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Daniella de Sousa Moraes
Análise da região promotora dos genes 1,3-β-glicana
sintase e quitina sintase 4 de Paracoccidioides brasiliensis
Brasília, DF
2009
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ii
Daniella de Sousa Moraes
Análise da região promotora dos genes 1,3-β-glicana
sintase e quitina sintase 4 de Paracoccidioides brasiliensis
Dissertação apresentada ao Departamento de Biologia
Celular do Instituto de Ciências Biológicas da
Universidade de Brasília, como requisito parcial à
obtenção do grau de mestre em Biologia Molecular.
Orientador: Prof. Dr. Marcio José Poças Fonseca
Co-Orientadora: Profª. Dra. Ildinete Silva Pereira
Brasília DF,
2009
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Daniella de Sousa Moraes
Análise da região promotora dos genes 1,3-β-glicana
sintase e quitina sintase 4 de Paracoccidioides brasiliensis
Banca Examinadora
Prof. Dr. Aldo Henrique Fonseca Pacheco Tavares - Universidade Católica de Brasília
Prof. Dr. Cezar Martins de Sá - Universidade de Brasília
Prof. Dr. Túlio César Ferreira (suplente) - Universidade de Brasília
Brasília, DF
2009
iv
"Feliz aquele que transfere o que sabe
e aprende o que ensina."
Cora Coralina

v
Este trabalho é dedicado aos meus pais, Tiana e Luiz, que
me ofereceram o amor e suporte necessário para que eu
chegasse até aqui, e ao meu marido, Diogo, pelo amor e
apoio durante a realização deste desafio.
vi
AGRADECIMENTOS
Aos professores e colegas do Laboratório de Biologia Molecular da UnB, onde tive a
oportunidade de realizar este projeto, aprender e amadurecer.
Ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular da Universidade de Brasília.
À CAPES, pelo apoio financeiro.
Ao professor Marcio José Poças Fonseca, pelo apoio e compromisso dedicado à
orientação deste trabalho.
À professora Ildinete Silva Pereira, sempre solícita e atenciosa, por ter me recebido no
Laboratório de Biologia Molecular, pelo respeito e auxílio.
Aos membros do Lab3, que por lá passaram ou ainda estão: Bárbara, Calliandra,
Eveline, Letícia, Lorena, Luana, Luís, Marciano, Natasha e Thiago. Colegas que se tornaram
amigos, que desde ceder um poço em um gel para eletroforese a contribuir com valiosas
sugestões, se mostraram companheiros e membros de um grupo unido. Obrigada à Letícia,
Lorena e Thiago também por terem colaborado no desenvolvimento deste projeto.
À Dona Ivanilde, Dona Fátima e ao Thompson, pela responsabilidade e presteza que
tornam a rotina do laboratório eficiente.
À Ana, por ser atenciosa e pela competência no Departamento de Biologia Celular.
Ao grupo de virologia em que participei dos projetos de iniciação científica, pelo
aprendizado e amizade. Obrigada à professora Cláudia Renata (in memoriam), Claudiner,
Daniela, Eduardo, Margareti, Natália, Nazle, Patrícia, Regina, Tainá e Verônica.
Aos meus amados pais, Tiana e Luiz, que me ensinaram lições para construir uma vida
com dignidade e simplicidade, por serem minha referência e meu porto-seguro.
Ao meu marido, Diogo, que me incentivou e apoiou desde a escolha pelas Ciências
Biológicas até a decisão de realizar este trabalho. Nos momentos mais difíceis, esteve ao meu
lado e me ensinou a ter perseverança.
Aos meus irmãos, familiares e amigos, que mesmo sem compreenderem este trabalho,
se interessam e torcem por mim.
Agradeço a Deus e à Nossa Senhora pelas bênçãos, por me fortalecerem e me
iluminarem durante esta etapa, onde aprendi não só sobre ciência, mas também sobre
superação de obstáculos. Obrigada por ter colocado em meu caminho pessoas tão especiais,
que estão comigo nos momentos de dificuldade e também nos momentos de conquista.
vii
SUMÁRIO
RESUMO X
ABSTRACT XI
LISTADEFIGURAS XII
LISTADETABELAS XIV
LISTADESIGLASEABREVIATURAS XV
1INTRODUÇÃO 1
1.1ParacoccidioidesbrasiliensiseParacoccidioidomicose 1
1.2ParedeCelulardeFungos 4
1.2.1ParedeCelulardeParacoccidioidesbrasiliensis 4
1.2.2ParedeCelulardeFungoseVirulência 5
1.3GenesdeParedeCelular 8
1.3.11,3β‐glicanasintase 8
1.3.2Quitinasintase4 10
1.4EstudodePromotoreseAbordagensExperimentais 14
1.4.1EnsaiodeRetardodaMobilidadeEletroforética(EMSA) 15
1.4.2–SistemadeGeneRepórterlacZ 17
1.5UtilizaçãodeAspergillusnidulanscomoHospedeiroHeterólogoparaEstudodaRegulaçãodaExpressão
Gênica 18
2OBJETIVOS 21
2.1ObjetivoGeral 21
2.2–ObjetivosEspecíficos 21
viii
3MATERIAISEMÉTODOS 22
3.1SoluçõeseSoluçõesTampão 22
3.1.1SoluçõesparaMeiosdeCulturadeA.nidulans 22
3.1.2SoluçõesTampãoparaTransformaçãodeA.nidulans 23
3.1.3SoluçõesparaExtraçãodeDNATotaldosTransformantesdeA.nidulans 25
3.1.4SoluçõesparaExtraçãodeProteínasdeP.brasiliensis 26
3.1.5SoluçõesparaEletroforeseemGeldePoliacrilamidaDesnaturante‐SDSPAGE 26
3.1.6SoluçõesparaoEnsaiodeRetardodaMobilidadeEletroforética(EMSA) 28
3.2MeiosdeCultura 28
3.3LinhagensMicrobiológicas 31
3.3.1Escherichiacoli 31
3.3.2Aspergillusnidulans 31
3.3.3Paracoccicidioidesbrasiliensis 31
3.4VetorGeneRepórter 32
3.5SistemadeGeneRepórterlacZparaAnálisedaRegiãoPromotoradogene1,3βglicanasintasedeP.
brasiliensis 33
3.5.1PreparaçãodeCélulasdeE.coliTermoCompetentes 33
3.5.2TransformaçãodeE.colicomoVetorGeneRepórter 33
3.5.3–PreparaçãodePlasmídeosemLargaEscala 34
3.5.4DigestãodoVetorGeneRepórter 34
3.5.5PreparaçãodeProtoplastoseTransformaçãodeA.nidulanscomoVetorGeneRepórter 35
3.5.6EnsaiodeEstabilidadeMitótica 36
3.5.7ExtraçãodeDNATotaldosTransformantesdeA.nidulans 37
3.5.8ReaçãoemCadeiadaPolimerase(PCR)paraAmplificaçãodeumFragmentodoPromotordoGene
Pbfks1dosTransformantesdeA.nidulans 37
3.5.9EnsaioemPlacadaAtividadedeβgalactosidase 38
3.6EnsaiodeRetardodaMobilidadeEletroforéticaparaAnálisedaRegiãoPromotoradosGenes1,3β
glicanasintaseequitinasintase4deP.brasiliensis 38
3.6.1ExtraçãodeProteínasdeP.brasiliensis 38
3.6.2ProduçãoePurificaçãodoDomíniodeLigaçãoaoDNAdaProteínaPacCdeP.brasiliensis 39
3.6.3EletroforeseemGeldePoliacrilamidaDesnaturante‐SDSPAGE 41
3.6.4AnálisedaSeqüênciaPromotoradosGenesPbfks1ePbchs4eDesenhodasSondasparaEMSA 42
3.6.5EnsaiodeRetardodaMobilidadeEletroforética(EMSA) 43
ix
3.7AnálisedaExpressãodoGene1,3βglicanasintase 47
4RESULTADOSEDISCUSSÃO 51
4.1.AnálisedaRegiãoPromotoradoGenequitinasintase4deP.brasiliensis 51
4.1.1ProduçãodaProteínaRecombinantePacCPbGSTparaAnálisedoPromotordoGenePbchs4 53
4.1.2EnsaiodeRetardodaMobilidadeEletroforética(EMSA):sondaPbchs4(a) 54
4.1.3EnsaiodeRetardodaMobilidadeEletroforética(EMSA):sondaPbchs4(b) 64
4.2AnálisedaRegiãoPromotoradoGene1,3βglicanasintasedeP.brasiliensis 67
4.2.1EnsaiodeRetardodaMobilidadeEletroforética(EMSA):sondaPbfks1(a) 68
4.2.2AnálisedaExpressãodoGene1,3βglicanasintasedeP.brasiliensis 72
4.2.3SistemadeGeneRepórterlacZparaAnálisedaRegiãoPromotoradoGene1,3βglicanasintasedeP.
brasiliensis 73
5CONCLUSÃO 78
6PERSPECTIVAS 79
7REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS 80
x
RESUMO
Paracoccidioides brasiliensis, o agente etiológico da paracoccidioidomicose (PCM), é
um fungo termodimórfico que cresce como micélio à temperatura ambiente e se diferencia
para levedura em culturas a 37°C e no tecido do hospedeiro. A transição dimórfica de P.
brasiliensis está associada com alterações na parede celular. Quando o fungo se diferencia de
micélio para levedura, o conteúdo de quitina é aumentado e a composição de glicana é
alterada, reduzindo o conteúdo de 1,3-β-glicana e aumentando o conteúdo de 1,3-α-glicana.
Em P. brasiliensis, um homólogo do gene de 1,3-β-glicana sintase (Pbfks1) e seis genes de
quitina sintase (Pbchs1, Pbchs2, Pbchs3, Pbchs4, Pbchs5 e Pbchs6) foram identificados. Em
nosso estudo, nós investigamos a região promotora dos genes Pbfks1 e Pbchs4. Por meio de
ensaio de retardo da mobilidade eletroforética (EMSA), analisamos sondas referentes aos
promotores desses dois genes e identificamos prováveis sítios regulatórios. A análise da
região promotora do gene Pbfks1 indica um TATA Box que pode ser funcional, e sugerimos
que o promotor do gene Pbchs4 possa estar sendo regulado pelo elemento de resposta ao
estresse (STRE). Além disso, demonstramos também que o domínio de ligação ao DNA de
PacC de P. brasiliensis reconhece um sítio descrito para PacC de A. nidulans, porém, a
proteína não reconheceu uma variação na seqüência consenso presente no promotor do gene
Pbchs4. Observamos que uma sonda referente ao promotor do gene Pbchs4 que contém um
sítio para o fator de transcrição CreA não interage com o domínio de ligação ao DNA de
CreA de Humicola grisea, mas apresenta interações DNA-proteína específicas nas fases de
micélio e levedura. Adicionalmente, resultados de RT-PCR em tempo real revelaram que o
gene Pbfks1 é mais expresso em meio com acetato do que em meio com glicose como fonte
de carbono. Portanto, o trabalho desenvolvido em nosso grupo de pesquisa fornece dados que
podem contribuir para a compreensão da regulação dos promotores dos genes 1,3-β-glicana
sintase e quitina sintase 4 em P. brasiliensis.
xi
ABSTRACT
Paracoccidioides brasiliensis, the etiological agent of paracoccidioidomycosis (PCM),
is a thermal dimorphic fungus which grows as a mycelium at room temperature and
differentiates to yeast in cultures at 37°C and in the host tissue. The dimorphic transition of P.
brasiliensis is associated with changes in the cell wall. When the fungus differentiates from
mycelium to yeast, the chitin content is increased and the composition of glucan changes,
reducing the 1,3-β-glucan content and enhancing the content of 1,3-α-glucan. In P.
Brasiliensis, one homologous of 1,3-β-glucan synthase gene (Pbfks1) and six genes of chitin
synthase (Pbchs1, Pbchs2, Pbchs3, Pbchs4, Pbchs5 e Pbchs6) were identified. In our study,
we investigated the promoter region of Pbfks1 and Pbchs4 genes. By means of
Electrophoretic Mobility Shift Assay (EMSA), we analyzed probes referring to promoters of
these two genes and we identified probable regulatory sites. The analysis of the promoter
region of the Pbfks1 gene indicates one TATA Box that could be functional, and we propose
that the Pbchs4 promoter may be regulated by the stress responsive elements (STRE).
Furthermore, we also demonstrated that the PacC DNA binding-domain of P. brasiliensis
recognizes one A. nidulans’s PacC described site, nevertheless, the protein didn’t recognize
one variation in the consensus sequence in the Pbchs4 promoter. We observed one Pbchs4
promoter probe with one CreA transcription factor site doesn’t interact with the CreA DNA
bind-domain of Humicola grisea, but shows specific DNA-protein interactions in mycelium
and yeast phases. Additionally, results of Real Time RT-PCR disclosed that Pbfks1 gene is
more expressed in medium with acetate then in medium with glucose as a carbon source.
Therefore, the work developed in our research group provides data which may contribute for
the comprehension of 1,3-β-glucan synthase and chitin synthase 4 promoters’ regulation in P.
brasiliensis.
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.
Produção de 1,3-
β
-glicana e quitina na parede celular.
6
Figura 2. Filograma de quitina sintases de fungos.
12
Figura 3. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética de uma
seqüência da região promotora do gene Pbchs4 com
extratos protéicos de micélio e levedura de P. brasiliensis.
13
Figura 4. Esquema ilustrativo do Ensaio de Retardo da Mobilidade
Eletroforética.
17
Figura 5. Esquema ilustrativo do sistema de gene repórter lacZ.
18
Figura 6. Agrupamento das espécies de fungos, de acordo com a
proposta do Fungal Genome Initiative (FGI).
20
Figura 7. Esquema dos vetores da série pAN923.
32
Figura 8. Conformação head-to-head dos genes Pbchs4 e Pbchs5.
51
Figura 9. Seqüência nucleotídica da região intergênica dos genes
Pbchs4 e Pbchs5 (número de acesso no GenBank
EF654132).
52
Figura 10. Perfil eletroforético em SDS-PAGE (12%) da proteína
recombinante PacCPb-GST, corado com Comassie Blue.
54
Figura 11. Sonda Pbchs4(a).
54
Figura 12. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando
a sonda Pbchs4(a) com a proteína recombinante PacCPb-
GST.
55
Figura 13. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética para teste
da funcionalidade da proteína recombinante PacCPb-GST.
56
Figura 14. Comparação dos sítios de ligação para PacC presentes nas
sondas 1, 3 e 4 de H. grisea e na sonda Pbchs4(a).
58
Figura 15. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando
as sondas Pbchs4(a) mutadas e extrato protéico de micélio
de P. brasiliensis.
60
Figura 16. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando
as sondas Pbchs4(a) mutadas e extrato protéico de
levedura de P. brasiliensis.
62
xiii
Figura 17. Sonda Pbchs4(b).
64
Figura 18. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando
a sonda Pbchs4(b) e com extratos protéicos de micélio ou
levedura de P. brasiliensis, ou a proteína recombinante
CreAHg-GST.
65
Figura 19. Seqüência nucleotídica da região promotora do gene
Pbfks1 (número de acesso no GenBank AF148715).
67
Figura 20. Sonda Pbfks1(a).
68
Figura 21. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando
as sondas Pbfks1(a) mutadas e extrato protéico de micélio
ou levedura de P. brasiliensis.
70
Figura 22. Análise eletroforética em gel de agarose 0,8% corado com
brometo de etídeo (0,5 μg/mL) da digestão do vetor gene
repórter (vetor 42B da série pAN923) contendo a região
promotora do gene Pbfks1.
74
Figura 23. Análise eletroforética em gel de agarose 0,8% corado com
brometo de etídeo (0,5 μg/mL) da amplificação de um
fragmento do promotor do gene Pbfks1 a partir do DNA
dos fungos transformantes.
75
xiv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Distribuição dos principais componentes da parede celular
de P. brasiliensis.
4
Tabela 2. Sítios analisados na região promotora dos genes Pbfks1 e
Pbchs4.
15
Tabela 3. Oligonucleotídeos utilizados na PCR para amplificação de
um fragmento do promotor do gene Pbfks1 dos
transformantes de A. nidulans.
37
Tabela 4.
Sondas utilizadas em EMSA.
43
Tabela 5. Oligonucleotídeos utilizados na RT-PCR em Tempo Real.
50
Tabela 6. Análise da diferença entre os níveis de transcrito do gene
Pbfks1 em micélio e em levedura de P. brasiliensis.
72
Tabela 7. Análise da diferença entre os níveis de transcrito do gene
Pbfks1 em glicose e em acetato de sódio.
73

xv
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
aa aminoácido
cDNA DNA complementar
CHS gene que codifica a quitina sintase em fungos; ocorrem variações dessa
nomenclatura e número de genes identificados, de acordo com os
autores citados ao longo deste trabalho
CreAHg-GST domínio de ligação ao DNA da proteína CreA de H. grisea fusionado à
GST
DEAE dietilaminoetil
DNA ácido desoxirribonucléico
DNase desoxirribonuclease
dNTP desoxirribonucleotídeo
DTT ditiotreitol
EDTA ácido etilenodiaminotetracético
EMSA Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética
et al. et alii (e outros)
FAM fluoróforo carboxifluoresceína
FGI Fungal Genome Initiative
FKS gene que codifica a 1,3-β-glicana sintase em fungos; ocorrem variações
dessa nomenclatura e número de genes identificados, de acordo com os
autores citados ao longo deste trabalho
g grama
g unidade de medida da força centrífuga
GlcNac N-acetilglicosamina
GST glutationa S-transferase
h hora
HEPES N-2-hidroxietilpiperazina-N'-2-ácido etanosulfônico
HOG High Osmolarity Glycerol
HSE Elemento de Resposta ao Choque Térmico
HSP proteína de choque térmico
IPTG isopropil- β-D-tiogalactopiranosídeo
Kb quilobase
xvi
KDa quilodalton
lacZ gene de E. coli que codifica a enzima β-galactosidase
LB Luria-Bertani (meio de cultura LB)
M Molar
mA miliamper
MAP quinase proteíno quinase ativada por mitógeno
Mb megabase
mg miligrama
mL mililitro
mM milimolar
min minuto
mRNA RNA mensageiro
ng nanograma
OD densidade óptica
ONPG o-nitrofenil-β-D- galactopiranosídeo
ORF região aberta de leitura
PABA ácido paraminobenzóico
PacCPb-GST domínio de ligação ao DNA da proteína PacC de P. brasiliensis
fusionado à GST
pb pares de base
Pbchs gene que codifica a qutina sintase de P. brasiliensis; foram identicados
seis genes que codificam quitina sintases em P. brasiliensis (Pbchs1,
Pbchs2, Pbchs3, Pbchs4, Pbchs5 e Pbchs6)
Pbfks1 gene que codifica a 1,3-β-glicana sintase identificado em P.
brasiliensis
PCM paracoccidioidomicose
PCR Reação em Cadeia da Polimerase
PEG polietilenoglicol
pH potencial hidrogeniônico
PKC proteína quinase C
PMSF fluoreto fenil metil sulfonil
poli(dI-dC) polímero sintético de deoxiinosina e deoxicitidina (utilizado como
competidor inespecífico em EMSA)
xvii
p/v massa/volume
RNA ácido ribonucléico
RNase ribonuclease
rpm rotações por minuto
rRNA RNA ribossômico
RT-PCR amplificação por PCR de um produto de transcrição reversa (cDNA)
SDS dodecil sulfato de sódio
SDS-PAGE eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecil sulfato de sódio
(condições desnaturantes)
seg segundo
STRE Elemento de Resposta ao Estresse
TBP TATA Binding Protein
TE tampão Tris-EDTA
TEB tampão Tris-EDTA-borato
TEMED N,N,N’, N’-tetrametil etilenodimetilamina
TESS Transcription Element Search System
Tm Melting Temperature
TNF Fator de Necrose Tumoral
TRIS tris-(hidroximetil)-aminometano
V Volts
v/v volume/volume
X-gal 5-bromo-4-cloro-3-indolil-β-D-galactopiranosídeo
YPD Yeast Peptone Dextrose (meio YPD)
μg micrograma
μL microlitro
μm micrômetro
μM micromolar
1X concentração para uso
25X vinte e cinco vezes concentrado
50X cinquenta vezes concentrado
100X cem vezes concentrado
1
1 – INTRODUÇÃO
1.1 – Paracoccidioides brasiliensis e Paracoccidioidomicose
O fungo Paracoccidioides brasiliensis é o agente etiológico da paracoccidioidomicose
(PCM), uma micose humana endêmica na América Latina. A PCM afeta principalmente a
população de áreas rurais e ocorre predominantemente no Brasil, Colômbia e Venezuela
(Franco et al., 1993). No Brasil, onde as maiores taxas de incidência ocorrem nas regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste, a PCM destacou-se como a oitava causa de mortalidade por doença
predominantemente crônica entre as doenças infecciosas e parasitárias, e apresentou a mais
elevada taxa de mortalidade entre as micoses sistêmicas (Coutinho et al., 2002). Estima-se
que entre dois a três indivíduos a cada 100 mil habitantes adoeçam de PCM na América
Latina anualmente. No Brasil, espera-se que de quatro a seis mil novos casos ocorram a cada
ano (revisto por Telles, 2008).
A PCM apresenta uma multiplicidade de manifestações clínicas, ocorrendo desde a
forma cutânea às formas sistêmicas, atacando diversos tecidos. Primeiramente os pulmões são
comprometidos, e a micose pode se disseminar para outros órgãos e sistemas. Lesões
secundárias aparecem freqüentemente em mucosas, linfonodos, adrenais e pele (Brummer et
al., 1993). O diagnóstico da PCM pode ser realizado por microscopia para identificação do P.
brasiliensis ou por testes sorológicos, usualmente para detecção da glicoprotéina gp43
(Fornajeiro et al., 2005), mas ferramentas moleculares para amplificação de fragmentos
genômicos gerados por uma ampla variedade de isolados de P. brasiliensis também podem
ser incorporadas ao diagnóstico (San-Blas et al., 2005). Tanto a apresentação clínica da
micose como o curso da doença variam de paciente para paciente. Dessa forma, a PCM pode
assumir a forma crônica ou aguda, e o tratamento é usualmente prolongado. As drogas
eficazes contra a paracoccidioidomicose compreendem três grupos: anfotericina B, compostos
sulfanilamídicos e o grupo de drogas azólicas (revisto por Palmeiro et al., 2005). Na ausência
dos medicamentos a doença pode ser fatal.
2
A PCM foi descrita por Adolfo Lutz no Brasil em 1908 e, em 1930, Floriano Paulo de
Almeida identificou e designou seu agente etiológico, o P. brasiliensis. Análises
filogenéticas, baseadas em rDNA 28S, permitiram a classificação de P. brasiliensis na família
Onygenaceae, pertencente à ordem Onygenales (filo Ascomycota). Embora seja classificado
como um ascomiceto, a fase sexual de P. brasiliensis não foi demonstrada morfologicamente
(Bagagli et al., 2008). Observa-se uma extensa variabilidade genética entre os isolados de P.
brasiliensis. Matute et al. (2006) sugerem que existam pelo menos três espécies filogenéticas
de P. brasiliensis, das quais duas são espécies monofiléticas (PS2, composta por isolados da
Venezuela e Brasil, e PS3, composta por isolados da Colômbia), e uma espécie parafilética
(S1, com ampla abrangência nas áreas endêmicas). O Pb01, objeto de estudo deste trabalho, é
um isolado clínico que diverge dessas três espécies filogenéticas descritas. A análise
filogenética de isolados que se assemelham ao genótipo de Pb01, isolados denominados
“Pb01-like”, permitiu agrupar esses isolados em um grupo filogenético distinto dos grupos
S1, PS2 e PS3, e sugere-se a descrição formal de uma nova espécie para esse grupo,
denominada Paracoccidioides lutzii (Teixeira, 2009). Recentemente, o genoma do isolado
Pb01, de aproximadamente 32 Mb, foi seqüenciado pelo Broad Institute
(www.broad.mit.edu/annotation/genome/paracoccidioides_brasiliensis/MultiHome.htmL), estimando-se
cerca de 9 mil genes.
O P. brasiliensis é um fungo dimórfico. Essa classificação é baseada na habilidade de
transição entre duas morfologias distintas, associadas a uma condição ambiental específica.
Os fungos dimórficos de importância médica são Blastomyces dermatitidis, Candida albicans,
Coccidioides immitis, Coccidioides posadasii, Histoplasma capsulatum, P. brasiliensis,
Penicillium marneffei e Sporothrix schenckii (revisto por Chaffin et al., 1998 e Rappleye e
Goldman, 2006). O fungo P. brasiliensis cresce na forma de levedura em culturas a 37°C e no
tecido do hospedeiro, e na temperatura ambiente ocorre na forma micelial. Sugere-se que o
habitat de P. brasiliensis seja o solo, onde o fungo existe como saprófita. A infecção é
adquirida pela via respiratória por meio da inalação de estruturas da forma micelial, que
sofrem transição para a forma de levedura no tecido do hospedeiro (Brummer et al., 1993;
Restrepo et al., 2007).
A PCM é mais freqüente em homens expostos ao habitat do fungo pelo trabalho
agrícola. Em mulheres, a infecção é rara em função do papel protetor do hormônio estrogênio
3
(revisto por Palmeiro et al., 2005). O estrógeno inibe a transição de micélio para levedura in
vitro, e estudos in vivo corroboram os dados epidemiológicos e in vitro ao observar que os
hormônios femininos bloqueiam a transição dimórfica, promovendo resistência à doença
(Aristizabal et al., 1998). Em P. brasiliensis, a transição dimórfica é essencial para o
estabelecimento da doença visto que linhagens incapazes de se diferenciarem em levedura são
avirulentas (Franco et al., 1993). Observa-se que a transformação para a fase de levedura é
um fator chave para o processo invasivo no hospedeiro, razão pela qual é fundamental o
conhecimento dos eventos metabólicos e mecanismos regulatórios envolvidos na transição
dimórfica.
A transição dimórfica em P. brasiliensis é governada predominantemente pela
temperatura e é precedida por alterações moleculares. A identificação de genes
diferencialmente expressos e/ou genes requeridos para o dimorfismo é importante para a
compreensão dos eventos que ocorrem no estabelecimento da infecção e doença. A análise do
transcriptoma de P. brasiliensis realizada por Felipe et al. (2005), cobrindo aproximadamente
80% do genoma, revelou diferenças na expressão gênica nas fases de micélio e levedura, com
um padrão de expressão diferencial de genes associados ao metabolismo, ciclo celular, síntese
da parede celular e vias de transdução de sinal, tendo sido identificados novos genes que
podem estar associados à virulência. A transição dimórfica de P. brasiliensis está
correlacionada com alterações na composição, organização e estrutura da parede celular.
Observa-se que quando o fungo se diferencia de micélio para levedura ocorre um aumento no
conteúdo de quitina e alteração na composição de glicana, de modo que diminui o conteúdo
de 1,3-β-glicana e aumenta o de 1,3-α-glicana (Kanetsuna et al., 1972). Portanto, estudos
sobre a regulação da expressão dos genes associados à síntese da parede celular podem
contribuir para a compreensão dos eventos que ocorrem na transição dimórfica e na
patogênese do fungo.
4
1.2 – Parede Celular de Fungos
1.2.1 – Parede Celular de Paracoccidioides brasiliensis
A parede celular de P. brasiliensis apresenta um papel essencial na patobiologia do
fungo, pois está diretamente relacionada a mudanças morfogenéticas durante a transição
dimórfica. Uma estratégia direcionada para a compreensão da morfogênese do fungo é o
estudo dos seus componentes estruturais. A distribuição dos principais componentes da
parede celular de P. brasiliensis está apresentada na tabela 1.
Tabela 1. Distribuição dos principais componentes da parede celular de P. brasiliensis
Observam-se diferenças significativas dos componentes entre as formas de micélio e levedura
de P. brasiliensis.
Dados retirados de Kanetsuna et al., 1969; Kanetsuna et al., 1972.
A forma de levedura apresenta um conteúdo maior de quitina do que a forma micelial,
enquanto que a forma micelial apresenta um maior conteúdo de proteínas do que a forma de
levedura. Não há diferenças significativas na quantidade de lipídios e glicanas entre as duas
formas. Observa-se que a composição da parede celular de B. dermatitidis é similar à
composição da parede celular de P. brasiliensis (Kanetsuna et al., 1969). Em C. albicans, a
1,3-β-glicana constitui de 47 a 60% do peso da parede celular, e a quitina de 0,6 a 9,0%
(Chaffin et al., 1998). Em P. brasiliensis, a 1,3-α-glicana predomina na forma de levedura,
enquanto que na fase de micélio predomina a 1,3-β-glicana. A síntese de 1,3-α-glicana em
uma cultura decresce rapidamente após a mudança de temperatura de 37°C para 20°C, e a
síntese de 1,3-β-glicana é aumentada (Kanetsuna et al., 1972). Em B. dermatitidis, a 1,3-α-
glicana também é prevalente na levedura, enquanto que a 1,3-β-glicana é prevalente no
micélio (Kanetsuna e Carbonell, 1971). Em P. brasiliensis, outro polissacarídeo de glicose
5
encontrado na forma micelial é a galactomanana (Kanetsuna et al., 1972), responsável pelas
propriedades antigênicas da parede celular.
San Blas e San Blas (1982) realizaram preparações de micélio e levedura de P.
brasiliensis que foram submetidas a tratamentos com diversos detergentes na tentativa de
solubilizar a glicana sintase da membrana, obtendo-se maior sucesso nas preparações de
levedura do que nas preparações de micélio, corroborando as observações de que as estruturas
de ambas as formas são diferentes.
1.2.2 – Parede Celular de Fungos e Virulência
Antes vista como uma estrutura rígida, inerte e dedicada à proteção celular, a parede
celular de fungos é agora vista como uma estrutura dinâmica e amplamente interativa. A
mobilidade dos componentes da parede celular e sua resposta às condições externas são
reconhecidas como propriedades dessa complexa estrutura. Além disso, vários componentes
têm sido caracterizados na parede celular, como glicoesfingolipídeos, proteínas de choque
térmico, fosfatases, histonas e antígenos transientes (Nimrichter et al., 2005).
A parede celular de fungos é uma estrutura sujeita a mudanças, e sua composição e
organização estrutural são reguladas durante o ciclo celular, em resposta a alterações
ambientais e ao estresse. A quitina e 1,3-β-glicana representam os principais componentes da
parede celular de fungos. Esses polissacarídeos contrapõem a pressão de turgor dentro da
célula e determinam sua morfologia (revisto por San-Blas e Nino-Vega, 2008). A figura 1
apresenta um esquema da formação da parede de celular com seus polímeros principais,
quitina e 1,3-β-glicana, que se apresentam interconectados nessa estrutura celular.
6
Figura 1. Produção de 1,3-β-glicana e quitina na parede celular – Os polímeros de 1,3-β-
glicana e de quitina são interconectados. Retirado de Latgé, 2007.
A parede celular de fungos apresenta função tanto de proteção como de agressão. Em
sua ação de proteção atua como uma barreira inicial que está em contato com o ambiente
hostil encontrado pelos fungos. Se removida ou comprometida, o fungo não sobrevive, a
menos que esteja osmoticamente protegido. A ação agressiva deve-se ao fato de que a parede
celular pode apresentar moléculas hidrolíticas e tóxicas, que podem ser requeridas para a
invasão em determinados ambientes. Além disso, sua estrutura rígida é proveitosa para a
penetração em substratos que são colonizados ou invadidos (Latgé, 2007).
Na parede celular de fungos pode ocorrer deposição de melanina. A habilidade de
fungos patogênicos em produzir melanina é associada à virulência, e já foi detectada em P.
brasiliensis, S. schenckii, H. capsulatum, B. dermatitidis, C. posadasii, Cryptococcus
neoformans e Aspergillus fumigatus. A melanização parece contribuir para a virulência
reduzindo a susceptibilidade aos mecanismos de defesa do hospedeiro e às drogas
antifúngicas (Taborda et al., 2008). Em ensaios com macrófagos de murinos, Silva et al.
(2006) observaram que leveduras melanizadas de P. brasiliensis foram fracamente
fagocitadas, mesmo na presença do sistema complemento. Além desse fator associado à
virulência, um importante antígeno transiente expresso na parede celular de P. brasiliensis é a
glicoproteína gp43, que é sintetizada e transportada para a parede celular, onde permanece por
um certo tempo e é posteriormente secretada no meio (revisto por Nimrichter et al., 2005). A
glicoproteína gp43 é um receptor para laminina e está envolvida nos mecanismos de adesão
durante a infecção (Hanna et al., 2002). Popi et al. (2002) demonstraram ainda que gp43 inibe
7
a atividade fungicida de macrófagos e sugerem seu papel no mecanismo de evasão no
estabelecimento da infecção primária em hospedeiros susceptíveis.
O reino fungi é incrivelmente diverso e seus membros podem habitar uma ampla
variedade de nichos. Entretanto, poucas espécies são patogênicas para os humanos.
Transições morfogenéticas são freqüentemente requeridas para expressão de virulência
(revisto por San Blas e Nino-Vega, 2008). O dimorfismo, crescimento em temperaturas
elevadas, aderência a células do hospedeiro, componentes da parede celular, proteinases,
lipases, fosfolipases e outros são considerados potenciais fatores de virulência importantes no
processo invasivo (revisto por Tavares et al., 2005). O mercado mundial para agentes
antifúngicos foi estimado em 11,9 bilhões de dólares em 2007 (West, 2007). Entretanto, as
drogas atuais são reconhecidas por sua inabilidade em atuar rapidamente, toxicidade e
espectro limitado. Há uma necessidade crítica para o desenvolvimento de novos agentes
antifúngicos. Além disso, existe uma incidência crescente de resistência aos antifúngicos
disponíveis, como o fluconazol (Birren et al., 2003). Devido ao fato de que a parece celular
atua na proteção do fungo e, além disso, muitos de seus componentes não são presentes em
humanos, a parede celular é um alvo atrativo para drogas.
Nessa perspectiva, estudos sobre a parede celular, assim como sobre as enzimas
envolvidas na biossíntese da parede, fornecem informações valiosas para o desenvolvimento
de drogas antifúngicas. As glicanas presentes na parede celular desempenham um importante
papel na virulência em P. brasiliensis. Klimpel e Goldman (1988) relataram que em H.
capsulatum linhagens avirulentas apresentaram um conteúdo de 1,3-α-glicana cerca de mil
vezes menor do que nas linhagens virulentas. Também foi demonstrado que linhagens
avirulentas de P. brasiliensis induzem uma reposta do sistema de defesa do hospedeiro maior
do que as linhagens virulentas, e que a 1,3-β-glicana induz a atração de neutrófilos
polimorfonucleares e macrófagos durante a resposta inflamatória mediante a indução do fator
de necrose tumoral (TNF) (Silva et al., 1994). Essas observações indicam que a alteração de
1,3-β-glicana para 1,3-α-glicana na transição dimórfica de micélio para levedura proteja o
fungo contra o sistema de defesa do hospedeiro. Além da observação da alteração no
conteúdo de glicana, o aumento acentuado do conteúdo de quitina na levedura de P.
brasiliensis também requer atenção, e reconhece-se que genes envolvidos na biossíntese da
parede podem apresentar função na transição dimórfica.
8
1.3 – Genes de Parede Celular
1.3.1 – 1,3-β -glicana sintase
A 1,3-β-glicana é o principal polímero da parede celular de fungos, e é sintetizada a
partir de UDP-glicose pela enzima 1,3-β-glicana sintase. A atividade catalítica de 1,3-β-
glicana sintase é regulada por uma GTPase da superfamília Ras, a Rho1-GTPase, e pela
proteína quinase C (PKC). Rho1-GTPase é uma subunidade regulatória de 1,3-β-glicana
sintase, que estimula a sua atividade. Essa subunidade também regula a integridade da parede
celular por meio de uma via de sinalização, ligando-se e ativando PKC (revisto por Zhao et
al., 1998).
Em S. cerevisiae, a síntese de 1,3-β-glicana ocorre na membrana plasmática por meio
da atividade dos produtos de dois genes homólogos, FKS1 e FKS2. A seqüência nucleotídica
de FKS1 codifica uma proteína integral de membrana (Fks1p) de 215 kDa. A seqüência
nucleotídica de FKS2 também codifica uma proteína integral de membrana (Fks2p) de 217
kDa, que apresenta 88% de identidade com Fks1p. A análise da expressão do gene FKS1 de S.
cerevisiae revelou que sua transcrição é regulada durante o ciclo celular, predominando
durante o crescimento em glicose, e sendo reduzida quando a glicose é substituída por acetato
de sódio. Já a expressão do gene FKS2 é reprimida por glicose e induzida por Ca
2+
e
feromônios, sendo essencial para a esporulação, que ocorre em fontes pobres de carbono,
como o acetato de sódio (Douglas et al., 1994; Mazur et al., 1995). Zhao et al. (1998)
demonstraram que a expressão do gene FKS2 também é induzida em temperaturas elevadas, e
que a indução em fontes pobres de carbono é uma resposta à repressão por glicose, sob o
controle do repressor transcricional Mig1p.
Em C. albicans, o gene GSC1 foi descrito por Mio et al. (1997) como responsável por
codificar uma unidade catalítica da 1,3-β-glicana sintase, codificando uma proteína predita de
210 kDa (Gsc1p), com cerca de 72% de identidade com as proteínas homólogas em S.
cerevisiae. Além de GSC1, C. albicans apresenta outro gene que pode estar relacionado à 1,3-
β-glicana sintase, denominado GSL1. Apesar de ter uma ORF correspondente a apenas 57%
da ORF de GSC1, a proteína predita (Gsl1) apresenta 54% de identidade com Gsc1p. Tanto
9
GSC1 como GSL1 são expressos na fase de levedura de C. albicans, e quando o crescimento
da hifa foi induzido, os níveis de mRNA declinaram. Em Neurospora crassa, foi identificada
uma proteína descrita como subunidade de 1,3-β-glicana sintase (Shimoler et al., 2003). Em
Aspergillus nidulans e em Schizosaccharomyces pombe, um único homólogo do gene 1,3-β-
glicana sintase foi descrito, denominados fksA (Kelly et al., 1996) e cps1 (Inshiguro et al.,
1997), respectivamente. Em A. nidulans, o gene fksA codifica uma proteína predita (FksAp)
de 229 kDa, que apresenta elevado grau de conservação em tamanho e identidade com as
proteínas homólogas em S. cerevisiae (Kelly et al., 1996). Em S. pombe, o gene cps1 codifica
uma proteína predita que apresenta 55% de identidade com as homólogas em S. cerevisiae.
Mutações no gene que codifica essa proteína provocaram hipersensibilidade a drogas descritas
como inibidores da síntese de 1,3-β-glicana e também à temperatura (Inshiguro et al., 1997).
Kellner et al. (2004) caracterizaram um homólogo do gene 1,3-β-glicana sintase em C.
posadasii (FKS1), cuja proteína predita apresenta alto grau de conservação com as 1,3-β-
glicana sintases de fungos filamentosos. O gene FKS1 de C. posadasii é expresso em níveis
similares em micélio e em culturas no início da formação das esférulas, e decresce quando as
esférulas estão maduras. Em Cryptococcus neoformans, o gene FKS1 apresenta similaridade
com os homólogos de outros fungos e parece ser a única cópia nesse organismo, sendo
essencial para a viabilidade (Thompson et al., 1999). Em Yarrowia lipolytica, o gene 1,3-β-
glicana sintase (YlFKS1) codifica uma proteína de 1.961 aa, que apresenta uma alta
homologia com as 1,3-β-glicana sintases em C. albicans, S. pombe, A. nidulans, C.
neoformans e P. brasiliensis. A análise de expressão do gene YlFKS1 em diferentes condições
afetando a parede celular não revelou diferenças significativas, mas foi demonstrado que
YlFKS1 é essencial para o crescimento, sugerindo que este é também o único homólogo em Y.
lipolytica (León et al., 2002). Em Fusarium solani, foi clonado e seqüenciado o gene FsFKS1,
que codifica uma proteína predita de 220 kDa, também com alto grau de similaridade (75 -
88%) às proteínas homólogas em Neurospora crassa, P. brasiliensis, A. fumigatus e S.
cerevisiae (Há et al., 2006).
Em P. brasiliensis, Pereira et al. (2000) caracterizaram um homólogo do gene 1,3-β-
glicana sintase. O gene Pbfks1 (número de acesso no GenBank AF148715) apresenta uma
ORF de 5.942 pb, interrompida por dois íntrons, o primeiro próximo à extremidade 5’ e o
segundo próximo à extremidade 3’ do gene. Em seus experimentos para analisar a estrutura de
genes de 1,3-β-glicana sintase de diferentes isolados de P. brasiliensis, Okamoto et al. (2006)
10
detectaram a expressão do gene Pbfks1 a partir da extração de RNA de culturas de levedura e
observaram que sete dos oito isolados analisados apresentam estruturas gênicas semelhantes a
respeito da posição dos introns, que geralmente é conservada em genes homólogos. De acordo
com Pereira et al. (2000), a seqüência deduzida de 1.926 aa constitui uma proteína predita de
212 kDa, que apresentou mais de 85% de similaridade à proteína FksAp de A. nidulans, e
71% de similaridade às proteínas Fks1p e Fks2p de S. cerevisiae. Análises computacionais de
1,3-β-glicana sintase de P. brasiliensis sugerem uma estrutura similar a uma proteína integral
de membrana, apresentando cerca de 16 hélices transmembrana, conforme as 1,3-β-glicana
sintases descritas. O putativo domínio catalítico predito é localizado no citoplasma e é
hidrofóbico, limitado por dois domínios compostos por seis e dez hélices hidrofóbicas. Apesar
de ter sido caracterizado um gene, outros dois fragmentos foram identificados e podem estar
relacionados a 1,3-β-glicana sintase. Experimentos de RT-PCR sugerem que transcritos de
Pbfks1 não são detectados em células crescidas em glicose, comportamento semelhante ao
que Mazur et al. (1995) relataram para FKS2 de S. cerevisiae (Pereira et al., 2000).
Uma classe de antifúngicos que inibem a síntese de 1,3-β-glicana sintase é formada
por lipopeptídeos conhecidos como equinocandinas e pnemocandinas (Onishi et al., 1999), e
vários organismos têm sido descritos como susceptíveis a essas drogas (Douglas et al., 1994;
Kelly et al., 1996). Arendrup et al. (2008) relataram que isolados de A. fumigatus que
apresentaram redução da suscetibilidade à caspofungina, droga pertencente à classe de
equinocandina, expressaram altos níveis de 1,3-β-glicana sintase em relação aos isolados
susceptíveis. Visto que a síntese de 1,3-β-glicana é importante para a estrutura da parede
celular, um maior conhecimento da regulação de 1,3-β-glicana sintase em P. brasiliensis será
de fundamental importância e poderá fornecer informações sobre a biologia desse fungo
patogênico.
1.3.2 – Quitina sintase 4
A quitina sintase é um proteína transmembrana que cataliza a polimerização de N-
acetilglicosamina (GlcNAc), a partir de UDP-GlcNAc do citoplasma, em cadeias de
polissacarídeo, constituido a quitina da parede celular. A síntese de quitina em fungos é um
processo complexo regulado por uma família multigênica. Baseado em diferenças em regiões
11
conservadas, as quitina sintases foram organizadas em sete classes, dentro de duas divisões.
Em P. brasiliensis, foram identificados seis genes de quitina sintase: Pbchs1 (classe I),
Pbchs2 (classe II), Pbchs3 (classe IV), Pbchs4 (classe VII), Pbchs5 (classe V) e Pbchs6
(classe VI) (revisto por San-Blas e Nino-Vega, 2008).
Em C. albicans a quitina é sintetizada por quatro quitina sintases, codificadas pelos
genes CaCHS1 (classe II), CaCHS2 e CaCHS8 (classe I), e CaCHS3 (classe IV). S.cerevisiae
apresenta três genes de quitina sintases, CHS1 (classe I), CHS2 (classe II) e CHS3 (Class IV)
(revisto por Munro et al., 2007).
Nino-Vega et al. (2004) caracterizaram o gene quitina sintase 4 de P. brasiliensis
(número de acesso no GenBank EF654132), que apresenta uma ORF de 5.322 pb,
interrompida por três íntrons. A análise da seqüência deduzida de 1.744 aa revelou a presença
de dois domínios distintos, sendo um domínio N-terminal com 30% de homologia com o
domínio myosin motor-like, e um domínio C-terminal com 68% de homologia com o domínio
quitina descrito para algumas quitina sintases da classe V. Entretanto, diferente das quitina
sintases de classe V, Pbchs4 não apresenta assinaturas características do domínio myosin
motor-like. Além disso, apesar do domínio quitina apresentar homologia com outras quitinas
de classe V, foi considerado que a quitina sintase 4 de P. brasiliensis pertence a uma outra
classe, denominada classe VII. A figura 2 mostra um filograma elaborado com quitina
sintases de fungos, indicando o posicionamento de Pbchs4 na classe VII.
12
Figura 2. Filograma de quitina sintases de fungos – As seqüências foram alinhadas usando
CLUSTAL W. Apenas o domínio C-terminal da quitina sintase foi utilizado para enzimas das
classes V e VII. Duas divisões e sete classes são apresentadas. Quitina sintases representativas
de todas as classes são mostradas. As seqüências foram obtidas no Gen-Bank. Ca, Candida
albicans; Wd, Wangiella dermatitidis; An, Aspergillus nidulans; Ao, Aspergillus oryzae; Bg,
Blumeria graminis; Gg, Glomerella graminicola; Um, Ustilago maydis; Pb, Phycomyces
blakesleeanus; Ci, Coccidioides immitis; Pbr, Paracoccidioides brasiliensis; Nc, Neurospora
crassa; Sc, Saccharomyces cerevisiae; Af, Aspergillus fumigatus; Mg, Magnaporthe grisea.
Modificado de Nino-Vega et al., 2004.
Em P. brasiliensis, apesar do maior conteúdo de quitina ser encontrado na forma de
levedura, os níveis de mRNA de Pbchs4 são maiores na forma de micélio. Nino-Vega et al.
(2000) analisaram a expressão dos genes Pbchs1, Pbchs2, Pbchs3, Pbchs4 e Pbchs5, e
verificaram que todos, exceto Pbchs3, são mais expressos na forma de micélio. O gene
Pbchs3 não foi expresso em níveis detectáveis.
Em estudos anteriores do nosso grupo de pesquisa, Sant’Ana (2008) demonstrou que
uma seqüência da região promotora de Pbchs4 que contém um sítio para o fator de transcrição
13
PacC, que regula a expressão gênica em resposta ao pH, e dois elementos de resposta ao
estresse (STRE), interage com extratos protéicos de micélio e levedura de P. brasiliensis. Foi
observada uma interação DNA-proteína específica nas fases de micélio e levedura e outra
interação micélio específica, conforme mostra a figura 3.
Figura 3. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética de uma seqüência da região
promotora do gene Pbchs4 com extratos protéicos de micélio e levedura de P. brasiliensis
1: sonda livre; 2: sonda + extrato protéico da forma de levedura, indicando uma interação;
3: sonda + extrato protéico da forma de levedura + competidor específico 50X; 4: sonda +
extrato protéico da forma de micélio, indicando uma interação similar à observada para a fase
de levedura e outra interação micélio específica; 5: sonda + extrato protéico da forma de
micélio + competidor específico 50X. Modificado de Sant’Ana (2008).
Esses resultados sugerem que essa região possa estar atuando na regulação
transcricional do gene quitina sintase 4 de P. brasiliensis, mas não determinaram se a
interação ocorre no sítio para PacC ou nos elementos de resposta ao estresse.
Em S. cerevisiae, apesar da quitina corresponder a uma pequena fração da parede
celular, o comprometimento na regulação da síntese desse componente pode afetar
profundamente o padrão de crescimento e morfologia da levedura. Além disso, o
comprometimento de outros genes da via de biossíntese da parede celular provoca o aumento
da deposição de quitina na parede (Popolo et al., 1997). Munro et al. (2007) relataram que a
regulação dos genes que codificam quitina sintases em C. albicans é controlada por PKC,
Calcineurina/Ca
+2
e pela via HOG MAP quinase.
14
Em S. cerevisiae, a principal estratégia para lidar com a alta osmolaridade externa é o
aumento da concentração de glicerol. O acúmulo de glicerol é um mecanismo adaptativo que
permite às células adquirir água do ambiente e recuperar a pressão de turgor. A via HOG
MAP quinase responde ao estresse osmótico, e sua ativação induz a expressão de genes
requeridos para a adaptação osmótica, incluindo genes da biossíntese do glicerol (Albertin et
al., 1994). É proposto que a via HOG MAP quinase também está envolvida na regulação da
estrutura da parede celular de S. cerevisiae (Kapteyn et al., 2001) e C. albicans (Eisman et al.,
2006). Também já foi demonstrado que em C. albicans mutantes para caucineurina são mais
susceptíveis à caspofungina, sugerindo que a caucineurina está envolvida na via de
sinalização de resposta a danos na parede (Sanglard et al., 2003), e que em S. cerevisiae a
perda da função de PKC, que ativa a via de MAP quinase durante o estresse térmico, provoca
a lise celular (Kamada et al., 1995).
Por meio de ensaios de gene repórter lacZ, foi demonstrado que a expressão de quitina
sintases de C. albicans em mutantes para genes da via HOG MAP quinase, da via PKC MAP
quinase e calcineurina é alterada na presença de equinocandinas, que inibem a síntese de 1-3-
β-glicana sintase (Walker et al., 2008). Lenardon et al. (2009) analisaram os promotores dos
genes de quitina sintases de classe I de C. albicans e evidenciaram a presença de sítios para o
fator de transcrição Rlm1, e sugerem que a via de sinalização da integridade da parede celular
mediada por PKC pode atuar por meio desses elementos nesse organismo. Portanto, a síntese
de quitina parece estar regulada em resposta a danos causados na parede celular.
1.4 – Estudo de Promotores e Abordagens Experimentais
Na transcrição do mRNA, a etapa de iniciação é o principal ponto de regulação. Em
eucariotos, a iniciação da transcrição é governada pela RNA polimerase II e por fatores de
transcrição basais, que direcionam a transcrição basal, e também por fatores regulatórios que
se ligam em sítios a montante do sítio de iniciação e regulam a taxa de transcrição (revisto por
Conaway e Conaway, 1993). O complexo processo desenvolvido pela célula é regulado em
resposta a um sinal particular, que pode gerar a expressão gênica numa célula específica, num
determinado tempo, ou em certas condições ambientais. O reconhecimento de mudanças nas
condições do ambiente e a habilidade de se adaptar são essenciais para a viabilidade da célula.
A regulação da expressão gênica em resposta a um sinal particular pode ser modulada por
15
ativadores (revisto por Kodadek et al., 2006) ou repressores transcricionais (revisto por Rojo,
2001). A análise da maquinaria transcricional de um gene refere-se à delimitação da região
regulatória, o promotor, e à caracterização ou identificação dos fatores transcricionais que
nela atuam. A tabela 2 apresenta os sítios na região promotora dos genes 1,3-β-glicana sintase
e quitina sintase 4 de P. brasiliensis estudados neste trabalho.
Tabela 2. Sítios analisados na região promotora dos genese Pbfks1 e Pbchs4 – As
seqüências consenso reconhecidas pelos fatores de transcrição PacC, CreA e FacB e os
elementos de resposta ao choque térmico e ao estresse são apresentadas na fita molde e na fita
complementar. O sítio para o TATA Box é variável, e corresponde a seqüências ricas em
adenina e timina.
Fontes:
1
Espeso et al., 1997;
2
Cubero e Scazzocchio, 1994;
3
Todd et al., 1998;
4
Butler et al.,
2002;
5
Santoro et al., 1998;
6
Mager e Kuijiff, 1995.
Além da análise computacional da seqüência regulatória, o estudo de promotores
utiliza diversas outras metodologias, como o sistema de gene repórter lacZ e o ensaio de
retardo da mobilidade eletroforética (EMSA), utilizadas também neste trabalho.
1.4.1 – Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética (EMSA)
O ensaio de retardo da mobilidade eletroforética (EMSA), metodologia também
conhecida como band shift, é uma das mais importantes abordagens experimentais para o
estudo da regulação da expressão gênica. A técnica é empregada para verificar se um extrato
16
protéico, proteína purificada ou proteína recombinante interage com uma determinada
seqüência de DNA. A estratégia fundamenta-se no fato de que a mobilidade eletroforética de
um ácido nucléico altera-se quando uma proteína se liga a ele. O ensaio detecta a formação in
vitro do complexo DNA-proteína e, para detectar o complexo, a sonda de DNA pode ser
marcada com radioatividade ou fluorescência. Nos ensaios clássicos, a proteína e o ácido
nucléico são incubados e a solução é submetida à eletroforese não desnaturante em gel de
poliacrilamida ou agarose. Em geral, o complexo DNA-proteína migra mais lentamente do
que o ácido nucléico livre.
Fragmentos clonados de DNA contendo cerca de 50 - 400 pb ou oligonucleotídeos
sintéticos de 20 - 70 nucleotídeos funcionam bem em EMSA, e apesar do DNA fita-dupla ser
freqüentemente utilizado, o DNA fita-simples também pode ser eficiente. Embora os longos
fragmentos de DNA apresentem seqüências regulatórias mais abrangentes, oligonucleotídeos,
que em geral contêm menos sítios de ligação, geram informações mais específicas. A escolha
das condições de obtenção do extrato protéico é governada pelo objetivo do estudo, e o
extrato protéico total ou nuclear é muito útil para a análise de elementos regulatórios do
promotor de um gene, embora a utilização de proteínas purificadas e proteínas recombinantes
revelem informações importantes sobre as interações (revisto por Laniel et al., 2001).
As interações DNA-proteína detectadas por EMSA não são necessariamente
específicas. Para discriminar um evento de ligação inespecífico de um específico são
realizados ensaios de competição. Nesses experimentos são utilizadas sondas não marcadas
(competidores específicos), idênticas às sondas marcadas. Se a interação inicial entre a sonda
marcada e a proteína for específica, o competidor específico adicionado à reação em
quantidades crescentes e superiores à sonda marcada irá se ligar preferencialmente à proteína,
e a visualização do complexo DNA-proteína será reduzida (revisto por Lin e Barbosa, 2002).
A figura 4 apresenta um esquema simplificado do princípio do EMSA.
17
Figura 4. Esquema ilustrativo do Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética – 1:
sonda livre; 2: sonda + proteína, ilustrando o complexo DNA-proteína, com maior massa
molecular; 3 e 4: sonda + proteína + competidor específico em concentração crescente,
ilustrando a redução da vizualização do complexo DNA-proteína, visto que a sonda marcada
tende a ficar na forma livre em função da competição com a sonda não marcada.
1.4.2– Sistema de Gene Repórter lacZ
O sistema de gene repórter é um método utilizado para se estudar a expressão gênica
permitindo avaliar o efeito que uma seqüência regulatória, artificialmente inserida a montante
do gene repórter, exerce sobre a transcrição deste último. A produção de proteína sintetizada
sob várias condições deve refletir a habilidade da seqüência regulatória inserida em promover
a transcrição. Os sistemas de gene repórter utilizados no estudo da expressão gênica incluem
os que codificam enzimas como cloranfenicol acetil-transferase, luciferase de vaga-lume,
fosfatase alcalina, proteína fluorescente verde e β-galactosidase bacteriana (revisto por Lin e
Barbosa, 2002).
A enzima β-galactosidase, codificada pelo gene lacZ da Escherichia coli, é um dos
sistemas repórter mais empregados para caracterizar sistemas regulatórios. A figura 5
apresenta o esquema ilustrativo do sistema gene repórter lacZ.
18
Figura 5. Esquema ilustrativo do sistema de gene repórter lacZ – A seqüência do
promotor em estudo sob a regulação de fatores de transcrição promove a transcrição do gene
lacZ, que codifica a proteína repórter β-galactosidase. O substrato X-gal presente no meio em
que o organismo transformado está sendo cultivado produz uma coloração azul ao ser clivado
pela β-galactosidase.
Conforme observamos na figura 6, no sistema de gene repórter lacZ a expressão desse
gene é governada pelo promotor em estudo, e a detecção da atividade de β-galactosidase pode
revelar a atividade promotora em diferentes condições.
1.5 – Utilização de Aspergillus nidulans como Hospedeiro Heterólogo para Estudo da
Regulação da Expressão Gênica
A transformação de microrganismos é uma importante estratégia para o estudo da
expressão gênica. Espécies de Aspergillus podem ser utilizadas como sistemas de expressão
para proteínas heterólogas, e utiliza-se a complementação homóloga de um marcador
auxotrófico. Para esse fim, freqüentemente são utilizados os genes pyrA de A. níger e argB de
A. nidulans, ambos considerados bons marcadores (revisto por Lenouvel et al., 2002). Em
nosso grupo de pesquisa, temos disponível uma linhagem de A. nidulans argB
-
, que apresenta
uma mutação no gene argB que a torna incapaz de ser cultivada em meio sem arginina.
A transformação eficiente de A. nidulans é uma ferramenta já descrita. Tilburn et al.
(1983) relataram a transformação de uma linhagem de A. nidulans que apresentava uma
deleção no gene da acetamidase. A transformação foi realizada mediante a incubação de
protoplastos, na presença de polietilenoglicol e CaCl
2
, com DNA plasmidial contendo o gene
19
funcional de acetamidase, sendo observada a integração desse DNA no genoma dos
transformantes. Além disso, o sistema de expressão da β-galactosidase, codificada pelo gene
lacZ de E. coli, também já foi descrito com sucesso em A. nidulans (van Gorcom et al., 1986),
demonstrando a viabilidade da fusão de seqüências regulatórias ao lacZ para estudos de
expressão gênica nesse hospedeiro. Punt et al. (1990) utilizaram o sistema de gene repórter
lacZ em A. nidulans e, realizando mutações no promotor, identificaram elementos na
seqüência promotora do gene gpdA desse organismo envolvidos na ativação transcricional. A
atividade da β-galactosidase foi mensurada a partir de extratos protéicos obtidos dos
transformantes cultivados em meio mínimo, sendo possível associar a atividade da β-
galactosidase a diferentes deleções no promotor.
É importante considerar também que há fatores inerentes ao sistema heterólogo que
podem interferir nos ensaios realizados, visto que o hospedeiro pode apresentar mecanismos
de regulação diferentes do modelo estudado. Em estudo realizado por Hsu et al. (2008), duas
das cinco construções utilizando o sistema gene repórter lacZ para analisar a expressão de
genes de lipases de C. albicans não induziram a atividade de β-galactosidase, sugerindo que
os fatores regulatórios necessários para expressão dos genes de C. albicans não estariam
presentes no hospedeiro, S. cerevisiae.
A. nidulans é um fungo ascomiceto, assim como P. brasiliensis. Ambos se apresentam
em clados relativamente próximos, conforme mostra o agrupamento de espécies de fungos
proposto pelo Fungal Genome Initiative (FGI) (Figura 6).
20
Figura 6. Agrupamento das espécies de fungos, de acordo com a proposta do Fungal
Genome Initiative (FGI) – A topologia da árvore representa a classificação de proximidade
entre os taxons selecionados. Os ramos não representam a divergência evolucionária. A.
nidulans e P. brasiliensis estão indicados pelas setas vermelhas. Modificado de Birren, 2003.
A indisponibilidade de um protocolo eficiente e reprodutível para transformação
genética de P. brasilienisis, a viabilidade de transformação de A. nidulans e a eficácia do
sistema gene repórter lacZ nesse organismo, a disponibilidade de uma linhagem argB
-
para
utilização de um marcador auxotrófico, e a relativa proximidade entre A. nidulans e P.
brasiliensis sustentaram nossa escolha por A. nidulans como hospedeiro heterólogo para
estudo da regulação da expressão gênica.
21
2 – OBJETIVOS
2.1 – Objetivo Geral
Os estudos de promotores são importantes para compreensão dos mecanismos de
regulação da transcrição. Não há dados disponíveis sobre a estrutura e regulação de
promotores de P. brasiliensis, de forma que a caracterização da seqüência promotora dos
genes 1,3-β-glicana sintase (Pbfks1) e quitina sintase 4 (Pbchs4) é objetivo deste trabalho, que
poderá agregar informações sobre a biologia desse fungo patogênico.
2.2– Objetivos Específicos
1) Avaliar a atividade promotora do gene Pbfks1 utilizando o sistema de gene repórter
lacZ em A. nidulans, verificando diferenças na produção da β-galactosidase quando os
transformantes são crescidos em diferentes fontes de carbono;
2) Avaliar a expressão do gene Pbfks1 em culturas de micélio e levedura, e em diferentes
fontes de carbono;
3) Avaliar se os sítios de ligação identificados na região promotora dos genes Pbfks1 e
Pbchs4 interagem com fatores de transcrição presentes nos extratos protéicos de
micélio e levedura de P. brasiliensis;
4) Avaliar se o sítio de ligação para o fator de transcrição PacC identificado na região
promotora do gene Pbchs4 é funcional e interage com a proteína recombinante que
contém o domínio de ligação ao DNA desse fator de transcrição.
22
3 – MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 – Soluções e Soluções Tampão
3.1.1 – Soluções para Meios de Cultura de A. nidulans
Solução de Elementos Traço
Na
2
B
4
O
7
.10H
2
O 104,80 μM
CuSO
4
.5H
2
O 1,60 mM
FeSO
4
.7H
2
O 2,57 mM
Na
2
MoO
4
.2H
2
O 3,30 mM
ZnSO
4
.7H
2
O 27,80 μM
O volume foi completado com H
2
O destilada, e o pH ajustado para 2,0.
Solução de Sais
KCl 0,35 M
MgSO
4
.7H
2
O 0,04 M
KH
2
PO
4
0,56 M
Solução de Elementos Traço 50,00 mL
O volume foi completado com H
2
O destilada, e a solução autoclavada a 120°C,
durante 15 minutos.
Soluções Estoque de Suplementos (100X)
Cada um dos suplementos foi dissolvido em H
2
O bidestilada, e todas as soluções
esterilizadas por filtração em membrana de nitrocelulose com poros de 0,2 μm (Millipore). As
soluções foram preparadas nas seguintes concentrações (100X):
23
Solução Estoque de Tartarato de Amônio 9,20% (p/v)
Solução Estoque de Ácido Paraminobenzóico 0,02% (p/v)
Solução Estoque de D-biotina 0,01% (p/v)
Solução Estoque de L-metionina 2,98% (p/v)
Solução Estoque de Arginina 5,30% (p/v)
3.1.2 – Soluções Tampão para Transformação de A. nidulans
O volume das soluções foi completado com H
2
O destilada. A esterilização foi
realizada por filtração em membrana de nitrocelulose com poros de 0,2 μm (Millipore). As
soluções foram preparadas nas seguintes concentrações:
Solução A (para Tampão de Transformação 1)
MgSO
4
1,2 M
Na
2
HPO
4
10,0 mM
Solução B (para Tampão de Transformação 1)
MgSO
4
1,2 M
NaH
2
PO
4
10,0 mM
Tampão de Transformação 1
MgSO
4
1,2 M
Na
2
PO
3
10,0 mM
Para o preparo do tampão de transformação 1 misturou-se 80 mL da solução A com
aproximadamente 20 mL da solução B, até atingir o pH 5,8.
24
Tampão de Transformação 2
Sorbitol 0,6 M
Tris-HCl 100,0 mM
Ajustou-se o pH para 7,0.
Tampão de Transformação 3
Sorbitol 1,0 M
Tris-HCl 10,0 mM
Ajustou-se o pH para 7,5.
Tampão de Transformação 4
Sorbitol 1,0 M
Tris-HCl 10,0 mM
CaCl
2
10,0 mM
Ajustou-se o pH para 7,5.
Tampão de Transformação 5
PEG 8000 60,0 % (p/v)
Tris-HCl 10,0 mM
CaCl
2
10,0 mM
Ajustou-se o pH para 7,5.
25
3.1.3 – Soluções para Extração de DNA Total dos Transformantes de A. nidulans
Solução de Sais (extração de DNA)
Tris-HCl pH 7,5 100,0 mM
EDTA 5,0 mM
NaCl 1,4 M
DTT 1,0 mM
Imediatamente antes da utilização, adicionar RNAse para a concentração final de 100
g/mL.
Clorofil
Clorofórmio 24,0 v
Álcool Isoamílico 1,0 v
A solução foi homogenizada repetidas vezes com Tris-HCl 100 mM pH 7,6.
Clorofane
Fenol (equilibrado em pH 7,6) 1,00 v
Clorofórmio 1,00 v
ß-hidroxiquinolina 0,05% (p/v)
Equilibrou-se a solução com Tris-HCl 100 mM pH 7,6.
Tampão TE
Tris-HCl pH 8,0 10,0 mM
EDTA 1,0 mM
26
3.1.4 – Soluções para Extração de Proteínas de P. brasiliensis
Tampão de Lise
HEPES pH 7,5 25,0 mM
KCL 50,0 mM
MgCl
2
5,0 mM
EDTA 0,1 mM
Glicerina (v/v) 10,0 % (v/v)
DTT 0,5 mM
PMSF 1,0 mM
Pepstatina 1,0 μM
Leupeptina 0,6 μM
O DTT e os inibidores de protease PMSF, Pepstatina e Leupeptina foram adicionados
no momento da utilização do tampão.
Tampão de Eluição do Extrato Protéico
HEPES pH 7,9 25,0 mM
KCl 50,0 mM
MgCl
2
50,0 mM
EDTA 1,0 mM
DTT 1,0 mM
O DTT foi adicionado no momento da utilização do tampão
3.1.5 – Soluções para Eletroforese em Gel de Poliacrilamida Desnaturante - SDS-PAGE
Solução de Policrilamida 30% (p/v)
Diluiu-se em H
2
O destilada acrilamida e bisacrilamida na proporção de 29:1,
respectivamente.
27
Tampão de amostra (2X)
Tris-HCl 200,0 mM pH 6,8
SDS 4,0% (v/v)
β-mercaptoetanol 4,0% (v/v)
Glicerol 20,0% (v/v)
Azul de bromofenol 0,1% (p/v)
Foram preparadas alíquotas de 1 mL, estocadas a -20°C.
Tampão de corrida (5X)
Tris Base 125,00 mM
Glicina 0,96 M
SDS 0,50 % (p/v)
Solução corante
Azul brilhante de Comassie R-250 0,25 % (p/v)
Metanol 30,00 % (v/v)
Ácido acético glacial 7,00 % (v/v)
Dilui-se em H
2
O destilada e filtrou-se em papel de filtro.
Solução descorante
Metanol 30,0 % (v/v)
Ácido acético glacial 7,0 % (v/v)
28
3.1.6 – Soluções para o Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética (EMSA)
Solução de Poliacrilamida
Acrilamida e bisacrilamida foram diluídas em H
2
O Milli Q na proporção de 30,00:0,36
(p/v), respectivamente, e a solução filtrada em membrana de nitrocelulose com poros de 0,45
μm (Millipore).
Solução de Alta Concentração de Sal para Purificação da Sonda
Tris Base 0,06 g
EDTA 0,02 g
NaCl 4,30 g
O volume foi completado com H
2
O destilada para 50 mL.
TEB 10X
Tris Base 54,0 g
Ácido Bórico 27,5 g
EDTA 15,0 g
O volume foi completado com H
2
O destilada para 500 mL, e ajustou-se o pH para 8,
(com Tris ou ácido bórico).
3.2 – Meios de Cultura
Meio LB
Extrato de Levedura 0,5 % (p/v)
Peptona de Caseína 1,0 % (p/v)
NaCl 1,0 % (p/v)
29
O volume foi completado com H
2
O destilada, e o pH ajustado para 7,0. Para meio
sólido, foi utilizado 1,4% (p/v) de ágar. A esterilização foi realizada em autoclave a 120°C,
durante 15 minutos.
Meio Fava-Neto
Protease peptona 0,3 % (p/v)
Peptona 1,0 % (p/v)
Extrato de carne 0,5 % (p/v)
NaCl 0,5 % (p/v)
Glicose 4,0 % (p/v)
Extrato de levedura 0,5 % (p/v)
Ágar 1,6 % (p/v)
O volume foi completado com H
2
O destilada, e o pH ajustado para 7,0. A esterilização
foi realizada em autoclave a 120°C, durante 15 minutos.
Meio YPD
Extrato de levedura 1,0 % (p/v)
Peptona de Caseína 2,0 % (p/v)
Glicose 2,0 % (p/v)
O volume foi completado com H
2
O destilada, e o pH ajustado para 7,2. A esterilização
foi realizada em autoclave a 120°C, durante 15 minutos.
Meio Mínimo para A. nidulans
Solução de Sais 2,0 % (v/v)
Glicose 1,0 % (p/v)
30
O volume foi completado com água de torneira, e o pH ajustado para 6,8. Para meio
sólido, foi utilizado 2% (p/v) de ágar. A esterilização foi realizada em autoclave a 120°C,
durante 15 minutos.
Meio Mínimo Base para Transformação de A. nidulans
Solução de Sais 2,0 % (v/v)
Glicose 1,0 % (p/v)
Sacarose 1,0 M
Ágar 2,0 % (p/v)
O volume foi completado com água de torneira, e o pH ajustado para 6,8. A
esterilização foi realizada em autoclave a 120°C, durante 15 minutos.
Meio Mínimo de Cobertura para Transformação de A. nidulans
Solução de Sais 2,00 % (v/v)
Glicose 1,00 % (p/v)
Sacarose 1,00 M
Agarose 0,35 % (p/v)
O volume foi completado com água de torneira, e o pH ajustado para 6,8. A
esterilização foi realizada em autoclave a 120°C, durante 15 minutos.
Meio Completo para A. nidulans
Solução de Sais 2,00 % (v/v)
Glicose 1,00 % (p/v)
Caseína hidrolisada 0,15 % (p/v)
Peptona 2,00 % (p/v)
Extrato de levedura 0,05 % (p/v)
31
O volume foi completado com água de torneira, e o pH ajustado para 6,8. A
esterilização foi realizada em autoclave a 120°C, durante 15 minutos.
3.3 – Linhagens Microbiológicas
3.3.1 – Escherichia coli
Para a transformação com o vetor gene repórter para preparação de plasmídeos em
larga escala foi utilizada a linhagem bacteriana E. coli XL10-Gold. Para a expressão do
domínio de ligação ao DNA da proteína PacC de P. brasiliensis foi utilizada a linhagem
bacteriana Escherichia coli BL21(DE3). Células termo-competentes das duas linhagens foram
previamente preparadas.
3.3.2 – Aspergillus nidulans
A linhagem de A. nidullans utilizada para transformação com o vetor gene repórter foi
a argB
-
: pabaA1, biA1, methG1, argB. Essa linhagem apresenta o gene argB mutado, o que
impossibilita o crescimento do fungo na ausência de arginina. O fungo foi cultivado em meio
mínimo ágar suplementado com tartarato de amônio, ácido paraminobenzóico, D-biotina, L-
metionina e arginina, todos na concentração final de 1X, e incubado a 30°C durante
aproximadamente 4 dias, até a esporulação. Os transformantes mitoticamente estáveis foram
mantidos nas mesmas condições, mas sem suplementação de arginina.
3.3.3 – Paracoccicidioides brasiliensis
Para obtenção de culturas de levedura e de micélio de P. brasiliensis, foi utilizado o
estoque de levedura do isolado Pb01 disponível no Laboratório de Biologia Molecular da
UnB. Foi feito um inóculo de leveduras na concentração final de 10
6
células/mL em meio
YPD, e a cultura foi crescida a 37°C sob agitação de 250 rpm, por uma semana. Para obtenção
de micélio, o mesmo inóculo de leveduras foi realizado, mantendo-se a cultura a 24°C por
32
uma semana para ocorrência da transição dimórfica, com um cultivo adicional de uma semana
para o crescimento do micélio.
3.4 – Vetor Gene Repórter
O vetor gene repórter 42B da série pAN923, utilizado na transformação de A. nidulans
neste trabalho, foi construído por van Gorcom et. al. (1986). O plasmídeo contém um sítio
para a enzima de restrição Bam HI que permite a clonagem do inserto de interesse a montante
do gene lacZ de E. coli. Após a transformação da linhagem argB
-
de A. nidulans, o vetor que
carrega o gene argB é integrado com uma alta eficiência ao lócus argB do genoma,
geralmente como uma cópia única (van Gorcom, 1986). A figura 7 apresenta em esquema do
vetor gene repórter utilizado em nosso trabalho.
Figura 7. Esquema dos vetores da série pAN923 – Fragmentos de promotores podem ser
clonados a montante do lacZ. Linhas espessas representam DNA de Aspergillus; linhas finas
representam DNA de E. coli. B, Bam HI; Bg, Bgl II; E, Eco RI; H, Hind III; N, Nru I; P, Pst I;
S, Sal I; Sp, Sph I; X, Xho I; Xb, Xba I. Retirado de van Punt et al., 1990.
Em estudos anteriores do nosso grupo de pesquisa, com a participação de Thiago
Daison e Carine Pessoa, foram desenhados oligonucleotídeos para a amplificação da região
promotora dos genes 1,3-β-glicana sintase (Pbfks1) e de quitina sintase 4 (Pbchs4) de P.
brasiliensis, criando nas extremidades 5’ e 3’ sítios para a enzima de restrição Bam HI. As
33
seqüências foram clonadas no vetor pGEM-T, seqüenciadas e transferidas para o vetor gene
repórter 42B da série pAN923, a montante do gene lacZ.
3.5 – Sistema de Gene Repórter lacZ para Análise da Região Promotora do gene 1,3-β-
glicana sintase de P. brasiliensis
3.5.1 – Preparação de Células de E. coli Termo-Competentes
Foi feito um pré-inóculo de uma colônia individual de E. coli XL10-Gold em 5 mL de
meio LB com ampicilina a 100 μg/mL, incubado por 18 horas a 37°C sob agitação de 250
rpm. A partir do pré-inóculo, foi feito um inóculo de 500 μL em 50 mL de meio LB, com
incubação a 37°C sob agitação de 250 rpm até atingir a OD
600
de 0,2 a 0,3 (início da fase
exponencial de crescimento bacteriano). Coletou-se a cultura por centrifugação a 5.000 g a
4°C por 10 minutos, descartando-se o sobrenadante e ressuspendendo-se o sedimento com
suave agitação em 10 mL de solução de CaCl
2
100 mM e glicerol 15% gelada. Todo o
procedimento foi realizado mantendo a suspensão de células no gelo. O material foi
submetido a uma centrifugação nas mesmas condições anteriores. Ressuspendeu-se o
sedimento em 1 mL da solução CaCl
2
100 mM e glicerol 15% gelada. Foram feitas alíquotas
de 100 μL para estocagem a -80°C.
3.5.2 – Transformação de E. coli com o Vetor Gene Repórter
A transformação da linhagem XL10-Gold de E. coli com o vetor gene repórter
contendo a região promotora do gene Pbfks1 foi realizada por choque térmico. A 100 μl de
células competentes adicionou-se gentilmente 50 ng do plasmídeo e incubou-se no gelo por 1
hora. Posteriormente, as células foram incubadas em banho a 42°C por 90 segundos e,
imediatamente após esse período, foram transferidas para o gelo. Adicionou-se 1 mL de meio
LB à mistura de transformação, que foi incubada a 37°C sob agitação de 250 rpm por 1 hora.
Foram semeados 200 μL da solução de transformação e o restante do material foi
centrifugado a 3.000 g por 5 minutos. O sobrenadante foi descartado e as células
ressuspendidas em 350 μL de meio LB, semeando-se 200 μL e 150 μL da ressuspensão. As
três semeaduras foram feitas em meio LB ágar contendo ampicilina a 100 μg/mL, com
34
posterior incubação em estufa a 37°C por 16 horas. Os clones selecionados foram inoculados
em 5 mL de meio LB contendo ampicilina a 100 μg/mL e incubados a 37°C sob agitação de
250 rpm por 16 horas. Posteriormente, para estocagem a -80°C, foram utilizados 500 μL de
cultura armazenados com 500 μL de glicerol 70% estéril.
3.5.3– Preparação de Plasmídeos em Larga Escala
A partir das células transformadas com o vetor gene repórter contendo a região
promotora do gene Pbfks1, foi realizada uma preparação de plasmídeos em larga escala. Foi
feito um pré-inóculo de 10 μL das células armazenadas em glicerol em 5 mL de meio LB,
contendo ampicilina a 100 μg/mL, e incubou-se a 37°C sob agitação de 250 rpm por 16 horas.
Posteriormente, foi feito um inóculo de 400 μL da cultura crescida a partir do pré inóculo em
500 mL de meio LB, contendo ampicilina a 100 μg/mL, e incubou-se a 37°C sob agitação de
250 rpm por 16 horas. A preparação de plasmídeos em larga escala foi feita utilizando-se o
Plasmid Maxi Kit (QIAGEN), conforme instruções do fabricante. O DNA plasmidial obtido
na preparação foi posteriormente utilizado para a transformação genética de A. nidulans.
3.5.4 – Digestão do Vetor Gene Repórter
O produto obtido na preparação de plasmídeos em larga escala foi digerido com a
enzima de restrição Bam HI (Promega) para confirmação do perfil de restrição, esperando-se
a liberação do inserto correspondente ao fragmento do promotor do gene Pbfks1 clonado no
vetor gene repórter. A reação de digestão foi realizada em um volume final de 20 μL,
contendo 1 μg do vetor, 10 unidades da enzima Bam HI e 1X do tampão da enzima. A reação
foi incubada em banho à 37°C por 3 horas. A digestão foi analisada por eletroforese em gel de
agarose 0,8% corado com brometo de etídeo 0,5 μg/mL.
35
3.5.5 – Preparação de Protoplastos e Transformação de A. nidulans com o Vetor Gene
Repórter
Para preparação de protoplastos, os esporos de A. nidulans crescido em placa contendo
o meio mínimo foram coletados com Tween 80 0,01%. Foi feito um inóculo de 10
8
esporos
em 250 mL de meio mínimo suplementado com as soluções de tartarato de amônio, ácido
paraminobenzóico, D-biotina, L-metionina e arginina, todos na concentração final de 1X, com
posterior incubação a 30°C sob agitação de 250 rpm por 16 horas. O micélio foi coletado por
filtração em tecido estéril e lavado com água de torneira autoclavada gelada, e em seguida
ressuspendido em 10 mL de Tampão de Transformação 1 pré-resfriado. O micélio foi
submetido a uma vigorosa agitação em tubo Falcon a fim de desfazer os grumos e otimizar o
acesso das enzimas às células na etapa posterior. Após ser transferido para frasco Erlenmeyer,
adicionou-se 2 mL de solução estéril de Lysing Enzymes from Trichoderma harzianum
(SIGMA) a 20 mg/mL em Tampão de Transformação 1, e 300 μL de solução de albumina
sérica bovina estéril a 10 mg/mL, também em Tampão de Transformação 1. Após incubação
de 5 minutos no gelo, o micélio foi incubado a 30°C sob agitação de 250 rpm por 2 horas,
sendo ressuspendido com pipeta de 5 mL a cada 30 minutos para otimizar a lise da parede
celular. A formação dos protoplastos foi observada ao microscópio óptico. Após o período de
incubação, foi feita uma filtração em gaze e posteriormente outra em lã de vidro para
aumentar o grau de pureza da solução de protoplastos, removendo restos de micélio. Os
protoplastos foram então transferidos para tubo Corex, e adicionados cuidadosamente 10 mL
de Tampão de Transformação 2. As centrifugações posteriores foram realizadas em rotor
swing-out na centrífuga SORVAL (RC-5 Super Speed Refrigerated). Foi realizada uma
centrifugação a 670 g por 10 minutos a 4°C para formação de um gradiente, de forma a obter
os protoplastos na interface do tampão. Os protoplastos foram coletados utilizando-se pipeta
Pasteur de vidro e transferidos para um novo tubo Corex. Foram adicionados 15 mL de
Tampão de Transformação 3 seguindo-se uma centrifugação a 1.200 g por 10 minutos a 4°C.
O sobrenadante foi descartado e o sedimento lavado duas vezes em 15 mL de Tampão de
Transformação 4, submetido a centrifugação de 1.200 g por 10 minutos a 4°C.
Posteriormente, os protoplastos foram ressuspendidos em um volume apropriado de Tampão
de Transformação 4 de modo a se obter uma concentração de 10
5
a 10
6
protoplastos/μL.
36
Para a transformação genética de A. nidulans, 10 μg de vetor gene repórter contendo a
região promotora do gene Pbfks1, previamente dissolvidos em Tampão de Transformação 4,
foram misturados cuidadosamente com 100 μL da solução de protoplastos. Foram
adicionados 50 μL de Tampão de Transformação 5 e a mistura foi realizada gentilmente, com
posterior incubação no gelo por 20 minutos. Mais 0,5 mL de Tampão de Transformação 5
foram adicionados cuidadosamente, e em seguida foi feita uma nova incubação à temperatura
ambiente por 20 minutos. A solução de transformação foi centrifugada a 13.000 g por 5
minutos, e o sobrenadante removido por aspiração. Uma nova centrifugação a 13.000 g por 1
minuto foi realizada para remoção do tampão remanescente. A transformação foi
ressuspendida em 200 μL de Tampão de Transformação 4 e adicionada a 3 mL de meio
mínimo de cobertura fundido e mantido a 45°C. O meio foi vertido sobre placas de meio
mínimo base e incubado em estufa a 30°C por 3-4 dias para crescimento dos transformantes.
Para transformação com o vetor do sistema gene repórter, e também para a transformação
com vetor sem inserto como controle, o meio mínimo de cobertura e o meio mínimo base
foram suplementados com as soluções de tartarato de amônio, ácido paraminobenzóico, D-
biotina, L-metionina e arginina, todos na concentração final de 1X. Para o teste da viabilidade
de protoplastos, o protocolo de transformação foi realizado sem adição de DNA, e os meios
suplementados com todos os requerimentos auxotróficos descritos acima, acrescentando-se
arginina.
3.5.6 – Ensaio de Estabilidade Mitótica
A fim de selecionar transformantes mitoticamente estáveis, foram realizadas 4
semeaduras em meio mínimo ágar sem arginina, alternadas por semeaduras em meio mínimo
ágar com arginina. Dessa forma, espera-se selecionar os transformantes que tenham integrado
o DNA plasmidial no genoma, visto que mantiveram a marca de seleção na ausência de
pressão seletiva. Os suplementos tartarato de amônio, ácido paraminobenzóico, D-biotina, L-
metionina foram utilizados na concentração final de 1X, assim como a arginina, quando
necessário.
37
3.5.7 – Extração de DNA Total dos Transformantes de A. nidulans
Para extração de DNA total, os esporos dos transformantes crescidos em placas
contendo o meio mínimo foram inoculados em 50 mL de meio completo e incubados sob
agitação de 250 rpm, a 30°C, durante a noite.
O micélio foi filtrado e macerado com N
2
líquido em gral e pistilo de porcelana. Foram
adicionados 500 μL de solução de sais e o material foi submetido a uma vigorosa agitação.
Posteriormente, o macerado foi incubado a 75°C por 10 minutos, e novamente submetido a
uma agitação. Foram adicionados 500 μL de clorofane, e após a homogeneização o material
foi centrifugado 13.000 g por 10 minutos. A fase aquosa foi coletada e foi adicionado 1 mL de
clorofil, com centrifugação nas mesmas condições anteriores. A extração com o clorofil foi
realizada 2 vezes . O DNA foi precipitado em 1 mL de isopropanol e resuspendido em tampão
TE.
3.5.8 – Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) para Amplificação de um Fragmento do
Promotor do Gene Pbfks1 dos Transformantes de A. nidulans
Para a confirmação da transformação de A. nidulans com o vetor gene repórter
contendo a região promotora do gene Pbfks1, o DNA extraído dos transformantes foi
submetido a uma PCR. Utilizou-se um conjunto de iniciadores específicos para a amplificação
de um fragmento do promotor do gene Pbfks1 (tabela3).
Tabela 3. Oligonucleotídeos utilizados na PCR para amplificação de um fragmento do
promotor do gene Pbfks1 dos transformantes de A. nidulans – As sequências dos
oligonucleotídeos forward e reverse são apresentadas.
Os oligonucleotídeos foram desenhados a partir do DNA genômico de P. brasiiensis, e apresentam
sítios artificialmente inseridos para a enzima de restrição Bam HI requeridos para a clonagem no vetor
gene repórter. A Tm (melting temperature) foi obtida pela ferramenta Oligo Analyser, disponível em
http://www.idtdna.com/analyzer/Applications/OligoAnalyzer/
.
38
A reação de PCR foi realizada em um volume final de 25 μL, contendo 1 μL de DNA
extraído (item 3.5.7), 0,2 mM de dNTPs; 0,8μM dos iniciadores específicos para o promotor,
0,5 U da enzima Taq polimerase (CENBIOT), 1X de tampão da enzima (CENBIOT), e 2,0
mM de cloreto de magnésio (CENBIOT). As reações foram submetidas ao seguinte programa
no termociclador: 1) 94°C/2 min; 2) 94°C/40 seg; 3) 55°C/40 seg; 4) 72°C/1 min; 5) 30
repetições a partir do passo 2; 6) 72°C/5 min; 7) 4°C (fim da PCR).
Os produtos da PCR foram analisados em eletroforese em gel de agarose 0,8% corado
com brometo de etídeo (0,5 μg/mL).
3.5.9 – Ensaio em Placa da Atividade de β-galactosidase
Os transformantes de A. nidulans que apresentaram resultado positivo na amplificação
de um fragmento do promotor d o gene Pbfks1 foram submetidos ao ensaio em placa para
detecção da atividade de β-galactosidase. Os transformantes foram cultivados em meio
mínimo ágar suplementado com tartarato de amônio, ácido paraminobenzóico, D-biotina, L-
metionina, todos na concentração final de 1X, e incubados a 30°C durante aproximadamente
24 horas para obtenção de micélio. Posteriormente, pequenos fragmentos de micélio foram
transferidos com ajuda de palito estéril para as placas contendo meio mínimo ágar sem
glicose, com acréscimo dos suplementos descritos acima e X-gal a 40 μg/mL. Foram testadas
como fontes de carbono: glicose e acetato de sódio na concentração final de 2%. Cada fonte
de carbono foi adicionada ao meio durante a preparação das placas. Os transformantes foram
incubados a 30°C por aproximadamente 3 dias.
3.6 – Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética para Análise da Região
Promotora dos Genes 1,3-β-glicana sintase e quitina sintase 4 de P. brasiliensis
3.6.1 – Extração de Proteínas de P. brasiliensis
As culturas de levedura e de micélio (item 3.3.3) foram centrifugadas a 3.000 g por 5
minutos, e o sobrenadante descartado. As células foram maceradas com nitrogênio líquido em
39
gral e pistilo de porcelana, e imediatamente foram adicionados 4 mL de tampão de lise. O
material foi submetido a uma vigorosa agitação em tubo Falcon com pérolas de vidro a fim de
otimizar a quebra da parede celular. Posteriormente, o material foi sonicado na potência de
70% com 2 pulsos de 59 segundos, com 3 repetições, mantendo-se a preparação sempre no
gelo. Em seguida, foi adicionado (NH
4
)
2
SO
4
na concentração final de 0,4 M, e o material
submetido a uma centrifugação a 25.000 g por 90 minutos, a 4°C. Após a centrifugação, o
sobrenadante foi coletado e adicionou-se (NH
4
)
2
SO
4
em pó na concentração final de 0,405
g/mL, seguindo-se uma nova centrifugação a 7.600 g por 20 minutos a 4°C. O sobrenadante
foi descartado e o precipitado ressuspendido em 2 mL de tampão de eluição do extrato
protéico. A coluna de dessalinização (PD 10 column Pharmacia Biotech) foi equilibrada com
25-30 mL de tampão de lise, tomando-se o cuidado de não deixar a coluna secar. Os 2 mL da
preparação de extrato protéico foram então aplicados na coluna. O material foi eluído com 3,5
mL do tampão de lise, e as frações coletadas em tubo eppendorf contendo glicerol na
concentração final na ordem de 20%.
3.6.2 – Produção e Purificação do Domínio de Ligação ao DNA da Proteína PacC de P.
brasiliensis
Para a produção da proteína recombinante PacCPb-GST (39,2 kDa: 13,2 kDa do
domínio de ligação ao DNA da proteína PacC de P. brasiliensis + 26 kDa da proteína
Glutationa-S-transferase), a clonagem do domínio de ligação ao DNA da proteína PacC de P.
brasiliensis no vetor de expressão foi realizada previamente por Thiago de Melo em nosso
grupo de pesquisa, de acordo com as seguintes especificações: a região correspondente ao
domínio de ligação ao DNA da proteína PacC de P.brasiliensis foi amplificada a partir do
cDNA de P.brasiliensis (o iniciador foward apresentava um sítio de Bam HI e o iniciador
reverse um sítio de Xho I). O amplicon de P.brasiliensis possui 349 pb. O inserto foi clonado
inicialmente no pGEM-T, seqüenciado e subclonado no vertor de expressão pGEX-4T2, por
meio de uma clonagem direcionada Bam HI/Xho I.
Preparo de células competentes e transformação
Para a produção da proteína recombinante PacCPb-GST foi utilizada a linhagem
bacteriana E. coli BL21(DE3). Esta linhagem bacteriana não possui marca de seleção.
40
Portanto, os meios de cultivo para manutenção da cultura e para a preparação de células
competentes foram preparados sem antibiótico. Para transformação com o vetor de expressão
pGEX-4T2 (contendo a construção PacCPb-GST), as alíquotas de células competentes de
BL21(DE3) foram preparadas na hora, não se utilizando estoques congelados. Utilizou-se o
protocolo padrão para preparação de células competentes e transformação por choque térmico
(semelhante aos itens 3.5.1 e 3.5.2).
Seleção dos clones produtores
Foram preparadas placas de meio LB ágar, uma contendo ampicilina (100 µg/mL) e a
segunda contendo ampicilina e 1 mM de IPTG. Os clones transformantes foram semeados nas
duas placas, e estas armazenas a 37ºC por 6-7 horas. Os clones que apresentaram menor
crescimento na placa com IPTG, mas que cresceram normalmente na placa apenas com
ampicilina, foram selecionados para o pré–inóculo (4 clones). Os pré-inóculos foram
realizados em frasco de cultura contendo 4 mL de meio LB suplementado com ampicilina
(100 µg/mL), e incubados a 37 ºC por 6 horas, sob agitação. Foram transferidos 50 µL do pré-
inóculo para frasco contendo 50 mL de meio LB suplementado com ampicilina (100 µg/mL),
com posterior incubação sob agitação a 250 rpm, a 37 ºC durante a noite. Em 250 mL de meio
LB (em frasco de 1.000 mL), suplementado com ampicilina (100 µg/mL), foram inoculadas
as bactérias crescidas durante a noite (escolhidos 2 dos 4 inóculos da noite anterior) para uma
OD
600
= 0,2 – 0,3. Os inóculos foram incubados a 37 ºC até que a OD
600
atingisse 0,6. A
indução da expressão protéica foi feita pela adição de IPTG 0,1 mM final, com incubação a
30ºC por 5 horas, sob agitação de 250 rpm. As culturas foram centrifugadas a 3.000 g a 4 ºC,
por 10 minutos.
Equilíbrio da Coluna de GST-Sefarose (GE Healthcare) – GSTrap FF 1mL
A coluna foi lavada com 25 mL de tampão de equilíbrio [PBS pH 7,3 (NaCl 140 mM;
KCl 2,7 mM; Na
2
HPO
4
10 mM; KH
2
PO
4
1,8 mM)] a uma taxa de 2 mL/min. O sedimento de
células obtido a partir dos clones produtores foi ressuspendido em 4 mL de tampão de
equilíbrio, adicionando-se inibidores de protease (Pepstatina 1 µM, Leupeptina 2 µM, PMSF
10 µM) imediatamente antes do uso, e transferido para tubo de centrífuga de 40 mL.
Adicionou-se 0,1 V de uma solução de 10 mg/mL de lisozima em 25mM de Tris-HCl pH 8.0.
41
Foi realizada uma sonicação da solução nas seguintes condições: potência 40%, pulse on: 59
segundos, pulse off: 2 segundos, mantendo-se o tubo no gelo. O procedimento foi repetido 2
vezes. A suspensão foi centrifugada a 2.350 g por 10 min, a 4 ºC. O sobrenadante foi filtrado
em membrana de 0,45 µM e transferindo para tubo Falcon novo. Uma alíquota do lisado
celular foi guardada para análise posterior em gel de policacrilamida.
Recuperação das proteínas recombinantes
A solução de proteínas filtrada foi aplicada na coluna de GST-sefarose a uma taxa de
0,5-1 mL/min. Sugere-se, caso a solução esteja muito viscosa, que a amostra seja diluída em
PBS contendo os inibidores de protease (conforme a etapa seguinte). A coluna foi lavada com
20 mL de PBS contendo inibidores de protease (Pepstatina 1 µM, Leupeptina 2 µM, PMSF 10
µM), adicionados imediatamente antes do uso. A lavagem da coluna foi feita a uma taxa de 1
mL/min. As proteínas foram eluídas com 5-10 mL de Tampão de Eluição (Tris-HCl 50 mM,
pH 8,0; Glutationa reduzida 10 mM), contendo inibidores de protease (Pepstatina 1 µM,
Leupeptina 2 µM, PMSF 10 µM), adicionados imediatamente antes do uso. As frações foram
coletadas em tubo tipo eppendorf contendo glicerol (a concentração final de glicerol deve ser
da ordem de 20%). As alíquotas foram estocadas a -80°C. A análise das proteínas foi feita em
gel de poliacrilamida SDS-PAGE.
3.6.3 – Eletroforese em Gel de Poliacrilamida Desnaturante - SDS-PAGE
A análise de proteínas em gel de poliacrilamida SDS-PAGE foi realizada conforme as
condições descritas por Azevedo et al., 2003. A preparação do gel de poliacrilamida foi
realizada de acordo com o seguinte protocolo:
Reagente
Gel Separador 12% Gel Concentrador 5%
H
2
O destilada 3,30 mL 3,40 mL
Acrilamida/Bisacrilamida 30% (29:1) 4,00 mL 0,83 mL
Tris-HCl 1,5 M pH 8,8 2,50 mL -
Tris-HCl 1,0 M pH 6,8 - 0,63 mL
SDS 10% 100,00 µL 50,00µL
TEMED 4,00 µL 5,00 µL
Persulfato de amônio 10% 100,00 µL 50,00 µL
42
Para montagem do gel, primeiramente foi realizada a polimerização do gel separador,
(preenchendo aproximadamente 2/3 da placa), cobrindo a superfície com butanol. Após a
polimerização, o butanol foi descartado e a placa lavada com H
2
O destilada. Em seguida, foi
realizada a polimerização do gel concentrador. Após a polimerização, a cuba foi preenchida
com tampão de corrida 1X e os poços do gel foram lavados exaustivamente com esse tampão
a fim de retirar resíduos de poliacrilamida não polimerizada. As amostras de proteínas foram
fervidas em tampão de amostra 1X por 5 minutos, e aplicadas no gel. A eletroforese procedeu
a 25 mA até que o azul de bromofenol, presente no tampão de amostra, começasse a sair da
placa. Após a corrida eletroforética, o gel foi mantido na solução corante durante a noite.
Posteriormente, o gel foi lavado com solução descorante, trocando-se a solução até que a
resolução do gel fosse satirfatória para vizualização.
3.6.4 – Análise da Seqüência Promotora dos Genes Pbfks1 e Pbchs4 e Desenho das
Sondas para EMSA
A análise da seqüência promotora dos genes Pbfks1 (número de acesso no GenBank
AF148715) e de Pbchs4 (número de acesso no GenBank EF654132) foi realizada visando a
busca de sítios para os fatores de transcrição PacC, CreA e FacB, e também para os elementos
de resposta ao estresse (STRE) e para os elementos de resposta ao choque térmico (HSE).
Submetemos a seqüência dos oligonucleotídeos utilizados como sondas para análise no site
TESS (Transcription Element Search System, disponível em http://www.cbil.upenn.edu/cgi-
bin/tess/tess). Essa ferramenta prediz sítios de ligação para fatores de transcrição presentes na
seqüência submetida, utilizando os bancos de dados TRANSFAC, JASPAR, IMD, e/ou
CBIL-GibbsMat. O resultado fornecido pelos bancos de dados foi analisado para triagem em
busca de sítios que de fato sejam relevantes para o organismo em estudo, visto que os
resultados fornecem sítios para fatores de transcrição de diversos organismos.
Para cada sonda referente à região promotora dos genes Pbfks1 ou Pbchs4, foram
sintetizados 2 oligonucleotídeos senso, sendo um marcado com fluorescência para uso nas
reações e outro não marcado para ensaios de competição específica; e um oligonucleotídeo
anti-senso para realização do anelamento com as sondas senso. Para o ensaio de competição
com sondas mutadas também foram desenhados oligonucleotídeos senso e anti-senso, ambos
não marcados com fluorescência. Em nossos ensaios, também testamos sondas de Humicola
43
grisea referentes ao promotor do gene PacC desse organismo (HgPacC). A tabela 4 apresenta
as sequências dos oligonucleotídeos utilizados em EMSA.
Tabela 4. Sondas utilizadas em EMSA - Sequências dos oligonucleotídeos utilizados nos
ensaios de retardo da mobilidade eletroforética. Os oligonucleotídeos indicados por FAM
foram marcados com fluoróforo carboxifluoresceína.
As sondas de H. grisea foram gentilmente cedidas por Thiago de Melo.
3.6.5 – Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética (EMSA)
Eletroforese
A preparação do gel de poliacrilamida para os ensaios de retardo da mobilidade
eletroforética foi realizada de acordo com o seguinte protocolo:
Poliacrilamida 30,36% 7,500 mL
Glicerina 50% 7,500 mL
TEB 10X 1,125 mL
H
2
O destilada 22,500 mL
Persulfato de amônio 25% 100,000 μL
TEMED 25,000 μL
44
Para montagem do gel e corrida eletroforética empregou-se o sistema SE 600
Electroforesis Unit (Amershan Biosciences). Após a polimerização do gel, a cuba foi
preenchida com TEB 0,25X, os poços do gel lavados exaustivamente com esse tampão a fim
de retirar resíduos de poliacrilamida não polimerizada, e realizou-se uma pré-corrida a 500 V
durante 15 minutos. Visando manter a temperatura baixa durante a eletroforese, o sistema foi
resfriado com auxílio de uma coluna de água fria, com dispositivo apropriado conectando
uma fonte de água com a cuba de eletroforese. Posteriormente, as reações foram aplicadas no
gel, aplicando-se azul de bromofenol em um poço para acompanhamento visual da corrida. A
eletroforese procedeu a 500V até que o azul de bromofenol migrasse por aproximadamente 10
cm. Após a corrida eletroforética, o gel foi analisado no scanner Typhoon 9210 (Molecular
Dynamics) de acordo com os seguintes parâmetros: filtro: fluoresceína 526SP, intensidade de
1000 V, sensibilidade: alta, pixel size de 200 microns e plano focal plane.
Anelamento
Sonda marcada
O oligonucleotídeo senso marcado com fluorescência e o oligonucleotídeo anti-senso
foram diluídos em H
2
O MilliQ na concentração final de 1μg/μL. A reação de anelamento das
sondas foi realizada de acordo com o seguinte protocolo:
Oligonucleotídeo senso 0,5 μL (0,5 μg)
Oligonucleotídeo anti-senso 0,5 μL (0,5 μg)
Tampão de Anelamento (Tris-HCl 1 M, pH 7,7) 6,0 μL
H
2
O MilliQ 23,0 μL
Para os ensaios de competição específica ou com sondas mutadas, os
oligonucleotídeos foram diluídos em H
2
O MilliQ na concentração final de 5μg/μL. A reação
de anelamento das sondas foi realizada de acordo com o seguinte protocolo:
45
Competidores 25 X
Oligonucleotídeo senso 2,5 μL (12,5 μg)
Oligonucleotídeo anti-senso 2,5 μL (12,5 μg)
Tampão de Anelamento (Tris-HCl 1M, pH 7,7) 6,0 μL
H
2
O MilliQ 19,0 μL
Competidores 50 X
Oligonucleotídeo senso 5,0 μL (25,0 μg)
Oligonucleotídeo anti-senso 5,0 μL (25,0 μg)
Tampão de Anelamento (Tris-HCl 1M, pH 7,7) 6,0 μL
H
2
O MilliQ 14,0 μL
As reações de anelamento foram incubadas em água fervente por cinco minutos e
mantidas no banho até que a temperatura diminuísse naturalmente, atingindo a temperatura
ambiente.
Purificação da sonda marcada com fluorescência
A purificação da sonda marcada (após anelamento) foi realizada para remoção de
contaminações com oligonucleotídeos de fita simples, autoanelados e produtos de degradação.
Os 30 μL de oligonucleotídeos anelados foram divididos em 3 alíquotas, e aplicados no gel de
poliacrilamida, conforme as condições descritas para a eletrofore dos ensaios de retardo da
mobilidade eletroforética. Aplicou-se azul de bromofenol em um poço para acompanhamento
visual da corrida. A corrida eletroforética procedeu-se até que o azul de bromofenol migrasse
por aproximadamente 2/3 do gel, para que houvesse uma melhor separação da sonda anelada
dos resíduos de contaminação,
Após a corrida, o gel foi marcado a cada 1 cm utilizando-se uma lâmina de bisturi e
analisado em scanner Typhoon 9210 (Molecular Dynamics) de acordo com os seguintes
parâmetros: filtro fluoresceína 526SP, intensidade de 1000 V, sensibilidade média, pixel size
de 200 microns e plano focal plane. Com auxílio das marcações previamente realizadas, a
46
região correspondente à sonda anelada foi localizada, excisada do gel, transferida para um
colchão de agarose 1%, e coberta com agarose fundida. Após a solidificação da agarose, foi
feito um corte na agarose logo abaixo dos fragmentos de poliacrilamida e encaixou-se um
fragmento de membrana DEAE celulose (Sartobind Membrane Adsorbers, Sartorius),
utilizando agarose fundida para selar essa região perfurada. O gel foi coberto com TEB 0,5X.
Para a migração da sonda da poliacrilamida para a membrana DEAE celulose, foi realizada
uma eletroforese a 90 V por 80 minutos. Após a migração da sonda para a membrana, esta foi
transferida para um tubo eppendorf de 1,5 mL, submersa em 250 μL de solução de alta
concentração de sal e incubada a 45°C durante 20 minutos. A solução contendo a sonda eluída
foi transferida para novo tubo, repetindo-se a eluição com a mesma membrana e nova solução
de alto sal. Os dois volumes foram agrupados e a sonda precipitada com 1 mL de etanol 100%
gelado, com incubação a -20ºC durante a noite. Seguiu-se uma centrifugação a 13.000 g por
30 minuto, lavagem com etanol 70% gelado e secagem ao ar. A sonda precipitada foi
ressuspendida em 30 μL de H
2
O Milli Q. Para confirmação da purificação da sonda, 1 μL foi
aplicado no gel de poliacrilamida. Aplicou-se azul de bromofenol em um poço para
acompanhamento visual da corrida. A eletroforese procedeu a 500V até que o azul de
bromofenol migrasse por aproximadamente 10 cm. Após a corrida eletroforética, o gel foi
analisado no scanner Typhoon 9210 (Molecular Dynamics) de acordo com os seguintes
parâmetros: filtro: fluoresceína 526SP, intensidade de 600 V, sensibilidade: média, pixel size
de 200 microns e plano focal plane.
Reação do EMSA
A reação foi realizada de acordo com o seguinte protocolo:
Sonda anelada e purificada 1 μL
KCl 1M 2 μL
ZnCl
2
50μM 1 μL
poli(dI-dC) 1μg/mL 1 μL
Espermidina 80mM 1 μL
H
2
O Milli Q 4 μL
47
Para reações utilizando competidores específicos ou sondas mutadas, foi realizada a
mesma reação, adicionando-se 1 μL do competidor 25X ou 50X, ou 2 μL do competidor 50X
para ensaio com competidor 100X, ajustando-se o volume de H
2
O Milli Q.
Foram adicionados à mistura de reação o extrato protéico ou proteína recombinante,
ajustando-se o valor final da reação para 20 μL. A reação foi incubada no gelo durante 10-15
minutos, e aplicou-se no gel de poliacrilamida para a corrida eletroforética, conforme as
condições descritas.
Para os ensaios com extrato protéico, foram utilizados 1,8 μg de proteína. Além dos
extratos protéicos de micélio e levedura de P. brasiliensis e da proteína recombinante
PacCPb-GST, os ensaios de retardo da mobilidade eletroforética realizados neste trabalho
também utilizaram a proteína recombinante CreAHg-GST, correspondente ao domínio de
ligação ao DNA da proteína CreA de H. grisea fusionado à GST. A proteína recombinante
CreAHg-GST foi gentilmente cedida por Thiago de Melo, membro do nosso grupo de
pesquisa.
3.7 – Análise da Expressão do Gene 1,3-β-glicana sintase
A expressão do gene 1,3-β-glicana sintase foi investigada por meio da técnica de RT-
PCR em tempo real. Analisamos os níveis de transcrito do gene Pbfks1 a partir de RNA de P.
brasiliensis cultivado nas formas de micélio e levedura. Avaliamos também os níveis de
transcrito do gene Pbfks1 a partir de RNA obtido de culturas de levedura crescidas em glicose
2% ou acetato de sódio 2% como fontes de carbono, por um período de 5 horas.
Os RNAs de P. brasiliensis obtidos de culturas crescidas nas diferentes fontes de
carbono e os RNA da forma micelial foram gentilmente cedidos por Lorena Derengowski
(Derengowski et al., 2008), membro do nosso grupo de pesquisa. Para este trabalho,
realizamos a extração de RNA de P. brasiliensis cultivado na forma de levedura, conforme
descrito a seguir.
48
Extração de RNA (material RNase free)
As células da cultura de levedura de P. brasiliensis (item 3.3.3) foram coletadas em
tubo do tipo eppendorf (com capacidade para 1,5 mL) e centrifugadas a 2.000 g por 5
minutos. O sobrenadante foi descartado e ao sedimento de células foi adicionado 1 mL do
reagente Trizol (Invitrogen), de acordo com as recomendações do fabricante. A mistura trizol-
células foi transferida a um tubo do tipo eppendorf (com capacidade para 2 mL) contendo
micro-pérolas de vidro (SIGMA) cobrindo o fundo do tubo. A lise das células foi realizada
por vigorosa agitação por 20 minutos. Posteriormente, a amostra foi centrifugada a 13.000 g
por 1 minuto para baixar as pérolas de vidro e os restos celulares, com o sobrenadante sendo
transferido a um novo tubo eppendorf. Ao lisado celular, adicionou-se 200 μL de clorofórmio,
seguido de agitação vigorosa. Após centrifugação a 15.000 g por 30 minutos a 4°C, a fase
aquosa foi transferida a um novo tubo eppendorf, onde foram adicionados 500 μL de
isopropanol. O material foi homogenizado e incubado à temperatura ambiente por 10 miutos.
Após a incubação, a amostra foi centrifugada a 15.000 g por 15 min a 4°C, e o sobrenadante
foi descartado. O sedimento foi lavado com 1 mL de etanol 75%, deixando-se secar à
temperatura ambiente. O sedimento foi ressuspendido em 50 μL de H
2
O Milli Q.
Tratamento do RNA com DNase (material RNase free)
Os RNAs obtidos de culturas crescidas nas diferentes fontes de carbono (glicose e
acetato) e os RNAs da forma micelial e leveduriforme de P. brasiliensis foram submetidos ao
tratamento com DNase I livre de RNAse (Invitrogen), a fim de eliminar qualquer traço
residual de contaminação por DNA genômico.
Após verificação da integridade dos RNAs por eletroforese em gel de agarose 0,8%, o
material foi quantificado por espectrofotometria (Genequant, Amersham Pharmacia Biotech).
As condições de tratamento com DNAse I, para um volume final de 70 μL de reação, foram: 7
μg do RNA, tampão da DNAse I 1X; 7 U da enzima DNAse I. O tratamento foi realizado a
37ºC por 30 minutos, parando-se a reação pela adição de 7 μL do tampão de inativação da
enzima e aquecendo-a a 65ºC por 10 minutos. Após precipitação padrão com etanol e acetato
de sódio (Sambrook e Russel, 2001), o RNA total tratado com DNAse I foi novamente
analisado por eletroforese em gel de agarose 0,8% e quantificado. Uma última verificação,
49
para determinação de uma possível contaminação residual com DNA genômico, foi feita pela
metodologia de PCR (item 3.5.8), utilizando o RNA como materail genético da reação. Como
controle positivo da reação foi empregado DNA genômico de P. brasiliensis.
Transcrição Reversa (material RNase free)
Após tratamento do RNA com DNAse I, o cDNA foi sintetizado a partir de 2 μg de
RNA total de cada amostra. A essa quantidade de RNA total foi adicionado 0,5 μg do
iniciador OligodT18, ajustando-se o volume com H
2
O Milli Q para 11,5 μL. A mistura foi
incubada a 70ºC por 10 minutos, seguido de resfriamento imediato por incubação no gelo. À
amostra foram adicionados 12,5 μL do MIX, contendo os seguintes reagentes em suas
concentrações finais: tampão da transcriptase reversa 1X; DTT 200 mM; dNTPs 10 mM. Em
seguida, a reação foi incubada a 42ºC por 2 minutos, sendo adicionado ao sistema 200 U da
enzima transcriptase reversa (SuperScript III, Invitrogen) e incubando-se a 42ºC por mais uma
hora.
PCR em Tempo Real (material RNase free)
A reação de PCR foi preparada em um volume final de 10,0 μL, utilizando-se 0,2 μM
de cada iniciador para amplificação do cDNA de 1,3-β-glicana sintase (tabela 5), 2,0 μL da
diluição 1:8 do cDNA, e 5,0 μL de Fast SYBR Green Master Mix (Applied Biosystems). Para
análise do controle interno, foram utilizados iniciadores que amplificam um fragmento do
gene constitutivo L34 de P. brasiliensis (tabela 5), que codifica a proteína ribossomal L34. As
reações foram submetidas ao seguinte programa no termocicldor: 1) 50ºC/2 min; 2) 95ºC/5
min; 3) 95ºC/3 seg; 4) 60ºC/30 seg; 5) Repetir passos 3 e 4 quarenta vezes. Todas as
amplificações foram feitas no equipamento 7500 Fast Real-Time PCR System (Applied
Biosystems). A análise da expressão do gene 1,3-β-glicana sintase foi realizada pelo método
∆∆Ct.
50
Tabela 5. Oligonucleotídeos utilizados na RT-PCR em Tempo Real As sequências dos
oligonucleotídeos forward e reverse para amplificação de um fragmento do gene Pbfks1 e do
controle interno são apresentadas.
A Tm (melting temperature) foi obtida pela ferramenta Oligo Analyser, disponível em
http://www.idtdna.com/analyzer/Applications/OligoAnalyzer/
.
51
4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. – Análise da Região Promotora do Gene quitina sintase 4 de P. brasiliensis
A quitina representa um dos principais componentes da parede celular de fungos, e sua
síntese é regulada por uma família multigênica de quitina sintases. Em P. brasiliensis, foram
identificados seis genes de quitina sintase (Pbchs1, Pbchs2, Pbchs3, Pbchs4, Pbchs5 e
Pbchs6) (San-Blas e Nino-Vega, 2008). Observa-se que nesse organismo os genes Pbchs4 e
Pbchs5 apresentam a conformação head-to-head, conforme mostra a figura 8.
Figura 8. Conformação head-to-head dos genes Pbchs4 e Pbchs5 – Os sítios de iniciação
da transcrição de Pbchs4 e Pbchs5 apresentam uma distância de aproximadamente 3,7 Kb.
Por apresentaram a conformação head-to-head, sugere-se que os genes Pbchs4 e
Pbchs5 possam apresentar uma regulação transcricional em comum, conforme é proposto
para os genes de quitina sintase csmA e csmB de A. nidulans, que apresentam essa
conformação e são expressos nas mesmas condições osmóticas (Takeshita et al., 2006).
Portanto, foi realizada a análise computacional da região intergênica dos genes Pbchs4 e
Pbchs5. A figura 9 mostra os prováveis sítios de ligação para fatores de transcrição
localizados na seqüência nucleotídica entre esses dois genes.
52
Figura 9. Seqüência nucleotídica da região intergênica dos genes Pbchs4 e PbrCHS5
(número de acesso no GenBank EF654132) – Os sítios de iniciação da tradução estão em
negrito (CAT: Pbchs4; ATG: Pbchs5). Os sítios putativos para o TATA Box estão
sublinhados. Foram destacadas as seqüências consenso dos sítios para os fatores de
transcrição PacC, em vermelho, CreA, em amarelo, em verde claro os elementos de resposta
ao estresse (STRE) e em azul os elementos de resposta ao choque térmico (HSE).
C
C
A
A
T
TGATAGCTTCGCGAATTCGTATCTTATACGGCACGAAGATATGGCGGATTACCAAAGGAGGCCCTTGC -67
GAACGGCGCGAACAGGTGAGAATAGGGATACTTTATCCGGCCCCATCCAACACTTGGTTCCGGTATACCT -137
TTAGCCCTGGCGAGGGGAAAAAAAGGGGGGAGGAGGGCCGTTTCCCTAGCAAAGACAAAGGCAACCCGAC -207
TTGCGTGAGAGATCCGGAACCCCGTTTTACAATCTCGTCGCCCGGTGTGGGTTGTTGGTTGGTTGAACAA -277
ATTGAGCTTCACGGAGCGAAACAAGGGTTCGAAGGCGATGGGTGTAAACAATAGCGAGAGACGAAGGACG -347
GTCACGCCCAAACGAATGTGTGATGAGCACCTCCTCGCGAGCACAGCAAGATGCAAAGACCAGTATAGCG -417
AACCACGAAAAAGAGAGACCAAGGAGGAGGTTGGTGGGAGCAACTGAACTGGAGGGAAGAAAAGTGAAGG -487
GGTAGGTAAAGCACAACAGCAGGATACATCAAGTGCTGTGTGTATGGTACTGTACGGTACGCGTCCAGAG -557
ACAGGGCGGTTTTGTAAACAACGGCTTAGTACCGGCCAAACAAAACATACTTCTAGTTACAGAGTGTAAA -627
CCAAAGTAAATTAAATATAGTTACAACGCACCCATGGATACTTTCACCACATGCTCTGGAGAACTTGGGA -697
TCAACATCAAATGATTCTGTTGGGGACTCAAGTGAATCTGTGGGAACAAAGCGTGGTTTACCAGGCTGGG -767
CTGTAACCGGGACGAATGTGCGTTTAAAACCCCCGCATCCCGCGAATGGGCTTGTTCCTGTGTCAGACTC -837
TCTCTCTCTTCATCGCAGTTTGGCTGAATCTTATTCCCACGACTCCCGTAATAAACCAATGACGCTTGGA -907
CGGGCGAAAACAGCACATACACAACCCCCAAGGCCCGGGTGTTGTCTTTATTGGAATGGATCAAACCCAC -977
AGCCAATCAGCACCCCTGATTTGCGGAATAGCGCTCCAGTTCTTGTTGGCCGTCCCAAGACAAGCCGGCG -1047
ATGGAAGACCGGGGGTCTCTAGCAATTGGTTCAAGGTCGCCATCTCTCTGGCCTGAAATCCAGTACGGTA -1117
GTTACAGCTACAGGAAGGGGGGGAATCTTTTGTTCTGAGAACTGCCGAACCAACAACATGGCACCAAGGA -1187
ATTATTATTATTATTATTATTATTATTATTATTATTATTATTATCGTCGGTTGTGGGGCCACGGTCTGTA -1257
ATCGGTATTTAAACATCCAGCATGTAATTAATGTATTATGGTACCATACAGAGGGTACGGAGGAAGAAGA -1327
GTTCCGGATTACGCAGACCATACAGTTTCCGTACAATTTTCCCTCCATTTTCTGGCGGCGAATAAGTTAC -1397
GGCTTCCCCCTGCTTCTGGAAAGAGAAGCAGACGAAGATCTCGCAATCCTAATCCATGGTAAATATATAT -1467
ATAATATAGTTAAGCACAGGATGCCGCCCCCTCCATTTGAGCTCCTGGTATTCCCCCGATGTTGTTTTTA -1537
ACTTCTCAACAAACCCTGCTGTTTGAGCAATCAGTGGTTGTCAGTTATCCCGGCAGCGGACGATACCGCG -1607
ATCACCACCCGTTATTGATCTGTGTTTATTATTATTATTATTATTATCATCATCATCATTATTGTCAACT -1677
GTCTCCCGCACGCCCATACCGGGTTGAAATATGGAGCATTCAAGATGAGCCTGAAGATCTATGACACTGA -1747
CACTGGACGGACGGACGTACTCTGAAAACGTCCCCGAGAGACTCTTCCTTGGGCGTCAGGTTGTTAGTAA -1817
CACAGTTCTGATGCTTAAAGTATGTCTGCCGTCATGAATAGAGTTCGGGTCCTGTCTGTAAAACTCCACC -1887
ACTCACATCAAGCAGATCAATGGCTGTCTCTGAAACAGGGCAGTCGCTCCACCGCCAACTAATAATTTAT -1957
CACCGTTCTACCAACCGTCCCATCTCTCGACGTTGGTAAGACACACGAAGCGCTCTGCCGGGTATGTAAA -2027
CGTATGTAAATGTATGTAAAATATGTAAATGTATGTATGTATGTATGGTAAAATGAGACAGCGTCTGCTC -2097
TCATCATCCACATCTCCAATACAGGTTCCTTTCGTCGTTTTGCCAGCTTCGAAGCCTTTTTCGGGCTGTG -2167
AGAGCACCGAAAGAACCCGTGGGCCCCTGGACCCTCCCCTCTCATGGTCCCGGAAAATGCTATTATTACT -2237
AGGAATCAGACTGGGCGGTGTTCGGGGGAACATGTGGTAAAAAAGTCTCAACTAGAGACCCCACCATGGA -2307
ATGGTGTGTTGGCGAAGTGGCAAGGGGAGTCGTAGTTAATCGGCTGCGCCATGACACAAACCCCCCTCCA -2377
TTGGGCCAGCATCATCATCATCATTCATCATACTCCCAGTAACCACTGGTACACATGCTTTAAAAAACAG -2447
TCTGTATGTTGTGTATGCTGTGTTTCAAGAGCTTGCAACAATGATCAGCAATAATACCTCCAAACCTCCC -2517
CCCCCCACAGCGGTGGTCCAAAAGAATGAAAAAAGAACTTCAATGGAAAATAGATCCCAGTATGTTGCAG -2587
ATAATTGCCCCTGTAGGTACTCACCCCACCCCCCCGGGACCTGGAATTGCTTCTTTACCACCGTCTCCAT -2657
GTAAGAAGTATCATTTATCGTTGTCACCGAGACGTTACTGGTTTTTCCTGCTGAAGATTGGTGCCGCCCA -2727
ACAGGCATCCCGGCTAGACGGGCCCAAAAATAGACTGGGGCAGCCACTTGTCTCGGATCACGAACACCCA -2797
TCCCCATCGTCCTTGGACCTGGCTGTTAGAGGAAAATCTTGCCTTGGCGGGATGACTCCAGGCTGTTCTC -2867
TGGCCTGGCGAAGAGGGCTTTCCACTGCGAGTCAGGAACCTACCCTGGTTATCATTAAGGCTGTGGTAGT -2937
ATATATATTTATATTTATATTTATATTTATATATTACTTGATGATTCTTTTTTCCCCGAGGACCGAAAAG -3007
GGCTGTTGACGAAGGGAACCCGATACTGTATGTAACATGACGAGGGTATTGCGTATATACATACATACGT -3077
ACATACGTACATACATACGATACAGTATAGATTACTCCACAATACGGGGTTGGTTGGTTTACAACTTACC -3147
CTTTCGGGCGGTGTCTTGTTTCTGCCCTGTTCCCCTGCCTGGTCTTCCGCGTCCCCAGTCAAAACCACTC -3217
ACTCACTTAGTTCCTCGATCCGACCTCGTTTCGTTTTGTTCGTTCGTTCTCTCACTTTCTTTACTTTGTT -3287
TTGGTATTTTTTTGTTTATTTTTTTTTATTCCTGACTCTCCTCCAGCCTGAGCATACTGGGGCAGCCTCG -3357
GTATCACTCGTTTTCTTTTTTATTGAATATTGTCTTGCTTTTTTGGGCTCTTGCCTTCCCTTCTCCTGGA -3427
AGCCCCATCCATCCGCTCTGCGTCCGGATCGAAACAGTCCCTCGCTCGGGAGAGTTCTCGTTTCTCGGTC -3497
TTCGTCGTGCTTCTTCTGTCCATTCTTTACCAAGCTGACAAGAGCATCTTAATCTTTGCTTAATTCATCG -3567
AGAAGCCCGTTCATTGAGCTGTGGCCGAGTTTTCCCAGTTGGCGGATCCTCTCGTGTTGTCTTGAACAAC -3637
TTTCAAATGTCTGGATACGGCTCGGATACCTAAGAGAGAAATTGTGCCTTTTTTTCTAGCCTGGACAGTC -3707
GCTCGTATA
CAGTCGTTATTGCTGCCGGGTTAGACGTCTTTCGTTCCAAGTCCGACGGCCTTCGCGCCTG -3777
ATATTCGATCTTTTCGCC
A
A
T
T
G
G -3798
53
Na região intergênica dos genes Pbchs4 e Pbchs5 foram encontrados quatro sítios para
o fator de transcrição PacC, que regula a expressão gênica em resposta ao pH. Para o fator de
transcrição CreA, que media a repressão gênica na presença de glicose, foram localizados 18
sítios. Foram identificados 13 elementos de resposta ao estresse (STRE) e nove elementos de
resposta ao choque térmico (HSE).
4.1.1 – Produção da Proteína Recombinante PacCPb-GST para Análise do Promotor do
Gene Pbchs4
Para investigar se o fator de transcrição PacC estaria atuando na regulação
transcricional do gene Pbchs4 produzimos a proteína recombinante PacCPb-GST, para sua
posterior utilização em EMSA. Para realização dessa análise, foi realizada em E. coli a
expressão do domínio de ligação ao DNA da proteína PacC de P. brasiliensis fusionado com
a protéina glutationa S-transferase (GST). Em seguida, a proteína recombinante foi purificada
utilizando-se uma coluna de GST-Sefarose. A utilização do domínio de ligação ao DNA de
fatores de transcrição é amplamente empregada em ensaios de retardo da mobilidade
eletroforética. Recentemente, Rauscher et al. (2006) utilizaram os domínios de ligação ao
DNA das proteínas Ace1, Ace2, Hap2/3/5 e Xyr1 fusionados à GST para avaliar o
envolvimento desses fatores na regulação da região promotora do gene que codifica a
xilanase1 em Trichoderma reesei.
A figura 10 mostra o perfil do extrato protéico total de E. coli antes da purificação e as
frações da proteína recombinante PacCPb-GST purificada. Observa-se uma banda entre os
marcadores de 30 e 40 kDa correspondente à proteína recombinante PacCPb-GST, cujo
tamanho esperado é de 39,2 kDa.
54
Figura 10. Perfil eletroforético em SDS-PAGE (12%) da proteína recombinante
PacCPb-GST, corado com Comassie Blue – Extrato protéico total de E. coli após indução
da expressão de PacCPb-GST. As frações de cromatografia em coluna de GST-Sefarose estão
destacadas, indicando a proteína recombinante PacCPb-GST parcialmente purificada de 39,2
kDa (GST = 26 kDa; domínio de ligação ao DNA da proteína PacC de P. brasiliensis = 13,2
kDa). M: Marcador Bench Mark Protein Ladder (Invitrogen). Foram aplicados 8 μL de cada
fração de cromatografia.
4.1.2 – Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética (EMSA): sonda Pbchs4(a)
A figura 11 mostra uma seqüência da região promotora do gene quitina sintase 4 de P.
brasiliensis utilizada como sonda em nossos experimentos, denominada sonda Pbchs4(a). A
sonda apresenta dois elementos de resposta ao estresse (STRE), um sítio para o fator
regulatório PacC, e um TATA Box putativo.
Figura 11. Sonda Pbchs4(a) Seqüência do oligonucleotídeo senso utilizado como sonda
em EMSA. Em verde destacam-se os elementos de resposta ao estresse (STRE). Em vermelho
destaca-se um sítio de ligação para o fator de transcrição PacC. O TATA Box putativo
encontra-se sublinhado e foi identificado pela ferramenta TESS, disponível em
http://www.cbil.upenn.edu/cgi-bin/tess/tess
55
Em estudos anteriores do nosso grupo de pesquisa, Sant’Ana (2008) demonstrou que a
sonda Pbchs4(a) interage com extratos protéicos de micélio e levedura de P. brasiliensis. Foi
observada uma interação DNA-proteína específica nas fases de micélio e levedura e outra
interação micélio específica (ver figura 3, página 12). Para investigar se o fator de transcrição
PacC estaria atuando nessas interações, realizamos o ensaio de retardo da mobilidade
eletroforética com a sonda Pbchs4(a) após incubação com a proteína recombinante PacCPb-
GST. Entretanto, não foi observada a interação da sonda com o domínio de ligação ao DNA
de PacC de P. brasiliensis (figura 12).
___________________________________________________________________________
A
B
Sonda Pbchs4(a): CCCTCCTCC
C
C
C
C
C
C
C
C
T
TTTTTTT
C
C
C
C
C
C
C
C
T
TC
G
G
C
C
C
C
A
A
G
G
G
GGCTAAAGG
___________________________________________________________________________
Figura 12. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando a sonda Pbchs4(a)
com a proteína recombinante PacCPb-GST – (A) 1: sonda Pbchs4(a) livre; 2: sonda
Pbchs4 + PacCPb-GST. Foi utilizado 1,0 μg de proteína recombinante. (B) Seqüência da
sonda Pbchs4(a), destacando em negrito os dois sítios para STRE(s) (CCCT) e o sítio para
PacC (GCCAGG). Sublinhado encontra-se um putativo TATA Box.
56
O ensaio de retardo da mobilidade eletroforética utilizando a sonda Pbchs4(a) com a
proteína recombinante PacCPb-GST foi repetido nas mesmas condições utilizadas no ensaio
anterior e também testando 2,0 μg de PacCPb-GST, mas novamente não observamos
nenhuma interação (dados não mostrados). Para avaliar a funcionalidade da proteína
recombinante PacCPb-GST produzida neste trabalho, realizamos o ensaio de retardo da
mobilidade eletroforética com sondas correspondentes ao promotor de PacC de H. grisea que
contêm sítios para o fator de transcrição PacC. A figura 13 mostra o teste da funcionalidade
de PacCPb-GST.
___________________________________________________________________________
A
B
Sonda 1 H. grisea: CCCTCAGCCCCACGCGT
C
C
T
T
T
T
G
G
G
G
C
CCCCACGGCCCCGCACGCACA
Sonda 3 H. grisea: CCAAGAACT
C
C
T
T
T
T
G
G
G
G
C
C
C
C
T
T
T
T
G
G
G
G
C
CGCGCCTTTG
Sonda 4 H. grisea: GCACCG
G
G
C
C
C
C
A
A
A
A
G
GTCTCCGTTTCTCCTCGACCGTC
C
C
T
T
T
T
G
G
G
G
C
CATTCCC
___________________________________________________________________________
Figura 13. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética para teste da funcionalidade
da proteína recombinante PacCPb-GST – (A)1: sonda 1 de H. grisea + PacCPb-GST; 2:
sonda 3 de H. grisea + PacCPb-GST; 3: sonda 4 de H. grisea + PacCPb-GST. Foram
utilizados 2,0 μg de proteína recombinante. (B) Seqüências das sondas de H. grisea,
destacando em negrito os sítios para PacC.
57
As sondas de H. grisea testadas com PacCPb-GST são consideradas funcionais por
interagirem com o domínio de ligação ao DNA da proteína PacC de H. grisea (dados do
nosso grupo de pesquisa). Conforme observamos na figura 13, as sondas 1, 3 e 4 de H. grisea
interagem também com a proteína recombinante PacCPb-GST. Esses resultados comprovam a
funcionalidade da proteína recombinante PacCPb-GST, sugerindo que o sítio para o fator de
transcrição PacC identificado na sonda Pbchs4(a) não é funcional.
O fator de transcrição PacC regula a expressão de genes em resposta ao pH. Em A.
nidulas, em pH alcalino e neutro, PacC ativa genes requeridos para essa condição, incluindo
sua própria expressão, e reprime genes expressos em condições ácidas (Tilburn et al., 1995).
A sua ativação ocorre em pH alcalino a neutro e requer duas clivagens proteolíticas (Diez et
al., 2002), mas esse processamento não é requerido para a ligação ao DNA, embora determine
a localização nuclear do fator de transcrição in vivo (Orejas et al., 1995). Observa-se que em
C. albicans, o gene PHR2, homólogo de PHR1 nesse organismo e que codifica uma β-
glicosidase da parede celular, é expresso preferencialmente em pH ácido, regulação oposta ao
observado para PHR1, e reprimido em pH alcalino de forma dependente de Rim101p,
homólogo de PacC em C. albicans (Muhlschlegel e Fonzi, 1997). Aguiar (2006) demonstrou
que em P. brasiliensis o gene que codifica PacC é expresso tanto em condições alcalinas
como ácidas, sugerindo que sua regulação ocorre em nível pós-transcricional.
Em A. nidulans, o sítio de ligação para PacC é dado pela seqüência consenso
GCCARG, onde R pode ser “A” ou “G”. Qualquer substituição de base resulta em uma
substancial ou completa perda de ligação (Espeso et al., 1997). Ao compararmos as sondas de
H. grisea com a sonda Pbchs4(a), observamos que todas as sondas de H. grisea apresentam
“A” na posição cinco, enquanto que na sonda Pbchs4(a) essa posição é constituída por “G”
(figura 14).
58
Figura 14. Comparação dos sítios de ligação para PacC presentes nas sondas 1, 3 e 4 de
H. grisea e na sonda Pbchs4(a) – A seqüência do sítio de ligação para PacC está em negrito,
com a base na posição 5 grifada em vermelho.
Apesar da substituição de “A” por “G” na quinta posição ser descrita como tolerada
em A. nidulans, nossos resultados revelaram que o domínio de ligação ao DNA do fator de
transcrição PacC de P. brasiliensis não interage com o sítio presente na sonda Pbchs4(a), que
apresenta “G” na posição cinco. Entretanto, esta proteína recombinante é capaz de reconhecer
sondas de H. grisea que apresentam o sítio GCCAAG, que contém “A” nessa posição. BaeK
et al. (2006) sugerem que, em C. albicans, Rim101p se liga ao sítio GCCAAG
AA, seqüência
que engloba o sítio GCCAAG reconhecido por PacC de P. brasiliensis neste trabalho, mas
também sugere que pequenas divergências são toleradas. Ramón e Fonzi (2003) relataram que
no promotor de PHR1 de C. albicans o sítio não requer “G” na primeira posição e Rim101p
reconhece a seqüência CCAAGAA. Entretanto, para o promotor PHR2 de C. albicans, um
sítio requer “G” na primeira posição e em outro sítio Rim101p também é capaz de reconhecer
apenas a seqüência CCAAGAA (Baek et al.,2006).
59
Na região intergênica de Pbchs4 e Pbchs5, foram localizados quatro sítios para o fator
de transcrição PacC de acordo com a seqüência consenso descrita para A. nidulans. Desses,
três apresentam “G” na posição cinco e um apresenta “A” nessa posição. Embora o sítio para
PacC analisado no promotor de Pbchs4 não seja funcional, consideramos que o seu papel na
regulação dos genes de quitina sintase requer investigação. Para sobreviver e proliferar, os
microrganismos precisam se adaptar a mudanças no pH ambiental. O pH do ambiente afeta
profundamente a biologia do fungo, influenciando o metabolismo, o desenvolvimento
morfológico e a virulência de patógenos. Essas respostas derivam, em parte, da alteração da
expressão de genes, e muitos desses genes codificam proteínas secretadas ou da superfície
celular, que estão diretamente expostas ao ambiente (Denison, 2000).
Sant’Ana (2008) demonstrou que a sonda Pbchs4(a) apresenta retardo da mobilidade
eletroforética quando incubada com extratos protéicos de micélio e levedura de P.
brasiliensis. Os nossos ensaios com a proteína recombinante PacCPb-GST revelaram que essa
interação não ocorre no sítio de ligação para PacC presente nessa sonda. Visto que a sonda
Pbchs4(a) também apresenta elementos de resposta ao estresse, sugerimos que esses
elementos possam estar envolvidos na regulação do gene quitina sintase 4 de P. brasiliensis.
A definição dos sítios na seqüência promotora onde os fatores de transcrição se ligam são pré-
requisitos essenciais para a compreensão de como essas proteínas modulam a expressão do
gene (Read et al., 2009). Mutações e deleções podem ser introduzidas nas sondas para
verificar quais sítios são importantes para estabelecer a interação DNA-proteína. Nessa
perspectiva, a partir da sonda Pbchs4(a) produzimos duas sondas mutadas a fim de anular um
sítio em STRE e o putativo TATA Box. Realizamos o ensaio de retardo da mobilidade
eletroforética com a sonda Pbchs4(a) e extrato protéico de micélio, utilizando como
competidores a sonda mutada ou em STRE ou a sonda mutada no putativo TATA Box
(figura15).
60
___________________________________________________________________________
A
B
Sonda Pbchs4(a): CCCTCCTCC
C
C
C
C
C
C
C
C
T
TTTTTTT
C
C
C
C
C
C
C
C
T
TC
G
G
C
C
C
C
A
A
G
G
G
GGCTAAAGG
Competidor Mut1(TATA): CCCTCCTCCCCCCCCCCCCTCCCCTCGCCAGGGCTAAAGG
Competidor Mut2(STRE): CCCTCCTCCCCCCTTTTTTGGGAAAAGCCAGGGCTAAAGG
___________________________________________________________________________
Figura 15. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando as sondas
Pbchs4(a) mutadas e extrato protéico de micélio de P. brasiliensis – (A) 1: sonda
Pbchs4(a) livre; 2: sonda Pbchs4(a) + extrato de micélio; 3, 4 e 5: sonda Pbchs4(a) + extrato
de micélio + competidor específico 25X, 50X e 100X, respectivamente; 6, 7 e 8: sonda
Pbchs4(a) + extrato de micélio + competidor Mut1(TATA) 25X, 50X e 100X,
respectivamente; 9, 10 e 11: sonda Pbchs4(a) + extrato de micélio + competidor Mut2(STRE)
25X, 50X e 100X, respectivamente. (B) Seqüência da sonda Pbchs4(a), destacando em
negrito os dois sítios para STRE (CCCT) e o sítio para PacC (GCCAGG), e sublinhado
encontra-se um putativo TATA Box. Nas sondas Pbchs4(a) mutadas, os sítios modificados
encontram-se em duplo sublinhado.
61
Conforme observamos na figura 15, a sonda Pbchs4(a) apresenta três retardos da
mobilidade eletroforética quando incubada com extrato de micélio (poço 2). O complexo de
menor massa molecular não havia sido detectado nos ensaios de Sant’Ana (2008). Essa é uma
interação específica, visto que é abolida nas reações com os competidores específicos, e
parece não estar associada aos sítios de STRE e TATA Box. O complexo de maior massa
molecular também é específico e abolido pelos competidores, e parece não estar relacionado
aos sítios de STRE e TATA Box. O complexo intermediário é gradativamente abolido na
presença dos competidores específicos (poços 3, 4 e 5), devido à competição no ensaio.
Observa-se também que quando o competidor em que o putativo TATA Box encontra-se
modificado (poços 6, 7 e 8), o complexo intermediário também é reduzido, demonstrando que
essa sonda funciona como competidor da interação. Esse resultado revela que essa interação
não está associada ao TATA Box, já que mesmo com a mutação nesse sítio, a sonda é capaz
de competir pelo fator que está provocando o retardo. Essa mesma interação não é abolida na
presença do competidor em que STRE está modificado (poços 9, 10 e 11), demonstrando que
a mutação não está atuando como competidor, e que portanto o sítio de STRE continua
ocupado na sonda selvagem. Esse resultado sugere que a interação está ocorrendo no
elemento de resposta ao estresse.
Posteriormente, realizamos o ensaio de retardo da mobilidade eletroforética com a
sonda Pbchs4(a) e extrato protéico de levedura, também utilizando como competidores a
sonda mutada ou em STRE ou a sonda mutada no putativo TATA Box (figura16).
62
___________________________________________________________________________
A
B
Sonda Pbchs4(a): CCCTCCTCC
C
C
C
C
C
C
C
C
T
TTTTTTT
C
C
C
C
C
C
C
C
T
TC
G
G
C
C
C
C
A
A
G
G
G
GGCTAAAGG
Competidor Mut1(TATA): CCCTCCTCCCCCCCCCCCCTCCCCTCGCCAGGGCTAAAGG
Competidor Mut2(STRE): CCCTCCTCCCCCCTTTTTTGGGAAAAGCCAGGGCTAAAGG
___________________________________________________________________________
Figura 16. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando as sondas
Pbchs4(a) mutadas e extrato protéico de levedura de P. brasiliensis – (A) 1: sonda
Pbchs4(a) livre; 2: sonda Pbchs4(a) + extrato de levedura; 3, 4 e 5: sonda Pbchs4(a) + extrato
de levedura + competidor específico 25X, 50X e 100X, respectivamente; 6, 7 e 8: sonda
Pbchs4(a) + extrato de levedura + competidor Mut1(TATA) 25X, 50X e 100X,
respectivamente; 9, 10 e 11: sonda Pbchs4(a) + extrato de levedura + competidor
Mut2(STRE) 25X, 50X e 100X, respectivamente. (B) Seqüência da sonda Pbchs4(a),
destacando em negrito os dois sítios para STRE (CCCT) e o sítio para PacC (GCCAGG), e
sublinhado encontra-se um putativo TATA Box. Nas sondas Pbchs4(a) mutadas, os sítios
modificados encontram-se em duplo sublinhado.
63
Conforme observamos na figura 16, a sonda Pbchs4(a) apresenta um retardo da
mobilidade eletroforética quando incubada com extrato de levedura (poço 2). Essa interação é
específica e corresponde ao complexo intermediário observado no ensaio com extrato de
micélio (figura 16, poço 2). Assim como no ensaio com extrato de micélio, no ensaio com
extrato de levedura o complexo também é gradativamente abolido na presença do competidor
em que o putativo TATA Box encontra-se modificado (poços 6, 7 e 8). Visto que mesmo com
a modificação essa sonda atua como competidor, esse resultado novamente revela que essa
interação não está associada ao sítio TATA Box. Nesse ensaio com extrato de levedura, a
interação também não é abolida na presença do competidor em que STRE está modificado
(poços 9, 10 e 11), indicando que a modificação desse sítio anula a competição. Esse
resultado novamente sugere que a interação está ocorrendo em STRE.
Observamos que a sonda Pbchs4(a) apresenta duas interações micélio específicas, e
uma interação específica comum entre as fases de micélio e levedura. Demonstramos que essa
interação está relacionada ao STRE. Freitas e Bertolini (2004) produziram sondas mutadas em
que o sítio STRE do promotor de um gene de N. crassa foi alterado de CCCCT para
AAAAG, impedindo a formação do complexo DNA-proteína em EMSA. Em nosso trabalho
modificamos o sítio STRE e os dois nucleotídeos adjacentes, alterando a seqüência
TCCCCTC para GGGAAAA, e observamos que essa alteração impede a formação da
interação e a sonda mutada não atua como competidor. Esses resultados indicam que esse sítio
está envolvido na interação observada na fase de micélio e levedura. O elemento de resposta
ao estresse foi identificado no promotor de genes que respondem a uma ampla variedade de
sinais de estresse, tais como estresse nutricional, térmico, osmótico e oxidativo (Mager e
Kuifjiff, 1995). Em S. cerevisiae, o elemento de resposta ao estresse é regulado pelas
proteínas Msn2p e Msn4p. Martinez-Pastor et al. (1996) realizaram mutações nos genes
MSN2 e MSN4 de S. cerevisiae, e demonstraram que duplo-mutantes apresentaram um
aumento da sensibilidade a condições severas de estresse. Além disso, o grupo demonstrou
por meio de EMSA que o domínio de ligação ao DNA das proteínas Msn2p e Msn4p se liga
aos sítios de STRE no promotor de HSP12. Schuller et al. (1994) observaram ainda que a
indução por estresse osmótico do gene CTT1 de S. cerevisiae, que codifica uma catalase
citosólica, é mediada por STRE e regulada pela via HOG MAP quinase. Consideramos que a
investigação do papel funcional de STRE na regulação do gene Pbchs4 poderá fornecer dados
para uma maior compreensão da regulação da biossíntese e manutenção da parede celular.
64
4.1.3 – Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética (EMSA): sonda Pbchs4(b)
A figura 17 mostra uma seqüência de uma outra região do promotor do gene quitina
sintase 4 de P. brasiliensis utilizada como sonda em nossos experimentos, denominada sonda
Pbchs4(b). A sonda apresenta um sítio para o fator regulatório CreA, que reprime a expressão
gênica na presença de glicose.
Figura 17. Sonda Pbchs4(b) Seqüência do oligonucleotídeo senso utilizado como sonda
em EMSA. Em amarelo destaca-se o sítio de ligação para o fator de transcrição CreA.
Avaliamos se a sonda Pbchs4(b) interage com a proteína recombinante CreAHg-GST,
correspondente ao domínio de ligação ao DNA da proteína CreA de H. grisea fusionada com
GST. Neste ensaio também avaliamos se os fatores de transcrição presentes nos extratos
protéicos de micélio e levedura de P. brasiliensis interagem com a sonda Pbchs4(a),conforme
mostrado na figura 18.
65
___________________________________________________________________________
A
B
Sonda Pbchs4(b): CTTTTCTTCC
C
C
T
T
C
C
C
C
A
A
G
GTTCAGTTGCT
___________________________________________________________________________
Figura 18. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando a sonda Pbchs4(b)
com extratos protéicos de micélio ou levedura de P. brasiliensis, ou a proteína
recombinante CreAHg-GST– (A) 1: sonda Pbchs4(b) livre; 2: sonda Pbchs4(b) + extrato
de micélio; 3 e 4: sonda Pbchs4(b) + extrato de micélio + competidor específico 25X e 50X,
respectivamente; 5: sonda Pbchs4(b) + extrato de levedura; 6 e 7: sonda Pbchs4(b) + extrato
de levedura + competidor específico 25X e 50X, respectivamente; 8: sonda Pbchs4(b) +
CreAHg-GST. Foi utilizado 1,0 μg de proteína recombinante. (B) Seqüência da sonda
Pbchs4(b). Em negrito destaca-se o sítio para CreA.
Conforme mostra a figura 18, a sonda Pbchs4(b) apresenta três retardos da mobilidade
eletroforética quando incubada com extrato de micélio (poço2), e verificamos que essas
interações são específicas visto que na presença de concentrações crescentes do competidor
específico a formação desses complexos com a sonda marcada com fluorescência é reduzida
(poços 3 e 4). Observamos uma interação específica da sonda Pbchs4(b) quando incubada
com extrato de levedura, pois ela também é diminuída na presença de competidores
específicos (poços 6 e 7). Entretanto, sugerimos que essa interação não ocorre no sítio para
CreA, visto que a sonda Pbchs4(b) não interage com a proteína recombinante CreAHg-GST
(poço 8). O fator de transcrição CreA reconhece a seqüência consenso SYGGRG (S=C ou G,
Y=C ou T e R=A ou G), embora nem todas as possibilidades derivadas a partir dessa
66
seqüência consenso funcionem como sítio de ligação e alguns sítios sejam contexto-
dependentes (Cubero e Scazzocchio, 1994). Ensaios demonstraram que CreA de A. nidulans
pode reconhecer seqüências compostas por 6 nucleotídeos divergentes da seqüência consenso,
porém, a ligação a esses sítios atípicos está relacionada à proximidade de um segundo sítio
para CreA, o que estabilizaria o complexo DNA-proteína (Espeso e Penalva, 1994). Em nosso
trabalho, observamos que o domínio de ligação ao DNA de H. grisea não reconheceu o sítio
CTCCAG no promotor do gene Pbchs4. Ressaltamos que CreAHg-GST é considerada
funcional (dados do nosso grupo de pesquisa), mas devemos considerar a hipótese de que
CreA de H. grisea e CreA de P. brasiliensis podem apresentar afinidades de ligação distintas.
Entretanto, análises genéticas indicam que esse mecanismo regulatório é altamente
conservado entre os fungos. Vautard et al. (1999) relataram que o fator de transcrição CRE1
de Sclerotinia sclerotiorum apresenta 59% de similaridade e complementa funcionalmente
CreA de A. nidulans.
Os resultados de EMSA sugerem que o sítio para CreA da sonda Pbchs4(b) não é
funcional e, portanto, não demonstram o envolvimento do fator de transcrição CreA nas
interações obtidas entre a sonda Pbchs4(b) e os extratos de proteína de micélio e levedura de
P. brasiliensis. Todavia, consideramos que a utilização do domínio de ligação ao DNA da
proteína CreA de P. brasiliensis nos ensaios contribuirá para a análise dessa investigação. A
proteína CreA é relacionada à proteína Mig1p, o fator de transcrição que media a repressão
por glicose em genes de S. cerevisiae, e é necessária para a total repressão de genes de A.
nidulans envolvidos na via de utilização de etanol (Panozzo et al., 1998). Em A. nidulans,
quando o fungo é crescido em glicose, o gene creA é ativamente transcrito e traduzido. Essa
proteína repressora, ao se ligar na seqüência promotora, atua como competidor pelos sítios de
fatores de transcrição ativadores (revisto por Poças-Fonseca, 2000). Ensaios de gene repórter
revelaram que a atividade do gene lacZ controlada pelo promotor do gene quitina sintase 4 é
reprimida na presença de glicose (Sant’Ana, 2008). Portanto, visto que identificamos na
região intergênica de Pbchs4 e Pbchs5 18 sítios potenciais para o fator de transcrição CreA,
consideramos que o papel de CreA na regulação do gene quitina sintase 4 requer investigação
adicional.
67
4.2 – Análise da Região Promotora do Gene 1,3-β-glicana sintase de P. brasiliensis
A 1,3-β-glicana representa um dos principais componentes da parede celular de
fungos, e sua síntese é regulada pela enzima 1,3-β-glicana sintase. Em P. brasiliensis, foi
caracterizado um gene que codifica uma 1,3-β-glicana sintase (Pereira et. al., 2000),
denominado Pbfks1. A análise da região promotora do gene Pbfks1 revelou sítios de ligação
putativos para fatores de transcrição, destacados na figura 19:
Figura 19. Seqüência nucleotídica da região promotora do gene Pbfks1 (número de
acesso no GenBank AF148715) – O sítio de iniciação da tradução está em negrito. Os sítios
putativos para o TATA Box estão sublinhados. Foram destacadas as seqüências consenso
dos sítios putativos para os fatores de transcrição PacC, em vermelho, CreA, em amarelo,
FacB, em verde escuro, em verde claro os elementos de resposta ao estresse (STRE) e em
azul os elementos de resposta ao choque térmico (HSE).
Na região promotora do gene Pbfks1 foram encontrados três sítios para o fator de
transcrição PacC, que regula a expressão de genes em resposta ao pH. Também foram
identificados dois sítios para o fator de transcrição CreA, que reprime a expressão gênica na
presença de glicose, e quatro sítios para o fator de transcrição FacB, requerido para
crescimento em meio com fonte de dois carbonos, como acetato. Localizamos também três
elementos de resposta ao estresse (STRE) e quatro elementos de resposta ao choque térmico
(HSE).
-1235 GTCCGGTTGCATGCAGCCACCCCAGCTGTATAGGGCCCAGCCACGGCAGAAAACATCGGCATACCTGTTTAA
-1163 TTTACCTGAAAAGTTACGTACTCGGGAAATACCTGGAATACCTGTGAATAATACCTCCGTGCCTGAGCCCAT
-1091 TATTGGCTGATTCTGTCAATCCCTTACTTGGTATAATGTTCTGTCTGGTTGTTCTTGTGTATGTCAGTTTTG
-1019 TTGCAGATGTTTCTTTTTTTTCACTTCCCGCGTCCTCTCTCTTCTCCTCCTCCTCCTTTCGCCTTCGCTGCG
-947 ACCACCAACTTTTATTTTATTTTATGTTTCTTGACCACACTCTCTTTTTGTCTTCCTTTCGGTTTTGTCTCT
-875 CTCCCTCTCTCTCTGTTTACCTTTCTCACTCGTTCAACGGGTAACCAGGAGGGTCGTGAGAGCCAAGCAGCC
-803 CTGACACATTCTAATACCGGAGTGCCACGCTTGGCAGATCATTTTGCCTGTGCCGCCTCCTGTCGTTGCTGT
-731 TGCTGCTGCGACCGTACCTTCCTCGTCTGAGGCCTGCACTATTGGCTGCGTAACCACAACTTCACTCGTTTC
-659 ACAACAAATAATAATATCGAAAGGGGATACAAACGTCTTCTTCTTTCGTCTTCTTGTTTATCCTTCTTCCTC
-587 CTCCTCCTCCTCCTCCTCCCTCCCCCAATTCCCGTATCTTGTTGCTGCATTCTTTGCATCATCAATCGCTTG
-515 TTAGGTCCCACCCCCTGGAACCGTTGTCCCTTTTACCTGGCGTGTTGACCACCCACCCCTTCCTCCTCACAT
-443 CACTCTCTCGAATCGGTTTCGACCGTCAACTCTCTCTTATCCGGTTTCCAATTACGAGCTACACCTCTCTCC
-371 TATATAGCCCGTCGAAGGAAGAAGAGAAATAAAAGCAGGAAATCCTCGCGGTCTCATCTTTGTGTTGCGTTG
-299 CGTTGCTCTTGCTGTTTGCTTTGCTTCGCTGGCTTTGTTTACTTTCGTTTGACAATCGATTTGCGAGTACAC
-227 CACGACCGTTAACTACCAGGAATATCTTTCTTTTGCTTTTTCTGTCGACGGATTTTCCTTGCTTTTTGACAT
-155 CAGAGTTAATGGGTATGATAATATTATA
ACGTAAGCTTTCTTCTTGCTTGGGAGGGATTCGATTAGCTGATT
-83 GCGTGGTTGGAAATTCAAATTGGCTGACCAAGTTGCATCTATTGCCGCCCTACAGTCGAGAAATTTGAATTG
-11 TCCGTTTAACC
A
A
T
T
G
G
68
4.2.1 – Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética (EMSA): sonda Pbfks1(a)
A figura 20 mostra a seqüência de uma região do promotor do gene 1,3-β-glicana
sintase de P. brasiliensis utilizada como sonda em nossos experimentos, denominada sonda
Pbfks1(a). A sonda apresenta um elemento de resposta ao choque térmico (HSE) e um
putativo TATA Box.
Figura 20. Sonda Pbfks1(a) – Seqüência do oligonucleotídeo senso utilizado como sonda em
EMSA. Em azul destaca-se o elemento de resposta ao choque térmico. O putativo TATA Box
encontra-se sublinhado.
Em S. cerevisiae, a síntese de 1,3-β-glicana é realizada pelos produtos de dois genes
homólogos, FKS1 e FKS2. Foi observado que o mRNA de FKS2 de S. cerevisiae aumenta
quando a temperatura é alterada de 23°C para 39°C (Zhao et al., 1998). Ishihara et al. (2007)
realizaram construções moleculares para expressar Fks1p e Fks2p sob a regulação do
promotor de FKS1 ou do promotor de FKS2 em linhagens mutantes fks1/fks2. Após a
exposição à temperatura de 55°C, foi verificada a viabilidade dos esporos. As linhagens que
expressaram Fks1p e Fks2p sob a regulação do promotor FKS2 apresentaram sensibilidade
térmica similar às linhagens selvagens, enquanto que as linhagens onde as proteínas foram
expressas sob a regulação do promotor FKS1 apresentaram sensibilidade semelhante aos
mutantes não transformados. Esses resultados mostram que o promotor de FKS2 parece
responder ao choque térmico, visto que direcionou a expressão de 1-3-β-glicana sintase em
resposta ao aumento de temperatura. No promotor de FKS2 de S. cerevisiae não há HSE
dentro de uma seqüência de pelo menos 1 kb a montante do sítio de iniciação da tradução
(Zhao et al, 1998). É proposto por Kim et al. (2008) que a atividade transcricional de FKS2
em S. cerevisiae requer a formação de um complexo entre Mpk1, componente da cascata
MAP quinase, e Swi4/Swi6, dois componentes do fator transcricional SBF.
A análise com a ferramenta TESS não localizou sítios para Swi4/Swi6 no promotor do
gene Pbfks1, mas nossa análise revelou a presença de quatro elementos de resposta ao choque
69
térmico. Yamamoto et al. (2005) relataram que em S. cerevisiae a proteína HSF, fator de
transcrição de resposta ao choque térmico, é necessária para a resposta ao choque térmico
induzindo não apenas a transcrição de HSPs, mas também de genes que codificam proteínas
envolvidas em uma diversidade de processos celulares, tais como degradação, geração de
energia, metabolismo de carboidratos e manutenção da integridade da parede celular. Para
investigar o papel de HSE na regulação do promotor do gene 1,3-β-glicana sintase de P.
brasiliensis, selecionamos a seqüência correspondente à sonda Pbfks1(a) que contém um
elemento de resposta ao choque térmico para realização do ensaio de retardo da mobilidade
eletroforética.
Realizamos o EMSA com a sonda Pbfks1(a) e extratos protéicos de micélio e
levedura, utilizando como competidores a sonda mutada ou em HSE ou a sonda mutada no
putativo TATA Box (figura21).
70
___________________________________________________________________________
A
B
Sonda Pbfks1(a): ATTACGAGCTACACCTCTCTCCTATATAGCCCGT
C
C
G
G
A
A
A
A
G
G
G
G
A
A
A
A
G
G
A
A
A
A
G
G
A
A
G
G
A
A
A
A
A
AT
Competidor Mut1(TATA): ATTACGAGCTACACCTCTCTCCCCCCCCGCCCGTCGAAGGAAGAAGAGAAAT
Competidor Mut2(HSE): ATTACGAGCTACACCTCTCTCCTATATAGCCCGTCGCCGGCCGCCGAGCCAT
___________________________________________________________________________
Figura 21. Ensaio de Retardo da Mobilidade Eletroforética utilizando as sondas
Pbfks1(a) mutadas e extrato protéico de micélio ou levedura de P. brasiliensis – (A) 1:
sonda Pbfks1(a) livre; 2: sonda Pbfks1(a) + extrato de micélio; 3 e 4: sonda Pbfks1(a) +
extrato de micélio + competidor específico 25X e 50X, respectivamente; 5 e 6: sonda
Pbfks1(a) + extrato de micélio + competidor Mut1(TATA) 25X e 50X, respectivamente; 7 e
8: sonda Pbfks1(a) + extrato de micélio + competidor Mut2(HSE) 25X e 50X,
respectivamente; 9: sonda Pbfks1(a) + extrato de levedura; 10 e 11: sonda Pbfks1(a) + extrato
de levedura + competidor específico 25X e 50X, respectivamente; 12 e 13: sonda Pbfks1(a) +
extrato de levedura + competidor Mut1(TATA) 25X e 50X, respectivamente; 14 e 15: sonda
Pbfks1(a) + extrato de levedura + competidor Mut2(HSE) 25X e 50X, respectivamente. (B)
Seqüência da sonda Pbfks1(a), destacando em negrito o HSE, e sublinhado encontra-se um
putativo TATA Box. Nas sondas Pbfks1(a) mutadas, os sítios modificados encontram-se em
duplo sublinhado.
71
Conforme observamos na figura 21, a sonda Pbfks1(a) apresenta um retardo da
mobilidade eletroforética quando incubada com extrato de micélio (poço 2) e com extrato de
levedura (poço 9). Observamos que para as duas condições, o retardo é gradativamente
abolido na presença do competidor em que o HSE encontra-se modificado (poços 7, 8, 14 e
15). Sakuray e Takemori (2007) demonstraram que a alteração de GAA por GCC em uma das
unidades repetitivas de HSE do promotor de um gene de S. cerevisiae reduz drasticamente a
atividade transcricional em ensaios de gene rerter. Em nosso trabalho, modificamos o sítio
CGAAGGAAGAAGAGAAA para CGCCGGCCGCCGAGCC. Entretanto, observamos que
mesmo com essa modificação a sonda continuou atuando como competidor. Visto que a
modificação desse sítio não interfere no ensaio de competição, esse resultado revela que essa
interação não está associada ao HSE. Observamos ainda que a interação não é abolida na
presença do competidor em que o putativo TATA Box está modificado (poços 5, 6, 12 e 13),
indicando que a modificação desse sítio impede a competição. Esse resultado sugere que a
interação está ocorrendo no TATA Box.
O TATA Box é um elemento presente na estrutura do promotor onde se liga a proteína
TPB (TATA Binding Protein) para que o complexo de iniciação da transcrição seja formado.
A seqüência consenso para o TATA Box é TATAAA, mas observa-se que uma ampla
variedade de seqüências pode atuar como TATA Box in vivo (revisto por Butler et al., 2002).
TBP é uma subunidade do fator de transcrição basal TFIID, e em S. cerevisiae essa
subunidade foi purificada preferencialmente como um único polipeptídeo do que como um
complexo multiprotéico. Em geral, o TATA Box é localizado entre 25 a 30 pb a montante do
sítio de iniciação da transcrição, e mutações no TATA Box podem reduzir ou abolir a
atividade promotora (revisto por Smale e Kadonaga, 2003). Porém, observa-se que o TATA
Box não é um componente universal dos promotores e que não apenas TBP, mas também
fatores a ele associados podem mediar a iniciação da transcrição governada pela RNA
polimerase II (revisto por Muller et al., 2007). Entretanto, a dificuldade de identificação de
motivos funcionais compromete a compreensão da estrutura e função promotora na regulação
do respectivo gene. Nessa perspectiva, a identificação de elementos funcionais no promotor
do gene Pbfks1 poderá contribuir para a compreensão da regulação de promotores em P.
brasiliensis.
72
4.2.2 – Análise da Expressão do Gene 1,3-β-glicana sintase de P. brasiliensis
Em P. brasiliensis, o conteúdo de 1,3-β-glicana é maior na parede celular de micélio,
enquanto que o conteúdo de 1,3-α-glicana é superior na parede celular de levedura
(Kanetsuna et al., 1972). Marques et al. (2004) relataram que nesse organismo a expressão de
1,3-α-glicana sintase é maior na levedura do que no micélio. Nesse sentido, analisamos os
níveis do transcrito do gene 1,3-β-glicana sintase nas fases de micélio e levedura de P.
brasilienses utilizando a técnica de RT-PCR em Tempo Real. Os resultados estão
apresentados na tabela 6.
Tabela 6. Análise da diferença entre os níveis de transcrito do gene Pbfks1 em micélio e
em levedura de P. brasiliensis – A análise da expressão foi realizada por RT-PCR em Tempo
Real utilizando RNA obtido de culturas de micélio e levedura de P. brasiliensis. Como
controle interno, foi realizada a amplificação do gene constitutivo L34 de P. brasiliensis. A
análise dos dados de amplificação foi realizada utilizando-se o método ∆∆Ct.
Conforme observamos na tabela 6, os níveis do transcrito do gene Pbfks1 foram
maiores na fase micelial do que na fase de levedura. Esses resultados sugerem que a
expressão do gene Pbfks1 está correlacionada com a síntese de 1,3-β-glicana, visto que na
parede celular de P. brasiliensis esse polímero predomina na forma de micélio.
Observamos que a região promotora do gene Pbfks1 apresenta dois sítios para o fator
de transcrição CreA, que reprime a expressão gênica na presença de glicose, e quatro sítios
para o fator de transcrição FacB, requerido para crescimento em meio com acetato como fonte
de carbono. Nessa perspectiva, verificamos também os níveis do transcrito do gene 1,3-β-
glicana sintase em culturas de P. brasiliensis quando o fungo foi crescido em glicose ou em
acetato de sódio por um período de 5 horas (tabela 7).
73
Tabela 7. Análise da diferença entre os níveis de transcrito do gene Pbfks1 em glicose e
acetato de sódio – A análise da expressão foi realizada por RT-PCR em Tempo Real
utilizando RNA obtido de culturas de levedura de P. brasilienis crescidas em glicose ou
acetato 2%, por um período de cinco horas. Como controle interno, foi realizada a
amplificação do gene constitutivo L34 de P. brasiliensis. A análise dos dados de amplificação
foi realizada utilizando-se o método ∆∆Ct.
Observamos na tabela 7 que os níveis do transcrito do gene 1,3-β-glicana sintase
foram maiores após o crescimento em acetato de sódio. Mazur et al. (1995) relataram que em
S.cerevisiae os níveis de mRNA de FKS2 são maiores quando o fungo é crescido em acetato
de sódio do que quando crescido em glicose. Dessa forma, sugerimos que o gene 1,3-β-
glicana sintase de P. brasiliensis apresenta um comportamento transcricional semelhante ao
descrito para FKS2 de S. cerevisiae.
Pereira et al. (2000) relataram que os níveis de mRNA de Pbfks1 não foram detectados
por RT-PCR em culturas crescidas em meio com glicose. Nossos resultados demonstraram
que a expressão de Pbfks1, apesar que após um período de cinco horas foi maior em acetato,
também ocorre na presença de glicose. Ressaltamos que a RT-PCR em Tempo Real é uma
metodologia que apresenta maior sensibilidade e, por isso, pode justificar a divergência na
detecção dos transcritos.
4.2.3 – Sistema de Gene Repórter lacZ para Análise da Região Promotora do Gene 1,3-
β-glicana sintase de P. brasiliensis
4.2.3.1 - Confirmação da Clonagem da Região Promotora do Gene Pbfks1 no Vetor
Gene Repórter
Para avaliar a atividade do promotor do gene Pbfks1, realizamos a transformação de A.
nidulans com o vetor gene repórter contendo a região promotora do gene Pbfks1. Para
confirmação da clonagem do inserto no vetor gene repórter, esse vetor foi digerido com a
enzima de restrição Bam H1. Após a digestão, o vetor gene repórter liberou o inserto de
74
aproximadamente 800 pb (Figura 22), correspondente ao fragmento de DNA clonado. Dessa
forma, confirmamos que o vetor utilizado contém o inserto de nosso interesse.
Figura 22. Análise eletroforética em gel de agarose 0,8% corado com brometo de etídeo
(0,5 μg/mL) da digestão do vetor gene repórter (vetor 42B da série pAN923) contendo a
região promotora do gene Pbfks1 – M: marcador de massa molecular (1 Kb Plus DNA
Ladder); 1: vetor intacto; 2: digestão do vetor com a enzima de restrição Bam H1, indicando
um fragmento de DNA de aproximadamente 800 pb correspondente à região promotora do
gene Pbfks1 clonada no vetor gene repórter.
4.2.3.2 - Confirmação da Transformação de A. nidulans com o Vetor Gene Repórter
Contendo a Região Promotora do Gene Pbfks1
Após a transformação de A. nidulans com o vetor gene repórter contendo a região
promotora do gene Pbfks1 e obtenção de transformantes estáveis mitoticamente, foi realizada
a extração de DNA total dos transformantes. Empregamos a técnica de PCR para amplificar
um fragmento do promotor do gene Pbfks1, a fim de confirmar a transformação. A figura 23
apresenta a análise eletroforética dos produtos obtidos pela PCR.
75
Figura 23. Análise eletroforética em gel de agarose 0,8% corado com brometo de etídeo
(0,5 μg/mL) da amplificação de um fragmento do promotor do gene Pbfks1 a partir do
DNA dos fungos transformantes – M: marcador de massa molecular (100 pb DNA Ladder);
1, 2 e 3: amplificação a partir do DNA total dos transformantes B, C e D, respectivamente; 4:
C-, correspondente à reação de PCR sem adição de DNA; 5: PCR a partir do DNA da
linhagem argB
-
de A. nidulans
(linhagem não transformada); 6: PCR a partir do DNA do
fungo transformado com vetor sem conter o promotor do gene Pbfks1 como inserto.
Observamos na figura 23 a amplificação de um fragmento de DNA de
aproximadamente 800 pb, correspondente ao promotor do gene Pbfks1 presente no DNA dos
transformantes B, C e D. Verificamos também que o DNA do fungo transformado com vetor
sem conter o promotor do gene Pbfks1 como inserto, assim como o DNA da linhagem argB
-
de A. nidulans (linhagem não transformada), não apresentam amplificação correspodente ao
promotor do gene Pbfks1, conforme o esperado. Dessa forma, confirmamos transformação de
A. nidulans com o vetor gene repórter contendo a região promotora do gene Pbfks1.
4.2.3.3 - Análise da Atividade Promotora do Gene Pbfks1 em Diferentes Fontes de
Carbono
Avaliamos a atividade promotora do gene Pbfks1 utilizando o sistema de gene repórter
lacZ em A. nidulans para verificar diferenças na produção da β-galactosidase quando os
transformantes foram crescidos em glicose e acetato de sódio como fontes de carbono.
Entretanto, não detectamos a atividade de β-galactosidase nos ensaios em placa (dados não
mostrados).
76
Em S. cerevisiae, as proteínas Fks1p e Fks2p, codificadas pelos genes FKS1 e FKS2,
respectivamente, parecem ter regulações opostas. Durante o crescimento em glicose, a
expressão de FKS1 é alta e a de FKS2 é baixa; durante a esporulação, em que a principal fonte
de carbono é o acetato, a expressão de FKS1 é baixa e a de FKS2 é alta. Mazur et al. (1995)
mostraram que a expressão de FKS2 em S. cerevisiae predomina durante o crescimento em
acetato, e que os níveis de mRNA decrescem quando o acetato é substituído por glicose.
Nossos resultados de RT-PCR em Tempo Real sugerem um comportamento de Pbfks1
semelhante ao observado para FKS2 de S. cerevisiae, visto que os níveis do transcrito do gene
1,3-β-glicana sintase de P. brasiliensis foram maiores em meio contendo acetato do que em
meio contendo glicose. Segundo Zhao et al. (1998), a repressão por glicose em FKS2 de S.
cerevisiae é aparentemente regulada por Mig1p, homólogo de CreA. Foram identificados dois
sítios de ligação para Mig1p no promotor de FKS2, ambos dentro de uma região necessária
para a indução de FKS2 em fontes pobres de carbono em ensaios de gene repórter. Além
disso, mutantes que não expressam Mig1p apresentaram expressão de FKS2 em níveis
elevados quando cultivados em meio contendo glicose. Observamos que o promotor do gene
Pbfks1 apresenta dois sítios para o fator de transcrição CreA, e ressaltamos que foram
identificados quatro sítios para o fator de transcrição FacB, requerido para crescimento em
meio contendo acetato como fonte de carbono.
A atividade da β-galactosidase pode ser detectada pela visualização em placa da
coloração azul dos transformantes, ou pela quantificação em meio líquido, em que os ensaios
enzimáticos detectam a atividade de β-galactosidase na presença do substrato o-nitrofenil-β-
D- galactopiranosídeo (ONPG). O sistema de gene repórter lacZ é atualmente amplamente
empregado, e tem revelado dados sobre a regulação de genes de Candida sp. (BaeK et al.,
2006; Hsu et al., 2008; Lenardon et al., 2008; Walker et al., 2008), de S. cerevisiae (Zhao et
al., 2008) e A. nidulans (Hynes et al., 2006). Entretanto, observa-se que a realização de
ensaios em meio líquido é predominante. A quantificação enzimática da proteína repórter
fornece uma estimativa da produção da proteína regulada pelo promotor em estudo mesmo em
concentrações baixas, e permite a realização de comparações precisas das diferenças da
atividade promotora em diferentes condições. Em nosso trabalho, realizamos a transformação
de A. nidulans com o vetor gene repórter lacZ contendo o promotor do gene Pbfks1,
confirmamos a transformação por meio da seleção de clones mitoticamente estáveis que
apresentaram a marca de seleção auxotrófica, e verificamos por PCR a presença do promotor
77
do gene Pbfks1 no DNA dos transformantes. Realizamos o ensaio piloto para detecção da
atividade de β-galactosidase em placa, mas nossos resultados são preliminares, e
consideramos que a padronização de ensaios quantitativos poderão elucidar a atividade
promotora do gene Pbfks1 no sistema de gene repórter lacZ.
78
5 – CONCLUSÃO
Em nosso trabalho, analisamos a região promotora dos genes Pbchs4 e Pbfks1.
Por meio de EMSA, verificamos que a sonda Pbchs4(b), que contém um sítio para o
fator de transcrição CreA, não interage com o domínio de ligação ao DNA da proteína CreA
de H. grisea, mas apresenta interações DNA-proteína específicas com proteínas do extrato
protéico total obtido a partir das fases de micélio e levedura. Demonstramos também que a
sonda Pbchs4(a), que contém sítio para o fator de transcrição PacC e dois elementos de
resposta ao estresse (STRE), não interage com o domínio de ligação ao DNA da proteína
PacC de P. brasiliensis. A sonda Pbchs4(a) apresenta o nucleotídeo “G” na posição cinco da
seqüência consenso reconhecida por PacC de A. nidulans. Embora a substituição de “A” por
“G” nessa posição seja descrita como tolerada nesse organismo, PacC de P. brasiliensis não
reconheceu esse sítio no promotor Pbchs4, mas demonstramos que a proteína recombinante
PacCPb-GST é capaz de reconhecer sondas de H. grisea que apresentam o sítio GCCAAG,
que apresenta “A” na quinta posição. Além disso, ensaios com sondas mutadas sugerem que
uma interação específica que ocorre entre a sonda Pbchs4(a) e extratos protéicos das fases de
micélio e levedura envolva o motivo STRE. Observamos que a sonda Pbfks1(a), que contém
um elemento de resposta ao choque térmico (HSE) e um TATA Box, apresenta uma interação
DNA-proteína específica com extratos protéicos das fases de micélio e levedura. Ensaios com
sondas mutadas sugerem que essa interação possa estar ocorrendo no TATA Box e não no
HSE.
Em ensaios de gene repórter lacZ para análise do promotor do gene Pbfks1 não foi
possível detectar a atividade em placa de β-galactosidase, mas resultados de RT-PCR em
Tempo Real revelaram que o transcrito do gene Pbfks1 é mais abundante em meio contendo
acetato do que em meio contendo glicose como fonte de carbono, sugerindo um
comportamento semelhante ao descrito para FKS2 de S. cerevisiae.
A análise dos promotores dos genes Pbfks1 e Pbchs4 realizada pelo nosso grupo de
pesquisa fornece dados pioneiros sobre o estudo de promotores de P. brasiliensis, e a
continuação dessas investigações poderão contribuir para a compreensão da regulação da
79
expressão gênica nesse patógeno, particularmente no tocante à biossíntese e remodelação da
parede celular.
6 – PERSPECTIVAS
Î Avaliar a atividade do gene repórter lacZ em meio líquido utilizando glicose e acetato
para verificar o efeitos dessas fontes de carbono na atividade promotora do gene
Pbfks1;
Î Avaliar se os sítios para CreA e FacB identificados na região promotora do gene
Pbfks1 interagem com extratos protéicos de micélio e levedura de P. brasiliensis para
determinar o possível papel desses fatores na regulação do promotor, visto que por
meio de RT-PCR em Tempo Real observamos que o transcrito do gene Pbfks1 é maior
em meio contendo acetato do que em meio contendo glicose como fonte de carbono;
Î Avaliar qual é o sítio de ligação presente na sonda Pbchs4(b) que está interagindo com
proteínas dos extratos protéicos de micélio e levedura;
Î Avaliar a atividade do gene repórter lacZ em meio líquido em condições de estresse
osmótico para verificar o efeito dessa condição na atividade promotora do gene
Pbchs4, e compreender a regulação no elemento de resposta ao estresse proposta neste
trabalho;
Î Avaliar se o sítio GCCAAG, que apresenta o nucleotídeo “A” na posição 5 e foi
identificado na região intergênica dos genes Pbchs4 e Pbchs5, interage com PacCPb-
GST, a fim de elucidar a(s) seqüência(a) que pode(em) ser reconhecida(s) por PacC de
P. brasiliensis.

80
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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