Download PDF
ads:
i
COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ
A MODELAGEM HIDRODINÂMICA COMO AUXÍLIO À NAVEGAÇÃO NO
CANAL NORTE DO ESTUÁRIO DO AMAZONAS
Maria Fernanda Rezende Arentz
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Oceânica, COPPE, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Oceânica.
Orientadora: Susana Beatriz Vinzon
Rio de Janeiro
Abril de 2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ii
A MODELAGEM HIDRODINÂMICA COMO AUXÍLIO À NAVEGAÇÃO NO
CANAL NORTE DO ESTUÁRIO DO AMAZONAS
Maria Fernanda Rezende Arentz
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO
LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA
(COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE
DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE
EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA OCEÂNICA.
Aprovada por:
_____________________________________________
Prof
a
Susana Beatriz Vinzon, D. Sc.
_____________________________________________
Prof. Paulo Cesar Colonna Rosman, Ph. D.
_____________________________________________
Dr. Reinaldo Antonio Ferreira de Lima, D. Sc.
_____________________________________________
Dr. Antonio Fernando Garcez Faria, Ph. D.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
ABRIL DE 2009
ads:
iii
Arentz, Maria Fernanda Rezende
A Modelagem Hidrodinâmica como Auxílio à
Navegação no Canal Norte do Estuário do Amazonas/
Maria Fernanda Rezende Arentz. – Rio de Janeiro:
UFRJ/COPPE, 2009.
XVI, 166 p.: il.; 29,7 cm.
Orientadora: Susana Beatriz Vinzon
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Oceânica, 2009.
Referencias Bibliográficas: p. 133-139.
1. Modelagem Hidrodinâmica. 2. Maré. 3. Estuário do
Rio Amazonas. I. Vinzon, Susana Beatriz. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE,
Programa de Engenharia Oceânica. III. Título.
iv
“Deus ao mar o abismo e o perigo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.” (Fernando Pessoa)
v
AGRADECIMENTOS
À Marinha, representada pela DHN e pelo CHM, pela oportunidade de realizar o
mestrado, pela disponibilidade de recursos, dados e informações em todos os
momentos.
À FINEP por ter financiado o projeto “Modelagem hidrodinâmica e monitoramento
do nível do mar na Barra Norte do Rio Amazonas – Correção de sondagens para
construção da Carta Náutica” do qual faz parte esta dissertação.
À professora Susana pela sua orientação e dedicação. Obrigada por me motivar a
buscar cada vez mais conhecimento e embasamento para este trabalho, fornecendo
preciosas sugestões nas horas certas.
Ao Comandante Marcelo, meu orientador do CHM, por toda a confiança depositada
desde que ingressei na DHN. Obrigada por ter acompanhando a minha trajetória como
um exemplo a ser seguido.
Ao Comandante Augusto coordenador do projeto “Modelagem hidrodinâmica e
monitoramento do nível do mar na Barra Norte do Rio Amazonas – Correção de
sondagens para construção da Carta Náutica” por todo apoio e confiança.
Ao Almirante Ferreira de Lima, Comandante Garcez e Professor Rosman, por terem
aceitado integrar a banca, contribuindo para melhorar este trabalho. Especialmente, à
professora Josefa pela disponibilidade e compreensão.
Foi uma grata satisfação integrar a equipe do LDSC. Agradeço a todos os amigos do
laboratório, em particular à Luana, Marcos, Rodrigo, Carla, Gabriela, Débora, Iran e
Leonardo pela colaboração em todas as etapas do curso e do desenvolvimento desta
dissertação e pelo respeito, profissionalismo e cordialidade com que fui tratada. A
amizade de vocês será guardada para sempre.
À tripulação do NHi Sirius e em especial aos Comandante Costa Neves, que
contribuiu para a idealização do projeto Barra Norte, e ao Comandante Leandro, que
prosseguiu com as atividades do navio com o mesmo empenho.
Aos Comandantes Norberto e Torres, que à frente do CHM-30 prestaram inestimável
apoio durante e após o curso.
A toda a equipe do DHN-20, pelo auxílio e a orientação durante o mestrado,
especialmente ao Comandante Alenquer.
Ao SSN-4 pelo apoio com as estações maregráficas.
Ao SHOM, na pessoa do Comandante Yves Guillam, pela oportunidade de estágio em
um centro de excelência em hidrografia, e a Dra. Lucia Pineau-Guillou pela
receptividade e por todas as informações prestadas e material técnico cedido.
vi
A todos os professores do PENO, pelos ensinamentos passados e aos funcionários
pela atenção dispensada.
Aos que me fizeram aprender a gostar das marés e me levaram de alguma forma a
escolher o tema desta pesquisa: Almirante Franco, Suboficial Cardoso, Professor
Geraldo e Venceslau (Robusto).
À Divisão de Levantamentos e aos hidrógrafos e não-hidrógrafos que por ela
passaram e que me inspiram a tentar entender a Barra Norte, em especial o
Comandante Briones e o Comandante Magno.
Aos velhos e novos companheiros da Seção de Marés (e agregados): Neide, Priscila,
Borba, Caúla, Comandante Mauricio e todos os militares e civis que também
registraram o nome naquela régua de marés e ajudaram a construir esse legado. Em
particular à minha chefe, Comandante Rosuita, que me encorajou a apostar nesta
capacitação profissional e acreditou na proposta deste trabalho.
Ao Alberto, pelo atendimento primoroso hoje e sempre, fornecendo os dados do
BNDO com presteza e eficiência.
Ao Comandante Ramos, futuro parceiro nos desdobramentos deste trabalho, pelo
espírito de coleguismo, pelo auxílio com os dados do FES2004 e pelas aulas de
geodésia.
À Flavia e à Comandante Ana Angélica, pelo ótimo trabalho com o Geosoft que tanto
valorizou a apresentação dos resultados finais.
Aos colegas da Área da Costeira pelo excelente convívio nestes últimos anos e pela
amizade que permanecerá. Agradeço principalmente à Sonia, por todos estes anos de
amizade e trocas de experiência na oceanografia e nas coisas da vida.
À Marise, por tudo que ela é e representa para nós alunos da Costeira. Obrigada
especialmente pelo carinho naqueles momentos mais complicados.
À minha família, especialmente aos meus pais. Nenhuma palavra pode expressar a
gratidão e orgulho que sinto por vocês.
À Carolina minha querida filha, que cresceu junto com este trabalho e foi minha
maior fonte de inspiração e alegria: muito obrigada!
Ao Carlos companheiro querido de todos os momentos, pelo seu otimismo e
serenidade, amor e paciência que nunca me deixarão esmorecer perante os desafios da
vida. Dedico esta dissertação a você e à nossa filhinha.
vii
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
A MODELAGEM HIDRODINÂMICA COMO AUXÍLIO À NAVEGAÇÃO NO
CANAL NORTE DO ESTUÁRIO DO AMAZONAS
Maria Fernanda Rezende Arentz
Abril/2009
Orientadora: Susana Beatriz Vinzon
Programa: Engenharia Oceânica
O Canal Norte do estuário do rio Amazonas, nas proximidades da Barra Norte,
se configura como uma área crítica para a navegação, em virtude da elevada taxa de
migração de bancos arenosos aliada a um regime de macro-maré. O objetivo
principal deste trabalho é aplicar a modelagem hidrodinâmica como ferramenta para a
determinação de níveis de redução da carta náutica e para a redução de sondagens em
levantamentos hidrográficos, contribuindo para melhorar as condições de
navegabilidade e segurança da região. Experimentos numéricos realizados com o
modelo hidrodinâmico 2DH reproduziram cenários de um ano e consideraram como
principais forçantes a vazão fluvial e a maré astronômica. As séries temporais de
elevações simuladas foram confrontadas aos dados maregráficos observados e
analisadas pelo método harmônico, gerando como resultado mapas de variação de
níveis de redução e LAT. Os resultados do modelo foram utilizados, com um bom
nível de confiança (incertezas de 5%), na correção de maré de um conjunto recente de
dados batimétricos. A sensibilidade do modelo às variações na batimetria foi
igualmente avaliada a fim de permitir a validação do método. A metodologia se
mostrou particularmente útil para a correção de dados batimétricos e para a previsão
de níveis d’água. No entanto, para a adoção do método é fundamental que,
concomitantemente aos levantamentos hidrográficos, sejam coletados dados de maré
nas áreas mais estratégicas.
viii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
THE USE OF HYDRODYNAMIC MODELING IN NAVIGATION AIDS ALONG
THE NORTHERN CHANNEL OF THE AMAZON ESTUARY
Maria Fernanda Rezende Arentz
April/2009
Advisor: Susana Beatriz Vinzon
Department: Ocean Engineering
The Northern Channel of the Amazon Estuary is considered a critical area for
navigation due to sandy banks high rate of migration and macrotides occurrence. The
main purpose of this work is to apply hydrodynamic modeling for determining
nautical chart datum and reducting sounding data in order to improve the navigability
and safety in that area. The hydrodynamic 2DH model was forced by astronomical
tide and river flow in order to generate one year of simulations. The forecasted water
level time series has been compared to tide-gauge observations and further analyzed
with the harmonic method producing nautical chart datum maps. Modeling results
have been used to implement reliable tidal corrections in a set of recent bathymetric
data. Uncertainties of 5% were found in the overall results. Model sensitivity related
to variations in the bathymetry has also been assessed to support the validation of the
method. This methodology was considered particularly useful for bathymetric data
correction and for water level predictions. However, even using the presented tool it is
essential to collect water level data in strategic places during the hydrographic survey.
ix
SUMÁRIO
Capítulo 1.........................................................................................................................1
1. Introdução ...................................................................................................................1
1.2. A navegação na Barra Norte do rio Amazonas..................................................2
1.3. Motivação técnico-científica..............................................................................4
1.4. Objetivo Geral....................................................................................................9
1.5. Objetivos Específicos.........................................................................................9
1.6. Estruturação da dissertação..............................................................................10
Capítulo 2.......................................................................................................................12
2. Revisão Metodológica ...............................................................................................12
2.1. Introdução ........................................................................................................12
2.2. Os datums verticais de maré segurança para a navegação: NR e LAT ...........18
2.3. A redução de sondagens...................................................................................24
2.4. A previsão de marés.........................................................................................28
Capítulo 3.......................................................................................................................32
3. Caracterização da área de estudo............................................................................32
Capítulo 4.......................................................................................................................40
4. A modelagem hidrodinâmica...................................................................................40
4.1. Malha de Elementos Finitos.............................................................................42
4.2. Cenários de Modelagem ..................................................................................43
4.3. Condições de contorno, batimetria e rugosidade considerados nas
simulações...............................................................................................................44
4.3.1. Batimetria..................................................................................................45
4.3.2. Rugosidade de fundo.................................................................................48
4.3.3. Condições de Contorno Fluvial: vazão dos rios afluentes........................50
4.3.4. Condições de Contorno Oceânica: a maré astronômica ...........................52
Capítulo 5.......................................................................................................................57
5. Ajuste do Modelo e análises de sensibilidade à batimetria ...................................57
5.1. Dados e informações consideradas para o ajuste do modelo...........................57
x
5.2. A qualificação das séries simuladas.................................................................61
5.3. Resultados das Simulações ..............................................................................63
5.4. Teste de sensibilidade do modelo à batimetria ................................................79
5.5. Resultados do teste de sensibilidade à batimetria............................................81
Capítulo 6.......................................................................................................................88
6. Análise e discussão dos resultados...........................................................................88
6.1. O cálculo do Nível de Redução e do Lowest Astronomical Tide (LAT) .........88
6.2. Mapas de distribuição espacial do NR e LAT .................................................89
6.3. Procedimentos adotados para a redução de sondagens..................................101
6.4. Considerações sobre a interpolação linear.....................................................110
6.5. Redução das sondagens: resultados obtidos ..................................................112
6.6. Previsão dos níveis.........................................................................................124
Capítulo 7.....................................................................................................................128
7. Conclusões e Recomendações.................................................................................128
Capítulo 8.....................................................................................................................133
8. Referências Bibliográficas......................................................................................133
APÊNDICES ...............................................................................................................140
Apêndice A (Formulações matemáticas dos modelos adotados) ............................140
Apêndice B (Constantes Harmônicas e Fichas de Descrição de Estação
Maregráfica)................................................................................................................147
Apêndice C (Projeto BATHYELLI (SHOM, França).............................................163
Apêndice D (Rotinas de Matlab) ...............................................................................165
xi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Linhas batimétricas de 10m indicando a posição dos bancos e sua
evolução temporal de (a) 1983 a 1986, (b) 1986 a 1990, (c) 1990 a 1998, e (d)
1998 a 2001 (OLIVEIRA e VINZON, 2004). .........................................................3
Figura 2 – Esquema de redução de sondagens (modificação de desenho cedido pelo
CHM) ...................................................................................................................15
Figura 3 – Gráfico com os valores de IVT máximos permitidos por categoria de LH
(IHO, 2008)..........................................................................................................18
Figura 4 – Mapa da área de estudo com isolinhas de batimetria. O retângulo
vermelho indica a região de interesse para este trabalho (Barra Norte). No
detalhe, o polígono de cor laranja reproduz a área de redução de sondagens
adotada pela DHN e os círculos de cor azul representam os pontos de fundeio
realizados pelo NHi Sirius nos anos de 2006 e 2007. .........................................33
Figura 5 – Carta náutica número 200 editada pela DHN, apresentando a região de
interesse. ..............................................................................................................34
Figura 6 – Mapa de assimetria da maré (FERNANDES, 2006): região em azul
representando assimetria positiva (tempo de enchente menor do que 6 horas) e,
em vermelho, assimetria negativa (tempo de enchente maior do que 6 horas)...36
Figura 7– Malha de discretização em elementos finitos quadrangulares do domínio
de modelagem do estuário do rio Amazonas, em coordenadas métricas............43
Figura 8 – Destaque para a carta náutica número 200 (DHN) e o diagrama contendo
o mosaico de levantamentos realizados em escalas espaciais distintas e em
diferentes períodos...............................................................................................45
Figura 9 – Domínio de modelagem do estuário do rio Amazonas em coordenadas
métricas, mostrando isolinhas de profundidade (batimetrias referidas ao nível
médio do mar, NMM)...........................................................................................48
Figura 10 – Rugosidade equivalente de fundo adotada no domínio de modelagem
segundo GALLO (2004).......................................................................................49
Figura 11– Hidrogramas de vazões diárias para os rios Amazonas, Tapajós, Xingu e
Tocantins..............................................................................................................51
Figura 12 – Hidrogramas de vazões diárias para o rio Amazonas nos anos de 2006 e
2007......................................................................................................................51
Figura 13 – Esquema ilustrativo das vazões nodais adotadas para o rio Amazonas. 52
Figura 14 – Amplitudes de M
2
para o estuário do rio Amazonas (FES2004).............54
Figura 15 – Fases de M
2
para o estuário do rio Amazonas (FES2004). ....................54
Figura 16 – Exemplo de séries temporais impostas como condição de contorno
oceânica. ..............................................................................................................56
Figura 17 – Mapa de localização das estações maregráficas e dos pontos de fundeio
do NHi Sirius........................................................................................................59
xii
Figura 18 – Foto da Estação Maregráfica Escola do Igarapé Grande do Curuá
(Barra Norte). ......................................................................................................60
Figura 19 – Fotos da estação maregráfica Ponta do Céu I em dois ângulos diferentes.
..............................................................................................................................61
Figura 20 – Gráfico apresentando a comparação entre os resultados do modelo e as
observações para o período compreendido entre 11/05 a 13/05 de 2006. A
interpolação temporal das séries foi feita com a função Cubic Spline. ..............64
Figura 21 – Correlação cruzada entre o resultado do modelo e a série observada na
estação Barra Norte, indicando que o modelo está adiantado 44 minutos em
relação aos dados. ...............................................................................................65
Figura 22 – Defasagens entre a série temporal de nível resultante da segunda
simulação para o ano de 2006, a previsão harmônica e os dados coletados para
a estação Barra Norte..........................................................................................67
Figura 23 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o
ecobatímetro e séries de níveis modelados nos pontos 1 e 2...............................68
Figura 24 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o
ecobatímetro e séries de níveis modelados nos pontos 3 e 4...............................69
Figura 25 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o
ecobatímetro e séries de níveis modelados nos pontos 5 e 6...............................70
Figura 26 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante a sondagem de 2006 e flutuações locais do nível médio........................71
Figura 27– Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante a sondagem após ter sido filtrada a oscilação de baixa-frequência......72
Figura 28 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante 36 dias de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do
modelo). ...............................................................................................................72
Figura 29 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante 8 dias de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do
modelo). ...............................................................................................................73
Figura 30 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante 24 horas de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do
modelo). ...............................................................................................................73
Figura 31– Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante 8 dias comparados ao resultados do modelo e à previsão harmônica
(nível de referência: zero do modelo) em 2006. ..................................................74
Figura 32 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante 24 horas, comparados ao resultado do modelo e à previsão harmônica
(nível de referência: zero do modelo) em 2006. ..................................................74
Figura 33 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante a sondagem de 2007 e flutuações locais do nível médio........................75
Figura 34 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante 36 dias de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do
modelo). ...............................................................................................................75
xiii
Figura 35 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante 8 dias de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do
modelo). ...............................................................................................................76
Figura 36 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte)
durante 24 horas de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do
modelo). ...............................................................................................................76
Figura 37 – Dados observados na Ponta do Céu I (proximidade da Barra Norte)
resultados do modelo de 2007 e previsão harmônica (nível de referência: zero
do modelo). ..........................................................................................................77
Figura 38 – Dados observados na Ponta do Céu I (proximidade da Barra Norte)
resultados do modelo de 2007 e previsão harmônica para oito dias (nível de
referência: zero do modelo).................................................................................77
Figura 39 – Gráfico com as vazões diárias em Óbidos durante parte de 2006,
destacando os períodos considerados para o teste de sensibilidade do modelo à
batimetria.............................................................................................................80
Figura 40 – Nós da malha de discretização onde a batimetria foi alterada para o
teste de sensibilidade (os nós estão contidos no polígono vermelho). ................81
Figura 41 – Resultados do teste de sensibilidade para um dia na cheia do regime
fluvial do Amazonas.............................................................................................83
Figura 42 – Resultados do teste de sensibilidade para um dia na seca do regime
fluvial do Amazonas.............................................................................................83
Figura 43 – Comparação dos resultados do teste de sensibilidade com os dados
observados em duas escalas temporais distintas.................................................84
Figura 44 – Resultados dos testes de sensibilidade nos pontos de fundeio 1, 2 e 3....86
Figura 45 – Resultados dos testes de sensibilidade nos pontos de fundeio 3, 4 e 5....87
Figura 46- Fluxograma de processamento para o cálculo dos data verticais............88
Figura 47 – Distribuição espacial do NR em relação ao NM local, ao longo do
polígono de redução de sondagens (assinalado em vermelho). Valores em
centímetros. O trecho onde foi realizado LH de 2006 está destacado em amarelo.
..............................................................................................................................91
Figura 48– Distribuição espacial do LAT em relação ao NM local, ao longo do
polígono de redução de sondagens (assinalado em vermelho). Valores em
centímetros. O trecho onde foi realizado LH de 2006 está destacado em amarelo.
..............................................................................................................................91
Figura 49 – Distribuição espacial das diferenças entre NR e LAT. Em azul está a
região onde o plano do LAT está situado abaixo do NR, em amarelo estão as
áreas em que ocorre o inverso e em branco onde ambos os planos de referência
são coincidentes...................................................................................................92
Figura 50 – Mapa da área de interesse destacando os pontos de fundeios analisados
em vermelho, a estação Barra Norte e os nós onde ocorreram as maiores
discrepâncias em verde........................................................................................93
Figura 51 – Séries modeladas para o nó 4026, onde a presença da Msf se faz sentir e
o NR passa a ser um critério mais restritivo e menos realista do que o LAT. ....95
xiv
Figura 52 – Distribuição espacial da componente harmônica Msf. ...........................96
Figura 53 - Séries modeladas para o nó 4010, onde a presença da relação de fase
2gM
2
-gM
4
(no caso= 180° ) se faz presente. O LAT passa a ser um critério mais
restritivo e mais realista do que o NR. ................................................................97
Figura 54 – Mapa de assimetria indicando em azul a assimetria positiva, em
vermelho a assimetria negativa e os pontos onde a curva de maré assume a
configuração de duplas baixa-mares ou duplas-preamares................................99
Figura 55 - Duas escalas temporais distintas apresentando a complexidade da
propagação de maré na área de estudo e três casos de determinação de data
verticais LAT e NR.............................................................................................100
Figura 56- Mapa da região, com destaque para a área do Canal Norte, apresentando
as estações maregráficas em vermelho, pontos de fundeio em azul, polígono de
redução em laranja e a área levantada pelo NHi Sirius em 2006 em amarelo.102
Figura 57 - Mapa da região destacando em azul os 12 elementos da malha
correspondentes à área sondada pelo NHi Sirius em 2006. Para a redução
foram utilizadas as séries de elevação produzidas por 20 nós..........................103
Figura 58 – Esquema mostrando diversas possibilidades de ditribuições espaciais do
LAT e NR. Setas verticais representam os valores da série temporal utilizados na
correção das sondagens para cada um dos data...............................................104
Figura 59 – Variação espacial do NM na área de interesse.....................................105
Figura 60 – Esquema representativo do caso 1: NM da estação de referência, Z
0(NR)
da estação de referência. ...................................................................................106
Figura 61 – Esquema representativo Caso 2: NM da estação de referência, Z
0(NR)
local....................................................................................................................106
Figura 62 – Esquema representativo Caso 3: NM da estação de referência, Z
0(LAT)
local....................................................................................................................107
Figura 63 – Esquema representativo Caso 4: NM da estação de referência com
variação horária, Z
0(NR)
local. ...........................................................................107
Figura 64 – Esquema representativo Caso 5: NM com variação espacial, Z
0(NR)
local.
............................................................................................................................108
Figura 65 - Esquema representativo Caso 6: NM com variação espacial e temporal,
Z
0(NR)
local..........................................................................................................108
Figura 66 – Modelo de arquivo de pontos contendo as coordenadas X e Y e os
instantes T de coleta dos dados batimétricos. O tempo está representado em
formato numérico com quatro casas decimais. .................................................109
Figura 67- Esquema da interpolação espacial para o ponto de fundeio 6. ..............110
Figura 68– Valores de diferenças nas elevações encontradas para o Fundeio 6 em
função do método de obtenção da série temporal para um período de um ano.
............................................................................................................................111
Figura 69 – Valores de diferenças nas elevações encontradas para o Fundeio 6 em
função do método de obtenção da série temporal. ............................................111
xv
Figura 70 – Profundidades reduzidas pelo NHi Sirius (método do Zoneamento
Discreto de Maré, NM uniforme e NR variado). ...............................................113
Figura 71 - Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método
empregado (utilizando o NR da estação de referência como datum vertical). A
linha verde envolve o trecho sondado. ..............................................................115
Figura 72 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método
empregado (utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente). A
linha verde envolve o trecho sondado. ..............................................................116
Figura 73 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método
empregado (utilizando o LAT como datum vertical, variado espacialmente). A
linha verde envolve o trecho sondado. ..............................................................117
Figura 74 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método
empregado (utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM
uniforme e variável). A linha verde envolve o trecho sondado. ........................118
Figura 75 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método
empregado (utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM
variado). A linha verde envolve o trecho sondado. ...........................................119
Figura 76 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método
empregado (utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM
variado e variável). A linha verde envolve o trecho sondado. ..........................120
Figura 77 – Mapa das diferenças com a sobreposição dos limites das subáreas de
redução. .............................................................................................................121
Figura 78 – Diferenças na profundidade reduzida pela modelagem hidrodinâmica
entre os casos 1 e 2, NR uniforme (est. de referência) em contraposição ao NR
variado. A linha verde envolve o trecho sondado..............................................122
Figura 79 – Mapa de batimetrias reduzidas realizadas no LH de 2006 (zoneamento
discreto). ............................................................................................................123
Figura 80 – Mapa de batimetrias reduzidas realizadas com a modelagem numérica
(caso 4)...............................................................................................................124
Figura 81 – Extrato da carta náutica 200 contendo nota sobre a “Estação H”. ....125
Figura 82 – Mapa de localização das estações e do Ponto H..................................126
Figura 83 – Valores interpolados para o Ponto H (exemplo de 1 dia)....................126
Figura 84 – Gráfico apresentando as previsões realizadas para o PONTO H com o
modelo hidrodinâmico e com o método harmônico (a partir das constantes
geradas com o modelo), além dos valores de preamares e baixa-mares
calculados conforme instrução da carta náutica...............................................127
Figura 85– Sistema de coordenadas do sistema de modelagem 2DH. No caso 2DH, U
i
representa a velocidade promediada na vertical. As coordenadas e velocidades
horizontais são representadas como (x, y) = (x
1
, x
2
) e (u, v) = (u
1
, u
2
) utilizando
o índice i = 1,2 (ROSMAN, 2008). ....................................................................141
Figura 86 - Comparação entre um levantamento clássico e um levantamento com
GPS cinemático: sem necessidade de correção de maré e efeitos meteorológicos
(cedida pelo SHOM). .........................................................................................164
xvi
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1– Fórmulas para o cálculo da IVT máxima permitida em LH, segundo a
classificação do levantamento (IHO, 2008). .......................................................17
Tabela 2 – Fórmulas para o Cálculo do NR segundo os critérios de Courtier (1938) e
Balay (1952).........................................................................................................20
Tabela 3 – Estações consideradas para o ajuste do modelo.......................................58
Tabela 4 – Resultados alcançados com a segunda rodada de 2006 em comparação
com os níveis observados e previstos para as estações do domínio. Destaque
para os valores assinalados em vermelho e azul correspondentes à área de
interesse. Nas colunas “prevmod” foi feita a comparação entre a previsão
harmônica e o modelo e nas colunas “obsmod” houve a comparação entre a
observação e o modelo.........................................................................................66
Tabela 5 – Cenários com as simulações realizadas para o teste de sensibilidade do
modelo à batimetria. ............................................................................................79
Tabela 6 – Resultados alcançados com o teste de sensibilidade. Diferenças entre os
cenários simulados e o modelo original de 2006 no período de cheia. ..............81
Tabela 7 – Resultados alcançados com o teste de sensibilidade. Diferenças entre os
cenários simulados e o modelo original de 2006 no período de seca.................82
Tabela 8 – Resultados obtidos para o Z
0
LAT e NR. ...................................................90
Tabela 9 – Diferenças nas profundidades reduzidas em função do método de redução
(zoneamento discreto-Sirius x modelagem hidrodinâmica- casos 1 ao 6). .......114
Tabela 10 – Resultados da comparação entre a aplicação do datum vertical variado e
o datum vertical uniforme utilizando a mesma metodologia.............................122
Tabela 11 – Valores para a rugosidade equivalente de fundo (ε), segundo o tipo de
sedimento. ..........................................................................................................146
1
Capítulo 1
1. Introdução
Os rios da bacia Amazônica sempre desempenharam um importante papel histórico na
integração e no desenvolvimento regional, possibilitando o acesso a áreas inóspitas e
desabitadas e compondo praticamente a única via de transporte para a população
ribeirinha. A bacia Amazônica cobre uma área de 6.879.761 Km
2
com 50.000 km de
rios navegáveis, dos quais 10.000 km atendem navios com mais de 1.000 toneladas.
Somente o rio Amazonas possui 5.085 km de navegação contínua durante todo o ano
e o trecho de 1.500km de via navegável que vai de Manaus à foz, corresponde a 50%
do tráfego aquaviário de toda a bacia. A existência de grandes cidades como Belém e
Manaus e outros núcleos populacionais de pequeno e médio porte ao longo do rio
geram uma demanda relativamente alta por bens e serviços estimulando sobremaneira
a navegação fluvial (DOMINGUES, 2004).
O modelo de desenvolvimento das décadas de 60-70, caracterizado por políticas
públicas de incentivo à ocupação da região norte do Brasil, foi substituído no início
deste século por um modelo que pressupõe um grande aporte de capital privado para
atender o mercado global, nas áreas de mineração, agropecuária e exploração
madeireira. De fato, as exportações da Amazônia aumentaram consideravelmente nos
últimos anos. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC), no ano de 2006 foram exportados aproximadamente 15
bilhões de dólares por essa região, algo em torno de 11% do total nacional, sendo o
Pará o estado com maior participação no valor exportado (45%). Os produtos
exportados foram predominantemente metais e minerais (40%), derivados vegetais
(principalmente grãos), respondendo por 19%, e em terceiro lugar derivados de
madeira, com 8% de participação nas exportações (CELENTANO e VERÍSSIMO,
2007). A principal via de escoamento para toda esta produção é a malha hidroviária
do rio Amazonas. Segundo informações da Agência Nacional de Transportes
Aquaviários, no Brasil, cerca de 90% do comércio com o mundo exterior passa
atualmente pelos portos (ANTAQ, 2006; ANTAQ, 2007).
2
Da mesma forma, o transporte de petróleo e derivados visando o abastecimento dos
grandes centros urbanos da região norte do país é realizado através das vias
navegáveis da região amazônica. Essa atividade representa o risco potencial de
contaminação do meio ambiente por óleo. Os impactos ambientais decorrentes desse
tipo de poluição assumem proporções distintas, podendo ser causados tanto por
grandes acidentes de navegação envolvendo encalhes de petroleiros, quanto por
freqüentes derrames operacionais de menor magnitude. O assunto motivou a
idealização do projeto PIATAM, um dos maiores programas científicos da atualidade
com foco na Amazônia, cujo objetivo é monitorar as atividades de produção e
transporte de petróleo e gás natural naquela região prevenindo possíveis prejuízos ao
meio ambiente (CUNHA et al., 2004).
Em face ao exposto, é consenso na sociedade que a manutenção do transporte
aquaviário na região Amazônica em condições seguras e operacionais assuma uma
importância cada vez mais estratégica. Conseqüentemente, nos últimos três anos
foram alocados recursos orçamentários do fundo setorial CT-Transporte Aquaviário e
de Construção Naval da ordem de dois milhões de dólares para o desenvolvimento
científico e tecnológico do setor aquaviário na região. Os fundos setoriais fazem parte
da atual política do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que visa induzir o
aumento dos investimentos privados em ciência e tecnologia e impulsionar o
desenvolvimento tecnológico dos setores considerados, além de incentivar a geração
de conhecimentos e inovações que contribuam para a solução dos grandes problemas,
consolidando parcerias entre universidades, centros de pesquisa e o setor produtivo
(MCT, 2008).
1.2. A navegação na Barra Norte do rio Amazonas
A região da Barra Norte, também conhecida como Canal Grande do Curuá, situada na
foz do Amazonas, consiste em uma área particularmente sensível para navegação
devido à existência de bancos arenosos. FERNANDES (comunicação pessoal, 2008)
descreveu essas feições sedimentares como ridges típicas de estuários de macro-maré
com desembocadura larga, conforme esquema classificatório de DYER e HUNTLEY
(1999). Esses bancos alongados e alinhados com o escoamento situam-se entre canais
3
de enchente e vazante e apresentam um padrão de migração cíclico. A análise de
dados batimétricos do período de 1983 a 2001 efetuada por OLIVEIRA e VINZON
(2004) revelou que os bancos da foz do Amazonas apresentaram uma taxa de
migração da ordem de até 250m por ano. A Figura 1 apresenta a evolução temporal da
posição dos bancos a partir das linhas isobatimétricas de 10m.
620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000 655000
90000
95000
100000
105000
110000
115000
120000
125000
130000
620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000 655000
90000
95000
100000
105000
110000
115000
120000
125000
130000
620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000 655000
90000
95000
100000
105000
110000
115000
120000
125000
620000 625000 630000 635000 640000 645000 650000 655000
90000
95000
100000
105000
110000
115000
120000
125000
130000
Figura 1 – Linhas batimétricas de 10m indicando a posição dos bancos e sua evolução temporal
de (a) 1983 a 1986, (b) 1986 a 1990, (c) 1990 a 1998, e (d) 1998 a 2001 (OLIVEIRA e VINZON,
2004).
A ocorrência de bancos no canal de acesso se traduz em variabilidade nas
profundidades cartografadas e na posição da calha navegável que, somados ao intenso
tráfego de embarcações, tornam essa área de especial interesse para verificações
sistemáticas da batimetria. Atualmente a demanda pelo canal da Barra Norte está
limitada ao calado máximo de 11,5 metros (CPAOR, 2006). Segundo dados da
Companhia Docas de Santana, 890 navios mercantes passaram pelo canal da Barra
Norte com destino ao porto de Santana no ano de 2005. Em 2006, navegaram pela
ÁREA DO CANAL DE
NAVEGAÇÃO
(
1992
)
1983
1985
1986
Sentido de
migração
dos bancos
19901986
1988
ÁREA DO CANAL DE
NAVEGAÇÃO
(
1992
)
Sentido de
migração
dos bancos
2000
1998
2001
ÁREA DO CANAL DE
NAVEGAÇÃO (1992)
1999
Sentido de
migração
dos bancos
1990
1998
1997
ÁREA DO CANAL DE
NAVEGAÇÃO
(
1992
)
Sentido de
migração
dos bancos
4
região 831 mercantes. Em 2007, de acordo com informações prestadas pela Capitania
dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR), 795 navios atravessaram o canal, tendo
sido registrados 20 incidentes naquela região. Ainda segundo a CPAOR, no ano
anterior, dentre os Inquéritos de Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) instaurados,
quatro casos corresponderam a encalhes de navios mercantes.
Uma forma de aprimorar a navegação na Barra Norte do Amazonas é disponibilizar
aos navegantes, por meio da carta náutica, informações hidrográficas periodicamente
atualizadas. Isso requer um planejamento sistemático para a coleta de dados
batimétricos e a operacionalização de uma metodologia para tratamento desses dados.
Ambas as tarefas cabem à Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN). É importante
frisar que estabelecer precisamente as profundidades em um canal de navegação com
as características hidrográficas observadas na Barra Norte, manifesta-se como uma
solução de compromisso entre garantir segurança à navegação e, ao mesmo tempo,
viabilizar o acesso das embarcações que demandam os portos do interior do estuário.
Em suma, as profundidades precisam ser rigorosamente determinadas, evitando gerar
impactos econômicos negativos, seja em razão de um acidente de navegação, seja pela
interdição do tráfego aos mercantes de maior calado.
1.3. Motivação técnico-científica
A hidrografia, segundo a IHO (International Hydrographic Organization), pode ser
definida como o ramo das ciências aplicadas que trata das medições e descrições dos
mares e áreas costeiras para a navegação (como objetivo principal) e para todas as
demais atividades relacionadas ao mar, como pesquisa científica, proteção ao meio
ambiente, serviços de previsão, entre outros (IHO, 2005). Em termos práticos, as
medições são realizadas por ocasião de Levantamentos Hidrográficos (LH) no qual
são coletados dados topográficos, geodésicos, oceanográficos, meterológicos,
batimétricos, hidrológicos, geomorfológicos, aerofotogramétricos e de sensoriamento
remoto. Por seu turno, a base de dados gerada a partir dos LH permite a produção de
uma série de informações que, em última instância, são divulgadas por meio das
cartas náuticas e demais documentos (almanaques, tábuas, avisos, boletins, etc.). A
hidrografia compartilha com a navegação a mesma singularidade, na qual
5
metodologias tradicionais já consagradas convivem harmoniosamente com sistemas
de aquisição de última geração. A DHN é o órgão da Marinha do Brasil responsável
por dar prosseguimento, de forma consolidada, à atividade hidrográfica no Brasil.
O caráter multidisciplinar e a importância da qual se reveste a hidrografia no atual
cenário de globalização e preocupação iminente com as questões ambientais,
conferem a esta ciência considerável repercussão, evidenciando o mérito da existência
de uma organização com a competência para emitir diretrizes e orientações em âmbito
mundial. As resoluções divulgadas pela IHO para a comunidade hidrográfica
internacional permitem que se estabeleça um fórum para diversos temas, entre os
quais o escolhido para a elaboração deste trabalho, que se encontra comprometido em
seus propósitos com a questão da segurança da navegação e procura se pautar nas
recomendações daquela Organização.
Sob o ponto de vista metodológico, a escolha do tema deste trabalho foi motivada por
uma série de aspectos como, por exemplo: a questão do nível de referência vertical ao
qual estão relacionadas as profundidades cartografadas, a aplicação de modelos
numéricos para a hidrografia, entre outros.
Um dos aspectos técnicos que suscitou o interesse pelo assunto diz respeito aos planos
de referência genericamente denominados pela IHO como Chart Datum (CD). Na
maioria das vezes, os níveis de referência para as sondagens batimétricas aplicam-se a
pontos específicos na costa onde estão instaladas as estações maregráficas. Esses
planos são definidos em função da maré astronômica local, correspondendo a um
nível teórico tão baixo que somente excepcionalmente seja ultrapassado pelas baixa-
mares mais baixas. Os métodos de cálculo utilizados na determinação desses data
1
de
maré (tidal datums) variam amplamente na literatura hidrográfica, assim como suas
denominações. Porém, independente da técnica escolhida, esses níveis devem
obrigatoriamente ser referenciados a um ponto fixo materializado no terreno,
geralmente denominado referência de nível (RN), que por sua vez deverá estar
relacionado a um sistema de referência geocêntrico (e.g.. WGS-84, International
Terrestrial Reference Frame- ITRF), assim como à rede geodésica nacional. No
1 Nesta dissertação, data será empregado como o plural de datum. Nos textos em inglês
,
adota-se datums como plural de datum,
conforme pode ser consultado em NOS (2000).
6
Brasil, a DHN adota a terminologia Nível de Redução (NR) para o datum de maré que
representa o nível de referência tanto para as profundidades da carta náutica quanto
para as previsões de maré divulgadas pelas Tábuas das Marés. Nesse mister, a DHN
recomenda que o NR, após determinado, seja referenciado à Rede Altimétrica de Alta
Precisão (RAAP) do Sistema Geodésico Brasileiro (SGB)
2
. Normalmente, o cálculo
do NR é efetuado em conformidade com o método descrito por COURTIER (1938),
preferencialmente sobre uma série temporal de medições do nível do mar de, no
mínimo, um ano de duração em função da maré astronômica pura. É importante que o
NR seja perenizado após a sua determinação, a fim de atender ao critério de
estabilidade do datum.
Inconsistências no estabelecimento de NR podem ocorrer por vários motivos: seja em
função da qualidade e da duração da série temporal de nível do mar, da correção ou
não de efeitos meteorológicos e oceanográficos, do método de cálculo adotado, de
alteração das constantes harmônicas do local, de variações de longo termo do nível
médio do mar (SIMON, 2007). O problema se torna evidente quando há grande
incidência de baixa-mares de sizígia situadas abaixo do NR. A fim de cumprir as
deliberações mais recentes da IHO, o serviço hidrográfico brasileiro deverá
especificar nos documentos náuticos a diferença entre o datum nacional (NR) e o
datum internacional, LAT (Lowest Astronomical Tide). Recomenda-se que o LAT
corresponda ao nível mais baixo da maré calculada sobre um período mínimo de 19
anos de previsão harmônica, usando as constantes harmônicas derivadas de um
mínimo de observações de um ano (sob circunstâncias meteorológicas médias).
Como os níveis de referência para a batimetria são considerados data locais
referenciados a pontos específicos na linha de costa, a sua extrapolação para regiões
ao largo a partir da metodologia tradicional se torna uma tarefa complicada. O
conceito de data de maré, que vigora na literatura atual, preconiza a idéia de que estes
planos constituem-se em superfícies tridimensionais que variam espacialmente em
elevação (HESS, 2003). Os modelos numéricos são ferramentas que podem ser
2 A partir dos marcos geodésicos da RAAP, são medidas as altitudes de todo o Território Brasileiro para os mais variados objetivos:
obras de saneamento, irrigação, estradas,
telecomunicações, usinas hidrelétricas, mapeamentos e estudos científicos (IBGE,
2007).
A integração das
informações de
cartas topográficas e cartas náuticas é possível se as RN-DHN das estações maregráficas
brasileiras forem niveladas aos marcos da RAAP.
7
aplicadas na tentativa de representar a variabilidade espacial dessas superfícies.
Alguns métodos foram desenvolvidos para essa finalidade como, por exemplo, o
TCARI (Tidal Constituent and Residual Interpolation), desenvolvido pelo Coast
Survey Development Laboratory, que interpola espacialmente dados de um conjunto
de estações maregráficas a partir da solução numérica da Equação de Laplace (HESS,
2003). Outros métodos são baseados em modelagem hidrodinâmica, os quais
produzem séries temporais de níveis ao longo de um domínio pré-determinado, que
por sua vez permitem que se obtenha um conjunto de valores de data pontuais a
serem interpolados espacialmente (HESS, 2001; LE ROY e SIMON, 2003, LE ROY e
SIMON, 2004a; LE ROY e SIMON, 2004b, PINEAU-GUILLOU, 2005).
Os trabalhos hidrográficos atualmente conduzidos pela DHN representam a variação
espacial do NR de forma bastante simplificada, geralmente a partir dos dados de uma
estação maregráfica de referência, muitas vezes fora da área do levantamento
hidrográfico propriamente dito. Nesses trabalhos é adotada a concepção de nível de
redução de “áreas de redução de sondagem” e o critério segundo o qual não pode
haver variação superior a 10 cm entre os NR de áreas adjacentes, independente da
amplitude de maré do local. Essa particularidade do método tradicional contribui
significativamente para a incerteza da profundidade reduzida. Paralelamente, a DHN
já vem aplicando a tecnologia GPS RTK/RTG, considerada o estado-da-arte em
reduções batimétricas (RAMOS, 2007). Essa técnica, a princípio, dispensa os dados
provenientes de estações maregráficas durante a realização do levantamento
hidrográfico, porém requer o conhecimento prévio da variabilidade espacial do campo
de NR. Segundo RAMOS e KRUEGER (2006), os sistemas de posicionamento e
aquisição de dados GPS RTK/RTG apresentam resultados com precisão de ordem
subcentimétrica, incompatíveis com a acurácia observada pelas técnicas
tradicionalmente usadas no cálculo dos níveis de redução.
Para este trabalho foi escolhido o emprego da modelagem hidrodinâmica, pois a
metodologia TCARI (HESS, 2003; HESS et al., 2004) pressupõe a existência de uma
ampla rede permanente de observação do nível do mar na área de estudo, o que não é
o caso da Barra Norte do rio Amazonas. Em contrapartida, apesar da carência de
dados observados, a área de interesse se mostra particularmente útil para a
investigação da variabilidade espacial do NR, por estar inserida em um estuário de
8
intensa dinâmica, submetido tanto a um regime de macro-maré quanto à maior
descarga fluvial do mundo.
Os modelos hidrodinâmicos, além de serem utilizados com a finalidade de mapear os
níveis de referência das profundidades, também podem ser aplicados para a previsão
de níveis do mar e para a redução batimétrica propriamente dita. FERNANDES
(2006) apresentou resultados consistentes com o uso do modelo hidrodinâmico
SisBaHiA® (módulo 2DH) na Barra Norte do rio Amazonas, para a previsão de
níveis e para a redução de sondagens ao longo de três áreas de redução definidas pela
DHN. Seu estudo mostrou que o método tradicional empregado naquela região,
baseado na extrapolação de medições a partir de uma única estação marégrafica de
referência (situada fora da área do LH), não propicia informações suficientemente
acuradas para a redução de sondagens ao longo do canal de navegação. Isso se dá em
função das características da maré astronômica, do nível médio do mar e dos efeitos
não-astronômicos sofrerem variações significativas ao longo do espaço e do tempo,
que não podem ser devidamente representadas em áreas discretas contendo valores de
amplitude e fase de maré pré-fixadas.
Um outro aspecto relevante e que justifica o uso de modelagem hidrodinâmica é a
necessidade de tornar operacional o processo de redução de sondagens, otimizando o
tempo de coleta e processamento de dados batimétricos. Essa necessidade é reforçada
principalmente quando são aplicados ecobatímetros multi-feixe, os quais geram um
volume de dados substancialmente maior do que os equipamentos de feixe único. Este
trabalho pretende fornecer subsídios à DHN para a operacionalização do método,
tanto para a própria região da foz do Amazonas quanto para outras áreas críticas à
navegação.
Ao se empregar os resultados de modelos hidrodinâmicos na redução de sondagens,
ou seja, para a produção de dados batimétricos corrigidos, é necessário avaliar
previamente a sensibilidade do modelo à batimetria inserida como dado de entrada na
malha de elementos finitos. A batimetria inserida no modelo pode ser considerada, a
priori, menos precisa do que a que se deseja calcular. Sendo assim, é desejável que se
determine o quanto os níveis calculados pelo modelo são afetados por variações na
9
batimetria de entrada, assim como a ordem de grandeza da incerteza introduzida no
resultado final.
1.4. Objetivo Geral
Esta dissertação é parte do projeto “Modelagem hidrodinâmica e monitoramento do
nível do mar na Barra Norte do Rio Amazonas – Correção de sondagens para
construção da Carta Náutica” financiado com recursos do Fundo Setorial CT-
Transporte Aquaviário e de Construção Naval e foi desenvolvida graças a um
convênio entre o Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) e o Laboratório de
Dinâmica de Sedimentos Coesivos (LDSC) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
Este trabalho tem como propósito aplicar a modelagem hidrodinâmica como
ferramenta para a determinação de níveis de redução (NR) e LAT (Lowest
Astronomical Tide), redução de sondagens em levantamentos hidrográficos e para a
previsão de maré, contribuindo para melhorar as condições de navegabilidade e
segurança da navegação da Barra Norte do rio Amazonas.
1.5. Objetivos Específicos
Por fim, com o intuito de colaborar para a aplicação de uma metodologia mais
acurada para o tratamento dos dados hidrográficos da região de estudo, considerando
os aspectos supramencionados, podem ser instituídos os seguintes objetivos
específicos para este trabalho:
1) Avaliar a sensibilidade do modelo hidrodinâmico à alterações na batimetria;
2) Definir novos NR e LAT (Lowest Astronomical Tide) para a região da Barra Norte
do rio Amazonas, seguindo as atuais recomendações da International Hydrographic
Organization (IHO, 2004) e verificando a variabilidade espacial destes data;
10
3) Realizar a redução dos dados batimétricos brutos coletados pelo Levantamento
Hidrográfico nº 001/06, realizado pelo Navio Hidrográfico Sirius, a partir dos
resultados obtidos com a modelagem hidrodinâmica, de forma a estabelecer e testar
um novo procedimento metodológico;
4) Avaliar a capacidade do modelo hidrodinâmico em reproduzir a maré astronômica
como ferramenta para previsões de níveis; e
5) Validar a metodologia para futuras aplicações.
1.6. Estruturação da dissertação
A presente dissertação encontra-se organizada em oito capítulos e quatro Apêndices.
No presente capítulo, faz-se uma exposição das motivações que justificaram a escolha
do tema do trabalho nos contextos sócio-econômico e técnico-científico. Também são
apresentados os objetivos específicos e o objetivo geral da dissertação.
No Capítulo 2 é feita uma revisão da bibliografia disponível a respeito das
metodologias em vigor para o estabelecimento dos data verticais da carta náutica (NR
e LAT), redução de sondagens e previsão de maré, além de suas particularidades e
limitações. Nesse capítulo também são introduzidos alguns conceitos fundamentais
para o entendimento da metodologia e também se faz menção às principais
recomendações da IHO sobre o tema.
O Capítulo 3 apresenta uma caracterização dos aspectos físicos da área de estudo, por
meio de uma revisão da bibliografia disponível relacionada ao ambiente do estuário
do Amazonas, bacias contribuintes e plataforma continental adjacente.
Os aspectos relativos à implementação do modelo hidrodinâmico, principal
ferramenta para a geração dos resultados obtidos ao longo do desenvolvimento do
presente estudo e os cenários de simulação propostos são abordados no Capítulo 4.
O Capítulo 5 trata da calibração do modelo com base nos dados disponíveis e da
configuração dos testes de sensibilidade efetuados.
11
No Capítulo 6 são descritos os procedimentos empregados na análise e pós-
processamento dos resultados alcançados com o modelo hidrodinâmico, sendo em
seguida apresentados e discutidos os resultados finais do trabalho.
As conclusões deste estudo constam no Capítulo 7, onde são também sugeridos
alguns temas e oferecidas recomendações para futuros trabalhos. O Capítulo 8
relaciona todas as referências bibliográficas consultadas e citadas ao longo da
dissertação.
Finalmente, os Apêndices agregam ao presente documento uma série de informações
suplementares para uma leitura mais aprofundada como, por exemplo, as formulações
matemáticas que governam o modelo hidrodinâmico e algumas parametrizações. Os
Apêndices também apresentam, de forma sistematizada, fichas, tabelas e outros
documentos que não ficariam convenientemente dispostos no corpo da dissertação.
12
Capítulo 2
2. Revisão Metodológica
2.1. Introdução
No item que trata de profundidades na publicação Especificações para Levantamentos
Hidrográficos (IHO, 2008), é feita a seguinte consideração:
A navegação mercante requer um conhecimento acurado da profundidade da água sob a quilha
a fim de explorar com segurança a capacidade máxima de transporte de carga, bem como a
disponibilidade máxima da lâmina d'água para a navegação com segurança. Nos lugares onde
a folga abaixo da quilha for um fator crítico, as incertezas de profundidade precisam ser
controladas com um rigor maior e melhor conhecidas.
A profundidade a que se refere tal documento é a profundidade reduzida, ou seja,
aquela lançada na carta náutica e referida a um datum vertical que, no caso brasileiro,
corresponde ao Nível de Redução (NR). O NR é o nível de referência a partir do qual
são contadas as sondagens batimétricas representadas nas cartas náuticas e as alturas
previstas de maré divulgadas pela publicação náutica Tábuas das Marés. O NR é uma
medida relativa ao nível médio do mar local e teoricamente corresponde a um nível
tão baixo que “apenas excepcionalmente” será ultrapassado pelas baixa-mares mais
baixas. Como será visto no item 2.2, o NR é calculado a partir de um critério
puramente astronômico, considerando apenas as principais componentes harmônicas
de um dado local.
A escolha do NR nas proximidades das baixa-mares mais significativas, apesar de
arbitrária, implica em segurança à navegação, pois ao navegante é praticamente
garantido que, no mínimo, haverá a quantidade de água indicada nas cartas náuticas.
13
Nesta dissertação também será calculado o datum internacional LAT (Lowest
Astronomical Tide) correspondente ao nível mínimo da maré obtido sobre um período
mínimo de 19 anos de previsão harmônica. As constantes harmônicas empregadas no
cálculo são originárias de um período mínimo de observações de um ano (sob
circunstâncias meteorológicas médias).
O método proposto por FRANCO (1997) baseado nos trabalhos de PUGH e VASSIE
(1978 apud FRANCO, 1997), para a definição dos níveis mínimos, não pôde ser
testado nesta dissertação por insuficiência de registros observados superiores a um
ano. Esse método é baseado na estatística de níveis extremos e tem como resultado a
combinação do nível mínimo da maré astronômica (determinístico) e do mínimo do
efeito meteorológico (probabilístico) efetuada em termos de períodos de retorno e de
densidade de probabilidade. Segundo FRANCO (1997), de acordo com essa
metodologia o NR passaria a ser definido estatisticamente da seguinte forma: “O nível
de redução das sondagens será tal que, de acordo com a estatística da previsão,
efetuada com todas as componentes fornecidas pela análise e não rejeitadas pelo teste
estatístico, forneça, no máximo, X% de valores negativos”.
Durante a execução de um Levantamento Hidrográfico (LH), cada dado de batimetria
obtido por navio hidroceanográfico refere-se a um nível do mar instantâneo.
Entretanto, o nível do mar está constantemente variando durante a realização das
sondagens, em função principalmente de efeitos meteorológicos e de oscilações de
maré. Para referenciar o dado batimétrico a uma superfície estável (e.g. NR) executa-
se o que se convencionou chamar de redução de sondagens. Nesse processo, o dado
batimétrico
3
é decomposto em duas partes: uma que consiste na oscilação do nível do
mar sobre o NR, que será descartada (parte variável, vulgarmente conhecida como
“correção de maré”), e outra que será efetivamente lançada nas folhas de bordo e,
posteriormente, nas cartas náuticas, corresponde à profundidade reduzida (a
sondagem contada a partir do NR até o leito submarino), que se deseja efetivamente
conhecer.
3 Admitindo-se que o dado batimétrico já sofreu as demais correções (instrumental, de posição do transdutor, movimentos da
embarcação e de velocidade do som) conforme DHN (1998
)
.
14
Conforme a metodologia atualmente em vigor na DHN, a decomposição do dado
batimétrico somente poderá ser realizada se forem efetuadas medições das oscilações
do nível do mar simultaneamente ao momento da sondagem, em uma ou mais
estações maregráficas de referência para o levantamento batimétrico. Por sua vez, as
observações de nível do mar englobam basicamente duas componentes. A primeira é
denominada maré astronômica. Ela é determinística por guardar relação com a
resultante gravitacional do sistema Sol-Terra-Lua, podendo ser decomposta ou
reproduzida a partir, respectivamente, da análise ou do somatório de diversos
constituintes harmônicos, através dos métodos de análise e previsão harmônica
(FRANCO, 1997). A segunda componente, denominada resíduo, não possui caráter
harmônico e consiste no resultado da combinação de efeitos causados por eventos
meteorológicos, variações de longo termo do nível médio do mar, influência de
descargas fluviais no caso de áreas costeiras, entre outros. Desta forma, como regra
geral, as profundidades medidas pelo ecobatímetro durante o LH devem ser reduzidas
ao datum vertical da carta com base nos dados efetivamente observados (variação real
do nível do mar) e não pela maré prevista, que corresponde ao fenômeno estritamente
astronômico.
Em certas localidades, a contribuição da maré meteorológica é significativa e, ao
desprezá-la, poder-se-ia incorrer em erros superiores à precisão requerida durante a
redução das sondagens. Durante o LH, o resíduo (e.g. maré meteorológica) é levado
em consideração na redução das sondagens a partir do momento em que as correções
batimétricas são feitas com base em dados observados (onde o resíduo está implícito).
A Figura 2 apresenta um esquema ilustrativo do NR e de outros importantes planos de
referência (inclusive o elipsóide de um sistema geodésico de referência) e o que vem a
ser a correção de maré aplicada durante o procedimento de redução de sondagens.
15
Figura 2 – Esquema de redução de sondagens (modificação de desenho cedido pelo CHM)
16
Segundo a IHO, o procedimento de redução de sondagens deverá ser sempre efetuado
quando as profundidades medidas forem inferiores a 200m ou quando a maré
contribuir significativamente para a Incerteza Total Propagada (ITP). Entende-se
como ITP a combinação de todas as incertezas individuais ocorridas durante o LH,
aleatórias ou sistemáticas. A ITP propagada combina os efeitos das incertezas de
medição de várias fontes com as incertezas produzidas por parâmetros derivados ou
calculados (IHO, 2008 ).
A incerteza vertical corresponde à parcela da ITP relacionada à incerteza das
profundidades reduzidas. As fontes de incertezas verticais individuais precisam ser
quantificadas para a determinação da incerteza vertical. Todas as incertezas devem ser
combinadas estatisticamente para que se obtenha a incerteza vertical total (IVT), isto
é, a componente da ITP calculada na dimensão vertical (IHO, 2008). As alturas de
maré observadas durante a sondagem e outras fontes de incerteza para as
profundidades reduzidas como, por exemplo, o zoneamento de maré, deverão ser
computadas de modo que sua combinação situe-se dentro dos limites máximos
estabelecidos. Tais limites variam conforme a ordem do LH. As classificações
propostas pela IHO (2008) são as seguintes:
Ordem Especial
É a mais rigorosa das ordens e seu uso é pretendido somente para aquelas áreas onde a folga
abaixo da quilha é crítica. Como a folga abaixo da quilha é crítica, é improvável que
levantamentos de Ordem Especial sejam conduzidos em águas com profundidade maior que
40 metros. Exemplos de áreas que possam exigir levantamentos de Ordem Especial são: áreas
de atracação, baías e áreas críticas de navegação em canais.
Ordem 1a
Esta ordem é destinada àquelas áreas suficientemente rasas para permitir que feições naturais
ou artificiais no leito marinho tornem-se objetos de preocupação para o tráfego marítimo de
superfície esperado a transitar na área, mas onde a folga abaixo da quilha é menos crítica que
na Ordem Especial acima. Levantamentos de Ordem 1a podem ser limitados a águas com
menos de 100 metros de profundidade.
Ordem 1b
Este tipo de ordem destina-se a áreas com profundidades menores que 100 metros, onde uma
descrição geral do leito marinho é considerada apropriada para o tipo de navegação de
superfície a transitar na área. Esta ordem de levantamento somente é recomendada onde a
folga abaixo da quilha não for relevante. Um exemplo desta situação seria uma determinada
área onde as características do leito marinho são tais que a probabilidade de haver uma feição
natural ou artificial que possa colocar em risco o tipo de embarcação de superfície esperada a
navegar na área seja baixa.
17
Ordem 2
Esta é a ordem menos estrita e destina-se àquelas áreas onde a profundidade da água é tal que
uma descrição geral do leito marinho é considera adequada. Recomenda-se que os
levantamentos de Ordem 2 limitem-se a áreas com profundidade maior que 100 metros.
A fórmula exposta na Tabela 1 deve ser utilizada para calcular, em um nível de
confiança de 95%, a IVT máxima permitida. Os parâmetros “a” e “b” para cada
ordem, juntamente com a profundidade “d”, devem ser inseridos na fórmula para
calcular a IVT máxima permitida para uma profundidade específica. A IHO (2008)
recomenda que a incerteza vertical em um nível de confiança de 95% deve ser
registrada juntamente com os dados do levantamento hidrográfico.
Tabela 1– Fórmulas para o cálculo da IVT máxima permitida em LH, segundo a classificação do
levantamento (IHO, 2008).
Fórmula Onde:
a representa a parcela da incerteza que não varia
com a profundidade
b é um coeficiente que representa aquela parcela
da incerteza que varia com a profundidade
d é a profundidade
()
2
2
dba ×+±
Ordem especial a = 0,25m b= 0,0075m
Ordem1 a = 0, 5m b= 0,013m
Ordem 2 a = 1,0m b= 0,023m
b × d representa aquela parcela da incerteza que
varia com a profundidade
Adotando a fórmula proposta, nos levantamentos de ordem especial, por exemplo, a
IVT autorizada varia de 26cm a 10m de profundidade até 45cm a 50m de
profundidade. A Figura 3 apresenta um gráfico com os valores máximos aceitos de
Incerteza Vertical Total para cada tipo de LH. No caso do acesso a Barra Norte, cuja
profundidade é de 11,5m, a IVT autorizada é de 26,4cm em LH de Ordem Especial e
de 52,2cm em LH de Ordem 1.
18
Valores de IVT máximos permitidos
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
100
105
110
115
120
125
130
135
140
145
150
155
160
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
50
profundidade (m)
incerteza (cm)
Ordem Especial Ordem 1 Ordem 2
Figura 3 – Gráfico com os valores de IVT máximos permitidos por categoria de LH (IHO, 2008)
2.2. Os data verticais de maré: NR e LAT
O NR das estações maregráficas brasileiras é definido no âmbito da DHN, com base
nos resultados das análises dos relatórios de Levantamentos Hidrográficos e dos
dados maregráficos obtidos por ocasião destes LH. Uma vez validados, os NR são
divulgados por meio das Fichas Descritivas de Estações Maregráficas (F-41).
A fim de preservar a determinação do NR, a perenidade de uma estação maregráfica e
a conseqüente continuidade das séries históricas de observação daquele local,
referências de nível (RN) são implantadas, constituindo uma rede de RN daquela
estação. Dessa rede farão parte uma RN principal ou fundamental e demais
referências secundárias. Os desníveis entre as RN são estabelecidos por nivelamentos
geométricos e constam na ficha descritiva F-41. Recomenda-se que a altitude da RN
principal da estação maregráfica seja definida em termos de um sistema de referência
geocêntrico (WGS-84, ITRF). Além disso, convém que a RN principal da estação
esteja relacionada ao menos a um marco geodésico da Rede Altimétrica de Alta
Precisão (RAAP) do Sistema Geodésico Brasileiro (SBG), sob a responsabilidade do
19
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Atualmente, o que se espera é
que, somente com o cumprimento dessas especificações, a validação do NR possa ser
efetivada.
A metodologia em vigor na DHN para o estabelecimento do NR das estações
maregráficas divide-se basicamente nas seguintes etapas:
Seleção de um “período padrão”: escolha de uma série temporal de
observação do nível do mar com duração mínima de 30 dias (o recomendável
é de que seja 1 ano) e, preferencialmente, recente;
Análise harmônica da série correspondente ao “período padrão”. As
constantes harmônicas “padrão” e o nível médio obtidos nessa análise serão
utilizados no cálculo do NR e das previsões divulgadas nas Tábuas das
Marés;
A partir das constantes harmônicas “padrão” classifica-se a maré conforme o
número de forma (Tabela 2) (COURTIER, 1938).
Dependendo da classificação pelo tipo de maré, calcula-se o somatório das
amplitudes das principais componentes harmônicas, conforme as fórmulas
dispostas na Tabela 2, segundo COURTIER (1938) e BALAY (1952). O
resultado corresponderá à amplitude máxima a partir do nível médio do mar
local (Z
0
). Isso é, o Z
0
é a cota que situa o NR sob o nível médio local (NM).
É indispensável que ambos os níveis de referência (NR e NM) sejam cotados
ao zero da régua maregráfica (origem das observações do “período padrão”) e
desta forma permaneçam amarrados à rede de Referências de Nível (RN) da
estação e com isso, estabilizados.
As fórmulas contidas na Tabela 2 mostram a importância crescente da introdução de
componentes diurnas para o cálculo do NR na medida em que a maré passa a
apresentar desigualdades diurnas, o que é observado a partir da classificação
“semidiurna com desigualdades diurnas”. O fator 2k procura relacionar as fases da
principal componente lunar semidiurna M
2
à combinação das fases das componentes
diurnas O
1
e K
1
.
20
Tabela 2 – Fórmulas para o Cálculo do NR segundo os critérios de Courtier (1938) e Balay
(1952).
Número de Forma (NF)
H(K
1
)+H(O
1
)/H(M
2
)+H(S
2
)
Classificação Altura do NR sob o NM (Z
O
)
Onde: 2k =G(M
2
) – [G(O
1
) +G(K
1
)]
0
<
NF
<
0,25
semidiurna
H(M
2
)+H(S
2
)+H(N
2
)+H(K
2
)
2K=0º H(M
2
)+H(S
2
)+H(N
2
)
2K=180º
H(M
2
)+H(S
2
)+H(N
2
)+H(K
1
)
+H(
O
1
)
0,25
<
NF
<
1,50
Semidiurna com
Desigualdades
Diurnas
<
2K
<
180º
ou
180º
<
2K
<
360º
H(
M
2
)+H(S
2
)+H(K
1
)+H(O
1
)
+H(P
1
)
1,50
<
NF
<
3,0
Mista
H(M
2
)+H(S
2
)+H(K
1
)+H(O
1
)
3,0
<
NF
Diurna
H(M
2
)+H(S
2
)+H(K
1
)+H(O
1
) +H(P
1
)
Onde: H é a amplitude e G a fase da componente harmônica.
Um aspecto importante é que no Brasil o NR está ligado, por definição, ao nível
médio do mar de uma série temporal padrão de curto período, em virtude da falta de
séries de longo período. Normalmente, em séries temporais de vários anos, as
flutuações dos níveis médios mensais são tipicamente de ordem centimétrica (SILVA,
1992). Em função disso, a prática hidrográfica brasileira requer que as séries de
observação para a determinação de NR sejam revistas periodicamente. Além disso, ao
longo do tempo podem ser também verificadas variações nos próprios valores das
amplitudes das componentes harmônicas do local, sendo a revisão e eventual
substituição do “período padrão” uma medida igualmente interessante para melhorar a
qualidade das previsões de maré oficialmente divulgadas.
Normalmente, não são verificadas descontinuidades nos limites entre cartas náuticas
correspondentes a uma mesma zona de redução de sondagens, pois os NR das
estações secundárias são estabelecidos em função do NR da estação primária. Um
exemplo disso é o método do transporte do NR entre estações (DHN, 1998). Outra
forma de se calcular o NR em estações de curto período de observação é a partir da
transferência de constantes harmônicas provenientes de uma localidade com séries
mais longas, como preconizado pela metodologia de análise espectral cruzada
21
(FRANCO, 1997). Um método tão eficiente quanto à análise espectral cruzada na
comparação de constantes harmônicas entre estações maregráficas próximas é
conhecido como “concordância por espécie”. Essa técnica foi apresentada por
SIMON (2007) e tem sido empregada de forma operacional no SHOM (Service
Hydrographique e Océanographique de la Marine), há alguns anos. No mesmo
Serviço há um método disponível para a estimativa dos chamados valores
característicos de maré
4
de uma estação secundária por meio da construção de uma
reta de regressão com os dados históricos de longo período de uma estação primária
próxima. A classificação de estações será vista em detalhe mais adiante neste item.
Porém, as componentes harmônicas de maré são ainda melhor identificadas se a
análise ocorrer sobre um período de observação de longa duração. O ideal é dispor de
uma série de 19 anos de medições, a fim de levar em conta a modulação das
constituintes lunares devido às variações de longo termo da órbita da lua, conhecida
como “regressão dos nodos lunares”. Atualmente, preconiza-se que um ano de
observação contínua é considerado como o intervalo mínimo para obter resultados
suficientemente precisos para as previsões de maré. Alguns serviços hidrográficos
internacionais têm como conduta a manutenção de estações maregráficas permanentes
para que seus data verticais históricos sejam precisamente determinados a partir de
estatística de longas séries (e.g. Mean Lower Low Water no NOS/NOAA
5
/Estados
Unidos). Em outros casos, há uma tentativa incessante de resgatar e manter os data
históricos nacionais de maré, mesmo que eles não mais correspondam precisamente à
realidade. Esse último é o caso do serviço hidrográfico francês (SHOM) no que
concerne ao datum Zéro Hydrographique (WÖPPELMANN, et al., 2006).
4
Ex: Mean Low Water Spring (MLWS), Mean Low Water Neap (MLWN), Mean High Water Spring (MHWS), Mean High Water Neap
(MHWN), etc.
Em português tais níveis são traduzidos como média das baixa-mares de sizígia e quadratura e média das preamares
de sizígia e quadratura.
5 National Ocean Service/ National Oceanic and Atmospheric Administration
22
O Tidal and Water Level Working Group (TWLWG) da IHO vem divulgando
resoluções a respeito dos data verticais de maré a serem aplicados na cartografia
náutica pelos países membros daquela organização (IHO, 2004). O datum em questão
para o escopo deste trabalho é o Lowest Astronomical Tide (LAT) e as deliberações
do grupo de trabalho são transcritas a seguir:
Resolve-se que a referência para as previsões de maré será a mesma que a referência da carta
(referência para a redução de sondagens). Além disso, resolve-se que a maré astronômica mais
baixa (LAT), ou tão próxima e equivalente a este nível quanto seja aceitável pelos Serviços
Hidrográficos, seja adotada como a referência da carta onde as marés têm um efeito apreciável
no nível de água. Alternativamente as diferenças entre LAT e data nacionais da carta podem
ser especificadas nos documentos náuticos. Se os mais baixos níveis de água em uma área
específica diferem freqüentemente do LAT, a referência da carta pode ser adaptada.
E ainda:
LAT é definido como o nível mais baixo da maré que pode ser previsto ocorrendo sob
circunstâncias meteorológicas médias e sob toda a combinação de circunstâncias
astronômicas. Recomenda-se que LAT seja calculado sobre um período mínimo de 19 anos
usando as constantes harmônicas derivadas de um mínimo de observações de um ano, ou por
outros métodos que comprovadamente forneçam resultados de confiança. Os níveis da maré
devem, se praticáveis, refletir os valores estimados do erro obtidos durante a determinação
destes níveis.
A IHO (2005) classifica as estações maregráficas em três tipos:
Estações primárias (estações de controle): são geralmente aquelas que têm
sido operadas por 19 anos ou mais e que deverão continuar operando
permanentemente no futuro. São utilizadas para obter registros contínuos do
nível do mar. Nessas estações há a efetiva materialização do NR.
Estações secundárias: são aquelas que operam por menos de 19 anos e mais de
um ano, de forma temporária. Estações secundárias possibilitam o
monitoramento em baías e estuários onde os efeitos de maré localizados não
podem ser verificados na estação de controle. As observações na estação
secundária usualmente não são suficientes para uma determinação precisa e
independente de NR, mas quando utilizadas para a redução de sondagens, após
comparação simultânea das observações com uma adequada estação de
controle, pode-se obter resultados bastante satisfatórios.
23
Estações terciárias: são aquelas que operam por mais de 1 mês e menos de 1
ano.
A IHO recomenda que o LAT em estações terciárias e secundárias seja definido em
função do LAT de uma estação de controle, a partir de comparações entre
observações simultâneas.
Além disso, recomenda que a escolha do local para a instalação de uma estação
maregráfica deva considerar os seguintes fatores:
Cobertura das variabilidades inerentes às características de maré (tipo,
amplitude, fase, nível médio diário, tendência de longo termo de nível médio);
Cobertura de áreas críticas para a navegação;
Locais históricos;
Proximidade aos marcos da rede geodésica nacional;
Disponibilidade de estruturas próprias para a instalação (caso dos portos em
geral).
No Brasil, devido à carência de séries observadas de nível do mar, atualmente são
poucas as estações cujos NR foram calculados com base em períodos superiores a um
ano. Na prática, a maioria das estações maregráficas nacionais hoje cadastradas no
Banco Nacional de Dados Oceanográficos (BNDO) é classificada como terciária, de
acordo com o critério da IHO. ROSO (2006) aponta que apenas 15% das estações
brasileiras contidas na base de dados do BNDO apresentam séries de observação
maregráfica de um ano de duração. Isso configura um dos maiores obstáculos para a
migração do NR para o LAT pela DHN.
Face ao exposto conclui-se que, ao longo do tempo, podem ter ocorrido
materializações imperfeitas do NR nas diversas estações brasileiras, o que é passível
de acontecer graças a diversos fatores, dentre os quais se destacam: a própria evolução
do nível médio do mar, a adoção de critérios técnicos ultrapassados na coleta e no
processamento dos dados maregráficos, ou mesmo mudanças locais no regime de
marés.
24
Mas, independente da qualidade do resultado obtido, habitualmente o plano do nível
de redução, uma vez definido, costumava ser mantido, salvo diante de casos
excepcionais em que a variação em relação à definição teórica o tornasse
completamente inaceitável (alta incidência de previsões de maré negativas), ou se
viesse a comprometer a segurança da navegação (valores de profundidades
cartografadas superestimadas), ou se constituísse entrave à navegação por ser um
plano de referência excessivamente restritivo.
É desejável que os NR sejam reavaliados sempre que houver a oportunidade de torná-
los mais precisos e coerentes com as orientações da IHO e, talvez um dia
definitivamente substituídos pelo datum internacional LAT. Para que isso possa
acontecer é importante que o Brasil promova suas estações maregráficas terciárias a
primárias e secundárias.
A questão da determinação dos data verticais de referência para a carta, a partir da
altimetria espacial e do GPS, foge do escopo deste trabalho. Contudo, por se tratar de
um assunto de fundamental relevância, será brevemente comentado no Apêndice C,
que descreve o que tem sido feito no âmbito do Projeto BATHYELLI desenvolvido
pelo SHOM (PINEAU-GUILLOU e DUPONT, 2007; PINEAU-GUILLOU, 2008).
Outros importantes projetos internacionais são o VORF (The Vertical Offshore
Reference Frame), idealizado para a integração de todos os data verticais e
superficies de referência adotadas no Reino Unido e Irlanda, voltado especialmente
para os data usados na cartografia náutica
(http://www.cege.ucl.ac.uk/research/geomatics/vorf
), e o Vdatum, ferramenta
computacional americana desenvolvida para transformar dados geoespaciais em uma
gama de data verticais de maré, ortométricos e elipsoidais (http://vdatum.noaa.gov/
).
2.3. A redução de sondagens
Quando o LH é realizado em uma área com grande variação das condições
hidrodinâmicas, por vezes a simples obtenção dos dados em estações maregráficas
não é suficiente para garantir a acurácia da redução de sondagens. Neste caso, os
dados coletados nas estações não refletem a realidade encontrada na região do
25
levantamento e é necessário interpolar ou extrapolar as informações contidas nas
séries temporais coletadas. Este processo é conhecido genericamente pela
denominação de zoneamento de maré. Segundo RAMOS e KRUEGER (2006) as
maiores fontes de erros presentes na profundidade reduzida são oriundas do processo
de redução de sondagens e das correções do movimento da embarcação
6
durante o
momento da sondagem. Por sua vez, a incerteza decorrente da redução de sondagens
(IVT) é fortemente influenciada pela incorreta estimativa do comportamento da maré
ao longo da área de sondagem e principalmente, pela distância da estação maregráfica
de referência.
O zoneamento discreto da maré empregado no National Ocean Service (NOS/NOAA)
dos Estados Unidos e o método das subáreas de redução aplicado na DHN são muito
similares e têm como objetivo prover as correções de maré por zonas específicas. O
número de zonas do LH depende da complexidade da maré do local e cada zona é
descrita por uma razão de amplitude, uma correção de fase e um fator de ajuste do
datum vertical. Todos esses parâmetros são definidos em relação a uma estação
maregráfica de referência. Análises de dados históricos, modelagens e outras
pesquisas permitem que se estabeleçam os parâmetros de cada zona a partir da
construção de mapas de isolinhas de fase e amplitude de maré. No pós-processamento
dos dados batimétricos brutos as correções de maré, próprias de cada zona, são
aplicadas. NOS (2008) estabelece a criação de uma nova zona a cada 0,06 m de
mudança na amplitude média da maré e a cada 0,3 horas de progressão da maré no
tempo (i.e. deslocamento em fase da onda de maré) e recomenda degraus de 6cm
entre os data verticais de cada área. Além disso, é recomendável que o método
somente seja usado em áreas onde predominem as mesmas condições de ventos, de
pressão atmosférica, de vazão fluvial, etc. Maiores detalhes sobre essa abordagem
podem ser obtidos em DE PAULA (1999), MILLS e GILL (2005), FERNANDES
(2006), RAMOS (2007) e NOS (2008).
6 Na prática esses efeitos podem estar combinados no instante da sondagem, mas são medidos de forma independente. Assim,
podem gerar uma certa complicação na fase de pós-processamento do dado batimétrico (SCARFE, 2002 apud RAMOS
e
KRUEGER, 2006)
26
A DHN, desde 1995, adota o zoneamento discreto de maré na região da Barra Norte
do estuário do rio Amazonas (DHN, 1995). Todas as informações sobre os fatores de
correção de maré utilizados e as particularidades do método para aquela região foram
calculadas por DE PAULA (1999) e são até o presente momento empregadas nos LH
daquela região. FERNANDES (2006) revisou o método proposto para o Canal da
Barra Norte utilizando resultados de modelagem hidrodinâmica e chegou a um
número de 26 subáreas de redução (de acordo com o critério proposto pelo NOS)
contra as 9 subáreas inicialmente propostas por DE PAULA (op. cit.). Além disso, a
configuração das áreas apresentou um arranjo espacial completamente diferente do
original. As principais críticas de FERNANDES (2006) ao método tradicionalmente
utilizado para aquela região em particular são as seguintes: a hipótese de que o Z
0
da
estação de referência é constante e uniforme em toda a área do LH não é válida; a
assimetria da maré não pode ser desprezada, pois afeta os fatores de correção de fase
das zonas de redução; os fatores de correção são fixados para um cenário específico
do passado e empregados em momentos atuais onde os processos físicos podem ser
completamente diferentes (em outras palavras, o método desconsidera os efeitos
inerentes à sazonalidade como, por exemplo na vazão fluvial); por fim, ao comparar
os resultados obtidos com o modelo hidrodinâmico, encontrou diferenças de, em
média, 3 metros em módulo e desvio padrão de 1,14m nas profundidades reduzidas.
Diante das limitações do método do Zoneamento Discreto da Maré e da dificuldade
de torná-lo operacional na prática hidrográfica, estão sendo implementadas novas
técnicas para o mapeamento espacial da maré, diminuindo as incertezas relacionadas à
correção das sondagens. Alguns desses métodos são o TCARI, o Masg2 e a
modelagem hidrodinâmica. As três abordagens apresentam a vantagem de gerarem
valores de correção de maré pontuais para o instante e o local exato da sondagem e de
poderem ser facilmente integradas aos sistemas de referenciamento geodésico
elipsoidais.
O TCARI (HESS, 2003; HESS et al., 2004) desenvolvido pelo NOS é um método de
simulação de níveis relativos ao datum vertical, que usa os valores observados em
estações maregráficas e os interpola espacialmente ao longo de uma dada região. Os
27
valores observados e interpolados são: a amplitude e a fase de cada constituinte de
maré; o resíduo; e o que no método é chamado offset, que tanto pode ser a diferença
entre o nível médio do mar local (MSL) e o MLLW (datum vertical das cartas dos
Estados Unidos), como também um datum vertical de maré qualquer referido ao
elipsóide. O nível de cada ponto é computado somando a maré astronômica
(interpolação das componentes harmônicas) ao resíduo e ao offset interpolados. As
interpolações espaciais no cerne dessa técnica são realizadas a partir da utilização de
uma série de funções de ponderação que quantificam as contribuições locais de cada
estação maregráfica. As funções de ponderação, por sua vez, são geradas pela solução
numérica da Equação de Laplace. O peso dado na interpolação não é baseado em
distâncias retilíneas, uma vez que considera a presença de linhas de costa irregulares e
ilhas (FERNANDES, 2006). Para esse método é necessário dispor de uma densa rede
de observação do nível do mar.
O SHOM, desde 2005, vem utilizando para a redução de sondagens o programa
Masg2, que permite estimar o valor da altura real de maré em cada ponto sondado em
relação ao datum vertical (SHOM, 2006). A altura de maré calculada pelo Masg2
compreende a previsão de maré astronômica e mais uma estimativa dos efeitos
meteorológicos reinantes no momento da sondagem, por meio de observações de
maré obtidas tanto de marégrafos de pressão fundeados na área de sondagem quanto
na própria estação de referência. A redução de sondagens propriamente dita não é
efetuada pelo Masg2 e sim pelos sistemas de processamento de dados batimétricos
(ex. CARIS – www.caris.com
). No entanto, é o Masg2 que permite a criação do
arquivo de correções de maré no formato “posição, data, hora, altura referida ao
datum vertical” a ser utilizado no módulo de processamento das batimetrias. Como
dados de entrada para o Masg2 são necessários:
- um modelo de maré prevista para a área de interesse onde a resolução espacial é
opcional;
- um arquivo de constantes harmônicas da estação de referência da zona de maré onde
está sendo realizado o LH;
- um arquivo de alturas de maré observadas no porto de referência (opcionalmente os
dados observados da estação secundária também poderão ser incluídos); e
- um arquivo com os dados da sondagem (data, hora, posição da sondagem).
28
O datum vertical considerado pelo Masg2 é o LAT, a ser posteriormente convertido
para o Zéro Hydrographique (SIMON, 2007). O resíduo meteorológico é calculado
nas estações de referência e nos pontos de fundeio e aplicado para toda a área de
sondagem. Esse programa necessita que as áreas de sondagem não sejam
demasiadamente amplas para que não haja comprometimento da estimativa do
resíduo.
Finalmente, um dos métodos considerados mais promissores em regiões de maior
complexidade e praticamente a única alternativa para a interpolação e extrapolação de
dados em áreas com carência de dados é aquele que utiliza a modelagem
hidrodinâmica. PINEAU-GUILLOU (2005) aplicou um modelo de circulação
hidrodinâmica em duas dimensões horizontais para a região do Golfo de Morbihan
(França), visto que neste golfo a propagação de maré assume um comportamento
complexo, gerando significativos gradientes na amplitude de maré em certos pontos
(notadamente na proximidade de ilhas). Esse fenômeno não pôde ser bem
representado com os métodos anteriores baseados apenas na interpolação de
medições. Nesse trabalho os níveis gerados pelo modelo foram calibrados às
constantes harmônicas disponíveis em 21 pontos de medição. Após a calibração foram
encontradas diferenças entre as amplitudes produzidas pelo modelo e pela previsão
de, em média, 4,2cm (desvio padrão de 2cm) e defasagem de 5 minutos em preamar e
9 minutos em baixa-mar. As alturas de maré do golfo são inferiores a 3 metros. Os
resultados, além de terem sido aplicados na redução de sondagens, também foram
úteis para o cálculo e mapeamento do LAT e também para a geração de constantes
harmônicas nos nós da malha. Essas constantes foram igualmente exportadas para a
base de dados do modelo global de previsão de marés francês desenvolvido no SHOM
conhecido como MARMONDE (sigla para “maré do mundo”).
2.4. A previsão de marés
Durante a navegação e fazendo-se uso da carta náutica, a lógica da previsão de marés
é inversa ao processo de redução das sondagens: acrescenta-se à profundidade local
representada a “porção variável da coluna d´água” que pode ser reproduzida para o
29
dia e o local desejados. As previsões de maré astronômica são divulgadas pelos
serviços hidrográficos de todo o mundo por publicações conhecidas como Tábuas das
Marés.
A DHN realiza as previsões de maré por meio do método harmônico (FRANCO,
1997; PUGH, 2004). Em algumas situações, o método harmônico apresenta algumas
limitações, dentre as quais se destacam:
O método harmônico baseia-se no conhecimento das freqüências das
componentes presentes em pontos específicos de observação prévia de maré
astronômica, onde as constantes harmônicas já tenham sido definidas. Ou
seja, é imprescindível que haja dados coletados e, de preferência, com boa
qualidade (baixo resíduo) e de longo termo;
As previsões harmônicas são pontuais. No caso brasileiro, as Tábuas das
Marés apresentam as previsões apenas para os principais portos. Em outros
países, as Tábuas apresentam coeficientes de maré a serem empregados nos
valores previstos dos portos principais visando estimar as preamares e baixa-
mares em portos secundários. Mas, em ambos os casos, a maré astronômica
somente pode ser reproduzida por meio da previsão harmônica, em locais
muito específicos e não em um ponto qualquer de interesse. Essa regra vale,
inclusive, para algumas versões de tábuas de marés digitais, as quais não
devem ser confundidas com modelos de maré. Alguns exemplos de
aplicativos comerciais que realizam previsões eletrônicas são: o TOTALTIDE
homologado pelo serviço hidrográfico inglês; o SHOMAR, em fase de
validação na França; e o PREVMARÉ, desenvolvido em meados da década
de 90 no Brasil (FRANCO, comunicação pessoal).
As previsões baseadas no método harmônico não contemplam efeitos
decorrentes de forçantes não astronômicas. Assim sendo, em regiões onde,
por exemplo, há significativa variabilidade das condições meteorológicas ou
30
em que influências fluviais são marcantes, as constantes harmônicas obtidas
por ocasião de eventos extremos não se prestam a uma previsão astronômica
acurada para outros períodos. Os fenômenos não-relacionados à maré
astronômica podem interagir de forma não-linear com as constantes,
modificando-as.
Quanto a esse último aspecto, especificamente em regiões estuarinas, como é o caso
da foz do Amazonas, a sazonalidade inerente ao ciclo hidrológico faz com que as
constantes harmônicas deixem de se comportar efetivamente como constantes,
passando a apresentar variações condicionadas pela vazão fluvial. GALLO (2004)
identificou a não-estacionariedade da maré astronômica na região mais a montante do
estuário do Amazonas, a partir da localidade de Canivete. Esse estudo comprovou que
o emprego de constantes oriundas de período de cheia ou estiagem, visando a geração
de previsões para todo o ano, ou para períodos diferentes daqueles analisados, poderia
incidir em erros consideráveis.
Uma forma de complementar o método harmônico é empregar modelos
hidrodinâmicos numéricos para gerar previsão de níveis. A idéia de resolver as
equações da hidrodinâmica no meio de propagação da maré não é nova, mas somente
se tornou viável com o atual desempenho dos computadores (SIMON, 2007).
O grande benefício da adoção dos modelos é a abrangência espacial dos resultados
obtidos. Com os modelos há a possibilidade de prover previsões para uma grande
quantidade de pontos, dependendo do grau de refinamento da malha de cálculo. Outra
vantagem está relacionada à capacidade do modelo simular os fenômenos não-
harmônicos (efeitos de ventos, de descargas fluviais, etc.) que na maioria das vezes
aparecem nos registros observados, mas não podem ser reconstituídos pelo método da
previsão harmônica (NOS, 2007).
A modelagem numérica passa a ser uma opção interessante para aplicações mais
específicas, principalmente onde a maré sofre uma variabilidade espacial relevante.
31
No caso da área focalizada neste estudo, a modelagem hidrodinâmica pode ser
considerada a ferramenta preditiva de níveis mais promitente.
Essa abordagem tem sido aplicada pelo SHOM desde o início desta década,
considerando modelos específicos para a previsão de maré astronômica. Modelos
regionais são criados a partir de um modelo global (MARMONDE). Esse modelo
integra: uma base de 143 componentes harmônicas (com respectivas constantes)
provenientes de pontos de observação, dados de altimetria espacial e também
componentes harmônicas resultantes de modelos hidrodinâmicos costeiros validados
(implementados em áreas mais sensíveis). O modelo global realiza uma interpolação
espacial de duas variáveis na resolução espacial desejada das constantes (G e H), para
cada componente e, em seguida, efetua a previsão harmônica para cada nó da malha.
32
Capítulo 3
3. Caracterização da área de estudo
A região abrangida pela modelagem hidrodinâmica situa-se na região norte do Brasil,
nos estados do Amapá e Pará, entre os paralelos 3º S e 4º N e os meridianos 56º W e
46ºW, compreendendo o estuário
7
do rio Amazonas. Neste trabalho o estuário será
delimitado a montante pela cidade de Óbidos
8
(a cerca de 800 km da foz do rio
Amazonas), se prolongando até a plataforma continental amazônica adjacente, região
onde se projeta a frente salina. A área estudada inclui ainda os principais rios
contribuintes da bacia hidrográfica do Amazonas neste trecho: rios Xingu, Tapajós,
Tocantins-Pará e o rio Amazonas. A desembocadura do rio Amazonas consiste na
área de baixas profundidades compreendida entre o Cabo Maguari, na Ilha de Marajó,
e o Cabo Norte no Estado do Amapá (BEARDSLEY et al., 1995). A região de maior
interesse para este estudo localiza-se nas imediações da Barra Norte, conforme já
especificado no capítulo anterior e apresentado na Figura 4 e Figura 5 a seguir.
A região da plataforma amazônica foi intensamente estudada no final da década de 80
e início da década de 90 durante o projeto AmasSeds (A Multidisciplinary Amazon
Shelf Sediment Study), com o objetivo de investigar a interação entre os processos
oceanográficos físicos, transporte de sedimentos, transformações biogeoquímicas e
sedimentação. Alguns desses estudos fornecem até hoje grandes subsídios para a
compreensão da dinâmica daquela região. O uso da modelagem numérica como
ferramenta para explorar questões como a manutenção da frente salina, efeitos de
ventos sobre a pluma do Amazonas e a influência da Corrente Norte do Brasil na
hidrodinâmica da plataforma continental amazônica, no entanto, foi um aspecto não
amplamente contemplado pelo projeto AmasSeds (GEYER e BEARDSLEY,1995).
7 Segue-se a definição de DYER (1997) para estuários: “corpos d´
água costeiros semi-fechados que possuem conexão livre com o
oceano, se estendendo ao longo do rio até o limite da influencia de maré e no qual a água do mar é mensuravelmente diluída na
água doce proveniente da drenagem continental”.
8 Oscilações verticais periódicas de poucos centímetros, devido à influência de maré, são perceptíveis até Óbidos (GALLO
e
VINZON, 2005).
33
Por outro lado, os trabalhos pioneiros desenvolvidos no âmbito do AmasSeds
encorajaram alguns estudos mais recentes, tais como os conduzidos pela equipe do
LDSC, que começaram a utilizar a modelagem numérica como método investigatório
para os processos típicos daquela região (GABIOUX et al., 2005; GALLO e
VINZON, 2005; FERNANDES et al., 2007).
Longitude (°)
Latitude (°)
Oceano
Atlântico
Ilha de
Marajó
Rio Amazonas
Cabo Norte
Cabo
Cassiporé
Rio Tapajós
Rio Xingu
Rio Pará
Ilha
de Maracá
Macapá
Belém
56°
55°
54°
53°
52°
51°
50°
49° 48°
47°
46°
-3°
-2°
-1°
Detalhe da Barra Norte
Barra Norte
Guará
Ilha de Maracá
Figura 4 – Mapa da área de estudo com isolinhas de batimetria. O retângulo vermelho indica a
região de interesse para este trabalho (Barra Norte). No detalhe, o polígono de cor laranja
reproduz a área de redução de sondagens adotada pela DHN e os círculos de cor azul
representam os pontos de fundeio realizados pelo NHi Sirius nos anos de 2006 e 2007.
34
Figura 5 – Carta náutica número 200 editada pela DHN, apresentando a região de interesse.
Nota-se que alguns dos mais importantes modelos classificatórios para estuários
encontrados na literatura (DYER, 1997) são dificilmente aplicados ao caso do estuário
do rio Amazonas, em virtude de algumas características encontradas neste ambiente.
Por exemplo: em regime de marés de quadratura, apresenta estratificação da coluna
35
d´água, tipicamente observada nos estuários de “cunha salina”; em contrapartida, nas
sizígias, assume características do tipo “parcialmente misturado”
9
(VINZON, 1997).
A classificação proposta por DAVIES (1964 apud DYER, 1997), baseada nas alturas
de maré (tidal range), permite caracterizar a área de estudo como um estuário de
macromaré (variações de 4 a 6 m). As marés são semidiurnas e as principais
componentes harmônicas encontradas na desembocadura são M
2
, S
2
e N
2
(dois ciclos
por dia) e K
1
e O
1
(um ciclo por dia), com amplitudes
10
da ordem de 140, 30, 20, 10 e
5 cm, respectivamente (GALLO e VINZON, 2005).
A componente M
2
constitui-se na forçante de maré mais importante na plataforma
continental amazônica, contribuindo com cerca de 70% da elevação total de maré.
Essa componente se comporta como uma onda progressiva na região localizada ao sul
do banco que se estende a partir do Cabo Norte, se propagando ao longo do estuário
até Óbidos. Já na porção ao norte daquele banco, a M
2
assume a característica de uma
onda estacionária. No embaiamento entre o banco do Cabo Norte e a linha de costa,
são detectadas amplitudes de maré superiores à 5m nas sizígias, em função de efeitos
relacionados à ressonância (BEARDSLEY et al.,1995; NITTROUER et al.,1995) e à
redução do atrito (GABIOUX et. al., 2005).
A forte influência da vazão fluvial no estuário do Amazonas é responsável pelo
amortecimento de diversas componentes de maré, bem como pela geração de novos
harmônicos, tais como a componente M
4
, sobre-harmônico da componente M
2
e a
componente Msf, composição dos constituintes de maré M
2
e S
2
. Conforme resultados
obtidos através de modelagem hidrodinâmica, as correntes invertem seu sentido a
aproximadamente 150 km e 300 km da foz, em função de situações de máximas ou
mínimas vazões, respectivamente (GALLO, 2004).
FERNANDES (2006) analisou o comportamento da assimetria de maré ao longo do
estuário, considerando apenas os níveis obtidos com a modelagem numérica para
diversas estações. Seus resultados indicaram uma assimetria positiva (com tempos de
9 Ambos os tipos correspondem à classificação para estuários de PRITCHARD (1955
apud Miranda et al., 2002) e CAMERON e
PRITCHARD (1963
apud Miranda et al., 2002) baseada na estrutura salina.
10 Metade da diferença em altura entre uma preamar e uma baixa-mar (MAGLIOCCA, 1987)
36
enchente inferiores a 6 horas) na porção mais interior do estuário, evoluindo para uma
assimetria negativa (tempos de enchente superiores a 6 horas) ao largo (Figura 6).
Figura 6 – Mapa de assimetria da maré (FERNANDES, 2006): região em azul representando
assimetria positiva (tempo de enchente menor do que 6 horas) e, em vermelho, assimetria
negativa (tempo de enchente maior do que 6 horas).
GALLO (2004) compartimentou o estuário do Amazonas em três zonas distintas
conforme a propagação da maré: uma primeira região de forte influência oceânica,
próxima à foz, onde há o predomínio das componentes semi-diurnas puras; um
segundo trecho intermediário que se estende até Gurupá (distando cerca de 300 km da
foz), em que surgem harmônicos de alta freqüência (e.g. M
4
) e de longo período (e.g.
Msf); e, finalmente, uma região de domínio fluvial, onde ocorre forte amortecimento
dos harmônicos e aumento da importância das componentes harmônicas de longo
período. Os limites entre essas regiões variam conforme a vazão fluvial considerada.
Algumas conclusões importantes daquele trabalho são: as componentes harmônicas
astronômicas somente apresentam fases e amplitudes constantes na região mais
37
próxima à foz; enquanto a geração dos harmônicos de água rasa é dependente da
vazão fluvial em todo o estuário, entre outros fatores.
A vazão líquida média anual do Amazonas, estimada em 1,8
× 10
5
m
3
s
-1
, é
considerada a maior fonte pontual de água doce existente nos oceanos e forma a mais
extensa pluma estuarina identificável em áreas oceânicas, podendo ser inclusive
percebida no Atlântico Norte (MIRANDA et al., 2002). O ciclo hidrológico do
Amazonas é bem determinado, com períodos de cheia ocorrendo entre os meses de
maio e julho e de estiagem entre outubro e dezembro. As vazões líquidas variam
sazonalmente de 1,0 a 2,8
× 10
5
m
3
s
-1
(GIBBS, 1970; MEADE et al., 1985 apud
KINEKE e STERNBERG, 1995). As vazões do Amazonas, em conjunto com a
morfologia, constituem fatores importantes para impedir que haja intrusão salina na
desembocadura do rio. A frente salina (região de maior gradiente horizontal de
salinidade) se forma na plataforma continental interna, entre as isóbatas de 10 e 30 m
(GIBBS, 1970).
A plataforma continental amazônica é definida como a região que se estende da linha
de costa até a quebra da plataforma (isóbata de 100m, aproximadamente), entre o
estuário do rio Pará e a latitude de 5º N. A plataforma média (limitada pelas linhas
isobatimétricas de 40 e 60 m) apresenta um gradiente relativamente íngreme, superior
a 1:500, enquanto a plataforma interna se configura de forma mais ampla e suave,
com declividades superiores a 1:3000 (NITTROUER e DEMASTER, 1986 apud
KINEKE e STERNBERG, 1995). A largura da plataforma varia de um mínimo de
100 Km a noroeste, perto da latitude de 4º N, até um máximo de 250 Km perto da foz
dos rios Amazonas e Pará. A sudeste, perto da longitude de 45º W, apresenta uma
largura de 150 Km. A topografia de fundo na desembocadura do rio Amazonas é
bastante complexa e pouco conhecida. As profundidades típicas nos canais Norte e
Sul excedem 20 m porém, nas proximidades da embocadura, as profundidades
tornam-se inferiores a 7 m (BEARDSLEY et al., 1995).
Através da plataforma continental a Corrente Norte do Brasil (CNB) flui com
velocidades de 40-80 cm/s (LENTZ, 1995 apud NITTROUER et al., 1995).
Flutuações sazonais na velocidade da CNB apresentam um máximo em agosto-
setembro e um mínimo em abril (NITTROUER et al., 1995). A influência da CNB na
38
circulação da plataforma continental amazônica ainda não foi detalhadamente
documentada segundo GEYER e KINEKE (1995).
A pluma de baixa salinidade gerada pela descarga líquida do amazonas é, em larga
escala, desviada para noroeste. As variações na largura, na concentração de sal e na
dinâmica da pluma estuarina do Amazonas, associadas às escalas temporais de dias a
semanas, parecem estar relacionadas ao regime local de ventos (GIBBS, 1970 apud
VINZON, 1997).
A circulação atmosférica superficial é dominada pelos ventos alísios (NITTROUER e
DEMASTER, 1996), que sopram de forma consistente sobre a plataforma e variam
conforme a oscilação sazonal da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) do
Oceano Atlântico. Os ventos na região variam entre os quadrantes de N-E (janeiro a
março, com velocidades máximas da ordem de 9 m/s) e os quadrantes de S-E (junho a
novembro, com velocidades da ordem de 3 m/s) (NITTROUER et al., 1995;
FERNANDES, 2006).
A bacia hidrográfica do rio Amazonas drena uma área de 6,9
× 10
6
km
2
, que se
estende da encosta oriental dos Andes até o oceano (RICHEY e VICTORIA, 1993
apud KINEKE e STERNBERG, 1995). A descarga do Amazonas transporta,
anualmente, aproximadamente 1,2
× 10
9
toneladas de sedimento através de Óbidos
(MEADE et al., 1985 apud NITTROUER et al., 1995), sendo que a maior parte do
sedimento transportado em suspensão pelo Amazonas (85-95%) corresponde à fração
silte-argila (KINEKE e STERNBERG, 1995). Os sedimentos aportados pelo rio
Amazonas são retidos na plataforma continental amazônica, formando densas
camadas de sedimento em suspensão (lama fluida) ao longo da frente salina (KINEKE
et al., 1996).
Segundo GABIOUX (2002), durante o projeto AmasSeds foram registradas, na região
noroeste da plataforma, camadas de sedimentos em suspensão próximas ao fundo,
com espessura variando de 2 a 4 m (chegando a 7 m), concentrações da ordem de 10
1
a 10
2
g/l e fortes gradientes verticais (lutoclinas). A ocorrência de lamas fluidas na
plataforma continental amazônica vem sendo sistematicamente investigada, tendo em
vista a sua importância na hidrodinâmica daquele sistema. Essas camadas interferem
39
na propagação de marés, amplificando-as (mediante redução da tensão de atrito de
fundo), assim como modificam a estrutura vertical do escoamento e as conseqüentes
trocas entre a coluna d´água e o fundo, afetando importantes processos químicos,
biológicos e geológicos.
40
Capítulo 4
4. A modelagem hidrodinâmica
Os modelos hidrodinâmicos adotados neste trabalho são parte integrante do
SisBaHiA®–Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental, que corresponde a um
sistema de modelos computacionais registrado pela Fundação Coppetec, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Esse sistema foi escolhido por já ter sido aplicado para a região amazônica em estudos
anteriores, fornecendo bons resultados. Além disso, o SisBaHiA® tem sido
continuamente aperfeiçoado no âmbito da COPPE desde 1987, por meio de projetos
de pesquisa, dissertações de mestrado e teses de doutorado e vem sendo aplicado com
sucesso em diversos estudos que envolvem a modelagem de corpos de água naturais.
Nesse contexto, o fato de existir na própria UFRJ um grupo de pesquisadores com
substancial domínio do sistema favoreceu um intenso aprendizado que culminou na
consecução deste trabalho.
Nesta dissertação foram utilizados dois módulos da versão 6.5 do SisBaHiA®: o
modelo hidrodinâmico bidimensional horizontal (2DH) e o módulo de Análise &
Previsão de Marés. Para informações sobre outros módulos e modelos do SisBaHiA®,
acesse www.sisbahia.coppe.ufrj.br
.
Segundo a Referência Técnica do SisBaHiA® (ROSMAN, 2008), o módulo
correspondente ao modelo hidrodinâmico consiste em um modelo de circulação
hidrodinâmica 3D ou 2DH otimizado para corpos de água naturais nos quais efeitos
de baroclinicidade possam ser desprezados. Trata-se de um modelo planejado para
melhor representação de escoamentos em domínios naturais com geometria complexa
(contornos recortados e batimetria espacialmente variada). Os processos de
calibração são minimizados devido a: discretização espacial via elementos finitos
quadráticos e transformação σ, permitindo mapeamento de corpos de água com linhas
de costa e batimetrias complexas; campos de vento e atrito do fundo que podem variar
dinamicamente no tempo e no espaço; e modelagem de turbulência multi-escala
baseada em Simulação de Grandes Vórtices (LES).
41
O tratamento da turbulência do SisBaHiA® é baseado em técnicas de filtragem
propostas originalmente por ALDAMA (1985) e emprega esquemas auto-ajustáveis
na escala da submalha. A fim de garantir que os efeitos dos termos de filtragem, e
com isso as tensões turbulentas, sejam sempre dissipativos, foi incorporada ao modelo
de turbulência a modificação proposta por ROSMAN e GOBBI (1990), que considera
a variação local da escala da largura do filtro nas dimensões espacial e temporal.
O sistema utiliza para a discretização do domínio espacial do módulo 2DH elementos
finitos quadrangulares de nove nós em uma formulação Lagrangeana sub-paramétrica.
As variáveis do escoamento e os parâmetros do domínio são definidos por polinômios
Lagrangeanos quadráticos e, para a geometria, são feitas interpolações lineares. Um
esquema numérico potencialmente de quarta ordem é garantido pelo fato do sistema
considerar nós intermediários em cada lado dos elementos, além de um nó no centro
de cada um dos elementos da malha de discretização. O SisBaHiA® também admite
elementos finitos triangulares de seis nós, os quais não foram aplicados neste trabalho.
Como as funções de forma Lagrangeana são independentes do tempo, as dimensões
temporal e espacial podem ser discretizadas por meio de diferentes esquemas
numéricos. Para a discretização temporal no módulo hidrodinâmico do sistema são
empregados esquemas implícitos de diferenças finitas de segunda ordem. Nos termos
não-lineares faz-se uso de uma fatoração implícita de segunda ordem e, nos termos
lineares, emprega-se o esquema de Cranck-Nicholson (ROSMAN, 2008).
Através do Módulo de Análise & Previsão de Marés é possível realizar análises
harmônicas de registros de níveis ou correntes para obtenção das constantes
harmônicas. Os cálculos de previsão são executados a partir de constantes harmônicas
de níveis ou de correntes. As previsões podem ser em termos de valores, tanto em
séries temporais a intervalos a serem definidos, quanto em séries de máximos e
mínimos para a data previamente especificada. Os algoritmos de análise e previsão
implementados no SisBaHiA
® foram elaborados a partir das rotinas propostas no IOS
Tidal Package (ROSMAN, 2008). Maiores informações podem ser obtidas nos
manuais originais do IOS Tidal Package: FOREMAN (1977), FOREMAN (1978),
FOREMAN e HENRY (1979).
42
As formulações matemáticas dos modelos implementados no SisBaHiA® encontram-
se descritas no Apêndice A.
4.1. Malha de Elementos Finitos
Neste trabalho foi considerada a geometria do domínio de modelagem dos trabalhos
de FERNANDES (2006) e GALLO (2004). O contorno do mapa-base utilizado na
modelagem foi extraído a partir de um processo de digitalização de cartas náuticas da
Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN). Todos os pontos foram referidos a um
sistema métrico de coordenadas com origem no ponto 3,0°S e 56,2°W de coordenadas
geográficas (coordenadas UTM 588952.99, 9668415.69 com meridiano central
57°W).
A malha de discretização em elementos finitos foi gerada com o programa Argus One,
da Argus Interware Inc. (www.argusint.com
) e contém 1022 elementos
quadrangulares, de dimensões que variam de aproximadamente 30 x 30 km na
fronteira aberta até 5 x 5 km na foz do estuário. O interior do estuário foi discretizado
com duas fileiras de elementos de tamanho médio de 4 x 2 km. No total, o domínio
apresenta 5042 nós de cálculo, dentre os quais 3078 constituem nós internos, 1901
configuram nós de contorno continental e 63 de contorno oceânico (Figura 7). No
total o domínio possui uma área de 172.570,190 km². O contorno oceânico do
domínio apresenta algo em torno de 880 km de comprimento e a distância de Óbidos
(limite mais interior do domínio) à fronteira aberta em uma trajetória reta supera 1000
km.
43
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
0
200000
400000
600000
800000
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]
Barra Norte
Oceano
Atlântico
Ilha de
Marajó
Figura 7– Malha de discretização em elementos finitos quadrangulares do domínio de
modelagem do estuário do rio Amazonas, em coordenadas métricas.
4.2. Cenários de Modelagem
Foram realizadas duas rodadas principais com o modelo hidrodinâmico 2DH, datadas
e cobrindo os seguintes períodos:
Ano de 2006 de 01/09/2005 a 13/11/2006
Ano de 2007 de 01/09/2006 a 31/12/2007
Os resultados relativos a estas duas simulações foram pós-processados no decorrer do
estudo e estão apresentados no Capítulo 5 desta dissertação.
A duração das simulações foi planejada de forma que o primeiro mês servisse ao
propósito de dar “aquecimento” ao modelo hidrodinâmico (i.e. não influenciar os
resultados pelas condições iniciais), tendo em vista a dimensão do domínio de
modelagem.
A primeira simulação foi mais curta por indisponibilidade de séries de vazão nas
fronteiras continentais do modelo para o mês de dezembro de 2006. A segunda
simulação perdurou até o último dia de 2007, para permitir que os resultados fossem
confrontados aos dados coletados em dezembro de 2007 na estação maregráfica Ponta
Fonte: Fernandes (2005)
44
do Céu I, recém equipada pelo Centro de Hidrografia da Marinha com um sensor
radar KRH102-SDI da VEJA/VAISSALA.
A finalidade das simulações de longo prazo tem o intuito de tornar possível o cálculo
dos níveis de redução e dos LAT. Como os resultados também foram utilizados para
reduzir as sondagens, foi necessário que a escolha do período também abrangesse os
dias de sondagem.
Algumas rodadas intermediárias de teste foram realizadas, nas quais foram
melhoradas as condições de contorno, até que as séries temporais de níveis produzidas
pelo modelo fossem compatíveis às séries observadas e/ou às séries calculadas com a
previsão harmônica nas diversas estações maregráficas.
Foram assumidas como condições iniciais para as simulações: nível zero nas
elevações e velocidades nulas para componentes u e v, em todo o domínio.
Fatores como ventos, maré meteorológica e possíveis efeitos baroclínicos presentes na
região, além da influência da corrente Norte do Brasil e das variações sazonais de
nível médio atuantes na fronteira oceânica do modelo, não foram considerados nas
simulações. Quanto à Força de Coriolis, o domínio como um todo foi
aproximadamente considerado na latitude de 0°, de forma que os efeitos decorrentes
desta força foram desconsiderados.
4.3. Condições de contorno, batimetria e rugosidade considerados nas
simulações
As informações apresentadas neste item dizem respeito aos dados que foram
utilizados como entrada para a modelagem hidrodinâmica. São eles: os dados de
batimetria e de rugosidade de fundo já implementados em modelos anteriores
(FERNANDES, 2006; GALLO, 2004; GABIOUX, 2002) e os dados utilizados como
condições de contorno fluvial (vazão dos rios afluentes) e oceânica (maré
astronômica).
45
4.3.1. Batimetria
Dados de batimetria são cruciais para a implementação de modelos hidrodinâmicos,
porém, na maioria das vezes e principalmente ao se modelar domínios com escalas
espaciais muito extensas, esbarra-se em algumas dificuldades.
Em primeiro lugar, frequentemente, não há disponibilidade de dados recentes e
uniformemente distribuídos para região de interesse. Os dados são normalmente
provenientes de cartas náuticas que, na maioria das vezes, foram editadas há décadas.
É importante frisar que mesmo havendo levantamentos hidrográficos (LH) recentes,
não necessariamente toda área de uma carta náutica é coberta e não são todos os LH
que dão origem a novas edições de cartas. A Figura 8 apresenta parte da carta náutica
200 editada pela DHN, onde consta um diagrama contendo as várias áreas levantadas
desde 1956 até 1995 em diferentes escalas.
Figura 8 – Destaque para a carta náutica número 200 (DHN) e o diagrama contendo o mosaico
de levantamentos realizados em escalas espaciais distintas e em diferentes períodos.
Um outro aspecto relevante é a questão do datum vertical utilizado como referência
para as cartas náuticas: o nível de redução (NR). No Brasil, a grande maioria dos NR
46
das estações maregráficas foi estabelecida no passado, a partir de períodos de
referência distintos para cada estação, com os meios disponíveis à época da execução
dos LH. Ou seja, nem sempre foram adotados os mesmos métodos de coleta,
tratamento e análise de dados, o que acarretou na instituição de data históricos cuja
acurácia não pode ser precisamente determinada. Além disso, os NR foram calculados
de forma independente uns em relação aos outros. Dessa forma, eventualmente são
encontrados desníveis de NR de alguns centímetros entre duas cartas náuticas
adjacentes ou mesmo entre trechos de uma mesma carta.
Em domínios de modelagem de grandes dimensões, caso não seja feito um ajuste de
datum sobre os dados batimétricos, descontinuidades significativas na batimetria
podem se encontradas, principalmente nos trechos da malha correspondentes aos
limites entre cartas náuticas.
O domínio de discretização numérica estabelecido neste trabalho e nos estudos
anteriores contempla dois tipos de NR: um relativo à porção fluvial, que é
normalmente definido em termos das cotas mínimas observadas das séries
hidrológicas históricas (10% das mínimas), e outro relativo à parte marinha do
domínio, que é determinado a partir de séries de nível do mar e equivale
aproximadamente ao nível da média das baixa-mares de sizígia. Assim sendo, sem
que se efetuassem os devidos ajustes, os desníveis também apareceriam na fronteira
que separa as cartas relativas à área fluvial e à área marinha.
Em face do exposto, antes de inserir as profundidades no modelo, GALLO (2004)
efetuou uma correção nos dados batimétricos de forma a referi-los a um mesmo plano.
Esse plano de referência único passou a ser adotado como o nível zero de todo o
domínio da modelagem e equivale aproximadamente ao plano do nível médio do mar
(NMM). Trata-se de uma aproximação, tendo em vista que na verdade o NMM não
pode ser considerado uniforme ao longo do domínio.
47
O procedimento utilizado por GALLO (2004) para a correção foi dividido em duas
etapas. Primeiramente, adicionou-se aos dados batimétricos de cada carta náutica da
área marinha o valor do Z
0
equivalente àquela carta. O Z
0
corresponde à cota entre o
Nível de Redução e o NMM local. Em segundo lugar, considerou-se para a área sob
influência fluvial uma variação linear do NR de modo que no limite mais a leste, em
torno de 51° W, o NR fosse equivalente ao nível do mar (cota 0 m) e no extremo mais
a oeste, nas imediações do Porto de Santarém (54.74° W), fosse considerado como
3,35m. Esse último valor é igual a soma de 1,80m, referente à cota do zero da régua,
em relação ao NMM, com 1,45m que corresponde ao nível de redução de Santarém.
Tal NR é equivalente a 20% das mínimas registradas naquela régua, em 20 anos de
observação.
Maiores informações sobre as correções efetuadas sobre a batimetria e a sua posterior
validação a partir de comparações com perfis ADCP (Acoustic Doppler Current
Profiler) e com mapas batimétricos produzidos em trabalhos científicos anteriores,
podem ser consultadas em GALLO (2004).
As informações relativas à batimetria utilizadas no estudo de GALLO (op. cit.) e
aproveitadas para este trabalho foram retiradas das cartas náuticas DHN n
o
: 4101 A,
4103 B, 4103 A, 4102 B, 4102 A, 4101 B e 4101 na escala 1:100000; 244 e 243 na
escala 1:79984; 242, 241 e 204 na escala 1:80000; 200 na escala 1:317059; 41 na
escala 1:356649 e 40 na escala 1:159563.
As batimetrias corrigidas ao NMM foram interpoladas para gerar as profundidades em
cada nó da malha de elementos finitos. A Figura 8 mostra o domínio de modelagem
do estuário do rio Amazonas em coordenadas métricas e as isolinhas de profundidade
empregadas na modelagem.
48
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
0
200000
400000
600000
800000
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]
Oceano
Atlântico
Ilha de
Marajó
2
5
8
12
20
35
50
65
85
95
100
Profundidades (m)
Figura 9 – Domínio de modelagem do estuário do rio Amazonas em coordenadas métricas,
mostrando isolinhas de profundidade (batimetrias referidas ao nível médio do mar, NMM).
4.3.2. Rugosidade de fundo
Os valores de rugosidade equivalente do fundo (ε) aplicados à modelagem estão
associados à composição do sedimento de fundo e encontram-se especificados na
Tabela 11 do Apêndice A.
A região do estuário do rio Amazonas apresenta uma extensa gama de depósitos de
sedimentos. GALLO (2004) compilou as informações de diversos trabalhos anteriores
(KINEKE e STENBERG, 1995; KINEKE et al., 1996) e dividiu o domínio em
regiões com os seguintes depósitos:
- fração areia fina (plataforma externa, parte inferior do rio Amazonas até a
desembocadura e o banco Santa Rosa),
- lama consolidada (plataforma interna até a isóbata de 50m, área em frente ao canal
Sul e proximidades do banco do Cabo Norte).
49
O autor também considerou a presença de lama fluida (silte e argila) defronte à
desembocadura do canal Norte e na porção norte da plataforma Amazônica, de acordo
com o que foi apresentado por GABIOUX (2002) e GABIOUX et al. (2005) ao
estudar a propagação da maré em presença de lama fluida.
A Figura 10 ilustra a distribuição dos valores de rugosidade assumidos na modelagem
em função do sedimento associado.
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
0
200000
400000
600000
800000
Oceano Atlântico
rio Tocantis-Pará
rio Xingú
rio Tapajós
r
i
o
A
m
a
z
o
n
a
s
c
a
n
a
l
N
o
r
t
e
(
C
N
)
c
a
n
a
l
S
u
l
(
C
S
)
1E-9 m
1E-7 m
1E-4 m
1E-2 m
5
E
-
3
m
a
1
E
-
2
m
regiões de amortecimento
Figura 10 – Rugosidade equivalente de fundo adotada no domínio de modelagem segundo
GALLO (2004).
Para a camada de lama consolidada foi proposto o valor equivalente ao fundo de
concreto liso (1×10
-4
m). O leito arenoso foi classificado na faixa de valores relativa ao
leito de terra com transporte de sedimentos (5 a 10 × 10
-3
m). Valores elevados de
rugosidade foram adotados ao longo do rio Pará, assim como na costa sul da
plataforma, visando evitar efeitos de reflexão da onda de maré. No que concerne às
camadas de lama fluida, foi considerada a parametrização proposta por VINZON e
METHA (2001) e por GABIOUX (2002) e GABIOUX et al. (2005). Desta forma,
Fonte: Gallo (2004)
50
optou-se pelo valor de 1 × 10
-9
m de rugosidade equivalente para representar uma
camada limite viscosa oscilatória (FERNANDES, 2006).
4.3.3. Condições de Contorno Fluvial: vazão dos rios afluentes
As fronteiras continentais deste modelo caracterizam as margens do estuário e seus
rios afluentes onde foi necessário prescrever vazões. Nos nós de fronteira de terra
típicos de margens foi imposto o valor zero para os fluxos normais à fronteira, pois as
margens foram consideradas impermeáveis. Em outras palavras, este trabalho não
adotou áreas de alagamentos laterais. Nos rios foram prescritas as vazões nodais e
imposta uma componente tangencial nula da velocidade para todos os nós.
Apenas os rios de vazão mais significativa, Amazonas, Tapajós, Xingu e Tocantins,
foram considerados de interesse para este trabalho. Os dados relativos às vazões (Q)
desses rios foram obtidos junto à Agência Nacional de Águas
11
(ANA) para as
estações de Óbidos (rio Amazonas), Fortaleza (rio Tapajós), Altamira (rio Xingu) e
Tucuruí (rio Tocantins).
As vazões do Amazonas são superiores em uma ordem de grandeza às vazões dos
demais rios e, portanto, são preponderantes na dinâmica do sistema estuarino. São
apresentados na Figura 11 os hidrogramas de vazões medidas para o ano de 2006
impostos como condição de contorno na modelagem. Na Figura 12 é apresentada uma
comparação entre as vazões medidas em Óbidos nos anos de 2006 e 2007.
11 <http://hidroweb.ana.gov.br>
51
Vazões diárias nos rios afluentes em 2006
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
01/09/2005
15/09/2005
29/09/2005
13/10/2005
27/10/2005
10/11/2005
24/11/2005
08/12/2005
22/12/2005
05/01/2006
19/01/2006
02/02/2006
16/02/2006
02/03/2006
16/03/2006
30/03/2006
13/04/2006
27/04/2006
11/05/2006
25/05/2006
08/06/2006
22/06/2006
06/07/2006
20/07/2006
03/08/2006
17/08/2006
31/08/2006
14/09/2006
28/09/2006
12/10/2006
26/10/2006
09/11/2006
Data
Vazões (m
3
/s)
Óbidos (Amazonas) Fortaleza (Tapajós) Altamira (Xingu) Tucuruí (Tocantins)
vazão média em Óbidos - 168170 m
3
/s
vazão média em Fortaleza - 9986 m
3
/s
vazão média em Altamira - 8458 m
3
/s
vazão média em Tucuruí - 10218 m
3
/s
Figura 11– Hidrogramas de vazões diárias para os rios Amazonas, Tapajós, Xingu e Tocantins
V
azões em Óbidos
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
16-set
30-set
14-out
28-out
11-nov
25-nov
9-dez
23-dez
6-jan
20-jan
3-fev
17-fev
3-mar
17-mar
31-mar
14-abr
28-abr
12-mai
26-mai
9-jun
23-jun
7-jul
21-jul
4-ago
18-ago
1-set
15-set
29-set
13-out
27-out
10-nov
datas
vazões (m
3
/s)
Óbidos 2006 Óbidos 2007
vazão média em Óbidos em 2006 -
168170 m
3
/s
vazão média em Óbidos em 2007-
161457m
3
/s
Figura 12 – Hidrogramas de vazões diárias para o rio Amazonas nos anos de 2006 e 2007
52
As condições de contorno prescritas nas cabeceiras dos rios correspondem, na prática,
às vazões nodais (q) definidas em função da largura de suas seções transversais (L).
Cada vazão (Q) horária foi distribuída ao longo da seção de forma
homogênea,
conforme apresentado no esquema da Figura 13.
Figura 13 – Esquema ilustrativo das vazões nodais adotadas para o rio Amazonas.
4.3.4. Condições de Contorno Oceânica: a maré astronômica
A imposição da elevação da superfície livre é geralmente a principal forçante prescrita
ao longo dos contornos abertos. Em um domínio de modelagem, contornos abertos
representam limites do domínio como, por exemplo, a entrada de uma baía ou
estuário, e não um contorno físico (ROSMAN, 2008). Os modelos hidrodinâmicos
implementados neste trabalho consideraram apenas a maré astronômica como
forçante no contorno oceânico do domínio.
As condições de maré prescritas para a fronteira aberta do modelo consistiram em
séries de elevações previstas para os anos de 2006 e 2007, geradas a partir dos valores
de constantes harmônicas para 13 componentes de maré (Mm, Mf, O
1
, Q
1
, P
1
, S
1
, K
1
,
M
2
, K
2
, S
2
, N
2
, 2N
2
e M
4
) obtidas do Atlas Global de Maré FES2004 (LYARD et al.,
2006).
L
i
Q
qq
L
==
53
As informações do FES2004 foram escolhidas para representar a fronteira aberta do
modelo hidrodinâmico pela inexistência de séries de medições de nível do mar
oceânicas que pudessem ser utilizadas nas simulações.
Os dados divulgados nos Atlas FES2004 são reputados o estado-da-arte em cobertura
global de marés. Esse esforço teve início no âmbito da missão Topex / Poseidon (T /
P), quando a comunidade científica internacional dedicada a compreender as marés
em uma escala global assumiu a enorme tarefa de desenvolver novos modelos de
marés, visando a atingir previsões de maré com uma precisão centímétrica. Essa
mobilização internacional se dividiu em duas abordagens principais: a primeira
chamada abordagem empírica, baseada na análise direta das séries temporais do nível
do mar obtidas por altimetria, e uma segunda fundamentada na modelagem
hidrodinâmica e em modelos de assimilação. Posteriormente, a interação entre as duas
concepções foi um fator determinante para o sucesso global na melhoria da acurácia
na previsão, atingindo os requisitos do Topex/Poseidon (LYARD et al., 2006).
O grupo Modélisation des Ecoulements Océaniques à Moyenne et
grande échelle, liderados por Le Provost em Grenoble, seguiu a segunda abordagem,
por meio do desenvolvimento de um modelo hidrodinâmico em elementos finitos
concebido sobre a resolução de equações não-lineares barotrópicas para águas rasas,
para um corpo em rotação, denominado Code aux Eléments Finis pour la Marée
Océanique (CEFMO), e o modelo de assimilação a ele associado, Code d'Assimilation
de Données Orienté Représenteur (CADOR). O CEFMO conta com cerca de 100.000
nós computacionais de cálculo na malha de elementos finitos (P2 Lagrange). Por meio
do CADOR, são assimiladas as constantes harmônicas provenientes da análise dos
dados de altimetria por satélite (337 pontos de cruzamento das passagens T/P e 1254
pontos de cruzamento do ERS) e das medições provenientes de 671 estações
maregráficas. Os atlas produzidos a partir desses modelos receberam o genérico nome
de Soluções em Elementos Finitos (FES). As principais divulgações deste grupo de
pesquisa de Grenoble formaram uma produção bianual praticamente contínua entre
1992 e 2004, incluindo o FES95, o FES99 e o FES2004 (LYARD et al., 2006).
54
O atlas FES2004 apresenta resolução de 1/8° para as ondas de maré Mm, Mtm,
Msqm, Mf, O
1
, Q
1
, P
1
, S
1
, K
1
, M
2
, K
2
, S
2
, N
2
, 2N
2
e M
4
. A Figura 14 e a Figura 15
apresentam mapas de isolinhas de maré em amplitude e fase, respectivamente, para a
componente M
2
, gerados a partir dos dados do FES2004 na área de interesse.
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
0
200000
400000
600000
800000
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]
Barra Norte
Oceano
Atlântico
Ilha de
Marajó
-10
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
210
Amplitudes de M2 (cm)
Figura 14 – Amplitudes de M
2
para o estuário do rio Amazonas (FES2004).
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
0
200000
400000
600000
800000
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]
Barra Norte
Oceano
Atlântico
Ilha de
Marajó
Fases de M2 (rad)
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
4.5
5
5.5
6
6.5
7
Figura 15 – Fases de M
2
para o estuário do rio Amazonas (FES2004).
55
O pré-processamento dos dados para a imposição da condição de fronteira aberta
divide-se basicamente nas seguintes etapas:
- Cálculo dos pares de constantes harmônicas (amplitudes e fases) para cada nó da
fronteira, por meio de interpolação espacial das constantes extraídas da base de dados
do FES2004 para a área de estudo, devidamente convertidas para as coordenadas
métricas do modelo. Para tornar as informações do atlas compatíveis com a resolução
espacial do modelo, foram construídas três grades (grids) para o domínio contendo as
interpolações para cada onda de maré
12
. A gridagem
13
foi execuada com auxílio do
programa Surfer 8 da Golden Software Inc (www.goldensoftware.com) e a técnica
escolhida para a interpolação espacial foi o Kriging (ISAAKS e SRIVASTAVA,
1989; JOURNEL, 1989; CRESSIE, 1990; CRESSIE, 1991).;
- Inserção dos pares de constantes no Módulo de Análise e Previsão de marés do
SisBaHiA® para cada um dos 63 nós da fronteira aberta do modelo, compondo uma
base de dados específica para a previsão de marés;
- Realização de previsões de séries horárias sintéticas para os nós do contorno
oceânico com o módulo de previsão de marés do SisBaHiA®, cobrindo os dois
períodos de simulação: 01/09/2005 a 13/11/2006 e 1/09/2006 a 31/12/2007. Estas
previsões foram posteriormente corrigidas para o fuso -3 (P), visto que os dados
originais do FES2004 referem-se a Greenwich; e
- Importação das informações de séries horárias para um arquivo compatível com o
formato de entrada de dados do modelo hidrodinâmico. O gráfico da Figura 16
exemplifica 48 horas de séries temporais de entrada em seis nós do contorno
oceânico.
12
Para cada uma das componentes de maré considerada utilizou-se uma grade para a amplitude, e duas para a fase, já que esta
última foi decomposta em seno e cosseno. Posteriormente, as grades de senos e cossenos foram combinadas
para se chegar aos
valores de fase em graus.
13
Gridagem é um processo de interpolação de dados distribuídos em uma malha regularmente espaçada (grade) e referidos a um
sistema de coordenadas x-y devidamente especificado.
56
Séries temporais de entrada em seis nós da fronteira aberta
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
12/11/06 0:00
12/11/06 2:00
12/11/06 4:00
12/11/06 6:00
12/11/06 8:00
12/11/06 10:00
12/11/06 12:00
12/11/06 14:00
12/11/06 16:00
12/11/06 18:00
12/11/06 20:00
12/11/06 22:00
13/11/06 0:00
13/11/06 2:00
13/11/06 4:00
13/11/06 6:00
13/11/06 8:00
13/11/06 10:00
13/11/06 12:00
13/11/06 14:00
13/11/06 16:00
13/11/06 18:00
13/11/06 20:00
13/11/06 22:00
14/11/06 0:00
data-hora
Elevações em cm acima do NMM
nó 4283 nó 4281 nó 4279 nó 4277 nó 4275 nó 4273
Figura 16 – Exemplo de séries temporais impostas como condição de contorno oceânica.
57
Capítulo 5
5. Ajuste do modelo e análises de sensibilidade à batimetria
5.1. Dados e informações consideradas para o ajuste do modelo
Os resultados das simulações numéricas foram confrontados aos dados medidos (ou
na falta dos mesmos, às previsões de maré) nos pontos onde estão localizadas estações
maregráficas cadastradas no BNDO. A Tabela 3 destaca as estações próximas à Barra
Norte onde ocorreram as medições, com os respectivos períodos de funcionamento
dos marégrafos e também as informações sobre as constantes harmônicas (CH) que
foram solicitadas ao BNDO e que viabilizaram o cálculo das previsões. As
comparações permitiram que alguns parâmetros do modelo fossem alterados com a
intenção de melhorar os resultados das simulações, principalmente para a área de
relevância para esta pesquisa que é o Canal da Barra Norte. O Apêndice B expõe
todas tabelas de CH utilizadas neste trabalho e Fichas de Descrição de Estação
Maregráfica da estação Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte).
Durante os anos de 2006 e de 2007 foram realizadas duas campanhas de coleta de
dados pelo Navio Hidrográfico Sirius na região da Barra Norte (Comissão
oceanográfica BARRA NORTE 1/2006 e BARRA NORTE 1/2007), dentro do escopo
do Projeto “Modelagem hidrodinâmica e monitoramento do nível do mar na Barra
Norte do Rio Amazonas – Correção de sondagens para construção da Carta Náutica”.
O projeto é fruto de um convênio entre a Marinha do Brasil e a COPPE/UFRJ e tem
como objetivo
melhorar o monitoramento ambiental na região Barra Norte do Rio
Amazonas, a fim de contribuir para a segurança da navegação, reduzindo os riscos de
acidentes, aprimorando as possibilidades econômicas no transporte mercante e
contribuindo para a conservação do meio ambiente (BARRA NORTE, 2006; BARRA
NORTE, 2007).
58
Tabela 3 – Estações consideradas para o ajuste do modelo.
Estação
Maregráfica
Período de Observação
Período de observação que
originou o cálculo das CH
Número de
Componentes
Plataforma Penrod x-x-x-x-x
11/01/1974 a 11/02/1974
(32 dias)
36
Santa Maria do Cocal x-x-x-x-x
22/05/1972 a 22/06/1972
(32 dias)
36
Igarapé do Inferno
(Ilha de Maracá)
x-x-x-x-x
02/06/1971 a 03/07/1971
(32 dias)
42
Ponta Guará x-x-x-x-x
14/04/1970 a 15/05/1970
(32 dias)
36
Escola do Igarapé
Grande do Curuá
(Barra Norte)
11/05/2006 a 17/06/2006
16/06/2007 a 11/08/2007
09/11/1996 a 10/12/1996
(32 dias)
27
Canivete x-x-x-x-x
02/06/1995 a 31/07/1996
(426 dias)
65
Santana
10/05/2006 a 20/06/2006
26/06/2007 a 24/08/2007
24/06/1957 a 16/06/1958
(365 dias)
32
Afuá x-x-x-x-x
05/08/1974 a 05/09/1974
(32 dias)
36
Chaves x-x-x-x-x
19/06/1966 a 20/07/1966
(32 dias)
36
Vila Nazaré
09/05/2006 a 18/06/2006
22/06/2007 a 20/08/2007
23/08/1973 a 21/10/1973
(60 dias)
25
Ilha do Machadinho x-x-x-x-x
03/11/1996 a 06/12/1996
(34 dias)
34
Cabo Maguari x-x-x-x-x
16/07/1971 a 16/08/1971
(32 dias)
36
Durante essas campanhas foram lançados diversos instrumentos, dispostos em uma
“gaiola”, em pontos específicos de fundeios ao longo do Canal Grande do Curuá. Os
equipamentos utilizados foram os seguintes: um perfilador CTD - 1 (Conductivity
Temperature Depth), um correntógrafo acústico pontual (ADV - Acoustic Doppler
Velocimeter), um medidor do tamanho médio das partículas in-situ (LISST-25X -
Laser Instrument Suspended Sediment), dois turbidímetros (OBS – Optical back-
scattering sensor) e uma bomba tipo “sapo” para coleta de amostras de água a
diferentes profundidades.
Foram medidos perfis verticais de velocidade por meio de um
ADCP (Acoustic Doppler Current Profiler de 600 kHz).
Em 2007 também foram
medidas a
densidade e viscosidade do fluido por meio de um reômetro DENSITUNE
(BARRA NORTE, 2006; BARRA NORTE, 2007).
Com isso, foram realizadas em diferentes pontos, medições de concentração de
sedimentos em suspensão, tamanho das partículas e amostragens de sedimento em
superfície, no fundo e ao longo da coluna de água a diferentes profundidades.
59
Medições de condutividade, salinidade e temperatura também foram registradas,
durante os fundeios, a cada 3 horas, mediante um condutivímetro, e perfis verticais de
temperatura, salinidade e pressão foram medidos com CTD pela equipe do NHi
Sirius.
No período dos fundeios o ecobatímetro de bordo permaneceu em funcionamento
durante 13 horas, a fim de se tentar obter as características de maré nas imediações da
Barra Norte. Os dados assim coletados também foram comparados aos resultados da
modelagem. A localização das estações maregráficas e dos pontos de fundeio estão
assinalados na Figura 17. Nesta figura, as estações Escola do Igarapé Grande do
Curuá e Ponta do Céu I estão identificadas como Barra Norte.
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
0
200000
400000
600000
800000
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]
Barra Norte
Oceano
Atlântico
Penrod
Santa Maria do Cocal
Ilha de Maracá
Guará
Canivete
Macapá
Santana
Afuá
Chaves
Vila Nazaré
Machadinho
Maguari
Localização das Estações
e Pontos de Fundeio
Pontos de Fundeio de 2006
Pontos de Fundeio de 2007
Estações Maregráficas
Figura 17 – Mapa de localização das estações maregráficas e dos pontos de fundeio do NHi Sirius.
60
A Figura 18 apresenta uma foto da estação maregráfica Escola do Igarapé Grande do
Curuá (Barra Norte), que consistiu na estação mais importante para o
desenvolvimento deste estudo, em virtude de estar mais próxima à área de sondagem
e, por esse motivo, ser a estação de referência para a redução de sondagens naquela
região.
Figura 18 – Foto da Estação Maregráfica Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte).
Foram utilizados igualmente, a título de comparação com os resultados do modelo
numérico, os dados coletados em dezembro de 2007 na estação maregráfica Ponta do
Céu I, conforme já mencionado. Fotos desta nova estação foram cedidas pelo CHM e
encontram-se dispostas na Figura 19.
61
Figura 19 – Fotos da estação maregráfica Ponta do Céu I em dois ângulos diferentes.
5. 2. A qualificação das séries simuladas.
A qualificação dos resultados provenientes das simulações foi feita mediante
comparação aos dados coletados nas estações maregráficas e nos pontos de fundeio.
Também foram feitas previsões de maré horárias pelo método harmônico para os
pontos da malha correspondentes a estações maregráficas. As previsões foram feitas
com o módulo “previsão” do pacote PACMARÉ (FRANCO, 2003) com as constantes
harmônicas provenientes da base do BNDO.
Nas análises comparativas foram avaliados os seguintes parâmetros estatísticos
(EMERY e THOMSON, 2001; SUTHERLAND et. al., 2004):
MAE (Mean Absolute Error): erro médio absoluto, correspondente à média
dos valores absolutos das diferenças entre os valores medidos e os calculados.
62
Trata-se de um indicador estatístico interessante para avaliar a magnitude da
diferença, independente do fato dela ser positiva ou negativa.
XYMAE =
(1)
Onde:
X corresponde à série de valores observados,
Y corresponde à série de valores previstos (no caso, simulados com o modelo),
a barra horizontal significa a média e os colchetes representam o módulo.
RMAE (Relative Mean Absolute Error). Consiste em um estimador de erro
relativo recomendado por SUTHERLAND et. al. (2004). Um resultado de
RMAE igual à zero significa um ajuste perfeito entre as séries temporais
confrontadas, o que na prática jamais será observado. Um RMAE igual à um
significa que as diferenças encontradas são da mesma magnitude dos valores
observados.
X
MAE
X
XY
RMAE =
=
(2)
Onde: o denominador corresponde a média dos valores absolutos da observação.
=
=
N
n
n
x
N
X
1
1
(3)
Onde: n é o número de dados da série temporal analisada.
Apesar da tradução literal de ambos os parâmeros conter a terminologia “erro”, esta
palavra foi substituída propositalmente, em toda a interpretação dos resultados, pelo
termo “diferença”. Isso foi feito porque, ao se comparar os resultados do modelo aos
dados observados e também à previsão harmônica, buscou-se de alguma forma avaliar
quantitativamente as diferenças encontradas já que não se tem o “valor verdadeiro” da
63
comparação. Em outras palavras, eventualmente diferenças significativas encontradas
nos resultados não necessariamente confirmam um problema na modelagem, mas
podem eventualmente indicar alguma inconsistência nas medições ou mesmo nas
constantes harmônicas empregadas.
As diferenças em fase de cada par de séries temporais avaliado foram estimadas
através da função de correlação cruzada. O cálculo estatístico foi computado no
aplicativo Matlab (www.mathworks.com
). O programa retorna uma seqüência de
coeficientes de correlação para cada intervalo de tempo considerado, τ (time lag), com
intervalo de confiança de 95%. As defasagens foram escolhidas a partir dos melhores
resultados de correlação. Para que os resultados fossem dados com resolução temporal
de um minuto, as seqüências horárias analisadas sofreram antes um processo de
interpolação cubic spline. As fórmulas relativas à função de correlação cruzada e
alguns exemplos voltados para dados oceanográficos podem ser consultadas em
EMERY e THOMSON (2001). As rotinas de interpolação e cálculo da função de
interpolação constam no Apêndice D desta dissertação.
5.3. Resultados das simulações
Os resultados da primeira rodada do ano de 2006 não foram satisfatórios para a região
do Canal Norte. Ao se comparar os níveis calculados pelo modelo aos dados
observados no período de 11/05 a 17/06 de 2006 na estação de referência (Barra
Norte), foram encontradas diferenças de fase de 44 minutos (o modelo estando mais
adiantado do que a série temporal observada) com coeficiente de correlação de 0,97.
Além disso, foram verificadas significativas diferenças nas alturas de maré (Figura 20
e Figura 21), em alguns casos superiores a 1m em função da defasagem.
Para que fosse possível realizar as comparações entre os dados e o resultado do
modelo, ambas as séries foram referidas a um nível médio coincidente e
numericamente igual ao zero do modelo.
Em função da qualidade dos resultados preliminares obtidos, optou-se pela realização
de uma segunda rodada, modificando as condições da fronteira oceânica. Desse modo,
64
cada uma das 63 previsões prescritas para os nós da fronteira oceânica foi atrasada em
44 minutos. Este ajuste foi feito visando calibrar o modelo à observação da estação
Barra Norte.
Modelo x Observação (primeira rodada)
Estação Barra Norte
-2.5000
-2.0000
-1.5000
-1.0000
-0.5000
0.0000
0.5000
1.0000
1.5000
2.0000
2.5000
11/5/06 9:36 11/5/06
14:24
11/5/06
19:12
12/5/06 0:00 12/5/06 4:48 12/5/06 9:36 12/5/06
14:24
12/5/06
19:12
13/5/06 0:00 13/5/06 4:48 13/5/06 9:36
Data-Hora
Alturas (m)
Modelo Observação Modelo interp Observão Interp
Figura 20 – Gráfico apresentando a comparação entre os resultados do modelo e as observações
para o período compreendido entre 11/05 a 13/05 de 2006. A interpolação temporal das séries foi
feita com a função Cubic Spline.
65
Resultados da Correlação Cruzada
Estação Barra Norte
0.75
0.8
0.85
0.9
0.95
1
-60
-58
-56
-54
-52
-50
-48
-46
-44
-42
-40
-38
-36
-34
-32
-30
-28
-26
-24
-22
-20
-18
-16
-14
-12
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Defasagem (minuto)
Coeficientes de Correlação
Figura 21 – Correlação cruzada entre o resultado do modelo e a série observada na estação
Barra Norte, indicando que o modelo está adiantado 44 minutos em relação aos dados.
Após o ajuste na fronteira oceânica, os resultados para a área de interesse melhoraram
consideravelmente, conforme pode ser observado nos valores assinalados em azul e
vermelho na Tabela 4.
0,97574
66
Tabela 4 – Resultados alcançados com a segunda rodada de 2006 em comparação com os níveis
observados e previstos para as estações do domínio. Destaque para os valores assinalados em
vermelho e azul correspondentes à área de interesse. Nas colunas “prevmod” foi feita a
comparação entre a previsão harmônica e o modelo e nas colunas “obsmod” houve a comparação
entre a observação e o modelo.
Estação MAE(m) RMAE defasagem MAE (m) RMAE Defasagem
prevmod prevmod prevmod obsmod obsmod obsmod
Penrod
0.38 0.61 -35 xxxx xxxx xxxx
Santa Maria do Cocal
0.80 0.46 -46 xxxx xxxx xxxx
Ilha de Maracá
1.24 0.52 -53 xxxx xxxx xxxx
Guará
0.34 0.52 -13 xxxx xxxx xxxx
Barra Norte
0.22 0.22 -12 0.23 0.21 -6
Fundeio 1*
xxxx xxxx xxxx
0.14 0.24 0
Fundeio 2*
xxxx xxxx xxxx
0.16 0.23 0
Fundeio 3*
xxxx xxxx xxxx
0.12 0.18 0
Fundeio 4*
xxxx xxxx xxxx
0.12 0.15 0
Fundeio 5*
xxxx xxxx xxxx
0.10 0.13 0
Fundeio 6*
xxxx xxxx xxxx
0.11 0.18 0
Canivete
0.20 0.26 -13 xxxx xxxx xxxx
Santana
0.29 0.38 -22 0.22 0.30 -7
Afuá
0.39 0.75 -65 xxxx xxxx xxxx
Chaves
0.55 0.71 -69 xxxx xxxx xxxx
Vila Nazaré
0.58 0.63 -69 0.61 0.55 -49
Machadinho
0.59 0.69 -69 xxxx xxxx xxxx
Maguari
0.56 0.69 -69 xxxx xxxx xxxx
A defasagem entre a observação e o modelo passou para -6 minutos na Barra Norte, o
que significa que após a modificação da fronteira oceânica a observação ainda ficou
um pouco adiantada em relação ao modelo. Nas alturas, as diferenças em termos de
valores absolutos (MAE) foram em média de 23 cm, o que corresponde a algo em
torno de 5,75% da altura de maré do local (que é de aproximadamente 4m). O RMAE
para a Barra Norte foi calculado em 0,21.
Mesmo com toda a imprecisão dos dados discretos obtidos com o ecobatímetro nos
pontos de fundeio e dispondo de apenas 13 horas de observação, foi possível
confrontá-los aos resultados do modelo. As diferenças encontradas foram ainda
menores do que aquelas verificadas na estação de referência, variando de 10 a 16 cm
nos seis pontos observados. Além disso, não houve defasagem entre as curvas. Esse
resultado foi considerado bastante interessante, uma vez que são os pontos de fundeio
que realmente se encontram efetivamente localizados dentro da área de sondagem, ao
contrário da estação de referência.
67
O ajuste do modelo considerou somente a região do Canal Grande do Curuá, os
resultados para as demais estações não foram considerados. Assim sendo, o modelo
com esta calibração não deverá ser utilizado para subsidiar o mesmo tipo de estudo
fora da região da Barra Norte.
Os resultados da modelagem foram igualmente comparados à maré prevista para
Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte). Em termos de média das
diferenças absolutas e RMAE, os resultados foram bastante consistentes com os
obtidos quando da comparação do modelo com a observação. No entanto, a diferença
de fase entre o modelo e a previsão harmônica na estação de referência foi ainda
maior (a previsão está adiantada em relação ao modelo em 12 minutos). A Figura 22
ilustra esquematicamente as defasagens entre as séries temporais comparadas para a
Barra Norte.
Figura 22 – Defasagens entre a série temporal de nível resultante da segunda simulação para o
ano de 2006, a previsão harmônica e os dados coletados para a estação Barra Norte.
As análises comparativas mostram que a ordem de grandeza da defasagem encontrada
entre o modelo e os dados e entre o modelo e a previsão das Tábuas das Marés, para a
Barra Norte, é a mesma (inferior a 10 minutos). É importante frisar que as defasagens
encontradas são inferiores a 10 minutos, valor da resolução do registro analógico do
marégrafo e referência para o cálculo das incertezas na fase das séries analisadas.
Modelo
6 minutos 12 minutos
6 minutos
Observação
Previsão
Harmônica
68
No que diz respeito à comparação entre a maré prevista e a observada, as diferenças
encontradas foram em média de
±
24 cm e o RMAE correspondeu a 0,23. Ou seja, as
incertezas relacionadas à previsão atualmente realizada pelo CHM para aquela área
são da mesma magnitude que aquelas encontradas na comparação entre o modelo e os
dados observados.
As Figura 23, Figura 24 e Figura 25 ilustram os resultados comparativos entre as
séries obtidas por simulação e os pontos de fundeio.
Figura 23 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o ecobatímetro e séries
de níveis modelados nos pontos 1 e 2.
600000 700000 800000 900000
400000
450000
500000
550000
600000
Detalhe da Barra Norte
Barra Norte
Gua rá
Ilha de Mara
1
2
1
3
4
5
6
Fundeio 2/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
4/6/06 7:12 4/6/06 9:36 4/6/06 12:00 4/6/06 14:24 4/6/06 16:48 4/6/06 19:12 4/6/06 21:36 5/6/06 0:00
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 2
Fundeio 1/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
3/6/06 7:12 3/6/06 9:36 3/6/06 12:00 3/6/06 14:24 3/6/06 16:48 3/6/06 19:12 3/6/06 21:36 4/6/06 0:00
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 1
69
Figura 24 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o ecobatímetro e séries
de níveis modelados nos pontos 3 e 4.
600000 700000 800000 900000
400000
450000
500000
550000
600000
Detalhe da Barra Norte
Barra Norte
Gua rá
Ilha de Maracá
1
2
1
3
4
5
6
Fundeio 3/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
5/6/06 0:00 5/6/06 2:24 5/6/06 4:48 5/6/06 7:12 5/6/06 9:36 5/6/06 12:00 5/6/06 14:24 5/6/06 16:48
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 3
Fundeio 4/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
5/6/06 16:48 5/6/06 19:12 5/6/06 21:36 6/6/06 0:00 6/6/06 2:24 6/6/06 4:48 6/6/06 7:12 6/6/06 9:36
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 4
70
Figura 25 – Comparação entre valores discretos de fundeio, obtidos com o ecobatímetro e séries
de níveis modelados nos pontos 5 e 6.
Os dados utilizados nas comparações referem-se apenas ao período de
aproximadamente um mês durante a cheia do Amazonas e, com isso, não é possível
verificar o grau de acerto do modelo no período de estiagem do rio no ano de 2006.
Por outro lado, a previsão harmônica utilizada para a comparação com o modelo foi
feita com as constantes oriundas de uma análise de 32 dias referentes a um período de
seca. Apesar da validade destas constantes ser discutível para o cálculo de previsão
600000 700000 800000 900000
400000
450000
500000
550000
600000
Detalhe da Barra Norte
Barra Norte
Gua rá
Ilha de Maracá
1
2
1
3
4
5
6
Fundeio 5/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
6/6/06 12:00 6/6/06 14:24 6/6/06 16:48 6/6/06 19:12 6/6/06 21:36 7/6/06 0:00 7/6/06 2:24 7/6/06 4:48
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 5
Fundeio 6/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
7/6/06 4:48 7/6/06 7:12 7/6/06 9:36 7/6/06 12:00 7/6/06 14:24 7/6/06 16:48 7/6/06 19:12 7/6/06 21:36
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 6
71
para um ano inteiro, este conjunto de constantes é o que consta como “padrão” no
BNDO, tanto para o cálculo do atual NR da estação Escola do Igarapé Grande do
Curuá, quanto para a confecção das Tábuas das Marés.
Um outro aspecto importante a ser mencionado é que os dados observados na estação
Barra Norte apresentaram flutuações de nível médio de até 48,98 cm durante o
período de ocupação da estação maregráfica. Esse nível médio foi obtido por média
móvel de 25 horas (Figura 26). As causas dessas flutuações podem estar relacionadas
a fenômenos naturais de escala local, já que a estação está montada dentro de um
igarapé, à presença de ventos, ou até mesmo a problemas no funcionamento do
equipamento.
Observações na estão Barra Norte
0
100
200
300
400
500
600
700
8/5/06 0:00
13/5/06 0:00
18/5/06 0:00
23/5/06 0:00
28/5/06 0:00
2/6/06 0:00
7/6/06 0:00
12/6/06 0:00
17/6/06 0:00
22/6/06 0:00
Data-Hora
Alturas (cm) acima do zero da régua
dados observados na cheia de 2006 vel Médio
Figura 26 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante a
sondagem de 2006 e flutuações locais do nível médio.
Após a retirada das oscilações de baixa-frequência registradas na observação, os
dados filtrados (Figura 27) foram novamente comparados ao modelo e a média do
módulo das diferenças (MAE) passou para 16 cm, 4% da altura de maré local (contra
os 23 cm observados na comparação com os dados originais).
72
Observações na estação Barra Norte
-350
-250
-150
-50
50
150
250
350
8/5/06 0:00
13/5/06 0:00
18/5/06 0:00
23/5/06 0:00
28/5/06 0:00
2/6/06 0:00
7/6/06 0:00
12/6/06 0:00
17/6/06 0:00
22/6/06 0:00
Data-Hora
Alturas (cm) acima do zero da régua
dados observados na cheia de 2006 filtrados Nível Médio
Figura 27– Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante a
sondagem após ter sido filtrada a oscilação de baixa-frequência.
Ao se visualizar as séries de níveis obtidas com o modelo e medidas na estação
maregráfica em três escalas temporais distintas, percebe-se que as diferenças de
alturas encontradas são devidas às maiores alturas da série de medições em detrimento
das séries simuladas (Figura 28, Figura 29 e Figura 30). As diferenças mais
significativas parecem ocorrer nas baixa-mares e as curvas apresentam graus de
assimetria diferenciados.
Observação x Modelo
Estação Barra Norte
36 dias
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
11/5/06
12:00
13/5/06
14:00
15/5/06
16:00
17/5/06
18:00
19/5/06
20:00
21/5/06
22:00
24/5/06
0:00
26/5/06
2:00
28/5/06
4:00
30/5/06
6:00
1/6/06
8:00
3/6/06
10:00
5/6/06
12:00
7/6/06
14:00
9/6/06
16:00
11/6/06
18:00
13/6/06
20:00
15/6/06
22:00
Alturas (m)
Observação Modelo
Figura 28 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 36
dias de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).
73
Observação x Modelo
Estação Barra Norte
oito dias
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
11/5/06 0:00
12/5/06 0:00
13/5/06 0:00
14/5/06 0:00
15/5/06 0:00
16/5/06 0:00
17/5/06 0:00
18/5/06 0:00
19/5/06 0:00
20/5/06 0:00
21/5/06 0:00
Alturas (m)
Observação Modelo
Figura 29 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 8
dias de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).
Observação x Modelo
Estação Barra Norte
1 dia
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
11/5/06 12:00
Alturas (m)
Observação Modelo
Figura 30 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 24
horas de 2006 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).
Nas Figuras apresentadas a seguir (Figura 31e Figura 32) foi incluída a maré prevista
pelo método harmônico.
74
Observação x Modelo x Previsão
Estação Barra Norte
8 dias
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
11/5/06 0:00
12/5/06 0:00
13/5/06 0:00
14/5/06 0:00
15/5/06 0:00
16/5/06 0:00
17/5/06 0:00
18/5/06 0:00
19/5/06 0:00
20/5/06 0:00
Alturas (m)
Observação Modelo Previsão Harmônica
Figura 31– Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 8
dias comparados ao resultados do modelo e à previsão harmônica (nível de referência: zero do
modelo) em 2006.
Observação x Modelo x Previsão
Estação Barra Norte
1 dia
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
11/5/06 12:00
11/5/06 16:48
11/5/06 21:36
12/5/06 2:24
12/5/06 7:12
12/5/06 12:00
Alturas (m)
Observação Modelo Previsão Harmônica
Figura 32 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 24
horas, comparados ao resultado do modelo e à previsão harmônica (nível de referência: zero do
modelo) em 2006.
Em 2007, na estação Barra Norte, o nível médio sofreu flutuações menos intensas do
que as observadas em 2006 (Figura 33). O valor mínimo encontrado foi de – 28,7cm e
o máximo 26,38cm. No entanto, a mesma tendência observada em 2006, no que tange
à assimetria e diferenças nas alturas, foi constatada em 2007, conforme pode ser
visualizado nas Figura 34, Figura 35 eFigura 36. Em valores absolutos, a média
75
encontrada para as diferenças entre a simulação e os dados de 2007 (filtrados) foi de
16,7 cm (RMAE= 0,16).
Os dados coletados com o ecobatímetro nos fundeios de 2007 não apresentaram a
mesma qualidade daqueles relativos à campanha de 2006 e não foram utilizados para
o cálculo de diferenças.
Observações na Estação Barra Norte
0
100
200
300
400
500
600
700
7/6/07 0:00 17/6/07 0:00 27/6/07 0:00 7/7/07 0:00 17/7/07 0:00 27/7/07 0:00 6/8/07 0:00 16/8/07 0:00
Data-Hora
Alturas (cm) acima do zero da régua
Dados observados na cheia de 2007 Nível Médio
Figura 33 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante a
sondagem de 2007 e flutuações locais do nível médio.
Observação x Modelo
Estação Barra Norte
36 dias
-3
-2
-1
0
1
2
3
16/06/07
17/06/07
18/06/07
18/06/07
19/06/07
20/06/07
21/06/07
22/06/07
22/06/07
23/06/07
24/06/07
25/06/07
26/06/07
26/06/07
27/06/07
28/06/07
29/06/07
29/06/07
30/06/07
01/07/07
02/07/07
03/07/07
03/07/07
04/07/07
05/07/07
06/07/07
07/07/07
07/07/07
08/07/07
09/07/07
10/07/07
11/07/07
11/07/07
12/07/07
13/07/07
14/07/07
15/07/07
15/07/07
16/07/07
17/07/07
18/07/07
18/07/07
19/07/07
20/07/07
21/07/07
Alturas (m)
Observação Modelo
Figura 34 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 36
dias de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).
76
Observação x Modelo
Estação Barra Norte
8 dias
-3
-2
-1
0
1
2
3
16/06/07
17/06/07
18/06/07
19/06/07
20/06/07
21/06/07
22/06/07
23/06/07
24/06/07
25/06/07
Alturas (m)
Observação Modelo
Figura 35 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 8
dias de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).
Observação x Modelo
Estação Barra Norte
1 dia
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
16/06/07
16/06/07
16/06/07
17/06/07
17/06/07
17/06/07
17/06/07
Alturas (m)
Observação Modelo
Figura 36 – Dados observados na Escola do Igarapé Grande do Curuá (Barra Norte) durante 24
horas de 2007 e resultados do modelo (nível de referência: zero do modelo).
Os dados coletados com o sensor radar em dezembro de 2007, na Estação Ponta do
Céu I, único período disponível para a época de estiagem do rio Amazonas, também
foram comparados aos resultados do modelo. Gráficos em diferentes escalas constam
nas Figura 37 e Figura 38. Através de uma análise comparativa foram encontradas
diferenças de, em média, 20,87 cm usando os dados efetivamente medidos e 19,71 cm
usando dados cujo resíduo tenha sido filtrado (em valores absolutos). Os valores mais
discrepantes foram associados a maior assimetria da curva modelada.
77
Comparação Modelo x Ponta do Céu I
-250
-200
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
250
300
5/12/07 0:00 10/12/07 0:00 15/12/07 0:00 20/12/07 0:00 25/12/07 0:00
Data-Hora
Alturas (cm) em realção ao zero do modelo
Dados Modelo Previsao
Figura 37 – Dados observados na Ponta do Céu I (proximidade da Barra Norte) resultados do
modelo de 2007 e previsão harmônica (nível de referência: zero do modelo).
Comparação Modelo x Ponta do Céu I
-250
-200
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
250
300
10/12/07 6:57 15/12/07 6:57
Data-Hora
Alturas (cm) em realção ao zero do modelo
Dados Modelo Previsao
Figura 38 – Dados observados na Ponta do Céu I (proximidade da Barra Norte) resultados do
modelo de 2007 e previsão harmônica para oito dias (nível de referência: zero do modelo).
Conclui-se que as rodadas de 2006 e 2007 apresentaram consistência ao serem
confrontadas aos dados medidos e que as diferenças em fase para a área de interesse
foram reduzidas a níveis aceitáveis. Em contrapartida, diferenças nas alturas e na
78
forma da curva modelada (devido à assimetria) foram verificadas sistematicamente na
estação Barra Norte nos dois anos avaliados e durante todo o período investigado. O
mesmo pôde ser detectado nas comparações com a Estação Ponta do Céu I. Este
problema acarreta incertezas de, em média, 16,5 cm nos períodos de cheia e 19,7 cm
na estiagem na estação de referência (considerando os dados filtrados). Esses valores
seriam considerados inadequados, caso a redução de sondagens do Canal do Curuá
fosse baseada estritamente nos resultados do modelo obtidos para a estação. No
entanto, apesar destas diferenças serem incompatíveis
14
com a acurácia requerida para
a definição de data de maré e redução de sondagens, elas somente foram verificadas
nas imediações da estação maregráfica. Ao longo do canal, onde efetivamente foi
conduzido o LH, o modelo apresentou resultados coerentes com os fundeios
realizados e curvas de maré não tão distorcidas quanto nas proximidades da estação
maregráfica.
Algumas hipóteses (ou combinação delas) são levantadas para explicar o motivo pelo
qual o modelo hidrodinâmico não conseguiu reproduzir as interações não-lineares
entre as componentes harmônicas da maré de Escola do Igarapé Grande do Curuá:
O modelo não foi configurado para simular os efeitos de alagamento e
secamento nas planícies de maré adjacentes,
O conjunto de dados de batimetria e rugosidade inseridos no modelo podem
não ser representativos para aquele domínio (talvez reflitam condições
pretéritas),
A geometria do canal pode estar sendo mal dimensionada, e
Problemas na prescrição das condições de fronteira aberta, pois o FES2004
pode não ser suficientemente acurado em determinadas áreas como por
exemplo a região amazônica.
14 O valor recomendado por normas da DHN é 10cm.
79
5.4. Teste de sensibilidade do modelo à batimetria
Foram efetuados testes de sensibilidade do modelo a variações impostas nos valores
de batimetria dispostos na malha de elementos finitos. Os resultados alcançados com
este tipo de avaliação permitem uma calibração mais refinada do modelo contribuindo
para melhorar as previsões de nível nos pontos de interesse.
A configuração da batimetria de entrada influi diretamente nos resultados do modelo e
indiretamente contribui para o resultado da redução de sondagens (i.e. os resultados
das simulações são importantes na etapa do processamento da batimetria final que se
deseja conhecer). Dessa forma, é essencial que se examine a influência da batimetria
sobre as séries temporais de níveis calculados durante o processo de modelagem,
assim como a ordem de grandeza da incerteza introduzida no resultado final da
redução das sondagens.
O teste de sensibilidade do modelo à batimetria foi conduzido considerando os
cenários apresentados na Tabela 5. A batimetria foi alterada apenas na área
compreendida pelo polígono de redução de sondagens.
Tabela 5 – Cenários com as simulações realizadas para o teste de sensibilidade do modelo à
batimetria.
SECA Batimetria
alterada em
+20%
Batimetria
alterada em
-20%
Batimetria
alterada em
+10%
Batimetria
alterada em
-10%
Batimetria alterada
aleatoriamente em até
+20%
Batimetria alterada
aleatoriamente em até
-20%
CHEIA Batimetria
alterada em
+20%
Batimetria
alterada em
-20%
Batimetria
alterada em
+10%
Batimetria
alterada em
-10%
Batimetria alterada
aleatoriamente em até
+20%
Batimetria alterada
aleatoriamente em até
-20%
As simulações relativas ao teste de sensibilidade durante a cheia do rio Amazonas
(CHEIA) foram realizadas para o período de 01/05/2006 a 01/07/2006. Já o teste para
a época de estiagem (SECA) compreendeu o período de 13/09/2006 a 13/11/2006
(Figura 39). As alterações aleatórias introduzidas na batimetria foram realizadas com
auxílio do aplicativo Excel, no qual se usou a função “aleatório”.
80
Vazões diárias em Óbidos - 2006
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
20/04/06
02/05/06
14/05/06
26/05/06
07/06/06
19/06/06
01/07/06
13/07/06
25/07/06
06/08/06
18/08/06
30/08/06
11/09/06
23/09/06
05/10/06
17/10/06
29/10/06
10/11/06
Data
Vazões (m
3
/s)
Óbidos (Amazonas)
Período de Cheia
Período de Seca
Figura 39 – Gráfico com as vazões diárias em Óbidos durante parte de 2006, destacando os
períodos considerados para o teste de sensibilidade do modelo à batimetria.
Os nós da malha de discretização original contidos no polígono de redução de
sondagens foram manualmente selecionados e tiveram a sua batimetria alterada para
cada um dos casos (Figura 40).
As séries temporais geradas pelo modelo para a estação Barra Norte, em todos os
doze casos apresentados, foram comparadas às séries obtidas no modelo de 2006 para
o mesmo período.
81
Figura 40 – Nós da malha de discretização onde a batimetria foi alterada para o teste de
sensibilidade (os nós estão contidos no polígono vermelho).
5.5. Resultados do teste de sensibilidade à batimetria
Os resultados alcançados para os diversos cenários contemplados nos testes de
sensibilidade à batimetria foram organizados na Tabela 6 e na Tabela 7. O exemplo de
um dia no período de seca e de cheia estão plotados na Figura 41 e na Figura 42.
Tabela 6 – Resultados alcançados com o teste de sensibilidade. Diferenças entre os cenários
simulados e o modelo original de 2006 no período de cheia.
CHEIA
Batimetria
alterada em
+20%
Batimetria
alterada em
-20%
Batimetria
alterada em
+10%
Batimetria
alterada em
-10%
Batimetria
alterada
aleatoriamente em
até +20%
Batimetria
alterada
aleatoriamente em
até -20%
Média das
Diferenças (m)
0.083
-0.101
0.057 -0.036 0.047 -0.045
Média do
módulo das
Diferenças (m)
0.155
0.167
0.085 0.074 0.075
0.074
Máximas ou
Mínimas
diferenças
Encontradas
(m)
0.366
-0.398
0.251
-0.166 0.199 -0.181
Barra Norte
82
Tabela 7 – Resultados alcançados com o teste de sensibilidade. Diferenças entre os cenários
simulados e o modelo original de 2006 no período de seca.
SECA
Batimetria
alterada em
+20%
Batimetria
alterada em
-20%
Batimetria
alterada em
+10%
Batimetria
alterada em
-10%
Batimetria
alterada
aleatoriamente em
até +20%
Batimetria
alterada
aleatoriamente em
até -20%
Média das
Diferenças (m)
0.049
-0.062
0.027 -0.024 0.027
-0.029
Média do
módulo das
Diferenças (m)
0.142
0.153
0.072 0.069 0.068
0.068
Máximas ou
Mínimas
diferenças
Encontradas
(m)
0.344
-0.369
0.176
-0.159 0.169
-0.171
Os resultados não sofreram variações significativas entre os períodos analisados (seca
e cheia). As diferenças de 15,3 cm na seca e 16,7 cm na cheia, encontradas no
experimento em que as profundidades foram incrementadas em 20% dos valores
originais, corresponde ao resultado que mais se assemelhou aos dados observados
(Figura 43). As profundidades médias encontradas no polígono de redução são de,
em média, 14m e uma alteração de 20%, neste caso, significa tornar a área mais
profunda, em média 2,8 m.
83
Cheia
-1.5000
-1.0000
-0.5000
0.0000
0.5000
1.0000
1.5000
2.0000
2.5000
3.0000
11/5/06 3:00
11/5/06 4:00
11/5/06 5:00
11/5/06 6:00
11/5/06 7:00
11/5/06 8:00
11/5/06 9:00
11/5/06 10:00
11/5/06 11:00
11/5/06 12:00
11/5/06 13:00
11/5/06 14:00
11/5/06 15:00
11/5/06 16:00
11/5/06 17:00
11/5/06 18:00
11/5/06 19:00
11/5/06 20:00
11/5/06 21:00
11/5/06 22:00
11/5/06 23:00
12/5/06 0:00
12/5/06 1:00
12/5/06 2:00
12/5/06 3:00
Data-Hora
níveis modeladas (m)
Modelo original bat +10 bat +20 bat + aleat. bat -10 bat -20 bat - eleat.
Figura 41 – Resultados do teste de sensibilidade para um dia na cheia do regime fluvial do
Amazonas.
Seca
-1.5000
-1.0000
-0.5000
0.0000
0.5000
1.0000
1.5000
2.0000
2.5000
3.0000
23/9/06 3:00
23/9/06 4:00
23/9/06 5:00
23/9/06 6:00
23/9/06 7:00
23/9/06 8:00
23/9/06 9:00
23/9/06 10:00
23/9/06 11:00
23/9/06 12:00
23/9/06 13:00
23/9/06 14:00
23/9/06 15:00
23/9/06 16:00
23/9/06 17:00
23/9/06 18:00
23/9/06 19:00
23/9/06 20:00
23/9/06 21:00
23/9/06 22:00
23/9/06 23:00
24/9/06 0:00
24/9/06 1:00
24/9/06 2:00
24/9/06 3:00
Data-Hora
níveis modeladas (m)
Modelo original bat +10 bat +20 bat + aleat. bat -10 bat -20 bat - eleat.
Figura 42 – Resultados do teste de sensibilidade para um dia na seca do regime fluvial do
Amazonas.
84
Comparações dos Resultados do Teste de Sensibilidade
-3.00
-2.00
-1.00
0.00
1.00
2.00
3.00
12/5/06 0:00 14/5/06 0:00 16/5/06 0:00 18/5/06 0:00 20/5/06 0:00 22/5/06 0:00 24/5/06 0:00
Data-Hora
veis referidos ao
zero do modelo (m)
Dados Modelo Original bat +10 bat +20
Comparações dos Resultados do Teste de Sensibilidade
-2.50
-2.00
-1.50
-1.00
-0.50
0.00
0.50
1.00
1.50
2.00
2.50
13/5/06 0:00 13/5/06 2:24 13/5/06 4:48 13/5/06 7:12 13/5/06 9:36 13/5/06
12:00
13/5/06
14:24
13/5/06
16:48
13/5/06
19:12
13/5/06
21:36
14/5/06 0:00
Data-Hora
níveis referidos ao zero do modelo (m)
Dados Modelo Original bat +10 bat +20
Figura 43 – Comparação dos resultados do teste de sensibilidade com os dados observados em
duas escalas temporais distintas.
A avaliação proposta neste trabalho foi bastante simplista, pois só considerou
variações na batimetria. Em todo caso o modelo se mostrou bastante sensível a esse
parâmetro na área considerada, principalmente na região mais próxima à estação
Barra Norte, onde a maré se torna mais ou menos assimétrica em função da
profundidade. Na porção mais ao largo do canal, a deformação da curva de maré é
menos relevante (Figura 44 e Figura 45).
Outros fatores são considerados importantes na geração e modificação de harmônicos
e na deformação da maré. SPEER e AUBREY (1985) mostraram que interações entre
a friccção e a geometria do escoamento produzem efeitos não-lineares bastante
consideráveis, na medida em que a seção transversal varia com o tempo. Para
chegarem a essas conclusões, avaliaram as relações de fase entre as componentes M
2
e M
4
em vários experimentos nos quais se modificou a geometria de um canal
trapezoidal. Para uma calibração mais apurada do modelo, em futuros trabalhos,
85
sugere-se que seja feita uma investigação da influência da geometria do canal nos
níveis calculados, por meio de alterações controladas em outros parâmetros da seção
transversal, além da profundidade.
Em uma avaliação preliminar foi idealizado que um conjunto de dados batimétricos
atualizado pudesse ser incorporado sistematicamente à malha de cálculo a cada novo
LH de forma iterativa. Essa idéia adveio, principalmente, do fato de se tratar de um
problema auto-referenciado: deseja-se conhecer melhor as profundidades, mas ao
mesmo tempo, dados de batimetria são fundamentais para alimentar o sistema. O
problema que não se vislumbrou à época é que os LH normalmente não cobrem toda a
extensão do domínio e, portanto as batimetrias de certas áreas acabam se tornando
bastante frequentemente desatualizadas. E mais ainda: realizar LH anualmente em
todo o domínio é uma tarefa complicada, do ponto de vista logístico. Uma maneira de
resolver essa questão, ao se decidir futuramente pela operacionalização do modelo, é
considerar a batimetria de entrada do modelo como mais um fator de calibração.
Assim sendo mesmo que, após a validação do modelo hidrodinâmico, o conjunto de
dados batimétricos contidos na malha de cálculo não venha a refletir a realidade, isso
não deverá ser encarado como uma inconsistência, visto que o que interessa
primordialmente para a aplicação hidrográfica é o grau de acerto alcançado nos níveis
produzidos pela ferramenta computacional.
Essa abordagem reforça a necessidade da manutenção de uma rede permanente de
marégrafos na área, com o intuito de calibrar os modelos já existentes e aqueles a
serem implementados futuramente.
86
Fundeio 1/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
3/6/06 7:12 3/6/06 9:36 3/6/06 12:00 3/6/06 14:24 3/6/06 16:48 3/6/06 19:12 3/6/06 21:36 4/6/06 0:00 4/6/06 2:24
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 1 bat +20 bat +10
Fundeio 2/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
4/6/06 7:12 4/6/06 9:36 4/6/06 12:00 4/6/06 14:24 4/6/06 16:48 4/6/06 19:12 4/6/06 21:36 5/6/06 0:00
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 2 bat +20 bat +10
Fundeio 3/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
5/6/06 0:00 5/6/06 2:24 5/6/06 4:48 5/6/06 7:12 5/6/06 9:36 5/6/06 12:00 5/6/06 14:24 5/6/06 16:48
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 3 bat +20 bat +10
Figura 44 – Resultados dos testes de sensibilidade nos pontos de fundeio 1, 2 e 3.
87
Fundeio 4/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
5/6/06 16:48 5/6/06 19:12 5/6/06 21:36 6/6/06 0:00 6/6/06 2:24 6/6/06 4:48 6/6/06 7:12 6/6/06 9:36
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 4 bat +20 bat +10
Fundeio 5/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
6/6/06 12:00 6/6/06 14:24 6/6/06 16:48 6/6/06 19:12 6/6/06 21:36 7/6/06 0:00 7/6/06 2:24 7/6/06 4:48
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 5 bat +20 bat +10
Fundeio 6/2006
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
7/6/06 4:48 7/6/06 7:12 7/6/06 9:36 7/6/06 12:00 7/6/06 14:24 7/6/06 16:48 7/6/06 19:12 7/6/06 21:36
Data-Hora
Alturas em relação ao NMM (m)
Modelo Fundeio 6 bat +20 bat +10
Figura 45 – Resultados dos testes de sensibilidade nos pontos de fundeio 3, 4 e 5.
88
Capítulo 6
6. Análise e discussão dos resultados
6.1. O cálculo do Nível de Redução (NR) e do Lowest Astronomical Tide
(LAT)
Cada uma das 110 séries temporais geradas pelo modelo nos nós situados dentro do
polígono de redução de sondagens, para o ano de 2006, sofreu o processamento
representado na Figura 46.
Figura 46- Fluxograma de processamento para o cálculo dos data verticais.
As análises harmônicas (PUGH, 2004, FRANCO, 1997) foram executadas no módulo
“Analexec/Anhama” do PACMARE
15
para 13 espécies harmônicas e com intervalo
de confiança de 95%. O espectro de amplitudes residuais também foi calculado. Os
resultados da análise podem ser cadastrados em uma base de dados do módulo de
Análise e Previsão de Marés do SisBaHiA® para futuras aplicações.
15 O PACMARE foi escolhido por ser o programa compatível com o SISMARE do BNDO, sistema homologado pela DHN para
análise e previsão de marés no Brasil, gerando entre outros produtos, as Tábuas das Marés impressas e as previsões da página
oficial da DHN.
89
Para o cálculo do NR foi utilizado o método de COURTIER-BALAY cujas fórmulas
foram apresentadas na Tabela 2. Os resultados retratam o Z
0(NR)
de cada um dos 110
nós investigados, isto é, correspondem ao desnível entre o nível médio local e o NR.
Para o cálculo do Z
0(LAT)
foram feitas as previsões harmônicas de 228 meses (19
anos), tendo início em 01/01/2006. As previsões foram feitas com auxílio do
programa PACMARE, usando os arquivos de constantes harmônicas previamente
calculadas.
Posteriormente, foram plotadas, com auxílio do programa Surfer a variação espacial
de ambos os resultados e a diferença entre eles ao longo do polígono de redução. O
método de gridagem escolhido foi o Kriging.
O LAT e o NR foram igualmente estabelecidos para a estação de referência (Barra
Norte).
6.2. Mapas de distribuição espacial do NR e LAT
Os valores de Z
0
associados ao LAT e ao NR, calculados a partir das séries modeladas
permitiram a elaboração de mapas de distribuição espacial desses data locais (Figura
47 e Figura 48). Neste trabalho convencionou-se adotar valores de Z
0
negativos, pelo
fato do NR e do LAT estarem situados em planos inferiores ao plano do NM
(considerado como o nível zero). Os resultados para a região avaliada encontram-se
relacionados na Tabela 8.
O intervalo de variação do NR foi superior a do LAT em 26,4 cm. De acordo com os
resultados obtidos, o LAT pode ser considerado para a região como um critério mais
restritivo
16
para a navegação do que o NR: a diferença entre ambos foi de 22,4 cm em
média. Por outro lado, 55,9% dos valores de NR situam-se abaixo da média, contra
47,7% do LAT.
16 Quanto maior o valor de Z0, mais baixo é o plano do NR ou do LAT e menores as profundidades cartografadas.
90
Espacialmente, os padrões de distribuição do LAT e NR são bastante diferentes,
conforme pode ser verificado nos mapas da Figura 47 e da Figura 48. O NR apresenta
um padrão de distribuição mais gradual do que o LAT, apesar de sofrer variações
mais intensas, conforme pode se observado através dos resultados de amplitude de
variação e desvio padrão.
Tabela 8 – Resultados obtidos para o Z
0
LAT e NR.
Intervalo
de
variação
(cm)
Valor
Máximo
(cm)
Valor
Mínimo
(cm)
Valor
Médio
(cm)
Desvio
Padrão
% de valores
mais restritivos que a
média
Z
0
NR -112,2 -273,1 -160,9 -212,8 29,2 55,9
Z
0
LAT -85,8 -287,7 -201,9 -235,2 16,9 47,7
Uma porcentagem de 81% dos NR calculados para o polígono consiste em planos
situados acima do NR da estação de referência, Escola do Igarapé Grande do Curuá
(Barra Norte), correspondendo a uma diferença, em média, de 34,7cm. Quanto ao
LAT, 60% dos planos situam-se acima e a diferença é apenas de 14cm. Em outras
palavras, ao se extrapolar o NR da estação de referência para a região do canal (NR
uniforme), espera-se que as profundidades se tornem mais rasas do que se fossem
adotados os data (NR e LAT) representando um campo espacialmente variado.
91
700000 750000 800000
450000
500000
-290
-285
-280
-275
-270
-265
-260
-255
-250
-245
-240
-235
-230
-225
-220
-215
-210
-205
-200
-195
-190
-185
-180
-175
-170
-165
-160
-155
Barra Norte
Mapa de NR
Zo (NR) em cm
Figura 47 – Distribuição espacial do NR em relação ao NM local, ao longo do polígono de
redução de sondagens (assinalado em vermelho). Valores em centímetros. O trecho onde foi
realizado LH de 2006 está destacado em amarelo.
700000 750000 800000
450000
500000
Barra Norte
Zo (LAT) em cm
-290
-285
-280
-275
-270
-265
-260
-255
-250
-245
-240
-235
-230
-225
-220
-215
-210
-205
-200
Mapa de LAT
Figura 48– Distribuição espacial do LAT em relação ao NM local, ao longo do polígono de
redução de sondagens (assinalado em vermelho). Valores em centímetros. O trecho onde foi
realizado LH de 2006 está destacado em amarelo.
92
O mapa das diferenças entre o NR e o LAT (Figura 49) mostra, diferente do esperado,
que nem sempre o LAT consiste em um plano mais baixo do que o NR. O mapa
indica em azul escuro uma região onde o desnível entre o LAT e o NR é muito
significativo, ou seja, diferenças superiores a 50 cm chegando até 90 cm, sendo o
LAT o plano mais baixo. Na região em amarelo o NR aparece como um plano mais
baixo do que o LAT, porém a diferença não chega a 20 cm.
Figura 49 – Distribuição espacial das diferenças entre NR e LAT. Em azul está a região onde o
plano do LAT está situado abaixo do NR, em amarelo estão as áreas em que ocorre o inverso e
em branco onde ambos os planos de referência são coincidentes.
Foram construídas curvas de elevação geradas pelo modelo em nós representativos
para as regiões onde ocorreram as maiores diferenças, a fim de auxiliar na
interpretação deste resultado.
Para a área azul foi selecionado o nó 4010, onde o LAT foi determinado em um plano
de 82,88cm abaixo do NR. A região amarela foi representada pelo nó 4026 (com o
NR 16,21 cm abaixo do LAT). O LAT e o NR também foram plotados nas séries
700000 750000 800000
450000
500000
Mapa de Diferenças entre NR e LAT
Diferenças entre NR e LAT (cm)
-20
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
Barra Norte
93
relativas ao ponto de fundeio 11 da campanha de 2007, ao ponto de fundeio 3 de 2006
e à estação de referência. A Figura 50 mostra a localização dos pontos considerados.
Figura 50 – Mapa da área de interesse destacando os pontos de fundeios analisados em vermelho,
a estação Barra Norte e os nós onde ocorreram as maiores discrepâncias em verde.
Os resultados apresentados na Figura 51 e Figura 53 mostram que o LAT é um datum
vertical mais representativo para as menores baixa-mares do que o NR na região
estudada. Isto se dá pelo fato do NR ser calculado com base somente nas
componentes M
2
, S
2
, K
2
e N
2
. O NR conforme pôde ser verificado na Figura 47,
representa bem a tendência geral de amortecimento da amplitude de maré à medida
que ocorre o afastamento da estação de referência.
94
Em contrapartida, o LAT representa melhor o conjunto das componentes harmônicas
do local considerado, pois seu cálculo leva em conta toda a previsão de marés. O
padrão de distribuição espacial do LAT é mais complexo do que o do NR e não
consegue mostrar o amortecimento da maré indicado pela variação do NR.
Na área estudada, GALLO e VINZON (2005) avaliaram a influência fluvial na
geração de sobremarés e marés compostas como, por exemplo, a componente de alta-
frequência M
4
(sobre-harmônico de M
2
) e a de longo período Msf (composição de M
2
e S
2
).
A presença da Msf pode ser melhor percebida no gráfico da série temporal do nó
4026, representativo da área amarela. A Msf atua dentro de um período de
aproximadamente 15 dias, modulando os ciclos de sizígias e quadraturas e tornando
as baixa-mares de ambos os períodos mais ou menos semelhantes e menos baixas do
que normalmente se esperaria na ausência desta componente. A fórmula de cálculo do
NR não consegue identificar a influência deste importante constituinte harmônico
(Figura 51).
95
Nó 4026
-3.00
-2.00
-1.00
0.00
1.00
2.00
3.00
13/11/05 0:00
22/11/05 10:00
1/12/05 20:00
11/12/05 6:00
20/12/05 16:00
30/12/05 2:00
8/1/06 12:00
17/1/06 22:00
27/1/06 8:00
5/2/06 18:00
15/2/06 4:00
24/2/06 14:00
6/3/06 0:00
15/3/06 10:00
24/3/06 20:00
3/4/06 6:00
12/4/06 16:00
22/4/06 2:00
1/5/06 12:00
10/5/06 22:00
20/5/06 8:00
29/5/06 18:00
8/6/06 4:00
17/6/06 14:00
27/6/06 0:00
6/7/06 10:00
15/7/06 20:00
25/7/06 6:00
3/8/06 16:00
13/8/06 2:00
22/8/06 12:00
31/8/06 22:00
10/9/06 8:00
19/9/06 18:00
29/9/06 4:00
8/10/06 14:00
18/10/06 0:00
27/10/06 10:00
5/11/06 20:00
Data-Hora
Elevações Simuladas
Elevões NR LAT
Nó 4026
-3.00
-2.50
-2.00
-1.50
-1.00
-0.50
0.00
0.50
1.00
1.50
2.00
2.50
13/11/05
0:00
13/11/05
4:48
13/11/05
9:36
13/11/05
14:24
13/11/05
19:12
14/11/05
0:00
14/11/05
4:48
14/11/05
9:36
14/11/05
14:24
14/11/05
19:12
15/11/05
0:00
Data-Hora
Elevações Simuladas
Elevações NR LAT
Figura 51 – Séries modeladas para o nó 4026, onde a presença da Msf se faz sentir e o NR passa a
ser um critério mais restritivo e menos realista do que o LAT.
A Figura 52 mostra a distribuição espacial da amplitude da componente Msf ao longo
da área de interesse. Os valores foram determinados para cada um dos 110 nós do
polígono como resultado das análises harmônicas e posteriormente interpolados
espacialmente.
96
Figura 52 – Distribuição espacial da componente harmônica Msf.
As elevações calculadas pelo modelo para o nó 4010 apresentam uma curva com um
padrão bastante característico, com baixa-mares muito mais baixas do que o esperado
(Figura 53). Na escala temporal de dois dias nota-se que a duração das preamares é
superior a das baixa-mares. PUGH (1987) descreve estas marés como sendo do tipo:
“duplas preamares - baixa-mares mais baixas” (double high water - low water lower).
Esse é um fenômeno relacionado à relação de fase de M
2
e M
4
(2 GM
2
- GM
4
) que
causa variações no forma da curva de maré, tornando-a mais ou menos assimétrica e
com preamares e baixa-mares mais ou menos pronunciadas. No caso do nó 4010, a
diferença encontrada foi de aproximadamente 180°. Também nesta situação o LAT
consegue representar melhor a realidade, capturando as menores baixa-mares. O NR,
como já visto, subestima o fenômeno, acarretando incertezas muito altas (da ordem de
80cm). Na Figura 53 é possível perceber uma grande incidência de baixa-mares
negativas em relação ao NR.
97
Nó 4010
-3.00
-2.50
-2.00
-1.50
-1.00
-0.50
0.00
0.50
1.00
1.50
2.00
13/11/05 0:00
22/11/05 10:00
1/12/05 20:00
11/12/05 6:00
20/12/05 16:00
30/12/05 2:00
8/1/06 12:00
17/1/06 22:00
27/1/06 8:00
5/2/06 18:00
15/2/06 4:00
24/2/06 14:00
6/3/06 0:00
15/3/06 10:00
24/3/06 20:00
3/4/06 6:00
12/4/06 16:00
22/4/06 2:00
1/5/06 12:00
10/5/06 22:00
20/5/06 8:00
29/5/06 18:00
8/6/06 4:00
17/6/06 14:00
27/6/06 0:00
6/7/06 10:00
15/7/06 20:00
25/7/06 6:00
3/8/06 16:00
13/8/06 2:00
22/8/06 12:00
31/8/06 22:00
10/9/06 8:00
19/9/06 18:00
29/9/06 4:00
8/10/06 14:00
18/10/06 0:00
27/10/06 10:00
5/11/06 20:00
Data-Hora
Elevações Simuladas
Elevações NR LAT
Nó 4010
-3.00
-2.50
-2.00
-1.50
-1.00
-0.50
0.00
0.50
1.00
1.50
13/11/05
0:00
13/11/05
4:48
13/11/05
9:36
13/11/05
14:24
13/11/05
19:12
14/11/05
0:00
14/11/05
4:48
14/11/05
9:36
14/11/05
14:24
14/11/05
19:12
15/11/05
0:00
Data-Hora
Elevações Simuladas
Elevações NR LAT
Figura 53 - Séries modeladas para o nó 4010, onde a presença da relação de fase 2gM
2
-gM
4
(no
caso= 180° ) se faz presente. O LAT passa a ser um critério mais restritivo e mais realista do que
o NR.
Através dos resultados da análise harmônica dos nós do polígono de redução (da
mesma forma como foi elaborado o mapa de distribuição de Msf) foi possível
construir um mapa de assimetria para o local, ilustrando os efeitos mencionados de
distorção da maré (Figura 54). O mapa foi feito com base na relação 2GM
2
-GM
4
tal
98
qual já apresentado por FERNANDES (2006), com a diferença de que neste também
foram incluídas as quatro formas básicas da maré associadas às relações M
2
/M
4
= 0°,
90°, 180° e 270°.
Corroborando as observações sobre as posições relativas dos data NR e LAT e a
distorção sofrida pela maré ao se propagar pelo canal, a Figura 55 apresenta três
situações de maré distintas representando a área de interesse (2 pontos de fundeio e a
estação Barra Norte). Na figura superior é mostrado 1 dia de resultado e na inferior
um período de cerca de 6 meses :
A curva da estação de referência com assimetria positiva (enchentes com
duração inferior a 6 horas) e influência da componente Msf, além de NR mais
baixo do que o LAT;
A curva do fundeio 3 com baixa assimetria e NR coincidente ao LAT;
A curva do fundeio 11 com forte distorção da curva de maré, LAT mais baixo
do que o NR e amplitude de Msf não tão significativa.
99
Figura 54 – Mapa de assimetria indicando em azul a assimetria positiva, em vermelho a
assimetria negativa e os pontos onde a curva de maré assume a configuração de duplas baixa-
mares ou duplas-preamares.
M2+M4 quando a relação de fase = 90 graus
-150
-100
-50
0
50
100
150
0 5 10 15 20 25 30
Horas
alturas (cm)
M2 M4 M2+M4
M2+M4 quando a relação de fase = 0 graus
-150
-100
-50
0
50
100
150
0 5 10 15 20 25 30
Horas
alturas (cm)
M2 M4 M2+M4
M2+M4 quando a relação de fase = 180 graus
-150
-100
-50
0
50
100
150
0 5 10 15 20 25 30
Horas
alturas (cm)
M2 M4 M2+M4
M2+M4 quando a relação de fase = 270 graus
-150
-100
-50
0
50
100
150
0 5 10 15 20 25 30
Horas
alturas (cm)
M2 M4 M2+M4
100
NR e LAT função das séries de elevação
-3
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
0:00 2:24 4:48 7:12 9:36 12:00 14:24 16:48 19:12 21:36 0:00
Horas
Elevações referidas ao zero do modelo (m)
Fundeio 3 Fundeio 11 Barra Norte
NR
LAT
LAT
NR
NR=LAT
NR e LAT função das séries de elevação
-3
-2
-1
0
1
2
3
0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00 0:00
Horas
Elevações referidas ao zero do modelo (m)
Fundeio 3 Barra Norte Fundeio 11
NR
LAT
LAT
NR NR=LAT
Figura 55 - Duas escalas temporais distintas apresentando a complexidade da propagação de
maré na área de estudo e três casos de determinação de data verticais LAT e NR.
Em face ao exposto e com base em dados modelados, pode-se concluir que na área de
estudo o LAT representa um melhor datum vertical para a carta náutica, mais realista
e ao mesmo tempo capaz de prover segurança à navegação. O LAT não deve ser
considerado necessariamente um critério mais conservador, tendo em vista que em
certas regiões o plano do NR se situa abaixo do plano do LAT.
101
É recomendável que sejam realizadas coletas de dados de nível d’água, ao longo de
períodos superiores a um ano, para que se possa calcular o LAT efetivamente sobre
séries observadas (e não simuladas). De preferência, devem ser testados diferentes
períodos de um ano a fim de avaliar a influência das condições hidrológicas do rio
Amazonas e condições meterológicas sobre as componentes harmônicas do canal da
Barra Norte.
6.3. Procedimentos adotados para a redução de sondagens
Os dados brutos de batimetria e reduzidos utilizados neste trabalho foram levantados
pelo NHi Sirius e constam em arquivos anexos ao relatório final do LH 001/2006.
Os arquivos encontram-se no formato X-Y-T-Z (BRUTO) e X-Y-T-Z (REDUZIDO),
sendo o tempo T em Greenwich e o X-Y em coordenadas cartesianas. A coluna T foi
ordenada por data-hora-minuto-segundo e convertida para o fuso local (P) e as
colunas X-Y foram convertidas para as coordenadas métricas do modelo. As posições
foram plotadas no SURFER a fim de verificar a distribuição espacial das sondagens
(Figura 56).
Os arquivos originais de dados brutos e reduzidos continham 31539 dados de
batimetria densamente distribuídos em uma área relativamente pequena quando
comparada ao polígono de redução. Os dados originais haviam sido coletados pelo
NHi Sirius a cada 10 segundos. Em função da dificuldade de processamento dessa
quantidade de dados para o propósito deste trabalho, foi feita uma redução dos
arquivos originais de forma que os dados apresentassem um taxa de amostragem de 2
minutos. Os novos arquivos de dados brutos e reduzidos passaram a conter 1972
linhas, correspondendo a 6,25% do conjunto de dados inicial.
102
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
0
200000
400000
600000
800000
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]
Barra Norte
Oceano
Atlântico
Penrod
Santa Maria do Cocal
Ilha de Maracá
Guará
Canivete
Macapá
Santana
Afuá
Chaves
Vila Nazaré
Machadinho
Maguari
Localização das Estações
e Pontos de Fundeio
Figura 56- Mapa da região, com destaque para a área do Canal Norte, apresentando as estações
maregráficas em vermelho, pontos de fundeio em azul, polígono de redução em laranja e a área
levantada pelo NHi Sirius em 2006 em amarelo.
Os mapas de batimetria, construídos com a amostra de 6,25% dos dados originais,
apresentaram de forma representativa as principais feições de fundo.
Em seguida, foi criado um arquivo contendo os dados de níveis calculados pelo
modelo, relativos aos 20 nós situados dentro da área do LH (Figura 57).
103
Figura 57 - Mapa da região destacando em azul os 12 elementos da malha correspondentes à área
sondada pelo NHi Sirius em 2006. Para a redução foram utilizadas as séries de elevação
produzidas por 20 nós.
Os arquivos foram formatados em quatro colunas X-Y-T-
η sendo η correspondente às
elevações horárias (resultantes da modelagem) relativas ao período de sondagem de
04/06/06 09:00P a 17/06/06 17:00P, para cada um dos 20 nós considerados.
O valor de
η foi primeiramente corrigido considerando três situações distintas:
Caso 1: NM da estação de referência, Z
0(NR)
da estação de referência;
Caso 2: NM da estação de referência, Z
0(NR)
local (campo variado);
Caso 3: NM da estação de referência, Z
0(LAT)
local (campo variado);
Nesses três casos o NM foi considerado espacialmente uniforme e constante, tendo
sido calculado com base na média de todo o período observado na estação de
referência (2 meses).
Em LH, é necessário amarrar o NM e com ele o NR ou o LAT a uma RN ou a um
elipsóide de referência; em outras palavras, é importante estabelecer uma referência
absoluta para o nível médio do mar. Esses três casos analisados partem da premissa
que o único ponto com amarração geodésica corresponde à estação de referência,
onde efetivamente houve um nivelamento geométrico do zero da régua às referências
104
de nível (RN) materializadas no terreno. Além disso, não consideraram as flutuações
diárias de NM na estação de referência.
Quanto aos data verticais, no primeiro caso, o NR da estação de referência foi
extrapolado para toda a área de sondagem (NR uniforme) e nos outros dois casos
foram consideradas as variações espaciais do NR e do LAT apresentadas no item 6.2.
A Figura 58 ilustra um esquema de distribuição espacial dos data LAT, NR e NR da
estação de referência para uma situação hipoteticamente mais crítica em termos das
baixa-mares. Através desta figura procura-se mostrar a distribuição uniforme do NR
da estação de referência (extrapolado para toda a área de interesse) e a ondulação do
NR e do LAT, acompanhando as baixa-mares mais baixas ao longo de quatro nós do
domínio de modelagem. Em alguns pontos o NR situa-se acima do LAT, em outros
ocorre o oposto e há ainda a possibilidade de ambos os planos serem coincidentes. As
setas verticais indicam as diferentes correções a serem aplicadas na redução das
sondagens em função do datum escolhido.
Figura 58 – Esquema mostrando diversas possibilidades de ditribuições espaciais do LAT e NR.
Setas verticais representam os valores da série temporal utilizados na correção das sondagens
para cada um dos data.
O quarto caso analisado considerou o NM uniforme espacialmente, mas incluiu os
efeitos decorrentes das variações diárias do NM observados na Barra Norte (resíduo),
nos dados de saída do modelo η. Nesse caso, o datum vertical consistiu no NR
105
espacialmente variado, isto é, foram aplicadas correções de Z
0(NR)
em cada um dos 20
nós considerados.
Caso 4: NM da estação de referência variável no tempo, Z
0(NR)
local (campo
variado).
No quinto caso foram adotados o NM e o NR espacialmente variados nas séries
modeladas. Os NM variados no domínio foram calculados em relação ao zero do
modelo durante o processo de análise harmônica com auxílio do PACMARE, para
cada um dos nós avaliados, e sua distribuição ao longo do polígono de redução é
apresentada na Figura 59.
Caso 5: NM variado (zero do modelo como referência), Z
0(NR)
local (campo
variado).
Finalmente o sexto caso incorporou ao Caso 5, o resíduo observado na estação de
referência.
Caso 6: NM variado (zero do modelo como referência) somado às variações
temporais, Z
0(NR)
local (campo variado).
Os seis casos estão esquematicamente representados da Figura 60 à Figura 65.
Figura 59 – Variação espacial do NM na área de interesse.
106
Figura 60 – Esquema representativo do caso 1: NM da estação de referência, Z
0(NR)
da estação de
referência.
Figura 61 – Esquema representativo Caso 2: NM da estação de referência, Z
0(NR)
local.
Nó da área
de sondagem
NM da est de ref.
NR do nó local
Zero da régua da est de
ref.
Z
0(NR)
do nó
So=414,16cm
Caso 2
η = ELEV + Z
0(NR)
do nó (local)
η
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)
Nó da área
de sondagem
NM da est de ref.
NR da est de ref.
Zero da régua da est de
ref.
Z
0(NR)
est de ref
So=414,16cm
Caso 1
η = ELEV + Z
0(NR)
est de ref
η
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)
107
Figura 62 – Esquema representativo Caso 3: NM da estação de referência, Z
0(LAT)
local.
Figura 63 – Esquema representativo Caso 4: NM da estação de referência com variação horária,
Z
0(NR)
local.
Nó da área
de sondagem
NM da est de ref.
Variável (instante 1)
NR do nó local
Zero da régua da est de
ref.
Z
0(NR)
do nó
So=414,16cm
Caso 4
η = ELEV + Z
0(NR)
do nó
η
NM da est de ref.
Variável (instante 2)
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)
Nó da área
de sondagem
NM da est de ref.
LAT do nó local
Zero da régua da est de
ref.
Z
0(LAT)
do nó
So=414,16cm
Caso 3
η = ELEV + Z
0(LAT)
do nó (local)
η
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)
108
Figura 64 – Esquema representativo Caso 5: NM com variação espacial, Z
0(NR)
local.
Figura 65 - Esquema representativo Caso 6: NM com variação espacial e temporal, Z
0(NR)
local.
Nó da área
de sondagem
NM da est de ref.
(
instante 1
)
NR do nó local
Zero da régua da est de
ref.
Z
0(NR)
do nó
So=414,16cm
Caso 6
η = ELEV + Z
0(NR)
do nó
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)
η
NM do nó
(instante 1)
NM da est de ref.
(
instante 2
)
NM do nó
(instante 2)
NM do nó
Nó da área
de sondagem
NM da est de ref.
NR do nó local
Zero da régua da est de
ref.
Z
0(NR)
do nó
So=414,16cm
Caso 5
η = ELEV + Z
0(NR)
do nó
η
ELEV (resultado do modelo para o nó corrigido para o NM considerado)
109
Foi elaborada uma rotina no Matlab para o cálculo das correções de maré a serem
empregadas nas batimetrias brutas (para cada um dos seis casos apresentados). A
rotina está transcrita no Apêndice D e basicamente realiza uma interpolação linear das
informações contidas no arquivo X-Y-T-
η (saída do modelo) para os 1972 pontos
onde foram medidas as profundidades nos respectivos horários. O arquivo de pontos
contém o formato reproduzido na Figura 66
Figura 66 – Modelo de arquivo de pontos contendo as coordenadas X e Y e os instantes T de
coleta dos dados batimétricos. O tempo está representado em formato numérico com quatro
casas decimais.
No item 6.4 são feitas considerações sobre a interpolação linear adotada.
Os arquivos de correção calculados para cada um dos casos foram aplicados à
batimetria bruta gerando dados reduzidos os quais foram confrontados ao arquivo de
dados batimétricos fornecido pelo CHM cuja redução foi feita pelo NHi Sirius
utilizando o método das subáreas de redução.
Um esquema com as principais cotas da estação de referência (Escola do Igarapé
Grande do Curuá/ Barra Norte) foi incluído no Apêndice B. Em tal esquema estão
indicados: o zero do modelo, o zero da régua de 1996 (referente ao período padrão da
estação) e o zero da régua de 2006 (relativo à observação), além dos planos do NM e
NR compilados das Fichas F-41.
X Y T
110
6.4. Considerações sobre a interpolação linear
Foram feitos dois tipos de testes a fim de verificar a incerteza introduzida na
metodologia diante do uso da interpolação linear sobre as séries temporais produzidas
pelo modelo hidrodinâmico.
O primeiro teste foi conduzido no sentido de avaliar a interpolação linear ao longo do
espaço. Foram comparados os resultados das elevações calculadas pelo modelo para o
ponto correspondente ao Fundeio 6 com as séries interpoladas para o mesmo ponto a
partir dos quatro nós mais próximos. O cálculo da interpolação espacial foi feito por
meio de uma rotina desenvolvida no programa Matlab (Apêndice D). Os lados do
quadrilátero considerado são de aproximadamente 9,2 km (Figura 67). As diferenças
encontradas foram em média inferiores a 1cm (Figura 68).
Figura 67- Esquema da interpolação espacial para o ponto de fundeio 6.
Fundeio 6
3962
3961
3903
3902
~ 9, 2km
~ 5 km
111
série obtida diretamente pelo modelo
x
Série obtida por interpolação linear dos nós vizinhos
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
1 581 1161 1741 2321 2901 3481 4061 4641 5221 5801 6381 6961 7541 8121 8701
número de horas
Diferenças (cm)
Figura 68– Valores de diferenças nas elevações encontradas para o Fundeio 6 em função do
método de obtenção da série temporal para um período de um ano.
O segundo teste procurou avaliar dois métodos de interpolação temporal distintos,
linear e cubic spline, em uma série oriunda do modelo. A série foi convertida da taxa
amostral de 1 hora para 1 minuto utilizando os dois métodos. A função cubic spline
foi considerada por SILVA e ALVES (2002) mais precisa para a construção de
diagramas de redução de profundidades a intervalos regulares de 10 minutos
interpolados a partir de dados horários. As séries comparadas foram plotadas na
Figura 69. As diferenças encontradas foram em média de 2,3cm.
Comparação interpolação linear e cubic spline
-200
-150
-100
-50
0
50
100
150
200
250
1 306 611 916 1221 1526 1831 2136 2441 2746 3051 3356 3661 3966 4271 4576 4881 5186 5491
número de horas
elevações (cm)
interpolação temporal Cubic Spline interpolação temporal Linear
Figura 69 – Valores de diferenças nas elevações encontradas para o Fundeio 6 em função do
método de obtenção da série temporal.
112
Conclui-se que o método de interpolação linear, utilizado nesta dissertação para o
cálculo das correções de maré a serem aplicadas nas sondagens, agrega à metodologia
incertezas inferiores a 0,5% das alturas de maré encontradas na região de estudo.
6.5 Redução das sondagens : resultados obtidos
Na apresentação dos resultados referentes à redução da batimetria, é importante
salientar que a área de sondagem deste teste corresponde a uma pequena região do
polígono de redução. Para se ter uma idéia da ordem de grandeza, a distância entre
nós extremos do polígono de redução é de aproximadamente 144 km, enquanto entre
os limites da área sondada pelo NHi Sirius em 2006 há apenas 27,5 km. Sem dúvida,
neste pequeno trecho a variação da maré não é tão significativa quanto se fosse
considerada a área total e portanto, o teste metodológico torna-se limitado pela
ausência de dados batimétricos em todo trecho investigado. Além disso, devido à
proximidade da estação de referência, a maré da área da sondagem de 2006 guarda
uma forte relação com os dados medidos durante a execução do LH. Assim sendo, as
diferenças observadas em relação ao NR e LAT não serão tão evidentes nesta pequena
área.
Isso também significa dizer que as incertezas resultantes da aplicação do método de
redução proposto não poderão ser extrapoladas para toda a batimetria do canal. Assim
que forem coletados dados batimétricos ao longo de toda a extensão do Canal do
Curuá, o método deverá ser novamente testado, principalmente nos pontos situados no
limite do polígono de redução, onde as incertezas decorrentes do zoneamento discreto
de marés são bem mais significativas.
Em futuros trabalhos será possível agregar informações do mapeamento do NM ao
elipsóide do sistema WGS-84 em cada nó do modelo (e também o NR e o LAT), a
partir de levantamentos com GPS diferencial preciso, conforme proposto por RAMOS
e KRUEGER (2006). Somente diante dessa perspectiva será possível realizar os LH
sem necessidade da régua maregráfica da estação de referência.
113
Em todos os seis casos testados existe uma considerável incerteza associada ao NM
na área de sondagem, tanto ao se extrapolar o NM da estação de referência para toda a
área, quanto ao se adotar os resultados de NM do modelo. A limitação do método
adotado, relacionada à determinação do NM, também poderá ser corrigida com a
devida amarração ao elipsóide do sistema WGS-84. Essa tarefa será possivelmente
empreendida como continuação a este estudo pelo Centro de Hidrografia da Marinha.
Vale a pena frisar que o método empregado pelo NHi Sirius parte do pressuposto que
o NM é coincidente para toda área de sondagem, ou seja, equivale a abordagem dos
casos 1, 2, 3 e 4.
O mapa de batimetria reduzida feito por ocasião do LH 001/2006 (NHi Sirius) é
apresentado na Figura 70. A variação do NR no método do zoneamento discreto é
feita por faixas com desníveis de, no máximo 10 cm, e o NM é o mesmo calculado na
estação maregráfica de referência.
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000
436000
438000
440000
442000
444000
446000
448000
450000
452000
Profundidades
Reduzidas (m)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
REDUÇÃO SIRIUS
Figura 70 – Profundidades reduzidas pelo NHi Sirius (método do Zoneamento Discreto de Maré,
NM uniforme e NR variado).
114
As profundidades variam significativamente entre os métodos avaliados conforme
pode ser observado na Tabela 9. Diferenças de até ± 4m foram encontradas em todos
os casos. As diferenças absolutas médias encontradas foram da ordem de 1,30 m e se
alternam entre valores negativos e positivos. Esses resultados mostram que as
incertezas decorrentes da metodologia empregada para a redução de sondagens situem
esta área fora da classificação de Ordem Especial ou mesmo de Primeira Ordem,
conforme preconizado pelo IHO, confirmando os resultados encontrados no trabalho
anterior de FERNANDES (2006).
Tabela 9 – Diferenças nas profundidades reduzidas em função do método de redução
(zoneamento discreto-Sirius x modelagem hidrodinâmica- casos 1 ao 6).
Método das subáreas
x
Método da
Modelagem
Intervalo de
variação das Diferenças
(m)
Diferença
Máxima
(m)
Diferença
Mínima
(m)
MAE
(m)
Caso 1
4,59 2,30
-2,29 1,17
Caso 2
4,05
2,46
-1,59
1,20
Caso 3
4,07 2,52
-1,55
1,22
Caso 4
4.89
2.60
-2.29
1,27
Caso 5
4.92 2.63
-2.29 1,35
Caso 6
4.02
2.77
-1.25
1,42
As diferenças entre as batimetrias reduzidas foram mapeadas e apresentadas da Figura
71 à Figura 76. As diferenças negativas em vermelho significam que a profundidade
final obtida pelo Sirius é menor do que a calculada pelo método proposto (o navio
está assumindo uma batimetria mais rasa e, portanto, pode ser mais seguro e mais
proibitivo navegar nestes trechos). Diferenças positivas em azul significam que a
profundidade reduzida pelo Sirius é maior do que a sugerida pelo método da
modelagem (o navio está admitindo uma batimetria mais profunda, dando
teoricamente mais calado em áreas eventualmente mais rasas).
115
Diferenças em metros
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000
436000
438000
440000
442000
444000
446000
448000
450000
452000
Diferenças entre o Zoneamento Discreto
e Modelagem (Caso 1)
-1.6
-1.4
-1.2
-1
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
1.8
2
2.2
2.4
2.6
2.8
3
Figura 71 - Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado
(utilizando o NR da estação de referência como datum vertical). A linha verde envolve o trecho
sondado.
116
Diferenças em metros
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000
436000
438000
440000
442000
444000
446000
448000
450000
452000
Diferenças entre o Zoneamento Discreto
e Modelagem (Caso 2)
-1.6
-1.4
-1.2
-1
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
1.8
2
2.2
2.4
2.6
2.8
3
Figura 72 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado
(utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente). A linha verde envolve o trecho
sondado.
117
Diferenças em metros
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000
436000
438000
440000
442000
444000
446000
448000
450000
452000
Diferenças entre o Zoneamento Discreto
e Modelagem (Caso 3)
-1.6
-1.4
-1.2
-1
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
1.8
2
2.2
2.4
2.6
2.8
3
Figura 73 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado
(utilizando o LAT como datum vertical, variado espacialmente). A linha verde envolve o trecho
sondado.
118
Diferenças em metros
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000
436000
438000
440000
442000
444000
446000
448000
450000
452000
Diferenças entre o Zoneamento Discreto
e Modelagem (Caso 4)
-2
-1.8
-1.6
-1.4
-1.2
-1
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
1.8
2
2.2
2.4
2.6
2.8
3
Figura 74 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado
(utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM uniforme e variável). A linha
verde envolve o trecho sondado.
119
Diferenças em metros
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000
436000
438000
440000
442000
444000
446000
448000
450000
452000
Diferenças entre o Zoneamento Discreto
e Modelagem (Caso 5)
-2
-1.8
-1.6
-1.4
-1.2
-1
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
1.8
2
2.2
2.4
2.6
2.8
3
Figura 75 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado
(utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM variado). A linha verde
envolve o trecho sondado.
120
Diferenças em metros
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000
436000
438000
440000
442000
444000
446000
448000
450000
452000
Diferenças entre o Zoneamento Discreto
e Modelagem (Caso 6)
-1.4
-1.2
-1
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
1.8
2
2.2
2.4
2.6
2.8
3
3.2
Figura 76 – Diferenças observadas na redução das sondagens em função do método empregado
(utilizando o NR como datum vertical, variado espacialmente e NM variado e variável). A linha
verde envolve o trecho sondado.
Os mapas de diferenças, contrapondo as correções advindas do modelo às correções
pelo método das subáreas de redução, mostram nitidamente o problema de se
empregar a discretização espacial na redução dos dados brutos de batimetria. Esse
método gera um padrão listrado de áreas com diferenças tanto positivas quanto
negativas. Os “degraus” encontrados se correlacionam espacialmente com os limites
das subáreas conforme pode ser verificado na Figura 77. Pode-se deduzir que o
método do zoneamento discreto implica em incertezas que ora podem colocar em
risco a navegação, ora podem criar uma situação de excessiva precaução, dependendo
da subárea de redução em que estiver trafegando a embarcação.
121
700000 720000 740000 760000 780000 800000 820000
440000
460000
480000
500000
520000
Figura 77 – Mapa das diferenças com a sobreposição dos limites das subáreas de redução.
Os resultados dos casos 2 e 3 são os mais similares, já que o trecho sondado
corresponde a uma região onde o LAT e o NR são praticamente coincidentes. Em
função da referência vertical empregada não ser relevante na área do LH, os casos 4, 5
e 6 foram testados apenas para o NR.
A variação entre dois casos é ilustrada na Figura 78, onde são representadas as
diferenças encontradas entre os Casos 1 e 2, NR variado e NR uniforme (proveniente
da estação de referência). Observa-se que a distribuição espacial das diferenças é bem
mais suave (sem os degraus), com valores de, no máximo, 30 centímetros. Conforme
pode ser verificado na Tabela 10, esta incerteza encontrada é muito menos
significativa do que aquelas observadas na comparação entre casos 1 ao 6 com o
método do zoneamento discreto. Porém, cabe salientar novamente que na área total de
redução são esperadas variações maiores.
122
Diferenças em metros
-0.3
-0.28
-0.26
-0.24
-0.22
-0.2
-0.18
-0.16
-0.14
-0.12
-0.1
-0.08
-0.06
-0.04
-0.02
0
0.02
0.04
0.06
0.08
0.1
0.12
0.14
0.16
0.18
0.2
0.22
710000 712000 714000 716000 718000 720000 722000
436000
438000
440000
442000
444000
446000
448000
450000
452000
Diferenças entre a redução feita com a modelagem numéric
a
NR variado x NR uniforme
Figura 78 – Diferenças na profundidade reduzida pela modelagem hidrodinâmica entre os casos
1 e 2, NR uniforme (est. de referência) em contraposição ao NR variado. A linha verde envolve o
trecho sondado.
Tabela 10 – Resultados da comparação entre a aplicação do datum vertical variado e o datum
vertical uniforme utilizando a mesma metodologia.
Método da
Modelagem
Intervalo de
variação das Diferenças
(m)
Diferença
Máxima
(m)
Diferença
Mínima
(m)
MAE
(m)
NR uniforme
x
NR variado
0,5044
0,22
-0,28
0,13
Na Figura 79 e na Figura 80 são apresentados, a título de ilustração, mapas de
batimetrias reduzidas, construídos com o aplicativo Geosoft (www.geosoft.com
). Os
exemplos correspondem à redução feita com o método do zoneamento discreto e com
a modelagem numérica (caso 4).
123
Figura 79 – Mapa de batimetrias reduzidas realizadas no LH de 2006 (zoneamento discreto).
124
Figura 80 – Mapa de batimetrias reduzidas realizadas com a modelagem numérica (caso 4).
6.6. Previsão dos níveis
Como foi verificado no item 6.1, o modelo hidrodinâmico implementado ao longo do
desenvolvimento deste trabalho consiste, por si só, em uma ferramenta para a efetiva
previsão de níveis. Os resultados fornecidos pelos modelos também podem ser
explorados indiretamente para a geração de diversos produtos voltados para a
navegação na Barra Norte, e um exemplo de aplicação é a obtenção de constantes
harmônicas específicas para determinados pontos ao longo de todo o canal de
navegação.
125
Atualmente na região da Barra Norte, o CHM divulga previsões harmônicas (Tábuas
das Marés) apenas para a estação Ponta do Céu. Além disso, publica uma nota na
carta 200 “Da Ilha de Maracá à Ilha do Machadinho”, com a explicação de um
método expedito para a previsão de maré para um único ponto denominado “estação
H”, a partir de informações provenientes de Ponta do Céu (Figura 81 e Figura 82). Os
fatores de correção em fase e amplitude empregados na previsão de Ponta do Céu e
apresentados na nota foram calculados a partir dos dados dos fundeios de 1999,
também utilizados no estudo de DE PAULA (1999).
Figura 81 – Extrato da carta náutica 200 contendo nota sobre a “Estação H”.
Com o resultado do modelo, foi possível obter séries de elevações dos nós 3901,
3960, 3900 e 3959, mais próximos a este ponto, e realizar uma interpolação linear
para as coordenadas do PONTO H. A Figura 83 mostra o resultado desta interpolação.
A série interpolada foi analisada pelo método harmônico para a posterior previsão (as
constantes harmônicas estão listadas no Apêndice B).
126
0 200000 400000 600000 800000 1000000 1200000
0
200000
400000
600000
800000
[0,0] = UTM [588952.99 , 9668415.69]
Barra Norte
Oceano
Atlântico
Penrod
Santa Maria do Cocal
Ilha de Maracá
Guará
Canivete
Macapá
Santana
Afuá
Chaves
Vila Nazaré
Machadinho
Maguari
Localização das Estações
e do Ponto H
PONTO H
Figura 82 – Mapa de localização das estações e do Ponto H.
Valores interpolados para o PONTO H
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
2/9/05 0:00 2/9/05 2:24 2/9/05 4:48 2/9/05 7:12 2/9/05 9:36 2/9/05 12:00 2/9/05 14:24 2/9/05 16:48 2/9/05 19:12 2/9/05 21:36 3/9/05 0:00
Data-Hora
níveis (m) em relação ao zero do modelo
NÓ 3901 NÓ 3960 NÓ 3900 NÓ 3959 PONTO H
Figura 83 – Valores interpolados para o Ponto H (exemplo de 1 dia).
Com base nas constantes calculadas foi realizada uma previsão de maré para o ponto
H e, no mesmo período, obtidos os valores de preamares e baixa-mares de acordo com
o método expedito descrito na carta náutica (Figura 82). A comparação é mostrada na
Figura 84. Nesse período simulado observam-se diferenças da ordem de 17 cm.
127
Essa aplicação comprova o potencial do modelo para a criação de produtos de auxílio
à navegação ao longo do Canal da Barra Norte. As constantes poderiam subsidiar o
desenvolvimento de tábuas digitais direcionadas para os pontos mais sensíveis,
facilitariam a atualização das notas das cartas náuticas impressas, tornando as
informações mais fidedignas, contribuiriam para a geração de elementos para a carta
eletrônica, entre outras inovações.
PREVISÕES DE NÍVEL PARA O PONTO H
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3/3/06 0:00
4/3/06 0:00
5/3/06 0:00
6/3/06 0:00
7/3/06 0:00
8/3/06 0:00
9/3/06 0:00
10/3/06 0:00
DATA-HORA
ELEVAÇÕES (m) referidas ao zero do modelo
Previsão Harmônica método da carta
Figura 84 – Gráfico apresentando as previsões realizadas para o PONTO H com o modelo
hidrodinâmico e com o método harmônico (a partir das constantes geradas com o modelo), além
dos valores de preamares e baixa-mares calculados conforme instrução da carta náutica.
128
Capítulo 7
7. Conclusões e Recomendações
Tendo em vista os resultados alcançados, pode-se concluir que a validação de uma
metodologia que emprega modelos hidrodinâmicos costeiros para a atividade
hidrográfica foi um objetivo alcançado neste trabalho.
Por outro lado, para a operacionalização da metodologia no âmbito do CHM, um
aspecto fundamental que deverá ser empreendido como continuação a este trabalho é
a validação do modelo hidrodinâmico. Nesse contexto, o estuário do Amazonas deve
ser considerado um ambiente de características bastante especiais em termos de escala
espacial, dinâmica de marés, vazão fluvial, dinâmica sedimentar, que tornam o
processo de calibração e validação do modelo um fator complicador. As dificuldades
devem-se principalmente à carência de dados e ao desconhecimento de alguns
processos físicos atuantes naquela região. A calibração preliminarmente realizada
neste estudo procurou dar um grau de confiabilidade aos resultados, de forma a
legitimar a metodologia especificamente na área de redução de sondagens do Canal da
Barra Norte. No entanto, em termos de calibração do modelo são feitas as seguintes
recomendações para os próximos trabalhos:
- considerar os efeitos de alagamento e secamento nas margens dos canais, em
áreas de planícies de maré;
- realizar testes de sensibilidade considerando a rugosidade equivalente de
fundo;
- ampliar a rede de observação maregráfica na região, de modo a garantir pelo
menos um ano de observação nas estações maregráficas mais importantes e em pontos
situados ao longo do Canal Grande do Curuá. O ideal seria realizar medições
permanentes, uma vez que a maré é fortemente condicionada pela vazão fluvial;
129
- realizar levantamentos batimétricos sistemáticos em todo o trecho do canal,
preferencialmente com o ecobatímetro multi-feixe;
- efetuar medições de correntes a fim de tornar possível a investigação dos
padrões de circulação na região;
- avaliar as constantes do FES 2004 divulgadas para a região, principalmente
aquelas referentes à componente M
4
e confrontá-las a outras bases de dados
eventualmente disponíveis.
Nos próximos trabalhos de modelagem hidrodinâmica na região recomenda-se
incorporar ao modelo o campo de ventos e simular efeitos baroclínicos.
O modelo hidrodinâmico se mostrou particularmente sensível à batimetria, sendo que
no teste de sensibilidade empreendido houve pouca variação nos resultados, em
função do período analisado (cheia e estiagem). Os níveis gerados com alterações na
batimetria da ordem de -20% foram os que melhor se correlacionaram aos dados
observados na estação Barra Norte em termos de altura e assimetria de maré; a fase da
onda de maré não foi afetada pelos testes. Ao longo do canal, área efetivamente
investigada no que se refere à redução de sondagens, o teste se mostrou menos
expressivo. Especificamente para a aplicação proposta neste trabalho, a batimetria
pode vir a ser tratada como mais um fator de calibração do modelo, face à necessidade
de se estabelecer precisamente os níveis a serem usados no mapeamento dos campos
de LAT e NR e na redução de sondagens e principalmente em virtude da inexistência
de dados de batimetria atuais que recubram a área do domínio em toda a sua extensão.
Após o ajuste da condição de contorno oceânica, as defasagens encontradas entre as
séries temporais de elevação modeladas e observadas na estação Barra Norte foram de
6 minutos. Em alturas foram encontradas diferenças de, em média, 23 cm. As
flutuações diárias de nível médio observadas em dados medidos foram consideráveis
nos dois anos avaliados (da ordem de 30 cm). Após a filtragem das oscilações de
baixa freqüência nos dados observados, as diferenças em alturas passaram para
aproximadamente 16 cm, o que corresponde a 4% de incerteza em relação às alturas
de maré de 4 metros típicas do local. Os dados coletados nos pontos de fundeio ao
130
longo do canal acompanharam de forma bastante consistente o comportamento dos
níveis simulados com o modelo.
Neste trabalho foi possível confirmar o potencial da modelagem hidrodinâmica na
previsão de níveis. A abrangência espacial alcançada pelo modelo é o maior
diferencial em relação à previsão harmônica atualmente divulgada para região. A
acurácia alcançada com o modelo foi similar àquela obtida com a previsão, quando
feitas comparações aos dados observados. Nesse caso, a previsão pode ser realizada
tanto a partir dos resultados do modelo propriamente dito, quanto indiretamente
através do emprego do conjunto de constantes harmônicas gerado nos pontos onde o
modelo foi calibrado. Essa aplicação é bem promissora para a confecção de produtos
de auxílio à navegação, como cartas de corrente de maré, tábuas das marés digitais,
notas em cartas eletrônicas, entre outros.
Em função dos resultados obtidos, pode-se concluir que a modelagem hidrodinâmica
se mostrou uma ferramenta útil na determinação de níveis de referência para a carta
náutica, capaz de reproduzir a variabilidade espacial destes data ao longo de todo o
trecho investigado, reduzindo as incertezas decorrentes da extrapolação espacial dos
planos de referência de estações maregráficas costeiras.
Dentre os data avaliados, o LAT foi o que se mostrou mais interessante para as
aplicações relacionadas à segurança da navegação, por representar efetivamente o
nível das mais baixas baixa-mares, corroborando as recomendações da IHO. Isso se
dá porque, ao contrário do NR, o cálculo do LAT é realizado de forma a levar em
consideração todo o conjunto de componentes harmônicas do local, inclusive as
constituintes de águas rasas (e.g. Msf e M
4
) que assumem grande importância em
sistemas estuarinos.
É necessário que o nível de confiabilidade dos resultados do modelo seja futuramente
aferido, com medições de séries de nível em alguns pontos do Canal Norte
correspondentes a nós de cálculo da malha de elementos finitos empregada neste
estudo. As observações podem ser eventualmente realizadas com bóias RTG. Os
131
dados de variação de nível utilizados neste trabalho, obtidos com o ecobatímetro,
apresentam grandes limitações e considerável imprecisão.
Uma das recomendações da IHO quanto à questão do referenciamento da carta
náutica prevê que, caso o LAT não seja empregado diretamente nas reduções
batimétricas, ao menos as diferenças entre o datum vertical nacional (NR) e o LAT
sejam especificadas na carta. Na região de interesse para este trabalho, dominada por
processos não-lineares que contribuem para geração de harmônicos de água rasa, as
diferenças entre LAT e NR encontradas não apresentaram um padrão de variação
espacial uniforme que permitisse o cumprimento da deliberação nos termos propostos.
A alternativa, após o definitivo estabelecimento do datum, será migrar efetivamente a
referência da carta do NR ao LAT, de modo a gerar novos valores de profundidade e
novos traçados das isobatimétricas.
A redução de sondagens realizada com auxílio do modelo hidrodinâmico apresentou
resultados consistentes com o trabalho anterior de FERNANDES (2006). Nos casos
investigados as diferenças encontradas entre a metodologia de zoneamento discreto de
marés (subáreas de redução) e a modelagem foram, em termos absolutos, de 1,3 m em
média. Diferenças de até ± 2,5 metros foram encontradas produzindo incertezas muito
altas em uma região reputada crítica à navegação. A área pesquisada situa-se
relativamente próxima à estação maregráfica de referência e corresponde a um trecho
proporcionalmente pequeno quando comparado a toda região onde são realizados os
levantamentos hidrográficos. Espera-se que as incertezas atribuídas à redução de
sondagens ao longo do canal possam ser ainda maiores à medida que se distancia da
estação maregráfica.
A metodologia pressupõe que sejam efetuados registros de maré concomitantes à
sondagem batimétrica, a fim de aplicar as variações de nível médio observadas na
estação maregráfica às séries simuladas a serem usadas na correção das sondagens.
Esta limitação do método somente poderá ser resolvida com o emprego de
levantamentos com GPS diferencial preciso, que permite o referenciamento do NM e
dos data verticais diretamente ao elipsóide do sistema WGS-84.
132
Quanto à redução das batimetrias, o padrão de distribuição espacial das diferenças
encontradas entre as metodologias testadas (em desníveis) sugere uma correlação com
os limites das subáreas de redução, o que deverá ser confirmado em estudos
subseqüentes.
Os resultados encontrados no dado batimétrico reduzido mostraram que nesta pequena
área é indiferente adotar o LAT ou NR como nível de referência vertical da carta. O
mesmo não pode ser inferido para as áreas situadas ao largo do canal ou a montante
do estuário.
133
Capítulo 8
8. Referências Bibliográficas
ABBOT, M.B., BASCO, R., 1989, Computational Fluid Mechanics, An
Introduction for Engineering, Longman Group, UK Limited.
ALDAMA, A., 1985, Theory and applications of two- and three-scale filtering
approaches for turbulent flow simulation. Ph.D Thesis, Dept. Civil Engineering,
Massachusetts Institute of Technology, Massachusetts, USA.
ANTAQ – Agencia Nacional de Transportes Aquaviários, 2006. Anuário Estatístico
2006. Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/estatisticasanuario.asp#
>.
Acesso em: 22 fev. 2008.
ANTAQ – Agencia Nacional de Transportes Aquaviários, 2007. Anuário Estatístico
2007. Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/Portal/estatisticasanuario.asp#
>.
Acesso em: 22 fev. 2008.
BALAY, M.A., 1952, “La cote du plan”. In: Revue Hydrographic Internationale, v.
XXIV, n. 2, p. 109.
BARRA NORTE, 2006, Modelagem Hidrodinâmica e Monitoramento do Nível do
Mar da Barra Norte do Rio Amazonas, Relatório de Atividades, Programa de
Engenharia Oceânica, COPPE/UFRJ, 09 de junho de 2006.
BARRA NORTE, 2007, Modelagem Hidrodinâmica e Monitoramento do Nível do
Mar da Barra Norte do Rio Amazonas, Relatório de Atividades, Programa de
Engenharia Oceânica, COPPE/UFRJ, 09 a 19 de julho de 2007.
BEARDSLEY, R.C., CANDELA, J., LIMEBURNER R., et al., 1995, “The M2 Tide
on the Amazon Shelf”, Journal of Geophysical Research, v. 100, n. 100, n. C2
(Feb), pp. 2283-2319.
CELENTANO, D., VERÍSSIMO, A., 2007, “O Avanço da Fronteira na Amazônia:
do boom ao colapso”. In: O Estado da Amazônia: Indicadores. n.2., Belém:
Imazon, 44p.
COURTIER, A., 1938, Marées. Paris, Service Hydrographique de la Marine, 1938.
CPAOR - Capitania dos Portos da Amazônia Oriental, 2006, NPCP - Normas e
Procedimentos da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental. Cap 4. Seção I
Item 0403.
CRESSIE, N. A. C., 1990, “The Origins of Kriging”. Mathematical Geology, v. 22,
p. 239-252.
134
CRESSIE, N. A. C., 1991, Statistics for Spatial Data. New York, John Wiley and
Sons, Inc., 900 pp.
CUNHA, E., FILHO, P. W. M. S., et al., 2004, “Projeto PIATAM MAR I e a gestão
ambiental e social da zona costeira amazônica”. Rio Oil & Gas Expo and
Conference 2004. Rio de Janeiro, RJ, out. 2004.
DE PAULA, A.C., 1999, “Maré em Ambientes Estuarinos de Interesse à Navegação:
Caso da Barra Norte do Rio Amazonas”. Hydrological and Geochemical
Process in Large-scale River Basins, Manaus’99 Symposium, Manaus, 16-19
Nov.
DHN – DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO, 1995, IE, nº 23/95,
Levantamento Hidrográfico na Barra Norte do Rio Amazonas – Canal Grande
do Curuá (carta nº 201).
DHN – DIRETORIA DE HIDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO, 1998, INSTRUÇÃO
TÉCNICA H-01 – Critérios para correções a serem efetuadas nas sondagens
para representação nas FB. Niterói, RJ, Diretoria de Hidrografia e Navegação.
DOMINGUES, C., 2004, “The importance of rivers for the transportation system of
the Amazon”. In: Aragon, L.E., Clüsner-Godt, M. (eds), Issues of Local and
Global Use of Water from the Amazon, chapter 5, Montevideu, Uruguai,
UNESCO, 2004, 240p.
DYER, K.R., 1997, Estuaries. A Physical Introduction. 2 ed. Chichester, England:
John Wiley & Sons.
DYER, K., HUNTLEY, D. A. , 1999, “The origin, classification and modelling of
sand banks and ridges”, Continental Shelf Research, v.19, issue 10, pp. 1285-
1330.
EMERY, W. J., THOMSON, R. E., 2001, Data Analysis Methods in Physical
Oceanography. 2 ed., Amsterdam, The Netherlands, Elsevier, 638 p.
FERNANDES, R. D., 2006, Teste metodológico para a redução de sondagens na
foz do rio Amazonas. Dissertação de Mestrado em PENO, COPPE/UFRJ, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil.
FERNANDES, R. D., OLIVEIRA, F. A. M., VINZON, S. B., 2007, “Navigation at
the Amazon River Mouth: sandbank migration and depth surveying”. In: PORTS
2007, San Diego.
FOREMAN, M.G.G., 1977 (2004 revision), “Manual for Tidal Heights Analysis and
Prediction”. In: Pacific Marine Science Report 77-10, Institute of Ocean
Sciences, Patricia Bay, Sidney, B.C., 58 pp.
FOREMAN, M.G.G., 1978 (2004 revision), “Manual for Tidal Currents Analysis
and Predition”. In: Pacific Marine Science Report 78-6, Institute of Ocean
Sciences, Patricia Bay, Sidney, B.C., 57 pp.
135
FOREMAN, M.G.G., HENRY, R.F., 1979 (2004 revision), “Tidal Analysis Based
on High and Low Water Observations”. In: Pacific Marine Science Report 79-
15, Institute of Ocean Sciences, Patricia Bay, Sidney, B.C., 36 pp.
FRANCO, A.S., 1997, Marés, Fundamentos, Análise e Previsão. 1.ed, Niterói, RJ,
Diretoria de Hidrografia e Navegação, 265 p.
FRANCO, A. S., 2003, Programas de Análise e Previsão de Marés – Manual
PacMare.
GABIOUX, M., 2002, Influência da Lama em Suspensão sobre a Propagação da
Maré na Plataforma Amazônica. Dissertação de Maestrado, COPPE/UFRJ, Rio
de Janeiro, Brasil.
GABIOUX, M.; VINZON, S. B.; PAIVA, A. M., 2005, Tidal progapation over fluid
mud layers in the Amazon Shelf. In: Continental Shelf Research, v. 25, n. 1, p.
113-125.
GALLO, M.N., 2004, A Influência da Vazão Fluvial sobre a Propagação da Maré
no Estuário do Rio Amazonas. Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de
Janeiro, Brasil.
GALLO, M. N., VINZON, S. B., 2005, Generation of Overtides and Compound
Tides in Amazon Estuary. Ocean Dynamics, v. 55, n. 5-6, pp. 441-448.
GEYER, W.R., BEARDSLEY, R.C., 1995, “Introduction to special section on
physical oceanography of the Amazon shelf”, Journal of Geophysical Research,
v. 100, n.C2 (Feb), pp. 2181-2182.
GEYER, W.R., KINEKE, G.C., 1995, “Observations of currents and water
properties in the Amazon frontal zone”, Journal of Geophysical Research, v.
100, n. C2 (Feb), pp. 2321-2339.
GIBBS, R.J., 1970, “Circulation in the Amazon River estuary and adjacent Atlantic
Ocean”. Journal of Marine Research, v. 28, pp. 113-121.
HESS, K.W., 2001, Generation of tidal datum fields for Tampa Bay and the New
York Bight. In: NOAA Technical Report NOS CS 11, NOAA, Maryland.
HESS, K., 2003, “Water level simulation in bays by spatial interpolation of tidal
constituents, residual water levels and data”. In: Continental Shelf Research,
n.23, p. 395-410.
HESS, K.W., SCHMALZ, R., ZERVAS, C., et al., 2004, Tidal Constituent and
Residual Interpolation (TCARI): A New Method for the Tidal Correction of
Bathymetric Data. In: NOAA Technical Report NOS CS 4, NOAA, Maryland.
IBGE RMPG Rede Maregráfica Permanente para a Geodésia. Disponível em :
<http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geodesia/rmpg/default_rmpg_int.sht
m?c=10> Acesso em: 22 jul. 2007.
136
IHO – INTERNATIONAL HYDROGRAPHIC ORGANIZATION, 2004, VI
th
IHO
Tidal Committee Meeting, Final Report. Lisbon, Portugal, October 2004.
IHO – INTERNATIONAL HYDROGRAPHIC ORGANIZATION, 2005, Manual
on Hydrography, Publication M-13. Mônaco, International Hydrographic
Bureau, May 2005.
IHO – INTERNATIONAL HYDROGRAPHIC ORGANIZATION, 2008, IHO
Standards for Hydrographic Surveys, Special Publication n. 44. 5 ed., Mônaco,
International Hydrographic Bureau.
ISAAKS, E. H., SRIVASTAVA, R. M., 1989, An Introduction to Applied
Geostatistics, New York, Oxford University Press, 561 pp.
JOURNEL, A.G., 1989, Fundamentals of Geostatistics in Five Lessons, Washington
D.C., American Geophysical Union.
KINEKE, G.C., STERNBERG, R.W., 1995, “Distribution of fluid mud on the
Amazon continental shelf”. In: C.A. Nittrouer and S.A. Kuehl (Editors), Marine
Geology, special issue: Geological Significance of Sediment Transport and
Accumulation on the Amazon Continental Shelf, v. 125, n. 3/4 (Jul), pp. 193-
233.
KINEKE, G.C., STERNBERG, R.W., TROWBRIDGE, J.H., et al., 1996, “Fluid-
mud Processes on the Amazon Continental Shelf”, Continental Shelf Research,
v. 16, n. 5/6, pp. 667-696.
LE ROY, R., SIMON, B., 2003, Réalisation et validation d´un modèle de marée en
manche et dans le Golfe de Gascogne. Aplication a la réalisation d´un nouveau
programe de réduction des sondages bathymétriques. Rapport d´étude n. 002/03.
EPSHOM – Centre d´Hidrografie, Brest, France, set. 2003.
LE ROY, R., SIMON, B., 2004a, Réalisation d´un modèle de marée dans le Golfe
du Morbihan. Deuxième partie: analyse harmonique des mesures disponibles,
definition d´un zero de reduction des sondes. N. 159 EPSHOM/CH/GG/NP.
EPSHOM – Centre d´Hidrografie, Brest, France, du 2 jun. 2004.
LE ROY, R., SIMON, B., 2004b, Réalisation d´un modèle de marée dans le Golfe
du Morbihan. Premiere partie: amélioration du modèle de marée a partir de
nouveaux points de mesure. N. 351 EPSHOM/CH/GG/NP. EPSHOM – Centre
d´Hidrografie, Brest, France, du 6 dec. 2004.
LYARD, F., LEFEVRE, F., LETELLIER, T., FRANCIS, O., 2006, “Modeling the
global ocean tides: modern insights from FES2004”, Ocean Dynamic special
issue, 56(5–6), pp. 394–415, 20 jun. 2006.
MAGLIOCCA, A., 1987, Glossário de oceanografia. São Paulo; EDUSP, 355 p.
137
MILLS, J.,GILL, S., 2005, “Water Levels and Flow”. In:_Manual on Hydrography,
Mônaco, International Hydrographic Bureau, 501p. p.253-300.
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Fundos Setoriais de C&T.
Disponível em: <http://ftp.mct.gov.br/fontes/Fundos/info/geral.htm
>. Acesso
em: 15 jan. 2008.
MIRANDA, L. B. de, CASTRO, B. M. de, KJERFVE, B., 2002, Princípios de
Oceanografia Física de Estuários. São Paulo, EDUSP, 424 pp.
NITTROUER, C.A., KUEHL, S.A., STERNBERG, R.W., et al., 1995, “An
introduction to the geological significance of sediment transport and
accumulation on the Amazon continental shelf”. In: C.A. Nittrouer and S.A.
Kuehl (Editors), Marine Geology, special issue: Geological Significance of
Sediment Transport and Accumulation on the Amazon Continental Shelf, v. 125,
n. 3/4 (Jul), pp. 177-192.
NITTROUER, C.A., DeMASTER, D.J., 1996, “The Amazon shelf setting: tropical,
energetic, and influenced by a large river”, Continental Shelf Research, v. 16, n.
5/6, pp. 553-573.
NOS, 2000, Tidal Datums and Their Applications, NOAA, National Oceanic and
Atmospheric Administration. Special Publication No. CO-OPS 1, NOAA/NOS,
June 2000.
NOS, 2007, Tidal Analyses and Prediction, NOAA, National Oceanic and
Atmospheric Administration Special Publication No. CO-OPS 31, NOAA/NOS,
July 2007.
NOS, 2008, NOS Hydrographic Surveys Specifications and Deliverables. NOAA,
National Oceanic and Atmospheric Administration. Disponível em:
<http://www.nauticalcharts.noaa.gov/hsd/docs/Specs2008.pdf
>. Acesso em: 20
jul. 2008.
OLIVEIRA, F.A.M., VINZON, S.B., 2004, “Mudanças na morfologia do Canal de
Navegação Grande do Curuá, Barra Norte do Amazonas”. In: Proceedings IV
ENES, pp. 215-219, Espírito Santo, Dec.
PINEAU-GUILLOU, L., 2005, Réalisation d´un modèle de marée dans le Golfe du
Morbihan – modélisation hydrogynamique. Rapport d´étude n. 001/05.
EPSHOM – Centre d´Hidrografie, Brest, France, jul. 2005.
PINEAU-GUILLOU L., 2008, “MSL determination using kinematic GPS. In:
North Sea Hydrographic Tidal Committee - Tidal Working Group, Allemagne,
24-25 mai. Acesso em 2008.
138
PINEAU-GUILLOU, L., DUPONT, Y., 2007, Guide technique pour la réalisation
des levés BATHYELLI. In: SHOM Report GU2007-020.
PUGH, D.T., 1987, Tides, surges and mean sea level. Swindon, UK: John Wiley &
Sons.
PUGH, D.T., 2004, Changing Sea Levels. Effects of Tides, Weather and Climate.
Cambridge, Cambridge University Press, 265 p.
RAMOS, A.M., KRUEGER,C.P., 2006, Observações maregráficas empregando a
Técnica RTK OTF em Apoio a Levantamentos hidrográficos para Atualização
de Cartas náuticas. Florianópolis, COBRAC 2006, Outubro 2006.
RAMOS, A.M., 2007, Análise da Metodologia de Reduções Batimétricas a partir
dos métodos GPS diferenciais precisos. Tese de Mestrado em Ciências
Geodésicas, Universidade Federal do Paraná, UFPR, Brasil.
ROSMAN, P.C.C., 2008, SisBAHIA – Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental –
Documentação de Referência Técnica, Área de Engenharia Costeira e
Oceanográfica, Universidade Federal de Rio de Janeiro (COPPE-PEnO/UFRJ),
Rio de Janeiro. Disponível em: <
http://www.sisbahia.coppe.ufrj.br/SisBAHIA_TecRef_V65.pdf
>. Acesso em:
10 abr. 2008.
ROSMAN,
P.C.C., GOBBI, E.F., 1990, “A Self-Adjusting Subgrid "Turbulence"
Model for Shallow Water Flow”. XI Ibero-American Congress on
Computational Methods in Engineering, Rio de Janeiro, Oct. 1990.
ROSO, R., 2006, “Observação de maré na costa brasileira: um apanhado geral”. In:
Anais Hidrográficos, t. 63, p. 101-109.
SHOM, 2006 Service Hydrographique e Océanographique de la Marine. Mode
Opératoire. Programme de calcul de la marée pour lan réduction des sondages :
masg2 Brest, 2006. 11 p.
SILVA, G. N. da, 1992, Variação do Longo Período do Nível do Mar: Causas,
Conseqüências e Metodologia de Análise. Dissertação de Mestrado, Programa de
Engenharia Oceânica, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
SILVA, G. N., ALVES, A. R., 2002, “Elaboração digital do diagrama de redução de
profundidades”. In: Anais Hidrográficos, t. 58, p. 87-93.
SIMON, B., 2007. La marée océanique côtière. Institut Océanographique. 433p.
SPEER, P.E., AUBREY, D.G., 1985, “A study of non-linear tidal propagation in
shallow inlet/estuarine systems”, In: Theory – Estuarine. Coastal and Shelf
Science, vol. 21, issue 2, pp. 207-224.
139
SUTHERLAND, J.; WALSTRA, D.J.R.; CHESHER, T.J.; VAN RIJN, L.C., et. al.,
2004, Evaluation of coastal area modelling systems at an estuary mouth. Coastal
Engineering, 51, pp.119-142.
VINZON, S. B., 1997, Uma contribuição ao entendimento da dinâmica de
sedimentos na plataforma continental do Amazonas. Tese de Doutorado em
Engenharia Oceânica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Brasil.
VINZON, S.B., MEHTA, A.J., 2001, “Boundary layer effects due to suspended
sediment in the Amazon River estuary”. In: W.H. McAnally and A.J. Mehta
(eds), Coastal and Estuarine Fine Sediment Processes, Marine Science 3,
Elsevier, pp. 359-373.
WÖPPELMANN, G., ALLAIN, S., BAHUREL, P., LANNUZEL, S., SIMON, B.,
2006 Zéro hydrographique : vers une détermination globale Disponível em: <
http://www.shom.fr/fr_page/fr_act_oceano/maree/zhy_xyz.htm >. Acesso em:
10 abr. 2008.
140
APÊNDICES
Apêndice A
Formulações matemáticas dos modelos adotados
A mecânica do movimento para escoamento em regime turbulento é governada pelas
equações de Navier-Stokes. Essas equações representam o princípio da conservação
da quantidade de movimento e, em conjunto com uma equação de estado, uma
equação de transporte para cada constituinte da equação de estado e a equação da
continuidade que representa a condição de escoamento incompressível, compõem o
modelo matemático fundamental para qualquer corpo d’água (ROSMAN, 2008).
Nos modelos adotados neste trabalho, é admitida a aproximação de Boussinesq, em
que se assume uma densidade constante para todo o domínio (
ρ
0
). Neste caso a
equação de estado e as equações de transporte de cada constituinte não se aplicam.
Essa aproximação pode ser feita se considerarmos que o estuário do rio Amazonas é
bem misturado e não apresenta estratificação. Evidentemente, este não é o caso da
região de estudo, em função da intrusão salina e das camadas de lama fluida próxima
ao fundo, porém esta simplificação é válida uma vez que o interesse deste trabalho
está voltado para as variações de nível. Em outras palavras, o trabalho está focado
apenas nas forçantes barotrópicas do sistema. Também é assumida nas equações
governantes do movimento a aproximação hidrostática, o qual passa a ser considerado
como um escoamento de águas rasas, onde as escalas dos movimentos horizontais
são, no mínimo, vinte vezes maiores do que a profundidade.
A Figura 85 ilustra o sistema de coordenadas adotado pelos modelos.
141
Figura 85– Sistema de coordenadas do sistema de modelagem 2DH. No caso 2DH, U
i
representa a
velocidade promediada na vertical. As coordenadas e velocidades horizontais são representadas
como (x, y) = (x
1
, x
2
) e (u, v) = (u
1
, u
2
) utilizando o índice i = 1,2 (ROSMAN, 2008).
As três equações necessárias para calcular as três incógnitas da circulação
hidrodinâmica (U, V,
ζ
), no módulo 2DH (escoamento promediado em z), são
resumidas abaixo:
Equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na
vertical, na direção x:
Vsen
Hy
H
x
H
Hx
g
y
U
V
x
U
U
t
U
B
x
S
x
xy
xx
θττ
ρ
τ
τ
ρ
ζ
Φ++
+
+
=
+
+
2)(
11
00
(1)
Equação de quantidade de movimento 2DH para um escoamento integrado na
vertical, na direção y:
Usen
Hy
H
x
H
Hy
g
y
V
V
x
V
U
t
V
B
y
S
y
yyxy
θττ
ρ
ττ
ρ
ζ
Φ+
+
+
=
+
+
2)(
11
00
(2)
U
i
u
i
H
Z
=
ζ
Z
=-h
Z
x
i
142
Equação da continuidade (do volume) integrada ao longo da vertical:
0=
+
+
y
VH
x
UH
t
ζ
(3)
Onde:
x e y são as direções principais, longitudinal e transversal, respectivamente,
U e V são as componentes das velocidades nas direções x e y,
ζ
é a elevação acima de um nível de referência,
H é altura instantânea da coluna d’água H=
ζ
+ h
g é a aceleração da gravidade
0
ρ
é uma massa específica de referência,
xx
τ
e
yy
τ
são as tensões turbulentas médias na vertical,
B
x
τ
e
B
y
τ
são as tensões de atrito no fundo nas direções x e y,
S
x
τ
e
S
y
τ
são as tensões de atrito na superfície nas direções x e y,
Φ
é a velocidade angular de rotação da Terra no sistema de coordenadas local, e
θ
é o ângulo de latitude.
A seguir, utilizando a equação de quantidade de movimento na direção x como
exemplo, o significado de cada termo das equações (1) e (3) é apresentado.
Analogamente, pode-se chegar ao significado dos termos semelhantes na equação da
quantidade de movimento na direção y, equação (2).
143
Equação (1)
t
U
Representa a aceleração local do escoamento, ou seja, em uma
dada posição, a taxa de variação temporal do fluxo de quantidade
de movimento 2DH por unidade de massa. Em escoamentos
permanentes, esse termo é nulo.
y
U
V
x
U
U
+
Representam a aceleração advectiva do escoamento, ou seja, em
um determinado instante, esses termos representam a taxa de
variação espacial do fluxo de quantidade de movimento 2DH na
direção x por unidade de massa. Em escoamentos uniformes,
esses termos são nulos.
x
g
ζ
Representa a pressão hidrostática resultante na direção x
(gradiente de pressão), devido à declividade da superfície d’água
na direção x. Conforme indicado pelo sinal negativo, o
escoamento flui dos níveis mais altos para os níveis mais baixos.
+
y
H
x
H
H
xy
xx
τ
τ
ρ
0
1
Representam a resultante das tensões dinâmicas turbulentas 2DH
no escoamento. São esses termos, por exemplo, os responsáveis
pela geração de vórtices horizontais em zonas de recirculação.
Vsen
θ
Φ2
Representa a força de Coriolis devido ao fato do referencial estar
se movimentando na superfície da Terra.
)(
1
0
S
x
H
τ
ρ
Representa a tensão do vento na superfície livre por unidade de
massa. Se o vento estiver no mesmo sentido do escoamento, esse
termo irá acelerar o escoamento; se estiver em sentido oposto, irá
retardar o escoamento.
)(
1
0
B
x
H
τ
ρ
Representa a tensão de atrito no fundo atuante no escoamento por
unidade de massa. Conforme indicado pelo sinal negativo, esse
termo sempre atuará no sentido de desacelerar o escoamento.
Equação (3)
y
VH
x
UH
t
h
=
+
)(
ζ
A altura da coluna d’água (
ζ+h) varia no tempo como resultado
dos fluxos efetivos através da coluna d’água nas direções x e y
respectivamente,
x
HU
e
y
HV
.
144
A tensão de atrito na superfície livre devido ao vento é escrita em termos de uma
formulação de velocidade quadrática:
iDar
S
i
WC
φρτ
cos
2
10
=
;
[i=1,2]
17
(4)
Onde: ρ
ar
é a densidade do ar, C
D
é o coeficiente de arraste do vento, W
10
é o valor
local da velocidade do vento medida a 10 metros acima da superfície livre, e φ
i
é o
ângulo entre o vetor de velocidade do vento local e a direção x
i
. O coeficiente de
arraste do vento, C
D
, pode ser determinado a partir de uma série de fórmulas
empíricas.
A fórmula adotada nos modelos do SisBaHiA® é a apresentada por (WU, 1982 apud
ROSMAN, 2008):
3
10
10)065.08.0(
×+= WC
D
;
[W10 em m/s] (5)
Neste trabalho, a tensão de atrito na superfície livre devido ao vento não foi
considerada.
No módulo 2DH do SisBaHiA®, a tensão de atrito no fundo é calculada através da
seguinte expressão:
i
B
i
U
βρτ
0
=
[i=1,2] (6)
onde o parâmetro β depende da forma com que o módulo 2DH é empregado,
conforme descrito a seguir:
17 i=1 representa a componente x e i=2 a componente y
145
Módulo 2DH desacoplado (caso deste estudo): se apenas o módulo 2DH estiver sendo
utilizado, ou seja, se o módulo 2DH não for acoplado com o módulo 3D, a lei
quadrática usual é empregada e tem-se:
22
2
VU
C
g
h
+=
β
(7)
Módulo 2DH acoplado: Se o módulo 2DH for acoplado ao módulo 3D, o parâmetro β
passa a depender da velocidade de atrito característica u
*
, que é função do perfil de
velocidade 3D. Nesse caso, tem-se:
*
u
C
g
h
=
β
(8)
Em ambos os casos, C
h
é o coeficiente de Chézy, definido como:
=
ε
H
C
h
6
log18
10
(9)
Os valores de rugosidade equivalente do fundo (ε) estão de acordo com os valores
recomendados por ABBOT e BASCO (1989), adaptados por ROSMAN (2008) e são
apresentados na Tabela 11.
146
Tabela 11 – Valores para a rugosidade equivalente de fundo (ε), segundo o tipo de sedimento.
Terreno ou Leito de Terra
Leito com transporte de sedimentos 0,0070m < ε < 0,0500m
Leito com vegetação 0,0050m < ε < 0,1500m
Leito com obstáculos 0,1500m < ε < 0,4000m
Fundo de pedra ou rochoso
Fundo de alvenaria 0,0003m < ε < 0,0010m
Fundo de pedra lisa 0,0010m < ε < 0,0030m
Fundo de asfalto 0,0030m < ε < 0,0070m
Fundo com pedregulho 0,0070m < ε < 0,0150m
Fundo com pedras médias 0,0150m < ε < 0,0400m
Fundo com pedras 0,0400m < ε < 0,1000m
Fundo com rochas 0,1000m < ε < 0,2000m
Fundo de Concreto
Fundo de concreto liso 0,0001m < ε < 0,0005m
Fundo de concreto inacabado 0,0005m < ε < 0,0030m
Fundo de concreto inacabado 0,0030m < ε < 0,0100m
147
Apêndice B
Tabelas de Constantes Harmônicas
utilizadas (fonte: BNDO)
Plataforma Penrod
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
MM 46.8 155.0
MSF 44.0 204.0
K1 10.1 211.0
O1 7.8 180.0
P1 3.3 211.0
Q1 1.1 166.0
J1 1.4 198.0
M1 1.5 185.0
OO1 2.0 138.0
SIGMA1 0.2 152.0
PI1 0.2 211.0
2Q1 0.2 152.0
FI1 0.1 211.0
PSI1 0.1 211.0
M2 85.1 164.0
S2 21.7 168.0
N2 20.1 171.0
K2 5.9 168.0
NU2 3.9 171.0
MU2 1.4 219.0
L2 9.8 221.0
T2 1.3 168.0
2N2 2.7 177.0
M3 1.0 133.0
2SM2 2.8 82.0
MK3 2.1 142.0
MO3 1.1 77.0
M4 5.7 189.0
MS4 3.2 236.0
MN4 2.7 148.0
SN4 3.4 317.0
M6 1.5 191.0
2MS6 1.2 217.0
2MN6 1.0 80.0
2SM6 0.6 72.0
MSN6 1.5 262.0
Santa Maria do Cocal
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
MM 6.8 229.7
MSF 10.2 274.0
K1 13.1 247.7
O1 9.4 214.6
P1 4.3 247.7
Q1 2.0 210.7
J1 1.9 348.4
M1 1.3 301.1
OO1 2.0 125.4
SIGMA1 0.3 206.7
PI1 0.2 247.7
2Q1 0.2 206.7
FI1 0.2 247.7
PSI1 0.1 247.7
M2 270.4 213.8
S2 68.0 260.8
N2 43.1 197.1
K2 18.5 260.8
NU2 8.4 197.1
MU2 13.0 350.7
L2 19.6 211.4
T2 4.0 260.8
2N2 5.7 180.4
M3 5.3 322.0
2SM2 4.0 31.2
MK3 2.9 4.2
MO3 6.3 22.3
M4 37.6 331.3
MS4 16.9 44.0
MN4 9.8 299.5
SN4 7.6 103.5
M6 9.6 1.8
2MS6 5.3 29.3
2MN6 5.8 327.3
2SM6 11.4 278.5
MSN6 3.4 140.1
148
Igarapé do Inferno (Ilha de Maracá)
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
MM 10.5 239.5
MSF 8.4 324.2
Q1 7.0 209.4
O1 17.2 218.8
K1 16.4 235.0
J1 4.3 284.9
MU2 28.6 332.3
N2 61.8 227.6
M2 351.7 227.8
L2 47.7 227.5
S2 96.9 281.7
MSN2 11.7 119.2
2SM2 16.3 300.3
2SN2 6.3 355.0
MO3 7.5 52.6
MK3 4.7 46.1
MN4 35.4 23.1
M4 80.4 15.6
SN4 55.4 32.4
MS4 86.0 83.9
SL4 3.7 177.3
2MN6 13.8 144.0
M6 27.3 137.0
MSN6 31.8 165.0
2MS6 30.2 202.6
2SM6 26.1 36.7
3SM8 3.2 141.9
S8 6.5 6.2
2Q1 0.4 202.8
SIGMA1 0.5 203.9
RO1 1.3 210.7
PI1 0.3 233.1
P1 5.4 233.7
PSI1 0.1 235.5
FI1 0.2 236.2
TETA1 0.8 155.6
2N2 8.2 227.4
NU2 11.7 227.6
LAMBD2 2.5 252.8
T2 5.7 279.5
R2 0.8 283.8
K2 26.4 286.0
Ponta Guará
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
MM 30.7 297.0
MSF 48.8 28.0
K1 10.4 272.0
O1 6.3 251.0
P1 3.4 272.0
Q1 3.3 205.0
J1 2.1 341.0
M1 1.3 330.0
OO1 1.9 132.0
SIGMA1 0.2 159.0
PI1 0.2 272.0
2Q1 0.2 159.0
FI1 0.1 272.0
PSI1 0.1 272.0
M2 152.7 315.0
S2 40.1 354.0
N2 36.6 292.0
K2 10.9 354.0
NU2 7.1 292.0
MU2 11.4 189.0
L2 6.3 306.0
T2 2.4 354.0
2N2 4.9 269.0
M3 1.4 323.0
2SM2 9.6 252.0
MK3 2.6 145.0
MO3 1.6 132.0
M4 27.2 132.0
MS4 13.3 166.0
MN4 10.8 107.0
SN4 4.8 193.0
M6 15.0 344.0
2MS6 13.4 6.0
2MN6 9.2 326.0
2SM6 3.0 13.0
MSN6 6.6 4.0
149
Escola do Igarapé Grande do Curuá
(Barra Norte)
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
MSF 6.7 354.0
O1 5.1 297.3
P1 2.0 324.1
K1 6.1 326.2
OO1 2.9 280.0
KQ1 2.6 185.5
2N2 2.9 284.3
MU2 14.3 178.8
N2 21.8 325.0
NU2 4.1 282.2
M2 157.8 5.6
LAMBD2 1.1 19.5
L2 13.7 45.7
T2 2.1 34.4
S2 36.2 35.6
K2 9.8 38.0
2SM2 10.9 300.4
N4 3.1 230.6
MN4 3.1 254.7
M4 11.9 290.5
SN4 2.5 314.4
MS4 6.7 321.5
M6 4.4 94.7
3MN8 2.4 299.5
M8 2.6 315.0
2MSN8 2.2 321.7
3MS8 4.1 2.8
Canivete
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
SA 21.8 41.2
SSA 7.0 31.0
MM 6.4 10.6
MSF 11.1 68.6
O1 4.7 315.5
MP1 0.8 78.9
P1 1.1 356.1
S1 5.4 274.8
K1 8.1 333.9
SO1 0.9 192.3
MNS2 1.6 190.8
2N2 3.2 13.7
MU2 7.6 224.4
2NUM2 1.5 14.9
N2 21.3 14.5
NU2 7.0 26.1
OP2 2.1 130.7
MTS2 7.8 0.5
M2 121.2 43.6
MKS2 4.8 273.7
LAMBD2 5.4 67.0
L2 8.5 78.4
2SK2 1.7 72.0
T2 3.4 31.2
S2 26.7 73.3
K2 6.0 72.6
MSN2 2.6 305.8
2SM2 2.3 327.4
NO3 0.8 300.1
MO3 2.8 313.8
2MP3 0.7 55.7
SO3 1.9 343.3
MK3 3.1 338.3
2MQ3 0.7 175.7
N4 1.1 22.6
3MS4 2.2 235.2
MN4 3.9 18.2
MNU4 1.9 40.5
2MSK4 0.7 287.0
2MTS4 1.6 313.2
M4 10.5 51.6
2MST4 0.7 212.2
2MKS4 1.3 262.4
2MKT4 0.6 358.2
SN4 0.9 279.7
3MN4 2.0 265.0
MS4 3.3 76.7
SL4 0.9 131.1
2NM6 0.6 166.4
2MN6 1.5 178.8
2MNU6 0.6 209.8
M6 2.9 197.8
4MN6 0.7 41.1
2MS6 2.4 224.3
2MK6 0.9 211.4
3MSN6 0.6 72.0
2SM6 0.5 193.5
3MN8 1.2 123.0
M8 1.5 144.2
2MSN8 0.8 130.7
3MS8 1.8 175.1
3MK8 0.6 142.6
MSNK8 1 0.60 256.3
2M2S8 0.7 190.2
5MS12 0.6 319.9
150
Santana
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
SA 24.1 45.2
SSA 4.6 338.8
MM 7.9 46
MF 4.1 51.4
MSF 12.2 40.1
K1 6.4 8.2
O1 5.3 358.8
P1 5.3 16.2
M2 117 112.8
S2 27 147.1
N2 23.5 85.5
K2 8.9 126
NU2 6.8 78.1
MU2 8.2 285
L2 15.4 144.4
T2 6.4 112.1
2N2 2.8 4.8
MNS2 4.2 236.4
LAMBD2 4.8 180
KJ2 4.2 89.1
2SM2 1.9 347.3
MK3 2.4 60.6
MO3 2.7 39.7
M4 19.6 148.1
MS4 9.3 181.8
MN4 8.3 115.2
MK4 3.9 159.5
SN4 2.1 84.4
M6 2.6 125.9
2MS6 2.1 165.4
OP2 5.6 185.9
MKS2 2.2 60.3
Afuá
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
MM 9.0 17.0
MSF 14.9 44.0
K1 9.0 351.0
O1 7.2 345.0
P1 3.0 351.0
Q1 0.3 59.0
J1 0.2 263.0
M1 1.2 261.0
OO1 1.6 143.0
SIGMA1 0.2 132.0
PI1 0.2 351.0
2Q1 0.2 132.0
FI1 0.1 351.0
PSI1 0.1 351.0
M2 78.0 62.0
S2 18.7 89.0
N2 17.9 34.0
K2 5.1 89.0
NU2 3.5 34.0
MU2 5.0 256.0
L2 8.2 118.0
T2 1.1 89.0
2N2 2.4 5.0
M3 0.7 174.0
2SM2 0.6 281.0
MK3 2.6 347.0
MO3 2.2 331.0
M4 15.1 39.0
MS4 7.7 77.0
MN4 5.8 18.0
SN4 2.0 173.0
M6 7.3 319.0
2MS6 5.8 350.0
2MN6 4.8 288.0
2SM6 0.7 356.0
MSN6 0.9 104.0
151
Chaves
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
MM 7.2 321.1
MSF 8.8 37.8
K1 8.4 326.6
O1 6.1 304.0
P1 2.8 326.6
Q1 1.3 326.3
J1 1.6 189.8
M1 0.6 75.0
OO1 1.6 327.8
SIGMA1 0.2 348.6
PI1 0.2 326.6
2Q1 0.2 348.6
FI1 0.1 326.6
PSI1 0.1 326.6
M2 116.9 8.0
S2 31.5 45.1
N2 18.8 340.7
K2 8.6 45.1
NU2 3.6 340.7
MU2 2.4 190.1
L2 3.8 22.3
T2 1.9 45.1
2N2 2.5 64.3
M3 1.8 157.8
2SM2 13.3 206.6
MK3 4.5 282.9
MO3 4.2 263.6
M4 28.7 309.5
MS4 15.9 357.3
MN4 9.6 297.6
SN4 5.2 242.6
M6 8.9 212.3
2MS6 8.0 257.9
2MN6 4.6 195.0
2SM6 0.3 67.2
MSN6 6.0 157.4
Vila Nazaré
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
M1 3.3 198.4
P1 1.2 297.4
K1 3.7 292.5
2N2 2.3 285.6
N2 17.0 301.2
NU2 3.2 303.3
M2 141.2 316.8
LAMBD2 1.0 331.1
T2 2.3 346.4
S2 39.6 347.6
K2 10.8 350.1
MO3 5.0 225.4
2MQ3 2.3 188.6
MN4 10.3 169.6
M4 24.7 167.2
SN4 1.8 210.7
MS4 6.7 220.7
MNK5 1.3 357.0
2MK5 1.8 322.1
2MN6 4.3 35.3
M6 9.6 357.0
2MS6 3.4 69.3
2NMO7 1.4 273.2
3MK7 1.1 108.9
2MSN8 1.1 218.5
152
Ilha do Machadinho
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
O1 7.6 219.7
P1 2.9 285.2
K1 8.6 290.6
OO1 4.6 234.4
2NS2 5.0 72.1
2N2 3.1 234.5
MU2 6.6 173.9
N2 23.3 258.1
NU2 4.4 261.3
M2 130.5 281.8
LAMBD2 0.9 290.9
T2 2.3 300.7
S2 38.2 301.5
K2 10.4 303.1
MK3 2.7 172.6
N4 8.6 84.3
MN4 6.0 107.9
M4 28.1 119.4
SN4 4.8 120.3
MS4 7.7 143.4
2MO5 1.6 185.5
2M2NS6 3.1 1.7
4MS6 4.2 42.7
2MN6 5.3 260.2
M6 14.6 257.6
MSN6 4.6 236.8
2MS6 6.9 299.4
2MNO7 0.9 37.6
3MO7 1.6 28.5
2M2N8 2.8 34.3
3MN8 5.1 82.8
M8 7.1 84.5
2MSN8 3.6 92.3
3MS8 6.3 134.3
Cabo Maguari
Componente Amplitude (cm) Fase (°)
MM 9.3 334.0
MSF 2.6 51.0
K1 14.1 251.0
O1 10.3 247.0
P1 4.7 251.0
Q1 1.1 111.0
J1 2.6 47.0
M1 1.1 156.0
OO1 3.5 79.0
SIGMA1 0.3 335.0
PI1 0.3 251.0
2Q1 0.3 335.0
FI1 0.2 251.0
PSI1 0.1 251.0
M2 122.4 254.0
S2 43.0 284.0
N2 24.0 235.0
K2 11.7 284.0
NU2 4.7 235.0
MU2 3.9 288.0
L2 2.9 317.0
T2 2.5 284.0
2N2 3.2 217.0
M3 1.5 117.0
2SM2 4.6 318.0
MK3 3.7 96.0
MO3 2.0 48.0
M4 14.1 95.0
MS4 6.9 120.0
MN4 4.2 76.0
SN4 3.6 41.0
M6 8.3 186.0
2MS6 6.0 232.0
2MN6 2.8 181.0
2SM6 2.0 259.0
MSN6 1.8 106.0
153
S
1 Ponto H
1 34.00 0 N
49 13.00 0 W
3 143 0
2Q1 1 6 1 0.17 322.33
SIGMA1 1 7 1 0.42 0.96
Q1 1 8 1 1.84 215.78
RO1 1 9 1 0.12 208.21
O1 1 10 1 10.68 233.86
MP1 2 28 15 1 -1 0.67 17.58
M1 1 12 1 0.10 85.43
P1 1 15 1 3.57 260.84
S1 1 16 1 0.33 326.73
K1 1 17 1 12.23 257.97
TETA1 1 20 1 0.13 226.30
J1 1 21 1 0.36 69.49
2PO1 2 15 10 2 -1 0.08 90.15
SO1 2 32 10 1 -1 0.44 73.97
OO1 1 22 1 0.11 78.24
2NS2 2 26 32 2 -1 0.26 100.18
M(MU)S2 3 28 25 32 1 1 -1 0.41 196.11
OQ2 2 10 8 1 1 0.30 247.69
MNS2 3 28 26 32 1 1 -1 1.21 57.56
2N2 1 24 1 2.47 220.74
MU2 1 25 1 3.93 74.53
N2 1 26 1 26.36 245.54
NU2 1 27 1 0.51 242.87
OP2 2 10 15 1 1 0.61 294.72
MTS2 3 28 31 32 1 1 -1 0.21 344.31
M2 1 28 1 129.14 267.72
MST2 3 28 32 31 1 1 -1 0.23 359.51
MKS2 3 28 34 32 1 1 -1 0.43 108.30
LAMBDA2 1 29 1 1.06 300.79
L2 1 30 1 3.38 332.12
S2 1 32 1 35.11 289.57
R2 1 33 1 0.17 355.90
K2 1 34 1 9.43 285.92
MSN2 3 28 32 26 1 1 -1 1.12 164.38
KJ2 2 17 21 1 1 0.31 347.88
2SM2 2 32 28 2 -1 1.01 164.20
2MS2N2 3 28 32 26 2 1 -2 0.74 210.54
NO3 2 26 10 1 1 0.14 113.73
MO3 2 28 10 1 1 0.64 115.57
2MP3 2 28 15 2 -1 0.29 255.36
M3 1 37 1 0.22 204.21
SO3 2 32 10 1 1 0.33 174.94
MK3 2 28 17 1 1 0.77 136.70
2MQ3 2 28 8 2 -1 0.17 310.57
SK3 2 32 17 1 1 0.28 223.15
N4 1 26 2 1.10 281.38
3MS4 2 28 32 3 -1 3.89 21.35
MN4 2 28 26 1 1 5.81 248.31
M(NU)4 2 28 27 1 1 1.13 201.56
2MSK4 3 28 32 34 2 1 -1 0.60 66.13
2MTS4 3 28 31 32 2 1 -1 0.38 359.84
M4 1 28 2 19.02 265.85
2MST4 3 28 32 31 2 1 -1 0.31 270.70
2MKS4 3 28 34 32 2 1 -1 0.67 52.59
Constantes Harmônicas calculadas para o PONTO H
154
SN4 2 32 26 1 1 0.93 312.37
3MN4 2 28 26 3 -1 2.49 74.06
MS4 2 28 32 1 1 10.06 306.94
MK4 2 28 34 1 1 2.64 302.68
SL4 2 32 30 1 1 2.18 327.37
S4 1 32 2 0.85 20.64
SK4 2 32 34 1 1 0.37 5.80
MNO5 3 28 26 10 1 1 1 0.53 90.84
2MO5 2 28 10 2 1 1.05 107.06
MNK5 3 28 26 17 1 1 1 0.47 108.27
2MK5 2 28 17 2 1 0.84 132.80
MSK5 3 28 32 17 1 1 1 0.58 168.51
2M2NS6 3 28 26 32 2 2 -1 0.16 278.17
3MNS6 3 28 26 32 3 1 -1 0.56 262.26
2NM6 2 26 28 2 1 0.83 107.90
4MS6 2 28 32 4 -1 0.82 286.53
2MN6 2 28 26 2 1 3.19 122.98
2M(NU)6 2 28 27 2 1 0.17 85.18
3MSK6 3 28 32 34 3 1 -1 0.11 260.51
M6 1 28 3 5.50 144.34
MSN6 3 28 32 26 1 1 1 1.64 149.38
4MN6 2 28 26 4 -1 0.33 263.66
2MS6 2 28 32 2 1 4.88 170.01
2MK6 2 28 34 2 1 1.30 165.68
3MSN6 3 28 32 26 3 1 -1 0.59 2.12
MKL6 3 28 34 30 1 1 1 0.18 201.77
2SM6 2 32 28 2 1 1.14 200.34
MSK6 3 28 32 34 1 1 1 0.63 193.79
3MNOS7 4 28 26 10 32 3 1 1 -1 0.08 95.67
2NMO7 3 26 28 10 2 1 1 0.04 296.42
4MOS7 3 28 10 32 4 1 -1 0.05 111.93
2MNO7 3 28 26 10 2 1 1 0.13 315.60
3MNKS7 4 28 26 17 32 3 1 1 -1 0.06 74.21
3MO7 2 28 10 3 1 0.19 325.49
MSNO7 4 28 32 26 10 1 1 1 1 0.11 346.55
2MNK7 3 28 26 17 2 1 1 0.17 345.28
2MSO7 3 28 32 10 2 1 1 0.22 5.22
3MK7 2 28 17 3 1 0.04 24.51
MSNK7 4 28 32 26 17 1 1 1 1 0.09 4.48
2MSP7 3 28 32 15 2 1 1 0.08 49.56
2MSK7 3 28 32 17 2 1 1 0.20 44.23
2MKK7 3 28 34 17 2 1 1 0.04 36.65
3MSKN7 4 28 32 17 26 3 1 1 -1 0.04 192.37
2M2N8 2 28 26 2 2 0.17 82.93
3MN8 2 28 26 3 1 0.70 74.83
M8 1 28 4 1.05 106.94
2MSN8 3 28 32 26 2 1 1 0.49 113.78
2MNK8 3 28 26 34 2 1 1 0.13 207.31
3MS8 2 28 32 3 1 1.30 138.23
3MK8 2 28 34 3 1 0.29 133.97
MSNK8 4 28 32 26 34 1 1 1 1 0.34 274.52
2M2S8 2 28 32 2 2 0.39 189.38
2MSK8 3 28 32 34 2 1 1 0.21 170.24
2M2NO9 3 28 26 10 2 2 1 0.03 322.81
3MNO9 3 28 26 10 3 1 1 0.09 296.03
4MO9 2 28 10 4 1 0.10 333.15
3MNK9 3 28 26 17 3 1 1 0.09 323.76
3MSO9 3 28 32 10 3 1 1 0.15 354.08
4MK9 2 28 17 4 1 0.07 168.88
2M2SO9 3 28 32 10 2 2 1 0.08 24.03
3MSK9 3 28 32 17 3 1 1 0.12 20.60
155
2M2SK9 3 28 32 17 2 2 1 0.05 62.13
4MN10 2 28 26 4 1 0.40 1.62
M10 1 28 5 0.46 27.62
3MSN10 3 28 32 26 3 1 1 0.50 24.91
4MS10 2 28 32 4 1 0.74 49.91
2M2SN10 3 28 32 26 2 2 1 0.15 55.34
2MNSK10 4 28 26 32 34 2 1 1 1 0.07 174.87
3M2S10 2 28 32 3 2 0.33 80.58
3MSK10 3 28 32 34 3 1 1 0.20 72.88
5M011 2 28 10 5 1 0.02 215.52
4MNP11 3 28 26 15 4 1 1 0.05 228.28
4MNK11 3 28 26 17 4 1 1 0.02 216.79
4MSO11 3 28 32 10 4 1 1 0.04 247.56
5MK11 2 28 17 5 1 0.02 265.85
3M2SO11 3 28 32 10 3 2 1 0.03 276.51
4MSK11 3 28 32 17 4 1 1 0.03 276.91
3M2SK11 3 28 32 17 3 2 1 0.02 308.97
5MN12 2 28 26 5 1 0.08 293.16
M12 1 28 6 0.05 318.99
4MSN12 3 28 32 26 4 1 1 0.14 300.37
5MS12 2 28 32 5 1 0.17 332.68
3MNKS12 4 28 26 34 32 3 1 1 1 0.04 87.05
4M2S12 2 28 32 4 2 0.10 9.94
Sa 1 1 1 1.37 46.24
Mm 1 3 1 2.37 12.85
Msf 2 28 32 -1 1 1.39 27.51
Mf 1 4 1 1.51 0.18
Mtm 1 5 1 0.15 47.41
Classificação pelo Número de Forma = 22,91/164,25= 0,139 semidiurna
Z
0
= 200,04 cm
156
Ficha de Descrição de Estação Maregráfica (F-41) da Escola do Igarapé Grande
do Curuá confeccionada pelo NHi Sirius em 2006 e validada pela Seção de Marés
do CHM
157
158
Ficha de Descrição de Estação Maregráfica (F-41) da Escola do Igarapé Grande
do Curuá confeccionada em 1996 (ano do período padrão para as constantes
harmônicas).
159
160
Ficha de Descrição de Estação Maregráfica (F-41) da Escola do Igarapé Grande
do Curuá confeccionada em 2007
161
162
Esquema de réguas da Escola do Igarapé do Curuá com as principais cotas
utilizadas na dissertação
163
Apêndice C
PROJETO BATHYELLI (SHOM, França)
A idéia central do projeto é a de que os data verticais calculados sobre séries históricas
de marégrafos (zero hidrográfico, LAT, NR, etc.) apresentam os seguintes problemas:
- As referências de nível (RN) implantadas nas proximidades da estação maregráfica
podem se deslocar em função dos movimentos verticais da crosta terrestre;
- À medida que nos distanciamos da costa em direção ao largo, as RN desaparecem e o
acesso ao datum se torna difícil e pouco preciso; e
- O datum é conhecido unicamente de forma pontual nos locais onde as medições
maregráficas já foram efetuadas.
Seguindo a recomendação da IHO de referir os data verticais ao sistema geodésico
ITRF (International Terrestrial Reference Frame), a fim de resolver os problemas de
estabilidade, precisão e acessibilidade do sistema de referência, o SHOM criou o projeto
BATHYELLI. Esse projeto tem como objetivo referenciar os dados batimétricos
diretamente ao sistema ITRF, a partir de levantamentos hidrográficos conduzidos por
navios equipados com GPS diferencial preciso e de um modelo do zero hidrográfico em
relação ao elipsóide.
Uma das vantagens da implementação desse projeto é que nos futuros levantamentos
hidrográficos (LH) não mais será necessário efetuar correções de maré e de efeitos
meteorológicos sobre os dados batimétricos brutos e, sendo assim, será desnecessária a
ocupação de estações maregráficas durante a sondagem.
Como os modelos de maré na França já permitem que se estabeleça sem maiores
dificuldades o zero hidrográfico, ou o LAT, em relação ao nível médio do mar (NMM),
(e.g. modelo MARMONDE), o desafio do projeto BATHYELLI passa a residir na
determinação do NMM em relação ao sistema ITRF. Para realizar o mapeamento do
NMM três técnicas são empregadas:
- Na costa: o NMM é calculado a partir das séries observadas de estações maregráficas;
164
- Ao largo: O NMM é definido a partir do processamento de dados da altimetria
espacial; e
- entre estas duas zonas: o NMM é calculado com auxílio de medições GPS.
O SHOM espera conseguir mapear a superfície do NMM e do zero hidrográfico em
relação ao ITRF, com uma precisão de 5 cm e 10 cm, respectivamente. O projeto não se
limita ao cálculo do zero hidrográfico, mas sim prevê igualmente que todo o conjunto
de superfícies de referência utilizadas na hidrografia possa ser mapeado, permitindo, de
forma simples aos usuários, mudar convenientemente de referência vertical quando
necessário.
Esse projeto evidencia a importância de aplicações como modelagem de data (e.g.
LAT) e de constantes harmônicas e as inúmeras potencialidades destas ferramentas para
a hidrografia. A Figura 86 apresenta um esquema de comparação entre um LH clássico
e um LH realizado com GPS cinemático.
Figura 86 - Comparação entre um levantamento clássico e um levantamento com GPS cinemático:
sem necessidade de correção de maré e efeitos meteorológicos (cedida pelo SHOM).
165
Apêndice D
Rotinas de Matlab utilizadas na dissertação
%Script para o cálculo da diferença de fase
load serieobs.txt%carrega a série observada em intervalos horários
load seriemod.txt%carrega a série do modelo em intervalos horários
x=serieobs;y=seriemod;%define as variáveis x e y em funçao das séries analisadas
z=1:355; % dimensiona o tamanho das séries (ex:355horas)
z=z';%formataçao para coluna
zi=1:1/60:355;%define o intervalo no qual se deseja interpolar (ex: 1/60, deseja-se de 1
em 1 minuto)
z=zi';%formataçao para coluna
xi=interp1(z,x,zi,'spline');%Interpola a serie x com a funçao cubic spline para o
intervalo desejado
yi=interp1(z,y,zi,'spline');%Interpola a serie y com a funçao cubic spline para o
intervalo desejado
[XCF,Lags,Bounds] = crosscorr(zi,yi,60);%calcula a funçao de correlaçao cruzada para
defasagens de +60 minutos a
%-60 minutos, pode ser escolhido outro intervalo.
result=[Lags, XCF];%cria como resultado uma matriz onde a primeira coluna
%corresponde aos intervalos (lags) e a segunda aos coeficientes de
%correlaçao
defasagem=max(result(:,2));%escolhe como resultado para defasagem a correlaçao
máxima encontrada
==============================================================
%Programa para a interpolação das saidas do modelo nos
%pontos e horarios da sondagem. Gera elevações referidas
%ao LAT local, NR local ou NR da estaçao de referencia
%conforme dados de entrada
load pontos2006_2.txt % carrega dados xyt das sondagens
load dadosmodeloNRloc.txt % carrega saidas do modelo referidas ao plano escolhido
elev=dadosmodeloNRloc;%atribui a variavel elev
pontos=pontos2006_2;%atribui a variavel pontos
for i=1:1972%repete o processamento para cada linha de xyt
eta(i,1)=griddata3(elev(:,1),elev(:,2),elev(:,3),elev(:,4),pontos(i,1),pontos(i,2),pontos(i,
3));%interpola as elevaçoes
%do modelo para o xyt desejados
end
dlmwrite('correçoesNRloc.txt',eta,'delimiter','\t','precision',5)%grava o arquivo de
correçoes
166
% Script para a interpolação linear dos resultados do modelo para o ponto que se deseja
% conhecer
load elevacoes.txt;%carrega o arquivo de elevaçoes produzidas pelo modelo para os
quatro nós mais próximos
%ao ponto que se deseja obter a série interpolada. Formato: x,y,eta
load ponto6.txt;% coordenadas do ponto que se deseja conhecer (no caso o ponto 6)
elev=elevacoes;
for i=1:8761% para cada linha de valores (no caso, há 8761 valores horários)
for j=1:4% considerando cada um dos quatro nós
m(j,1)=i+8761*(j-1);% m é apenas um contador
end
etaprimo(i,1)=griddata(elev(m,1),elev(m,2),elev(m,3),ponto6(1,1),ponto6(1,2));% faça
a interpolaçao espacial
%para o ponto que se deseja conhecer
end
save eta6 etaprimo -ascii% grava o arquivo da série interpolada para o ponto 6
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo