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No primeiro capítulo deste trabalho, dedicado à técnica tintinabular, chegamos a ver
um pouco do uso por Pärt de processos aditivos. Entretanto, naquele momento, não
utilizamos esta nomenclatura; tampouco o vinculamos à música minimalista. Chegamos
agora ao momento de irmos um pouco além neste campo.
Pärt, em suas composições vocais, recorre ao texto para estruturar a música, mais
precisamente para compor suas vozes-M. Quando escreve música instrumental, ele
freqüentemente utiliza processos aditivos. Estes processos costumam iniciar numa única
nota, e por meio de um sistema simples, adotado para a peça, adicionam uma segunda nota,
depois uma terceira e assim por diante.
A idéia pode ser resumida na fórmula A – AB – ABC – ABCD..., da qual podemos
deduzir algumas variantes: A – BA – CBA – DCBA..., ou A – AxA – AxyA – AxyzA...
Für Alina, analisada no segundo capítulo, utiliza um processo aditivo aplicado ao
número de notas, embora não às próprias notas, ou melhor, às suas alturas. Vimos que cada
pequena frase, terminada sempre com uma nota longa, contém uma nota breve a mais que a
anterior, formando uma estrutura 1-2-3-4-5-6-7-6-5-4-3-2-1-2. Um processo aditivo nos
levando a sete notas breves (além da longa), quando passa a ocorrer um processo subtrativo
que nos leva de volta a uma nota; e ainda um esboço de nova adição, na última frase, com
duas notas.
Pärt chega até uma frase de oito notas, a partir da qual cada compasso traz uma nota
a menos, até o ponto em que elas são apenas duas, no penúltimo compasso. No último, a
presença de três notas evoca o recomeço do ciclo aditivo, sugerindo a eternidade desta
alternância de acréscimo e decréscimo, à maneira das órbitas dos planetas, das fases da Lua
e da sucessão das estações
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Já em Fratres (1977), para orquestra de cordas, claves e gran cassa coberta, Pärt
utiliza um processo mais rigoroso. A melodia parte sempre de um centro, marcado na
Figura 8 com o número zero, e se expande para o grave e para o agudo, uma nota a mais a
cada vez. Marcamos as notas no grave com números negativos, e as no agudo com número
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Não é por acaso que ciclos interessam a vários compositores pós-minimalistas, como Kyle Gann, cujos
escritos fazem parte de nossa bibliografia. Interessado em Astrologia, Gann evoca ciclos planetários na sua
obra de câmera The Planets, em dez movimentos, composta entre 1994 e 2008.