dois extremos: uma relação de alienação e opressão, na qual o indivíduo se submete
à subjetividade tal como a recebe, ou uma relação de expressão e de criação, na qual
o indivíduo se reapropria dos componentes da subjetividade, produzindo um
processo que eu chamaria de singularização. (GUATTARI e ROLNIK, 2005, p. 42)
A noção de transversalidade está em sintonia com a noção de máquina, ou
melhor, com a noção de produção de subjetividade, já que não haveria distinção entre os
domínios do social e do indivíduo. Ambos estariam em um mesmo plano de conexões
heterogêneas, engendrados numa co-produção, distintos apenas pelos modos de relação
dos termos – submissão/singularização. Barros (1994, p. 267) resume claramente os
processos que, pelos coeficientes de transversalidades
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podem ser evidenciados.
Há processos, conexões incessantes e permanentes, pedaços de sujeitos-objetos que
criam outros, pedaços que se cortam e não mais se conectam. Há redes de relações
que se montam não mais por horizontalidades e verticalidades, mas por
transversalidades. Atravessamentos que não param de desmontar as linearidades e
causalidades explicativas dos atos-sujeitos-objetos. Atos de expansão, atos de
implosão, atos-corte-de-fluxos. Estamos no ‘meio’ o tempo inteiro. No ‘meio’,
‘entre’, onde não há mais identidades que se sustentem, a não ser na sua evidente
provisoriedade. Estamos numa onda, que vem sabe-se lá de que movimento de água,
faz outro movimento, desemboca ainda em um outro e já flui para outras paragens.
Trata-se de processualidade, onde não há dualismo entre sujeito-objeto, mas
devires com todas as suas possibilidades de conexões. Assim ocorrem os modos de
subjetivação que, em sua processualidade, constituem a subjetividade. Mais exatamente,
a produção de subjetividade se constitui como matéria-prima para qualquer produção
social sem qualquer transcendência. Em resumo, por modos de subjetivação entende-se:
[...] processos que tanto construirão certos objetos de interesse, quanto conformarão
modos de existir. Quando nos referimos, portanto, a modos de subjetivação, os
estamos tomando em seu sentido intensivo, isto é, enquanto maneira pela qual, a
cada momento da história, prevalecem certas relações de poder-saber que produzem
objetos-sujeitos, necessidades e desejos. (BARROS, 1994, p. 28)
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A esse respeito Barros (1994, p. 342), seguindo a definição dada por Guattari, explica que o coeficiente de
transversalidade pode ser entendido como “grau de abertura à alteridade do próprio grupo e, portanto, à
emergência da diferença”. Seu aumento é proporcional ao aumento de comunicação, ou de abertura para outros
tipos de grupo.