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Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Programas de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente
RUY DE AZEVEDO PARAHYBA JÚNIOR
ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO CABO DE SANTO
AGOSTINHO - PE
.
RECIFE/PE
2010
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RUY DE AZEVEDO PARAHYBA JÚNIOR
ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO CABO DE SANTO
AGOSTINHO - PE
Dissertação submetida ao Programa de
Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente da Universidade Federal de
Pernambuco como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em Gestão e
Políticas Ambientais.
Orientação: Dra. Vitória Gehlen
Recife/PE
2010
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO
AMBIENTE PRODEMA UFPE
RUY DE AZEVEDO PARAHYBA JÚNIOR
ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS E SEUS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NO CABO DE SANTO
AGOSTINHO - PE
DISSERTAÇÃO APROVADA EM: 12 DE FEVEREIRO DE 2010
___________________________________________________
Profa. Dra. Rosa Ester Rossini
Universidade de São Paulo (Examinador Externo)
___________________________________________________
Prof. Dr. Marx Preste Barbosa
Universidade Federal da Paraíba (Examinador Externo)
___________________________________________________
Profa. Dra. Eugênia Cristina Gonçalves Pereira
Universidade Federal de Pernambuco (Examinador Interno)
iii
DEDICATÓRIA
Dedico esta conquista a minha esposa
Iara e as minhas filhas Thayná e Yasmin
pelo apoio e pelo incentivo durante a
realização deste trabalho, mas,
sobretudo, pela compreensão nos
momentos em que se privaram da minha
presença.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, inteligência superior, por nos ter presenteado com o dom da vida
e permitido que cumpríssemos mais esta etapa.
A minha família (Iara, Naná e Mima) pelo carinho com o qual sempre estão a me
dedicar.
A minha querida mãe, Marleide, por tudo que fez e faz por mim.
A Paulinha, minha linda irmã, que está ao meu lado em todos os momentos.
A tia Vitória, por nunca ter desistido de me mostrar o caminho certo.
A minha orientadora, Profª Vitória Gehlen, por toda sua dedicação.
Aos professores do Mestrado, que tanto contribuíram na minha formação.
Ao André Paulo e ao grupo do Cabo, pela colaboração na execução deste trabalho.
Aos colegas de turma do mestrado, sobretudo Jorge Novaes Maniçoba, pelas
contribuições intelectuais ao longo do curso.
Aos meus amigos, companheiros de caminhada, minha eterna gratidão.
Ao amigo, Walter Galdino, por seu empenho em me ajudar.
Aos colegas professores, pelo apoio e incentivo.
Aos meus alunos, que tanto me ensinam, esta conquista é por vocês.
Às diversas pessoas que contribuíram para realização deste trabalho.
v
EPÍGRAFE
O Sal da Terra
Composição: Beto Guedes/Ronaldo Bastos
Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Bem que tá na hora de arrumar...
Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Prá banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver...
A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da...
Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã
Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã...
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Prá melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois...
Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra
RESUMO
PARAHYBA JÚNIOR, Ruy de Azevedo. Análise das Políticas Públicas de Gestão
de Resíduos Sólidos Urbanos e seus Impactos Socioambientais no Cabo de
Santo Agostinho- PE. 2010. 118 fls. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e
Meio Ambiente). Programa de s-graduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, 2010.
Dentre os iminentes problemas ambientais que estão ocorrendo em nosso planeta, a
questão dos resíduos sólidos vem se destacando como um dos mais graves
problemas ambientais urbanos da atualidade. Segundo a Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico, realizada pelo IBGE em 2000, o panorama de destinação final
dos resíduos sólidos no Brasil é preocupante, devido à inexistência de uma lei
federal que regulamente, de forma mais efetiva, as normas de gerenciamento,
monitoramento e controle dos resíduos sólidos, que poderia contribuir para mitigar
os problemas ocasionados pelo lixo. Este trabalho teve como objetivo geral analisar
as políticas públicas de gestão de resíduos sólidos urbanos e seus impactos
socioambientais no Cabo de Santo Agostinho. Para tanto, neste trabalho se analisou
e avaliou o Projeto de lei PL-1991/2007, que institui a política nacional de resíduos
sólidos no Brasil; a lei 12.008, de 01 de junho de 2001 que dispõe de política de
resíduos sólidos no Estado de Pernambuco e o Plano de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos Urbanos (PGIRSU) do Cabo de Santo Agostinho, levando em
consideração os fatores que inviabilizam a aplicação dessas políticas e como esses
fatores rebatem na saúde ambiental da população e na qualidade de vida, que está
conectada com a qualidade do meio ambiente. Mediante investigação avaliativa por
triangulação de métodos, o trabalho teve como conclusão que as políticas públicas
através do papel regulador do Estado são primordiais para melhoria do bem-estar da
população e que certas ações que privilegiam a classe dominante trazem graves
problemas socioambientais. O sistema capitalista neoliberal interfere diretamente
nas ações do Estado que vive permeado por interesses externos, tornando-se
instrumental e reproduzindo o interesse da classe dominante. A função do Estado
passa ser a de reproduzir a ideologia do capital e seus administradores internalizam
os objetivos capitalistas. É através das políticas públicas que o Estado pode exercer
seu papel regulador em relação aos impactos ambientais provocados pelos resíduos
sólidos. O reflexo disso é mostrado no diagnóstico dos problemas socioambientais
do Cabo, evidenciando a desarticulação na Gestão de Resíduos Sólidos entre as
esferas Federal, Estadual e Municipal, caracterizada pela ineficiência das políticas
públicas e pela falta de interesse de uma atuação mais efetiva por parte do Estado.
Palavras-chave: Políticas Públicas. Resíduos Sólidos. Impactos Socioambientais.
vii
ABSTRACT
PARAHYBA JR, Ruy de Azevedo. Analysis of Public Policy for the Management
of Municipal Solid Waste and its environmental impacts in Cabo de Santo
Agostinho-PE. 2010. 118 fls. Dissertation (Masters in Environment and
Development). Post-Graduate Program in Development and Environment, Federal
University of Pernambuco, Recife, PE, 2010.
Among the impending environmental problems that are occurring on our planet, the
issue of solid waste has become known as one of the most important and serious
urban environmental problems of today. According to the National Water and
Sanitation inquiry, held by the IBGE in 2000, the outlook for the final disposal of solid
waste in Brazil is of concern due to the lack of a federal law that would provide more
effective standards for the management, monitoring and control of solid waste, which
could thereby help to alleviate the problems caused by rubbish. This study is aimed
at analyzing the management of public policies that deal with municipal solid waste
and its environmental impacts in Cabo de Santo Agostinho. Therefore, the study
analyzed and evaluated the Bill PL-1991/2007 that established a national policy on
solid waste in Brazil; the Law No. 12,008, from 01 June 2001 which provides for the
Solid Waste Policy in the state of Pernambuco and a Plan of Integrated Management
for the Municipal Solid Waste (PGIRSU) of Cabo de Santo Agostinho. Taking into
consideration the factors that prevent the implementation of these policies and how
these factors rebut the environmental health of the population and quality of life,
which are connected with the quality of the environment. Upon investigation via
triangulation methods of investigation, the study concluded that public policy through
the regulatory role of the state are essential to improving the welfare of the
population and that certain actions that favor the ruling class can do serious
environmental problems. The neo-liberal capitalist system directly interferes in the
actions of the state that is permeated by outside interests, thus them becoming
instrumental in the policy making decisions and therefore reproducing the interest of
the ruling class. The role of the state will be to reproduce the ideology of capitalist
and its managers thereby internalize the goals of capitalism. It is through public
policies that the State may exercise its regulatory role in relation to the environmental
impacts caused by solid waste. The result of this is shown in the diagnosis of the
environmental problems of Cabo, which show the disconnect in the management of
Solid Waste amongst the Federal, State and Municipal spheres, characterized by the
inefficiency of public policies and by the lack of interest in a more effective
intervention by the state.
Keywords: Public policies, solid waste, and environmental impacts.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Localização do município do Cabo de Santo Agostinho-PE. Fonte: Prefeitura do Cabo
(2002).
Figura 2: Número e gastos (em reais) de internações relacionadas com saneamento ambiental
inadequado (DRSAI) segundo ano. Cabo de Santo Agostinho-PE, 2000 a 2006. Fonte: Barros
et al (2008).
Figura 3: Percentual de internações por diarréia e gastrenterite de origem infecciosa
presumível segundo faixa etária. Cabo de Santo Agostinho-PE, 2000 a 2007. Fonte: Barros et
al (2008).
62
74
75
Figura 4: Componentes da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos. Fonte: Barros et al,
(2008).
80
Figura 5: Entrada do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de
Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
82
Figura 6: Placa da prefeitura sobre a recuperação da área degradada do aterro da Pista Preta,
no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
83
Figura 7: Vista panorâmica do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto:
Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
84
Figura 8: Estrada do aterro da Pista Preta, no Cabo de santo Agostinho-PE e Mata Atlântica ao
fundo. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
85
Figura 9: À direita área próxima ao aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE
utilizada para plantação de cana-de-açúcar. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez.
2009.
86
Figura 10: Mangueira para drenagem de chorume sem utilização, no aterro da Pista Preta, no
Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
87
Figura 11: Trator utilizado no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE e área de
plantação da cana-de-açúcar. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
88
Figura 12: Manilhas para canalização dos gases do aterro da Pista Preta, no cabo de santo
Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
89
Figura 13: Área com presença de aves no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-
PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
90
Figura 14: Chorume escorrendo a céu aberto no aterro da pista Preta, no Cabo de Santo
Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
91
Figura 15: Coloração escura do chorume do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo
Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
92
Figura 16: Partes do lixo descobertas do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-
PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
93
Figura 17: Lixo exposto no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE, facilitando
proliferação de microorganismos. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
94
Figura 18: Lixo jogado a céu aberto no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE.
Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
94
Figura 19: Faixa de contato do lixo com a vegetação no aterro da Pista Preta, no Cabo de
Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
95
Figura 20: Córrego próximo do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto:
Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
96
Figura 21: Córrego próximo ao aterro da Pista Preta, no Cabo de santo Agostinho-PE,
propenso à contaminação. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
97
Figura 22: Pneu jogado na área do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE.
Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
98
Figura 23: Material com longo tempo de decomposição encontrado no aterro da Pista Preta, no
Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
99
Figura 24: Manilha de gás ao lado da mangueira de chorume no aterro da Pista Preta, no Cabo
de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
100
Figura 25: Caminhão transportando entulhos da construção civil no aterro da Pista Preta no
Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
101
Figura 26: Caminhão despejando os entulhos no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo
Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
101
Figura 27: Galpão da cooperativa dos catadores do Cabo de santo Agostinho-PE com material
separado. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
102
Figura 28: Carroças cedidas pela prefeitura do Cabo de santo Agostinho-PE aos catadores da
cooperativa COOMSERC. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
103
Figura 29: Galpão onde funciona a cooperativa COOMSERC, no Cabo de Santo Agostinho-PE.
Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
104
Figura 30: Papelão separado no galpão da cooperativa COOMSERC, no Cabo de Santo
Agostinho-PE, para ser vendido. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
104
Figura 31: Prensa utilizada na cooperativa COOMSERC, no Cabo de Santo Agostinho-PE.
Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
105
Figura 32: Separação do material reciclável na cooperativa COOMSERC, no Cabo de Santo
Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
106
x
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Os “pais” fundadores da área de políticas públicas. Fonte: Barros (2009, p. 71)
29
Quadro 2: Principais modelos de formulação e análise de políticas públicas. Fonte: Barros
(2009, p. 72)
30
Quadro 3: Principais dispositivos legais e normativos para a gestão de resíduos sólidos no
Brasil. Fonte: Barros et al (2008).
42
Quadro 4: Componentes da Política de Resíduos Sólidos do Estado de Pernambuco. Fonte:
PERNAMBUCO/SECTMA, 2006 apud BARROS, 2008.
50
Quadro 5: Outros dispositivos legais e normativos relacionados à gestão de resíduos sólidos
em Pernambuco. Fonte: CPRH, 2007 apud BARROS et al, 2008.
51
Quadro 6: Estratégias de Sustentabilidade para o PGIRSU do Cabo de Santo Agostinho.
Fonte: Barros (2008, p.8).
57
Quadro 7: Envolvimento dos principais atores sociais no PGIRSU do Cabo de Santo Agostinho.
Fonte Barros (2008, p.9).
58
Quadro 8: Quadro de atribuições do projeto de elaboração do PGIRSU-Cabo. Fonte: Barros et
al (2008, p.11)
59
Quadro 9: Domicílios por forma de abastecimento de água, com banheiro ou sanitário e destino
do lixo. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 apud Barros et al (2008)
71
Quadro 10: Quadro de Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado
(COSTA, 2002 apud BARROS et al, 2008).
74
Quadro 11: Taxa de incidência segundo doenças de notificação compulsória por ano. Cabo de
Santo Agostinho de 2000 a 2006. Fonte: Barros et al (2008)
75
Quadro 12: Situações que indicam “bom” ou “mau” manejo de resíduos sólidos urbanos. Fonte:
Barros et al, 2008.
78
LISTA DE SIGLAS
ALEPE Assembléia Legislativa de Pernambuco
AMBEV Companhia de Bebidas das Américas
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
COOMSERC Cooperativa Mista de Serviços do Cabo
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
CONDEPE/FIDEM Agência Estadual de Planejamento e Pesquisa de Pernambuco
CPRH Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
CTR Companhia de Tratamento de Resíduos
DRSAI Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado
EIA Estudo de Impacto Ambiental
EUA Estados Unidos da América
GIRSU Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos
GWP Global Warming Potencial
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
PGIRSU Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos
PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RESOLPE Sistema Estadual de Informações sobre Resíduos Sólidos
RIMA Relatório de Impacto Ambiental
RMR Região Metropolitana do Recife
SECTMA Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
SECID Secretaria das Cidades
SEPLAG Secretaria de Planejamento e Gestão
SES Secretaria Estadual de Saúde
SRH Secretaria de Recursos Hídricos
TDR Tronco Distribuidor Rodoviário
UGRS Unidade Gestora de Resíduos Sólidos
xii
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................13
CAPÍTULO 1: A CRISE AMBIENTAL E A HEGEMONIA CAPITALISTA MEDIANTE OS
INTERESSES E CONIVÊNCIA DO ESTADO .......................................................................................21
1.1 .................. O Desequilíbrio Ambiental ............................................................................................21
1.2 .................. O papel do estado e as políticas públicas ..................................................................25
1.3 .................. A origem e fundamentos das políticas públicas ........................................................27
CAPÍTULO 2: CONCEITOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS ....................................................................32
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA PARA ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE
RESÍDUOS SÓLIDOS ...........................................................................................................................35
3.1 .................. Metodologia para avaliação das políticas públicas de resíduos sólidos ................35
3.2 .................. Procedimentos metodológicos ....................................................................................37
CAPÍTULO 4: ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ......41
4.1 .................. As políticas públicas de gestão de resíduos sólidos no Brasil ...............................41
4.2 .................. A gestão de resíduos sólidos no Estado de Pernambuco ........................................49
4.3 .................. As políticas adotadas e os fatores que entravam a gestão dos resíduos sólidos
no Cabo de Santo Agostinho ..............................................................................................................55
4.4 .................. Localização, caracterização e histórico do município do Cabo de Santo Agostinho
...................... ........................................................................................................................................60
4.5 .................. Impactos sobre a saúde ambiental no Cabo de Santo Agostinho ...........................66
4.6. ................. Contexto e avaliação geral da política de resíduos sólidos do Cabo de Santo
Agostinho (PGIRSU) ............................................................................................................................81
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................113
INTRODUÇÃO
Dentre os iminentes problemas ambientais que estão ocorrendo em nosso
planeta, a questão dos resíduos sólidos vem se destacando como um dos mais
graves problemas ambientais urbanos da atualidade, devido ao seu intenso grau de
impacto geoambiental
1
, ocasionado pelo descumprimento da legislação vigente que
exige um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e ou Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA) na escolha de áreas menos nocivas a deposição de lixo. Mas, sobretudo,
socioambiental
2
, devido a toda sua complexidade e descasos relativos ao
gerenciamento, controle e monitoramento dos lixões (PARAHYBA JÚNIOR, 2006).
O modelo de desenvolvimento adotado na cultura ocidental, o estilo de
produção e de consumo da sociedade moderna no período posterior a revolução
industrial, a sociedade do desperdício, do supérfluo, do descartável, são marcos da
sociedade capitalista, contribuindo para o aumento da geração de resíduos sólidos.
O crescimento populacional das últimas décadas, junto com o aumento da
produção e do consumo, leva a um aumento de lançamento de resíduos sólidos no
meio ambiente, acarretando imensos problemas de qualidade de vida nas cidades
como um todo. Loureiro (2003, p. 28) afirma
que o processo de desdobramento do capitalismo mundial, cuja base
se assenta na produção de mercadorias para a reprodução e não
para a satisfação das necessidades materiais básicas socialmente
definidas, conduziu ao ápice de nossa história de rompimento e de
degradação da qualidade de vida e do ambiente.
1
Refere-se ao substrato geológico, as condições climáticas, as formas do relevo, as feições da rede
hidrográfica, características do solo, uso e ocupação da terra, feições superficiais e características
ambientais marcantes.
2
Socioambiental Visão holística da relação entre a sociedade e a natureza.
14
O problema maior da geração de resíduos sólidos é justamente a sua
disposição em lugares inadequados, tornando o ambiente impróprio à vida, uma vez
que o chorume produzido pela decomposição da matéria orgânica é extremamente
tóxico, ácido, com extrema concentração de metais pesados, inclusive sendo
causador de diversos tipos de doenças, provocando também a poluição do solo e
recursos hídricos.
A proliferação de vetores como ratos, baratas, insetos em geral e diversos
tipos de bactérias nocivas à saúde da população é outro grave problema provocado
pelo lixo, comprometendo a saúde ambiental como um todo, atingindo, sobretudo a
população menos favorecida. Com essa problemática, a geração, disposição e o
gerenciamento por parte dos órgãos públicos, tornaram-se um dilema.
Atualmente, o lixo gerado é depositado em três formas diferentes: lixão a céu
aberto, aterro controlado e, aterro sanitário. O lixão a céu aberto é uma forma
inadequada de disposição final de resíduos sólidos, que se caracteriza pela simples
descarga sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou a saúde
pública.
O aterro controlado, por sua vez, é uma técnica de disposição de resíduos
sólidos urbanos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e a sua
segurança, minimizando os impactos ambientais. Esse método utiliza princípios de
engenharia para confinar os resíduos sólidos, cobrindo-os com uma camada de
material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho.
o aterro sanitário é um processo utilizado para disposição de resíduos no
solo particularmente lixo domiciliar que, fundamentado em critérios de
engenharia e normas operacionais específicas, permite o confinamento seguro em
termos de controle de poluição ambiental final de resíduos sólidos urbanos no solo,
15
através de confinamento em camadas cobertas com material inerte, geralmente
solo, segundo normas operacionais específicas, de modo a evitar danos ou riscos à
saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais. Além de não
permitir a presença de catadores, os aterros sanitários devem tirar do lixo algum
proveito, acelerando sua inertização, minimizando e recuperando as áreas de
disposição (IPT/CEMPRE, 2000).
Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada pelo IBGE
em 2000, o panorama de destinação final dos resíduos sólidos no Brasil é
preocupante, pois, 59% são destinados aos lixões; 13% aos aterros sanitários; 17%
aos aterros controlados; 0,6% em áreas alagadas; 03% em aterros especiais; 2,8%
são destinados à reciclagem; 04% vão para compostagem; e 02 % são incinerados
(IBGE, 2002).
Tal panorama resulta de fatores políticos, técnicos e operacionais, dentre os
quais se destacam as ações não planejadas ou desarticuladas de planejamento; a
pouca capacidade de gestão dos municípios em geral; a quantidade insuficiente de
pessoal qualificado para o gerenciamento e gestão dos serviços; o custo elevado da
prestação dos serviços para municípios com baixa arrecadação; o baixo índice de
reciclagem dos resíduos sólidos gerados; a inércia na solução de problemas antigos;
e a ausência do Estado como articulador e fomentador da gestão associada dos
serviços públicos (ZICA, 2007).
Essa conjuntura levanta a necessidade de discussão do papel do Estado na
formulação e implementação de políticas públicas para o setor considerando
princípios mais amplos no debate sobre a geração de resíduos além das discussões
sobre aspectos relacionados à gestão e ao planejamento do setor público.
16
Nesse sentido, torna-se necessário estabelecer um debate da “gestão dos
resíduos” acima dos aspectos tecnológicos e gerenciais. Mais que tudo é necessário
tornar essa temática uma questão social e politizar suas discussões, considerando
suas origens dentro das principais contradições do modo de produção capitalista,
cuja lógica privilegia a produção e o consumo em detrimento das reais necessidades
da sociedade e do equilíbrio ecológico.
Ainda não existe uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, entretanto, o
Brasil e todos os seus entes federativos possuem a sua disposição um arcabouço
legal e institucional com capacidade de intervir de forma adequada na gestão de
resíduos sólidos (BARROS et al., 2008).
Porém, é importante salientar que tais arcabouços privilegiam os aspectos
técnicos em detrimento dos aspectos políticos e sociais, não trazendo a reflexão
sobre mudanças políticas, econômicas e culturais que sustentam o estilo de
produção e consumo da sociedade moderna (LAYRARGUES, 2002).
É bem verdade que se o cumprimento mínimo da legislação ambiental vigente
fosse realmente efetivado (Constituição Federal, Política Nacional de Meio
Ambiente, Lei de Crimes Ambientais, Política Nacional de Recursos Hídricos, etc.) a
disposição dos resíduos sólidos não estaria numa situação tão preocupante. No
entanto, existem fatores econômicos e sociais que atuam na realidade provocando
discrepâncias entre o que se estabelece na legislação e na vida real (JURAS, 2000).
A preocupação com a questão ambiental torna a gestão dos resíduos sólidos
urbanos um processo de extrema importância para a saúde e o meio ambiente, onde
o estabelecimento de políticas públicas que politizem o debate tornando-o uma
questão social e não apenas técnica pode contribuir para mudança dos padrões de
17
produção e consumo, produzindo melhorias no meio ambiente e nas condições de
vida da população.
As políticas públicas adotadas privilegiam os aspectos técnicos em detrimento
dos aspectos políticos, não trazendo a reflexão sobre mudanças culturais que
sustentam o estilo de produção e consumo da sociedade moderna.
Para Layrargues (2002, p. 183)
a questão do lixo é um problema de ordem cultural e, assim, situa a
cultura do consumismo como um dos alvos da crítica à sociedade
moderna (...) e desde que Adam Smith afirmou que a produção tem
como finalidade o consumo, a economia estabeleceu como objetivo
aumentá-lo, e ele passou a ser entendido culturalmente como
sinônimo de bem-estar. O problema é que atualmente o consumismo
é visto também como responsável por uma série de problemas
ambientais e, desse modo, não pode mais ser compreendido
unicamente como sinônimo de felicidade.
Tanto as políticas públicas quanto o papel regulador do Estado são
primordiais para melhoria do bem estar da população, como também certas ações
que privilegiam a classe dominante ou grupo hegemônico trazem graves problemas
socioambientais O sistema capitalista hegemônico interfere diretamente nas ações
do Estado que vive permeado por interesses externos, tornando-se instrumental e
reproduzindo o interesse da classe dominante. Assim, a função do Estado passa ser
a de reproduzir o capitalismo e protegê-lo, pois seus administradores acabam
internalizando os objetivos capitalistas (PRZERWOSKY, 1995).
As características de iniqüidade dos modelos econômicos vigentes
repercutem na saúde da população, em rota de colisão com um dos princípios
estabelecidos na II Conferência das Nações Unidas sobre Meio-Ambiente e
Desenvolvimento Humano (Rio-92), quando se assumia que os seres humanos
18
estão no centro das preocupações relativas ao desenvolvimento durável e têm o
direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza (IESUS-
MINAYO, 2002).
Nos países subdesenvolvidos os problemas provocados pelo lixo devido à
ineficiência das políticas públicas se agravam mediante a redução do papel do
Estado, sua transformação e fortalecimento para responder aos novos desafios.
Esse novo Estado (indutor-normativo-regulador) teria como missão viabilizar
serviços públicos essenciais - saúde, educação, habitação e amparo contra a
exclusão social - para a população mais vulnerável social e economicamente.
Estado capaz de estabelecer políticas compensatórias para frear o aumento
do desemprego; de promover a redução das desigualdades, a melhor redistribuição
de oportunidades; o desenvolvimento de proteções sociais e estratégias específicas
para as populações que sofrem de um déficit de integração e possivelmente sejam
não integráveis (IESUS - MINAYO, 2002)
No Brasil, essa ausência de uma política nacional de resíduos sólidos trás
danos incomensuráveis ao ambiente, acarretando sérios problemas socioambientais
mediante a inexistência de uma lei federal que regulamente de forma mais efetiva as
normas de gerenciamento, monitoramento e controle dos resíduos sólidos
contribuindo para mitigar os problemas ocasionados pelo lixo.
A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar as políticas públicas de
resíduos sólidos urbanos e seus impactos socioambientais no Cabo de Santo
Agostinho, levando em consideração os fatores que inviabilizam a aplicação dessas
políticas e como esses fatores rebatem na saúde ambiental e na qualidade de vida
da população.
19
Para tanto, o trabalho apresenta como objetivos específicos: 1) Caracterizar
as políticas públicas de resíduos sólidos urbanos; 2) avaliar a política de resíduos
sólidos urbanos do Cabo de Santo Agostinho; e 3) Identificar os impactos
socioambientais no Cabo de Santo Agostinho decorrentes da gestão dos
resíduos sólidos urbanos.
De acordo com o projeto de lei que institui a política nacional de resíduos
sólidos entendem-se como resíduos sólidos urbanos aqueles gerados por
residências, domicílios, estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços e os
oriundos dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, que
por sua natureza ou composição tenham as mesmas características dos gerados
nos domicílios (RESOLUÇÃO CONAMA 308).
A contribuição da pesquisa está centrada na discussão das políticas públicas
e dos efeitos dessas políticas no gerenciamento do resíduo sólido urbano produzido
e o impacto ambiental provocado, seja pela adoção de uma nova medida ou pela
omissão ou negligência do poder público no cumprimento das leis.
A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) de n
o
.
001/86, art. considera impacto ambiental qualquer alteração das propriedades
físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e
econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a
qualidade dos recursos ambientais.
Segundo COELHO (2004), impacto ambiental é o processo de mudanças
sociais e ecológicas causado por perturbações (uma nova ocupação e ou
construção de um objeto novo) no ambiente.
20
Diz respeito ainda à evolução conjunta das condições sociais e ecológicas
estimuladas pelos impulsos das relações entre forças externas e internas à unidade
espacial e ecológica, histórica ou socialmente determinada. É a relação entre
sociedade e natureza que se transforma diferencial e dinamicamente.
Os impactos ambientais são descritos no tempo e incidem diferencialmente,
alterando as estruturas das classes e reestruturando o espaço.
Os fatores que levam a qualificar um impacto ambiental como significativo
envolvem escolhas de natureza técnica, política ou social. De acordo com os
interesses dos grupos sociais ou mesmo em função do conhecimento existente,
podem ser definidos os componentes, fatores e parâmetros ambientais a serem
considerados relevantes em uma determinada avaliação (PHILLIPPI Jr. e MAGLIO,
2005).
21
CAPÍTULO 1: A CRISE AMBIENTAL E A HEGEMONIA CAPITALISTA MEDIANTE
OS INTERESSES E CONIVÊNCIA DO ESTADO
1.1. O Desequilíbrio Ambiental
A forma como a sociedade industrializada vem intervindo na natureza rompeu
o equilíbrio ecológico natural e começou a transformar o espaço conforme seus
interesses. Essa transformação, mínima nos primórdios da humanidade, hoje chega
a patamares de escala mundial, tornando-se uma crise ambiental sem precedentes,
quando praticamente abrange toda superfície terrestre.
Para Leff (2001 b, p. 15) “a crise ambiental veio questionar a racionalidade e
os paradigmas teóricos que impulsionaram e legitimaram o crescimento econômico
negando a natureza”.
O crescimento econômico que conduz a sociedade à escassez e ao
esgotamento dos recursos naturais, devido à forma de produção e aos padrões de
consumo dos países industrializados, sem se preocupar com os problemas sociais e
políticos inerentes a este tipo de desenvolvimento, se refletem diretamente nas
relações sociais.
Ainda segundo Leff (2001 b, p. 45) “a problemática ambiental converteu-se
numa questão eminentemente política”, onde os conflitos socioambientais emergem
de princípios éticos, direitos culturais e lutas pela apropriação da natureza que vão
além da internalização dos custos ecológicos para assegurar um crescimento
sustentado.
Para Loureiro (2003, p. 12) “a crise ambiental deriva da crise civilizatória,
moral, política, tecnológica e é antes de tudo necessária a reorganização da base
22
civilizacional e da estrutura política, social e cultural vigente nas sociedades
instituídas no período posterior à revolução industrial”.
Com o advento da revolução industrial ocorreu um aceleramento e
intensificação da exploração dos recursos naturais, provocando transformações
inexoráveis ao ambiente e trazendo conseqüências imprevisíveis.
A mecanização e o uso de novas tecnologias desenfreadas estão conduzindo
o planeta Terra ao colapso, pois o ser humano passou a produzir para acumular,
consumir e descartar, e não mais para seu sustento. O marco fundamental dessa
mudança do modo de produção é, sem dúvida, a revolução industrial, conforme
destaca Loureiro (2003, p. 24):
O que ocorre após a revolução industrial capitalista é um aumento da
intensidade e velocidade da ação antropocêntrica, além da afirmação
de um sistema político-econômico individualista mundial, pautado na
reprodução do capital, que para isto precisa de crescente consumo de
matéria e energia.
Para Leff (2001) a problemática ambiental não é ideologicamente neutra nem
alheia a interesses econômicos, políticos e sociais. Ela está fundamentada num
processo histórico dominado pela expansão do modo de produção capitalista, pela
massificação do consumo, pelos padrões de desenvolvimentos econômicos e
tecnológicos gerados por uma racionalidade predominantemente econômica e
guiada pelo propósito de maximizar os lucros e os excedentes financeiros em curto
prazo, numa ordem econômica mundial marcada pelo aprofundamento do
conhecimento técnico e científico, aumentando assim a eficiência produtiva e
consequentemente o acúmulo de capital.
23
Nesse sentido, Leff (2001 a, p. 29) amplia o leque da discussão enfatizando o
campo epistemológico, entendendo que:
A acumulação capitalista, a diversificação e o avanço do
conhecimento não aparecem como um simples efeito da divisão
“natural” do trabalho ou como uma evolução interna da ciência.
Avançada a fase da acumulação extensiva, fundada na exploração de
mais-valia absoluta, a elevação da taxa de lucro exigiu um aumento
na eficiência produtiva dos processos de trabalho. Isto foi alcançado
logo depois da mecanização, com a cientifização dos processos
produtivos, mediante a produção e a aplicação integrada de
diferentes áreas do conhecimento técnico e científico.
Com o processo de industrialização, a consequente urbanização e a
implantação de novas técnicas de exploração predatória da natureza, o homem vem
provocando impactos cada vez mais intensos sobre o meio ambiente, dando origem
a problemas críticos de poluição, escassez e esgotamento dos recursos naturais,
decorrentes, sobretudo das formas de produção e aos padrões de consumo dos
países industrializados e grupos privilegiados da sociedade corroborando a
racionalidade econômica predominante, que Leff (2001 a) caracteriza pelo desajuste
entre as formas e ritmos de extração, exploração e transformação dos recursos
naturais e das condições ecológicas para sua conservação, regeneração e
aproveitamento sustentável.
A aceleração em ritmos de rotação de capital e na capitalização da renda do
solo para maximizar os lucros ou os excedentes econômicos no curto prazo gerou
uma crescente pressão sobre o meio ambiente.
Dentro desta racionalidade capitalista os avanços da tecnologia estão
atrelados a revalorização do capital, voltados diretamente para maximização dos
lucros, aumento da riqueza de uma minoria detentora dos meios de produção,
24
acumulação do capital e, sobretudo, destruição dos recursos naturais com
deterioração da qualidade do ambiente, trazendo degradação socioambiental
diagnosticado pela pobreza, desnutrição, marginalização cada vez mais crescente
nas camadas menos favorecidas da sociedade, miséria extrema, entre tantos outros
problemas gerados pela racionalidade econômica predominante, em detrimento de
uma racionalidade social, voltada para um desenvolvimento equitativo, sustentável e
duradouro.
Na opinião de Leff (2001 a, p.124):
a constituição de uma racionalidade social fundada nos princípios de
gestão ambiental e do desenvolvimento sustentável passa por
processos de desconstrução da racionalidade econômica dominante,
bem como de transformação das instituições e dos aparelhos
ideológicos que a sustentam e legitimam [...] os princípios de
racionalidade econômica e tecnológica terão assim de ser redefinidos
e normatizados pelas condições ecológicas e políticas do
desenvolvimento e pelos princípios de diversidade cultural e de
equidade social do ambientalismo. Assim como a racionalidade
capitalista está dominada por uma racionalidade formal e
instrumental, a racionalidade ambiental estará fundada em uma
racionalidade teórica e substantiva, que inclui os valores da
diversidade étnica e cultural e a prevalência do qualitativo sobre o
quantitativo (grifo nosso).
Na atual sociedade neoliberal o que prevalece é o quanto você consome (e
descarta) em detrimento da qualidade do consumo, que, na realidade urbana,
parece não provocar impacto ao meio ambiente.
Esses processos de desconstrução da racionalidade econômica dominante,
pretendida por Leff, bem como a transformação das instituições e dos aparelhos
ideológicos que a sustentam e legitimam, foram amplamente discutidos por Gramsci
(1991, p.61) em “Cadernos do Cárcere”, que mesmo não utilizando o termo
25
“Ideologia”, utilizou termos equivalentes como: filosofia”, “concepções de mundo”,
“sistemas de pensamento” e formas de consciências.
Gramsci faz uma teorização de nível político, através de uma reflexão
segundo sua própria experiência e aborda a ideologia como tendo a função e
eficiência em aglutinar classes e frações de classes em posições de domínio e
subordinação, relatando que a ideologia contribui para “cimentar e unificar” o bloco
social.
Segundo ele
as idéias da classe dominante são em todas as épocas as idéias
dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da
sociedade é ao mesmo tempo a força ideológica dominante [...] o
poder do bloco governante de falar em nome do “povo”, da “nação”,
“humanidade”, assim por diante, é uma pré-condição para a fundação
do seu próprio estado e a garantia de sua sobrevivência.
(GRAMSCI, 1991, p. 64)
1.2. O papel do estado e as políticas públicas
A ideia de Estado abordada é a que o identifica como instrumento do
capitalismo utilizado pela classe hegemônica no campo de conflito das relações e
para os mais diversos interesses. Esse Estado não é imparcial, inerte ou inoperante,
pelo contrário, através de suas instituições corporifica-se, atuando como
apaziguador dos conflitos de classe, que através de sua política, sua forma, sua
estrutura possibilita uma coalizão de diversas classes (PRZEWORSKY, 1995).
Segundo CARDOSO (2007, p. 31) o Estado possui um papel de destaque na
determinação do ritmo do desenvolvimento econômico, seja definindo prioridades,
alocando recursos ou garantindo os direitos de propriedade”.
26
Isto significa que a atuação do Estado é imprescindível para o
desenvolvimento econômico e as relações econômicas estabelecidas apenas entre
agentes privados, sem a intervenção estatal, não seriam suficientes para promover o
desenvolvimento.
Essas intervenções se consolidaram com o Estado de Bem-Estar Social, nos
países desenvolvidos, onde o capitalismo construiu condições para sua reprodução
e com o estado Desenvolvimentista nos países subdesenvolvidos, principalmente
onde ainda não existiam as bases necessárias para acumulação do capital
(CARDOSO, 2007).
O Estado é tido como uma instituição superior e soberana que normatiza o
funcionamento das atividades humanas dentro de determinadas estruturas políticas
e econômicas da sociedade, sendo identificado como um instrumento de dominação
de classes surgindo a partir da instituição da propriedade privada.
Cada vez que o Estado busca sua autonomia na formulação e execução das
políticas definidas e esta autonomia faz com que o Estado adquira capacidade de
intervir na economia, vários fatores econômicos externos surgem mediante
interesses de classes sociais buscando controlar o Estado e consequentemente
controlar a economia (KRASNER apud PRZERWOSKY, 1995).
Para Offe e Habermas apud Przerwosky (1995) quando o Estado assume a
tarefa de gerenciamento da economia fica permeado por interesses externos. Ao
invés de uma instituição autônoma objetivando atender todas as camadas da
sociedade priorizando valores universalistas, torna-se uma arena para os mais
diversos interesses.
No sistema capitalista, todos os governos devem respeitar e proteger as
demandas essenciais daqueles que possuem a riqueza produtiva da sociedade,
27
favorecendo a classe dominante, cujos interesses não podem ser subjugados a
nenhuma instituição formal. Nesse sentido, as classes menos favorecidas podem até
ter direitos políticos como votar, mas o poder de governar será regido pelo capital
que favorecerá a classe dominante.
As forças políticas dominantes que controlam as instituições do Estado não
alteram essa situação, pois ela é estrutural, ou seja, uma característica do sistema,
que dificilmente pode ser modificada mesmo que mudem os governantes. O que
ocorre na realidade é que os administradores internalizam os objetivos dos
capitalistas e usam o Estado como instrumento desses objetivos (PRZEWORSKY,
1995).
1.3. A origem e fundamentos das políticas públicas
Na Europa, a área de política pública vai surgir como um desdobramento dos
trabalhos baseados em teorias explicativas sobre o papel do Estado e de uma das
mais importantes instituições do Estado - o governo - produtor, por excelência, de
políticas públicas. Nos Estados Unidos da América (EUA), ao contrário, a área surge
no mundo acadêmico sem estabelecer relações com as bases teóricas sobre o
papel do Estado, passando direto para a ênfase nos estudos sobre a ação dos
governos (SOUZA, 2006).
Para Souza (2006) a introdução da política pública como ferramenta das
decisões do governo é produto da Guerra Fria e da valorização da tecnocracia como
forma de enfrentar suas consequências.
Cardoso (2007) reforça esta ideia descrevendo a atuação do Estado
Desenvolvimentista que é a denominação atribuída ao modelo de intervenção
28
Estatal nos países que o dispunham de um alto nível de desenvolvimento
industrial necessário para a manutenção do Estado de Bem-Estar Social.
Souza (2006) Considera que a área de políticas públicas contou com quatro
grandes “pais” fundadores: H. Laswell, H. Simon, C. Lindblom e D. Easton,
fundamentando diversos modelos de análises dentro das políticas públicas, para
entender melhor o papel do Estado na formulação dessas políticas, bem como seus
reflexos na vida dos cidadãos.
Barros (2009), com base em Souza (2006), sintetizou em quadros os
principais conceitos teóricos desenvolvidos pelos “pais” fundadores da área das
políticas públicas e os principais modelos de formulação e análise dessas políticas
(Quadro 1 e Quadro 2).
29
Quadro 1 : Os “pais” fundadores da área de políticas públicas. Fonte: Barros (2009, p. 71)2
Laswell (1936)
Introduziu a expressão policy analisis (análise de política blica)
como forma de conciliar conhecimento científico/acadêmico com a
produção empírica dos governos e estabelecer diálogo entre
cientistas sociais, grupos de interesse e governo.
Simon (1957)
Introduziu o conceito de racionalidade limitada dos decisores
públicos (policy makers). No entanto, argumentava que a limitação
da racionalidade poderia ser limitada pelo conhecimento racional.
Exemplos de limitação dessa racionalidade são problemas
atrelados a informações incompletas ou imperfeitas, tempo para
tomada de decisão, auto-interesse dos decisores, etc.
Lindblom (1959; 1979)
Questionou a ênfase no racionalismo de Laswell e Simon propondo
a incorporação de outras variáveis à formulação e à análise de
políticas públicas, tais como as relações de poder e a integração
entre diferentes fases do processo decisório o que o teria
necessariamente um fim ou princípio. Além das questões de
racionalidade, o papel das eleições, das burocracias, dos partidos
políticos e dos grupos de interesses devem ser considerados na
formulação e análise das políticas públicas.
Easton (1965)
Definiu a política pública como um sistema, ou seja, como uma
relação entre formulação, resultados e o ambiente. Segundo essa
teoria, as políticas públicas recebem inputs dos partidos, da mídia e
de grupos de interesses, que influenciam seus resultados e efeitos.
30
Quadro 2: Principais modelos de formulação e análise de políticas públicas. Fonte: Barros (2009,
p. 72)
Modelo
Principais autores
Teorias chaves
Tipológico
Theodor Lowi (1964;
1972)
A política pública pode assumir quatro formatos (tipos):
1) políticas distributivas; 2) políticas regulatórias; 3)
políticas redistributivas; 4) políticas constitutivas.
Incrementalismo
Lindblom (1979);
Caiden e Wildavsky
(1980) e Wildavsky
(1992)
A política pública é vista como um processo
incremental, ou seja, os recursos governamentais para
um programa, órgão ou uma dada política não partem
do zero e sim, de decisões marginais e incrementais
que desconsideram rupturas políticas ou mudanças
substantivas nos programas públicos.
O Ciclo da
Política Pública
---
a política pública como um ciclo deliberativo,
formado por vários estágios e constituindo um processo
dinâmico de aprendizagem: 1) definição da agenda; 2)
identificação de alternativas; 3) avaliação das opções;
4) seleção das opções; 5) implementação e avaliação.
O modelo
garbage can ou
“lata de lixo”
Cohen, March e
Olsen (1972)
As escolhas de políticas públicas são feitas como se as
alternativas estivessem numa lata de lixo”. Os
responsáveis por tomar decisões deveriam propor
soluções a problemas que não existem, mas que iriam
surgir e seriam resolvidos com as soluções disponíveis.
O modelo advoga que soluções procuram problemas.
Coalizão de
defesa
Sabatier e Jenkins-
Smith (1993)
A política pública é concebida como um conjunto de
subsistemas relativamente estáveis que se articulam
com acontecimentos externos, os quais dão os
parâmetros para os constrangimentos e os recursos de
cada política pública. Cada subsistema que integra uma
política pública é composto por um número de coalizões
de defesa que se distinguem pelos seus valores,
crenças e idéias e pelos recursos de que dispõem,
fatores importantes para o processo de formulação de
políticas públicas.
Arenas Sociais
---
a política pública como uma iniciativa dos chamados
empreendedores políticos ou de políticas públicas, que
em geral, se configuram em verdadeiras redes sociais.
Parte do pressuposto de que uma política surge e se
desenvolve quando uma circunstância ou evento se
transforma em problema, convencendo as pessoas de
que algo precisa ser feito. As redes constrangem,
constroem e reconstroem as ações e as estratégias das
políticas. A força desse modelo consiste na
possibilidade de investigação dos padrões das relações
entre indivíduos e grupos envolvidos numa determinada
política pública.
Modelo do
“equilíbrio
interrompido”
Baumgartner e
Jones (1993)
A política pública se caracteriza por longos períodos de
estabilidade, interrompidos por períodos de
instabilidade que geram mudanças nas políticas
anteriores. Permite entender por que um sistema
político pode agir tanto de forma incremental (mantendo
o status quo) como passar por fases de mudanças mais
radicais nas políticas públicas.
Modelos
influenciados
pelo “novo
gerencialismo
público”
---
A busca da eficiência passa a ser o principal objetivo de
qualquer política pública, aliada à importância da
credibilidade e à delegação das políticas públicas para
instituições com “independência” política. Apesar de
guiar o desenho das políticas públicas mais recentes,
tais modelos ainda são pouco incorporados nas
pesquisas empíricas.
31
Diante do tema abordado nesta dissertação, as políticas públicas assumem
uma visão holística, portanto, uma visão socioambiental, na perspectiva que o todo é
mais importante que a soma das partes e que indivíduos, instituições, interações,
ideologias e interesses são considerados na formação e interação desse todo.
Sendo assim, a política pública é abordada por campos multidisciplinares e
interdisciplinares, pois suas teorias foram construídas no campo da sociologia, da
ciência política e da economia. As políticas públicas precisam explicar as inter-
relações entre Estado, política, economia e sociedade, devido as suas
repercussões, sobretudo, no fator econômico e social. Razão pela qual atrai
pesquisadores de tantas disciplinas (economia, ciência política, sociologia,
antropologia, geografia, planejamento, gestão e ciências sociais aplicadas) que têm
contribuído para avanços teóricos e empíricos (SOUZA, 2006).
Assim, o estudo e análise das políticas públicas tornam-se muito relevantes
para se entender os processos de atuação do Estado, bem como os conflitos e
interesses inerentes à implementação dessas políticas.
32
CAPÍTULO 2: CONCEITOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS
As políticas públicas são ações do Estado voltadas para o bem-estar da
população e melhoria da qualidade de vida da sociedade. O conceito de políticas
públicas de Souza e Barros (2007) por apresentar elementos estruturais que servem
como categorias de análise e avaliação no estudo das políticas públicas, foi
escolhido como elemento norteador para fundamentar o estudo, o que viabilizou a
análise das políticas públicas de resíduos sólidos e seus impactos socioambientais.
Para Souza e Barros (2007) as políticas públicas são ações de iniciativa
governamental de interesse público, que devem ser construídas com e para a
coletividade, cuja efetivação depende de quatro fatores fundamentais, a saber: 1)
base na legislação; 2) aparato institucional com recursos e infra-estruturas
suficientes; 3) planejamento (programas, planos, projetos e metas); e 4) controle
social (participação dos cidadãos através de instâncias colegiadas).
Para Carvalho (1997) políticas públicas “são [...] decisões e ações de
intervenção do Estado na dinâmica da economia, da sociedade civil e da própria
sociedade política com o propósito de regular e garantir a reprodução do capital e da
força de trabalho, assim como obter legitimidade, seja pelo consenso seja pela
coerção, para que tais objetivos estratégicos consolidem-se”
Philippi Jr. e Maglio (2005, p. 217) as definem como “o conjunto de princípios
e diretrizes estabelecido pela sociedade por meio de sua representação política, na
forma da lei, que orientam as ações a serem tomadas e implementadas pelo Estado,
pelo Poder Legislativo, pelo Poder Executivo e pelo Poder Judiciário”.
33
Tavares (2006, p.2) entende as políticas públicas “como ações coletivas entre
o Estado e a sociedade civil, no intuito, de concretizarem direitos sociais declarados
e garantidos em lei”.
Para Sampaio e Araújo Jr. (2006, p. 336) “as políticas públicas são respostas
a determinados problemas sociais, formadas a partir das demandas e tensões
geradas na sociedade. Problemas que precisam ter magnitude e relevância social e
que tenham poder de barganha suficiente para serem postos na agenda de
prioridades de um determinado órgão fomentador de políticas, que pode ser ou não
estatal”, ou seja, são ações públicas que tentam regular problemas públicos,
problemas que surgem no bojo de uma sociedade e que têm relevância social.
Para Belloni, Magalhães e Sousa (2007, p. 10), políticas públicas são
“entendidas como o conjunto de orientações e ações de um governo com vista ao
alcance de determinados objetivos
Para o Instituto Pólis (Pólis, 2006, p. 1) a “Política blica é a forma de
efetivar direitos, intervindo na realidade social. Ela é o principal instrumento utilizado
para coordenar programas e ações públicos”.
Entretanto, vale salientar que, a eficácia das ações políticas na gestão do
bem público depende da capacidade e da maturidade do governo e da sociedade na
apropriação e na utilização dos instrumentos operacionais disponíveis e
fundamentados em base legal (BARROS, SILVEIRA e GEHLEN, 2007).
Estes conceitos apresentam noções preponderantes relacionadas à ação,
coletividade, direcionamento, direitos, leis, participação cidadã, problemas públicos e
governo. Isso implica em dizer que as políticas públicas se constituem processos
dinâmicos de ações intencionais desenvolvidas por sujeitos que delas se apropriam
34
e participam, buscando direcionamento e o atendimento de suas necessidades,
consideradas demandas sociais, dentro do contexto dos governos.
Para Leff (2001 a) as estratégias políticas orientadas para a solução da
problemática ambiental e para a geração de um desenvolvimento sustentável,
fundado num aproveitamento integrado de recursos, requerem uma análise teórica
das causas profundas das crises do capital e das próprias estratégias de
sobrevivência, considerando, por exemplo, a liberalização do comércio mundial e os
avanços recentes da ciência e da tecnologia.
Na formulação dessas estratégias o Estado é imprescindível e fundamental,
mas é tido como insuficiente para aportar novos caminhos com vistas a expandir e
ampliar a mobilização dos mais diversos recursos. O mercado, por sua vez, com sua
lógica instrumental excludente, também não pode liderar o processo de
desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, a sociedade civil organizada surge
como uma oportunidade de articulação equilibrada com o Estado e as atividades
lucrativas do mercado, pode possibilitar a ampliação do espaço público e conjugar
esforços na questão socioambiental, especialmente na gestão dos resíduos sólidos
oriundos do consumo descartável da sociedade contemporânea (MOREIRA, 2007).
35
CAPÍTULO 3: METODOLOGIA PARA ANÁLISE E AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE RESÍDUOS SÓLIDOS
3.1 Metodologia para avaliação das políticas públicas de resíduos sólidos
A pesquisa utiliza a Avaliação por Triangulação de Métodos
3
que segundo
Minayo (2006) é particularmente recomendada para estudos de avaliação focados
na realidade social. Portanto, a Avaliação por Triangulação de Métodos é um
instrumento que permite iluminar a realidade sob vários ângulos, como um prisma,
demonstrando maior claridade teórica e aprofundamento da interdisciplinaridade,
interativa e intersubjetiva.
Pode-se compreender a Avaliação por Triangulação de Métodos como
expressão de uma dinâmica de investigação e de trabalho que integra a análise das
estruturas, dos processos e dos resultados, a compreensão das relações envolvidas
na implementação das ações e a visão que os atores diferenciados constroem sobre
todo o projeto: seu desenvolvimento, as relações hierárquicas e técnicas, fazendo
dele um constructo específico (GURGEL, 2007)
Na opinião de Gurgel (2007) a “avaliação por triangulação de métodos” deve
destacar quatro dimensões: utilidade, viabilidade, ética e precisão técnica.
A Utilidade trata de uma dimensão pragmático-objetiva da pesquisa, no
sentido dado por Minayo et al. (2005, p.19) de uma meta a ser alcançada e de uma
essência da atividade avaliativa, “pois jamais se deve empreender uma avaliação
inútil”. Se tratando do estudo de políticas públicas, o método busca “evidenciar a
3
Triangulação de métodos é um termo usado nas abordagens qualitativas para indicar o uso
concomitante de várias técnicas de abordagens e de várias modalidades de análise, de vários
informantes e pontos de vista de observação, visando à verificação e validação da pesquisa
(MINAYO, 2006, p.102).
36
eficiência, a eficácia e a efetividade na orientação das propostas de intervenção
social, no atendimento aos destinatários e nos efeitos multiplicadores que elas
possam apresentar” (MINAYO et al., 2005, p.20).
A Viabilidade trata de uma dimensão que calcula a pertinência da política ou
do programa do ponto de vista político, prático e financeiro. Isto é, imagina-se que a
viabilidade de uma política ou de um programa esteja associada à “eficiência”,
“eficácia” e “efetividade” das suas propostas, menos do que às “necessidades
sociais”. Mas, sem a devida equação entre as ofertas políticas e as “necessidades
sociais”, a “avaliação política da política” pode ficar preterida por essa proposta
metodológica. Ao ser preterida, mais difícil será atender plenamente o objetivo de
uma avaliação, tal como a própria Minayo et al. (2005, p.20) o concebem. Nesse
sentido, compreender os fatores que contribuíram para o êxito de determinadas
políticas públicas possibilita um alcance melhor do objeto pesquisado e questiona
seus limites.
A Ética trata da dimensão axiológica, que envolve tanto os valores morais da
avaliação quanto os políticos. Afinal, avaliar não é simplesmente julgar, mas é julgar
a partir de determinado lugar social. Por isso, Minayo et al. (2005, p.20) dizem que a
“avaliação por triangulação de métodos” atua diretamente “na orientação das
propostas de intervenção social, no atendimento aos destinatários e nos efeitos
multiplicadores que elas possam apresentar”. Nesse sentido, a “avaliação por
triangulação de métodos” possui um tripé axiológico a ser observado: as propostas,
os destinatários e as consequências dessa ação proposta.
Quanto à Precisão técnica, a “avaliação por triangulação de métodos” permite
o acompanhamento do desenrolar “de uma proposta e subsidia a correção de rumos
e a reorientação de estratégias de ação” (MINAYO, 2005, p.20). Nesse sentido, essa
37
proposta se assemelha bastante à prática de “assessoria e monitoramento”
(assessment and monitoring) das políticas blicas e programas sociais (GURGEL,
2007).
É importante salientar que na Avaliação por Triangulação de Métodos as
abordagens qualitativas fundamentais e servem para aprofundar a história; captar a
dinâmica relacional de cunho hierárquico, entre pares ou com a população;
compreender as representações e os símbolos e dar atenção, também, aos sinais
evasivos que não podem ser entendidos por meios formais (MINAYO, 2006, p.369).
Esse enfoque qualitativo apresentou-se como abordagem adequada para
contemplar os aspectos de caracterização da realidade local a ser estudada.
Conforme Minayo (2006), as metodologias da pesquisa qualitativa são capazes de
incorporar a questão do significado e da intencionalidade dos atos às relações e às
estruturas sociais.
Nesta análise qualitativa serão seguidos os passos propostos por Minayo
(2006): Ordenação dos dados (mapeamento dos dados); Classificação dos dados
(que consiste na leitura exaustiva do material para identificação de temas relevantes
e estabelecimento de categorias temáticas); e Análise final (que é a realização de
articulações entre os dados e as referências teóricas adotadas).
3.2 Procedimentos metodológicos
Os procedimentos metodológicos para análise e avaliação das Políticas
Públicas de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos vinculam três elementos, que no
seu conjunto, ajudam a visualizar a lógica inerente a todo o processo. Utilizando a
38
triangulação de métodos, a análise foi feita cruzando as informações obtidas através
dos informantes a seguir:
1 Proposta- Arcabouço Legal: Projeto de lei PL- 1991/2007, que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil; A lei nº 12.008, de 01 de junho de 2001 que
dispõe de Política de Resíduos Sólidos no Estado de Pernambuco e o Plano de
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos do Cabo de Santo Agostinho
(PGIRSU).
2 Destinatários- Pessoas ligadas diretamente à proposta: O encarregado do
aterro Pista Preta; Os ex-catadores do lixão; funcionários da LOCAR- empresa
responsável pelo recolhimento do lixo no município do Cabo; Responsável e
funcionários da Cooperativa Mista de Serviços do Cabo (cooperativa dos catadores);
Catadores “autônomos” (não cooperativados); Populares e transeuntes no centro e
nas áreas periféricas do Cabo.
3 Consequências- Efeitos da proposta sobre os destinatários: Visita ao aterro
Pista Preta e circulação pelo centro e periferia do município do Cabo.
Os procedimentos metodológicos foram divididos em quatro fases e em cada
uma delas os dados foram processados analiticamente de acordo com as
informações captadas através da Proposta, Destinatários e Consequências que
na metodologia de triangulação corresponde a Estrutura, Processo e Resultados
(MINAYO, 2006). As quatro fases dos procedimentos metodológicos foram:
39
PRIMEIRA FASE- (ANÁLISE DO ARCABOUÇO LEGAL) caracteriza-se pelo
conjunto de atividades de análise documental da legislação de resíduos sólidos no
âmbito das esferas Federal, Estadual e Municipal. Nessa etapa são identificados os
marcos legais da legislação de resíduos sólidos das três esferas de governo, bem
como, seus objetivos e instrumentos operacionais. Essa fase se encerra com a
avaliação da funcionalidade das leis e de suas desconformidades na gestão dos
resíduos sólidos.
SEGUNDA FASE- (ANÁLISE DAS ENTREVISTAS) caracteriza-se pelo
processo de análise e verificação das informações obtidas através de entrevistas
abertas e não-estruturadas realizadas com as pessoas diretamente ligadas às
propostas elencadas no arcabouço legal.
Nas entrevistas abertas “o informante discorre livremente sobre o tema
proposto” (MINAYO, 2006, p.108). O principal objetivo dessa fase é analisar os
diversos pontos de vista dos atores envolvidos nas políticas de resíduos sólidos,
utilizando a entrevista aberta não-estruturada, descrita por Minayo (2006) como
importante para ser utilizada na “descrição de caso, compreensão das
especificidades e comparabilidade”.
Na entrevista aberta não-estruturada a ordem dos assuntos abordados não
obedece a uma sequencia rígida e, sim, é determinada frequentemente pelas
próprias preocupações e ênfase que os entrevistados dão ao assunto em pauta
(MINAYO, 2006).
40
TERCEIRA FASE (ANÁLISE DO DIAGNÓSTICO DO ATERRO E DO
MUNICÍPIO DO CABO) caracteriza-se pela análise do material resultante do
diagnóstico socioambiental do aterro da Pista Preta no Cabo de Santo Agostinho e
das visitas e circulação feitas pelo centro e periferia do município do Cabo. Nas
visitas in loco vasto material foi conseguido através de observação empírica, registro
fotográfico do aterro e da área de seu entorno. O principal objetivo dessa fase foi
verificar as consequências das políticas públicas de resíduos sólidos no Cabo de
Santo Agostinho.
QUARTA FASE- (ANÁLISE DO CONTEXTO E AVALIAÇÃO DA POLÍTICA
DE RESÍDUOS SÓLIDOS) caracteriza-se pela descrição do contexto político, social,
econômico e ambiental do Cabo de Santo Agostinho em comparação com o
arcabouço legal analisado. O principal objetivo dessa fase é confrontar o que diz a
lei, a visão dos atores envolvidos e a problemática encontrada nas visitas in loco.
Essa etapa se encerra com a análise do conteúdo que consiste em um
conjunto de técnicas de análise interpretativa que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das políticas em
estudo (BARDIN apud MINAYO, 2006)
41
CAPÍTULO 4: ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS
4.1 As políticas públicas de gestão de resíduos sólidos no Brasil
A inexistência de uma lei federal que regulamente a gestão dos resíduos
sólidos no Brasil vem dificultando o ordenamento do trabalho de gerenciamento,
controle e monitoramento dos resíduos sólidos. Barros et al, (2008) relatam que em
março de 1979 o Ministério do Interior, publica a Portaria Minter n . 53, visando
orientar o controle de resíduos sólidos no país, de natureza industrial, domiciliares,
de serviço de saúde e demais resíduos gerados pelas diversas atividades humanas;
e em agosto de 1981 é instituída a Política Nacional do Meio Ambiente, com
estabelecimento de instrumentos capazes de promover a gestão ambiental no Brasil
e combater toda e qualquer forma de poluição e degradação sobre o meio ambiente.
Barros et al, (2008) afirmam que mesmo o Brasil não possuindo uma lei que
disciplina de forma abrangente a gestão de resíduos sólidos no território nacional, a
questão vem sendo tratada principalmente pela atuação dos órgãos regulatórios, por
meios de resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) e da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), no caso de resíduos do serviço
de saúde (BRASIL, 2006 apud BARROS et al, 2008). O Quadro 3 demonstra os
principais dispositivos legais e normativos que disciplinam de forma específica a
questão dos resíduos sólidos em nível nacional.
42
Quadro 3: Principais dispositivos legais e normativos para a gestão de resíduos sólidos no
Brasil. Fonte: Barros et al (2008).
Dispositivo
legal/normativo
Matéria que aborda
NBR 10.004:
Classificação de
Resíduos Sólidos
Classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à
saúde pública, para que estes resíduos possam ter manuseio e destinação adequados.
NBR 12.235:
Armazenamento de
Resíduos Sólidos
Perigosos
Fixa condições exigíveis para armazenamento de resíduos sólidos perigosos, de forma
a proteger a saúde pública e o meio ambiente.
NBR 14.725: Ficha
de Informações de
Segurança de
Produtos Químicos
(FISPQ).
Fornece informações sobre vários aspectos desses produtos químicos (substâncias ou
preparos) quanto à proteção, à segurança, à saúde e ao meio ambiente. A FISPQ
fornece, para esses aspectos, conhecimentos básicos sobre esses produtos químicos,
recomendações sobre medidas de proteção e ações em situações de emergência. Em
alguns países, essa ficha é chamada de “Material Safety Data Sheet – MSDS”.
Decreto Nº. 4.074 de
4 de janeiro de 2002.
Regulamenta a Lei n
o
7.802, de 11 de julho de 1989, que dispõe sobre a
pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o
armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a
importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes
e afins, e dá outras providências.
Resolução CONAMA
005 de 05 de agosto
de 1993.
Estabelece definições, classificação e procedimentos mínimos para o gerenciamento de
resíduos sólidos oriundos de serviços de saúde, portos e aeroportos, terminais
ferroviários e rodoviários.
Resolução CONAMA
283 de 12 de julho de
2001.
Dispõe sobre o tratamento e a destinação final dos resíduos dos serviços de saúde.
Resolução - RDC nº.
33, de 25 de fevereiro
de 2003.
Aprova o Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de serviços de
saúde.
Resolução CONAMA
334 de 3 de abril de
2003.
Dispõe sobre os procedimentos de licenciamento ambiental de estabelecimentos
destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos.
Resolução CONAMA
314 de 29 de outubro
de 2002.
Dispõe sobre o registro de produtos destinados à remediação e dá outras providências.
Resolução CONAMA
316 de 29 de outubro
de 2002.
Dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de
tratamento térmico de resíduos.
Resolução CONAMA
06 de 15 de junho de
1988.
Disciplina que no processo de licenciamento ambiental de atividades industriais, os
resíduos gerados ou existentes deverão ser objeto de controle específico.
Resolução CONAMA
264 de 26 de agosto
de 1999.
Aplica-se ao licenciamento de fornos rotativos de produção de clínquer para atividades
de co-processamento de resíduos.
Resolução CONAMA
20 de 1986.
Que trata da classificação das águas e estabelece limites para emissão de efluentes.
Resolução CONAMA
263 de 12 de
novembro de 1999.
"Pilhas e Baterias" - Inclui o inciso lV no Art. 6º da resolução CONAMA n.º 257 de 30 de
junho de 1999.
Norma da ABNT -
NBR 8.418/NBR 842.
Apresentação de projetos de aterros de resíduos industriais perigosos - procedimento.
Norma da ABNT -
NBR 10.157.
Aterros de resíduos perigosos - Critérios para projeto, construção e operação -
procedimento.
Norma da ABNT -
NBR 13.896.
Aterros de resíduos não perigosos - Critérios para projeto, implantação e operação -
procedimento.
Norma da ABNT -
NBR 13.895.
Construção de poços de monitoramento e amostragem - procedimento.
43
Dispositivo
legal/normativo
Matéria que aborda
Norma da ABNT -
NBR 11.174/NBR
1.264.
Armazenamento de resíduos classes II - não inertes e III - inertes.
Norma da ABNT - NB
1.183.
Armazenamento de resíduos sólidos perigosos.
Norma da ABNT -
NBR 13.221.
Transporte de resíduos.
Norma da ABNT -
NBR 11.175/NB
1.265.
Incineração de resíduos sólidos perigosos padrões de desempenho - procedimento.
Norma da ABNT -
NBR 13.894.
Tratamento no solo (landfarming) procedimento.
Norma da ABNT -
NBR 10.005.
Lixiviação de Resíduos Procedimento.
Norma da ABNT -
NBR 10.006.
Solubilização de Resíduos - Procedimento.
Norma da ABNT -
NBR 10.007.
Amostragem de Resíduos - Procedimento.
Norma da ABNT -
NBR 10.703.
Degradação do Solo Terminologia.
Norma da ABNT -
NBR 13.221.
Transporte de resíduos.
Norma da ABNT -
NBR 14.283.
Resíduos em solos - Determinação da biodegradação pelo método respirométrico -
Procedimento.
A discussão sobre a adoção pelo País de uma Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) teve início em 1991, com o surgimento no Senado de projeto
dispondo sobre o acondicionamento, transporte e destinação de resíduos da área de
saúde.
Em 1998, a Câmara achou melhor constituir uma comissão especial para
avaliar o projeto do Senado. No dia 6 de setembro de 2007, o governo federal
encaminhou ao Congresso Nacional uma proposta de PNRS, com o objetivo de
integrar as políticas de gestão de resíduos sólidos no Brasil.
Dentre os principais pontos desse texto da Política Nacional de Resíduos
Sólidos estão a adoção dos conceitos de logística reversa, de responsabilidade
compartilhada, do princípio do poluidor pagador e da utilização de mecanismos de
44
Estado para a participação dos municípios no processo. Destaque-se que é a
primeira iniciativa neste sentido por parte do executivo federal.
A criação do Projeto de lei PL-1991/2007, que institui a política nacional de
resíduos sólidos no Brasil e dispõe sobre diretrizes gerais aplicáveis aos resíduos
sólidos foi apensado ao PL-203 de 1991 que dispõe sobre o acondicionamento, a
coleta, o tratamento, o transporte e a destinação final dos resíduos sólidos de saúde
onde ambas as proposições tramitam em conjunto no congresso nacional
aguardando aprovação e podendo ser acompanhado todo seu andamento
4
.
O PL-1991/2007 dispõe sobre os princípios, objetivos, instrumentos,
fundamentos, planos e programas, estabelecendo diretrizes para a gestão, o
gerenciamento e o manejo de resíduos sólidos no país; regulamentando as
responsabilidades e os parâmetros técnicos a ela inerentes, em consonância com as
Políticas Nacionais de Meio Ambiente, de Educação Ambiental, de Recursos
Hídricos, de Saneamento Básico, de Saúde, a Urbana e as que promovam a
Inclusão Social.
A proposta tem como objetivo proteger a saúde pública e a qualidade do meio
ambiente; preservar e assegurar a utilização sustentável dos recursos naturais;
reduzir a geração de resíduos sólidos e incentivar o consumo sustentável; estimular
as soluções intermunicipais e regionais para a gestão integrada de resíduos sólidos;
incentivar, fomentar e valorar a redução, a reutilização e o tratamento dos resíduos
sólidos; a valorização da dignidade humana e erradicação do trabalho infanto-juvenil
nas áreas de disposição inadequada de resíduos sólidos e de disposição final de
rejeitos. O PL-1991/2007 propõe evitar a degradação ambiental e busca
manutenção do meio ambiente saudável.
4
http://www.camara.gov.br
45
Participaram da construção desse texto um grupo interministerial formado
pelos Ministérios do Meio Ambiente, das Cidades, da Saúde, do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, do Planejamento, Orçamento e Gestão, do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Fazenda e Casa Civil. O Projeto de
Lei 1991/07 tem apenas 33 artigos, portanto é bastante sintético, e estabelece
diretrizes, instrumentos, responsabilidades e proibições para o gerenciamento dos
resíduos sólidos no país.
Com o objetivo de salientar a importância e urgência da aprovação da PL-
1991/2007 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil e dispõe
sobre diretrizes gerais aplicáveis aos resíduos sólidos, foi preciso recorrer a outras
leis que contribuem para minimizar os impactos ambientais provocados pelo lixo e
corroboram a relevância de se adotar medidas severas com relação à gestão dos
resíduos sólidos.
Para reforçar o caráter emergencial desse projeto foram anexados artigos das
seguintes leis: 11.445 (Saneamento Ambiental), 6.938 (Política Nacional do
Meio Ambiente), 9.605 (Sanções Penais e Administrativas Derivadas de
Condutas e Atividades Lesivas ao Meio Ambiente), Nº 11.107 (Contratação de
Consórcios Públicos), 11.079 (Institui normas gerais para licitação e contratação
de parcerias público-privada) (Fonte: www.camara.gov.br)
O Projeto de lei 1991/2007 que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos no Brasil e dispõe sobre diretrizes gerais aplicáveis aos resíduos sólidos em
nosso país está tramitando pelo congresso nacional para ser aprovado. Esse projeto
de lei trás em seu Art. as diretrizes norteadoras da política nacional de resíduos
sólidos, a saber:
I - proteção da saúde pública e da qualidade do meio ambiente;
46
II - não-geração, redução, reutilização e tratamento de resíduos sólidos, bem
como destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos;
III - desenvolvimento de processos que busquem a alteração dos padrões de
produção e consumo sustentável de produtos e serviços;
IV - educação ambiental;
V - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias
ambientalmente saudáveis como forma de minimizar impactos ambientais;
VI - incentivo ao uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais
recicláveis e reciclados;
VII - gestão integrada de resíduos sólidos;
VIII - articulação entre as diferentes esferas do Poder Público, visando a
cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;
IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;
X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação
de serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, com adoção
de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos
dos serviços prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e
financeira;
XI - preferência, nas aquisições governamentais, de produtos recicláveis e
reciclados;
XII - transparência e participação social;
XIII - adoção de práticas e mecanismos que respeitem as diversidades locais
e regionais; e
XIV - integração dos catadores de materiais recicláveis nas ações que
envolvam o fluxo de resíduos sólidos.
47
Apesar de sucinto, por possuir apenas 33 artigos, o projeto de lei trás alguns
avanços com relação à legislação ambiental por trazer as diretrizes e instrumentos
necessários à elaboração das políticas públicas de resíduos sólidos direcionadas
aos estados e municípios, condicionando a captação de recursos junto à união, a
uma gestão integrada de resíduos sólidos.
Em seu Art. aborda algumas definições como consumo sustentável, sendo
o consumo de bens e serviços, de forma a atender às necessidades das atuais
gerações e permitir melhor qualidade de vida, sem comprometer o atendimento das
necessidades e aspirações das gerações seguintes, e de controle social como o
conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações,
representações técnicas e participações nos processos de formulação de políticas,
de planejamento e de avaliação relacionados aos serviços públicos de manejo de
resíduos sólidos. No entanto, a proposta falha em não ressaltar a importância da
redução do consumo e definir de que maneira será a participação da população nos
processos de elaboração dessas políticas.
O conceito de logística reversa é citado como instrumento de
desenvolvimento econômico e social, caracterizada por um conjunto de ações,
procedimentos e meios, destinados a facilitar a coleta e a restituição dos resíduos
sólidos aos seus geradores para que sejam tratados ou reaproveitados em novos
produtos, na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos,
visando a não geração de rejeitos.
No caso da logística reversa, o texto consolida várias normas existentes,
como as do setor de agrotóxicos, que é responsabilizado pelo recolhimento das
embalagens após o uso pelo agricultor, de pilhas e baterias, de pneus e de óleos
lubrificantes. A esses setores foram acrescidos os de lâmpadas fluorescentes e de
48
eletroletrônicos, mas não define claramente de quem é a responsabilidade e
obrigação pela coleta e destinação dos resíduos sólidos, deixando margem para que
as empresas repassem suas responsabilidades para o consumidor, transferindo
suas obrigações e reduzindo suas despesas, como vem ocorrendo nesse sistema
capitalista.
Os setores que não estão obrigados a adotar a logística reversa estão
enquadrados no conceito de responsabilidade compartilhada. Por ele, as empresas
terão de elaborar um plano de gerenciamento dos seus resíduos (tudo aquilo que
resultada dos processos de fabricação), que deve ser apresentado à instituição
pública responsável pelo licenciamento ambiental. Entre os setores que estão
enquadrados no conceito de responsabilidade compartilhada estão os setores de
embalagens de plástico, metálicas, de vidros, entre outros.
A burocracia, entre outros fatores, por parte da política brasileira provoca
entraves na tramitação do PL-1991/2007 devido à necessidade de um quórum
mínimo para aprovação das leis e as várias obstruções ocorridas, ocasionadas pelo
jogo de interesse partidário e das classes empresariais. As diversas reuniões para
debate, elaboração, apreciação e apresentação do PL-1991/2007 por parte da
comissão ao relator e as mais diversas audiências são outros aspectos de entrave.
Outro ponto conflitante é o fato do arcabouço legal federal da área de
resíduos sólidos não se encontrar consolidado em um único documento, mas
distribuídos em leis, decretos, portarias, resoluções do CONAMA e da ANVISA,
dificultando a aplicação das normas legais (Fonte: www.camara.gov.br).
49
4.2 A gestão de resíduos sólidos no Estado de Pernambuco
O Estado de Pernambuco avançou com relação à legislação promulgando a
lei 12.008, de 01 de junho de 2001, que dispõe da política estadual de resíduos
sólidos e vem trazendo em seu Artigo , que trata dos princípios e pressupostos, a
busca da garantia de qualidade de vida das populações atuais sem comprometer a
qualidade de vida das gerações futuras; a participação dos segmentos organizados
da sociedade; a racionalidade no processo de gerenciamento, otimizando as ações
e reduzindo os custos; a minimização de geração dos resíduos, por meio de
incentivos às práticas ambientalmente adequadas de reutilização, reciclagem e
recuperação; a responsabilização por danos ambientais causados pelos agentes
econômicos e sociais; a garantia de acesso da população à educação ambiental; a
responsabilidade pós-consumo do produtor pelos produtos e serviços ofertados; a
orientação dos atuais padrões de produção e consumo, reduzindo o desperdício, o
consumo perdulário, de forma a atender as necessidades básicas da população; o
estabelecimento de padrões sustentáveis de produção e consumo que reduzam os
problemas ambientais e as desigualdades sociais; a promoção de um modelo de
gestão de resíduos sólidos que incentive a cooperação intermunicipal, estimulando a
busca de soluções consorciadas; a integração da Política Estadual de Resíduos
Sólidos às políticas de erradicação do trabalho infantil; a integração da Política
Estadual de Resíduos Sólidos às políticas sociais dos governos federal, estadual e
municipais; a erradicação dos lixões; e a promoção de um modelo de gestão de
resíduos sólidos com uma visão sistêmica, que leve em consideração as variáveis
ambientais, sociais, culturais, econômicas e tecnológicas.
50
Além de possuir uma política de resíduos sólidos, o Estado de Pernambuco
apresenta também os componentes e dispositivos normativos relativos ao setor,
como mostram os quadros 4 e 5.
Quadro 4: Componentes da Política de Resíduos Sólidos do Estado de Pernambuco. Fonte:
PERNAMBUCO/SECTMA, 2006 apud BARROS, 2008.
Componentes
Objetivos
Fortalecimento da Gestão
Institucional
O gerenciamento integrado dos resíduos sólidos deverá garantir
operações eficientes e eficazes mediante ações conjuntas entre
Estado, municípios e iniciativa privada, com a participação de
organismos da sociedade civil. O modelo institucional de gestão de
resíduos sólidos deverá ser desenvolvido considerando as
possibilidades municipais.
Capacitação e Sistema de
Informação
Disseminar informações quanto às ações públicas e privadas
relacionadas com a gestão integrada de resíduos sólidos, através de
boletins informativos e via Internet de forma a garantir o acesso das
entidades públicas e privadas, especialistas e o público em geral. Os
municípios e os órgãos ou entidades estaduais deverão, na esfera de
suas competências e nas áreas de sua jurisdição, encaminhar ao
Sistema, os dados e informações produzidas sobre seus resíduos
sólidos.
Educação Ambiental
O poder público estadual, em parceria com os municípios e entidades
não-governamentais, incentivará a educação ambiental nos
programas e cursos da rede oficial e particular de ensino, em todos os
graus, com ênfase no tema de resíduos sólidos. Deve-se, também,
promover essa parceria por meio da educação informal.
Inclusão Sócio-Econômica
do Catador Cidadão
Retirar crianças e adultos das atividades de catação de lixo,
capacitando-os como agente de limpeza e em atividades de
cooperativa de catadores, a partir de uma abordagem ao mesmo
tempo interdisciplinar e participativa.
Fomento a Pesquisas
Tecnológicas
Estimular e desenvolver pesquisas científicas fundamentais e
aplicadas para identificar e estudar problemas socioambientais e
desenvolver produtos, processos, modelos e sistemas de interesse
ambiental, econômico e social.
Instrumentos Econômicos e
Fiscais
Centrar a auto-sustentabilidade do modelo institucional de gestão de
resíduos sólidos deverá na utilização de instrumentos e incentivos
econômicos adequados, cuja implementação seja factível a curto e
médio prazos.
51
Quadro 5: Outros dispositivos legais e normativos relacionados à gestão de resíduos sólidos em
Pernambuco. Fonte: CPRH, 2007 apud BARROS et al, 2008.
Dispositivo
legal/normativo
Matéria que aborda
Lei nº. 13.047, de
26 de junho de
2006.
Dispõe sobre a obrigatoriedade da implantação da coleta seletiva de lixo nos
condomínios residenciais e comerciais, nos estabelecimentos comerciais e
industriais e órgãos públicos federais, estaduais e municipais no âmbito do
Estado de Pernambuco, e dá outras providências.
Lei nº. 12.753 de
21 de janeiro de
2005
Dispõe sobre o comércio, o transporte, o armazenamento, o uso e aplicação,
o destino final dos resíduos e embalagens vazias, o controle, a inspeção e a
fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, bem como o
monitoramento de seus resíduos em produtos vegetais, e dá outras
providências.
Lei nº. 12.114, de
03 de dezembro
de 2001.
Dispõe sobre a recompra, reutilização, reciclagem e descarte de garrafas e
embalagens plásticas no âmbito do estado de Pernambuco e dá outras
providências.
Lei nº. 12.113, de
03 de dezembro
de 2001.
Torna obrigatória a utilização de cestos de lixo, por parte de vendedores de
produtos comestíveis e de bebidas, nas praias dos municípios litorâneos do
estado de Pernambuco.
Decreto nº. 23.941
de 11 de janeiro
de 2002.
Regulamenta a Lei nº. 12.008, de 1º de junho de 2001, que dispõe sobre a
Política Estadual de Resíduos Sólidos, e dá outras providências.
Instrução
normativa CPRH
nº. 004/2006.
Disciplina o art. 20 da lei nº. 12.008, de 01 de junho de 2001, que dispõe
sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos, criando critérios para a
apresentação de plano de gerenciamento de resíduos sólidos industriais
(PGRSI), e aprova o termo de referência para apresentação do PGRSI.
Instrução
normativa nº.
003/2006.
Disciplina o art. 4º, § 2º, do decreto estadual nº. 23.941, de 11/01/2002, que
regulamenta a Política Estadual de Resíduos Sólidos, prevendo o envio do
relatório anual de resíduos sólidos gerados.
Através do decreto 23.941, de 11 de janeiro de 2002 em seu capítulo IV,
Artigo foi criada a Unidade Gestora de Resíduos Sólidos (UGRS), que constitui o
espaço de interlocução técnica e política referente aos resíduos sólidos do Estado
de Pernambuco.
À Unidade Gestora de Resíduos Sólidos compete o desempenho das
seguintes funções e atribuições, dentre outras que vierem a ser definidas em
regulamento ou em regimento interno: coordenar, no âmbito estadual, as atividades
de implementação da Política Estadual de Resíduos Sólidos; coordenar o Sistema
Estadual de Informações sobre Resíduos Sólidos RESOLPE; e ainda propor
52
alternativas estratégicas para o modelo de gestão sob o aspecto institucional; propor
prioridades para alocação de recursos orçamentários destinados à implementação
da Política Estadual de Resíduos Sólidos; buscar intercâmbio com instituições
públicas e privadas, nacionais e internacionais, que atuam na área de resíduos
sólidos; propor medidas para criação ou aperfeiçoamento da estrutura municipal de
resíduos sólidos; fortalecer a interação entre os Municípios na área de resíduos
sólidos; promover atividades de comunicação, educação e divulgação na área de
resíduos sólidos; dar anuência na formação de consórcios ou associações entre
Municípios que compartilharão a solução para a destinação final de seus resíduos;
proceder aos estudos técnicos necessários e preparação das propostas
orçamentárias de custeio e financiamento das atividades da Unidade Gestora de
Resíduos Sólidos, para inclusão nos projetos das leis do Plano Plurianual, das
Diretrizes Orçamentárias e do Orçamento Anual do Estado, e, quando viável ou
cabível, da União.
A UGRS, da qual a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente
(Sectma) faz parte e que também é composta pela Agência Estadual de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH), Secretaria de Planejamento e Gestão
(Seplag), Secretaria Estadual de Saúde (SES), Secretaria das Cidades (Secid),
Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e Agência Condepe/ Fidem, além de uma
equipe técnica contratada, está elaborando um documento que faz uma revisão da
Política Estadual de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.008/2001 e Decreto
23.941/2002), dos critérios do ICMS Socioambiental para resíduos sólidos e do
Sistema Estadual de Informações sobre Resíduos Sólidos - RESOLPE.
O referido documento traz um modelo de gestão compartilhada para
operacionalizar unidades de tratamento e de destinação final dos resíduos nos
53
municípios pernambucanos. Esse documento final deve passar ainda pela última
revisão da UGRS e ser entregue à Sectma para depois ser encaminhado à
Assembléia Legislativa de Pernambuco (Alepe) para aprovação.
Mesmo após a promulgação da lei 12.008, os problemas concernentes aos
resíduos sólidos não foram resolvidos no estado de Pernambuco, sobretudo na
Região Metropolitana do Recife (RMR), onde as propostas e possíveis soluções
relativas à gestão dos resíduos sólidos não saíram do papel. O gerenciamento das
144 mil toneladas produzidas por mês na região metropolitana do Recife esbarra na
burocracia e na falta de vontade política em arrecadar os recursos e gerenciar as
ações na área.
Mais recentemente foi criado um consórcio metropolitano para gerir os
milhares de toneladas de lixo que são geradas pelos 14 municípios da RMR. Um
estudo intitulado Plano Metropolitano de Gerenciamento Integrado de Resíduos
Sólidos, que vem sendo realizado pela Secretaria das Cidades, propõe a construção
de três aterros sanitários nas zonas Norte, Sul e Oeste da RMR que deveriam ser
geridos com a participação de todos os envolvidos. O aterro da Zona Sul seria
construído em Jaboatão, o da Zona Oeste poderá ficar no município de São
Lourenço da Mata ou Camaragibe e o da zona norte entre Abreu e Lima e Paulista.
O decreto 23.941 em seu Art. 20 relata que os planos de gerenciamento de
resíduos sólidos urbanos a serem elaborados pelos Municípios deverão,
preferencialmente, incluir as estratégias de reciclagem, redução e reutilização de
resíduos na origem e os planos e projetos específicos que envolvem reciclagem,
coleta seletiva e outras estratégias de minimização da geração de resíduos na fonte
deverão incluir programas de conscientização ambiental e sanitária, visando a
garantir a proteção da saúde e a qualidade do meio ambiente.
54
Em seu Art. 2º a Política Estadual de Resíduos Sólidos define como objetivos:
Proteger o meio ambiente, garantir seu uso racional e estimular a recuperação de
áreas degradadas; evitar o agravamento dos problemas ambientais gerados pelos
resíduos sólidos; estabelecer políticas governamentais integradas para a gestão dos
resíduos sólidos; e ampliar o nível de informações existentes de forma a integrar ao
cotidiano dos cidadãos a questão de resíduos sólidos e a busca de soluções para a
mesma.
E como diretrizes: o incentivo à parceria entre Estado, Municípios e sociedade
civil para implantação do programa de educação ambiental, com enfoque específico
para a área de resíduos sólidos; fomento à criação e articulação deruns e
conselhos municipais e regionais para garantir a participação da comunidade no
processo de gestão integrada dos resíduos sólidos; investimento em pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias que não agridam o meio ambiente; incentivo a
programas de habitação popular para retirar os moradores de lixões; e incentivo a
programas estaduais e municipais que priorizem o catador como agente de limpeza
e de coleta seletiva.
A Política Estadual de Resíduos Sólidos em seu Art. 11 entende por
educação ambiental, como prevê a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, a melhoria
socioeconômica, política, ambiental e humana na busca da qualidade de vida.
55
4.3 As políticas adotadas e os fatores que entravam a gestão dos resíduos
sólidos no Cabo de Santo Agostinho
Atualmente, a geração dos resíduos sólidos urbanos pode ser considerada
um dos maiores desafios das administrações municipais. Na medida em que o
volume de resíduos nos depósitos cresce de forma ininterrupta, os custos aumentam
e surgem maiores dificuldades de se encontrar áreas e tecnologias ambientalmente
seguras disponíveis para recebê-los e tratá-los. Com isso, faz-se necessária, pela
administração municipal, a gestão eficiente, eficaz e efetiva dos resíduos sólidos
urbanos, que passou a ser condição indispensável para se atingir o desenvolvimento
sustentável (Agenda 21 do Cabo de Santo Agostinho, 2004 apud BARROS et al,
2008).
A prefeitura do município do Cabo de Santo Agostinho iniciou um trabalho
direcionado a mitigação dos problemas relacionados aos resíduos sólidos
elaborando o Plano de Gestão Integrada de Resíduos lidos Urbanos (PGIRSU)
tornando este documento um importante instrumento de política pública, objetivando
estruturar a temática de forma completa, dentro da perspectiva da transversalidade,
interdisciplinaridade e intersetorialidade (BARROS et al, 2008).
A elaboração do PGIRSU cumpre as exigências legais federal da política de
saneamento básico e estadual de resíduos sólidos, e sua construção foi divida em 3
fases a saber:
fase Preparação; Descrição do problema, forma de elaboração do plano
(metodologia), formação de equipe multidisciplinar da administração municipal com a
participação de outros setores interessados e com apoio técnico externo em
56
questões específicas. O produto desta fase foi o documento base, aprovado pelo
Gestor Municipal.
fase Diagnóstico prognóstico e avaliação; levantamento de dados
referentes ao contexto local e à gestão de resíduos, bem como estipular a situação
futura de geração e gestão dos resíduos. Seu principal produto foi um resumo do
diagnóstico e prognóstico, avaliação e propostas.
fase Identificação de medidas; Trata-se da elaboração e moderação de
proposições do plano. O principal produto é o PGIRSU acordado e aprovado pelo
Gestor Municipal.
A elaboração do PGIRSU levou em consideração as principais metas da
administração municipal para o setor em 2008:
Elaborar PGIRSU a fim de atender a legislação vigente e para melhorar a gestão
dos RSU.
Erradicar o lixão atual e utilizar aterro sanitário como forma de destino final.
Instituir programa de coleta seletiva com participação das organizações de
catadores (BARROS et al, 2008).
O PGIRSU propõe uma gestão integrada dos resíduos sólidos urbanos dos
municípios, buscando atender a critérios sanitários, ambientais, sociais e
econômicos. Por sua vez, torna-se um conjunto de ações ordenadas de coleta,
segregação, transporte, tratamento e disposição do lixo, com base em normas que
devem ser seguidas para que os serviços de limpeza pública sejam prestados com
regularidade, eficácia, eficiência e com controle social. Assim, o Plano de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos (PGIRSU) torna-se um importante
instrumento de política pública capaz de abordar a temática de forma mais completa
57
dentro da perspectiva da transversalidade, interdisciplinaridade e intersetorialidade”
(BARROS et al, 2008 p. 7).
Utilizando diretrizes da Agenda 21 municipal e da Política Estadual de
resíduos lidos o PGIRSU adotou estratégias de sustentabilidade prevendo alguns
riscos como mostra o quadro 6 a seguir:
Quadro 6: Estratégias de Sustentabilidade para o PGIRSU do Cabo de
Santo Agostinho. Fonte: Barros (2008, p.8).
Mesmo estando baseado em pressupostos de sustentabilidade, que
preconiza a participação de diversos grupos diretamente envolvidos com a
problemática, como mostra o quadro 7 no intuito de buscar as soluções mais viáveis
e mais próximas da realidade local, o PGIRSU praticamente não contou com a
participação do corpo cnico da prefeitura e do LOCAR (empresa responsável pela
execução dos serviços de limpeza pública do Cabo de Santo Agostinho), que
segundo o próprio PGIRSU coloca em risco a sustentabilidade da sua
implementação.
58
Quadro 7: Envolvimento dos principais atores sociais no PGIRSU do Cabo
de Santo Agostinho. Fonte Barros (2008, p.9).
Para a formulação do PGIRSU, a Secretaria Executiva de Meio Ambiente e
Saneamento (SEMAS) ficou responsável pela coordenação das atividades e dos
demais envolvidos e pela elaboração do próprio Plano, contando com o apoio
técnico e organizacional de organizações internas (da própria administração
municipal) e externas (entidades locais dos setores sociais e produtivos e de
cooperação Técnica Alemã/GTZ), formando um grupo de trabalho para elaboração
técnica do PGIRSU (BARROS et al, 2008). O quadro 8 mostra os principais
envolvidos no PGIRSU e sua respectivas atribuições:
59
Quadro 8: Quadro de atribuições do projeto de elaboração do PGIRSU-Cabo. Fonte: Barros et
al (2008, p.11)
Atores
Atribuições
Principais tarefas
Prefeito
Apoio político e econômico.
Aprovação.
Participar dos principais momentos de
elaboração do PGIRSU.
Promover articulação interna e externa.
Secretária de
Planejamento
Articulação com Prefeito e demais
secretários.
Promover articulação interna.
Secretário Executivo de
Meio Ambiente
Coordenação geral na elaboração do
PGIRSU.
Atuar na ordenação de despesas para
elaboração do PGIRSU.
Promover articulação externa.
Acompanhar todos os momentos de elaboração
do PGIRSU.
Coordenador Técnico do
GT
Coordenação técnica na elaboração do
PGIRSU.
Mobilizar e coordenar GT.
Sistematizar informações e processos.
Redigir documento final do PGIRSU.
Articular a elaboração dom PGIRSU entre os
diferentes envolvidos.
Componentes do GT
Contribuição ativa para elaboração do
PGIRSU.
Elaborar insumos específicos para o PGIRSU.
Articular informações setoriais para elaboração
do PGIRSU.
CPRH
Regulação e fiscalização na elaboração
do PGIRSU.
Fornecer diretrizes para elaboração do PGIRSU.
Organizações da
sociedade civil
Contribuição com informações sobre a
realidade local.
Participar das oficinas de diagnósticos rápido
participativo e audiências públicas.
Consultoria Externa
(GTZ)
Contribuição com assessoria pontual.
Acompanhar e capacitar o GT.
Empresas locais
5
Apoio logístico nos eventos relacionados
à elaboração do PGIRSU
Fornecer espaço físico e infra-estrutura para
realização das oficinas do GT e outros eventos
correlatos.
Empresa Locar
Saneamento Ambiental
Apoio técnico para elaboração do
PGIRSU.
Fornecer técnicos e informações.
O PGIRSU visa organizar a gestão de resíduos sólidos urbanos no município
do Cabo de Santo Agostinho (área de sua abrangência), prevê uma atualização a
cada 4 anos, como previsto na legislação. Quanto à abrangência política, o PGIRSU
definirá a política para o setor no nível municipal, podendo propor leis específicas
(código municipal de limpeza urbana, instituição da coleta seletiva, etc.). A
5
Duas empresas locais firmaram compromisso de apoio à elaboração do PGIRSU com disponibilização de espaço físico,
equipamentos e refeições para realização das oficinas do GT: Corn Products Brasil e M&G Polímeros.
60
elaboração do PGIRSU levou em consideração as principais metas da administração
municipal para o setor: elaborar PGIRSU a fim de atender a legislação vigente e
para melhorar a gestão dos RSU, e obter sua aprovação até primeiro semestre de
2008; erradicar o lixão atual e utilizar aterro sanitário como forma de destino final; e
instituir a coleta seletiva com participação das organizações de catadores a2008
(BARROS et al, 2008).
4.4 Localização, caracterização e histórico do município do Cabo de Santo
Agostinho
Situado nas coordenadas geográficas de Latitude S 17’ 15’’ e Longitude W
Gr. 35º 02’ 00’’ o Cabo de Santo Agostinho é um município litorâneo, com a linha da
costa voltada para leste e limita-se ao norte com Moreno e Jaboatão dos
Guararapes; ao sul com Ipojuca e Escada; e a oeste com Vitória de Santo Antão
(Figura 1).
O município do Cabo de Santo Agostinho possui relevo fortemente ondulado,
e a maior parte do seu território está inserida na bacia hidrográfica do rio Pirapama.
Por apresentar uma riqueza geológica bastante evidente pela diversidade de seus
solos, relevos e de paisagens notáveis oriundas de processos geológicos ocorridos
na Era Mesozóica (p.ex. acidente geográfico Cabo de Santo Agostinho que deu
origem ao nome da cidade), o município registra a ocorrência mineral de argila,
caulim, limonita, e granito/gnaisse.
A vegetação caracteriza-se pela predominância da cana-de-açúcar, mas
também apresenta matas capoeiras, capoeirinhas, coqueirais, manguezais e
fragmentos de Mata Atlântica com destaque a existência de 09 Reservas Ecológicas
61
Estaduais (Lei N 9.989/89): Matas do Zumbi, Duas Lagoas, Camaçari, Gurjaú,
Serra do Cumaru, Contra Açude, Bom Jardim, Serra do Cotovelo e Urucu.
62
Figura 1: Localização do município do Cabo de Santo Agostinho-PE. Fonte:
Prefeitura do Cabo (2002).
Uma temperatura média anual de 24 C num clima característico de tropical
chuvoso com verão seco.
O município está dividido em quatro Distritos: Cabo, Jussaral, Ponte dos
Carvalhos, e Santo Agostinho (praias); e seis povoados: Pirapama, Usina Maria das
Mercês, Usina Bom Jesus, Vila da Liberdade, Utinga de Cima e Compesa-Gurjaú.
Seu território, com 451,0 km² (Plano Diretor, 1986, p.152 e PINHEIRO e
GOMES, 1978, p. 24, In: Prefeitura Municipal do Cabo de Santo Agostinho, 2006);
ou 448,0 km² (IBGE); ou 447,87 km² (Agência CONDEPE/FIDEM, 2005b); ou ainda
63
445,0 km² (Diagnóstico Cabo 2010, In: Prefeitura Municipal do Cabo de Santo
Agostinho, 2006); corresponde a aproximadamente 16,22% do território da RMR,
área bem superior à área média de 197,2 km² dos 14 municípios metropolitanos.
Embora os seus distritos centrais Cabo e Ponte dos Carvalhos, estejam
estruturados por importante malha rodo-ferroviária metropolitana, constituindo a
principal centralidade urbana da microrregião de Suape, (a chamada centralidade da
Nucleação Sul metropolitana), o município mantém traços do seu tradicional perfil
rural, um amplo território explorado pela agro-indústria da cana-de-açúcar, também
referenciado com a Zona da Mata Sul do Estado.
Em linhas gerais, pode-se dividir o município em quatro áreas homogêneas
(CABO DE SANTO AGOSTINHO, 2006 apud BARROS, 2009):
Área central (Distritos: Cabo e Ponte dos Carvalhos) - com característica de
centros urbanos com habitação, comércio, indústria e serviços, abrangendo os
Núcleos e os Eixos da Centralidade Metropolitana, Eixo Cabo/Pontezinha, tendo
como pólo principal o Centro Histórico da Cidade compreendida entre a área de
proteção de mananciais e a área do Complexo Industrial-Portuário de Suape;
Área Costeira de Interesse Ambiental e Turístico (Distrito Santo Agostinho) -
com características de turismo, lazer, áreas reservadas para uso habitacional e
preservação ambiental, abrangendo todo o litoral com suas praias, matas e
estuários, compreendida entre a área do Complexo Industrial-Portuário de Suape e o
Oceano Atlântico;
Área do Complexo Industrial-Portuário de Suape (Distrito Santo Agostinho),
terras desapropriadas pelo Governo do Estado, compreendida entre a área central e
a Área Costeira de Interesse Ambiental e Turístico.
64
Área de Proteção de Mananciais (Distrito Jussaral), localizada a Oeste, com
perímetro definido pela Lei Estadual 9.860/86, com características rurais, com
predominância agro-industrial (usinas de açúcar). É também uma área reservada
para proteção e exploração dos recursos hídricos para abastecimento metropolitano,
assentamentos de reforma agrária e sítios de recreação e de culturas de
subsistência (PREFEITURA DO CABO DE SANTO AGOSTINHO, 2003 apud
BARROS, 2009).
A área central está bastante urbanizada, embora de forma descontínua, como
são os vários cleos (aqui citados de norte para sul): de Pontezinha, Ponte dos
Carvalhos, Distrito Industrial, Núcleo Central (Sede) e Charneca, onde se concentra
a maior parte da população; núcleos que estão situados ao longo dos principais
eixos rodo-ferroviário (BR-101 e PE-60), integrantes da malha viária metropolitana,
área onde foi implantado em 1960 o 1º distrito industrial do Nordeste.
A área costeira, distrito de Santo Agostinho, com história também vinculada à
cultura do açúcar, com as antigas vilas de Nazaré, Suape e Gaibu, (que tiveram
importante função portuária e bélica no peodo holandês, século 17); e os novos
empreendimentos hoteleiros e loteamentos de praia, em Gaibu, Bôto, Itapoama,
Enseada dos Corais e Paiva, um assentamento litorâneo com 24 km de extensão
entre a enseada de Suape no extremo sul e o pontal de Paiva no extremo norte;
tendo parte dessa área como zonas industriais, portuárias, administrativa e cultural,
marginais à PE-60 e ao TDR (Tronco Distribuidor Rodoviário) de Suape e
Massangana, integrada ao Complexo Portuário-Industrial-Ambiental de Suape.
Trata-se de uma região com grande atrativo turístico e de lazer que, em função dos
atributos ambientais e paisagísticos de suas praias, vem sofrendo forte pressão
especulativa.
65
A área oeste, correspondente a mais de 60.0% do território do município,
está, ainda hoje, ocupada por usinas e canaviais, situados em áreas protegidas por
legislação ambiental, de proteção dos mananciais e reservas ecológicas, terras dos
antigos engenhos situadas, sobretudo, no Distrito e núcleo rural de Jussaral, e
outras povoações isoladas como Pirapama e as usinas Bom Jesus, Sibéria e a
antiga usina Maria das Mercês (esta última desativada).
Quanto aos aspectos históricos, a cidade do Cabo de Santo Agostinho tem
suas origens relacionadas a acontecimentos ocorridos desde a época do
descobrimento do Brasil, muito antes da chegada dos portugueses em nossas
terras. evidências históricas de que as terras do Cabo de Santo Agostinho foram
as primeiras terras brasileiras a serem pisadas pelos navegadores estrangeiros
oriundos da Europa, neste caso, o navegador espanhol Vicente Yañes Pinzón, que
desembarcou na região (na enseada da praia de Suape) no dia 26 de janeiro de
1500, tomando posse da terra em nome da Espanha, batizando-a de CABO DE
SANTA MARIA DE LA CONSOLACIÓN.
A posse da terra nestas condições não pode ser oficializada devido ao
Tratado de Tordesilhas assinado por Portugal e Espanha em 1494. Portugal que
tinha logo após “descoberto o Brasil” em Porto Seguro na Bahia, em 21 de abril de
1500 através do Navegador Pedro Álvares Cabral, foi considerado oficialmente
como o descobridor das novas terras.
Em 1501 o Cabo de Santa Maria de La Consolación foi rebatizado por
Américo Vespúcio com o nome de CABO DE SANTO AGOSTINHO, na ocasião em
que o governo de Portugal promovia um estudo de reconhecimento da costa da terra
recém descoberta.
66
A efetiva ocupação dos portugueses se iniciou a partir de 1530. Em 1811 foi
criada a Vila do Cabo, através do Alvará de 27 de julho e pela Provisão Régia de 15
de fevereiro de 1812. Em 1877, através da Lei Provincial N 1.269 de 09 de julho a
vila foi elevada à categoria de cidade. em 1893, através da Lei Orgânica de N
52, se tornou município autônomo.
4.5 Impactos sobre a saúde ambiental no Cabo de Santo Agostinho
A crise ambiental contemporânea vem intensificando as discussões e a
percepção da população acerca do agravamento dos problemas ambientais
provocados pelo processo de produção e consumo das sociedades industriais
modernas e suas inerentes consequências catastróficas relacionadas à saúde
humana e dos ecossistemas em todo o mundo. Portanto, a saúde ambiental se
refere à relação do ambiente com o padrão de saúde da população humana (ou
seja, a saúde humana).
A saúde humana, hoje, é profundamente marcada pela forma como se vive,
no Brasil e no mundo, o processo de Globalização e de Reestruturação Produtiva,
mediado pelas mudanças urbanas, as transformações no processo de trabalho e a
difusão ampliada dos riscos industriais-ambientais.
O modo de vida desenhado por este modelo redefine os padrões de saúde-
doença das populações. É importante salientar que mais de um bilhão de pessoas
vivem em pobreza absoluta, 900 milhões de adultos são analfabetos, 100 milhões de
pessoas não tem casa, 150 milhões de crianças menores de 5 anos são
desnutridas, etc. (United Nations Development Programm / UNDP, 1990).
67
ainda os problemas ambientais gerados pela sociedade urbano-industrial -
como o efeito estufa, a destruição da camada de ozônio, as chuvas ácidas, a
produção de milhares de poluentes da água, do solo e do ar, o acúmulo de lixo
tóxico e a exploração intensiva de recursos naturais não-renováveis - que colocam
sob ameaça a sobrevivência do Planeta (RIGOTTO, 1998).
A incorporação de milhares de novas substâncias químicas, o aumento das
plantas industriais, dos volumes produzidos e transportados e da aplicação de
diversas formas de energia trouxeram, indubitavelmente, a ampliação da grandeza e
do alcance dos impactos sócio ambientais das atividades humanas.
Assim, nas sociedades contemporâneas os padrões de produção e consumo
passaram a definir, cada vez mais profundamente, tanto o estado das águas, do ar,
dos solos, da fauna e flora, quanto às próprias condições da existência humana:
seus espaços de moradia e de trabalho, seus fluxos migratórios, as situações de
saúde e de morte (FRANCO e DRUCK, 1997)
Na década de 70, surgiu no Brasil a medicina social, trazendo uma
preocupação mais efetiva com a melhoria da saúde ambiental abordando problemas
de saúde das populações a partir das dimensões políticas, econômicas e culturais
(MINAYO, 1993).
A inter-relação entre o processo produtivo, o ambiente e a saúde, trás a tona
os diversos problemas ocasionados pelos resíduos sólidos e os sérios danos que
podem causar à biodiversidade que afetam diretamente ao homem. O lixo
acumulado produz um líquido extremamente tóxico, o chorume, que é 10 vezes mais
poluente que o esgoto, possui coloração escura, com cheiro desagradável e pode
atingir as águas subterrâneas (aquíferos, lençol freático) de onde é retirada boa
68
parte da água consumida pela população que, desinformada, negligencia os sérios
danos que podem sofrer ao consumir essa água contaminada.
A proliferação e dispersão de insetos e pequenos animais (bactérias, fungos,
ratos, baratas, moscas, urubus, etc.) propensos hospedeiros e veiculadores de
doenças como febre tifóide, dengue, disenterias, tracoma, peste bubônica,
leptospirose, diversas diarréias são outros tipos de problemas ocasionados pelo mau
gerenciamento do lixo que afeta a saúde ambiental.
O acondicionamento dos resíduos sólidos em locais inapropriados provoca a
contaminação dos solos e das pessoas que entram em contato com esses detritos,
além de provocar o entupimento das galerias, provocando alagamentos e enchentes
que trazem danos incomensuráveis a população.
A maioria dos municípios brasileiros acondiciona seus resíduos sólidos
produzidos em lixões, que retratam uma realidade vivenciada por parcela
significativa da população excluída de seus direitos sociais, que busca nesses locais
os meios de sua sobrevivência, catando material reciclável (papel, plástico, papelão,
vidro, metal, etc.) e diversas vezes sua própria alimentação, disputando com ratos e
urubus, restos de alimentos para o seu consumo, muitas vezes estragados e
contaminados que são jogados nos lixões demonstrando o ápice da degradação
humana e refletindo o descaso do poder público com relação a implementação das
políticas públicas relativas aos resíduos sólidos.
Segundo Tambellinni (1998, p.57)
As situações de risco ambiental que interferem no quadro de
morbidade e mortalidade da população são complexas e exigem, no
plano de intervenção concreta da realidade, um trabalho integrado e
mecanismos de coordenação intergovernamental das diversas
instituições envolvidas nesta questão, tais como o Sistema Único de
Saúde, e os Ministérios, como os da Saúde, Meio Ambiente,
Seguridade Social e Trabalho.
69
De acordo com Barros et al, (2008), no ano 2000, o município do Cabo de
Santo Agostinho apresentava IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,707,
considerado de médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8), segundo
PNUD e colocando o município do Cabo de Santo Agostinho em situação
intermediária entre os municípios do Brasil, ocupando a 2869ª posição, sendo que
52,1% dos municípios estão em situação melhor e 47,9% estão em situação pior ou
igual.
Dos municípios do Estado de Pernambuco, observa-se que entre os dez
primeiros colocados no ranking dos que revelam melhor qualidade de vida, apenas
Petrolina se encontra fora dos limites da RMR. O Cabo de Santo Agostinho
apresenta uma situação boa: ocupa a 16ª posição no Estado, ficando na nona
posição quando a análise focaliza apenas a RMR.
Considerando-se o período entre 1991-2000, o Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal (IDH-M) de Cabo de Santo Agostinho cresceu 12,22%, passando
de 0,630 em 1991 para 0,707 em 2000. A dimensão que mais contribuiu para este
crescimento foi a Educação, com 40,3%, seguida pela Longevidade, com 39,8% e
pela Renda, com 19,9%. (PNUD, 2002; PIRES ADVOGADOS & CONSULTORES,
2005 apud BARROS et al, 2008).
O IDH é um importante instrumento de análise da qualidade de vida da
população do Cabo de Santo Agostinho, pois leva em consideração 3 fatores:
Educação, Longevidade e Renda, nos dando uma visão generalista do
desenvolvimento socioeconômico do município. Embora não se deva esquecer que
esta visão generalista pode “maquiar” problemas relacionados ao desenvolvimento
socioeconômico de grande parte da população, porque o IDH é uma média dos
70
indicadores da população absoluta do município, não diagnosticando as
especificidades.
A Região Metropolitana do Recife apresenta níveis de escolaridade
relativamente baixos e conta com 11,4% de analfabetos (2003), fatores que podem
comprometer a competitividade econômica metropolitana e reforçar a pobreza e as
desigualdades sociais.
Ao se analisar o grau de instrução da população do município do Cabo de
Santo Agostinho, tem-se que, em 2000, 55,19% dos jovens entre 10 e 14 anos (que
deveriam ter concluído as séries iniciais do ensino fundamental) possuem menos
de quatro anos de estudo e que 72,28% dos jovens entre 15 e 17 anos apresenta
menos de oito anos de estudo. A taxa de analfabetismo entre a população adulta
com mais de 25 anos é de 24,31%, e apesar de o Município ainda precisar avançar
bastante neste ponto, observa-se entre 1991 e 2000 um decréscimo desta taxa.
O baixo grau de escolaridade da população do Cabo de Santo Agostinho
afeta fortemente a implementação das políticas de resíduos sólidos, uma vez que é
necessária uma conscientização e uma mudança de atitude por parte das pessoas
envolvidas direta e indiretamente com os problemas ocasionados pela geração e
deposição dos resíduos sólidos.
Mesmo aquelas pessoas que não apareceram como analfabetas nos dados
acima, os analfabetos funcionais, podem encobrir uma dura realidade da educação
Brasileira, que é a baixa qualidade do ensino, sobretudo nas escolas públicas. Um
trabalho de Educação Ambiental, por exemplo, repercute muito mais se o público
alvo tiver as bases educacionais necessárias às mudanças, alcançando resultados
positivos mais rápidos e atingindo os objetivos almejados.
71
O Cabo de Santo Agostinho apresenta sério déficit de saneamento básico
onde se registra um número médio de 4,13 pessoas por domicílio, de um total de 37.
019 domicílios. Dentre estes, constata-se que número significativo de 30.535
residências (69,36%) conta com serviço de abastecimento de água (ligadas à rede
geral), situação contrastante à restrita cobertura do serviço de esgotamento sanitário
que representa apenas 25,16% do total de domicílios.
O crescimento da população urbana não foi acompanhado pela ampliação da
rede de esgotos, fato negativo que traz conseqüências à qualidade de vida da
população e contribui para a prática de ações ambientalmente condenáveis, como a
poluição de vias públicas e dos recursos hídricos.
O quadro 9 mostra a quantidade de domicílios atendidos pelo abastecimento
de água, os que apresentam banheiro ou sanitário, assim como a quantidade de
domicílios com a coleta de lixo regular ou outro destino.
Quadro 9: Domicílios por forma de abastecimento de água, com banheiro ou sanitário e destino
do lixo. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 apud Barros et al (2008)
Total de
Domicílios
Abastecimento d’água
Banheiro ou Sanitário
Destino do lixo
Rede
Geral
Poço ou
Nascente
Outra
Tinham
Não tinham
Coletado
Outro Destino
Total
Rede Geral
37.019
30.535
4.077
2.407
33.603
9.313
3.416
31.971
5.048
O município do Cabo apresenta funcionamento de poucas e precárias redes
de coleta de esgotos, estando estas muitas vezes conectadas as redes pluviais, ou
mesmo desaguando o esgoto sem tratamento diretamente nos rios e canais que
cortam as áreas urbanas. Em síntese, o esgotamento sanitário se caracteriza por
três aspectos principais: a baixa cobertura; a qualidade do funcionamento dos
sistemas existentes e a diversidade de sistemas e de soluções.
72
A cobertura e o funcionamento precário se refletem nos insuficientes níveis de
atendimento e na qualidade evidentemente insatisfatória dos cursos de água que
cortam a mancha urbana. no que concerne aos resíduos sólidos urbanos a RMR,
a qual faz parte o município do Cabo de Santo Agostinho, gera um volume total
estimado em 4 mil toneladas/dia, o que equivale um pouco mais de 1 kg per
capita e dia, dos quais mais de 50% são produzidos em Recife.
O sistema de coleta consegue recolher um pouco mais de 3 mil toneladas, o
que representa um atendimento em torno de 80% do total gerado. Considerando-se
a carência de informações da maioria dos municípios; posto que apenas Recife,
Olinda, Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes pesam regularmente
os resíduos que coletam; a deficiência do sistema pode ser ainda maior.
A operação de limpeza urbana no Cabo de Santo Agostinho é terceirizada
com uma empresa privada e atende a aproximadamente 97% de todas as zonas de
geração de resíduos sólidos, os quais são despejados em sua grande maioria em
vazadouro a céu aberto (lixão). O lixo doméstico é coletado em 31.971 domicílios, o
que representa 86,36% do total de domicílios (PIRES ADVOGADOS &
CONSULTORES, 2005; Agência CONDEPE/FIDEM, 2005b apud BARROS et al,
2008).
No período de elaboração do PGIRSU os resíduos sólidos coletados eram
depositados no Engenho de Santa Amélia, que foi desativado e não sofreu nenhuma
intervenção por parte da prefeitura com o objetivo de minimizar os problemas
provocados pela deposição de lixo no local e no aterro de Pista preta, que vem
passando por algumas mudanças que serão posteriormente abordadas neste
trabalho. Atualmente o lixo está sendo transportado para Jaboatão dos Guararapes
e depositado no aterro da Muribeca.
73
A precariedade do sistema de coleta de esgoto e de resíduos sólidos são
mais dois fatores iminentes de impacto na saúde ambiental no município do Cabo de
Santo Agostinho, uma vez que a população fica desassistida de serviços básicos
essenciais a sua saúde e por outro lado exposta aos diversos riscos provocados
pela precariedade dos serviços prestados e pela omissão do poder público na
implementação de políticas voltadas a solução desses problemas.
As condições de saúde da população do Cabo de Santo Agostinho o
reflexas da omissão do poder público com relação às políticas de resíduos sólidos e
serve de “termômetro” para avaliar os impactos socioambientais provocados pela
falta de interesse de uma atuação mais efetiva por parte do Estado, uma vez que a
distribuição das doenças infecciosas tem um vínculo muito forte com o
desenvolvimento econômico, as condições ambientais, de saúde e as intervenções
humanas no ambiente, criando as condições para a transmissão de várias doenças.
Vários são os fatores ambientais diretos ou indiretos que influenciam na
saúde das pessoas tais como os problemas relativos ao abastecimento de água, à
coleta e disposição dos esgotos sanitários, ao controle da poluição causada por
esses esgotos, à drenagem urbana (águas pluviais) e ao acondicionamento, coleta,
transporte e destino final dos resíduos sólidos. Por esse motivo, algumas doenças
infecciosas são classificadas em categorias relacionadas com o ambiente em que
são transmitidos como a água, excreta (esgotos), o lixo e a habitação (BARROS et
al, 2008).
Essas doenças classificadas como Doenças Relacionadas ao Saneamento
Ambiental Inadequado (DRSAI), como mostra a figura 2, juntamente com os gastos
necessários para minimizar o problema, são a consequência da ineficiência das
74
políticas públicas e seus respectivos impactos à saúde ambiental no município do
Cabo de Santo Agostinho.
Fonte: Sistema de informações hospitalares do SUS
0
100
200
300
400
500
600
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Nº de internações por DRSAI
80.000,00
90.000,00
100.000,00
110.000,00
120.000,00
130.000,00
140.000,00
150.000,00
Gastos com as internações por
DRSAI (R$)
Nº de internações Gastos com as internações
Figura 2: Número e gastos (em reais) de internações relacionadas com saneamento ambiental
inadequado (DRSAI) segundo ano. Cabo de Santo Agostinho-PE, 2000 a 2006.
Fonte: Barros et al (2008).
O quadro 10 evidencia as DRSAI.
Quadro 10: Quadro de Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (COSTA, 2002
apud BARROS et al, 2008).
.
75
As DRSAI que mais acometem o município do Cabo de Santo Agostinho são
de notificação compulsória (Quadro 11) a exceção das diarréias e gastrenterite de
origem infecciosa presumível, no entanto estas são mantidas sob vigilância
municipal.
Quadro 11: Taxa de incidência segundo doenças de notificação compulsória por ano. Cabo de
Santo Agostinho de 2000 a 2006. Fonte: Barros et al (2008)
Doenças 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Esquistosssomose* 2.040 3.024 887 2.100 728 833 705
Dengue 1141 253 4610 336 73 215 418
Leishmaniose tegumentar
203 35 70 21 82 23 91
Hepatite A 11 7 19 9 16 44 14
Leptospirose
43 16 13 14 10 11 9
Fonte: Secretaria Executiva de Saúde do Cabo de Santo Agostinho/Gerência de Vigilância a Saúde/Sinan e *PCE
As diarréias e gastrenterite de origem infecciosa presumível representam à
maioria das internações relacionadas com as DRSAI, acometendo as faixas etárias
mais vulneráveis (figura 3).
Fonte: Sistema de Informões Hospitalares do SUS
0
10
20
30
40
50
60
70
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Percentual
0 a 9 anos
10 a 19 anos
20 a 39 anos
40 a 59 anos
60 anos e +
Figura 3: Percentual de internações por diarréia e gastrenterite de origem infecciosa
presumível segundo faixa etária. Cabo de Santo Agostinho-PE, 2000 a 2007. Fonte:
Barros et al (2008).
O poder aquisitivo da maior parte da população do Cabo é muito baixo, o que
dificulta que os pacientes acometidos pelas DRSAI procurem atendimento em
clínicas e hospitais particulares, para se ter uma idéia a renda per capita mensal,
76
calculada com base nos dados do Censo IBGE 2000, no Cabo de Santo
Agostinho, cresceu 31,96% passando de R$ 100,04, em 1991, para R$ 132,01, em
2000. Ainda segundo o IBGE, 20% do total de residentes no município, o que
corresponde aos responsáveis pelos domicílios particulares permanentes,
declararam auferir rendimento nominal médio mensal de até R$ 371,00, rendimento
que mal atende as necessidades básicas de sobrevivência da população.
A pobreza, a precariedade do sistema de coleta de esgoto e de resíduos
sólidos, juntamente com o baixo grau de escolaridade da população do Cabo de
Santo Agostinho, torna essa expressiva quantidade de pessoas menos favorecidas
residentes no Cabo, as mais afetadas por essas DRSAI.
A pobreza e, principalmente, as desigualdades sociais constituem os
principais problemas da Região Metropolitana do Recife, refletidos na
paisagem dominada pelas favelas e aglomerados populacionais de
baixa qualidade de vida. Tanto pelo conceito de renda como pelas
condições de vida e acesso a equipamentos sociais básicos, a RMR
apresenta um dramático quadro de pobreza (Agência
CONDEPE/FIDEM, 2005a, p.111).
Os avanços e utilização das tecnologias e serviços de saúde na redução
principalmente das doenças imunopreviniveis foram importantes para melhoria da
qualidade de vida da população do município do Cabo de Santo Agostinho, mas
ainda se observa uma média anual de 22,57 óbitos relacionados com DRSAI (Fonte:
Sistema de Informação sobre Mortalidade).
A participação desse grupo de doenças no perfil de mortalidade reduziu,
sendo substituídas pelas doenças crônico-degenerativas e agravos relacionados a
acidentes e violência, no entanto, o impacto destas doenças no perfil de morbidade
persiste. Ressalta-se que existem casos de DRSAI que não são registrados e que
não chegam a demandar internações, podendo com isto, o município do Cabo ter
77
um número muito maior de casos de óbitos relacionados à DRSAI que não são
contabilizados.
Os possíveis cenários para a gestão integrada de resíduos sólidos urbanos no
município dependem da continuidade, monitoramento, aperfeiçoamento e
estruturação da escolha política atual e de seus instrumentos operacionais.
A preparação e a estruturação de quadros locais, incluindo a sociedade civil
organizada e os movimentos populares, que dêem prosseguimento a uma gestão
moderna e sustentável, se apresentam como grandes desafios. A descontinuidade
provocada pelas mudanças no cenário político é quase crônica e motivo crucial da
ausência de ações de planejamento continuado e de monitoramento das políticas
públicas, particularmente, em um município complexo dotado de potencialidades e
ameaças do ponto de vista das questões socioambientais que ocorrem numa
velocidade muitas vezes incompatível com a velocidade das ações públicas de
planejamento, fiscalização e controle.
O quadro 12 nos mostra alguns indicadores socioeconômicos de geração,
coleta e tratamento de resíduos sólidos urbanos.
78
Quadro 12: Situações que indicam “bom” ou “mau” manejo de resíduos sólidos urbanos. Fonte:
Barros et al, 2008.
Indicadores socioambientais de uma boa gestão de RSU
Indicadores socioambientais de uma má gestão de
RSU
Coleta (convencional e seletiva) universalizada.
Desenvolvimento sócio-econômico de catadores.
Fim dos lixões e do trabalho infantil com o lixo.
Cidade mais bonita e agradável.
Economia nos gastos públicos com a limpeza
urbana.
Programas permanentes de Educação Ambiental
mediante parcerias entre poder local, organizações
da sociedade civil e empresas.
Aterros sanitários, usinas de reciclagem, centrais de
compostagem.
Existência de lixões.
Exploração e desorganização social de
catadores.
Trabalho infantil nos lixões e na catação.
Poluição visual, do solo, do ar e da água pela
disposição inadequada de RSU.
Proliferação de insetos e outros animais
transmissores de doenças, etc.
A elaboração de um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos
(PGIRSU) tem sua relevância estabelecida, por trazer na sua efetivação diversas
vantagens para o município do Cabo de Santo Agostinho. São elas:
Integra atividades e atores;
Define a política para o bom manejo dos resíduos;
Favorece a Captação de recursos;
Favorece o Turismo;
Promove a inclusão social;
Promove a integração com outros setores.
Considerando também as vantagens descritas acima, numa abordagem
particular ao contexto do município do Cabo de Santo Agostinho, apresenta outras
justificativas para se elaborar o PGIRSU:
a) As exigências legais:
79
Estadual: Lei 12.008/2001 - Política Estadual de Resíduos Sólidos;
Federal: Projeto de Lei da Política Nacional de Resíduos.
b) Outras exigências:
Agenda 21 Local;
Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público
Estadual em 2005;
Penalidades administrativas impostas pelo IBAMA (multa/lixão).
De acordo com o Projeto de Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a
Gestão Integrada de Resíduos Urbanos (GIRSU) se refere à tomada de decisões
voltada aos resíduos sólidos de forma a considerar as dimensões políticas,
econômicas, ambientais, culturais e sociais, considerando a ampla participação da
sociedade, tendo como premissa o desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2006
apud BARROS 2008).
A União e os estados têm o importante papel de estabelecer as leis e normas
de caráter geral como princípio orientador como mostra a figura 4. Estas servem de
base para leis e normativas municipais que devem tratar os problemas locais,
considerando suas especificidades. Ressalte-se que os poderes públicos têm
responsabilidade não na elaboração de leis que contribuam para a
sustentabilidade ambiental, mas principalmente em fazer com que sejam cumpridas,
propiciando condições para isso.
De acordo com Tambellinni (1998, p.57):
É necessário e urgente que se implemente no plano das ões concretas
um programa e uma agenda de atividades e de realizações baseadas em
80
uma política ambiental que privilegie as questões decorrentes das relações
Produção/Ambiente/Saúde em nosso país. A elaboração desta política e
seus conseqüentes desdobramentos práticos, pela própria natureza e
âmbito dos problemas com que se defrontam, devem levar em conta
também as novas formas e conteúdos das relações internacionais que o
processo de globalização, independentemente de sua aceitação política e
pública, impõe em seu atual estágio de desenvolvimento, tendo em vista a
realidade regional (América Latina) em que está mergulhado.
Figura 4: Componentes da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos. Fonte: Barros et al,
(2008).
A gestão integrada de resíduos deve ter como premissa o desenvolvimento
sustentável. Para atingir tal meta é imprescindível que os planos abordem os
princípios da precaução, da prevenção, da participação, da transparência, da
universalização dos serviços e do poluidor-pagador, bem como, adotar os conceitos
dos 3 Rs como padrões sustentáveis (BRASIL, 2006 apud BARROS 2008).
81
De acordo com Barros et al, (2008) a problemática dos resíduos sólidos no
município do Cabo de Santo Agostinho, que é percebida numa simples circulação
pelo município, envolve aspectos físico-operacionais, político-institucionais,
econômicos, sociais, ambientais e de participação comunitária que podem ser
sensivelmente detectados numa sintética análise de problemas: a) A frágil
organização de catadores; b) deficiência na coleta seletiva; c) o distanciamento e
desarticulação do setor empresarial com setor público na questão dos resíduos; d) a
inadequada destinação final de resíduos; e) o comprometimento da qualidade
socioambiental.
4.6. Contexto e avaliação geral da política de resíduos sólidos do Cabo de
Santo Agostinho (PGIRSU)
Após a realização das análises dos elementos estruturadores da política
pública de resíduos sólidos do Cabo de Santo Agostinho (PGIRSU), torna-se
necessária a elaboração de um quadro geral avaliativo dos aspectos positivos e
negativos relacionados aos impactos socioambientais considerando a proposta
fomentada pela política, a visão do destinatário a quem esta proposta atende e,
sobretudo as consequências da efetividade dessa política na vida da população do
Cabo, conforme metodologia de triangulação de Minayo (2006).
Nas diversas visitas de campo feitas ao município do Cabo de Santo
Agostinho esses problemas ocasionados pelos resíduos sólidos foram
diagnosticados, relatados e fotografados para melhor análise do processo de gestão
82
de resíduos sólidos no município e verificação da sua eficiência e eficácia na
mitigação dos problemas ambientais.
O contato com diversos atores envolvidos no processo para buscar
compreender sua visão sobre os problemas diagnosticados foi importante para
compreensão das conseqüências e apontamento dos resultados.
Em visita à área estudada foram analisados os aspectos socioambientais do
aterro da Pista Preta (figura 5), antigo local de deposição dos resíduos sólidos do
Cabo, bem como do seu entorno, com o objetivo de diagnosticar os problemas
gerados pela má gestão dos resíduos sólidos, e as soluções encontradas pela
prefeitura do Cabo de Santo Agostinho na mitigação dos problemas ambientais do
município.
Figura 5 Entrada do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo
Parahyba Júnior, dez. 2009.
83
O lixão da Pista Preta, antiga área de deposição dos resíduos sólidos do
Cabo de Santo Agostinho, está sendo transformado em aterro e para isto a
prefeitura vem realizando a recuperação da área degradada como indica a placa
afixada no local (figura 6).
Figura 6 Placa da prefeitura sobre a recuperação da área degradada do aterro Pista Preta, no Cabo
de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Segundo informações obtidas com o encarregado do aterro, o local é utilizado
para deposição de lixo pelo menos 25 anos e a recuperação da área do antigo
lixão vem sendo feita em pouco menos de dois anos. Ele informou ainda que a
prefeitura retirou 50 famílias de catadores do lixão, promoveu curso de qualificação
profissional, o que gerou empregos na LOCAR- empresa responsável pela coleta de
84
lixo no Cabo, indenizou os catadores que não foram aproveitados e colocou as
crianças na escola.
Atualmente os resíduos sólidos do Cabo estão sendo depositados em
Muribeca, sob a responsabilidade da CTR- Companhia de Tratamento de Resíduos,
mas foi confirmado que esta área continua recebendo entulhos provenientes da
construção civil e podas de árvores.
Ocorreu uma melhora aparente da área (figura 7) com a compactação do lixo
e sua cobertura com argila, formando as células utilizadas nos aterros para
acondicionamento do material depositado, juntamente com instalação das manilhas
para canalização dos gases gerados pela decomposição da matéria orgânica.
Figura 7 Vista panorâmica do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de
Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
85
Na figura 8 observa-se em primeiro plano a estrada que acesso a área
onde estão sendo jogados os entulhos de construção civil e podas das árvores e ao
fundo resquícios de vegetação da Mata Atlântica. No entorno do antigo lixão, como
em grande parte da região metropolitana do Recife, existe a utilização de área para
cultivo da cana-de-açúcar (figura 9), que trás sérios riscos à saúde da população do
Cabo de Santo Agostinho e como um todo, uma vez que o chorume produzido pelo
lixo naquele local se infiltra facilmente no solo o contaminando, por ser
extremamente xico, inclusive podendo conter metais pesados, sendo absorvido
pela cana-de-açúcar e posteriormente sendo consumido em forma de açúcar pela
população, completa seu ciclo de fito toxidade microbiológica (MELO, 2002).
Figura 8 Estrada do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE e Mata Atlântica ao
fundo. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
86
Figura 9 À direita área próxima ao aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE, utilizada
para plantação de cana-de-açúcar. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Mangueiras que deveriam ser utilizadas para drenar o chorume produzido no
local (figura 10) foram encontradas sem utilização.
87
Figura 10 Mangueira para drenagem de chorume sem utilização, no aterro da Pista Preta, no Cabo
de Santo Agostinho-PE, Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Um trator é utilizado diariamente para espalhar e compactar o material
depositado no local e uma vasta área está sendo novamente preparada para nova
safra de produção da monocultura canavieira (figura 11). Os gases produzidos pela
decomposição da matéria orgânica (butano e metano), que são muito prejudiciais ao
meio ambiente, estão sendo canalizados para evitar explosões devido ao seu
acúmulo no interior das células de compactação (figura 12), mas poderiam estar
sendo utilizados como fonte de energia alternativa para o município, ou na pior das
hipóteses, estarem sendo queimados para minimizar os danos provocados à
atmosfera.
88
Figura 11 Trator utilizado no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE e área de
plantação da cana-de-açúcar. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
89
Figura 12 Manilhas para canalização dos gases do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo
Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Existe uma área um pouco mais baixa que a média topográfica do aterro que
em período de chuva a água se mistura com o chorume aumentando sua dispersão.
A presença de aves também foi constatada no aterro (figura 13), o que possibilita a
transmissão e veiculação de doenças infecciosas.
90
Figura 13 Área com presença de aves no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE.
Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
A grande quantidade de chorume escorrendo do aterro é extremamente
preocupante (figura 14), devido aos problemas destacados anteriormente relativos à
toxidade do chorume e ao seu poder de contaminação do solo e do lençol freático. A
utilização de técnicas de engenharia como a construção de uma lagoa de
decantação, onde o solo é impermeabilizado, evitando a infiltração, e o chorume
drenado para esta lagoa com o objetivo de passar por filtros e receber outros
tratamentos antes de ser devolvido aos mananciais, seria uma forma de minimizar
seus impactos ambientais.
Mesmo sem uma análise laboratorial do chorume, sua cor escura (figura 15) e
seu forte odor revelam seu risco de contaminação e perigo iminente.
91
Figura 14 Chorume escorrendo a céu aberto no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-
PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
92
Figura 15 Coloração escura do chorume do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE.
Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Partes do lixo descobertas (figura 16) funcionam como atrativo a roedores,
baratas, moscas e diversos outros vetores transmissores de doenças.
93
Figura 16 Partes do lixo descobertas no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE.
Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Mesmo não sendo verificada a presença de casas próximas ao aterro, a
proliferação de microorganismos, ocorrida em áreas expostas (figura 17), também
pode ocasionar problemas de saúde para a população, uma vez que a dispero
dos fungos e bactérias é bastante favorecida pelos dos ventos (MELO, 2002).
Ainda que recebendo as medidas necessárias para transformação em aterro,
o Pista Preta apresenta muitas áreas com o lixo jogado a céu aberto (figura 18).
94
Figura 17 Lixo exposto no aterro da Pista Preta, no cabo de Santo Agostinho-PE, facilitando
proliferação de microorganismos. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Figura 18 Lixo jogado a céu aberto no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto:
Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
95
O lixo jogado a céu aberto avança sobre área da vegetação do entorno do
aterro (figura 19).
Figura 19 Faixa de contato do lixo com a vegetação no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo
Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
A contaminação provocada pelo chorume pode facilmente atingir os córregos
e riachos localizados próximos ao aterro (figuras 20 e 21), contaminando suas águas
que podem ser utilizadas por animais que circulam na área, além de ser potencial
poluidor de afluentes ainda maiores de rios que servem de abastecimento a
população, devido à toxidade de o chorume ser muito maior que a do esgoto.
O descumprimento da legislação, por parte da prefeitura, é percebido
facilmente, onde são negligenciadas as medidas preventivas e remediadoras dos
problemas provocados pela contaminação do chorume.
96
A Política Nacional de Recursos Hídricos, lei 9.433, de 8 de julho de 1997
que deveria assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de
água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; a prevenção e a
defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso
inadequado dos recursos naturais; a integração da gestão de recursos hídricos com
a gestão ambiental; a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do
solo; metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da
qualidade dos recursos hídricos disponíveis; assegurar às águas qualidade
compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas; diminuir os custos
de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas permanentes; tem
vários de seus artigos feridos pelo descaso do poder público em relação aos
recursos hídricos.
Figura 20 Córrego próximo do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de
Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
97
Figura 21 Córrego próximo do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE propenso à
contaminação. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Materiais depositados no local passam a incorporar a paisagem, devido ao
longo período que levam para se decompor, como é o caso do pneu (figura 22) que
sua decomposição é por tempo indeterminado, servindo de “residência” para
diversos animais e insetos transmissores de doenças, como o mosquito da dengue.
Em alguns países do mundo, várias alternativas estão sendo estudadas
para minimizar os impactos ambientais provocados pelos pneus, como a sua
utilização em muros de arrimo e contenção de erosão, como fonte de energia nas
usinas termelétricas e sua utilização no recapeamento asfáltico das rodovias. Vale
ainda salientar que a RESOLUÇÃO DO CONAMA N. 258, DE 26.08.99 - determina
que as empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos ficam obrigadas a
98
coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis
existentes no território nacional, na proporção definida nesta Resolução
relativamente às quantidades fabricadas e/ou importadas. No Brasil - ainda o
existe nenhum monitoramento do Governo, nem do setor privado, sobre as formas
de disposição final dos pneus usados, assim como não levantamento dos
depósitos de pneus abandonados em todo o país.
Figura 22 Pneu jogado na área do aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto:
Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Diversos tipos de materiais de longo tempo de duração para decomposição
como vidros (tempo indeterminado), fraldas descartáveis (600 anos) o
encontrados a céu aberto pela área do aterro (figura 23).
.
99
Figura 23 Material com longo tempo de decomposição encontrado no aterro da Pista Preta, no
Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
As manilhas de canalização estão servindo para liberação dos gases do
interior das células para a atmosfera e as mangueiras para escoamento do chorume
não estão sendo utilizadas (figura 24). Os gases gerados pela decomposição
biológica o o metano, dióxido de carbono, sulfeto de hidrogênio e outros
compostos-traços. O metano é um gás de efeito estufa com um potencial de
aquecimento global (Global Warming Potencial - GWP) 21 vezes maior que o dióxido
de carbono, como também responsável por 25% do aquecimento terrestre. O
metano, por ser um dos constituintes do biogás e aparecer em maior quantidade,
sua contribuição para o aumento do efeito estufa traz conseqüências para mudanças
climáticas, além disso, este gás também traz perigo de incêndios e explosões
quando encontrado nos seus limites de explosividade (BRITO FILHO, 2005).
100
Figura 24 Manilha de gás ao lado da mangueira de chorume no aterro da Pista Preta, no Cabo de
Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Caminhões com entulhos de construção civil continuam trazendo resíduos
para o aterro (figura 25). O entulho é um resíduo sólido industrial bastante
heterogêneo, constituído de restos de praticamente todos os materiais de
construção (argamassa, areia, cerâmicas, azulejos, concretos, madeira, metais,
papéis, plásticos, pedras, tijolos, tintas, etc.) e traz sérios danos ambientais devido a
sua quantidade e variedade de componentes químicos contidos nos materiais que o
compõe. Devido aos sérios danos provocados ao meio ambiente em 2002 foi
promulgada lei que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão
dos resíduos da construção civil, disciplinando as ações necessárias de forma a
minimizar os impactos ambientais (RESOLUÇÃO CONAMA 307). Devido ao seu
grande volume, os resíduos sólidos da construção civil necessitam de áreas cada
vez maiores para serem acondicionados (figura 26),
101
Figura 25 Caminhão transportando entulhos da construção civil no aterro da Pista Preta, no Cabo
de Santo Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Figura 26 Caminhão despejando os entulhos no aterro da Pista Preta, no Cabo de Santo Agostinho-
PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
102
Algumas alternativas como a coleta seletiva e a reciclagem são encontradas
no Cabo (figura 27), onde 10 catadores cooperativados e em parceria com a AMBEV
(fábrica de bebidas) e a Prefeitura, trabalham juntos a mais de dez anos tirando seu
sustento do lixo.
Figura 27 Galpão da cooperativa dos catadores do Cabo de Santo Agostinho-PE, com material
separado. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Através das informações obtidas com o responsável pela cooperativa dos
catadores do Cabo, registrada como Cooperativa Mista de Serviços do Cabo de
Santo Agostinho (COOMSERC), a única cooperativa legalizada no município, mas
devido aos custos da legalização (impostos e tributos) o preço que eles pagam por
quilo do material coletado é mais baixo do que o da concorrência, que segundo ele é
clandestina, desestimulando os catadores a fazerem parte de cooperativa. Ainda
103
segundo seu Amaro, os preços mais altos pagos pela concorrência, atraem os
catadores “autônomos”.
A parceria com a prefeitura rendeu aos catadores algumas carroças para
coleta do material reciclável (figura 28) e uma área (galpão) para separação e
acondicionamento do material coletado (figura 29).
Figura 28 Carroças cedidas pela prefeitura do Cabo de Santo Agostinho-PE aos catadores da
cooperativa COOMSERC. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
104
Figura 29 Galpão onde funciona a cooperativa COOMSERC no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto:
Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
O material que chega é separado dentro do galpão (figura 30).
Figura 30 Papelão separado no galpão da cooperativa COOMSERC, no Cabo de Santo Agostinho-
PE, para ser vendido. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
105
Alguns equipamentos de beneficiamento são utilizados para valorizar o
material selecionado na hora da venda (figura 31), bem como uma balança utilizada
na pesagem do material.
Figura 31 Prensa utilizada na cooperativa COOMSERC, no Cabo de Santo Agostinho-PE. Foto:
Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Grande parte do material que chega é trazida por atravessadores que
compram o material reciclável direto aos catadores dos lixões que ainda estão em
atividade, são pesados, separados pelos cooperativados (figura 32) e
posteriormente passam por simples beneficiamentos valorizando um pouco mais o
produto na hora da venda.
106
Figura 32 Separação do material reciclável na cooperativa COOMSERC, no Cabo de Santo
Agostinho-PE. Foto: Ruy de Azevedo Parahyba Júnior, dez. 2009.
Com o crescente desenvolvimento econômico do Cabo de Santo Agostinho,
proporcionado por novos empreendimentos no complexo industrial portuário de
Suape, como a Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, o Pólo de Poliéster,
juntamente com o aumento do consumismo, crescimento populacional e urbano do
município, tem-se a geração de volumes cada vez maiores e mais diversificados de
resíduos sólidos, o que traz uma preocupação de se estabelecer procedimentos de
uma gestão integrada de resíduos sólidos que seja capaz de abranger as dimensões
políticas, econômicas, ambientais, sociais e culturais, considerando a ampla
participação da sociedade, tendo como premissa o desenvolvimento sustentável.
Tratar lixões e operar aterros o procedimentos cada vez mais custosos e
complexos, e o resolvem totalmente a problemática dos resíduos sólidos, pois
essa solução necessita de uma abordagem multidimensional, interdisciplinar e o
107
desenvolvimento de articulação político-institucional com os diversos setores sociais
envolvidos nessa temática; daí a importância da Educação Ambiental e de se trazer
a população para discussão dos problemas gerados pelos resíduos sólidos, do
excesso de lixo nas cidades, da importância da saúde ambiental e sobretudo, de se
fazer uma reflexão crítica dessa sociedade de consumo, da questão cultural que
sustenta o estilo de produção e consumo da sociedade moderna, da mudança
comportamental de uma sociedade voltada para o consumismo, o desperdício, o
supérfluo e o descartável. A sociedade necessita de uma mudança de paradigma, e
que esse seja realmente voltado para coletividade, trazendo uma verdadeira
melhoria da qualidade de vida.
108
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É muito importante ressaltar que as políticas públicas, através do papel
regulador do Estado, são primordiais para melhoria do bem-estar da população e
que certas ações que privilegiam a classe dominante trazem graves problemas
socioambientais.
O sistema capitalista neoliberal interfere diretamente nas ações do Estado
que vive permeado por interesses externos, tornando-se instrumental e reproduzindo
o interesse da classe dominante.
A função do Estado passa ser a de reproduzir a ideologia do capital e seus
administradores internalizam os objetivos capitalistas. É através das políticas
públicas que o Estado pode exercer seu papel regulador na sociedade,
especialmente, em relação aos impactos ambientais provocados pelos resíduos
sólidos, uma problemática inerente do modo de produção capitalista.
O reflexo disso vem sendo destacado no diagnóstico dos problemas
socioambientais do Cabo, evidenciando a desarticulação na Gestão de Resíduos
Sólidos entre as esferas Federal, Estadual e Municipal. Ela é caracterizada pela
ineficiência das políticas públicas e a falta de interesse de uma atuação mais efetiva
por parte do Estado, tendo em vista que a aplicação plena dessas políticas
prejudicaria os interesses da de reprodução e acumulação do capital em muitos
aspectos.
As dificuldades de implementação de uma nova alternativa de gestão de
resíduos sólidos, pautada numa visão sistêmica, giram em torno dos fatores
econômicos que sempre são priorizados, pois a diminuição da geração de resíduos
109
sólidos está diretamente ligada à redução do consumo que, consequentemente,
resultaria em diminuição do lucro e a redução do acúmulo de riquezas das classes
dominantes do sistema capitalista.
Observou-se que as políticas públicas atualmente adotadas, privilegiam mais
os aspectos cnicos em detrimento dos aspectos social e político, não trazendo a
reflexão sobre mudanças culturais que sustentam o estilo de produção e consumo
da sociedade moderna.
A morosidade de implementação de uma nova política está relacionada à falta
de vontade política por parte do Estado. Observou-se também, que as classes que
sofrem diretamente os problemas causados pela gestão dos resíduos sólidos
não vem participando diretamente das decisões e planejamentos direcionados a
implementação das políticas de resíduos sólidos.
Novas reflexões necessitam surgir, novas visões de mundo precisam ser
criadas e essas reflexões serão conseguidas com um trabalho sério de Educação
Ambiental junto à população, nas comunidades, escolas, etc., com apoio das mais
diversas instituições públicas e privadas e, sobretudo, da mídia.
Tal proposta de Educação Ambiental deveria ser voltada para mudança de
paradigmas que traga a compreensão integrada do meio ambiente e saúde, em suas
múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos,
legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.
É impossível pensar numa sociedade sustentável que o considere a
participação das pessoas na resolução dos problemas, pois elas são autores e
receptores dos impactos socioambientais produzidos pelas políticas neoliberais em
curso.
110
Quando se trata da questão socioambiental, o dever de cuidar e proteger não
se restringe ao poder público, mas a toda coletividade, ou seja, toda a sociedade,
como previsto no art. 225 da Constituição Federal.
A elaboração do Plano de Gestão Integrada de Resíduos lidos Urbanos
(PGIRSU) com o objetivo de tornar este documento um importante instrumento de
política pública para o município do Cabo de Santo Agostinho foi bastante relevante
para se caminhar em direção a solução dos problemas ocasionados pelos resíduos
sólidos, entretanto, como a maioria das leis brasileiras, o PGIRSU não saiu do papel.
O PGIRSU possui um diagnóstico dos problemas provocados pelos resíduos
sólidos no Cabo de Santo Agostinho, e, portanto, se caracteriza como um
levantamento da situação em que se encontra o município.
O passo seguinte ao diagnóstico é colocar em prática o plano de ação para
solucionar a problemática dos resíduos sólidos no Cabo, no entanto, não é o que foi
verificado no referencial empírico utilizado nesta dissertação. Segundo o próprio
PGIRSU, dentre as principais metas da administração municipal para o setor estão:
erradicar o lixão atual e utilizar aterro sanitário como forma de destino final e Instituir
programa de coleta seletiva com participação das organizações de catadores.
O lixão foi erradicado, mas continua a provocar sérios problemas ao meio
ambiente que podem causar danos irreparáveis a população do Cabo, necessitando
de urgente intervenção de órgãos ambientais, como ficou evidenciado na visita
técnica.
A área do aterro da Pista Preta (antigo lixão), mesmo estando dois anos
passando por um processo de recuperação, apresenta visíveis descumprimentos de
vários artigos das leis que estabelecem diretrizes para gestão dos resíduos sólidos.
111
O programa de coleta seletiva, ressaltado também como meta da
administração pública, nem ao menos foi iniciado. A comprovação pode ser
observada na situação em que se encontra a Cooperativa Mista de Serviços do
Cabo (COOMSERC), apoiada pela prefeitura, mas que sofre por falta de material
reciclável para ser vendido.
No entanto, do ponto de vista legal, se encontram avanços que incluem a
participação da sociedade na resolução da problemática dos resíduos sólidos,
mesmo que esta participação não esteja bem definida. No caso específico do Cabo
de Santo Agostinho a qualificação dos catadores do antigo lixão, seu aproveitamento
na empresa responsável pela coleta de lixo na cidade (LOCAR), bem como a
matrícula dos filhos desses catadores nas escolas da prefeitura é uma
demonstração de como uma política pública pode favorecer a população, mesmo
sendo um paliativo ao não considerar a realidade como um todo, ou seja, os
impactos que a gestão dos resíduos sólidos vem provocando na saúde
ambiental do município.
Assim como inúmeras cidades brasileiras, o Cabo de Santo Agostinho não
foge à regra: é composto por diversos bairros periféricos sem infra-estrutura de
serviços públicos coletivos, com destino irregular de resíduos e áreas
ambientalmente degradadas.
A disponibilidade de um aterro sanitário licenciado pelos órgãos ambientais,
uma política pública local, aplicada ao manejo dos resíduos domésticos e
hospitalares é o mínimo que o governo local pode oferecer a população: condições
socioambientais adequadas.
A falta de uma gestão integrada e articulada, a nível federal, estadual e
municipal dos resíduos lidos prejudica as políticas públicas que começam a ser
112
colocadas em prática pela prefeitura do Cabo, pois esta desarticulação deixa
isoladas as ações do poder público local.
A descontinuidade da política, o descumprimento das leis e a falta de
monitoramento e de suporte das políticas públicas também ficaram evidenciados no
diagnóstico do município do Cabo.
Assim conclui-se que, o crescente agravamento dos problemas ambientais no
Cabo de Santo Agostinho, a forma inadequada de apropriação do espaço urbano, a
maneira desarticulada de gerir a problemática dos resíduos sólidos, a omissão do
poder público e o descumprimento das leis, acentuam e deixam evidentes as
desigualdades socioambientais e econômicas que foram observadas. Esta questão
é mais agravada pela ineficácia ou mesmo ausência de implementação de políticas
públicas para o enfrentamento dos problemas aqui evidenciados. O consequente
aumento da geração de resíduos sólidos que vem ocorrendo no município devido ao
aumento populacional ocasionado pelos investimentos econômicos ao complexo de
Suape passam a demandar do poder público respostas cada vez mais complexas no
bojo das questões socioambientais.
113
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