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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Carlos Eduardo Figueiredo Cabral
A moeda: Marx e Keynes
MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA
SÃO PAULO
2009
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Carlos Eduardo Figueiredo Cabral
A moeda: Marx e Keynes
MESTRADO EM ECONOMIA POLÍTICA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de MESTRE
em Economia Política, sob a orientação do
Prof., Doutor João Machado Borges Neto.
SÃO PAULO
2009
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BANCA EXAMINADORA
__________________________________
__________________________________
__________________________________
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar a moeda dentro da economia capitalista. Busca-se
mostrar que a moeda não é somente um elemento que facilita as trocas. Essa visão de
neutralidade da moeda faz parte da teoria chamada ortodoxa. Em contraposição a esta teoria
será colocada a idéia de que a moeda desempenha um papel fundamental no sistema, pois
ela forma o início e o resultado de qualquer produção, o que afeta todas as outras variáveis
econômicas. Para defender essa hipótese serão utilizadas como recurso teórico algumas das
obras dos autores Karl Marx e John Maynard Keynes, bem como textos de apoio,
principalmente de Maria de Lourdes Rollemberg Mollo (1988) e Leda Maria Paulani
(1991).
Palavras-chave: Moeda, Neutralidade, Capital, Incerteza, Produção.
ABSTRACT
This work aims to analyze the currency within the capitalist economy. Try to show that the
currency is not just an element that facilitates the exchange. This vision of neutrality of
money is part of the theory called Orthodox. In contrast to this theory is on the idea that
money plays a key role in the system, because it means the beginning and the outcome of
any production, which affects all other economic variables. To defend this hypothesis will
be used as some theoretical appeal of the works of author Karl Marx and John Maynard
Keynes, and texts of support mainly from Maria de Lourdes Rollemberg Mollo (1988) and
Leda Maria Paulani (1991).
Keywords: Money, Neutrality, Capital, Uncertainty, Production.
Para minha família.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I – O DINHEIRO EM MARX 12
1.1 – INTRODUÇÃO 12
1.2 – O DUPLO CARÁTER DA MERCADORIA 13
1.3 – O DINHEIRO EM MARX 17
– MERCADORIA–CAPITAL, JUROS E CAPITAL FICTÍCIO 21
CAPÍTULO II – O DINHEIRO EM KEYNES 27
2.1 – INTRODUÇÃO 27
2.2 – INCERTEZAS E NÃO-ERGODICIDADE NO CAPITALISMO 28
2.3 – O CONCEITO DE DEMANDA EFETIVA 31
2.4 – AS PROPRIEDADES ESSENCIAIS DO DINHEIRO 37
CAPÍTULO III – UMA ANÁLISE DE KEYNES E MARX 42
3.1 – INTRODUÇÃO 42
3.2 – O CONCEITO DE ECONOMIA EMPRESARIAL EM KEYNES 42
3.3 UMA BREVE ANÁLISE SOBRE A TAXA DE JUROS EM
KEYNES E EM MARX 45
3.4 ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE O CAP. 17 DA TEORIA
GERAL DE KEYNES 48
CONCLUSÃO 50
BIBLIOGRAFIA 55
ANEXO I 58
ANEXO II 77
9
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo contribuir para o entendimento do
significado da moeda, ou dinheiro, dentro da economia capitalista.
Um dos pontos mais emblemáticos e também mais controversos na história do
pensamento econômico é justamente o papel do dinheiro na economia capitalista. Segundo
a abordagem que forma o chamado mainstream econômico, ou seja, a corrente de
pensamento dominante que será chamada aqui de escola Ortodoxa, a moeda tem uma
influência neutra na economia capitalista, senão no curto prazo, pelo menos no longo prazo.
Esta afirmação implica conceber a moeda apenas como um mero facilitador das trocas de
mercadorias. Para estes teóricos, os agentes econômicos realizam trocas com o objetivo de
maximizar a utilidade de que podem desfrutar, e isto não tem uma natureza diferente do que
acontece numa economia de escambo (sem dinheiro).
Assim, na teoria ortodoxa, a moeda atua como um ‘lubrificante’, ou um expediente
para viabilizar as trocas. Com a generalização das trocas, o desejo de troca de um
indivíduo, por exemplo, pode não ser equivalente ao desejo de troca de seu vizinho. Ou
seja, pode não haver uma dupla coincidência das vontades. A moeda entra então em cena,
como mera facilitadora das trocas, por causa das diferentes necessidades dos agentes
econômicos no sistema. Reter moeda no sistema atual seria uma atitude não muito gica,
dado que a moeda não possui qualquer tipo de utilidade própria e não gera qualquer tipo de
rendimento. Aquilo que eventualmente não for consumido será com certeza poupado, mas
não entesourado, de maneira que essa poupança se tornará imediatamente investimento, via
intermediação bancária. A taxa de juros é o preço que equilibra investimento e poupança. O
investimento é associado à demanda de recursos (empréstimos), que depende da
produtividade marginal do capital, e a poupança, vista como adiamento do consumo, é
considerada uma troca de consumo presente por consumo futuro. Ou seja, a taxa de juros é
determinada na intersecção entre oferta e demanda de recursos (empréstimos).
Por outro lado, nos modelos chamados de fluxo circular da renda, uma
representação da Lei de Say, toda oferta gera sua própria demanda. Na economia assim
representada não existem ‘vazamentos’ e todo o produto agregado se esgota na
10
remuneração dos fatores de produção. Todos os agentes maximizarão suas utilidades e a
economia tenderá para um equilíbrio perfeito. Se ele não for alcançado no curto prazo ou
no médio prazo, o será no longo prazo.
Esse equilíbrio é um equilíbrio de pleno emprego, ou seja, se existir desemprego na
economia, é por que as pessoas que se declaram desempregadas não querem se sujeitar a
trabalhar pelo salário vigente. Ou seja, o desemprego é voluntário
1
. Nesta abordagem, o
salário é determinado, como em qualquer outro mercado, pela oferta de trabalho feita pelos
trabalhadores e pela demanda por trabalho feita pelos empresários. Por meio do cruzamento
entre essas curvas de oferta e demanda se chega ao nível de emprego de equilíbrio e ao
nível de salário real de equilíbrio. Portanto, a economia está no pleno emprego.
Um dos modelos que estão presentes dentro do pensamento Ortodoxo e que serve de
referência para toda a teoria ortodoxa contemporânea é o modelo de equilíbrio geral
walrasiano. O ponto de partida desse modelo é uma economia com trocas puras, em que os
agentes econômicos, tanto compradores quanto vendedores, têm informação perfeita.
Nenhum deles tem poder para influenciar o mercado e são todos “tomadores de preços”, ou
seja, a economia opera no que se chama de “concorrência perfeita”. Prevalece a
atemporalidade. O dinheiro sequer aparece ou, se admitimos que aparece, é como se não
tivesse aparecido, pois não tem qualquer influencia na busca pelo equilíbrio o que é
apenas o uso de um dos bens como “numerário”. Existe um leiloeiro, o leiloeiro walrasiano,
que propõe um vetor de preços e soma o conjunto das ofertas e demandas a estes preços.
Caso não se chegue ao equilíbrio, o procedimento se repete, até que se consiga chegar ao
equilíbrio.
Segundo Walras, o equilíbrio geral apresentado por ele através da linguagem
matemática significa que ele demonstrou aquilo que ‘nenhum’ outro economista tinha
conseguido até então, que era fundamentar de forma científica o equilíbrio expressado por
Adam Smith com a metáfora da ‘mão invisível’. Na visão dele e de muitos outros ciência se
faria através da representação matemática. Na mesma linha, a formulação moderna neo-
1
Admite-se também a existência de um tipo de desemprego temporário, dito “friccional”.
11
walrasiana, o modelo Arrow-Debreu, é considerada pelos economistas ortodoxos como a
prova matemática do argumento da ‘mão invisível’.
Devido a este modelo de referência, e a desdobramentos não expostos aqui por
motivo de espaço, a teoria Ortodoxa não admite a hipótese de que o lado monetário, a
moeda, seja capaz de interferir no lado real da economia, a produção de bens e serviços.
Isso pelo menos no médio e no longo prazo.
Essa suposta neutralidade da moeda pode também ser analisada a partir da Teoria
Quantitativa da Moeda, M.V = P.Y. Essa Teoria diz que a velocidade de circulação da
moeda e o produto são constantes. Nesta relação, a economia está no pleno emprego e é
impossível alterar esse produto no curto prazo – a quantidade de capital, máquinas e
equipamentos, é fixa no curto prazo. No caso de ocorrer uma elevação da demanda além do
produto de pleno emprego a conseqüência será a elevação de preços.
A posição defendida neste trabalho é completamente oposta à da teoria Ortodoxa. A
suposição de a moeda ser neutra não faz o menor sentido dentro do sistema capitalista. Ela
tem papel fundamental na economia. Entre outras coisas, a moeda é o padrão de valor e
serve como reserva de valor. Por isso, é o dinheiro que tem a capacidade de iniciar a
produção de mercadorias, com o objetivo de obter mais dinheiro num processo que se
‘autoalimenta’.
Neste trabalho, portanto, pretende-se demonstrar que o lado monetário está
intrinsecamente ligado e interfere no lado real da economia.
Para corroborar a não neutralidade da moeda no capitalismo será utilizada a obra de
dois autores. O primeiro é Marx que parte de sua teoria do valor e, de pronto, estabelece
o caráter monetário do sistema. O conceito de valorização do capital e acumulação do
capital presente na obra de Marx servirá para mostrar o papel do dinheiro na economia
capitalista.
O outro autor que também servirá de base teórica para fundamentar o caráter
monetário do sistema é Keynes. Embora Keynes não parta, como Marx fez, de uma teoria
12
do valor para explicar o papel do dinheiro no capitalismo, ele chega à conclusão de que o
fato de o dinheiro ter papel fundamental no sistema faz com que os axiomas da teoria
Ortodoxa não tenham respaldo na realidade. Para isso, ele utiliza o conceito de ‘economia
monetária de produção’. Por exemplo, Keynes explica por que a economia não opera no
pleno emprego. No sistema capitalista a economia normalmente opera abaixo do pleno
emprego e existe uma ‘insuficiência de demanda’, chamada por ele de problema da
‘demanda efetiva’. Assim, Keynes faz uma crítica à Lei de Say, segundo a qual toda oferta
cria sua própria demanda, ao apresentar o conceito de insuficiência de demanda no sistema.
No primeiro capítulo serão expostos alguns dos principais pontos, principalmente
trabalhados no Livro I de O capital, que se julgaram relevantes para a análise de Marx
sobre a moeda. Destacamos os conceitos de capital, de capital portador de juros e de capital
fictício
2
, obviamente junto com sua teoria do valor-trabalho.
No segundo capítulo será a vez de trabalhar alguns conceitos de Keynes referentes
ao papel do dinheiro dentro do sistema e ao conceito de economia monetária de produção,
desenvolvido por ele.
O terceiro e último capítulo será constituído, em primeiro lugar, pelo estudo da
explicação por parte de Keynes do que ele definiu como ‘economia empresarial’, ou
‘economia monetária de produção’, tal como foi exposto nos manuscritos preparatórios
para a Teoria Geral e em um artigo publicado em 1933. O objetivo de resgatar esses textos
foi o de analisar muitos pontos observados por Keynes que não foram retomados na Teoria
Geral de 1936. Em segundo lugar, o capítulo incluirá uma apresentação de alguns pontos
de divergências e semelhanças entre Marx e Keynes, a partir da reflexão de duas autoras,
Maria de Lourdes Mollo e Leda Paulani.
2
Os conceitos de capital portador de juros e de capital fictício foram desenvolvidos no Livro III de O Capital.
13
CAPÍTULO 1- O DINHEIRO EM MARX
1.1 - Introdução
Neste capítulo, será apresentada a teoria monetária de Marx exposta nos primeiros
capítulos do livro I de O Capital, bem como no Livro III.
Dessa forma, o capítulo será dividido em três subitens, referentes aos temas que, de
acordo com o autor desta dissertação, melhor ilustram o papel do dinheiro no sistema
capitalista segundo Marx.
Primeiramente, é de extrema importância estabelecer os conceitos que ele definiu
para desenvolver sua teoria do valor. Isto será feito junto com a apresentação do próprio
desenvolvimento da teoria presente em O Capital.
Feito isso, no segundo subitem será analisada a moeda enquanto equivalente geral,
bem como o conceito de dinheiro. Depois, será exposta a transformação do dinheiro em
capital.
O capítulo será finalizado com a exposição dos conceitos de Marx de capital
portador de juros, de mercadoria-capital, de juros e de capital fictício.
1.2 - O duplo caráter da mercadoria
Do mesmo modo que Marx parte do duplo caráter da mercadoria para chegar à
definição de capital, faz-se necessário também começar a análise deste trabalho pela
mercadoria.
Toda mercadoria possui valor de uso e valor (valor de troca). Enquanto valor de uso
ela, satisfaz necessidades humanas. Enquanto valor destina-se a satisfazer as necessidades
de outros. Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor de troca ou valor. Como o ar, a
água, etc., por exemplo. Quem produz determinada coisa e usa essa determinada coisa para
14
satisfação própria criou um valor de uso, mas não uma mercadoria. Uma coisa pode ter
utilidade e ser produto do trabalho humano sem ser mercadoria. Para que uma mercadoria
seja produzida é necessário que se produza não valor de uso, mas sim valor de uso para
outras pessoas, valor de uso social. Segundo ele, “nenhuma coisa pode ser valor, sem ser
objeto de uso” (MARX, 1988, p.49).
Uma mercadoria pode ser trocada por uma infinidade de outras mercadorias. Trocar
implica equiparar, considerar que aquilo que se troca é igual. Logo, as mercadorias têm um
conteúdo comum, chamado por Marx de valor. O valor de troca consiste, para ele, na forma
de manifestação do valor.
É condição necessária para que se produza uma mercadoria que esta produção se
faça visando sua venda; que o produtor desta mercadoria não a consuma, pois seu objetivo
é realizar seu valor de troca. O valor de uso é alienado para se realizar o valor da
mercadoria.
Ao buscar qual é o conteúdo comum às diversas mercadorias que torna possível sua
troca, Marx descarta o valor de uso ou a utilidade, pois para que duas mercadorias sejam
trocadas é necessário que seus valores de uso sejam distintos. Os valores de uso, então, não
podem ser aquilo que as mercadorias têm em comum.
Resta então, como propriedade comum das mercadorias, o fato de serem produtos
do trabalho humano. Entretanto, do mesmo modo que os valores de uso das mercadorias
que se trocam são distintos, os trabalhos concretos, úteis (isto é, os trabalhos considerados
do ponto de vista da sua materialidade específica) realizados para produzir cada um destes
valores de uso são qualitativamente diferentes uns dos outros. Em uma sociedade
caracterizada pela produção de mercadorias, desenvolve-se essa diferença qualitativa dos
trabalhos úteis, “executados independentemente uns dos outros, como negócios privados de
produtores autônomos, num sistema complexo, numa divisão social do trabalho” (MARX,
1988, p.50).
Assim, se deixamos de lado as diferenças qualitativas entre os diversos valores de
uso para encontrar o conteúdo comum das mercadorias, ou seja, seu valor, é preciso deixar
15
também de lado as diferenças qualitativas entre os diversos trabalhos concretos empregados
na sua produção. É preciso considerar o trabalho como simples trabalho humano em geral,
como trabalho abstrato.
O valor das mercadorias, então, possui uma substância que é o trabalho humano
abstrato. É ele o conteúdo comum às diversas mercadorias, a substância de valor. Trata-se
de uma forma social do trabalho humano, assumida pelo processo de produção em um
determinado nível de desenvolvimento histórico (MARX, 2000).
Assim, do mesmo modo que a mercadoria, o trabalho humano também possui um
duplo caráter. Divide-se em trabalho humano concreto e trabalho humano abstrato. Quando
fazemos abstração do caráter concreto do trabalho, resta o trabalho humano abstrato.
Deixamos de lado a qualidade material do trabalho empregado para fabricação de
determinada mercadoria para tomarmos em conta a quantidade de trabalho empregada na
sua fabricação.
O tempo de trabalho socialmente necessário para produção de mercadorias não vai
ser determinado pelo trabalhador mais produtivo, nem pelo trabalhador menos produtivo,
mas sim pelo nível médio de tempo de trabalho gasto na produção da mesma. Trata-se de
uma determinação ‘social’. Logo, a substância do valor, o trabalho humano abstrato, não é
uma substância física. O trabalho humano abstrato, substância do valor social, fica
representado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para a fabricação da
mercadoria. Logo, chega-se ao elo, ou àquilo que de comum em todas as mercadorias,
independente de seus valores de uso.
Como definiu Borges Neto:
O trabalho abstrato o trabalho socialmente igualado,
homogeneizado, na forma da economia mercantil (ou seja, igualado na
medida em que os produtos de um produtor tornam-se comparáveis e
trocáveis pelos produtos de outros produtores) é a substância do valor.
Naturalmente, não é uma substância física, mas sim uma substância social.
Sua magnitude é determinada pelo tempo de trabalho socialmente
necessário para a produção de uma mercadoria” (BORGES NETO, 2000,
p.2).
16
A quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário de uma mercadoria é que
irá determinar sua grandeza de valor. As mercadorias que possuem as mesmas quantidades
de horas trabalhadas têm a mesma grandeza de valor.
O trabalho concreto empregado na fabricação de uma mercadoria, vinculado às suas
qualidades materiais, ou seja, a seu valor de uso, é um trabalho privado. Ao mesmo tempo,
como a produção de mercadorias supõe uma divisão social do trabalho, produção para a
sociedade, ele é um trabalho social. Trata-se aqui do caráter social do trabalho enquanto
trabalho concreto, útil.
Há, no entanto, uma peculiaridade do caráter social do trabalho que produz
mercadorias: ele só será reconhecido como trabalho social quando for aceito no mercado,
vendido. O comprador reconhecerá então sua utilidade, confirmando assim sua existência.
Caso a venda não ocorra, esta utilidade terá sido apenas potencial, hipotética, e terá se
perdido. Isto significa que o caráter social do trabalho produtor de mercadorias enquanto
trabalho concreto só é reconhecido indiretamente.
Por outro lado, ocorrendo a venda, o trabalho poderá também satisfazer as
necessidades dos próprios produtores, como trabalhos permutáveis por qualquer outra
espécie de trabalho. Este é um segundo sentido em que o trabalho que produz mercadorias é
trabalho social.
O vínculo de trabalhos concretos privados entre os produtores só aparece através da
troca de mercadorias. No capitalismo, o trabalho social necessário para produção de um
determinado produto não é expresso diretamente em unidades de trabalho, mas
indiretamente, na forma de valor, na forma de outros produtos que são trocados por esse
determinado produto. O produto do trabalho transforma-se numa mercadoria, pois possui
valor de uso e forma valor social.
Nesse sentido, o trabalho do produtor mercantil sofre inúmeras modificações
durante o processo de troca. A partir da exposição de Rubin (1980) pode-se destacar: em
primeiro lugar, o trabalho do produtor mercantil isolado privado manifesta seu caráter de
trabalho social; em segundo lugar, esse trabalho se iguala a outras formas de trabalhos, e é
17
validado no mercado. Em terceiro lugar, o trabalho qualificado é reduzido a trabalho
simples, ou seja, ocorre a igualação de diferentes formas de trabalho que diferem em termos
de qualificação. E em quarto lugar, os dispêndios individuais de trabalho distintos são
homogeneizados, reduzidos a tempo de trabalho socialmente necessário.
1.3 - O dinheiro em Marx
O valor, além de uma substância, tem uma forma, o valor de troca. Ele se expressa
em algo distinto dele, pois não pode fazê-lo diretamente como quantidade de trabalho
abstrato. Isto acontece porque o trabalho abstrato não é visível, não é uma substância física,
mas sim uma substância puramente social, que só se manifesta na relação entre duas
mercadorias.
O trabalho abstrato não corresponde exatamente à quantidade de trabalho concreto
realizada, ele não é medido pelas horas efetivamente trabalhadas. Torna-se necessário um
processo de reconhecimento e igualação social para que a troca se efetue. Neste processo
social é que se determina a quantidade de trabalho socialmente necessário para produção de
uma mercadoria. Não se trata, portanto, de uma determinação puramente física.
A partir do momento em que se estabelece uma relação entre duas mercadorias, e
elas se relacionam como valores, elas são colocadas em dois pólos, quais sejam, forma
relativa e forma equivalente de valor. A mercadoria que está na forma relativa expressa seu
valor em outra e a mercadoria que está na forma equivalente empresta seu valor de uso, ou
seu corpo, para que outra mercadoria expresse seu valor. Nesse caso, a mercadoria B,
através de seu valor de uso, expressa a forma relativa de valor da mercadoria A, portanto, a
mercadoria B se torna equivalente da mercadoria A. Os diferentes tipos de trabalhos
concretos, de valores de uso, são agora manifestação de valor, trabalho humano abstrato e o
trabalho privado se transforma em trabalho social (MARX, 1988).
Essa relação entre forma relativa e forma equivalente se desenvolve em vários
momentos lógicos. Inicialmente, temos a forma simples ou acidental do valor; depois a
18
forma total; depois a forma geral, em que o pólo de equivalente se desenvolve e é ocupado
pelo equivalente geral. O equivalente geral é o pólo em que todas as outras mercadorias
reconhecem nele seus valores; é a forma pela qual são imediatamente intercambiáveis;
portanto é a forma social de valor. O trabalho que produz o equivalente geral é reconhecido
como trabalho social. A partir do momento em que o ouro, ou qualquer outro metal, é
reconhecido como equivalente geral, este se torna dinheiro. O dinheiro reflete a busca por
parte do valor de uma forma adequada de expressão.
Portanto, dinheiro é um produto necessário ao processo de troca, mas é também
muito mais do que isso. Com a mediação do dinheiro, diferentes valores de uso ou
diferentes produtos de trabalho são igualados entre si e transformados em mercadorias. O
aprofundamento das trocas desenvolve a antítese entre valor de uso e valor. Com a
necessidade de dar uma representação externa a essa antítese para a circulação surge uma
forma independente do valor da mercadoria, a forma dinheiro. Assim, o produto do trabalho
se transforma em mercadoria e esta se transforma em dinheiro (MARX, 1988).
Sobre o processo de troca, este se caracteriza pela transferência de uma mercadoria
que é não valor de uso para seu proprietário, pois o objetivo é realizar seu valor de troca,
para uma pessoa para quem ela é valor de uso. Nesse sentido o processo de troca constitui
um metabolismo social.
Essa circulação das mercadorias se dá pelo seguinte esquema:
M – D – M
O primeiro processo da circulação se dá pelo processo M D ou a venda da
mercadoria. O objetivo, neste caso, é trocar a mercadoria pela forma equivalente geral
socialmente válida, dinheiro. Esse objetivo pode não se concretizar, pois para que se troque
mercadoria por dinheiro faz-se necessário que o trabalho seja despendido na produção de
forma útil. Dito de outra maneira, para o produtor realizar o valor de troca da mercadoria e
trocá-la pelo equivalente geral, dinheiro, a mercadoria tem que ser valor de uso para quem
compra, que o dinheiro encontra-se nas mãos de outra pessoa, e esse trabalho gasto deve
ser trabalho socialmente útil, pois é uma relação da divisão social do trabalho.
19
A outra parte do processo de circulação D M, a venda, é ao mesmo tempo o
processo de compra M D, pois para se realizar o processo de venda é necessário que
muitas metamorfoses de mercadorias tenham ocorrido anteriormente.
Até agora foi tratado o dinheiro como equivalente geral, forma geral do valor, e
depois como simples mediador do processo de circulação de mercadorias. Entretanto, ele
possui outras funções, a de entesouramento, em que o dinheiro não possui mais a função
de mediação do processo de circulação, pois se converteu em tesouro, e a de meio de
pagamento, na qual ele fecha o processo de circulação.
Isso posto, como disse Paulani (1991), a função de entesourar e a de meio de
pagamento tem sentido lógico quando o movimento não é do valor de uso, mas sim
‘valorização’ do valor.
O dinheiro pode converter-se em propriedade privada de qualquer pessoa e o poder
social, dinheiro, torna-se poder privado de pessoa privada. O impulso por entesourar torna-
se sem limite, já que qualitativamente o dinheiro é ilimitado, isto é, representante geral da
riqueza material, pois pode trocar-se diretamente por qualquer outra mercadoria. Porém, ao
mesmo tempo, toda soma efetiva de dinheiro é quantitativamente limitada” (MARX, 1988,
p.111).
No processo de circulação direta das mercadorias M D M o dinheiro faz-se
presente durante todo o movimento, porém, com dinheiro na função de meio de pagamento
isso não acontece, pois no processo de trocas um vendedor pode vender sua mercadoria
sem receber dinheiro nesse ato; neste caso, o vendedor se torna credor e o comprador,
devedor.
Marx, sobre o dinheiro como meio de pagamento, diz:
“O dinheiro funciona agora, primeiro, como medida de valor na
determinação do preço da mercadoria vendida. Seu preço fixado
contratualmente mede a obrigação do comprador, isto é, a soma de
dinheiro, a qual ele deve em certo prazo. Segundo, funciona como meio
ideal de compra. Embora apenas exista no compromisso monetário do
comprador, faz com que a mercadoria mude de mãos. Apenas ao vencer o
prazo fixado para o pagamento, o meio de pagamento entra realmente em
20
circulação, isto é, ele passa realmente das mãos do comprador para as do
vendedor. O meio circulante converteu-se em tesouro, ao interromper o
processo de circulação em sua primeira fase ou ao ser subtraída da
circulação a forma transformada da mercadoria. O meio de pagamento
entra na circulação , porém depois que a mercadoria se retirou dela. O
dinheiro não media o processo. Ele o fecha de modo autônomo, como
existência absoluta do valor de troca ou mercadoria geral. O vendedor
converte sua mercadoria em dinheiro para satisfazer a uma necessidade
por meio do dinheiro, o entesourador, para preservar a mercadoria em
forma de dinheiro, o comprador que ficou devendo, para poder pagar. Se
não pagar, seus bens são vendidos judicialmente. A figura de valor da
mercadoria, dinheiro, torna-se, portanto, agora um fim em si da venda, em
virtude de uma necessidade social que se origina das condições do próprio
processo de circulação” (MARX, 1988, p.114).
A forma dinheiro apresenta, portanto, uma contradição, pois na medida em que os
pagamentos se compensem, o dinheiro funciona apenas idealmente como medida de valor.
quando isto não acontece, e os pagamentos são efetuados em espécie, o dinheiro se
apresenta como ‘encarnação individual do trabalho social’, existência autônoma do valor de
troca, mercadoria absoluta. E se ocorre uma crise o dinheiro ‘sonante’ satisfaz, não
pode ser substituído por mercadorias, e a antítese entre mercadoria e dinheiro é elevada a
uma contradição ‘absoluta’.
A partir deste momento, faz-se necessário analisar a transformação do dinheiro em
capital, pois o processo de circulação das mercadorias se diferencia do processo de
circulação do capital. Em M D M tem-se a transformação da mercadoria em dinheiro e
sua retransformação em mercadoria, ou seja, vender para comprar. Pode-se encontrar uma
segunda forma diferenciada que é D M D, transformação de dinheiro em mercadoria e
retransformação da mercadoria em dinheiro, ou seja, comprar para vender. Esse último caso
descreve um movimento, onde o dinheiro já é capital (MARX, 1988).
Na realidade o que acontece no processo D M D é a troca de dinheiro por
dinheiro, D D. na circulação M D M, o dinheiro se transforma em mercadoria que
serve de valor de uso, portanto, o dinheiro está gasto. Na forma inversa, D M D, o
comprador gasta dinheiro para, como vendedor, receber dinheiro, parte-se do dinheiro e se
encerra com dinheiro, ou seja, o valor de troca é seu objetivo.
21
Na circulação simples, a mercadoria participa no início e no final do processo que é
de troca de equivalentes, porém essas mercadorias possuem valores de uso diferentes umas
das outras. na circulação do capital, o início do processo se pela forma dinheiro, para
no final desse processo obter-se dinheiro, ou mais dinheiro, e já não existe mais a troca de
equivalentes. Percebe-se que, neste caso, não existe diferença qualitativa, pois os valores de
uso são idênticos, e os valores de uso específicos das mercadorias desaparecem no processo
de metamorfose delas em dinheiro. Portanto, no caso da circulação do capital, seu conteúdo
se deve, não à diferença qualitativa, como no caso da circulação simples, mas sim, à sua
diferença quantitativa. O objetivo é retirar da circulação mais dinheiro do que foi lançado
inicialmente, ou D M D´, onde = D+D, e esse D é obtido pela extração de mais-
valia através da exploração da força de trabalho.
Portanto, nas palavras de Marx:
“Na circulação D – M D’ dinheiro e mercadoria são modos
diferentes de existência do valor, onde o dinheiro representa sua forma
geral e a mercadoria sua forma particular. O capital passa constantemente
de uma forma para outra: capital como dinheiro e capital como
mercadoria. O valor se torna sujeito de um processo, forma dinheiro e
forma mercadoria, e como conseqüência muda sua própria grandeza, ou,
através da mais-valia, se autovaloriza” (MARX, 1988).
1.4 - Mercadoria-capital, juros e capital fictício
Como se sabe, Marx explica a possibilidade geral da circulação do capital, de
dinheiro-valor que se valoriza, que gera uma mais-valia, pelo intercâmbio entre capital e
trabalho assalariado. A existência deste intercâmbio depende de circunstâncias históricas
precisas. Sucintamente, depende da transformação dos meios de produção em monopólio
de uma classe de proprietários, de um lado, e da capacidade humana de trabalho em
mercadoria, do outro.
Se estas condições histórico-sociais estão presentes, o dinheiro não apenas possui a
característica de ser uma expressão autônoma de valor, como também a de ser capital em
22
potencial. Ou seja, a partir de certo montante, ele pode ser usado para comprar meios de
produção e força de trabalho e, a partir daí, extrair uma mais-valia. Se ele é alienado não
perde esta faculdade. Ou seja, ele pode tornar-se uma mercadoria que tem o valor de uso de
produzir lucro, ou seja, capital potencial. Assim, o próprio dinheiro torna-se uma
mercadoria, mas não uma mercadoria qualquer e sim uma mercadoria-capital.
O possuidor de dinheiro tem a possibilidade de ampliar seu dinheiro inicial de duas
maneiras. Ou o faz circular diretamente como capital (comprando meios de produção e
força de trabalho e extraindo mais-valia), ou empresta esse dinheiro a um terceiro,
transferindo para esse terceiro a possibilidade de extrair mais-valia. Neste segundo caso,
este terceiro lhe pagará uma parte da mais-valia. Dada a existência de uma taxa de lucro
média, esta parte será uma parcela desta taxa. O dinheiro se torna mercadoria-capital e dá o
‘direito’, com base em um contrato jurídico entre prestamista e mutuário, de o prestamista
receber como juro uma parte do lucro que lhe cabe por ter transferido capital em potencial
para outro. Surge, assim, o capital portador de juros.
Marx analisa essa relação entre prestamista e mutuário da seguinte maneira:
“O capitalista monetário aliena, de fato, um valor de uso e, por
isso, o que ele entrega é entregue como mercadoria. E nessa medida é
completa a analogia com a mercadoria enquanto tal. Primeiro, é um valor
que passa de uma mão para outra. No caso da mercadoria simples, da
mercadoria enquanto tal, o mesmo valor permanece nas mãos do
comprador e do vendedor, que em forma diferente; ambos possuem o
mesmo valor depois como antes, que alienaram, um em forma-mercadoria,
o outro em forma-dinheiro. A diferença consiste em que, no caso do
empréstimo, o capitalista monetário é o único que entrega valor nessa
transação; mas ele o preserva mediante restituição futura. No caso do
empréstimo, valor é recebido apenas por uma parte, já que apenas uma das
partes entrega valor. Segundo, o valor de uso real é alienado por uma
parte e é recebido e consumido pela outra. Mas, diferentemente da
mercadoria comum, esse mesmo valor de uso é valor, a saber, o excedente
da grandeza de valor que resulta do uso do dinheiro como capital acima de
sua grandeza de valor original. O lucro é esse valor de uso” (MARX, 1988,
p.250).
Por exemplo, um indivíduo A empresta dinheiro ao indivíduo B. Com o dinheiro em
poder de B o dinheiro se torna capital e B lança-o na circulação, D M D’. Esse D’
23
representa o capital inicial acrescido de mais-valia ou D +
D. A receberá parte de
D, os
juros.
O movimento completo fica:
D – D – M – D’ – D’
O primeiro D não se caracteriza pela metamorfose da mercadoria, mas sim,
empréstimo a um terceiro que de fato lança o dinheiro emprestado na circulação,
transforma-o em capital, e extrai um lucro que será dividido entre prestamista e mutuário.
Portanto, o possuidor de dinheiro que quer alienar seu dinheiro como capital
portador de juros empresta-o a um terceiro. Esse terceiro torna-se mutuário e capitalista
funcionante e, na posse desse dinheiro adiantado pelo emprestador, lança-o na circulação,
torna-o mercadoria-capital. O capital foi entregue ao mutuário na qualidade de esse capital
possuir o valor de uso de extrair mais-valia. O capital adiantado pelo possuidor de dinheiro
afasta-se do mesmo apenas por um período, pois a condição de voltar como capital
realizado, ou seja, realizado seu valor de uso de produzir mais-valia.
Nas palavras de Marx:
“O capital reflui duplamente; no processo de reprodução retorna
ao capitalista funcionante, e em seguida repete-se o retorno mais uma vez
como transferência ao prestamista, o capital monetário, como reembolso ao
verdadeiro proprietário, o ponto de partida jurídico” (MARX, 1988, p.245).
Cabe analisar agora os determinantes desta taxa de juros cobrada pelo capitalista
monetário. Marx definiu o juro como uma parte da taxa média de lucro e, na maioria dos
casos, a taxa média de lucro serve como limite para a taxa de juros, exceto alguns casos
onde a taxa de juros passa a taxa média de lucro, o que significa que este juro não pode ser
24
pago a partir dos lucros. Já o piso da taxa de juros é indeterminável e pode descer a
qualquer nível que se queira
3
.
Portanto, com o advento do capital portador de juros a taxa média de lucro é
dividida entre juros, que pertencem ao capitalista monetário ou prestamista, e lucro
empresarial, que pertence ao capitalista ou mutuário.
Essa divisão quantitativa da taxa média de lucro se torna qualitativa na medida em
que o capitalista funcionante não é proprietário do capital, essa propriedade pertence ao
capitalista monetário, prestamista. Nesse sentido, o juro recebido pelo prestamista aparece
abstraído do processo de reprodução do capital, como a parte do lucro médio que se origina
da propriedade do capital; de outro lado, o ganho empresarial, lucro industrial, que pertence
ao capitalista funcionante tem sua origem na atuação do capital no processo de reprodução.
Segundo Marx:
“...enquanto o juro é apenas parte do lucro, isto é, da mais-valia
que o capitalista funcionante extorque do trabalhador, o juro aparece
agora, ao contrário, como o fruto próprio do capital, como o original, e o
lucro, agora na forma de ganho empresarial, como mero acessório aditivo
que lhe advém no processo de reprodução. Aqui a figura fetichista do
capital e a concepção do fetiche-capital está acabada. Em D D’ temos a
forma irracional do capital, a inversão e reificação das relações de
produção em sua potência mais elevada: a figura portadora de juros, a
figura simples do capital, na qual este é pressuposto de seu próprio
processo de reprodução; a capacidade do dinheiro, respectivamente da
mercadoria, de valorizar seu próprio valor, independentemente da
reprodução a mistificação do capital em sua forma mais crua(MARX,
1988, p.279).
Para se encontrar a taxa média de juros predominante num país é preciso calcular a
média das taxas de juros durante as variações nos grandes ciclos industriais e, também,
calcular a taxa de juros naqueles investimentos em que o capital é emprestado a prazo mais
longo. Os juros de mercado são sempre flutuantes. Para Marx, não existe nenhuma lei que
determine a taxa média de juros, ou seja, “não existe nenhuma taxa natural de juros no
3
Ver PIVETTI, 1991.
25
sentido em que os economistas falam de uma taxa natural de lucro ou de uma taxa natural
de salário” (MARX, 1988, p.258).
Marx resume essa situação da seguinte maneira:
“Com o desenvolvimento da grande indústria, o capital monetário,
à medida que aparece no mercado, é cada vez menos representado pelo
capitalista individual, pelo proprietário desta ou daquela fração do capital
existente no mercado, mas surge como massa concentrada, organizada que,
de maneira bem diversa da produção real, se encontra sob controle do
banqueiro, que representa o capital social. De modo que, quanto à forma
da procura, ao capital emprestável se contrapõe a força de uma classe,
assim como, quanto à oferta, ele mesmo surge en masse como capital
emprestável” (MARX, 1988, p.262).
Cabe agora ressaltar o papel do que Marx chamou de negócio bancário. O negócio
bancário caracteriza-se por concentrar grandes massas de capital monetário emprestável, o
que torna os bancos administradores gerais do capital monetário. Ele representa, também, a
concentração dos mutuários, pois o negócio do banco é tomar dinheiro a juros baixos e
emprestar a juros mais altos.
Segundo Marx (1988), o capital bancário é composto por: primeiro, dinheiro em
espécie, ouro ou notas, e segundo, títulos de valor que podem se subdividir em títulos
comerciais, letras de mbio que vencem de tempo a tempo (o banqueiro lucra com os
descontos dessas letras), e títulos públicos de valor, como títulos de Estados, do Tesouro,
etc.
Esses papéis “representam apenas direitos acumulados, títulos jurídicos sobre
produção futura, cujo valor monetário ou valor-capital ou não representa capital algum,
como no caso da dívida pública, ou é regulado independentemente do valor do capital real
que representam” (MARX, 1988, Vol. V, p. 7). Desse modo, por acumulação de capital
monetário deve-se entender “acumulação de direitos sobre o valor capital ilusório desses
direitos” (MARX, 1988, Vol. V, p. 7).
O movimento ‘autônomo’ do valor desses títulos, na sua aparência, age como se
eles fossem constituídos de capital real.
26
Marx expõe esse processo da seguinte maneira:
“A maior parte do capital bancário é, portanto, puramente fictícia
e consiste em títulos de dívidas (letras de câmbio), títulos vida pública
(que representam capital passado) e ações (direitos sobre rendimento
futuro). Não se deve esquecer que o valor monetário do capital que esses
papéis nas caixas fortes do banqueiro representam mesmo à medida que
são direitos sobre rendimentos seguros (como no caso dos títulos da dívida
pública) ou à medida que são títulos de propriedade de capital real (como
no caso das ações) é completamente fictício e que é regulado de modo a
se desviar do valor do capital real que, pelo menos parcialmente,
representam; ou onde representam mero direito a rendimentos e não
capital, o direito ao mesmo rendimento se expressa num montante sempre
variável de capital monetário fictício. Além disso, esse capital fictício do
banqueiro, em grande parte, não representa seu próprio capital, mas o do
público, que o deposita com ele, com ou sem juros” (MARX, 1988, Vol. V,
p.7).
Desta forma, Marx introduz um novo conceito extremamente útil, o de capital
fictício. Refere-se, como vimos, a papéis (títulos) que funcionam como se fossem capitais.
Isto é, eles têm a propriedade de autovalorização, mas não constituem realmente um capital.
A constituição do capital fictício é um desdobramento da gica do capital em geral
e, especialmente, do capital portador de juros. Com ela, toda massa de dinheiro torna-se
capital, tem a propriedade de gerar mais-valia. Como este processo é repetido, gera um
fluxo de rendimentos. Em contrapartida, todo fluxo de rendimentos pode ser tratado como
emanando de um capital. Neste caso, seu valor (valor de mercado) corresponderá à
capitalização destes rendimentos (ou seja, ao valor presente do fluxo esperado de
rendimentos).
Assim, se um título da dívida pública direito a um fluxo de rendimentos, ele tem
um valor-capital que decorre disso. Pouco importa que ele dê direito, no caso, não à
apropriação de mais-valia a partir de uma relação com o trabalho assalariado, mas sim ao
recebimento de parcelas da arrecadação futura do Estado.
27
CAPÍTULO 2 – O DINHEIRO EM KEYNES
2.1 - Introdução
A partir de agora o foco será a análise de Keynes em sua obra mais fundamental, A
teoria geral do emprego, do juro e da moeda de 1936. Nesta obra, que é posterior aos
chamados manuscritos para Teoria Geral’, muitos pontos sobre seu conceito de economia
‘monetária de produção’ ficaram fora do livro. No próximo capítulo, capítulo três, se
apresentada de maneira mais clara esse conceito de economia ‘monetária de produção’.
Para discutir A Teoria Geral, faz-se necessário o uso de autores Pós keynesianos de
renome, tais como Paul Davidson, Fernando Cardim Carvalho, entre outros.
Este capítulo, assim como o anterior, será dividido em três sub itens de acordo com
o que se julga importante para a análise da importância do dinheiro.
O primeiro subitem começará com uma análise sobre o papel das incertezas no
capitalismo, justamente pelo fato de o ambiente onde os agentes econômicos atuam ser um
ambiente não ergódico.
Na seqüência, o segundo subitem apresentará o conceito de demanda efetiva
keynesiano e a influência do dinheiro nas suas oscilações. Será exposta sua visão de
insuficiência de demanda, desemprego involuntário e economia que opera abaixo do pleno
emprego.
No último sub item, que será alvo de considerações no Capítulo Terceiro, o foco
será principalmente o capítulo 17 da Teoria geral, onde Keynes trata o dinheiro como um
mero ativo, porém um ativo com propriedades diferentes dos outros ativos, por ter
elasticidade de produção e substituição igual a zero ou negligenciável. Isso faz com que o
dinheiro tenha um prêmio de liquidez extremamente elevado, o que o torna objeto de
desejo, principalmente em crises de confiança.
28
2.2 - Incertezas e não ergodicidade no capitalismo
Existem incertezas sobre o futuro econômico. O fato de o futuro ser afetado pelo
conhecimento da sociedade e de não se poder saber agora o que será conhecido mais tarde é
uma fonte crucial de incerteza
4
.
Nesse sentido, é necessário fazer uma distinção entre risco e incerteza. O risco pode,
por meio de estatística, ser reduzido a uma certeza atuarial, a incerteza não pode. Os
economistas clássicos não identificaram essa diferença crucial entre a noção de risco e
incerteza. Para contrapor a essa maneira de pensar, Keynes insistiu que a incerteza é a
causa principal para as pessoas preferirem dinheiro ao invés de qualquer outro ativo.
Incerteza significava para ele que não existe base científica na probabilidade para prever o
futuro, pois sobre este último as pessoas simplesmente não sabem.
Cabe ressaltar alguns pontos que fazem das incertezas quanto ao futuro impossíveis
de serem previstas. As inovações tecnológicas ou gerenciais são importantes para analisar
as incertezas, pois a concorrência no sistema capitalista estimula os tomadores de decisão a
inovar em busca de lucros extraordinários, de modo que uma pressão endógena por algo
que causa incerteza (DEQUECH, 1997).
As mudanças históricas também têm aspectos importantes na análise das incertezas
e estas podem ser de uma natureza tipicamente política ou cultural. Elas têm um impacto
significativo sobre as preferências, as relações de trabalho, o poder de barganha sobre os
trabalhadores, as decisões de governo, etc
5
.
As premissas utilizadas para se construir uma relação probabilística não podem ser
baseadas em conhecimento, especialmente conhecimento direto. Não obstante isso, uma
decisão precisa ser tomada. Mesmo de forma débil os empreendedores têm que reunir
qualquer conhecimento que eles podem acumular, tais como, a tecnologia atual, condições
de financiamento, etc, e criar hipóteses sobre o comportamento de seus consumidores e de
4
DEQUECH, 1997.
5
Idem.
29
seus competidores, mudanças tecnológicas futuras mudanças de preços relativos, etc
(CARVALHO, 1992).
No conceito de incerteza em Keynes não algumas hipóteses são desconhecidas
no momento da decisão, mas elas são realmente impossíveis de serem conhecidas. Isso é
facilmente percebido quando se pensa em decisões de produções e investimentos. Os
empreendedores têm que formar expectativas sobre outros empreendedores e, do mesmo
modo, sobre seus consumidores. Os seus concorrentes são obrigados a fazerem o mesmo.
Portanto, é logicamente impossível incluir esses comportamentos como premissas que ele
realmente conhece, assim como a quantia e eficiência técnica de seu equipamento,
obrigações contratuais dos trabalhadores e fornecedores, etc. (CARVALHO, 1992).
Os tomadores de decisões, segundo Davidson (1994), sabem que o retorno de um
investimento requer um considerável tempo histórico entre essa decisão de investimento e
suas conseqüências. Essa tomada de decisão estará sujeita a eventos futuros e gera uma
tendência para se obter informações, se é que isso é possível, sobre qual será o ambiente
futuro. Esse ambiente futuro pode se encaixar em três categorias distintas:
Primeiro:
“Um ambiente de probabilidade objetiva: Nessa situação, os
tomadores de decisões acreditam que uma ‘imutável distribuição
probabilística comanda o passado, o presente e o futuro econômico’. Um
tomador de decisão racional i analisar as freqüências’ passadas e
calculará estatisticamente uma probabilidade confiável sobre os futuros
acontecimentos. Essa hipótese é assumida pela teoria Novo-clássica com a
hipótese de expectativas racionais” (DAVIDSON, 1994, p.88).
Segundo:
“Um ambiente de probabilidade subjetiva: No momento da
escolha, os tomadores de decisões acreditam que podem ‘organizar e
ordenar’ todos os acontecimentos futuros em termos de probabilidades
subjetivas. Na mente de cada tomador de decisão a sua subjetiva
probabilidade sobre os acontecimentos futuros influirá sobre a decisão”
(DAVIDSON, 1994, p.88).
30
Por fim:
“Um ambiente de incertezas: Os tomadores de decisões acreditam
que no intervalo entre a tomada de decisão de investimento e sua
conseqüência mudanças podem ocorrer, ou seja, informações sobre o futuro
não existem hoje. O futuro não pode ser calculado pela matemática”
(DAVIDSON, 1994, p.89).
É nesse ambiente de ignorância sobre o futuro, terceiro item acima, que Keynes
desenvolve sua teoria sobre o dinheiro estudada neste trabalho. Para Keynes, o uso de
conceitos de probabilidade objetiva ou subjetiva implica que os tomadores de decisões
acreditem que possuam suficiente conhecimento sobre acontecimentos futuros. a
incerteza envolve ignorância sobre o futuro e na teoria ortodoxa não existe nenhum
conceito de incerteza como o exposto por Keynes (DAVIDSON, 1994).
Sobre os teóricos que utilizam probabilidade objetiva e probabilidade subjetiva para
fazer previsões, fica claro que eles acreditam que o ambiente econômico é um ambiente
ergódico, ou seja, um ambiente que se caracteriza pelo fato de a “freqüência de
determinado evento ser a mesma em todos os pontos do tempo” (HERCOVICI, 2003, p.6).
Neste caso, é possível quantificar o futuro a partir de um cálculo em termos de
probabilidades, a probabilidade de determinado evento que converge para sua freqüência; a
partir da observação do passado, é possível prever o futuro (HERCOVICI, 2003).
Os teóricos Ortodoxos formulam suas expectativas baseadas num ambiente
ergódico. O futuro é um reflexo estatístico do passado e a atividade econômica é atemporal
e imutável. Não há ignorância sobre o futuro para quem acredita que o passado fornece
informações estatísticas confiáveis sobre o futuro (DAVIDSON, 1994).
Mais precisamente:
“Em um sistema ergódico, eventos futuros são sempre fielmente
previsíveis pelo uso de análises probabilísticas do passado e resultados
correntes. (...) Se processos estocásticos são ergódicos, então para uma
infinita realização, as médias do tempo e do espaço sempre coincidirão.
Para realizações finitas de processos ergódicos, as médias do espaço e do
tempo tenderão a convergir. O axioma ergódico presume que a média do
espaço e do tempo calculada de uma data passada é estimativa confiável da
média espacial que iexistir em qualquer data específica futura. (...) Em
um ambiente ergódico, conhecimento sobre o futuro envolve a projeção de
31
médias calculadas baseadas no passado e/ou cross section correntes e/ou
séries temporais de eventos futuros” (DAVIDSON, 1994, p.90).
Segundo Keynes, no mundo real alguns processos econômicos são não-ergódicos.
Logo, expectativas baseadas em funções de distribuições passadas podem divergir daquilo
que realmente acontecerá no futuro. Em condições de incertezas, as pessoas simplesmente
não sabem o que o futuro lhes trará (DAVIDSON, 1994).
Em um mundo keynesiano, um mundo não-ergódico, não rumos pré-definidos
para a economia. Os agentes têm que criar sozinhos seus próprios cenários e atuarem sobre
eles. A partir disso, a história resultará da fusão das ações humanas, de modo que não é
possível a ninguém prever estas ações. (CARVALHO, 1992).
A possibilidade de condições econômicas não-ergódicas significa que a teoria
baseada em expectativas racionais e na presunção de um ambiente econômico ergódico é
inapropriada para qualquer teoria geral de economia. Ou seja, a não ser que alguém acredite
que processos não-ergódicos nunca ocorram em economia, a teoria novo-clássica não se
sustenta. A teoria Ortodoxa é incapaz de descrever corretamente comportamentos do
mundo real e as prescrições de suas políticas econômicas poderão fracassar ou serem
desastrosas para a economia (DAVIDSON, 1994).
Quando se pensa no mundo real da economia que envolve tempo histórico, o
número de fatores desconhecidos é muito elevado. Em casos desta natureza, um número
infindável de resultados pode ser obtido. Não é possível limitar o universo de resultados
possíveis de probabilidades (CARVALHO, 1992).
Portanto, a realidade social tem uma existência à parte em relação às mentes dos
observadores, mas não independente das visões e dos comportamentos dos agentes
econômicos (CARVALHO, 1992).
32
2.3 - O conceito de demanda efetiva
O processo produtivo que se organiza na forma de uma economia monetária de
produção, como a economia capitalista, tem dois conjuntos de agentes com características
bem definidas no sistema. São estes agentes os empresários, que possuem um equipamento
de capital e uma massa de recursos próprios ou de terceiros na forma de dinheiro, e os
trabalhadores à procura de emprego (SILVA, 1991).
Os empresários quando decidem usar sua massa de dinheiro e seu equipamento de
capital para comprar bens de outros capitalistas e pagar salários aos trabalhadores que
empregam o fazem com objetivo de auferir um lucro com a venda do produto produzido.
Nesse sentido, os empresários são demandantes de emprego e os trabalhadores são
ofertantes de emprego.
Segundo a teoria econômica neoclássica a demanda e oferta de emprego são um
mercado como qualquer outro, com um preço e uma quantidade de equilíbrio. Já para
Keynes, a causalidade vai do empresário para o trabalhador, ou seja, numa economia
monetária de produção o volume de emprego na economia é definido pelos empresários a
partir do momento que decidem o quanto deve ser produzido. os trabalhadores não têm
decisão sobre o volume de emprego (SILVA, 1991).
Portanto, existe no capitalismo uma classe de agentes econômicos com ação
determinante no sistema e outra classe com ação passiva no processo de produção. Essa
relação é fundamental para entender o conceito de equilíbrio parcial, de origem
marshalliana, no pensamento de Keynes (SILVA, 1991).
Para Keynes (1982), a demanda efetiva é o ponto de intersecção entre a função
oferta agregada e a demanda agregada, ou seja, faz-se necessário analisar os determinantes
da oferta e demanda agregada na economia capitalista.
A tarefa de Keynes era explicar porquê os determinantes da demanda agregada não
eram idênticos aos determinantes da oferta agregada como a análise clássica presumiu (ver
gráfico 2.1). A função oferta agregada de Keynes representa que quanto mais altas forem as
33
expectativas dos empresários com relação às suas vendas futuras mais trabalhadores serão
contratados hoje. Do mesmo modo, se as expectativas de vendas futuras forem zero os
trabalhadores contratarão zero trabalhadores hoje. Já a função demanda agregada (D)
representa o volume de gastos esperados de todos os compradores para qualquer nível de
emprego agregado. A função (D) é representada com inclinação positiva, porém diferente
da função oferta agregada (Z). A inclinação positiva em (D) representa a noção de que se o
emprego é maior mais renda sepercebida e a despesa com bens e serviços será maior
(DAVIDSON, 1994).
Representação gráfica 2.1- Oferta e Demanda agregada em Keynes:
Fonte: DAVIDSON, Paul. Post Keynesian Macroeconomic Theory. Journal of Post
Keynesian Economics and New School University, New York, US – 1994.
Na visão ortodoxa seus fundamentos estão calcados na chamada Lei de Say, ou seja,
toda oferta gera sua própria procura e a economia capitalista opera sempre no pleno
emprego. Neste caso, as funções oferta e demanda agregada sempre irão coincidir aos
34
níveis máximos de produção e emprego, o que resultará em uma economia que opera
sempre no seu pleno emprego (PASINETTI, 2000).
Entretanto, para Keynes (1982), o caráter especulativo assumido pela economia
capitalista por causa das incertezas quanto ao futuro faz com que os agentes decidam reter
riqueza em forma monetária ao invés de ativos reprodutíveis, o que gera perdas de
empregos. A partir de então, surge o problema da demanda efetiva, insuficiência de
demanda, que tem como resultado o desemprego involuntário no sistema.
Keynes rompe com essa noção de pleno emprego e, portanto com a Ley de Say,
quando expõe suas funções agregadas diferentes da visão convencional e demonstra que as
duas funções, oferta e demanda, são bastantes distintas, de modo que elas irão coincidir
num ponto. Esse ponto é chamado por Keynes de demanda efetiva, que em geral esta
abaixo do pleno emprego e abaixo da plena utilização da capacidade produtiva.
Desse modo, Keynes (1982) desenvolveu uma relação expandida para os
componentes da demanda agregada para diferenciar o seu caso geral do caso particular
clássico em que a demanda agregada é dividida em duas categorias, D
1 +
D
2
, isto é,
D = D
1
+ D
2
A categoria de demanda D
1
de Keynes representa todas as despesas que dependem
do nível de renda agregada e, então, do nível de emprego N, isto é,
D
1 =
ƒ
1
(w, N)
D
2
, então, representa todas as despesas não relacionadas à renda e emprego, isto é,
D
2
ƒ(w, N)
Em D
2,
Keynes discorda da teoria ortodoxa e conclui que esta categoria não é igual à
poupança planejada. Para demonstrar porquê D
2
não é igual à popança planejada, ele
assume a existência de incerteza futura que não pode ser antecipada ou estatisticamente
prevista pela análise dos sinais de preços de mercados passados e correntes. Em tal
35
ambiente ‘não ergódico’, os lucros futuros, as bases para as despesas de investimento em
D
2
, não podem ser previstos de forma confiável. As despesas de investimento dependem do
que Keynes chamou de animal spirits. Então, ou no curto prazo ou no longo prazo, as
despesas D
2
não podem ser função da renda corrente nem do volume de emprego, ou seja,
D
2
ƒ(w, N) se aplica (DAVIDSON, 1994).
Keynes continua sua exposição e diz que mesmo se a demanda fosse composta
somente por D
1 =
ƒ
1
(w, N), o que não acontece no capitalismo, e D
2
igual à zero, não
haveria igualdade entre oferta e demanda no nível de pleno emprego. Isto porquê em uma
economia que se organize sobre uma base contratual monetária, como é o caso, alguma
porção da renda de um agente maximizador de utilidade pode ser retida para compra de
bens produtíveis, isto é, a propensão marginal a gastar a renda corrente com produtos da
indústria é menor do que um. Portanto, mesmo neste caso onde D
2
é igual à zero, por causa
da propensão marginal a consumir ser sempre menos do que a um, Keynes descartou a
possibilidade de que toda oferta gere sua própria demanda contida na Lei de Say e na teoria
ortodoxa. Portanto, esse axioma não pertence ao mundo capitalista (DAVIDSON, 1994).
Dessa forma, Keynes demonstra que a insuficiência de demanda é o motivo da
economia capitalista não operar no pleno emprego de sua capacidade e faz uma crítica ao
argumento clássico de que o problema do desemprego ocorre por imperfeições no mercado
de trabalho através da rigidez dos salários monetários. Nesse sentido, cabe agora
demonstrar como para a teoria clássica a função oferta de trabalho e demanda por trabalho
determina o volume de emprego.
Através do gráfico 2.2 que representa o mercado de trabalho na teoria clássica, tem-
se a quantidade ofertada de trabalho pelos trabalhadores e a quantidade de trabalho
demandada pelos empresários. O cruzamento dessas duas funções resulta no ponto de
equilíbrio do mercado de trabalho, com um salário compatível com o volume de pleno
emprego.
36
Representação gráfica 2.2- O mercado de trabalho na teoria clássica
Fonte: SILVA, Marcos Eugênio da. Teoria Geral, uma interpretação pós
keynesiana. IPE – USP, 1991.
O salário real é determinado pela produtividade marginal do trabalho e, dada
perfeita mobilidade de preços na economia, ou seja, ajustamento de mercado entre a função
oferta e demanda por trabalho, haverá um, apenas um, ponto de equilíbrio, que está
expresso no gráfico acima pelo ponto ‘E’. Esse ponto de equilíbrio reflete na teoria clássica
o pleno emprego na economia capitalista com volume de emprego ‘N’ no gráfico acima.
Entretanto, para alguns teóricos ortodoxos a economia pode operar abaixo do pleno
emprego se houver pressões fora do mercado que impeçam essa autoregulação do sistema,
ou seja, não haverá perfeita flexibilidade de preços e salários. Isso ocorre, por exemplo, por
pressões de sindicatos ou pelo governo através de leis que prejudicam a busca do equilíbrio
e, conseqüentemente, o pleno emprego. Por exemplo, caso o governo crie uma lei de salário
mínimo que, segundo a teoria neoclássica, esteja supostamente acima do nível de salário de
equilíbrio de mercado, levaria os trabalhadores a ofertarem trabalho além no nível de
equilíbrio, pois o salário mais alto estimularia os trabalhadores a procurarem emprego e os
empregadores demandariam trabalho abaixo do equilíbrio do mercado, pois o salário mais
alto aumentaria os custos dos empresários. Ver gráfico 2.3.
37
Representação gráfica 2.3- O mercado de trabalho na teoria clássica sem
flexibilidade de preços e salários
Fonte: SILVA, Marcos Eugênio da. Teoria Geral, uma interpretação s keynesiana.
IPE – USP, 1991.
A solução para eles nesse caso seria queda nos salários monetários com o objetivo
de gerar uma queda nos salários reais e conseqüentemente restaurar o suposto equilíbrio no
mercado de trabalho. Segundo Keynes, caso fosse possível essa medida, isso seria um fator
de desestabilização na economia, pois uma queda persistente no salário monetário
diminuiria a demanda efetiva. Isso ocorreria, pois, na medida que os salários monetários
caíssem, os empresários retardariam seus investimentos presentes para no futuro realizarem
investimentos com custos menores, ou seja, a flexibilidade de salários monetários seria um
fator de instabilidade econômica e agravaria as condições de emprego (KEYNES, 1982).
Portanto, se pode resumir as implicações do dinheiro nas flutuações da demanda
efetiva da seguinte maneira:
“A teoria clássica supõe que a propensão dos empresários para
iniciar um processo produtivo depende da quantia de valor em termos do
produto que eles esperam que lhes pertençam como suas partes. É
simplesmente a expectativa de mais produtos para eles mesmos que i
induzi-los a oferecerem mais empregos. Mas em uma economia empresarial
esta é uma análise equivocada da natureza dos cálculos de negócios. Um
38
empresário está interessado, não na quantidade de produto, mas na
quantidade de dinheiro que lhe pertencerá como sua parte. Ele irá
aumentar sua produção se ele esperar aumentar seus lucros monetários,
mesmo que seu lucro represente uma quantidade menor de produto do que
antes
.(...)
Dinheiro é par excellence o significado da remuneração numa
economia empresarial que leva a flutuações na demanda efetiva” (CWJMK,
VOL. XXIX, p.82-86).
2.4 - As propriedades essenciais do dinheiro
No capitalismo existe uma relação entre moeda enquanto poder de compra e a
existência de contratos denomináveis e liquidados em moeda. O poder de transporte de
poder de compra passa a ser o foco das preocupações na determinação do valor da moeda.
Nesse sentido, a moeda assim concebida se torna uma forma de retenção de riqueza, um
ativo que se torna alternativo a outras formas de acumulação (CARDIM, 1992).
A função de meio de troca é exercida pela moeda no sistema, o que possibilita
transações com produtos e serviços, porém a moeda também atua na circulação financeira
através da circulação de ativos e, sob esta perspectiva, a velocidade desta circulação
depende das expectativas com relação ao retorno desses ativos. Com isso, é alterada a
natureza e o processo de acumulação no capitalismo (CARDIM, 1992).
Essas características, entre outras, tornam o capitalismo uma economia monetária de
produção, onde as variáveis monetárias afetam não apenas a forma, mas a natureza das
próprias decisões, o que torna impossível a redução da economia capitalista a uma
economia real (KEYNES, 1982).
A preferência pela acumulação na forma monetária ocorre pelo fato de deter riqueza
monetária permitir ao seu possuidor aproveitar as melhores chances que apareçam de
multiplicá-la. Por sua liquidez, a riqueza monetária está defendida contra flutuações de
demanda que afetam mercadorias e ativos, ou seja, a moeda mais agilidade ao seu
detentor em face de mudanças inesperadas de contexto. Porém, é necessário que o valor da
moeda possua uma âncora, essa âncora é o salário monetário, pois o trabalho, assim como a
39
moeda, tem uma natureza genérica por ser insumo essencial a qualquer processo produtivo
e elemento comum na determinação de todos os preços (KEYNES, 1982).
O fato de os salários serem na maioria das vezes estáveis e os contratos serem fixos,
contribui para que a moeda tenha um prêmio de liquidez elevado. Mais ainda, o valor da
produção é mais estável em termos de moeda, pois em termos de moeda, os salários são
relativamente rígidos.
Logo:
“... o bem em função do qual se espera que os salários sejam mais rígidos
pode ser um bem cuja elasticidade de produção seja mínima e cujo excedente
de custos de manutenção sobre o prêmio de liquidez seja igualmente nimo. Em
outras palavras, a expectativa de rigidez relativa dos salários em termos de moeda
é um corolário do fato de o excedente do prêmio de liquidez sobre os custos de
manutenção ser maior para a moeda do que para qualquer outro bem” (KEYNES,
1982, p.186).
Para acentuar o conceito de economia monetária de produção, cabe ressaltar que as
empresas produzem de acordo com a expectativa de demanda por seus produtos, o que
confere à atividade produtiva um caráter inevitavelmente especulativo. A produção é
decidida por firmas dotadas de objetivos próprios que não se confundem com os objetivos
de seus proprietários. A firma não produz para obter satisfação, mas para multiplicar
riqueza e, como seu objetivo não é o consumo, a riqueza gerada deve assumir uma forma
geral, poder de compra genérico, que existe na forma monetária. Ela aplica dinheiro para
obter mais dinheiro (CARDIM, 1992).
Keynes compara o problema da preferência pela liquidez da moeda com o desejo
pela Lua, onde:
“... o desemprego aumenta porque as pessoas querem a Lua; os
homens o podem conseguir emprego quando o objeto de seus desejos
(isto é, o dinheiro) é uma coisa que não se produz e cuja demanda não pode
ser facilmente contida. O único remédio consiste em persuadir o público de
que Lua e queijo verde são praticamente a mesma coisa, e a fazer funcionar
uma fábrica de queijo verde (isto é, um banco central) sob o controle do
poder público” (KEYNES, 1982, p.184).
40
Outro fator que torna a moeda essencial no capitalismo é o fato de os contratos entre
os agentes econômicos serem firmados em termos monetários. Isso garante à moeda a
função de ser unidade de medida e meio de liquidação desses contratos. Nesse sentido, o
meio circulante tem de representar exatamente a unidade de conta da economia, pois os
agentes só aceitam contratos em moeda pelo fato de a moeda ter, ou pretende-se que tenha,
seu poder de compra estável. Essa crença na estabilidade do poder de compra do meio
circulante torna a moeda reserva de valor, com o atributo de ser o ativo líquido por
excelência (CARDIM, 1992).
Cabe agora explicitar que as características da liquidez, motivo pelo qual o dinheiro
exerce papel central, se dividem em dois aspectos: primeiro, pelo fato de um ativo ser tanto
mais líquido quanto mais rapidamente puder seu possuidor converte-lo em dinheiro, e
segundo, pelo fato desse ativo líquido ter capacidade de conservar seu valor. Para resumir,
o prêmio de liquidez de um ativo qualquer é tanto mais alto quanto menor for o tempo
necessário à sua venda e menor for a variação de preços com relação ao seu valor original
(CHICK, 1983).
Para os diversos tipos de bens Keynes (1982) diz que há três atributos que cada um
possuem, porém em graus diferentes:
A) Alguns bens dão um rendimento ou produção (q), medido em termos de si
mesmos.
B) A maioria dos bens, exceto o dinheiro, sofre desgaste ou implicam algum custo
de manutenção (c) medido em termos de si mesmos.
C) O montante, medido em termo de si mesmo, que as pessoas estão dispostas a
pagar pela conveniência ou segurança potenciais pelo poder de dispor dele (excluindo o
rendimento ou os custos de manutenção que lhe são próprios). Esse montante Keynes
chama de prêmio de liquidez (l).
41
A moeda tem tanto no curto como no longo prazo elasticidade de produção igual a
zero; há uma distinção entre a empresa privada e a autoridade monetária. Logo, não se pode
produzir moeda, os empresários não podem aplicar trabalho à vontade na produção dinheiro
em quantidades maiores à medida que seu preço sobe em unidades de salários.
Outra peculiaridade da moeda é que ela possui elasticidade substituição igual, ou
quase igual, a zero. Ou seja, quando seu valor de troca sobe não existe tendência para que
se troque por algum outro fator.
Nas palavras de Keynes:
“Assim sendo, não apenas é impossível empregar mais mão-de-
obra na produção de moeda quando o seu preço em relação à mão-de-obra
sobe, como também a moeda constitui um poço sem fundo para o poder de
compra quando a sua demanda cresce, visto não haver como no caso de
outros fatores de renda um valor acima do qual essa demanda é desviada
para outras coisas” (KEYNES, 1982, p.181).
A partir dessas características pode-se verificar que o dinheiro possui custo de
armazenagem igual a zero, não possui rendimento, mas possui liquidez total. Essa é a
característica principal do dinheiro. Nesse sentido, Keynes na Teoria Geral
6
especifica três
motivos pelo qual as pessoas demandam moeda.
O primeiro motivo para se demandar moeda é o motivo transação, pois o dinheiro
serve para cobrir os gastos rotineiros e movimenta a renda corrente.
O segundo motivo para demandar moeda é o motivo precaução, prevenção contra
incertezas, que a moeda é um ativo seguro e fornece uma segurança para se atravessar
um futuro incerto até que as perspectivas se tornem mais definidas.
O terceiro motivo ocorre quando ao contrário do motivo anterior se tem
expectativas definidas, mas não necessariamente corretas, sobre o futuro. Nesse caso, se as
expectativas dos agentes são de alta na taxa de juros futura é melhor esperar que isso ocorra
6
Posteriormente, Keynes mencionaria um quarto motivo (finace), que não será comentado aqui.
42
para se fazer aplicações e para os agentes que m perspectivas contrárias é necessário que
se compre títulos no presente.
O terceiro motivo demonstra que a moeda não serve simplesmente como meio de
troca, mas também num ativo que se pode reter pelo seu infinito prêmio de liquidez, o que
fornece ao possuidor uma rápida capacidade de ação de acordo com suas expectativas.
Portanto, o atributo da liquidez garante à moeda não ser neutra no curto nem no
longo prazo. A existência de ativos líquidos oferece em momentos de incertezas um retorno
à segurança, o que ocasiona uma contração no consumo e nos investimentos necessários
para diminuição do desemprego involuntário. Os ativos relacionados aos investimentos
fornecem um risco, pois estes comprometem seus possuidores com os usos específicos
desses ativos e, caso a eficiência marginal do capital caia, a perspectiva de retornos desses
ativos irão se deteriorar. Como alternativa a moeda garante a segurança de sua
conversibilidade a qualquer momento (DAVIDSON, 1994).
43
CAPÍTULO 3 – UMA ANÁLISE DE KEYNES E MARX
3.1 - Introdução
Neste terceiro e último capítulo, o objetivo será aprofundar o conceito de Keynes de
economia empresarial, pois este conceito foge ao que está escrito em sua principal obra de
1936, A Teoria geral. Através desse conceito de economia empresarial, ele fornece
instrumentos substanciais para corroborar seu conceito de economia monetária de produção
e, também, traça um paralelo com aquilo que a teoria clássica supõe ser o capitalismo,
porém, essa suposição fica muito aquém da realidade.
Para isso, será utilizado dois textos (reproduzidos em anexo) contidos na coletânea
que reúne as principais obras de Keynes. Essa coletânea é chamada em inglês de ‘The
Collected Writings of John Maynard Keynes’. Mais precisamente, os manuscritos das
primeiras tentativas de redação da Teoria Geral e um artigo publicado em alemão.
Cabe ressaltar que esses textos não possuem traduções em português. Portanto, as
traduções feitas do inglês para o português são de total responsabilidade do autor desta
dissertação.
Feito isto, o capítulo terá uma breve análise da taxa de juros em Keynes e em Marx
feita com base em artigo de Maria Mollo, ‘Moeda e taxa de juros em Keynes e Marx:
Observações sobre a preferência pela liquidez’.
Por último, algumas observações serão apresentadas referentes ao capítulo 17 da
Teoria Geral de Keynes, que foi parcialmente exposto no Capítulo 2, terceiro sub item,
desta dissertação. Para expor essas divergências será utilizada a obra da Professora Leda
Paulani, ‘Do conceito do dinheiro e do dinheiro como conceito’.
44
3.2 - O conceito de economia empresarial em Keynes
Para explicar o conceito de economia monetária de produção utilizado por Keynes
será necessário a utilização de dois textos anteriores a sua obra A Teoria Geral, chamados
de ‘manuscritos da teoria geral’ e um artigo publicado em alemão em 1933. (Anexo I e no
Anexo II deste trabalho)
Keynes inicia sua análise a partir de uma crítica sobre como a teoria Ortodoxa
analisa a economia capitalista. Para ele, a noção convencional de um sistema onde a moeda
não desempenha papel fundamental na economia está em desacordo com a realidade dos
fatos. Para a teoria clássica “os fatores de produção recebem como remuneração pelas suas
utilizações uma fatia predeterminada do produto agregado de todos os produtos que eles
podem produzir” (CWJMK, Vol. XXIX, p. 01).
Para enfatizar sua crítica à economia clássica e expor seu conceito de economia
capitalista Keynes (1973) apresenta três hipóteses teóricas sobre diferentes tipos de
economia economia cooperativa, economia empresarial neutra e economia empresarial.
Através da exposição dessas hipóteses ele ressalta que uma economia empresarial é a que
condiz com sua concepção de economia monetária de produção.
No caso de uma economia cooperativa, que não corresponde à realidade econômica
para Keynes, será definido por ele como:
“Em uma economia cooperativa não impedimento no emprego
de uma unidade adicional de trabalho se esta unidade adicionar ao produto
social esperado uma troca de valor igual a 10 bushels
*
de trigo, que é
suficiente para equilibrar a desutilidade de emprego adicional. Dessa
forma, o segundo postulado da teoria clássica é satisfeito. Mas em uma
economia empresarial o critério é diferente. A produção só se realizará se o
gasto de 100 libras na contratação de fatores de produção for remunerar o
produto no qual se espera ser vendido por no mínimo 100 libras. Nessas
condições o segundo postulado não será satisfeito, exceto no caso restrito
de uma economia neutra” (CWJMK,Vol. XXIX, p.78)
.
A outra hipótese teórica que se refere a uma economia empresarial neutra, que
também não corresponde com a realidade para ele, é apresentada da seguinte maneira:
*
unidade de medida usada nas bolsas de futuros americanas para grãos e frutas
45
“... os fatores são contratados pelos empresários por dinheiro, mas
(...) existe algum tipo de mecanismo que assegure que a troca do valor dos
rendimentos monetários dos fatores se sempre igual à proporção
agregada do produto corrente, onde seria a divisão dos fatores numa
economia cooperativa” (CWJMK,Vol. XXIX, p.78).
Através das características acima de uma economia cooperativa e de uma economia
empresarial neutra fica evidente que não pode ser esses dois tipos de economias que se
aproximam da realidade. Na verdade “um empresário está interessado, não na quantidade
de produto, mas na quantidade de dinheiro que lhe pertencerá como sua parte”
(CWJMK,Vol. XXIX, p.82).
O papel fundamental do dinheiro na economia é apresentado por ele na sua
definição de economia empresarial. Nesse sentido, ele faz referência ao conceito de
reprodução ampliada do capital utilizada por Marx e explicar o caráter monetário do
capitalismo. Diz Keynes:
“A distinção entre uma economia cooperativa e uma economia
empresarial traz alguma relação com uma fecunda observação feita por
Karl Marx, apesar de que o subseqüente uso na qual ele colocou esta
observação fosse muito ilógico. Ele apontou que a natureza da produção no
mundo atual não é, como os economistas parecem sempre supor, um caso
de M D , de troca de mercadoria por dinheiro com o objetivo de se
obter outra mercadoria. Este pode ser o ponto de vista do consumidor
privado. Mas isto não é a postura dos negócios, que é um caso de D – M
D´, partir do dinheiro para mercadoria com o objetivo de se obter mais
dinheiro” (CWJMK,Vol. XXIX, p.78).
A teoria clássica se distância da realidade por ter axiomas equivocados sobre a
economia capitalista. Sobre esse distanciamento da realidade Keynes diz que “em uma
economia empresarial não é verdade que a demanda dos empresários por trabalho dependa
da divisão do produto que pertencerá ao empresário; e não é verdade que a oferta de
trabalho dependa da divisão do produto que pertencerá ao trabalho” (CWJMK,Vol. XXIX,
p.83).
Em uma economia empresarial uma produção só será iniciada se o empresário tiver
a convicção de que receberá um rendimento monetário maior do que aquele que foi gasto
para iniciá-la. Caso suas expectativas se deteriorem nenhuma produção será iniciada e,
portanto, isso gerará flutuações na demanda efetiva. Nas suas palavras:
46
“Para uma economia empresarial, como se verá adiante, o
volume de emprego, a desutilidade marginal que equivale à utilidade deste
produto marginal, pode ser desvantajoso em termos de dinheiro. (...) A
explicação, de como o produto que seria produzido numa economia
cooperativa, pode ser desvantajoso numa economia empresarial, ou o que
se pode chamar, para resumir, de flutuações na demanda efetiva”
(CWJMK,Vol. XXIX, p.79).
Essa flutuação na demanda efetiva sefundamental na determinação do volume de
emprego na economia:
“Demanda efetiva pode ser definida com referência aos esperados
excessos dos rendimentos das vendas sobre o custo variável (que es
incluído nos custos variáveis dependendo da extensão do período
observado). A demanda efetiva flutuará se esses excessos flutuarem, sendo
deficiente se os rendimentos das vendas forem abaixo do esperado e
excessiva se for acima dele. Em uma economia cooperativa, onde os
rendimentos das vendas excedem os custos variáveis em uma determinada
quantia, a demanda efetiva não pode flutuar; e isso pode ser negado se se
considerar os fatores que determinam o volume de emprego. Mas, em uma
economia empresarial as flutuações da demanda efetiva podem ser o fator
dominante na determinação do volume de emprego; e será primordial o
interesse em analisar as causas e as conseqüências das flutuações na
demanda efetiva interpretada no sentido acima” (CWJMK,Vol. XXIX, p.80).
Portanto, em contraposição ao pensamento Ortodoxo, Keynes resume abaixo o que
ele pretende quando fala em uma ‘economia monetária de produção’:
“A distinção que é normalmente feita entre uma economia de
trocas e uma economia monetária depende de colocar o dinheiro como um
meio de efetuar as trocas como um instrumento de grande conveniência,
mas transitório e neutro em seus efeitos. Ele é suposto como uma mera
ligação entre tecido e trigo, ou entre dias de trabalho gasto na construção
de uma canoa e dias de trabalho gasto na colheita da safra. (...) A teoria
que eu desejo trataria, em oposição a esta, com uma economia onde o
dinheiro desempenha um papel à parte e afeta motivos e decisões e é, em
resumo, um dos fatores importantes na situação, portanto, o curso dos
eventos não pode ser adivinhado, nem no longo prazo nem no curto, sem um
conhecimento do comportamento entre a primeira situação e a última. E é
isto que devemos pretender quando falamos uma economia monetária”
(CWJMK,Vol. XXIII, p.409).
47
3.3 - Uma breve análise sobre a taxa de juros em Keynes e em Marx
Segundo Mollo
7
, Keynes estabelece uma diferença entre demanda por crédito e
demanda por liquidez e diferença entre oferta de crédito e poupança. No primeiro caso a
preocupação de Keynes é com demanda por moeda, que ele chama de cash, e não com
demanda por empréstimos bancários. Nesse sentido, demanda por moeda tem uma
amplitude maior que demanda por crédito, ou seja, preferência pela liquidez envolve mais
do que demanda por crédito. Isto é uma referencia ao fato de existir uma resistência do
publico em comprar títulos e bens, e por parte dos bancos uma resistência de emprestar a
uma mesma taxa de juros, o que gera um problema de demanda por moeda e impede que
seja liberada liquidez suficiente no sistema.
na divergência entre credito e poupança, a incerteza tem um papel fundamental,
pois tanto a poupança ex-ante quanto o investimento ex-ante dependem de decisões
subjetivas e não existe motivo para que as pessoas poupem uma parte de suas rendas
futuras no momento em que os empresários investem. Não existe também, para Keynes, a
possibilidade dos agentes econômicos saberem a quantidade de gastos futuros de maneira a
fazerem poupança ex-ante. Esta decisão de poupar, dada à incerteza, é apenas um resíduo
do consumo e, dada esta poupança, uma outra decisão entra em cena, que é o que fazer com
esta poupança, ou seja, se se compra títulos ou se entesoura, dado que esta última depende
da preferência pela liquidez (MOLLO, 1988).
As expectativas pessimistas quanto ao futuro, que é por definição incerto, podem
fazer com que determinada poupança não se transforme em títulos ou gastos, pois
expectativas pessimistas fazem a preferência pela liquidez aumentar. Então, a análise da
poupança não é importante, no sentido de que ela só estará disponível para investimento “se
a preferência pela liquidez não impedir” (MOLLO, 1988, p.10).
De acordo com Mollo (1988), Keynes nega a determinação da taxa de juros como
preço que equilibra poupança com investimento, determinada no lado real da economia, e
7
Mollo, Maria de Lourdes, Moeda e taxa de juros em Keynes e Marx: Observações sobre a preferência pela
liquidez. In: Estudos Econômicos, vol. 18, nº1, p. 5-27, jan.-abr. 1988 – São Paulo.
48
estabelece a taxa de juros como um fenômeno monetário que é determinado pela demanda e
oferta de moeda, ou preferência pela liquidez. O fato de se demandar moeda como reserva
de valor dado um futuro incerto influirá na taxa de juros e interferirá nos investimento. Fica
estabelecida, portanto, a relação entre o lado monetário e o lado real da economia.
No âmbito da analise de Marx, ele não necessita da análise da taxa de juros para
estabelecer a ligação entre o lado monetário e o lado real da economia, que esta ligação
se estabelece desde o início de sua análise, “seja quando a relação entre moeda e valor é
colocada, seja quando da definição de equivalente geral e, finalmente, quando da definição
do que é real” (MOLLO, 1988, p.14).
No que se refere à moeda e suas funções como unidade de medida, meio de
circulação e meio de pagamento, estas aparecem para facilitar a circulação das mercadorias
e permitir a realização social do valor das mercadorias, e sua função como medida de valor,
que estabelece a relação entre moeda e valor, a noção de equivalente geral, faz com que o
lado real e monetário apareçam necessariamente ligados na produção capitalista, que o
dinheiro, no movimento do capital, inicia e finaliza, com o excedente convertido em
moeda, o processo produtivo, ou seja, sem dinheiro não processo produtivo capitalista
(MOLLO, 1988).
Portanto, a moeda nasce e se desenvolve com as mercadorias e a facilidade com que
com elas conseguem serem vendidas acaba por liberar os meios de circulação necessários
para sua fluidez, o que gera um caráter endógeno à criação da mesma. Ela não pode
simplesmente ser introduzida como mero facilitador de trocas, como é para economia
ortodoxa, que ela interfere no lado produtivo no sentido de que este não inicia nem
termina sem ela (MOLLO, 1988).
No que se refere ao juro, na visão de Marx, ele é um fenômeno monetário que
decorre da qualidade do dinheiro ser capital em potencial, o que o torna uma mercadoria
peculiar. O juro é um preço que não possui relação com o valor; então, não existe taxa
natural de juros, no sentido neoclássico; esta taxa é determinada pela concorrência entre
capitalistas financeiros e capitalistas industriais no mercado de capital de empréstimo. Sofre
49
influência, também, da conjuntura através dos ciclos industriais, e o lucro é seu limite
máximo (MARX, 1988).
A oferta de capital de empréstimo vai depender da evolução do processo de
reprodução do capital que fará com que se crie uma massa de capital social que não
encontrou lugar nem no consumo nem nos investimentos (MOLLO, 1988).
Nas crises existe também para Marx uma preferência pela moeda, porém isto não
aparece como causa da crise devido às incertezas quanto ao futuro, como o é para Keynes.
Ele existe sim como conseqüência da crise, pois quando mercadorias não conseguem ser
vendidas aparece a necessidade de continuação do processo de reprodução que só se faz por
meio do valor validado de forma social, a moeda, valor por excelência (MOLLO, 1988).
Portanto, tanto Keynes quanto Marx partem de uma economia monetária. Para o
primeiro, a moeda é uma segurança quanto a incertezas do futuro. para o segundo, a
moeda é uma relação social com seu início junto com a economia mercantil capitalista.
3.4 - Algumas observações sobre o cap. 17 da Teoria Geral de Keynes
Na obra Teoria Geral de Keynes o conceito de economia monetária de produção
aparece de uma maneira diferente do que o conceito de economia monetária de produção
exposto em seus artigos anteriores a 1936. Nestes, Keynes trabalha com o motivo
pecuniário
8
da produção de riqueza real. na Teoria Geral, ele define a existência do
dinheiro enquanto ativo, e nesta obra não se encontra menção ao conceito de economia
monetária de produção.
8
Paulani, Leda (1991). Do Conceito de Dinheiro e do Dinheiro como Conceito. Tese de Doutorado.
São Paulo, FEA-USP.
50
De acordo com Paulani (1991), um dos fatores que atrapalhou Keynes e fez com
que ele definisse o dinheiro enquanto ativo na Teoria Geral foi o fato dele ter utilizado uma
concepção implícita de ciência que complicou seu objetivo de criticar a teoria clássica por
esta não representar a realidade.
No caso do dinheiro enquanto ativo, como exposto por ele na Teoria Geral, sua
peculiaridade está no fato de possuir um prêmio de liquidez (l) maior que o custo de
armazenagem do mesmo (-c), e, também, no fato do dinheiro possuir elasticidade produção
e substituição igual a zero (KEYNES, 2002).
Paulani (1991) resume essa mudança de pensamento na Teoria Geral de Keynes, da
seguinte maneira:
“Assim, ao invés de mostrar o papel preponderante do dinheiro a
partir de sua percepção sobre economia monetária, - nela, a produção de
riqueza real se em função da necessidade de valorização, como um fim
em si mesma – tal como sua visão parecia indicar, inverte Keynes o trajeto
e tenta, na Teoria Geral, definir essa economia a partir da existência nela
de um ativo com determinadas características. Se, nos rascunhos, Keynes
põe a finalidade da produção de riqueza real no lugar correto e percebe,
com isso, a importância do dinheiro e a insuficiência da teoria ortodoxa, na
Teoria Geral, essa especificidade do capitalismo (e o que é a economia
monetária de Keynes senão o capitalismo?) quase desaparece, porque a
finalidade da produção de riqueza real não mais escolocada no ponto de
partida: a existência do dinheiro enquanto tal é que toma seu
lugar”(PAULANI, 1991, p.94).
e mais:
“Se Keynes tivesse mantido a finalidade como primeira na
discussão, teria então concluído que, se a economia é monetária, sua
motivação é a valorização do valor e que, nesses marcos, o arbítrio quanto
à acumulação de riqueza e quanto à forma de sua alocação estão na
dependência do padrão desse valor que se quer sempre aumentar. Se a
finalidade da economia é a produção de valores de uso, eno não
sequer valor a ser medido, visto que não que valoriza-lo. Nesse caso, o
dinheiro, quando existe, é mero meio de troca e, ainda que, para poder
funcionar como tal, ele tenha de ser o padrão de medida, ele é, na verdade,
completamente neutro como padrão. Na economia cooperativa ou na
economia empresarial neutra de Keynes, o que importa é a produção e a
distribuição de bens, e tais elementos, ou são acertados a priori (primeiro
caso), ou a economia é dotada de mecanismos que excluem qualquer
incerteza quanto a esses objetivos (segundo caso). Assim, uma vez que esses
fatores são dados do problema, o dinheiro (a moeda, no caso) é o meio
que torna viável essa produção e distribuição. E aí o padrão pode se alterar
o quanto queira, que nada se modificará, tudo se ajustará ou seja, todos
os preços e rendimentos monetários – de modo que se mantenham as
51
variáveis reais. O dinheiro é neutro por definição” (PAULANI, 1991, p.
95).
Portanto, Keynes teve o sentimento correto quando tentou mostrar que a economia
clássica estava equivocada sobre o capitalismo. Intuiu, portanto, o capitalismo como
economia monetária de produção, expresso nos manuscritos para Teoria Geral. Para seguir
essa intuição, ele teria que ver o valor como oposto ao valor de uso. Porém, para fazer isso,
ele tinha que mudar sua lógica de orientação até então (PAULANI, 1991).
52
CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho foi fornecer uma contribuição ao entendimento do caráter
monetário presente na economia capitalista. Isso porque o chamado mainstream econômico
não a devida importância ao papel que a moeda tem nesse sistema. Fica evidente para
eles o fato da moeda ser simplesmente um facilitador das trocas, o que faz com que ela atue
de forma neutra na economia.
Para apresentar alternativas à noção da moeda neutra no sistema foi utilizado o
conceito de economia monetária de produção desenvolvido por Keynes e o papel do
dinheiro apresentado por Marx em O Capital.
No primeiro item do capítulo primeiro foram brevemente apresentados alguns
aspectos da teoria do valor de Marx. Já na exposição sobre a teoria do valor fica evidente a
contradição presente no sistema capitalista. Essa contradição também está presente na
mercadoria, e esta é presente onde quer que as relações sociais de produção do capitalismo
estejam presentes. No que diz respeito à mercadoria, ela possui um duplo caráter, que é o
de possuir valor de uso e valor (valor de troca). Dessa contradição tem-se o valor definido
pelo tempo de trabalho socialmente necessário para produção da mercadoria; este é
determinado socialmente, não é uma substância física, palpável.
A produção no capitalismo não objetiva atender as necessidades das pessoas, mas
sim a venda das mercadorias pelo seu valor de troca. A partir do momento em que, no
processo de formação do capitalismo, os produtores diretos são separados dos meios de
produção pela propriedade privada, surgem duas classes, os capitalistas e a classe
trabalhadora, expropriada dos meios de produção. Nesse sentido, a produção é organizada
por produtores privados que contratam força de trabalho, porém, eles fazem parte de uma
divisão social do trabalho. A contradição está posta mais uma vez, nesse caso, entre privado
e social. Com isso, faz-se necessário a validação social dos trabalhos privados. Esse
processo de validação social de trabalhos privados contidos nas mercadorias é feito pela
venda da mercadoria por dinheiro, e este possui a característica de ser a forma universal do
valor.
53
Junto com isso, a moeda, ou melhor, o dinheiro, inicia o movimento do capital, D
M D’. Esse processo tem por objetivo a valorização do capital, ou seja, extrair mais-valia
para se obter como retorno da produção uma quantidade maior de dinheiro que iniciou o
processo.
Portanto, ao partir de sua teoria do valor, Marx apresenta de forma coerente o
caráter monetário do capitalismo, justamente pelo fato de o dinheiro ser a autonomização
do valor, o que o torna objeto de desejo, já que ele, o dinheiro, possui validação social por
expressar esse valor, a forma equivalente-geral.
Ao seguir sua linha de raciocínio ele torna claro o papel do dinheiro no sistema.
Para ele não faz o menor sentido, como faz para teoria ortodoxa, falar em neutralidade da
moeda, dizer que ela simplesmente facilita as trocas numa sociedade onde as trocas se
generalizaram. Na visão de Marx, a mercadoria surge junto com a moeda e o
desenvolvimento histórico dos mesmos acaba por generalizar cada vez mais a produção
com o objetivo da venda. Portanto, essa generalização é que caracteriza a economia
capitalista enquanto sociedade mercantil.
Junto com isso, surge o capital portador de juros, onde um prestamista portador de
dinheiro aliena-o para um mutuário, o capitalista industrial, e este valoriza o capital
emprestado ao aplicá-lo na produção, e com a mais-valia extraída, parte deverá ser entregue
ao prestamista, simplesmente pelo fato de ele ser o proprietário do capital (que ele
emprestou ao capitalista industrial como dinheiro capaz de funcionar como capital).
Na forma D – D’ não aparece explicitamente a exploração da força de trabalho para
se obter mais-valia. Essa situação D D’, de dinheiro simplesmente criar mais dinheiro
aparentemente sem passar pela produção, é expressa por Marx como que se ‘pereiras
dessem pêras’, dinheiro criar dinheiro.
Portanto, como foi dito, a moeda não é neutra para Marx e nem pode ser, dada a
característica de que o capitalismo é definido como uma economia mercantil.
54
Para a apresentação de Keynes sobre a moeda, iniciou-se o capítulo segundo com a
questão de como as incertezas sobre o futuro contribuem para a moeda não ser neutra na
economia. Aqui entra uma discussão sobre se o futuro pode ser previsto por meio de
probabilidade matemática. Para Keynes, fica claro que é impossível a utilização de modelos
probabilísticos confiáveis, pois a quantidade de variáveis que deveriam estar presentes nas
premissas dos modelos, e a falta de bases para estimar qualquer distribuição de
probabilidades, inviabilizam-nos totalmente. No caso da teoria ortodoxa, os modelos
utilizados por ela são simplesmente modelos que reproduzem o passado no futuro. Isso
acontece pois, para eles, o ambiente econômico é um ambiente ergódico, imutável. Os
teóricos pós-keynesianos contribuíram para a análise da incerteza em Keynes ao dizerem
que o ambiente econômico é um ambiente não-ergódico. Um dos fatores que contribuem
para essa afirmativa é o fato do capitalismo ser movido por constantes inovações
tecnológicas que sempre modificam esse ambiente.
Dadas essas incertezas no sistema, a moeda seria como se fosse um porto seguro.
Isso se torna evidente, principalmente, quando as expectativas quanto ao futuro da
economia se deterioram. Nesse caso, a preferência pela liquidez aumenta e a moeda serve
mais do que nunca como um refúgio para as crises. Como foi visto no item três do capítulo
dois, um dos motivos que fazem as pessoas preferirem moeda ao invés de qualquer outro
ativo está no fato de a moeda possuir um prêmio de liquidez muito maior do que outros
ativos na economia. Outro motivo é que ela possui elasticidade de produção e de
substituição igual a zero, pois os empresários privados não podem empregar fatores de
produção para produzir moeda, e ela não tem bons substitutos. Essas foram as explicações
sobre as propriedades da moeda apresentadas por Keynes na sua obra A Teoria Geral.
As expectativas dos capitalistas quanto ao futuro são de extrema importância na
determinação do volume de emprego na economia. Se o empresário achar que, ao colocar
dinheiro para iniciar um processo produtivo, receberá ao final do processo mais dinheiro do
que no início, o investimento será feito e o emprego será criado na economia. Caso
contrário ocorrerá o inverso, desemprego. E isso será o motivo pelo qual aparecerão
flutuações na demanda efetiva.
55
Keynes utiliza o conceito de economia monetária de produção principalmente em
seus escritos do período de preparação da Teoria Geral. Utiliza também a nomenclatura de
‘economia empresarial’ para definir o capitalismo. Para descrever o tipo de sociedade para
qual vale a economia ortodoxa, ele utiliza dois conceitos; o primeiro é o de uma ‘economia
cooperativa’ e o segundo de ‘economia empresarial neutra’. No primeiro caso, a economia
é baseada em trocas diretas, isto é, escambo. Nesse sentido, os fatores de produção recebem
de acordo com suas contribuições na produção do produto corrente. A lei de ‘Say’ está
presente, ‘toda oferta gera sua própria demanda’. Portanto, a economia opera no pleno
emprego.
No segundo caso, economia empresarial neutra, Keynes assume a hipótese de o
dinheiro ser a remuneração do produto produzido, hipótese que os ortodoxos também
utilizam. Porém, existe algum mecanismo que faz com que os fatores de produção também
recebam a parcela com que contribuíram para o produto corrente. Existe algum mecanismo
que faz com que as incertezas futuras quanto ao retorno do investimento sejam anuladas, e
mais uma vez, a Lei de ‘Say’ impera com a economia no seu pleno emprego.
A economia capitalista é definida por Keynes como economia empresarial, e o fato
de existirem incertezas quanto ao futuro fará com que a moeda tenha suas peculiaridades,
que a tornam objeto de desejo, o que gerará um problema de demanda efetiva no sistema,
com insuficiência de demanda. Nesse sentido, o lado monetário interfere no lado real da
economia. A Lei de ‘Say’ é negada por ele, e a existência de desemprego involuntário no
capitalismo é afirmada.
Uma das maneiras usadas por Keynes nas primeiras versões da Teoria Geral para
definir seu conceito de economia monetária de produção se refere ao esquema marxista que
diz que o capitalismo é regido por D – M – D’ e não como os ortodoxos pensam, ou seja, M
– D M. O objetivo da produção capitalista é a acumulação de riqueza na forma abstrata, o
dinheiro inicia o movimento do capital para no final do processo se obter mais dinheiro do
que foi inicialmente gasto. Esse movimento, que é o de valorização do capital no sentido
marxista, se reproduz enquanto for possível essa valorização, não termina na primeira
valorização.
56
no segundo item do capítulo terceiro, Mollo estabelece uma relação quanto ao
conceito de Keynes de preferência pela liquidez com o conceito de Marx de preferência
pela moeda.
O que fica estabelecido é que a partir do momento em que a preferência pela
liquidez gera pressões no mercado monetário, isso fará com que variações na taxa de juros
de mercado aconteçam. Dado a necessidade das empresas por empréstimos para realizarem
seus investimentos, fica evidente que o lado monetário interfere no lado real da economia.
Outro fator é que em momentos de incertezas a preferência pela liquidez aumenta; logo, em
crises essa preferência aumenta.
a taxa de juros em Marx é, também, um fenômeno monetário determinado pela
concorrência entre capitalistas produtivos e financeiros. A moeda se configura para ele
como necessária para a realização social das mercadorias. O crédito pode retardar essa
necessidade, mas em algum momento essa necessidade de realização social irá se impor e
como resultado a preferência pela moeda aumentará.
Por fim, tem-se a crítica feita por Paulani ao capítulo dezessete da Teoria Geral.
Neste capítulo Keynes abandona seu conceito de economia monetária de produção utilizada
nos textos preparatórios para A Teoria Geral e passa a tratar o dinheiro como um ativo.
Keynes define que todos os ativos possuem as mesmas atribuições técnicas e a
peculiaridade do ativo dinheiro está no fato deste possuir alto grau de liquidez.
Keynes deixa de fora o fato do dinheiro ser o padrão de valor e de ser a finalidade
da produção capitalista. Desse modo, ele precisaria mudar seu ponto de partida e entender
que no sistema o objetivo da produção é a valorização do valor, mas para isso ele teria que
partir da contradição da mercadoria e não do dinheiro como ele fez.
Portanto, não obstante as críticas quanto ao ponto de partida da análise de Keynes,
tanto ele quanto Marx trabalharam a questão do papel da moeda no capitalismo de uma
maneira diferente ao papel da moeda presente na teoria ortodoxa. E como resposta a essa
teoria esses autores trouxeram para a teoria econômica mais lucidez quanto ao caráter
monetário do capitalismo.
57
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58
ANEXO I
- Towards the general theory (fragmentos)
Os economistas clássicos pressupõem que os fatores de produção recebem como
remuneração pelas suas utilizações uma fatia predeterminada do produto agregado de todos
os produtos que eles podem produzir, tanto a demanda quanto a oferta de cada fator
depende de uma esperada quantia de suas remunerações em termos de produtos em geral.
Não é necessário que os fatores recebam suas remunerações em espécie num primeiro
momento; a situação é a mesma se eles forem remunerados em dinheiro, desde que o
dinheiro seja aceito simplesmente como uma conveniência temporária, com o objetivo de
gastá-lo em seguida na compra de uma parte do produto corrente que eles escolheram. Nem
se faz necessário que o produto corrente deva estar incluso na riqueza total; a situação é a
mesma se os fatores de produção trocarem suas remunerações referentes ao produto
corrente por outras formas de riqueza, desde que aqueles com quem se troquem pretendam
empregar todo montante e em seguida comprar uma parte do produto corrente. Isto ainda
pode ser o caso onde a função oferta de um fator, em termos do que pode se produzir, varia
de acordo com o valor do que pode ser produzido em termos de qualquer outra coisa que
não se pode produzir por esta mesma oferta de fator. O ponto fundamental é que em
qualquer método todo fator de produção no final das contas recebe como remuneração uma
predeterminada fatia do produto corrente esperado, ou em espécie, ou em termos de
qualquer coisa que se possa trocar valores iguais aos da fatia predeterminada.
É fácil conceber uma comunidade onde os fatores de produção são remunerados
pela divisão em proporções de acordo com o atual produto de seus esforços cooperativos.
Este é o mais simples caso de uma sociedade onde as pressuposições da teoria clássicas são
preenchidas. Mas elas deveriam também ser preenchidas numa sociedade do tipo em que
vivemos, onde o início do processo produtivo depende amplamente da classe dos
empresários que contratam fatores de produção por dinheiro e esperam seus pagamentos
através da venda do produto por dinheiro, desde que o todo do rendimento corrente dos
fatores de produção seja necessariamente gasto, diretamente ou indiretamente na compra
dos próprios produtos correntes dos empresários.
59
O primeiro tipo de sociedade nós chamaremos de economia cooperativa. O segundo
tipo, onde os fatores são contratados pelos empresários por dinheiro, mas onde existe algum
tipo de mecanismo que assegure que a troca do valor dos rendimentos monetários dos
fatores será sempre igual à proporção agregada do produto corrente, onde seria a divisão
dos fatores numa economia cooperativa, chamaremos de economia empresarial neutra, ou
economia neutra. O terceiro tipo, onde o segundo tipo é um caso restrito, na qual os
empresários contratam os fatores por dinheiro, mas sem qualquer mecanismo como o acima
citado, nós chamaremos de economia empresarial.
É óbvio nessas definições que é em uma economia empresarial que nós vivemos
hoje.
A lei da produção numa economia empresarial pode ser expressa como se segue.
Um processo de produção não será iniciado, a menos que os rendimentos esperados da
venda do produto forem no mínimo iguais ao custo do dinheiro que poderia ser evitado ao
não se iniciar o processo.
Em uma economia cooperativa não há impedimento no emprego de uma unidade
adicional de trabalho se esta unidade adicionar ao produto social esperado uma troca de
valor igual a 10 bushels
*
de trigo, que é suficiente para equilibrar a desutilidade de emprego
adicional. Dessa forma, o segundo postulado da teoria clássica é satisfeito. Mas em uma
economia empresarial o critério é diferente. A produção se realizará se o gasto de 100
libras na contratação de fatores de produção for remunerar o produto no qual se espera ser
vendido por no mínimo 100 libras. Nessas condições o segundo postulado não se
satisfeito, exceto no caso restrito de uma economia neutra.
No entanto, a maior parte da analise clássica tem sido usualmente aplicada sem
remorso ou ressalva a uma economia empresarial, com a tácita hipótese de que o critério,
como exposto acima, para iniciar a produção numa economia empresarial é essencialmente
equivalente ao critério, como exposto acima, para iniciar a produção em uma economia
cooperativa. Agora não é impossível, como veremos subseqüentemente, para uma
*
unidade de medida usada nas bolsas de futuros americanas para grãos e frutas
60
economia empresarial ser feita para se comportar da mesma maneira que uma economia
cooperativa; - este é simplesmente o peculiar e restrito caso de como uma economia
empresarial pode se comportar, que s chamamos de economia neutra. A teoria clássica,
no entanto, como ilustrado na tradição de Ricardo a Marshall e Professor Pigou, permite
concluir que as condições para uma Economia Neutra são substancialmente preenchidas em
geral; de qualquer forma, este foi o motivo de uma grande confusão que essas
concepções estavam implícitas, ou seja, se procurará em vão ou por qualquer demonstração
precisa das simplificações que foram introduzidas ou pela relação das conclusões
demonstradas para uma Economia Neutra aos fatos do mundo real.
Mesmo assim, é fácil mostrar que as condições para uma Economia Neutra não são
satisfeitas na prática; com o resultado de que há uma diferença da mais fundamental
importância entre uma economia cooperativa e o tipo de uma economia empresarial, na
qual nós vivemos. Para uma economia empresarial, como veremos, o volume de emprego, a
desutilidade marginal que equivale à utilidade deste produto marginal, pode ser
desvantajoso em termos de dinheiro.
A explicação de como o produto que seria produzido numa economia cooperativa
pode ser desvantajoso numa economia empresarial, ou o que podemos chamar, para
resumir, de flutuações na demanda efetiva.
Demanda efetiva pode ser definida com referência aos esperados excessos dos
rendimentos das vendas sobre o custo variável (que está incluído nos custos variáveis
dependendo da extensão do período observado). A demanda efetiva flutuará se esses
excessos flutuarem, sendo deficiente se os rendimentos das vendas forem abaixo do
esperado e excessiva se for acima dele. Em uma economia cooperativa, onde os
rendimentos das vendas excedem os custos variáveis em uma determinada quantia, a
demanda efetiva não pode flutuar; e isso pode ser negado se se considerar os fatores que
determinam o volume de emprego. Mas, em uma economia empresarial as flutuações da
demanda efetiva podem ser o fator dominante na determinação do volume de emprego; e
neste livro, então, s devemos nos centrar no interesse em analisar as causas e as
conseqüências das flutuações na demanda efetiva interpretada no sentido acima.
61
Desde o tempo de Ricardo os economistas clássicos ensinaram que a oferta cria sua
própria demanda; que significa que os retornos dos fatores de produção, devem, direta ou
indiretamente, criar no agregado uma demanda efetiva exatamente igual aos custos da
oferta corrente; esta demanda efetiva agregada é constante. Apesar da necessidade de
equilíbrio devido ao julgamento equivocado temporário, como a resistência de demandas
relativas poder trazer perdas em certas direções equilibradas por lucros normais em outras
direções, onde perdas e ganhos tenderão a guiar no longo prazo a distribuição dos recursos
produtivos, de tal maneira que os rendimentos de diferentes espécies de produtos tenderão a
se equalizarem.
A distinção entre uma economia cooperativa e uma economia empresarial traz
alguma relação com uma fecunda observação feita por Karl Marx, apesar de que o
subseqüente uso na qual ele colocou esta observação fosse muito ilógico. Ele apontou que a
natureza da produção no mundo atual não é, como os economistas parecem sempre supor,
um caso de M D M´, de troca de mercadoria por dinheiro com o objetivo de se obter
outra mercadoria. Este pode ser o ponto de vista do consumidor privado. Mas isto não é a
postura dos negócios, que é um caso de D M D´, partir do dinheiro para mercadoria
com o objetivo de se obter mais dinheiro. Isto é importante para o entendimento a seguir.
A teoria clássica supõe que a propensão dos empresários para iniciar um processo
produtivo depende da quantia de valor em termos do produto que eles esperam que lhes
pertençam como suas partes. É simplesmente a expectativa de mais produtos para eles
mesmos que irá induzi-los a oferecerem mais empregos. Mas em uma economia
empresarial esta é uma análise equivocada da natureza dos cálculos de negócios. Um
empresário, está interessado, não na quantidade de produto, mas na quantidade de dinheiro
que lhe pertencerá como sua parte. Ele irá aumentar sua produção se ele esperar aumentar
seus lucros monetários, mesmo que seu lucro represente uma quantidade menor de produto
do que antes.
A explicação disto é evidente. O emprego de fatores de produção para aumentar o
produto envolve os empresários num gasto, não em produto, mas em dinheiro. A escolha
que ele tem que tomar se querem ou não ofertar emprego é uma escolha entre usar dinheiro
62
nisso, ou em outra coisa, ou não usa-lo de nenhuma maneira. Ele tem sobre seu comando
100 libras (na mão ou por empréstimo), e ele só irá usa-la se com isso ele esperar, depois de
deduzir seus custos variáveis incluindo os juros sobre 100 libras, transformar essas 100
libras em mais do que as mesmas 100 libras. A única questão que o precede é escolher, fora
as várias maneiras de se empregar 100 libras, a forma pela qual lhe renderá o máximo de
lucro em termos monetários. Deve ser lembrado que os preços futuros, na medida em que
são antecipados, são refletidos nos preços correntes, depois de permitir as várias
considerações de custos de carregamento e de oportunidades de produção no meio tempo
que se relacionam os preços à vista e futuros de uma dada mercadoria. Dessa forma
devemos supor que a estrutura de preço à vista e de futuro trouxeram ao equilíbrio as
vantagens relativas, como estimado pelo proprietário, de manter dinheiro e outras formas
existentes de riqueza. Assim, se a vantagem em termos monetários do uso do dinheiro para
iniciar um processo produtivo é aumentada, isto irá estimular os empresários a oferecerem
mais emprego, caso contrário, não. Pode ser verdade que o emprego será maior numa
situação do que em outra, ainda que o grande lucro monetário no primeiro caso corresponda
a uma menor quantidade de produto do que o menor lucro monetário no segundo caso. Os
empresários são orientados, não pela quantia de produto que eles irão ganhar, mas pelas
oportunidades alternativas pelo uso do dinheiro referente às estruturas de preço à vista e
futuro como um todo.
Desse modo, a teoria clássica falha em ambos os lados, por assim dizer, se se tentar
aplicar isto em uma economia empresarial. Em uma economia empresarial não é verdade
que a demanda dos empresários por trabalho dependa da divisão do produto que pertencerá
ao empresário; e não é verdade que a oferta de trabalho dependa da divisão do produto que
pertencerá ao trabalho. É por estas divergências fundamentais desde o início, que torna
impraticável começar com a teoria clássica e, então, num estágio avançado de
argumentação, adaptar as suas conclusões aos caprichos de uma economia empresarial.
A teoria da ‘apreciação e juros’, como é normalmente chamada e principalmente
associada com o Professor Irving Fisher, mas primeiro criada por Marshall, é viciada pelas
mesmas considerações. Suponha que 100 libras tenha seu valor aumentado em 10 por cento
por ano e esta é emprestada por 5 por cento para o mesmo período, então é dito que a taxa
63
‘real’ de juros é de 15 por cento; por outro lado se ela tem uma queda em seu valor em 10
por cento, a taxa ‘real’ de juros é negativa em 5 por cento. Não é de se estranhar, como é
habitual concluir, que os empresários ficam ansiosos para tomar emprestado para fins
produtivos quando os preços sobem e relutantes quando eles caem; e a veracidade desta
dedução tem sido reforçada pela sua conformidade com os fatos.
No entanto, o raciocínio não faz sentido. Se a mudança no valor das 100 libras não é
esperada e pega o mercado de surpresa, obviamente um caso que não estava previsto não
pode ter afetado o volume de emprego. Neste caso, a taxa ‘real’ de juros somente expressa
um fato estatístico ex post facto, e não pode ser um dos determinantes das expectativas nos
negócios, onde é decidido o volume de emprego.
Se, de outro modo, supomos que a mudança no valor do dinheiro é prevista, então
isso deve exercer influência nos preços presentes assim como nos preços futuros; e uma
antecipação de tal mudança no preço pode existir se as condições técnicas do mercado
estão presentes para que permita um spread de 10 por cento entre os preços à vista e os
preços futuros para cima ou para baixo. Mas, neste caso, não razão para cada um, o
tomador de empréstimo ou o emprestador, precisar ter em conta a ‘apreciação’ como
distinto dos ‘juros’. O tomador de empréstimo está interessado na expectativa do
excedente de dinheiro recebido sobre o dinheiro gasto; enquanto que o emprestador não
tem qualquer meio por onde possa evitar o futuro ganho ou perda na antecipação da
mudança no valor do dinheiro, desde que os preços de todas as coisas que se pode comprar
já reflitam isso. Um indivíduo só pode especular sobre a sua suposta vantagem num
próximo evento se dúvida suficiente sobre isso para pessoas diferentes com diferentes
opiniões.
Em resumo, não é a perspectiva de aumento nos preços como tal que estimula o
emprego, mas a perspectiva de uma margem de acréscimo entre o rendimento da venda e
os custos variáveis.
Agora, é pertinente perguntar se a flutuação da demanda efetiva pode ser
propriamente descrita como um fenômeno monetário? Obviamente essa flutuação não é
necessariamente um resultado do uso do dinheiro. Em uma economia cooperativa e numa
64
economia neutra também se pode utilizar dinheiro. A questão deve ser, então, será que as
flutuações poderiam ocorrer na ausência de dinheiro?
A dificuldade de se responder a esta questão é em parte devido à incerteza ou à
obscuridade quanto ao que se pretende exatamente com ‘uso do dinheiro’. Eu preferiria
dizer, como eu disse acima, que a flutuação da demanda efetiva é uma característica de uma
economia empresarial como distinta de uma economia cooperativa. Poderia então este tipo
de economia empresarial existir sem dinheiro?
É da essência de uma economia empresarial que a ‘coisa’, ou coisas, em termos de
remuneração dos fatores de produção, possa ser gasta em algo que não é o produto corrente,
que o produto corrente não pode ser desviado para outra produção (exceto numa escala
limite), e que o valor de troca dessa ‘coisa’ não seja fixado em termos de um artigo do
produto corrente para que a produção possa ser desviada sem limite. Não é necessário que a
‘coisa’ na qual os fatores de produção são remunerados deva ser a mesma para todos, desde
que as condições acima sejam satisfeitas. Nem é necessário que o meio da remuneração
deva ser nenhuma parte do produto corrente, desde que haja limites estreitos à medida que
o produto corrente possa ser desviado para ela. Atualmente, com o mundo regido pelo
padrão ouro
1
, ouro pode ser produzido, e numa situação de crise haverá alguns desvios de
emprego para garimpos de ouro. Se, de fato, fosse facilmente viável desviar produção para
ouro numa escala suficiente para o valor do acréscimo do produto corrente de ouro corrigir
essa deficiência de gastos em outras formas de produto corrente, desemprego poderia não
ocorrer; exceto num período transitório antes do giro do aumento da produção em ouro ser
completado.
Qual, então, à luz dessas observações, é a resposta para a primeira questão
levantada? Dinheiro é par excellence o significado da remuneração numa economia
empresarial que leva a flutuações na demanda efetiva. Mas se os empregadores
remunerarem seus trabalhadores em termos de pedaços de terras ou obsoletos selos de
1
Keynes escreveu este artigo em 1933.
65
correio, as mesmas dificuldades poderiam aparecer. Talvez, qualquer coisa em termos de
contrato de remuneração dos fatores de produção, que não é e não pode ser uma parte do
produto corrente e é capaz de ser utilizado para comprar esse mesmo produto corrente, é, de
certa forma, dinheiro. Neste caso, mas não de outra forma, o uso do dinheiro é uma
condição necessária para flutuações na demanda efetiva.
Até agora, não nada no critério de dinheiro exposto que sugira que as flutuações
na demanda efetiva são mais suscetíveis de serem em excesso ou em déficit. Eu imagino,
entretanto, que outra característica nesse sistema monetário que faz a deficiência na
demanda efetiva um perigo mais freqüente que o oposto; quer dizer, o fato do dinheiro no
sentido de que os fatores de produção são remunerados por ele irá ‘conservar’ o rendimento
mais fácil do que o produto na qual eles estão sendo remunerados para produzir, então, a
necessidade de vender dos empresários, se eles estiverem a fim de evitar perdas, é mais
urgente do que a necessidade dos recebedores de renda para gastar. Este é o caso, pois essa
é a característica de bens acabados, que nem são consumidos nem utilizados, mas sim
levados para o estoque, o que causa aos empresários substanciais custos de armazenamento,
risco e deterioração, e, dessa forma, eles obtêm uma rentabilidade negativa pelo tempo em
que os bens estiverem estocados; a não ser que tais gastos sejam reduzidos a próximo de
zero no caso do dinheiro. Se não fosse por essa consideração, a demanda efetiva num dado
momento seria governada pelas mais permanentes considerações sobre a direção das
despesas médias populares ao longo de um considerável período de tempo, e seria menos
sujeita a rápidas flutuações tais como auge e depressão.
Caso se inverta a consideração exposta, podemos conceber um sistema empresarial
que teria uma tendência ao excesso de demanda e super emprego, comparado ao sistema
atual que possui insuficiência de demanda e opera abaixo do pleno emprego; em outras
palavras, se os meios da remuneração pudessem ‘conservar’ o rendimento mais devagar do
que o produto. Neste caso, haveria uma tendência para que os trabalhadores se reunissem,
independentemente da barganha salarial que teriam conseguido com seus empregadores,
trabalhando ocasionalmente por um salário real que era menor do que a desutilidade
marginal do trabalho porque eles tinham conquistado isso.
66
- As características de uma economia empresarial
De modo a trazer os essenciais atributos para a intuição dos leitores, permita-nos
construir um modelo simplificado de uma economia empresarial.
Produção, permita-nos supor, é organizada por ummero de firmas que não fazem
nada além de exercitar a função empresarial. Quer dizer que eles alugam seus equipamentos
de capital fixo dos capitalistas, em troca de um aluguel anual, pagável durante a vida útil do
equipamento, onde os capitalistas esperam ser recompensados pela soma que eles gastaram
na compra inicial desses equipamentos da firma que os produziu; e eles contratam mão de
obra, sempre que eles decidem usar este equipamento de capital para produzir bens, pelo
período de produção desses bens. Do outro lado, é conveniente, mas não essencial, assumir
que as firmas possuem capital de giro, o que significa que elas possuem o capital necessário
para alugar o equipamento de capital e para cobrir os custos variáveis que ocorrem durante
o início da produção feita por esse equipamento de capital e a venda do produto produzido
por dinheiro. Logo após suas produções serem concluídas, eles precisam vende-las por
dinheiro; porém, não impedimento que parte dos bens produzidos sejam trocados por
dinheiro entre as firmas.
A distinção que está implícita aqui entre capital fixo e capital de giro e a mesma
distinção que é feita entre bens acabados e não acabados. Essa distinção se aplica tanto para
bens de capital quanto bens de consumo. Bens de consumo são finalizados quando eles
estão prontos para venda, quer para um consumidor ou para um capitalista que tem como
objetivo estocá-los para especulação. Bens de capital são finalizados quando eles estão
prontos para o uso dos consumidores como capital-consumo ou para uso dos produtores
como capital-útil. A linha divisória é no mínimo tão clara e precisa quanto as tão usadas
linhas presentes na construção de modelos econômicos. A outra alternativa, de considerar,
de certa maneira, todos os bens de capital como bens inacabados, parece ser inconveniente
e incompatível com uma análise que se esforça para manter, sempre que possível, a
realidade dos fatos presentes nos cálculos dos negócios. Eu deverei dizer, então, por
período de produção o tempo que decorre entre a decisão de empregar trabalho junto com
67
equipamento de capital para produção de bens e o término dessa produção no sentido
exposto acima.
Uma firma empresarial tem, então, dois grupos de decisões a tomar, a primeira
quando ela decide alugar equipamento de capital, e a segunda quando ela decide contratar
mão de obra para trabalhar no equipamento de capital e produzir bens. A primeira se refere
ao período de vida útil do capital, e depende das expectativas das firmas quanto ao dinheiro
que será gasto na compra do mesmo e o retorno das vendas dos produtos junto com seus
custos variáveis (os custos na incursão do trabalho do equipamento de capital excluído seu
aluguel) nos sucessivos períodos de produção durante a vida útil do equipamento de capital.
Depois da primeira decisão ter sido tomada, o segundo grupo de decisões será o tempo
necessário no decorrer do período de produção durante o período da vida útil do
equipamento, cada um destes abrangendo um período mais curto, ou seja, um período de
produção; e esta será a finalidade de uma firma, depois de tomada a decisão que determinou
o montante de capital, fornecer durante cada período de produção o montante de emprego
com a qual se espera maximizar o excedente das vendas dos produtos sobre seus custos
variáveis incorrido durante esse período.
A firma está visando durante todo o processo a soma de dinheiro. Não nenhum
objetivo no mundo exceto acabar com mais dinheiro do que o utilizado no começo disto.
Esta é a característica fundamental de uma economia empresarial.
Agora cada firma empresarial está concorrendo contra as outras para fazer bons
negócios com os capitalistas e os trabalhadores e para antecipar de maneira correta a
intensidade da demanda para diferentes classes de bens acabados. A teoria clássica da firma
individual se interessa pelas análises de seu comportamento sob essas influências. No que
diz respeito a administrar ou fazer dinheiro algumas firmas terão mais sucesso do que
outras e conseguirão lucros acima ou abaixo dos aluguéis e dos custos variáveis que elas
incorreram; enquanto que outras terão prejuízos. O primeiro terá uma tendência a expandir
seu equipamento de capital, o último a contrair. Isto significa que haverá uma tendência de
sobreviver o mais eficiente.
68
Porém, existe outro elemento nesta situação, um elemento peculiar a uma economia
empresarial, que afeta todas as firmas como um todo, e não é por causa do esforço
competitivo entre as firmas. As firmas incorrem em certos custos de produção, parte
aluguéis aos capitalistas e parte custos variáveis como salários. Contra isso, eles recebem
em troca as vendas dos bens de suas produções. As firmas competem para atrair para elas
próprias a maior parcela possível dos gastos correntes. Mas, não somente a questão de
como este gasto será dividido entre diferentes produtos e até onde esta divisão
corresponderá aos custos de produção incorridos pelas firmas. Existe também a questão de
como sua agregação, dos gastos, se compara com os custos agregados.
Se durante um período o gasto agregado é aproximadamente igual aos custos que
eles incorreram na produção que foi finalizada nesse período, as firmas terão feito no
agregado nem ganhos nem perdas, as perdas das firmas individuais serão exatamente
balanceadas pelos ganhos de outras firmas. Então, assumindo que as firmas são similares
nas suas responsabilidades para uma dada expectativa de ganho ou perda (uma
simplificação que será removida depois), não haverá tendência, exceto a diferença de tempo
na mudança de uma tarefa para outra, para mudar o emprego agregado. Quando uma firma
está reduzindo emprego por causa de suas precárias possibilidades, algumas outras firmas
estarão aumentando emprego num montante igual, dada suas boas possibilidades devido a
seu sucesso em atrair para si próprias o gasto que a primeira firma falhou em atrair.
Porém, se os gastos agregados variam de uma maneira diferente dos custos
agregados, então o reduzido incentivo ao emprego em uma direção não será exatamente
balanceado por um acréscimo no incentivo a empregar em outra direção. Se os gastos
agregados aumentarem relativamente aos custos agregados, haverá, no balanço, um maior
incentivo ao emprego do que antes; e se o gasto agregado diminuir relativo aos custos
agregados, haverá uma queda no incentivo ao emprego. Então, flutuações no emprego irão
primeiramente depender das flutuações nos gastos agregados relativo aos custos agregados.
Esta é a principal característica de uma economia empresarial que difere de uma economia
cooperativa. Isto significa que o emprego agregado pode flutuar por razões completamente
independentes de uma mudança na relação entre a utilidade marginal de uma quantidade de
produto e a desutilidade marginal do emprego requerida para produzir aquela quantidade.
69
Se, entretanto, algum mecanismo é introduzido numa economia empresarial de
modo a assegurar (1) que gastos agregados e custos agregados sempre mudarão seus
montantes de maneira igual e (2) que esses riscos que ocasionam a manutenção do emprego
abaixo do pleno emprego são cancelados, então uma economia empresarial se comportará
do mesmo modo que uma economia cooperativa, e irá, dessa forma, satisfazer as condições
estabelecidas anteriormente para uma economia neutra. A segunda condição acima é
necessária por causa do efeito que a primeira condição causa por si mesma, como veremos
subseqüentemente, para estabilizar um estado de equilíbrio neutro de modo que o sistema
esteja em equilíbrio para qualquer nível de emprego. Portanto, um passo será requerido
para garantir que o atual nível será um de pleno emprego como seria numa economia
cooperativa, uma situação onde a utilidade marginal da quantidade de produto produzido é
igual a desutilidade marginal do esforço necessário para produzi-lo. Na minha obra Treatise
on Money
2
a igualdade entre poupança e investimento, como está definido, era uma
condição equivalente ao equilíbrio entre os gastos agregados com os custos agregados, mas
eu errei ao apontar que isto por si mesmo só acontece em um equilíbrio neutro e não para,
como alguém pode chamar, equilíbrio ótimo.
II
Se as condições para uma economia neutra não são satisfeitas, quais as formas de
surgir a desigualdade entre custos e gastos? Para responder esta pergunta os próximos
capítulos serão necessários. Mas com o objetivo de dar ao leitor as linhas gerais do método
presente, eu farei um esforço para explicar a resposta rapidamente em termos gerais.
Permita-nos supor que numa unidade corrente de tempo as firmas aumentam seus
capitais de giro, o custo dos bens inacabados em suas posses, que será X
1
, e receberão X
2
pelas vendas dos produtos produzidos que lhes custaram X
3,
o que significa que seus custos
correntes de produção são X
3
+ X
1
. A questão é, o que pode causar desigualdade entre X
2
e
X
3
. Num modelo construído como este, é fácil ver que tal desigualdade pode ocorrer em
2
Obra publicada em 1930.
70
um ou no outro de duas maneiras; e se o leitor entendê-las, achará fácil, eu acho, aplicar a
mesma linha de raciocínio para outros mais modelos complicados:
(1) o primeiro caso de desigualdade entre X
2
e X
3
é uma mudança no
montante de capital de giro. Se o capital de giro está mudando, se X
1
não
é zero, a renda corrente do público, ou seja, X
3
+ X
1
, é diferente do custo
corrente da oferta de bens acabados, ou X
3
. Portanto, se o público está
gastando exatamente suas rendas correntes ou em bens de consumo ou
em bens de capital acabados, no momento em que o capital de giro está
mudando, haverá necessariamente uma desigualdade entre X
2
e X
3
. De
fato, na hipótese de que o público está gastando exatamente suas rendas
correntes ou no consumo de bens de consumo ou em bens de capital
acabados, no momento em que o capital de giro está mudando, haverá
necessariamente desigualdade entre X
2
e X
3
, e nesta hipótese uma
mudança no capital de giro é a única causa possível de tal desigualdade.
(2) Se, entretanto, não está gastando exatamente suas rendas dessas duas
maneiras, o que eles podem fazer com a diferença? Comprando bens de
capital ou prometerem ou quaisquer outras coisas de outros membros do
público, o que podemos chamar swaps, não nos servem como
explicação. Isto simplesmente coloca o problema num estágio do
individuo que comprou para o indivíduo que vendeu. No agregado não
somente três coisas que o público pode fazer com suas rendas. Eles
podem usa-las para comprar os bens acabados do produto corrente das
firmas (X
1
); eles podem entesourar parte de suas rendas em dinheiro (H);
eles podem emprestar o dinheiro para as firmas ou para financiar um
acréscimo ao capital de giro mencionado ou para cobrir suas perdas (L).
Esta é a hipótese de que não um terceiro corpo próximo as firmas e
aos indivíduos. Se introduzirmos uma terceira classe sob a forma de
bancos, uma quarta coisa que o público pode fazer com suas rendas, -
Eles podem compram um ativo do banco ou pagar uma dívida com um
71
banco. Deixe o montante líquido das compras de ativos pelo público dos
bancos e os pagamentos aos bancos serem M
1
.
(3) Juntando (1) e (2) tem-se:
X
3 +
X
1 =
X
2
+ H + L – M
1
,
Então X
3
e X
2
são desiguais, se
H + L e X
1
+ M
1
forem desiguais;
Em outras palavras, se a soma do entesouramento do público e os
empréstimos para as firmas diferirem da soma de qualquer acréscimo nos ativos
e promessas adquiridas pelos bancos do público e no capital de giro das firmas.
A igualdade é satisfeita, por exemplo, para pegar um simples caso, se as
duas condições são satisfeitas, (1) que qualquer aumento no entesouramento
feito pelo público é balanceado pelo aumento nas compras de ativos e promessas
pelos bancos, e (2) que os empréstimos do público para as firmas são
exatamente iguais ao acréscimo no capital de giro das firmas; aquelas condições,
ou seja, que o público nunca entesoura suas rendas e nunca empresta para as
firmas financiarem as perdas recentes, são, é claro, nem sempre cumpridas na
prática. É óbvio, entretanto, que a igualdade entre H + L e X
1
+ M
1
, ou
alternativamente entre H M
1
e X
1
L, é uma idéia muito mais complicada do
que aquela de entesourar como normalmente entendido. Nem pode a idéia de
entesourar ser afastada de H + L M
1
X
1
, exceto pela extensão superficial de
um resultado equivocado, em vez de uma útil utilização das palavras. As
variações nos gastos relativamente aos custos não serão reveladas nos balanços
dos bancos ou nas estatísticas monetárias, já que estas não são capazes de
assinalar as transações particulares que nos interessam neste contexto; então, as
conclusões não podem ser expressas em termos de entesouramento ou
velocidade de circulação do dinheiro.
72
O leitor verá que se pode facilmente adaptar as condições acima para qualquer
modelo tão complicado quanto se queira faze-lo e mais próximo das condições atuais, e que
em todos os casos a essência do modelo permanece a mesma. Em particular, a condição de
que as firmas por si próprias possuem seu capital de giro, mas não seus capitais fixos, não é
essencial ao argumento; nem é o preciso grau de integração ou não integração suposto
acima das funções de produção. A essência da condição exposta acima é absolutamente de
aplicação geral. Mas quando o problema é tratado de uma forma mais geral, sua relação
com as idéias mais familiares não é facilmente entendida. Minhas simplificações feitas
acima são no sentido de facilitar, não ao professor, mas a exposição.
É interessante considerar quais tipos de meios poderiam ser adotados numa
economia empresarial numa condição neutra. Os Ortodoxos caem em quatro caminhos
principais, onde os primeiros três são praticáveis e o quarto, talvez, utópico.
(1) Gastos com empréstimos feitos pelo governo, no âmbito da conta
corrente ou de capital, pode ser admitida como um fator de equilíbrio,
sendo aumentado quando os gastos privados estiverem caindo
relativamente aos custos e diminuindo quando os gastos privados
estiverem aumentando, tornando se necessário negativo, ou seja,
empréstimos anteriores sendo reembolsados.
(2) Os gastos podem ser estimulados ou desestimulados por mudanças nas
taxas de juros, pois, como veremos, uma taxa mais baixa de juros é
calculada para estimular gastos tanto em consumo como investimento.
(3) As rendas devem ser redistribuídas de forma que caiam,
progressivamente ou regressivamente, nas mãos dos indivíduos mais
propensos a gastarem.
(4) Provisões devem ser feitas para prevenir, de um lado, os meios
disponíveis para gastos, dos excedentes custos variáveis de produção
corrente, e, de outro lado, para provocar rendimentos não gastos que
caducarão e perderão valor nas mãos do possuidor.
73
Porém, se nós concebermos um sistema onde nenhuma medida pode ser tomada
para sincronizar as vendas do produto agregado em determinada data com o custo agregado
do produto antes dessa data, a quantidade de dinheiro recebida pelas firmas como um todo
pode tanto exceder quanto ficar aquém dos seus custos de produção. Na medida em que
prevêem ou antecipam tal situação, suas disposições a empregar os fatores de produção
serão afetadas – num grau que dependerá das suas condições de oferta no curto prazo, como
será mostrado. Esta possibilidade introduz uma nova causa que afeta o volume de emprego,
onde a teoria clássica o tem conhecimento; e a situação é caracterizada pelos seguintes
traços.
(1) As firmas, como um todo, não podem se proteger de perdas pelo fato de
produzirem mais disto ou menos daquilo, que é destinado quando a
demanda efetiva esta mudando na direção mas não em montante. Isto
pode, então, reduzir o emprego agregado para uma maior vantagem
deles.
(2) As firmas, como um todo, não podem se proteger de perdas por fazerem
correções na barganha por dinheiro com os fatores de produção. Este é o
ponto que a teoria clássica encontra mais dificuldade em explicar. Ela
supõe que, se os fatores de produção são aptos a aceitarem uma
suficiente queda no salário monetário, isto será refletido em menores
salários reais e irá, então, servir para corrigir o balanço em favor das
firmas empresariais. Mas, ao argumentarem isso, eles esquecem que são
estas remunerações pagas aos fatores de produção que constituem a
demanda pela produção do produto. Contanto que suas despesas não
retornem para as firmas como um todo, não barganha por dinheiro
concebível entre firmas e seus fatores de produção que iprotege-los,
tomado como um todo, de perdas. Além disso, um produtor individual
não está interessado no menor nível de salário real. Ele, na sua
capacidade de negociar, nem mesmo quer perguntar o que é isso. Ele está
somente envolvido com o prospectivo preço de venda de seu próprio
produto em relação aos seus custos variáveis.
74
(3) O processo do cálculo que decidirá o volume de emprego é como se
segue:
- Cada firma calcula o prospectivo preço de venda de seu produto e seus
custos variáveis com respeito ao produto nas várias escalas de produção.
Seus custos variáveis por unidade não são, como regra, constantes para
todos os volumes de produto, mas aumentam quando aumenta o produto.
O produto é então levado ao ponto onde o prospectivo preço de venda
não mais exceda o custo marginal variável. Neste caso, o volume de
emprego, e portanto o volume de emprego, é determinado.
- O volume agregado de emprego é determinado de modo similar, desde
que nos seja permitido aos fatos que as decisões de cada firma são
influenciadas pelos resultados esperados das decisões das outras firmas,
desse modo um grupo de equações simultâneas tem que ser satisfeito.
- Se o gasto agregado é mantido constante relativamente ao custo variável
agregado, o emprego agregado será também constante, exceto na medida
em que os gastos são modificados pelas firmas tendo um tipo de função
de oferta para as firmas sujeitas a mais ou menos condições elásticas de
oferta; de qualquer forma se deve, até se introduzir uma outra condição,
permitir a possibilidade do volume de emprego agregado estar em
equilíbrio neutro.
- Se o salário monetário aumenta, isto não causará prejuízo aos ‘não
recebedores’ (empresários e capitalistas rentistas tomados juntos) de
salários no agregado, desde que o gasto agregado aumente igualmente,
ou seja, se as condições de neutralidade permanecerem boas. Se o custo
monetário, e então o preço, do produto marginal for, entretanto,
aumentado, como resultado haverá uma redistribuição no poder de
compra favorável ao capitalista e desfavorável aos rentistas. Salários
reais serão afetados se esta redistribuição no poder de compra entre
‘não recebedores’ de salários levarem a uma redistribuição de seu
75
consumo, como, por exemplo, entre bens de salários (commodities onde
salários são predominantemente gastos) e bens não salários. Se num
sistema neutro for descoberto uma tendência ao aumento no salário real,
isto necessariamente indicará ou que ocorreu um aumento na eficiência
das industrias produtoras de bens salários ou que estas industrias estão se
tornando menos lucrativas, pois haveria um desvio da demanda, em tal
caso, salários reais cairão de novo depois de ter ocorrido tempo para
aumentar equipamentos nas industrias de bens não salários que se
tornaram, por hipótese, mais rentável. O nível normal de salários reais
será determinado por outras forças do sistema. Até um estado de pleno
emprego ser alcançado, os salários reais são um resultado, e não eles
mesmos uma das forças determinantes. Alterações nos salários
monetários em geral não irão afeta-los. Só quando pleno emprego, ou
seja, quando não mais mão de obra disponível, exceto num salário
mais digno em termos de bens salários do que salários corrente, poderá
fazer a programação da oferta de trabalho em termos de bens salários se
tornar um fator importante. Quando há pleno emprego, é verdade que o
volume de emprego mudará em resposta a mudanças na programação
da oferta e da eficiência real do trabalho, a menos que isto seja por
razões da diferença do tempo de resposta a uma mudança no caráter da
demanda e, em particular, devido a um desvio de demanda para as firmas
tendo diferentes formatos de funções de oferta. Mas, quando as
condições para o pleno emprego não são preenchidas e o desemprego
(no estrito senso) entra em cena, o volume de emprego não mais depende
desses fatores.
Num sistema empresarial, que é livre de neutralidade, pode-se muito bem descobrir
empiricamente uma correlação entre emprego e salários reais. Mas isto irá ocorrer, não
porque um causa o outro, mas porque os dois são conseqüências da mesma causa. Nós
poderíamos supor, por exemplo, um aumento no investimento, coeteris paribus, aumentará
o emprego; e um aumento no investimento, coeteris paribus, diminuirá os salários reais. Se
os outros fatores são assumidos como imutáveis, é possível alterar o emprego pela alteração
76
nos salários reais, não pelo fato de que se salários reais foram alterados, emprego poderia
não mudar também, mas pelo fato de, desde que outros fatores estejam constantes, é
impossível mudar salários reais. Se, por exemplo, a classe trabalhadora for persuadida a
colocar uma parte maior de sua renda como poupança em um banco, salários reais iriam
aumentar e emprego iria diminuir; mas seria ilusório atribuir ao aumento nos salários reais
a causa do desemprego – ambos seriam conseqüências do aumento na propensão a poupar.
Ou de novo, se os empregadores escolhem consumir mais bens de salários ou
empregar mais mão de obra na produção de bens não salários, para tal atitude poderia se
esperar uma redução nos salários reais; enquanto que se eles consumirem menos bens
salários ou empregar menos mão de obra na produção de bens não salários, isto
aumentará os salários reais. E estes resultados seguirão absolutamente sem qualquer relação
com uma barganha de salários monetários que poderia ter sido feita entre empregadores e
empregados.
A teoria clássica faz as seguintes suposições fundamentais, (1) que o valor de uma
unidade marginal de produto é igual ao custo variável d produzi-lo (valor e custos sendo
mensurados na mesma unidade), e (2) que a utilidade marginal do produto é igual a
desutilidade marginal do esforço.
A primeira destas suposições é (sujeita as qualificações usuais não essencialmente
relevantes ao presente contexto) de validade geral e é o ponto inicial do que eu devo
chamar de Teoria Geral do Emprego, do mesmo modo que é na teoria clássica. Se nós
substituirmos ‘valor esperado’ e ‘custo variável esperado’ por valor e custo, e isto é
verdade no curto prazo, em posições de desequilíbrio como é no longo prazo e em
equilíbrio. Mas a segunda suposição não é geralmente lida não necessariamente, como
veremos subseqüentemente, mesmo num estado de equilíbrio. Numa economia cooperativa,
ou numa economia empresarial neutra isto será verdade. Mas, numa economia empresarial,
mesmo numa que satisfaça a primeira das duas condições de neutralidade citada acima, mas
não a segunda, isto não será verdade. Então, a teoria clássica é, em efeito, apropriada ou a
uma economia cooperativa ou a uma neutra.
Que a segunda suposição não é sempre cumprida na realidade ficará óbvio para o
leitor quando ele refletir que isto é virtualmente equivalente a uma condição de pleno
emprego. Um estado de pleno emprego, eu penso, pode somente ser definido como uma
77
situação na qual a utilidade marginal do produto é maior do que a desutilidade marginal do
esforço, ou seja, uma falha de organização que impede um homem de produzir alguma
coisa, o equivalente ao que ele avaliaria maior do que o esforço que a produção custa a ele.
Dessa forma, na medida que a teoria clássica depende da segunda suposição acima, é, no
geral, descartada desde o início a possibilidade de desemprego crônico como diferente de
desemprego temporário, friccional. Não é de surpreender, então, que isto se provaria um
forte instrumento com o qual se constrói a teoria do desemprego crônico. A existência de
desemprego crônico é, por si própria, uma prova de que a teoria clássica é
insuficientemente geral nos seus postulados.
78
ANEXO II
- A Monetary theory of Production (Der Stand und die Nächste Zukunft
Konjunkturforschung: Festschrift für Arthur Spiethof (1933)
Na minha opinião o principal motivo pelo qual as crises não são resolvidas, ou em
qualquer medida pelo qual esta teoria é tão insatisfatória, deve ser encontrada na ausência
do que pode ser chamado de economia monetária de produção.
A distinção que é normalmente feita entre uma economia de trocas e uma economia
monetária depende de colocar o dinheiro como um meio de efetuar as trocas como um
instrumento de grande conveniência, mas transitório e neutro em suas conseqüências. Ele é
suposto como uma mera ligação entre tecido e trigo, ou entre dias de trabalho gasto na
construção de uma canoa e dias de trabalho gasto na colheita da safra. Não é suposto o
dinheiro afetar a essência natural da transação de ser, na mente daqueles que fazem isso,
um entre coisas reais, ou modificar os motivos e decisões entre as partes. Dinheiro, isto é, é
empregado, mas é tratado como sendo de alguma forma neutro.
Essa, entretanto, não é a distinção que eu tenho em mente quando eu digo que nós
somos desprovidos de uma teoria monetária de produção. Uma economia, que utilize
dinheiro mas utilize-o meramente como um elo neutro entre transações com coisas reais e
ativos reais e não permite que ele afete motivos e decisões, pode ser chamada de na falta
de um nome melhor uma economia de trocas reais. A teoria que eu desejo trataria, em
oposição a esta, com uma economia onde o dinheiro desempenha um papel à parte e afeta
motivos e decisões e é, em resumo, um dos fatores importantes na situação, portanto, o
curso dos eventos não pode ser adivinhado, nem no longo prazo nem no curto, sem um
conhecimento do comportamento entre a primeira situação e a última. E é isto que devemos
pretender quando falamos uma economia monetária.
A maioria dos tratados sobre os princípios econômicos são relacionados
principalmente, quando não totalmente, com uma economia de trocas reais; e o que é
mais peculiar a mesma coisa é amplamente verdadeira na maioria dos tratados sobre a
teoria do dinheiro. Em particular, nos Princípios de Economia de Marshall é abertamente
79
relacionado com uma economia de trocas reais; e assim, eu penso, é a maior parte dos
tratados do Professor Pigou para nomear aqueles trabalhos ingleses que eu fui educado e
com o qual eu sou mais familiar. Mas a mesma coisa também é verdade nos tratados
sistemáticos dominantes em outras línguas e países.
Marshall explicitamente declara (Principles, pp.61, 62) que ele está de acordo com
relativa troca de valores. A proposição de que os preços de uma tonelada de chumbo e uma
tonelada de estanho são £15 e £90 significa para ele nesse contexto nada mais do que
aquele valor de uma tonelada de estanho em termos de chumbo ser de seis toneladas (junto
com um número de outras proposições similares). ‘Nós podemos durante todo este
volume’, ele explica, ‘rejeitar possíveis mudanças no poder de compra do dinheiro. Então o
preço de qualquer coisa será tomado como representativo dos seus valores de troca
relativamente a coisas em geral’. Ele cita Cournot de maneira que ‘temos o mesmo tipo de
comodidade ao assumir a existência de um padrão de poder de compra uniforme que mede
o valor, que quando os astrônomos fazem ao assumirem que uma “média solar” que
cruza os meridianos em intervalos uniformes, então esse relógio pode manter o ritmo de
acordo com isso; considerando que o sol verdadeiro cruza o meridiano às vezes antes e às
vezes depois do meio dia conforme demonstrado pelo relógio’. Em resumo, embora
dinheiro esteja presente e é feito para ser usado como uma comodidade, ele pode ser
considerado neutro em seus efeitos na maioria das conclusões gerais dos Principles.
Ou se nós nos voltarmos aos escritos do Professor Pigou, as suposições de uma
economia de trocas reais aparece mais caracteristicamente na sua abordagem de seu caso
normal onde a forma do cronograma da oferta de trabalho em termos de salários reais é
virtualmente independente das mudanças no valor do dinheiro.
A divergência entre uma economia de trocas reais e minha desejada economia
monetária é, entretanto, mais evidente e talvez mais importante quando nós entramos no
debate da taxa de juro e na relação entre o volume de produto e o montante dos gastos.
Todo mundo concordaria, é claro, que é em uma economia monetária no meu
sentido de expressão que vivemos atualmente. Professor Pigou sabe tão bem quanto
qualquer pessoa que salários de fato são rígidos em termos monetários. Marshall estava
80
perfeitamente ciente que a existência de débitos dão um alto grau de importância prática a
mudanças no valor do dinheiro. Todavia é minha convicção que o longo alcance e em
alguns aspectos diferenças fundamentais entre as conclusões de uma economia monetária e
aquelas simplificadas economias de trocas reais tem sido altamente subestimada pelos
expoentes da economia tradicional; com o resultado que a máquina de pensamento com a
qual economia de trocas reais equipou as mentes dos profissionais mundo afora, e também
os próprios economistas, levou a pratica de políticas e conclusões equivocadas. A idéia de
que é comparativamente fácil adaptar as conclusões hipotéticas de uma economia de trocas
reais ao mundo real de uma economia monetária é um engano. É extraordinariamente difícil
fazer a adaptação, e talvez impossível sem a ajuda de uma desenvolvida teoria econômica
monetária.
Uma das causas centrais da confusão reside no fato de que os pressupostos de uma
economia de trocas reais foram tácitos, e você iprocurar tratados sobre economia de
trocas reais em vão por qualquer confirmação evidente das simplificações introduzidas ou
pela relação com suas conclusões hipotéticas dos fatos do mundo real. Nós não estamos
dizendo quais condições têm que ser preenchidas se dinheiro é neutro. Nem é fácil suprir o
espaço. Agora as condições necessárias para a ‘neutralidade’ do dinheiro, no sentido que é
suposto em de novo levando esse livro como um primeiro exemplo Marshall’s
Principle of Economics, são, eu suspeito, precisamente a mesma que aquelas que vão
assegurar que crises não ocorrem. Se isso é verdade, a economia de trocas reais, na qual a
maioria de nós foi ensinada e com as conclusões nas quais nossas mentes estão
profundamente impregnadas, embora uma preciosa abstração em si mesma e perfeitamente
válida como uma concepção intelectual, é singularmente um rude armamento para lidar
com o problema de depressões e auges. Por ela própria ter se afastado da própria questão
sob investigação.
Mesmo se o que foi dito acima for em alguns aspectos um exagero, isso contém, eu
acredito, a pista de nossas dificuldades. Isso não é a mesma coisa como dizer que o
problema de auges e depressões é um problema puramente monetário. Por essa afirmação
ser geralmente significativa para implicar que uma solução completa é encontrada em
políticas bancárias. Eu estou dizendo que auges e depressões são um fenômeno peculiar
81
para uma economia na qual em algum sentido significante que eu não estou tentando
definir precisamente neste lugar – dinheiro não é neutro.
Portanto eu acredito que a próxima tarefa será trabalhar com alguns detalhes uma
teoria monetária de produção, como suplemento a teorias que nós possuímos. Em todo
caso esta é a tarefa na qual eu estou me ocupando agora, com alguma segurança de que eu
não estou perdendo meu tempo.
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