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A aluna Maria define o que considera o bom professor com o seguinte relato:
É importante que, desde a pré-escola, a criança seja incentivada, que o
professor passe o que dá prazer, e a criança sinta prazer em ir para a
escola. E eu não sentia isso e por isso, sentia dificuldade de aprender.
Quando repeti a 2ª, eu peguei outra professora, Zilda. Até hoje eu lembro
dela, era uma fada, aí eu não tive mais dificuldades. Ela começou a me
incentivar, disse que eu poderia ir à escola de manhã, que ela iria me
ajudar, ela passava desenhos, era uma outra maneira, ela me ajudava.
Depois não tive tanta dificuldade, a 3ª série foi positiva, a 4ª também. Na 4ª,
a professora também foi show e eu gostei muito dela. A mudança da 4ª para
a 5ª que dizem ser traumática, eu não tive problema. A professora passava a
mão na cabeça e foi devagar e muito positivo. E eu queria continuar nessa
escola, mas não tinha o ensino médio. Tanto a professora da 2ª como da 4ª
me marcaram mais pelo carisma, eram daquele tipo de pessoa que não tinha
o bom e o ruim, para elas todos eram iguais, a sala toda era igual e não
tinha diferença, o jeito que elas tratavam os alunos que tinham menos
dificuldades era o mesmo dos que tinham mais dificuldades. É lógico que
ela dava mais atenção para aqueles que tinham mais dificuldades, mas
aquela maneira de tratar todos iguais é importante para uma sala de aula.
Na escola infelizmente não tinha recursos, mas por exemplo, tinha dia que
ela levava a gente para fora da sala, ela queria explicar sobre raízes, folhas.
Era uma aula dinâmica então você tinha prazer, era bom.
Maria relata que outra professora, que utilizava tempos e espaços diferenciados dos da
sala de aula, incentivou seu progresso nos estudos. Diante das dificuldades como aluna, ela
expõe sua compreensão sobre o problema, centrando, sobretudo, na figura do professor, como
o faz o pensamento da racionalidade técnica, criticada por Contreras (2002). Entretanto,
outros elementos contribuem para essa situação: a questão da repetência, o sistema de
avaliação, a estruturação curricular não-flexível, entre outros.
As primeiras experiências de leitura e escrita foram difíceis, mas a origem das
dificuldades é reconhecida pela aluna com uma reflexão crítica. Desde então se nota que ela
localiza o problema despontando um arcabouço teórico e essa fundamentação lhe possibilitou
uma análise da condição em que foi alfabetizada. Ela percebe que a valorização da sociedade
situa-se entre o bem e o mal, no sentido moral, e não, no sentido de formação. Ingenuamente,
o professor que não considerava as diferenças era o bom e, hoje, é importante reconhecer as
diferenças para valorizar o indivíduo.
As primeiras experiências da aluna com as letras foram através da cartilha, e ela diz
que a cartilha deveria ser anulada da escola, porque com ela não se aprende nada, “[...] era
tudo decorado e se passasse algum texto diferente eu não conseguia fazer, porque a cartilha é
mecânica. Você aprende o que está ali ba be bi bo bu, se muda aquilo ali você não consegue
associar”. Ela identifica a pedagogia tradicional como insuficiente para promover a