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o desenvolvimento de trabalhos que contemplam, como proposta central de
investigação, o tema referente ao conceito de complexo verbal
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, compreendido, neste
trabalho dissertativo, como uma construção integrada por duas ou mais formas verbais
que estabelecem entre si uma unidade sintagmática com algum grau de integração
sintático-semântica.
De modo a apresentar algumas das problematizações que a noção de lexias
verbais complexas enseja, constatem-se as seguintes estruturas
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: (i)“Ana quer
alimentar seu filho”; (ii) “Ela tentou alimentar seu filho”; (iii) “Ela pode alimentar seu
filho”; (iv) “Uma mãe tem de alimentar seu filho”; (v) “A mulher há de alimentar seu
filho”; (vi) “Maria deve alimentar seu filho”.
Os enunciados supracitados possivelmente suscitam um confronto de posições
no que respeita à consideração das sentenças ilustradas como um período simples ou
como um período composto. Isso porque, caso se concebam as formas destacadas como
verbo principal, admite-se que seu argumento interno é preenchido por um sintagma
oracional com predicador
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verbal no infinitivo. De outro lado, avaliando-se tais
elementos como verbo auxiliar, reconhece-se que esses operam sobre um predicador
verbal no infinitivo constituindo com ele uma unidade verbal complexa (Vauxiliar +
Vauxiliado), ou seja, uma perífrase verbal.
Nos termos de Perini (2001), um item verbal é tido como auxiliar
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quando não
apresenta traços próprios de transitividade. Assim, o caráter transitivo observado em um
predicado simples é comparável àquele verificado em um predicado complexo no qual o
auxiliar figura. A título de ilustração, o enunciado “está escrevendo”, em “O jornalista
está escrevendo os artigos”, possibilita atestar (i) a transitividade do verbo escrever, que
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Informa-se que, neste trabalho, as denominações “complexo verbal”, “conglomerado verbal”,
construções/estruturas verbais complexas”, “lexias verbais complexas”, “locuções verbais” ou, ainda,
“perífrases verbais” são tomadas como sinonímicas não se considerando, por isso, as particularidades que
cada termo, possivelmente, pode sugerir.
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Os exemplos arrolados são inspirados em Machado Vieira (2004).
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O termo predicador é, aqui, utilizado para expressar uma forma verbal capaz de projetar os argumentos
necessários que completem sua predicação. A título de exemplificação, tome-se a seguinte sentença: “Os
avós entregaram presentes aos netos.”. Perceba-se, por este enunciado, que os espaços sintáticos da
oração são constituídos pelos itens projetados pelo verbo entregaram/entregar, responsável por predicar
o argumento externo (sujeito) “os avós” e os argumentos internos “presentes” (objeto direto) e “aos
netos” (objeto indireto).
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Os compêndios tradicionais, como, por exemplo, o de Cunha & Cintra (2001: 394-398), compreendem
como auxiliares os verbos indicados nas estruturas agora arroladas: (i) construções observadas com maior
freqüência: ter/ haver + particípio ou infinitivo, ser + particípio e estar + particípio, estar + gerúndio ou
estar + (“para” ou “por”) + infinitivo; (ii) outros auxiliares: ir + gerúndio, ir + infinitivo, vir + gerúndio,
vir + (“a” ou “de”) + infinitivo, andar (semelhante a estar) + gerúndio ou andar + (a) + infinitivo, ficar +
particípio (estrutura de voz passiva), ficar + gerúndio, ficar + (“a” ou “por”) + infinitivo, acabar + de +
infinitivo.