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nas quais essas consoantes ocupariam posições intermediárias (obs.tinado,
adj.etivo etc).
O que é que o português falado faz com essas sílabas?
Acrescenta uma vogal: assim, palavras como afta, adjetivo, significar etc.
se tornam [á.fi.ta, a.di.je.ti.vo, si.gui.ni.fi.car] etc. Ou seja, sílabas que
seriam do tipo af. ou ad. ou sig. se reestruturam. Cada uma delas torna-se
duas, todas com estrutura bem assentada na língua: a.fi., a.di., si-gui. A
“regra” atinge também palavras cuja escrita pode nos enganar: por
exemplo, táxi e sexo são, de fato /tak-si/ e /sek-so/ e se tornam /táquisi/ e
/séquisso/, e palavras estrangeiras, como snob, que deu /es.no.be/, com um
acréscimo no começo e outro no final, mudando uma palavra que tem só
uma sílaba em inglês para uma palavra que tem três em português. É o
que Mattoso acrescenta (Pasquale cairia de costas): “Assim, um verbo
como ritmar se conjuga no presente singular ritimo, ritimas, ritima...”.
Com uma conseqüência a mais: se as formas recebessem só a vogal, às
vezes se tornariam proparoxítinas (rítimas). Mas acontece com elas outra
mudança, algumas vezes, e há também um deslocamento do acento. Daí
ritímo, ritímas etc. e o tal de opíto, que Pasquale combate (o acento, aqui,
se destina a marcar a tônica e não uma alteração também da grafia, que,
evidentemente, continua como sempre, isto é, opto, ritmas etc). Mas esse
deslocamento de acento não ocorre sempre. Por exemplo, afta nunca
resulta em afíta, sempre em áfita.
Em suma: há exemplos de padrões silábicos óbvios na escrita
que não se sustentam na fala. Os casos mais evidentes são do tipo táxi,
que, na escola, aprendemos a dividir como se fossem duas sílabas CV: tá-
xi. Que Pasquale está falando de escrita — ou tomando a escrita como
modelo — fica claro até demais quando escreve: “muita gente flexiona
esses verbos como se no infinitivo houvesse um ‘i’ (‘ui’, na verdade)”.
Ora, o “u”, em palavras como sangue, está aí apenas para indicar a
pronúncia do “g” (daí, estendeu-se também a palavras como quina).
Indo um pouco adiante, pode-se dizer que se trata de casos de
variação — ou seja, que há falantes que acrescentam a vogal claramente,
outros que nem tanto. Dito de outra forma, constatam-se no português as
duas variantes: opto e opito. Se a forma básica é opito, encontram-se dela
duas pronúncias: com acento na penúltima ou na antepenúltima sílaba:
ópito ou opíto.
O que talvez seja mais interessante é o fato de que, para muitos
falantes, só existe uma forma, e ela é forma, digamos, nova: opíto. Ou
seja: muita gente conhece a variação, as duas formas, e as usa conforme o
contexto, ou usa somente uma delas. Mas muita gente só conhece uma. É
bastante comum que isso ocorra.
Recentemente, assistindo a uma defesa de tese cujo tema era o
destino das formas consideradas características do dialeto caipira por
Amadeu Amaral (quem nunca leu
O dialeto caipira, desse autor, não sabe
o que perdeu), ouvi de uma professora que fazia parte da banca que uma