
a) ser único ou múltiplo (YIN, 2003);
b) combinar diversas formas de coleta de dados tais como arquivos, entrevistas,
questionários e observações (EISENHARDT, 1989);
c) recorrer a uma variedade de dados, coletados em diferentes momentos, em situações
variadas e com diversos tipos de informantes (LÜDKE; ANDRÉ, 2004);
d) descrever, interpretar e/ou avaliar algum fenômeno visando à construção de teoria
ou à adequação de referenciais teóricos previamente escolhidos na interpretação das
informações coletadas (MERRIAM, 1998).
A opção pelo estudo de caso depende do problema de pesquisa que orienta o processo
investigativo, podendo ser decorrente de situações do cotidiano, pelo desejo do pesquisador
de explicar alguma situação com base na prática, ou motivado por questões de natureza
conceitual, que se propõe a elaborar uma teoria valendo-se de um ou mais casos analisados
(GODOY, 2006). De acordo com Hartley (1994), os estudos de caso são, em especial, úteis
quando o pesquisador deseja compreender os processos e as interações sociais que se
desenvolvem nas organizações, situando-os no contexto histórico no qual estão imersos. São
especialmente indicados na exploração de processos e comportamentos dos quais se tem uma
compreensão limitada, pois possibilitam a geração de hipóteses explicativas e a elaboração de
teorias (GODOY, 2006).
A presente pesquisa é considerada um estudo de caso, pois investigou o fenômeno
dentro de seu contexto na vida real, analisando a aprendizagem organizacional no grupo de
recepcionistas de um hotel localizado em uma capital do sul do Brasil. Outro motivo que a
classifica como um estudo de caso qualitativo é terem se utilizado as seguintes estratégias de
pesquisa: análise documental; observação participante e entrevistas feitas com os próprios
recepcionistas, com o chefe da recepção, com os diretores do hotel e, também, com mais
quatro funcionários que trabalham diretamente com o grupo de recepcionistas; atendendo ao
requisito de possuir diversos tipos de informantes.
123
3.3 REALIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada no ambiente de trabalho, ou seja, na recepção do
empreendimento hoteleiro objeto de estudo. A coleta foi feita por meio de entrevistas,
observação participante e análise documental, tendo, como fonte principal de obtenção dos
dados, as entrevistas realizadas.
3.3.1 As entrevistas
Segundo Richardson (1999), a entrevista é adequada quando o principal interesse do
pesquisador é conhecer o significado que o entrevistado aos fenômenos e eventos de sua
vida cotidiana, utilizando seus próprios termos, pois a entrevista permite o tratamento de
assunto de caráter pessoal. Essa técnica possibilita, também, a coleta de dados significativos
que não se encontram em fontes documentais. Para Lüdke e André (2004), a grande vantagem
da entrevista sobre as demais técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da
informação desejada, na maioria das vezes, com qualquer tipo de informante e sobre os mais
variados tópicos, sendo, portanto, uma prática dinâmica e flexível.
Conforme Bryman (2004), em geral existem dois principais tipos de entrevistas em
pesquisa qualitativas: as que não apresentam estruturação (abertas) e as semiestruturadas.
Outros autores, como Godoy (2007), descrevem também a existência da entrevista altamente
estruturada. As entrevistas abertas consistem em relatos livres dos entrevistados com base em
grandes temas apresentados pelo entrevistador, enquanto as altamente estruturadas se baseiam
em um roteiro de questões preestabelecido e testado, que deve ser utilizado de maneira
idêntica com todos os entrevistados; já as entrevistas semiestruturadas reúnem aspectos
conciliatórios dos dois tipos (GODOY, 2007).
As entrevistas semiestruturadas, além de poder contribuir para o aprofundamento de
assuntos específicos relacionados à tentativa de compreensão da realidade organizacional
(ANDION; SERVA, 2006) e permitir a fluência dos relatos das pessoas, ao mesmo tempo,
124
oferecem norteadores abrangentes do foco do estudo, com questões abertas e de pouca
estruturação, mas que asseguram um nível mínimo de homogeneização na coleta de
informações entre os sujeitos (GODOY, 2007). Por tais motivos, esse foi o tipo de entrevista
adotado neste estudo.
Inicialmente, foi realizado um teste do roteiro elaborado previamente para os
recepcionistas, a fim de observar a compreensão e a sequência dos questionamentos nele
utilizados. Essa entrevista-teste foi efetuada com uma pessoa que possuía características
similares às do público-alvo do estudo, constituindo-se uma etapa importante para revisar o
roteiro, a fim de garantir a obtenção de dados relevantes e significativos, que atendessem aos
objetivos do trabalho.
As entrevistas foram agendadas diretamente com o chefe da recepção, que organizou
os horários e também determinou os locais de sua realização, de acordo com a disponibilidade
do grupo. Antes do início de cada entrevista, foram asseguradas aos entrevistados
informações sobre a finalidade didática do trabalho e sobre a confidencialidade dos dados
obtidos por meio da elaboração de um termo de consentimento livre e esclarecido, que pode
ser observado no Apêndice A.
As entrevistas ocorreram no próprio hotel, antes, durante ou após o expediente,
assegurando-se sempre, no entanto, que houvesse o menor grau possível de interrupção. O
tempo das entrevistas variou entre 40 minutos e 2 horas de duração, perfazendo
aproximadamente 18 horas de entrevistas ao final de todas as gravações. As entrevistas foram
transcritas na íntegra, seguindo as orientações de Queiroz (1991), para serem usadas no
processo analítico.
Resumidamente, os assuntos abordados na entrevista abrangiam os seguintes temas:
aprendizado das funções; rotinas organizacionais; mudanças; correções de erros; comunicação
no setor (entre o grupo, entre as duas recepções e com os outros setores do hotel); trajetória
profissional. As questões foram originadas a partir da estruturação de uma matriz de
amarração entre teoria e objetivos de pesquisa, como se pode observar no Apêndice C. O
tratamento e redação das questões para cada grupo de entrevistados foi específico, como se
pode observar no Apêndice B, no qual se apresentam os roteiros para os recepcionistas, o
chefe de recepção, os mensageiros e o encarregado do setor de reservas, o chefe do centro de
processamento de dados e os diretores.
125
3.3.2 A observação-participante
O pesquisador precisa decidir desde o início do estudo o seu grau de envolvimento no
trabalho de pesquisa, definindo se atuacomo: a) participante total; b) participante como
observador; c) observador como participante, d) observador total (LÜDKE; ANDRÉ, 2004).
Como participante total, o observador não revela ao grupo sua verdadeira
identidade de pesquisador, nem o propósito do estudo, buscando aproximar-se o mais
possível da perspectiva dos participantes. O participante como observador não oculta
totalmente suas atividades, mas revela apenas parte do que pretende. O observador como
participante deixa evidente a identidade do observador e os objetivos do estudo,
interagindo com o grupo no decorrer das atividades. Já o observador total é aquele
pesquisador que não interage com o grupo observado, podendo, inclusive, desenvolver sua
atividade de observação sem ser visto pelo grupo pesquisado (LÜDKE; ANDRÉ, 2004).
Merriam (1998) aponta, ainda, a possibilidade do parceiro colaborativo, que é uma
atuação muito próxima à do participante total, entretanto a identidade do investigador é
conhecida por todas as pessoas envolvidas no estudo.
As decisões quanto ao tipo de observação a ser realizada dependem da característica
do estudo e, também, do posicionamento ético assumido pelo pesquisador (LÜDKE; ANDRÉ,
2004; MERRIAM, 1998). Considerando-se o objetivo deste trabalho, utilizou-se nesta
pesquisa a observação participante.
De acordo com Jaime Júnior e Serva (1995, p. 69):
A observação participante refere-se, portanto, a uma situação de pesquisa onde
observador e observado encontram-se numa relação face a face, e onde o processo
de coleta de dados se no próprio ambiente natural de vida dos observados, que
passam a ser vistos não mais como objetos de pesquisa, mas como sujeitos que
interagem em um dado projeto de estudos.
Na observação participante realizada, a pesquisadora assumiu claramente o
cumprimento de tarefas no fluxo regular de trabalho da organização pesquisada, observando
o que recomendam Andion e Serva (2006). Para tanto, a pesquisadora precisou adquirir o
uniforme do hotel, já que ficaria na recepção e, portanto, teria também contato com os
hóspedes.
126
Ao combinar a data para a atividade, procurou-se escolher um peodo no qual o
hotel tivesse uma alta taxa de ocupação para que o grupo pudesse ser observando em plena
atividade. Dessa forma, foi escolhido o período de 11 a 15 de novembro, iniciando em uma
terça-feira e encerrando no sábado. Na terça-feira, a pesquisadora foi apresentada ao grupo e
aproveitou para conhecer um pouco das rotinas no hotel enquanto o movimento ainda era
calmo. Na quarta, iniciou um grande congresso na cidade, e o hotel permaneceu com 100%
de sua taxa de ocupação até o sábado, dia em que aconteceram vários check outs e que foi
encerrada essa etapa da pesquisa.
O grupo, embora não tivesse sido avisado sobre a atividade, recebeu muito bem a
pesquisadora, que pode acompanhar, e participar, de todas as etapas desenvolvidas nas duas
receões do hotel e também no setor de reservas. Os cinco dias de atividade na recepção do
hotel perfizeram um total de 40h30 e tiveram como foco de observação os seguintes
aspectos: teorias da ação nas práticas diárias; tipo do ciclo de aprendizagem (simples ou
duplo) predominante nas ações do grupo; tempo para reflexão sobre as rotinas
organizacionais; intenção de promover mudanças nas rotinas organizacionais; discussão sobre
os processos e troca de experiências/conhecimento entre os membros do grupo; como os
empregados respondem aos problemas encontrados no trabalho.
Durante o processo de observação participante, e logo as seu encerramento, foram
descritos os principais aspectos observados no grupo de recepcionistas, para serem
analisados posteriormente.
3.3.3 A análise documental
A análise de documentos é um método auxiliar que permite conhecer melhor a
história da organização, por meio da reconstituição de fatos passados, sobretudo, quando
se trata do estudo de organizações formais (ANDION; SERVA, 2006), pois, por persistir
ao longo do tempo, os documentos podem ser consultados várias vezes e, inclusive, servir
de base a diferentes estudos, o que dá mais estabilidade aos resultados obtidos (LÜDKE;
ANDRÉ, 2004).
Nesta pesquisa,
considerou
recepção dos
hotéis, assim como
hoteleira. Além disso, o
Departamento de R
P
rocedimentos da recepção do hotel que contém a missão, visão e valores da em
descrição das atribuições dos cargos e o
funcionários do setor.
A
pesquisa foi realizada tendo como base as fontes de informação que podem ser
visualizadas na Figura 14:
Figura 14: Fonte
de coleta de dados da pesquisa
Fonte: a autora.
3.4 PROCESSO
DE ANÁLISE DE DADOS
A análise dos dados na pesquisa qualitativa é, na maioria das vezes, baseada na
codificação, que tem o objetivo de organizar conceitualmente e apresentar informações a
respeito do conteúdo
coletado por meio das entrevistas, da observação participante e da
análise de documentos
(GIL FLORES, 1994). Com base em um exame sobre as diferentes
possibilidades de análise de dados qualitativos, Tesch (2002) apresenta um conjunto de d
princípios e práticas orientadoras desse tipo de análise os quais são pertinentes ao estudo de
caso:
16 Entrevistas
•6 Recepcionistas
•3 Auxiliares de Recepção
•1 Encarregado da
Recepção
•1 Encarregado pelos
controles do hotel
1 Encarregado de reservas
e eventos
•2 Mensageiros
•2 Diretores
considerou
-se relevante o acesso aos
documentos que circulam na
hotéis, assim como
os livros de registro de ocorrências e o sistema de automação
Departamento de R
ecursos H
umanos repassou o
rocedimentos da recepção do hotel que contém a missão, visão e valores da em
descrição das atribuições dos cargos e o
check list
das atividades a serem desenvolvidas pelos
pesquisa foi realizada tendo como base as fontes de informação que podem ser
de coleta de dados da pesquisa
DE ANÁLISE DE DADOS
A análise dos dados na pesquisa qualitativa é, na maioria das vezes, baseada na
codificação, que tem o objetivo de organizar conceitualmente e apresentar informações a
coletado por meio das entrevistas, da observação participante e da
(GIL FLORES, 1994). Com base em um exame sobre as diferentes
possibilidades de análise de dados qualitativos, Tesch (2002) apresenta um conjunto de d
princípios e práticas orientadoras desse tipo de análise os quais são pertinentes ao estudo de
1 Encarregado de reservas
Observação Participante
•11 a 15 de novembro de
2008
•Correspondendo a 40h30
Análise de Documentos
Manual de Normas e
Procedimentos da
Recepção
Sistema de Automação
Hoteleira
Livro de Registro de
Ocorrências
Documentos Internos
127
documentos que circulam na
os livros de registro de ocorrências e o sistema de automação
umanos repassou o
Manual de Normas e
rocedimentos da recepção do hotel que contém a missão, visão e valores da em
presa, uma
das atividades a serem desenvolvidas pelos
pesquisa foi realizada tendo como base as fontes de informação que podem ser
A análise dos dados na pesquisa qualitativa é, na maioria das vezes, baseada na
codificação, que tem o objetivo de organizar conceitualmente e apresentar informações a
coletado por meio das entrevistas, da observação participante e da
(GIL FLORES, 1994). Com base em um exame sobre as diferentes
possibilidades de análise de dados qualitativos, Tesch (2002) apresenta um conjunto de d
ez
princípios e práticas orientadoras desse tipo de análise os quais são pertinentes ao estudo de
Análise de Documentos
Manual de Normas e
Procedimentos da
Recepção
Sistema de Automação
Hoteleira
Livro de Registro de
Ocorrências
Documentos Internos
128
a) a análise não é a última fase do processo de pesquisa, é concomitante com a coleta
de dados ou é cíclica;
b) o processo de análise é sistemático e abrangente, mas não é rígido;
c) a análise de dados inclui uma atividade reflexiva que resulta em um conjunto de notas
que guia o processo, ajudando o pesquisador a mover-se dos dados para o vel
conceitual;
d) os dados são segmentados, ou seja, divididos em unidades relevantes e com sentido
próprio, mantendo, no entanto, a conexão com o todo; portanto, a análise se
concentra em conjuntos de partes dos dados, cada vez menores e mais homogêneos;
e) os segmentos dos dados são categorizados de acordo com um sistema de organização
que é, de modo predominante, derivado dos próprios dados, e o material,
pertencente a cada particular categoria, é agrupado tanto conceitual como fisicamente,
de forma indutiva;
f) a principal ferramenta intelectual é a comparação;
g) as categorias são tentativas preliminares desde o início da análise e
permanecem flexíveis, já que, sendo derivadas dos próprios dados, devem
acomodar dados posteriores;
h) a manipulação dos dados é uma tarefa eclética, que requer o envolvimento criativo
do pesquisador;
i) os procedimentos não são mecanicistas e não regras estritas que possam ser
seguidas;
j) o resultado da análise qualitativa é algum tipo de síntese de nível maior elevado.
Com base nesses princípios, pode-se afirmar que não existe um processo único de
análise dos dados qualitativos; o pesquisador deverá decidir a forma como desenvolverá sua
análise (GIL FLORES, 1994). Nesta pesquisa, observaram-se os princípios e as práticas
orientadoras da análise qualitativa propostos por Tesch (2002), analisando os dados coletados
por meio do processo de análise textual interpretativa proposto por Gil Flores (1994) e da
utilização de templates, conforme propõe King (2004).
A análise textual interpretativa, proposta por Gil Flores (1994), sugere que o processo
de análise inicie pela leitura dos discursos. Observando o que sugere esse autor, a leitura das
entrevistas ocorreu em repetidas ocasiões, com o objetivo de estruturar uma impressão do
conjunto, formando uma ideia geral do conteúdo nelas contido. Nessa etapa, começaram a
129
surgir pistas de possíveis relações e tendências que indicaram os primeiros caminhos da
análise para a categorização.
Para elaborar as categorias de análise deste estudo, utilizou-se a abordagem de King
(2004), denominada “análise de templates”, que sugere a utilização de temas predefinidos,
estruturados pelo pesquisador, que têm a finalidade de orientar a categorização e a análise dos
dados.
Foi então elaborada uma lista abrangente de temas, os templates, desenvolvida com
base na leitura das entrevistas, observando-se, também, os objetivos do trabalho. Cada tema
foi numerado, estabelecendo-se, assim, a codificação das seguintes categorias: atividades
desempenhadas na recepção; o aprendizado das atividades; associação entre aprendizagem e
mudança; resolução de problemas do dia-a-dia; comunicação; expectativas profissionais.
Na sequência, foram identificados nas entrevistas os trechos correspondentes aos
templates. Esse agrupamento das informações pelas categorias predeterminadas permitiu a
organização dos relatos de acordo com os itens analisados, o que possibilitou o
estabelecimento de relações entre os assuntos.
Quanto à utilização das entrevistas ao longo do texto, cabe destacar alguns recursos
utilizados para transcrever as ideias do grupo pesquisado: as falas dos entrevistados foram
ajustadas, sem alterar o conteúdo presente nos discursos, com o objetivo de facilitar a leitura
do texto, como sugere Alberti (2004). Sempre que o entrevistado deu ênfase ao que estava
sendo dito, na transcrição destacou-se essa parte, sublinhando o trecho correspondente da
entrevista; as pausas breves são identificadas por reticências ... , e as longas, destacadas
pela expressão: (pausa); os momentos marcados pela descontração dos entrevistados foram
identificados pela expressão: (risos); os comentários da autora ao longo da fala dos
entrevistados, para esclarecer aspectos necessários do contexto, foram colocados em
colchetes. Também, em alguns casos, omitiu-se propositadamente a pessoa que estava
falando, evitando que fosse revelada a identidade do entrevistado.
No item que expõe os resultados da pesquisa de campo, estruturaram-se a descrição e
análise das categorias encontradas, fazendo-se a interseção destas com elementos do
referencial teórico. Na transcrição das entrevistas, os entrevistados foram identificados com a
inicial, ou iniciais, de seu cargo, em letra maiúscula, seguida de número que diferencia os
indivíduos que possuem a mesma função, conforme legenda apresentada na página 143.
4 O LOCAL ESTUDADO E SEUS PARTICIPANTES
O hotel objeto desta pesquisa integra a rede hoteleira do estado do Rio Grande do Sul.
Esse estado possui uma diversidade cultural e tradicionalista espalhada por seu território,
subdividindo-o em regiões turísticas, cada qual com sua particularidade, que atrai turistas
oriundos dos demais estados do país e do exterior.
A atividade turística nesse estado e no município de Porto Alegre conta com a
presença marcante de três entidades ligadas à atividade turística: a Associação Brasileira da
Indústria de Hotéis (ABIH) do Rio Grande do Sul, o Sindicato de Hotelaria e Gastronomia de
Porto Alegre (Sindpoa) e o Porto Alegre Convention & Visitors Bureau.
A ABIH do Rio Grande do Sul apresenta-se como uma sociedade civil, sem fins
econômicos que congrega a classe hoteleira e de meios de hospedagens no Estado e que tem
como principais objetivos fomentar o desenvolvimento da hotelaria e dos meios de
hospedagens, incrementando o turismo em todas as suas manifestações, bem como as demais
atividades que com este estejam direta ou indiretamente relacionadas ao setor
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE HOTÉIS DO RIO GRANDE DO SUL,
2009). Essa instituição defende os interesses da indústria hoteleira no estado, divulgando as
atividades turísticas e os meios de hospedagem associados, como também oferecendo cursos
de especialização e profissionalização aos funcionários dos empreendimentos associados.
O Sindpoa é uma entidade de classe do setor hoteleiro local, cujas principais
atribuições são: representar os direitos e interesses do comércio de hotéis, restaurantes, bares e
similar; celebrar convenções e contratos coletivos de trabalho; prestar assistência em acordos
coletivos individuais e conflitos trabalhistas; conciliar divergências e conflitos entre os
associados e integrantes da categoria, assim promover a solidariedade e a união entre eles;
colaborar e estimular os poderes públicos, como órgão técnico consultivo, no estudo e na
solução dos problemas que se relacionem com a categoria econômica que representam
(SINDICATO DE HOTELARIA E GASTRONOMIA DE PORTO ALEGRE, 2009).
O Porto Alegre Convention & Visitors Bureau caracteriza-se como uma entidade de
apoio que visa atrair, gerar e estimular a captação e a realização de eventos, congressos e
feiras, nacionais e internacionais, sobretudo os de natureza técnica, científica e cultural para a
região de Porto Alegre. Também, atua como um órgão de apoio e dinamização ao mercado e
131
aos diversos setores ligados ao segmento do turismo, possibilitando o desenvolvimento e a
difusão cultural, científica, tecnológica e artística do estado, estimulando e incrementando o
fluxo turístico de qualquer natureza (PORTO ALEGRE CONVENTION & VISITORS
BUREAU, 2009). O Convention & Visitors Bureau volta-se principalmente ao
desenvolvimento do turismo de eventos, buscando a profissionalização do setor e oferecendo
aos associados cursos de aperfeiçoamento.
Conforme dados coletados na Secretaria do Turismo do Rio Grande do Sul (Setur), no
ano de 2007, foram atendidos 438.587 turistas nos Centros de Informações Turísticas, estes
números passaram para 456.905 turistas atendidos no ano de 2008. A distribuição da origem
dos turistas, ainda segundo a Secretaria do Turismo do Rio Grande do Sul, evidencia que
31,9% são oriundos do próprio estado, 13,6% de outros estados brasileiros e 54,5% são de
origem estrangeira, sendo os hotéis os principais meios de hospedagem por eles utilizados.
O estado do Rio Grande do Sul possui 388 meios de hospedagem cadastrados no
Ministério do Turismo que disponibilizam a oferta de um número total de 54.386 leitos
(BRASIL, 2009; RIO GRANDE DO SUL, 2009). Na capital gaúcha, segundo dados da
Secretaria do Turismo do Rio Grande do Sul, encontram-se instalados 89 estabelecimentos
hoteleiros, oferecendo o total de 13.026 leitos, distribuídos em 6.960 unidades habitacionais
(UH).
No período comparativo compreendido entre outubro de 2007 e outubro de 2008,
segundo dados do Sindicato de Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre (2009), a taxa de
ocupação dessa estrutura apresentou variações. No início do período, essa taxa apresentava-se
em aproximadamente 69%, caindo para 35% aproximados no mês de janeiro, recuperando-se
em abril com uma taxa de ocupação de mais de 60%. Esse índice manteve-se constante até
outubro de 2007, no qual se verificou uma nova queda na taxa de ocupação.
Destaca-se que o principal grupo de clientes do estabelecimento pesquisado é formado
por executivos que se hospedam no hotel por motivos de negócios, representando 55% do
total dos hóspedes que frequentam o estabelecimento. O segundo grupo de maior
representatividade são os turistas, que representam 25% do total de hóspedes, seguido por
eventos, com uma representação de 10% na ocupação do estabelecimento. Os 10% restantes
referem-se a hóspedes que utilizam o hotel por outros motivos. Esses hóspedes são, em sua
maioria, de nacionalidade brasileira, 92%, ao passo que os demais, 8%, são estrangeiros,
conforme informações repassadas por um dos diretores do empreendimento.
132
A taxa de ocupação do estabelecimento pesquisado, segundo informações repassadas
pela diretoria, apresenta uma média de 47% nos últimos 10 anos. Os períodos de baixa
ocupação estendem-se da segunda quinzena do mês de novembro até a primeira quinzena do
mês de março, enquanto o pico de ocupação refere-se aos meses de julho a novembro.
A inserção do estabelecimento pesquisado no setor hoteleiro do Rio Grande do Sul
ocorreu na segunda quinzena da década de setenta. O histórico da empresa, descrito nos
parágrafos que seguem, foi organizado por um colaborador integrante do Setor de
Contabilidade do empreendimento e foi complementado pelas informações conseguidas nas
entrevistas com os diretores.
O empreendimento foi idealizado por dois representantes de uma mesma família que
reuniram-se com a finalidade de criar uma empresa no ramo hoteleiro, dispondo, para tanto,
um capital de CR$ 20.000,00. Antes de atuar no ramo hoteleiro, os empresários eram
responsáveis por outras duas empresas que exerciam atividades no mesmo local onde o hotel
foi construído, sendo uma construtora e outra voltada à comercialização de cereais.
A empresa cerealista dispunha de um terreno na área central da cidade que, no ano de
1970, teve parte de seu terreno desapropriado para a construção da rodoviária municipal, fato
esse que motivou a edificação de um hotel no local, visando à demanda que seria imposta
pela implantação da rodoviária. Outro fator motivador foi a sugestão de um empresário,
tradicional do ramo da hotelaria local, que, por ser amigo da família, sugeriu esse
empreendimento.
Nessa época, o governo federal disponibilizava incentivos para a construção de
empreendimentos no ramo hoteleiro e, como a empresa cerealista passava por dificuldades
financeiras, optou-se por uma mudança de ramo, decidindo-se pela edificação de um hotel no
local, construído com incentivos do governo federal.
Visando à captação de recursos por intermédio de Incentivos Fiscais liberado pela então
Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), atualmente Instituto Brasileiro de Turismo,
oriundos de parte do imposto de renda das empresas, no ano de 1971, optou-se pela
transformação para Sociedade Anônima, com capital fechado autorizado, passando a contar
com uma estrutura societária composta por sete sócios e teve seu capital alterado para Cr$
305.000,00.
O estabelecimento iniciou suas atividades efetivamente em 22 de abril de 1974, quando
foi hospedado o primeiro hóspede do hotel. Nessa época, o hotel contava com um número
aproximado de trinta funcionários e era considerado como um dos primeiros
133
empreendimentos com um padrão de serviços superior aos demais hotéis, visto que os hotéis
próximos a rodoviárias eram compostos de estabelecimentos simples, com serviços restritos
à hospedagem, voltados ao atendimento de uma grande demanda e rotatividade.
Após a construção do primeiro prédio, a família ainda mantinha as atividades
cerealistas em pavilhões localizados no mesmo terreno do hotel, no entanto, como esse ramo
apresentava-se com baixa atividade, boa parte dos pavilhões eram utilizados como garagem
do hotel. Diante do sucesso alcançado com o primeiro estabelecimento, os empresários
optaram por construir um segundo hotel no terreno, onde se localizavam os pavilhões
utilizados como garagem pelo hotel.
Na década de oitenta, tendo em vista a conveniência de ser construída uma nova
unidade hoteleira, iniciou-se a construção da segunda unidade do hotel, viabilizada com
recursos próprios e por meio da captação de Incentivos Fiscais para o Turismo, na forma
prevista no Decreto Lei 1376/74. As obras começaram na década de oitenta, sendo suas
atividades iniciadas no mercado na segunda quinzena do ano de 1985, com uma estrutura
física composta por cento e trinta apartamentos, salas de reuniões, cozinha, restaurante e salas
de eventos para até trezentas pessoas. O empreendimento conta com cento e vinte
colaboradores, quatro diretores e seu capital social é de R$ 4.520.000,00.
Atualmente, o empreendimento é formado por dois prédios, em que um é o hotel Três
Estrelas (nome fictício) e o outro é um hotel Quatro Estrelas (nome fictício), totalizando uma
área construída de 14.635,50 m
2
. O hotel mais antigo é o Três Estrelas localizado em frente à
rodoviária e; aos fundos, separado por um corredor, mas com acesso também para outra rua da
cidade, fica o prédio mais novo. A tendência é que as pessoas que chegam ao hotel, salvo
conheçam Porto Alegre, entrem pelo hotel mais antigo e, quando são hóspedes do Quatro
Estrelas, são encaminhados até o outro prédio. O trajeto não é longo e é todo coberto, embora
tenha uma área livre.
O empreendimento oferece aos hóspedes os serviços de hospedagem em unidades
habitacionais (UH) equipadas com televisão colorida, ar-condicionado, frigobar, radio-
despertador, telefone, cofre, som e espera para internet. São oferecidos também aos hóspedes
os serviços de restaurante, aluguéis de salas para reuniões e eventos, garagem, sauna seca e a
vapor, piscina, sala guest office e um bar.
Mesmo ciente de que a Embratur e a ABIH não enfatizam mais a classificação por
estrelas, manteve-se neste trabalho a identificação Três e Quatro estrelas por dois motivos: o
primeiro porque no próprio hotel é linguagem corrente a identificação dos empreendimentos
134
pela denominação “três” e “quatro” e, segundo, por se tratar de uma estratégia para preservar a
identidade do empreendimento.
O hotel observado integra uma rede de hotéis que foi constituída em 2004, por
iniciativa de um grupo de empresários do setor hoteleiro e que teve por objetivo atuar de
forma associada para competir com as grandes redes de hotéis existentes no Brasil. No início,
a rede era composta por seis estabelecimentos hoteleiros, atualmente, possui vinte e nove
hotéis associados, que disponibilizam um mero de dois mil cento e trinta e oito
apartamentos e empregam mais de novecentos colaboradores.
A administração do estabelecimento é realizada por dois diretores, sendo estes
descendentes dos fundadores do hotel. A opção dos diretores por desenvolver atividades no
setor foi, principalmente, em virtude de ser um empreendimento familiar, mas também está
relacionado à aptidão e ao gosto pelo ramo hoteleiro, no qual desenvolvem atividades
aproximadamente 34 anos. Ambos os diretores possuem 53 anos de idade.
Com relação ao grau de escolaridade, os dois diretores possuem graduação em curso
superior, sendo um graduado em Administração, com foco em análise de sistemas, e o outro
em Engenharia Civil, fato que reforça o gosto pela hotelaria, pois suas graduações os
permitiria desenvolver atividades em outros setores, no entanto optaram por dar continuidade
às atividades nesse setor.
Um dos diretores iniciou sua vida profissional no estabelecimento, porém como
estagiário no período da construção do primeiro hotel da família onde realizava pequenos
serviços internos. Todavia, nessa época, voltava-se mais à área de engenharia civil,
acompanhando a construção do estabelecimento.
O segundo diretor iniciou sua vida profissional realizando estágios em
estabelecimentos hoteleiros fora do país, com características diferenciadas do hotel em que
atuam, porém foi onde aprendeu as atividades relacionadas à hotelaria e adquiriu o gosto pelo
setor.
Embora o hotel tenha quatro diretores (os dois fundadores e seus dois filhos), a gestão
é operacionalizada de maneira efetiva pela segunda geração, à qual cabem as funções
administrativas. Suas atividades envolvem todas as áreas do hotel, porém a área comercial
fica especificamente a cargo de um diretor, enquanto o outro se dedica às atividades
operacionais.
Desde o começo da coleta de dados para a pesquisa, solicitou-se ao Departamento de
Recursos Humanos o organograma do empreendimento, a resposta era sempre a mesma: “O
135
organograma está com a diretoria para ser validado e não pode ser repassado”. No entanto,
findada a coleta dos dados e durante a análise destes e elaboração da versão final do trabalho,
a pesquisadora recebeu um e-mail do hotel solicitando um número de fax para que o
organograma fosse encaminhado. O organograma do empreendimento pesquisado pode ser
observado na Figura 15:
Figura 15: Organograma do empreendimento
Fonte: hotel pesquisado.
Embora o documento oficial tenha sido encaminhado pela empresa, a estrutura
organizacional do hotel apresenta-se informal e não é clara para seus funcionários. A
inexistência de um organograma formal é justificada pela diretoria que acredita que o melhor
é evitar hierarquias excessivamente, optando por trabalhar apenas com o nível de chefia entre
a diretoria e os demais funcionários, como expressa a fala do diretor 2:
Não tem, não está desenhado, mas ele está estabelecido na prática. A gente trabalha
muito com chefias, em setor, o hotel não tem, nunca teve um gerente geral, como os
dois hotéis estão juntos, é único, a gente tem quatro diretores, na verdade dois são
aposentados, que são os pais, o meu pai e o do outro diretor, então os diretores estão
aqui dentro do hotel, então tu criar mais um vel de gerência, se torna muito
oneroso no processo e também mais burocratizado. Porque você adota mais chefias.
(D2)
136
O relato dos diretores durante as entrevistas permitiu a identificação de três níveis
hierárquicos: “a diretoria, as supervisões de todos os departamentos e o operacional” (D1).
Como o foco da pesquisa é a recepção, procurou-se, desse modo, estruturar também um
esquema que representasse a forma como os funcionários compreendem a hierarquia existente
no empreendimento; apresentada na Figura 16.
Figura 16: Compreensão dos funcionários sobre a estrutura hierárquica do empreendimento
Fonte: elaborado com base nas entrevistas e na observação participante.
O papel do encarregado pelos controles do hotel (que na entrevista identificou-se
como gerente, mas que o Departamento de Recursos humanos classifica como controlista
geral), em relação à recepção, não ficou suficientemente claro para a pesquisadora. Na maior
parte dos contatos durante a coleta de dados, as atividades que ele desenvolve levam a crer
que possui influência sobre o encarregado da recepção e sobre o encarregado de reservas e
eventos; como se exercesse um cargo “entre” estes e a diretoria. O recepcionista 1 comenta
que, quando esse controlista se dirige aos recepcionistas, “é porque a gente fez ‘coisa errada’
mesmo. Aí a gente só escuta”
Esse funcionário, no entanto, não é reconhecido por todo o grupo da recepção como
um chefe que também auxilia formalmente a coordenação das atividades do setor, conforme
evidencia a fala do recepcionista 4:
137
O Fulano não é considerado mais chefe. O Fulano é um conferente, ele é... como se
diz o... ele é mais o... cuidar... tarifador, cuidar ligações, problemas internos de
faturamento, é faturamento, mais, ele. Mas ele não é pra ser chefe. A gente não leva
pra ele nada. Quer dizer, alguma coisinha, a gente até leva, mas é que não... A
recepção, não tem ele como chefe. Ele nunca foi. Quando o chefe da recepção está
de férias, ele fica, mas não é comunicado, pra ninguém também, que entra... como
chefe. (R4)
Portanto, é possível observar que a percepção dos funcionários sobre a estrutura
hierárquica do hotel, compreendida pela pesquisadora, apresenta no primeiro nível a diretoria,
seguida pelos encarregados dos departamentos que, por sua vez, são precedidos pelos
colaboradores que compõem o operacional. No caso da recepção especificamente, o
encarregado da recepção tem como subordinados: os recepcionistas, que têm um pouco mais
de autonomia quando nenhum superior se encontra no estabelecimento, os auxiliares de
recepção e os mensageiros.
O estabelecimento pesquisado possui uma particularidade muito específica, como
afirmou o diretor 2: “[...] a característica do Hotel aqui é bem própria e não é comum em
outros hotéis, na verdade, tem dois hotéis no mesmo terreno [...], que apesar de ser dois hotéis
ele é comercialmente muitas vezes entendido como um hotel só [...].”
Por serem dois hotéis, apresentando estruturas físicas separadas, as atividades de
recepção eram desenvolvidas simultaneamente em ambos, porém, na atualidade, as atividades
de check in e check out são centralizadas no Três Estrelas, ao passo que a recepção do Quatro
Estrelas caracteriza-se como uma recepção de apoio, com atividades de entrega de chaves e
telefonia; por esse motivo o presente trabalho refere-se à análise da aprendizagem
organizacional no nível grupal e individual envolvendo as situações de trabalho em um hotel
apenas.
A opção por dividir as atividades entre as recepções do hotel ocorreu em janeiro de
2007, em que, após um período de baixa ocupação, foram necessárias medidas para redução
de custo. Conforme o diretor 1: “já houve duas recepções, quando o movimento bastante
grande exigiu, quando o movimento caiu bastante nós concentramos, em função de custos...
uma recepção só”.
As duas recepções do hotel possuem, entre encarregado da recepção, recepcionistas e
auxiliares de recepção, onze funcionários, e estes formam um dos grupos pesquisados para o
desenvolvimento deste estudo. Os colaboradores que desenvolvem suas atividades na
recepção do hotel, dividem-se em três auxiliares de recepção, sete recepcionistas e um chefe
de recepção. Um dos recepcionistas, que possui segundo grau completo, trabalha na hotelaria
138
dezesseis anos e está como recepcionista no hotel oito anos, não quis participar da
entrevista semiestruturada.
Portanto, esse grupo pesquisado é formado por dez pessoas, das quais três são
auxiliares de recepção, seis são recepcionistas e um é o encarregado pela recepção. Como o
chefe da recepção assumiu o cargo recentemente e desempenha normalmente as atividades
como recepcionista junto com os colegas, para fins de análise considera-se que o grupo
pesquisado é formado por sete recepcionistas e três auxiliares de recepção.
Esse grupo apresenta predominância de indivíduos do sexo masculino (70%). Com
relação à faixa etária, o grupo apresentou uma média de idade de 39,9 anos, com
predominância dos que se encontram entre 30 a 49 anos de idade, que representa 80% dos
indivíduos, como apresentado na Tabela 1.
Tabela 1: Distribuição da faixa etária
Descrição Frequência %
De 18 a 24 anos 0 0
De 25 a 29 anos 1 10
De 30 a 39 anos 4 40
De 40 a 49 anos 4 40
Acima de 50 anos 1 10
Total 10 100
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
A faixa etária do grupo relaciona-se inversamente com a escolaridade; os indivíduos
com maior grau de instrução são os colaboradores mais jovens e que menos tempo
compõem o quadro de funcionários do hotel. A distribuição do nível de escolaridade do grupo
é apresentado na Tabela 2, onde se observa que apenas um colaborador possui nível superior
completo. Mais dois colaboradores possuem superior incompleto e um possui curso técnico de
nível médio em turismo.
Tabela 02: Distribuição da escolaridade
Descrição Frequência %
Ensino Fundamental 4 40
Ensino Médio 5 50
Ensino Superior 1 10
Total 10 100
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
O baixo nível de escolaridade dos funcionários não é prerrogativa exclusiva desse
empreendimento. Teixeira (2006, p. 109) identificou que “a baixa escolaridade dos
139
empregados pode ser destacada como o maior desafio da gestão de pessoas nas empresas de
pequeno porte do setor hoteleiro em Sergipe”, realidade esta que, acredita-se, retrata uma
característica desse setor. No entanto, aos poucos, essa situação está sendo revertida; no
próprio empreendimento pesquisado, o nível de escolaridade é maior nas contratações mais
recentes, resultado decorrente do aumento da escolaridade da população, de maneira geral.
A média de tempo que os colaboradores exercem atividades no estabelecimento é de
quatro anos, destacando-se que 60% deles estão na empresa há menos de cinco anos, como se
apresenta na Tabela 3.
Tabela 3: Tempo que trabalha no hotel
Descrição Frequência %
Até 1 ano 2 20
De 1 ano e 1 mês a 5 anos 4 40
De 5 anos e 1 mês a 10 anos 2 20
De 10 anos e 1 mês a 15 anos 1 10
De 15 anos e 1 mês a 20 anos 0 0
Acima de 20 anos 1 10
Total 10 100
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Destaca-se que o chefe da recepção, embora trabalhe no hotel 23 anos,
desempenha suas funções como encarregado da recepção apenas desde junho de 2008. Na
percepção dos funcionários, a decisão de escolher um encarregado do setor e inclusive a
indicação do nome dessa pessoa foi influenciada por uma consultoria realizada no hotel.
Entretanto, o diretor 2 explica que isso aconteceu por acaso, uma vez que a direção havia
decido colocar novamente um chefe no setor:
Não, não. Ele identificou a necessidade de ter o encarregado, que na época até nós
ia, eu e o [nome do diretor 1] já estava com a ideia de colocação, então, foi assim
como uma casualidade, que ali daí foi definido ele como encarregado, na época que
estava sendo feita a consultoria. [...] Mas de qualquer maneira foi uma casualidade
estar ali o consultor. (D2)
Identificou-se na empresa que existe uma preocupação em, quando possível,
aproveitar os recursos humanos disponíveis, representado por dois mensageiros que na
atualidade são recepcionistas e por um porteiro que passou a auxiliar de recepção e depois foi
promovido a recepcionista. Os funcionários sentem-se valorizados: “Sou prata da casa, que
nem diz o outro” (R7).
140
Com relação ao tempo em que desenvolvem atividades em estabelecimentos
hoteleiros, na Tabela 4, verifica-se que esse grupo de funcionários trabalhou em
estabelecimentos hoteleiros anteriormente, evidenciando que possuem experiência prática nas
atividades desempenhadas.
Tabela 4: Tempo que trabalha na hotelaria
Descrição Frequência %
Até 5 anos 4 40
De 5 anos e 1 mês a 10 anos 1 10
De 10 anos e 1 mês a 15 anos 1 10
De 15 anos e 1 mês a 20 anos 0 0
Acima de 20 anos 4 40
Total 10 100
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
A contratação de funcionários com experiência não é mera coincidência nesse
empreendimento, é uma opção da diretoria:
Então isso varia muito... e dificilmente agente coloca pessoas sem experiência na
hotelaria para trabalhar ali, normalmente eles já vêm de alguma experiência anterior
em hotelaria, daí esse vel de experiência que vai determinar o período de
adaptação pra rotina de do hotel, que poderá ter mais ou menos, o tempo da
adaptação. Normalmente a gente prefere. Porque daí é mais fácil o aprendizado, se
torna mais rápido, do que uma pessoa que não conhece nada ele fica bem mais
complicado, essa rotina. Até porque é comum uma rotatividade, as pessoas
trabalham em recepção entre os hotéis. Até, a gente tem uma pessoa que vai ser
admitida já na próxima semana, e ele vem com experiência de trabalhar 3 ou 4
anos em hotéis em Porto Alegre. (D2)
Quanto à escolha da hotelaria como profissão, os dez entrevistados disseram que
trabalham na hotelaria primeiramente porque tiveram nesse ambiente uma oportunidade de
emprego. No entanto, esse não é o único motivo pelo qual começaram a atuar na hotelaria.
Três pessoas, entre os entrevistados, associaram essa oportunidade de emprego à indicação de
outros (amigos ou parentes), duas pessoas, porque aliam ao serviço o conhecimento de uma
ou mais nguas estrangeiras e duas, decorrente de formação na área, sendo uma em nível
técnico e outra em nível superior. Esses dados podem ser observados na Tabela 5:
Tabela 5: Escolha da hotelaria como profissão
Descrição Frequência %
Oportunidade de emprego 10 100
Indicação de amigos ou parentes 3 30
Conhecimento de língua estrangeira 2 20
Formação na área 2 20
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
141
Ressalta-se, ainda, que dois recepcionistas destacaram que “eles foram escolhidos pela
hotelaria”, uma vez que as oportunidades profissionais que aparecem sempre estão atreladas a
essa área de atuação.
Paralelamente ao grupo formado pelos recepcionistas e auxiliares, foi entrevistado um
segundo grupo composto por dois mensageiros, um encarregado de reservas e eventos e um
controlista geral. A opção pela observação desse segundo grupo ocorreu pelo fato deles terem
suas atividades diretamente ligadas à recepção; as atividades de um grupo influenciam as
atividades do outro.
No segundo grupo observado, tem-se também a predominância de indivíduos do sexo
masculino (75%). A faixa etária do grupo apresenta-se com uma média de 35,5 anos de idade.
Eentre estes, destaca-se a idade superior a 30 anos, predominante em 75% do grupo, como
observado na Tabela 6.
Tabela 6: Faixa etária do segundo grupo
Descriçã Frequência %
De 18 a 24 anos 0 0
De 25 a 29 anos 1 25
De 30 a 39 anos 2 50
De 40 a 49 anos 1 25
Acima de 50 anos 0 0
Total 4 100
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Com relação ao grau de escolaridade, apenas um integrante desse grupo possui curso
superior completo. Os demais possuem nível médio completo, e um destes está concluindo o
curso de hotelaria em nível superior.
Com referência ao tempo em que desenvolvem atividades em estabelecimentos
hoteleiros, observa-se que 75% atuam no setor mais de 5 anos. Na Tabela 7 apresenta-se a
distribuição de tempo por colaborador.
Tabela 7: Tempo de hotelaria do segundo grupo
Descrição Frequência %
Até 5 anos 1 25
De 5 anos e 1 mês a 10 anos 1 25
De 10 anos e 1 mês a 15 anos 1 25
De 15 anos e 1 mês a 20 anos 1 25
Acima de 20 anos 0 0
Total 4 100
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
142
O tempo que eles atuam na hotelaria praticamente se equivale ao tempo em que o
grupo observado exerce suas atividades no estabelecimento, pois apenas um integrante do
segundo grupo pesquisado exerceu atividades em outros hotéis antes de trabalhar no
empreendimento pesquisado.
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
As informações, que tiveram origem nos dados levantados durante o trabalho de
campo, serão apresentadas conforme a seguinte legenda:
R
(1 a 7) Identificando as informações coletadas nas entrevistas realizadas com os
recepcionistas do hotel e o encarregado da recepção.
AR
(1 a 3) Identificando as informações coletadas nas entrevistas realizadas com os
auxiliares da recepção.
M
(1 e 2) Identificando as informações coletadas nas entrevistas realizadas com os
mensageiros.
D
(1 e 2) Identificando as informações coletadas nas entrevistas realizadas com os
diretores.
E
(1 e 2) Identificando as informações coletadas nas entrevistas realizadas com o
controlista geral e o encarregado por reservas, eventos e hospedagem.
OP
Representando as informações oriundas da observação participante.
AD
Representando as informações oriundas da análise de documentos.
O relato dos resultados sobre o trabalho no setor da recepção e seu aprendizado será
dividido em seis partes. Na primeira, apresentam-se as atividades desempenhadas na
recepção, explicando o que os recepcionistas e auxiliares realizam e como percebem as
atividades rotineiras do setor. Na segunda parte preocupa-se em explicar como ocorre o
aprendizado das atividades desempenhadas pelos funcionários do espaço da recepção. Na
terceira, procura-se compreender a associação existente entre aprendizagem e mudança,
seguida pela quarta parte, em que se busca analisar como são resolvidos os problemas do dia-
a-dia existentes no setor. Na quinta parte, procura-se entender como acontece a comunicação
e a forma como ela interfere na aprendizagem. Encerrando-se a análise, na sexta parte,
abordam-se as expectativas do empreendimento em relação a esses profissionais, assim como
as expectativas profissionais dos recepcionistas e auxiliares de recepção. Cada um desses
aspectos será descrito a seguir, integrando os resultados decorrentes das entrevistas, da
observação participante e dos documentos, quando necessário.
Como um dos objetivos deste trabalho é compreender como os indivíduos (chefes da
recepção e recepcionistas) aprendem (no nível individual e grupal) o trabalho desenvolvido no
espaço da “recepção de um hotel”, é importante explicitar que se compreende como “espaço
144
da recepção” aquele usualmente caracterizado por “atrás do balcão”. Portanto, nesta pesquisa,
o foco de estudo e análises centraliza-se nos recepcionistas e seus auxiliares, e as outras
entrevistas realizadas contribuem para entender o trabalho nuclear da recepção, que acontece
no espaço “atrás do balcão”.
5.1 O QUE OS RECEPCIONISTAS E AUXILIARES DA RECEPÇÃO FAZEM
Decidiu-se neste item discorrer a respeito dos resultados encontrados com base nas
entrevistas realizadas com recepcionistas e auxiliares de recepção, pois foi detectado nas
entrevistas e na observação de campo que, no cotidiano do trabalho, eles realizam
praticamente as mesmas tarefas técnicas e têm acesso às mesmas informações. A diferença
entre as duas funções ocorre fundamentalmente pelo check in e check out, e que este último
nunca é realizado pelos auxiliares; as demais diferenças estão relacionadas à divisão e
centralização das tarefas nos dois espaços físicos, no entanto podem ser realizadas tanto por
uma quanto por outra recepção, embora acabem sendo centralizadas em uma delas. Antes,
porém, de descrever o que os funcionários do espaço da recepção fazem, é crucial
compreender como acontece a integração e quais são as diferenças existentes entre as duas
recepções que fazem parte do empreendimento analisado.
É visível que a decisão da diretoria alterou a estrutura de trabalho e, em especial, a
rotina das atividades no setor. A mudança em relação às duas recepções ocorreu em razão de
retrações constatadas no mercado que, como consequência, impulsionaram a reestruturação na
empresa com a finalidade de reduzir o número de funcionários. Por volta de janeiro de 2007, a
diretoria decidiu, como um período de experiência, centralizar as atividades de check in e
check out para ambos os empreendimentos na recepção do Três Estrelas, que fica em frente à
rodoviária. A principal diferença quanto aos cargos existentes nos dois ambientes representou
a extinção do cargo de telefonista, que foi substituído pelo auxiliar de recepção que
desenvolve a função de telefonia aliada a alguns procedimentos da recepção, como
atendimento ao hóspede e controle das chaves.
Como a média anual da taxa de ocupação em geral não justificava o empreendimento
possuir toda estrutura funcionando, é de se supor que, como fazem algumas indústrias, a
145
estratégia de diminuir o quadro de funcionários seja adequada para responder à demanda de
mercado, como também acredita o entrevistado E1:
Porque eu acho assim que em épocas de baixa como a gente está agora, não tem
necessidade de duas recepções porque uma recepção vai ficar parada, não adianta. E
normalmente, a recepção de trás, porque normalmente a pessoa entra pela frente e já
recebe a informação, ela não vai perguntar de novo atrás. Então, eu para mim,
uma pessoa para atender telefone em época de baixa para entregar uma chave,
mais do que tranquilo. Então, eu acho que está ótimo assim e a informação ficou
concentrada aqui na frente, para mim está perfeito. (E1)
Ressalta-se que a decisão de unificar os procedimentos, centralizando-os em uma das
recepções, foi uma escolha da diretoria e, por esse motivo, não cabe ao escopo deste trabalho
analisar se o resultado é, ou não, válido para o empreendimento. Entretanto, é importante
compreender como os funcionários que trabalham nesse setor percebem a diferença nas
atividades desempenhadas entre as duas recepções e como ocorre comunicação e troca de
informações entre os dois espaços físicos.
Segundo um dos diretores, não diferença na contratação entre os recepcionistas dos
dois hotéis, nem mesmo diferença salarial entre eles. Essa informação, no entanto, não foi
confirmada pela responsável por recursos humanos que explicou que eles são contratados
como auxiliares de recepção e têm salário diferenciado dos recepcionistas.
Entre a direção, as informações prestadas foram um pouco dissonantes, um considera
que a recepção do Quatro Estrelas acaba servindo como um “estágio inicial” para aqueles que
desejam trabalhar na recepção: “então está se usando mais como um estágio inicial daqueles
que estão entrando, ou promoção! Agora até nós estamos com processos de... de promoção de
um mensageiro para a recepção, ele está iniciando lá.”
(D2)
Enquanto o outro diretor identifica a dificuldade de fazer com que os funcionários
desenvolvam suas atribuições no hotel Quatro Estrelas:
Que essas nossas duas recepções muitas vezes dá problema. Claro que quem vai
pra traz nunca quer ir, e os que estão atrás às vezes quando vem aqui pra frente
não tem o treinamento necessário para estar aqui na frente que é aonde capta, aonde
é o movimento. Então, muitas vezes, existe um certo boicote que a gente tem que
estar sempre em cima para que não haja este boicote. É, tem que impor, tem que
impor mesmo. Fazer com que os mais velhos também vão pros fundos, pro hotel
onde... não tenha tanto movimento, que sirva mais como telefonista também... que
capte as ligações, mas é, hoje em dia, tem que ser multi... funcionário...
multifuncional, senão tá fora... não adianta. Fazer o quê. (D1)
146
De fato, essa “diferença” entre as recepções é clara para o grupo de funcionários, de tal
forma que aqueles que desempenham a função na recepção principal, do hotel Três Estrelas,
consideram-se em destaque ao se comparar com os colegas da recepção do hotel Quatro
Estrelas: “lá ele fica atrás da cortina, aqui ele fica na frente da cortina. Aqui ele está no teatro,
ele está em cima do palco e lá ele está atrás.” (R6)
Chegando até mesmo a desconsiderar a recepção do Três Estrelas como parte do
“hotel”, como destacou o recepcionista 3, ao explicar sobre o atendimento das ligações
telefônicas: “Não, caem tanto pra outra quanto pra nós no hotel” (R3).
A dificuldade de fazer com que os funcionários desempenhem suas tarefas na recepção
do Quatro Estrelas, como pontuado pelo diretor 1, não foi identificado no depoimento dos
entrevistados nem na observação participante porque, no momento, existem três funcionários
que atuam exclusivamente naquele setor. Porém, essa dificuldade de fazer com que os
funcionários mais velhos “cubram” as folgas dos colegas “lá atrás”, como especificou o D1,
de fato ocorre mesmo antes do hotel centralizar as atividades na recepção no Três Estrelas,
como destacou o R4: “trabalhei lá, fiquei fixo lá. Era rodízio, mas aí, ninguém quis rodízio, eu
disse: ‘Não, deixa que eu assumo’”.
Acredita-se que essa situação deve representar um problema recorrente para a gestão
de pessoas do setor sempre que houver a necessidade de alterações no quadro de funcionários.
Da mesma forma que a alteração nos processos da recepção provocaram impactos para os
funcionários, os hóspedes também sentiram os impactos negativos das mudanças, segundo a
percepção dos funcionários:
Mas nessa divisão de atender aqui... ele acha que não, mas perderam muito
cliente. Muito cliente não gosta de chegar... entrar pela garagem e vir aqui preencher
ficha, e voltar e pegar a chave e subir. Tem muito cliente que não gosta. Antes
funcionava lá, o cliente ia lá, pagava a conta lá, tinha o mensageiro lá, o mensageiro
daqui, conduzia até a porta de lá e o outro tinha que encontrar no caminho. (R4)
E alguns hóspedes continuam reclamando dessa situação:
Olha, ele não funciona muito bem. Funciona, mas não é muito bem, porque tem
hóspede que o quer vir aqui na frente fechar a conta. Têm outros que não querem
vir fazer o check in também. Chegam na recepção: “Eu não vou na frente!” Aí, é
um pouco complicado, porque eles sabem... Às vezes, chega hóspede: “Eu não tenho
reserva e não vou lá na frente também!” (risos) E aí? (AR3)
147
Todavia, aos poucos, a mudança acabou sendo “absorvida” pelos hóspedes: é,
reclamaram no começo. Até perderam hóspedes por causa disso, mas hoje estão
acostumados. (R2)
E também pelos funcionários, como demonstrado no Quadro 15:
Quadro 15: Percepção sobre a forma de funcionamento atual das duas recepções
Descrição Entrevistados
Estão acostumados com a divisão R2, R3, R7, AR1
Funciona, mas com alguns problemas R4, R5, R6, AR3
Funciona bem R1, MI, E1
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Embora tenham assimilado a nova rotina, os funcionários
R4, R5, R6 e AR3
reconhecem
que alguns problemas que acontecem na recepção têm como origem a distribuição das
atividades entre as recepções, especialmente nos momentos de check out:
Olha, eu acredito que no nosso horário não traz grandes transtornos, entendeu. Mas,
eu acredito que no horário da manhã, no check out traz problemas. Acumula muitas
pessoas na recepção para atender a saída de dois hotéis... e quando a gente está com
uma ocupação de lotação máxima gira em torno de 350 a 400 pessoas, depende
muito da ocupação do interior do apartamento, entendeu, uma, duas ou três pessoas
dentro do apartamento. Mas, gira em torno, uma média de 350 a 400 pessoas. Então,
em um determinado dia ou dentro de cada dia, tipo uma Expointer da vida, é alto
rotativo, rotação é altíssima, entendeu. Então, chega um momento na recepção que
há um acúmulo de pessoas no check out e nem material humano resolve isso. (R6)
Dos três funcionários que disseram que essa divisão funciona bem (R1, M1, E1), dois
não conheceram como era o processo antes da alteração. A fala dos três, no entanto, evidencia
a melhoria no desempenho das atividades, tanto pela concentração da informação em um local
somente quanto pela especialização das atividades, ou seja, cada recepção desempenhando
tarefas específicas:
Não! Hotéis distintos, recepções distintas, mas aí também, era um fluxo muito
grande de ligações entrando. , atrapalhava tudo. Assim, eles localizaram a
telefonia numa, check in e recepção mesmo na outra, e eu acho bem mais fácil,
pelo... fluxo que tem aqui, porque em outro local a gente trabalhava assim... Era a
recepção e a telefonia tudo junto, então, às vezes, o balcão estava cheio lá e tinha
uma pessoa perdendo tempo com alguém na ligação e tal, sem falar que tira a tua
atenção, você está ligado, querendo sabe... Ver o que está acontecendo no balcão.
Eu acho que funciona muito bem assim. (R1)
148
Quanto à percepção sobre a possibilidade dos auxiliares de recepção desempenharem
as atividades dos recepcionistas, identifica-se que os recepcionistas estão divididos: três
acreditam que eles não estão preparados para assumir essa tarefa e três acreditam que sim,
embora dois destaquem que, para tanto, será necessário treinamento. Essa situação pode ser
observada no Quadro 16:
Quadro 16: Percepção sobre os auxiliares de recepção desempenhar as atividades dos recepcionistas
Descrição Entrevistados
Não estão preparados R1, R4, R6
Estão preparados R2, AR3
Precisam de treinamento R5, R7, AR1, AR2
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
No entanto, os próprios auxiliares acreditam que têm condições de desempenhar as
tarefas da recepção, embora dois deles também comentem a necessidade de treinamento para
“pegar o ritmo” do trabalho.
Observando-se as entrevistas com os recepcionistas e auxiliares de recepção,
identificou-se que as atribuições das duas recepções podem ser resumidas nas seguintes
tarefas: repasse das informações na troca de turno; conferência do caixa; confirmação dos
check outs que faltam ser realizados; verificação da previsão de check in; elaboração da
previsão de números para o café da manhã; conferência do registro de ocorrências; impressão
de relatórios; efetivação dos lançamentos de comandas e notas; lançamento do cadastro dos
hóspedes; verificação das chaves; atendimento de telefone; anotações de chamadas de
despertar; realização do despertar dos hóspedes; atendimento aos hóspedes nas solicitações
internas.
Além dos aspectos relatados nas falas dos entrevistados, foi também identificado no
Manual de Normas e Procedimentos da Recepção as seguintes tarefas: efetivação de reservas
quando o setor comercial estiver fechado; prestar informações aos hóspedes referentes a
restaurantes e shoppings; efetivar os check in e negociar os walk in (termos técnicos utilizados
para designar o registro e acomodação dos hóspedes com e sem reserva, respectivamente);
identificação de hóspedes cuja soma dos valores da diária e consumo requerem cobrança
antecipada por ultrapassar o valor estabelecido pelo hotel para fechamento das contas;
conferência e verificação da organização do hall da recepção, bar e business center; revisão
do cadastro de hóspedes; identificação de hóspedes VIP e display enviados.
149
continua
Das tarefas enunciadas no Manual, somente um entrevistado (R7) destacou que os
recepcionistas “recebem as contas” do hotel. Nenhum entrevistado do setor destacou como
atividade da recepção a realização do check out (termo técnico que representa o encerramento
da conta e pagamento, ou faturamento, dos débitos, relativos à saída dos hóspedes do hotel).
Os funcionários do nível gerencial E2 e D2 comentaram que o check out faz parte das
atividades a serem realizadas no setor, embora no Manual apareça apenas parte desse
processo: “fechando as contas das unidades habitacionais, sempre solicitando o consumo do
minibar à camareira” (AD). É importante notar, que essa descrição não abrange a cobrança do
hóspede e, o que é mais importante, a verificação da satisfação dos clientes com os serviços
prestados, mesmo que de maneira informal e rápida, que o check out requer muita
agilidade.
Embora tais atividades se refiram ao setor em sua totalidade, acabam sendo
predominantes em alguns turnos por dois motivos fundamentais. O primeiro decorrente das
especificidades dos turnos de trabalho, que o período da manhã realiza mais check out,
enquanto no turno da tarde usualmente acontece o check in e, durante a madrugada, ambas
atividades acontecem, mas com menor incidência. Assim, nesses períodos de menor
movimento aproveita-se o tempo para auditoria, lançamento de cadastro de hóspedes e
cuidados com a segurança. A segunda explicação para a predominância de algumas atividades
entre os turnos refere-se às diferenças específicas entre as duas recepções existentes no hotel,
em virtude da forma como as atividades foram distribuídas nos dois espaços físicos. Sendo
assim, observa-se que as atividades, mesmo fazendo parte da rotina da recepção, acabam
sendo desenvolvidas com maior ênfase por alguns grupos de funcionários, como se pode
observar no Quadro 17:
Quadro 17: Atividades realizadas na recepção do hotel
Atividades
Recepcionistas Auxiliares de recepção
Manhã Tarde Noite Manhã Tarde Noite
Repassar informações na troca de turnos
Atender solicitações internas dos hóspedes
Prestar informações aos hóspedes referentes a
restaurantes e shoppings
Conferir registros de ocorrências
Realizar check in e walk in
Efetuar reservas quando o setor comercial estiver
fechado
Realizar check out
Verificar hóspedes para check in
Confirmar check outs que faltam
Elaborar previsão para o café da man
150
conclusão
Atividades
Recepcionistas Auxiliares de recepção
Manhã Tarde Noite Manhã Tarde Noite
Emitir e verificar relatório das contas altas para serem
cobradas
Imprimir relatórios
Realizar lançamentos de consumos
Lançar cadastro dos hóspedes
Verificar e controlar as chaves
Atender telefones
Anotar chamadas de despertar
Realizar chamadas de despertar
Verificar a organização do hall da recepção, bar e
business Center
Revisar o cadastro de hóspedes e cadastrar os hóspedes
que não foram cadastrados
Verificar os VIP e display enviados
Nota: cinza representando sempre, laranja para ocasionalmente e branco para raramente.
Fonte: elaborado com base nas entrevistas, na análise de documentos e na observação participante.
Esse quadro serve como uma referência para evidenciar as principais atividades
realizadas pelas pessoas quando exercem as tarefas rotineiras das recepções dos hotéis Quatro
e Três Estrelas pesquisados. Essa divisão das atividades, que ocorre naturalmente pelo fluxo
de demanda dos serviços, acaba fazendo com que os funcionários adquiram sua experiência
prática por meio de aprendizagens informais e, portanto, utilizem o conhecimento resultante
dessa aprendizagem experiencial para realizar suas atividades que assumem características
específicas em virtude do local onde são realizadas, como demonstra a fala dos recepcionistas
2 e 4:
É o melhor, se me botassem a trabalhar durante o dia, acho que eu não ia saber. É...
os costumes de um turno pra outro mudam, mas a rotina é a mesma, mas cada um
tem uma maneira. (R2)
Tem colega, que se eu... que se eu trouxer pra outro turno, ele não consegue dar
conta do serviço. Porque está acostumado num ritmo de trabalho, lento, e nosso
ritmo é diferente. deu caso de colega vir tirar folga do outro e o... não dar
conta! (R4)
As atividades realizadas pelos funcionários da recepção do hotel Três Estrelas,
identificados como recepcionistas, englobam todas as tarefas básicas de uma recepção sem,
no entanto, incorporar as atividades de telefonia que, muitas vezes, também fazem parte das
atribuições dos recepcionistas dos hotéis.
no hotel Quatro Estrelas, os auxiliares de recepção incorporam às suas tarefas
básicas o atendimento da central telefônica dos dois hotéis, o atendimento aos hóspedes, a
entrega e conferência de chaves, a efetivação de reservas fora do horário comercial e as
atribuições relativas ao despertar dos hóspedes. Ocasionalmente, esses profissionais também
151
realizam check in. No caso das folgas dos funcionários, são sempre os recepcionistas do Três
Estrelas que se organizam para realizar também as atividades no hotel Quatro Estrelas; os
auxiliares de recepção trabalham excepcionalmente no Três Estrelas, alguns por não desejar
mudar de recepção, pois acreditam que o trabalho é mais calmo onde estão habituados, outros
por falta de oportunidade.
Embora as atividades desenvolvidas pelos recepcionistas e auxiliares sejam as mesmas
no setor da recepção, percebe-se que existem maneiras diferentes das tarefas serem realizadas
pelos indivíduos, sem orientação sobre os procedimentos nem reflexão sobre as escolhas e
atitudes tomadas pelo grupo. O discurso do AR3 representa bem a ausência de diálogo:
Olha, até hoje ninguém me deu uma orientação. Ninguém me diz: “Oh, a prioridade
é o hóspede, a prioridade é o telefone!”, ninguém me dá, até hoje eu não sei. Eu
procuro, na medida do possível, ser o mais rápida possível. Ó... uma vez, que o hotel
estava lotado, e teve uma turma que subiu lá na piscina, no 10º andar. E eles ficaram
bebendo e depois desceram todos de bermuda, assim, sem camisa. Eram em cinco
pessoas. , eu liguei e pedi pra chamar a segurança, daí eles voltaram pro
apartamento. Não foi uma confusão... mas, como é que tu vai tratar na recepção,
com homens ali de bermuda, sem camisa, é estranho. É, , como eu estava atrás
do balcão e tinha mais hóspedes pra mim atender... Aí, foi que eu liguei pra frente, o
segurança foi lá. É, é mais uma percepção minha... porque acho que... se eu chegar
num hotel, e ver assim... vai dar uma má impressão, porque a recepção é o cartão de
visita (AR3)
A ausência de diálogo e de consequente compartilhamento das estruturas de
significados privadas, como sugere Dixon (1999), faz com que cada funcionário desenvolva a
sua maneira de trabalhar, estruturando diferentes formas de desempenhar suas atividades, tais
como: organizar-se para satisfazer o hóspede e se prevenir sobre possíveis problemas, como
explicaram os recepcionistas 4 e 5:
Então, eu tenho esse hábito de ler as reservas, e eu faço a previsão de apartamentos,
quantos vai dar no dia, a ocupação que vai ter, e aí eu já me preparo, e fico
aguardando chegar os clientes. Algum que tenha que pôr berço, eu já peço o berço
antecipado, ou é um conjugado, que eu sei que tem que por cama. Que tem... o
quarto de casal tem ar-condicionado e outro tem o ventilador. Se eu tenho as
reservas, já peço pra camareira, ligar o ar-condicionado, ou ligar o ventilador,
porque hoje mesmo ocorram três casos assim. Porque a gente... na verdade, todos
são certos, todo mundo trabalha certo. Sabe... cada um sabe o seu serviço (R4)
Eu puxo a listagem do hotel, pra saber o que que está em funcionamento no hotel,
tipo reservas que está pra chegar, cobranças que estão pra ser feitas, apartamentos
que estão ocupados. Por quê? Eu sempre sou muito precavido eu tenho... porque,
às vezes, cai o sistema, então, pode cair o sistema agora – eu tenho todas as listagens
ali, cobranças que estão por ser feitas, apartamentos que estão ocupados,
apartamentos que estão liberados, porque eu sofri isso na pele: uma vez eu estava
aqui, caiu o sistema e eu não sabia qual era o apartamento que estava ocupado,
porque cai o sistema, cai tudo! Então, tendo essa listagem, tu sabes... eu posso
152
vender, continuar vendendo os apartamentos normalmente, porque eu tenha a
listagem: “Olha, esse apartamento está desocupado!”. Depois eu lanço, quando o
sistema se restabelecer, e pronto. [...] Eu diria que não, porque tem o procedimento
do hotel em si, e o procedimento de cada pessoa... cada pessoa tem uma maneira por
exemplo, de abordar um hóspede, um cliente. Então isso varia muito, tu não tem
assim, uma definição: “Oh, tem que ser assim!” porque somos humanos, estão todos
no caminho, no mesmo trilho, então, é difícil. É daí, é o procedimento, como eu
falei, chega ali, e o que está acontecendo no ambiente, nós temos uma agenda,
que nós anotamos tudo. Depois... cada um, é como eu te falei, tem pessoas que
puxam o relatório, e tem outros que não puxam. Cada um vai de si. (R5)
Analisando a maneira como os recepcionistas executam seu trabalho, pode-se afirmar
que essa situação desenvolve apenas a aprendizagem fragmentada, como sugere Kim (1993),
pois o indivíduo aprende, mas o grupo não. Aparentemente, isso não representa um problema
para a organização, uma vez que se identifica uma forma de “melhoria”, entretanto não
contribui em nada para estimular a aprendizagem no grupo de trabalho da recepção.
Existe também um conjunto de tarefas que estão descritas no Manual de Normas e
Procedimentos do hotel e que, embora tenham feito parte de um treinamento realizado por
uma consultoria em todos os setores do hotel, no caso da recepção, essas atividades aparecem
somente na descrição e não foram observadas durante o período em que a observação
participante foi realizada. É importante esclarecer aqui que esse Manual foi elaborado por um
consultor que ofereceu seus serviços ao hotel. Em maio de 2008, iniciou-se a consultoria para
todos os setores e funcionários do empreendimento; essa atividade foi realizada ao longo de
três meses.
As tarefas que aparecem no Manual e que, no entanto, não foram observadas referem-
se à: conferência e verificação da organização do hall da recepção, bar e business center;
revisão do cadastro de hóspedes; identificação de hóspedes VIP e display enviados. Isso não
significa, por exemplo, que o hall da recepção e o business center não estivessem organizados
durante o período em que a observação participante aconteceu, mas mostra que essa tarefa,
particularmente, não era reconhecida como sendo uma atividade de responsabilidade desses
funcionários. Quanto à identificação de hóspedes VIP e display enviados, no período em que
foi realizada a observação participante, nenhum desses casos aconteceram e, como também
não foram relatados nas entrevistas, julgou-se que sejam procedimentos esporádicos. A
revisão do cadastro dos hóspedes, todavia, de fato não é feita, sendo esse, inclusive, um
aspecto que será comentado no item 5.5
Referindo-se também à organização como tarefa dos recepcionistas, o documento
fornecido pelo hotel para análise, o Manual de Normas e Procedimentos da Recepção,
especifica que a organização do bar é também uma atribuição dos recepcionistas. O bar,
153
entretanto, tem um funcionário e, além disso, fica entre as duas recepções e não está “ao
alcance” dos olhares desses funcionários, o que dificultaria sobremaneira a supervisão desse
setor. Além do mais, na hierarquia do hotel, em momento algum, tanto pelos recepcionistas
quanto pelos superiores, o setor de alimentos e bebidas (A&B) foi atrelado à recepção.
O Manual desenvolvido pela consultoria apresenta também o check list das atividades
a serem feitas pelos funcionários da recepção. Contudo, quando questionados sobre a
descrição dos procedimentos da recepção, alguns funcionários tentam explicar que existe um
documento com essa finalidade (R7 e E2) e é aplicado (R3), como evidencia a seguinte fala:
Ah, a gente tem o... cada um tem... recebeu o... o polígrafo, com o regulamento. [...]
Sim, não cada um quando entra recebe, o funcionário novo já recebe o polígrafo.
Inclusive o manual de primeiros socorros a gente recebe. Tem área de segurança
também. [...] Lógico, lógico, tem que seguir as regras de... de... de cada atividade,
desde que o hóspede chega, o atendimento é assim, o atendimento telefone: “Nome
do hotel, nome do recepcionista bom-dia” tem todo um padrão do hotel, que é
associados à rede e tal fazendo reserva, tem que dar outras informações, como
funciona um hotel pro hóspede, no balcão, na entrada; muita gente não consegue.
Mas tem, está no regulamento; é o praxe de... nem que seja acelerar um pouquinho a
palavra. (R3)
Embora o recepcionista 3 tenha identificado a existência do documento, ele evidenciou
que muitas pessoas não conseguem cumprir o que foi descrito como atividades da recepção.
Dos funcionários da recepção, seis disseram que não existe um Manual que explica os
procedimentos que devem ser observados na recepção do hotel. Outro recepcionista disse que
o documento existe, mas que não lembrava seu conteúdo: “vou ter que lembrar agora! (risos)
Quer que eu pegue uma, pelo menos, pra gente ir acompanhando? (R7)
O recepcionista 1, no entanto, foi mais claro quanto ao documento:
Tem um manual, ah... foi contratado um consultor e ele fez pra todos os setores. Não
funciona! Foram os chefes de setores que passaram pro consultor e ele... e ele foi
moldando. E a gente teve um curso, cada setor, de uma semana, com o consultor.
Pra ele... ele leu todo o procedimento, explicou... Não pediu, no caso, ele deu a
receita pronta e a gente foi discutindo, não teve alterações depois. (R1)
Nesse caso, em específico na recepção, o Manual foi elaborado pela consultoria
realizada em 2008. O consultor pegou um material que havia sido estruturado para outro
empreendimento e entregou para que duas pessoas do setor fizessem a “revisão e adequação”
do conteúdo para a realidade do hotel. Nesse momento, perdeu-se a oportunidade de
desenvolver um riquíssimo processo de identificar as teorias da ação, observando o que
sugerem Argyris e Schön (1996), compartilhando informações para formar as estruturas de
154
significado coletivas da recepção, como sugere Dixon (1999). Nem mesmo o repasse das
informações sobre o resultado da consultoria parece ter sido adequadamente realizado:
Porque teve um senhor fazendo um trabalho junto com o hotel e ficou um tempo
dentro do hotel. Tipo qualidade total, essas coisas assim e ali eu acredito que deve
ter saído alguma coisa boa dali. (R6)
A consultoria, entretanto, provocou alterações e melhorias no empreendimento na
percepção do recepcionista 5:
Foi, foi interessante, porque nós tivemos a oportunidade de repassar o que estava
acontecendo no hotel, que, como eu te disse, estava muito a bangu e tal. eles
tiveram mais ou menos assim, uma noção do que que a gente pensava.
No geral, identifica-se que a elaboração do Manual de Normas e Procedimentos da
Recepção não foi suficientemente debatido entre os funcionários para que gerasse
aprendizado e consequente desenvolvimento de novas ações no grupo de trabalho. Essa
percepção é consonante com a visão da diretoria:
Bom, a gente tem a rotina de recepção, que até ela foi aprimorada no ano passado, a
gente fez um trabalho com um consultor durante três meses, não sei se devem ter
comentado contigo... Sobre todos os processos do hotel, e depois foi feito um
treinamento do processo. Então tem processos do mensageiro, do recepcionista, do
pessoal de reservas, então se passa esse manual, foi criado um manual, pra essas
pessoas, e depois é feito um treinamento com os colegas, vão passando detalhes da
operação do hotel. Melhorou por que foi debatido mais as rotinas, aprimorada as
rotinas, então as pessoas têm agora documentado isso aí, o que é que tem que fazer,
como é que tem que fazer. Em parte, é que faltou, como foi documentado pelo
consultor, todo o processo, eu acho que faltou uma segunda etapa mais forte, na área
de treinamento. Isso acho que... acho que faltou nessa consultoria, pra daí ter um
resultado melhor, inclusive tendo um acompanhamento de índices de eficiência para
que agente possa medir assim o processo. Então assim foi implementado, está lá.
Mas não está sendo... aqueles que querem adotar adotam mais e os outros não... não.
(D2)
Considerando-se a alta média de tempo que o grupo pesquisado atua na hotelaria, pois
50% do grupo trabalha em equipamentos hoteleiros mais de 10 anos, acreditou-se ser
pertinente compreender também as alterações que aconteceram nesse setor ao longo do
tempo. Quando questionados sobre as mudanças, ou seja, sobre as alterações das atividades
ocorridas ao longo do tempo, todos os funcionários disseram que não houve mudanças
significativas nas rotinas diárias. Os quatro funcionários que trabalham na hotelaria menos
de 6 anos destacaram que os procedimentos, no geral, são iguais em qualquer hotel:
155
Não, tudo resumido igual. Vai dar check in, vai dar check out, vai tratar bem, você
vai falar do hotel, tu vai conduzir. Todos os hotéis são os mesmos procedimentos
gerais, tudo igual. (AR2)
Dos quatro recepcionistas que trabalham em hotéis mais de 20 anos, somente um
comentou que a informatização foi uma mudança significativa para o setor, destacando,
inclusive, que ela implicou a diminuição no número de recepcionistas:
Não. O que mudou desses anos que eu estou de Recepcionista o sistema de
informática, que era... Como é que eu vou te dizer, como é que foi? Ah, foi muito
melhor, “Bah, louco!”. Antes tinha que lançar item por item, fatura por fatura,
diária por diária, bater lista por lista, de todos os hóspedes, na máquina. “Bah”, era
muito mais... era muito mais... tinha muito mais funcionários na recepção. (R7)
Os outros 3 funcionários somente comentaram sobre a informatização quando foram
questionados sobre o assunto, evidenciando que não percebem essa ferramenta como uma
alteração nas rotinas do setor, como explicou o recepcionista 6:
Olha, eu vou te falar, não houve mudança assim. Eu pensei que... eu esperava mais
mudanças entendeu, até porque substituía muito o papel. Mas, na realidade o papel é
insubstituível. É, ele ajuda eu vou dizer, eu não vou dizer que é supérfluo, posso tirar
ele: não, também não é assim. Mas toda a rotina que era feita, ele na realidade, o
computador substituiu a extinta máquina de escrever. Então, o que a gente faz hoje
aqui, isso aqui era a máquina de escrever só que é impresso no papel e aqui sai
futuramente quando tu manda imprimir, é a mesma coisa. Ele facilitou a impressão
tudo, sem dúvida nenhuma, mas eu acho que a rotina... Não mudou, não mudou.
Uma coisa que outra... é muito pequeno assim, no todo assim é igual. Porque eu
trabalhei no tempo das primeiras máquinas mecânicas. E ali também era um
pouquinho mais braçal, mas a situação é idêntica, o teve mudanças assim muito
drásticas. (R6)
Diferentemente das indústrias, que tiveram grandes avanços na forma de produção das
matérias-primas e até mesmo na substituição das matérias-primas utilizadas, a hotelaria, na
sua essência, “produz e vende” o mesmo serviço, ou seja, a hospedagem. É provável que isso
faça com que esses funcionários percebam a rotina diária como sendo a mesma desde o início
das atividades, sem dar tanta ênfase à agilidade dos processos e à facilidade de controle que a
informatização trouxe para o setor.
Os funcionários R1, R4, R6, R7 e AR2 consideram que as tarefas que desempenham
na recepção, no geral, são fáceis, embora tenham destacado que é requerida muita
responsabilidade. Para os entrevistados R2 e AR1, as atividades que desempenham não são
fáceis, nem difíceis, como evidenciam as seguintes falas:
156
Não é difícil, mas também não é fácil. Tem muita responsabilidade. Lidar com o
público, porque o hotel é o lar dele, é o segundo lar do hóspede. Tem que tratar bem,
fazer com que tudo funcione pra que ele se sinta em casa. (R2)
Muitas vezes não é agradável, são pessoas com problemas e a gente tem que saber
administrar isso tudo. Então, a gente realmente, a recepção em si é um mundo muito
grande, muito grande. (R6)
Percebe-se que, embora as atividades não sejam complexas, as interações com os
clientes abrem possibilidades para questionamentos e situações que nunca tenham sido
vivenciadas pelos funcionários. Essa gama de possibilidades faz com que seja criada a
percepção de que a recepção é um “mundo muito grande”, como relatou o recepcionista 6,
pois, embora tratem dos mesmos processos, ou seja, basicamente check in e check out, as
situações são diferentes, já que os hóspedes não são os mesmos.
O recepcionista R5 comentou que é “um pouco difícil” desenvolver suas atividades e o
AR3 disse que suas tarefas não são fáceis de ser desempenhadas. De fato, as atividades
desempenhadas na recepção, quando aprendidas, não são extremamente complexas e, apesar
de lidar com pessoas diferentes de forma contínua, os processos são os mesmos, o que facilita
a realização de todas as atividades. Por outro lado, isso pode, como explica Dixon (1999),
provocar a perda da consciência sobre as estruturas de significado que os indivíduos possuem,
aniquilando a reflexão sobre os processos desenvolvidos.
Quando questionados sobre as tarefas mais fáceis e mais difíceis, observam-se as
seguintes situações descritas no Quadro 18.
Quadro 18: Tarefas mais fáceis e mais difíceis desenvolvidas na recepção
Tarefas mais fáceis Entrevistados Tarefas mais difíceis Entrevistados
1 Tirar relatórios R2 1 Aturar hóspedes
inconvenientes
R2
2 Lidar com pessoas R3 e R6 2 Repassar todas as
informações aos hóspedes
R3
3 Realizar check in R5 3 Realizar check in R1
4 Fazer cadastro AR1 4 Corrigir erros de reservas R4
5 Tudo é fácil R1, R4, R7,
AR2 e AR3
5 Perder cliente em função do
preço
R6
6 Manter união do grupo R7
7 Dar conta das atividades nos
momentos de pique
AR1
8 Monotonia AR2
9 Nada é difícil R5 e AR3
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Reforçando a percepção de que as atividades realizadas pelos recepcionistas não são
difíceis, de maneira geral, de serem executadas, na descrição das que o mais fáceis cinco
157
entrevistados do setor, metade do grupo pesquisado, identificaram que “tudo é fácil”. Como a
rotina é repetitiva, as tarefas acabam sendo internalizadas e tornam-se tácitas, como se pode
observar nas seguintes falas:
Tem certas coisas tipo... que é tão corriqueiro como andar para frente. (R6)
Eu acho tudo fácil, não sei se é porque eu trabalho muito tempo com isso...
(R1)
Das tarefas que eu faço hoje? Olha, não é... nada impossível de fazer, nada difícil. O
que eu faço é fácil... eu já... eu tiro de letra. Trabalhar ali, pra mim é fácil. Não tem
nada de mistério, só que tem sempre que prestar atenção: ter todo o cuidado, porque
o público, não é um dia igual ao outro. As pessoas sempre são diferentes, sai uma
pessoa e vem a outra. (AR3)
Mesmo os aspectos identificados como difíceis, não representam situações de extrema
complexidade, como destacou o recepcionista 4:
Pra mim, não tem nada difícil, assim... digo... é tudo... é tudo serviço, é tudo
rotineiro, mas é tudo fácil, pra mim. É... a mais difícil que ocorre... não é difícil,
mais é difícil, quando tu pega um erro, de reserva, porque aqui no hotel, tem assim,
grande problema de erro de reservas. (R4)
Observa-se também que a etapa de check in é considerada para o recepcionista 1 como
difícil e para o recepcionista 5 como fácil. Essa atividade aparece também como a segunda
tarefa considerada mais importante entre as executadas, conforme se verifica no Quadro 19:
Quadro 19: Atividades mais importantes da recepção
Descrição Entrevistados
Atendimento R3, R4, R5, R6, AR2
Check in R1, R2, R7
Check in e check out
AR1
Lançamento correto das informações no sistema AR3
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Efetivamente, os processos de check in e check out são, de fato, momentos cruciais
de interação entre os recepcionistas e hóspedes que requerem: atenção, cortesia, agilidade e
conhecimento. O check in, por sua vez, é considerado mais importante que o check out, pois
acredita-se que esse momento definirá, ou não, a satisfação dos hóspedes no hotel:
Pra mim é o check in, como eu falei, é... no momento do check in que vai determinar
o satisfação do hóspede. Se ele esse transtorno todo, essa confusão, que a gente
armar, já ali na chegada, vai ser um inferno pra ele o restante da estadia se ele for
maltratado. (R1)
158
O momento do check in. Porque o hóspede está chegando não é? Ali, é momento
onde ele vê, se é bom, se ele vai se sentir em casa. Se alguma coisa der errado na
entrada, já... então... a função nesse caso é fazer com que ele se sinta bem. É o
momento de maior responsabilidade do recepcionista fazer o check in, colocar ele
pra dentro... e depois administrar a estadia dele. (R2)
Por incrível que pareça, quando começa mal, termina mal. [...] Sempre atento, então,
eu acho que a parte mais difícil é isso, é o confronto, porque até... começou um
check in errado, certamente no chek out ele despeja tudo na gente então é
importante começar bem, desde a reserva. (R3)
Outro aspecto muito importante das atividades da recepção é o atendimento ao cliente
que, na percepção dos entrevistados, envolve o grau de formalidade utilizado, o conhecimento
do “serviço” que está sendo vendido e o fornecimento de todas as informações relativas ao
hotel.
O mais importante, é na chegada do cliente, na primeira impressão dele. O boa-
tarde”, o “bom-dia”, pra ele é muito importante. Se tu souber o nome dele, se
conseguir, 100% de atenção pra ele: “Boa-tarde, senhor, boa-tarde” ou simplesmente
“boa-tarde”. “O senhor está com reserva? Não. Tem apartamento? Tem”. A
abordagem dele com um “boa-tarde” ou um sorriso é muito importante. (R4)
A mais importante é o recebimento do hóspede para o hotel. Receber bem a pessoa,
gentileza gera gentileza. (R6)
A frase utilizada pelo recepcionista 6: gentileza gera gentileza, chama a atenção
porque está na capa do Manual de Normas e Procedimentos da Recepção e esse funcionário
foi o único a citá-la durante a entrevista. Esse mesmo recepcionista destacou que todo o
processo de hospedagem é importante, inclusive se referindo aos outros setores:
Uma coisa complementa a outra, uma tarefa complementa a outra até chegar em um
resultado final... tu abre, e vamos supor que tu está abrindo um livro para o check in
o hóspede no livro, o livro é a hospedagem dele e o check out é a saída dele.
Então, eu não vejo assim... tudo é importante em uma rotina, na rotina aqui do hotel
tudo é importante, se completam entendeu, assim como a manutenção, a governanta,
camareira, o porteiro, mensageiro, todo mundo se completa. (R6)
A importância do atendimento ao cliente também é reforçada por um dos diretores do
hotel, quando explicitou que:
É aquilo que eu te falei. Ele é a porta de entrada, então o primeiro sorriso, o primeiro
atendimento é, é o mais importante. É a primeira imagem que a pessoa quer, por que
ele está carente, ele quer informações sobre a cidade... hã... tudo isso... (D1)
159
Outra tarefa, especificada por somente um entrevistado como importante, refere-se ao
lançamento correto de todas as informações no sistema. Alimentar o sistema é de fato
importante para que as informações estejam disponíveis ao grupo de recepcionistas por meio
do sistema de automação hoteleira utilizado no hotel, como é mostrado na Figura 17:
Figura 17: Espaço destinado ao lançamento de informações no sistema utilizado pelo hotel
Fonte: Sistema de automação hoteleira utilizado pelo hotel.
Foi muito pertinente a observação do auxiliar de recepção quanto à importância de
alimentar corretamente o sistema de automação hoteleira; não apenas porque nele se tem o
registro de todas as contas dos hóspedes e, portanto, de todas as entradas de receitas do hotel,
mas também porque o próprio sistema oferece um espaço para que as observações possam ser
lançadas e, utilizadas, a favor do empreendimento. No entanto, na observação participante
identificou-se que essa ferramenta é muito pouco aproveitada, em face do seu potencial, sendo
sub utilizada já pelo próprio lançamento do cadastro de hóspedes.
Questionados para identificar um ou dois processos que funcionam bem na recepção,
os entrevistados se referiram desde os procedimentos gerais da recepção e atendimento até as
tarefas pontuais, tais como: check in de grupos; fechamento de caixa; assinatura do termo de
compromisso de check out; cobrança adiantada das diárias; o sistema de automação hoteleira
utilizado; os registros de entrada e saída dos hóspedes alimentados nesse sistema. Essas
tarefas podem ser visualizadas no Quadro 20:
160
Quadro 20: Processos da recepção que funcionam adequadamente
Descrição Entrevistados
Procedimentos gerais da recepção
R1, R2, AR2
Atendimento R5, R6
Check in de grupos
R1
Fechamento de caixa R2
Preenchimento do termo de compromisso de check out R4
Cobrança de diárias antecipadas no check in para alguns casos R7
Sistema de automação hoteleira escolhido R3
Registro de entradas e saídas no sistema AR3
Fonte: elaborado com base nas entrevistas
No geral, os procedimentos da recepção precisam funcionar da melhor forma
possível, como evidencia o discurso do recepcionista 2:
A recepção tem que funcionar! Não pode dizer: “Não funciona!” Você vende um
apartamento ali, e aquele apartamento tem que funcionar. É uma venda, não
podemos vender se não funciona, você está vendendo uma imagem negativa do
hotel. Aí, não funciona. Ele está no sistema, ali, está livre pra vender, tem que
funcionar! (R2)
Todavia, a percepção de atividades que funcionam bem não evidencia consenso entre
os entrevistados. A assinatura do termo de compromisso que foi identificado como uma tarefa
que funciona bem é vista pelo recepcionista 5 como algo que nem sempre pode ser aplicado:
Aquele ali, às vezes, é complicado, porque se tu vai dar pra uma pessoa, que é
hóspede da casa, que fica ali, vindo praticamente o ano todo, pega uma época que
o hotel está cheio o hotel que a pessoa realmente tem que sair o outro dia, até... se
torna até constrangedor, porque a pessoa: “Pô, eu venho aqui toda semana, tu me
conhece, e eu tenho que sair do hotel amanhã...” então é difícil lidar com essas
situações. (R5)
O próprio recepcionista 4, que identificou essa atividade como funcionando
corretamente, tem solução para essas situações pontuadas pelo recepcionista 5, como se
percebe na fala a seguir:
Então quando o hotel está lotado, eu tenho por bito que é errado, eu sei que é
errado, mas eu faço eu tento criar reserva fantasma, se o hotel está lotado. Não
porque eu sei que eu vou vender, mas eu estou me precavendo para os erros, porque
no hotel em “over” de 30, aí, eu chego ali, eu sei que 5 são minhas, eu começo a
diminuir, ou está ali o seu “Pedro” , está uma semana com a esposa no hospital,
está hospedado. Como é que tu vai chegar com o termo de compromisso e dizer pra
ele sair do hotel? Um cliente assíduo, que tu vai perder por causa de um evento, que
teve uma vez por ano, no hotel e que lotou o hotel. Eu não posso perder aquele meu
cliente assíduo. (R4)
161
Os dois diretores do hotel disseram que os processos de check in e check out
funcionam bem na recepção, justificando que:
Ó, eu acho que o check in e o check out é uma coisa que funciona mesmo..., às
vezes, até com poucos recepcionistas, eles são bastante ágeis neste sentido e eu
acredito que isso seja uma coisa bastante positiva. (D1)
Eu acho que os processo de check in e check out são bem eficientes no hotel, não são
demorados, agente não queixas de... processo que está amarrado. Então você tem
que contar com o bom sistema de software operacional e tem que ter recepcionista
treinado que faça o processo por que isso é até um nível de medição de qualidade
de hotel é o tempo desses processos. Um executivo que tem um voo pra pegar de
manhã cedo e ele fica preso na recepção por que ou a máquina trancou ou a conta
não saiu e tal, isso aí é um caos. (D2)
De fato, os processos de check in e check out, acompanhados ao longo da observação
participante, que incluiu um período em que a taxa de ocupação foi de 100%, fluíram com
muita agilidade, o que é importante para a satisfação dos hóspedes.
5.2 COMO OS FUNCIONÁRIOS APRENDEM A REALIZAR AS TAREFAS NO SETOR
Outro aspecto fundamental para a compreensão dos processos que permeiam a
aprendizagem individual e grupal que ocorrem nas situações cotidianas de trabalho dos
recepcionistas é entender as formas como eles aprenderam a desempenhar as atividades do
setor. Segundo Antonello (2004, p. 2), os processos de aprendizagem podem acontecer de
duas maneiras:
(a) informal (aprendizagem por práticas presentes no cotidiano; conhecimento
horizontal; espaços não-educacionais); e
(b) formal (aprendizagem é individual; conhecimento vertical e intencional; dentro
de estabelecimentos de ensino).
No entanto, a própria autora destaca a dificuldade de identificar, em algumas situações
práticas, essa separação que a aprendizagem é um processo dinâmico e inter-relacionado
que engloba o contexto no qual acontece. Apesar da fragilidade de tal distinção teórica, essa
separação é pertinente para a reflexão sobre as principais formas de aprendizagem utilizadas
pelos funcionários da recepção no hotel onde a pesquisa foi desenvolvida.
162
Identificou-se que a única modalidade de aprendizagem formal relatada pelos
recepcionistas e auxiliares de recepção refere-se à participação de treinamento interno. Essa
forma de aprendizagem foi identificadao somente por um entrevistado como fonte de
aprendizagem, quando o respondente explicou que participar da consultoria realizada no hotel
foi importante, especialmente por compartilhar experiências vivenciadas pelos outros:
Foi bom... bom assim, eles reúnem, são vários recepcionistas de vários hotéis que
são passadas as experiências. Então, tu aprende, aprende onde não deve errar, o que
tu não deve fazer, isso aí. No geral, assim foi uma coisa boa. Os próprios
recepcionistas coisas assim tipo: o que tu não deve fazer em uma recepção ou coisas
que acontecem que tu pode, tem como evitar para não acontecer. Então, é onde tu
aprende e no momento que cada um vai contar a sua experiência, alguma coisa você
vai aproveitar nesse momento. (AR1)
Outro recepcionista também relatou o treinamento na consultoria como forma de
aprendizagem:
O hotel me pagou aí, um... há uns três meses atrás, um consultor de hotelaria, do Rio
de Janeiro, ficou uns quatro meses aqui no hotel. Todos os setores. Pra estar
conversando sobre a rotina hoteleira. Aquilo que a gente sabe, não mudou muita
coisa. Até a maneira assim, de atender um telefone, assim e tal. Mas sempre é bom,
não é... ouvir alguma autoridade. (R2)
Entretanto, nas entrelinhas do discurso de aprendizagem, esse recepcionista mostrou a
utilização do raciocínio defensivo, sugerido por Argyris e Schön (1996), evidenciando a
dificuldade em questionar as teorias em uso na organização, pois o grupo “já sabecomo
todas as atividades devem ser executadas na empresa, indicando, portanto, que o treinamento
“não mudou muita coisa”.
Além da pequena valorização ao conhecimento possível de ser desenvolvido em
treinamentos, soma-se contra o descrédito em relação ao conhecimento adquirido em
instituições de ensino, tanto profissionalizante quanto em vel superior, como evidenciam os
trechos dessas entrevistas:
Cursos que eu fiz no [nome da instituição], tudo o que tu aprende lá, tu o bota em
prática no hotel, porque cada hotel é uma norma, tem a sua norma de trabalho, o seu
jeito de trabalhar. No primeiro hotel, eu sofri, fiquei quatro meses, porque lá eles
têm a norma deles, tu não bota as suas normas que tu aprendeu certo, correto. O que
tu aprende de certo, de correto, a hotelaria no hotel que tu vai é diferente e assim,
as normas você tem que se adaptar às normas da empresa e não as normas que tu
aprende. (AR2)
Em cima da maneira que eu aprendi e da maneira que é feita a coisa, eu acho que é...
que tu chega assim, tu chega a ser profissional do ramo, entendeu. No caso a minha
pessoa, outro faz um curso na faculdade, tem Gramado, Canela ali tem faculdade
163
hoteleira. Entendeu, ou tu aprende no dia-a-dia, no machado mesmo, tropeçando,
caindo e levantando e vamos embora e vamos aprendendo entendeu. Eu acho que as
duas formas são válidas, a pessoa sai da faculdade... eu tive uma prática de um
colega que saiu da faculdade que sabia menos do que o mensageiro, entendeu?
Então, realmente eu me pergunto se realmente foi um caso isolado ou a pessoa sai
tão crua assim, tão verde de uma faculdade que não sabe colocar em prática o que
aprendeu. Ou até não sabe trazer coisas novas do que aprendeu para dentro de uma
empresa, dentro do ramo que ela escolheu para trabalhar. No momento, vamos supor
que eu fizesse uma faculdade de hotelaria, eu teria inúmeras opiniões e ideias novas,
inovadoras pra trazer pra dentro do hotel, com certeza transformaria, entendeu?
Então, eu trabalhei com as pessoas e no caso eu aprendi dentro da minha prática do
dia-a-dia eu ensinei as pessoas a trabalhar, entendeu? E esse aprendizado quem teria
que aprender, eu que teria que somar com ele e não ele a mim. No caso, reverteu
entendeu? (R6)
Nem mesmo o único respondente, entre os recepcionistas e auxiliares pesquisados,
com graduação na área de turismo, identificou que o curso realizado contribuiu para o
aprendizado da função. Esse entrevistado destacou sua formação apenas para dizer da sua
crença de que o conhecimento obtido na graduação não foi relevante dentro daquele hotel,
pois, na sua visão, o que conta no estabelecimento é o tempo que as pessoas atuam na
empresa.
Quando questionados se haviam recentemente participado de treinamentos ou cursos
sobre hotelaria ou recepção (além da consultoria), somente o R5 disse ter participado de um
curso oportunizado pelo hotel, realizado em parceria com o sindicato de hotéis do município,
que mostrava os atrativos da cidade. Além desse recepcionista, nenhum outro funcionário do
grupo pesquisado disse ter participado de cursos na área.
Por parte do empreendimento, tanto a diretoria quanto o departamento de recursos
humanos comentaram que não são oferecidos treinamentos específicos aos funcionários do
hotel. Por outro lado, referem-se à existência de um centro de qualificação, no Sindicato de
Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Porto Alegre (SHRBS), que oferece cursos para
aqueles que desejam se qualificar:
Nós temos lá um centro de qualificação que promove vários tipos de curso, desde a
parte de culinária, que tem uma cozinha experimental, até a parte de atendimento e
qualificação. Então, tem alguns ali, táticas de bom atendimento, táticas de
marketing, nós temos palestras também de dicas turísticas de Porto Alegre, acho que
todos eles participaram, que aí eles têm contato, saber o que existe de atração
turística de Porto Alegre, fazendo um city tour pela cidade, então todos eles
participaram daquilo ali. (D2)
Como um dos gestores do hotel também atua na diretoria desse sindicato e,
considerando-se o discurso vigente no contexto turístico da importância de ações integradas
voltadas ao desenvolvimento da atividade turística e profissionalização do setor, ao que tudo
164
indica, a administração do empreendimento entende que a capacitação formal pode ser
perfeitamente realizada em ambientes como esse oferecido pelo sindicato. De fato, não é
inadequado otimizar recursos aproveitando as atividades existentes em um sindicato
específico para o setor, no entanto delegar a responsabilidade para que a aprendizagem formal
de um setor específico de um estabelecimento comercial seja adquirida praticamente só com
esse tipo de capacitação permite inferir que a gestão do empreendimento não se preocupa em
promover essa forma de aprendizado entre seus colaboradores. Cabe destacar que, além disso,
pouquíssimas foram as evidências de funcionários que tenham participado dos cursos
oferecidos no sindicato nos últimos anos, alguns, inclusive, não se inscreveram nos
treinamentos porque o empreendimento pesquisado não facilitou o horário para que os
recepcionistas e auxiliares pudessem participar das atividades oferecidas.
Quanto à aprendizagem formal, é possível afirmar, portanto, que ela não representa
uma forma significativa para promover a aprendizagem das atividades desempenhadas pelo
grupo pesquisado. Nem o hotel oferece oportunidades de aprendizagem formais, tão pouco os
funcionários parecem interessados em aprender novas habilidades, atitudes ou conhecimentos
pelas vias formais de ensino.
A principal forma de aprendizagem das atividades do espaço da recepção dos
recepcionistas e auxiliares de recepção do hotel pesquisado acontece pelas vias informais,
entre as quais, destacam-se: prática; interações com os colegas (aprendendo e ensinando);
observação; experiência anterior (maturidade e outras atividades); iniciativa; reflexões;
tentativa e erro. No Quadro 21, são ilustradas as formas de aprendizagem relatadas pelos
respectivos entrevistados:
Quadro 21: Formas de aprendizagem informal dos funcionários da recepção
Formas de aprendizagem R1 R2 R3 R4 R5 R6 R7 AR1 AR2 AR3
1.
Observação
2.
Tentativa e erro
3.
Reflexões
4.
Iniciativa
5.
Experiência
anterior
Maturidade
Outras
atividades
6.
Interações
com os
colegas
Aprendem
Ensinam
7.
Prática
Nota: cinza representando a presença e branco a ausência dessa forma de aprendizagem.
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
165
Uma importante maneira pela qual os entrevistados aprendem as tarefas da recepção é
pela observação: “observando! Eu era mensageiro e já ficava ligado na recepção.” (R2)
Os funcionários acompanham como os colegas atuam nas diferentes situações e, tendo
como referência essas atitudes e as normas do empreendimento, constroem os referenciais que
os guiam a agir quando começam a desempenhar suas tarefas:
E eu ficava observando bastante. Claro, é que tem que ser um pouco esperto, tem
que observar, como é que... o [nome de um colega] e o ‘guri’ atendiam na época, eu
ficava observando como é que era, a negociação da diária, na chegada, nós temos
um mínimo, começando de um valor tal, vai abaixando até chegar no mínimo, o
mercado vai negociando e tal, pra não perder cliente também... (R3)
No discurso dos recepcionistas 2, 6 e 7 e dos auxiliares 1 e 3, identificou-se que eles
aprendem também pela tentativa e erro, ou seja, realizam a ação e, se o resultado não se
ajusta às expectativas, como sugerem Argyris e Schön (1996), tentam-se novas estratégias
para alcançar os resultados almejados. Se, por outro lado, o resultado da ação atingir o
objetivo, segue-se tendo a mesma atitude: “é muita coisinha. Não é de um dia pro outro. A
gente erra bastante, até aprender, mas acaba... E aí... corrige e faz de novo; tem que errar pra
aprender.” (R2)
Outra forma de aprendizagem informal identificada pela fala dos recepcionistas é a
“reflexão”. Esse tipo de aprendizagem está relacionado à “tentativa e erro” uma vez que o
resultado obtido não é o desejado e faz com que os indivíduos pensem sobre as ações
desenvolvidas. O recepcionista 6 explicou o papel da reflexão, usando a expressão
autoanálise como sinônimo:
Às vezes, o desenrolar de um problema, você tem que fazer uma autoanálise e aí que
vem o aprendizado. [...] Precisa fazer uma autoanálise para ver que amanhã ou
depois, é que nem um esquema, é fácil de falar cada caso é um caso. Realmente,
cada caso é um caso, não existem pessoas iguais, cada caso tem um desenrolar
diferente, mas tu tem que fazer uma autoanálise para tu aprender com isso. Muitas
vezes tu agiu errado ou agiu certo, mas poderia fazer de outra forma melhor ainda,
também melhor, mais melhor ainda. (R6)
A reflexão, no contexto do aprendizado desses recepcionistas, pode ser relacionada ao
ciclo OAID (observa, acessa, desenha, implementa), desenvolvido por Kim (1993), no
momento em que esses funcionários acessam suas experiências pela reflexão e observação do
que está acontecendo. Infelizmente, o processo de reflexão estabelecido no empreendimento é
individual, como explica o recepcionista 2: “é a reflexão pelo pensamento
. Você deu uma
166
entrada aqui e... ‘será que está tudo certo?’ Eu tenho o hábito de revê-lo, de revisar, antes de
fechar o meu turno, se está tudo certinho.”
Como não momentos organizados para o compartilhamento das estruturas de
significados privadas, a reflexão não acontece no nível do grupo e, dessa forma, apenas
modifica os comportamentos individuais. Além disso, algumas vezes, não há tempo suficiente
para refletir durante a ação:
Depende porque assim oh: se tem muito movimento, às vezes, você faz as coisas e
depois tu vai pensar assim: “Ah, mas eu não devia ter feito aquilo”. Naquela hora ali
que você não dá conta, a gente não dá conta do que está fazendo. (AR1)
Nesse caso, o processo de reflexão somente acontecerá posteriormente à ação.
Considerando-se a especificidade do produto turístico de ser “consumido enquanto é
produzido”, o processo de aprendizagem pela reflexão posterior ao fato ocorrido poderá ser
tarde demais para corrigir o problema em relação àquela experiência única do hóspede no
empreendimento. Outro limitador do processo de aprendizagem pela reflexão, identificado
nas entrevistas, é a falta de tempo para que isso aconteça, como destacou AR3:
Porque depende... é variado bastante, depende do movimento do hotel. Digamos...
eu chego de manhã ali, se o atual está cheio, eu não posso pensar o que que eu vou
fazer, eu tenho que dar saída, saída, saída, e se não tem... o hotel bastante
movimento, tem um evento grande também, eu vou ter que tentar atender o pessoal
do evento. (AR3)
Esses três processos de aprendizagem informal parecem se complementar: o grupo de
recepcionistas e auxiliares começa a aprender as atividades pela observação, que é seguida
pela tentativa e pela reflexão, momento no qual são analisados os resultados alcançados.
Havendo erro, sucede-se nova tentativa até que o resultado atinja o padrão percebido como
aceitável. É importante lembrar que o “ponto de partida” da observação desse aprendizado
está alicerçado nos procedimentos locais e atitudes dos recepcionistas que, em alguns casos,
trabalham muito tempo no empreendimento. Portanto, é possível inferir que essa forma de
aprendizagem induza à tendência de simplesmente reproduzir as teorias em uso desenvolvidas
e utilizadas no empreendimento há bastante tempo.
Complementando os três processos de aprendizagem informal já relatados, alguns
recepcionistas e auxiliares explicaram que ter iniciativa é outra maneira de promover a
aprendizagem. A iniciativa é importante para que as pessoas não precisem depender tanto dos
167
colegas para que expliquem tudo o que pode, ou não, ser realizado, uma vez que nem sempre
existem tempo e condições disponíveis para repassar os conteúdos e informações do setor:
Por isso que eu te falei: tem que ter força de vontade, porque, na verdade, não dá pra
ter um... outro recepcionista ficar uma semana, um mês, me ensinando a trabalhar,
me passando o serviço do hotel. E se eu não tivesse boa vontade, eu estava até hoje
sem saber. Então depende de cada um! (AR3)
Foi também a iniciativa de colaborar com os colegas recepcionistas que fez com que
um mensageiro fosse promovido à recepcionista:
É que como mensageiro, quando, às vezes, o mensageiro estava sozinho, no caso
dela, agora, chegava um cliente e eles, às vezes, têm que ir no banheiro ou ele
estava ocupado, aí, eu que meio de prontidão, passava a o por trás do balcão,
já pegava uma ficha, pegava a caneta e falava: “Por gentileza, você vai preenchendo,
que o colega vai...!” mas aí, era uma iniciativa que eu tinha como mensageiro.
“O colega já vai lhe atender!” então eu estava ajudando, aí, que eles começaram a
pedir pra mim.
Outro recepcionista, complementou, destacando que, se o funcionário não tiver
iniciativa ele, não aprenderá, pois o hotel não oferece nenhum treinamento, e não possui
estratégias organizadas para promover a aprendizagem:
Ah, vai dele. Eu pedi pra governanta me mostrar, daí ela me mostrou, do Três
Estrelas, uma meia dúzia de apartamentos, aí, depois o meu colega veio me mostrar
o Quatro Estrelas: a menina de reserva está... acho que está um mês a mais do que
eu aqui, não conhece os apartamentos até hoje. Se tu não tiveres interesse em dizer:
“Pelo amor de Deus, alguém me mostre!” ninguém vem te chamar. (R1)
Uma outra forma importante para promover a aprendizagem entre o grupo pesquisado
identificada nas entrevistas foi a experiência anterior. Por intermédio dela, os indivíduos
explicaram que aprendem de duas maneiras: pela maturidade adquirida com a experiência de
vida e pela transferência de conhecimentos advindos de outras atividades.
A maturidade adquirida com a experiência de vida, segundo os pesquisados, faz com
que a pessoa aprenda com maior agilidade, além disso, também facilita o relacionamento e a
comunicação com as pessoas, aspecto esse muito importante na hotelaria que lida diretamente
com o cliente, no caso o hóspede. A experiência anterior em outra atividade está relacionada a
três aspectos: experiência no mesmo hotel, mas em outra função; experiência em outro hotel;
experiência em outra atividade.
168
A experiência no mesmo hotel refere-se aos funcionários que foram mensageiros e
que, por esse motivo, conhecem os apartamentos como nenhum outro recepcionista. Isso
facilita, em especial, o processo de check in, pois sabem identificar, por exemplo, os
apartamentos que pegam muito sol em períodos de calor e, assim, conseguem “administrar” a
hospedagem nas UH de forma mais adequada, inclusive à época do ano. Esses recepcionistas
normalmente auxiliam os demais quando alguém tem dúvidas sobre a localização e o tipo de
apartamento.
Possuir experiência de trabalho em outro estabelecimento hoteleiro foi importante para
o aprendizado de alguns recepcionistas e auxiliares, por facilitar o processo de adaptação no
empreendimento, pois, uma vez que conhecem o sistema de automação hoteleira e os
procedimentos básicos de check in e check out, é necessário entender apenas os aspectos
específicos do hotel, já que a “estrutura” de funcionamento da atividade não precisa ser
aprendida. Vale lembrar que essa é uma estratégia da diretoria para contratação de pessoas no
setor, que, justamente por esse motivo, prefere selecionar funcionários com experiência na
área.
Por experiência de trabalho adquirida em outras atividades (tais como: empresa,
comércio, agência de viagens e locadora de automóveis), os entrevistados destacaram
fundamentalmente o aprendizado quanto à forma de atendimento ao cliente, que os auxiliou a
desempenhar melhor suas atividades na atual função. Não foi identificado o aprendizado
pela experiência anterior aplicado à hotelaria, como o contrário também foi relatado, ou seja,
um dos entrevistados disse que a hotelaria lhe deu conhecimento de atendimento ao cliente,
para ser usado em outro ramo em determinado período que essa pessoa exerceu atividades
profissionais fora do ambiente hoteleiro.
O aprendizado das atividades desenvolvidas na recepção também acontece pela
interação com os colegas. Nesse sentido, constatou-se que os funcionários aprendem, ou
aprenderam, as tarefas que desempenham com os próprios colegas de trabalho:
E eu fui, tive oportunidade, o aprendizado com colegas, que eram... me deram
oportunidade, me incentivaram e eu fui me adaptando, me aperfeiçoando, me
aprimorando... (R2)
Ah, os mais antigos, no caso quando eu vim pra tarde, com o colega eu tive contato
à tarde, são funcionários os antigos, que começaram – ele começou de mensageiro
então, foi como eu comecei de tarde, depois eu passei pra de manhã, o outro
colega... o outro me ensinou muito mais. Mas o primeiro colega, de tarde, era o que
mais eu tinha contato, porque... mais antigo. (R3)
169
Olha, para atender, você tem que gostar daquilo que tu vai fazer. Tu tem que
também assim, as pessoas têm que facilitar de alguma coisa para a gente também.
Porque uma pessoa que está entrando agora e não tem conhecimento nenhum, ela
tem por mais que ela tenha vontade, ela vai ter dificuldade se não te passarem tudo o
que precisa fazer.
[...]
Não, foi um colega. Que mais passou coisas para mim foi um
colega da noite, que me ajudou... foi ele. (AR1)
Essa forma de aprendizado é tão forte que os “novatos” na função se referem aos mais
antigos como aqueles que “sabem mais”:
Aprendi com os colegas. Aprendi com os colegas, porque como tem recepcionista
que tem 10 anos, outro tem 8, então, tu praticamente, tu tem que aprender alguma
coisa, eu estou aprendendo ainda hoje, estou aprendendo. Então... a gente sempre
aprende... nunca... todo dia é uma situação nova. Então tem situações inusitadas que
acontecem e que a gente não sabe. , tu tem que buscar auxílio de quem sabe a
mais! Então, tem mecanismos... ou seja, buscar colegas que possam te auxiliar. Que
não é o caso hoje em dia, mas... no começo, foi difícil. [...] Bom, quem certamente
me ensinou foram os próprios colegas. (R5)
Inclusive, um recepcionista identificou a pessoa que ensina como um “mentor”, tal a
influência do colega para repassar as atividades desenvolvidas na recepção: “é fácil, depende
que nem diz assim do teu mentor, de quem está te assessorando, quem está te ajudando.” (R4)
Contar com um “mentorpara explicar as atividades a serem desenvolvidas evidencia
a importância dos indivíduos estarem dispostos a “compartilhar” seus conhecimentos,
corroborando a ideia de Dixon (1999, p. 45) de que “quanto mais os indivíduos estiverem
dispostos a tornar o significado que eles construíram disponível aos outros na organização,
mais a organização é capaz de aprender”.
Outro recepcionista, no entanto, especifica que nem tudo o que um funcionário faz é
perfeito, ressaltando que é preciso cautela para observar e selecionar os aspectos positivos de
cada colega de trabalho:
Não, não, pessoas diversas, pessoas diversas. Na recepção no caso, eu me espelhava
em um ou dois recepcionistas que no meu entendimento de conduta profissional,
eles tinham uma boa conduta, podia me espelhar. Claro que sempre colhendo o que
era coisas boas porque ninguém é perfeito. Pode em oito horas a pessoa dar dez
gafes, mas tem duas, três boas que me servem. Então, vai ser copiado, mas do modo
geral cada setor tinha uma pessoa que era responsável. (R6)
Esse tipo de aprendizado leva à reprodução, pela cópia, como destaca o recepcionista
6, dos padrões de atividades já existentes no empreendimento. Essa situação certamente
dificulta os processos de aprendizagem, inclusive de ciclo simples, sugerida por Argyris
(1999), pois, se o ambiente favorece à reprodução de padrões, as sugestões de melhorias nas
170
rotinas organizacionais podem ser minimizadas ou suprimidas pela cultura vigente de que “as
coisas sempre foram assim” naquele contexto de trabalho.
O recepcionista 1 novamente apontou a falta de processos estruturados de
aprendizagem das tarefas do setor que nem mesmo promovem a “apresentação do hotel” para
os funcionários que iniciam suas atividades no empreendimento: “sim, inclusive nem conhece
o hotel. Ele chega na recepção os colegas dão o treinamento, quem está mais tempo
dá o treinamento e vamos embora.”
Os recepcionistas, sobretudo os mais antigos, destacaram que são eles quem ensinam
aos funcionários novos o que deve, e como deve, ser realizado na recepção do hotel:
Cada um é responsável, cada turno tem funcionário antigo, os novos aí, a gente vai
orientando. Eu, por exemplo, eu tenho o hábito, cada colega novo que chega aí, eu
me sinto no lugar dele de aprender, e a gente procura ajudar pra... tem muita
coisinha, mas no dia-a-dia, a gente vai aprimorando, cada dia melhor que o... cada
dia é melhor que o outro, pode-se dizer. (R2)
Todos que vieram ganharam um... agora... desde que teve um consultor estagiando,
ele fez... todo novo tem que ter uma cartilha igual a essa, assim que é feito, como é o
procedimento. O chefe entrega, explica para ele e a gente treina ele para ele assumir.
(AR2)
Todavia, a aprendizagem pela interação com os colegas depende também do interesse
destes em ensinar e, nem sempre, os funcionários estão dispostos a compartilhar o que sabem,
como destacam os recepcionistas 4 e 6:
Porque muita gente não quer te ensinar, porque está... porque tem medo, talvez por
incompetência, de perder o lugar, que não é? Eu qualquer um que entrar ali,
estagiário ou não... eu ensino de boa vontade. Então, tem muita gente que não... não
gosta de ensinar, ou ensina, mas não ensina tudo, sabe? [...] , se o teu colega for
com a tua cara, vai te ensinar bem, senão, não vai te ensinar. (R4)
Então, o meu aprendizado ainda está sendo cada dia ainda, os meus colegas, eu
aprendo com eles e eles aprendem comigo. A gente tem que ter essa humildade de
aprender. Mas hoje eu sei dentro do meu interior, eu sei que eu ajudo bastante... com
o meu aprendizado, com a minha prática de anos que eu tenho de hotel muita gente
eu ajudo. Não sei, porque tem muitos hotéis que de uma forma ou outra obstrui a
iniciativa de uma ou outra pessoa... às vezes, nem é pela empresa, pelos funcionários
um ou outro com medo de perder a profissão, perder o cargo. Perder o emprego.
Então “o conhecimento que eu tenho eu não vou te passar nunca, o que eu sei eu não
vou te passar porque amanou depois tu vai estar no meu lugar”, entendeu? Uma
coisa meio pequena, esse tipo de coisa. Tudo o que eu soube eu sempre passei para
frente e não foi por isso que eu perdi o emprego. (R6)
Identifica-se, também, que há distinção com as pessoas que não têm experiência
prática e também com aquelas que m formação superior: “se fecham para quem não tem
experiência e que não tem... e quem tem estudo. Então, existe isso aí também. (AR1)”
171
Reforçando, portanto, a teoria em uso de que a experiência prática é a característica
mais importante para os funcionários do setor. Outro aspecto que reforça essa afirmação é
que, embora a aprendizagem pela interação com os colegas seja fortemente observada no
empreendimento, a forma pela qual todos os funcionários do setor aprenderam as atividades
desenvolvidas na recepção relaciona-se à prática.
A prática é muito importante na hotelaria porque está associada ao conhecimento
adquirido com as experiências vivenciadas que vão se acumulando, como explica o auxiliar
de recepção 3:
Porque hotel é assim: não é tanto como tu saber, como conhecer! Saber é uma coisa,
conhecer é outra. E hotel vai muito de tu conhecer! Tu conhecer digamos,
apartamento: chega um hóspede lá, que quer um apartamento. Aí, tem o apartamento
standard, mas os standard nem todos são iguais, mesmo o espaço, sabe? Então, tu
tens que conhecer os apartamentos, digamos que tu gostes de um apartamento com
bastante espaço espaço físico E tem outro que já não. Então eu tenho que
conhecer. Tu chegas na Recepçao, pra não fazer muitas perguntas, pra o tirar o
tempo, pra que a fila na recepção não... Então, tem que conhecer, pra ... pra facilitar
a tua vida. Tu está chegando A [nome do hóspede] está chegando lá na porta, na
frente e tal – eu já sei que a [nome do hóspede] gosta desse apartamento, gosta desse
tipo de apartamento, eu já vou entrando no sistema e já vou... sabe? (AR3)
Embora a prática tenha sido separada como uma forma de aprendizagem específica,
ela permeia todas as outras maneiras de aprendizagem informal, pois é inerente ao
desenvolvimento cotidiano das atividades, como explicou o recepcionista 1:
[...] euo tive um tempo pra... experiência, eu já entrei na recepção, observando os
colegas, executando e eles sempre ao lado me auxiliando assim, foi na prática
mesmo, tipo, me largaram lá dentro e “te vira!”
Segundo Kolb (1984), desconsiderar o ambiente como fonte de aprendizagem é
contraprodutivo, porque a aprendizagem envolve as transações entre a pessoa e o ambiente no
qual ela está inserida. Dixon (1999) também destaca que uma das formas de aprendizagem é a
experiência direta. Ambos os enfoques valorizam o aprendizado baseado na prática, como
explicou o recepcionista 4:
[...] tem muita situação, que vai aprender, passando por ela. Então, às vezes, tu
leva tempo pra passar por todas as situações. Tem problema diferente, às vezes, tu
entra em pânico, porque tu nunca passou (R4)
172
Entretanto, conforme as situações vão se tornando recorrentes, elas acabam sendo
incorporadas pelos indivíduos:
[...] mas, como tu é novo, tu tem que ir praticando para pegar experiência. Até
atendimento ao público eu era muito tímido, até no segundo hotel eu era tímido, mas
depois eu fui pegando a prática. (AR2)
Até chegar ao ponto no qual, em virtude da repetição, as ações se tornam quase
automáticas: “então, quer dizer, ao longo de 3 anos... não tem muita diferenciação de um dia
para o outro.” (R5)
Essa repetição acaba favorecendo o desenvolvimento do que Argyris e Schön (1996)
classificam como “teoria da ação”, e que Kim (1993) classifica como “modelos mentais”, que
guiam os indivíduos a agirem em diferentes situações sem precisar reaprendê-las
constantemente. Por um lado, essa situação é muito produtiva para o empreendimento e para
os funcionários, ao passo que agiliza as ações e os procedimentos organizacionais, aspecto
esse muito importante, especialmente para o contexto pesquisado que requer rapidez no
atendimento aos clientes. Por outro lado, o desenvolvimento desses mesmos modelos
mentais”, ou “estruturas de significados tácitas”, como sugere Dixon (1999), pode dificultar o
questionamento da validade dessas estruturas, que incorre na propensão de construir e
empregar inferências que não foram testadas e que podem não ser válidas diante o novo
contexto.
A fala do recepcionista 2 evidencia tanto o aspecto pelo qual a prática favorece à
realização da atividade (pelo conhecimento dos clientes) quanto a possibilidade de bloquear o
questionamento (pela utilização do “faro”):
Ah, isso aí... como diz... o faro... ele chega aí, pra gente vê, isso é pilantra.
Nós aqui temos muito disso, porque devido à localização em frente à rodoviária
de vez em quando chega algum... aí o “cara”, geralmente vem sem bagagem, e
aquela coisa toda. A gente já conhece... primeiro, se eu desconfio, o certo é cobrar
já, na entrada, aí a gente já cobra. O certo seria cobrar de todo mundo.... É o
procedimento! Não, de todos não... tem muitos... a maioria dos nossos clientes aí, já
são... são conhecidos. Eu por exemplo, conheço. Aí aqueles que não se
conhece, faz o check in e pergunta, se é a primeira vez no hotel, essas coisas.
Explica o procedimento é a primeira vez fazemos o cadastro. Aí, fica tudo
aqui, mas a gente tem que estar sempre alerta, sempre tem alguém querendo dar o
golpe; assim, sai na frente. (R2)
Segundo Dixon (1999, p. 28), “os indivíduos parecem ter uma preferência por
interpretar a palavra em termos de suas estruturas de significados existentes, que é outra
forma de dizer que frequentemente vemos o que esperamos ver”. Essa “reação” faz com que
173
as pessoas mantenham um padrão, mesmo que esse padrão não seja o mais adequado para o
contexto. É recorrente, no empreendimento pesquisado, o discurso de que conseguem, pela
experiência, diferenciar, por exemplo, quem é ou não hóspede:
Pessoa suspeita: vai passar uma pessoa... mais ou menos o hóspede, ele tem um... ele
tem um perfil, sabe? O hóspede quando ele vem se hospedar... e lógico, eu tenho de
costume ali, quando olhar o relatório, eu começo a olhar o apartamento, vejo quem
está hospedado e tal, então, mais ou menos, muitas pessoas, conheço. Outras me
conhecem. Se uma pessoa vem da rua e vai subir num apartamento, claro que não
tem como saber. Mas se a pessoa começa a andarilhar ali, começa sabe, a ficar
olhando as coisas, então, tu pergunta: “com licença senhor, qual é o seu
apartamento, desculpa.” Se a pessoa ver que se embaralhar, ou não tiver
apartamento, ela não tem por que estar ali. Então, claro, aí, vai de cada um, então, tu
tem que ter um pouquinho de ... de visão, digamos assim. (R5)
Ah, eu olho assim, na cara, eu já sei se é hóspede ou não... (risos) Ah, é uma questão
de... de tu está aí todo dia,sabe quem é hóspede ou não... (risos) [...] Ah, não... tu,
pela cara”, tu sabe quem é hóspede e quem é.... Sei lá... (risos) mas não
precisa nem perguntar! Ah, não precisa nem perguntar! Consegue! Consegue, pelo
jeito de... que a pessoa olha, pra onde a pessoa direciona o olhar, assim, consegue...
(M1)
Isso não significa que o “faro” dos funcionários do setor, desenvolvido com a prática,
não esteja correto, no entanto é necessário ponderar que ele pode ter sido desenvolvido
baseado em pressupostos que não sejam verdadeiros. Para resolver esse conflito entre a
criação e validade das estruturas de significados, Dixon (1999) sugere que, ao mesmo tempo
que as pessoas devem agir de acordo com suas estruturas de significados, precisam também se
esforçar para lembrar que há outras relações que não são vistas, mantendo-se sempre abertos a
outras formas de ver o mundo e, consequentemente, estando abertos a aprender.
Contudo, essa postura não parece ser observada no grupo de funcionários do
empreendimento pesquisado, pois, nesse local de trabalho, a prática é tão valorizada entre os
funcionários que chegam até mesmo a desconsiderar a opinião daqueles que não possuem esse
tipo de experiência:
No caso, o período de férias ele gozou eu também gozei, trabalhou sozinho como eu
trabalhei. Então, não tinha com quem eu trabalhar porque a equipe de mensageiros
hoje é nova, tem um que tem uma certa prática e tem outro que nunca trabalhou.
Não tem como eu discutir uma opinião para ele me dar sobre determinado problema,
eu tenho que resolver em cima do meu autoconhecimento da prática eu tenho que
resolver, dar andamento na solução do problema. Ou amenizar momentaneamente e
resolver no outro dia. (R6)
174
Atitude essa que, além de não permitir que o conhecimento existente e as atitudes
correntes sejam questionados, também inibe o surgimento de perspectivas múltiplas, que, de
acordo com Dixon (1999), facilitariam a aprendizagem. Cabe resgatar o velho ditado
levantado por Kolb (1984, p. 35): “ele não tem 20 anos de experiência, mas um ano repetido
20 vezes”, ou seja, não é porque se vivencia uma situação por muito tempo, que se tenha,
necessariamente, aprendido da melhor forma possível sobre ela.
Considerando-se que, embora os funcionários do empreendimento tenham
experiência em hotelaria, muito dessa experiência é pautada nas observações do próprio hotel,
porque as pessoas que estão mais tempo no empreendimento são aquelas que praticamente
atuam nesse local desde que iniciaram sua carreira profissional, reforçando o fato de que,
embora possuam experiência, essa experiência é a reprodução do que rotineiramente é
realizado, em um contexto que não apresenta evidências de muitos questionamentos ou
mudanças.
Sobre a aprendizagem no nível do grupo de funcionários do setor da recepção, foi
constatado que, na verdade, no empreendimento pesquisado, não existem iniciativas que
promovam a aprendizagem no grupo de funcionários em sua totalidade, ou seja, não foram
identificadas iniciativas que busquem a sistematização do conhecimento para que este
transforme a organização, buscando aumentar a satisfação de seus stakeholders, como sugere
Dixon (1999).
Mesmo não existindo processos e práticas concretas e sistematizadas de
aprendizagem no grupo da recepção em sua totalidade, o que se observou, no entanto, é que,
nos turnos de trabalho na recepção do hotel Três Estrelas, os recepcionistas acabam
desenvolvendo práticas comuns para realizar suas tarefas, reconhecendo, inclusive, que esse é
um procedimento comum na organização:
Tu pode adotar dentro do seu horário, não prejudicando os outros horários, não
trazendo um fluxo mais de documentos, alguma coisa. [...] Entendeu, mas a gente
participa: “Olha, a gente está agindo dessa forma ou dessa”. (R6)
Embora essas práticas o sejam adotadas por todos os funcionários do setor, nesses
momentos, ocorrem a socialização das experiências vivenciadas e o compartilhamento de
alguns questionamentos entre os funcionários que desempenham suas atividades no mesmo
horário: “A gente sabe que, pelo menos, no meu turno, a gente está direto conversando sobre
isso, o desempenho de cada um, o turno anterior...” (R1)
175
A socialização das experiências vivenciadas acontece involuntariamente, uma vez
que o espaço da recepção é limitado, tornando praticamente impossível que um funcionário
não acompanhe os processos de rotina desenvolvidos pelos colegas. Além disso, o fato de que
essas pessoas trabalham e, portanto, convivem 8 horas diárias no mesmo local de trabalho,
acaba promovendo a troca de ideias e questionamentos entre esses funcionários, todavia, essa
troca de questionamentos ou mesmo as ações realizadas limita-se aos funcionários daquele
turno: “Eu e o meu colega, nós fazemos. Agora, durante os outros turnos não sei.” (R2)
Não se tem consciência dos procedimentos que os outros turnos adotam, nem mesmo
se utilizam práticas comuns à hotelaria, para repassar informações importantes entre os turnos
de trabalho, como se constatou na observação de campo:
O livro de registro de ocorrências do hotel é, na verdade, uma agenda. Próximo ao
meio-dia perguntei se poderia olhar essa agenda, o funcionário disse que sim e
lembrou-se que, inclusive, ele precisava ver se havia alguma coisa escrita nela. (OP)
Quanto à aprendizagem nos grupos de trabalho, percebeu-se que o setor da recepção
é formado por três subgrupos da recepção principal, no hotel Três Estrelas. Cada subgrupo
trabalha juntamente com um auxiliar de recepção, que desempenha suas funções no hotel
Quatro Estrela: no entanto, esse funcionário fica isolado de todo o processo de aprendizagem
dos turnos de trabalho e limita-se a desempenhar suas tarefas, ou seja, atender o telefone,
entregar e conferir as chaves, auxiliar os hóspedes sempre que necessário e repassar à
recepção do hotel Três Estrelas as demandas que não lhe competem.
A percepção quanto ao tempo que uma pessoa leva para aprender as atividades
realizadas no espaço da recepção aparece, em muitos casos, vinculada à vontade de aprender.
Na opinião dos recepcionistas, o tempo para aprendizado da função tem diferenças grandes de
enfoque, pois as respostas variam de uma semana até um ano e meio ou dois de experiência
para dizer que uma pessoa aprendeu o exercício dessa atividade.
Os recepcionistas 3, 4 e 5, no entanto, identificam que, para que uma pessoa possa
aprender a rotina básica das tarefas desse setor, é necessário um período equivalente entre três
e seis meses de trabalho. Considerando-se que o próprio grupo identifica que as ações dos
recepcionistas e auxiliares são repetitivas, pois o serviço é basicamente o mesmo que
atendendo diferentes pessoas e, além disso, as tarefas desenvolvidas não são extremamente
complexas, é possível inferir que não seja necessário um período muito longo para o
aprendizado das atividades básicas dessa função.
176
Dessa forma, acredita-se que o período destacado por esses recepcionistas (entre três
e seis meses) representa, no contexto analisado, tempo suficiente para o aprendizado das
atividades do setor, considerando-se, inclusive, as diferenças individuais dos funcionários, tais
como: iniciativa, vontade de aprender, experiência anterior em hotelaria e conhecimentos
oriundos de processos de aprendizagem formal, tais como cursos técnicos e superiores da
área.
5.3 ASSOCIAÇÃO ENTRE APRENDIZAGEM E MUDANÇA
A aprendizagem nas organizações, direta ou indiretamente, está associada a alguma
mudança no contexto organizacional, pois pressupõe-se que, com o resultado da
aprendizagem, surgirá algum conhecimento válido e aplicável, que resultará em ganhos para a
organização, como sugerem Argyris e Schön (1996). Os próprios conceitos de aprendizagem
dos autores que referenciam o presente trabalho associam a mudança na ação à aprendizagem
quando se referem a: detectar erros ou anomalias e corrigi-los (ARGYRIS; SCHÖN, 1996);
efetivar a ação (KIM, 1993); transformar a organização (DIXON, 1999); aprimorar as ações
organizacionais (EDMONDSON, 1999).
Dessa maneira, compreendeu-se ser relevante identificar como a mudança está
relacionada à aprendizagem no ambiente pesquisado, entendendo que a alteração dos
processos e ações organizacionais está associada às sugestões destacadas tanto pelos hóspedes
quanto pelos funcionários do setor.
A estratégia escolhida pelo empreendimento para saber a opinião dos hóspedes sobre
os serviços do hotel é deixar nas UH um questionário de avaliação, cujo modelo (omitindo-se
o nome do empreendimento) pode ser observado no Anexo A. Segundo as orientações do
próprio questionário de avaliação, os hóspedes devem deixá-lo na recepção, embora no local
não exista nenhuma informação sobre onde o documento deva ser entregue. Os funcionários
da recepção entendem que essa avaliação deve ser deixada no apartamento, para que a
camareira entregue à governanta, que repassará à diretoria. Contudo, esse fluxo nem sempre
flui dessa forma, como destaca o recepcionista 1:
177
Dependendo... é jogado fora. Não chega aonde deveria. Já explico como: se é do
setor da governança que ah... afetar, mas pode prejudicar a governança em si,
não chega à direção, porque muitas vezes a gente fica sabendo, porque o próprio
hóspede vem e reclama. a gente aconselha: “Oh, registra, tem uma folha, assim,
assim, assado”. Mas o diretor nunca fica sabendo. Então, eu sou um que a partir de
quando eu comecei a perceber isso, eu comecei a colocar no relatório, junto o caixa,
porque eu fecho o caixa e tem uma folha de relatório, eu ponho junto. E por causa
disso, está no meu pé a “dita cuja”. (R1)
Identificaram-se mais duas diferentes formas de relatar à direção os comentários dos
hóspedes sobre os serviços prestados: os recepcionistas preenchem a reclamação e
encaminham junto com o relatório de fechamento do caixa, ou os próprios clientes anotam em
uma folha, entregue pelos recepcionistas, que é anexada ao relatório do caixa, conforme
explicou o recepcionista 3:
Não, a gente... se o hóspede não escreveu no formulário, na sugestão no
apartamento, a gente pega o apartamento dele, ou dá uma folha em branco e ele
escreve, ou a gente escreve no nosso relatório de ocorrências, que anexa ao
fechamento de caixa, pro diretor ver. “Ah, o hóspede do apartamento tal, se queixou
ou... ou... sugeriu que fosse assim” entendeu ? (R3)
Os hóspedes também entram em contato com a diretoria, após saírem do
empreendimento, ligando ou encaminhando e-mails, como destacou o diretor 1: “
Normalmente o próprio hóspede entra em contato, diz que foi mal atendido. Tanto
através do nosso formulário, que nós deixamos no apartamento, tanto através de uma
ligação, através de um e-mail... (D1)
Assim, foi possível constatar que existem quatro formas por meio das quais as
sugestões dos hóspedes chegam à diretoria, conforme a Figura 18:
Figura 18: Formas pelas quais os hóspedes encaminham suas sugestões e reclamações à diretoria
Fonte: elaborado com base nas entrevistas e na observação participante.
178
O que acontece com as solicitações e sugestões encaminhadas à diretoria pelos
hóspedes não é compartilhado com os recepcionistas e auxiliares, que acabam não sabendo
exatamente quais são os procedimentos a partir das situações-problemas identificadas: “Os
hóspedes, quando querem retorno, deixam o seu telefone e eu mando lá pra direção; não sei se
eles dão retorno.” (R2)
Como os funcionários não sabem que tipo de retorno o empreendimento dá aos
hóspedes, nem mesmo sabem se existe algum tipo de retorno, observa-se que as sugestões e
solicitações dos hóspedes são “tratadas com normalidade”, como especifica o recepcionista 2:
Hóspedes sugerem. Hóspede, quando não reclama, sugere. Porque o hóspede, na
verdade, reclama de tudo. Nunca está bom. É verdade. Não sei. Eu não sei se na casa
deles é tudo às mil maravilhas, mas sempre reclama. Você não vai acreditar, mas um
dia desses, um me reclamou de um sabiá, cantando! É mesmo! Pediu pra mudar de
quarto. Outra vez, uma mulher reclamou: “Bah, eu não consigo dormir, porque é
muito silêncio nesse apartamento aí!” pediu pra trocar. O outro reclama do barulho
do ar-condicionado. (R2)
Nesse caso, identifica-se que as sugestões dos spedes, muitas vezes, não são nem
consideradas pelos funcionários, que rotulam os clientes como exigentes e se questionam,
inclusive, se na casa desses clientes tudo funciona perfeitamente. Outros funcionários também
desconsideram as observações dos hóspedes, assumindo o raciocínio defensivo, como
sugerem Argyris e Schön (1996), de que os problemas são estruturais e, por esse motivo, não
podem ser resolvidos, como destacou o recepcionista 3:
Sempre dão sugestão. É que tem coisas... tem muitas sugestões que às vezes o
pra resolver, que são devido à estrutura e engenharia dos apartamentos às vezes, o
aquecedor a casa das máquinas, o barulho, alguma coisinha ali no andar e tal. E
geralmente a gente não pode seguir essa sugestão, a gente passa, tem uma folha de
satisfação do cliente no apartamento, sempre aconselha a escrever. E sugestão, a
gente repassa pro diretor, e a... e a... e a sugestão maior, a pessoa fala, que o ar-
condicionado poderia ser melhor, no Quatro Estrelas porque lá é Quatro Estrelas,
que o ar-condicionado é central, então se poderia melhorar bastante a qualidade
das... só que tem casa de máquinas. Então é complicado. (R3)
Os problemas estruturais não podem ser resolvidos com facilidade e também não são
competência e responsabilidade dos recepcionistas e auxiliares de recepção. Contudo,
observaram-se, por outro lado, ações que buscam a melhoria da estrutura do empreendimento
e que vêm ao encontro das sugestões dos hóspedes. Essas ações referem-se à inclusão de
aparelhos de ginástica próximo ao local da piscina e a adaptação de apartamentos para
portadores de necessidades especiais. Outras mudanças dessa natureza estão sendo realizadas
179
gradualmente, tais como: a substituição dos carpetes por lâminas; cortinas dos banheiros por
boxes; troca de camas fixas por camas Box; troca das colchas e cortinas dos apartamentos.
Durante o processo de coleta de dados, em relação aos problemas comentados pelos
recepcionistas e auxiliares, não foram identificadas ações de melhoria, referente ao sinal
wireless e ao ar-condicionado do hotel Quatro Estrelas, o que não significa que soluções para
esses problemas não estejam sendo pensadas pela diretoria do empreendimento e, como foge
do escopo desse trabalho, também não se procurou entender se essas ações estão ou não
previstas no planejamento estratégico da organização.
Considerando as questões relativas às sugestões dos hóspedes para o empreendimento,
três aspectos merecem ser destacados: o primeiro é a reação dos funcionários do setor quanto
às reclamações; o segundo é a falta de diálogo a respeito dos problemas organizacionais; o
terceiro é a pequena identificação de reclamações dos hóspedes, na percepção dos
funcionários, quanto a problemas relativos ao atendimento.
Diante das reclamações dos hóspedes, observaram-se dois comportamentos dos
funcionários: o primeiro absorver as reclamações dos clientes como se isso fosse
absolutamente normal, afinal “hóspede quando não reclama, sugere” (R2) e, como envolvem
problemas estruturais, nada pode ser feito; a segunda atitude é encaminhar à diretoria a
reclamação, e, ao apresentarem uma resposta ao hóspede, sentem-se cumprindo suas
obrigações de trabalho, ou seja, preenchendo o relatório de ocorrências e encaminhando-o à
diretoria.
O segundo aspecto observado é que o hotel realiza ações para melhoria na
infraestrutura, todavia, talvez, não na agilidade que os funcionários gostariam que fossem
implementadas. Cabe pontuar que ações como essas requerem planejamento e investimentos,
e nem sempre é fácil adequar as receitas às necessidades das melhorias requeridas. Identifica-
se, nesse caso, a falta de diálogo dos veis superiores da gestão para compartilhar com os
funcionários da recepção as estratégias de melhorias do empreendimento, assim como para
identificar com os recepcionistas e auxiliares as informações a respeito das prioridades quanto
a essas melhorias, visando à satisfação dos hóspedes (DIXON, 1999).
O terceiro aspecto refere-se ao fato de nenhum funcionário ter comentado sobre
reclamações dos hóspedes envolvendo os procedimentos da recepção. Apenas o diretor 1
identificou que existem reclamações sobre o atendimento. Da mesma forma como a
governanta do empreendimento age, na percepção do recepcionista 1, acredita-se que os
funcionários do espaço da recepção tendam ao bito de esconder os erros, como identificam
180
Cannon e Edmondson (2001). Isso está atrelado à falta de segurança psicológica, pois, em um
ambiente onde os problemas podem ser assumidos, os funcionários não teriam receio de se
expor, identificando as deficiências do setor na percepção dos clientes do empreendimento.
Quando questionados sobre as sugestões que os funcionários deram para melhorar o
desempenho das atividades no setor, observa-se que é recorrente no empreendimento a
acomodação, como se pode observar nas falas dos recepcionistas 2 e 7:
Não, desde que eu entrei aqui é a mesma coisa. Pra mim está ótimo! Diferente? O
que é que pode ser diferente ali? (pausa) O que é que pode ser diferenciado? (pausa)
Não sei. Como está assim, está bom! (R2)
Ah, agora vou lembrar o quê... muitas coisas a gente já sugeriu... até demais... (R7)
O recepcionista 1, no entanto, explicou que sugerir ideias novas ou procedimentos
diferentes é equivalente a perder tempo:
Eu muito falei, eu muito critiquei, eu muito sugeri, no começo, que eu cheguei aqui,
e , eu vi que não dava resultado, eu fiquei quieta, porque estava todo mundo
acomodado, e tratei de fazer outra coisa, pra mim me virar logo [...] Não! Eles são
muito acomodados aqui. Nem entra, ninguém perde tempo tendo ideia diferente.
Até, quando a gente comentava no começo, assim, eu cobrava e a gente comentava
alguma coisa: “Bah, a gente fazia assim, e assim, e assado!” nem presta, “Ah, ih...” é
tudo assim, muito acomodado! (R1)
Parece possível inferir que o grupo analisado adotou o comportamento de seguir
fazendo o mínimo necessário requerido ao desempenho de suas atividades, embora, quando
um funcionário começa a trabalhar no hotel, normalmente, apresente o desejo de sugerir
algumas mudanças:
Comigo... quando eu cheguei... o que que era? Deixa eu me lembrar, eu dei para
uma das donas do hotel uma sugestão e.... eu dei uma sugestão, mas não me lembro
o que que o pessoal ficou pirada comigo, bravo também. Pirou todos os funcionários
daqui, por quê? O hotel estava lotado e para mim toda recepção tem que ter um
cafezinho para os hóspedes, recepcionar bem e o hotel estava lotado com uma
excursão grande... e eu chamava para trazer cafezinho e eu falei para o diretor “O
que o senhor acha dessa semana deixar uma térmica de café aqui na recepção por
que os hóspedes pedem muito?”. Tudo bem, ele acatou e os garçons ficaram bravos
porque tem que trazer a térmica de café e ficar repondo café... ficaram pirados...
situações assim.
Observa-se, com base nessa situação, que, quando as sugestões interferem nos
procedimentos dos colegas tem-se uma situação estressante, pois o grupo não está disposto a
alterar os procedimentos que executam, mesmo que essa mudança represente uma melhoria
181
dos serviços oferecidos aos hóspedes. Essa postura gera um desgaste que faz com que as
pessoas, com o tempo, acabem deixando de sugerir, limitando-se a fazer o que é solicitado:
“Só que tem muita gente que sabe que não coloca em prática, as ideias são boas, as ideias
são inúmeras, mas só que não se coloca em prática.” (R6)
Essa situação lembra o alerta de Baker, Jensen e Kolb (2005) quando explicam que se
a reflexão nunca leva à ação, ocorre a estagnação. Apesar dessa situação de “não-
participação” dos funcionários contribuindo com sugestões para o desenvolvimento das
atividades, identificaram-se algumas contribuições deles, relacionadas no Quadro 22:
Quadro 22: Sugestões dos funcionários para o setor da recepção
Sugestões dos funcionários para o setor da recepção
Status
1.
Trabalhar com sistema de rodízio das atividades entre os recepcionistas e auxiliares.
Não
implementadas
2. Colocar um funcionário turnante para as folgas e horários de almoço dos
recepcionistas e auxiliares.
3. Servir cafezinho no hall do hotel Quatro Estrelas.
4. Colocar uma televisão no hall do Hotel Quatro Estrelas.
5. Reorganizar os mensageiros para que um sempre esteja na recepção do Quatro
Estrelas.
6. Colocar dois funcionários na recepção do Quatro Estrelas em períodos de alta
ocupação.
7. Modernizar a estrutura e aparência da recepção do hotel Três Estrelas.
8. Colocar camareira durante a madrugada em períodos nos quais a taxa de ocupação
gira em torno de 100% para conseguir vender mais apartamentos.
9. Deixar uma chave da lavanderia com a camareira plantonista.
10. Arrumar o cadastro de hóspedes padronizando as informações.
11. Identificar hóspedes aniversariantes que estiverem no hotel para parabenizá-los.
12. Entregar questionário de satisfação sobre o hotel ao hóspede durante o check out.
13. Instalar um computador para os mensageiros verificarem a situação dos carros no
hotel.
14. Colocar uma gaveta chaveada para os mensageiros guardarem as chaves de carros
que ficam por pouco tempo em frente ao hotel.
1.
Voltar a utilizar o sistema de automação hoteleiro antigo.
Implementadas
2. Colocar as telas dos computadores em cima do balcão da recepção.
3. Trocar os aparelhos de telefone do bar e do restaurante (em função do identificador
de chamadas).
4. Utilizar sistema de dois tickets (um para o hotel e outro para o proprietário) para
bagagens de hóspedes guardadas em local específico por um curto período de
tempo.
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
182
Foge também aos objetivos deste trabalho analisar se as sugestões identificadas no
Quadro 22 são ou não pertinentes e/ou viáveis para serem implementadas no
empreendimento. Por outro lado, apontá-las é importante para entender que essas sugestões,
muitas vezes, sequer são notificadas pelos funcionários aos seus superiores. Dessa forma, as
estruturas de significado permanecem no nível individual, como sugere Dixon (1999). Isso faz
com que os indivíduos acreditem que têm a solução para alguns problemas organizacionais,
porque suas ideias não são confrontadas com as perspectivas dos colegas e dirigentes da
organização. Essa situação, além de não gerar aprendizado e conhecimento entre o grupo de
funcionários, reforça a teoria em uso de que nesse empreendimento “não se deve gastar tempo
tendo ideias”. (R1)
Identifica-se, assim, que nesse contexto praticamente não são implementadas
mudanças, salvo quando as determinações vêm da diretoria e devem ser acolhidas, como
explicitam o recepcionista 6 e o auxiliar de recepção 3:
É que nem eu te falei, a gente tem que estar sujeito a mudanças, a gente não está
assim em um poder de escolha de não aceitar mudança. (R6)
Aí não depende de eu pensar, nem de eu achar também. Às vezes eu posso achar que
não dá, mas outra pessoa fazer diferente e dá. (AR3)
E que, por vezes, são realizadas em virtude dos avanços tecnológicos:
Porque a chave, quando era com chave a gente tinha mais controle. Aí, o sujeito vem
aqui, põe o cartão no bolso, vai pra rua e depois volta. E o tem como, cada um
que entrar, estar exigindo porque é um hóspede? É porque fica muito inconveniente.
E às vezes, tu chegas lá, o “cara” programa o cartão de noite pra manhã, fica mais
um dia, não abre, e tem que vir aqui. Põe perto do celular, descarrega, e já
sobe lá, já vem meio “vesgo” não abre, reclama com o recepcionista. Com a chave
era mais prático, mas como é modernidade, a gente tem que acostumar. (R6)
As informações coletadas no campo parecem revelar que três motivos contribuem
sobremaneira para que a situação não se altere: o primeiro é a falta de segurança psicológica,
o segundo é a acomodação e o terceiro é o raciocínio defensivo. Quanto à falta de segurança
psicológica, observa-se que o contexto não apresenta evidências de relacionamentos que
permitam que os funcionários expressem sua opinião, como pode ser detectado no
depoimento que segue:
183
Essa semana um exemplo que me ocorreu sexta-feira passada troquei o meu
uniforme sexta, daí, eu fiquei trabalhando sexta... não, eu troquei na quinta, trabalhei
quinta e sexta com ele – uma camisa suada, dois dias já é brabo – aí, folguei sábado
e domingo. Sábado e domingo, camisa suada, dois dias dentro do armário. Então,
são quatro dias. Cheguei segunda-feira, subi na lavanderia, pra trocar. “Não, a
funcionária fechou a lavanderia ao meio-dia, e foi embora!” Eu disse: “chefe, como
é que eu vou trabalhar com a camisa assim, cinco dias?” “Ah, a minha também está
suja, ela saiu ao meio-dia!”. Coloquei, eu digo “vou trabalhar com a minha!”
coloquei a camisa suja e fui trabalhar, mas assim, me sentindo... e os mensageiros
também, na mesma situação. Terça-feira daí, eu fiz um relatório, meio
caprichado terça-feira, eu fui trocar a roupa, ela não veio... Seis dias, eu coloquei
no relatório.
Terça-feira o veio, continuamos com a roupa suja, coloquei no
relatório de novo. O que que gerou? Nós não nos damos. Ela falou... olha os
absurdos... que ia me pegar, que não sei o que lá, olha só – é uma coisa tão
profissional ela abandonou o serviço, de livre e espontânea vontade, segunda-feira
ao meio-dia e não podia. Diz ela que avisou a guria, que está no lugar da governanta
e que ela autorizou. que ela disse “não, eu não autorizei. Ela só me comunicou
que estava saindo ao meio-dia e fechou a lavanderia!”então, uma não assumiu,
ninguém assumiu, e aí, eu fui fazer um relatório que era impossível ficar seis dias
com a roupa suja, camisa suja, na recepção, os mensageiros assim, não tinha... era
demais, aí, eu estou te dizendo: tu põe um “troço” pra melhoria, e tu é criticado.
Uma coisa tão... tão simples, a chave da lavanderia, ninguém tem uma chave da
lavanderia. Se pega fogo no hotel, se acontece alguma coisa... não, a camareira
plantonista fica com a chave: “Oh, o [nome do recepcionista] entrou na lavanderia,
acompanhado e retirou uma camisa” assina o livro, pronto nossa, tu não tem
noção do transtorno que deu, pra mim resolver esse probleminha da lavanderia!
Agora, o acidente acontece. Mensageiro vai pegar uma bagagem, como é que eu não
vou trocar de camisa, vou trabalhar, sujo? E era o que eles estavam trabalhando
completamente sujos. É caso do meu colega que fez um relatório do evento dessa
sala. Era tão simples, a menina poderia dizer assim: “bah, desculpa, eu confiei no
meu garçom, que ele teria que ter trocado e eu não fui revisar a sala” que ela teria
que revisar a sala, que é normal, porque ela está vendendo o produto e pronto,
morreu ali o assunto. Pedir desculpa, ou botasse a culpa no coitado do garçom,
talvez desconhecido, e pronto. Mas não virar a cara e ficar de mal. São colegas. Eu
preciso conversar com ela, os dois precisam conversar. Ontem um mensageiro subiu
com um casal no elevador, com o carrinho cheio de bagagens 6º andar e vem
um garçom que só subiu um andar de escada, se mete no meio do casal e da
bagagem, pra subir até o andar. Eu digo: “Bah, não faz assim, ‘tchê’ que está
errado!”. Como é que eu vou levar pra a Administração isso? E ele ainda ficou bravo
comigo. Completamente errado.
Em vez de conversar para encontrar soluções e resolver os problemas, aprendendo
com as situações, os funcionários ficam incomodados quando são identificados aspectos que
deveriam ser corrigidos. Para Edmondson (1999), um ambiente que promova a segurança
psicológica estimula um clima no qual os membros sabem que ninguém será rejeitado ou
punido por falar o que pensa, em que existe confiança interpessoal e respeito mútuo e as
pessoas sentem-se confortáveis de serem elas mesmas, tendo coragem de reconhecer seus
erros e assumir suas dúvidas perante o grupo. Embora o ambiente seja agradável para
trabalhar, no contexto pesquisado, os erros não podem ser levados à direção, observando-se,
na verdade, a “falta de segurança psicológica”, como destacou o recepcionista 1:
184
O que a gente pede, elas geralmente fazem, são bem prestativas, mas assim, quando
tu... teve um problema comigo, particularmente, que eu pedi... eu solicitei... pra
camareira plantonista que o spede estava pedindo uma coisa e ela demorou um
tempão fazer isso, tava se recusando a fazer e eu botei no relatório, e aí, o diretor
viu, chamou a governanta e a camareira, chamou atenção, e ficaram de marcação
comigo. Então, se tem que falar alguma coisa na Recepção, de algum... tipo “Ah
não, usa tal...” elas não falam comigo.
Quem é que está contigo? Deixa eu falar
com “Fulano”. Ficou essa “richa” porque eu botei em relatório e vou botar. É o que
eu te falei, prioridade é o hóspede: se ele quer passar uma roupa, a mulher ficou duas
horas, pra passar uma roupa, eu disse à dona [nome do hóspede] que era a hóspede:
“Olha a camareira não quis...” falei pra ela, que é cliente do hotel. E aí, ela saiu
enfurecida, porque eu ainda induzi a outra a reclamar, por escrito. Mas acontece. [...]
Ou o hóspede reclamou de alguma coisa, e eles esquecem, eles falam quando é
alguma coisa que a gente fez errado no dia anterior, no turno anterior e que
prejudicou eles, no check out, lógico. A gente fala, quanto a isso assim, mas refletir
sobre o procedimento em si não, a gente... E os outros, não, eles têm mais ligação
com as meninas de reserva, estão mais há tempo aqui... [...] o encarregado da
recepção, ele acha que não precisa incomodar o chefe, com medo. Ele fala: “Pra que
botar em relatório, por que que eu vou botar, e não sei o que” Então, eu não sei o
que se passa na cabeça dele. É mais o nosso turno que faz isso. (R1)
Identifica-se, nesse depoimento do recepcionista 1, que a falta de segurança
psicológica está presente em duas frentes diferentes: na falta de confiança interpessoal e
respeito mútuo entre os colegas e também relacionando-se ao medo que o chefe possui e que
o leva, segundo esse entrevistado, a não encaminhar para a diretoria os problemas existentes.
O mesmo medo da diretoria aparece também nos funcionários quando existe “pressão” quanto
às demissões nos períodos em que diminui a taxa de ocupação:
Mas eles não... se entrando [fazendo gestos de dinheiro com a mão], não nada;
a hora que... começa a diminuir eles fazem aquele grito, porque tem muita gente na
recepção, vamos demitir alguém, eles começam a procurar alguma coisa. Caso
contrário, se está tendo lucro... (R1)
O segundo motivo que leva os funcionários a não sugerirem mudanças no setor, está
relacionado à acomodação, como relatou o recepcionista 5:
Ideias diferentes são recebidas pelo grupo?... É uma boa pergunta: às vezes bem, às
vezes não, porque toda ideia diferente tem um trabalho, por consequência. E às
vezes as pessoas m... não querem acrescentar mais nada, querem deixar do jeito
que está, ou simplesmente, às vezes não “dão bola”. Porque não é de interesse e tal,
aí, é complicado, complicado nesse sentido. (R5)
Existe, portanto, consciência de que as mudanças implicam também em modificar as
rotinas e os procedimentos existentes, e os funcionários resistem e procuram manter o padrão
de suas atividades, sem arriscar novas alternativas, como destacou o recepcionista 1:
185
A gente fala, quanto a isso assim, mas refletir sobre o procedimento em si não, a
gente... eles são muito acomodados, esse pessoal que está há mais tempo aqui.
Todos têm família, então, eles não vão arriscar o teto deles, o ganha pão deles. (R1)
Para o auxiliar de recepção 1, no entanto, a dificuldade de mudança está atrelada ao
baixo grau de escolaridade dos funcionários:
Dos recepcionistas e também uma coisa que também que eu acredito que tenha
pesado... a própria falta de estudo. [...] Não, falta... nossa no caso, digamos eu e os
colegas que não têm muito estudo digamos, tem gente que tem menos estudo que eu,
não tem o segundo grau completo. Aí também pesa a mudança. Geralmente, a
pessoa se acostuma com o que é e já sabe de cor tudo aquilo ali e já muda alguma
coisa já vai ficar mais difícil para essa pessoa. (AR1)
Com base nos dados coletados, é possível identificar que os funcionários com menor
grau de escolaridade são também aqueles que trabalham no hotel mais tempo. A junção
dessas duas situações; baixa escolaridade e tempo de casa, parece dificultar ainda mais a
promoção de mudanças, pois a teoria em uso da organização mostra que os funcionários mais
valorizados são aqueles que mais tempo atuam no empreendimento. Isso pode ser
identificado nas falas apresentadas a seguir:
Então, aqui é assim, a prioridade é quem tem tempo de casa, se tem tempo de casa,
se fizer ‘besteira’ não nada. Agora, os novatos eles... ... eu “boto a boca no
trombone”, não tem tempo, não tem tempo. (R1)
É que aqui é diferente mesmo a história com o pessoal é muito antiga, uma história
de anos.... entendeu? Aqui é diferente, a história é diferente.... a conduta com os
colegas também. Que sentido? Os antigos é quem mandam. Isso, tem a ver na
hierarquia. Se eles não gostam de ti eles te derrubam. (AR2)
Fiquei ali! (risos) Não, sugeri, sugeri mesmo, não. Não, não é assim, por que... É que
faz pouco que eu trabalho aqui, faz apenas... faz um ano. E aqui, desde que eu
cheguei, a política da empresa, os mais velhos da empresa, são os mais
privilegiados. Então... é essa política, entende? Então não sou eu que cheguei ontem,
que já vai querer... Então tem que manter muito a calma nessa hora. (AR3)
Os funcionários que estão menos tempo no empreendimento não concordam com
essa política informal de que “tempo de casa” seja mais importante do que o interesse em
desempenhar as atividades, como explicou o recepcionista 3:
Por exemplo, um funcionário, trabalha, dez anos, tem um probleminha, não quer
ou não mais, assim, eu... eu mandaria: “Segue teu caminho”, no final das contas,
tendência mesmo, é por causa da rescisão alta.... mas se não está contente, eu acho
que.... eu não ficava retendo, esperando que ele se demita, eu sou uma pessoa que
penso na empresa, e não só na empresa, no funcionário também, mas não está
contente aqui? Acho que eu... segue o teu rumo. (R3)
186
A acomodação dos funcionários somada à teoria em uso de que os funcionários
antigos têm prioridade sobre os demais e que, inclusive, estes não sofrem com as
consequências dos seus erros, fazem com que o grupo de funcionários da recepção não se
preocupe em sugerir mudanças nas atividades que desempenham.
O terceiro motivo que leva os funcionários a não propor alternativas diferentes para o
setor está relacionado ao raciocínio defensivo. Segundo os entrevistado, novas ideias não o
aceitas e implementadas no empreendimento porque:
a) é um hotel grande (R1);
b) não é uma multinacional (AR1);
c) é um hotel familiar (AR2).
Dessa forma, os funcionários apoiam-se no raciocínio defensivo de que as mudanças
somente são feitas pela diretoria, como destaca o recepcionista 7:
a gente encaminha tudo à direção... tem nos apartamentos... eles têm os negócios
que a gente entrega... ou a gente relata em relatório e manda pra direção... Muitas
coisas até a gente acompanha um pouco, mas a maior parte... o hotel já tem suas
próprias regras, não tem como ficar mudando tudo... É... que dtu tem que avaliar
muito... mudar também, tu não pode mudar tudo de uma hora pra outra... (R7)
Percebe-se que os funcionários acabam incorporando que mudanças não são possíveis
de serem realizadas, criando diferentes respostas disfuncionais que não podem ser
contestadas, como sugerem Argyris e Schön (1999), e que contribuem para consolidar como
parte da teoria em uso os motivos pelos quais o empreendimento não aceita mudanças. No
entanto, quando os recepcionistas não se adaptaram ao novo software de automação hoteleira
que a diretoria pretendia utilizar, eles conseguiram fazer valer sua opinião e, atualmente, o
empreendimento opera com o sistema que o grupo de recepcionista avalia como sendo o
melhor para atender às necessidades do hotel.
Ao analisar todos esses dados, conclui-se que os três fatores dificultam a ocorrência de
mudanças no empreendimento: a falta de segurança psicológica, promovendo um ambiente
onde os funcionários o permitem que os erros sejam identificados; a acomodação, porque,
se os erros não são identificados, não precisam ser corrigidos; o raciocínio defensivo, que leva
a crer que não se pode mudar a forma como as coisas sempre aconteceram, uma vez que nesse
hotel todas as decisões cabem à diretoria, que se trata de um hotel familiar e grande,
embora não possa ser comparado a uma multinacional.
187
5.4 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E DIFICULDADES DO DIA-A-DIA
Considerando-se que, decorrente da falta de segurança psicológica, da acomodação
dos funcionários e da utilização do raciocínio defensivo, foram identificadas poucas
mudanças no ambiente pesquisado, surge o questionamento sobre como os problemas e
dificuldades do dia-a-dia são resolvidos no setor. Dessa forma, procurou-se compreender
quais são os procedimentos usados pelos recepcionistas e auxiliares para superarem as
situações nas quais os resultados das ações não são compatíveis com as expectativas.
A primeira reação dos funcionários do setor é tentar resolver as situações diferentes da
forma que consideram ser mais adequada para que o problema seja solucionado:
E eu sempre trato de resolver 100% o problema, porque não gosto de deixar... eu
assim, me ponho no lugar do cliente, eu tenho essa... eu gosto de ser bem atendido
nos lugares então... (R3)
Porque aqui eles te dão... uma certa autonomia, pra trabalhar na recepção. Então, eu
faço do meu jeito, como eu sempre trabalhei e sempre deu certo. (R1)
No caso dos recepcionistas do turno da madrugada, é mais importante ainda que eles
decidam como devem agir, pois estão sozinhos e são os responsáveis pelo empreendimento
naquele período: “Porque, de noite, na verdade, não tem respaldo assim, porque aqui trabalha
só eu e outro colega; a gente tem assim, de uma maneira ou de outra, tentar resolver.”
Como a empresa não desenvolve formas estruturadas de compartilhar as experiências
e, por consequência, os conhecimentos do grupo de recepcionistas e auxiliares, os modelos
mentais individuais prevalecem nas atitudes desses funcionários. Essa situação é agravada
pela falta de feedback, que é praticamente inexistente no empreendimento pesquisado, como
se pode observar no Quadro 23:
Quadro23: Feedback sobre as atividades desenvolvidas, na percepção dos funcionários do setor
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Descrição
Entrevistados
Não há feedback para os funcionários no hotel
R1, R2, R6, R7, AR1, AR2, AR3
Encarregado do setor feedback
R3, R5
188
A fala do recepcionista 2 retrata a falta de feedback para o setor:
Não. Essas coisas que a gente põe no relatório, às vezes, comento com o colega, aí, a
gente põe e nunca tem retorno. Às vezes, o [nome do encarregado da recepção] é
que dá; conhece ele? (R2)
Dos dois funcionários que disseram que o encarregado do setor é o responsável por dar
o feedback ao grupo, um deles deixou claro que, na verdade, é ele quem busca o retorno sobre
as questões pendentes:
Claro, o [nome do encarregado] é um ponto de referência. Eu posso chegar: “Oh,
[nome do encarregado] eu acho que isso aqui não está...” eu cheguei pra ele e falei:
“Eu acho que isso aqui não está certo, o que você acha disso... vamos fazer assim...
analisa e o que tu acha... tira como exemplo uma...” a gente, eu... eu...
particularmente, eu converso, não tem... não tem... [se ele retorno] Claro, tem
que dar, porque eu cobro: “E aí, [nome do encarregado] tu já resolveu aquela
situação que eu te pedi?” [se cobra retorno] Claro! Com certeza! Tem que ter. (R5)
Esse recepcionista disse que chega até mesmo a falar com os diretores, sem, no
entanto, desrespeitar a hierarquia existente:
Como muitas vezes eu vou ao diretor, o próprio diretor me um retorno, ele diz:
“Oh, está acontecendo isso, isso e tal...” por isso é importante. Claro, tu tem que
procurar não quebrar a hierarquia, nunca chegar e falar alguma coisa, sem ter
conhecimento do chefe imediato, que é o [nome do encarregado]! A gente tem que
ter essa transparência e tal. Acho que é importante isso. (R5)
Como essa atitude de buscar feedback não é compartilhada pelos demais funcionários
do setor, o que se observou, e também foi identificado nas entrevistas, é a total ausência de
retorno sobre as atividades desempenhadas. o havendo feedback, nem reflexão sobre os
processos e rotinas organizacionais, de maneira estruturada, o grupo de funcionários não sabe
se suas ações são, ou não, eficientes, como se observa no relato do auxiliar de recepção 3:
Olha... não é que eu possa dizer que resultado, mas eu imagino que sim, porque
ninguém reclama pra mim. Eu procuro implantar a minha experiência, a minha
qualificação. Eu procuro na medida do possível ser sempre profissional 100% e
ninguém... não sou cobrado. Mas na medida que eu for cobrado, lógico... mas eu não
sou assim... cobrado. (AR3)
Quando os recepcionistas não conseguem resolver os problemas sozinhos, eles
costumam compartilhar as situações com os colegas do mesmo turno, como evidenciam os
relatos dos recepcionistas 1 e 6:
189
Ah... as minhas ações e as ações da minha equipe de recepção resolvem os
problemas de reservas. É notório isso! (R1)
Comunicação a gente sempre está conversando. A gente trabalha coeso um no outro,
entendeu. (R6)
Embora esse compartilhamento para resolução dos problemas não aconteça sempre,
como destacou o recepcionista 4:
Ninguém tem que chamar a atenção, ninguém tem que interferir, tu começou a
atender, tu pegou um problema, tu vai até o fim. Se tu chegar “Oh [nome do
recepcionista]...” aí, eu vou... interferir, senão, é antiético. Às vezes, tem um
problema... agora... se o colega, passa o problema, a gente resolve junto. Porque aqui
também, tem essa falha. Às vezes, o colega não passa o problema. E o sabe
resolver. Ele tenta resolver e não sabe resolver. E é uma coisa tão simples, tão
simples, mas tu não pode... (R4)
Segundo Edmondson (1999), o compartilhamento dos problemas nem sempre
acontece porque pedir ajuda, admitir erros e procurar feedback exemplificam os tipos de
comportamentos que representam uma ameaça para a imagem. Assim, as pessoas na
organização evitam ao máximo revelar seus erros, chegando até mesmo a serem incapazes de
pedir ajuda, mesmo quando usar esses recursos poderia trazer benefícios para o grupo ou
organização.
Quando os funcionários pedem ajuda, eles se dirigem aos colegas do mesmo turno.
Dessa forma, embora o recepcionista 1 refira-se à sua “equipe” de recepção, ele subentende
que essa equipe é formada pelos colegas do mesmo turno, da mesma maneira que o
recepcionista 6, quando explica que eles trabalham coesos “um no outro”. Isso apenas reforça
que as práticas são compartilhadas entre os turnos e não entre todo o grupo de trabalho do
setor:
Tu pode adotar dentro do seu horário, não prejudicando os outros horários, não
trazendo um fluxo mais de documentos, alguma coisa em outros horários. Entendeu?
Mas a gente participa: “Olha, a gente está agindo dessa forma ou dessa”. (R6)
Os grupos de trabalho da recepção dão conta dos problemas de seu horário de
trabalho, mas compartilham entre os outros turnos somente as informações essenciais. Os
grupos acabam, então, desenvolvendo formas de resolver os “seus” problemas, e esse
conhecimento fica restrito a esses funcionários, às vezes, não sendo compartilhado nem
190
mesmo entre os demais turnos do próprio setor. Essa situação é ainda acentuada em dois
casos: com o turno da madrugada e com os auxiliares de recepção do hotel Quatro Estrelas.
No caso dos recepcionistas do turno da madrugada, eles demonstram consciência de
que estão distantes das decisões e atividades organizadas no hotel, reclamando que,
infelizmente, sentem-se isolados do que acontece no hotel durante o dia pela falta de contato
com os demais funcionários. Essa falta de contato também acarreta em maior
responsabilidade, na visão de um desses recepcionistas do turno da madrugada:
na noite, algumas coisas a gente alguma mudança ou não, porque esse contato
mais direto é mais com o pessoal do dia... Que tem o canal aberto e as pessoas estão
dentro do hotel, porque nós à noite na função de recepcionista, a gente é
recepcionista, a gente é gerente do hotel, a gente é diretoria, tudo. A gente assume
todas as funções. A gente é caixa, a gente é tudo dentro do hotel à noite.
Os auxiliares de recepção, no entanto, são considerados pelos recepcionistas como
pessoas que atendem telefone e entregam as chaves das UH, como demonstram os relatos dos
recepcionistas 1 e 6:
Os que ficam aqui [referindo-se ao hotel Quatro Estrelas] são auxiliares de recepção,
não são recepcionistas, então eles são treinados para atender telefone, fazer reserva e
não são treinados pra fazer check in ou pra tarifas, dar desconto, check out. (R1)
Falta conhecimento de causa e pique, porque [referindo-se ao hotel Quatro
Estrelas] ele fica muito restrito ao atendimento telefônico e entregar a chave,
entendeu. (R6)
Na observação participante, identificou-se que, especialmente durante o dia, o
atendimento ao telefone absorve um tempo considerável desses funcionários, pois as ligações
externas e internas são constantes, entretanto, esses auxiliares acreditam que poderiam
contribuir mais com a recepção, como destacaram os auxiliares de recepção 1 e 3:
Eu sei que tem um apartamento vago e poderia simplesmente pegar e trocar, eu sei
quem que vai chegar, eu sei o que tem de reserva. Então, eu poderia ter autonomia
para simplesmente dar outra chave no apartamento. (AR1)
Tipo, essa semana teve um caso de um hóspede, que sempre se hospeda aqui, então
não vou citar nome. Se hospeda aqui sempre. E ele não toma cada manhã. Aí, ele
pediu um bule de leite no quarto, no apartamento pra tomar um que ele toma e
ele falou pra levar o bule de manhã. Aí, o garçom foi levar pra ele e levou uma
notinha pra ele assinar, pra depois ser faturado e registrado na conta dele. Aí, ele
achou muito indelicado. O que que ele fez? Ligou pra Recepção, e falou : “[nome do
funcionário], ele me chama sempre pelo nome – [nome do funcionário] não é pelo
valor reclamou sabe? não é pelo valor, e sim pela indelicadeza, eu me hospedo
aqui e eu não tomo café da manhã, se eu fosse tomar café eu ia gastar bem mais,
191
então, não é pelo valor, mas eu achei que foram indelicados comigo,!” Eu falei:
“tudo bem”, falei pra ele que eu ia ver que “eu vou resolver pro senhor e tal” então,
naquele caso, se eu tenho um pouquinho de autonomia, eu já digo sim ou não, pro
hóspede. Eu o preciso dizer pra ele: “Eu vou ver”. eu expliquei pra ele que eu
ia ver e ia retornar a ligação depois. Aí, eu fui falar com o meu superior e o
telefone tocando e os hóspedes chegando e saindo aí, eu fui falar com o meu
Superior, depois ligar de novo pro apartamento. Então, talvez ele estava até
dormindo, eu tenho medo tipo de acordar... talvez, digamos ele estava tomando o
café dele. Então dá esse tipo de situação e tu perde o teu tempo. O mínimo
detalhe. Não é um transtorno, mas se eu tivesse um pouquinho de autonomia,
facilitava. (AR3)
Essa falta de autonomia e de compartilhamento dos significados coletivos sobre as
rotinas organizacionais faz com que o procedimento desses funcionários seja o de encaminhar
todas as situações para os recepcionistas do hotel Três Estrelas, como relatam o recepcionista
6 e o auxiliar de recepção 2:
Muitas vezes, também foge da nossa alçada, a gente tem que passar o serviço para a
pessoa capacitada a resolver o problema. (R6)
Não, eu não tenho autonomia porque eu passo tudo para frente. Eu encaminho
tudo para lá os problemas. [...] [quando questionado sobre o que ele faz diante de um
problema com uma reserva] “Tudo bem senhor, o senhor pode falar com o [nome do
chefe da recepção] lá na frente”. Eu passo a bola. (AR2)
Além de não promover o compartilhamento das estruturas de significado privadas,
essa situação reforça o modelo mental de que os problemas são resolvidos pelos
recepcionistas, aumentando as atividades a serem desenvolvidas no espaço da recepção do
hotel Três Estrelas e restringindo a possibilidade de criação de significados compartilhados.
O respeito à hierarquia está presente na fala dos entrevistados, pois o grupo pesquisado
tem o costume de repassar ao encarregado do setor os problemas existentes:
Aí, muitas vezes, a gente dá andamento das coisas pela manhã. A gente participa
com o [nome do encarregado da recepção] e ele dá andamento durante o dia. (R6)
[...] mas com o [nome do encarregado da recepção] eu passo os problemas tudo para
ele... [...] mas a gente passa tudo para ele agora, ele é o chefe da recepção. Morreu
ali, não dá mais para tu passar por cima. (AR2)
Se eu não resolvo... eu passo pro chefe, eu digo “olha, ele disse que a tarifa
negociada é tal e aqui pagou tal” e está batendo o pé. Claro, a gente consulta o
[nome do encarregado da recepção] antes e conversa. [...] Ah, com o [nome do
encarregado da recepção] direto... é meu superior de recepção. É direto. Eu não
passo por ele. Eu falo, e se é pra passar pra ele, pra que eu vou passar por ele. Se ele
tem um problema que resolve o diretor, eu passo pra ele. Ele conversa... eu não
passo por cima dele, porque é chato para ele. Então... eu já fui chefe também e eu sei
o que é isso. (R3)
192
Todavia, alguns funcionários reclamam que os problemas são repassados, mas não são
resolvidos, como explicou o recepcionista 4: “Não foi no sistema a observação no cantinho lá.
Só que eu falei pro chefe e eu sei que ele não vai falar pra elas. Eu também que não vou levar
pra diretoria [...].”
A identificação dos problemas é interpretada como “ofensa pessoal” aos
colaboradores, como sugeriu também o recepcionista 4:
Por isso eu digo: a reserva ela é mal administrada, completamente. É uma menina
para atender. A outra é eventos. A funcionária tem as ligações do ramal aqui do
hotel, da rua e o 0800. Então, ela perde muita... ela pode dizer pra direção que não,
que ela... ela vai achar que estou dizendo que ela não está dando conta, que ela não
está sendo competente, não. Ela é competente, mas ela não é suficiente pra atender o
setor de Reservas. [...] A demanda é grande. Em uma ligação, que ela está
atendendo, no 0800, e que a pessoa o tem pressa porque é gratuita, nesse meio
tempo é só ficando na telefonia, pra ter uma noção do que perde de reservas. [...]
Mas eu digo só, não é massacrar a pessoa que errou: é corrigir pra que não ocorra de
novo. E sem ficar brava. Ela errou, então ela tem que ser bem profissional pra ver
que ela errou. (R4)
As pessoas acabam não conversando sobre os problemas para que os colegas não
fiquem ofendidos, isso revela dois diferentes aspectos da mesma situação: ao mesmo tempo
que o clima de trabalho é agradável porque o relacionamento entre as pessoas é bom, os
funcionários não identificam os problemas a fim de que o clima organizacional continue
sendo agradável. Percebe-se, então, que a “camaradagem” atua como um ponto positivo para
a aprendizagem e, concomitantemente, atua como uma barreira para que os processos de
aprendizagem ocorram no setor.
A “camaradagem” atua como um fator positivo quando contribui para que o clima
organizacional seja produtivo, no qual as pessoas sintam-se acolhidas e satisfeitas por fazerem
parte daquele grupo de trabalho, conforme explicaram os funcionários:
Ah, tranquilo, na recepção, todos se dão com todos. Sim, sim, tranquilo, sem
problema algum! Nenhum atrito. (R1)
Porque... praticamente também... exemplo, folgas e tudo a gente negocia, é legal, a
gente mesmo faz a planilha, junto com... a gente conversa, isso é tudo negociado.
Em vários hotéis o RH chega e fala... pronto. E ponto, aqui a gente faz, liga pro
supervisor e ele até pergunta: “Posso ir pro chefe tem alguma necessidade?Ele
vai ali e a planilha onde fica cada um e tenta considerar tudo tudo. Vai pra
aprovação lá pro RH, claro. Aprovou, tudo bem, eles olham a ocupação do hotel.
Vê se está condizente, com isso. (R3)
O pessoal daqui é muito legal, sabe? Do hotel é muito legal. Tem umas pessoas que
a gente tem mais afinidade, e outras menos. É normal. Mas eu acho que o... em
relativo ao pessoal assim é bom, o convívio com as pessoas (R5)
193
Eu acredito que dentro do ramo hoteleiro em Porto Alegre é um hotel de ponta, é um
hotel realmente bem estruturado, bem encaminhado. Eu me sinto contente em
trabalhar aqui na equipe, porque tem bons profissionais... e eu acho que o ambiente é
muito bom. (R6)
Ah, no sentido de serviço, é normal, não tem assim... é bem tranquilo tem um grupo
bastante simples... Como dizer... são bem colegas mesmo. Colegas assim, tudo gente
de trabalho, entende? (M1)
Os recepcionistas de dois turnos de trabalho do hotel fazem apostas conjuntas na
mega-sena todas as semanas. Nesse ambiente agradável para trabalhar, definido pelo
recepcionista 3 como um local onde os relacionamentos acontecem “entre adultos”,
evidenciam-se algumas falhas ocorridas em tom de brincadeiras entre os colegas, chamando,
muitas vezes, a atenção para o erro em um clima descontraído entre os funcionários, como
identifica o auxiliar de recepção 2: “Repassa o que aconteceu, às vezes tem gozação, às vezes
não, se um rateia, às vezes, goza em cima dele brincando”. Essa descontração pode ser
constatada na observação participante quando:
Percebi que um recepcionista demorou bastante em torno de duas horas no seu
horário de almoço. Houve muita demanda na recepção e acabei auxiliando o
recepcionista que estava sobrecarregado. Em outro dia, fui com o mesmo
funcionário até a recepção do Quatro Estrelas, assim descobri que ele fica bastante
tempo longe da recepção no horário de almoço, porque faz também o horário de
almoço do auxiliar de recepção, a quem acompanhei no almoço desse dia. No
terceiro dia de observação participante, fui novamente almoçar com esse auxiliar de
recepção e descobri que, apesar do horário de uma hora para o almoço, esse
funcionário fica muito pouco tempo no refeitório e não aproveita o restante para
descansar, pois retorna para o setor. Não sei dizer como, mas o chefe da recepção
identificou que o recepcionista gosta tanto de fazer o horário de almoço do auxiliar
de recepção porque ele, por sua vez, fica quase duas horas com horário livre para
descanso. Essa situação veio à tona, mas foi trabalhada com muita descontração, e
os colegas do turno passaram a “pegar no pé” desse recepcionista. (OP)
Por outro lado, a “camaradagem” é uma barreira para a aprendizagem quando a
amizade não permite que o problema seja compartilhado, pois as pessoas não querem
“indispor-se” com os colegas, como explicou o recepcionista 1:
Nós, quem mais preenche é o turno da tarde. O turno da manhã tenta... “Ah,
porque... ah, ‘Fulaninha’, é tão querida a ‘Fulaninha’. Ah, pois... não, tadinha da
‘Fulaninha’”. Aí, fica por ali, entre eles, entendeu? Questão de amizade ou sei lá o
que. Nós, da tarde, “botamos a boca no trombone!Porque de manhã... O [nome de
um recepcionista] também tem bastante tempo de casa, mas ele, eu sei que... a
trajetória toda dele no hotel sempre foi assim. Ele não fica quieto, se ele achar que
tem uma coisa errada, ele vai falar, se tu gostes ou não gostes, entendeu? E os outros
da manhã, não, eles têm mais ligação com o pessoal de reserva, estão mais tempo
aqui, tem o [nome do funcionário da reservas], o [nome do encarregado da
recepção], ele acha que o precisa incomodar o chefe, com medo. Ele fala: “Pra
que botar em relatório, por que que eu vou botar e não sei o quê?Então, eu não sei
194
o que se passa na cabeça dele. É mais o turno da tarde que faz isso. Então a gente
reclama, mas isso nunca chega ao diretor, porque o chefe da recepção, é muito
amigo do chefe de reservas e pra o queimar ele... acoberta... [...] Não, porque a
manhã não pega o check in, é mais de tarde. Como eu te falei, os da manhã eles são
muito parceiros; os da tarde, são mais rebeldes, entendeu? Nós aqui pegamos os
maiores check in e a gente ouve os maiores desaforos então. [...] Quando lota o
hotel, eles não trabalham com uma margem de... eles acham que tem uma
porcentagem de over, que eles podem vender. Eles não têm um controle, então...
aconteceu várias vezes, de a gente estar com over, e nós da recepção, em horários de
expediente, termos que ligar pra outros hotéis, pra ver a disponibilidade, pra quando
chegar os hóspedes, que não tiver, pra gente poder encaminhar. Porque eles vão
fazendo. Eles não se “tocam”: “Não, mas se tem 240 apartamentos e se tem 250
reservas, tem que parar, por mais que o sistema esteja aceitando, eu tenho que parar,
porque eu vou botar aonde? Então a gente reclama, mas isso nunca chega ao diretor,
porque um chefe é muito amigo do outro e pra não queimar acoberta. (R1)
Portanto, esses funcionários utilizam algumas alternativas de chamar a atenção da
diretoria para os problemas: uma delas, deixando passar os erros para que sejam percebidos e,
como outra alternativa, encaminhando junto com relatório de fechamento de caixa as
reclamações dos hóspedes ou situações que aconteceram, pois, assim, os problemas não ficam
sendo “contornados” e precisam ser enfrentados:
Muita gente vem pra esses eventos, sem reserva. Então, eles passam por todos os
hotéis de Porto Alegre, então vai... o que é muita duplicidade de reserva e a
gente deixa de vender, é que uma parcela que foi eles que fizeram, aí, chega na hora,
no outro dia, com a duplicidade... Aí, o diretor: “Mas como, se o hotel estava lotado,
como é que não lotou?” Aí, o “chioé com eles lá, não é com a gente. Ele identifica
porque ele na apresentação do check in, vai ter dois apartamentos pra chegar,
vai desocupar, vai lotar o hotel. E no outro dia ele vai ver a ocupação, não lotou o
hotel. Por quê? Ah... daí, é duplicidade de reserva! Não, porque se a gente vê, deixa
de propósito... a gente viu duplicidade: “Ah, vamos cancelar?” Não! A gente deixa.
Se precisar, chegar alguém pra atender, a gente não cancela a reserva e a gente usa
aquela mesma reserva e troca o nome. Mas se não... a gente deixa no sistema, pra
ele ver no outro dia, porque senão, é o que eu te falei, vai morrer na praia, vai ficar
entre o chefe, a reservas e Deus. [...] Ah, sim, direto! A gente conversa bastante
entre a gente, entre os colegas... diz: “Ah, eu acho que devia ser assim, assim,
assado.“Ah, eu também acho!” a gente já discutiu uma coisa ou outra, e passa pro
chefe, na esperança que passem adiante. Então... morremos sempre na praia. Aí,
quando é uma situação muito... que tem que tomar uma atitude muito drástica, aí, a
gente vai direto a “Deus”. (R1)
Essa atitude dos recepcionistas escreverem no relatório que é encaminhado à diretoria,
assunto abordado no item 5.4 deste trabalho, acaba trazendo problemas de relacionamento
entre os funcionários porque, em vez de conversarem para encontrar soluções e resolver os
problemas, os grupos de trabalho entendem como problemas pessoais e ficam incomodados
quando são identificados aspectos que deveriam ser corrigidos.
195
Falta esse processo, porque no caso, essa questão da reserva ontem, eu comentei
com o chefe hoje, só que eu sei que ele não vai tomar nenhuma atitude. Fica assim,
acabou, temos que perder, nossos clientes estão assinando a conta e está faturado,
está tudo ok, mas é um problema que tinha que chegar “Oh, aconteceu isso e isso,
não pode acontecer”. Mas eu digo só, não é massacrar a pessoa que errou: é corrigir
pra que não ocorra de novo. E sem ficar bravo. Ele errou, então, ele tem que ser bem
profissional pra ver que ele errou [...] Onde ele erra, fica errado. Entende? Se eu ver
que ele errou alguma falha, um erro de diária, um erro de coisas eu trato bem e digo
“tu errou, tu não corrigiu correto”. Se tu tocar no... se tu disser: “Tu errou...” o
problema é que a maioria não admite, não aceita que errou. “Mas tu errou, está ali,
está provado”. Sem querer, ou por querer, mas tu errou. (R4)
Verifica-se, dessa maneira, que em um ambiente no qual falta segurança psicológica,
as pessoas tendem ainda mais a esconder seus erros. Esse hábito representa mais uma barreira
da aprendizagem, identificada por Cannon e Edmondson (2001), que pode ser observada no
ambiente pesquisado. Como os problemas, muitas vezes, não são identificados, também
acabam não sendo resolvidos e, portanto, quase nada de aprendizagem no nível do grupo pode
ser observado nesse contexto.
Visando ilustrar esse aspecto, o Quadro 24 traz o detalhamento de algumas situações
rotineiras consideradas problemáticas, as ações desenvolvidas pelos funcionários visando
solucioná-las, assim como as consequências de tais ações.
196
continua
Quadro 24: Situações-problemas identificadas
Situação Detalhamento
Ação realizada Consequência da ação
Toalhas
A camareira avisou que, em um check out, havia sumido uma toalha do apartamento. Os hóspedes eram americanos e estavam no
Brasil a serviço de uma empresa. O cliente disse que a toalha estava na UH, ele retornou ao apartamento e mostrou à camareira
onde estava a toalha. (OP)
Pedir desculpas ao hóspede. Não houve reflexão sobre
o que motivou o equívoco.
Reservas erradas
Como eu citei antes, elas fazerem uma categoria que não é a que o hóspede pediu, ou colocar um número de pessoas num
apartamento pequeno, por não conhecer o apartamento e dá o maior transtorno. [..] Pois é, vamos supor¸ elas atendem o
telefone: “Ah, eu queria um casal, tal dia, tal e tal!” aí, elas anotam num papel. Na hora de lançar no sistema, ah, não tem casal
elas já venderam todos os casais – aí, elas colocam em duas camas. Aí, “te vira nos 30”, depois, quando o hóspede chegar (R1)
Overbooking tu sabes o que é? O hotel, às vezes, vende demais, não é? Vende reserva – tem 70 apartamentos e faz 90 reservas –
aí, o sujeito chega aqui, na reserva, “Eu tenho uma reserva!tu vais ver, não tem mais apartamento. fica uma situação
delicada. Aí, tem que mandar ele pra outro hotel, arrumar outro hotel. (R2)
Se a reserva vem errada pra Recepção, às vezes, tu chega ali e tu te surpreende, o hotel em over principalmente, tem luxo
casal Pedro e Paulo. Como é que eu vou botar Pedro e Paulo, numa cama de casal? Então, o erro, às vezes, vem de fazer a
reserva entendeu? (R4)
Por exemplo: se tiver uma... uma reserva pela internet e a reserva não estiver no sistema e passar das seis horas e aquela reserva
foi embora, vai refletir na recepção, porque a reserva não está ali. E muitas vezes é faturada. Aí, tu tem que abrir um
apartamento, pra uma pessoa, e essa pessoa tem que sair às 5 horas da manhã. Como é que ela faz? Se a reserva começa a
trabalhar a partir das 8? Como é que tu vai conseguir essa autorização de faturamento? (R5)
O check in e o walk in deles é feito..., às vezes, tem reserva que veio por e-mail e a reserva não abriu o e-mail, ele chegou..., são
bem assim as meninas...,às vezes, vem fax de solicitação e a autorização, mas aí é com eles lá. (AR2)
Corrigir os problemas na
recepção, durante o check in
Em algumas vezes,
comunicar ao encarregado do
setor.
Nas situações mais graves,
colocar no relatório junto
com fechamento do caixa.
Não há reflexão sobre as
causas dos constantes
equívocos.
Quando os problemas são
muito grandes, os
recepcionistas preenchem
o documento que vai junto
com relatório de caixa para
que a diretoria fique
sabendo da situação.
Resolver
problemas nas UH
O “cara” me liga: “Olha não funciona isso aqui!” eu mando alguém lá, e soluciona o problema; às vezes o “cara” me liga e
“Olha, não tem isso aqui no apartamento!” daí, eu providencio. Ah, papel higiênico, a camareira, às vezes, se esquece de levar...
acontece. De noite, camareira não tem, nós fazemos; faltou toalha, faltou sabonete, tudo... até montar uma cama, às vezes. (R2)
Mas, geralmente, não tem tido muito problema, com camareiras, é... claro às vezes pode esquecer de levar alguma coisinha,
pro apartamento. “ah, não trouxeram o colchão extra até agora!” Acontece. Pela quantidade de serviço que elas têm, também... é
difícil assim, mas é superável. [...] A única coisa que eu não posso resolver é quando a gente está com problema no apartamento
e tem evento o que eu posso resolver é mandar ele pra cá pro três, pro... se é que tem vaga. Resolvo, é incômodo, dependendo do
horário da madrugada, se surgiu o problema, você entendeu? Dá pra gente resolver o problema. (R3)
Atender às solicitações dos
hóspedes, quando possível.
Não há reflexão sobre as
causas dos equívocos.
A situação não é percebida
e, portanto, não é cobrada
pela direção.
Colocação do
banner para o
evento
Para o evento que começaria na quarta-feira, a empresa organizadora deixou na segunda-feira [pois os check in começavam já na
terça-feira] em um banner que informava que ali poderia ser retirado o material do evento e solicitou que o ticket para retirada de
material fosse colocado num envelope para, posteriormente, ser entregue à empresa. O banner não foi pendurado. O [nome de
um recepcionista] fez uma caixa de papelão, com uma pequena abertura, para que os recepcionistas colocassem ali os tickets,
para facilitar o serviço que seria, especialmente, uma atribuição do grupo do próximo turno. A caixa acabou não sendo uma boa
alternativa, pois a empresa organizadora do evento passava diariamente pegar os tickets, sendo assim, ela teve que permanecer
aberta, mesmo assim continuou sendo usada. Na quarta-feira à noite, o Sr. [nome de um diretor] questionou sobre a entrega do
material do evento e soube que o banner não havia sido exposto. O banner foi então pendurado na recepção no lugar de um
enfeite de Natal, colocado pela [nome da esposa de um dos donos do hotel]. Os funcionários recearam que ela não gostasse da
troca, mas não percebi, no decorrer da semana, nenhum comentário sobre o assunto. (OP)
Desenvolver uma ação para
resolver um problema do
setor (montando a caixa).
Quando a caixa não foi
eficiente para atender aos
objetivos, os funcionários
continuaram utilizando-a.
O banner foi colocado
quando houve cobrança da
diretoria.
A diretoria identificou que
o banner não havia sido
colocado, mas não houve
reflexão para que essa
atitude não se repetisse.
197
conclusão
Situação Detalhamento
Ação realizada Consequência da ação
Piscina interditada
Um recepcionista fazia o check in de um casal com uma criança pequena e o conseguiu um apartamento com uma cama maior,
em virtude da ocupação do hotel. O casal não ficou satisfeito e disse que precisavam que isso fosse resolvido, pois a criança
costuma dormir junto com os pais. Depois eles perguntaram sobre a piscina e o funcionário comentou que ela estava em reformas.
O cliente ficou muito bravo e disse que tinha trazido a família, porque enquanto ele ficava no congresso, a esposa e a filha ficariam
na piscina, disseram também que o hotel foi escolhido em função da piscina e que no site não estava escrito que estava em
reformas. Ligou para a agência que comprou o pacote e solicitou alteração de hotel, ou voltaria para casa e pediria indenização. A
cidade estava lotada, não havia onde hospedar essas pessoas, portanto não foi possível encontrar outro hotel. A agência pediu então
para que eles fossem ao restaurante almoçar para, enquanto isso, tentarem resolver o problema. Não sei como (pois a conversa
aconteceu entre a agência e o cliente), mas ele decidiu ficar no hotel desde que encontrassem algum clube para que elas pudessem
usar a piscina. A recepção passou ao cliente números de telefones de clubes para que ele ligasse e combinasse como poderia
utilizar as piscinas. Ele encontrou um clube que aceitou desde que um sócio fizesse uma correspondência solicitando o serviço.
Como um dos diretores do hotel é sócio, o documento foi providenciado. A gerência do hotel ficou sabendo do ocorrido, pois esses
procedimentos causaram demora na resolução do problema do cliente e ele estava bastante insatisfeito. Os recepcionistas acreditam
que o site deveria informar sobre a reforma da piscina, mesmo não entendendo porque a reforma estava sendo feita tão próxima ao
verão. (OP)
Fizeram o check in do
hóspede, mas deixaram que
ele encontrasse um clube
onde pudesse utilizar a
piscina.
Não houve comportamento
pró-ativo de se antecipar
ao problema, informando
sobre a reforma no site
e/ou colocando um local à
disposição dos clientes
para o banho de piscina,
caso desejem.
Não houve auxílio ao
cliente para encontrar um
clube onde a filha e a
esposa pudessem tomar
banho de piscina.
Lançar errado o
nome dos ocupantes
das UH
Imagina, uma pessoa liga para saber de fulano e você vai tocar naquele apartamento, mas ela não está lá, ela trocou no outro. A
gente sabe que isso aí é uma coisa assim que é um erro e a recepção faz continuamente. (AR1)
Recepcionistas lançam
nomes dos hóspedes
conforme rooming list
recebido.
Não reflexão sobre a
situação que não é
percebida e, portanto, não
é cobrada pela direção.
Tarifário
Como eu te falei antes, dos tipos de apartamentos... ah... a menina de reserva não conhece os apartamentos, então ela vende sem
saber. Às vezes, ela bota três pessoas, um casal e uma criança num standard, que não acomoda o colchão, aí chega no check in a
gente vê, a gente altera, e dá o upgrade pra um apartamento maior, com a mesma tarifa, porque foi erro da empresa, e no caso não
do hóspede, que não tem nada a ver com isso. [...] Tirar... tem hóspedes que eles acostumaram mal. Ah...., paga uma “mixaria” e...
dão o apartamento de luxo, o upgrade, sem necessidade. Aí, eles têm aquele e querem aquele apartamento, eles acostumaram
mal os hóspedes com isso e aí, quando tu vais fazer uma pessoa... eles só fazem isso pra quem dá “um” [fazendo sinal com as mãos
de dinheiro] depois, pra eles. (R1)
Até uma coisa curiosa: eu sou uma pessoa que eu sigo muito à risca em matéria de tarifário. Por que o que acontece? O tarifário,
ele, por consequência, ele traz benefício pra empresa. Se tu seguir o tarifário, também vai trazer benefício pra mim. Então,
acontece que tem muita... muitos colegas que: “Ah, porque é amigo meu e tal...” aí, começa a fazer tarifas especiais, e tal. Eu não
acho isso certo! Eu não acho certo, porque o que vale pra um tem que valer pra todos. Então, eu tive ali, às vezes: “Ah, mas teu
colega não está aí?” Porque ... Porque tem aquele negócio, de fazer a tarifa mais barata, dar um desconto e tal, mas isso aí vai
refletir também no meu salário, e vai refletir também, nos cofres da empresa! Então, uma coisa vai trazer a outra. Então, já... nesse
ponto aí, tem uma discrepância aí, sabe, tem uma coisa que não tem um... (R5)
À medida que ele, que começa digamos a proporcionar benefício para um tipo de cliente e não para outro, na verdade está
prejudicando algum cliente e a empresa. (D2)
Negociar tarifas de acordo
com o que cada
recepcionista acredita ser o
correto.
Utilizar o recurso de
upgrade para alguns
hóspedes sem haver
consenso em quais
situações isso deve ser
aplicado.
Cada funcionário decide
com base nas suas
experiências, pois o há
diálogo e reflexão para
desenvolver as estruturas
de significados
compartilhadas.
Fonte: elaborado com base nas entrevistas e na observação participante.
198
Nem sempre o relatório é utilizado pelos funcionários do setor como uma maneira de
identificar e, por consequência, corrigir os erros. Em alguns casos, os funcionários preenchem
o documento para se precaver de reclamações dos hóspedes, para que não sejam cobrados
pela direção sobre as atitudes tomadas, como evidenciam as falas dos recepcionistas 2 e 7:
O doutor [nome do diretor]... quando é um assunto mais grave eu ponho no relatório,
vai junto com o próprio caixa. Ah, quando um hóspede reclama muito de uma
situação, ou quando fala mal do hotel, aí... Às vezes, quando vai... a gente vai
cobrar adiantado, o cliente não gosta, e mete a boca, isso é comum. Mas, no outro
dia, se ele vier reclamar, o diretor já está a par, já. [...] Se acontece um caso,
diferente, que eu não comento pros “caras” e os “caras” não sabem vem o cliente,
reclamar, é bom eles estarem a par do assunto. Pra ter... pra tentar “saltar na
frente”, como se diz, pra tentar resolver. Se acontece alguma coisa, o “cara” chega e
“Quero falar com o teu chefe”... aí eu não comento nada com ele, entendeu? (R2)
É... é eles avisam, “oh, cometi esse erro na fatura”... daí a gente diz, vamos tentar...
todo mundo tem que tentar se ajudar, e arrumar antes que... para não... porque é uma
equipe... tem que funcionar um elo... todos têm que... Não... é muito difícil... pessoal
que erra, quase sempre eles gostam de comunicar já pra não ter um problema
maior... e se tu deixa pode se tornar um problema bem maior... (R7)
Percebe-se na fala dos recepcionistas 2 e 7 que a preocupação não é voltada para
entender o que aconteceu e procurar alternativas para corrigir os problemas, mas em resolver
as situações de forma que essas reclamações não sejam encaminhadas à diretoria. Se o
hóspede não reclamar para a direção, o problema simplesmente não é identificado e, portanto,
solucionado, como evidenciou o recepcionista 4: “[...] agora, quando ele erra numa falha no
atendimento, que gerou um atrito com o hóspede, se o hóspede não levar pra direção, fica
assim!”.
Dessa forma, a maneira que os recepcionistas encontram para resolver situações
problemáticas é “justificar suas atitudes” em caso de reclamações de hóspedes. Eles sabem
que isso pode ser feito porque o modelo mental compartilhado entre os funcionários do setor é
de que a própria diretoria não está preocupada com a satisfação de seus clientes, como
explicou o recepcionista 1:
Porque eles acham que do jeito que está esse tempo todo, está entrando dinheiro,
azar. Como é um hotel que... é mais assim, um público executivo, de empresários, é
uma rotatividade muito grande, então eles não chegam a sentir a insatisfação do
cliente. Se tu deixares de vir, mais três ou quatro virão. Eles se interessam se é
um hóspede de alguma empresa, que daí vai afetar todo o resto, se o restante da
empresa deixar de vir. (R1)
199
Isso não significa que esse seja, de fato, o posicionamento da diretoria, e neste trabalho
não se verificou o posicionamento dos proprietários do empreendimento quanto a esse
aspecto, visto que foge aos objetivos deste estudo. No entanto, constatou-se que os próprios
funcionários reconhecem que não cobrança no empreendimento, tanto por parte do
encarregado da recepção, quanto pelos diretores:
O chefe da nossa recepção, ele é muito amigo, ele é muito gente boa, então, tem
funcionário, que às vezes se prevalece, entendeu? “Ah, eu não estou a fim de
trabalhar hoje, eu não vou!” Azar do colega, que vai ter que dobrar, porque ele sabe
que ah ele chega aqui, com uma desculpinha qualquer e tudo bem. O máximo que
vai ganhar é uma advertência. Entendeu? Ele uma passadinha, avisa entendeu:
tipo: “não estou a fim de trabalhare deixa que sobrecarregue um colega, eu acho
que... eu acho que é certa a conduta dele em não ser aquele “carrasco”, mas ao
mesmo tempo ele não se impõe como chefe. (R1)
Eu acho que poderia ter mais cobrança. Não tem cobrança (risos), mas eu acho que
poderia ter mais cobrança. (R3)
Não é uma coisa que tem que chegar na direção. Tem que ser resolvido, mas tem
que ter cobrança, agora não adianta eu falar e ele não tem essa cobrança; o problema
aqui é a cobrança, é muita... é gostoso, é bom a amizade, somos colegas, mas não
somos da mesma realidade mas tem que ter aquele vínculo assim de um confiar no
outro, não estou entregando ninguém... (R4)
“Oh, está dando esse problema aí...” o encarregado é obrigado... de cada setor é
obrigado a tentar resolver o teu problema. Então vamos ver. Mas é... não tem... não
tem cobrança. (R7)
Eu acredito assim, que aqui não tenha não tenha... aqui tem muita liberdade, muita
liberdade. Não tem tanta... como é que eu vou te dizer? (pausa) Mas eu vejo assim
que a gente tem bastante liberdade, não tem tanta cobrança. (AR1)
Como não cobrança, nem feedback, os funcionários desempenham suas atividades
rotineiramente da maneira que acreditam ser a melhor possível e, também, preocupando-se
em fazer com que os problemas sejam resolvidos no setor para que não sejam identificados
pela direção.
Outra situação observada é a aprendizagem de papel limitado, sugerida por March e
Olsen (1975), pois os recepcionistas, que gostariam, mas não conseguem resolver os
problemas de reservas, encontram uma maneira de contornar a situação para atender tanto as
reservas quanto os hóspedes habituées nos períodos em que o hotel terá 100% de sua
ocupação.
Um recepcionista não explicou exatamente a forma como resolvem os problemas de
reservas: “a gente sempre tem seus segredinhos pra deixar... bloquear dois apartamentos”
(R3).
200
Contudo, dois recepcionistas explicaram que os funcionários criam reservas
“fantasmas” para que possam atender às solicitações dos hóspedes nos períodos em que
muito movimento no hotel:
Ah, no caso nós da recepção, a gente que vai lotar: “Ah, tal dia, tem congresso
tal, tem a Expointer” a gente já se liga, a gente faz, nós mesmos, no sistema, as
reservas técnicas, que a gente chama, entendeu? A gente até lança um sinal, do
nosso próprio bolso, pra garantir aquela reserva, pra eles não poderem cancelar, pra
gente deixar em stand by quando chegarem os clientes da casa, como a gente chama.
“Ah, não, não tem vaga porque o hotel lotou!” Entendeu? E não deixa na mão.
[quando questionado se os chefes sabem] Não, se eles souberem, cancelam! Eles
ficam sabendo depois, porque se eles souberem antes, cancelam a reserva para as
gurias de reserva poder botar pra dentro. eles falam: “Mas como é que vocês
conseguiram se não tinha mais reserva?”. “A gente fez uma reserva técnica!”
[quando questionado se não teria problema] Tudo bem!
Agora, quando chegar 30 pessoas em over é um... saiu... saiu de questão. Então
quando o hotel está lotado, eu tenho por hábito que é errado, eu sei que é errado,
mas eu faço eu tento criar reserva fantasma, se o hotel está lotado. [quando
questionado se isso não é errado] Não! Não porque eu sei que eu vou vender, mas eu
estou me precavendo pros erros, porque no hotel em over de 30, aí, eu chego ali, eu
sei que 5 são minhas, eu começo a diminuir, ou está ali o seu Pedro, está uma
semana com a esposa no hospital, está hospedado. Como é que tu vai chegar com o
termo de compromisso e dizer pra ele sair do hotel? Um cliente assíduo, que tu vai
perder por causa de um evento, que teve uma vez por ano, no hotel e que lotou o
hotel. Eu não posso perder aquele meu cliente assíduo. Então, várias vezes, vários
hóspedes, o mandados embora, à tarde, eles vão ter que desocupar o apartamento.
À tarde ele diz “Olha o meu cadastro, olha isso”. Eu digo “não, eu sei!” seu Pedro
por exemplo. “Não, o senhor pode ficar, sem problema, mas porque eu consigo,
porque eu estou precavido disso com aquela minha reserva fantasma. Senão o hotel
teria perdido muito cliente. E tu não pode mandar o cliente embora. Então, tu diz:
“Oh, está lotado” e tu não pega aquela reserva. Deixa... vamos dizer 15% dos
apartamentos, pra ti vender no balcão. Se os hotéis estão lotados na volta, tu vai
vender, tu vai ter procura. Então, a grande falha da reserva, também é essa aqui.
Sim, o chefe sabe. [quando questionado se a diretoria sabe] Não, da reserva não,
porque aí, eu estou fazendo uma coisa por minha conta, que eu sou capaz até de ser
advertido por criar uma reserva. É que eu me preocupo com um cliente desses. Eu
estou olhando, eu sei que dia 12 tem uma ocupação, dia 24 tem uma ocupação do
hotel pro [nome da instituição], eu tenho 5 reservas fantasmas. Não, a direção,
não, não sabem! A direção não sabe, porque se o cliente tem uma reserva aqui no
hotel, quando ele chegou aqui “Não, eu tenho reserva!” como é que eu vou dizer pra
ele que eu estou lotado, se ele diz: “Não, eu tenho reserva! Está aqui o comprovante
tal”, eu vou dizer: “Não, infelizmente, deu um problema...” eu vou ter que mentir
que estourou um cano, que estamos sem água, não... não cola mais isso, ninguém é
mais tão ingênuo assim! Aí, eu tenho que pegar um táxi ligar pra um hotel, tentar
uma vaga mas não é o que ele quer. Ou às vezes ele chega e é melhor do que
aqui. Ele não vai voltar mais aqui, porque foi feito uma coisa incorreta com ele e ele
não gostou. Aí, ele chegou lá e a mesma diária. Eu estou dando o meu cliente de
bandeja, pra outro hotel, pra um concorrente. Então eu bah... eu me preocupo muito
com isso aqui no hotel. Ele é muito, como é que se diz? Não é valorizado. O
hóspede. Tu tem aquele assíduo, o “cara” vem todo mês, três ou quatro vezes no
mês. Dá uma ocupação muito boa. Se todos fizessem isso... aí, vem um congresso aí,
que uma vez, nem sabe, nunca mais vai voltar aqui, eles perdem aquele cliente
assíduo. É, mas aí, não tem como tu chegar e dizer [referindo-se à diretoria]: Eu
faço!”
201
O encarregado da recepção percebe o problema, sabe da estratégia dos recepcionistas e
não parece discordar deles. Por outro lado, também não busca resolver a situação juntamente
com o responsável pelas reservas, para tentar entender e corrigir os erros, organizando de
forma diferente os dois setores. Essa realidade, embora traga problemas para os funcionários
do setor, não chega a ser encaminhada à diretoria.
Quando, entretanto, os problemas não conseguem ser contornados sem serem levados
à direção, eles não são trabalhados em um clima que apresente segurança psicológica, como
sugere Edmondson (1999). Em vez de serem percebidos como oportunidades para melhorias,
são transformados em confusão e agressões pessoais, conforme relatou o recepcionista 4:
E é falta da chefia. Chegar ao... que não era necessário chegar a esse ponto, de
“ficar de mal”. Ele não quis prejudicar, ele quis resolver o problema. E na verdade tu
errou! E o chefe tem essa autonomia, ele não vai brigar com o chefe. Mas comigo
ele vai, comigo ele vai. Eu acho que está faltando chefia e cobrança sim. o
cobrança, resolver também. [...] É essa cobrança é que não tem. Se chegar até a
cobrança, eles vão aos extremos. Eles não sabem chegar no meio termo assim, em
brigar, brigar em paz. Não eles m que brigar, é “ponta de faca” com diz. (R4)
Situação essa que reforça o modelo mental de que é melhor resolver os problemas
individualmente e, se o funcionário não consegue, ele, às vezes, compartilha com os colegas
do mesmo turno e, quando é mais grave, eles encaminham ao encarregado da recepção para
que seja solucionado ou para evitar que esse problema chegue à gestão do empreendimento
sem que os diretores tenham a versão dos funcionários.
Garvin, Edmondson e Gino (2008) explicam que três aspectos contribuem como
facilitadores à aprendizagem: desenvolver um ambiente favorável à aprendizagem;
institucionalizar processos e práticas concretas de aprendizagem; identificar no
comportamento da liderança atitudes que reforcem a aprendizagem. Como nenhum desses três
aspectos são observados no empreendimento pesquisado, a situação em relação às
circunstâncias cujos resultados não se ajustam às expectativas não acontecem na forma linear,
como sugere a Figura 6, que mostra a estrutura de ciclo simples e ciclo duplo de
aprendizagem (ARGYRIS, 1999), descrito no item 2.2.3 deste trabalho.
O que se observa no empreendimento pesquisado, quando as ações não se ajustam às
expectativas, pode ser visualizado na Figura 19:
202
Somente nesse
caso ocorre o
ciclo simples
ou duplo de
aprendizagem
na organização
Quando
deseja que o
problema
seja
resolvido
Se não
consegue
Se não conseguem resolver
ou se percebem que gerará
reclamações
Figura 19: Ações dos recepcionistas quando os resultados não se ajustam à expectativa
Fonte: elaborado com base nas entrevistas e na observação participante.
Qualquer alteração das atividades desenvolvidas na recepção usualmente acontece no
nível individual ou, no máximo, é utilizada pelos funcionários do mesmo turno. As ações que
provocam mudanças nas rotinas dos funcionários do setor em sua totalidade estão, em geral,
associadas à direção. Talvez, isso aconteça porque o modelo mental desses funcionários leva a
acreditarem que as decisões cabem aos encarregados e à direção, conforme apresentado no
Quadro 25:
Quadro25: Tomada de decisão na empresa, na percepção dos funcionários do setor
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Nesse caso, esse modelo mental também atua como um raciocínio defensivo,
conforme sugerem Argyris e Schön (1996), pois os funcionários do setor atribuem aos
encarregados e à diretoria a responsabilidade pelas mudanças necessárias, como se pode
observar nas seguintes falas:
É a diretoria e chefia. Se um problema aqui ou aconteceu isso, a gente passa pro
chefe, não é? o chefe do dia vai conversar com a diretoria e vão pra tomar a
decisão, da melhor maneira. (R2)
Eu acredito que as decisões... pela recepção a gente leva para o conhecimento do
chefe direto que é o [nome do encarregado da recepção] e ele leva para a direção do
hotel. E aí a decisão é tomada (R6)
Descrição
Entrevistados
Diretoria
R1, R4, R7, AR2
Diretoria e encarregados
R2, R6, AR1, AR3
203
Quem decide, como assim, na empresa? A direção! Tudo quem decide é a direção!
Sim, porque daí eles decidiram... eles avaliaram e decidiram não mudar! Tudo é
avaliado por eles, eles que dão o último... [...] Olha, a direção avalia um pouco,
mas eu não... aí depois eles decidem. Eles vão vendo, vão analisando, se der pra eles
implantarem no hotel, eles implantam e se não der... mas é tudo com a direção. (R7)
Eu acredito que elas sejam tomadas pela... pela chefia toda... quando eles estão em
reunião. (AR1)
A decisão vai pra o superior, o supervisor, e depois vai para a diretoria. A diretoria
lá eles decidem... as decisões. (AR3)
Isso leva os funcionários da recepção a esperarem que a diretoria forneça as soluções
dos problemas existentes, embora as sugestões pudessem ser iniciativas do setor:
Não... isso já vinha sempre... a gente cobrava de alguns... outros a gente avaliava...
depois colocaram normas... Foi da direção: “oh, como está fugindo muita gente,
tem que cobrar”... se não tem dinheiro não entra... assim quem vai pagar na saída,
vai pagar na entrada... (R7)
Nesse caso, a hierarquia configura-se numa barreira da aprendizagem, pois os
funcionários acabam deixando de exprimir seus próprios recursos e conhecimentos, reduzindo
a capacidade da interpretação coletiva da organização (DIXON, 1999). O recepcionista 5
sente a necessidade de maior compartilhamento das informações para a tomada de decisões,
pois sabe que os funcionários que estão em contato com os clientes têm conhecimento sobre
as necessidades e expectativas dos hóspedes:
Eu acredito que essas decisões deviam ter um pouco mais de participação do
funcionário. Porque, como nós trabalhamos no dia-a-dia, nós temos mais
conhecimento de causa. Eu acredito que deveria ter um pouco mais de participação,
tipo... reuniões mais seguidas pra gente... porque nós precisamos dispor o que
realmente está acontecendo no setor da hotelaria. Que é importante isso. (R5)
Essa percepção do recepcionista 5 vem ao encontro do pensamento de Dixon (1999) o
qual sugere que, ao defender que as pessoas que estão envolvidas e são afetadas pelo
problema são capazes de encontrar as melhores respostas, desenvolvendo conhecimento útil
para resolver os problemas que enfrentam.
204
O que se estranha é que os diretores do hotel, por sua vez, enfatizam que os problemas
são resolvidos pelos encarregados dos setores e, somente quando estes não conseguem
resolver os problemas, é que a diretoria interfere nas atividades, como esclareceu o diretor 1:
Eles se comunicam bastante bem, desde que começou essas reuniões semanais,
então eles falam dos problemas, enfim... e tentam sempre solucionar os problemas
da melhor forma possível... Tem ajudado, toda reunião ajuda... lava a roupa suja,
aquela coisa toda... Quando não conseguem solucionar entre eles daí a direção tem
que intervir e ver o que está acontecendo... (D1)
Os diretores comentam, inclusive, que decidiram organizar reuniões dos encarregados
pelos setores sem a participação da diretoria (nem mesmo exigindo a elaboração de ata ou
relatório dessas atividades), justamente para que esses encarregados tenham a liberdade de
resolver os problemas existentes da melhor forma possível, como explicou o diretor 2:
Não tenho participado, justamente pra que eles tenham a liberdade de ter o poder de
decisão, por que se o diretor participa eles ficam muito esperando a decisão do
diretor e ficam esperando as ordens, assim não, eles conseguem resolver os seus
problemas de uma maneira mais autônoma. Já faz uns... das reuniões periódicas, uns
três ou quatro anos . É, desde o início, a rotina de reuniões já foi criada, eu
participei de pouquíssimas... O [nome do outro diretor] também, foi criado nesse
sentido. Com esse propósito de trocar ideias entre os setores e eles resolverem os
problemas em casa, não ficar, por que eles tentando todos juntos eles conseguem.
Isso resolve em partes, não resolve em todo, porque tem alguns que tem mais essa
característica de trabalhar em equipe e outros menos e alguns até fogem dessas
reuniões. O próprio [nome de um funcionário] é um... é uma pessoa que tem essa
dificuldade, ele não vai, ele inventa mil e uma... ele tem essa dificuldade, ele foge e
também não se desculpa por não ir. Não, até no início eles faziam relatório e eu pedi
que não fizessem, justamente para não... interferir e não ficar... alguém usar aquele
documento para uma segunda finalidade. Daí vão lá: falaram na reunião da
dificuldade que tem um funcionário, esse relatório vai acabar chegando as mãos
desse funcionário e usar pra outras finalidades, então para não ter essa
documentação, para não ser usada, por isso que tem que resolver os assuntos
preliminares. (D1)
No entanto, mesmo que os diretores tenham a intenção de dar autonomia para o grupo
de colaboradores resolverem os problemas existentes no empreendimento, não é assim que os
funcionários entendem o processo, pois, para eles, são os diretores que decidem e
implementam qualquer procedimento na empresa.
Chama a atenção o fato de que os diretores sabem que um dos encarregados não gosta
de participar das reuniões, que ele não explica porque não participa desses encontros, sabem
205
que essa atitude não colabora para a melhoria das atividades e, mesmo assim, ele não é
cobrado por isso. Outra situação similar é identificada pelo diretor 1:
Isso é... nós temos um problema que realmente é o preenchimento da ficha
[referindo-se à FNRH]... que a ficha é a porta de entrada pra gente saber a vida do...
do... Bom, isso eles sempre dão um jeito de dar um click ali no sistema e seguir
adiante e não botam informação nenhuma... Então a informação continua sendo a
própria ficha, não está alimentada dentro do sistema... nós estamos sempre fazendo
esforço pra que a gente consiga alimentar o sistema com dados dos nossos
hóspedes... isso é um constante problema... realmente isto daí é bastante difícil.
(D1)
Difícil é compreender por que os funcionários não executam o procedimento de
cadastrar os hóspedes no sistema de automação hoteleira e, além disso, sabendo desse
problema, como o encarregado da recepção e os diretores não estruturam ações para que essa
situação seja solucionada. Repetindo os padrões da gestão encontrados no estudo, pode-se
inferir que o encarregado da recepção também não exige de seus funcionários os
comportamentos que são importantes para o melhor andamento do setor, como identificou o
recepcionista 4:
Então, tem... é uma falha que eu não todos os colegas aqui têm receio de por algo em
relatório pra direção, porque a direção, às vezes, não fica sabendo dos problemas
porque não quer também, porque é tão simples: é chamar: Oh [nome do
encarregado da recepção] está aqui um relatório.” O [nome do encarregado da
recepção] não precisa chegar e dizer: “O [nome do recepcionista] botou no
relatório”. Não, “o doutor [nome do diretor] quer saber porque aconteceu isso.”
Pronto! Ou “eu quero saber!” ele é chefe, ele tem essa autonomia de chegar e dizer.
(R4)
Outro motivo que parece contribuir para que os funcionários não desenvolvam
comportamentos de aprendizagem são as diferenças de opiniões entre os diretores do hotel,
conforme identificam os recepcionistas 1 e 4:
cansamos de ver que a coisa não está dando resultado, o que a gente pediu ou
sugeriu, a gente vai direto ao diretor, o doutor [X], porque o doutor [Y] não manda
nada, e fala pra ele. Daí, ele chama os responsáveis e: “porque está acontecendo, por
que é que está assim? E vamos fazer assim e assim!” O doutor [X] decide tudo. Se tu
chegasses assim oh: “Bah, esse uniforme, pelo amor de Deus, olha o [nome de outro
hotel] do lado, aí...” é quando ele está a fim, ele faz. Quem mais tem ações aqui é o
doutor [Y], mas quem mais manda é o doutor [X]. O doutor [Y] é figurante aqui
dentro; se o doutor [Y] falar: Vamos botar o [nome do recepcionista] na reserva?”
por mais que seja melhor pra empresa o doutor [X] não faz. Entendeu? É assim, é
uma grande inimizade entre os dois: eles não se dão. (R1)
206
Um detalhe, uma vez houve um problema grave, aqui no hotel, na recepção e
reserva. ... o hotel lotado, daqui pouco vupt sumiam as reservas, o hotel
novo... acontecia direto. Aí, nós chamamos o [nome de um diretor], que ele é chefe
da reserva. Ele é o diretor, mas ele administra mais a reserva, mais que o [nome do
outro diretor]. Justamente tem um atrito interno entre eles. Grande! Aí, chamamos
[nomes dos funcionários do setor de reservas]. O [nome do responsável pelos
recursos humanos do hotel], o [nome de um recepcionista] e o senhor [nome de um
direto] pra resolver um problema. Foi só fofoca, foi estresse, sendo que daria
praticamente... nós não estamos aqui pra brigar. [...] É que vem de cima, acho que
vem um pouco pela... pela... pela briga da direção. Um diretor cobrando o outro.
Um não se dá com o outro vamos falar assim então, parece que um não se mete
no setor do outro, mas que a reserva está com problemas, dtu não tem amparo,
tu não tem com quem falar. Se eu chegar e falar pro [nome de um diretor], ele vai
pro [nome do outro diretor] e ele vai pra cima do [nome do encarregado da
recepção] e acaba não resolvendo, vira num... num banho-maria, ferve na hora,
aquela intriga e tudo, mas segue-se o problema. (R4)
Embora a parte operacional do hotel seja responsabilidade maior de um dos diretores,
essa diferença na gestão permite que alguns problemas não sejam questionados e, dessa
forma, os funcionários nem sempre respeitam algumas normas estabelecidas pelo
empreendimento, como pode ser observado no Quadro 26:
207
Quadro 26: Situações identificadas que vão contra à teoria esposada da organização
Situação Detalhamento
Teoria esposada Ação realizada Consequência da ação
Pagamento
de contas
Presenciei o fechamento de uma conta cujo valor atingiu R$ 2.000,00. O recepcionista
comentou que isso foi erro da recepção, pois eles não devem deixar chegar nesse
montante. A orientação é para que não seja liberado o cartão da uh para que a cada R$
500,00 a conta seja paga. Isso tem o objetivo de minimizar a possibilidade de o cliente
chegar ao final da estada e não ter condições de pagar a conta. (OP)
Check list do recepcionista: sempre que
o saldo alcançar o valor de R$ 500,00,
emitir extrato e cobrar do pax.
Auditoria auditor: emitir relatório das
contas altas (3 diárias) para que a
recepção cobre dos hóspedes.
Cobrar a conta do hóspede. Não houve reflexão sobre o que
motivou o equívoco.
Postura dos
funcionários
Assim, eu tenho vários problemas de Recepção de hotel, que se eu for dizer: “Ôh, [nome
do funcionário], passou um casal, por ti, vocês estavam na porta de braços cruzados, não
pode, estavam numa postura indevida, e ninguém pegou a bagagem”. Esse é... é o grande
problema da recepção, aqui desse hotel é esse. (R4)
Check list do mensageiro – motorista:
auxilia o hóspede com bagagens.
Não há procedimento padrão,
cada funcionário cuida de
suas atividades.
A situação não é percebida e,
portanto, não é cobrada pela
chefia e direção.
Troca de
moeda
estrangeira
A venda de serviços extras como, por exemplo, de passeios turísticos, é feito muito
pouco pelos recepcionistas (embora sejam comissionados por isso). Eles costumam
indicar carros para alugar e fazer câmbio de moeda estrangeira. A troca de moeda é uma
prática proibida no hotel, mas disseram que os proprietários sabem que isso ocorre. (OP)
Não está autorizada a troca de valores de
moeda estrangeira para moeda nacional.
Fazer troca de moeda
estrangeira.
Situação continua acontecendo.
Celular
Próprios casos às vezes é um absurdo – que ocorre aqui, tu está trabalhando com o teu
celular, não pode tocar o teu celular, e tu deixar o cliente, à mercê, que isso é coisa
particular tua. Assim, já ocorre, aqui dentro, com mensageiros, com recepcionista; o
mensageiro subindo com a bagagem e com o celular no bolso. Não existe. Não existe. Eu
mudaria e cobraria isso e terminaria com isso aí. (R4)
Não é permitido o uso de celulares nos
setores.
Usar telefone celular em
locais não permitidos.
A situação não é percebida e,
portanto, não é cobrada pela
chefia e direção.
Aparelho de
som no setor
O setor de reservas tem um aparelho de som para ouvir música durante o expediente.
Soube que é proibido escutar música e que, algumas vezes, uma pessoa solicitou para
trazer o equipamento, mas nunca obteve autorização. Certo dia, esse funcionário trouxe
um aparelho de som e colocou em funcionamento. Nunca ninguém do departamento
administrativo comentou sobre o assunto com os funcionários do setor. (OP)
Não há música ambiente nos setores. Levar o aparelho para o
setor, apesar de não ter
autorização.
Não questionamento sobre a
atitude.
Lançamento
da FNRH
O que a gente preenche é aquela ficha de cadastro do hóspede, que vai pra cadastro no
sistema, pra mim, eu acho que não são todos cadastrados: “Ah, mas eu tenho essa
ficha!Aí, vai procurar o cadastro do homem no sistema e não tem cadastro ainda. Pra
mim, sem utilidade é a ficha de... eu acho que é importante, mas aqui, pra dentro da
empresa, não tem utilidade: tu preenches, é arquivado e fica aí. (R1)
Um recepcionista precisou procurar o telefone de um hóspede, fez isso buscando nas
FNRHs e não no sistema. (OP)
Check list do recepcionista: revisando o
cadastro de hóspedes e cadastrando os
hóspedes que ainda não foram
cadastrados.
Check list do recepcionista noturno: o
recepcionista noturno do (nome do
hotel) deverá ficar responsável pelo
cadastro dos hóspedes.
Os clientes preenchem a
ficha (muitos nem a
preenchem corretamente) e
os recepcionistas deixam
para que sejam cadastradas
pelo turno da madrugada.
A diretoria sabe que esse
problema existe, mas não são
tomadas ações para que o
problema seja resolvido.
Livro de
registro de
ocorrências
O livro de registro de ocorrências do hotel é, na verdade, uma agenda. Próximo ao meio-
dia, perguntei se poderia olhar essa agenda, o encarregado da recepção disse que sim e
lembrou-se que, inclusive, ele precisava ver se havia alguma coisa escrita no dia de hoje.
Observei que ela foi mais usada nos meses de junho e julho, após a consultoria realizada
no empreendimento. As informações são repassadas verbalmente na troca de turnos;
algumas (que deveriam ser as mais importantes) são registradas no livro de ocorrências
do hotel. Percebe-se a falta de hábito de consultar essa fonte de informação. (OP)
Check list do recepcionista: lendo o
livro de ocorrências e observando as
informações importantes.
Supervisor de recepção: atenção ao livro
de ocorrências, estar sempre atualizado
com informações discretas, claras e
precisas.
Utilizar raramente o livro de
registro de ocorrências.
A situação não é percebida e,
portanto, não é cobrada pela
direção.
O encarregado da recepção
provavelmente não percebe a
utilidade desse tipo de
procedimento.
Fonte: elaborado com base nas entrevistas, na observação participante e na análise documental.
208
Além dos funcionários nem sempre respeitarem algumas normas estabelecidas pelo
empreendimento e identificarem a diferença de posicionamento da gestão do
empreendimento, é possível afirmar que o grupo aprende com quem e quando devem falar
sobre determinados assuntos, como relatou o auxiliar de recepção 2: “problemas eu passo
tudo para o chefe... e dependendo do assunto que for o seu [nome do diretor] é mais
acessível”.
Ou seja, essa diferença de posicionamento na gestão oportuniza aos funcionários do
setor um amplo leque de alternativas para, na medida do possível, evitar a identificação dos
problemas.
5.5 COMUNICAÇÃO E APRENDIZAGEM
A comunicação é crucial para a hotelaria, porque esse tipo de empreendimento, além
de atender diretamente o consumidor (no caso o hóspede), trabalha as 24 horas do dia,
demandando que sejam alterados os grupo de trabalho, distribuídos usualmente em três
turnos. O processo de troca de informações entre os grupos de trabalho da recepção acontece
nos momentos nos quais os funcionários de um horário estão deixando o local de trabalho,
enquanto os outros assumem as funções do setor, conforme sugerem Powers e Barrows (2004,
p. 199):
O recepcionista da manhã trabalha das 6:45h às 15:15h, com meia hora de almoço,
oito horas diárias. Em razão da equipe noturna chegar às 14:45h e o auditor noturno
deixar o trabalho às 7:15h, todos os plantões se sobrepõem para assegurar uma
transição tranquila.
Esse espaço de tempo no qual os dois grupos ficam juntos é importante para que
acontecimentos diferentes e importantes sejam repassados entre os funcionários, visando que
o serviço não perca, pela alteração do quadro de funcionários, o andamento das atividades. No
hotel pesquisado, os funcionários do setor têm consciência de que esse momento é o período
no qual a troca de informações deve acontecer, como descrevem os recepcionistas 1 e 5:
209
Eu chego às 3 horas 15 horas da tarde os meus colegas passam o turno, alguma
informação que tem, alguma observação, algum detalhe, uma ocorrência que seja,
pego o caixa, confiro, vejo se o caixa está ok, aí, vou pro sistema, confiro o check
out que ainda resta, as reservas e o check in que tem que vir, quantas reservas tem,
faço a previsão do café da manhã e fico no aguardo dos hóspedes chegarem. Essa é a
rotina básica da chegada. E das 11 horas, quando vai trocar o turno, é idem. A gente
passa as observações do que aconteceu ou não, espera eles pegarem o caixa, e vai
embora, se estiver tudo ok. (R1)
Bom, a primeira coisa que eu faço, quando chego no trabalho, eu tenho que pegar
o... o que está acontecendo no meu setor, com os meus colegas, uma pendência
financeira, alguma coisa que eu tenho que fazer... (R5)
O próprio Manual de Normas e Procedimentos do hotel traz, na gina 15,
informações sobre a passagem do turno:
BRIEFING DE PASSAGEM DE TURNO No máximo 10 minutos, com tom
de voz baixo;
Informar na sua rendição os recados e encomendas para os hóspedes;
Fechar o movimento do caixa;
Conferir nas faturas/notas de hospedagem, se todos os documentos estão
anexados;
Realizar passagem de turno todos os dias no horário das 15h00 e 23h00,
passando todas as informações pertinentes para os recepcionistas, mensageiros e
colaboradores envolvidos. (AD)
No Manual foi esquecido de registrar sobre a passagem do turno da madrugada para o
turno matutino, que acontece às 7 horas. Mesmo assim, a consultoria, no entendimento do
recepcionista 4, foi importante para que aumentasse a conversa entre os colegas dos diferentes
turnos, pois, depois que foi realizada, aumentou a consciência do grupo sobre a importância
dessa interação para o setor, embora ainda seja percebida como insuficiente:
Não, o único contato que tem de um turno e de outro é a passagem de serviço. E isso
é porque depois dessa auditoria que foi feita, que tem aquela conversa de passar o
serviço, que também, é muito pouca. (R4)
Essa informação é corroborada pelo recepcionista 2, quando explica que, às vezes, os
funcionários do setor fazem essa passagem de informações entre os turnos, apesar de estar
ciente de que a comunicação é muito importante:
O que s fazemos em grupo, às vezes, é a passagem de serviço, assim, o briefing,
como a gente chama, não é? Comentário na hora que eu chego e está saindo o
pessoal, eles comentam comigo e quando eu saio também faço uma reflexão ali, eu e
um colega meu, o que aconteceu, porque a comunicação é muito importante. (R2)
210
O Manual de Normas e Procedimentos do setor, vigente no empreendimento
pesquisado, explica que informar os recados e encomendas para os hóspedes existentes na
recepção é uma das atribuições da passagem dos turnos. No entanto, esse procedimento nem
sempre foi constatado na observação participante:
A recepção acaba guardando bastante material para entregar para os clientes. Na
maioria é anotado o nome de quem deve receber (em cima do material), mas
somente é entregue quando o interessado procurar, e se procurar a encomenda.
Existem alguns documentos e papéis que estão pela recepção sem que se saiba
exatamente do que se tratam. Um deles, inclusive, é um envelope que está mais
de quatro meses, segundo relatos, e deve ser entregue para alguém, pois não sabiam
dizer quem, de um dos hotéis da rede. (OP)
O próprio Manual de Normas e Procedimentos do hotel discrimina que toda e qualquer
encomenda deixada na recepção deve ser passada no livro de ocorrências, outra forma,
comum na hotelaria, de repassar as informações entre os turnos de trabalho:
Algumas propriedades mantêm um livro de anotações onde são anotadas as
informações ou os eventos que os plantões posteriores devem ficar a par. A primeira
tarefa do plantão que entra em serviço é conferir o livro de anotações para se
assegurar de eventuais ocorrências (POWERS; BARROWS, 2004, p. 199).
Os funcionários devem olhar rotineiramente esse documento e, inclusive, recomenda-
se que assinem para demonstrar ciência das informações que foram escritas nesse livro de
ocorrências, pois, usualmente, trazem aspectos gerais sobre o empreendimento, como
destacou o recepcionista 3:
Tu es o uniforme, tu bates o cartão, quinze pras sete, aqui na recepção, ou no
máximo sete em ponto, daí, tem o briefing, que é o passar do turno. Então, tudo o
que aconteceu, tudo o que você precisa saber de um turno pro outro, o que
aconteceu, no hotel, tanto parte de ocupação, de uma noite pra outra, que é a
primeira coisa que passa, você o livro, além de fazer um briefing briefing é a
maneira de dizer além de fazer o briefing a gente tem o livro que a gente escreve
ocorrências, também, do que é que teve, pra todo mundo ficar sabendo, o
funcionário vem pro hotel, andar tal não é pra pegar, por exemplo; faxina hoje... e o
briefing pra dizer: “olha, Fulano de Tal vai sair tal hora, deixou o carro aqui, alguém
vai vir buscar o carro dele, vai retirar!”. A hora que sai... em qualquer hotel, é
necessário o briefing 100% necessário. Se tu não te comunicas com os outros turnos,
tu vais pegar uma situação, que tu não sabes. É importantíssimo o colega te passar o
que está acontecendo acontecer... no bom sentido é importante passar isso
também. (R3)
No empreendimento pesquisado, esse livro de registro de ocorrências não é
frequentemente utilizado, como constatado na observação participante:
211
O livro de registro de ocorrências do hotel é, na verdade, uma agenda. Próximo ao
meio-dia, perguntei se poderia olhar essa agenda. O encarregado da recepção disse
que sim e lembrou-se que inclusive ele precisava ver se havia alguma coisa escrita
no dia de hoje. Existem pouquíssimas informações registradas nesse livro, com
exceção dos meses de junho e julho. (OP)
Observou-se o registro esporádico de informações no livro de registro de
ocorrências, salvo nos dois meses que precederam ao treinamento desenvolvido no hotel, ou
seja, em junho e julho. Informações que deveriam ser anotadas nesse tipo de livro são escritas
em pedaços de papel e colocadas no setor, como mostrado na Fotografia 1:
Portanto, os recados escritos em pedaços de papéis que ficam “pendurados” no setor
são as formas mais comuns de compartilhamento das informações:
Fotografia 1: Informação para os recepcionistas
Fonte: observação participante.
212
As informações importantes do hotel estão fixadas nas paredes da recepção,
principalmente em uma coluna no meio da recepção e no canto esquerdo, próximo à
entrada. Além disso, a informação fica disposta em pedaços de papel que vão sendo
retirados ao final de cada dia. Alguns, no entanto, são esquecidos e ficam
“pendurados” na parede ou balcão. Um recepcionista, do turno matutino, tem o
hábito de colar uma folha em branco no balcão e nesse espaço ele anota as
informações que considera importantes ou tarefas que precisam ser executadas,
utilizando o papel como se fosse um risque-rabisque. Somente esse recepcionista
utiliza essa técnica. (OP)
Essa situação é também confirmada por um dos auxiliares de recepção:
Eu vou checar as saídas que m, o movimento que deu à noite, olhar o despertar, e
vou despertando alguns... vejo recados... porque geralmente sempre tem
recados... Do turno anterior, deixa por escrito de punho, em cima do balcão. É papel,
e dependendo, se é pra mais dias, aí, nós temos o caderno de ocorrências. Aí, coloca
tudo ali.
Resumindo, a comunicação no setor acontece de forma muito breve, durante a troca de
turnos, e o livro de registro de ocorrências é muito pouco utilizado. Os assuntos pendentes do
setor são anotados em pedaços de papéis que, em alguns casos, ficam pendurados bastante
tempo no local de trabalho, perdendo sua utilidade, pois aquela informação não é mais
“aplicável”.
Não aproveitar adequadamente esses momentos de interação e conversação para as
trocas de experiência, segundo Kolb, Baker e Jensen (2002), faz com que a organização perca
Fotografia 2: Bilhetes existentes na recepção do hotel Três Estrelas
Fonte: observação participante
213
oportunidades para criar conhecimento, pois não reflexão nem questionamentos que
transformem as experiências coletivas em consensos nos grupos. Além disso, como sugere
Dixon (1999), as pessoas envolvidas com o problema são capazes de encontrar as melhores
soluções, portanto, desperdiçar esses momentos de interação equivale a perder oportunidades
que poderiam desenvolver aprendizagem no setor pesquisado ao menos no nível incremental
(EDMONDSON, 2002).
Os funcionários do espaço da recepção consideram que a comunicação com os demais
setores do hotel (referindo-se a mensageiros, governança, portaria e restaurante), no geral, é
positiva, como é mostrado no Quadro 27:
Quadro 27: Percepção dos recepcionistas sobre a comunicação com os outros setores
Descrição Entrevistados
Às vezes é fácil R2
Boa R3, R5, R6, AR1, AR3
Tranquila R1, R7, AR2
Muito boa R4
Fonte: elaborado com base nas entrevistas
.
A comunicação entre os setores é percebida pelo grupo pesquisado como sendo boa, o
que reforça o lado “positivo da camaradagem”, uma vez que o ambiente torna-se agradável
para trabalhar. Entretanto, cabe resgatar o item 5.4 no qual se descreve que a falta de
segurança psicológica faz com que esses funcionários, muitas vezes, escondam os erros, ou
não identifiquem o que precisa ser melhorado, para evitar problemas com os colegas. Essa
situação, ao mesmo tempo que mantém o clima agradável, impede o aprendizado do grupo em
questão.
Entre recepção e reservas, contudo, a comunicação não é percebida por todos os
funcionários do setor como um processo eficiente, conforme explicaram os recepcionistas 1 e
2:
A única comunicação que tem com o setor de reservas é pelo sistema; não tem, por
mais que a sala seja ali atrás, não tem, ou se a gente tem alguma dúvida, a gente vai
até eles: “Ah, o grupo não passou uma listagem?” “Ah, passou, mas eu esqueci de
ligar pra vocês!” é assim. Eles não têm o interesse de facilitar o serviço da recepção.
(R1)
Às vezes, tem situações que a gente tem que adivinhar. Reservas, às vezes, que
não estão no sistema. O “cara” diz que efetuou uma reserva e tal... “Mas eu falei
com o ‘Fulano’!” e aí tu vais no sistema, não tem nada. Aí, tu vais ver nos
documentos, ali, no fax, está aqui! Fica uma situação desagradável não é? (R2)
214
Embora o encarregado do setor tenha consciência do que está acontecendo, não ocorre
questionamento, seguido de reflexão, que podem levar a diferentes maneiras de resolver essas
situações, como sugerem Kolb (1984), Argyris e Schön (1996), Kim (1993), Dixon (1999) e
Edmondson (1999). Dessa forma, os problemas se repetem sistematicamente, como se
percebe na fala do auxiliar de recepção 2:
Mas passam, se tiver elas passam sempre. Não, pelo telefone: “Mudou isso, mudou
aquilo”, quando se lembra. Quando se lembra. [...] [se elas informam que não pode
fazer reservas]. Às vezes avisam, às vezes não! (AR2)
Então, como não há cobrança, as informações são passadas às vezes, quando as
pessoas se lembram de que precisam compartilhar aquele conhecimento. No entanto, alguns
problemas não são tão simples, e os recepcionistas, especialmente, precisam contorná-los para
que os hóspedes fiquem satisfeitos:
“Ah, não, mas eu pedi isso, a tarifa era essa!” ou reserva que não está no sistema,
muita reserva que não está no sistema, as que fazem pelo site também, que eles o
olhavam, diariamente: “Ah, mas eu fiz a reserva!” “Mas você fez a reserva quando?”
“Ah, fiz tal dia, pela internet!” e aí, chegou a um ponto que a gente estava sendo
insultado a toda hora, todo dia, e nós gritamos e daí o diretor pegou e ele estava
disposto a trocar de funcionário e convenceram ele a dar mais uma chance... (R1)
O próprio sistema de automação hoteleira oferece um recurso para que a comunicação
no setor e entre os demais setores do empreendimento aconteça, como evidencia a fala do
encarregado pelas reservas, eventos e hospedagem:
Na realidade assim, a nossa comunicação é feita verbalmente. A gente até tem um
sistema de comunicação pelo sistema interno que a gente consegue se comunicar. E
de vez em quando, se eu quero falar com todos os recepcionistas eu não consigo
falar com todos. Daí eu mando, mando pelo sistema sim porque eu consigo falar
com o pessoal da noite, senão eu tenho que ficar repetindo dez vezes a mesma coisa.
Às vezes, tem algum grupo para chegar que precisa de... o coordenador é tal, ele
pediu que fosse assim, cobrar assim e assado. Então, às vezes, se usa essa
comunicação interna. Isso é bem esporádico assim, não uso tanto assim. Mas eu
comunico o encarregado da recepção e ele comunica a equipe dele.
Percebe-se que os modelos mentais existentes dificultam que novas práticas sejam
incorporadas às atividades e, apesar da ferramenta estar disponível para facilitar o
compartilhamento das informações, ela praticamente não é utilizada no hotel pesquisado.
A comunicação com a diretoria, na percepção dos funcionários do setor, como foi
descrito no item 5.5, é feita pelo relatório de fechamento do caixa, sempre que os
recepcionistas consideram o assunto como algo grave:
215
Ele é o nosso porta voz agora, não é? Agora, é o nosso “saco de pancadas”. Ele... e
quando é mais grave no horário aqui, eu faço o relatório. (R2)
O relatório que vai leva os nossos olhos pra que o diretor não deixe de ler. (R2)
Dessa forma, esse relatório é entendido pelos funcionários como um eficiente meio de
comunicação que mostra a visão que esses recepcionistas têm, durante o seu turno de
trabalho, sobre o que acontece na recepção e no hotel em sua totalidade.
O problema da pouca comunicação no setor o é específico ao grupo pesquisado,
também ocorre entre a recepção e a diretoria, como evidencia a fala do recepcionista 4:
Que nem, por exemplo, agora subiu a tarifa. Todo mundo sabia. Mas tem que ser
passado uma circular, nem no livro não estava. Simplesmente colaram ali o novo
valor, não é assim que funciona, porque você tinha que ter passado uma circular:
“Isso vai acontecer tal dia, tal dia começa a acontecer!” (R4)
A alteração nos valores das diárias não é repassada de maneira formal para os
funcionários do setor, que ficam sabendo das mudanças quando precisam, e se precisam da
informação, como se pode constatar no exemplo do auxiliar de recepção 2: “tranquilo, é
falar que o café é no outro prédio... é aqui... eu não sei se voltou aqui agora”.
Dependendo da taxa de ocupação, o hotel utiliza somente um dos salões do café da
manhã para os dois estabelecimentos. Esse relato de que o funcionário não sabia onde o café
estava sendo oferecido evidencia a falta de costume de repassar, assim como de buscar, as
informações de rotina dos procedimentos do hotel.
Algumas situações, identificadas ao longo da observação participante, mostraram
evidências que reforçam que as informações o são compartilhadas no empreendimento
pesquisado:
Na recepção fui reapresentada aos funcionários: o encarregado da recepção, e um
recepcionista, ambos trabalham na empresa bastante tempo. Fui também
apresentada aos demais funcionários da recepção, ninguém sabia o que eu iria fazer
ali, embora a responsável pelo departamento de recursos humanos tivesse
comentado que enviaria uma comunicação para o setor. (OP)
Quando a forma de comunicação escolhida é o e-mail, constatou-se que, no
empreendimento analisado, essa ferramenta é pouco utilizada. Ao longo da pesquisa, tentou-
se contato com a recepção por e-mail diversas vezes e nunca houve retorno; um dia, um
recepcionista disse que eles recebem e respondem aos e-mails e, então, solicitou que fosse
enviado um e-mail para teste no horário em que ele estava trabalhando. Isso foi realizado, mas
216
também não houve retorno; talvez, ele estivesse de folga naquele dia. No segundo e-mail
enviado para teste, ele respondeu a mensagem; foi a única vez que a recepção respondeu a um
e-mail encaminhado para a realização da presente pesquisa.
Em três diferentes situações, foram enviados e-mails ao hotel, encaminhados a alguns
setores da administração, explicando que não se realizariam as entrevistas na data planejada e
solicitando que os funcionários fossem informados. Depois, em contato com os
recepcionistas, soube que eles não haviam sido comunicados sobre a alteração do cronograma
da pesquisa. Em outras duas ocasiões, enviou-se e-mail: em um deles solicitando autorização
para voltar ao estabelecimento e retomar as pesquisas, e no outro pedindo uma declaração da
empresa das datas em que havia estado no hotel para realizar as entrevistas. Nos dois casos,
foi preciso telefonar ao estabelecimento, pois não se recebeu retorno dos e-mails
encaminhados.
A falta de retorno, todavia, não é identificada somente quando a solicitação é realizada
por e-mail:
Falei com a secretária do hotel para agendar horários de entrevistas com os diretores.
Ela ficou de agendar os horários e retornar a informação para mim. Isso nunca
aconteceu. [...] Terminada a entrevista, fui até o local onde trabalham os setores
administrativos do hotel. Na porta, está escrito: Entre sem bater. Identifiquei-me
para a secretária e perguntei a respeito das entrevistas com os diretores. Ela anotou
novamente as informações que eu havia passado ontem por telefone e disse que
daria retorno, mais uma vez o obtive resposta. [...] No dia 13.04, iniciei novas
tentativas de contato com um dos diretores. Nunca conseguia falar com ele no hotel
e a secretária pediu que eu escrevesse um e-mail, pois ele responde diariamente.
(OP)
Com exceção de um dos diretores, o e-mail não é uma ferramenta muito utilizada para
a comunicação na empresa pesquisada. Respostas por e-mail, entretanto, começaram a ser
recebidas depois que a entrevista foi realizada com os dois diretores do empreendimento.
Percebeu-se que, desse momento em diante, os funcionários passaram a valorizar, ou se
preocupar, um pouco mais com a atividade que estava sendo desenvolvida. Para resgatar
aspectos que, ao longo da análise, não ficaram suficientemente claros, manteve-se contato por
e-mail com o responsável pelos recursos humanos, com a secretária, com o controlista geral,
com a recepção e com um dos diretores. Mesmo assim, embora nessa etapa alguns
funcionários tenham encaminhado várias respostas, nem todos os setores responderam aos e-
mails enviados.
Como resultado desse contexto, observa-se que não existe preocupação entre os
funcionários em compartilhar informações que levem à reflexão e gerem conhecimento, como
217
sugere a literatura. Contudo, os funcionários sentem o reflexo dos problemas gerados pela
falta de compartilhamento das informações:
Às vezes, é informação, desinformações também, desinformações, esquecimento de
falar alguma coisa, escrever, alguma coisa... Posso fazer a reserva e escrever uma
coisinha ali do lado... que se faz? Eu, às vezes, vou e não acho mais elas lá, está ali...
mas, às vezes, é um nome errado, então, é coisinha simples assim, mas claro, quando
interfere... no setor é complicado. Interfere nos dados, informação mal dada,
informação errada, interfere muito. (R3)
Muitos problemas existentes no setor são gerados pela falta de diálogo entre os
funcionários. Essa situação é identificada pelo recepcionista 4: “entre colegas, eu tentaria dar
um treinamento, uma conversa não um treinamento, uma coisa... conversar mais”.
Justamente nesse sentido, Baker, Jensen e Kolb (2005) e Dixon (1999), explicam que é
muito importante desenvolver espaços apropriados para que as conversas promovam a troca
de experiências, para que ocorram reflexões e questionamento sobre as teorias em uso da
organização. Essas conversas, segundo esses autores, podem levar à mudança na ação,
promovendo a aprendizagem.
A falta de conversa entre o grupo é evidente e constatada quando os funcionários agem
conforme seus modelos mentais individuais, em que cada um decide como resolver os
problemas do setor a seu modo. Como não consenso sobre os procedimentos, às vezes
ocorrem problemas entre os colegas:
... esses dias aconteceu de eu dar um standard e o colega já deu um luxo pra ele...
ele subiu já ligou e reclamou e nem passou pra mim, porque era eu que tinha
atendido ele. E ele deveria ter passado, porque me deixou mal perante o hóspede.
Não poderia ter resolvido sozinho, sem me passar. Já foi dando outro apartamento e
eu falei: “Pô, mas por que tu me fazes isto? Em primeiro, tu me deixas mal com o
hóspede!” Porque eu não dei o apartamento que ele queria, porque o valor dele era
de standard. Ele já deu o luxo. Eu falei: “Luxo, ele tem que pagar o luxo”. Simples,
me deixou mal com ele [referindo-se ao cliente]. E hoje eu não vi ele. Ele vai vir
com outra cara pra cima de mim, da próxima vez. Então, não... não houve um... não
jogamos no mesmo time em... nesse probleminha. (R3)
Isso acontece justamente porque os significados, na empresa pesquisada, estão no
nível individual e não são esposados para serem questionados, e consensuados, pelo grupo. A
mesma situação acontece em relação à tabela de preços praticada pelos recepcionistas:
Tem pessoa ali, que, muitas vezes, tu não sabe porque que aquela pessoa tem uma
tarifa especial e outra não tem. (R5)
218
Então, é um dos problemas que eu tenho de outro turno, que eu sei que o “cara” vem
aqui, e quer apartamento de luxo e pagar standard. Ah, não é de graça e tal.
“Deixa pô! O ‘cara’ vem sempre aqui, alguma coisa ele tem que ganhar!” mas não
assim, descaradamente né... (R3)
Portanto, os preços das diárias são praticados dentro dos limites determinados pelo
hotel, mas de acordo com a compreensão individual sobre cada caso. O mesmo acontece no
check out, quando reclamação dos hóspedes, e os funcionários do setor decidem sobre
descontos nos valores especificados, como explicaram os recepcionistas 2 e 3:
Quando for um caso mais grave, assim que não tem solução, às vezes, oferece um
desconto na diária, eu já fiz isso assim, por decisão minha. (R2)
E ver o... e reclama do que está hospedado também, então bate, por exemplo, deu
goteira no apartamento, a tarifa... não era essa o acordo. A gente estuda... se
realmente foi feita a tarifa tal, vê se de fato tudo o que aconteceu na reserva, o valor
foi esse realmente, mas se houve problemas então... você resolve direto, com
desconto, teve um problema no teto, faz parte da solicitação do hóspede, faz parte e
no caso se não resolve você resolve também, depende da praticidade, das coisas, que
a gente pede pra governanta, a governanta tem muito é... nos ajuda muito nessas
questões. Se está tendo uma coisa que está acontecendo, ela verifica na saída, no
check out: “Ah, realmente deu goteira”, é... lá... não, não... é horrível; é porque se
ele não avisa pra gente o que está acontecendo, na recepção, se ele não avisa ou
alguma coisa não funcionou, a gente não tem como ajudar, se ele fica em silêncio. O
importante é que ele falou pra resolver o problema. Mas aí, ele chega de manhã, e
joga tudo aqui em cima da gente, tentar resolver de uma maneira mais amigável:
“Então, está. Aguarda um instantinho, está se confirmando no hotel”... se resolve.
Uma das coisas que mais acontece é isso, a pessoa reclama de alguma coisa, ou a
tarifa não era essa... eu acho que é por aí, o que mais acontece. (R3)
Dar maior autonomia aos funcionários é uma das estratégias sugeridas pela literatura
da área:
Os funcionários de serviço estão recebendo autoridade isto é empowerment para
solucionar os problemas dos clientes. Assim, tomam decisões imediatas por
iniciativa própria e, depois, as discutem com a administração (POWERS;
BARROWS, 2004, p. 415, grifo nosso).
Essa maior autonomia, entretanto, é precedida pelo compartilhamento das estruturas
de significados, e quando isso não ocorre, como no caso do empreendimento pesquisado, os
funcionários acabam agindo de acordo com as suas experiências. O problema é que nem
sempre os entendimentos individuais estão alinhados às estratégias organizacionais, como
destacaram os recepcionistas 4 e 5:
Ganha a comissão sobre o faturamento, que na cabeça de muitos não é assim que
funciona. A maioria pensa que se está lotado ou não está lotado a comissão é a
mesma coisa. E não é a mesma coisa. Então falta um pouquinho de trabalho na
cabeça e na valorização de todos os colegas. (R4)
219
Se tu seguir o tarifário, também vai trazer benefício pra mim. Então, acontece que
tem muita... muitos colegas que: “Ah, porque é amigo meu e tal...” aí, começa a
fazer tarifas especiais e tal. Eu não acho isso certo! Eu não acho certo, porque o que
vale pra um tem que valer pra todos. (R5)
No caso da recepção de um empreendimento hoteleiro, a falta de compartilhamento
sobre as possibilidades de valores das diárias reflete não somente no reforço dos modelos
mentais individuais, mas também interfere diretamente no faturamento da empresa. Essa
situação é identificada pelo diretor 2: “a medida que ele... que começa digamos a proporcionar
benefício para um tipo de cliente e não para outro, na verdade, está prejudicando algum
cliente e a empresa”.
Para o contexto da hotelaria, as falhas que ocorrem na comunicação com o setor da
recepção, pelo não compartilhamento das estruturas privadas de significado, dificultam a
aprendizagem dos grupos de trabalho, afetando diretamente a rentabilidade do
empreendimento.
5.6 EXPECTATIVAS PROFISSIONAIS E APRENDIZAGEM
Considerando-se que o aprendizado das atividades desempenhadas pelos funcionários
do espaço da recepção acontece, predominantemente, pela aprendizagem informal, que são
identificadas poucas mudanças no setor, que os modelos mentais individuais prevalecem na
resolução dos problemas, que as decisões são centralizadas pela direção e que os funcionários
não buscam, nem recebem, informações que permitam a criação de novos significados,
percebe-se que a aprendizagem em grupo no ambiente pesquisado apresenta mais barreiras do
que aspectos facilitadores para seu desenvolvimento.
Sendo esse o contexto apresentado, questiona-se, portanto, sobre as expectativas
desses profissionais quanto às atividades que desempenham, considerando também o que os
empreendimento espera desses funcionários. Nesse sentido, o primeiro aspecto a ser
considerado é o contexto dos funcionários que, dentro da sua perspectiva social, cresceram
dentro da profissão:
220
Eu quando entrei no [nome do hotel], porque no [nome do hotel] é assim... dava
pra... hoje em dia não sei como é que é, eu entrei na limpeza, faxina, a vaga pra
mensageiro, mas mensageiro depois. Mas eu dei sorte, fiquei uma semana só.
[quando questionado se passou para o cargo de mensageiro] Passei. Depois auxiliar
de recepção... (R2)
Tempos atrás, se tinha não era tão claro. Então, a gente ficava meio, se fazia o
estudo, se estudava o que era necessário que nem hoje, mais que nunca hoje. Mas, a
hotelaria para mim foi assim... foi... não foi assim... escolha natural. Foi uma opção
de trabalho e com a opção de trabalho veio... o gostar de trabalhar na função, de
conhecer as pessoas. Então, a gente foi, inclusive eu progredi muito com isso, dentro
da hotelaria eu fui indo. O meu comportamento individual, pessoal todo... mudou
muito. Foi assim, eu entrei por baixo, entrei como mensageiro e já na função de
mensageiro é muito restrito, mas como qualquer hotel dá muita alternativa de
crescimento. Se tu tem realmente aquele interesse de crescimento tu pode ir se
aprofundando nas outras áreas... E no caso a minha vida hoteleira começou na
cidade de [nome da cidade] onde que eu resido, lá o [nome do hotel]. Como
mensageiro, eu trabalhei um ano como mensageiro. eu tirei férias e veio a
promoção. [...] A gente lá a gente buscava um profissional, um recepcionista da rua
era muito raro... o formava lá de baixo... na contratação do mensageiro, ele já era
contratado visando à recepção do hotel... mas ele não sabia. Ele tinha que mostrar o
serviço e ensina no decorrer de um período, ele ia ser sondado, ele ia ser
observado para trabalhar como recepcionista. Já dentro do hotel. (R6)
Olha, dizer pra ti agora, eu... é que nem, pra mim é que não tem... aonde eu podia
chegar, eu cheguei, na empresa. Eu digo, a função máxima que eu podia chegar, eu
consegui chegar. Espero continuar com eles , mais alguns anos, enquanto eles
acharem que estiver tranquilo...
Esse crescimento profissional dos recepcionistas retrata a realidade de um quadro de
funcionários que, na maioria dos casos, apresentando baixo grau de escolaridade, foram
contratados como auxiliares de limpeza ou mensageiros e foram ascendendo
profissionalmente dentro do empreendimento, aprendendo a desenvolver as atividades na
prática no contexto dos próprios hotéis. Alguns desses funcionários galgaram na empresa o
“topo” do que a hierarquia organizacional permite e, fora do contexto hoteleiro, talvez não
apresentem as qualificações necessárias para conseguir um trabalho que, como eles mesmos
descrevem, seja fácil, não necessite esforço físico nem grandes conhecimentos e que, ao
mesmo tempo, seja gostoso de ser realizado.
Como resultado dessa realidade, evidencia-se que, quanto à expectativa profissional
dos entrevistados no setor, a maioria dos funcionários pretende continuar trabalhando na
hotelaria, como pode ser observado no Quadro 28:
Quadro 28: Expectativa profissional dos funcionários do setor
Descrição Frequência
Sair do hotel 3
Permanecer na hotelaria 7
Total 10
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
221
Dos profissionais que pretendem continuar no ramo da hotelaria quatro desejam
continuar no hotel pesquisado e três disseram que almejam se aperfeiçoar no ramo, como
pode ser visualizado no na Quadro 29. Isso o significa que, necessariamente, esses três
funcionários desejem sair do hotel onde trabalham, no entanto essas pessoas explicitaram a
vontade de crescer profissionalmente nem que, para tanto, tenham que mudar de função, setor
ou hotel onde trabalham.
Quadro 29: Expectativa profissional dos funcionários que desejam permanecer na hotelaria
Descrição Frequência
Permanecer no hotel pesquisado 4
Se aperfeiçoar na hotelaria, podendo permanecer no hotel pesquisado 2
Se aperfeiçoar na hotelaria, mas trabalhar em outro hotel 1
Total 7
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Dos quatro funcionários que pretendem continuar no hotel pesquisado, um irá se
aposentar e, mesmo assim, continuará desempenhando suas funções no hotel, e outro
apresentou o objetivo profissional paralelo ao hotel de montar um negócio próprio. Dos três
funcionários que pretendem se aperfeiçoar na hotelaria, dois acreditam que podem continuar a
desempenhar suas funções no empreendimento pesquisado e apenas um acredita que deverá
trabalhar em outro equipamento hoteleiro.
Dos funcionários que destacaram o desejo de trabalhar em outra atividade, um
pretende mudar de área de atuação, embora permaneça na atividade turística, e os outros dois
pretendem abrir um negócio próprio, e um deles cogitou também a possibilidade de trabalhar
no exterior.
Quadro 30: Expectativa profissional dos funcionários que desejam mudar de atividade
Descrição Frequência
Trabalhar em outra área 1
Abrir um negócio próprio 2
Total 3
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Apenas dois funcionários, entre todos os entrevistados, ressaltaram o desejo de buscar
atualização pelas vias formais de ensino, realizando curso superior. Ambos frisaram que, para
tanto, necessitam aumentar os rendimentos e se estruturar de forma diferente, organizando
horários e equacionando as obrigações familiares. Esse aspecto reforça as evidências de que
222
os funcionários não parecem interessados em aprender novas habilidades, atitudes ou
conhecimentos pelas vias formais de ensino
Os recepcionistas percebem claramente o importante papel que desempenham na
empresa e, em alguns momentos, supervalorizam suas contribuições para o empreendimento,
como destacou o entrevistado 7:
... ele é um... a peça principal de um hotel. Tem que estar sempre, a coisa sempre
bem organizada, que tudo o que ele fizer ali é o que vai trazer... gerar os lucros da
empresa (R7).
Sabe-se, entretanto, que o conjunto das atividades é importante para que o hóspede
fique, ou não, satisfeito com os serviços oferecidos pelo hotel. Portanto, embora a recepção
seja crucial, especialmente em relação à venda do “produto” oferecido pelo empreendimento,
ou seja, a hospedagem, ela sozinha não conta de atender a todas as necessidades dos
hóspedes uma vez que um setor depende do outro, como esclarece o discurso do recepcionista
5:
Sim, tem... como eu te falei, um depende do outro. Eu preciso da camareira, que me
libere um apartamento, que eu estou vendendo ele... eu preciso do porteiro, pra me
dar o retorno de um hóspede, eu quero saber se ele se encontra e através do carro,
tem como descobrir, entendeu? Então, da copa... a gente tem que ter uma certa
integração, senão tu está ralado, porque no mundo ninguém faz nada sozinho! (R5)
Essa visão da integração das atividades é também consonante com a literatura sobre a
atividade hoteleira, que enfatiza a importância de todo o processo, incluindo também a etapa
anterior à estada do hóspede, ou seja, a reserva, que, normalmente, é efetivada por um setor
específico para essa finalidade (VIEIRA; CÂNDIDO, 2002; POWERS; BARROWS, 2004;
CASTELLI, 2005).
Eliminando-se, então, os exageros quanto à responsabilidade do grupo que trabalha no
espaço da recepção do hotel, sabe-se que as atividades desempenhadas pelos recepcionistas
são importantes para o empreendimento. Na percepção dos funcionários pesquisados, as
expectativas do hotel quanto às tarefas deles são conforme identificadas no Quadro 31:
223
Quadro 31: Percepção dos recepcionistas sobre as expectativas do hotel quanto às atividades que eles
desenvolvem
Descrição Entrevistados
Trazer clientes para o empreendimento R1, R2, R4
Cumprir seus deveres R3, AR2, AR3
Atender bem os hóspedes R2, AR1, AR2
Cobrar corretamente os valores devidos R2, AR1, AR2
Saber negociar os valores das diárias vendidas R5, R4
Trazer lucro para o empreendimento R1, R7
Ser transparente e honesto R5, AR1
Fazer o melhor possível R6, AR3
Ter responsabilidade R2
Ser organizado R7
Fazer com que os hóspedes retornem R2
Fonte: elaborado com base nas entrevistas.
Destaca-se a clareza que os funcionários têm sobre seu papel na captação e geração de
receitas para o empreendimento, pois das onze expectativas identificadas nos discursos dos
entrevistados, cinco estão relacionadas a questões financeiras quando se referem a: trazer
clientes; gerar lucro; fazer com que os hóspedes retornem; saber negociar e cobrar
corretamente os valores relativos às diárias dos hóspedes.
Essa percepção está de acordo com a literatura da área, embora se destaque a
importância de “garantir um bom nível de vendas dos serviços oferecidos pelo hotel”
(SEBRAE, 2001, p. 52), ou seja, que os recepcionistas preocupem-se em vender todos os
serviços do empreendimento e não somente a hospedagem. Não apenas pelas entrevistas, mas
também pela observação participante, identificou-se a tendência do grupo de funcionários
pesquisados em se preocupar especialmente com as vendas da hospedagem:
O procedimento de encaminhar as pessoas ao restaurante enquanto limpam as uh ou
enquanto resolvem algum problema é frequente no hotel e tem o objetivo de “ocupar
o tempo” até que os encaminhamentos para cada situação sejam dados. [...] Conheci
nesse dia o [nome do funcionário], um recepcionista que estava de folga na terça-
feira. Ele é bem falante e é o recepcionista que mais “vende” o restaurante do hotel.
(OP)
Na observação participante, identificou-se que apenas um dos recepcionistas tem
como hábito oferecer rotineiramente o restaurante do hotel aos clientes. Os demais costumam
“vender” o restaurante somente quando existe algum problema que leve o hóspede a esperar
um período na recepção, em casos, por exemplo, que necessitem da liberação do apartamento
ou que existam problemas na reserva do cliente. Embora não seja comum a preocupação em
vender todos os serviços que o hotel dispõe, o grupo destacou a importância de defender os
interesses da empresa onde trabalham em relação à venda das diárias:
224
Nós temos liberdade, mas claro, eu procuro sempre puxar pro lado da empresa,
sempre, sempre, isso é automático. Eu sempre vou dar o preço que é... e em último
caso, se eu tiver que dar um desconto, eu dou o desconto nimo, sabe? Sempre
puxar pra empresa, sempre. (R5)
No momento que eu entro e bato o cartão e entro atrás do balcão, eu defendo o hotel
[nome do hotel]. É a minha camisa, entendeu? E tem que defender, defender a
empresa que me dá o sustento que para mim é a minha família. (R6)
Para os diretores do empreendimento, no entanto, as expectativas quanto às
atividades dos recepcionistas referem-se, fundamentalmente, ao bom atendimento,
observando as normas estabelecidas pelo hotel, visando satisfazer os hóspedes, como explica
o diretor 2: “um bom serviço, um bom atendimento do hóspede, e que o hóspede saia
satisfeito”.
Os diretores entendem que, para que seja classificado como um bom atendimento, é
necessário que os recepcionistas e auxiliares tenham: cordialidade; educação, rapidez; postura
adequada; presteza; que estejam bem informados. O discurso do recepcionista 2 apresenta
uma visão que abrange tanto a percepção dos funcionários do setor sobre suas tarefas quanto a
percepção dos diretores do empreendimento:
A minha responsabilidade é colocar o hóspede pra dentro, cobrar a conta dele, fazer
com que ele sinta-se bem no hotel, que ele leve uma boa imagem do hotel e fazer
com que ele volte. (R2)
Embora o discurso do recepcionista 2 consiga abarcar tanto a percepção dos
funcionários do setor quanto a dos dirigentes da empresa sobre as atividades do espaço da
recepção, observa-se a existência de insatisfação em alguns entrevistados quanto à sua
participação nas atividades da empresa. Essa insatisfação torna-se mais intrigante e relevante
ainda quando se constata, conforme mostram os Quadros 27 e 28, que sete, dos dez
entrevistados do setor, pretendem continuar no ramo da hotelaria, e seis destes funcionários
pretendem seguir exercendo suas atividades profissionais no empreendimento pesquisado.
O recepcionista 4 reconheçe que existe essa “sensação” entre os membros do grupo,
no entanto ele identifica que o empreendimento não os trata como “só mais um” funcionário,
destacando, inclusive, que a diretoria acredita muito no grupo que desempenha suas
atividades no espaço da recepção:
O hotel deposita... ele nos liberdade e eu acredito que eles confiam muito na
recepção. Acredito nisso, porque, quantas vezes a gente está sozinho, tomando
conta, na frente, assim, dirigindo o hotel. E eu acho que eles confiam e eles esperam
o melhor de nós, um bom atendimento; não perder um cliente jamais. (R4)
225
Esse recepcionista, entretanto, ressalta que falta “conversa” entre os funcionários e a
diretoria do empreendimento, corroborando o que sugerem Kolb (1984) e Dixon (1999).
Como a empresa não estimula a “conversa” no grupo, os indivíduos utilizam os seus
pressupostos sobre o que é certo ou errado na organização para guiá-los nas tarefas realizadas.
Isso acontece baseado nas experiências do que cada um vivencia na empresa:
Então, o recepcionista é o grande responsável aí, pelo bem estar do hóspede. É
responsável, até pela volta dele. O “cara” vem aí, é maltratado, ele não volta mais.
(pausa) Porque é igual... a gente que já trabalha há anos dentro da empresa, já
conhece a maioria... já sabe até os hábitos, os apartamentos, então vou levando.
Os funcionários, portanto, desenvolvem estruturas de significados compartilhadas
dentre o grupo de trabalho no setor de que são os “grandes responsáveis pelo bem-estar dos
hóspedes e pela volta deles”, embora continuem agindo exatamente da mesma forma como
aprenderam e que sempre fizeram, alguns inclusive mais de 20 anos, independentemente
das mudanças que tenham ocorrido na hotelaria. Dessa forma, a empresa, em vez de promover
um grupo de trabalho motivado, acaba reforçando os modelos mentais que promovem a ideia
de “ir levando”, uma vez que já conhecem a maioria das atividades e estão habituados a essas
rotinas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta seção são apresentadas as discussões dos principais resultados da investigação
descritos ao longo da apresentação e análise dos dados, com o intuito de responder à questão
de pesquisa e resgatando os objetivos propostos neste trabalho. Finalmente, apontam-se as
limitações do estudo e as sugestões para o desenvolvimento de novas pesquisas.
6.1 COMO OCORRE A APRENDIZAGEM NOS GRUPOS DE TRABALHO DO ESPAÇO
DA RECEPÇÃO DO HOTEL PESQUISADO
Por meio dessa investigação, buscou-se entender quais os processos que permeiam a
aprendizagem que ocorre nos grupos que têm como local de trabalho a recepção do hotel
pesquisado. As características das pesquisas sobre aprendizagem nas organizações que se
preocupam com a perspectiva do grupo reforçam a importância do contexto no qual as
pessoas se relacionam, construindo e reconstruindo o conhecimento para gerar novas ações no
âmbito organizacional, sem esquecer, no entanto, que “a aprendizagem individual é
dependente da coletiva” (DIXON, 1999, p. 41).
Dessa forma, para falar sobre aprendizagem nos grupos, é preciso também entender os
processos que permeiam a aprendizagem individual no contexto do trabalho. Nesse sentido, é
importante compreender dois aspectos sobre o contexto pesquisado: o primeiro que, embora
todos os entrevistados desenvolvam as mesmas atividades, pois atuam na recepção de um
empreendimento hoteleiro, os procedimentos acabam tendo maior ênfase em alguns turnos,
decorrente da dinâmica da hospedagem. Ou seja, no período matutino, os funcionários
realizam predominantemente check out, os do período vespertino realizam mais check in
enquanto os recepcionistas do turno da madrugada realizam ambos procedimentos, porém em
menor intensidade, e acumulam também a responsabilidade pela conferência e emissão de
relatórios.
O segundo aspecto importante, que inclusive diferencia o ambiente pesquisado de
outras atividades, é a interação direta com o consumidor final, ou seja, com o hóspede. Essa
227
interação face a face multiplica substancialmente as possibilidades de resultados oriundos das
ações do grupo de recepcionistas e auxiliares. Segundo Dixon (1999), existem muitas
respostas certas e maneiras de se alcançar o mesmo objetivo; nesse contexto onde a “produção
e consumo” são realizados concomitantemente, a aprendizagem pode se tornar um fator de
vantagem competitiva, pois, antecipando os desejos dos clientes e desenvolvendo maneiras
mais adequadas de resolver os problemas, podem levar à satisfação dos hóspedes e ao
consequente aumento de receitas para o empreendimento.
Pode-se dizer, no entanto, que, em vez de perceber práticas de aprendizagem
estruturadas, observou-se no empreendimento pesquisado que os funcionários dos turnos de
trabalho acabam desenvolvendo algumas atividades de forma parecida para responder aos
problemas organizacionais do seu horário de trabalho. Portanto, como existem muitas
respostas certas para alcançar os objetivos, os modelos mentais individuais, desenvolvidos na
prática do dia-a-dia, acabam sendo a maior característica do hotel pesquisado em relação à
aprendizagem.
É possível identificar que os modelos mentais individuas são predominantes no
empreendimento pela análise da maneira como os indivíduos e o grupo de trabalho aprendem
a realizar as atividades da recepção. O primeiro motivo que leva a essa consideração é que a
aprendizagem formal, além de praticamente inexistente, não é valorizada no empreendimento
tanto pela diretoria quanto por seus funcionários. A diretoria porque declara a preferência por
contratar pessoas com experiência prática no setor e, além disso, por não se preocupar em
oferecer cursos e treinamentos regulares e também por não organizar, de forma estruturada,
capacitação para os funcionários nas entidades nas quais o hotel é parceiro, como a ABIH e o
SINDPOA, por exemplo.
no caso dos recepcionistas e auxiliares, identifica-se que eles possuem, no geral,
baixa escolaridade e, como foi destacado na análise, relutam para compartilhar conhecimento
com aqueles que possuem maior escolaridade e, além disso, acreditam que nada do que se
aprende nas escolas pode ser aplicado no ambiente hoteleiro. Os processos de aprendizagem
predominantes no hotel são os informais, destacando-se: a observação, a tentativa e erro, a
reflexão, a iniciativa e a experiência anterior.
Esses processos informais pelos quais os funcionários da recepção aprendem estão
fortemente atrelados à aprendizagem pela experiência, estruturada por Kolb (1984), pois,
segundo essa teoria, as ideias são formadas e reformuladas pela experiência, o que a torna
uma contínua reaprendizagem que se apoia na experiência dos indivíduos. Kolb (1984)
228
estabelece quatro dimensões do processo de aprendizagem que mutuamente se
complementam para aumentar o aprendizado: experiência concreta; conceitualização abstrata;
observação reflexiva; e experimentação ativa.
Apesar do processo de aprendizagem identificado no empreendimento estar
fortemente vinculado à aprendizagem experiencial, ele acontece com predominância na
dimensão da experiência concreta, ou seja, nas situações em que envolvimento real e
efetivo, onde o sentimento é valorizado sobre o pensamento e sendo caracterizado pela
tomada de decisões intuitivas (KOLB, 1984). Cabe destacar, no entanto, que Kolb (1984)
explica que desenvolver apenas uma dimensão da aprendizagem não é o suficiente para que se
possa dizer que uma pessoa, ou organização, aprende de forma eficiente.
A forma como o grupo aprende as funções do setor ocorre pela interação com os
colegas. Esse tipo de aprendizado leva à reprodução, pela cópia, dos padrões de atividades já
existentes no empreendimento, o que dificulta os processos de aprendizagem, inclusive de
ciclo simples, sugerido por Argyris (1999), pois, se o ambiente favorece à reprodução de
padrões, as sugestões de melhorias nas rotinas organizacionais podem ser minimizadas ou
suprimidas pelo raciocínio defensivo de que “as coisas sempre foram assim” naquele contexto
de trabalho.
A aprendizagem pela prática permeia todas as outras maneiras de aprendizagem
informal, pois é inerente ao desenvolvimento cotidiano das atividades, dessa forma, as
situações que se tornam recorrentes vão sendo internalizadas pelos indivíduos. Segundo
Dixon (1999), isso é positivo porque aumenta a agilidade da ação, que não é preciso
reaprender a mesma tarefa; por outro lado, a autora identifica que, ao passo em que o
indivíduo aprende a responder à situação automaticamente, ele acostuma-se a ver o que está
habituado, deixando de questionar os pressupostos que o levam a agir daquela forma e
incorrendo na propensão de construir e empregar inferências que não foram testadas e que
podem não ser válidas diante de um novo contexto.
Para resolver esse conflito entre a criação e validade das estruturas de significados,
Dixon (1999) sugere que, ao mesmo tempo que as pessoas devem agir de acordo com suas
estruturas de significados, devem também se esforçar para lembrar que há outras relações que
não são vistas, mantendo-se alertas para outras formas de ver o mundo e, consequentemente,
estando abertos à aprender. No entanto, essa abertura a novas ideias e alternativas de ação não
foi percebida no ambiente pesquisado.
229
Cabe ressaltar também que, embora os funcionários do empreendimento tenham
experiência em hotelaria, boa parte dessa experiência foi vivenciada no próprio hotel. As
pessoas que estão mais tempo no empreendimento são aquelas que praticamente ali atuam
desde que iniciaram sua carreira profissional, reforçando o fato de que, embora possuam
experiência, ela se constitui na reprodução do que rotineiramente é realizado, em um contexto
que não apresenta evidências de muitos questionamentos ou mudanças.
Para Edmondson (2002), a aprendizagem em grupo nas organizações tem como
característica ser: local, interpessoal e diversificada. No contexto pesquisado, as atividades
no grupo são locais e interpessoais, embora aconteçam somente entre os turnos de trabalho,
sem serem apropriadas pela recepção como um todo. Também, nota-se a presença da terceira
característica da aprendizagem em grupos identificada por Edmondson (2002) como
“diversificação”, pois pode-se observar que os objetivos dos três turnos, assim como das duas
recepções, são diferentes na organização pesquisada.
Portanto, pode-se dizer que o setor da recepção é formado por três subgrupos da
recepção principal, no hotel Três Estrelas. Cada subgrupo desenvolve algumas ações comuns
para dar conta dos problemas de seu horário de trabalho. O auxiliar de recepção fica isolado
de todo o processo dos turnos de trabalho e limita-se a desempenhar suas tarefas, ou seja,
atender o telefone, entregar e conferir as chaves, auxiliar os hóspedes sempre que necessário e
repassar à recepção do hotel Três Estrelas as demandas que não lhe competem, isentando-se, e
sendo isentado, de qualquer participação ativa de compartilhamento de informações, ideias e
opiniões como os recepcionistas do hotel Quatro Estrelas.
Considerando-se que a aprendizagem nas organizações está, direta ou indiretamente,
associada a alguma mudança no contexto organizacional, buscou-se, também, compreender
como as mudanças são realizadas no setor da recepção. Identificou-se a falta de diálogo dos
níveis superiores da gestão para compartilhar com os funcionários da recepção as estratégias
de melhorias do empreendimento, assim como para identificar com os recepcionistas e
auxiliares as informações sobre as prioridades quanto as melhorias a serem realizadas,
visando à satisfação dos hóspedes.
Nesse caso, o que se percebe no empreendimento é justamente o que Dixon (1999)
chama de “interpretação de dados funil”, ou seja, os diretores coletam informações
importantes (dos subordinados, dos hóspedes e do contexto hoteleiro) e, com essas
informações, interpretam os dados sozinhos, chegando a uma conclusão. Baseados nessa
interpretação, esses diretores informam aos subordinados das ações a serem tomadas, o que
230
não é bom para a aprendizagem organizacional por três motivos. Em primeiro lugar, porque
essa informação é uma representação precisa da realidade que, quando somada, pode dar uma
“resposta correta”, sem, contudo, promover a interpretação coletiva. Em segundo, porque não
promove a capacidade de dar significado, que é muito interessante para a aprendizagem e, em
terceiro lugar, porque a aprendizagem torna-se uma atividade de mão única, ou seja, que vem
da diretoria para os funcionários, ao invés de promover o questionamento das estruturas de
significados vigentes no grupo (DIXON, 1999).
Por outro lado, observa-se que os funcionários são acomodados e desenvolveram o
modelo mental compartilhado de que não adianta sugerir ideias novas ou procedimentos
diferentes no empreendimento. Dessa forma, o grupo parece ter adotado o comportamento de
seguir fazendo o mínimo necessário e, quando algum colega resolve sugerir um novo tipo de
ação, que implique em mudança das rotinas existentes, os colegas se revoltam. Observa-se
que, como a reflexão nunca leva à ação, ocorre a estagnação (BAKER; JENSEN; KOLB,
2002), ou seja, os funcionários acostumam-se a fazer somente o que lhes é solicitado.
Essa situação, além de levar à estagnação, também faz com que as sugestões dos
funcionários não sejam confrontadas, como sugere Dixon (1999). Dessa maneira, os
recepcionistas e auxiliares acreditam que m as soluções para os problemas existentes e,
como elas não são questionadas pelos colegas, além de não serem implementadas, acabam
sendo consideradas pelos “autores das ideias” como alternativas para os problemas, e isso
nem sempre é verdade, uma vez que não são expostas ao questionamento coletivo.
A falta de segurança psicológica, identificada por Edmondson (1999), também aparece
em duas diferentes formas como um inibidor da aprendizagem na promoção das mudanças no
contexto pesquisado: a primeira entre os próprios colegas que, acostumados a manterem o
padrão das atividades, ficam particularmente incomodados quando um problema acontece, e a
segunda pelo receio da diretoria quando identificam um problema, gerando estresse grande
sem, muitas vezes, resolver a situação.
Outro problema que dificulta a mudança é a resistência dos funcionários, promovida
tanto pela baixa escolaridade quanto pelo tempo de serviço na empresa, reforçando os
modelos mentais de que as coisas sempre funcionaram na empresa do jeito como eles estão
acostumados a fazer. A baixa escolaridade retrata um contexto de recepcionistas e auxiliares
que, dentro da sua perspectiva social, cresceram na profissão e chegaram ao “topo” do que
conseguiriam alcançar no empreendimento. O tempo de serviço apresenta a perspectiva
positiva de que para trabalhar na hotelaria é preciso conhecimento acumulado, uma vez que a
231
vivência de diferentes experiências promove conhecimento acumulado. No entanto, apesar
dos funcionários terem bastante experiência, o forte dessa experiência é no próprio hotel,
então pode acontecer que esses funcionários tenham a mesma experiência repetida muitas
vezes, levando à situação de que “ele não tem 20 anos de experiência, mas um ano repetido 20
vezes” (KOLB, 1984, p. 35), ou seja, não é porque se vivencia uma situação por muito tempo
que se tenha, necessariamente, aprendido da melhor forma possível sobre ela.
Segundo Edmondson (2002), nos grupos que atuam num contexto de mudanças, a
aprendizagem é considerada positiva, todavia, nos grupos cujo ambiente de trabalho requer
poucas mudanças, a aprendizagem pode significar perda de tempo. O contexto da hotelaria
apresenta uma realidade bastante gida, provocada até mesmo pela estrutura física, que não
pode ser, de maneira fácil, adaptada para outras atividades, e pelo serviço que oferece, como
produto base, a hospedagem. Entretanto cabe destacar que a competitividade do setor vem
crescendo, em particular nas grandes cidades, com a maior oferta de leitos e com a inserção
de redes internacionais no contexto brasileiro.
Portanto, embora grandes mudanças não sejam requeridas, desconsiderar a
aprendizagem dos funcionários, em especial da recepção, que têm contato direto com os
hóspedes, pode representar a perda do aumento da taxa de ocupação e, sobretudo, de
encontrar formas de atender melhor os clientes, identificando com mais facilidade suas
necessidades e, com isso, destacando-se no mercado. Em algumas situações, identifica-se a
aprendizagem de papel limitado, pois alguns recepcionistas criam estratégias para resolver os
problemas do seu turno de trabalho, ainda que essas práticas não sejam adotadas por todos os
funcionários do setor.
Embora os funcionários não se sintam responsáveis pelas mudanças no
empreendimento, são eles que precisam resolver os problemas e dificuldades do dia-a-dia,
especialmente no contato direto com os hóspedes. Observou-se que os recepcionistas têm
autonomia para desempenhar as tarefas do setor, mas como não existe feedback sistematizado,
eles realizam as atividades de acordo com as teorias em uso existentes e os modelos mentais
desenvolvidos.
Outro fator que interfere na aprendizagem do empreendimento pesquisado é a falta de
comunicação voltada para a reflexão e identificação dos fatores importantes para a recepção e
para a empresa. Embora existam nos documentos do hotel a descrição da importância de troca
de informações entre os turnos, essa atividade é reconhecida pelos funcionários como sendo
insuficiente e superficial. Acredita-se que esse problema relacionado à comunicação, é uma
232
importante barreira da aprendizagem no local pesquisado, pois não se aproveitam os
momentos para conversar, como sugerem Kolb, Baker e Jensen (2002), e compartilhar as
estruturas de significado privadas, como recomenda Dixon (1999).
As falhas na comunicação não são um problema específico da recepção, mas também
são percebidas em outros setores do empreendimento, assim como no repasse de informações
da diretoria para os setores do hotel. Pode-se dizer que os modelos mentais individuais
prevalecem no empreendimento analisado e são desenvolvidos de acordo com as teorias em
uso vigentes na organização.
Dessa forma, os funcionários desenvolvem estruturas de significados compartilhadas
dentre o grupo de trabalho no setor de que são os “grandes responsáveis pelo bem estar dos
hóspedes e pela volta deles”, embora continuem agindo exatamente da mesma forma como
aprenderam e que sempre fizeram, alguns inclusive mais de 20 anos, independentemente
das mudanças que tenham ocorrido na hotelaria. Esse contexto, em vez de promover um
grupo de trabalho motivado, acaba reforçando os modelos mentais que promovem a ideia de
ir levando”, uma vez que os funcionários conhecem a maioria das atividades e estão
habituados a essas rotinas.
No Quadro 32, apresenta-se um resumo de como a aprendizagem acontece no nível
individual e do grupo de trabalho do hotel pesquisado, bem como identifica os aspectos
facilitadores e dificultadores da aprendizagem nesse contexto.
233
Quadro 32: A aprendizagem individual e no grupo de trabalho no contexto pesquisado
INDIVÍDUO
GRUPO DE TRABALHO
O que facilita Como acontece Como acontece O que facilita
Autonomia para trabalhar.
Experiência anterior.
Prática.
A aprendizagem é permeada pela
prática.
Desempenham suas funções da forma
como aprenderam.
Aprendizagem formal é praticamente
inexistente e não é valorizada.
Aprendem:
observando;
tentativa e erro;
refletindo;
tendo iniciativa;
pela experiência anterior.
Alguns funcionários tentam se antecipar
e desenvolvem estratégias de
aprendizagem para satisfazer os
hóspedes ou se antecipando a eventuais
problemas.
Algumas ações são observadas nos
turnos de trabalho, mas não são
incorporadas por todos os
funcionários do setor.
Funcionários aprendem pela interação
com os colegas.
Clima organizacional agradável.
Sistema de automação hoteleira.
O que dificulta O que dificulta
Acomodação.
Dificuldade em mudar as teorias em uso.
Falta de feedback.
Falta de segurança psicológica.
Hábito de esconder os erros.
Prática.
Raciocínio defensivo.
Prevalecem os MMI que foram
desenvolvidos, reproduzindo as teorias
em uso que estão no hotel há anos.
Aprendizagem de papel limitado.
Clima organizacional agradável.
Diferenças existentes entre os diretores.
Falhas na comunicação.
Falta de cobrança.
Falta de estrutura adequada para repassar
informações.
Hierarquia.
Rotinas defensivas;.
Tempo de serviço.
Prevalecem os MMC de que às decisões
cabem à diretoria e supervisores.
Nota: os itens em negrito destacam os aspectos que tanto facilitam quanto dificultam a aprendizagem no contexto pesquisado.
Fonte: elaborado com base nos dados coletados na pesquisa.
234
Resumindo as informações identificadas na análise dos dados, conclui-se que a
aprendizagem individual é permeada pela prática, em um contexto onde os recepcionistas e
auxiliares desenvolvem suas funções da forma como aprenderam as rotinas do setor. A
aprendizagem formal é praticamente inexistente e, além disso, não é valorizada no contexto
pesquisado e a aprendizagem individual acontece por meio das seguintes formas: observação,
tentativa e erro, reflexão, iniciativa e experiência anterior. Apenas em alguns casos os
funcionários tentam se antecipar e desenvolvem estratégias de aprendizagem para satisfazer
os clientes ou se antecipar aos problemas organizacionais.
No nível do grupo, constatou-se que algumas ações são desenvolvidas entre os
funcionários do mesmo turno de trabalho, no entanto essas ações não são incorporadas por
todo o setor para serem configuradas como aprendizagem grupal. O período de,
aproximadamente, dois anos que o hotel não teve um encarregado na recepção provavelmente
reforçou a característica dos turnos resolverem seus problemas dentro do seu horário de
trabalho, sem que houvesse preocupação com o compartilhamento do conhecimento no setor e
com a criação de ação conjuntas, que garantissem a “unidade” da recepção.
Como o encarregado está nessa função pouco tempo, cerca de cinco meses
(considerando-se o início dessa pesquisa), não houve tempo para que essa “unidade” fosse
resgatada. Parece que, salvo ocorra alguma situação que chame a atenção para o problema, a
análise do contexto apresentado indica que, provavelmente, não haverá iniciativas nesse
sentido. Resumindo, pode-se dizer que a aprendizagem do “grupo de trabalho” é muito
precária no ambiente pesquisado e acontece basicamente pela interação entre os colegas, em
especial aqueles do mesmo turno.
No nível individual, a autonomia para trabalhar e a experiência anterior foram os
aspectos identificados como facilitadores da aprendizagem. Foram também observadas as
seguintes barreiras: acomodação, dificuldade em mudar as teorias em uso, falta de feedback,
falta de segurança psicológica, hábito de esconder o erro e raciocínio defensivo. Prevalecem
os modelos mentais individuais que foram desenvolvidos reproduzindo as teorias em uso que
funcionam no hotel há bastante tempo.
No nível do grupo, o sistema de automação hoteleira facilita a aprendizagem
organizacional. Por outro lado, a aprendizagem de papel limitado, as diferenças existentes
entre os diretores, as falhas na comunicação, a falta de cobrança, a falta de estrutura adequada
para repassar informações, a hierarquia, as rotinas defensivas e o tempo de serviço são as
235
barreiras que dificultam a aprendizagem no setor. Prevalecem os modelos mentais
compartilhados de que às decisões cabem à diretoria e supervisores.
Estabelecendo-se o modelo mental de que as decisões cabem a diretoria, os
funcionários não precisam assumir o compromisso pelas ações realizadas e os riscos
decorrentes dessa opção. Desenvolvem uma estratégia dicotômica: cômoda, por não precisar
se envolver, e desgastante, por perceber que os problemas do setor continuam sem ser
resolvidos. A literatura de aprendizagem sugere que os funcionários devem ser envolvidos
para resolver os problemas que a empresa enfrenta, assumindo riscos e participando das
estratégias organizacionais. No entanto, Dixon (1999) ressalta que o assumir riscos e
responsabilidades pelas ações” exigiria como contrapartida uma distribuição mais justa dos
ganhos financeiros, compartilhando os lucros com esse “novo” tipo de colaborador que não
somente reproduz o que lhe é solicitado, mas que se envolve com a produção do
conhecimento na organização.
Pode ser que uma empresa não queira, decorrente de seus processos e valores de
gestão, promover um ambiente de aprendizagem. Isso não significa que ela não terá
lucratividade, pois existem vários fatores que contribuem para o sucesso, ou insucesso, de um
empreendimento. Apenas se relata que, se uma organização deseja promover um ambiente de
aprendizagem, essa postura precisa ser incorporada como uma visão estratégica, que precisa
começar pela direção, que a aprendizagem organizacional reconhecidamente é afetada pelo
comportamento de liderança (GARVIN; EDMONDSON; GINO, 2008).
Foram identificados também dois aspectos que atuam no empreendimento pesquisado
tanto como facilitadores quanto como barreiras da aprendizagem na organização: a prática e o
clima organizacional agradável, no nível do indivíduo e do grupo, respectivamente. A prática
facilita a aprendizagem pela internalização dos procedimentos de forma que as respostas
tornam-se rápidas e, ao mesmo tempo, automáticas. Justamente por se tornarem automáticas,
elas acabam não sendo mais questionadas e, por vezes, as respostas adequadas em
determinado contexto não se constituem como melhores alternativas para resolver problemas
em uma nova situação. O clima organizacional agradável facilita a aprendizagem porque os
funcionários do hotel pesquisado têm liberdade para “brincar” e resolver problemas em um
clima divertido. Todavia, esse mesmo clima agradável, por vezes, faz com que os
funcionários não compartilhem os problemas porque não querem se indispor com os colegas
de trabalho, que esse tipo de comportamento é considerado ofensa pessoal, em vez de ser
entendido como uma possibilidade de resolver os problemas existentes.
236
6.2 OS DADOS OBTIDOS NA PESQUISA E SUA RELAÇÃO COM O REFERENCIAL
TEÓRICO
A análise do ambiente pesquisado permitiu identificar que o grupo apresenta
características que o classificam como um grupo de baixa aprendizagem. Essa realidade é
ainda reforçada quando, além das análises realizadas ao longo da discussão dos dados,
compara-se o ambiente a alguns aspectos pontuados pela literatura. Corroborando, portanto,
as análises realizadas, serão feitas comparações entre os achados da pesquisa e os seguintes
aspectos: os extremos dialéticos da conversação, de Baker, Jensen e Kolb (2005); o sistema de
aprendizagem organizacional, sugerido por Argyris e Schön (1996); o ciclo da aprendizagem
organizacional, apresentado por Dixon (1999); os aspectos que favorecem ao
desenvolvimento de grupos que aprendem, de Garvin, Edmondson e Gino (2008).
Nos extremos dialéticos da conversação, de Baker, Jensen e Kolb (2005), os autores
identificam situações que, por serem radicais, acabam prejudicando a conversação e o
consequente aprendizado gerado pela interação que acontece durante as conversas. Das dez
situações dos cinco extremos dialéticos apresentados por Baker, Jensen e Kolb (2005),
observam-se que estão presentes no hotel, em diferentes intensidades, quatro desses casos,
como mostrado no Quadro 33:
Quadro 33: Extremos dialéticos da conversação no contexto do empreendimento pesquisado
Dialéticas sugeridas pelos autores Dialéticas observadas no empreendimento
pesquisado
Se Apreensão bloqueia Compreensão, então Ingenuidade.
Se Compreensão exclui Apreensão, então Racionalismo.
Apreensão bloqueia compreensão: ingenuidade.
Se Reflexão nunca leva à Ação, então Estagnação.
Se Ação nunca é informada pela Reflexão, então Ativismo.
Reflexão não leva à ação: estagnação.
Ação não é informada pela reflexão: ativismo.
Se Discurso Epistemológico proíbe Recurso Ontológico, então
Pensamento Coletivo.
Se Recurso Ontológico silencia Discurso Epistemológico, então
Ruminação.
-
Se Individualidade recusa a Relacionalidade, então Isolamento e
Alienação.
Se Relacionalidade sobrepõe Individualidade, então Fusão.
-
Se Status esmaga a Solidariedade, então Autoritarismo.
Se Solidariedade derruba o Status, então Etnocentrismo.
Status esmaga solidariedade: autoritarismo-
Nota: hífen (-) indicando que esses aspectos não foram identificados durante da observação participante.
Fonte:
elaborado com base na pesquisa, apoiado nos conceitos de Baker, Jensen e Kolb (2005).
Cabe ainda lembrar que os momentos de interação e comunicação entre os
funcionários no empreendimento são considerados, pelos próprios entrevistados, como
insuficientes. Então, além dos momentos de interação não serem considerados adequados,
237
apresentam características que dificultam o diálogo aberto para que possam promover a
aprendizagem. Os reflexos dessas dificuldades do diálogo organizacional, segundo esses
autores, resultam em: diminuir a capacidade e abertura para conversas na empresa; a conversa
pode se tornar sem objetivo e repetitiva; permitir com que a organização fique vulnerável e
despreparada se demorar muito para agir.
As dificuldades da organização relativas à aprendizagem não se limitam à
conversação, e podem também ser examinadas, tomando-se por referência Argyris e Schön
(1996), como apresentado no Quadro 34:
Quadro 34: Sistema de aprendizagem organizacional no contexto do empreendimento pesquisado
Sugerido pelos autores Identificado no ambiente pesquisado
Estrutura
organizacional
Canais de comunicação. O único momento formal de interação é a troca de
turnos, que não é percebida como eficiente pelo grupo.
Sistemas de informação, incluindo mídia e
tecnologia.
Sistema de automação hoteleira que contribui para que
as informações sejam organizadas para serem utilizadas
pelo empreendimento.
Ambiente espacial da organização na
extensão que influencia os modelos de
comunicação.
Espaço físico que promove a interação tanto dos
funcionários do setor quanto com os funcionários de
reservas.
Procedimentos e rotinas que guiam o
questionamento individual e interativo.
Procedimentos não estimulam o questionamento e a
interação.
Sistemas de incentivo que influenciam o
desejo de questionar.
Não há incentivos para questionamentos.
Características
comportamentais
Qualidades, significados e sentimentos que
condicionam os padrões de interação entre
os indivíduos.
Embora o clima organizacional seja agradável, os
funcionários não trabalham em um ambiente onde
exista segurança psicológica para identificar os
problemas. Além disso, a acomodação e o tempo de
serviço fazem com que esses funcionários desejem que
os procedimentos permaneçam iguais.
Fonte: elaborado com base na pesquisa, apoiado nos conceitos de Argyris e Schön (1996).
Referindo-se à estrutura física da organização, pode-se afirmar que ela oferece um
sistema que permite que a informação seja administrada para tornar-se conhecimento. O
espaço físico é adequado para que as interações aconteçam, o local de trabalho os coloca em
contato direto, e, além disso, conta também com o suporte de uma ferramenta, o software de
automação hoteleira, que contribui para que a informação possa ser eficientemente
administrada. No entanto, isso não é significativo para promover a aprendizagem porque
faltam sistemas de incentivo, procedimentos e rotinas que guiem o questionamento, além de
características comportamentais que sejam voltadas à aprendizagem.
A mesma situação é identificada quando a organização é analisada à luz dos elementos
do ciclo da aprendizagem organizacional, sugerido por Dixon (1999). Na Figura 20,
apresenta-se um resumo dessa realidade.
238
Figura 20: Elementos no ciclo da aprendizagem organizacional no contexto do
empreendimento pesquisado
Fonte: elaborado com base na pesquisa, apoiado nos conceitos de Dixon (1999).
Dixon (1999) destaca que três etapas do ciclo de aprendizagem envolvem diretamente
a informação: geração da informação difundida; integração da informação nova/local no
contexto organizacional; interpretação coletiva da informação. Como os processos de
comunicação não são eficientes no contexto pesquisado, a utilização da informação na
geração da aprendizagem acaba também não ocorrendo, comprometendo todo o ciclo de
aprendizagem proposto por Dixon (1999). Além disso, percebe-se que os funcionários,
embora tenham autonomia para a ação, acabam agindo de acordo com os seus modelos
mentais e não conforme os significados interpretados pelo grupo, como sugere um processo
eficiente de aprendizagem. Dessa forma, o ciclo de aprendizagem organizacional, sugerido
por Dixon (1999), também não é observado no contexto da empresa analisada.
Garvin, Edmondson e Gino (2008) apresentam três aspectos que favorecem ao
desenvolvimento de grupos que aprendem. Nenhum desses aspectos foi identificado no hotel
pesquisado, como se verifica no Quadro 35.
239
Quadro 35: Aspectos que favorecem ao desenvolvimento de grupos que aprendem no contexto do
empreendimento pesquisado
Comportamento dos líderes Ambiente de aprendizagem Processos e práticas de
aprendizagem
Encarregado do setor
Procura não encaminhar os problemas
à direção resolvendo, as situações
momentaneamente, sem desenvolver
alternativas para que os erros não se
repitam,
Não cobra dos funcionários.
Diretoria
Centraliza as decisões e, ao mesmo
tempo, entende que os encarregados
dos setores têm o poder de deliberar
sobre as estratégias operacionais do
empreendimento.
Diferenças de posicionamento da
gestão dificultam a aprendizagem.
Abertura a novas idéias
Acomodação dos próprios funcionários
dificulta a implementação de novas
idéias.
Raciocínio defensivo de que não
adianta dar sugestões para o setor.
Segurança psicológica
Falta de segurança psicológica para
compartilhar as situações problemáticas
com os próprios colegas de trabalho.
Tempo e reflexão
Não existe tempo programado para a
reflexão sobre os problemas
organizacionais.
O único momento com esse objetivo é
durante a troca de turnos e, mesmo
assim, não é reconhecido por todos os
funcionários do setor como um
processo eficiente.
A aprendizagem é realizada
pela
interação com os colegas de trabalho.
Não processos e práticas formais
estabelecidos que se preocupem com
a aprendizagem dos funcionários e do
grupo de trabalho no empreendimento
pesquisado.
Fonte: elaborado com base na pesquisa, apoiado nos conceitos de Garvin, Edmondson e Gino (2008).
Analisando os itens pontuados por esses autores como facilitadores para o
desenvolvimento de grupos que aprendem, constata-se que, se o empreendimento desejar
desenvolver qualquer processo consolidado de aprendizagem, deverá repensar os pressupostos
pelos quais desenvolve suas ações, pois nenhum dos três facilitadores podem ser observados
no contexto pesquisado. Constata-se que não existem processos e práticas de aprendizagem
consolidados, o ambiente organizacional não é favorável ao questionamento, pois falta
segurança psicológica, tempo para reflexão e abertura para novas ideias, tampouco o
comportamento dos líderes parece estar preocupado em promover um ambiente de
aprendizagem.
Como consequência, o grupo analisado não apresenta evidências de comportamento de
aprendizagem, sendo caracterizado como um grupo de baixa aprendizagem. Quanto às
características desse tipo de grupo, sugeridas por Edmondson (1999, 2002), no entanto,
observam-se algumas diferenças entre o pontuado pela literatura e o ambiente pesquisado,
como pode ser evidenciado no Quadro 36.
240
Quadro 36: Características dos grupos de baixa aprendizagem e o grupo do empreendimento pesquisado
Grupos sem evidência de comportamento de aprendizagem
Grupo do empreendimento pesquisado
Ação
Evitam mudar as rotinas de trabalho existentes.
Evitam mudar as rotinas de trabalho existentes.
Apoio do
contexto
Há adequado apoio, mas o líder não está próximo ao grupo.
Falta verdadeira interdependência entre as tarefas.
Informações e recursos disponíveis para o grupo, que frequentemente
não as usa porque percebe como oportunidade para hora extra.
Não há adequado apoio, mas o líder está próximo ao grupo.
Falta verdadeira interdependência entre as tarefas.
Informações e recursos não são disponíveis para o grupo.
Características
do grupo
Esperam um problema acontecer.
Procuram não se intrometer no serviço dos outros.
Avaliam os problemas como possibilidades de aumentar as horas
extras.
As tarefas são subdividas por especialização.
Alguns funcionários se antecipam e tentam solucionar os problemas, no entanto o que gera
os problemas não é investigado sistematicamente para evitar que sejam recorrentes.
Procuram não se intrometer no serviço dos outros.
Segundo o departamento de recursos humanos, o empreendimento trabalha com banco de
horas para as primeiras duas horas excedentes, então no contexto da hotelaria esse não é um
subterfúgio comum aos empregados.
Todos os recepcionistas fazem todas as tarefas do setor, essa subdivisão só é percebida entre
as atividades dos recepcionistas e auxiliares de recepção.
Comportamento
de
aprendizagem
do grupo
Não são capazes de confrontar outros membros do team abertamente.
Não pedem ajuda a membros de outros grupos.
Resiste ativamente aos treinamentos.
Aparente falta de comportamento de aprendizagem.
Alguns confrontam outros membros do grupo abertamente, mas sabem que gera estresse.
Não pedem ajuda a membros de outros grupos.
Resiste ativamente aos treinamentos.
Aparente falta de comportamento de aprendizagem.
Comportamento
do líder
Distante do local onde está o grupo.
Age como um supervisor tradicional, monitorando a frequência, as
atribuições do trabalho e os resultados.
Age como um chefe, distribui trabalhos e monitora os progressos.
Presente no local onde está o grupo.
É camarada com o grupo e releva bastante os erros do grupo.
Colabora com o grupo para a resolução dos problemas.
A cobrança é feita em clima agradável de brincadeira (“pegação no pé”).
Feedback
Falta feedback.
Os membros não são escutados.
Não há oportunidades para crescimento.
Falta feedback.
Os membros algumas vezes são escutados, mas acreditam que não adianta emitir opinião.
Não há oportunidades para crescimento.
Reflexão
Não há reflexão conjunta.
Não há aprendizagem individual.
Esperam o encontro acabar para falar livremente nos corredores.
Não há reflexão conjunta.
Em casos isolados, percebe-se aprendizagem individual.
Raramente são realizados encontros. Também evitam falar o que pensam livremente.
Segurança
psicológica do
grupo
Falta de confiança.
Monitoramento dos outros.
Julgamento dos comportamentos.
Alguns problemas encaminhados à diretoria transformam-se em estresse, sem que sejam
resolvidos, gerando o receio de identificar os erros no empreendimento.
Identificação de problemas que tenham ocorrido com os outros é entendido como ofensas
pessoais.
Nota: as frases em vermelho identificam as situações diferentes daquelas encontradas na literatura.
Fonte: elaborado com base na pesquisa, apoiado em Edmondson (1999, 2002).
241
Quanto à ação, o grupo pesquisado apresenta a mesma característica identificada na
literatura, ou seja, evita mudar as rotinas de trabalho existentes para não demandar novos serviços
e diferentes formas de realizar as atividades.
Em relação ao apoio do contexto, o grupo pesquisado, diferentemente do sugerido pela
literatura, tem o líder próximo ao grupo, no entanto as informações e os recursos não estão
disponíveis, pois ficam centralizadas na diretoria. Outra diferença, advinda das especificidades do
setor, é que as horas extras não são uma estratégia do grupo para “não aprender”, pois, como não
linha de montagem, nem produtos que são produzidos e estocados, os horários são fixos e as
horas extras são administradas, em parte, pelo acordo coletivo que prevê o banco de horas.
Os aspectos do empreendimento investigado que mais se aproximam da literatura sobre
grupos de baixa aprendizagem são: comportamento de aprendizagem do grupo, feedback e
reflexão. O comportamento de aprendizagem do grupo é um dos aspectos que mais se percebe
afinidade entre a teoria e o contexto pesquisado. A diferença está somente no fato de que,
diferentemente do apontado pela literatura, alguns indivíduos confrontam abertamente outros
membros do grupo, embora saibam que isso gere estresse. Entretanto, os demais aspectos
observados no grupo retratam exatamente o que sugere Edmondson (1999, 2002): não pedem
ajuda a membros de outros grupos; resistem ativamente a treinamentos; e apresentam falta de
comportamento de aprendizagem.
Constatou-se a falta de feedback no grupo pesquisado assim como a falta de
oportunidades para crescimento na empresa. A maior diferença, nesse aspecto, é que, em algumas
vezes, o grupo pesquisado foi escutado, contudo está presente o modelo mental compartilhado de
que não adianta emitir opinião na empresa onde eles atuam profissionalmente, o que faz com que
os funcionários incorporem o hábito de não sugerir mudanças.
Quanto à reflexão, o que se constatou é que não existem processos sistematizados com
essa finalidade e que, embora também não aconteçam reuniões periodicamente, o diálogo não é
franco e os comentários acontecem entre os colegas mais próximos, pois não abertura para
falar livremente o que se pensa. Constituem-se exceções alguns casos isolados nos quais
constatou-se aprendizagem individual nas ações dos recepcionistas que procuram resolver os
problemas do seu turno de trabalho.
Os aspectos que mais se distanciam do referencial teórico referem-se a: características do
grupo, comportamento do líder e segurança psicológica do grupo. No que se refere às
242
características do grupo, identifica-se que alguns funcionários se antecipam e procuram
solucionar problemas, mas a preocupação comum é que os problemas não sejam levados à
direção. Assim como sugere a literatura, os funcionários procuram não se intrometer nos serviços
dos outros, e, como consequência, frequentemente também não compartilham os problemas,
mesmo quando não sabem como resolver as situações. As tarefas não são divididas por
especialização, pois todos os funcionários realizam as rotinas do setor, embora haja
predominância de ações dentro dos turnos de trabalho decorrente do fluxo de hospedagem. Essa
divisão é constatada, no entanto, entre as recepções do Três e do Quatro Estrelas, pois os
auxiliares de recepção têm sua função determinada e fazem apenas uma parte do serviço existente
na recepção.
O comportamento do líder encarregado do setor é um aspecto que diverge
consideravelmente do que a teoria apresenta. Ele fica presente no local de trabalho, em diversas
situações desenvolve as atividades como qualquer outro recepcionista, colabora na resolução dos
problemas, e é “camarada” com o grupo, relevando, inclusive, seus erros. Este comportamento,
todavia, não contribui para a aprendizagem à medida que, em vez de resolver os problemas,
modificando as teorias em uso da organização, procura-se equacionar soluções que resolvam as
situações conflitantes naquele momento, visando especialmente não encaminhar as dificuldades à
direção do empreendimento.
Essa ação está atrelada ao outro aspecto que distoa entre a teoria e o contexto pesquisado,
a segurança psicológica. No empreendimento pesquisado, constata-se a falta de segurança
psicológica, contudo não se pode inferir que falta de confiança, monitoramento dos outros ou
julgamento dos comportamentos, como apregoa a literatura. O clima de trabalho, na verdade, é
agradável. Parece que o que leva à falta de segurança psicológica é a identificação dos problemas,
que é entendida como ofensa pessoal, pois o grupo de funcionários não gosta de mudar as rotinas
de trabalho existentes. Outro motivo que leva à falta de segurança psicológica são as reações da
diretoria que, em vez de resolverem os problemas, criam estresse entre os funcionários gerando o
receio, e o modelo mental compartilhado, de evitar que os problemas sejam identificados.
Entender os processos que facilitam ou dificultam a efetivação da aprendizagem (nos
níveis individual e grupal) no espaço da recepção de hotéis era também um dos objetivos
específicos do presente trabalho. Portanto, por se tratar de um grupo com características de baixa
aprendizagem e pela literatura dar mais enfoque às barreiras da aprendizagem do que aos
243
aspectos facilitadores, é pertinente também comparar os aspectos que dificultam a aprendizagem
no contexto pesquisado com as teorias sobre o assunto apresentadas no referencial teórico deste
trabalho. No Quadro 37, evidenciam-se as barreiras encontradas na literatura, identificando
também as que estão presentes no contexto pesquisado.
Quadro 37: Barreiras da aprendizagem no contexto do empreendimento pesquisado
Individuais
Organizacionais
Identificadas na literatura
Aprendizagem de audiência;
Aprendizagem fragmentada;
Aprendizagem oportunística;
Aprendizagem situacional;
Dificuldade em mudar as teorias em uso;
Diminuir a vantagem competitiva do indivíduo;
Falta de segurança psicológica;
Hábito de esconder os erros;
Raciocínio defensivo
Ameaça ambígua;
Aprendizagem de papel limitado
Aprendizagem sob ambiguidade;
Aprendizagem supersticiosa;
Armadilha da competência;
Competição interna nociva;
Falhas na comunicação;
Falta de autorização organizacional para agir;
Falta de estrutura adequada para repassar
informações;
Hierarquia;
Ignorar informações importantes;
Obstrução da informação;
Poder;
Reflexão incompleta;
Rotinas defensivas.
Identificadas
na pesquisa
Acomodação;
Falta de feedback;
Prática.
Clima organizacional agradável;
Diferenças existentes entre os diretores;
Falta de cobrança;
Tempo de serviço.
Nota: as barreiras encontradas no ambiente pesquisado foram destacadas em negrito
Fonte: elaborado com base na pesquisa, apoiado nos conceitos de Kim (1993), Argyris e Schön (1996), Edmondson
(1999) e Dixon (1999).
Das nove barreiras identificadas pela literatura e que são mais associadas ao nível
individual, cinco foram observadas no ambiente pesquisado: a aprendizagem fragmentada; a
dificuldade em mudar as teorias em uso; a falta de segurança psicológica; o hábito de esconder os
erros; o raciocínio defensivo. Apresentar um número tão alto de barreiras da aprendizagem no
nível individual apenas evidencia que, caso a organização deseje realizar procedimentos voltados
para a aprendizagem, precisa se preocupar primeiramente em superar as barreiras no nível
individual, que são muito fortes no contexto pesquisado.
Além das barreiras identificadas pela literatura, observou-se também que a prática atua
como um dificultador da aprendizagem, uma vez que as pessoas internalizam a forma de
244
desenvolver as rotinas do setor e passam, de forma automática, a desempenhar as tarefas sem
questionar mais as teorias em uso. Essa realidade é ainda reforçada por dois motivos. O primeiro
é a acomodação, pois não se trata de apresentar evidências de dificuldade em mudar as teorias em
uso, mas da falta de motivação e desejo para mudar essas teorias. O segundo motivo é a falta de
feedback, que faz com que esses funcionários não saibam se o resultado de suas ações está de
acordo com o que o hotel espera e, portanto, não cria a necessidade de modificar o que sempre foi
realizado no empreendimento. É pertinente destacar que a importância do feedback para a
aprendizagem nas organizações é destacada por Antal, Lenhardt e Rosenbrock (2001), embora
sua ausência não tenha sido destacada como uma barreira para a aprendizagem ao longo do
referencial teórico aqui apresentado.
Quanto às barreiras da aprendizagem no nível organizacional, das quinze existentes na
literatura, cinco foram identificadas no ambiente pesquisado: aprendizagem de papel limitado;
falhas na comunicação; falta de estrutura adequada para repassar informações; hierarquia; rotinas
defensivas. Provavelmente, a identificação de menor número de barreiras no nível organizacional
é em virtude de que não existe, no ambiente analisado, um contexto de aprendizagem
organizacional.
Quatro aspectos foram percebidos como dificultadores da aprendizagem que não
aparecem na literatura analisada: clima organizacional agradável; falta de cobrança; tempo de
serviço; diferença de opinião entre os gestores. O clima organizacional agradável faz com que os
problemas não sejam compartilhados para evitar que os colegas de trabalho fiquem chateados
com a identificação dos problemas existentes, uma vez que eles são considerados ofensas
pessoais. A falta de cobrança permite que os funcionários não precisem corrigir os erros
existentes, enquanto o tempo de serviço contribui para gerar o raciocínio defensivo de que “as
coisas sempre foram feitas dessa maneira no empreendimento” e, portanto, não há necessidade de
mudança. A diferença de opinião dos gestores, por sua vez, aumenta as possibilidades dos
funcionários manterem os padrões existentes, piorando ainda as possibilidades de aprendizagem
quando os problemas não são identificados, e resolvidos, porque os próprios gestores não
demonstram consenso sobre os direcionamentos da empresa.
245
6.3 LIMITAÇÕES DO ESTUDO E SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS
Cabe também compreender as limitações existentes na pesquisa realizada, bem como
identificar sugestões de novas investigações com base das evidências encontradas ao longo do
trabalho.
Como em qualquer trabalho qualitativo, uma possível limitação refere-se à possibilidade
de generalização dos resultados encontrados. No entanto, cabe lembrar que, dentro da
metodologia qualitativa, isso não se constitui um problema, pois a generalização, nessa
perspectiva, não deve ser vista com base no número de casos ou de participantes envolvidos. As
pesquisas qualitativas estão mais interessadas no aprofundamento do tema, e a generalização
ocorre segundo Stake (2000), no âmbito do pesquisador e dos possíveis leitores. Na visão de
Stake (2000), os estudos de caso, assim como outras modalidades qualitativas, orientam-se pela
generalização denominada naturalística. De acordo com o autor, o conhecimento aprofundado de
um caso se justifica à medida que ele pode auxiliar o pesquisador no entendimento de outros
casos. Além disso, a generalização naturalística ocorre no âmbito do leitor, quando, a partir da
leitura do caso e levando em conta sua própria experiência, fará associações e relações com
outros casos, transferindo os achados da investigação.
No entanto, a comparação entre o setor do hotel pesquisado e de outros empreendimentos
poderia trazer outros subsídios para entender melhor como os grupos de recepcionistas aprendem
o exercício de suas atividades profissionais. Assim, a ampliação do número de casos pode se
constituir num objetivo para esta pesquisadora como parte de sua produção acadêmica na
instituição em que atua.
Considerando-se também a diversidade da literatura na área de aprendizagem
organizacional, é possível que outros autores tragam novas contribuições às interpretações feitas
neste trabalho. Assim, considera-se o trabalho como uma possível leitura que pode ser ampliada
com referências, representativas de outras perspectivas da área, promovendo uma discussão mais
interdisciplinar.
Como sugestões de novas pesquisas, entende-se ser importante a realização de
investigações que confrontam as características de outros grupos de baixa aprendizagem, para
246
verificar se as diferenças observadas entre a literatura e o contexto pesquisado representam
variáveis do ambiente e são unicamente decorrentes das características específicas do setor da
hotelaria, ou se esses aspectos observados podem ser constatados também em outros contextos,
configurando-se em situações que precisam ser analisadas com maior aprofundamento pelos
pesquisadores da área.
Outra sugestão de pesquisa direciona os questionamentos para entender o processo de
aprendizagem na recepção de hotéis que apresentem contextos estruturais diferentes do hotel
pesquisado, a fim de observar se algumas características serão mantidas em empresas diferentes
como, por exemplo, pequenos hotéis ou, em outro extremo, nas redes hoteleiras.
Além disso, sugere-se a adoção de investigações desenvolvidas no formato de pesquisa-
ação, a fim de atrelar ao diagnóstico a identificação de problemas e possíveis encaminhamentos e
soluções, caracterizando-se, assim, como uma pesquisa que envolve a intervenção no ambiente
social analisado, valendo-se de uma estratégia participativa (MACKE, 2006)
Finalizando este trabalho, é pertinente evidenciar que o hotel é reconhecido em nível
estadual pela tradição e qualidade dos serviços prestados. O atendimento dos funcionários aos
clientes é eficiente e gentil, as pessoas são alegres enquanto trabalham e percebeu-se, ao longo da
pesquisa realizada, que os hóspedes ficam satisfeitos com o hotel. Em momento
algum,questionou-se a qualidade do que está sendo oferecido, muito pelo contrário, um dos
motivadores para que a pesquisa fosse desenvolvida nesse empreendimento foi justamente o
reconhecimento pela qualidade que o empreendimento possui no mercado. Os aspectos
pontuados no trabalho, todavia, referem-se à relação entre a aprendizagem no grupo de trabalho
que, observando a realidade e o que a literatura apresenta, pode-se verificar que é possível ser
melhorada, se esse, contudo, for o desejo do empreendimento que, como sugere Dixon (1999)
existem muitos meios para se atingir o objetivo desejado e, nesse sentido, a aprendizagem pode
ser um deles, mas certamente não é o único.
Acredita-se que desenvolver estratégias de aprendizagem pode ser útil para que o
empreendimento torne-se mais competitivo no mercado e, ao mesmo tempo, estimule um
ambiente onde os funcionários sintam-se comprometidos para contribuir com a organização. No
entanto, num grupo onde a cultura organizacional está consolidada pela acomodação e pelo
tempo de serviço, essa situação será revertida se a gerência implantar, de fato, os processos de
aprendizagem como uma linha estratégica.
REFERÊNCIAS
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ALDERFER, C. P.; SMITH, K. K. Studying intergroup relations embedded in organizations.
Administrative Science Quarterly, v. 27, n. 1, p. 35-65, Mar. 1982.
ANCONA, D. G.; CALDWELL, D. F. Bridging the boundary: external activity and performance
in organizational teams. Administrative Science Quarterly. v. 37, n. 4, p. 634-665, 1992.
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Management Science. v. 49, n. 4, p. 400-415, 2003.
WEICK, K. E.; ROBERTS, K. H. Collective mind in organizations: heedful interrelating on
flight decks. Administrative Science Quarterly. v. 38, n. 3, p. 357-381, Sep. 1993.
YIN, R. K. Case study research: design and methods. 3. ed. Thousand Oaks: Sage, 2003.
_____. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001.
261
GLOSSÁRIO
Este glossário constitui-se num guia para o vocabulário – referente aos termos técnicos da
hotelaria – usado neste trabalho, apresentando os conceitos que exprimem o ponto de vista
adotado para determinados termos no decorrer do texto.
A explicitação dos termos está apoiada em trabalhos, reconhecidos na área de hotelaria e eventos,
que são identificados em cada entrada. Dispensam-se as aspas, mas mantém-se o ano da obra e a
página onde se encontra o conceito ou a ideia apresentada.
Os autores utilizados na composição do glossário encontram-se nas Referências.
Briefing:
1
Conjunto de informações e instruções facultadas, com antecedência [...]
sobre os aspectos mais relevantes, aplicado em situações quando se torna
necessário esclarecer alguém, resumidamente, do andamento do processo ou
de qualquer problema que não está solucionado. (MATIAS, 2007, p. 134)
Check in: Designação de todo o movimento englobado no registro de cliente à chegada.
(MARQUES, 2000, p. 423)
Check list:
É o detalhamento pormenorizado de atitudes, providências, tarefas, materiais
ou necessidades, [...] reunidas numa mesma relação. (MARTIN, 2003, p.
258)
Check out: Designação das ações e atos burocráticos usados para dar saída ao cliente.
(MARQUES, 2000. p. 423)
City tour: Passeios de ônibus pela cidade, passando pelos principais pontos turísticos.
(TURISMO VISÃO E AÇÃO, 2000, p. 31)
Conjugado: É o apartamento ou cabine ligados um ao outro por intermédio de uma porta
exclusiva, transformando ambos em uma única peça habitacional.
(TURISMO VISÃO E AÇÃO, 2000, p. 31)
Double: A palavra double (duplo) designa sempre apartamento com cama de casal.
(MARQUES, 2000, p. 426)
Hóspede
habitué:
É o spede que vem com frequência ao hotel. (TURISMO VISÃO E
AÇÃO, 2000, p. 38)
Late check
out:
Ocupação de apartamento além da hora normal de saída, que habitualmente é
ao meio-dia. [...] É cobrada normalmente meia diária. Após as 18 horas, a
diária é completa. (MARQUES, 2000, p. 430)
1
Esse termo é usado no hotel pesquisado para representar o horário em que as atividades devem ser repassadas pois
ocorre a troca entre os turnos da recepção.
262
No show: Não comparecimento, sem aviso prévio ou cancelamento para embarque ou
no balcão da recepção. (MARQUES, 2000, p. 432)
Overbooking
(e over):
É a reserva de apartamentos acima da possibilidade do hotel. (MARQUES,
2000, p. 432)
Rack: Sistema de organização de controle visual. (TURISMO VISÃO E AÇÃO,
2000, p. 41)
Room tax
2
:
Taxa de acomodação transitória. (BONHAM et al., 1992, p. 434)
Rooming
List:
É a lista de nomes encaminhada pelo comprador para ocupar as
acomodações previamente reservadas. (TURISMO VISÃO E AÇÃO, 2000,
p. 41)
Upgrade: Quando é dado a um cliente apartamento de tipo superior ao que estava
reservado. [...] (benefício utilizado estrategicamente, como um bônus ao
cliente, por exemplo em caso de overbooking. (TURISMO VISÃO E
AÇÃO, 2000, p. 42)
Standard:
Define o apartamento mais econômico ou mais simples. (MARTIN, 2003, p.
264)
Single: Nome que se ao apartamento para ser ocupado por uma pessoa.
(MARQUES, 2000, p. 434)
Hóspede
VIP:
É uma pessoa muito importante que pela sua posição pessoal ou por ser
muito recomendada recebe atenção especial. (TURISMO VISÃO E AÇÃO,
2000, p. 38)
Voucher: Documento emitido pelo agente de viagens, solicitando serviços ao hotel.
(MARQUES, 2000, p. 436)
Walk in: É um spede que chega sem reserva. (TURISMO VISÃO E AÇÃO, 2000,
p. 42)
2
Normalmente essa taxa, que é facultativa, é recolhida pelos hotéis associados para ser repassada ao Convention &
Visitors Bureau dos municípios.
APÊNDICES
264
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
A pesquisa “Aprendizagem nas Organizações: uma análise em nível grupal envolvendo
situações de trabalho na recepção de hotéis” se trata de um estudo de caso de caráter descritivo
cujo objetivo principal é descrever e analisar os processos de aprendizagem individual e grupal
que ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da recepção de hotéis. As
informações obtidas serão prestadas voluntariamente, os informantes terão sua identidade
preservada e poderão recusar-se a responder a qualquer pergunta. Os resultados das entrevistas
não serão repassados para nenhuma outra pessoa, além da pesquisadora e de sua orientadora, nem
serão utilizados pelo hotel para qualquer finalidade. Ressalta-se que o interesse está direcionado à
compreensão dos processos de aprendizagem no grupo de pesquisados, portanto o presente
estudo não visa interferir ou modificar os procedimentos operacionais realizados na organização.
A pesquisadora responsável é a Professora Luciana Davi Traverso Nodari, que pode ser
encontrada na rua Getúlio Vargas, 2125, Bairro Flor da Serra, Joaçaba SC, Fone (49) 3551-
2029. Não despesas pessoais para o respondente e também não compensação financeira
relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo
orçamento da pesquisa. O presente termo está sendo elaborado em duas vias; uma ficará com o
entrevistado e a outra com a pesquisadora responsável pela entrevista.
Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas
para mim, descrevendo o referido estudo. Eu discuti com a Professora responsável sobre a minha
decisão em participar deste estudo e ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo,
os procedimentos a serem realizados, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos
permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas. Concordo
voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer
momento, antes ou durante estudo, sem penalidades ou prejuízos de qualquer espécie.
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste
informante para a participação neste estudo.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Pesquisado: Data / / 2009
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Luciana Davi Traverso Nodari (pesquisadora responsável) Data / / 2009
265
APÊNDICE B – Roteiros de entrevistas
ROTEIRO DE ENTREVISTA
DIRETORES
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
IDADE: ____________________
SEXO: _____________________
QUAL FUNÇÃO:____________
TEMPO DE TRABALHO:
Há quanto tempo trabalha?
Há quanto tempo trabalha na área de hotelaria?
Há quanto tempo trabalha neste hotel?
FORMAÇÃO:
Formação escolar geral – segundo grau, nível superior?
Formação escolar específica – curso técnico, curso superior específico da área?
Outros cursos de curta duração na área?
Explicar o objetivo da pesquisa de descrever e analisar os processos de aprendizagem que
ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de hotéis”.
ABORDAGEM
1 Por que o senhor trabalha no ramo da hotelaria?
1.1 Conte a história dos dois hotéis.
2 Conte como o senhor percebe a rotina do trabalho realizada na recepção.
2.1 O senhor já trabalhou algum período na recepção?
2.2 O senhor considera o trabalho na recepção fácil ou difícil?
2.3 Quanto tempo o senhor considera necessário para um recepcionista sem experiência
dominar todas as tarefas desempenhadas na recepção deste hotel? Explique.
3 Quais as tarefas/atividades desenvolvidas pelos recepcionistas neste hotel? (Espere ele
relatar o que fazem os recepcionistas para depois perguntar).
3.1 Quais delas podem ser consideradas mais fáceis e rotineiras e quais são mais complexas?
3.2 Existe uma descrição por escrito?
3.3 Como um recepcionista faz para saber como deve proceder na sua função?
3.4 Como os funcionários aprendem a diferenciar os tipos de uh de cada hotel?
266
3.5 Que tipos de serviços do hotel o recepcionista deve “oferecer” aos hóspedes? Isso é
regulamentado?
PROCEDIMENTOS DO HOTEL
4 O hotel possui POP para a recepção?
4.1 Como e por que foi criado?
4.2 Funciona?
4.3 Tem algo nesse POP que poderia ser diferente?
5 Desde que o senhor administra o hotel, houve alguma mudança na execução da tarefa dos
recepcionistas?
5.1 Quais foram essas mudanças? Dê exemplos.
5.2 O que provocou essas mudanças?
5.3 Em algum momento, foram realizadas mudanças em decorrência de sugestões dos
funcionários do hotel?
5.4 E por sugestão dos hóspedes?
5.5 O que é feito com (a partir de) as reclamações/sugestões dos hóspedes?
6 O resultado das ações/decisões da equipe de recepção resolve os problemas do setor?
6.1 Como o senhor sabe dizer que essas ações resolvem (ou não) os problemas do setor?
6.2 Cite um ou dois processos realizados bastante tempo (4 anos) no hotel e que
funcionam bem/de forma satisfatória.
7. Explique o que acontece quando se percebe que algo precisa ser corrigido no contexto da
recepção.
7.1 Qual o procedimento quando um recepcionista erra?
7.2 Conte uma situação (como foi, o que aconteceu) quando um recepcionista cometeu um
erro/equívoco.
INDIVIDUAIS
8 O senhor sugeriu/implementou alguma mudança que melhorou o desempenho da
recepção?
8.1 Se sugeriu, conte-me sobre isso
8.2 Se não sugeriu, por quê?
9 Como é feita a comunicação com os funcionários desse setor?
9.1 Quem dá feedback aos recepcionistas? Qual é a frequência dessa atividade?
267
9.2 Como o senhor percebe a comunicação da recepção com os outros setores (governança,
reservas, A&B).
10 O senhor fez algum curso (ou benchmarking) na área (recepção ou hotelaria)
recentemente?
10.1 Se fez, conte sobre isso?
10.2 Se não fez, por quê?
10.3 Algum funcionário da área da recepção fez curso específico para esse setor? Comente.
10.4 O hotel promove algum tipo de treinamento interno?
10.5 Como foi a contratação da consultoria?
10.6 O que mudou após a consultoria na recepção? Exemplifique.
11 Os recepcionistas têm autonomia para resolver situações inusitadas? Explique (dê
exemplos).
11.1 Os recepcionistas do seu hotel resolvem as situações inusitadas de forma diferente?
11.2 Os recepcionistas interferem de alguma forma na determinação do valor das diárias?
11.3 E quanto aos horários do check out e late check out? Existem normas estabelecidas para
isso?
ORGANIZACIONAIS
12 O senhor pretende/gostaria de alterar alguma coisa ou procedimento na recepção do hotel?
13 Ocorreram mudanças ou situações que geraram alguma confusão para os recepcionistas?
Dê exemplos.
13.1 Na sua opinião, o que faz com que tenha confusão na recepção do hotel?
14 Das ações executadas pelos recepcionistas, qual é a mais importante? Por quê?
15 Como são tomadas as decisões na empresa?
15.1 A organização permite que mudanças possam ser facilmente implementadas?
Exemplifique.
15.2 Como idéias diferentes são recebidas pelo grupo? Conte um exemplo.
15.3 Conte como foi o tempo sem chefe na recepção.
15.4 E a decisão sobre voltar a ter um chefe?
16 Quais são as expectativas nessa organização para as funções de um recepcionista e de um
chefe de recepção?
16.1 Qual é o papel desses funcionários diante da organização?
16.2 O que é importante para a organização que é específico da recepção?
17 Conte a história das duas recepções do hotel.
17.1 Qual a diferença entre as duas recepções?
268
17.2 O que motivou organizá-las com funções diferentes?
17.3 Funciona bem o sistema de uma recepção para os dois hotéis?
17.4 Um recepcionista que trabalha numa recepção consegue desenvolver bem o trabalho da
outra recepção? Por quê?
17.5 Como os hóspedes perceberam essa alteração?
17.6 E os funcionários do setor?
18 Diferencie as principais características de cada um dos turnos da recepção.
19 No que a criação da rede Versare modificou as atividades da recepção?
19.1 Há quanto tempo existe a rede Versare?
19.2 Como essa informação foi passada aos recepcionistas na época?
19.3 Como é passada atualmente para as contratações recentes?
ASPECTOS GERAIS
20 Gostaria de dizer/acrescentar mais alguma coisa?
269
ROTEIRO DE ENTREVISTA
CHEFE DA RECEPÇÃO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
IDADE: ____________________
SEXO: _____________________
QUAL FUNÇÃO:_____________
TEMPO DE TRABALHO:
Há quanto tempo trabalha?
Há quanto tempo trabalha na área de hotelaria?
Há quanto tempo trabalha ligado à recepção? Há quanto tempo é chefe?
Há quanto tempo trabalho no hotel? E como chefe?
Sempre no mesmo hotel, ou não?
FORMAÇÃO:
Formação escolar geral – segundo grau, nível superior?
Formação escolar específica – curso técnico, curso superior específico da área?
Outros cursos de curta duração na área?
Explicar o objetivo da pesquisa de descrever e analisar os processos de aprendizagem que
ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de hotéis”.
ABORDAGEM
1 Por que escolheu trabalhar no ramo da hotelaria?
2 Conte como você aprendeu a rotina do trabalho realizado na recepção.
2.1 Quanto tempo você levou para aprender todas essas tarefas?
2.2 Como foi esse aprendizado?
2.3 Quem lhe ensinou na época: o próprio chefe da recepção ou os colegas? Fez algum curso
específico para trabalhar na recepção?
2.4 Você considera o trabalho na recepção fácil ou difícil?
2.5 Quanto tempo você considera necessário para um recepcionista sem experiência dominar
todas as tarefas desempenhadas na recepção deste hotel?
3 Sua experiência como recepcionista auxiliou a desenvolver as habilidades necessárias
para ser chefe da recepção? De que forma?
4 Descreva como é a sua rotina de trabalho neste hotel. (Espere ele relatar suas tarefas para
depois perguntar).
270
4.1 Dentre as suas tarefas, quais considera mais fáceis e quais acha que são mais
difíceis/complicadas?
4.2 Existe uma descrição por escrito?
5 Quais as tarefas/atividades desenvolvidas pelos recepcionistas neste hotel? (Espere ele
relatar o que fazem os recepcionistas para depois perguntar).
5.1 Quais delas podem ser consideradas mais fáceis e rotineiras e quais são mais complexas?
5.2 Existe uma descrição por escrito?
PROCEDIMENTOS DO HOTEL
6 O hotel possui POP para a recepção?
6.1 Se possui, como foi criado? Funciona? Tem algo nesse POP que poderia ser diferente?
6.2 Se não possui, como um recepcionista faz para saber como deve proceder na sua função?
7 Desde que você é chefe da recepção, houve alguma mudança na execução da tarefa dos
recepcionistas?
7.1 Quais foram essas mudanças? Dê exemplos.
7.2 O que provocou essas mudanças?
7.3 Em algum momento, foram realizadas mudanças em decorrência de sugestões dos
funcionários do hotel?
7.4 E por sugestão dos hóspedes?
7.5 O que é feito com (a partir de) as reclamações/sugestões dos hóspedes?
8 O resultado das ações/decisões da sua equipe resolve os problemas do setor?
8.1 Como você sabe dizer que essas ações resolvem os problemas do setor?
8.2 Cite um ou dois processos realizados bastante tempo (4 anos) no hotel e que
funcionam bem/de forma satisfatória.
9 Explique o que acontece quando se percebe que algo precisa ser corrigido no contexto da
recepção.
9. 1 Qual o procedimento quando um recepcionista erra?
9.2 Conte uma situação (como foi, o que aconteceu) quando um recepcionista de sua equipe
cometeu um erro/equívoco.
INDIVIDUAIS
10 Você já sugeriu alguma mudança que melhorou o desempenho da recepção?
10.1 Se sugeriu, conte-me sobre isso.
10.2 Se não sugeriu, por quê?
271
11. Como é feita a comunicação com seus superiores e com os outros setores?
11.1 Você recebe feedback para você e para o grupo? Conte como isso acontece.
11.2 Como é a comunicação com os outros setores (governança, reservas, A&B).
12 Como é feita sua comunicação com os seus subordinados?
12.1 Você dá feedback para o grupo? Conte como isso acontece.
13 Você fez algum curso na área (recepção ou hotelaria) recentemente?
13.1 Se fez, o hotel ajudou de alguma forma?
13.2 Se não fez, por quê?
14 O hotel promove algum tipo de treinamento interno?
15 Você tem autonomia para resolver situações inusitadas? Explique (dê exemplos).
15.1 Os recepcionistas do seu hotel resolvem as situações inusitadas de forma diferente?
ORGANIZACIONAIS
16 O que você gostaria de fazer de diferente na recepção do hotel?
17 Ocorreram mudanças ou situações que geraram alguma confusão para os recepcionistas?
Dê exemplos.
17.1 Na sua opinião, o que faz com que tenha confusão na recepção do hotel?
18 Das ações executadas pelos recepcionistas, qual é a mais importante? Por quê?
18.1 Existe alguma ação realizada pelos recepcionistas que você não sabe para quê ela é
utilizada pelo hotel (a finalidade de preencher um documento, ou de realizar um
procedimento)?
19 Na sua opinião, como são tomadas as decisões na empresa?
19.1 A organização permite que mudanças possam ser facilmente implementadas?
Exemplifique.
19.2 Como ideias diferentes são recebidas pelo grupo? Conte um exemplo.
20 Quais são as expectativas nesta organização para as funções de um recepcionista?
21 Quais são as expectativas nesta organização para as funções de um chefe de recepção?
21.1. Qual o seu papel diante da organização?
21.2 Qual a sua contribuição para a organização em sua totalidade (seu papel, sua função, suas
atribuições)?
21.3 O que é importante para a organização que é específico da recepção?
272
22 Explique como funciona a venda das uh para clientes sem reservas.
22.1 Você tem liberdade para negociar valores das diárias?
23 Como você diferencia os tipos de uh de cada hotel?
23.1 Você conhece todos os tipos de uh do hotel?
23.2 Como você aprendeu a diferença entre as uh?
24 Explique de que forma o setor de reservas interfere no desenvolvimento das atividades da
recepção.
24.1 Como é administrada a hospedagem de habituée em períodos de lotação?
24.1 Como é organizada a distribuição das uh nas reservas e para a check in dos hóspedes?
25 Explique como funcionam as duas recepções do hotel.
25.1 Qual a diferença entre as duas recepções?
25.2 Como você aprendeu a diferença entre as duas recepções?
25.3 Funciona bem o sistema de uma recepção para os dois hotéis?
25.4 Um recepcionista que trabalha numa recepção consegue desenvolver bem o trabalho da
outra recepção? Por quê?
26 Como é o controle do deslocamento de hóspedes dentro do hotel?
26.1 Como é a diferença entre o hotel que trabalha com chaves e o outro que trabalha com
cartões?
27 Diferencie as principais características de cada um dos turnos da recepção.
28 No que criação da rede Versare modificou as atividades da recepção?
ASPECTOS GERAIS
29 Quais as suas expectativas – pessoais e profissionais – para os próximos anos?
30 Gostaria de dizer/acrescentar mais alguma coisa?
273
ROTEIRO DE ENTREVISTA
RECEPCIONISTA
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
IDADE: ____________________
SEXO: _____________________
QUAL FUNÇÃO:____________
TEMPO DE TRABALHO:
Há quanto tempo trabalha?
Há quanto tempo trabalha na área de hotelaria?
Há quanto tempo trabalha ligado à recepção?
Sempre no mesmo hotel, ou não?
Há quanto tempo no hotel Ritter?
FORMAÇÃO:
Formação escolar geral – segundo grau, nível superior?
Formação escolar específica – curso técnico, curso superior específico da área?
Outros cursos de curta duração na área?
Explicar o objetivo da pesquisa de descrever e analisar os processos de aprendizagem que
ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de hotéis”.
ABORDAGEM
1 Por que escolheu trabalhar no ramo da hotelaria?
2 Conte como você aprendeu a rotina do trabalho realizado na recepção.
2.1 Quanto tempo você levou para aprender todas essas tarefas?
2.2 Como foi esse aprendizado?
2.3 Quem lhe ensinou na época: o próprio chefe da recepção ou os colegas? Fez algum curso
específico para trabalhar na recepção?
2.4 Você considera o trabalho na recepção fácil ou difícil?
2.5 Quanto tempo você considera necessário para um recepcionista sem experiência dominar
todas as tarefas desempenhadas na recepção deste hotel?
2.6 Sua experiência anterior na hotelaria auxiliou a desenvolver as habilidades necessárias
para ser recepcionista? De que forma?
2.7 Sua experiência em outra atividade auxiliou a desenvolver as habilidades necessárias para
ser recepcionista? De que forma?
3 Descreva como é a sua rotina de trabalho neste hotel. (Espere ele relatar suas tarefas para
depois perguntar).
274
3.1 Dentre as suas tarefas, quais considera mais fáceis e quais acha que são mais
difíceis/complicadas?
3.2 Existe uma descrição por escrito?
PROCEDIMENTOS DO HOTEL
4 O hotel possui POP para a recepção?
4.1 Se possui, como foi criado? Funciona? Tem algo nesse POP que poderia ser diferente?
4.2 Se não possui, como um recepcionista faz para saber como deve proceder na sua função?
5 Desde que vo trabalha como recepcionista, houve alguma mudança na execução da
tarefa dos recepcionistas?
5.1 Quais foram essas mudanças? Dê exemplos.
5.2 O que provocou essas mudanças?
5.3 Em algum momento, foram realizadas mudanças em decorrência de sugestões dos
funcionários do hotel?
5.4 E por sugestão dos hóspedes?
5.5 O que é feito com (a partir de) as reclamações/sugestões dos hóspedes?
6 As mudanças realizadas melhoraram o serviço interno e o atendimento aos hóspedes?
7 O resultado das suas ações/decisões resolve os problemas do setor?
7.1 Como você sabe dizer que essas ações resolvem os problemas?
7.2 Cite um ou dois processos realizados bastante tempo (4 anos) no hotel e que
funcionam bem/de forma satisfatória.
8 Explique o que acontece quando se percebe que algo precisa ser corrigido no contexto da
recepção.
8. 1 Qual o procedimento quando um recepcionista erra?
8.2 Conte uma situação (como foi, o que aconteceu) quando um colega seu cometeu um
erro/equívoco.
INDIVIDUAIS
9 Você já sugeriu alguma mudança que melhorou o desempenho da recepção?
9.1 Se sugeriu, conte-me sobre isso.
9.2 Se não sugeriu, por quê?
10 Como é feita sua comunicação com seus superiores ?
10.1 O chefe da recepção dá feedback para você e para o grupo? Conte como isso acontece.
275
10.2 Como você percebe a atuação de seus superiores na condução do grupo?
11 Como é a comunicação com os seus colegas?
11.1 E com as camareiras e governanta?
11.2 E com os funcionários do setor de reservas?
12 Você fez algum curso na área (recepção ou hotelaria) recentemente?
12.1 Se fez, o hotel ajudou de alguma forma?
12.2 Se não fez, por quê?
13 O hotel promove algum tipo de treinamento interno?
14 Você tem autonomia para resolver situações inusitadas? Explique (dê exemplos).
14.1 Os recepcionistas (colegas do seu hotel) resolvem as situações inusitadas de forma
diferente?
15 Você costuma refletir sobre suas ações como recepcionista?
15.1 Isso acontece sozinho ou em grupo? Fale sobre essas experiências.
ORGANIZACIONAIS
16 O que você gostaria de fazer de diferente na recepção do hotel?
17 Ocorreram mudanças ou situações que geraram alguma confusão para os recepcionistas?
Dê exemplos
17.1 Na sua opinião, o que faz com que tenha confusão na recepção do hotel?
18 Das ações executadas pelos recepcionistas, qual é a mais importante? Por quê?
18.1 Existe alguma ação realizada pelos recepcionistas que você não sabe para quê ela é
utilizada pelo hotel (a finalidade de preencher um documento, ou de realizar um
procedimento)?
19 Na sua opinião, como são tomadas as decisões na empresa?
19.1 A organização permite que mudanças possam ser facilmente implementadas?
Exemplifique
19.2 Como idéias diferentes são recebidas pelo grupo? Conte um exemplo.
20 O que você acha que este hotel espera de um recepcionista?
20.1 Qual é o seu papel diante da organização?
20.2 Qual é a sua contribuição para a organização em sua totalidade (seu papel, sua função,
suas atribuições)?
20.3 O que é importante para a organização que é específico da recepção?
276
21 Explique como funciona a venda das uh para clientes sem reservas.
21.1 Você tem liberdade para negociar valores das diárias?
22 Como você diferencia os tipos de uh de cada hotel?
22.1 Você conhece todos os tipos de uh do hotel?
22.2 Como você aprendeu a diferença entre as uh?
23 Explique de que forma o setor de reservas interfere no desenvolvimento das atividades da
recepção.
23.1 Como é administrada a hospedagem de habituée em períodos de lotação?
23.2 Como é organizada a distribuição das uh nas reservas e para a check in dos hóspedes?
24 Explique como funcionam as duas recepções do hotel
24.1 Qual a diferença entre as duas recepções?
24.2 Como você aprendeu a diferença entre as duas recepções?
24.3 Funciona bem o sistema de uma recepção para os dois hotéis?
24.4 Um recepcionista que trabalha numa recepção consegue desenvolver bem o trabalho da
outra recepção? Por quê?
25 Como é o controle do deslocamento de hóspedes dentro do hotel?
25.1 Como é a diferença entre o hotel que trabalha com chaves e o outro que trabalha com
cartões?
26 Diferencie as principais características de cada um dos turnos da recepção.
ASPECTOS GERAIS
27 Quais as suas expectativas – pessoais e profissionais – para os próximos anos?
28 Gostaria de dizer/acrescentar mais alguma coisa?
277
ROTEIRO DE ENTREVISTA
MENSAGEIROS
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
IDADE: ____________________
SEXO: _____________________
QUAL FUNÇÃO:____________
TEMPO DE TRABALHO:
Há quanto tempo trabalha?
Há quanto tempo trabalha na área de hotelaria?
Há quanto tempo trabalha nesse setor?
Há quanto tempo trabalha no hotel?
Sempre no mesmo hotel, ou não?
FORMAÇÃO:
Formação escolar geral – segundo grau, nível superior?
Formação escolar específica – curso técnico, curso superior específico da área?
Outros cursos de curta duração na área?
Explicar o objetivo da pesquisa de descrever e analisar os processos de aprendizagem que
ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de hotéis”.
ABORDAGEM
1 Por que escolheu trabalhar no ramo da hotelaria?
2 Descreva como é a sua rotina de trabalho neste hotel. (Espere ele relatar suas tarefas para
depois perguntar).
2.1 Dentre as suas tarefas, quais considera mais fáceis e quais acha que são mais
difíceis/complicadas?
3 Quais as tarefas/atividades tem relação/interferência nas atividades desenvolvidas pelos
recepcionistas. (Espere ele relatar o que fazem os recepcionistas para depois perguntar).
PROCEDIMENTOS DO HOTEL
4 Desde que vo trabalha nesse setor, houve alguma mudança nas suas atividades em
virtude da interação com os funcionários da recepção?
278
4.1 Quais foram essas mudanças? Dê exemplos.
4.2 O que provocou essas mudanças?
4.3 Em algum momento, foram realizadas mudanças em decorrência de sugestões dos
funcionários?
4.4 E por sugestão dos hóspedes?
4.5 O que é feito com (a partir de) as reclamações/sugestões dos hóspedes?
5 Explique o que acontece quando se percebe que algo precisa ser melhorado nas atividades
que envolvem o seu setor e a recepção.
5. 1 Qual o procedimento quando alguém erra?
5.2 Conte uma situação (como foi, o que aconteceu) quando alguém cometeu um
erro/equívoco
INDIVIDUAIS
6 Você já sugeriu alguma mudança que melhorou o desempenho da recepção?
6.1 Se sugeriu, conte-me sobre isso.
6.2 Se não sugeriu, por quê?
7 Como é feita a comunicação com os seus colegas e com os recepcionistas?
7.1 Você recebe feedback para você e para o grupo? Conte como isso acontece.
8 Você tem autonomia para resolver situações inusitadas que interferem nas atividades da
recepção? Explique (dê exemplos).
8.1 Os seus colegas resolvem as situações inusitadas de forma diferente?
ORGANIZACIONAIS
9 Ocorreram mudanças ou situações que geraram alguma confusão para os recepcionistas?
Dê exemplos.
9.1 Na sua opinião, o que faz com que tenha confusão na recepção do hotel?
10 Das ações executadas pelos recepcionistas, qual é a mais importante? Por quê?
10.1 Existe alguma ação realizada pelos recepcionistas que você não sabe para quê ela é
utilizada pelo hotel (a finalidade de preencher um documento, ou de realizar um
procedimento)?
11 Como você diferencia os tipos de uh de cada hotel?
11.1 Você conhece todos os tipos de uh do hotel?
279
11.2 Como você aprendeu a diferença entre as uh?
12 Explique de que forma o seu setor interfere no desenvolvimento das atividades da
recepção.
12.1 Como é administrada a hospedagem de habituée em períodos de lotação?
12.2 Como é organizada a distribuição das uh nas reservas e para a check in dos hóspedes?
13 Explique como funcionam as duas recepções do hotel.
13.1 Qual é a diferença entre as duas recepções?
13.2 Como você aprendeu a diferença entre as duas recepções?
13.3 Funciona bem o sistema de uma recepção para os dois hotéis?
14 Como é o controle do deslocamento de hóspedes dentro do hotel?
14.1 Como é a diferença entre o hotel que trabalha com chaves e o outro que trabalha com
cartões?
ASPECTOS GERAIS
15 Quais as suas expectativas – pessoais e profissionais – para os próximos anos?
16 Gostaria de dizer/acrescentar mais alguma coisa?
280
ROTEIRO DE ENTREVISTA
RESERVAS
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
IDADE: ____________________
SEXO: _____________________
QUAL FUNÇÃO:____________
TEMPO DE TRABALHO:
Há quanto tempo trabalha
Há quanto tempo trabalha na área de hotelaria?
Há quanto tempo trabalha neste setor?
Há quanto tempo trabalha no hotel?
Sempre no mesmo hotel, ou não?
FORMAÇÃO:
Formação escolar geral – segundo grau, nível superior?
Formação escolar específica – curso técnico, curso superior específico da área?
Outros cursos de curta duração na área?
Explicar o objetivo da pesquisa de descrever e analisar os processos de aprendizagem que
ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de hotéis”.
ABORDAGEM
1 Por que escolheu trabalhar no ramo da hotelaria?
2 Descreva como é a sua rotina de trabalho neste hotel. (Espere ele relatar suas tarefas para
depois perguntar).
2.1 Dentre as suas tarefas, quais considera mais fáceis e quais acha que são mais
difíceis/complicadas?
3 Quais as tarefas/atividades têm relação/interferência nas atividades desenvolvidas pelos
recepcionistas. (Espere ele relatar o que fazem os recepcionistas para depois perguntar).
PROCEDIMENTOS DO HOTEL
4 Desde que você trabalha neste setor, houve alguma mudança nas suas atividades em
virtude da interação com os funcionários da recepção?
281
4.1 Quais foram essas mudanças? Dê exemplos.
4.2 O que provocou essas mudanças?
4.3 Em algum momento, foram realizadas mudanças em decorrência de sugestões dos
funcionários?
4.4 E por sugestão dos hóspedes?
4.5 O que é feito com (a partir de) as reclamações/sugestões dos hóspedes?
5 Explique o que acontece quando se percebe que algo precisa ser melhorado nas atividades
que envolvem o seu setor e a recepção.
5. 1 Qual o procedimento quando alguém erra?
5.2 Conte uma situação (como foi, o que aconteceu) quando alguém cometeu um
erro/equívoco.
INDIVIDUAIS
6 Você já sugeriu alguma mudança que melhorou o desempenho da recepção?
6.1 Se sugeriu, conte-me sobre isso.
6.2 Se não sugeriu, por quê?
7 Como é feita a comunicação com os seus colegas e com os recepcionistas?
7.2 Você recebe feedback para você e para o grupo? Conte como isso acontece.
8 Você tem autonomia para resolver situações inusitadas que interferem nas atividades da
recepção? Explique (dê exemplos).
8.1 Os seus colegas resolvem as situações inusitadas de forma diferente?
ORGANIZACIONAIS
9 Ocorreram mudanças ou situações que geraram alguma confusão para os recepcionistas?
Dê exemplos
9.1 Na sua opinião, o que faz com que tenha confusão na recepção do hotel?
10 Das ações executadas pelos recepcionistas, qual é a mais importante? Por quê?
10.1 Existe alguma ação realizada pelos recepcionistas que você não sabe para quê ela é
utilizada pelo hotel (a finalidade de preencher um documento, ou de realizar um
procedimento)?
11 Como você diferencia os tipos de uh de cada hotel?
11.1 Você conhece todos os tipos de uh do hotel?
11.2 Como você aprendeu a diferença entre as uh?
282
12 Explique de que forma o seu setor interfere no desenvolvimento das atividades da
recepção
12.1 Como é administrada a hospedagem de habituée em períodos de lotação?
12.2 Como é organizada a distribuição das uh nas reservas e para a check in dos hóspedes?
13 Explique como funcionam as duas recepções do hotel.
13.1 Qual a diferença entre as duas recepções?
13.2 Como você aprendeu a diferença entre as duas recepções?
13.3 Funciona bem o sistema de uma recepção para os dois hotéis?
14 Como é o controle do deslocamento de hóspedes dentro do hotel?
14.1 Como é a diferença entre o hotel que trabalha com chaves e o outro que trabalha com
cartões?
ASPECTOS GERAIS
15 Quais as suas expectativas – pessoais e profissionais – para os próximos anos?
16 Gostaria de dizer/acrescentar mais alguma coisa?
283
ROTEIRO DE ENTREVISTA
CONTROLISTA GERAL
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
IDADE: ____________________
SEXO: _____________________
QUAL FUNÇÃO:____________
TEMPO DE TRABALHO:
Há quanto tempo trabalha.
Há quanto tempo trabalha na área de hotelaria?
Há quanto tempo trabalha ligado à recepção? Há quanto tempo é chefe?
Há quanto tempo trabalho no hotel? E como chefe?
Sempre no mesmo hotel, ou não?
FORMAÇÃO:
Formação escolar geral – segundo grau, nível superior?
Formação escolar específica – curso técnico, curso superior específico da área?
Outros cursos de curta duração na área?
Explicar o objetivo da pesquisa de descrever e analisar os processos de aprendizagem que
ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de hotéis”.
ABORDAGEM
1 Por que você trabalha no ramo da hotelaria?
2 Conte como você percebe a rotina do trabalho realizada na recepção.
2.1 Você já trabalhou algum período na recepção?
2.2 Você considera o trabalho na recepção fácil ou difícil?
2.3 Quanto tempo você considera necessário para um recepcionista sem experiência dominar
todas as tarefas desempenhadas na recepção deste hotel? Explique.
3 Quais as tarefas/atividades desenvolvidas pelos recepcionistas neste hotel? (Espere ele
relatar o que fazem os recepcionistas para depois perguntar).
3.1 Quais delas podem ser consideradas mais fáceis e rotineiras e quais são mais complexas?
3.2 Existe uma descrição por escrito?
3.3 Como um recepcionista faz para saber como deve proceder na sua função?
3.4 Como os funcionários aprendem a diferenciar os tipos de uh de cada hotel?
3.5 Que tipos de serviços do hotel o recepcionista deve “oferecer” aos hóspedes? Isso é
regulamentado?
284
PROCEDIMENTOS DO HOTEL
4 O hotel possui POP para a recepção?
4.1 Como e por que foi criado?
4.2 Funciona?
4.3 Tem algo nesse POP que poderia ser diferente?
5 Desde que você trabalha no hotel, houve alguma mudança na execução da tarefa dos
recepcionistas?
5.1 Quais foram essas mudanças? Dê exemplos.
5.2 O que provocou essas mudanças?
5.3 Em algum momento, foram realizadas mudanças em decorrência de sugestões dos
funcionários do hotel?
5.4 E por sugestão dos hóspedes?
5.5 O que é feito com (a partir de) as reclamações/sugestões dos hóspedes?
6 O resultado das ações/decisões da equipe de recepção resolve os problemas do setor?
6.1 Como você sabe dizer que essas ações resolvem (ou não) os problemas do setor?
6.2 Cite um ou dois processos realizados bastante tempo (4 anos) no hotel e que
funcionam bem/de forma satisfatória.
7 Explique o que acontece quando se percebe que algo precisa ser corrigido no contexto da
recepção.
7. 1 Qual o procedimento quando um recepcionista erra?
7.2 Conte uma situação (como foi, o que aconteceu) quando um recepcionista cometeu um
erro/equívoco.
INDIVIDUAIS
8 Você já sugeriu/implementou alguma mudança que melhorou o desempenho da recepção?
8.1 Se sugeriu, conte-me sobre isso
8.2 Se não sugeriu, por quê?
9 Como é feita a comunicação com seus superiores, com os outros setores e com os
recepcionistas?
9.1 Você recebe feedback para você e para o grupo? Conte como isso acontece.
9.2 Como é a comunicação com os outros setores (governança, reservas, A&B).
9.3 Você dá feedback para o grupo? Conte como isso acontece.
285
10 Você fez algum curso na área (recepção ou hotelaria) recentemente?
10.1 Se fez, conte sobre isso.
10.2 Se não fez, por quê?
10.3 Algum funcionário da área da recepção fez curso específico para esse setor? Comente.
10.4 O hotel promove algum tipo de treinamento interno?
10.5 Como foi a contratação da consultoria?
10.6 O que mudou após a consultoria na recepção? Exemplifique.
11 Os recepcionistas têm autonomia para resolver situações inusitadas? Explique (dê
exemplos).
11.1 Os recepcionistas do seu hotel resolvem as situações inusitadas de forma diferente?
11.2 Os recepcionistas interferem de alguma forma na determinação do valor das diárias?
11.3 E quanto aos horários do check out e late check out? Existem normas estabelecidas para
isso?
ORGANIZACIONAIS
12 Você pretende/gostaria de alterar alguma coisa ou procedimento na recepção do hotel?
13 Ocorreram mudanças ou situações que geraram alguma confusão para os recepcionistas?
Dê exemplos.
13.1 Na sua opinião, o que faz com que tenha confusão na recepção do hotel?
14 Das ações executadas pelos recepcionistas, qual é a mais importante? Por quê?
15 Como são tomadas as decisões na empresa?
15.5 A organização permite que mudanças possam ser facilmente implementadas?
Exemplifique.
15.6 Como ideias diferentes são recebidas pelo grupo? Conte um exemplo.
15.7 Conte como foi o tempo sem chefe na recepção.
15.8 E a decisão sobre voltar a ter um chefe?
16 Quais são as expectativas nesta organização para as funções de um recepcionista e de um
chefe de recepção?
16.1 Qual o papel desses funcionários diante da organização?
16.2 O que é importante para a organização que é específico da recepção?
17 Conte a história das duas recepções do hotel.
17.1 Qual é a diferença entre as duas recepções?
17.2 O que motivou organizá-las com funções diferentes?
17.3 Funciona bem o sistema de uma recepção para os dois hotéis?
286
17.4 Um recepcionista que trabalha numa recepção consegue desenvolver bem o trabalho da
outra recepção? Por quê?
17.5 Como os hóspedes perceberam essa alteração?
17.6 E os funcionários do setor?
18 Diferencie as principais características de cada um dos turnos da recepção.
19 No que a criação da rede Versare modificou as atividades da recepção?
19.1 Há quanto tempo existe a rede Versare?
19.2 Como essa informação foi passada aos recepcionistas na época?
19.3 Como é passada atualmente para as contratações recentes?
ASPECTOS GERAIS
20 Gostaria de dizer/acrescentar mais alguma coisa?
21 Quais as suas expectativas – pessoais e profissionais – para os próximos anos?
287
APÊNDICE C – Matriz de amarração das perguntas dos roteiros de entrevista
Objetivo geral: Descrever e analisar os processos de aprendizagem individual
e grupal que ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de um
hotel”
Objetivo específico:
Compreender e descrever como os indivíduos (chefes da recepção e recepcionistas)
aprendem (no nível individual e grupal) o trabalho desenvolvido na “recepção de um hotel”
Referencial
teórico
Encarregado da recepção Recepcionista
Aprendizagem
experiencial
(KOLB, 1984)
Como e onde você aprendeu a rotina do trabalho realizado na
recepção?
Você costuma refletir sobre suas ações como chefe de recepção?
Isso acontece sozinho ou em grupo? Fale sobre essas experiências.
Sua experiência como recepcionista auxiliou a desenvolver as
habilidades necessárias para ser chefe da recepção? De que forma?
O que acontece quando as ações do grupo não alcançam os
objetivos desejados?
Você aprende com seus colegas? Explique como isso ocorre.
Como e onde você aprendeu a rotina do trabalho realizado na
recepção?
Você costuma refletir sobre suas ações como recepcionista? Isso
acontece sozinho ou em grupo? Fale sobre essas experiências.
O que acontece quando suas ações não alcançam os objetivos
desejados?
Você aprende com seus colegas? Explique como isso ocorre.
Teoria da ação
(ARGYRIS, SCHÖN,
1996)
Quais são as expectativas nessa organização para as funções de um
chefe de recepção?
Quais são as expectativas nessa organização para as funções de um
recepcionista?
O que acontece quando as ações do grupo não alcançam os
objetivos desejados?
Qual a sua contribuição para a organização como um todo (seu
papel, sua função, suas atribuições)?
Explique o que acontece quando se percebe que algo pode/precisa
ser melhorado no contexto da recepção.
Quais são as expectativas nessa organização para as funções de
um recepcionista?
O que acontece quando suas ações não alcançam os objetivos
desejados?
Qual o seu papel diante da organização?
Qual a sua contribuição para a organização como um todo (seu
papel, sua função, suas atribuições)?
Explique o que acontece quando se percebe que algo
pode/precisa ser melhorado no contexto da recepção.
Modelos mentais
compartilhados (KIM,
1993)
Como e onde você aprendeu a rotina do trabalho realizado na
recepção?
Explique o que acontece quando se percebe que algo pode/precisa
ser melhorado no contexto da recepção.
O que é importante para a organização que é específico da
recepção?
Como você sabe o que é importante para o bom funcionamento
tanto da função do recepcionista quanto da recepção do hotel?
Como e onde você aprendeu a rotina do trabalho realizado na
recepção?
Explique o que acontece quando se percebe que algo
pode/precisa ser melhorado no contexto da recepção.
O que é importante para a organização que é específico da
recepção?
Como você sabe o que é importante para o bom funcionamento
tanto da função do recepcionista quanto da recepção do hotel?
288
Objetivo geral: Descrever e analisar os processos de aprendizagem individual
e grupal que ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de um hotel”
Objetivo específico:
Compreender e descrever como os indivíduos (chefes da recepção e recepcionistas) aprendem (no
nível individual e grupal) o trabalho desenvolvido na “recepção de um hotel”
Referencial
teórico
Encarregado da recepção Recepcionista
Aprendizagem coletiva
(DIXON, 1999)
O grupo de recepcionistas tem autonomia para resolver situações
inusitadas? Explique (dê exemplos)
Na sua opinião, como são tomadas as decisões na empresa?
A estrutura da organização permite que mudanças possam ser
facilmente implementadas. Como?
Como idéias diferentes são recebidas pelo grupo?
O que acontece quando as ações do grupo não alcançam os
objetivos desejados?
Os recepcionistas e auxiliares costumam colaborar para que os
novos funcionários recebam todas as informações necessárias para
aprender as atividades que irão desenvolver?
Você tem autonomia para resolver situações inusitadas?
Explique (dê exemplos)
Na sua opinião, como são tomadas as decisões na empresa?
Você pode opinar sobre as atividades desenvolvidas na
recepção?
Como você percebe a atuação de seus superiores na condução do
grupo?
A estrutura da organização permite que mudanças possam ser
facilmente implementadas. Como?
Como idéias diferentes são recebidas pelo grupo?
Você e seus colegas de trabalho costumam colaborar para que os
novos funcionários recebam todas as informações necessárias
para aprender as atividades que irão desenvolver
AO em grupos de
trabalho
(EDMONDSON, 1999,
2002)
Você costuma dar e receber feedback? Como isso funciona?
Explique o que acontece quando se percebe que algo pode/precisa
ser melhorado (mudado/alterado) no contexto da recepção.
A estrutura da organização permite que mudanças possam ser
facilmente implementadas. Como?
Como idéias diferentes são recebidas pelo grupo?
O chefe da recepção dá feedback para você e para o grupo?
Conte como isso acontece.
Explique o que acontece quando se percebe que algo
pode/precisa ser melhorado (mudado/alterado) no contexto da
recepção.
Como você percebe a atuação de seus superiores na condução do
grupo?
A estrutura da organização permite que mudanças possam ser
facilmente implementadas. Como?
Como idéias diferentes são recebidas pelo grupo?
289
Objetivo geral: Descrever e analisar os processos de aprendizagem individual
e grupal que ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de um hotel”
Objetivo específico: Entender os aspectos que dificultam ou facilitam a efetivação da aprendizagem (nos níveis
individual e grupal) no espaço da “recepção de um hotel”
Referencial teórico Encarregado da recepção Recepcionista
Aprendizagem de papel limitado;
Aprendizagem de audiência;
Aprendizagem supersticiosa;
Aprendizagem sob ambiguidade;
Aprendizagem oportunística;
Aprendizagem situacional;
Aprendizagem fragmentada;
(KIM, 1993)
O que você gostaria de fazer diferente da forma como é
feito na recepção do hotel?
Você tem autonomia para resolver situações
inusitadas? Explique (dê exemplos)
Sua equipe tem autonomia para resolver situações
inusitadas? Como isso ocorre?
Existem algumas coisas que você gostaria de fazer na
recepção do hotel, mas que não é possível de ser
realizado?
Você tem autonomia para resolver situações
inusitadas? Explique (dê exemplos)
Poder;
Armadilha da competência;
Dificuldade em mudar as teorias em uso;
Raciocínio defensivo;
Rotina defensiva;
(ARGYRIS; SCHÖN, 1996)
A resolução das situações inusitadas acontece da
mesma forma para todos os funcionários da equipe?
O resultado das ações/decisões da sua equipe resolve
os problemas do setor?
Você acha que todas as ações executadas pelos
recepcionistas são necessárias?
Você resolve as situações inusitadas de forma diferente
dos seus colegas?
Você acha que faz alguma coisa (procedimento) que
não tem muita utilidade?
Diminuir a vantagem competitiva do
indivíduo;
Falta de estrutura adequada para repassar
informações;
Obstrução da informação;
Falta de autorização organizacional para
agir;
Hierarquia;
(DIXON, 1999)
Cite um ou dois processos realizados há bastante
tempo (4 anos) no hotel e que funcionam.
Você participou da implementação desses processos
que funcionam? Conte como isso acontece na
recepção desse hotel.
Como as informações são repassadas para os
recepcionistas e auxiliares desse hotel?
Cite um ou dois processos realizados há bastante
tempo (4 anos) no hotel e que funcionam.
Você participou da implementação desses processos
que funcionam? Conte como isso acontece na
recepção desse hotel.
Como as informações são repassadas para os
recepcionistas e auxiliares desse hotel?
Falta de segurança psicológica;
Hábito de esconder os erros;
Ignorar informações importantes;
Reflexão incompleta;
Falhas da comunicação;
Competição interna nociva;
Ameaça ambígua;
(EDMONDSON, 1999, 2001)
Como as decies são tomadas em relação à recepção
do hotel?
Explique o que acontece quando se percebe que algo
precisa ser corrigido no contexto da recepção.
Qual o procedimento quando um recepcionista erra?
Por que você não efetiva as mudanças que gostaria de
implementar na recepção?
O Hotel trabalha com os pontos para o salário? A
recepção recebe mais pontos que os outros setores?
Como é a comunicação entre você seus superiores e
subordinados?
O que é feito com (a partir de) as
reclamações/sugestões dos hóspedes?
Como as decisões são tomadas em relação à recepção
do hotel?
Explique o que acontece quando se percebe que algo
precisa ser corrigido no contexto da recepção.
Como é a comunicação com seus superiores e entre
colegas?
O que é feito com (a partir de) as
reclamações/sugestões dos hóspedes?
290
Aspectos a serem analisados na observação participante:
Objetivo geral:
Descrever e analisar os processos de aprendizagem individual e grupal
que ocorrem nas situações cotidianas de trabalho no espaço da “recepção de um hotel”
Referencial teórico Aspectos a serem analisados
Estruturas de significado coletivas (DIXON, 1999)
Teoria esposada (ARGYRIS; SCHÖN, 1996)
Analisar artefatos físicos: equipamentos, informações; relatórios dos turnos,
fechamento de caixa, utilização de sistema automatizado, livro de registro de
ocorrência
Analisar documentação: manuais, documentos de orientação, procedimentos
operacionais padrões e relatórios.
Observar se existem procedimentos operacionais padrão e, existindo, se são seguidos
pelos funcionários
Reflexão e ação (KOLB, 1994)
Teoria em uso (ARGYRIS, 1999; ARGYRIS; SCHÖN, 1996)
Rotinas organizacionais (ARGYRIS, 1999; ARGYRIS; SCHÖN, 1996)
Modelos mentais organizacionais (KIM, 1993)
Estruturas de significado coletivas (DIXON, 1999)
Observar as teorias da ação nas práticas diárias
Observar qual tipo do ciclo de aprendizagem (simples ou duplo) é predominante nas
ações do grupo
Observar se há tempo para reflexão sobre as rotinas organizacionais
Observar se há intenção de promover mudanças nas rotinas organizacionais
Observar se há discussão sobre os processos e troca de experiências/conhecimento
entre os membros da equipe
Observar como os empregados respondem aos problemas encontrados no trabalho
ANEXOS
ANEXO A – Questionário de avaliação
292
293
Livros Grátis
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Milhares de Livros para Download:
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