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De acordo com Paulani (1991), um dos fatores que atrapalhou Keynes e fez com
que ele definisse o dinheiro enquanto ativo na Teoria Geral foi o fato dele ter utilizado uma
concepção implícita de ciência que complicou seu objetivo de criticar a teoria clássica por
esta não representar a realidade.
No caso do dinheiro enquanto ativo, como exposto por ele na Teoria Geral, sua
peculiaridade está no fato de possuir um prêmio de liquidez (l) maior que o custo de
armazenagem do mesmo (-c), e, também, no fato do dinheiro possuir elasticidade produção
e substituição igual a zero (KEYNES, 2002).
Paulani (1991) resume essa mudança de pensamento na Teoria Geral de Keynes, da
seguinte maneira:
“Assim, ao invés de mostrar o papel preponderante do dinheiro a
partir de sua percepção sobre economia monetária, - nela, a produção de
riqueza real se dá em função da necessidade de valorização, como um fim
em si mesma – tal como sua visão parecia indicar, inverte Keynes o trajeto
e tenta, na Teoria Geral, definir essa economia a partir da existência nela
de um ativo com determinadas características. Se, nos rascunhos, Keynes
põe a finalidade da produção de riqueza real no lugar correto e percebe,
com isso, a importância do dinheiro e a insuficiência da teoria ortodoxa, na
Teoria Geral, essa especificidade do capitalismo (e o que é a economia
monetária de Keynes senão o capitalismo?) quase desaparece, porque aí a
finalidade da produção de riqueza real não mais está colocada no ponto de
partida: a existência do dinheiro enquanto tal é que toma seu
lugar”(PAULANI, 1991, p.94).
e mais:
“Se Keynes tivesse mantido a finalidade como primeira na
discussão, teria então concluído que, se a economia é monetária, sua
motivação é a valorização do valor e que, nesses marcos, o arbítrio quanto
à acumulação de riqueza e quanto à forma de sua alocação estão na
dependência do padrão desse valor que se quer sempre aumentar. Se a
finalidade da economia é a produção de valores de uso, então não há
sequer valor a ser medido, visto que não há que valoriza-lo. Nesse caso, o
dinheiro, quando existe, é mero meio de troca e, ainda que, para poder
funcionar como tal, ele tenha de ser o padrão de medida, ele é, na verdade,
completamente neutro como padrão. Na economia cooperativa ou na
economia empresarial neutra de Keynes, o que importa é a produção e a
distribuição de bens, e tais elementos, ou são acertados a priori (primeiro
caso), ou a economia é dotada de mecanismos que excluem qualquer
incerteza quanto a esses objetivos (segundo caso). Assim, uma vez que esses
fatores são dados do problema, o dinheiro (a moeda, no caso) é só o meio
que torna viável essa produção e distribuição. E aí o padrão pode se alterar
o quanto queira, que nada se modificará, tudo se ajustará – ou seja, todos
os preços e rendimentos monetários – de modo que se mantenham as