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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA
CENTRO DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS
PROGRAMA DE MESTRADO EM ECONOMIA
ADEMI ELADIO DE ALENCAR
ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DAS FONTES ENERGÉTICAS
UTILIZADAS NA TRANSFORMAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM
FERRO-GUSA PARA O ESTADO DO PARÁ
Belém, PA
2008
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ADEMI ELADIO DE ALENCAR
ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DAS FONTES ENERGÉTICAS
UTILIZADAS NA TRANSFORMAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM
FERRO-GUSA PARA O ESTADO DO PARÁ
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Economia para a obtenção do
título de Mestre em Economia pela
Universidade da Amazônia.
Orientador: Prof. Dr. Fabrício Quadros Borges
Belém, PA
2008
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A368a
Alencar, Ademi Eladio de.
Análise da sustentabilidade das fontes energéticas
utilizadas na transformação do minério de ferro em ferro-
gusa - Belém, 2008.
142 f.
Dissertação. (Mestrado) -
Universidade da Amazônia, 2008.
Programa de Mestrado em Ciências Econômicas.
Orientador: Prof. Dr. Fabrício Quadros Borges.
1. Recursos Naturais Pará. 2. Recursos Energéticos
Pará. 3. Desenvolvimento Econômico. I. Título.
CDD 333.7098115
ADEMI ELADIO DE ALENCAR
ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DAS FONTES ENERGÉTICAS
UTILIZADAS NA TRANSFORMAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM
FERRO-GUSA PARA O ESTADO DO PARÁ
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Economia para obtenção do
título de Mestre em Economia pela
Universidade da Amazônia.
Banca Examinadora:
__________________________________________
Prof. Dr. Fabrício Quadros Borges
Universidade da Amazônia
Orientador
_________________________________________
Membro da Banca Examinadora
_________________________________________
Membro da Banca Examinadora
Data da Aprovação: _____/____/_____
Conceito: ___________________
Dedico este trabalho a Deus, pois ele reside dentro de cada um de
nós, pronto a dar-nos o discernimento, energia e vigor, ânimo e
incentivo.
Aos meus pais in memoriam; aos meus irmãos e à minha esposa e
filhos: meus eternos companheiros, que tão ativamente participaram
da minha caminhada na elaboração deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação, além da satisfação pessoal em realizá-la, é uma contribuição ao
conhecimento sobre as questões amazônicas. Contudo, seria quase impossível realizá-la
sem a colaboração de pessoas que ao longo do trabalho me deram apoio, forneceram
informações, ofereceram recursos e indicaram fontes de pesquisa. Agradeço, portanto, a
todos que contribuíram direta ou indiretamente para a consecução deste trabalho.
Especialmente agradeço a Deus, pai acima de tudo, por sua eterna misericórdia.
Ao meu pai Moacir Alencar Landim; À minha mãe Maria de Oliveira Alencar — in memoriam;
A meus filhos e netos; À minha irmã Aldemira Eleni Alencar Moreira, pelas preces e apoio
incondicional nos momentos de desânimo.
A minha esposa, por compreender minha ausência e, ainda assim, com alegria me
incentivar nesta difícil caminhada.
Ao Professor Dr. Fabrício Quadros Borges, meu orientador, por acreditar em minha
capacidade e confiar em meu progresso pessoal.
Aos Professores Ms. José Stênio Gonzaga de Souza e Dr. Estanislau Luczynski, ambos
responsáveis por minha inserção no mundo da pesquisa e pelas valiosas contribuições
teóricas que ajudaram consideravelmente no decorrer do trabalho.
Ao Professor David Antônio Silva que não mediu esforços dedicando algumas horas do seu
precioso tempo para contribuir com a elaboração deste trabalho.
Ao Professor Dr. José Otávio Magno Pires, pelas importantes contribuições oferecidas como
professor em vários momentos, incluindo-se o da qualificação, tornando possível a estrutura
apresentada nesta dissertação.
À CAPES, pela bolsa, cujo apoio financeiro foi fundamental para a realização desta
pesquisa e a todos que torceram e se alegraram com esta vitória.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - A produção de ferro-gusa e o consumo de carvão vegetal
proveniente de mata nativa no estado do Pará no período de 1999 a 2007......
95
Tabela 2 - Consumo e preço de carvão vegetal de mata plantada - Minas
Gerais no período de 1999 a 2006……………………….....................................
99
Tabela 3 - Consumo de carvão vegetal proveniente de mata nativa (mdc) e a
área desmatada em Km
2
no estado do Pará......................................................
108
Tabela 4 - Produção de ferro-gusa e a produção de carvão vegetal
proveniente de mata plantada no período de 1999 a 2007, no estado de
Minas Gerais .......................................................................................................
113
Tabela 5 - Produção do ferro-gusa a carvão vegetal de mata nativa e o saldo
de empregos formais na indústria de transformação no estado do Pará no
período de 1999 a 2007………………………………………………………………
121
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - A produção do ferro-gusa a carvão vegetal de mata nativa no
estado do Pará no período de 1999 a 2007………………………………….... ...
96
Gráfico 2 - Consumo de carvão vegetal de mata nativa no estado do Pará no
período de 1999 a 2007......................................................................................
96
Gráfico 3 - Preço de carvão vegetal de mata plantada - Minas Gerais no
período de 1999 a 2007.......................................................................................
100
Gráfico 4 - Consumo de carvão vegetal de mata plantada - Minas Gerais no
período de 1999 2007………...............................................................................
100
Gráfico 5 - Consumo de carvão vegetal de mata nativa (mdc) e a área
desmatada em Km
2
no período de 1999 a 2007 no estado do Pará..................
109
Gráfico 6 - Produção de ferro-gusa e produção do carvão vegetal proveniente
de mata plantada no período de 1999 A 2006 no estado de Minas
Gerais……...........................................................................................................
114
Gráfico 7 - A produção do ferro-gusa a carvão vegetal de mata nativa no
estado do Pará no período de 1999 a 2007 .......................................................
122
Gráfico 8 - Saldo de empregos formais na indústria de transformação no
estado do Pará de 2000 a 2006 .........................................................................
123
LISTA DE SIGLAS
ABRACAVE Associação Brasileira de Carvão Vegetal
ALBRAS Alumínio Brasileiro
ALCAN Aluminium Limited of Canada
ALUMAR Alumínio do Maranhão
ALUNORTE Alumina do Norte do Brasil
BASA Banco da Amazônia S/A
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CADAM Caulim da Amazônia
CCM Camargo Corrêa Metais
CFEM Compensação Financeira pela Exportação de Recursos Minerais
CMMAD Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CPT Comissão Pastoral da Terra
CVN Carvão Vegetal de Mata Nativa
CVP Carvão Vegetal de Mata Plantada
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral
ELETRONORTE Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A
FUNAI Fundação Nacional do Índio
GLP Gás Liquefeito de Petróleo
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração
IBS Instituto Brasileiro de Siderurgia
ICMS Imposto sobre Circulação e Movimentação de Serviços
ICOMI Indústria e Comércio de Minérios S/A
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano
ISS Imposto Sobre Serviços
MDL Mecanismos de Desenvolvimento Limpo
MRN Mineração Rio do Norte
MST Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra
NAAC National Assessment and Accreditation Council
OMS Organização Mundial de Saúde
Petromisa Petrobras Mineração S/A
PGC Programa Grande Carajás
PIB Produto Interno Bruto
PIFISs Planos Integrados Floresta/Indústria
Polamazônia Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia
PRODEPA Processamento de Dados do Estado do Pa
RESEX Reservas Extrativistas
SEICOM Serviços, Engenharia e Instalação de Comunicações S/A
SEMA Secretaria de Meio Ambiente
SILVIMINAS Associação Mineira de Silvicultura
SINDIFER Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais
SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
UCs Unidades de Conservação
VPM Valor da Produção Mineral
RESUMO
O Brasil tem sua história produtiva marcada pelo extrativismo. O estado do Pase
configura nesse contexto como uma das unidades da Federação em franca
expansão e desenvolvimento, desde a descoberta da jazida mineral de Carajás
explorada pela Companhia Vale. Ao lado de outras 12 siderúrgicas, a Vale
transforma o minério de ferro em ferro-gusa. O ferro compreende o produto imediato
da redução direta do minério de ferro cuja fabricação ocorre no momento em que o
minério de ferro é introduzido no alto-forno e passa por diversas transformações
químicas e metalúrgicas até chegar ao estado líquido. Estas transformações
objetivam a eliminação das impurezas do minério e cinzas do carvão transformando-
o no que se chama de escória. A fundição do minério de ferro para a produção de
ferro-gusa utiliza como fundentes o carvão oriundo de floresta nativa, o carvão de
mata plantada e o carvão mineral. Observa-se neste cenário que as diferentes fontes
de energia para este processo de fundição envolvem ambientes de sustentabilidade
distintos. Neste sentido, esta investigação questiona como o minério de ferro
paraense pode ser reduzido ou transformado em ferro-gusa de forma sustentável.
Foram considerados os aspectos econômicos, ambientais e sociais de cada uma
das fontes analisadas. Após os estudos efetuados, a pesquisa concluiu que a fonte
energética mais sustentável é o carvão vegetal proveniente de mata plantada.
Palavras-chave: Carvão Vegetal. Carvão mineral. Sustentabilidade. Minério de
Ferro. Ferro-Gusa.
ABSTRACT
Brazil has its history marked by extractive productive. The State of Para is set in this
context as one of the units of the Federation on the rise and development since the
discovery of the Carajas mineral deposit operated by Vale Company. In addition to
12 other steel, the valley turns iron ore into iron-iron. The iron includes the immediate
product of direct reduction of iron ore are produced occurs at a time when iron ore is
introduced to the blast furnace and passes through several transformations chemical
and metallurgy until the liquid state. These changes aim to eliminate impurities of the
ore and coal ash turning it into what is called the slag. The smelting of iron ore to
produce pig iron using iron-smelting as a means of the coal comes from natural
forest, planted forest of coal and coal. It is this scenario that the different sources of
energy to this process of casting involves distinct environments for sustainability. In
this sense, this research questions such as iron ore Para may be reduced or
processed into iron-iron in a sustainable manner. We considered the economic,
environmental and social systems of each of the sources analyzed. After the studies
done, the study concluded that the most sustainable energy source is the charcoal
from forest planted.
Key-words: Charcoal. Coal. Sustainability. Iron ore. Iron-iron
.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA .............................................. 18
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................... 20
1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................... 20
1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................... 20
1.3 HIPÓTESE ..................................................................................................... 21
2 METODOLOGIA ............................................................................................... 22
2.1 LOCAL DE ESTUDO .................................................................................... 22
2.2 TÉCNICAS DE PESQUISA ............................................................................
24
3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EXPLORAÇÃO MINERAL ............................... 26
3.1 EXPLORAÇÃO MINERAL NO BRASIL ......................................................... 26
3.2 EXPLORAÇÃO MINERAL NA AMAZÔNIA ....................................................
32
3.3 EXPLORAÇÃO MINERAL NO ESTADO DO PARÁ ...................................... 46
4 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 51
4.1 O CRESCIMENTO ECONÔMICO E O DESAFIO DO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ..................................................................
51
4.2 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O DESAFIO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .............................................................
57
4.3 ABORDAGENS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ....................... 61
4.3.1 Internacionalização Seletiva .................................................................... 61
4.3.2 Periferia Exportadora ................................................................................
64
4.3.3 Desenvolvimento Endógeno .................................................................... 69
4.3.4 Conservação Produtiva ............................................................................ 71
4.3.5. Verticalização Produtiva ..........................................................................
73
4.3.6 Extrativismo Vegetal ................................................................................. 76
4.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL X EXTRAÇÃO MINERAL ............... 80
5 ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE ENERGÉTICA POR FONTE
ENERGÉTICA NA TRANSFERÊNCIA DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO-
GUSA ...................................................................................................................
91
REFERÊNCIAS ....................................................................................................
133
5.1 A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA POR FONTE ENERGÉTICA NA
TRANSFORMAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO-GUSA ...................
5.1.1 Análise da sustentabilidade econômica do Carvão Vegetal de mata
nativa como fonte energética na transferência do minério de ferro em
ferro-gusa ............................................................................................................
91
91
5.1.2 Análise da sustentabilidade econômica do Carvão Mineral de mata
plantada como fonte energética na transferência do minério de ferro em
ferro-gusa ............................................................................................................
97
5.1.3 Análise da sustentabilidade econômica do carvão mineral como
fonte energética na transferência do minério de ferro em ferro-gusa ..........
101
5.2 ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL POR FONTE
ENERGÉTICA NA TRANSFERÊNCIA DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO-
GUSA ...................................................................................................................
103
5.2.1 Análise da sustentabilidade ambiental do carvão vegetal de mata
nativa como fonte energética na transferência do minério de ferro em
ferro-gusa ............................................................................................................
103
5.2.2 Análise da sustentabilidade ambiental do carvão mineral de mata
plantada como fonte energética na transferência do minério de ferro em
ferro-gusa ............................................................................................................
109
5.2.3 Análise da sustentabilidade ambiental do carvão mineral como fonte
energética na transferência do minério de ferro em ferro-gusa ....................
115
5.3 ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE SOCIAL POR FONTE ENERGÉTICA
NA TRANSFERÊNCIA DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO GUSA ...............
117
5.3.1 Análise da sustentabilidade social do carvão vegetal de mata nativa
como fonte energética na transferência do minério de ferro em ferro-gusa
117
5.3.2 Análise da sustentabilidade social do carvão mineral de mata
plantada como fonte energética na transferência do minério de ferro em
ferro-gusa ............................................................................................................
123
5.3.3 Análise da sustentabilidade social do carvão mineral como fonte
energética na transferência do minério de ferro em ferro-gusa ....................
125
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................
128
14
1 INTRODUÇÃO
O ferro-gusa compreende o produto imediato da redução direta do minério de
ferro. Sua fabricação ocorre no momento em que o minério de ferro é introduzido no
alto-forno e passa por diversas transformações químicas e metalúrgicas até chegar
ao estado líquido. Essas transformações objetivam a eliminação das impurezas do
minério e cinzas do carvão transformando-o no que se chama de escória.
A fundição do minério de ferro para a produção de ferro-gusa utiliza como
fundentes o carvão vegetal oriundo de mata nativa, o carvão vegetal de mata
plantada e o carvão mineral. O carvão vegetal é obtido a partir da queima ou
carbonização de madeira, o que, após esse processo, resulta uma substância negra.
Essa madeira pode ser oriunda de matas nativas ou de matas plantadas. Já o
carvão mineral é obtido através do acúmulo de troncos, raízes, e folhas de árvores
que cresceram aproximadamente 250 milhões de anos em pântanos e que o
tempo e a pressão da terra acumulada sobre o material transformaram estes
resíduos em jazidas.
Neste sentido, observa-se que as fontes de energia para este processo de
fundição envolvem complexos ambientes de sustentabilidade distintos e que ao
serem analisados simultaneamente a partir de aspectos econômicos, sociais e
ambientais poderiam fornecer valorosos subsídios para a orientação de estratégias
sustentáveis para a exploração da atividade mineral no estado do Pará,
particularmente no tocante à produção de ferro-gusa.
O estado do Pará possui grandes produtoras de ferro-gusa que são
responsáveis por mais de 2,4 milhões de toneladas anuais, de modo a responder
por aproximadamente 25% da produção nacional. Esta realidade sugere
oportunamente uma investigação que procure reunir dados e informações a respeito
das bases de exploração desta atividade no Pará e de seu caráter sustentável. Este
desafio encontrou um alicerce vulnerável na medida em que se verificou uma
ausência de dados periódicos que fornecessem caminhos para análises mais
consistentes, assim como se observaram reservas, por parte de órgãos e
produtores, para a divulgação de informações sobre a exploração desta atividade.
Entretanto, através de uma investigação junto aos dados e informações disponíveis,
procurou-se melhor compreender o ambiente da sustentabilidade de cada material
15
fundente para a produção do ferro-gusa e apontar diretrizes à exploração desta
atividade para a realidade paraense.
Nos últimos anos a indústria mineral e o mercado mundial de bens minerais
têm sofrido profundas alterações econômicas, apresentando reflexos nas regiões
produtoras.
A economia brasileira sempre teve uma relação estreita com a extração
mineral. Desde os tempos de colônia, o Brasil transformou a mineração, também
responsável por parte da ocupação territorial, em um dos setores básicos da
economia nacional. Atualmente é responsável por cerca de 3 a 5% do Produto
Interno Bruto.
O processo de extração mineral apresenta-se importante no fornecimento de
matéria-prima para as indústrias das mais diversas categorias, entre elas, a
metalúrgica, a siderúrgica, além de outras, constituindo-se, portanto, em um setor de
profunda importância para a economia nacional, que a atividade mineradora é
responsável pela criação de inúmeros empregos diretos, confirmando assim sua
marcante contribuição para o desenvolvimento da economia paraense.
Neste cenário, observa-se que a realidade econômica brasileira tem íntima
relação com a busca e o aproveitamento dos seus recursos naturais, que sempre
contribuíram com importantes insumos para a economia nacional, fazendo parte da
ocupação territorial e da história nacional.
A Amazônia também se insere neste contexto, considerando-se que a região,
sob o enfoque de extração e produção mineral, vem passando por um longo e
intenso processo de incorporação econômica e de reestruturação territorial, cujas
transformações históricas ocasionam profundos reflexos nas relações econômicas,
ambientais e sociais existentes.
O estado do Pará, neste processo, figura como importante exportador de
minérios brutos e processados para os mercados da Ásia, da Europa, dos EUA e do
Canadá, os quais são responsáveis por 75% da pauta de exportações paraenses
(SEICOM/DIRAM, 2004). Estas posições refletem sobre o PIB
1
paraense em relação
à exploração do setor mineral.
1
PIB é a soma de todas as atividades econômicas (produção de bens e serviços) expresso
monetariamente (SANDRONI, 1999).
16
Em relação ao Valor da Produção Mineral (VPM), o estado do Pará ocupa a
primeira posição. De acordo com o Relatório do Instituto Brasileiro de Mineração
(IBRAM AMAZÔNIA, 2007), o VPM do estado do Pará teve um aumento de 14% em
2007, em comparação a 2006, atingindo US$ 8 bilhões. No ano passado, a indústria
extrativa mineral contribuiu com 59,2% do VPM e a de transformação, com 40,8%.
Como aconteceu em anos anteriores, onde o minério de ferro liderou novamente o
ranking, com uma contribuição de 35,2% do valor total do Produto Interno Bruto
paraense, em seguida, aparecem a alumina (17,6%), o alumínio (15,1%) e o cobre
(11,3%).
Tomando-se por base que o estado do Pará transformou-se nos últimos anos
em uma importante região produtora, chegando a apresentar as características de
uma economia mineira, pela elevada participação dos produtos minerais em sua
pauta de exportações e pelo crescente peso do setor mineral na formação da renda
regional, em termos de PIB e arrecadação tributária, a evolução do setor se reflete
no crescimento do estado, especialmente das regiões mineradoras onde os
benefícios podem ser diretos e indiretos. No primeiro grupo destaca-se a
arrecadação de impostos, como a Compensação Financeira pela Exportação de
Recursos Minerais (CFEM), contribuição paga pelas mineradoras e que deve ter
suas receitas aplicadas somente em projetos para o benefício da comunidade local.
Frente a este contexto, destaca-se que em 2007, a CFEM da indústria
extrativa mineral alcançou US$ 83 milhões, superando inclusive as previsões iniciais
de se chegar a esta cifra somente em 2010. Desse valor Parauapebas, no estado do
Pará, recebeu a maior fatia: US$ 30,7 milhões. Em seguida está Oriximiná, com US$
10,8 milhões; Canaã dos Carajás, com US$ 8,5 milhões; Ipixuna do Pará, com US$
1, 8 milhão; Itaituba, com US$ 0,4 milhão e Capanema, com US$ 0,3 milhão. Outro
exemplo é o repasse do Imposto sobre Circulação e Movimentação de Serviços
(ICMS), que também acaba sendo incrementado pela atividade mineral. Com
relação aos benefícios indiretos, pode-se dizer que o aquecimento da economia na
região, onde atividade de mineração, está a arrecadação de tributos, como o
Imposto Sobre Serviços (ISS) ou o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Além
disso, é importante levar em consideração os projetos de desenvolvimento e
responsabilidade social, que voluntariamente as mineradoras levam para as regiões
17
onde atuam, direcionados à educação, à saúde, assim como à geração de emprego
e renda.
Um levantamento geológico realizado pelo IBRAM (2007), onde foi analisado
30% do território nacional, ao se considerar o papel do Pará no contexto da
mineração nacional e mundial, ressalta que, em função deste índice, ainda muito
para se descobrir no Pae na Amazônia, região considerada pelo órgão, como a
última fronteira mineral do mundo.
A descoberta do grande potencial de recursos minerais
2
na região Norte e a
necessidade de promover a expansão da indústria de insumos básicos, como parte
da estrutura industrial brasileira, constituem-se razões para que o Governo Federal
adotasse uma estratégia de desenvolvimento regional baseada na implantação de
Grandes Projetos de Mineração na região. Neste sentido, a prospecção de minério
de ferro na Serra dos Carajás, situada no sudeste do estado do Pará, iniciou-se nos
anos 1960 e ganhou um grande impulso na década seguinte, quando a então estatal
Companhia Vale do Rio Doce, atualmente denominada Vale, assumiu o controle
total da exploração de minérios na região e criou, em 1979, o Programa Grande
Carajás (PGC), com a finalidade de produzir minérios em escala industrial para o
abastecimento do mercado internacional.
Com base nestes dados, percebe-se a necessidade de verificar o papel do
estado do Pará como produtor e exportador de bens minerais, tendo em vista o
panorama geral dos diversos aspectos: potencial mineral da região, potencial do
mercado nacional e mais intensamente o potencial internacional, abundância de
água e energia. Portanto, considerando-se tais condicionantes, uma grande
expectativa em relação ao futuro da mineração no estado do Pará como alternativa
de desenvolvimento.
Deste modo, esta investigação pretende realizar um diagnóstico da provável
explotação
3
do setor primário do Pará, isto é, da produção de minério de ferro, no
que tange à viabilidade econômica, ambiental e social, tomando como base a
sustentabilidade das fontes energéticas utilizadas por este setor. Considerando
2
Os recursos minerais são concentrações de minérios formadas na crosta terrestre cujas
características fazem com que sua extração seja ou possa chegar a ser técnica e economicamente
rentável.
3
A explotação é a retirada do recurso com máquinas adequadas, para fins de beneficiamento,
transformação e utilização. Portanto, o maior impacto no meio ambiente é causado pela exploração.
18
também o desenvolvimento da região a partir do grande potencial demonstrado pelo
setor, este que tem despontado como um vigoroso segmento econômico, através da
atividade extrativa mineral bem como o surgimento de novos empreendimentos
voltados para produção de bens minerais, destinados em sua maioria ao mercado
externo, os quais ao longo dos anos 1980, 1990 até os dias atuais, vêm contribuindo
de forma acentuada na composição do PIB paraense.
Assim, o estudo tem por base a análise das fontes energéticas utilizadas pelo
setor mineral desenvolvido pelo Programa Grande Carajás (PGC), este que se
constitui no objetivo principal desta pesquisa.
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA
Brum (2000) ressalta que a região do entorno do Projeto Grande Carajás
(PGC) se caracteriza pelo desenvolvimento impulsionado pelas atividades de
produção mineral; grandes unidades agropecuárias; comércio e serviços e o
extrativismo, principalmente o minério de ferro e a madeira. Assim, coexistem ali
interesses econômicos diferenciados, além dos impactos ambientais e sociais
extremamente polarizadas que fomentam a existência de conflitos sociais e
articulações político-econômicas voltados para o mercado externo.
Segundo Valverde (1989), uma característica marcante da atividade mineral,
no estado do Pará é a sua bipolaridade: de um lado os mega-projetos minerais, com
vultosos investimentos em infra-estrutura (Mineração Rio do Norte, Projeto Carajás,
Projeto Caulim etc.) e de outro, a “frente garimpeira”
4
Visto que a extração mineral é de grande importância para a economia
paraense, onde o estado do Pará vivencia na atualidade, um crucial e complexo
processo de inserção na economia nacional e internacional, com base na exploração
em larga escala de seus múltiplos recursos naturais, por um lado, o vasto potencial
desses recursos é reconhecido como de importância estratégica para o crescimento
e desenvolvimento do estado e do país como um todo, bem como no contexto
internacional. Entretanto, o modelo utilizado na exploração do minério de ferro o
4
São vastos contingentes de trabalhadores expropriados, que encontram nos garimpos uma
alternativa ao desemprego.
19
evidencia a preocupação com a sustentabilidade. Esta realidade é vista claramente
no fenômeno do desmatamento da Floresta Amazônica, provocado pelo
carvoejamento, considerando-se que a maior parte da produção de ferro-gusa ainda
é a partir do carvão vegetal oriundo de mata nativa, daí a importância de se fazer
uma análise dos benefícios e malefícios, ou seja, os impactos econômicos,
ambientais e sociais que promovem o desenvolvimento do estado.
A Floresta Amazônica brasileira permaneceu completamente intacta até o
início da era moderna do desmatamento, iniciada com a inauguração da rodovia
Transamazônica, em 1970. Desde 1991, os índices de desmatamento na Amazônia
vêm aumentando num ritmo variável, mas pido. Este desmatamento ocorre por
inúmeras razões, entre elas estão os setores agropecuário, para a formação dos
pastos; madeireiro, com a extração de madeira e mineral; agricultura, e com o
consumo de carvão vegetal para a produção do ferro-gusa.
A degradação da floresta resulta do corte seletivo, dos incêndios, facilitados
pelo corte seletivo, e dos efeitos da fragmentação e da formação de borda. A
degradação contribui para a perda da floresta. Os impactos do desmatamento
incluem a perda de biodiversidade, a redução da ciclagem da água, e da
precipitação e contribuições para o aquecimento global. Além disso, a Amazônia
possui mais de 30% da biodiversidade mundial, onde se observa que seu
desmatamento afeta, e muito, a vida das populações locais que, sem a grande
variedade de recursos da maior bacia de água doce do planeta se veem sem
possibilidade de garantir a própria sobrevivência, tornando-se dependentes da ajuda
do governo e de organizações não-governamentais.
Ainda, segundo Valverde (1989), o ferro-gusa é a matéria-prima do aço, e sua
produção depende diretamente do desmatamento, que no Pará não a cultura
de se plantar o eucalipto ou outra espécie com finalidade de fornecer lenha para a
produção do carvão vegetal. O desmatamento não-autorizado fornece 57,5% da
madeira que alimenta os fornos das carvoarias. Estas, em geral são feitas no meio
da mata, e são constituídas numa fileira de fornos semelhantes a iglus, onde pilhas
de madeira esperam a vez de ir para o forno. O ideal seria que o carvão fosse obtido
em grandes áreas reflorestadas, nas quais quem desmatasse passaria a trabalhar
com o plantio de florestas. Porém, a obtenção de carvão de mata nativa é bem mais
lucrativa, daí por que o reflorestamento não ser uma prática fluente neste ramo.
20
O carvão vegetal é usado preponderantemente na produção de ferro-gusa e
cumpre duas funções: como combustível para gerar o calor necessário à operação
do alto-forno da siderúrgica e como agente químico para retirar o oxigênio durante o
processo. O ferro-gusa paraense é considerado o melhor do mundo porque usa o
carvão vegetal e não o mineral, o qual tem grande influência nos custos de produção
do gusa, uma vez que representa mais de um terço do preço final do produto.
Em meio a este cenário de possibilidades de utilização de diferentes fontes de
energia para o processo de fundição, o presente estudo questiona: a partir dos
aspectos econômicos, ambientais e sociais, como o minério de ferro paraense pode
ser transformado em ferro-gusa de maneira sustentável?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Analisar a sustentabilidade das fontes energéticas utilizadas no processo
de transformação do minério de ferro em ferro-gusa no estado do Pará.
1.2.2 Objetivos específicos
Avaliar a sustentabilidade econômica da utilização do carvão vegetal
proveniente de mata nativa, de mata plantada e do carvão mineral como fonte
energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa;
Analisar a sustentabilidade ambiental da utilização do carvão vegetal
proveniente de mata nativa, de mata plantada e do carvão mineral como fonte
energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa;
Avaliar a sustentabilidade social da utilização do carvão vegetal
proveniente de mata nativa, de mata plantada e do carvão mineral como fonte
energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa.
21
1.3 HIPÓTESE
A transformação do minério de ferro em ferro-gusa no estado do Pará se
torna competitiva em função da utilização em maior escala do carvão vegetal da
mata nativa como fonte energética. Entretanto, considerando-se os impactos
ambientais e sociais provocados, torna-se necessário alterar o processo, optando-se
pela utilização do carvão vegetal oriundo de floreta plantada para que essa prática
venha promover o desenvolvimento de forma sustentável.
22
2 METODOLOGIA
2.1 LOCAL DE ESTUDO
O Pará é uma das 27 unidades federativas do Brasil. É o segundo maior
estado do país com uma extensão de 1.247.689,515 km² e está situado no centro da
região Norte, tendo como limites o Suriname e o Amapá ao norte, o oceano Atlântico
ao nordeste, o Maranhão ao leste, Tocantins ao sudeste, Mato Grosso ao sul, o
Amazonas ao oeste e Roraima e Guiana ao noroeste. A capital é Belém e dentre as
cidades mais importantes citam-se Santarém, Ananindeua, Marabá, Altamira,
Itaituba, Castanhal, Tucuruí, Abaetetuba, Barcarena e Salinópolis.
A economia se baseia no extrativismo mineral (ferro, bauxita, manganês,
calcário, ouro, estanho) e vegetal (madeira), na agricultura, na pecuária, na indústria
e no turismo. A mineração, cuja atividade ocorre preponderantemente na região
sudeste do estado, sendo Parauapebas a principal cidade que a isso se dedica. As
atividades agrícolas são mais intensas na região nordeste do estado, onde se
destaca o município de Castanhal; a agricultura também se faz presente, desde a
década de 1960, ao longo da malfadada Rodovia Transamazônica (BR-230).
O Pará é o maior produtor de pimenta do reino do Brasil e está entre os
primeiros na produção de coco-da-baía e banana. o Félix do Xingu é o município
com maior produção de banana do país. A pecuária é mais presente no sudeste do
estado, que possui um rebanho calculado em mais de 14 milhões de cabeças de
bovinos. A incipiente indústria do estado concentra-se mais na Região Metropolitana
de Belém, com os distritos industriais de Icoaraci e Ananindeua. Pela característica
natural da região, destacam-se também como fortes ramos da economia as
indústrias madeireira e moveleira, tendo um polo moveleiro instalado no município
de Paragominas.
O extrativismo mineral vem desenvolvendo uma indústria metalúrgica cada
vez mais significativa. No município de Barcarena é beneficiada boa parte da bauxita
extraída no município de Oriximiná e mais recentemente no município de
Paragominas. No momento Barcarena é um grande produtor de alumínio, e sedia
uma das maiores fábricas desse produto no mundo. Ao longo da ferrovia Carajás-
23
Itaquí, que vai da região sudeste do Pará até São Luís do Maranhão, também é
possível observar a presença crescente de siderúrgicas. Recentemente, o governo
estadual divulgou a implementação no polo de Maramais uma siderúrgica, além
das companhias presentes na cidade. Essa nova indústria alavancará a economia
da região através de novos investimentos, aumentando a geração de emprego e
distribuição de renda. Em contrapartida, esse polo siderúrgico utiliza o carvão
vegetal para aquecer os fornos que produzem o ferro-gusa, contribuindo assim, para
a devastação mais rápida das matas nativas da região.
Nos últimos anos, com a expansão da cultura da soja por todo o território
nacional, e também pela falta de áreas livres a se expandir nas regiões sul, sudeste
e até mesmo no Centro-Oeste (nas quais, a soja se faz mais presente), as regiões
sudeste e sudoeste do Pará tornaram-se uma nova área para essa atividade
agrícola. Pela rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163) é escoada boa parte da produção
sojeira do Mato Grosso, que segue até o porto de Santarém, aquecendo a economia
da cidade tanto pela exportação do grão como pela franca expansão de seu plantio:
a produção local já representa 5% do total de grãos exportados.
Tomando por base o Mapa 1, é possível visualizar os municípios que fazem
parte do polo agromineral do estado paraense.
Mapa 1: Estado do Pará e os municípios do polo agromineral
Fonte: PRODEPA (2008)
Carajás
24
2.2 TÉCNICAS DE PESQUISA
A pesquisa apresenta cunho descritivo e também explicativo, esclarecendo os
fatores contributivos e condicionantes da questão estudada. A pesquisa realizada
adquiriu natureza do tipo qualitativa e quantitativa. Foram observados procedimentos
técnicos verificados nos projetos implantados no estado do Pará, planos econômicos
e aspectos legais de incentivos à atividade extrativa mineral. Para tanto, dividiu-se a
metodologia em 04 etapas, que são:
etapa: A coleta de dados foi realizada a partir de documentos bibliográficos
especializados na área relacionada ao tema. As fontes de dados incluem acervos
convencionais como livros, artigos, dissertações e teses; e não convencionais, tais
como: trabalhos científicos e periódicos por meio eletrônico. Dentre os órgãos que
forneceram dados e informações tem-se: Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Instituto Brasileiro de
Mineração (IBRAM). Nesta etapa, foram efetivadas: consultas e entrevistas com
perguntas diretas e objetivas no que tange aos resultados alcançados. A linguagem
utilizada nas entrevistas e consultas também foram simples e direta para que o
respondente compreendesse com clareza o que está sendo indagado, além de
apresentar-se bem informal com o intuito de tornar compreensíveis seus itens e
diretas suas respostas. As perguntas foram aplicadas junto a representantes de
órgãos do segmento mineral, assim como entrevistas junto a empresários deste
ramo de atividade.
etapa: Os dados referentes a fontes de energia utilizadas na produção do
ferro-gusa foram tabulados, comparados e apresentados em forma de tabelas e
gráficos, sendo as respostas quantificadas conforme as normas da estatística
descritiva, onde foi possível visualizar o cenário que envolve o tema focalizado. Os
dados refletiram as realidades econômica, ambiental e social do processo de
transformação do minério de ferro em ferro-gusa.
etapa: Análise e interpretação dos dados, por meio de comparações e
reflexões, verificando o ambiente da sustentabilidade econômica, ambiental e social
do processo de transformação do minério de ferro em ferro-gusa. Após sistematizar
as informações quantitativas, procedeu-se propriamente a análise e interpretação
25
dos dados, orientando-se por uma linha funcionalista
5
, de acordo com a perspectiva
teórico metodológica do referencial elaborado para esta investigação. Assim o
estudo parte de uma análise do processo de transformação do minério de ferro em
fero-gusa, no estado do Pará, e procura identificar o alcance dos aspectos
econômico ambiental e social desta atividade. A avaliação do carvão vegetal oriundo
de mata nativa, do carvão vegetal oriundo de mata plantada e o carvão mineral,
como fontes energéticas redutoras do minério de ferro para o ferro-gusa,
representaram o ponto-chave nesta análise à luz da realidade paraense.
etapa: Elaboração de um parecer final sobre a sustentabilidade das fontes
energéticas utilizadas para a transformação do minério de ferro em ferro-gusa. A
finalidade foi fornecer subsídios à tomada de decisões governamentais, com a
intenção de contribuir com o processo de planejamento do setor mineral.
5
Funcionalismo é um ramo da Antropologia e das Ciências Sociais que procura explicar aspectos
da sociedade em termos de funções realizadas por indivíduos ou suas consequências para sociedade
como um todo.
26
3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA EXPLORAÇÃO MINERAL
Este capítulo faz uma breve revisão da história da exploração mineral no
Brasil, com a intenção posterior de uma melhor compreensão desse evento
localmente, tanto na Região Amazônica quanto no estado do Pará. Frente ao
exposto, destaca-se aqui além da abordagem referente à exploração mineral no
cenário brasileiro, o processo produtivo do minério e seus resultados na Amazônia e
no estado do Pará no que diz respeito à produção mineral e sua contribuição no
desenvolvimento do país, com destaque aos aspectos econômicos, ambientais e
sociais.
3.1 EXPLORAÇÃO MINERAL NO BRASIL
O presente capítulo direciona-se para uma abordagem do cenário da
exploração mineral no contexto brasileiro, enfatizando aspectos relativos à Amazônia
e ao estado do Pará, esclarecendo a importância deste processo para o
desenvolvimento econômico, assim como seus limites e entraves.
Extrativismo é a atividade pela qual o homem retira da natureza os recursos
por ela produzidos (minerais, vegetais, animais). É a mais antiga atividade humana,
precedendo a agricultura, a pecuária e a indústria. Praticado ao longo do tempo por
todas as sociedades, continua, em maior ou menor escala, ocorrendo em todo o
mundo.
O extrativismo mineral, responsável em grande parte pela degradação da
natureza e ao mesmo tempo pela sustentação da maior parte do desenvolvimento
industrial e pelo progresso do bem-estar social, é, sem dúvida, uma das mais
importantes atividades do mundo atual.
Uma das principais questões relacionadas ao extrativismo mineral diz respeito
à distribuição geográfica das jazidas e sua utilização: a distribuição é muito irregular
e nem sempre o país possuidor do minério é o principal beneficiado.
Desprovidos de capital, de tecnologia e de indústrias de base, os países do
Terceiro Mundo, com raras exceções, são meros fornecedores de matérias-primas
27
aos países desenvolvidos. As matérias-primas são vendidas a baixos preços e
recebidas de volta sob a forma de produtos industrializados a preços muito mais
elevados.
É possível afirmar que apenas possuir o minério nem sempre é o mais
importante. De maior importância é saber como aproveitá-lo e possuir os meios para
tanto. Um bom exemplo disso é o caso de Brasil e Japão: o primeiro é muito rico em
quantidade e variedade de recursos minerais e o segundo é muito pobre; no entanto,
o primeiro é um país economicamente pobre e o segundo, muito rico. O PNB e a
renda per capita do Japão são, respectivamente sete e oito vezes maiores que os do
Brasil.
A questão da produção e do consumo das matérias-primas minerais é
praticamente a mesma das matérias-primas agrícolas: os países em
desenvolvimento são responsáveis por grande parte da produção mundial de
recursos minerais, mas a quase-totalidade desses produtos é adquirida, controlada
consumida pelos países desenvolvidos. Os principais problemas enfrentados pelos
países subdesenvolvidos nesse setor o: excesso de oferta de matérias-primas
minerais, provocando quedas dos preços; fatores ocasionais ou cíclicos, como as
quedas de produção, as variações cambiais etc.; fatores estruturais, como o
protecionismo e a política de preços mínimos impostos pelos países compradores, o
avanço tecnológico, reduzindo ou substituindo a utilização de certas matérias-primas
por outras, o grau de desenvolvimento do setor terciário (finanças, seguros etc.) nos
países desenvolvidos; inexistência de organizações eficientes e representativas por
parte dos países produtores de matérias-primas.
Até início do século XIX, com relação ao extrativismo, o mundo era dominado
pelas idéias dos naturalistas, embalados pelo sucesso da Botânica, da Zoologia, das
descobertas científicas e das grandes expedições à África, Ásia e América Latina.
Falava-se então muito da "mãe natureza" e das imensuráveis riquezas nela contidas.
Com o advento da Revolução Industrial e especialmente através da influência
do materialismo histórico de Marx, que fazia tudo depender da ordem econômica,
motor de todos os acontecimentos, as riquezas naturais passaram a chamar-se de
"matérias-primas", indispensáveis para saciar a fome louca de transformá-las em
novos produtos e assim satisfazer as ambições de consumo e exportação.
28
Segundo Reuda (2008), naquela época as matérias primas eram tidas como
inesgotáveis e seu consumo como controlável pela ação do homem. Um século
depois, com o avanço da tecnologia, o crescimento populacional e a utilização
excessiva das "matérias-primas", o homem começou a mudar seus conceitos sobre
o extrativismo. A primeira constatação foi que os recursos naturais não são
inesgotáveis, que é preciso reproduzi-los para que permaneçam e mesmo cheguem
a outras gerações. Assim surgiu a idéia de sustentabilidade e de que se deve
praticar um desenvolvimento sustentável. O extrativismo foi enquadrado neste novo
conceito
No Brasil, onde a defesa dos recursos naturais extrativos surgiu da luta dos
extrativistas pela terra, como objetivo a conquistar não foi apenas um
desenvolvimento sustentável, mas "socialmente justo". A reserva extrativista deve
conservar esta característica de concretização da justiça, mediante a atribuição da
terra àqueles que secularmente ali habitam e a defendem.
A evolução conceitual do extrativismo no Brasil, mediante a participação
direta dos extrativistas, chegou a este avanço importante, consolidando a reserva
extrativista o apenas como uma conquista ecológica, mas especialmente como
uma conquista social.
É possível considerar as reservas extrativistas como uma das metas
alcançadas, dentro da evolução histórica do extrativismo, uma vez que elas
sintetizam vários ideais perseguidos pela sociedade contemporânea: equilíbrio entre
desenvolvimento, conservação do meio ambiente e justiça social; participação da
sociedade como agente e não como objeto do processo, - as reservas são auto-
geridas pelos moradores; resgate e aperfeiçoamento do saber popular, pois o plano
de utilização das reservas tem como base a experiência e sabedoria dos moradores
que durante muitos anos ali convivem harmonicamente com a natureza; diminuição
dos custos de proteção das florestas, uma vez que os moradores se constituem em
seus defensores.
Dentro deste quadro de evolução do extrativismo, a criação das reservas
extrativistas é apenas uma etapa. E preciso continuar evoluindo, implementando as
reservas para que seus resultados sejam positivos. Entre as medidas mais urgentes
podem ser citadas: fortalecimento das organizações locais, especialmente através
da capacitação dos recursos humanos; fornecimento de condições materiais e
29
ferramentas para a implementação do gerenciamento cooperativo dos recursos e da
atividade extrativa; distribuição do poder sobre os recursos naturais (Concessão de
Uso e Planos de Utilização); libertação dos laços de dependência dos intermediários
(abastecimento de bens, insumos e comercialização da produção); acréscimo de
valor aos produtos extraídos (beneficiamento ou pré-industrialização); diversificação
das atividades econômicas.
No processo de exploração mineral, ressalta-se que desde os anos 50 do
século XX, a extração e a transformação industrial de minerais acalentaram, em
amplos e diversos segmentos sociais, expectativas de pida modernização e
desenvolvimento de áreas da Amazônia oriental brasileira impulsionadas pela
demanda global de mercadorias de origem mineral. Tais convicções justificaram a
implementação de ações estatais para favorecer a exploração industrial de minérios
na região.
Nos governos militares, além do estabelecimento de políticas de incentivo à
instalação de grandes empresas mineradoras na região, também houve grande
apoio estatal para que os minérios lavrados regionalmente tivessem sua cadeia de
transformação industrial estabelecida na Amazônia oriental.
Tais ações assumiram a condição de elemento axiomático nas tentativas
estratégicas de modernização da Amazônia por meio de programas
governamentais, como o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais
da Amazônia (SUDAM, 1975) e o Programa Grande Carajás (BRASIL,
1982). Inspirados em noções teóricas que preconizavam a necessidade da
intervenção direta do Estado como forma de induzir o desenvolvimento em
áreas geográficas selecionadas por meio da concentração espacial de
capitais, esses programas estariam aptos a efetivar a verticalização da
produção industrial de bens minerais considerados detentores de grandes
"vantagens comparativas" (MONTEIRO, 2005).
Na década de 1990, houve uma mudança significativa nos discursos e nas
práticas do Estado brasileiro em relação às políticas de desenvolvimento regional,
expressas em novas estratégias de desenvolvimento presentes nos Programas
"Brasil em Ação" e "Avança Brasil". Passou-se a advogar a necessidade do
estabelecimento de "eixos de integração", que possibilitariam um acesso mais
competitivo a mercados (BRASIL, 1997a). Seguindo essa lógica, foi mantido, para a
região, o destaque para as "vantagens comparativas" das mercadorias de origem
mineral (BRASIL, 1997b). Essas estratégias, em seu conjunto e em relação às
30
predições iniciais, produziram efeitos muito limitados no que concerne à integração
vertical da produção mineral.
A exploração industrial de minérios na região remonta aos anos 40 do século
passado, período em que se descobriram jazidas de minério de manganês na Serra
do Navio, no então Território Federal do Amapá, desmembrado do estado do Pará
em 1943.
Naquela época, o minério de manganês era considerado estratégico (CUNHA,
1962), pois a antiga União Soviética, detentora de grandes reservas mundiais de
manganês insumo que, apesar de utilizado em pequena quantidade, se comparado
ao ferro, é indispensável à indústria do aço, havia suspendido a sua venda. Por essa
razão, as reservas da Serra do Navio ganharam enorme importância, sendo
inclusive declaradas, em 1946, por decreto do presidente Eurico Dutra, como
"reserva nacional".
Para a valorização entendida como agregação de valor e conversão de
recursos minerais em mercadoria da jazida, estabeleceu-se concorrência, que foi
vencida pela Indústria e Comércio de Minérios S. A. (ICOMI), uma empresa
brasileira de médio porte. Em 1947, ela recebeu autorização do Governo Federal
para pesquisar e explorar o manganês. Em 1950, sob a alegação da necessidade de
aporte técnico e de recursos financeiros, a ICOMI associou-se à Bethlehem Steel
Corp., naquele período uma das maiores corporações norte-americanas produtoras
de aço (CHANDLER JR., 1977), que passou a participar com 49% do capital da
empresa. Essa mudança deixou evidente quem a ICOMI representava. Nos anos
seguintes, deu-se continuidade à pesquisa geológica, e edificaram-se os
equipamentos de infraestrutura, que envolviam as instalações industriais para a
mineração e o beneficiamento do minério: a estrada de ferro, com aproximadamente
200 km, as instalações portuárias, além de duas company towns (núcleos
residenciais para funcionários), uma em Serra do Navio e outra em Santana. Essas
vilas, diga-se de passagem, foram tomadas como referência de company town,
balizando a organização da moradia dos funcionários de diversas empresas mínero-
metalúrgicas posteriormente instaladas na Amazônia.
Segundo Monteiro (2005), a valorização daquelas minas esteve submetida a
um contrato de arrendamento, cuja versão definitiva foi aprovada, em 1950, pelo
Congresso Nacional, apesar dos diversos questionamentos em relação ao
31
favorecimento de interesses privados em detrimento dos de caráter público (CUNHA,
1962). O Estado também patrocinou uma série de favores, não exigidos
contratualmente, em benefício da ICOMI, visto que a perspectiva de operação da
empresa e os termos do arrendamento eram apontados no discurso oficial e de
amplos setores da sociedade como fundamentais para o desenvolvimento do
Amapá, especialmente porque o contrato estabelecia que a ICOMI deveria pagar ao
governo do Amapá 4% do valor de venda do minério, bem como deveria investir, em
novas empresas no território, 20% dos lucros quidos originados da exploração das
minas arrendadas.
Ainda segundo Monteiro (2005), a valorização do minério de manganês da
Serra do Navio permaneceu por aproximadamente duas décadas como a única
extração mineral industrial significativa na Amazônia oriental brasileira. Quadro que
vai se modificar significativamente, como decorrência das políticas desencadeadas
pelo golpe militar de 1964. O Estado autoritário, a partir da convergência da
geopolítica com a doutrina de segurança nacional, formulou uma doutrina de
intervenção interna, que tomou formas específicas no caso da Amazônia. Era
imperioso "ocupar" a Amazônia, na visão dos principais segmentos dos governos
militares (OLIVEIRA, 1994). Isto se buscou fazer por meio de políticas de
desenvolvimento que pressupunham a firme articulação de interesses privados e o
estabelecimento de uma ampla política de incentivos fiscais e creditícios, na qual se
enquadravam as grandes empresas minero-metalúrgicas.
Um grande aparato institucional voltado para a consecução de tais políticas
foi criado, e dele faziam parte a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM) e o Banco da Amazônia (BASA). Ampliou-se também a política de
incentivos fiscais para a região.
Na realidade, o papel do Estado no processo de desenvolvimento da
Amazônia, em especial no caso da mineração de manganês do Amapá, demonstra
que ele foi o principal ponto de apoio de uma política de implantação de uma nova
ordem de produção. As estruturas não-capitalistas sofreram um impacto muito
grande com a implantação organizacional da produção baseada na indústria
moderna e no trabalho assalariado. Assim, o resultado desse choque entre duas
estruturas produtivas, culturais e políticas diferentes atingiu um nível em que surge
uma outra ordem na qual a organização racional da indústria moderna vai
32
substituindo a antiga ordem e os elementos o integrados formam uma estrutura
residual dentro da ordem tradicional desintegrada ou saem da ordem econômico-
social.
De fato, o sentido principal a ser entendido da função do Estado no processo
de produção mineral é que ele sustenta a transferência da organização capitalista
com a sua racionalidade de fins, sempre com base no autoritarismo. Por certo, a
interferência da lógica capitalista sobre uma não-capitalista gera uma série de
impactos cujo resultado é a modificação tanto da estrutura socioeconômica quanto
da biofísica (natureza). Fica claro que tal fato decorre da não-incorporação das
externalidades negativas oriundas do processo de acumulação no cálculo
econômico. Nesse sentido, a racionalidade de fins do sistema capitalista industrial se
apresenta como racionalidade parcial à medida em que a apropriação dos ganhos
são particulares, mas os efeitos deformadores da produção pertencem a todos.
Neste processo ressalta-se que a evolução do equacionamento da dimensão
ambiental no Brasil, que se refletiu na mineração, pode ser identificada através de
três grandes momentos: nos anos 1960, marcados por uma visão fragmentada,
quando as questões ambientais incidiam naqueles aspectos relacionados à saúde
humana, condições de trabalho, o controle da água potável, preservação da flora e
fauna; o segundo momento, dos anos 1970 a 1980, com o enfretamento de desafios
mais amplos: poluição ambiental, crescimento desordenado das cidades,
culminando com a visão holística do meio ambiente e o terceiro momento, a partir
dos anos 1990, caracterizado pelo paradigma do desenvolvimento sustentável.
3.2 EXPLORAÇÃO MINERAL NA AMAZÔNIA
Graças à evolução contemporânea da economia e da sociedade e como
resultado do movimento de urbanização e da expansão capitalista é possível
conceber, de modo geral, a Amazônia o apenas como uma área rica em insumos
minerais, mas principalmente como base nacional de matéria prima e de produção.
Na Amazônia, devido ao seu rico potencial mineral, tanto o governo, como a
iniciativa privada têm praticado o extrativismo mineral nos últimos 30 anos. Grandes
projetos como Carajás e Rio Trombetas no Pará extraem ferro e bauxita; Serra do
33
Navio no Amapá, extrai manganês, Serra Pelada no Pará, extrai ouro; em Porto
Velho extrai-se a cassiterita. Porém em muitos rios e em áreas indígenas,
clandestinamente é praticada a garimpagem, uma das maiores degradações
ambientais na Amazônia, inclusive poluindo as águas; o governo constantemente
está combatendo tais ações.
Os primeiros investimentos na Amazônia foram destinados à busca de
minério de alumínio (cujo mercado estava em expansão) e de manganês (essencial
para a indústria do aço), ambos dependentes da produção de poucos países. Na
década de 1960, cerca de 10 mil garimpeiros estiveram envolvidos na produção de
cassiterita, número considerado bastante expressivo para a época. Os primeiros
depósitos de sulfetos de cobre da Amazônia foram descobertos na região de
Carajás, na década de 1970. Recentemente, nas proximidades de Aripuanã, no
extremo noroeste do estado de Mato Grosso, foram descobertas significativas
ocorrências de sulfetos de zinco, com cobre e ouro subordinados.
A Amazônia possui ainda uma série de riquezas minerais mal exploradas
economicamente. Metais como ferro, zinco, alumínio, nióbio e ouro estão presentes
no subsolo amazônico em quantidades variáveis. A maior mina de nióbio do planeta
está em São Gabriel da Cachoeira, estado do Amazonas. Em Nova Olinda, também
no Amazonas, uma reserva de Cloreto de Potássio (KCl), importante fertilizante
de solos) estimada em 340 milhões de toneladas, que ao começo da década de
1990 estava sendo estudada pela Petrobrás Mineração S. A. (PETROMISA), com
colaboração do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). O governo Collor extinguiu a
PETROMISA, deixando esta importante reserva abandonada. Cabe salientar que os
custos que o Brasil tem com a importação de fertilizantes agrícolas são
superados pelos custos de compra de petróleo.
As fontes minerais da Amazônia brasileira são estimadas em US$ 30 trilhões,
com depósitos de ouro, estanho, cobre, bauxita, urânio, potássio, terras raras,
nióbio, enxofre, manganês, diamantes e outras pedras preciosas, e possivelmente
petróleo.
Além de todos os impactos e agressões ao ambiente o extrativismo mineral
também representa uma fonte de degradação ambiental. Atualmente, na Amazônia,
existem cerca de 20 regiões de alta concentração de garimpos de ouro. São
famosas as histórias do Projeto Carajás e do Projeto Jarí nas décadas de 70 e 80.
34
Porém, é no garimpo de ouro aluvial na Amazônia que toda a sorte de conflitos
econômicos e sociais se manifestam. O Brasil não possui uma política mineral
explícita, sendo a exploração do ouro organizada regionalmente, pelas populações
locais, movidas por aspirações de ascensão e fuga da eterna exclusão social.
Frequentemente os garimpos funcionam com infraestrutura precária, agredindo o
ambiente e liberando grandes quantidades de mercúrio nos rios, no ar e no solo.
Estima-se que na bacia do rio Tapajós, no oeste do Pará, são liberadas,
anualmente, cerca de 12 toneladas de mercúrio no ambiente.
Com relação ao petróleo cerca de uma dezena de bacias sedimentares estão
situadas na Amazônia brasileira, perfazendo quase 2/3 dessa área territorial. Três
delas bacias do Solimões, Amazonas e Paranaíba são as mais importantes, não
pelo tamanho (juntas ocupam aproximadamente 1,5 milhão de km²), mas
principalmente pelo seu potencial. A bacia do Solimões é a terceira bacia sedimentar
em produção de óleo no Brasil, com uma reserva de 132 milhões de barris de
petróleo.
As primeiras descobertas de petróleo na Amazônia ocorreram em 1954,
quando a Petrobras encontrou quantidades não comerciais nas cidades de Nova
Olinda, Autás Mirim e Maués, no estado do Amazonas. Nos primórdios da
PETROBRAS, as pesquisas foram direcionadas para a bacia do Amazonas, em
detrimento da bacia do Solimões. em 1976 foi feito o primeiro levantamento de
sísmica de reflexão na bacia do Solimões. A partir de 1978, ano da descoberta da
província gaseífera do Juruá, a pesquisa de petróleo na bacia do Solimões foi
intensificada. O petróleo de Urucu é considerado o de melhor qualidade no país e
dele são produzidos, principalmente, derivados mais nobres (de alto valor agregado)
como diesel e nafta. A Região Amazônica já é auto-suficiente em petróleo e parte de
sua produção é exportada para outras refinarias da PETROBRAS, localizadas em
diferentes regiões do país.
Entretanto, a principal vocação da Amazônia é o gás natural. O estado do
Amazonas tem a segunda maior reserva brasileira de gás natural do país, com um
total de 44,5 bilhões de metros cúbicos. Nas outras duas bacias também têm sido
encontradas acumulações de gás.
Dos cerca de 7 milhões de m³/dia de gás natural produzidos em Urucu, no
Amazonas, apenas 0,49 milhão são aproveitados, através da transformação em Gás
35
Liquefeito de Petróleo (GLP) e gasolina natural. O resto é reinjetado nos poços e
uma outra quantidade queimada. Os campos de Urucu situam-se na Bacia do
Solimões, a segunda maior do país, com 88 bilhões de m³ de reservas estimadas de
gás natural, perdendo apenas para a Bacia de Campos. Se utilizada na razão de 4
milhões de m³/dia, são suficientes para acionar os 1.000 MW de termelétricas
existentes ou previstos para a Região Amazônica, a reserva daria para mais de 75
anos.
Quanto à bauxita, a descoberta das grandes reservas comerciais de bauxita
na Amazônia ocorreram em 1967, pela Aluminium Limited of Canada (ALCAN).
Investimentos milionários estão sendo feitos na mineração de bauxita e fabricação
de alumínio na Amazônia, com riscos potenciais para seu frágil ecossistema. A
expansão da indústria brasileira de alumínio se concentra na Região Amazônica por
causa das fontes de energia barata. Dois terços do potencial hidrelétrico
remanescente no Brasil provêm dos rios da Amazônia. A extração de bauxita para
abastecer as bricas de alumínio deve explodir na região. Terceira maior mina de
bauxita do mundo, a Mineração Rio do Norte recentemente expandiu a produção de
sua mina no rio Trombetas para 16,3 milhões de toneladas por ano.
Entretanto, o destaque não se restringe a estes minérios, pois a Região
Amazônica é vista como uma rica fonte de matéria-prima mineral constituindo-se
polo de atração à extração extensiva.
Neste cenário, destaca-se a cassiterita representando o único minério
comercializável de estanho, do qual o Brasil possui cerca de 70% das reservas
mundiais. A cassiterita na Amazônia começou a ser explorada entre 1950 e 1960, no
Amapá. As maiores reservas nacionais estão localizadas em Rondônia, que também
é o grande produtor brasileiro. Merecem destaque as reservas do Pará e do
Amazonas.
Assim, visualizando sua riqueza mineral e visando garantir sua viabilidade
econômica tendo por base a possibilidade de acessar um enorme acervo de
recursos e serviços ambientais a baixo custo, somando a isso o fato de as atividades
que envolvem a valorização regional de recursos naturais, ao buscarem lucratividade
em curto prazo, patrocinarem práticas ambientalmente deletérias, que em última
análise destroem a própria base de reprodução de diversos agentes sociais, foram
implantados diversos projetos de exploração mineral na região.
36
Para agilizar a implantação de projetos exportadores, o Governo Federal
criou, em 1974, o Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia
(Polamazônia). De acordo com Valverde (1989), os planos federais previam a
implantação de diversos “polos de desenvolvimento na Amazônia brasileira”, com
destaque para a produção mineral. Ancoravam-se, portanto, numa visão de
desenvolvimento regional que tinha por fundamento a necessidade de concentração
espacial de capitais, capazes de produzir desequilíbrios, e, em decorrência destes
impulsionar processos de desenvolvimento por meio do surgimento de uma cadeia
de ligações para frente e para trás das atividades produtivas consideradas “chave”.
Alguns dos polos que integravam o POLAMAZÔNIA eram Carajás, Trombetas e
Amapá.
No "polo do Amapá", a política de incentivos fiscais foi utilizada pela ICOMI
para implantar uma usina de pelotização, visando o aproveitamento da parcela muito
fina de minério de manganês. Naquele "polo" também entrou em operação a
primeira empresa dedicada à extração industrial de caulim na Amazônia. Tratava-se
da Caulim da Amazônia (CADAM), criada como parte dos investimentos do
milionário norte-americano Daniel Ludwig, na área da Jari florestal.
Em 1977, a CADAM iniciou a lavra da mina de caulim, situada na margem
esquerda do rio Jari, atualmente município de Laranjal do Jarí (AP). Daquele ano em
diante, as instalações da empresa sofreram sucessivas ampliações, atingindo uma
capacidade instalada para valorizar de até um milhão de ton/ano, de caulim.
Na região do Trombetas, município de Oriximiná (PA), Pires (2005) descreve
que no cenário dos anos 1970, desenharam-se as condições que viabilizaram a
extração e a comercialização da bauxita metalúrgica na Amazônia brasileira, mais
especificamente as jazidas que haviam sido descobertas, ainda na década de 1960,
às proximidades do rio Trombetas, pela empresa canadense Aluminium Limited of
Canada (ALCAN).
Em 1972, a ALCAN, alegando condições desfavoráveis ao produto no
mercado mundial, paralisou o projeto. Na verdade, o que a empresa canadense
fazia era barganhar o apoio do governo brasileiro, que, em consonância com aquela
política de atração de capitais para a ocupação da região, escala a Companhia Vale
do Rio Doce (CVRD) para representá-lo no negócio. Naquele momento (1975), a
CVRD passou a ser a maior acionista da Mineração Rio do Norte (MRN), que
37
passou a contar também com capital de outras empresas, além da ALCAN, todas
grandes consumidoras de bauxita. Em 1979, a MRN efetuou o seu primeiro
embarque de bauxita para a ALCAN, no Canadá. Daquela data em diante, a
empresa vem ampliando sua capacidade instalada, atingindo um volume de lavra
anual, superior a dezesseis milhões de toneladas de bauxita.
A atuação do Governo Federal, tendo em vista a valorização das reservas de
bauxita do Trombetas, não se limitou somente a viabilizar sua extração, mas
também na implantação de estratégias para realizar sua transformação em alumina
e alumínio primário na própria região, para o que foi necessária a instalação de
plantas químicas para a produção da alumina e a edificação de plantas metalúrgicas
para a produção do alumínio. Estas últimas requeriam a disponibilidade de enorme
quantidade de energia elétrica. Para tanto, o Governo Federal promoveu
negociações objetivando a formação de uma joint venture entre a CVRD e empresas
japonesas para a produção de alumina e de alumínio, como também criou, em 1973,
a Centrais Elétricas do Norte do Brasil S. A. (ELETRONORTE), com a finalidade de
viabilizar a implantação da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, indispensável ao
suprimento de energia para a transformação industrial da alumina em alumínio
(PIRES, 2005).
Consolidou-se em tais bases, em 1978, a Alumínio Brasileiro S. A. (ALBRAS),
joint venture criada como associação entre a CVRD e a Nippon Amazon Aluminum
Corporation (NAAC), um consórcio de empresas japonesas o qual participou com
49% do empreendimento, cabendo o restante à CVRD. Para a produção da alumina,
criou-se a Alumina do Norte do Brasil S. A. (ALUNORTE).
O processo de implantação de projetos e instalação de empresas
direcionadas à extração e transformação do minério traduz uma política de
implantação de uma nova ordem de produção.
Nessa perspectiva, implantaram-se na região empresas voltadas à produção
de alumina e alumínio primário. A ALBRAS instalou-se no município paraense de
Barcarena, iniciando sua operação em 1985. Nas negociações das condições de
sua instalação, o Governo Federal concedeu à empresa, subsídio no preço da
energia elétrica. Vigorando entre 1985 e junho de 2004, tal concessão significou,
segundo a Eletronorte, subsídios superiores a US$ 1 bilhão.
38
Paralelamente, às negociações que envolveram a criação da ALBRAS, a
ALCOA iniciou articulações também voltadas à produção de alumínio em São Luís
(MA) e à formação, sob a sua coordenação, do Consórcio de Alumínio do Maranhão
(ALUMAR). As obras para a sua instalação foram iniciadas em 1980 e sua produção,
em 1984, já era comercializada.
Nesse período, destaca-se a implantação da produção guseira na Amazônia,
a qual teve início com o deslocamento de grupos siderúrgicos de Minas Gerais e
com a conversão de empresas de construção civil que, aproveitando-se dos
incentivos e isenções fiscais oferecidos pelo Governo Federal, tornaram-se
produtores de ferro-gusa. A expansão observada nos anos subsequentes fez-se
com a ampliação da capacidade instalada de alguns grupos pioneiros (Viena
Siderúrgica, Cia. Vale do Pindaré e Cia. Siderúrgica do Pará) e pela entrada de
novos agentes econômicos, caso de grupos siderúrgicos de maior porte (Aço
Cearense), de uma trading que passa a produzir o ferro-gusa antes importado
(Promotora Vascoasturiana) e de grupos empresariais locais (Grupo Revemar,
Grupo Leolar, etc.).
A Vale como ator hegemônico na região de Carajás organizou suas relações
a partir de sua exploração mineral e de seus contratos econômicos com quem
financia seus projetos. Ela desenvolve relação com a gestão pública local e com os
demais atores sociais que participam da vida ativa do estado e dos municípios onde
ela possui projetos.
De uma maneira ou de outra, o poder que a companhia adquiriu localmente
vem de longos anos de sua trajetória como uma grande empresa de mineração não
no cenário nacional, como também no internacional. Não se pode afirmar que a
CVRD omitiu sua participação na vida econômica dos municípios, pois seus projetos
trouxeram recursos financeiros onde estavam instalados, porém pela falta de uma
visão de futuro dos políticos paraenses, não foi possível exigir da empresa um outro
tipo de participação qualitativa, para que ela pudesse participar mais ativamente em
parcerias com os municípios na resolução de seus problemas urbanos e rurais.
Isso não quer dizer que a CVRD deixou de participar do desenvolvimento
local, mas queremos dizer que sua participação poderia e pode se dar de uma outra
39
maneira, possibilitando aos municípios não dependerem somente da empresa, mas
permitindo que possam construir alternativa que não a do minério.
De fato, os 411.000 hectares que estão sob o poder de exploração da
empresa impedem a abertura de uma outra frente que correlacione o poder na
região. Com o monopólio da CVRD fica difícil negociar. Não foi possível quebrar as
barreiras do protecionismo da empresa e criar abertura para que outras empresas
brasileiras viessem a explorar a região com compromisso e responsabilidade com o
desenvolvimento dos locais onde estivessem sendo instalados novos
empreendimentos. Se isso tivesse acontecido teria evitado fugas de projetos para
outros estados, viabilizando realmente seus interesses com compromisso de efeito
multiplicador na região. Houve no caso ausência de planejamentos que levassem
em conta a participação efetiva da sociedade local, criando alternativas de
viabilidade não econômica, mas também social, respeitando as sociedades
atingidas pelos projetos.
Embora os atores sociais entrassem em conflitos pelo poder local e por outro
tipo de ordenamento no território, sempre deixaram de fora de maneira direta a
CVRD. Com raras exceções, como a do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra
(MST), a companhia não teve questionado seu papel na região, com força suficiente
que fizesse a empresa mudar seu comportamento no estado do Pará.
Com a privatização aos poucos a empresa mudou para o vizinho estado do
Maranhão sua base logística que tinha na capital paraense. Houve reclamações,
mas não com a devida notoriedade, pelo simples fato de a empresa não temer a
ordem legal dos paraenses.
A privatização levou ao esquecimento projetos tidos como certos no Pará, e à
mudança de comportamento da companhia em relação ao território em que atua.
Municípios ficaram na esperança e sem qualquer justificativa aceitável: por que
os projetos antes prioritários ao estado e da companhia hoje estão no esquecimento,
e por que compromissos assumidos foram esquecidos?
Não se pode dizer o mesmo em relação aos municípios que recebem os
royalties; na sua maioria os municípios paraenses no sudeste do estado vivem em
precárias condições e dependem dos repasses dos fundos dos governos federal e
estadual.
40
Parauapebas é o maior exemplo da falta de investimentos em setores sociais.
Canaã dos Carajás, que está recebendo o Projeto Mineração Serra do Sossego da
CVRD, também deposita suas esperanças nos royalties e nas arrecadações
advindas das empresas que virão para o município.
As relações de poder que comandam as ações políticas dos paraenses quase
sempre foram desfavoráveis ao estado do Pará, muito embora tenhamos
representantes nos poderes do Estado brasileiro. A Amazônia passou por
experiências desastrosas e pouco se tomou como lição, ocorre uma continuação na
repetição de erros do passado quando se trata de falta de planejamento, para o Pará
e para toda a Amazônia.
Destarte, a maior experiência que se venha a tirar das relações da empresa
com o estado é que precisamos evoluir em termos de proposta e de viabilidade
econômica, financeira e social. É necessário conhecermos os recursos naturais que
podem contribuir para o desenvolvimento da sociedade paraense.
O estado precisa ter um projeto de desenvolvimento não setorizado, mas que
atinja o seu território como um todo. Só teríamos condições de conceber as riquezas
e dar condições às sociedades locais para participarem do desenvolvimento de cada
localidade se viabilizássemos as condições político-econômico-sociais das
sociedades locais.
A questão do polo siderúrgico que se instala no Maranhão parece ser coisa
do passado para o estado do Pará. O desenvolvimento paraense poderia ser
pensado em termos do presente, e para o futuro é indispensável criar condições
para viabilizar a parceria da CVRD, sem que esta seja o maior interlocutor dos
recursos do Pará, o estado que tem que ter nos recursos naturais seu poder de
barganha.
Segundo Faoro (2000), “os donos do poder” são hoje aqueles que recebem
influência dos dirigentes da CVRD, e o estado um mero coadjuvante na economia
dos recursos minerais, aquele estado que legitimou a ação da companhia que hoje
ele contesta. E atrelado ao “poder dos donos”. Para Bursztyn (1984), sem uma
proposta de desenvolvimento que envolva a companhia num compromisso de
planejamento, a partir dos recursos que dele ela extrai, o estado faz com a CVRD
41
uma parceria para se atingir o desenvolvimento das sociedades atingidas pelos seus
projetos.
Enquanto a elite paraense manifesta seu descontentamento com a empresa,
para o Maranhão ela dirige todo o seu potencial de parque industrial, não na
instalação do polo siderúrgico, mas na construção do píer de seu porto no
Maranhão, para aumentar a capacidade dos navios. Segundo a matéria do jornal “O
Liberal”, quando entrasse em funcionamento em 2004, a capacidade do terminal
portuário aumentaria de 56 milhões de toneladas para 85 milhões a capacidade do
porto de Ponta da Madeira no Maranhão, com isso estimava-se que a quantidade de
navios chegasse a 50 por mês.
A CVRD prepara-se para ampliar sua exploração mineral no Pará, e prepara
sua infra-estrutura para receber essa produção no Maranhão. A elite paraense diz
que em troca recebe a migração que passa a ocupar o território do sul/sudeste
paraense, e o minério fica no Maranhão. A contradição está na crença de que a
economia do minério irá trazer sozinha o desenvolvimento para os dois estados.
Nesses anos todos em que a companhia vem explorando o minério na Região
Amazônica pouca coisa mudou, em se tratando da melhoria das condições e
qualidade de vida daqueles municípios que estão sob a área de influência da
empresa nos dois estados.
Enquanto o Pavai à imprensa e denuncia, o Maranhão prepara seu espaço
e a infraestrutura de seu território abrindo possibilidades de novos empreendimentos
da CVRD. Nesse ínterim, parece que a questão locacional favorece as proximidades
do porto, que recebe cada vez mais infraestrutura e se moderniza para novos
tempos de globalização e de inserção da empresa no mercado internacional.
A realidade com os processos de poder que vieram junto com os interesses
de um grande grupo de mineração, a Companhia Vale do Rio Doce, aos poucos
suplantou o poder do estado paraense e até mesmo o nacional. A CVRD
multifacetou e criou sua hegemonia no território que ela domina em Carajás,
direcionando seus interesses muito diferentes dos interesses do estado do Pará.
Grande parte dos investimentos a CVRD destinou para Carajás, mas pouco
está relacionada à verticalização da mineração no Pará. O minério continua saindo
quase que in natura, sendo agregado pouco valor ao produto. Com isso o estado
42
deixa de arrecadar, e a sociedade local acaba não sendo beneficiada pelos
investimentos realizados pela companhia conforme deveria ser.
Todos os investimentos que foram feitos pela companhia são importantes,
muito embora essa contribuição agora seja questionada, ou seja, só agora
aqueles que comandam a vida política do estado perceberam que não bastam
somente esses projetos sociais, tem que haver muito mais para gerar o efeito
multiplicador na região de Carajás e assim beneficiar a sociedade local.
Desde que saiu o primeiro carregamento de minério de ferro do território
paraense, essa região mudou completamente suas relações econômicas com a
empresa e seus diferentes atores sociais que estão presentes no sudeste paraense.
Atraídos pelos projetos, migrantes, empresas e empresários vieram em busca dos
investimentos que a CVRD estava fazendo em Carajás.
A CVRD montou sua base logística em Carajás, em São Luís e em Belém, a
Docegeo e uma base administrativa. Depois da sua privatização a empresa
desativou quase tudo na capital paraense. Aos poucos a CVRD foi transferindo
todas as suas bases de Belém para São Luís. O desmonte realizado pela empresa
na capital paraense foi total, a empresa não tinha mais nenhuma razão para
continuar em Belém, sua ligação permanecia apenas com seus projetos que estão
localizados nos municípios paraenses.
A CVRD aos poucos também está indo embora e leva consigo a maior
riqueza do subsolo paraense, seus minérios. Através de seu acelerado volume de
exploração e tecnologia, aos poucos a empresa carrega para o exterior riquezas das
jazidas que a natureza formou durante um longo período geológico. Como
ressaltou Bunker (1985), o que mudará nessas economias extrativistas será a
aceleração do ritmo de exploração, como se pode visualizar na falta de
verticalização da produção de minérios em Carajás.
Embora ocorra um aumento nas exportações do Pará, esse crescimento
econômico não vem acompanhado pela modernização da indústria, nem pela
ressonância econômica nos municípios, traduzidos em qualidade de vida para suas
populações.
Nada garante que o Pará, cada vez mais um estado minerador, possua e
tenha como base somente esse tipo de economia para seu desenvolvimento. Torna-
43
se necessário criar estratégias de desenvolvimento em outras escalas, como, por
exemplo, aproveitar o potencial agrícola do estado.
A indústria que permanece em Carajás, seja ela da CVRD, sejam suas
associadas, bem como as que prestam serviço ou são parceiras da companhia, não
têm apresentado significativos avanços na criação de polos de desenvolvimento
(que não deram certo na região) nem acarretado benefícios à sociedade local. Pelo
contrário, em se tratando das guseiras, a floresta da região corre risco de total
desaparecimento, pois não ocorre reflorestamento para se obter o carvão vegetal.
Muitas vezes o trabalhadores rurais que em seus lotes utilizam a economia do
carvão e vendem para guseiras de Marabá, colocando em risco seu próprio futuro. É
comum passar pela Transamazônica e entrar em um dos diversos ramais que levam
a assentamentos rurais e comunidades que associam a agricultura à prática de
comercialização do carvão com as guseiras, sem qualquer projeto de
reflorestamento.
Nesse sentido, a industrialização acabou fazendo na economia capitalista
uma verdadeira mudança de valores, pois a industrialização virou sinônimo de
desenvolvimento. Segundo Altvater (1995), o desenvolvimento é contrário ao meio
ambiente, pois transforma numa desordem aquilo que a natureza levou milhões e
milhões de anos para deixar no estado em que se encontra hoje. O tempo da
natureza e do capital são incompatíveis nesse caso.
Assim a CVRD, ao se apropriar das diversas jazidas que explora, coloca em
risco o desenvolvimento do estado do Pará. A matéria-prima necessita ser
beneficiada senão há agregação de valor, e há outras perdas além das econômicas.
Suas relações com estado e municípios foram mudando, a partir de sua
privatização. Embora tenha interesse em manter sua imagem de companhia que tem
responsabilidade e quer manter cordialidade com quem negocia, a empresa
radicalmente mudou seu comportamento em relação às suas prioridades para
diminuir custos e aumentar seus lucros, e de certa forma ocorreu uma omissão dos
representantes do poder público paraense. A CVRD desconsiderou as
manifestações que os paraenses fizeram e vêm fazendo contra as decisões que ela
vem tomando agora diferentemente da época quando 51% de suas ações
pertenciam ao governo brasileiro.
44
Não foi a privatização da empresa que acelerou esse processo. Embora
seja o fator primordial, as flutuações da economia mundial junto com a busca de
novas fontes energéticas no planeta aceleram a viabilização dos interesses da
CVRD. Também as prioridades da economia globalizada, na busca de cobre, ouro,
manganês e mais ferro, favoreciam certos investimentos em capital estrangeiro na
Amazônia. Não se pode responsabilizar a CVRD pela gestão municipal, mas pode-
se cobrar dela e do próprio estado do Pará parcerias efetivas que viabilizem no
município, não a economia extrativista, mas o desenvolvimento de sua sociedade
local.
Outra questão a ser definida está relacionada à área sob influência da CVRD.
Falamos de área sob influência, não área de influência, pois muitos dos projetos da
CVRD extrapolam os territórios dos municípios que os abrigam influenciando outras
áreas de outros municípios.
um questionamento em virtude de novos empreendimentos a serem
instalados pela CVRD, por exemplo, Canaã dos Carajás com o Projeto Mineração
Serra do Sossego, ampliando assim a área sob influência da CVRD. Novos estudos
deverão ser feitos para definir de fato quais seriam as áreas sob influência da
companhia no Pará para beneficiar esses municípios.
Enquanto não se definir essa questão, o Estado paraense precisa elaborar
metas de desenvolvimento que contemplem a empresa como um de seus parceiros,
e não a tomem como inimiga, como querem alguns políticos, que sempre foram
omissos, e quando puderam interferir numa melhor definição do papel da companhia
em território paraense nada fizeram.
As relações de poder que definem práticas espacializadas tanto da empresa
como do poder público precisam ser revistas, a fim de se criarem condições de
negociações entre as partes envolvidas e os representantes da sociedade civil. O
território assim torna-se um campo onde atuam diferentes forças, que condicionam
práticas diferenciais de atores sociais em busca de seus anseios. Essas práticas
tornam-se opressoras para outros atores sociais quando eles se sentem
prejudicados por elas. O campo de poder que se forma é marcado por conflitos de
interesses, nesse caso entre a companhia e representantes da sociedade civil.
45
A empresa não pode ter apenas a imagem de uma companhia que cumpre
com suas obrigações financeiras sem ter nas formas de implantação de seus
projetos os benefícios para as sociedades locais o que garante respeito no mercado
internacional. Deve preocupar-se com os impactos socioambientais em sua área de
atuação.
Por isso, com os pagamentos dos royalties a CVRD equipou a cidade de
Parauapebas de infraestrutura e em outros municípios fez parcerias para tratamento
de água, construção de escolas, e outros investimentos. De alguma forma, a CVRD
tem participado, muito embora a maioria desses projetos tenham como mentor a
própria companhia, que muitos municípios deixam nas mãos da empresa o papel
de elaboração e realização do projeto.
Dessa forma, aos poucos a empresa assumiu, sem a menor pretensão, o
papel que deveria ser do estado e do município. Antes tudo começava e terminava
na CVRD, ela decidia quem contratava e elaborava as formas pelas quais seriam
realizados seus projetos sociais que estariam em benefício dos municípios que tinha
como parceiros.
O poder que a empresa aos poucos foi conquistando ultrapassou seu poderio
econômico na região. Alguns de seus funcionários ou ex-funcionários tornaram-se
empregados do poder público nos municípios em que a empresa atuava, e outros
tantos acabavam sendo confundidos com aqueles que tinham poder dentro do
município.
O século XXI começa com os mesmos conflitos do passado, agravados pela
falta de transparência de ambas as partes, Estado e empresa, na definição de suas
prioridades no território que está sob seus domínios. As sobreposições de territórios
e de domínios deixam claros os diversos conflitos que surgem envolvendo diferentes
setores da sociedade civil. A resolução desses conflitos passa pela definição de
prioridades e do grau de desenvolvimento que cada um terá em relação ao território
de seu domínio ou de sua influência, sem desconsiderar outras partes.
Sejam eles Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), empresa de
mineração, siderurgias, castanheiros, necessidade de uma definição clara e de
uma reavaliação do uso do território em Carajás. Como ressaltaram Santos e
Silveira (2001), é o uso do território que interessa. Nesse caso os recursos que estão
46
disponíveis no território e sua utilidade respondem a sua função social e econômica
na definição do projeto de desenvolvimento da sociedade de Carajás.
Neste caso, a ordem que faz surgir é a de um conflito de interesses quando
observamos espaços dos municípios que estão sob área de mineração em Carajás.
Esses municípios o “escolhidos” pelas empresas mineradoras para efetivarem
seus projetos. Enquanto isso outras áreas, que são potencialmente virtuais para
possíveis projetos, que não fazem parte direta do conjunto de interesses da grande
empresa, ficam momentaneamente excluídas do processo de organização
econômica do território. A organização territorial que envolve outros atores sociais,
como é o caso de Carajás, acontece pela forma de conflito envolvendo diferentes
interesses e atores sociais que o estão diretamente ligados à empresa de
mineração.
Dessa forma, um ponto no território no qual emanam energias em várias
direções com variáveis diferenciadas e com maior ou menor grau de poder e
interferência na organização territorial local. A existência de locais que a empresa
seleciona como espaços potenciais para sua operação gera conflitos de interesses
com outros atores sociais que, direta ou indiretamente, são afetados por esses
projetos.
A organização territorial, na atualidade, passa pela regulação econômica do
território em Carajás; são as práticas globalizadas de uma única empresa CVRD -
que organiza, a partir do mercado internacional, o território econômico, os espaços
potenciais a serem palcos de projetos virtuais ou efetivamente instalados para a
inserção de Carajás num mundo econômico globalizado. A globalização, nesse
aspecto, é a globalização da economia num ponto do território, aquele que a
empresa projeta e define como seu território e o une à escala global e local, o que,
por sua vez, passa por formas de governo municipal, estadual ou federal.
3.3 EXPLORAÇÃO MINERAL NO ESTADO DO PARÁ
A distribuição geográfica da mineração no Pará envolve 11 municípios:
Parauapebas (ferro e manganês), Barcarena (alumina, alumínio e cabos e
vergalhões de alumínio), Oriximiná (bauxita), Ipixuna do Pará (caulim), Canaã dos
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Carajás (cobre), Breu Branco (silício metálico), Marabá (ferro-gusa e manganês),
Capanema (calcário), Paragominas (bauxita), Itaituba (calcário) e Floresta do
Araguaia (ferro). Até 2012, mais quatro municípios - Juruti (bauxita), Ourilandia do
Norte (níquel), São Félix do Xingu (níquel) e Curionópolis (cobre) - entrarão para
esse seleto grupo, aumentando para 15 o total de municípios mineradores do
estado.
Observa-se, assim, que a mineração constitui atividade preponderante na
região sudeste do estado, sendo Marabá a principal cidade que a isso se dedica. O
extrativismo mineral vem desenvolvendo uma indústria metalúrgica cada vez mais
significativa. No município de Barcarena é beneficiada boa parte da bauxita extraída
no município de Oriximiná e mais recente no município de Paragominas. No
momento Barcarena é um grande produtor de alumínio, e sedia uma das maiores
fábricas desse produto no mundo. Ao longo da ferrovia Carajás-Itaqui, que vai da
região sudeste do Pará até São Luís do Maranhão, também é possível observar a
presença crescente de siderúrgicas. Recentemente, o governo estadual
Implementou em Marabá uma siderúrgica, além das companhias presentes na
cidade.
Assim, o estado do Pará se mantém em destaque no cenário nacional como
importante província mineral, congregando parcela substancial das reservas
brasileiras de importantes commodities.
Nos últimos anos, os investimentos no setor, realizados por empresas
mineradoras da iniciativa privada, controladas por capitais nacional e transnacional,
alcançaram US$ 20 bilhões, resultando na ampliação das reservas conhecidas e nos
sucessivos recordes da produção mineral do estado.
As maiores inversões financeiras são da Vale do Rio Doce, hoje denominada
de Vale, que investiu cerca de US$ 15 bilhões na prospecção e exploração de ferro,
bauxita/alumínio, caulim, cobre, manganês e ouro; seguida pela Mineração Onça
Puma Ltda., que se tornou subsidiária da Vale, com US$ 854,7 milhões na
exploração do níquel; a Alcoa, com cerca de US$ 660 milhões em bauxita/alumínio,
a Imerys Rio Capim Caulim S.A., com cerca de US$ 290 milhões; as siderúrgicas,
exportadoras de ferro-gusa, com perto de US$ 975 milhões, o Grupo João Santos,
US$ 200 milhões na produção de cimento e calcário e, a Globe Metals, produtora de
silício metálico, com US$ 16 milhões.
48
O vulto desses investimentos para a economia paraense contribuiu para a
predominância do setor mineral na base econômica do estado, tornando a atividade
da mineração um dos pilares do atual modelo de aproveitamento dos seus recursos
minerais. O valor da produção mineral do Pará, em 2007, alcançou R$ 8,3 bilhões,
crescendo 7% em relação ao ano anterior e representando 19% do PIB e 28% do
Produto Industrial do Estado. Nas exportações, os produtos minerais paraenses
representaram aproximadamente 80% da pauta, atingindo US$ 6,4 bilhões, em
2007.
Esses resultados colocam o Pará como o segundo maior produtor mineral do
País. Entretanto, novos projetos se encontram em estudo para serem instalados: na
produção do cobre no município de Canaã dos Carajás, o Cristalino, em
Curionópolis e o Alemão, em Parauapebas; na bauxita, o Juruti, na localidade do
mesmo nome e o Vera Cruz, em Paragominas. Além desses, o Vermelho, voltado
para o níquel, em Canaã dos Carajás e o ABC, de alumina, em Barcarena.
Faz parte também dessa cadeia produtiva o segmento de gemas, jóias e
artesanato mineral, que vem se destacando no estado. foram catalogadas mais
de 200 ocorrências de depósitos e garimpos, e mais de 60 variedades de rochas
com caráter gemológico, principalmente nas regiões sul e sudeste. Dentre estes se
destacam: o diamante, o cristal de rocha, a ametista, o citrino, a malaquita, a
turmalina, o topázio, a opala, entre outras, que colocam o estado como um
importante produtor de gemas.
Além do perfil de riquezas minerais, o estado do Pará destaca-se pelos
inúmeros projetos implantados bem como pelo estabelecimento de grandes
mineradoras na região iniciando um marco de alterações profundas no cenário
econômico e político do estado, que modificaram radicalmente a estrutura produtiva.
No que se refere à instalação da ALUNORTE, a empresa enfrentou atrasos.
Em 1987, a NAAC, parceira da CVRD, hoje Vale, no negócio, decidiu não mais
investir na ALUNORTE e suas obras foram então, totalmente paralisadas. A
conclusão dessas obras só ocorreu em 1995. Neste hiato de tempo, o suprimento de
alumina para a operação da ALBRAS foi garantido pela importação daquele insumo.
A extração mineral se destacou no sudeste paraense, atualmente município
de Parauapebas, a extração do minério de ferro da Serra dos Carajás. Projeto cuja
49
condução havia sido assumida, em 1977, pela CVRD. Para tanto, montou-se uma
gigantesca estrutura envolvendo, além da company town na Serra dos Carajás, um
sistema que abarca minas, instalações de beneficiamento e um pátio de estocagem,
instalações portuárias e a Estrada de Ferro Carajás, cujos 890 quilômetros de
extensão, interligam a Serra dos Carajás ao terminal marítimo da Ponta da Madeira,
em São Luís (MA). Este sistema começou a operar em 1985. A mercantilização de
minério de ferro atingiu uma produção de 69,5 milhões de toneladas, em 2004,
representando vendas de US$ 1,32 bilhão.
No bojo dos investimentos voltados à extração do minério de ferro de Carajás,
ganhou também viabilidade econômica a exploração das jazidas de manganês do
Igarapé do Azul, ainda em Carajás, de forma que, em finais de 1985, a CVRD iniciou
a lavra daquela mina. Em 2002, a CVRD instalou uma usina de pelotização do
minério de ferro, em São Luís, que envolveu investimentos de US$ 400 milhões. Ela
tem por finalidade produzir sete milhões de toneladas de pelotas. Trata-se de uma
planta industrial que adequaria parcela (10%) do minério de ferro de Carajás às
exigências de segmentos da indústria siderúrgica.
A instalação, em São Luís, de uma aciaria para a produção anual de três
milhões de toneladas de placas de aço em parceria com compradores chineses do
minério de ferro de Carajás e a implantação, em Marabá, em sociedade com a
Nucor, uma das maiores siderúrgicas dos Estados Unidos, de uma usina destinada à
produção de 380 mil toneladas/ano de ferro-gusa, são parte da estratégia da
mineradora de criar joint-ventures com consumidores de minério de ferro para
instalação de novos projetos. Deste modo, a CVRD efetiva alianças que objetivam,
principalmente, consolidar e ampliar fatias de mercado, assim como esvaziar
possíveis pretensões desses consumidores migrarem para outros fornecedores de
minério.
Neste cenário destacam-se alguns importantes projetos que beneficiariam a
região, e de forma particular o estado do Pará. Ressalta-se aqui o Programa Grande
Carajás que incentivou em sua área de abrangência, a instalação de empresas que
se dedicassem à produção de ferro-gusa, ferro-ligas e silício metálico, chegando a
autorizar a concessão de benefícios para a implantação de 22 empresas dero-
metalúrgicas.
50
A Camargo Corrêa Metais (CCM) foi uma das empresas cuja previsão de
operação pelo PGC se concretizou. A origem do seu capital vincula-se a incentivos
fiscais concedidos, no âmbito do PGC, à Construtora Camargo Corrêa, que
participou da construção da Hidrelétrica de Tucuruí. A CCM dedica-se à produção de
silício metálico e localiza-se a 5 km da Usina de Tucuruí, no município paraense de
Breu Branco.
Considerando que nas últimas duas décadas, ocorre uma crescente produção
de ferro-gusa na região, atingindo em 2004, 4,8 milhões de toneladas e com a
instalação confirmada de novos alto-fornos na região, a produção continuará a ser
ampliada. Isso implicará no aumento do consumo de carvão vegetal, que não é
desprezível, ou seja, são necessárias pelo menos cinco milhões de toneladas de
carvão para atender esta demanda. No entanto, a pressão pelo desmatamento
continuará a ocorrer, para atender à nova demanda.
51
4 REFERENCIAL TEÓRICO
A importância do desenvolvimento é amplamente debatida em foros mundiais,
porém no que diz respeito à discussão sobre a relação do desenvolvimento e a
sustentabilidade das fontes energéticas utilizadas na produção do ferro-gusa, faz-se
necessário o entendimento de uma sequência de etapas que proporcione uma
percepção de sua dinâmica.
O referencial teórico pautado no processo de desenvolvimento compreende
forte alicerce no entendimento de questões da sustentabilidade na medida em que
facilita a compreensão de dinâmicas de exploração de atividades econômicas.
Assim, este capítulo destaca as relações entre: o crescimento e o
desenvolvimento econômico, desenvolvimento econômico e desenvolvimento
sustentável; discute algumas das principais abordagens do desenvolvimento
sustentável, e por fim observa criticamente a relação entre desenvolvimento
sustentável e exploração mineral.
4.1 O CRESCIMENTO ECONÔMICO E O DESAFIO DO DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
Tomando por base a visão de Vasconcelos (1998), o conceito dado a
crescimento econômico assenta em um crescimento contínuo da renda per capita,
num processo de longo prazo. Quando se afirma que a economia de determinado
país obteve índices positivos, em determinado período, em relação ao anterior, se
está informando que este país teve um crescimento econômico. Tal acontecimento
difere do conceito de desenvolvimento, onde é possível defini-lo como sendo as
alterações da composição do produto e a alocação dos recursos pelos diferentes
setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem estar econômico e
social. O crescimento econômico refere-se aos dados quantitativos (investimento,
crescimento populacional, mudança tecnológica e produção industrial) de um país.
o desenvolvimento econômico trata-se de um avanço em termos qualitativos
(redução da pobreza, do desemprego, das desigualdades, melhores condições de
educação, moradia).
52
O debate acerca do conceito de desenvolvimento é bastante rico no meio
acadêmico, principalmente quanto à distinção entre desenvolvimento e crescimento
econômico, pois muitos autores atribuem apenas os incrementos constantes no nível
de renda como condição para se chegar ao desenvolvimento, sem, no entanto, se
preocupar como tais incrementos são distribuídos. Deve-se acrescentar que “apesar
das divergências existentes entre as concepções de desenvolvimento, elas não são
excludentes. Na verdade, em alguns pontos, elas se completam” (SCATOLIN, 1989,
p. 24).
Segundo Furtado (1967) o desenvolvimento econômico é um fenômeno
histórico que passa a ocorrer nos países ou Estados-Nação que realizam sua
revolução capitalista, e se caracteriza pelo aumento sustentado da produtividade ou
da renda por habitante, acompanhado por sistemático processo de acumulação de
capital e incorporação de progresso técnico. Uma vez iniciado, o desenvolvimento
econômico tende a ser relativamente automático ou auto-sustentado na medida em
que no sistema capitalista os mecanismos de mercado envolvem incentivos para o
continuado aumento do estoque de capital e de conhecimentos técnicos. Isto não
significa, porém, que as taxas de desenvolvimento serão iguais para todos: pelo
contrário, variarão substancialmente dependendo da capacidade das nações de
utilizarem seus respectivos estados e sua principal instituição econômica, o
mercado, para promover o desenvolvimento.
Neste processo, e tomando por base desenvolvimento de uma visão de
espaço econômico, vinculando o Estado ao processo de desenvolvimento regional,
tratando exclusivamente do progresso que atinge uma determinada região, na qual o
Estado desenvolve ações voltadas para o direcionamento da atividade econômica
tem sido o alvo dos diversos estudos e postulados que priorizam o cenário social,
econômico e político nacional. Nesse contexto, a região é definida como um espaço
específico que incorpora um processo econômico, social, institucional e cultural
complexo, relacionando-se e interagindo com outros espaços de níveis diferentes de
desenvolvimento. O Estado, assim, atua sobre múltiplas atividades que se
desenvolvem no âmbito do espaço-regional, ou melhor, nos diversos espaços sub-
regionais. Essa atuação deve se dar em forma de hegemonia político-institucional,
que cada região é um sub-sistema com características próprias.
53
Assim, sob a ótica da ciência econômica, por exemplo, a região se caracteriza
desta forma a partir da concepção sistêmica de espaços regionais, no bojo de uma
visão macro de um conjunto complexo onde estão presentes e se relacionam
diferentes formações socioeconômicas e culturais, embora um centro dominante se
faça presente, um modelo que hoje atua enfatizando a criação e instalação de novos
subsistemas regionais, estabelecendo novos centros dinâmicos e hegemônicos.
Este modelo atualmente ocorre no Brasil, em função do processo de globalização
econômica, que inclusive tem gerado situações conflitantes entre os diversos
interesses regionais e onde são estabelecidas correlações entre os sistemas
políticos e as estruturas institucionais no âmbito do macro-espaço. Nota-se, assim,
uma certa complexidade na administração da questão regional, em função do
envolvimento de fatores importantes no processo de hegemonia do Estado-nação. É
nesse cenário que deve ser buscado o ponto de equilíbrio entre os interesses
nacionais e regionais, buscando novas políticas através do Estado-Nação, voltadas
para a composição de um projeto de interesse geral e que contemple tanto
interesses específicos dos atores em nível espacial e em nível social.
Na Amazônia, a exploração de recursos assume importância vital para o
Estado, que favorecendo a implantação de grandes projetos na região, assegura
também a expansão de empresas estatais e a sua transnacionalização.
No estado do Pará, surge o Programa Grande Carajás (PGC), no fim dos
anos 1970, que se configura a estratégia mister para a nova fase da fronteira e da
indústria de exploração mineral, em grande escala. Proposto pela Companhia do
Vale do Rio Doce (CVRD), a maior exportadora mundial de ferro e endossado pelo
Estado, o “Carajazão” propõe-se a ser o maior projeto de desenvolvimento integrado
do mundo. A ambiguidade das relações Estado/empresa estatal esteve, no entanto,
presente desde o início do programa. A face privada da CVRD configurada em sua
autonomia financeira conflituava com o autoritarismo do Estado.
Os conflitos de terras locais e o caráter de gestão da CVRD, autônoma e
baseada no saber técnico-científico, traduzem-se em dispositivos de controle que
fecham o território de Carajás, transformado em verdadeira cidadela.
Dois cleos foram planejados com funções complementares: a Vila de
Carajás, projetada para abrigar os funcionários da Companhia e Parauapebas
localizada no sopé da Serra, como depósito de mão-de-obra para a construção de
54
Carajás e suas estradas de acesso, ao mesmo tempo em que retia a migração no
sopé da cidadela. Ali, de acordo com Becker e Miranda (1991), era feito o controle
de pessoas e mercadorias.
A rapidez e o aparato técnico com que se exerce a apropriação e o controle
do território, intensifica os conflitos de terra e gera novos conflitos pelas jazidas,
como no caso de Serra Pelada. Tais conflitos de territorialidade envolvem empresas,
garimpeiros e índios.
A valorização do noroeste do Pará, precisamente o corredor da estrada de
ferro Carajás, propõe uma reorientação da ordem socioespacial vigente.
Parauapebas e Rio Verde servem fundamentalmente como locus de circulação e
concentração da força de trabalho regional. Nesta localidade foram construídos
conjuntos de moradias unifamiliares para trabalhadores da ferrovia, alguns
equipamentos de consumo coletivo, como uma escola e um hospital.
Vale destacar que muitas cidades apresentam um espaço urbano
aparentemente caótico destituído de uma infraestrutura condizente com o sítio e a
extensão da área urbanizada pelo contingente populacional residente. Ainda no
Pará, a cidade de Curionópolis, por exemplo, não se trata de uma área de garimpo
propriamente dita, mantendo, todavia, estreito vínculo com esta atividade. Hoje
procura o caminho de uma relativa autonomia, recorrendo a outras cidades do
estado, como Parauapebas, Rio Verde e Marabá (centro urbano de porte na região).
Tal como outras cidades amazônidas, as localidades de Parauapebas, Rio
Verde e Curionópolis, no Pará, hoje se colocaram como municípios criados por
legislação estadual, emancipando-se da jurisdição do município de Marabá, este
processo de emancipação configura indícios de multiplicidade das formas de ação
dos grupos sociais na fronteira, bem como de institucionalização pretendida por
interesses vários, almejando a consolidação de uma dada estrutura de poder.
Porém, é a partir dos anos 1980, que se inicia um marco de alterações
profundas no cenário econômico e político, que modificaram radicalmente a estrutura
produtiva da “fronteira”. A Amazônia passa a ser o cenário da emergência do
garimpo. Especialmente o garimpo do ouro, assumiu proporções decisivas em
relação à dinâmica da fronteira amazônica. Os impactos das atividades garimpeiras
55
foram marcantes. A seguir as principais consequências trazidas pelo crescimento da
atividade garimpeira na Região Amazônica, segundo Becker e Miranda (1991).
A maioria dos garimpeiros, corresponde a braçais vindos do Nordeste e do
próprio local, que recebem diárias ou percentagem mínima do garimpo patrão - testa
de ferro dos donos dos garimpos - uma remuneração que atende apenas às
mínimas necessidades de subsistência.
Do ponto de vista da empresa e do estado, os garimpeiros exercem o
importante papel de “rastreadores” (descobrem os minérios, desbravam a área) e os
garimpos são como válvulas de escape à tensão social como emprego alternativo à
população móvel. Cumpre ainda notar o seu papel de povoamento, inclusive na
origem e/ou expansão das cidadelas. Se alguns garimpos estagnam ou
desaparecem, outros permanecem fazendo crescer o núcleo em que se apoiaram, e
outros que lhe prestam serviços, como é o caso de Serra Pelada, Curionópolis e
Eldorado, localizados no seu sopé.
Papel de “rastreador” do garimpo, contudo, se reduz com a crescente
mineração empresarial e técnica, sendo assim, o garimpo vai perdendo seu papel de
válvula de escape para tensões sociais e uma verdadeira guerra social e tecnológica
se desencadeia entre garimpeiros (lavra manual) e os donos de garimpo (lavra
mecanizada).
No fim da década de 1980, percebem-se os primeiros indícios de reversão da
tendência expansiva do garimpo na fronteira. Ao deslocamento do investimento em
extração mineral para a Amazônia Oriental, segue-se o deslocamento de
investimentos industriais mínero-intensivos. Os efeitos de encadeamento para a
frente dos projetos minerais de Carajás são acentuados por esquemas de benefícios
fiscais e financeiros associados ao Programa Grande Carajás. Tal processo de
rápida transformação estrutural da estrutura produtiva regional coloca novas
questões como: numerosos conflitos opondo índios, seringueiros e ribeirinhos a
colonos no norte de Mato Grosso e Rondônia, área de abrangência do Polonoroeste;
a região conheceu simultaneamente taxas exponenciais de desmatamento.
Leonel (1991) afirma que os seis anos de avaliação do Polonoreste permitem
demonstrar que os colonos apenas serviram de escudo para uma política de
ocupação endocolonial e terminaram, em sua maioria, perdedores. O referido
56
Projeto acaba por revelar mais uma vez e a um custo muito alto, que o homem não é
o centro das políticas públicas na Amazônia, muito menos as populações
tradicionais amazônidas, índios, caboclos, seringueiros e ribeirinhos.
De acordo com Becker e Miranda (1991), a nova regionalização e o
rompimento das divisões administrativas oficiais, são resultado desta interação
conflituosa, em que pesam a força da modernização (descaracterizando a identidade
regional) e a presença de migrantes recentes e desenraizados (provenientes de
regiões muito diversas). Novas sociedades locais com formas específicas de
conflitos e de resistência se constituem hoje na fronteira.
O espaço pré-existencial é então redefinido, formando-se regiões exatamente
nas áreas de maior conflito, onde se superpõem todas as frentes e todos os atores
em jogo.
O ser humano, nas primeiras civilizações, teve como objetivo principal na
vida, prosperar e possuir uma quantidade cada vez maior de riqueza e de bens. A
cultura do acúmulo de riqueza e de um consumo cada vez maior de bens e serviços
faz parte então dos costumes de qualquer sociedade e economia no mundo. O
crescimento econômico é objetivo para qualquer economia. Atualmente conceituado
com um aumento da produção, este crescimento econômico gera uma série de
impactos negativos (degradação) sobre os recursos naturais e ambientais.
No longo prazo, estes impactos negativos levam a uma deterioração
irreversível das reservas destes recursos, prejudicando desta forma o desempenho e
a prosperidade das economias. O estudo do nível de degradação dos recursos
naturais e ambientais e sua relação com o nível de crescimento econômico de uma
nação são desta forma, de grande importância.
Fica claro, portanto a necessidade de um crescimento econômico sustentável,
onde as preocupações com a qualidade levem ao desenvolvimento do capital
humano e ao desenvolvimento social, e que todas as atividades nessas áreas
dediquem atenção especial ao meio ambiente a fim de assegurar a sustentabilidade
do crescimento econômico
57
4.2 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O DESAFIO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
No item anterior foi abordado o ciclo de crescimento e desenvolvimento
econômico pelo qual a Amazônia atravessou, apresentando as disparidades sociais
resultantes deste crescimento e as consequências ambientais, portanto será
trabalhado nesse item a relação entre desenvolvimento econômico e
desenvolvimento sustentável para que se possa então mostrar a relação existente
entre ambos.
O conceito de Desenvolvimento Sustentável surgiu da necessidade de
implantar uma nova política de desenvolvimento, onde o crescimento econômico
está vinculado à preservação da natureza, ao contrário da potica vigente até
meados dos anos 1970 a qual os recursos naturais eram usados sem a
preocupação com sua renovação, com a preservação dos ecossistemas e o uso
excessivo e/ou inadequado dos recursos naturais causando a poluição da água, do
ar e do solo.
Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(CMMAD) definiu Desenvolvimento Sustentável como aquele que atende às
necessidades do presente, sem comprometer as possibilidades de atender as
necessidades das gerações futuras, estando a proteção ambiental ligada ao
conceito de desenvolvimento sustentável.
O desenvolvimento sustentável é um meta-arranjo que une a todos, do
industrial preocupado com seus lucros, ao agricultor de subsistência
minimizador de riscos, ao assistente social ligado ao objetivo de maior
equidade, ao primeiro mundista preocupado com a poluição ou com a
preservação da vida selvagem, ao formulador de políticas maximizador do
crescimento, ao burocrata orientado por objetivos e, portanto, ao político
interessado em cooptar eleitores (MUELLER, 2007).
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, o
Desenvolvimento Sustentável pode melhorar a qualidade de vida das pessoas, deve
ser encarado como um objetivo a ser alcançado por todo o mundo, enfatizando a
importância da superação das disparidades entre países ricos e pobres como meio
de alcance do sucesso. A busca do Desenvolvimento Sustentável exige mudanças
nas políticas internas e internacionais de todas as nações, sendo fundamental a
união de todos para se conseguir esse desenvolvimento (CMMAD, 1991, p. 48).
58
Devido à falta de comunicação, os grupos de assistência ao meio ambiente,
à população e ao desenvolvimento ficaram separados durante muito tempo,
o que impediu que tomássemos consciência de nosso interesse comum e
de nossa força conjunta. Felizmente, essa falha es sendo sanada.
Sabemos agora que o que nos une é muito mais importante que o que nos
divide.
Reconhecemos que a pobreza, a deterioração do meio ambiente e o
crescimento populacional estão indissoluvelmente ligados, e que nenhum
desses problemas fundamentais pode ser resolvido isoladamente.
Venceremos ou fracassaremos juntos.
Chegar a uma definição de desenvolvimento sustentável aceita por todos
continua sendo um desafio para todos os que estão empenhados no
processo de desenvolvimento.
O Desenvolvimento Sustentável consiste em uma nova forma de produção
onde o acesso aos recursos naturais ocorre com sustentabilidade visando o lado
social, econômico e ecológico, derrubando o estilo de desenvolvimento reinante,
perverso e injusto socialmente, e precário ecologicamente, ou seja, é necessário um
sistema de produção que vise a preservação do meio ambiente. Os objetivos do
Desenvolvimento Sustentável são o retorno ao crescimento com o combate à
pobreza que impossibilita as pessoas de satisfazerem suas necessidades básicas
além de utilizarem os recursos naturais de modo insustentável. Além do crescimento
é necessário que o desenvolvimento seja equitativo, atenda às necessidades
essenciais de emprego, alimentação, ou seja, necessidades humanas, o controle do
nível populacional, a conservação e a melhoria da base dos recursos que é muito
mais caro limpar o que foi poluído do que preservar. É necessário uma mudança
no estilo de vida dos países para que os mesmos sejam compatíveis com os
recursos disponíveis, um empenho político que viabilize o desenvolvimento, a
inclusão do meio ambiente e a participação dos cidadãos no processo decisório
(CMMAD, 1991).
Para que ocorra o Desenvolvimento Sustentável se fazem necessários alguns
princípios: na esfera política a construção de um consenso da proposta; na esfera
social a erradicação da pobreza, uma distribuição equitativa dos benefícios
diminuindo as disparidades, saúde, educação; na esfera cultural o reconhecimento e
o respeito da diversidade cultural; na esfera ambiental/ecológica o respeito à
capacidade de carga dos ecossistemas; e na esfera econômica a geração de renda
e emprego sem prejuízos ambientais e com responsabilidade social.
59
O desenvolvimento sustentável pressupõe crescimento para todos, o alívio e
redução da pobreza, uma oportunidade de uma vida melhor, tratando as
necessidades da mesma forma para todos os países tanto no presente como no
futuro, representa uma tomada de consciência dos impactos da intervenção humana
sobre os ecossistemas.
É necessário ter convicção do que realmente se quer sustentar que muitas
vezes apenas se o desenvolvimento como crescimento. Rattner (1994, p. 2)
afirma que: o crescimento econômico não leva necessariamente, a redução da
pobreza, sobretudo quando combina uma distribuição flagrantemente desigual do
produto social com o uso predatório e devastador dos recursos naturais”. O
desenvolvimento tem que garantir também as necessidades básicas e o
desenvolvimento sustentável visa esse desenvolvimento o qual tem-se que ter claro
o que sustentar, tentando equilibrar a sustentabilidade do desenvolvimento e a
sustentabilidade ambiental.
O desenvolvimento sustentável conseguiu um grande avanço ao fazer parte
dos Programas dos Governos e Instituições, mas o resultado de tanto discurso ainda
não foi visto, já que a distância do discurso e da prática é enorme e persiste, pois os
tomadores de decisão estão longe da realidade.
O modelo de crescimento econômico que não leva em consideração as
questões ambientais e sociais apresenta como uma das principais consequências a
geração de enormes desequilíbrios de caráter social, econômico e ambiental, pois,
se por um lado alguns setores da sociedade se beneficiaram com esse modelo de
crescimento, a maioria da população observa um aumento significativo dos índices
de pobreza e degradação ambiental, trazendo prejuízos para toda a sociedade.
Diante dessa constatação, o desenvolvimento sustentável se apresenta como forma
de se buscar a conciliação entre desenvolvimento econômico e preservação
ambiental.
Falar em desenvolvimento sustentável significa que a formulação das políticas
de crescimento e de desenvolvimento dos setores público e privado deve considerar,
de forma mútua e equilibrada, os aspectos ambiental, social e econômico. E é a
busca do equilíbrio desses três aspectos o maior desafio para se implementar o
desenvolvimento sustentável.
60
Assim, o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
do presente, sem comprometer a capacidade de as futuras gerações atenderem às
suas próprias necessidades, ou seja, é preciso criar um modelo econômico capaz de
gerar riqueza e bem-estar ao mesmo tempo em que promove a coesão social e
impede a destruição da natureza. É a utilização dos recursos naturais sem
comprometer sua produção, fazendo proveito da natureza sem devastá-la e
buscando a melhoria da qualidade de vida.
Para que o estado apresente um desenvolvimento econômico com
responsabilidade ambiental, é fundamental que aspectos como o planejamento das
ações para um ambiente ecologicamente equilibrado e cidadãos conscientes de
seus direitos e deveres sejam sempre utilizados.
Crescer significa aumentar a exploração acima do que exploramos. Se vamos
aumentar precisamos de mais recursos. Por isto questionamos se desenvolvimento
sustentável é compatível com crescimento. Maior crescimento populacional, maior
demanda por produtos industriais, ou seja, crescimento, e isto é o centro da crise.
Assim, quando se propõe um desenvolvimento sustentável é necessário
responder a uma pergunta crucial: Até que ponto se pode crescer? É compatível o
crescimento e o desenvolvimento sustentável? Como crescer e não agredir a
natureza? Parece que estes termos não podem ser colocados do mesmo lado:
sustentável e crescimento.
É sempre presente a preocupação relativa aos meios de produzir, assim
como, nas muitas formas de se extrair mais. O fato é que se não produz, mas se
toma daquilo que existe na natureza e se manipula, o que pode ser feito de forma
inteligente ou de forma depredatória.
Verifica-se que a observação de determinados aspectos é de extrema
importância para que o setor empresarial busque soluções e alternativas que visem
a implementação de processos produtivos cada vez mais ambientalmente
sustentáveis, tais como: o conhecimento do próprio negócio, o investimento na
melhoria da performance ambiental e social da empresa, a adoção do princípio da
precaução na gestão dos riscos ambientais, a escolha de tecnologias limpas, a
necessidade de se buscarem parcerias ou alianças estratégicas com a sociedade
civil e, principalmente, a extrema importância de priorizar a transparência nas ações
61
da empresa com as comunidades do entorno com o propósito de transformar o
desenvolvimento apenas econômico, em desenvolvimento sustentável.
4.3 ABORDAGENS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O reconhecimento da atual crise ambiental, a partir da compreensão da
finitude dos recursos naturais e das injustiças sociais provocadas pelo modelo de
desenvolvimento atual, fez surgir a necessidade urgente da coexistência harmoniosa
dos seres humanos entre si e com as demais formas de vida do planeta, tornando-se
fator indispensável nas discussões e reflexões que envolvem o futuro.
De acordo com o relatório Brundtland (1987), desenvolvimento sustentável “é
aquele que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade
de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. A partir desta
definição inúmeras possibilidades de operacionalizar este referencial normativo têm
sido construídas por diferentes autores de diversas áreas do conhecimento. Dentre
as principais encontram-se: internacionalização seletiva; periferia exportadora;
desenvolvimento endógeno; conservação produtiva; verticalização produtiva e
extrativismo vegetal, no sentido de melhor explorar o assunto em foco, assim como
facilitar a compreensão de todo o processo que envolve a extração mineral em seus
aspectos sociais, econômicos e ambientais.
4.3.1 Internacionalização seletiva
A internacionalização seletiva pode ser definida como o processo de
envolvimento progressivo em operações internacionais (WELCH, 1999). A utilização
desta definição ampla permite considerar todas as operações desenvolvidas nos
mercados externos e os fluxos de transações realizadas no mercado de origem
envolvendo estruturas e agentes externos. Durante as últimas duas décadas, o
interesse pelo tema tem crescido em ritmo acentuado não apenas entre os
empresários e os investidores, mas também entre acadêmicos e responsáveis pelas
políticas de desenvolvimento.
62
Neste processo, e tomando por base o objeto do presente estudo, observa-se
que o estado do Pará, inserido no contexto amazônico, descola parcialmente do
processo econômico nacional intensificando sua articulação mundial, na base de
grandes investimentos externos e elevada exportação de recursos naturais para os
países desenvolvidos.
Desta forma, apesar de um ritmo ainda elevado de exploração dos recursos
naturais, tende a diminuir o processo de degradação do meio ambiente, uma vez
que a produção e a exploração da biodiversidade é compatível com a conservação
ambiental.
A persistência da crise econômica e da instabilidade política no contexto
nacional, frente a um cenário mundial de retomada do crescimento e consolidação
do novo paradigma tecnológico criam as condições para a penetração econômica
das grandes potências e conglomerados internacionais na Amazônia, com destaque
para o estado do Pará, implementando um novo padrão de exploração dos recursos
naturais.
A ausência de uma ação política nacional consistente limita a expansão de
investimentos brasileiros na região, ao mesmo tempo em que favorece a entrada de
massas razoáveis de capital internacional, em busca da exploração dos recursos
bióticos. Esse investimento, que acompanha a evolução rápida de demanda
mundial, promove uma taxa média de crescimento de cerca de 6% ao ano na região
durante as duas décadas do cenário. Como a população tende a um crescimento
modesto neste contexto, a renda per capita da região apresenta ainda um razoável
ritmo de crescimento. No entanto, como é pequena a internalização da renda, e
limitada a verticalização do processo produtivo, o estado do Pará registra uma
melhora apenas moderada da qualidade de vida, além de absorver muito pouco dos
novos avanços científicos e tecnológicos que penetram pela via desta integração
mundial.
É importante lembrar que a ocupação da região e do estado do Pará ocorreu
de forma coerente com o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil, que por sua
vez corresponde ao processo mais amplo de internacionalização do capital. A
consequência inevitável deste processo é o surgimento de uma nova forma de
investimento, não mais baseado apenas nas exportações e importações as
63
empresas multinacionais, que visam a maximização da taxa de lucros da companhia
e são detentoras de um poder de decisão que não está sujeito ao país hospedeiro.
Desta forma, a ideia de desenvolvimento, progresso e principalmente
financiamentos, passa a ser associada a fazer uso de todos os meios para atrair as
multinacionais, investindo em infraestrutura, numa política de incentivos fiscais e
subsídios. Nasce, assim, a forma de capitalismo associado com a aliança entre o
Estado, a burguesia nacional e as empresas multinacionais. Neste sentido, percebe-
se que a atuação do Estado deixa de ter um caráter genuinamente nacionalista, e
passa a corresponder ao processo de internacionalização do capital.
Em um mundo interdependente, onde a economia é predominantemente
transnacional, as empresas multinacionais detêm o poder de decisão e respondem
aos interesses de sua matriz e não dos países hóspedes, onde o capitalismo
nacional independente está claramente desfalecido “e a desnacionalização é uma
consequência inevitável do processo de internacionalização do capital”, não se pode
mais falar em Soberania Nacional, pois uma característica deste Estado
transnacionalizado seria justamente a perda da Soberania, enquanto valor absoluto
das Relações Internacionais, principalmente no que concerne à questões de ordem
econômica. Pode-se, então, relativizar o conceito de Soberania Nacional onde a
lógica nacionalista deixa de ser determinante neste processo: “Os limites do capital é
o próprio capital e não a Nação. Os limites do capital são dados por sua capacidade
de realização como capital e não pelas ”economias nacionais”.
Como conseqüência deste processo de transnacionalização de que
estamos falando, principalmente a partir da década de cinqüenta, os
principais países da América Latina apelaram para a “industrialização a
qualquer preço” para superar o subdesenvolvimento. O que esperava-se era
a modernização do continente, que significava a urbanização de todas as
regiões, a penetração do capitalismo em todos os setores, principalmente o
rural e a idéia de atraso que seria substituído pelo de progresso (BEZERRA;
VERÍSSIMO; UHL, 1997, p. ...).
Embora a industrialização tenha acarretado períodos de crescimento e algum
grau de desenvolvimento, a maioria dos países em desenvolvimento com
industrialização recente ainda é marcada por algumas das características básicas do
atraso socioeconômico: baixa renda per capita para a maioria da população,
distribuição de renda desigual e dependência tecnológica.
64
4.3.2 Periferia exportadora
Segundo Furtado (1986), quando Prebisch lançou a tese centro-periferia
procurava explicações e soluções para os problemas de desenvolvimento da
América Latina, em bases alternativas àquelas da teoria econômica ortodoxa. Em
seu pensamento, a América Latina fazia parte de um sistema de relações
econômicas internacionais que funcionava como uma espécie de constelação, na
qual os países industrializados estariam no centro e a América Latina ficava na
passiva periferia.
O sistema tinha uma lógica interna que favorecia o centro, que se organizava
de maneira a atender a seus próprios interesses, fazendo com que a inserção da
periferia tivesse um caráter passivo.
O centro era produtor de manufaturas e historicamente responsável pelo
desenvolvimento tecnológico, cabendo à periferia fornecer matérias-primas, dado
suas dotações
de recursos naturais.
O papel do progresso tecnológico é chave para compreender o
desenvolvimento
desequilibrado entre centro e periferia
,
pois sua disseminação e,
consequentemente, a distribuição dos ganhos de produtividade não eram uniformes
entre os países. Prebisch (1984) baseava seus argumentos em evidências empíricas
que revelavam uma desigualdade muito grande entre os
produtores e exportadores
de bens manufaturados e os produtores e exportadores de commodities
primárias,
manifestada nas diferenças de elasticidade de demanda desses dois tipos de bens e
na
tendência à deterioração dos termos de troca das commodities primárias. Esse
fenômeno
realimentava a lógica do sistema num ciclo vicioso, onde a dependência
da periferia
era cada vez
maior, não apresentando condições endógenas de
reversão dessa situação.
Assim, a periferia como produtora e exportadora das commodities primárias
estava em tripla desvantagem: seus produtos tinham baixa elasticidade de demanda
restringindo a possibilidade de aumentar as exportações –, havia uma tendência a
deterioração dos termos de troca dos mesmos – exigindo um volume cada vez maior
de exportações para manter a mesma receita e sua inserção nas relações
econômicas internacionais era passiva, sugerindo a manutenção indefinida desse
status, caso não fossem adotadas políticas ativas no sentido de mudar a lógica
65
perversa do sistema. Ademais, a periferia era heterogênea e possuía uma inserção
diferenciada, variando de país a país conforme a habilidade política e a capacidade
econômica de mobilização dos recursos. Dessa forma, a estrutura e o dinamismo
econômicos de cada país eram função do tipo de inserção, definindo também a taxa
de absorção do progresso tecnológico.
Esse desenvolvimento voltado para fora, com a concentração do
desenvolvimento tecnológico e de seus frutos no setor exportador, reforçou
uma estrutura social heterogênea, na qual uma grande parte da população
ficou à margem do processo de desenvolvimento. As outras atividades não
exportadoras não se beneficiaram do progresso tecnológico, permanecendo
com a produtividade do trabalho muito baixa. Ou seja, os resultados
econômicos (e tecnológicos) do desenvolvimento da periferia, subordinado
aos interesses do centro, concentrou-se nas mãos das elites diretamente
beneficiárias – as classes exportadora e política (FURTADO, 1986).
Nesse contexto, a industrialização por meio de uma política de incentivos, a
fim de criar infraestrutura e elevar a taxa interna de acumulação de capital, era a
solução para reverter esse quadro, apesar de que para os economistas
convencionais a industrialização deveria ser espontânea.
Prebisch (1984)
propunha a industrialização via substituição de importações,
a fim de contrabalançar a
tendência à deterioração dos termos de troca e a baixa
elasticidade de demanda dos bens
primários, além de absorver o grande contingente
de mão-de-obra de baixa produtividade e os que fossem marginalizados pelo
progresso tecnológico nos setores exportadores e na agricultura
voltada para o
mercado interno. Eram esperadas, portanto, mudanças nas estruturas produtivas
pela maior elasticidade da demanda dos bens manufaturados, evitando alocação
adicional dos
recursos produtivos na produção de commodities primárias.
Apesar da periferia ser exportadora de commodities primárias, portanto
intensiva no uso de recursos naturais, a questão ambiental não estava presente na
análise de Prebisch (1984), bem como da quase totalidade dos economistas antes
da década de 1960, independente da corrente de pensamento - somente a partir da
década de 1970 a questão ambiental vai ganhar espaço na análise econômica,
ainda que marginalmente. Consequentemente, não havia preocupação com a
sustentabilidade dessas atividades, com pouca importância atribuída aos riscos de
exaustão de recursos ou aos problemas de degradação do meio ambiente
deteriorando as condições de vida da população
66
Porém, a industrialização que se espalhou para a periferia estava baseada
em padrões tecnológicos intensivos em recursos naturais e energia, obtida
principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis e carvão mineral. Essa
base energética está associada a problemas de poluição ambiental em todos os
seus níveis: globais, por serem responsáveis pela intensificação do efeito estufa e
pela degradação da camada de ozônio, transfonteiriços, como as chuvas ácidas e
locais, a degradação da qualidade ambiental dos solos, dos corpos hídricos e da
atmosfera. Por essa razão, os movimentos sociais nos países do centro passaram a
pressionar crescentemente seus governos para que tais atividades fossem
controladas ou mesmo banidas de seu território.
Essas restrições ambientais para atividades “sujas” nos países
industrializados combinadas à intensificação do comércio internacional permitiu a
expansão de indústrias mais poluentes para a periferia, que gradualmente passou a
exportar, além das tradicionais commodities primárias, commodities manufaturadas
de baixo conteúdo tecnológico e intensiva em recursos ambientais, recursos
naturais, energia e poluição caracterizando uma nova divisão internacional do
trabalho. Ou seja, embora algumas indústrias ambientalmente complicadas tenham
sobrevivido no centro, as pressões sociais por um ambiente mais limpo aliadas ao
domínio do desenvolvimento tecnológico, inclusive de tecnologias mais saudáveis ao
meio ambiente, permitiu que a indústria do centro diminuísse consideravelmente sua
participação na poluição total.
A periferia, entretanto, além de passar a produzir e exportar commodities
industriais e primárias, de baixo valor agregado, também passou a ter que conviver
com elevados níveis de poluição industrial, devido aos processos e métodos de
produção adotados. Entretanto, essa situação revela uma dupla exclusão: A
primeira, da distribuição desigual dos frutos do progresso, ficando as camadas mais
abastadas com parcelas maiores da renda e da riqueza geradas. Além do mais,
foram beneficiados por um padrão de consumo mais elevado e mais intensivo em
emissões; A segunda, a ambiental, pois o essas camadas excluídas que mais
sofrem com os problemas gerados pela poluição, as áreas poluídas ficam
desvalorizadas, incentivando sua ocupação pela população de baixa renda; locais
onde vivem essas populações podem ser mais facilmente poluídos, pois elas não
67
apresentam força política nem organização suficiente para evitar problemas
ambientais.
Frente ao exposto acima, o objetivo deste item é mostrar a atualidade do
modelo centro-periferia, mas introduzindo aspectos oriundos do debate sobre
desenvolvimento sustentável. A dinâmica do modelo não é guiada pela tradicional
dualidade entre matérias-primas e produtos industrializados, mas pelos
determinantes sistêmicos da competitividade: o estabelecimento de uma indústria
baseada em mão-de-obra e recursos naturais baratos não resultou na esperada
solução dos problemas econômicos e sociais apesar da maior participação de
manufaturados no produto e pauta de exportações. Em seguida, o texto explora as
possíveis relações entre “atraso” e “modernidade”, enfatizando a questão ambiental
como um dos possíveis eixos de análise, e mostra que a eliminação da “exclusão
ambiental” deve ser perseguida simultaneamente com a redução das desigualdades
econômicas e sociais para um desenvolvimento equilibrado.
A Região Amazônica, como o estado do Pará, mantém seu papel de
"almoxarifado" da economia nacional e do mundo, reforçando sua posição de grande
exportador de matérias-primas e recursos naturais, tanto dos convencionais, quanto
de novos minérios e recursos bióticos. Cresce sua integração econômica e comercial
com o resto do país e o exterior, apresentando taxa de crescimento elevada,
estimulada externamente pela demanda de recursos naturais e importantes
investimentos de capital. No entanto, esta exploração dos recursos naturais da
região ocorre de forma intensa e pouco internalizada, deixando pouco resultado em
riqueza e verticalização da produção, muita deterioração e degradação do potencial
de recursos.
O cenário decorre da combinação de um contexto mundial de retomada do
crescimento, resultante de um acordo entre as grandes potências - excludente dos
países menos desenvolvidos - com um cenário nacional dominado pelo projeto
liberal-modernizante. Estas condições do contexto demandam grande oferta de
insumos minerais e energéticos para acelerar o crescimento e modernização
nacional, e geram uma limitada atuação do Estado na desconcentração regional e
no controle ambiental.
Desta forma, a economia regional cresce em torno de taxas médias de 9% ao
ano, nas duas décadas, e a população continua a elevar-se com uma migração
68
persistente, mas moderada. Ao mesmo tempo, prossegue a depredação do sistema
ecológico da Amazônia, embora em ritmos bem menos intensos que nas décadas de
1970 e 1980. O produto per capita cresce, mas o padrão e a qualidade de vida do
amazônida não apresentam melhora visível, chegando a piorar em algumas áreas e
setores, consequência da baixa internalização da renda e degradação do meio
ambiente.
A heterogeneidade estrutural é fruto do atraso da base social na qual se
estabeleceu o capitalismo na América Latina e do caráter oligopolista
6
imposto pelo
padrão (internacionalizado) de produção adotado. Este, portanto, estava apto a
funcionar com elevado grau de exclusão social porque era uma condição de sua
formação. A literatura passada deu grande ênfase à exclusão vista por seus
aspectos estritamente econômicos (renda e emprego), mas pouco se disse sobre
condições materiais de vida. A crise social atual obriga, porém, que essas outras
manifestações do processo de exclusão e marginalização sejam incluídas na
análise: a violência urbana, os conflitos de terra e a exclusão ambiental são as
outras faces do desenvolvimento excludente.
A revalidação da análise centro-periferia exige a inclusão desses outros
elementos, visto que o objetivo fundamental não é meramente o crescimento
econômico, mas o desenvolvimento sustentável. Essa reconfiguração não pode ser
baseada na dicotomia matérias-primas versus produtos manufaturados, mas sim na
capacidade endógena de desenvolvimento tecnológico. Isso significa que fatores
“espúrios” não podem ser aceitos como determinantes da competitividade a
dependência de recursos naturais e mão-de-obra desqualificada e barata. Não se
pode cair de novo na armadilha de confundir mudança na composição setorial com
desenvolvimento autêntico: o primeiro é condição necessária, mas não suficiente
para o último.
Isso indica que abordagens multidisciplinares passam a ser essenciais para a
concretização do aumento de equidade e outras propostas de desenvolvimento. O
passado nos mostrou que a solução dos problemas sociais não vem
necessariamente a reboque das soluções econômicas, e a questão ambiental é,
6
Relativo à oligopólio. É uma estrutura de mercado caracterizada por poucos produtores, que
percebem que agir de forma interdependente significa maior lucratividade do que a ação
independente. Neste modelo, não existe incentivo para competição nos preços, pois uma empresa
tende a seguir o comportamento da outra.
69
sem dúvida, um dos destaques entre os novos temas a serem incluídos no núcleo do
debate sobre desenvolvimento.
4.3.3 Desenvolvimento endógeno
O Desenvolvimento Endógeno tem como expressão chave a convergência e a
interação. É um processo onde o território, no sentido amplo do termo, atua
ativamente na formação de estratégias que influenciam sua dinâmica econômica.
Segundo Vasquez Barquero (2001), ele não é apenas um receptor passivo das
determinações de grandes empresas, por exemplo. A interação entre os atores
públicos e privados é fundamental para gerar a sinergia necessária para o processo
de desenvolvimento. Juntamente com isso, o papel dos atores locais e as formas de
capital intangível também têm importância relevante. É um projeto coletivo de
desenvolvimento que se articula dentro de um território, daí a idéia de endogenia.
Para se entender em que contexto está inserida a noção de desenvolvimento
endógeno se faz necessário contextualizar o modo de produção capitalista no século
XXI que é por sua vez marcado pela consolidação do modo de produção e
acumulação flexível. Essa forma de se produzir também chamada de toyotista,
fazendo alusão à empresa que inaugurou esse modo de organização produtiva,
difere do clássico modelo fordista de produção. O segundo modelo tem como base
organizacional a grande empresa verticalizada e incorporadora de diversas etapas
do processo produtivo, detendo grande parte dos elos da cadeia.
Essa forma de produzir tem implicações na organização espacial da
produção, pois as funções do processo se concentravam em apenas uma grande
empresa, consequentemente em uma localidade específica. Não há espaço, no
modo de produção fordista, para que empresas menores e locais desenvolvam
atividades diretamente ligadas à empresa central.
o modo de produção flexível procura descentralizar a produção
terceirizando diversas etapas do processo produtivo. A empresa motriz se encarrega
do desenvolvimento dos padrões de produção, das novas tecnologias e decisões
estratégicas. Abre-se então espaço para que se pense em desenvolvimento local,
70
pois é possível aumentar a participação de pequenas empresas locais no processo
de produção de uma mercadoria final.
Assim, o Modelo Endógeno de Ocupação representa a população local, com
modos de produção sustentáveis que não agridam ou causem o mínimo de dano à
natureza, preservando desta forma a biodiversidade da Amazônia.
O desenvolvimento regional endógeno pode ser definido como um processo
interno de ampliação contínua da capacidade de agregação de valor sobre
a produção, bem como da capacidade de absorção da região, cujo
desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia
local e/ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. Este
processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto, e da
renda local ou da região, em um modelo de desenvolvimento regional
definido (AMARAL FILHO, 1996, p. 37).
Segundo Amaral Filho (1996) a capacidade que a sociedade tem de liderar e
conduzir o seu próprio desenvolvimento regional condicionando-o à mobilização dos
fatores produtivos disponíveis em sua área e ao seu potencial endógeno, traduz a
forma de desenvolvimento denominado endógeno. Assim, distingue-se duas
dimensões no desenvolvimento regional endógeno. Uma primeira, econômica, na
qual a sociedade empresarial local utiliza sua capacidade para organizar, da forma
mais producente possível, os fatores produtivos da região. Uma segunda,
sociocultural, onde os valores e as instituições locais servem de base para o
desenvolvimento da região.
Nesse contexto a Amazônia apresenta uma relação econômica onde o
crescimento econômico ocorre em maior proporção que o desenvolvimento
econômico, ou seja, os recursos financeiros gerados na região não o aplicados e
revestidos em melhoria na qualidade do bem-estar dessa sociedade. Haja vista, que
o desenvolvimento da região ocorre a partir da articulação e vontade da sociedade
local. Uma vez que a população se expande de forma moderada e a renda per
capita cresceu a taxas modestas nas últimas duas décadas.
Este cenário tem como moldura uma forte restrição exógena ao crescimento
econômico da Amazônia, decorrente de uma situação mundial de instabilidade
política e crescimento moderado, que dificulta a remoção dos estrangulamentos,
limitando o aceleramento da revolução tecnológica. Ao mesmo tempo, domina no
Brasil, um pacto social-reformista fortemente orientado para o desenvolvimento
nacional endógeno, enquanto as condições econômicas mundiais não são
71
favoráveis. Por conta desta combinação do contexto mundial e nacional, tanto a
demanda de recursos naturais estaciona e em alguns casos declina, quanto a
tecnologia evolui de forma moderada; por outro lado, a orientação do investimento
nacional e das políticas nacionais favorecem a desconcentração regional, a
internalização da renda e a conservação dos recursos naturais.
Neste caminho, uma das maiores contribuições da teoria endogenista foi
identificar quais são os fatores de produção atualmente decisivos para o modelo,
como o capital social, o capital humano, a pesquisa em desenvolvimento, a
informação e as instituições, e uma rede de telecomunicações, são determinados
dentro da região e não de forma exógena, como até então era entendido. Por
conseguinte, logo se concluiu que a região dotada destes fatores ou
estrategicamente direcionada para desenvolvê-los internamente reuniria as melhores
condições de atingir um desenvolvimento padronizado e com uma relação de
preservação do meio ambiente.
4.3.4 Conservação produtiva
O processo de conservação produtiva traduz-se como uma alternativa de
desenvolvimento sustentável para a Região Amazônica face às recorrentes
discussões sobre a problemática ambiental, carecendo de maiores estudos sobre
seus potenciais. Tal cenário serve de base às atuais iniciativas governamentais,
considerando que o grande desafio consiste na implementação de políticas públicas
que alterem o padrão de desenvolvimento vigente no sentido de gerar: maior justiça
social, contenção do desflorestamento e utilização racional do meio ambiente de
forma conservacionista (ALLEGRETTI, 1989; COSTA FILHO, 1995).
O crescente reconhecimento de que as atuais formas predatórias de
desenvolvimento na região acarretam pesados ônus socioeconômicos e ambientais
se alia neste momento à compreensão da necessidade da busca do
desenvolvimento sustentável. Dessa forma, enfatiza-se o desenvolvimento
sustentável mediante duas faces ambientais complementares: conservação da
biodiversidade concomitante com a manutenção das populações tradicionais
(BECKER, 2001).
72
O desmatamento é a degradação ambiental mais visível da forma
predominante de desenvolvimento na Amazônia, embora sua medida seja complexa
metodologicamente. Decorrem dos desmatamentos, sérios impactos ambientais, tais
como perda da biodiversidade, emissão dos gases de efeito estufa e perda da
ciclagem da água, além de impactos sociais como o desaparecimento de
populações tradicionais (FEARNSIDE, 2000; HALL, 2000). De acordo com Pearce,
Putz e Vanclay (1999) esses impactos se traduzem em risco para as funções
ecológicas e econômicas das florestas cujas avaliações têm sido realizadas pelos
diversos fóruns mundiais sobre o tema.
Conforme Hall (2000) as Unidades de Conservação (UC) surgem como
resultados de políticas ambientais independentes do processo desenvolvimentista,
essencialmente após os anos 1960. Inicialmente baseadas em ilhas estratégicas de
conservação de biodiversidade de uso indireto. Com o crescente movimento
ambientalista mundial aliado ao crescente movimento das populações tradicionais,
as Reservas Extrativistas (RESEX) surgiram como uma alternativa de atenuar o
problema fundiário de concentração de terra, promover a exploração dos recursos
naturais de forma sustentável e de conservar a biodiversidade no território
amazônico (ALLEGRETTI, 1989; COSTA FILHO, 1995).
Hall (2000) admite que as UC obtiveram algumas realizações promissoras,
mas enfatiza a existência de uma incógnita sobre seu potencial de proteção
ambiental, em virtude de sua limitada abrangência e essencialmente pela força
poderosa do desenvolvimento. Portanto, a necessidade premente de
implementação de novas UC, em particular as de conservação produtiva e
consequentes avaliações de seus potenciais.
Nesse sentido, se é preocupante o tamanho da área desmatada em toda a
Amazônia, mais ainda é a constatação do aumento da taxa de desmatamento dentro
das RESEX. Isso evidencia que as implementações de forma singulares de políticas
de comando e controle, corporificadas nas RESEX, o são suficientes para
viabilizá-las, pois além de não garantirem a manutenção dos extrativistas, não estão
contendo o desflorestamento.
Desta forma, o processo de conservação produtiva apresenta-se como
alternativa de desenvolvimento sustentável para o estado do Pará face às
recorrentes discussões sobre a problemática ambiental, carecendo de maiores
73
estudos sobre seus potenciais. Atualmente o grande desafio consiste na
implementação de políticas blicas que alterem o padrão de desenvolvimento
vigente no sentido de gerar: maior justiça social, contenção do desflorestamento e
utilização racional do meio ambiente de forma conservacionista.
Essa opção pela manutenção do extrativismo vem causando polêmica por
algumas correntes de pensamento. Por um lado, alguns autores, como Homma
(1989), enfatizam que o extrativismo vegetal está fadado ao extermínio no médio e
longo prazo em virtude do que vem acontecendo. Por outro lado, autores, tais
como Kageyama (1996) e go (1996), que defendem a viabilidade do extrativismo
a partir de alternativas factíveis com base em um novo sistema de produção
denominado Neoextrativismo. Um ponto comum entre todos é a afirmação sobre o
imenso atraso tecnológico existente nas regiões extrativistas e a necessidade
urgente de superação desse entrave para um efetivo desenvolvimento.
Nota-se que uma das premissas básicas para a sustentabilidade das RESEX
é a implementação de instrumentos econômicos que estimulem alternativas
produtivas que promovam o processo de inovação tecnológica. Pois, conforme
Schumpeter (1984), a inovação é o motor do desenvolvimento, constituindo-se no
elemento fundamental de mudança econômica do mundo atual. Dosi (1984) enfatiza
que no processo de busca e seleção dentro da dinâmica concorrencial capitalista a
inovação assume lugar de destaque no sentido de diminuir as incertezas inerentes a
esse processo seletivo.
4.3.5 Verticalização produtiva
A verticalização da produção está diretamente ligada às características do
território, enquanto recursos e enquanto possibilidade. Primeiro, pela ocorrência do
minério, condição sine qua non, uma vez que a exploração mineral não ocorre sem a
matéria-prima, mas nem toda matéria-prima (no caso do presente estudo, o carvão)
é explorada economicamente. Então o território emerge como um dado concreto,
através de seus recursos, mas somente a presença dos recursos não é suficiente.
Outros elementos entram na composição das decisões das empresas: a localização,
a densidade de investimentos que a região comporta, a qualidade dos fixos e a
74
quantidade de fluxos que essa região mantém com outras regiões, a qualificação e a
experiência da mão-de-obra, demandas de mercado, política econômica, as
rugosidades.
De acordo com Hirschman (1958), algumas atividades, mais do que outras
possuem potencial para irradiar efeitos de repercussão em cadeia, de modo a criar
fortes estímulos para que novos investimentos sejam realizados em atividades que
mantêm relação com aquelas já em andamento.
Essa concepção, diferentemente das leituras ortodoxas, enseja uma
interpretação diferente no que diz respeito aos fatores que podem levar uma região
a se desenvolver endogenamente. Em particular, no que concerne a regiões
subdesenvolvidas, novas perspectivas podem surgir para que excedentes
econômicos possam ser internalizados.
Dentro desse contexto, podem-se definir efeitos de repercussão em cadeia
como pressões originadas a partir de desequilíbrios e reequilíbrios. Dito de outro
modo, a produção de determinado bem gera estímulos para que outras atividades
surjam como resultado da insuficiência ou ausência que se configurem como
unidades fornecedoras de insumos à atividade em andamento, assim como
consumidora de sua produção. No primeiro caso, verificam-se os efeitos
retrospectivos ou para trás. Na segunda hipótese, observam-se os efeitos
prospectivos ou para frente (HIRSCHMAN, 1958).
Depreende-se, portanto, que as idéias de Hirschman (1958), em consonância
com a abordagem dos arranjos produtivos, fornecem um adequado pano-de-fundo
para os insights propostos no presente trabalho, onde busca-se avaliar perdas e
ganhos socioeconômicos e ambientais no processo de transformação do minério de
ferro em ferro-gusa, a partir do uso de matas nativas, como fonte de matéria-prima
para produção de carvão vegetal, enfatizando a sustentabilidade do uso de mata
plantada em razão de sua viabilidade social, econômica e ambiental.
A constatação da importância da mineração para atender as necessidades
humanas e gerar conforto, além do fator de desenvolvimento econômico, é
inquestionável. Qualidade de vida em nossa civilização está intimamente associada
à disponibilidade de matérias-primas e energia, ambas colocadas à nossa
disposição pela mineração. Contudo, por explorar recursos naturais não-renováveis
75
e, por ser extrativa, a mineração tem a responsabilidade de liderar as discussões
como ser sustentável. A essência do problema está na relação homem/natureza,
que nunca seequilibrada e harmônica. Mas, pode haver, sim, uma compensação
do homem à natureza.
O setor mineral brasileiro tem a compreensão clara da importância do
desenvolvimento sustentado incorporando às suas atividades os preceitos
ambientais. As empresas passaram a concentrar seus esforços no desenvolvimento
de tecnologias mais limpas, utilizando menos matérias-primas e gerando menos
resíduos; planejamento da lavra, prevendo a recuperação das áreas exploradas,
mitigando os efeitos causados ao meio ambiente; plano de fechamento de minas,
como indicador de sustentabilidade para a mineração, incorporação dos custos
ambientais no orçamento e nas análises de seus custos, que entre outros, são
alguns dos exemplos a serem citados, de crescentes responsabilidades das
empresas em questões ambientais.
Por sua vez, os agentes governamentais, responsáveis pela política mineral
brasileira, têm se empenhado na busca de procedimentos regulatórios e de
incentivos a inovações tecnológicas que propiciem proteger e restaurar a qualidade
do meio ambiente, assegurando, simultaneamente, a oferta de bens minerais.
Evidencia-se, dessa maneira, a necessária compreensão das percepções dos
diversos atores relacionados com a mineração e o desenvolvimento sustentável, e,
que ocorrerão em sua plenitude, a partir de processos participativos no âmbito da
sociedade.
Em síntese, o atual momento é de um novo ciclo de mudanças e de
paradigma tecnológico. O novo padrão de crescimento tende a uma demanda
elevada de informações e conhecimentos técnicos com diminuição relativa de
consumo de recursos ambientais e de produção de efluentes poluidores. Entretanto,
a sociedade está procurando produtos cada vez mais sofisticados, resultando uma
demanda dos bens minerais, independentemente do aumento da reciclagem a da
busca contínua da otimização na eficiência de uso dos recursos não-renováveis.
O que significa que o debate sobre mineração e desenvolvimento sustentável
continua aberto aos fóruns nacionais e internacionais, colocando para a mineração
um imenso desafio: descobrir novas reservas minerais, manter e expandir a
76
produção e realizar as atividades de exploração e tratamento de minérios em
perfeita harmonia com o meio ambiente.
4.3.6 Extrativismo vegetal
O extrativismo é a atividade desempenhada pelo rurícola ou extrator,
consistente na simples coleta, recolhida, extração ou captura de produtos do reino
animal e vegetal, espontaneamente gerados e em cujo ciclo biológico não houve
intervenção humana.
Sodero (2000), a seu turno, entende que:
[... ] o extrativismo, que pode ser animal ou vegetal, implica coleta de frutos
ou produtos desses dois reinos da natureza, quando não ativa
participação do rurícula no processo agrobiológico de produção, ou seja,
quando se desenvolve em floresta nativa ou animais não domesticados.
Apesar de não haver uma interferência direta do homem nos momentos
antecedentes à germinação ou ao nascimento, nem mesmo nos momentos
subseqüentes de todo o ciclo biológico de maturação do produto ou do animal, a
mera atividade de extração ou captura há de ser considerada agrária, que se
trata, de qualquer forma, de uma produção da terra, do agro, de caráter
indiscutivelmente rural.
Em termos de Brasil, dada a sua densa cobertura florestal e, nela, a imensa
gama de produtos de natureza extrativa, o exame do extrativismo ganha importância
e proporção, justificando-se pelo lugar que ocupou, e ainda hoje ocupa, apesar do
visível declínio, na economia nacional.
É bem verdade, que a prática das atividades extrativas, nos dias atuais, se
comparada ao volume imenso de produtos extrativos que conquistaram altos
percentuais no setor econômico-financeiro do passado, tem decaído, cedendo vez
às atividades de cultivo e criação. Os motivos relacionam-se às constantes crises,
bem como têm muito a ver com a cada vez maior oferta de matéria-prima por parte
de outros países, inclusive as sintéticas. Agravam a questão, ainda, outros fatores,
tais como a baixa produtividade e a falta de uma infraestrutura dirigida a atender às
necessidades de comercialização e escoamento dos produtos coletados. Estes,
77
entre outros entraves, motivam o esvaziamento das áreas de extração, mormente na
região Norte, cuja economia tem seu embasamento, ainda agora, no extrativismo
vegetal.
O extrativismo é apontado às vezes como opção inviável para o
desenvolvimento do estado do Pará. Tal conclusão apoia-se em uma visão dessa
atividade como simples coleta de recursos, o que excluiria técnicas como cultivo,
criação e beneficiamento. No caso da Região Amazônica, essa visão é estreita, pois
não leva em conta a cultura das populações locais, que favorece a harmonia com a
natureza. Assim, é preciso ampliar essa concepção, admitindo alguma tecnologia e
usos dos recursos naturais incluídos no modo de vida e na cultura extrativistas.
A crise ambiental, a universalização da consciência ecológica e a revolução
tecnológica deste final de culo exigem das sociedades modernas uma nova
estratégia: o desenvolvimento sustentável.
Essa nova realidade tem reflexos diretos sobre as alternativas de
desenvolvimento da Amazônia. Aqueles fatores, somados ao impacto político dos
movimentos ambientalistas das classes médias, assustadas com os efeitos globais
da deterioração ambiental, levam o capital internacional e os países ricos à adoção
de uma estratégia particular para a Amazônia brasileira, com o objetivo primordial de
assegurar a preservação das áreas de maior diversidade biológica.
Pressionado por essa estratégia, pela ação política dos ‘verdes’ e pelas lutas
de seringueiros e índios em defesa de seu modo de vida e sua cultura, o Estado
brasileiro ‘divide’ a Amazônia em duas categorias: Ocidental, vista como área
preferencial de preservação, por ter alta biodiversidade (em especial no Acre e no
sul do Amazonas), e a oriental destinada a grandes empreendimentos de mineração
e metalurgia, sem prejuízo da continuação discreta de projetos agropecuários e
agroindustriais.
A revolução tecnológica, no entanto, vem apontando novas opções de uso e
valorização econômica para os recursos biológicos das florestas tropicais úmidas.
Isso torna necessário repensar o desenvolvimento da região, principalmente no caso
da Amazônia Ocidental. O novo modelo precisa ser coerente com as peculiaridades
naturais daquele ambiente e com as aspirações e exigências culturais do seu povo,
e deve expressar as novas relações de forças sociais.
78
A especificidade do estado do Pará, quanto à intervenção das populações
tradicionais nos ecossistemas naturais, é a diversificação do uso dos recursos em
sistemas de coleta, cultivo e criação de animais. Tais sistemas de manejo estão
fundados na cultura tradicional das populações amazônicas, que favorecem uma
relação harmônica com a natureza.
Isso acontece porque as populações que vivem nas florestas têm, em função
do relativo isolamento e da forte influência do meio natural, um modo de vida e uma
cultura diferenciada. Seus hábitos dependem dos ciclos naturais, e a forma como
apreendem a realidade e a natureza é baseada não em experiência e
racionalidade, mas também em valores, símbolos, crenças e mitos. Essa simbiose
homem/natureza, presente tanto na prática de produção quanto nas representações
simbólicas do ambiente, permite que tais sociedades acumulem vasto conhecimento
sobre os recursos naturais.
As práticas, extrativistas e ecologicamente sustentáveis, usadas para explorar
os recursos naturais dependem do nível de desenvolvimento das forças de produção
e das formas de organização social, mas são determinadas por elementos culturais.
A organização social e os valores culturais são os principais fatores responsáveis
pela degradação do ambiente e não simplesmente a tecnologia. Formas de
organização social e culturas distintas dão lugar a diferentes racionalidades e
representações do ambiente natural.
Seringueiros e índios veem na floresta a sua morada e a de seus ancestrais,
um ambiente conhecido e acolhedor, objeto de seu saber e de suas crenças e fonte
de sua subsistência. empresários agropecuários veem um ambiente estranho e
hostil, um obstáculo a ser superado para que tenham acesso à fonte de seu lucro.
As mesmas razões explicam a existência de três formas de extrativismo: o mercantil-
capitalista, o da pequena produção familiar e o comunitário.
O que é praticado na Amazônia é o bioextrativismo
7
vinculado ao tipo de
organização social e seu universo cultural específico. A atividade inclui o o uso
imediato (coleta de recursos animais e vegetais), mas também usos mediatos
(cultivos, criações e beneficiamento de produtos) da biota, por meio da produção
7
Refere-se ao uso econômico da biota, isto é, dos seres vivos (recursos renováveis) dos
ecossistemas naturais.
79
familiar ou comunitária e dentro dos valores e crenças das sociedades que habitam
os ecossistemas da região.
Assim, o bioextrativismo das populações tradicionais pode ser definido como
a intervenção, na biota dos ecossistemas naturais, pelo homem (componente da
biota), baseada na racionalidade da reprodução familiar/comunitária e determinada
por seu universo cultural, fundado na simbiose prática e simbólica com a natureza.
Tal intervenção visa produzir biomassa útil e é regulada por sistemas de manejo
imediato, associados à introdução e exploração de plantas e animais em níveis
pouco intensos, que não alteram substancialmente a comunidade biótica do
ecossistema.
Esse novo conceito de extrativismo transcende o nível econômico. Na
verdade, a mudança conceitual corresponde às alterações ocorridas no
bioextrativismo real: este é, na Amazônia, cada vez mais uma atividade econômica
de produtores ‘autônomos’ e de organização comunitária. A produção adquire uma
nova lógica, diversifica-se, mas se subordina sempre ao universo cultural singular da
população extrativista (KAGEYAMA, 1991).
É a consideração desse bioextrativismo concreto, de sentido mais amplo, que
origem e pertinência ao conceito de neoextrativismo
8
entendido como um
ambiente social específico, em simbiose e equilíbrio com a natureza e mais
determinado pelo universo cultural do que pelas demais instâncias da vida social. A
cultura das populações tradicionais é o cimento que unidade ao ambiente social
extrativista.
Essa cultura distingue-se pelo modo de vida particular e pela identidade ou
auto-reconhecimento do grupo. O modo de vida tem sua matriz na dependência e
simbiose com a natureza, no conhecimento empírico e simbólico dos ciclos e
recursos naturais, e tal saber é a base dos sistemas de manejo de baixo impacto
praticados. A produção apoia-se no trabalho familiar ou comunitário, depende do uso
imediato dos recursos, subordina-se aos ciclos naturais e tem como racionalidade
não o lucro, mas a reprodução social e cultural.
8
Conceito ligado à totalidade social, a todas as instâncias da vida social: a econômica, a política e a
cultural. Na dimensão econômica, é um novo tipo de extrativismo, que promove um salto de qualidade
pela incorporação de progresso técnico e envolve novas alternativas de extração de recursos
associadas com cultivo, criação e beneficiamento da produção.
80
4.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A EXTRAÇÃO MINERAL
Mesmo que no item anterior se tenha trabalhado brevemente o conceito de
desenvolvimento sustentável aqui será discutido de modo mais aprofundado para
que se possa fazer uma comparação entre o desenvolvimento sustentável e a
extração mineral. Este segundo conceito aceita como definição que o
desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da geração
atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras
gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa
definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois
objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.
Então, o que é preciso fazer para alcançar o desenvolvimento sustentável?
Para se alcançar o desenvolvimento sustentável, é necessário um planejamento
eficiente e o reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito
representou uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o
meio ambiente. Porém, algumas vezes o desenvolvimento é confundido com
crescimento econômico, o qual depende do consumo crescente de energia e
recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva
ao esgotamento dos recursos naturais, dos quais a humanidade depende para sua
sobrevivência. Atividades econômicas podem ser encorajadas em detrimento da
base de recursos naturais dos países. Entretanto, desses recursos depende não
a existência humana e a diversidade biológica, como o próprio crescimento
econômico.
O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de
quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos nas cadeias
produtivas, assim como o aumento da reutilização e da reciclagem, bem como a
troca de modelos que até então vêm dando certo, por alternativos mais viáveis
economicamente.
81
O princípio do desenvolvimento sustentável ou sustainable development é
atualmente assunto obrigatório nas discussões acerca de políticas de
desenvolvimento, tratando-se de teoria que preconiza a revitalização do
crescimento da economia global de modo a reduzir a degradação ambiental
e a pobreza, posto que os modelos existentes de desenvolvimento não são
sustentáveis a longo prazo, sendo seu pressuposto a mudança no
crescimento econômico, para torná-lo menos intensivo e mais eqüitativo em
seus impactos (CHERNI, 2002, p. 48-49).
Este princípio não objetiva impedir o desenvolvimento econômico, mas
encontrar um meio termo, um equilíbrio entre a economia e o meio ambiente, por
representar a atividade econômica muitas vezes uma imensurável degradação
ambiental.
A preocupação com um crescimento econômico sem limites, envolve não
somente o esgotamento de recursos, como água, fauna e flora, com conseqüente
implicação na prática comercial, mas também o desequilíbrio do ecossistema
mundial, como a redução da camada de ozônio, que por sua vez compromete o bem
maior da vida. (MACHADO, 2003, p. 48) atenta para o fato de que a própria saúde
dos seres humanos depende do estado dos elementos da natureza, de modo a se
observar se esses elementos estão em estado de sanidade e de seu uso advenham
saúde ou doenças e incômodos para os seres humanos.
O setor mineral, uma das bases da economia brasileira, faz uso intensivo de
recursos naturais não-renováveis e historicamente tem provocado impactos
ambientais nos locais onde atua. Apesar dos incômodos causados ao meio
ambiente, a mineração é essencial para que a humanidade atinja dois valores
socioeconômicos importantes: qualidade de vida e desenvolvimento sustentável. E
não há como alcançar esses valores sem a oferta adequada de bens minerais.
Assim, qualidade de vida está fortemente associada à disponibilidade de
matérias-primas e energia, ambas colocadas à nossa disposição pela mineração, a
partir de substâncias minerais metálicas e não metálicas. Contudo, apesar da
importância dessa contribuição, o setor mineral tem dois aspectos que lhe são
próprios: o fato de trabalhar com recurso natural exaurível, cuja extração e
comercialização possivelmente não constituam atividades sustentáveis e por outro
lado, o sentimento corrente de que sua atuação promove prejuízo sensível e
duradouro ao meio ambiente. Daí decorre ser a mineração atividade menos aceita
dentro do novo arcabouço conceitual do desenvolvimento sustentável.
82
Nesse particular, o desenvolvimento sustentável dispõe de duas correntes
básicas: uma de caráter conservacionista, que exclui as atividades antrópicas que
possam provocar modificações permanentes ou transitórias no meio físico, em
especial aquelas intensivas em recursos não-renováveis. A outra corrente, que se
aplica à mineração, diz respeito à aceitação de desenvolvimento de atividades
antrópicas
9
causadoras de impactos ao meio físico, transitórios e localizados, com
benefícios socioeconômicos permanentes, mas capazes de dispor de instrumentos
de proteção e de recuperação do ambiente degradado.
Os responsáveis pela política mineral brasileira têm buscado construir um
processo de inserção que promova a consolidação da mineração no processo de
desenvolvimento sustentável, com práticas capazes de gerar ou induzir benefícios
compatíveis com a conservação de um meio ambiente saudável.
Para haver desenvolvimento sustentável é necessário atender as
necessidades da geração atual, sem colocar em perigo a capacidade das futuras de
satisfazer as suas. Perpassa o atendimento das demandas sociais emergentes no
conceito global, considerando-se o pressuposto de manejo eficiente dos
ecossistemas, tanto sob os aspectos do meio físico como biótico.
Nesse contexto, se encerra a responsabilidade dos compromissos do
indivíduo e da coletividade com as consequências da degradação ambiental, em três
dimensões distintas: no tempo, com uma visão que se prolonga pelo futuro; no
espaço cobrindo todo o planeta como área de interesse de cada indivíduo e, no foco,
a responsabilidade é envolvente, abrigando todos os seres, construindo uma nova
ética complexa e plural.
É no foco do atendimento às necessidades humanas que a indústria extrativa
mineral representa seu papel de grande relevância, embora tem sido uma das
menos aceitas no conceito do desenvolvimento sustentável.
Ao setor mineral é pertinente esclarecer sobre dois aspectos que lhe são
peculiares: o fato de estar orientado para o aproveitamento de um bem exaurível,
cujos processos de extração e comercialização não se constituam, possivelmente,
9
Coisas referentes ao homem ou à vida humana são chamados antrópicos. Assim, ão antrópica é
a ação humana sobre o ambiente
.
83
em atividades sustentáveis, e por outro lado, a impressão corrente de que sua
atuação resulta em prejuízo duradouro aos recursos ambientais.
Essas características peculiares à mineração, contudo, já não podem ser
generalizadas, pois hoje a indústria mineral procura associar conhecimentos que
assegurem a convergência de processos técnicos e economicamente rentáveis, com
as melhores práticas de proteção ambiental.
A inserção da mineração no âmbito da sustentabilidade do desenvolvimento
encontra amparo na definição de caráter utilitário-desenvolvimentista, ao admitir
atividades antrópicas que impactem o meio físico, sem, todavia abrir mão das ações
de proteção e recuperação do meio ambiente degradado.
É a compreensão de que há relações entre um conjunto de impactos
ambientais que o transitórios e localizados da atividade com benefícios
socioeconômicos permanentes, a partir da percepção de que o uso dos recursos
minerais é fundamental para o bem-estar da sociedade e contribui para melhorar a
sua qualidade de vida (MOREIRA, 2003).
Portanto, o crescimento econômico inclui e pressupõe o desenvolvimento e a
ampliação da atividade minerária com vistas ao atendimento das necessidades do
homem, e deve estar intimamente associado aos cuidados com o meio ambiente.
Respeitados esses princípios, a mineração deve consolidar-se e crescer com base
no aproveitamento racional dos bens minerais, buscando sempre o equilíbrio
sistemático entre o homem, o recurso e o território.
O manejo sustentável será sempre um conceito, uma meta, um alvo, que é
dinâmico em sua essência, e que reflete o conhecimento atual da natureza. O que
implica, portanto, que carrega, também, bastante juízo de valor. Somando-se a isso
a complexidade natural do ecossistema florestal que se quer manter sustentável, a
implementação desse novo conceito deve, por necessidade, estar baseada em
critérios e indicadores, que têm essencialmente a finalidade de se constituir em
ferramentas de monitoramento para a melhoria contínua das práticas de manejo
florestal na busca da sustentabilidade.
Segundo Decamps (1997), o manejo florestal sustentável implica, antes de
tudo, na existência de uma ligação mútua e interativa entre os recursos florestais e
todos os demais elementos inerentes ao ecossistema florestal e à resiliência da
84
bacia hidrográfica na qual se insere o manejo: a água, a fauna, o potencial produtivo
do solo e a biodiversidade. Implica, ainda, que a alteração de um recurso natural em
uma dada área, incluindo a colheita florestal, causa invariavelmente impactos nos
demais elementos do ecossistema.
O manejo sustentável, então, significa: que há o entendimento dessas inter-
relações e interações; que em função desse entendimento se procure aplicar
práticas de manejo de paisagem na preparação do plano de manejo florestal,
visando organizar a ocupação dos espaços produtivos da paisagem de tal maneira a
garantir a estabilidade dos principais processos ecológicos e hidrológicos; e que as
práticas de manejo florestal efetivamente adotadas resultem em impactos ambientais
mínimos. Essa busca de práticas sustentáveis de manejo florestal, por outro lado,
deve ser um processo contínuo de monitoramento das ações, cujos resultados
devem retroalimentar o manejo, num enfoque adaptativo de constante e permanente
aprendizado.
A dimensão ambiental do manejo florestal, dessa forma, tem que ser vista
como parte integrante do processo, e não apenas como "algo a mais" que distingue
um "bom manejo" de um "manejo convencional".
A natureza o parece ser obra do acaso, onde nada pode ser previsto nem
descrito em termos gerais, mas tampouco é regida por leis determinísticas que não
deixam nenhum lugar para a novidade e onde tudo pode ser previsto. Desta forma,
os critérios e indicadores de sustentabilidade devem ser considerados como
ferramentas básicas para a busca do manejo sustentável, no sentido de que
possibilitam, pelo monitoramento, implementar o manejo adaptativo. O
monitoramento ambiental, portanto, é parte integrante do manejo florestal
sustentável. Nesse sentido, representam uma ou mais variáveis ou elementos do
ecossistema, cuja relação com a sustentabilidade já tenha sido estabelecida.
Trata-se, portanto, de uma conotação fundamentalmente diferente da que é
normalmente atribuída a indicadores de procedimentos utilizados na
certificação florestal. Em termos de cumprir seu papel como ferramenta de
informação para o manejo adaptativo, existem vantagens para a seleção de
indicadores de resultados ou de saídas, pelo fato de que eles são baseados
na definição de metas, permitem a avaliação do desempenho, incentivam a
melhoria das práticas de manejo e permitem a comparação entre diferentes
situações (PRABHU; COLFER; SHEPHERD, 1998; PRABHU; SPILSBURY;
COLFER, 1999).
85
O manejo sustentável, além de sua característica multidimensional,
(econômica, ecológica, social e cultural), tem também que ser considerado em
diferentes escalas: a unidade de manejo florestal, o horto ou fazenda florestal, a
microbacia, a região, o país, a biosfera. Assim, principalmente no que diz respeito
aos critérios e indicadores ambientais, torna-se essencial considerar a existência de
indicadores nessas diferentes escalas. Por exemplo, o desenho, a densidade e a
manutenção do sistema viário no manejo florestal, assim como a identificação das
áreas de alto risco de erosão, ou ainda as condições do ecossistema ripário das
microbacias, são todos parâmetros ambientais de fundamental importância para a
proteção adequada do solo e da água num plano de manejo florestal sustentável.
Para Decamps (1997), uma maneira consistente de envolver a questão da
escala no monitoramento ambiental, visando a busca do manejo florestal
sustentável, poderia, por exemplo, considerar os seguintes níveis: a) uma macro
escala de sustentabilidade que diz respeito a restrições ecológicas e/ou hidrológicas
da região para fins de uso florestal, o que pode normalmente ser avaliado em termos
do zoneamento ambiental ou ecológico, de políticas florestais e legislação ambiental;
b) uma meso escala, que é a própria escala da microbacia hidrográfica, e que diz
respeito a ações ou condições que comprometem a manutenção dos valores
ambientais da microbacia, tais como as estradas e as condições do ecossistema
ripário, os quais não são compatíveis com a sustentabilidade no longo prazo; c) e a
micro escala, que diz respeito à implementação de práticas sustentáveis de manejo,
ou seja, à própria escala da unidade de manejo florestal.
A busca de alternativas de uso racional dos recursos naturais e
socioeconômicos, com menores impactos para o ambiente, deve ter início pelo
resgate de conhecimentos das populações locais tradicionais, bem como contemplar
ações baseadas em sistemas de produção que se fundamentem no princípio da
interação solo-vegetação-solo. Uso de sistemas multiestratificados e o manejo dos
recursos florestais para vários objetivos são, dentre as alternativas, as que têm
despertado maior interesse da comunidade científica. O primeiro, em especial por
considerar a manutenção do componente arbóreo em um sistema de produção,
representa papel fundamental na reincorporação de áreas degradadas ao processo
produtivo, minimizando a pressão sobre a mata nativa.
86
A reincorporação ao processo produtivo de extensas áreas sob diferentes
níveis de degradação existentes na Amazônia brasileira é um grande desafio para
os próximos anos. As estratégias de reabilitação ou recuperação devem contemplar
conjuntamente aspectos agronômicos e florestais, ecológicos e socioeconômicos.
Uhl e Vieira (1998) questionam sobre o que poderia ser feito para conciliar os
objetivos de desenvolvimento e conservação da Amazônia. Inicialmente deve ser
reconhecido que o Brasil atualmente não tem uma política coerente em relação à
Amazônia. Não que se negue que existem algumas leis feitas para proteger a
floresta, mas muitas dessas leis estão cheias de falhas e, aparentemente, não são
fiscalizadas. Também é verdade que existem entidades governamentais para
promover o desenvolvimento da Amazônia, disciplinar o uso da terra (Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)), proteger os
direitos dos índios (Fundação Nacional do Índio (FUNAI)), levantar áreas e distribuir
títulos de Terra (Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)), planejar o uso
de energia, além de programas de crédito (através do BASA) para encorajar certas
atividades econômicas. Entretanto, nenhuma dessas entidades funciona de maneira
realmente efetiva. Nenhuma delas tem objetivos claros a longo prazo nem condições
de ir em busca desses objetivos. Além disso, pouca troca de informações entre
essas instituições. Consequentemente, existem poucas ações coordenadas. É nesse
contexto que se infere que o ponto inicial em qualquer análise sobre como remediar
a ocupação desordenada e destrutiva da Amazônia é admitir que o Brasil não tem
uma política coerente em relação à Amazônia.
Certamente a exploração destrutiva e sem cuidado continuará, a menos que o
governo brasileiro tome um papel ativo na região. Uma primeira etapa seria o
governo brasileiro atuar no controle efetivo da grande parte (cerca de 80%) do
território da Amazônia brasileira que não está titulada. Por certo, atividades nessas
terras deviam ser permitidas apenas através de contratos com o governo (por
exemplo, concessão para explorar madeira, licenças para o pastoreio em campos
naturais, licenças de uso a longo prazo para extratores etc.).
As imagens abrangentes de satélites da Bacia Amazônica, conjuntamente
com os dados do INCRA, FUNAI e IBAMA sobre a situação agrária, Reservas
Indígenas e Parques Nacionais são os mecanismos para determinar onde o governo
poderia legitimamente restabelecer o controle. Todas as terras sem sinais claros de
87
ocupação humana (baseado em análises de imagens de satélites); que não tem
títulos (baseados nos dados do INCRA; e que não são consideradas reservas
Indígenas (dados da FUNAI) ou Parques Nacionais (dados do IBAMA), poderiam ser
transformadas em florestas de produção sob a jurisdição estadual e federal. Tais
terras poderiam se usadas em benefício do bem comum.
Um segundo passo para conciliar os objetivos de desenvolvimento e
conservação na Amazônia é desenvolver critérios de zoneamento do uso da terra
para a região. Muitos pesquisadores tem incessantemente enfatizado que a
Amazônia não é uma expansão homogênea de floresta, e que as áreas aquáticas da
Amazônia não são apenas cursos d’água. Mesmo a designação de dezenas de tipos
florestais, associações vegetais ou subsistemas aquáticos é uma simplificação
grosseira da complexa paisagem da Amazônia. O objetivo do zoneamento é
entender tal complexidade e assim, determinar onde as atividades específicas de
uso da terra poderiam ser permitidas. A base de informações para fazer o
zoneamento está disponível: mapas do solo, informações climáticas, dados sobre
cobertura vegetal e informações sobre o desempenho da cultura e pecuária.
No instante em que o governo tiver o controle da Amazônia e uma visão clara
de como essa paisagem poderia sem utilizada, em especial com base no trabalho de
zoneamento, um terceiro passo seria tomar medidas concretas para promover o uso
das terras desejáveis. Geralmente, esses usos devem ser intensivos e não
extensivos. Nos usos extensivos, a produtividade é baixa, e a produção é
possível por um período de tempo limitado. Nos usos intensivos, a produtividade é
maior, e o período de uso se estende indefinidamente. As abordagens intensivas da
agricultura na Amazônia Oriental, envolvendo a plantação de frutas perenes e
castanha-do-Brasil, são mais lucrativas que a abordagem tradicional de corte-e-
queima, apesar de requererem investimentos de capital significativos. Métodos
intensivos de pecuária envolvendo forragens melhor adaptadas; maiores cuidados
com o manejo; e saúde dos animais fornecem uma produção e rendimento duas
vezes maior que os obtidos com a atividade tradicional de pecuária extensiva. E,
ainda, o manejo da floresta para a produção de madeira, envolvendo o planejamento
da extração e intervenções silviculturais após a extração para promover o
crescimento, poderia reduzir o período entre os ciclos de corte pela metade e
garantir a saúde a longo prazo da floresta. Bem se verifica que existem alguns
88
conhecimentos técnicos adequados para indicar usos da terra intensivos e
sustentáveis na Amazônia.
O ingrediente final para o manejo inteligente da Amazônia seria uma
população conscientizada. As atividades antes enfocadas eram extração madeireira,
pecuária, garimpo, que atraem capital (por exemplo, construção de barragens via
empréstimos). Em muitos casos, este capital encontra-se altamente concentrado. Os
lucros de proprietários de serrarias podem chegar a centenas de milhares de dólares
por ano. Os lucros de proprietários de garimpos podem ser ainda maiores. E os
pecuaristas obtêm lucros substanciais em função do grande tamanho das pastagens
e do rebanho, bem como de modo secundário, pela especulação da terra. Tais
lucros, ou são retirados da região, usados para adquirir terra, ou usados para se
obter uma maior capacidade de extração (VIDAL, 1997).
Cada vez mais, a nova elite capitalizada da Amazônia usa sua influência para
estender o controle sobre as novas fronteiras e ao mesmo tempo, unem-se aos
pecuaristas para segurar as fronteiras mais antigas. De fato, o processo de
ocupação da Amazônia tem vida própria, com a extração das riquezas ocorrendo
sem o controle das autoridades federais e estaduais. O meio ambiente e a
população da Amazônia não estão bem servidos por esse modelo desigual de
desenvolvimento. A degradação ambiental e perda da biodiversidade estão ligadas à
cobiça humana.
É fato inegável que existe um reconhecimento adequado das características
ecológicas das espécies vegetais e animais da Amazônia para começar a predizer
quais dessas espécies estão aptas a serem ameaçadas por diferentes tipos de
atividades de uso do recurso. Não é preciso, assim, ir muito longe para imaginar
como poderá vir a ser a fauna e a flora futura da Amazônia se as atividades
agressivas de uso da terra continuarem. Além disso, necessidade de incluir uma
consideração de efeitos secundários na análise dos impactos das atividades
humanas na biodiversidade. Na Amazônia oriental, os impactos da alteração da
floresta se espalham além da fronteira do ecossistema. Modificações da estrutura
(por exemplo, falta de carbono ou nutrientes) ou função (diminuição na
89
evapotranspração
10
) do ecossistema em uma região podem influenciar a
produtividade e o clima em outras regiões próximas.
Outro fator relevante é a avaliação das ameaças atuais e futuras na
biodiversidade na Amazônia oriental, onde se torna premente uma compreensão das
interações entre as atividades individuais de uso dos recursos. Práticas associadas
com um determinado tipo de recurso podem se espalhar para outras atividades
próximas com consequências prejudiciais. Por exemplo, o fogo usado para limpar o
pasto pode escapar e prejudicar severamente as florestas exploradas.
Também a expansão progressiva da pecuária na Amazônia, com a
consequente eliminação da biodiversidade amazônica, provavelmente continuará até
que o Brasil desenvolva uma política coerente para a região, baseada no
zoneamento do uso da terra, e inclua programas para promover os usos intensivos e
sustentáveis, ou seja, continuará até que outras atividades tornem-se mais atrativas
que a pecuária como alternativa de investimento. Como um primeiro passo
necessário, o Estado precisa reassegurar sua posse na paisagem da Amazônia. Se
isso for feito, o acesso a terras da Amazônia poderia ser permitido somente através
de contratos com o governo (concessões para a extração de madeira, licença para
pastoreio nos campos naturais etc.) Dessa maneira, o Estado serviria como uma
barreira entre a ganância humana e a natureza para promover o bem comum e
proteger a biodiversidade.
de se considerar que a exploração manejada de madeira pode ser mais
lucrativa do que as operações de extração tradicional, o modelo típico da região.
Além disso, o desempenho econômico do manejo florestal parece promissor,
entretanto, as técnicas de manejo raramente têm sido usadas na região, em função
de fatores diversos. Entre eles, o desconhecimento dos benefícios deste tipo de
exploração pelos atores do setor florestal; a lucratividade da exploração tradicional
(embora ineficiente); o desrespeito à legislação florestal, que poderia induzir o uso
sustentável da floresta; o tamanho da área de floresta para atender
sustentavelmente a demanda de uma empresa madeireira; ou seja, a compra de
grandes áreas é vista como um investimento de alto risco para a região, dadas as
frequentes disputas pela posse da terra. Por outro lado, novos colonos em áreas de
10
Processo natural realizado por vegetais para perderem água para o ambiente.
90
fronteira estarão pouco dispostos a usar a floresta pensando no longo prazo se lhe
faltarem condições de crédito e assistência técnica.
O desenvolvimento de um setor florestal que use de forma inteligente as
matas nativas dependerá de ampla ação da sociedade e do governo. Ações que
envolvem educação sobre manejo florestal e seus benefícios; controle e fiscalização
eficiente da atividade madeireira; planejamento da ocupação de terras públicas de
forma justa e que estimule a confiança dos direitos de propriedade e uso da terra; e,
incentivos econômicos diretos (financiamento) e mudanças na legislação que
estimulem a valorização dos recursos florestais.
Por certo, o governo deve manter as reservas florestais. Ele também poderia
criar incentivos para encorajar os empreendedores a investir seus capitais em
floresta de produção, as quais realizam o manejo cuidadoso para fins madeireiros.
Além disso, incentivos devem ser planejados para facilitar a importação de
equipamentos modernos e eficientes para as serrarias, por exemplo, permitindo a
exploração de madeira serrada de alto valor.
Entretanto se verificam as convergências de interesses dos atores
econômicos e sociais, uma vez que se percebe investimentos voltados à prevenção
e à conservação dos recursos naturais que proporcionem a redução dos impactos
ambientais na região, bem como, desenvolvimento do bem-estar da sociedade.
Finalmente conforme destacado e que nunca é demais lembrar, qualquer
plano para a região deve considerar as condições de trabalho e educação da
população envolvida nas atividades, haja vista que soluções emergem somente
através do desenvolvimento do capital humano e social.
91
5 ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DAS FONTES ENERGÉTICAS PARA A
TRANSFORMAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO-GUSA PARA O
ESTADO DO PARÁ
5.1 A SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA POR FONTE ENERGÉTICA NA
TRANSFORMAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO-GUSA
Neste capítulo se discutida e analisada a sustentabilidade das fontes
energéticas utilizadas para transformar o minério de ferro em ferro-gusa. Assim, as
fontes energéticas a serem discutidas são o carvão vegetal de mata nativa, o carvão
vegetal de mata plantada e o carvão mineral. As duas últimas fontes terão
tratamento diferenciado em virtude da não existência de mata plantada com
finalidade energética em escala e no ponto de corte para a produção de carvão
vegetal. Quanto ao carvão mineral, este também não tem produção nem consumo
no estado do Pará. Parte daí a opção de se fazer uma comparação entre as duas
fontes com a finalidade de mensurar a sustentabilidade tomando como referência os
dados do estado de Minas Gerais. Este foi escolhido por tratar-se do primeiro polo
mineral brasileiro e ainda possuir a maior área de mata plantada com finalidade
energética no Brasil.
Dentro desta abordagem serão considerados os aspectos econômicos,
ambientais e sociais de cada uma das fontes energéticas aqui apresentadas e
discutidas para se chegar naquela que apresente o melhor resultado para que possa
então ser considerada como sustentável.
5.1.1 Análise da sustentabilidade econômica do carvão vegetal de mata nativa
como fonte energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa
Este tópico abordará a produção de carvão vegetal oriundo de mata nativa
mostrando que esta atividade estabelece uma gama de relações sociais, mas que,
em termos gerais, quando a lenha é originária de desmatamentos para a
implantação de pastagens ou para outro tipo do cultivo da terra em fazendas em
empresas latifundiárias ou mesmo em pequenas e médias propriedades rurais –, os
donos da terra cedem a área e nada cobram pela lenha retirada, exigindo, em
contrapartida, que os fornecedores de carvão entreguem a área “limpa” para o
92
plantio, quase sempre de capim; ou eles próprios dirigem a produção do carvão
vegetal. Neste caso, são na maioria fazendeiros e médios proprietários.
Quando é o proprietário da fazenda quem dirige a produção carvoeira, pode
contratar diretamente o serviço dos trabalhadores para a broca, que consiste em
roçar o mato baixo para facilitar a derrubada, que é a operação de derrubar as
árvores e transporte da lenha, como também pode recorrer ao serviço de um
empreiteiro que fará a intermediação na contratação, remuneração e administração
da força de trabalho. Este empreiteiro é denominado gato. Quanto maior a área a
ser desmatada, maior a frequência de contratação da força de trabalho intermediada
por um gato.
Na operação de carbonização, quando ocorre em pequenas carvoarias,
invariavelmente o carvoeiro recebe a lenha na “boca do forno” e tem sua
remuneração baseada no volume da produção do carvão, sendo responsável pela
contratação de outros trabalhadores, aos quais remunera tendo por base o
pagamento por dia trabalhado.
Quando o fornecedor de carvão recebe a área de um proprietário fundiário para
entregá-la “limpa”, constrói uma rede de empreitadas que se inicia com a
contratação de um gato, o qual será responsável pela broca; pela derrubada, ao que
se segue o corte, que consiste em cortar a madeira, em conformidade a um padrão,
para ser posteriormente empilhada. O transporte da lenha pode ser entregue a outra
pessoa, que geralmente possui um pequeno trator de pneus, ou um caminhão.
Neste caso, a remuneração vincula-se ao volume de lenha transportada, ou mesmo
ao volume de carvão produzido pela carvoaria. O responsável pelo transporte, por
sua vez, contrata outros trabalhadores que o auxiliarão e receberão o pagamento
tendo por base os dias trabalhados.
A produção do carvão tem influência direta nos mecanismos de privatização da
terra. É uma atividade que auxilia mecanismos de ocupação da terra utilizados pela
grande empresa que se latifundiza e pelos fazendeiros, pois atua como uma forma
de incentivo ao desmatamento para a formação de pastos, uma vez que diminui os
custos do desmatamento para o plantio do capim. Favorece também a concentração
fundiária por outra via, pois os próprios capitais industriais latifundizaram-se, uma
vez que as guseiras adquiriram grandes propriedades fundiárias destinadas à
implantação de supostos projetos de manejo florestal sustentado. Já quando a
93
biomassa a ser carbonizada é originária de aparas e de outros resíduos da madeira
utilizada por serrarias, geralmente o proprietário da serraria permite a instalação dos
fornos na área da própria serraria, cede os resíduos da madeira por ela descartada e
em contrapartida exige que do pátio da serraria sejam retirados todos os rejeitos do
beneficiamento da madeira, inclusive aqueles que não se prestam à carbonização.
uma grande variedade de acordos estabelecidos entre os fornecedores de
carvão vegetal e os proprietários das serrarias, que tem implicação direta sobre a
divisão dos valores auferidos com a venda do carvão.
No processo de carbonização, o fornecedor de carvão contrata um ou mais
carvoeiros, que recebem pelo volume de carvão produzido e arcam com os custos
da carbonização. Em alguns casos, nas pequenas carvoarias, o processo é dirigido
pessoalmente pelo fornecedor, que também é o carvoeiro e contrata auxiliares que
são remunerados com base em diárias.
No caso da produção de carvão utilizando-se resíduos de madeira serrada
também oriunda de mata nativa, tende a ser desenvolvida nos terrenos das
serrarias, dentro de áreas urbanas e daquelas que quando não instaladas nos
terrenos das serrarias encontram-se o mais próximo possível delas, pois os custos
com o transporte da madeira até os fornos onde será carbonizada têm uma
participação significativa na composição dos custos totais da produção do carvão
vegetal. Assim, em função do baixíssimo preço do carvão, a localização das
carvoarias o mais próximo possível das madeireiras é uma das condições para
reduzir os preços de produção do carvão vegetal, embora isto implique na poluição
de áreas urbanas. Ampliando, assim, o nível de caotização de núcleos urbanos na
região.
A pressão de moradores e a ampliação do número de guseiras e,
consequentemente, da demanda de carvão impeliu algumas destas empresas a
organizar centrais de carbonização. Elas são estruturas que envolvem pelo menos
seis dúzias de fornos e ficam situadas próximas aos locais nos quais
concentração de serrarias. Neste caso, as empresas siderúrgicas realizam a
montagem de toda estrutura de fornos, infraestrutura de apoio e logística de
transporte. Transferindo, posteriormente, a responsabilidade pela sua condução a
um fornecedor de carvão que terá deduzido o custo de montagem da estrutura de
produção nos pagamentos do carvão por ele entregue à companhia. Trata-se de
94
medida que tem como fundamento fidelizar grandes fornecedores de carvão e
responder às pressões de moradores de alguns municípios atingidos pelos impactos
ambientais da produção de carvão vegetal, pois a carbonização, na maioria dos
casos, é realizada nos terrenos das próprias serrarias, instaladas em áreas urbanas.
Em todas as modalidades indicadas, a unidade básica da carvoaria é a bateria,
composta por seis fornos. Este número está relacionado com o ciclo da
carbonização, que tem a duração de seis dias um dia para encher o forno, um dia
e duas noites para a carbonização, dois dias para o resfriamento e um para a
descarga –, assim, a cada dia ter-se-á pelo menos um forno no qual se colocará
madeira para ser carbonizada, outro para ser descarregado e quatro outros fornos
aos quais deve ser dado acompanhamento ao processo de carbonização.
No estado do Pará as siderúrgicas recorrem ao carvão de mata nativa por falta
da mata plantada, conforme informado anteriormente, mas também por razões
econômicas, ou seja, preço mais barato. Esse fato se deve ao custo de plantação
que não existiu, ou seja, “a natureza não nos cobra valor econômico”. É justamente
por isso que a primeira década de funcionamento destes projetos siderúrgicos
encarregou-se de sepultar o discurso empresarial e as polêmicas acerca do possível
surgimento, na região, de grandes áreas reflorestadas, com a finalidade de atender
à demanda crescente de carvão vegetal das siderúrgicas independentes. Empresas
instaladas na região não cumpriram nenhum dos Planos Integrados
Floresta/Indústria (PIFI), nos quais são estabelecidas as diretrizes e as metas em
relação à origem do material a ser carbonizado, especialmente no que se refere à
implantação da silvicultura. Esta também é a realidade existente no Sudeste do país.
também as exigências do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) para que indústrias siderúrgicas assegurassem, até
1992, o consumo de 70% do carvão originário de reflorestamentos, uma proporção
que deveria atingir 100% no ano de 1995, foram sistematicamente desrespeitadas
(BRASIL, 1995).
Por conseguinte, a biomassa utilizada na produção de carvão vegetal para
abastecer as produtoras de ferro-gusa no estado do Pará origina-se quase
integralmente de madeira oriunda da mata primária, sendo desprezível a parcela
originária da silvicultura, por exemplo, paricá ou teca, que o espécies plantadas
para atender ao setor madeireiro (laminação).
95
O material lenhoso responsável pelo abastecimento de milhares de fornos onde
é produzido o carvão vegetal, apesar de ser originário da mata primária, é oriundo de
atividades distintas daquelas que envolvem desmatamentos para implantação de
pastagens ou roças; das serrarias onde se utiliza aparas de madeira; e, em menor
proporção, nas áreas dos denominados “manejos florestais sustentados”.
Segundo Brito (1990), que apresenta um destaque para a madeira como fonte
de energia, onde grande parte se destina à produção de carvão vegetal, a mata
nativa (cerrado, mata atlântica, caatinga) não possui custo de implantação.
apenas os custos de exploração da mesma para a produção do carvão, que se
realiza sob ótica extrativista. No segundo momento, quando há práticas de manejo, o
custo existente refere-se à seleção de espécies nativas a serem utilizadas para
produção do carvão vegetal.
As informações apresentadas pelo autor acima, no que se refere aos custos de
exploração, serão associadas às informações constantes na tabela 1 a seguir, que
mostra dados sobre a produção de minério de ferro e o consumo de carvão vegetal
de mata nativa no estado do Pará, no período de 1999 a 2007, para que seja feita
breve análise sobre a sustentabilidade econômica do carvão vegetal de mata nativa
como fonte energética, no processo de transformação do minério de ferro em ferro-
gusa.
Tabela 1 - A produção do ferro-gusa a carvão vegetal de mata nativa e o consumo
de carvão vegetal de mata nativa no estado do Pará, no período de 1999 a 2007
Ano
Produção de Ferro Gusa a Carvão
Vegetal - Pará (t) de 1999 a 2007
Consumo de carvão vegetal de
Mata Nativa - Pará (m
3
)
1999
1.390.543 4.400
2000
1.652.000 4.000
2001
2.021.500 5.000
2002
2.245.000 5.650
2003
2.364.500 5.470
2004
3.102.750 7.900
2005
3.228.287 8.272
2006
3.452.400 9.780
2007
3.927.800 10.340
Fonte: SILVIMINAS (2008)
O gráfico 1 mostra que a produção de ferro-gusa apresentou um crescimento
acentuado e ininterrupto, atingindo um percentual de crescimento na ordem de
180% no período analisado.
96
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
4.000.000
Pr odução de Fer r o Gusa a Car vão Vegetal - Par á (t) de 1999 a 2007
Prodão de Ferro gusa e Carvão V egetal - Pará (t)
19 9 9 a 2 0 0 7
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Gráfico 1 - A produção do ferro-gusa a carvão vegetal de mata
nativa no estado do Pará no período de 1999 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor com base SILVIMINAS (2008)
O gráfico 2 a seguir mostra que a produção de carvão vegetal também
apresentou crescimento, mostrando claramente que uma relação direta entre a
produção de minério de ferro e o consumo de carvão vegetal, ou seja, quando
aumenta a produção de ferro-gusa aumenta também a demanda por carvão vegetal.
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
Consumo de Carvão Vegetal de Mata Nativa - Pará (mdc)
1999/2007
Consumo de Carvão V egetal de M at a Nativa - Pará
(mdc) 19 9 9 / 20 0 7
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Gráfico 2 - Consumo de carvão vegetal de mata nativa no
estado do Pará no período de 1999 a 2007
Fonte: Elaborada pelo autor com base SILVIMINAS (2008)
97
Considerando o crescente aumento da produção de ferro-gusa e que seu
processo no estado do Pará é todo proveniente de mata nativa, conclui-se que
aumentará também a pressão pelo desmatamento, o que contribui substancialmente
para a insustentabilidade dessa fonte energética.
5.1.2 Análise da sustentabilidade econômica do carvão vegetal de mata
plantada como fonte energética na transformação do minério de ferro em ferro-
gusa
O carvão vegetal é um insumo energético usado como termo-redutor na
produção de ferro-gusa. Ele é um resíduo da decomposição térmica, possuindo
maior concentração de carbono do que a madeira que o originou. A produção de
carvão é uma atividade milenar, obtendo alguns avanços tecnológicos nas últimas
décadas, mas que ainda guarda certo grau de primitivismo.
A opção pela produção de carvão vegetal de mata plantada de alto
rendimento com espécies exóticas do gênero Eucalyptus, conta com vultosos
aportes de incentivos fiscais do governo federal e com a obrigatoriedade legal
(Código Florestal) das siderúrgicas passarem a ser auto-sustentáveis, adequando-se
a um novo perfil da indústria de base florestal.
A madeira para a produção do carvão vegetal tem que ter algumas
características desejáveis, tais como forma, dimensões, umidade, densidade,
homogeneidade e teor de carbono fixo, para se obter bons rendimentos em carvão
vegetal (VALENTE 1986). Assim, existem algumas características cnicas (físicas e
químicas) que podem diferenciar tanto a qualidade quanto os preços entre o carvão
oriundo de mata nativa e o de mata plantada. Dentre as características físicas a mais
importante para esta diferenciação é a densidade. A densidade da madeira é a
relação que expressa a massa por uma unidade de volume (VITAL 1985). A mata
nativa consiste num conjunto de espécies que produz carvão vegetal de qualidade
variada. o carvão oriundo de mata plantada é homogêneo, proporcionando
qualidade melhor e maior preço.
Segundo Vale et al (2000), a densidade básica da lenha das espécies do
cerrado variam de 0,20 g/cm³ a 0,78 g/cm³, enquanto para Brito et al. (1984), a
98
madeira de Eucalyptus grandis, aos sete anos apresenta densidade de 0,438 g/cm³,
e baixo teor de cinza e, por isso, representa grande parte das plantações utilizadas.
O teor de cinzas é a relação entre a quantidade de cinzas e a quantidade de
carvão que lhe deu origem, estando correlacionado com a constituição química da
madeira. A quantidade de cinzas é maior no carvão vegetal de origem nativa devido
à variabilidade de espécies. As espécies menos densas, bem como lenha de menor
diâmetro, carbonizam-se mais rapidamente, portanto produz maior quantidade de
cinzas.
Os custos de produção do carvão de mata nativa e do carvão de mata
plantada são diferentes. A mata nativa (Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga) não
possui custo de implantação, havendo apenas os custos de exploração da mesma
para a produção do carvão, que se realiza sob a ótica extrativista. No segundo
momento, quando práticas de manejo, o custo existente refere-se à seleção de
espécies nativas a serem utilizadas para produção do carvão vegetal.
Características técnicas permitem diferenciar o carvão oriundo de mata nativa
daquele oriundo de mata plantada, determinando os preços do produto. O preço do
carvão vegetal é formado num mercado oligopsônico competitivo, constituindo uma
concorrência imperfeita. Do lado da demanda, poucas siderúrgicas e do lado da
oferta há muitos produtores independentes (competitivos).
As siderúrgicas a carvão vegetal podem ser divididas em dois segmentos: as
usinas integradas e as usinas independentes. As siderúrgicas integradas, por
possuírem reflorestamentos próprios, dependem menos dos preços de mercado,
comparativamente às siderúrgicas independentes, que usam tanto o Carvão Vegetal
de Mata Plantada (CVP)
quanto o Carvão Vegetal de Mata Nativa (CVN). Verifica-se,
ainda, que existem várias oscilações de preço no período analisado, sendo os
preços do CVP superiores aos preços do CVN, devido ao CVP ser um produto de
melhor qualidade em função de suas características físicas e químicas. Destaca-se
que esta comparação de preço se refere ao que ocorre em Minas Gerais.
Assim, com relação à sustentabilidade econômica da mata plantada, entende-
se que a atividade de reflorestamento apresenta sustentabilidade, desde que sejam
utilizadas as técnicas de manejo florestal e principalmente se utilizadas em áreas
degradadas, tornando-as novamente produtivas, o que reduziria os custos, pois
99
essas áreas possuem menor valor comercial. Como justificativa desse modelo
poder-se-ia considerar ainda a preservação da mata nativa, a absorção de CO
2
, a
geração de emprego e renda, além do que, essas áreas reflorestadas podem
produzir tanto madeiras para a produção de carvão vegetal como para outros fins.
As matas plantadas possuem custo de implantação, custo de manutenção e
custo de exploração, o que onera os custos finais para a produção do carvão vegetal
(REZENDE, 2003).
Dessa forma, para que se possa mensurar a sustentabilidade econômica do
carvão vegetal de mata plantada como fonte redutora do minério de ferro, serão
utilizados, na tabela 2, dados referentes ao preço e consumo do estado de Minas
Gerais, já que o estado do Pará é iniciante na exploração de mata plantada para fins
energéticos, não possuindo, portanto dados estatísticos que possam ser utilizados.
Portanto, os dados de Minas Gerais servirão como referência ou paramento de
comparação com a futura produção do insumo paraense.
Tabela 2 - Consumo e preço de carvão vegetal de mata plantada no estado
de Minas Gerais no período de 1999 a 2006
Ano
Preço médio
-
(
R
$)/m
3
Consumo
(
m
3
)
1999 - 165.000
2000 - 158.800
2001 - 171.200
2002 - 172.140
2003 64,11 194.700
2004 99,94 244.200
2005 83,00 251580
2006 94,00 210.170
Fonte: Elaborada pelo autor com base em AMS/IEF/SINDIFER (2008)
O gráfico 3 mostra claramente a falta de dados referente ao preço médio do
carvão vegetal nos anos de 1999 a 2002, dificultando a análise. Ainda assim
percebe-se que os preços mantiveram-se estáveis com exceção do ano 2003 que
apresenta um valor mais baixo.
Essa falta de dados tem se constituído em grande empecilho para que se faça
análises mais completas. É importante ressaltar que o estado de Minas Gerais é o
estado brasileiro com maior área de mata plantada com finalidade energética, além
disso, conta com apoio de associações de classe tais como Associação Mineira de
Silvicultura (SILVIMINAS), Associação Brasileira de Carvão Vegetal (ABRACAVE) e
100
o Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (SINDIFER), todas com
bastante atuação no setor siderúrgico e carvoeiro e ainda assim é carente em termo
de dados estatísticos.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Perí odo
Preço dio do carvão vegetal - M inas Gerais -
19 9 9 / 20 0 6 (r$)
Gráfico 3 - Preço de carvão vegetal de mata plantada - Minas
Gerais no período de 1999 a 2006
Fonte: Elaborada pelo autor com base em AMS/IEF/SINDIFER-2008.
No gráfico 4 a seguir observa-se que no peodo de 1999 a 2003, o consumo
de carvão vegetal se manteve praticamente inalterado, no ano de 2000 ocorreu o
menor consumo, na ordem de 158.800m
3
, enquanto que o maior consumo ocorreu
no ano de 2003, na ordem de 194.700m
3
. Nos anos seguintes ocorreram
crescimentos sem grandes expressões, com destaque para o ano de 2005, que teve
a maior produção do período analisado 251.580m
3
.
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
300.000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Perí odos
Consumo de carvão vegetal (mdc) - M inas Gerais
19 9 9 / 2 0 0 7
Gráfico 4 - Consumo de carvão vegetal de mata plantada – Minas Gerais
no período de 1999 a 2006
Fonte: Elaborada pelo autor com base em AMS/IEF/SINDIFER (2008)
101
Considerando então, as dificuldades de se captar dados que melhor
orientassem esta análise, partiu-se para uma interpretação dos dados contidos na
tabela 2, onde se pode perceber com bastante clareza uma relação direta entre o
consumo e o preço médio do carvão vegetal, ou seja, à medida que aumenta o
consumo de carvão vegetal aumenta também os preços.
O crescimento apresentado em todo período analisado deixa também muito
claro que o interesse dos empresários do setor guseiro do estado de Minas Gerais é
pela utilização do insumo proveniente de mata plantada em detrimento de outras
fontes, como o próprio carvão vegetal de mata nativa, que tem seus custos
aumentados em razão da escassez e da distância cada vez maior entre a mata
nativa e a planta industrial. O mesmo ocorre com o carvão mineral, que envolve
custo de frete tanto terrestre quanto marítimo quando importado, que o nacional
apresenta qualidade inferior. Assim, chega-se a um entendimento que o carvão
vegetal de mata plantada apresentara maior nível de sustentabilidade econômica.
5.1.3 Análise da sustentabilidade econômica do carvão mineral como fonte
energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa
Quanto ao carvão mineral como fonte de energia para produção de ferro-
gusa, segundo o Sindicato da Indústria de Ferro de Minas Gerais (SINDIFER),
Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) e Associação Mineira de Silvicultura
(SILVIMINAS), não apontaram indícios da utilização desse insumo por parte da
indústria siderúrgica paraense. Dessa forma, buscaram-se dados estatísticos em
outros estados da Federação, onde o estudo então se deparou com a informação de
que somente as usinas integradas (aquelas que diversificam a cadeia produtiva do
ferro-gusa) é que utilizam o carvão mineral no seu processo produtivo. Portanto, o
estudo parte da premissa de que o carvão mineral não é utilizado como fonte de
energia na transformação do minério de ferro em ferro-gusa no estado do Pará.
No entanto apenas para constar, obteve-se informação através de entrevista
com o Sr. Carlos Alberto responsável pelo setor de estatística do Sindicato das
Indústrias Siderúrgicas de Minas Gerais (SINDIFER) e também com Sr. Luis
Eduardo, consultor com vários trabalhos prestados para grandes empresas do setor
siderúrgico do estado de Minas Gerais, de uma ligeira participação do carvão
mineral como insumo energético na produção de ferro-gusa, essa ocorrência se deu
102
no início do século XIX, mas mesmo assim o carvão vegetal continuou ocupando um
importante espaço na siderurgia brasileira, respondendo por algo em torno de 25 a
35% da produção brasileira de ferro-gusa nesse período.
A ocorrência dessa produção baseou-se no estabelecimento de um sistema
produtivo marcado pela coexistência de dois tipos de produtores de ferro-gusa:
produtores integrados, e produtores independentes. Os primeiros fabricam ferro-
gusa dentro de unidades siderúrgicas de maior porte, que incluem a produção de
aços e outros produtos mais elaborados, enquanto as unidades independentes,
caracterizam-se pela produção exclusiva do ferro-gusa, vendendo-a em seguida
para fundições e aciarias.
Segundo o Anuário SINDIFER (2008), as siderúrgicas integradas, assim
denominadas por participarem de grande parte da cadeia produtiva do minério de
ferro, são as que ainda utilizam o carvão mineral como fonte energética em seu
processo produtivo, em razão da diversificação de sua produção que lhe permite
suportar o maior preço desse insumo energético.
Portanto, como o foco desse tópico é a mensuração da sustentabilidade
econômica do carvão mineral como fonte energética da transformação do minério de
ferro em ferro-gusa (siderúrgicas independentes), optou-se em apresentar alguns
itens que podem se configurar como inviável economicamente, entre eles
encontram-se: maior custo de frete terrestre se, nacional e marítimo em caso de
importação, bem como a questão da saída de divisas do país, o que se configuraria
economicamente como um fator negativo do ponto de vista da balança comercial do
estado e do país. Assim, a partir dessas informações entendeu-se tratar de uma
fonte energética que apresenta custos mais altos em relação às outras fontes
analisadas, configurando-se, portanto em um insumo com baixo nível de
sustentabilidade econômica.
5.2 A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL POR FONTE ENERGÉTICA NA
TRANSFORMAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO-GUSA
A indústria direcionada à produção do ferro-gusa caracteriza-se por
apresentar certo grau de complexidade tanto operacionalmente como no
gerenciamento ambiental, em face da diversidade produtiva de insumos energéticos
103
e produtos finais envolvendo as fases de lavra, beneficiamento e transformação. Em
decorrência dos riscos envolvidos nos processos operacionais sobre o meio físico,
solo, água e ar, a produção deste minério é avaliada com bastante reserva pela
sociedade, fundamentalmente por três aspectos negativos principais: destruição do
meio ambiente, poluição ambiental e a falta de responsabilidade social. A seguir
desenvolve-se uma análise da sustentabilidade ambiental por fonte energética na
transformação do minério de ferro em ferro-gusa.
5.2.1 Análise da sustentabilidade ambiental do carvão vegetal de mata nativa
como fonte energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa
O elevado consumo de carvão vegetal de mata nativa pelas siderúrgicas
contribui para acobertar um volume expressivo de insumo produzido de forma ilegal,
ou seja, decorrente de desmatamentos não autorizados, frequentemente, em áreas
protegidas por lei.
Estudos de Brito (1990) revelam que o primeiro e talvez mais importante dos
problemas ligados ao carvão vegetal é o da oferta de matéria-prima para sua
produção. Segundo o autor, é bastante conhecido o fato de que pelo menos 2/3 da
matéria-prima usada na obtenção de carvão vegetal no Brasil tem origem nas matas
nativas e áreas de cerrado. No estado do Pará esse volume pode chegar muito
próximo aos 100%, considerando que o estado não possui mata plantada com
finalidade energética em ponto de corte para produção de carvão utilizado no
processo de transformação de minério de ferro em ferro-gusa. Contemplando assim
a primeira negativa apontada pelo autor, ou seja, destruição do meio ambiente
(desmatamento).
Não se pode negar que a grande disponibilidade de material lenhoso
proveniente de mata nativa permitiu o desenvolvimento crescente da siderurgia. Do
mesmo modo, a demanda de produtos agrícolas cresceu com o aumento do
consumo interno da exportação, criando fronteiras novas de produção.
Consequentemente o desmatamento, seja diretamente com recursos do produtor ou
com financiamentos de programas do governo, têm gerado, em alguns estados do
Brasil em particular no estado do Pará, condições para o fornecimento de madeira,
104
que ao invés de ser simplesmente queimada, vem sendo transformada em carvão
vegetal.
Um outro fator de relevância é que a atividade de produção de carvão vegetal,
tal como hoje é praticada junto às fronteiras de desenvolvimento agrícola, tem
alguns vínculos negativos em relação à questão ambiental. Por outro lado, é
importante ponderar que para algumas regiões podem-se conceder alguns créditos
positivos para a atividade. É que estas apresentam benefício econômico através do
aproveitamento da madeira, da emissão de gases, e particularmente o CO
2
, que é,
provavelmente, menor do que aquela que ocorre quando simplesmente se utiliza a
combustão total da madeira, como frequentemente se verifica nas queimadas das
florestas.
De acordo com Brito (1990), 30% a 40% da madeira submetida ao processo
de carbonização é recuperada na forma de carvão vegetal e, portanto, não é
convertida em gases. Além de menor, a emissão de gases é diluída ao longo de
todos os meses do ano, e não brutalmente concentrada na época de estiagem,
como ocorre nas queimadas. Aqui se percebe claramente o segundo ponto negativo
apontado pelo autor, ou seja, a poluição ambiental.
Independentemente desses aspectos, o autor acima relata que a ocorrência
de sustentação de uma importante parcela da produção siderúrgica baseada no
carvão vegetal obtido de madeira de matas nativas está se tornando difícil.
Elucidando essa questão de se conceber que a mata nativa está hoje
escasseando, principalmente, junto às usinas siderúrgicas, pois grande parte do
desenvolvimento agropecuário se encontra estabelecido nessas áreas e como
consequência deste fato destaca-se o distanciamento cada vez maior dos pontos de
produção de carvão vegetal, os quais muitas vezes estão localizados a 1000 km dos
centros de consumo, como ocorre em Minas Gerais, que tem levado os
consumidores a empenharem-se no estabelecimento de programas de
reflorestamento com espécies de rápido crescimento para o atendimento da
demanda de madeira.
O empenho desenvolvido no sentido de reflorestamento se em razão da
escassez e a distância cada vez maior para conseguir a matéria-prima necessária à
produção de carvão vegetal, e não pela compreensão, entendimento ou respeito à
105
natureza e a sociedade, na firme demonstração da falta de compromisso e
responsabilidade social que se constitui no terceiro ponto negativo.
O outro grande problema envolvendo o carvão vegetal também apontado por
Brito (1999), está ligado à questão da tecnologia empregada em sua produção, onde
suas colocações são claras quando destaca que o nosso carvão vegetal é hoje
produzido em sua maior proporção, da mesma forma como o era há um culo, e
mais, a tecnologia é primitiva, o controle operacional dos fornos de carbonização é
pequeno, e não se pratica o controle qualitativo e quantitativo da produção.
Além desses aspectos, o autor ainda chama a atenção para o fato de que a
tecnologia atualmente empregada descarta através da emissão de gases, milhares e
milhares de toneladas de componentes químicos. Conforme mencionado
anteriormente, do processo de carbonização, aproveita-se de 30% a 40% da
madeira na forma de carvão vegetal. O restante é simplesmente lançado na
atmosfera na forma de gases. Apesar da atividade não se encontrar concentrada
num único ponto, com grande dispersão de centros de produção no meio rural, o
resultado global das emissões de gases é importante, tanto a nível da perda de
produtos químicos valiosos que poderiam ser economicamente recuperados, como
ao nível do aspecto ambiental.
Por esta razão, é que grande parte das empresas do setor vêm realizando
ações no sentido de aprofundar os estudos e as efetivas implantações de sistemas
de recuperação desses produtos gasosos para a geração de insumos químicos e
energéticos. Algumas delas já têm como rotina a recuperação de parte desses
produtos na forma de alcatrão para uso como combustível. Vale lembrar que as
tecnologias para a recuperação desses produtos são totalmente disponíveis, e tem
sido historicamente utilizadas em várias partes do mundo.
No entanto, não como desconsiderar que a adoção de soluções para a
recuperação de outros produtos da carbonização, também implica em profundas
alterações na sistemática hoje utilizada no Brasil. São alterações que exigem, no
dizer de Brito (1990), a priori, a adoção de modernas tecnologias e modernos
conceitos agroindustriais, fugindo assim da definição que ainda se a esta
atividade no Brasil como sendo algo marginal e secundário da atividade rural. Além
disso, registra-se a exigência de significativos investimentos iniciais, principalmente,
106
se comparados àqueles necessários para a produção de carvão vegetal pelo modelo
tradicional.
O fato é que a sociedade civil não mais admite, seja qual for a atividade
considerada, a não agregação de custos relacionados à necessidade da
minimização dos impactos sobre ambiente, e com o carvão vegetal não é diferente.
Se os investimentos o maiores, os ganhos ambientais, no entanto, são muito
significativos. Importantes exemplos da possibilidade da produção de carvão vegetal
em total consonância com as modernas conceituações de controle ambiental podem
ser presenciados em várias fábricas do produto localizadas na Europa, em países
como a França, a Alemanha, a Inglaterra, a Bélgica, a Iugoslávia etc. Estas
tecnologias estão disponíveis no Brasil, quer através de iniciativas de
desenvolvimento por parte de empresas nacionais, quer pela colocação de
tecnologias adaptadas do exterior (BRITO, 1990).
Considerando por fato que o Brasil manterá o seu parque siderúrgico a carvão
vegetal, além de outros segmentos consumidores desse produto, em franca,
expressiva e crescente expansão, fica também a evidência de uma maior
transformação de conceitos e práticas a elas vinculadas. As questões de ordem
econômica, ambiental e social terão um grande papel para a imposição dessa
transformação, haja vista a realidade de uma transformação que conduzirá,
necessariamente ao incremento da área reflorestada no país, além de forçar o
emprego de tecnologias mais racionais de manejo e exploração florestal, em
conjugação de adequação como recomendado pelas mais modernas estratégias
ecológicas. Quanto aos processos de obtenção de carvão vegetal, de se esperar
que ainda haverá indução para o emprego de tecnologias que contemplem formas
de recuperação e de aproveitamento de outros produtos, além do carvão vegetal.
Com isso, serão minimizadas as emissões de produtos poluentes, além de
proporcionarem diretamente uma maior valorização da madeira como matéria-prima.
Ao se discutir a questão da sustentabilidade ambiental da utilização do carvão
vegetal de mata nativa como fonte energética para o setor siderúrgico, parte-se
inicialmente da questão do desmatamento como um dos principais impactos
ambientais. Porém, é importante que se tenha em mente duas coisas, a primeira é,
em que ambiência ocorre o desmatamento ou a devastação da floresta, e a
segunda, se o termo “desmatamento” é empregado de forma correta.
107
A partir dessas informações pode-se considerar que a utilização da mata
nativa como fonte de matéria-prima para produção de carvão vegetal como energia
para reduzir o minério de ferro, constituindo-se em um evento de várias implicações
e grandes impactos ambientais, entre eles destaca-se evolução percentual do
desmatamento registrados nos últimos anos no estado do Pará. Ressaltando-se
ainda que o desmatamento é o início da cadeia de impactos, pois, provoca a perda
da fertilidade do solo, a poluição atmosférica, assim como a emissão de particulados
e fluidos da operação dos projetos siderúrgicos.
Segundo Valverde (1989), parte dos problemas da instalação de projetos
siderúrgicos, pode advir de sua localização imprópria, ou quanto à inadequabilidade
do sítio (condições do terreno, proximidade a centros populacionais). Uma vez que
um sítio inadequado pode resultar em:
a) Poluição ambiental, dos cursos d’água, erosão, etc.; que por sua vez
resultarão na degradação ambiental;
b) Valoração irreal das propriedades fundiárias;
c) Supervalorização das obras de adequação de terreno;
d) Elevar os custos de produção.
Além do que cita o autor acima, destacam-se também como fatores
impactantes ao meio ambiente a remoção dos nutrientes do solo, que estão
presentes nos primeiros centímetros, que ocorrem a partir da cobertura vegetal
(desmatamento) deixando o solo exposto às chuvas que retiram os nutrientes,
diminuindo a fertilidade. A falta de vegetação não fixa mais o solo e quantidades
cada vez maiores são removidas, aumentando as taxas de erosão natural. Onde os
processos erosivos são agravados com o aumento da incidência solar. Desta forma,
o material erodido podem assorear os cursos d’água, diminuindo a quantidade de
oxigênio em circulação e, posteriormente impedindo a circulação de água.
Na tabela 3 a seguir serão apresentados dados referentes ao consumo de
carvão vegetal de mata nativa e a área desmatada, dados que servirão para uma
breve análise sobre o tema em discussão.
108
Tabela 3 - Consumo de carvão vegetal de mata nativa (m
3
) e a área
desmatada em km
2
no estado do Pará no período de 1999 a 2007
Ano
Consumo de carvão vegetal
de mata nativa no Pará (m
3
)
Área desmatada no estad
o
do Pará - km
2
1999 4.400 5.111
2000 4.000 6.671
2001 5.000 5.237
2002 5.650 7.324
2003 5.470 6.996
2004 7.900 8.521
2005 8.272 5.731
2006 9.780 5.505
2007 10.340 5.425
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados do Anuário AMS (2008)
O gráfico 5 revela o que desmatamento no estado do Pará como um todo e
não apenas aquele provocado pela produção de carvão vegetal de mata nativa e
nele percebe-se que nem sempre que o consumo de carvão vegetal aumenta,
cresce também a quantidade de área desmatada. Este fenômeno pode ser explicado
a partir da aplicação do decreto de 1994 que regulamentou a exploração das
florestas na Amazônia define o manejo sustentável como "a administração da
floresta para a obtenção de benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os
mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo". Atualmente, o
conceito foi ampliado para manejo florestal de uso múltiplo, passando a incluir
"múltiplos produtos e subprodutos não-madeireiros, bem como a utilização de outros
bens e serviços naturais da floresta".
O bom manejo implica em uma exploração cuidadosa, de impacto ambiental
reduzindo a aplicação de tratamentos silviculturais, para potencializar a regeneração
da floresta e fazer crescer outra colheita, e o monitoramento, para controlar essa
regeneração e ajudar o manejador na tomada de decisões técnicas e comerciais.
Em termos ambientais, o bom manejo contribui para que a floresta mantenha
sua forma e funções mais próximas de seu estado original. A manutenção da forma
se na medida em que se minimizam os danos à floresta e, em consequência, às
árvores comerciais remanescentes. Mantida a sua forma, a floresta pode continuar a
desempenhar suas funções: proteger o solo contra a erosão, preservar a qualidade
da água, abrigar a biodiversidade e outras. Além disso, a floresta remanescente
corre menos riscos de incêndios e pode ser enriquecida com os tratamentos
silviculturais. Assim, o bom manejo é economicamente viável e, a longo prazo, mais
109
barato que a exploração convencional. Desta forma verifica-se a importância do
manejo sustentável para redução do desmatamento verificado no período de 2005 a
2007, apontado no gráfico abaixo.
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Consumo de carvão vegetal e mata nativa (mdc) e Área
desmatada em Km
2
no estado do Pará - 1999/2007
Consumo de carvão vegetal de mata nativa no Pará - mdc
Área desmatada no Estado do Pará - Km2
Gráfico 5 - Consumo de carvão vegetal de mata nativa (m
3
) e a área
desmatada em km
2
no estado do Pará no período de 1999 a 2007
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados do Anuário AMS (2008)
As informações contidas no gráfico 5 a seguir deixam claro o entendimento
que o desmatamento e o consumo de carvão vegetal de mata nativa são muito
importantes, mas não suficientes para que se possam fazer uma melhor avaliação
da sustentabilidade do carvão vegetal de mata nativa como fonte de energia para
transformação do minério de ferro em ferro-gusa, mas registra-se aqui que é
justamente através do desmatamento que os maiores impactos se iniciam, entre eles
podem-se destacar, as mudanças climáticas, aumento da temperatura,
assoreamento dos rios, entre outros, assim ao se considerar os impactos
mencionados, chegou-se ao entendimento de que se está discutindo uma fonte
energética com elevado grau de impacto ao meio ambiente e por conseguinte um
baixo nível de sustentabilidade ambiental.
5.2.2 Análise da sustentabilidade ambiental do carvão vegetal de mata plantada
como fonte energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa
A sustentabilidade ambiental da utilização do carvão vegetal como fonte
energética na produção do ferro-gusa depende, entre outras medidas, da redução
das emissões de gases poluentes, da conservação do solo, da não contaminação
110
das águas, da exploração racional dos recursos sseis e dos recursos naturais
renováveis. Dentre as atividades humanas, a produção e o consumo de energia é
uma das mais intensivas na utilização de recursos naturais. Por outro lado, também
é uma das principais fontes de emissões de poluentes (ELETROBRAS, 1998).
A biomassa florestal possui características tais que permitem a sua utilização
como fonte alternativa de energia, seja pela queima da madeira, como carvão, ou
dos resíduos da exploração com aproveitamento de óleos essenciais, alcatrão e
ácido pirolenhoso (COUTO; FONSECA; MULLER, 2000).
A utilização da mata plantada na produção do carvão vegetal é discutida por
diversos autores, os quais se posicionam contra este processo. No plantio do
eucalipto, por exemplo, se inicia o uso dos recursos hídricos com a irrigação e
lavagem do maquinário de plantio e colheita que se aproxima da mecanização
plena. A contaminação do solo pelo uso intensivo de agrotóxicos se transfere para
córregos, riachos e rios. Todas estas áreas são consideradas áreas essenciais para
a preservação da sustentabilidade do meio ambiente.
No caso de reflorestamento, a árvore em si depende, para seu
desenvolvimento acelerado de quantidades de água que provocam o secamento do
solo, diminuindo os mananciais. Novamente aqui se coloca a possibilidade de
desertificação como resultado do plantio de árvores de crescimento acelerado.
Como exemplo dessa atividade tem-se a expansão da monocultura do eucalipto
para produção de celulose e carvão vegetal constituído por um complexo
agroindustrial exportador, que ao longo das últimas quatro cadas no Sudeste vem
impactando os rios dessa região que foram degradados pela contaminação por uso
intensivo de agrotóxicos e por um processo de secamento relacionado ao plantio em
larga escala, comprometendo a pesca e a qualidade e quantidade da água potável.
O certo e que a ampliação da área plantada com eucalipto modificará as
condições para todas as formas de vida da região. O impacto se inicia com a
proliferação das pragas típicas do eucalipto, especialmente saúvas cortadeiras e
desfolhadeiras do eucalipto (SANTANA; COUTO, 1990).
O autor acima mostra que a degradação no solo, nos recursos hídricos e na
flora para inviabilizar a vida de vertebrados e invertebrados nos rios que são
111
abundantes na região. Afetando também os ribeirões que servem como bebedouros,
impactando toda a fauna das áreas de mata ao seu redor.
O impacto desta produção sobre as terras agricultáveis também vem
demonstrando em outras regiões do país, onde a floresta plantada é utilizada a
várias décadas, a inviabilidade da agricultura familiar. As comunidades tradicionais
campesinas, sem-terra e pescadores estão tendo seus modos de vida inviabilizados
pela ação deste complexo agroexportador que mantém a inadequação do uso dos
recursos naturais no mesmo paradigma de desenvolvimento hegemônico nos
quinhentos anos de exploração do Brasil. Trata-se de uma atividade de monocultura
produtora de desertos que deixa para trás, áreas destruídas em busca de novos
espaços para explorar, assemelhando-se com a imagem usada por Euclides da
Cunha para descrever os sertões sendo válida ainda no século XXI em meio aos
discursos ecopacifistas.
Dentre os que defendem a mata plantada para a produção de carvão vegetal,
destaca-se Andrade (1995), o qual afirma que existe uma visão distorcida que
propaga prejuízos do eucalipto, em um ponto de vista mais emocional do que
científico. O autor também comenta que a hidrologia de uma floresta plantada não é
muito diferente de uma mata nativa. Como a produção de biomassa é rápida, existe
um consumo grande de água nos primeiros momentos, quando a árvore começa a
crescer. A cana-de-açúcar, uma das culturas mais difundidas no país, e grandes
possibilidades de crescimento em função da produção de etanol, consome a mesma
quantidade de água que o eucalipto. Andrade informa ainda que as áreas com baixa
precipitação se tornam pouco viáveis para a silvicultura, como a caatinga. Se não
houver irrigação, não haverá ganho de biomassa. O arranque de crescimento faz
com que o eucalipto precise de mais água. Mas, em compensação, consegue
melhorar a qualidade da água que chega aos lençóis subterrâneos e aos rios, em
comparação com as áreas agrícolas, enfatiza.
O mesmo autor também não concorda com as declarações de que o eucalipto
secaria as nascentes. De acordo com ele, tudo depende de onde está localizada a
nascente. Se for em uma área sem florestas em volta, com vegetação rasteira, o
eucalipto pode afetar a produção de água local porque as árvores plantadas terão
uma biomassa maior do que a vegetação natural. Mas isso não é exclusivo do
eucalipto. Qualquer espécie provocaria este efeito. Para não correr riscos, o ideal é
112
manter a área em volta da nascente como ela é originalmente. A microbacia da
região é estudada antes de se começar o plantio de árvores, para manter a
sustentabilidade do sistema e atenuar os impactos.
Em continuidade ao tema, o autor também discorda de que as matas
plantadas causariam grandes erosões e perdas de solo. Um fator favorável do
eucalipto é que menos perda de solo. Ele fica protegido porque são ciclos de
produção maiores do que a agricultura, que trabalha com espécies anuais. Além
disso, a agricultura usa mais agrotóxicos do que as matas plantadas. A plantação
florestal recobre consideravelmente o solo, diminuindo as chances de erosão. O
terreno é pouco atingido de maneira direta com as chuvas, principalmente se
comparado com algumas espécies agrícolas.
O Brasil é o país que mais desenvolveu a plantação de eucalipto no mundo,
mesmo tendo uma cobertura florestal grande. O potencial de terras e as condições
climáticas favoreceram esse tipo de atividade, em conjunto com estudos
desenvolvidos por institutos de pesquisa. As maiores taxas de crescimento de
eucalipto no país estão nas áreas plantadas no litoral do Espírito Santo e sul da
Bahia, onde há uma alta precipitação de chuvas e uma insolação abundante.
A silvicultura exerce um papel importante porque tira a pressão existente
sobre os remanescentes de florestas. A sociedade precisa de madeira e seus
derivados. Imagine se o houvesse o eucalipto e o pinus, onde se supriria essa
demanda? Provavelmente nas matas nativas. Isso agravaria a situação de
devastação existente, como a que acontece na mata paraense que é derrubada para
formação de pastagens, plantio de grãos e produção de carvão vegetal. O eucalipto,
portanto, consegue substituir as madeiras de árvores nativas com uma boa
qualidade.
As atividades florestais, principalmente aquelas ligadas ao reflorestamento,
merecem uma atenção especial porque adquirem, também, uma importância
ambiental na medida em que se desloca o suprimento de carvão, hoje baseado em
mata nativa em grande escala. Mais recentemente, o setor adquiriu um novo papel,
em razão de sua capacidade de funcionar no âmbito do ciclo de carbono como
possibilidade de melhoria das condições climáticas globais, como preveem os
113
Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto
11
. Minas
Gerais, por exemplo, é o estado brasileiro com maior área reflorestada do país, além
de ser o estado com o maior potencial de novos reflorestamentos e, por esta razão,
é o que tem a maior possibilidade de expansão da indústria de base florestal.
Dessa forma as informações acima, associadas aos números referentes à
produção de ferro-gusa e a produção de carvão vegetal de mata plantada, no estado
de Minas Gerais, contidas na tabela 4, permitiu a construção de análise avaliativa da
sustentabilidade ambiental.
Tabela 4 - Produção de ferro-gusa e produção do carvão vegetal proveniente de
mata plantada no estado de estado de Minas Gerais no período de 1999 a 2006
Ano Produção de ferro-gusa (t)
Produção de carvão vegetal mata
plantada (t)
1999 1.292.332 1.961.730
2000 1.329.969 1.935.101
2001 1.239.057 1.615.896
2002 1.122.230 1.484.921
2003 1.191.485 1.602.774
2004 1.424.025 1.642.853
2005 1.721.871 1.742.502
2006 1.151.985 1.975.378
Fonte: IBGE (2006)
O gráfico 6 a seguir mostra que a produção de carvão vegetal de mata
plantada, da mesma forma que a produção de ferro-gusa no estado de Minas
Gerais, se mantém mais ou menos constante ao longo dos anos analisados.
Mostrando, portanto que, as indústrias siderúrgicas não encontraram até o momento
fonte alternativa de energia que pudesse proporcionar melhor sustentabilidade
ambiental.
11
Constitui-se no protocolo de um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a
redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria
das investigações científicas, como causa antropogênicas do aquecimento global
.
114
0
300.000
600.000
900.000
1.200.000
1.500.000
1.800.000
2.100.000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Produção de ferro-gusa e Produção de cao vegetal proveniente de
mata plantada no estado Minas Gerais 1999 a 2006
Produção de Ferro Gusa - t Produção de Carvão Vegetal mata plantada -t
Gráfico 6 - Produção de ferro-gusa e produção do carvão vegetal proveniente
de mata plantada no período de 1999 a 2006 – Estado de Minas Gerais
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do IBGE (2006)
Igualmente discutido no item 5.2.1, não se deve esquecer que os impactos
ambientais não podem nem devem ser analisados somente a partir do
desmatamento provocado pela produção de carvão vegetal, mesmo que nesse caso
se esteja trabalhando com mata plantada, mas que também causam impactos ao
meio ambiente, onde a descoberta do solo provocado pelo corte das árvores facilita
a lavagem da terra, provocando a desnutrição da mesma e consequentemente o
assoreamento dos rios, além é claro do processo de carvoejamento que contribui
com o aquecimento global, este minimizado pelo processo de fotossíntese, que
absorve antecipadamente o CO
2
que será emitido no momento do carvoejamento.
Portanto, para que se faça uma avaliação referente ao nível de
sustentabilidade ambiental da utilização da mata plantada como fonte de matéria-
prima para produção de carvão vegetal, é importante considerar as observações
feitas por Andrade (1995), ao discordar de que as matas plantadas causariam
grandes erosões e perdas de solo, afirmando que, a mata plantada oferece menos
perda de solo, porque fica protegida em razão dos ciclos de produção que são
maiores do que os da agricultura, que trabalha com espécies anuais, usa mais
agrotóxicos do que as matas plantadas, am do que a mata plantada recobre
consideravelmente o solo, diminuindo as chances de erosão, assim o terreno é
pouco atingido de maneira direta pelas chuvas, principalmente se comparado com
algumas espécies agrícolas mais rasteiras. Então a partir das experiências aqui
115
discutidas com relação ao estado de Minas Gerais e a defesa de Andrade (1995)
com relação a utilização da mata plantada como fonte energética para o setor
siderúrgico, percebe-se que esta se constitui na fonte energética que mais
demonstrou sustentabilidade até o momento.
5.2.3 Análise da sustentabilidade ambiental do carvão mineral como fonte
energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa
De acordo com o que foi discutido no sub item 5.1.3, ao revelar que as
indústrias siderúrgicas independentes (produtoras apenas do ferro-gusa) do Brasil e
particularmente do estado do Pará não utilizam o carvão mineral como fonte de
energia em seu processo produtivo, ou seja, na produção de ferro-gusa, através de
informação devidamente justificada pelas fontes pesquisadas, optou-se por
demonstrar alguns impactos ambientais provocados pelo emprego do carvão mineral
em outros processos.
Como o carvão mineral não é utilizado como fonte energética no processo de
transformação do minério de ferro no estado do Pará e no Brasil como um todo,
estendeu-se a pesquisa para o setor de siderúrgicas integradas e o processo de
extração do carvão mineral para que se pudesse fazer uma mensuração dos
impactos provocados por esse insumo energético.
Para avaliar os impactos iniciou-se pela atividade da siderurgia integrada que
ao queimar o carvão mineral se converte em uma atividade que emite grande
quantidade de gases na atmosfera diariamente, entre eles listam-se aqui os três
principais: dióxido de carbono, metano e enxofre.
O dióxido de carbono, ou anidrido carbônico, ou gás carbônico é um
composto químico constituído por dois átomos de oxigênio e um átomo de carbono.
A representação química é CO
2
. O dióxido de carbono foi descoberto pelo escocês
Joseph Black em 1754.
Estruturalmente o dióxido de carbono é constituído por moléculas de
geometria linear e de caráter apolar. Por isso as atrações intermoleculares são muito
fracas, tornando-o, nas condições ambientais, um gás. Daí o seu nome comercial:
gás carbônico.
116
O metano (CH
4
) é um gás que não possui cor (incolor) nem cheiro (inodoro).
Considerado um dos mais simples hidrocarbonetos, possui pouca solubilidade na
água e, quando adicionado ao ar, torna-se altamente explosivo. O metano é
produzido através dos seguintes processos naturais:
- Decomposição de lixo orgânico;
- Digestão de animais herbívoros;
- Metabolismo de certos tipos de bactérias;
- Extração de combustíveis minerais (inclusive o carvão mineral); e
- Vulcões de lama.
O metano é encontrado na atmosfera na proporção aproximada de 1,7 ppm
(partículas por milhão). Como ele pode ser produzido através de matéria orgânica,
pode ser chamado de biogás. Desta forma, é utilizado como fonte de energia.
Ao se verificar os impactos provocados pela exploração do carvão mineral
percebeu-se que não difere muito dos impactos promovidos pela sua utilização no
setor siderurgico. No entanto, credita-se a esta atividade a questão da poluição da
água, conforme ocorrências nas regiões carboníferas dos estados de Santa Catarina
e Rio Grande do Sul, onde a poluição hídrica causada pela drenagem ácida infiltra
nos lençóis freáticos, impedindo sua utilização para o consumo humano.
No entanto, para que se possa verificar a poluição da água é importante
verificar que existem dois tipos de definição para descrever uma água poluída. Do
ponto de vista econômico, a poluição da água é constatada por uma alteração da
qualidade que afeta o bem-estar do consumidor e reduz os lucros do produtor,
exigindo-se assim o estabelecimento de um nível ótimo de poluição. Em termos
ambientais, a poluição da água é uma alteração do ambiente que afeta os
ecossistemas e direta ou indiretamente, o homem. Segundo a Organização Mundial
de Saúde (OMS), a água poluída é a água cuja composição tenha sido direta ou
indiretamente alterada, de forma a servir menos facilmente aos usos que poderia ter
no seu estado natural. A composição da água natural está em equilíbrio com o meio
e as espécies que utilizam a água estão adaptadas às suas características
existentes nos lençóis freáticos.
E assim, com base nas informações pesquisadas até aqui, sobre os impactos
ambientais provocados pela utilização do carvão mineral como fonte energética tanto
117
pelo setor siderúrgico integrado quanto no processo de exploração nas minas
carboníferas, verificou-se um elevado nível de agressão ao meio ambiente e
consequentemente baixo nível de sustentabilidade.
5.3 A SUSTENTABILIDADE SOCIAL POR FONTE ENERGÉTICA NA
TRANSFORMAÇÃO DO MINÉRIO DE FERRO EM FERRO-GUSA
O processo produtivo do carvão vegetal de mata nativa com fins energéticos
para a transformar o minério de ferro em ferro-gusa no Pará, repercute em uma
atividade de grandes impactos sociais, entre eles destaca-se o trabalho escravo, os
riscos à saúde dos trabalhadores e a má remuneração.
5.3.1 Análise da sustentabilidade social do carvão vegetal de mata nativa como
fonte energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa
Entre os vários impactos sociais provocados pela utilização do carvão vegetal
de mata nativa destaca-se a questão do trabalho escravo que tem demonstrado
grandes incidências no Brasil em particular no estado do Pará. Conforme revela a
Comissão Pastoral da Terra (CPT), desde 2003, quase 2,2 mil pessoas foram
envolvidas em trabalho degradante e escravo no Tocantins, e cerca de 1,5 mil, no
Pará. De acordo com a entidade, desde 1995 foram libertados 22 mil trabalhadores
em 19 estados brasileiros, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
As denúncias do período, no entanto, envolvem um total 36 mil pessoas.
Grande parte desses trabalhadores liberados atuavam em carvoarias. Esses
“empregados” são normalmente itinerantes, vêm de vilas, favelas e outras regiões
miseráveis de estados como Maranhão, Piauí, Pará, Bahia e Minas Gerais.
Analfabetos e marginalizados, por isso são facilmente enganados pelas promessas
dos “encarregados”, ou como preferem ser chamados os “gatos” que os agenciam
atraídos pela possibilidade, às vezes única, de mudar de vida, perdem a liberdade,
raramente recebem salários, dormem e comem como animais e estão sujeitos a
intoxicações e a doenças respiratórias, de pele, de coluna e câncer.
118
Não é raro terem documentos presos e serem vigiados por pistoleiros
autorizados a matar quem tentar fugir. Com muito suor e sangue e cobertos pela
fuligem negra que exalam as bocas dos fornos, essas pessoas costumam enfrentar
doze horas diárias de trabalho. O carvão que produzem chega às siderúrgicas
depois de passar por atravessadores e caminhoneiros. Algumas carvoarias estão a
centenas de quilômetros das indústrias.
carvoarias migrando dos estados de Goiás, Bahia e Minas Gerais para
municípios do sudeste paraense, como: Goianésia, Jacundá, Rondon do Pará e
Bom Jesus do Tocantins. No entanto, é importante ressaltar que nessa região
uma grande incidência do trabalho escravo tanto nas carvoarias como na pecuária.
Tomando por base a organização da produção de carvão vegetal no estado
do Pará, este que ainda utiliza a mata nativa como fonte de matéria-prima em seu
processo produtivo, geralmente dirigido por grupos informais e não por empresas
legalmente constituídas. Dessa forma, pode-se verificar o estabelecimento de alguns
tipos sociais diferenciados, seja pela propriedade, ou não, dos instrumentos de
produção, ou ainda pelo domínio de técnicas que os diferenciam internamente. Os
donos da lenha são os proprietários das fazendas e das serrarias. Este grupo
geralmente cede a lenha para ser explorada por um terceiro que, em contrapartida,
realiza a limpeza da fazenda ou do pátio da serraria. Em alguns casos, em função da
localização privilegiada da serraria ou da fazenda, os donos da lenha são
remunerados com certo percentual do total produzido na carvoaria. Este segmento
pode assumir a condição de fornecedor, na medida em que passe a conduzir a
produção do carvão.
Outra figura que também faz parte do processo são os intermediários que
geralmente são os proprietários de caminhões que compram o carvão diretamente
nas carvoarias para posteriormente revendê-lo às siderúrgicas. Os fornecedores de
carvão são os responsáveis pelos empreendimentos, proprietários dos meios de
produção (fornos, tratores, caminhões etc.) Recebem o pagamento da guseira pelo
fornecimento do carvão e dirigem a rede de atividade que envolve a produção, gatos
e demais trabalhadores.
Os “gatos” o responsáveis pela arregimentação, controle, distribuição,
gerenciamento e remuneração da força de trabalho em algumas etapas da
119
produção, e no geral, são proprietários de motosserras, ferramentas e, em alguns
casos, de caminhões.
Os “carvoeiros” são trabalhadores que, por dominarem a técnica de
carbonização, ocupam um lugar diferenciado na produção; são remunerados em
relação ao volume de carvão produzido e, algumas vezes, têm participação
percentual na venda do carvão. Geralmente, lhes cabe a responsabilidade pela
remuneração da força de trabalho envolvida no processo de carbonização. Em
alguns casos, assumem a condição de pequenos fornecedores.
Os “peões” são a grande massa de trabalhadores que desenvolvem as mais
variadas atividades, quase invariavelmente remunerados por diárias. Além de terem
descontados de sua remuneração o valor da alimentação, seja pela sua condição de
arranchado - termo com o qual é usualmente denominado o trabalhador que tem
suas refeições fornecidas diariamente pelo gato - ou pelo fornecedor de carvão ou
pelo fato de terem suas compras “aviadas” pelo fornecedor ou pelo gato.
Os “motoqueiros” como são chamados na região, distinguem-se dos demais
trabalhadores por terem o domínio de uma cnica de operarem as motosserras;
quase sempre são remunerados por sua produção, além de serem, algumas vezes,
responsáveis pela remuneração do trabalhador auxiliar, que é conhecido como
bebe-óleo – que trabalham na condição de arranchados ou têm suas compras
aviadas pelo fornecedor ou pelo gato.
Os “parceiros” são aqueles que possuem um pequeno caminhão ou um trator
de pneus, ou mesmo, recursos para construção de fornos. Eles integram-se à rede
de agentes envolvidos na produção do carvão e são remunerados com percentuais
variados em relação ao volume total produzido pela carvoaria, ou mesmo pelo
volume produzido na etapa da produção sob sua responsabilidade.
No interior da produção, se constrói uma cadeia de relações sociais,
fundamentadas na propriedade, ou não, dos meios de produção, como também em
função nos lugares ocupados no interior da cadeia produtiva.
O sistema é articulado de forma que se consiga exercer o controle sobre a
força de trabalho, impondo-lhe um ritmo de trabalho que dificulte a ociosidade,
estimulando alguns indivíduos a maximizarem seus esforços. Os trabalhadores,
ocupantes de lugares no interior da produção que são determinantes para o
120
estabelecimento da intensidade do trabalho, são remunerados por produção e não
por dias trabalhados. Assim, é constituída dentro da unidade produtiva, uma
estrutura que viabiliza a fiscalização e a pressão em relação ao desempenho da
força de trabalho.
O “gato” ao ser remunerado pelo volume da área brocada e desmatada, se
encarrega de fiscalizar e pressionar para que haja aumento no ritmo de produção
dos trabalhadores envolvidos nessas atividades, na medida que sua remuneração
vincula-se diretamente ao volume produzido por esses trabalhadores.
O “motoqueiro” quando trabalha no corte da lenha recebe por produção,
ditando o ritmo e fiscalizando as atividades do auxiliar. O mesmo mecanismo se
repete em relação ao transporte da lenha até os fornos, em que o responsável pela
tarefa geralmente recebe por produção e, os auxiliares, por diária. Na operação de
carbonização, quando o carvoeiro assume sozinho o processo, é remunerado em
função do volume produzido, e quando conta com trabalhadores que o auxiliam,
geralmente estes são remunerados com base em diárias.
O sistema de remuneração feito desta forma impele alguns indivíduos a
buscarem maximizar a produção do seu trabalho, bem como o daqueles que lhes
são diretamente subordinados. Cabe ainda ressaltar, que o aumento do nível de
produção é sempre buscado através do prolongamento da jornada de trabalho.
As estruturas sociais da região estavam conformadas por relações sociais
que serviram de base para formas aparentemente novas ou ampliadas, sob as quais
se apóiam os empreendimentos de produção do carvão vegetal, pois o regime de
empreitada, a atuação do “gato” e do empreiteiro na intermediação da contratação
da força de trabalho, a remuneração através de diárias e o aviamento já faziam parte
do mundo do trabalho dos peões da região.
Os rendimentos salariais dos trabalhadores envolvidos diretamente na
produção do carvão variam entre R$200,00 e R$230,00 mensais (valores
atualizados conforme entrevista na cidade de Paragominas no mês de outubro de
2008), que corresponde a uma jornada de trabalho nunca inferior a 8 horas diárias,
tratando-se de empregos de péssima qualidade, na medida em que as condições de
trabalho e moradia são extremamente precárias, as contratações são temporárias,
estes trabalhadores dificilmente contam com garantias previdenciárias e trabalhistas
121
além de estarem sujeitos a mecanismos coercitivos de imobilização da força de
trabalho.
A atividade do carvoejamento se caracteriza pela existência de um “exercito
de desempregados” explicado pelo fato de que as atividades relativas ao corte da
lenha e as outras atividades vinculadas à produção do carvão são caracterizadas
por alta rotatividade promovendo a dispersão dos trabalhadores e,
consequentemente um limite de possibilidade de organização, tornando difícil a
pressão organizada e sistemática de qualquer mobilização pela elevação da
remuneração, ou por melhoria das condições de trabalho.
Em razão da dificuldade em se captar dados suficientes para uma análise
mais completa que permitisse uma melhor visão do nível de sustentabilidade dessa
atividade, partiu-se então, para uma análise baseada nas informações disponíveis
referentes a produção de ferro e o saldo de emprego formais na indústria de
transformação contidas na tabela 5. Ressalta-se no entanto, que existem outras
indústrias de transformação na região sudeste do Pará, como é o caso das
madeireiras e de laticínios, porém optou-se em analisar a indústria siderúrgica pelo
fato de ser esta a que mais gera emprego na região, servindo então de parâmetro
para se medir a relação produção e emprego.
Tabela 5 - Produção do ferro-gusa a carvão vegetal de mata nativa e o saldo de
empregos formais na indústria de transformação no estado do Pará no período de
1999 a 2007.
Ano
Produção de ferro
-
gusa a
carvão vegetal - Pará (t) de 1999
a 2007
Saldo de
e
mpregos formais na
indústria de transformação -
Pará (und) de 1999 a 2007
1999 1.390.543
2000 1.652.000 2.293
2001 2.021.500 417
2002 2.245.000 3.980
2003 2.364.500 3.471
2004 3.102.750 10.954
2005 3.228.287 -1.032
2006 3.452.400 3.561
2007 3.927.800
Fonte: elaborado pelo autor com base nos dados do IBGE/CAGED (2007).
122
Conforme análise anterior, o gráfico 7 a seguir mostra que a produção de
ferro-gusa apresentou um crescimento acentuado e ininterrupto, atingindo um
percentual de crescimento de aproximadamente 180% no período analisado.
0
1.000.000
2.000.000
3.000.000
4.000.000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Produção de ferro-gusa a carvão vegetal de mata
nativa no estado do Pará (t) - 1999 a 2007
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Gráfico 7 - A produção do ferro-gusa a carvão vegetal de mata nativa
no estado do Pará no período de 1999 a 2007.
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do IBGE (2007)
O gráfico 8 a seguir revela uma variação desequilibrada no período analisado.
Esse desequilíbrio pode ser percebido de forma acentuada quando se compara, por
exemplo, o saldo de empregos de 2001 (2.293) em relação ao saldo de empregos
de 2005 (-1.032),
percebe-se também que a variação no saldo de salário não
acompanhou a tendência de crescimento apontado pela produção de ferro-gusa.
-2000
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Saldo de Empregos formais na Indústria de Transformação
no estado do Pará (und) - 1999 a 2007
Gráfico 8 - Saldo de empregos formais na indústria de transformação no
estado do Pará (und) – 1999 a 2007
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do CAGED (2007)
123
Assim, para enriquecer um pouco mais a análise, da sustentabilidade social
do carvão vegetal de mata nativa, considerou-se os impactos causados ao circulo
social envolvido hoje nesta atividade, somados aos impactos sociais que virão no
futuro, promovidos pela ausência da mata nativa, fauna, flora, assoreamento dos rios
entre vários outros impactos discutidos nesse tópico. Dessa forma entendeu-se
que se está discutindo uma atividade que apresenta um baixo nível de
sustentabilidade social.
5.3.2 Análise da sustentabilidade social do carvão vegetal de mata plantada
como fonte energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa
Para que se pudesse discutir a os impactos sociais causados pela produção
do carvão vegetal de mata plantada foi necessário buscar informações no estado de
Minas Gerais, razão já justificada nos itens 5.1.2 e 5.2.2.
Dessa forma tomou-se como base as experiências de Minas Gerais, onde se
verificou que o desenvolvimento de áreas com matas plantadas se revertem em
vários benefícios sociais, tais como geração de emprego e renda, aproveitamento de
áreas marginais e degradadas, bem como, a tecnologia desenvolvida para os
plantios comerciais como instrumento de apoio ao desenvolvimento de cnicas de
recuperação e reflorestamento de áreas degradadas, de preservação permanente e
de reserva legal.
Monteiro (2005) sublinha que o número de empregos gerados pelo setor
siderúrgico é pequeno se comparado à população local. Em seu estudo, o autor
chama a atenção para a diferença entre os 2,4 mil empregos criados e o surgimento
de 21,6 mil empregos no ano 2000.
No entanto, se comparar a produção do carvoejamento proveniente de mata
plantada com a produção do carvoejamento de mata nativa ou mesmo da extração
do carvão mineral, pode-se perceber claramente que na atividade a partir de mata
nativa, confere-se o número de trabalhadores escravos; na atividade da extração do
carvão mineral, confere-se o número de trabalhadores doentes em função das
condições insalubres proporcionado pelo ambiente de trabalho. Enquanto que na
atividade de mata plantada, segundo Monteiro (2005), se discute o pequeno número
124
de empregos gerados pelo setor. Esses dados contribuem para um raciocínio lógico
- entre os males, o menor, que até o momento não se descobriu ainda uma forma
de se prover desenvolvimento sem que haja impacto. Porque por menor que seja, o
impacto sempre ocorrerá.
Outro aspecto também positivo verificado na atividade que utiliza a mata
plantada para a produção de carvão vegetal é, que ao gerar emprego (formal) está
ao mesmo tempo gerando imposto, este que se constitui na principal fonte de
captação de recurso por parte do governo para que seja transformado em
investimentos.
Entretanto o balanço feito até aqui não deixa dúvidas sobre a necessidade de
mudanças na base da produção paraense. Algumas guseiras apostam no carvão
mineral (coque) importado, mas por se sentirem reféns da volatilidade cambial, um
dos itens mais importantes do processo de importação, o que se verifica é a opção
pela compra de carvão vegetal, mesmo sem a certeza de sua origem, porém se
verificam na região alguns investimentos na expansão da mata plantada com base
no eucalipto, este que lhe permite além da legalidade, o início da produção em 7
anos, considerado um tempo razoável.
Assim, as discussões sobre as experiências vivenciadas sobre o uso da mata
plantada como fonte de matéria prima para produção de carvão vegetal no estado
de Minas Gerais foram de vital importância para que se pudesse fazer uma
avaliação do futuro do estado do Pará.
A partir de então, chegou-se ao entendimento que a utilização do carvão
vegetal de mata plantada como fonte energética na redução do minério de ferro no
estado do Pará, pode ser considerada até o momento como a que menor impacto
demonstrou, e por conta disso constitui-se na fonte energética que maior
sustentabilidade apresentou.
5.3.3 Análise da sustentabilidade social do carvão mineral como fonte
energética na transformação do minério de ferro em ferro-gusa
O ferro-gusa é a forma intermediária pela qual passa praticamente todo o
ferro utilizado na produção do aço, obtido a partir da fusão de minério de ferro em
125
altos-fornos, onde carvão mineral (coque) ou vegetal são utilizados como agentes
redutores e fontes de energia (ROMEIRO, 1997).
Da mesma forma em que se buscou informações sobre os impactos
econômicos e sociais (itens 5.1.3 e 5.2.3) no estado de Minas Gerais, buscou-se
também informações sobre os impactos sociais como forma de comparar uma
possível utilização na produção de ferro-gusa no estado do Pará, que a indústria
paraense até o momento não faz uso desse insumo energético para reduzir o
minério de ferro.
Nessa pesquisa observou-se que os impactos sociais se confundem com os
ambientais já que a vida humana depende diretamente das condições do meio
ambiente. Portanto o que se vai mencionar aqui pode se configurar numa repetição,
no entanto o que se pode acrescentar é que os seus impactos atingem proporções
bem maiores do que se havia identificado anteriormente, tudo porque a extração do
carvão mineral não se encontra direcionada às siderúrgicas independentes (apenas
para lembrar, são aquelas dedicadas exclusivamente à produção do ferro-gusa) e
sim ao setor siderúrgico em geral (aquelas que estendem a verticalização do minério
de ferro).
Dessa forma aumenta o número de pessoas expostas aos gases emitidos na
atmosfera diariamente pela imensa quantidade de indústrias que utilizam esse
combustível. Ressaltando que os mais atingidos são aqueles diretamente ligados ao
insumo mineral, seja no processo de extração ou mesmo na coqueifação (queima do
carvão). Não se deve desconsiderar que as cidades do entorno desses projetos
também sofrem as consequências com graves problemas de saúde, com destaque
para os problemas respiratórios provocados pela aspiração dos gases. Aliado a
esses problemas, Monteiro (2006) revela as precárias condições de trabalho, a má
remuneração e a insalubridade.
Após as discussões a respeito do carvão mineral como fonte energética
chegou-se à conclusão de que esse insumo não é utilizado pelas siderúrgicas
independentes tanto do Pará quanto de Minas Gerais, mas após a extensão que se
deu às discussões até atingir as siderúrgicas chamadas integradas e extração desse
mineral. Setores esses que contribuíram substancialmente para essa análise, a partir
do momento em que foram identificados os principais tipos de impacto social, entre
eles encontram-se as precárias condições de trabalho tanto nas siderúrgicas
126
integradas quanto no processo de extração nas minas, porém o destaque fica com
os problemas de saúde dos trabalhadores e moradores das cidades do entorno
desses projetos, que aspiram entre outros gases, o dióxido de carbono, o metano e
o enxofre.
O dióxido de carbono é essencial à vida no planeta, visto que se trata de um
dos compostos essenciais para a realização do processo de fotossíntese – processo
pelo qual os organismos fotossintetizantes transformam a energia solar em energia
química. Esta energia química, por sua vez é distribuída para todos os seres vivos
por meio da teia alimentar. Este processo é uma das fases do ciclo do carbono e é
vital para a manutenção dos seres vivos.
O carbono é um elemento básico na composição dos organismos, tornando-o
indispensável para a vida no planeta. Este elemento é estocado na atmosfera, nos
oceanos, nos solos, nas rochas sedimentares e está presente nos combustíveis
fósseis. Contudo, o carbono não fica fixo em nenhum desses estoques. Existe uma
série de interações por meio das quais ocorre a transferência de carbono de um
estoque para outro. Muitos organismos nos ecossistemas terrestres e nos oceanos,
como as plantas, absorvem o carbono encontrado na atmosfera na forma de dióxido
de carbono (CO
2
). Esta absorção se dá através do processo de fotossíntese.
Enquanto o metano é um gás que apresenta um dos piores aspectos
negativos, é que ele participa da formação do efeito estufa, colaborando, desta
forma, para o aquecimento global. Se inalado, o metano pode causar asfixia, parada
cardíaca, inconsciência e até mesmo danos no sistema nervoso central.
o enxofre é um não-metal insípido e inodoro, facilmente reconhecido na
forma de cristais amarelos que ocorrem em diversos minerais de sulfito e sulfato, ou
mesmo em sua forma pura (especialmente em regiões vulcânicas). O enxofre é um
elemento químico essencial para todos os organismos vivos, sendo constituinte
importante de muitos aminoácidos. É utilizado em fertilizantes, além de ser
constituinte da pólvora, de medicamentos laxantes.
Após essa grande massa de informações negativas atribuídas aos gases
gerados e emitidos na atmosfera, proporcionando à sociedade em geral graves
problemas de saúde, esta pesquisa entendeu que o carvão mineral como fonte
127
energética apresenta um elevado grau de impactos sociais e, portanto, baixo nível
de sustentabilidade.
128
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após as investigações efetuadas sobre as fontes energéticas utilizadas na
transformação do minério de ferro em ferro-gusa, envolvendo as questões
econômicas, ambientais e sociais a partir da utilização do carvão vegetal de mata
nativa, mata plantada e do carvão mineral, ressaltando-se, no entanto, que o tema
estudado demonstrou um elevado grau de complexidade, pois além da falta de
dados e informações que viabilizassem melhores condições de análise, as
dificuldades encontradas transformaram-se no grande desafio em realizar este
trabalho. As inferências a seguir estão divididas em três aspectos: econômico,
ambiental e social.
a) Quanto ao aspecto econômico: a utilização do carvão vegetal de mata
nativa como fonte energética apresenta um baixo custo se comparado com o carvão
vegetal proveniente de mata plantada ou carvão mineral, que ocorre pelo fato de não
existir custo de plantação e manutenção, pois a natureza não cobra da sociedade
humana em valores econômicos monetários, haja vista que o se conhece até o
momento outra fonte energética com a mesma finalidade e que apresente custos
mais baratos, motivos razões pelos quais, os empresários do setor siderúrgico
optam pelo carvão vegetal de mata nativa. Todavia a mata nativa é finita razôes para
que essa fonte energética apresente um baixo nível de sustentabilidade econômica
no longo prazo.
A utilização do carvão vegetal de mata plantada como fonte energética,
segundo Rezende (2003), possui razoáveis custos de implantação, de manutenção
e de exploração, o que onera a produção do carvão vegetal. No entanto o processo
de implantação, manutenção e exploração gera emprego e distribuição de renda,
além, é claro, dos impostos pagos na aquisição de insumos, fertilizantes, máquinas e
equipamentos. Têm-se também os impostos gerados pela produção,
comercialização e transporte do carvão vegetal, que podem ser investidos no
desenvolvimento econômico da região do projeto e consequentemente do estado
como um todo. Assim, entende-se que o carvão vegetal de mata plantada apresenta
até o momento, um maior nível de sustentabilidade econômica.
Em relação à utilização do carvão mineral como fonte energética para
transformar o minério de ferro em ferro-gusa, foi detectado que essa fonte não é
129
utilizada atualmente pelas siderúrgicas independentes. Portanto, analisou-se a partir
da utilização pelas usinas integradas onde se deparou com a presença de custos de
frete elevados provocados pela distância entre a produção e o consumo em razão
das jazidas minerais em atividade se localizarem no extremo sul do país, fazendo
com que essa fonte energética apresente baixo nível de sustentabilidade econômica.
b) Quanto ao aspecto ambiental: a produção de carvão vegetal oriunda de
mata nativa concentra seu principal impacto no desmatamento, pois é nele que a
cadeia de impactos tem início, onde a falta de cobertura do solo provocado pelo
desmatamento contribui para que a água das chuvas lave a terra, reduzindo sua
fertilidade, provocando erosões e assoreamento dos rios, podendo transformá-la em
área deserta e inútil, além do dióxido de carbono emitido sem nenhuma
compensação quando submetido ao processo de carvoejamento. Assim, chega-se a
um entendimento de que a fonte energética analisada apresenta baixo nível de
sustentabilidade ambiental.
No tocante à produção de carvão vegetal de mata plantada, chegou-se a um
entendimento de que os malefícios provocados são quase que os mesmos
oferecidos pela atividade do carvoejamento a partir de mata nativa, diferenciando-se
no entanto, porque a mata plantada apresenta vários benefícios ao compensar a
futura emissão de dióxido de carbono através do processo de fotossíntese. Por outro
lado o uso de fertilizantes irá impactar as nascentes e rios próximos ao projeto. No
entanto, os benefícios são bem mais extensos, segundo Andrade (1995), a mata
plantada oferece menos perda de solo do que a agricultura uma vez que o mesmo
fica protegido, pois os seus ciclos de produção são maiores que os da agricultura
que trabalha com espécies anuais. A agricultura utiliza mais fertilizantes que a mata
plantada, por outro lado,como a mata plantada cobre bem mais o solo, diminui as
chances de erosão, principalmente se comparado com espécies agrícolas rasteiras.
Dessa forma chegou-se a um entendimento de que essa fonte energética
apresentou maior nível de sustentabilidade ambiental.
Em relação à produção de carvão mineral chegou-se ao conhecimento de que
essa fonte energética não é utilizada atualmente no Brasil por siderúrgicas
independentes, daí a pesquisa ter buscado informações em outros estados da
Federação que utilizam o carvão mineral como fonte de energia nas siderúrgicas
integradas. E, com base nos impactos ambientais provenientes da emissão do
130
dióxido de carbono, metano e enxofre, que são diariamente despejados no meio
ambiente, entre os mais impactantes destaca-se o metano que, ao atingir os lençóis
freáticos, contamina a água, inviabilizando-a ao consumo humano. Assim sendo,
esta pesquisa considera que o carvão mineral apresenta um baixo nível de
sustentabilidade ambiental.
c) Quanto ao aspecto social, ao que se refere à produção de carvão vegetal
de mata nativa, verificou-se que entre os vários impactos sociais por ela provocados,
o destaque ficou por conta do trabalho escravo, que vem demonstrando grandes
incidências no Brasil, em particular no sudeste paraense, promovido entre outras
razões o carvoejamento, conforme dados revelados pela Comissão Pastoral da
Terra (CPT), em que desde 2003, quase 2,2 mil pessoas foram envolvidas em
trabalho degradante e escravo nos estados do Pará e Tocantins, cabendo ao Pará o
montante de 1,5 mil, ou seja, das pessoas envolvidas em trabalho considerado
degradante ou escravo nos dois estados, aproximadamente 68% eram do Pae,
para aumentar a negativa, a maioria desses trabalhadores atuava em carvoarias.
Diante dos graves problemas causados à sociedade, esta pesquisa considera
a produção de carvão vegetal de mata nativa como uma fonte energética que
apresenta baixo nível de sustentabilidade social.
Quanto à produção de carvão vegetal de mata plantada, conforme
informações contidas nos itens 5.1.2 e 5.2.2, revelam que no estado do Pará não
existe mata plantada com finalidade energética em escala e madura em ponto de
corte que pudesse servir de norte para avaliação da sua sustentabilidade. Foram
então analisados dados do estado de Minas Gerais como referência para a futura
utilização desse recurso natural no estado do Pará.
Entre os vários benefícios sociais detectados pela pesquisa, tem-se a questão
do pequeno número de empregos gerados pelo setor siderúrgico no ano de 2002,
números estes apontados como negativos na visão de Monteiro (2005). No entanto,
se forem comparados com a fonte energética proveniente de mata nativa que não
gera empregos formais e, se gera, o faz em números tão baixos que se tornam
inexpressivos. Assim, esse estudo credita como positivo o pequeno número de
empregos gerado pelo setor siderúrgico mineiro, este que realiza 100% de sua
produção com energia oriunda de mata plantada.
131
Em relação ao carvão mineral, verifica-se as doenças causadas aos
empregados pela inalação dos gases: dióxido de carbono, metano e enxofre. Além
das condições insalubres no ambiente de trabalho, constituindo-se, portanto, em
uma fonte energética com baixo nível de sustentabilidade social.
Em suma, no que tange à comparação de sustentabilidade das três principais
fontes energéticas utilizadas pelo setor siderúrgico, este estudo verificou as
seguintes diferenças entre ambas.
Na produção de carvão vegetal, cuja matéria-prima é proveniente de mata
nativa, confere-se o menor custo de produção, a área desmatada, o número de
trabalhadores escravos. Na produção ou extração do carvão mineral, confere-se o
ônus referente aos custos de frete, os tipos de gases emitidos e o número de
trabalhadores doentes em função da inalação dos gases e das condições insalubres
proporcionadas pelo ambiente de trabalho.
Na produção de carvão vegetal, cuja matéria-prima é oriunda de mata
plantada, confere-se uma aproximação dos custos do carvão vegetal de mata nativa
em razão do frete onde esse ultimo fica cada vez mais caro, provocado pela
distância e escassez, confere-se também menor impacto ambiental em relação às
demais fontes energéticas aqui discutidas, além do pequeno número de empregos
gerados pelo setor.
Diante dos benefícios sociais apontados e creditados à produção e utilização
do carvão vegetal de mata plantada, a pesquisa considera uma fonte energética que
apresenta elevado nível de sustentabilidade social. Ainda no aspecto social, no
tocante à utilização do carvão mineral, mais uma vez trabalhou-se com as
informações do estado de Minas Gerais, este que no século XIX utilizou o carvão
mineral como fonte energética na produção de ferro-gusa. No entanto, é importante
ressaltar que essa utilização não perdurou por muito tempo, pois atualmente a
produção de ferro-gusa é totalmente baseada no carvão vegetal. Portanto, o fato de
não existir parâmetros de custos atuais que pudessem nortear esta avaliação,
tomou-se como referência apenas o custo do frete, pois no caso da indústria
paraense vir a utilizar o carvão mineral como fonte redutora do minério de ferro, terá
como obstáculo a grande diferença nos custos com frete se comparado ao carvão
vegetal, este que é produzido dentro do estado em distância média de 500 km,
enquanto o carvão mineral vem do sul do país, esses custos de frete podem
132
aumentar um pouco mais, caso a siderurgia paraense faça opção pelo carvão
mineral importado, sem desconsiderar também que a importação promoverá a saída
de divisas do país. Configurando-se, portanto, em uma fonte energética de baixo
nível de sustentabilidade econômica.
De acordo com a análise geral, considerando os benefícios e os malefícios
atribuídos a cada uma das três fontes energéticas analisadas ao longo deste
trabalho, o estudo concluiu que a fonte energética que apresentou melhor e maior
sustentabilidade para transformar o minério de ferro em ferro-gusa no estado do
Pará foi a fonte energética gerada pela queima do carvão vegetal cuja matéria-prima
é proveniente de mata plantada. Neste sentido, o estado precisa desenvolver ações
de incentivo ao plantio de eucalipto, este que vem mostrando bons resultados em
Minas Gerais, ou até outras espécies que eventualmente se adaptem melhor ao solo
e clima paraense.
Entretanto, reconhece-se que o estudo deixou lacunas a serem preenchidas
pelos próximos que se interessarem por este tema. O limite de acesso aos dados
que poderiam viabilizar uma análise mais completa, não foi alcançado, pois os
órgãos e empresas do setor mineral, e mesmo as pessoas que trabalham com a
fonte energética utilizada no estado do Pará, são completamente inacessíveis, ao
entenderem que as pessoas que buscam informações sobre produção de minério de
ferro, produção e consumo de carvão vegetal, número de empregados em cada
setor, impactos, salários, entre outras, seriam fiscais do IBAMA, SEMA, ou até
mesmo policiais. Portanto, esta inacessibilidade se converte nos limites encontrados,
proporcionando assim as lacunas deixadas por este trabalho.
Este estudo, no entanto, não teve a pretensão de exaurir as possibilidades de
se continuar buscando uma fonte de energia eficiente, e sim com a expectativa de
contribuir com as discussões vigentes sobre as fontes energéticas que possam
transformar o minério de ferro em ferro-gusa de forma sustentável.
133
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