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físico, mental e social, não se limitando à ausência de doenças. Conceito este que
nunca foi poupado de críticas
3
- por seu caráter “utópico”, “vago” e “sem
possibilidade de mensuração” – ou revisto.
Ao apontar as relações discursivas entre a ciência e a sociedade como
suporte à nova configuração da medicina, Arouca nos ajuda na identificação de uma
importante ideia de causação, uma relação reflexiva presente em todo o discurso da
Medicina Preventiva e que transborda os limites do campo das práticas e saberes da
saúde, atingindo os espaços da economia, educação, e outros tantos. Assim,
contamos com categorias distintas, porém indissociáveis e equivalentes na
importância, para operar o que o autor chama de “espiral de saúde”, onde todas as
categorias possuem a mesma força causativa. Um
pensamento circular a partir de um ponto no qual a homogeneidade das
categorias (biológicas, econômicas, sociais, etc.) faz com que, a partir de
qualquer lugar se mova a roda do processo social, em um movimento
ascendente de espiral(AROUCA, 2003:125).
O autor cita o paradigma do Ciclo Econômico de Saúde e da Doença
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, de
Winslow, como uma derivação de tal pensamento circular, onde a pobreza e a
doença formam um “círculo vicioso”, onde uma é condição de possibilidade da outra.
A ideia de causação nos ajuda a intuir um conceito ampliado de saúde que,
embora impossível de ser definido cientificamente, segundo Luz (1979), possui uma
profunda interligação com as “condições de vida”
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do homem, pertencendo a um
mesmo processo sócio-econômico “que pode ser configurado em quadros
conjunturais de saúde”(LUZ, 1979:244). Tal afirmação, pensamos, vai de encontro
com o processo que ascende ou descende em espiral, através de uma
interdependência entre setores diversos da sociedade equivalentes entre si em seu
poder de causação.
3
Dentre as críticas de vários autores, destacamos a de Almeida Filho em Almeida Filho, N. de. O
Conceito de saúde: ponto-cego da epidemiologia? Rev. bras. epidemiol. , São Paulo, v. 3, n. 1-
3, 2000. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php ?script=sci_arttext&pid=S1415-
790X2000000100002&lng=en&nrm=iso
4
Maiores detalhes em WINLOW, C.E.A. L’importance économique de La medicine preventive.
Chronique de L’Organization Mondial de La Santé, v.6, n.7-8:211-223, 1952.
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“Associamos, neste sentido, condições de vida a condições sociais de produção(variação dos
salários, da repartição da renda, da alimentação, das considerações de moradia, dos transportes, da
segurança, do trabalho, do acesso à informação e à educação, entre outros dados)” (LUZ, 1979:244).