BASTOS, Maria de Fátima Barretto. A notícia faz a cena: noticiário jornalístico e
telenovela brasileira. 225 p. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Artes
Cênicas, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.
RESUMO
O estudo trata do fenômeno de apropriação de temáticas e convenções formais do
noticiário jornalístico pela telenovela brasileira produzida na atualidade. Procura-se
compreender as interfaces geradas entre as instâncias, a priori ontologicamente
separadas, ficção e realidade, que se revelam por meio das interseções entre dramaturgia
e jornalismo, na elaboração do produto midiático de expressiva relevância na dinâmica
da vida nacional. A prática da teledramaturgia contemporânea de beber nas fontes
jornalísticas para a elaboração de seu formato mais prestigiado – a telenovela – é
acompanhada também do fenômeno em vetor contrário: o produto ficcional inspira as
pautas jornalísticas, evidenciando aí a existência de um processo de retroalimentação
contínuo. A migração de pautas temáticas se dá nos dois sentidos, revelando influência
mútua. A teoria das mediações, formulada por Jesús Martín-Barbero, é o alicerce deste
trabalho, que adota a categoria fato-notícia, como uma mediação no processo
comunicacional complexo, que envolve produção, produto e recepção da telenovela,
como instâncias em interação. O uso do noticiário – entendido como fonte de mediação,
a partir do que sugere Orozco Gómes – ocorre por meio da absorção de acontecimentos
verídicos publicizados, para o interior da narrativa ficcional dos telefolhetins, cada vez
em espaços temporais mais curtos, indicando movimento de aproximação em direção da
dinâmica própria de elaboração da notícia
jornalística, que persegue o “tempo real”, desde a entronização das tecnologias de
comunicação eletrônico-digitais. Tendo em vista que o merchandising social,
ferramenta socioeducativa enxertada nas tramas da telenovela, é um dos pontos da
interseção entre realidade e ficção, procede-se a uma análise com base neste enfoque da
dialógica entre jornalismo e teledramaturgia. Designado genericamente por edutainment
(produto híbrido de educação e entretenimento), o merchandising social, além de sua
característica de instrumento publicitário, sugerida até mesmo pelo próprio nome,
também avança no sentido de absorver as funções sociais do jornalismo, de informar,
esclarecer, difundir, levantar questões e promover o debate e a confrontação de
opiniões. A aderência quase obrigatória deste recurso de elevado poder de persuasão às
narrativas das telenovelas, a partir da década de 1990, indica o surgimento de um
subgênero teledramatúrgico. A construção estética da telenovela atualiza a codificação
de origem do melodrama, com alterações mais de acordo com a doxa contemporânea,
relativizando os pólos tradicionais do bem e do mal, embora sua arquitetura de base se
configure nos termos esquemáticos de raiz, de onde se aproximam ou se distanciam
oportunamente, ao sabor de adequações que preservem o seu poder de empatia com as
megaudiências. A atualização da estética bicentenária ao formato do telemelodrama
contemporâneo se processa pela intimidade que a abordagem ficcional estabelece com o
jornalismo. Assim, pode-se afirmar que, também, é mediada pelo fato-notícia, que
parece estender seus tentáculos aos domínios da ficção num movimento de sobrevida da
notícia fugaz, efêmera e com prazo de validade a se extinguir no momento seguinte.
Palavras-chave: Telenovela; Jornalismo; Merchandising social; Melodrama.