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PAULO JOSÉ DA COSTA
A MENTE PRIMITIVA:
UM ESTUDO CONCEITUAL A PARTIR DA PRODUÇÃO PSICANATICA ESCRITA
São Paulo
2010
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PAULO JOSÉ DA COSTA
A MENTE PRIMITIVA:
UM ESTUDO CONCEITUAL A PARTIR DA PRODUÇÃO PSICANATICA ESCRITA
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutor em Ciências,
Programa de Psicologia Clínica.
Área de Concentração: Psicologia Clínica
Orientadora: Profª. Dra. Eva Maria
Migliavacca
São Paulo
2010
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Biblioteca Dante Moreira Leite
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Costa, Paulo José da.
A mente primitiva: um estudo conceitual a partir da produção
psicanalítica escrita / Paulo José da Costa; orientadora Eva Maria
Migliavacca. -- São Paulo, 2010.
188 f.
Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia Clínica) Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo.
1. Psicanálise 2. Mente primitiva 3. Conceitos I. Título.
RC504
COSTA, Paulo José da
A mente primitiva: um estudo conceitual a partir da produção psicanalítica
escrita
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Doutor em Ciências,
Programa de Psicologia Clínica.
Aprovado em:
Banca Examinadora
Profª. Dr
ª
. ___________________________________ Instituição_____________
Julgamento: _________________________________ Assinatura ____________
Prof. Dr. ____________________________________ Instituição_____________
Julgamento: _________________________________ Assinatura ____________
Profª. Dr
ª
. ___________________________________ Instituição_____________
Julgamento: _________________________________ Assinatura ____________
Profª. Dr
ª
. ___________________________________ Instituição_____________
Julgamento: _________________________________ Assinatura ____________
Profª. Dr
ª
. ___________________________________ Instituição_____________
Julgamento: _________________________________ Assinatura ____________
A
Cristina,
minha esposa, companheira, que me ama e a quem eu amo muito.
Ao
Marcelo,
meu filho, que a cada dia traz novos horizontes a minha vida.
AGRADECIMENTOS
Com prazer e gratidão, deixo aqui registrados meus sinceros
agradecimentos a todos que se fizeram presentes de modo significativo e me
apoiaram ao longo do curso de doutorado e da montagem da presente tese, de
modo muito especial:
- à Cristina Vilela de Carvalho e ao Marcelo, minha esposa e filho, por seu
amor, dedicação, compreensão e apoio, tão fundamentais em minha vida;
- à Prof.ª Dra. Eva Maria Migliavacca, minha orientadora, por ter-se
disposto a me acompanhar nessa jornada;
- aos professores do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
que, nas disciplinas da pós-graduação e outras atividades, contribuíram, cada um
com sua parcela, para a execução dessa trajetória;
- à Universidade Estadual de Maringá e à Capes, pelas condições materiais
que me propiciaram nesse percurso da minha formação;
- a todos aqueles que, embora seus nomes não estejam aqui mencionados,
de inúmeras formas participaram e contribuíram direta ou indiretamente.
RESUMO
COSTA, P. J. A mente primitiva: um estudo conceitual a partir da produção
psicanalítica escrita. 2010. 188 f. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
A expressão mente primitiva é frequentemente encontrada no âmbito da
psicanálise, porém não é um conceito sem problemas no vocabulário
psicanalítico, por não haver consenso quanto ao seu uso, ou ser utilizado de
forma ampla e genérica, sem apresentar uma definição mais precisa que indique
com maior exatidão a que se refere. Muitos autores têm usado esse termo ou um
equivalente, com diferentes posicionamentos. Tem como principal objetivo
clarificar o processo de construção do conceito de mente primitiva e seus
desdobramentos por meio da análise da produção psicanalítica escrita. Trata-se
de uma investigação conceitual segundo os pressupostos de natureza qualitativa,
caracterizando-se como descritivo-exploratória do ponto de vista de suas
finalidades. Procura tornar possível o estabelecimento de meios de refinamento
ao examinar minuciosamente os elementos, os contextos em que se insere esse
conceito em seu processo de construção, suas transformações e tentativas de
consolidação, tanto no seio de determinada corrente teórica psicanalítica quanto
na interface das múltiplas perspectivas. O material selecionado é composto por
produções publicadas na Revista Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI) e no
International Journal of Psycho-Analysis (IPA), no período de 1990 a 2005. Não
se trata apenas de propor uma revisão sobre o tema, mas de uma tentativa de ir
além, buscando o que pode ser apreendido e os sentidos que puderam emergir
do contato com o material, identificado mediante levantamento em bases de
dados on line, tanto nos periódicos selecionados quanto em outras fontes, que
contribuíram para a fundamentação e aprofundamentos. Localizado e recuperado
o material, iniciou-se o processo de imersão por meio da leitura. Na Revista
Brasileira de Psicanálise foram lidas 1.069 produções e destas foram
selecionadas as 109 em que aparece a expressão “mente primitiva” ou termos
congêneres, tendo aquela sido encontrada 29 vezes em 14 artigos e 01 (uma)
resenha, e estes últimos, por vezes inúmeras em todas as produções
selecionadas. No International Journal of Psycho-Analysis foram encontradas 318
referências de artigos no mesmo período, sendo selecionadas 50 delas. A partir
do percurso da literatura psicanalítica em geral e do material selecionado, foi
elaborada uma síntese geral que contribui para a clarificação do conceito em
pauta, pois apresenta um conjunto de caracteres que permitem a detecção das
condições necessárias para descrever, classificar e identificar o que pode ser
circunscrito pela expressão mente primitiva. De modo geral, é possível
compreender esse termo como: 1) referente ao funcionamento mental peculiar
dos primeiros meses de vida do bebê, desde sua centralização nos processos
corporais a partir dos quais se originam os desenvolvimentos progressivos do
psiquismo e a constituição do sujeito; 2) parte constituinte do psiquismo, oriunda
dos estados iniciais do funcionamento mental tanto da espécie (filogênese)
quanto do indivíduo (ontogênese), que permanece dinamicamente atuante por
toda a vida junto com os desenvolvimentos posteriores, sendo imperecível.
Palavras-chave: mente primitiva; psiquismo primitivo; estados primitivos da mente;
psicanálise; pesquisa conceitual.
ABSTRACT
COSTA, P. J. The primitive mind: a conceptual study based on written
psychoanalysis output. 2010. 188 f. Thesis (Doctorate) Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
The expression primitive mind is frequently found in the realm of
psychoanalysis. However, it is not a concept devoid of problems in the vocabulary
of psychoanalysis, as there is no consensus regarding its use or it is used is a
broad and generic sense, without a more precise definition that can indicate with
more precision its true meaning. Several authors have used this term or an
equivalent to it, with different standings. Starting from the plurality of approaches
on this topic, the present investigation contributes, not because it intends to unify
propositions or establish standards, but by pointing out its specificities and
discussing it in order to broaden its understanding. The main objective is to clarify
the process of constructing the concept of primitive mind and its developments,
through the analysis of written psychoanalysis output. It is a conceptual
investigation according to the qualitative assumptions, and can be characterized
as descriptive-exploratory in its purposes. It aims to make it possible to establish
means of refinement when examining in detail the elements, the contexts in which
this concept is inserted in its construction process, its transformations and
attempts at consolidation, both in the heart of a given psychoanalytical current and
in the interface of multiple perspectives. The selected material consists of scientific
output published in the Brazilian Journal of Psychoanalysis (FEBRAPSI) and in the
International Journal of Psycho-Analysis (IPA), in the period between 1990 and
2005. This is not a mere revision on the theme, but an attempt to go beyond,
seeking what can be absorbed and the meanings that emerged from contact with
the material, which was identified from an assessment in online databases, both in
the selected periodicals and in other sources that contributed to the formulation
and expansion. After the material was located and retrieved, the process of
immersion began through reading. From the Brazilian Journal of Psychoanalysis,
1,069 productions were read, of which 109 were selected, where the expression
primitive mind was found 29 times in 14 articles and one review, in addition to
other similar terms. In the International Journal of Psycho-Analysis, 318 references
were found of articles for the same period, of which 50 were selected. From the
exploration through general psychoanalysis literature and the selected material, a
general synthesis was devised that contributes to the clarification of the concept at
hand, as it presents a set of characters that allow the detection of the necessary
conditions to describe, classify and identify what can be circumscribed by the use
of the expression primitive mind. In a general sense, it can be understood as: 1)
referring to the peculiar mental functioning during the baby’s first months, from its
centralization in body processes from which develop the progressive
developments of the psyche and the establishment of the subject; 2) as the
constituent part of the psyche, resulting from the initial stages of mental
functioning, both of the species (phylogenesis) and the individual (ontogenesis),
which remains dynamically active throughout the life along with the later
developments, imperishable.
Keywords: primitive mind; primitive psyche; primitive mental states;
psychoanalysis; conceptual research.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 09
1 A MENTE PRIMITIVA: UMA PROBLEMÁTICA CONCEITUAL....................... 12
1.1 Apresentação................................................................................................ 12
1.2 Delineamento do tema em investigação..................................................... 16
1.3 Justificativas................................................................................................. 23
1.4 Objetivos........................................................................................................ 24
2. O PERCURSO E O ENQUADRE DA INVESTIGAÇÃO................................... 26
2.1 O material....................................................................................................... 26
2.2 Justificativas................................................................................................. 27
2.3 O método....................................................................................................... 28
2.4 Configuração da análise dos resultados.................................................... 30
2.5 Procedimentos.............................................................................................. 30
2.6 Outras considerações.................................................................................. 33
3. OS CONCEITOS E A PSICANÁLISE.............................................................. 35
3.1 O conceito, a definição e a concepção....................................................... 35
3.2 O conceito e o campo psicanalítico............................................................ 37
3.3 Freud e o processo de conceitualização.................................................... 40
3.4 A especificidade do conceito psicanalítico................................................ 42
3.5 Algumas vicissitudes dos conceitos psicanalíticos................................. 43
4 REVISANDO A LITERATURA: O PERÍODO ATÉ 1989.................................. 46
4.1 A mente primitiva.......................................................................................... 46
4.2 Os termos congêneres................................................................................. 54
4.3 Aspectos compartilhados............................................................................ 58
a) Os aspectos corporais e as experiências mentais primitivas........................... 58
b) O nascimento da experiência psíquica e a mente primitiva.............................. 60
c) Características da mente primitiva.................................................................... 60
d) A mente primitiva é imperecível........................................................................ 61
e) Mecanismos constitutivos da mente primitiva................................................... 62
f) A ontogênese repete a filogênese..................................................................... 63
g) Caracterização por oposição............................................................................ 63
h) A mente primitiva e o protomental.................................................................... 64
5. REVISANDO A LITERATURA: O PERÍODO DE 1990 A 2006....................... 65
5.1 A mente primitiva.......................................................................................... 65
5.2 Os termos congêneres................................................................................. 73
5.3 Aspectos compartilhados............................................................................ 76
a) Os aspectos corporais e as experiências mentais primitivas........................... 77
b) O nascimento da experiência psíquica e a mente primitiva.............................. 78
c) Características da mente primitiva.................................................................... 78
d) A mente primitiva é imperecível........................................................................ 79
e) Mecanismos constitutivos da mente primitiva................................................... 80
f) A ontogênese repete a filogênese..................................................................... 81
g) Caracterização por oposição............................................................................ 81
h) A mente primitiva e o protomental.................................................................... 82
6 O INTERNATIONAL JOURNAL OF PSYCHO-ANALYSIS (1990-2005) ........ 83
6.1 A mente primitiva.......................................................................................... 83
6.2 Os termos congêneres................................................................................. 85
6.3 Apreensão de elementos significativos...................................................... 99
7 A REVISTA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE (1990-2005) .......................... 103
7.1 A mente primitiva........................................................................................ 103
7.2 Os termos congêneres............................................................................... 107
7.3 Apreensão de elementos significativos.................................................... 121
8 DISCUSSÃO.................................................................................................... 128
8.1 Síntese explicativa: uma contribuição...................................................... 128
8.2 Algumas questões...................................................................................... 130
8.3 O conceito e a psicanálise: transmissibilidade e compartilhamento.... 132
8.4 Retorno aos questionamentos.................................................................. 133
8.5 Possíveis condições que dificultam a precisão conceitual.................... 136
8.6 Uma problemática focal espelhando outra mais ampla.......................... 137
9. CONSIDERÕES FINAIS............................................................................ 140
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 144
INTRODUÇÃO
O conceito de “primitivo”, seja na sua forma substantiva seja na adjetiva
(quando agregada a outros termos), sempre exerceu fascinação no seio da
psicanálise, tendo organizado a teoria e a prática em Psicanálise, mesmo
considerando-se as diferentes escolas ou correntes (GROTSTEIN, 1997).
Talvez por isso, em outro estudo constatou-se que a expressão “mente
primitiva” é frequentemente utilizada tanto na literatura psicanalítica quanto em
palestras, conferências e conversas entre os pares no âmbito da psicanálise.
Verificou-se, não obstante, que não é um conceito sem problemas no vocabulário
psicanalítico, inclusive por não haver consenso quanto ao seu uso, ou por ser
utilizado de forma ampla e genérica, sem apresentar uma definição mais precisa,
que indique com maior exatidão a que se refere, sendo seu sentido geralmente
suposto pelo contexto em que é empregado (COSTA, MAIA, BOLONHEIS,
MIGLIAVACCA, 2008).
Também é preciso considerar que Sigmund Freud enfatizou muito a ideia
de primitividade ao longo de sua obra. Além disso, evidências de que os
estudos acerca da mente primitiva ganharam novo destaque a partir de Melanie
Klein, e de que outros tantos autores tenham usado esse termo ou um
equivalente, cada um a seu modo, nas suas teorias sobre o desenvolvimento
psíquico, mas nenhum deles precisou seu conceito.
A presente investigação foi proposta tendo-se em vista que o conceito de
mente primitiva é polêmico no âmbito da Psicanálise, como indicado acima, e que,
embora seu uso seja frequente nas produções psicanalíticas, esse conceito está
longe de ser consensual.
Foi estabelecido como principal objetivo clarificar o processo de construção
do conceito de mente primitiva mediante a análise da produção psicanalítica
escrita, de modo a contribuir para a sua compreensão.
Segundo a perspectiva metodológica adotada, trata-se de uma pesquisa
teórica, conceitual e desenvolvida em conformidade com os pressupostos
qualitativos, caracterizando-se, do ponto de vista de seus objetivos, como
descritivo-exploratória. Desse ponto de vista, os dados oriundos do material
contido nas fontes referenciais foram observados, registrados, categorizados e
analisados, o que proporcionou maior familiaridade com o objeto de estudo,
tornando sua problemática mais explícita por destacar suas características e
peculiaridades.
Durante o processo de elaboração do percurso investigativo, muitos foram
os caminhos possíveis vislumbrados como alternativas, entre eles a delimitação
do campo da pesquisa a um ou mais autores, ou ainda a uma ou mais escolas, o
que exigiria, de certo modo, centrar-se na revisão das suas respectivas teorias.
Tendo-se em vista, então, as constatações iniciais de que não existia consenso
em torno do conceito de mente primitiva, de que sua utilização era por vezes
ampla e genérica, sem definição que fosse clara e precisa, a hipótese levantada
foi que isso era extensivo a todo o conhecimento obtido sobre a questão até
aquele momento, independentemente de autor ou escola.
Sendo assim, ao invés de focalizar a investigação em determinado(s)
autor(res) ou escola(s) e suas respectivas teorias, optou-se pelo caminho em que
o olhar do pesquisador se dirigisse para um amplo horizonte, sem delimitar
autores ou escolas; ou seja, o investigador dirigiu-se à pluralidade de abordagens
psicanalíticas presentes nos canais de comunicação formal do conhecimento, tais
como periódicos, livros, anais, etc.
Diante dessa amplitude, o fundamental para a demarcação dos parâmetros
necessários a condução do processo foi assumir uma postura que sustentasse
como vértice norteador e delimitador a expressão “mente primitiva”, com a
finalidade de perseguir as condições necessárias à consecução dos propósitos
definidos.
Assim, o objeto de estudo não seriam as supostas teorias sobre a mente
primitiva de determinado autor ou escola, mas sim, o suposto conceito de mente
primitiva, ou congênere, onde e como aparecesse na literatura psicanalítica,
tendo-se em vista o levantamento efetuado e as circunscrições metodológicas
estabelecidas.
A decisão de instituir desse modo o objeto de estudo partiu de suposições
iniciais que se confirmaram ao longo do desenvolvimento do trabalho
investigativo, no qual se considerou que, embora as teorias de Freud e Klein,
além de outros tantos autores, sejam fundamentais para a compreensão do que
se denomina de mente primitiva, eles não fazem do termo uma definição
propriamente dita. Discorrer, por exemplo, sobre a gênese do psiquismo não é
necessariamente definir o conceito de mente primitiva, embora tal teorização
possa contribuir para o entendimento dessa expressão. Ou ainda, propor que a
ênfase nos estudos acerca da mente primitiva é dada a partir deste ou daquele
autor não é o mesmo que afirmar que tais autores definiram com maior precisão
tal conceito.
Desse modo, embora a literatura consultada tenha se constituído em tão
amplo horizonte, em função da pluralidade de abordagens e autores psicanalíticos
apresentados em que o olhar do pesquisador acompanhou essa visão
panorâmica do tema, a adoção da postura que sustentou como vértice norteador
e delimitador a expressão mente primitiva permitiu a focalização necessária. Foi
exatamente essa condição que tornou possível a descrição e a exploração do
objeto de estudo, deixando sua problemática mais explícita por destacar suas
características e peculiaridades, que serão apresentadas no decorrer deste
trabalho.
1 A MENTE PRIMITIVA: UMA PROBLEMÁTICA CONCEITUAL
1.1 Apresentação
No início do século XX houve grande interesse em compreender a assim
chamada mente primitiva, particularmente nos campos da antropologia, da
etnologia, da psicologia e da sociologia (MILLER, 1983)
1
. Dentro dessas áreas do
conhecimento desenvolveram-se inúmeros estudos que posteriormente foram
questionados; inclusive a expressão “mente primitiva” e qualquer outra
acompanhada desse tipo de adjetivação passaram a ser criticadas por,
supostamente, conterem conjeturas preconceituosas, conquanto isso tenha sido
objeto de questionamento por parte de certos autores (DOUGLAS, 1973).
No campo psicanalítico esse interesse também se fez presente embora
com abordagem do assunto segundo a particularidade de seu objeto de estudo
e parece ainda manter-se, pelo menos em algumas vertentes teóricas
psicanalíticas ou em alguns autores; contudo, por essa mesma particularidade
que diferencia a Psicanálise da Antropologia, Etnologia, etc., o que passou a se
constituir no sentido do que seria e do que não seria primitivo nem sempre
correspondeu ao que era compreendido nos outros campos do conhecimento
(STEINER, 1994).
Considerando a especificidade do âmbito psicanalítico, tempos venho
me dedicando a pensar e estudar algumas questões que foram se fazendo
presentes, tais como: o que é a mente primitiva no campo psicanalítico?; como
defini-la de forma mais precisa?; a que se refere o uso de tal expressão e quais
seus efeitos na esfera psicanalítica?
Tais questionamentos surgiram da confluência de algumas vivências, as
quais, progressivamente, foram me despertando o interesse em função das
questões oriundas da minha prática clínica, de supervisões de casos clínicos, da
pesquisa por mim desenvolvida durante o mestrado, do contato com a literatura
psicanalítica, à qual recorria quando se faziam presentes as indagações (mas
1
Todos os textos em língua estrangeira consultados em sua maioria foram por mim traduzidos,
com exceção daqueles em que consta o tradutor nas Referências.
nem sempre obtive as respostas desejadas), e do contato com outros
profissionais da área, mantidos em conversas pessoais e em participações em
congressos, seminários e grupos de estudo. Assim sendo, sinteticamente, os
pontos que confluíram dizem respeito a certos aspectos inerentes tanto à prática
clínica quanto à teoria que dela tenta dar conta, os quais se evidenciaram em
diferentes momentos, que me proponho assinalar a seguir.
O contato com questões referentes aos chamados pacientes difíceis, sua
conceituação e o manejo técnico na pesquisa que deu origem à minha
dissertação de mestrado (COSTA, 1998) as quais remetem a características de
acentuados traços narcísicos, dificuldades para o insight, intensa resistência a
mudanças, além de marcado grau de inacessibilidade, fatores que impõem sérios
obstáculos ao processo analítico evidencia a predominância de áreas psíquicas
pouco desenvolvidas.
Por outro lado, as profundas transformações de toda a ordem pelas quais
passaram as sociedades contemporâneas desde o século anterior geraram novas
formas de construção das subjetividades, inclusive (o que nos interessa aqui) se
expressam nas características de certas manifestações psicopatológicas na
atualidade, como as chamadas patologias do vazio (BIRMAN, 1999; DANTAS
JR., 2002; GEVERTZ, 2002; LISONDO, 2004; MOTA, 2004, UNGAR, 2004).
Diante dessas novas conjunturas da atualidade, resultantes dos processos
de profundas mudanças, quem afirme que a preocupação da psicanálise
contemporânea não é mais a neurose como sintoma social, mas “a delinquência
generalizada, a perversão, a falência da ordem simbólica e o surgimento de um
novo modo de organização do laço social [...]” (KEHL, 1998, p. 6).
Neste sentido, entre as pessoas que procuram a clínica psicanalítica há
uma demanda expressiva de indivíduos com características muito regressivas,
entre eles psicóticos, borderlines, caracteropatas, somatizadores e aqueles com
traços de perversão (ZIMERMAN, 1997). Também, no dizer de McDougall (1991),
apresentam-se, sobretudo, pacientes com problemas caracteriais, com estruturas
narcísicas, sendo estas um grande desafio para a clínica contemporânea
(BASTOS, 1997a, 1997b; PELLANDA, 1996a).
Certamente, o que possibilita os desenvolvimentos psicanalíticos são os
desafios, que estimulam os estudos. É isto o que vem acontecendo na história da
psicanálise desde Freud, para quem somente os neuróticos eram passíveis de
tratamento psicanalítico (1913/1974b; 1938/1975), embora ele mesmo por vezes
tenha se debruçando sobre a questão da psicose, buscando compreender seus
mecanismos, e não desestimulasse os trabalhos dessa ordem que eram
desenvolvidos por alguns psicanalistas muito próximos a ele (ANDRADE JR.,
1995; ROSENFELD, 1988). Foi assim que o conhecimento psicanalítico se
expandiu produzindo-se desenvolvimentos na teoria e na técnica a partir da
constante retroalimentação com a experiência clínica que se renovava mediante
as contribuições de muitos psicanalistas, avançando na compreensão do
funcionamento psíquico – e possibilitou as condições técnicas pelas quais foi
possível estender o tratamento psicanalítico a pacientes severamente
perturbados, embora os desafios continuem.
Por outro lado, também é preciso não esquecer que, em função do objeto
específico do processo analítico, mesmo aqueles pacientes que apresentam
estrutura de personalidade neurótica portanto, com características menos
complicadas, se comparada com outras estruturas tornam-se difíceis, pela
emergência de aspectos de áreas psíquicas pouco desenvolvidas em algum
momento de sua trajetória analítica (BROMBERG, 1992; COSTA, 2006;
NACHMANI, 1992; SHAPIRO, 1992). Tal possibilidade é oriunda da compreensão
de que as etapas anteriores do desenvolvimento mental coexistem com as
posteriores no funcionamento psíquico, podendo ser restabelecidas e reativadas
no curso da vida do indivíduo, pelo seu caráter imperecível (FREUD,
1913/1974b).
Essa perspectiva inerente à compreensão psicanalítica do funcionamento
do psiquismo se expressa de múltiplas formas nas proposições de diferentes
autores, algumas das quais quero assinalar destacando apenas determinados
pontos específicos, mais próximos aos objetivos da presente discussão. Entre
esses pontos está o termo “posição”, introduzido por Melanie Klein, o qual,
embora diga respeito aos fenômenos esquizoparanoides e depressivos referentes
ao primeiro ano de vida do bebê, “[...] implica em uma configuração específica de
relações de objeto, ansiedades e defesas, que persistem durante toda a vida”
(SEGAL, 1975, p. 11), o se restringindo simplesmente a um estágio ou fase.
Também a noção bioniana de “parte psicótica da personalidade”, referindo-se a
que todo indivíduo humano, mesmo os ditos “normais”, ou os neuróticos,
possuem-na em sua estrutura psíquica (BION, 1994).
Outros estudos dentro dessa perspectiva que podem ser citados são: o de
Tustin (1990), onde a autora discute como “barreiras autistas” podem ser
construídas não apenas em pessoas com estrutura de personalidade
severamente comprometida, mas também em indivíduos neuróticos; o de Steiner
(1997, p. 19) sobre “refúgios psíquicos”, que se organizam como uma área do
psiquismo na qual o paciente pode se refugiar com o intuito de se proteger de
angústias muito arcaicas, onde “[...] a fantasia e a onipotência podem existir sem
restrições [...]”, sendo encontrados tanto em psicóticos quanto em fronteiriços e
neuróticos; e o de Mitrani (2001), que investiga o surgimento, na infância, de
algumas “proteções extraordinárias”, cuja função é evitar o contato com
experiências traumáticas profundas, que estão presentes em pessoas comuns,
aparentemente sem grandes comprometimentos, mas podem ser reveladas
por um exame mais profundo.
Embora esses autores não discorram especificamente sobre a mente
primitiva como um conceito, abordam aspectos que lheo relacionados por
outros autores ou que tornam possível, sob certos enfoques, estabelecer relações
entre suas proposições e tal termo. É possível perceber isso tanto na literatura
quanto no contato pessoal com vários profissionais da área ou em exposições
destes em palestras, congressos, encontros, seminários e grupos de estudo. Não
é apenas uma constatação pessoal, mas é evidenciado igualmente em outro
estudo (COSTA, MAIA, BOLONHEIS, MIGLIAVACCA, 2008), que a expressão
“mente primitiva” é muito utilizada na literatura psicanalítica, em palestras e
conversas entre pares.
Não obstante, da confluência dessas vivências, o que se evidenciou foi
que, embora “mente primitiva” seja um termo presente na literatura, não é um
conceito sem problemas no vocabulário psicanalítico, inclusive não consenso
quanto ao seu uso (COSTA, MAIA, BOLONHEIS, MIGLIAVACCA, 2008), que
envolve polêmicas tanto conceituais quanto epistemológicas.
Considerando as interrogações suscitadas e procurando outros elementos
que pudessem ajudar-me a pensar ainda mais essas questões, recorri à literatura;
mas não encontrei dados que ajudassem a estabelecer uma definição mais
precisa do que seja a mente primitiva, ficando-me claro que o conceito em pauta é
utilizado em vários artigos de forma ampla e genérica, sem apresentar uma
definição que indique com mais exatidão a que se refere.
1.2 Delineamento do tema em investigação
No retorno à literatura especializada, a expressão “mente primitiva”
aparece na obra de S. Freud por quatro vezes (pelo menos na tradução da Edição
Standard Brasileira). O termo semostrado, a seguir, nos quatro contextos em
que é utilizado pelo autor em questão.
Na continuação do capítulo sexto da “Interpretação de Sonhos”,
particularmente no item intitulado “Um Sonho de Bismarck”, Freud, ao apresentar
uma interpretação para tal sonho, afirma:
O ato proibido de apanhar a varinha (no sonho um ato indiscutivelmente
fálico), a produção de líquido sob o seu impacto, a ameaça de morte
nesses exemplos encontramos todos os principais fatores da
masturbação infantil combinados. Podemos observar com interesse o
processo de elaboração que integrou esses dois quadros heterogêneos
(originando-se, um da mente de um estadista de gênio, e o outro dos
impulsos da mente primitiva de uma criança) e que, por esse meio,
conseguiu eliminar todos os fatores aflitivos (FREUD, 1900/1972, p. 406,
grifo nosso).
É possível pensar que, nesse trecho, Freud se refere à mente primitiva
enquanto expressão daquilo que viria a se constituir como o das Infantile”,
resultante “[...] da inscrição no psiquismo dos sedimentos daquilo que nos é dado
viver na aurora da existência” (MEZAN, 1995, n. p.).
Em “Totem e Tabu”, no capítulo segundo (Tabu e Ambivalência
Emocional), a expressão “mente primitiva surge em dois momentos, como se
segue:
Essa transmissibilidade do tabu é um reflexo da tendência, comentada
por nós, de o instinto inconsciente da neurose deslocar-se
constantemente por meios associativos para novos objetos. Nossa
atenção é assim dirigida para o fato de que a perigosa força mágica do
mana corresponde a dois poderes de uma espécie mais realista: o poder
de fazer alguém lembrar-se de seus próprios desejos proibidos e o poder
visivelmente mais importante de induzi-lo a transgredir a proibição em
obediência àqueles desejos [itálico do autor]. Essas duas funções podem
ser reduzidas a uma, entretanto, se supusermos que numa mente
primitiva o despertar da lembrança de uma ação proibida acha-se
naturalmente vinculado ao despertar de um impulso para efetuar essa
ação (FREUD, 1913/1974a, p. 54, grifo nosso).
A projeção da hostilidade inconsciente sobre os demônios, no caso do
tabu relativo aos mortos, é apenas um exemplo de um certo número de
processos aos quais se deve atribuir a maior importância na formação da
mente primitiva. No caso de que estivemos tratando, a projeção serviu
ao objetivo de manejar um conflito emocional, sendo empregada da
mesma maneira num grande número de situações psíquicas que
conduzem às neuroses (FREUD, 1913/1974a, p. 85, grifo nosso).
Nesses dois momentos, sem entrar numa discussão mais profunda, parece
que o autor utiliza a expressão mente primitiva para se referir aos elementos
infantis presentes no psiquismo, abarcando a possibilidade de compreensão tanto
pelo vértice filogenético quanto pelo ontogenético.
No texto “Reflexões Para os Tempos de Guerra e Morte”, especificamente
no ensaio I (A desilusão da guerra), Freud destaca que
(...) o desenvolvimento da mente revela uma peculiaridade que o se
acha presente em qualquer outro processo de desenvolvimento. Quando
uma aldeia se transforma numa cidade, ou uma criança num homem, a
aldeia e a criança ficam perdidas na cidade e no homem. a memória
pode descobrir as antigas feições nesse novo quadro; e, de fato, os
antigos materiais ou formas foram abandonados e substituídos por
novos. O mesmo não ocorre com o desenvolvimento da mente. Aqui,
pode-se descrever o estado de coisas, que não encontra termo algum de
comparação com a mera afirmativa de que, nesse caso, cada etapa
anterior de desenvolvimento persiste ao lado da etapa posterior dela
derivada; aqui, a sucessão também envolve a coexistência, embora toda
a série de transformações tenha sido aplicada aos mesmos materiais. O
estado mental anterior pode não ter-se manifestado durante anos; não
obstante, está presente tanto tempo, que poderá, em qualquer época,
tornar-se novamente a modalidade de expressão das forças da mente, e
na realidade a única, como se todos os desenvolvimentos posteriores
tivessem sido anulados ou desfeitos. Essa extraordinária plasticidade
dos desenvolvimentos mentais não se restringe ao que diz respeito à
direção; pode ser descrita como uma capacidade especial para a
involução – para a regressão –, de uma vez que pode muito bem
acontecer que uma etapa posterior e mais elevada de desenvolvimento,
tão logo abandonada, talvez não seja alcançada de novo. Contudo, as
etapas primitivas sempre podem ser restabelecidas; a mente primitiva
é, no sentido mais pleno desse termo, imperecível (FREUD, 1915/1974e,
p. 322-323, grifos nossos).
Aqui aparece de forma mais evidente que mente primitiva, como expressão
de etapas primitivas do desenvolvimento, refere-se ao que se cunhou na
Psicanálise como o infantil.
Não obstante, poder-se-ia afirmar que o uso da expressão “mente primitiva”
em Freud é, no mínimo, problemático, tendo-se em vista as inúmeras críticas,
discussões e comentários às traduções de sua obra (BETTELHEIM, 1993;
LAPLANCHE; COTET; BOURGUIGNON, 1992), particularmente no caso da
Edição Standard Brasileira (CARONE; SOUZA, 1990; HANNS, 1996; MENEZES,
2002; SOUZA, 1994; 1999).
Sem pretender dar conta de tarefa de tamanha envergadura, que é entrar
no mérito das questões relacionadas com os problemas das traduções, também
não é possível deixar de considerá-la, pelo menos em parte; e apenas para se ter
uma ideia, recorri a algumas delas: a tradução espanhola de Luis Lopez-
Ballesteros y de Torres, a tradução argentina de José L. Etcheverry e a tradução
inglesa de James Strachey. Além dessas, consultei uma versão francesa de “A
interpretação dos sonhos”, traduzida por I. Meyerson, e de “Totem e tabu”, por D.
S. Jankélévitch.
Nas citações acima, extraídas da Edição Standard Brasileira, onde se
encontra a expressão “mente primitiva”, na tradução espanhola aparece como
vida psíquica primitiva (FREUD, 1912/1973a, p. 1768 e p. 1788; FREUD,
1915/1973b, p. 2108). Na versão argentina é apontada como alma infantil
primitiva (FREUD, 1900/1976b, p. 384), vida anímica primitiva (FREUD,
1913/1976c, p. 41 e p. 69) e anímico primitivo (FREUD, 1915/1976d, p. 287). Na
tradução inglesa, por quatro vezes aparece primitive mind (FREUD, 1900/1958a,
p. 381; 1913/1958b, p. 34 e p. 64; 1958c, p. 286). Em francês, surge como une
âme (FREUD, 1926, p. 341) e vie psychique primitive (FREUD, 1924, p. 53 e p.
92).
Embora problemas de tradução possam gerar dificuldades conceituais, isto
não quer dizer que não seja possível utilizar determinado termo aparentemente
equivocado no seu sentido original, respeitando sua origem. Exemplos disso são
os conceitos de mente e instinto para ficar em alguns que têm gerado
grandes polêmicas e muitas discussões. Em muitos casos as críticas são
pertinentes, mas também se encontram em alguns trabalhos presentes na
literatura psicanalítica os mesmos termos usados em seus respectivos sentidos
de seelee trieb mantendo assim seus significados originais. Obviamente,
isso parece estar longe de ser plenamente resolvido, mas o mesmo se pode dizer
do uso do conceito de mente primitiva.
De acordo com Korbivcher (informação pessoal)2, a ênfase nos estudos
acerca da mente primitiva é dada a partir de Melanie Klein em diversos textos,
quando introduz os conceitos de posição esquizoparanoide e posição depressiva.
Tais conceitos têm como consequência uma antecipação temporal do surgimento
2
KORBIVCHER. C. F. Comunicação pessoal. Mensagem recebida por <pjcos[email protected].br>
em 28 out. 2002.
de certos fenômenos psíquicos, se comparados com as formulações freudianas
acerca da formação do ego, do superego e do complexo de Édipo, por exemplo;
mas não se trata apenas de uma antecipação temporal, pois isto decorre de uma
nova compreensão quanto ao processo de construção do psiquismo, de
processos mentais muito intensos vividos pelo bebê desde o seu nascimento.
Embora tenha sido feita uma varredura na maioria das obras de Melanie Klein na
tradução brasileira, não foi encontrada exatamente a expressão “mente primitiva”.
Algumas das expressões encontradas quando ela discute o desenvolvimento do
psiquismo são as seguintes: ego arcaico; superego arcaico; conflitos arcaicos; superego
primitivo; mentalidade arcaica; processos primitivos; estágios mais arcaicos; estágios
iniciais da vida; estágios iniciais do desenvolvimento; estudos sobre a mente do bebê;
figuras primitivas dos pais combinados; estágio muito primitivo do desenvolvimento; os
objetos da criança são de uma natureza primitiva – além de outras similares. Isto se deve
às teorizações de Melanie Klein sobre as posições esquizoparanoide e depressiva,
caracterizando suas formulações sobre o desenvolvimento inicial do psiquismo.
Enfatizando essa característica, a Comissão Editorial Brasileira (1991) das obras
de Melanie Klein destaca que a palavra inglesa early é a marca distintiva da obras da
referida autora. Segundo a Comissão, Klein
[...] emprega consistentemente o termo early para qualificar os
vários fenômenos psíquicos por ela observados – ansiedades,
mecanismos de defesa, fantasias e relações de objeto e que
constituem, a seu ver, os alicerces da estrutura psíquica. Para o
tradutor, este termo abre uma ampla gama de acepções
possíveis: primeiro, inicial, primitivo, arcaico, primário, antigo,
precoce, prematuro, o que está no começo, o que vem antes
(1991, p. 14, grifo dos autores).
Por tudo isto, é possível pensar que a Comissão esteja se referindo à
mente primitiva quando Melanie Klein apresenta suas concepções acerca dos
“vários fenômenos psíquicos por ela observados”.
Também foi localizado um trabalho de Giovacchini (1967) onde consta uma
referência a Edward Glover na qual aparece a expressão “mente primitiva”. Essa
citação de Glover (1930) refere-se ao artigo Grades of Ego-Differentiation. Uma
versão ampliada desse artigo foi publicada posteriormente (GLOVER, 1968a) e
nela não se encontra esse termo, mas são encontradas com frequência
expressões como: primitive ego, primitive nucleus, primitive structure, primitive
ego-nucleus. Além destas, inúmeras outras acompanhadas do adjetivo primitive
são encontradas em diversos trabalhos do autor (1949, 1968a, 1968b, 1968c,
1968d), embora utilize também correlatos, como primordial, initial, early, primary,
archaic e original.
Grotstein (1997) afirma que o conceito de primitivo tornou-se uma espécie
de pedra de toque na psicanálise, destacando que, além de Freud, também Klein,
Bion e Winnicott abordaram a questão, bem como outros tantos autores que não
constituíram escolas psicanalíticas.
Destarte, de acordo com os autores consultados e indicados acima, há
evidências do uso direto ou indireto da expressão mente primitiva” por Freud,
Klein, Glover, bem como por Winnicott e Bion, embora ainda não estejam claros
nem o conceito nem o modo como tais autores efetivamente usaram tal
expressão.
Nessa tentativa de encontrar subsídios que pudessem levar a definir com
maior precisão o conceito em questão, foi encontrado um artigo de Lima (1998),
onde se destaca o seguinte trecho:
É nesse sentido que penso que a obra de Melanie Klein, principalmente
ao formular a sua teoria da mente primitiva, aparentemente tão simples
(posição esquizoparanoide/ posição depressiva), aponta, a partir de
achados clínicos, para a percepção de fenômenos psíquicos específicos
do nosso tempo. Penso também que a combinação entre a teoria
freudiana do aparelho mental tal como formulada no sétimo capítulo e a
teoria kleiniana da mente primitiva tornou possível a W. Bion um novo
salto em relação a este problema (LIMA, 1998, não paginado; grifo
nosso).
A partir do texto de Lima e de outros comentários feitos anteriormente, é
possível pensar que o conceito de mente primitiva tenha efetivamente surgido no
campo psicanalítico kleiniano; entretanto também se pode pensar que esse
conceito esteja ligado ao imperecível, ao das Infantile freudiano e às concepções
teóricas desenvolvidas por Glover, Winnicott e Bion acerca do desenvolvimento
do psiquismo.
Bem, o que estou tentando demonstrar? É que, embora o conceito em
questão tenha se constituído como um marco no contexto da psicanálise
kleiniana, evidências de que outros autores (Freud e, pelo menos, Glover,
Winnicott e Bion) tenham usado esse termo ou um equivalente, cada um a seu
modo, nas suas teorias sobre o início do desenvolvimento psíquico. Também é
preciso destacar que, mesmo considerando-se as influências mútuas, cada um
desses cinco autores indicados aqui construiu um corpo teórico onde apresenta
concepções próprias acerca do psiquismo desde o seu início.
Por outro lado, até onde foi possível conhecer desses e de outros autores
que usam a expressão mente primitiva ou congênere, eles não a tratam como um
conceito específico, não havendo uma definição mais precisa do que seja.
Conforme assinalado anteriormente, em vários textos consultados a expressão
mente primitiva aparece sem ser definida, sendo seu significado apenas suposto
no contexto em que é empregada. Sempre aparece, quando muito, numa
definição geral e ampla. Tanto que, quando se procurou defini-la o que será
apresentado mais adiante –, a definição foi baseada em autores brasileiros que,
nos seus trabalhos, fazem-no de forma genérica ou suposta (cf. BRAGA, 1995;
GOMES, 1983; KAIO, 1999; KORBIVCHER, 1999; LISONDO, 1992; LONGMAN,
1994; REZZE, 1997). Ase pode pensar que esses autores não tenham uma
construção teórica que transcenda as escolas psicanalíticas a que estão
vinculados e que, por isso, talvez não se preocupem com uma definição rigorosa
em termos conceituais.
O mesmo parece acontecer na literatura internacional, pois um
levantamento bibliográfico na base de dados PsycINFO também demonstrou que
a expressão mente primitiva aparece sem ser definida, sendo seu sentido suposto
pelo contexto de forma genérica (cf. AZZONI; BARTOCCI; DE ROSA; FERRO et
al., 1986; BELL, 1996; DAVIDSON, 1963; EIGEN, 1981; EISSLER, 1952; EL
SAFTI, 1973; JUNKERS, 2000; KHAN, 1968; LEIRA, 1998; OLSON, 1997;
SHENGOLD, 1993; TUTTMAN, 1985; ZANOCCO; DE MARCHI; POSSI, 2006).
Mesmo se tomarmos autores criadores de teorias próprias, como é o caso
de Freud, Winnicott, Klein e Bion, até onde o meu conhecimento pode alcançar,
nenhum deles fornece uma definição pontual do que seja mente primitiva, embora
o termo, ou um equivalente, seja usado por eles, seus seguidores e outros, dentro
da especificidade de cada teoria. Ademais, não é um verbete encontrado na
maioria dos dicionários de Psicanálise (COSTA, MAIA, BOLONHEIS,
MIGLIAVACCA, 2008), o que, aliás, não quer dizer que o conceito não exista ou
nem seja usado, pois, como destaquei na Apresentação, inúmeros são os meios
pelos quais ele aparece.
Tal condição não sugere que esse conceito é problemático no vocabulário
psicanalítico? Sem dúvida, existem, sim, complicações teóricas, metodológicas e
epistemológicas.
A partir dos caminhos percorridos e do que pude vislumbrar como
possibilidade, provisoriamente passei a entender a mente primitiva como um
conceito que se refere à expressão dos estados iniciais do desenvolvimento do
psiquismo humano, ou seja, aos níveis mais precoces da organização mental e
suas manifestações (COSTA; CARVALHO, 2002).
Mediante o contato com essa questão em diferentes autores no âmbito da
Psicanálise, tais como Bion (1994), Freud (1976a), Klein (1981, 1991) e Winnicott
(1975, 1982a, 1982b, 1983), foi possível constatar a existência de diferentes
posicionamentos em torno desse tema. Tais autores, pela força de suas
proposições, formaram escolas que, sem se entrar na discussão das
especificidades e controvérsias inerentes às suas posições, mantêm-se presentes
no campo psicanalítico.
Além dos autores acima indicados, destacam-se alguns que, embora não
tenham constituído escolas propriamente ditas, elaboraram constructos teóricos
relevantes acerca do tema em questão. São eles: Abraham (1959, 1989); Bick
(1991); Mahler (1982, 1989) e Mahler, Pine e Bergman (1986); Meltzer (1986,
1989, 1991a, 1991b); Spitz (1979, 1987); Tustin (1984, 1990, 1995) entre
outros.
Por outro lado, não é possível deixar de assinalar aqui o crescente
interesse verificado nas últimas décadas pelo psiquismo pré- e perinatal. Neste
campo, apenas para destacar, é possível citar os trabalhos de Pellanda (1996b),
Piontelli (1995, 1996), Rascovsky (1960), Rezende (1995), Szejer e Stewart
(1997), Tractenberg (1993), Verny (1989), Wilheim (1988, 1992, 1997) e
Zimerman (1995).
Por todas estas indicações, é possível concluir a existência de uma
pluralidade de abordagens a respeito dos estados primitivos da mente e, por
decorrência, sobre a mente primitiva; mas essa pluralidade vai além das
indicações mencionadas, tendo-se em vista que a maioria dos autores
importantes no âmbito da Psicanálise, direta ou indiretamente, abordaram o
desenvolvimento da personalidade e, consequentemente, especularam sobre a
mente primitiva (MILLS, 2002; NEMIROVSKY, 2002; VALLADARES, 2005;
ZIMERMAN, 2001) ou sobre os estágios iniciais do desenvolvimento do psiquismo
humano, construindo hipóteses sobre suas origens.
1.3 Justificativas
A partir do que foi apresentado até o presente, em síntese, o que se
destaca é que o conceito de mente primitiva é polêmico no âmbito da Psicanálise.
Conquanto seja frequente nas produções psicanalíticas, seu uso eslonge de
ser consensual. Não obstante, mesmo considerando-se a diversidade de pontos
de vista sejam estes favoráveis ou não à utilização desse termo –, o que se
evidencia é que não consenso e que até o momento não há predomínio de
uma das posições acerca desse conceito. Em que pese a isso, porém, nos textos
de diferentes autores que incorporam o termo em suas teorizações, em diversos
trabalhos anteriormente citados, tal ideia é utilizada com profundos efeitos na
compreensão dos fenômenos clínicos e de aspectos do desenvolvimento psíquico
tanto do ponto de vista teórico quanto do de suas contribuições para a técnica no
trabalho analítico. Dentro dessa perspectiva, do ponto de vista clínico o termo
mente primitiva muitas vezes parece ser utilizado como um conceito funcional que
auxilia na compreensão de certas dinâmicas clínicas, e, concordando-se ou não,
é possível ver nexo nas descrições de fatos clínicos que acompanham essa
denominação (COSTA, MAIA, BOLONHEIS, MIGLIAVACCA, 2008).
Como não somente a literatura especializada expressa tal multiplicidade de
posicionamentos, mas essa problemática e controvérsias a seu respeito são
igualmente encontradas no discurso de profissionais (COSTA, MAIA;
BOLONHEIS, MIGLIAVACCA, 2008), fica evidenciada a indicação de ser este um
campo fértil para estudos, como possibilidade de ampliação do conhecimento,
“[...] em que a incerteza e a relatividade dos conceitos são os principais
ingredientes” (KORBIVCHER, 2001, p. 935), sem perder de vista a multiplicidade
de vértices a partir dos quais um mesmo fenômeno pode ser considerado em
psicanálise. Esse “pluralismo e controvérsia o a maneira pela qual se busca a
pesquisa conceitual com suas implicações clínicas e técnicas” (WIDLOCHER,
2003, p. 56-57). Neste sentido ainda é preciso considerar que “os progressos em
psicanálise ocorrem não somente através de novas descobertas empíricas, mas
também por meio da clarificação de seu sistema conceitual existente e também
da criação ocasional de novos conceitos” (DREHER, 2005, p. 1).
Dentro dessa perspectiva, é preciso ponderar que uma investigação
conceitual dessa ordem pode contribuir com o campo psicanalítico, não porque
pretenda unificar as proposições ou estabelecer padronizações, mas no sentido
de que permite assinalar as diferenças e os aspectos comuns e discuti-los de
maneira que seja possível ampliar a compreensão de determinado conceito,
favorecendo, sobretudo, a comunicação entre os pares e as diversas linhas de
pensamento sobre a questão (LAVERDE RUBIO, 2004a; 2004b).
A investigação conceitual torna possível estabelecer meios de refinamento
ao examinar minuciosamente os elementos, os contextos em que se insere
determinado conceito em seu processo de construção, suas transformações e
tentativas de consolidação no seio das múltiplas correntes teóricas psicanalíticas
em suas complexas interações (DREHER, 2003; EIZIRIK, 2006).
Por todas estas considerações e por se inserir no seio de uma
problemática com consequências teóricas e técnicas é que penso que se justifica
o presente estudo.
1.4 Objetivos
O estudo tem como objetivo geral clarificar o processo de construção do
“conceito”
3
de mente primitiva, através da análise da produção psicanalítica
escrita.
Constituem seus objetivos específicos:
1) detectar quais questões acerca da mente primitiva, bem como suas
peculiaridades, são discutidas no campo da produção psicanalítica
escrita e como é feita essa discussão;
2) fazer um delineamento da trajetória dos trabalhos publicados sobre a
mente primitiva quanto aos aspectos destacados como mais
significativos e suas inter-relações com outros possíveis pontos;
3
As aspas aqui são para destacar a complexa problemática que envolve esse tema, bem como
assinalar a ambiguidade presente nessa expressão, tendo em vista a pouca clareza e imprecisão
conceitual que a cerca.
3) propor discussões que permitam visualizar melhor não apenas o quadro
atual da produção a respeito do assunto, mas, sobretudo, ampliar a
análise para os possíveis desdobramentos que tais contribuições
possam ter para além do campo teórico.
Considerando a problematização apresentada acima, bem com as
justificativas e os objetivos, apresento a seguir os passos dados ao percorrer o
caminho da investigação da questão proposta.
2. O PERCURSO E O ENQUADRE DA INVESTIGAÇÃO
2.1 O material
Tendo em vista que pretendo atingir os objetivos mediante a análise da
produção psicanalítica escrita e que se trata de um universo muito amplo, em
vista do grande volume de publicações na área em âmbito mundial, defino como
material objeto de estudo a Revista Brasileira de Psicanálise e o International
Journal of Psycho-Analysis, em suas edições no período de 1990 a 2005. Esta
opção tem a função de estabelecer alguns limites quanto à abrangência do campo
a ser investigado, tanto em termos temporais quanto materiais, referindo-se
apenas à necessidade de delimitação.
Para a escolha dos dois periódicos acima indicados, além da necessidade
de circunscrição e de ser levada em conta a maior facilidade de localização e
acesso a essas publicações, considerei relevante o fato de a Revista Brasileira de
Psicanálise ser o órgão oficial da Federação Brasileira de Psicanálise
(FEBRAPSI), antiga Associação Brasileira de Psicanálise (ABP), e de o
International Journal of Psycho-Analysis ser um periódico de abrangência mundial
vinculado à International Psychoanalytical Association (IPA).
Para a seleção dos trabalhos adotei como critério que eles apresentassem
em seus títulos, resumos, palavras-chave, ou no corpo textual, a expressão
“mente primitiva” ou congênere. Assim sendo, entendo como congêneres aqueles
termos que possam ser considerados semelhantes, similares à expressão “mente
primitiva”; portanto, que tenham a mesma natureza ou dela se aproximem. Desse
modo, hipoteticamente, tais termos parecem trazer subentendida a noção de
“mente primitiva”, sendo alguns deles:
- áreas primitivas da mente (do psiquismo);
- aspectos primitivos da mente (do psiquismo);
- atividade mental (ou psíquica) primitiva;
- camadas primitivas da mente;
- estados mentais primitivos;
- estados primitivos da mente (do psiquismo);
- estruturação mental (psíquica) primitiva;
- fenômenos mentais (psíquicos) primitivos;
- funcionamento mental (psíquico) primitivo;
- modo mental primitivo;
- mundo mental (psíquico) primitivo;
- níveis primitivos da mente (da vida mental);
- organização mental (psicológica) primitiva;
- primitivismo mental (psíquico);
- psique primitiva;
- psiquismo primitivo;
- realidade psíquica (infantil) primitiva;
- vida mental (psíquica) primitiva.
2.2 Justificativas
É oportuno debruçar-se sobre a produção escrita contida em canais de
comunicação formal como os periódicos, pelo destaque que possuem na
divulgação do conhecimento (CAMARGO, 1997; MOURA, 1997; OHIRA, 1997;
PÉCORA, 1997; VIEIRA, 1997a) e pelo esforço de estruturar o saber produzido
em determinada área sobre certos assuntos veiculados (QUELHO, 1991).
Ademais, isso pode contribuir para o desenvolvimento do campo de conhecimento
em foco, por permitir análises e avaliações (NOGUEIRA, 1997) que possibilitam
estabelecer indicadores, variáveis e diretrizes e fazer o mapeamento dos
avanços, retrocessos, propostas, dúvidas e questões em aberto (FREITAS, 1997;
NOGUEIRA, 1997; VIEIRA, 1997b), propiciando a abertura de novos horizontes
de estudos em uma área específica (LOURENÇO, 1997).
2.3 O método
Considerando as questões e os objetivos anteriormente apresentados,
parece-me que a escolha do método de pesquisa bibliográfica seria de grande
valia, entendendo-se tal método particularmente como
[...] um tipo especial de pesquisa documental que, como o nome indica,
tem por suporte da informação o documento bibliográfico. Compreende a
busca e a análise sistemática da informação contida em um acervo
documental bibliográfico, cujos parâmetros são cuidadosamente
especificados e segue procedimentos adequados aos objetivos e
norteadores da mesma (WITTER, 1990, p. 23-24).
Essa modalidade justifica-se por sua relevância para a análise e síntese do
conhecimento já produzido, como também por permitir a detecção de novas
questões acerca do tema, de aspectos ainda pouco explorados que permitiriam
abrir espaço para novas indagações e pesquisas (CHIZZOTTI, 1991; MEDEIROS,
1996; OLIVEIRA, 1997; PÁDUA, 1995; WITTER, 1990).
Faço minhas as palavras de Azevedo, Campolina e Pedroza (2000, p. 71),
para os quais
a perspectiva adotada se baseia no pressuposto da pesquisa qualitativa,
em que a subjetividade do pesquisador está presente continuamente no
processo de construção do conhecimento. Sobre este referencial
entendemos que a pesquisa bibliográfica se constitui em um processo de
compreensão interpretativa das fontes [...].
Assim, não se trata apenas de propor uma revisão do que foi produzido
sobre o tema, mas de uma tentativa de ir além, buscando, a partir do que está
posto, o que pode ser apreendido e os sentidos que possam emergir do contato
com o material.
Nesta perspectiva, dentro dos pressupostos da pesquisa qualitativa, o
pesquisador se constitui no seu principal instrumento, empenhando-se em
descrever sua compreensão a partir dos dados descritivos obtidos, com vista a
estabelecer sentidos e significados (LUDKE, ANDRÉ, 1988; McLEOD, 1994;
TRIVIÑOS, 1995). Para isso o pesquisador se coloca na posição de “imerso” no
processo, como parte intrínseca de sua pesquisa (MUCCHIELLI, 1991), tornando-
se alguém que participa e se envolve com a situação que pretende conhecer e
investigar (GOMES, 1991).
Deste vértice, ao se pretender imerso na complexidade e diversidade do
que objetiva estudar, o pesquisador deve ter um posicionamento aberto e flexível
para ir construindo as opções que se fizerem convenientes no decorrer do
processo, pois são as necessidades e as demandas que vão surgindo no decorrer
da pesquisa que determinam seu rumo (GONZÁLES REY, 2002). Tal
posicionamento permite que o problema a ser investigado seja um ponto de
partida, pois “o curso da pesquisa, as estratégias empregadas e os instrumentos
não constituem definições rígidas a priori, mas são definidos pelo curso da
informação e pelas necessidades que surgem progressivamente” (GONZÁLES
REY, 2002, p. 58).
De acordo com Laverde Rubio (2004a), a utilização preferencial da
perspectiva metodológica qualitativa na investigação conceitual, com o estudo e a
compreensão de textos, favorece a clarificação do modo de compreender e usar
os elementos teóricos. Esse mesmo autor (2004b) ainda salienta que a
investigação conceitual procura construir espaços de significação e estabelecer
os aspectos coincidentes e divergentes no uso dos elementos teóricos em estudo;
mas também alerta para a existência
(...) em alguns conceitos psicanalíticos de um certo grau de ambiguidade
ou paradoxo, elementos que escapam a razão, o imprevisto, o dico, o
humor, os jogos de palavras e os equívocos que é necessário aceitar
sem pretender simplificar ou desmantelar (LAVERDE RUBIO, 2004a, p.
223).
A importância da investigação conceitual para a psicanálise é destacada
por Ahumada e Doria-Medina (2004) como imprescindível para a sua
consolidação enquanto disciplina, sendo indispensáveis as clarificações
conceituais. Não se trata, porém, de buscar a unificação de critérios ou
estabelecer padronizações. Trata-se, sobretudo, de “[...] pôr em evidência as
diferenças e as áreas comuns, cujo objetivo final seria melhorar nossa
comunicação” (LAVERDE RUBIO, 2004a, p. 220).
Trata-se, assim, de uma pesquisa teórica, conceitual, de acordo com os
pressupostos qualitativos, caracterizando-se, do ponto de vista de seus objetivos,
como descritivo-exploratória. Desse ponto de vista, os dados oriundos do material
contido nas fontes referenciais foram observados, registrados, categorizados e
analisados, proporcionando maior familiaridade com o objeto de estudo e
tornando sua problemática mais explícita, por destacar suas características e
peculiaridades.
2.4 Configuração da análise dos resultados
Considerando o método escolhido e tendo como suporte o referencial
psicanalítico, foram adotadas as seguintes etapas: a imersão, a categorização e a
interpretação.
A imersão diz respeito ao envolvimento do pesquisador com os dados
coletados através de sucessivas leituras do material. É essa imersão nas
informações coletadas que permite ao pesquisador ir identificando e separando os
elementos que compõem o material, destacando-os, mas sempre levando em
conta a relação deles entre si (LÜDKE; ANDRÉ, 1988; McLEOD, 1994;
MUCCHIELLI, 1991).
A categorização é o processo de construção de categorias descritivas a
partir do estabelecimento de codificações e classificações do material, resultante
do trabalho sistemático na etapa anterior (LUDKE; ANDRÉ, 1988; McLEOD,
1994).
A interpretação constitui-se no processo através do qual o pesquisador
elabora um sentido acerca do tema da investigação a partir dos dados, dentro de
uma perspectiva mais ampla. O pesquisador também pode construir um modelo
explicativo ou fazer uso de uma teoria reconhecida para explicar os resultados a
que chegou (McLEOD, 1994). Segundo Orlandi (1996), “não há sentido sem
interpretação” (p. 21), “[...] sendo análise e teoria inseparáveis” (p. 38) nesse
processo.
2.5 Procedimentos
Tendo em vista os objetivos propostos e o todo escolhido, passarei a
apresentar os procedimentos que foram necessários à sua efetivação.
O primeiro passo consistiu em identificar, por meio de levantamento a
respeito do assunto, o material documental existente, tanto aquelas produções
que se restringissem aos periódicos selecionados quanto aquelas referentes a
outras possíveis fontes primárias que pudessem contribuir para a fundamentação
e aprofundamentos que viessem a se fazer necessários em relação à temática.
Para a realização desse levantamento fiz consultas a diversas bases de
dados on line, que indico a seguir:
- Psique (www.sbpsp.org.br/iah);
- Jourlit – Base de Dados de Psicanálise (www.apsa.org/default.aspx);
- PEP: Psychoanalytic Eletronic Publishing (www.p-e-p.org);
- Rede Psi Iberoamericana de Psicanálisis, Psicologia e Psiquiatria
(www.psinet.com.ar);
- Banco de Teses da Capes (www.capes.gov.br/serviços);
- Portal de Periódicos da Capes (www.periodicos.capes.gov.br);
- DEDALUS: Banco de Dados Bibliográficos da USP – Catálogo Geral
OnLine Global (dedadus.usp.br/4500/ALEPH/por/USP/USP/DEDALUS/START)
- Biblioteca Virtual em Saúde (www.bvs-psi.org.br);
- Biblioteca Virtual de Psicoanálisis Latinoamericana BiViPsiL
(www.bibipsil.org);
- LILACS Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(www.bireme.br/php/index.php);
- MedLINE Literatura Internacional em Ciências da Saúde
(www.bireme.br/php/index.php);
- SciELO: Scientific Eletronic Library Online
(www.scielo.org/php/index.php);
- PEPsic: Periódicos Eletrônicos em Psicologia (scielo.bvs-
psi.org.br/scielo.php);
- Google Acadêmico (scholar.google.com.br/schhp?hl=pt-BR).
Outras bases, em função de acesso restrito, foram consultadas pelo
sistema da Biblioteca do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo,
que foram:
- UnibibliWEB – Portal dos Sistemas de Bibliotecas das Universidades
Estaduais Paulistas;
- ProQuest Dissertations and Theses;
- Web of Science;
- Psicodoc – Base de Datos Bibliográfica de Psicologia; e
- PsycINFO.
A partir desse levantamento passei à etapa de localização e recuperação
do material identificado para ter acesso direto a ele, pela internet (para aqueles
que estavam disponíveis on-line), dos acervos da Biblioteca do Instituto de
Psicologia da USP, da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Maringá,
da Biblioteca Virgínia Leone Bicudo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de
São Paulo e dos serviços de comutação bibliográfica. Com isso, passei à fase de
compilação, que se caracteriza pela obtenção e reunião do material (CAMPOS,
2001; MEDEIROS, 1996).
O passo seguinte foi começar a leitura do material, dando início ao
processo de imersão. Foi este o primeiro contato com as informações contidas
nos textos, o qual permitiu identificar e, progressivamente, ir separando os
elementos necessários à pesquisa, o que, provavelmente, contribuiu para o
refinamento das informações coletadas. À medida que procedia à leitura fui
elaborando fichamentos do material para posteriores consultas e referências.
Contrariando minha constatação e o que foi evidenciado em outro estudo
(COSTA, MAIA, BOLONHEIS, MIGLIAVACCA, 2008) que a expressão “mente
primitiva” é frequentemente utilizada na literatura psicanalítica, em palestras e
conversas entre os pares - o levantamento realizado via bases de dados on line
indicou apenas 04 (quatro) artigos publicados na Revista Brasileira de
Psicanálise.
Diante desse fato, resolvi ler todo o material publicado no referido
periódico, no período compreendido entre 1990 e 2005, procurando aprofundar a
busca pela expressão “mente primitiva” ou congênere. Assim, foram lidos 821
artigos e 249 resenhas, totalizando 1.069 produções, das quais 109 foram
selecionadas.
Quanto ao International Journal of Psycho-Analysis, pelo levantamento feito
nas bases de dados on line foram encontradas 318 referências no mesmo
período, as quais foram localizadas e lidas na íntegra, sendo selecionados 50
artigos que efetivamente continham a expressão mente primitiva ou termo
congênere.
2.6 Outras considerações
Ao me defrontar com as indagações que me levaram a propor a presente
investigação, muitos foram os caminhos possíveis de serem tomados. Poderia ter-
me centrado, por exemplo, em pesquisar o tema em determinado autor ou em
determinada escola psicanalítica; ou então confrontar um ou mais autores e/ou
vertentes do pensamento psicanalítico. Estas seriam algumas formas de
direcionar os esforços em determinada direção que favoreceria delimitar mais
precisamente o foco de estudo. Entretanto preferi o caminho em que o olhar se
dirigisse para um amplo horizonte, o da pluralidade tanto de abordagens
psicanalíticas quanto de autores, mantendo, em qualquer caso, uma postura que
sustentasse como vértice que delimitou a presente investigação o suposto
conceito de mente primitiva. Isto me tornou possível mergulhar na pluralidade, na
imprecisão, na tentativa de compreender a função disto e, a partir daí, aprofundar-
me no estudo do conceito em questão.
Isto quer dizer que não pretendi dar conta de tudo o que foi produzido
sobre o assunto, tanto que algumas delimitações estratégicas foram necessárias,
como a temporal (1990-2005) e a material (Revista Brasileira de Psicanálise e
International Journal of Psycho-Analysis); mas também significa que, em função
dessa postura acima indicada, mantive-me aberto para o que foi surgindo em
decorrência do levantamento e das etapas posteriores, não me preocupando em
fazer objetivamente uma revisão bibliográfica das teorias dos autores clássicos,
mas resgatando deles o que fosse necessário a partir de um determinado achado,
caso julgasse imprescindível.
Dizendo de outro modo, meu objeto de estudo não é a teoria sobre a mente
primitiva de determinado autor ou escola. Meu objeto é o suposto conceito de
mente primitiva, ou congênere, onde ele aparecer no levantamento efetuado na
literatura, com as diversas teorias como pano de fundo, como contexto a partir do
qual adquire significado.
No processo de imersão e categorizações preliminares sobressaíram
questões relacionadas à conceituação em psicanálise e suas imprecisões
características, que já estavam postas logo no início deste trabalho em relação ao
conceito de mente primitiva, entre as quais se destacaram: o que é um conceito
psicanalítico?; quais as suas especificidades?; em que isso difere das demais
áreas do conhecimento?. Pareceu-me difícil ir em frente atendo-me apenas à
especificidade do conceito de mente primitiva, ou congênere, sem tentar
esclarecer em parte tais questões. A seguir serão apresentadas algumas
discussões a respeito.
3. OS CONCEITOS E A PSICANÁLISE
3.1 O conceito, a definição e a concepção
Para tentar entender a especificidade do conceito no campo psicanalíico é
preciso buscar entendê-lo em sentido mais amplo. Enfim, o que é um conceito?
Para Japiassú e Marcondes (1996, p. 48), em geral “[...] o conceito é uma
noção abstrata ou ideia geral, designando seja um objeto suposto único [...], seja
uma classe de objetos [...]”. Para esses autores o conceito é caracterizado por
sua “[...] compreensão ou o conjunto dos caracteres que constituem a definição
do conceito [...]” e por sua “[...] extensão ou o conjunto dos elementos particulares
dos seres aos quais se estende esse conceito” (p. 49). Afirmam ainda que “[...]
quanto maior for a compreensão, menor será a extensão; quanto menor for a
compreensão maior será a extensão” (p. 49).
Blackburn (1997, p. 66), por sua vez, expressa que um conceito refere-se
ao
(...) que é compreendido por um termo, em particular um
predicado. Possuir um conceito é ter uma capacidade de
usar um termo que o exprima ao fazer juízos; essa
capacidade está relacionada com coisas como saber
reconhecer quando o termo se aplica, assim como poder
compreender as consequências de sua aplicação.
Stratton e Hayes (1994, p. 43) consideram o conceito “um conjunto de
ideias e propriedades que pode ser empregado para reunir coisas em um mesmo
grupo”, sendo uma ideia generalizada que pode ser abstrata ou concreta.
Piéron (1969) afirma que o conceito é a “representação simbólica (quase
sempre verbal) utilizada no pensamento abstrato, tendo um significado geral
válido para um conjunto de representações concretas, no que elas tenham de
comum [...]”.
Por conceito, Abbagnano (1970, p. 151) entende
“Em geral, todo processo que torne possível a descrição, a classificação
e a previsão dos objetos cognoscíveis. Assim entendido, o termo tem
significado generalíssimo e pode incluir toda espécie de sinal ou
procedimento semântico, qualquer que seja o objeto a que se refere,
abstrato ou concreto, próximo ou longínquo, universal ou individual, etc.
[...] Embora o conceito seja normalmente indicado por um nome, ele não
é o nome, que diferentes nomes podem exprimir o mesmo conceito ou
diferentes conceitos podem ser indicados, por equívoco, pelo mesmo
nome. [...] a função primeira e fundamental do conceito é a mesma da
linguagem, isto é, a comunicação”.
Segundo Turato (2003), os conceitos são criações do intelecto humano,
portanto são construções intelectuais dependentes do contexto em que surgem
em termos paradigmáticos, de certa visão de mundo e impregnados de uma teoria
prévia. Assim, “[...] o termo conceito apresenta um contorno mais restrito [...], na
medida em que é a representação, igualmente pelo pensamento, mas de um
objeto preciso, atendo-se à sua qualidade e formulando ideias bem
caracterizadas” (TURATO, 2003, p. 509).
De acordo com Laverde Rubio (2004a), o conceito passa pela definição,
que estabelece aquilo que o identifica, a forma de reconhecê-lo e diferenciá-lo de
outros, bem como relacioná-lo com outras ideias que lhe sejam semelhantes.
Assim, a definição “é a operação que determina a compreensão de um
conceito” (DUROZOI; ROUSSEL, 1993, p. 119). Desse modo, o ato de definir “[...]
significa determinar a ‘compreensão’ que caracteriza um conceito” (JAPIASSÚ;
MARCONDES, 1996, p. 49). Por conseguinte, “o ato de definir deve provocar o
efeito de se afirmar quais são os fins (onde acaba) do objeto eleito para a
discussão, fazendo uma exposição de fronteiras explícitas, trazendo-lhe
explicação precisa [...]” (TURATO, 2003, p. 509).
Diz Teixeira (2007, p. 113) que “é por meio da definição que o conceito é
constituído e, portanto, não pode haver diferenças entre aquilo que o conceito
contém e aquilo que a definição diz que ele contém”.
Além dos termos “conceito” e “definição”, é frequente também o uso do
termo “concepção”, que, segundo Turato (2003, p. 508-509),
[...] devemos empregar quando nos referimos ao fato de que houve uma
criação mental, uma formação de ideias sobre um assunto, uma
abstração em relação a um tema em questão, sem que haja a
preocupação de colocar suas delimitações, seus contornos de formação
ou suas fronteiras com as concepções de outros temas vizinhos. [...]. Na
linguagem da conversação comum, concepção quer dizer simplesmente
‘noção’ ou ‘modo de ver’ de alguém.
Portanto, o termo “concepção”, se comparado com os dois anteriores, é mais
amplo que conceito e definição, dos quais este último é o termo mais restrito,
indicando com maior precisão a que se refere.
3.2 O conceito e o campo psicanalítico
Considerando-se que “[...] a incerteza e a relatividade dos conceitos são os
principais ingredientes” (KORBIVCHER, 2001, p. 935) nos processos do
conhecimento humano e que pluralismo e controvérsia são inerentes
particularmente ao campo psicanalítico (WALLERSTEIN; FONAGY, 1999;
WIDLOCHER, 2003), tem-se a dimensão da multiplicidade de perspectivas pelas
quais é possível abordar um mesmo fenômeno e da complexidade que isto
representa. Essa diversidade justifica-se, segundo Celes (2000), em função da
variedade com que o próprio fazer psicanalítico permite o surgimento em sua
tematização, pela postura própria do pensar psicanalítico, que constantemente
provoca o questionamento da experiência e o recriar das ideias (FRAYZE-
PEREIRA, 2004). Apesar, porém, das inúmeras possibilidades, com diferenças
por vezes quase irreconciliáveis, pode-se pensar ser desejável a construção de
pontos de intersecção que criem um campo onde seja possível a discussão, tanto
teórica quanto clínica (ALBUQUERQUE, 2001), sem que isso necessariamente
signifique a busca de homogeneização, de padronização, mas de compreensão,
inclusive favorecendo a comunicação entre os diversos posicionamentos.
Nessa perspectiva, a questão dos conceitos e suas definições é
fundamental, pois estes são criados em determinado campo do conhecimento
com a função de descrever, categorizar e formular hipóteses acerca de
fenômenos sobre os quais se pretende fornecer uma explicação, e nesse
processo de construção proliferam significados para um mesmo termo, ou novos
termos são criados com o mesmo significado. Deste modo, somente discussões e
sistematizações acerca do que foi produzido durante certo período podem
favorecer a compreensão de determinado termo segundo o sentido em que é
utilizado e o contexto específico em que surgiu.
Na psicanálise esse processo não é diferente e é mais problemático, como
será discutido ao longo desta parte, tendo-se em vista sua peculiaridade como
ramo do conhecimento e o fato de que os sucessivos empreendimentos para a
definição dos conceitos da teoria psicanalítica ainda o considerados
insatisfatórios, como afirma Moore (1992), referindo-se às inúmeras compilações
de termos psicanalíticos que surgiram e se tornaram obras de referência. Além
disso, conforme Sandler (1993) e Barros (1996), desde a década de 80 parece
existir uma atenção maior à natureza das teorias psicanalíticas e sua
multiplicidade, bem como aos conceitos teóricos enquanto conjuntos de
construções que norteiam o trabalho clínico, partindo-se da aspiração de alguns
analistas que remetem ao desenvolvimento de uma concepção teórica mais
enraizada no tratamento analítico.
De fato, tais construções que norteiam o trabalho analítico são “modelos”,
“[...] esquemas que buscam a trama conceitual de um real existente, em uma
apreensão que permite operar transformadoramente sobre este último”
(BLEICHMAR, 1996, p. 96). Acrescenta a autora que dúvidas emergirão
constantemente e que as respostas deveriam partir não somente da observação
clínica, mas igualmente da delimitação clara das conceituações. Além disso,
muitas conceituações psicanalíticas consolidaram-se e em parte se tornaram, até
certo ponto, consensuais. Na prática, por vezes elas apresentam matizes muito
específicas que podem tornar-se díspares (BRITO, 1996). Não obstante, “[...] é na
tensão entre riqueza clínica e elaboração teórica que se forja um caminho
singular, a ser reinventado a partir da construção freudiana [...] (FALBO;
HERZOG, 2001, p. 87).
Afirma Lo Bianco (2001, p. 7):
O psicanalista lida com definições teóricas abstratas que orientam sua
prática. Essas, no entanto, são ajustadas e precisadas a partir do
cotidiano da experiência analítica, que fornece o material para o
refinamento da elaboração teórica subsequente. É esse movimento que
permite a diminuição da distância entre teoria e prática e o aumento do
vigor que deve caracterizar a práxis analítica.
Segundo Moore (1992), Freud conceituou os processos mentais e cunhou
uma terminologia própria para a psicologia profunda que criou, sem, entretanto,
definir sistematicamente os termos instituídos. Embora fosse, sem sombra de
dúvida, um exímio escritor, não apresentou definições mais precisas dos termos
criados, e se isso não impediu sua compreensão e disseminação, consolidando-
se sua expansão, ao menos instaurou dificuldades que permanecem mesmo nas
novas construções conceituais do conhecimento psicanalítico contemporâneo.
Tanto isto é verdade que, de acordo com Opatow (1993, p. 438), “termos
subjetivos e explicativos coexistem incomodamente [...]” no discurso teórico
psicanalítico, e a carência de uma melhor estrutura conceitual força a que sejam
criadas soluções que nem sempre favorecem a clareza, a compreensão e a
comunicação.
Para MOORE, 1992 (p. XXV),
a inconsistência conceitual de Freud, expressa em um poético jogo de
palavras ironia e personificação de mecanismos, citações e fontes –,
emprestou a seus textos uma ambiguidade e uma flexibilidade que o
capacitaram a dizer diversas coisas diferentes ao mesmo tempo. Assim,
Freud comunicou seus conceitos por via do emprego aprimorado de uma
linguagem vívida e emocionalmente atraente, convincente, evocando no
leitor um sentimento pelo problema em questão.
Home (2004, p. 339) afirma haver o “[...] reconhecimento de que a teoria
psicanalítica tem dificuldades lógicas sérias, que muitos de seus conceitos são
maldefinidos e muitos dos termos usados regularmente para descrição clínica são
empregados de forma ambígua”. O autor acrescenta que essa problemática
conceitual pode ser justificada pelas inúmeras linguagens diferentes utilizadas,
mas que isso parece evidenciar, na verdade, uma postura de eximir-se da
responsabilidade intelectual.
Essa chamada inconsistência conceitual de Freud, a considerar a posição
de Monzani (1989, p. 302), que afirma ser a construção freudiana “[...] uma lenta
gestação conceitual onde as noções retificadas, precisadas, repensadas ou
explicitadas umas em função das outras e também em função das novas
aquisições fornecidas pela prática clínica”, parece indicar que foram se
construindo os conceitos de modo a alcançarem maior precisão e refinamento;
mas obviamente isso aconteceu segundo o estilo próprio de Freud de construir,
de apresentar, de comunicar suas construções, e não significa, necessariamente,
que de fato ele tenha atingido a precisão e clareza conceitual. Tanto assim é que,
na psicanálise freudiana,
o que temos é sempre uma progressiva rearticulação e redefinição dos
conceitos determinada por sua lógica interna e pela progressiva
integração dos dados da experiência. Ora se trata do aprofundamento e
do alargamento de um conceito (sedução). Ora se trata de uma
progressiva diferenciação no interior de um mesmo conceito (ego). Ora
da emergência de uma noção implícita mas ordenadora (a pulsão de
morte) etc. E cada uma dessas operações leva, por sua vez,
frequentemente, a que se obrigue a repensar o conjunto dos conceitos
que lhe são vizinhos e assim por diante (MONZANI, 1989, p. 303).
3.3. Freud e o processo de conceituação
É inegável que “Freud manteve ao longo de toda a sua vida um esforço
sistemático para conceituar o que emergia de suas descobertas clínicas”, de
acordo com Ahumada (AHUMADA; DORIA-MEDINA, 2004, p. 318); contudo,
ainda conforme esse mesmo autor, tal esforço deve ser visto na perspectiva de
que os conceitos psicanalíticos o conceitos abertos, e como tal, sofrem
modificações e redefinições em função dos seus múltiplos contextos de uso.
Ao se referir à noção de conceito aberto, Ahumada baseia-se em Pap
(1966), que por sua vez a transpôs das proposições de Wittgenstein acerca da
conceituação em filosofia, aplicando-a à arte. O mesmo havia feito Weitz (1956),
que, além da arte, estendeu a noção de conceito aberto também à estética.
Partindo das obras de Pap e de Weitz, acima indicadas, Teixeira (1999, n.
p.) afirma o seguinte:
Por conceito aberto entende-se aquele conceito para o qual não
podemos fornecer condições necessárias e suficientes de modo a
especificar quais os objetos que pertencem à extensão desse conceito.
[...]. O que importa reter da ideia de conceito aberto, é que isso nos irá
permitir que sempre que apareça uma situação ou um caso novo
possamos alargar o uso do conceito para o incluir. (itálicos da autora).
Complementam Almeida et al. (2003, n. p.):
Um conceito é aberto se não houver um conjunto de características fixas,
ou condições necessárias e suficientes, a partir das quais ele possa ser
definido, isto é, a partir das quais se torna possível encontrar a sua
extensão. [...]. Isto significa que um conceito aberto é reajustável,
podendo ser corrigido de modo a alargar o seu uso a casos
completamente novos.
Desse modo, é possível pensar que um conceito aberto incorpora a ideia
de incompletude, aproximando-se da concepção de que
em psicanálise não é absolutamente necessária uma intenção
precisamente determinada [de um conceito] devido ao peculiar de nosso
objeto de estudo, tal grau de precisão se encontra além de nossas
necessidades. É suficiente a determinação das características essenciais
ou particulares, a qual diminui os equívocos, pois não pretende eliminar
toda a ambiguidade. Por outro lado, é necessário precisar a extensão, ou
seja, o conjunto de dados clínicos aos quais pode aplicar-se um
conceito, os quais devem ser limitados, pois se são muito extensos se
fragiliza o conceito (LAVERDE RUBIO, 2004a, p. 220).
Darriba (2003a) também concorda que a obra freudiana expressa o esforço
constante de reflexão de Freud no tocante à sua produção conceitual.
No final da primeira conferência proferida nos Estados Unidos, Freud
(1910/1970) demonstra sua preocupação com a possibilidade de não ter sido
claro o suficiente em sua exposição e de que concepções novas tendem a ser
pouco claras, em função de seu conhecimento não ter avançado o suficiente, pois
a construção de uma teoria sólida é um processo que não acontece
gratuitamente. em “Os instintos e suas vicissitudes”, Freud (1915/1974d, p.
137) adverte que
[...] as ciências devem ser estruturadas em conceitos básicos claros e
bem definidos. De fato, nenhuma ciência, nem mesmo a mais exata,
começa com tais definições. O verdadeiro início da atividade científica
consiste antes na descrição dos fenômenos, passando então a seu
agrupamento, sua classificação e sua correlação. Mesmo na fase de
descrição não é possível evitar que se apliquem certas ideias abstratas
ao material manipulado, ideias provenientes daqui e dali, mas por certo
não apenas das novas observações. Tais ideias que depois se
tornarão os conceitos básicos da ciência são ainda mais
indispensáveis à medida que o material se torna mais elaborado. Devem,
de início, possuir necessariamente certo grau de indefinição; não pode
haver dúvida quanto a qualquer delimitação nítida de seu conteúdo. [...].
Só depois de uma investigação mais completa do campo de observação,
somos capazes de formular seus conceitos científicos básicos com
exatidão progressivamente maior, modificando-os de forma a se
tornarem úteis e coerentes numa vasta área. Então, na realidade, talvez
tenha chegado o momento de confiná-los em definições. O avanço do
conhecimento, contudo, não tolera qualquer rigidez, inclusive em se
tratando de definições.
Ideia semelhante aparece também em “Sobre o narcisismo: uma
introdução”, quando Freud (1914/1974c, p. 93) afirma:
Não é agradável a ideia de abandonar a observação pela controvérsia
teórica estéril, mas nem por isso nos devemos esquivar de uma tentativa
de elucidação. [...]; uma teoria especulativa das relações em questão
deveria começar por buscar como base um conceito nitidamente
definido. Mas sou da opinião de que é exatamente nisso que consiste a
diferença entre uma teoria especulativa e uma ciência erigida a partir da
interpretação empírica. Esta última não invejará a especulação por seu
privilégio de ter um fundamento suave, logicamente inatacável,
contentando-se, de bom grado, com conceitos básicos nebulosos mal
imagináveis, que espera apreender mais claramente no decorrer de seu
desenvolvimento, ou que está até mesmo preparada para substituir por
outros.
Em “Um estudo autobiográfico” (1925/1976e), Freud afirma:
ouvi dizer várias vezes em tom de desprezo que é impossível aceitar
seriamente uma ciência cujos conceitos mais gerais se ressentem de
exatidão, como os da libido e do instinto na psicanálise. Mas essa
censura repousa numa concepção totalmente errônea dos fatos.
Conceitos básicos claros e definições vivamente traçadas somente são
possíveis nas ciências mentais até o ponto em que as segundas
procuram ajustar uma região de fatos no arcabouço de um sistema
lógico. [...]. A zoologia e a botânica não partiram de definições corretas e
suficientes de um animal e de uma planta; até hoje a biologia foi incapaz
de dar qualquer significado certo ao conceito de vida. A própria física,
realmente, jamais teria feito qualquer progresso se tivesse tido de
esperar até que os seus conceitos de matéria, força, gravitação, e assim
por diante, houvessem alcançado o grau conveniente de clareza e
precisão. As ideias básicas ou os conceitos gerais em qualquer das
disciplinas da ciência sempre ficam indeterminados no início e somente
são explicados, para começar, mediante referência ao domínio dos
fenômenos de que se originaram; é somente por meio de uma análise
progressiva do material de observação que podem ser tornados claros e
podem encontrar um significado significativo e consistente. [...]. A
psicanálise era constantemente censurada pela sua falta de
completamento e insuficiência; embora seja claro que uma ciência
baseada na observação não tem nenhuma outra alternativa senão
elaborar seus achados de forma fragmentária e solucionar seus
problemas passo a passo. (FREUD, 1925/1976e, p. 73-74).
3.4 A especificidade do conceito psicanalítico
Darriba (2002, 2004) enfatiza a provisoriedade da produção conceitual
freudiana, condição que é sua essência, embora possa ser vista como um estágio
em que se encontra determinada disciplina, no caso, a psicanálise, como uma
condição momentânea. A provisoriedade conceitual “[...] instaura a singularidade
do objeto da psicanálise” (DARRIBA, 2002, p. 65), que inaugura “[...] a
impossibilidade do conceito psicanalítico alcançar uma total e definitiva apreensão
da realidade com a qual lida” (DARRIBA, 2003a, p. 13). Desse modo, “[...] talvez o
que defina o conceito psicanalítico seja seu ‘inacabamento’ como contrapartida de
um real que se exclui” (DARRIBA, 2003b, p. 179), em que “definir, conceituar e
teorizar adquirem outra dimensão, sem dúvida útil e suficiente, mas cuja utilidade
e suficiência tocam reiteradamente seu próprio limite a cada novo acontecimento
na clínica, provocando ativa instabilidade” (FIGUEIREDO; VIEIRA, 2002, p. 28).
De acordo com Warchavchic, Saddi e Khouri (2004, p. 12),
[...] nossos conceitos por vezes são malcomportados e problematizam
inclusive a própria ideia de conceito. Assim, nosso princípio é
contraditório e a investigação psicanalítica deve incorporar a
possibilidade do objeto se transformar, perder sua unidade de maneira
imprevista, para se recuperar de uma outra forma em outro momento.
Band (2000) toma as colocações de Freud anteriormente citadas como um
alerta de que as indefinições iniciais, ou a pouca clareza das definições, não
constituem somente uma possibilidade, por estarem em construção, mas uma real
necessidade, porquanto as próprias inconsistências contêm em si uma marca
inconsciente “[...] de renúncia à completude e às certezas, e de abertura ao
movimento” (p. 65). Embora isso seja o diferencial psicanalítico, uma
particularidade em relação a outros campos do conhecimento, é preciso
considerar que, conquanto a psicanálise trate de questões que por si mesmas não
fazem parte do campo científico tradicional, “[...] as questões do sujeito podem
surgir em um mundo no qual a ciência é possível” (CALAZANS, 2002, p. 33).
Essas questões estão, portanto, sujeitas à necessidade de clareza, de precisão,
de delimitação, mesmo que passíveis de discussão, pois se inserem no mundo da
linguagem, que deve transmitir com nitidez o conhecimento alcançado
(ALLEGRO, 1990). Isso, por outro lado, não quer dizer deixar de levar em conta a
qualidade essencial do dado psicanalítico, que não pode ser reduzido a um
quadro de referência neopositivista (HOLMES, 1998; WILLIAMS, 1998a), que
envolveria padronização, operacionalização, etc., sem a perda do seu próprio
quadro de referência teórica. Destarte, não é possível estabelecer conceitos
psicanalíticos por meio de definições operacionais sem descaracterizar o próprio
conhecimento gerado (NEMIROVSKY, 2002).
É preciso ter em mente que qualquer dado, enquanto tal, somente o é
quando tomado na perspectiva de “[...] um sistema específico de pensamento que
o considera como tal” (CALAZANS, 2006, p. 277).
Talvez seja por isso que, na opinião de Mezan (2003, p. 4), a psicanálise,
“[...] ainda que partindo da prática clínica, apresenta-se como um sistema
conceptual de extremo rigor. Cada elemento deste sistema articula-se com os
outros de maneira precisa [...]”. Nesse sentido, Maldavsky (2001) também
considera que a psicanálise construiu conceitos refinados e específicos, pela
articulação das exigências clínicas com a necessidade de explicitação de
categorias explicativas.
3.5 Algumas vicissitudes dos conceitos psicanalíticos
Em um prefácio para The Hampstead Clinic Series, Anna Freud (1987)
pondera que ao longo da história da Psicanálise os conceitos psicanalíticos
sofreram inúmeras vicissitudes, desde aquelas em que as mudanças ocorreram
na direção de se ampliar e aprofundar a compreensão, até aquelas mudanças em
que certos conceitos tornaram-se cada vez mais vagos e imprecisos. Ressalta a
autora que o que ocorre com maior frequência é que “muitos conceitos são
levados avante através da cena variável da teoria e prática psicanalítica, sem que
se dedique suficiente pensamento à sua necessário [sic] alteração ou redefinição”
(p. 09).
Zolty (1989) também concorda que os conceitos psicanalíticos, desde
Freud, resistem ao processo de definições estritas, tornando-se, via de regra,
saturados de múltiplas significações que, por vezes, o acontraditórias. Para
essa autora, a impossibilidade de se determinar um sentido unívoco a um
conceito psicanalítico relaciona-se não somente com o desenvolvimento da
psicanálise, mas também com a diversidade de correntes teóricas, escolas, etc.,
inclusive com a vulgarização do vocabulário psicanalítico. Por outro lado, a
autora considera que a ausência de um sentido unívoco, em si, não prejudica a
coerência do corpo teórico e que não é necessária a eliminação de todo conceito
ambíguo, desde que seja possível, de acordo com determinada finalidade, eleger
entre as diversas significações contextuais aquela que seja a principal, tendo-se
em vista que:
o sentido conceitual é sempre determinado pela articulação do conceito
com o conjunto da trama teórica, pela experiência da prática, pelas
palavras que o enunciam, e até pelo lugar que o referido conceito ocupa,
numa dada época, na linguagem da comunidade dos psicanalistas. Por
isso, um conceito psicanalítico recebe tantos sentidos quantas são suas
pertenças a contextos diferentes; essa é a razão de podermos afirmar
que, em psicanálise, toda significação conceitual é, definitivamente, uma
significação contextual (ZOLTY, 1989, p. 9).
Sandler (1983) também havia destacado que os termos conceituais
psicanalíticos frequentemente apresentam significados diversos, dependendo do
contexto em que sejam usados. Acrescenta que a teoria psicanalítica, enquanto
um corpo de conhecimento em estado contínuo de desenvolvimento desde a sua
origem, como parte desse movimento de expansão deve ter as lacunas em suas
formulações conceituais preenchidas e suas definições feitas com mais precisão.
Entretanto, em função do próprio movimento contínuo de expansão, o autor alerta
para a necessidade de tolerar em certos momentos a existência de conceitos
obscuros e maldefinidos, pois se constituem em conceitos elásticos e flexíveis
que, em sua opinião, desempenham um papel importante na sustentação da
teoria psicanalítica em certos períodos e contextos, criando as bases para novos
aprimoramentos.
Embora tais conceitos, por suas próprias definições, possam oferecer
obstáculos à compreensão adequada (JERUSALINSKY, 1998), por serem usados
muitas vezes de maneira inconsistente e sem demonstrar preocupação com os
problemas que possam acarretar à comunicação (LEVY; INDERBITZIN, 2001), é
preciso que se mantenha constante a preocupação de desenvolvê-los de modo
que possam vir a ser claramente definidos e comunicados (GARZA-GUERRERO,
2002). É preciso entender que estudar, investigar, produzir conhecimento são
atividades que, segundo Mitjavila e Poch (2001), tendem à objetivação como
condição necessária para que o que foi produzido seja explicado e transmitido à
coletividade, quer na forma de discurso científico quer na forma de discurso de
divulgação popular. Esses últimos autores entendem por objetivar o processo de
fazer com que o resultado de tais atividades seja transmissível e compartilhável.
A transmissibilidade e o compartilhamento, no caso dos conceitos
psicanalíticos, ocorrem quando as ideias e experiências são descritas,
organizadas e comunicadas em linguagem (DREHER, 2008). Contudo, por vezes
essas condições não se realizam plenamente, em função de imprecisões e
distorções de sentido ou do uso de alguns termos que contêm múltiplas variações
de significado, tornando difícil em muitos momentos saber em que sentido
determinado termo é utilizado (FRANÇA, 2001); ou ainda porque, segundo
Bokanowski (1992), certas noções assumiram, em numerosos autores, uma
extensão muito grande, tornando-se demasiado amplas e de múltiplos sentidos.
Tendo delineado essa discussão acerca dos conceitos em geral e a
especificidade no campo psicanalítico, apresentarei a seguir os materiais
relacionados ao assunto, a partir do levantamento efetuado junto às bases de
dados. Estes foram divididos em duas partes. A primeira corresponde aos que
foram publicados a1989, e a segunda, aos publicados após essa data. Aqueles
que se refiram ao International Journal of Psycho-Analysis e à Revista Brasileira
de Psicanálise, no período de 1990 a 2005, serão tratados separadamente, por se
constituírem no principal objeto de exame.
4 REVISANDO A LITERATURA: O PERÍODO ATÉ 1989
Considerando-se as publicações psicanalíticas desde o início do século XX
até o ano de 1989, procurar-se-á revisar aqueles textos em que aparece a
expressão “mente primitiva” ou congênere, mantendo-se a sequência temporal de
suas publicações. Evidentemente, não se pretende esgotar as ocorrências de tal
expressão nesse período, tendo-se em vista que o meio utilizado para esse fim foi
o eletrônico, sendo provável que algumas publicações possam, por inúmeras
razões, não ter sido identificadas. Aqui não serão abordados os textos dos
autores que originaram escolas psicanalíticas.
4.1 A mente primitiva
A primeira ocorrência foi identificada em um texto de Searl (1933), que, ao
discutir os símbolos e a atividade intelectual precoce, faz referência a mente
primitiva em dois momentos. No primeiro deles, ao comentar que no processo de
conhecimento a apreensão das diferenças pressupõe uma atividade mental mais
sofisticada do que a apreensão do que já é familiar, afirma que há algumas
evidências de que a mente primitiva, presente tanto na criança quanto nos
selvagens, pode apresentar capacidade de discriminação ou percepção das
diferenças tanto quanto uma mente muito mais desenvolvida. No segundo,
referindo-se ao funcionamento infantil, afirma que a capacidade discriminatória da
mente primitiva é comprometida quando impulsionada pela ansiedade além do
que interessa.
Rado (1940), por sua vez, ao examinar criticamente o conceito de
bissexualidade e discorrer sobre os mitos que envolvem essa questão, usa a
expressão “mente primitiva” como algo que se opõe ao atual, que preexiste ao
civilizado mas permanece presente e atuante, mantendo a presença mítica de
outrora como algo que ainda é.
Jones (1940) traz afirmações de que a mente primitiva é a expressão do
funcionamento mental infantil que se torna encoberto pelas forças repressivas,
compondo a mente inconsciente, sempre atuante, sendo mais selvagem e animal
do que a humanidade estaria disposta a admitir. Jones também refere que, por
métodos próprios da Antropologia, tem sido possível estudar e interpretar
materiais obscuros, e que correlações surpreendentes foram estabelecidas com
os aspectos mais primitivos da mente estudados na clínica psicanalítica,
parecendo estar implícita uma correlação entre a filogênese e a ontogênese.
Em Brown (1942) o termo mente primitiva aparece em um comentário seu
a respeito da obra Comparative psychology of mental development, de autoria de
Heinz Werner, publicada em 1940, no qual afirma que na obra comentada
não discussão de como a mente infantil primitiva
desenvolve em direção a mente adulta civilizada (a
psicologia desenvolvimental freudiana é completamente
negligenciada), do porque a mente primitiva do selvagem se
mantém primitiva, de como a mente adulta se desintegra em
direção a mente psicótica, que o pequeno título nos leva a
esperar (BROWN, 1942, p. 251).
Zilboorg (1945), por sua vez, ao comentar o comportamento das multidões,
das massas, menciona autores como Freud, Ward e McDougall, que, segundo
ele, concordariam que a mente social que surge nesses coletivos assemelha-se a
algo embrionário, ou seja, “[...] toma a forma da mente mais primitiva como
observamos em raças incivilizadas” (p. 33).
Ao resenhar o livro The eternal ones of the dream: a psychoanalytic
interpretation of australian myth and ritual, de autoria de Géza Róheim, publicado
em 1945, Grotjahn (1946) pondera que, em determinado ponto do texto, “[...] o
significado de uma fantasia de imortalidade é explicado em termos de nascimento
e morte e relações mãe-bebê; verdadeiramente apresenta uma nova
compreensão a respeito da mente primitiva e da mente menos primitiva”
(GROTJAHN, (1946, p. 249-250).
Em um artigo em que discute a origem do desejo heroico e científico,
Ehrenzweig (1949, p. 108) afirma: “dissemos que a mente primitiva era somente
interessada em desgraças e as explicava pela culpa”. Acrescenta ainda que “a
mente primitiva o diferenciava entre o desejo interior do ‘fogo’ de Prometeu e o
perigoso elemento externo” (p. 120) e que “pode parecer estranho que a mente
primitiva não diferenciaria entre um desejo do mundo interno e um fato do mundo
externo” (p. 121), numa clara referência ao homem primitivo, pré-histórico, e ao
funcionamento psíquico inicial do bebê.
Rodrigué (1956, p. 151), por sua vez, ao discorrer sobre o simbolismo,
fazendo referência a Ernest Jones, indica que “a diferença essencial entre o que é
chamada uma generalização valiosa isto é, uma científica e o arranjo simples
junto da mente primitiva reside no valor prático da generalização”.
Ao discutir em seu trabalho questões relacionadas à adoração de ídolos, às
relações do adorador com o ídolo, à destituição e substituição do ídolo, e quanto
isso é estranho quando comparado com a lógica da religiosidade ocidental,
Eissler (1958) registra a elocução “mente primitiva” sugerindo a existência de uma
diferença entre esta e uma suposta mente mais evoluída, com funcionamento
lógico diferenciado, refletindo implicitamente uma visão filogenética.
Novey (1961), baseando-se no texto de Freud de 1915 Reflexões para os
tempos de guerra e morte, reafirma que a mente primitiva é imperecível,
revelando-se pelo fenômeno da regressão, que faz com que o funcionamento
mental inicial, após longo período de suspensão, possa tornar-se novamente
modo de expressão.
Glenn (1965) comenta que a mente primitiva, tal como se pode observar na
criança, nos selvagens, bem como nos sonhos e na loucura, apresenta o que
Ernest Jones denominou de “tendência primitiva a identificação”, que é a
tendência a direcionar os processos perceptivos mais às similaridades entre
objetos, coisas e ideias do que à percepção das diferenças.
Weiss (1966), discutindo os conceitos de identificação primária e
identificação secundária, faz referência à mente primitiva enquanto aquela em que
a diferenciação id e ego não se consolidou plenamente e a separação entre os
mundos interno e externo ainda é incipiente. Desse modo, afirma o autor que “na
identificação primária, a totalidade da mente primitiva é envolvida; a identificação
secundária ocorre em uma parte da mente – o ego” (WEISS, 1966, p. 579).
Giovacchini (1967, p. 61) comenta que “a mente primitiva tende a perceber
todos os estados mentais envolvidos nos processos identificatórios como tendo o
mesmo tom afetivo, sendo similares, e os objetos envolvidos passam a ser
incorporados como uma identificação básica”.
A partir das colocações de Weich (1968) é possível presumir a concepção
de que a mente primitiva é aquela que funciona predominantemente pelo princípio
do prazer e pela fragmentação em que se toma a parte pelo todo –,
sobressaindo o uso de mecanismos como evitação e negação, entre outros.
Tecendo considerações sobre o animismo e os processos de projeção e
externalização, Novick e Kelly (1970) utilizam a expressão “mente primitiva” tanto
do ponto de vista filogenético quando do ângulo do desenvolvimento libidinal,
ligando-a à fase narcisista e à onipotência dos pensamentos.
Heimann (1975), tratando do desenvolvimento filogenético do conceito de
Deus, utiliza a noção de “mente primitiva” relacionada aos estados mentais
próprios do homem no estágio evolutivo inicial da espécie, no confronto com as
intensas manifestações pulsionais.
A tratar dos aspectos psicanalíticos da experiência religiosa, Meissner
(1978) refere-se à mente primitiva como aquela em que predomina o
funcionamento esquizoparanoide, no qual a projeção e a onipotência operam
intensamente.
Segundo Eigen (1981), a concepção psicanalítica da mente primitiva foi
sendo forjada a partir de confrontações por analogia, inicialmente, com as funções
digestivas, e posteriormente, com as funções reprodutivas. De acordo com esse
autor, do ponto de vista freudiano “[...] a mente primitiva se desenvolve em torno
da sua tentativa de lidar com o sentido das impressões relacionadas com a fome
e os sentimentos despertados e parcialmente identificada com as funções que
tenta dominar” (p. 177).
Frick (1982, p. 111), por sua vez, também se fundamenta em Freud,
particularmente em “O ego e o id”, de 1923, para afirmar que “[...] o ego se
desenvolve inicialmente pela influência da realidade sobre a mente primitiva do
bebê, e a realidade inicial do bebê é aquela do seu corpo”. Para o autor, a mente
primitiva remete à não integração e às tentativas de integração que se originam
da necessidade de controle dos movimentos corporais, os quais funcionam em
consonância com os afetos e impulsos.
A partir de Gaddini (1982) é possível conjeturar que a mente primitiva é a
expressão do funcionamento mental inicial do bebê, em que o circuito corpo-
mente-corpo caracteriza essa primitiva organização. Desse modo, a mente
primitiva se caracteriza pela expressão das experiências do funcionamento
corporal, que são fragmentárias e seletivas e geram defesas contra desejos não
realizados. Segundo o autor, os fragmentos não integrados do self estão
relacionados às experiências do funcionamento corporal. A mente primitiva
armazena as sensações táteis oriundas do contato físico do neonato com o
cuidador, pois a perda do limite protetor existente no ventre materno contribui
para a necessidade primária de contato físico, sendo esta uma das mais precoces
experiências mentais do funcionamento corporal. Tais “experiências mentais
primitivas” são compostas de sensações ligadas a funções específicas,
originalmente àquela da alimentação, e ao se expressarem fisicamente, ativam os
componentes já experimentados pela mente.
Robbins (1983) utiliza de modo equivalente os termos aparelho mental
primitivo, psique primitiva e mente primitiva, porém não os define, mas faz
referência a um modelo mental primitivo cujas principais características são uma
forma inicial de pensamento sensório-motor-afetivo e uma forma inicial de relação
de objeto que é indiferenciada. O autor propõe esse modelo como geneticamente
anterior ao modelo da neurose para tratar da organização de personalidade
primitiva.
Reenkola (1983, p. 158) afirma que “uma mente primitiva pode ser
considerada como pré-subjetiva em que o ‘Eu’ (ego) ainda é incipiente [...]”. Nela
predomina o ponto de vista da satisfação das próprias necessidades, em que as
pressões causadas pelos estímulos, tanto internos quanto externos, tendem à
descarga e conduzem a reações circulares de prazer-desprazer-prazer.
Miller (1983), por sua vez, discute a preocupação com a chamada mente
primitiva, particularmente no início do século XX, e em particular a sua expressão
no comportamento da multidão, da turba e da massa. Trata do assunto a partir de
vários autores que apontam para o risco de o ser humano regredir, em
determinadas circunstâncias, a condições anteriores de seu processo evolutivo,
em que reapareceriam aspectos muito superados pelo processo civilizatório.
Assim, a mente primitiva seria aquela que corresponderia a um estado de
desenvolvimento humano ancestral, podendo ressurgir a qualquer tempo.
Tähkä (1984) comenta que, embora a mente primitiva represente uma
experiência subjetiva, seu funcionamento ainda não permite a noção de si mesmo
como um sujeito separado do objeto. É aquela que surge das primeiras estruturas
mentais relacionadas ao que ele chama de memórias primitivas da redução da
tensão que gera prazer. Tais memórias são resultantes dos processos corporais
vivenciados no início da vida, a partir das experiências acumuladas de tensão e
redução de tensão que o registradas como os primeiros engramas primitivos,
no dizer do autor. A partir daí, a mente primitiva ou psique primitiva vai se
ampliando, dando origem a mecanismos primitivos que visam à modulação entre
as representações mentais que são consideradas “totalmente boas” e aquelas
“totalmente más” e procuram proteger a precária diferenciação entre o sujeito e o
objeto que começa a surgir.
Quando Conforto (1984) menciona o termo “mente primitiva”, permite
apenas supor que o autor o relaciona com o que no pensamento bioniano é
denominado de protomental, o não pensável.
Citando “Reflexões para os tempos de guerra e morte”, de 1915, em que
Freud afirma ser imperecível a mente primitiva, Kaplan (1984) destaca a
importância dessa afirmação. O autor ainda assinala que
[...] uma conservação do passado não toma a forma de replicação da
imaturidade original, mas sim de restaurações no presente de fantasias
de desejos existentes a muito tempo que se tornaram atenuados em
sucessivas considerações da realidade. É uma comparação da fantasia
com outros modos de pensar diretamente implicadas nas regras
operacionais da realidade que a psicanálise diferencia o processo
primário e secundário e fala do primitivo como uma função do processo
primário e como uma característica imperecível da vida mental.
Portanto, a primitividade [estado primitivo] não é imaturidade. Os sonhos,
por exemplo, não se constituem por modos imaturos de pensamento,
mas sim de modos primitivos de pensamento. Nem os sonhos
representam a mente em ruínas. O passado que sobrevive na vida
mental em virtude da regressão é simplesmente aquele que
psicologicamente contradiz certas atualidades percepções que
constituem o presente, em particular atualidades que parecem, por
diversas razões, inconsistentes com uma única versão da existência
pessoal (KAPLAN, 1984, p. 134).
Baseando-se nas proposições de Jacobson, Tuttman (1985) se refere à
mente primitiva como relacionada ao funcionamento mental no início da vida, um
período arcaico em que predomina o estado psíquico indiferenciado, não existindo
separação entre interno e externo. O self e o objeto estão fusionados numa fase
do desenvolvimento em que libido e agressividade não seriam vivenciadas ou
manifestadas como impulsos distintos ou separados.
Spiegel (1985), sem maiores detalhes, apenas cita a “assim chamada
mente primitiva” para ressaltar a luta de Sullivan contra a ideia de equacionar o
funcionamento mental esquizofrênico com essa mente primitiva enquanto
característica do homem ancestral.
Abordando a formação inicial da mente, Tähkä (1987, p. 231) afirma que a
primeira e a mais primitiva forma da mente seria constituída a partir das primeiras
sensações significativas registradas como os primeiros engramas primitivos, cujo
advento assinala o nascimento da experiência psíquica, portanto, da mente,
embora ainda somente no sentido objetivo. Segundo esse autor, as primeiras
estruturas primitivas da mente parecem emergir para lidar com as tensões que se
acumulam constantemente, exigindo descarga, e a mente primitiva, a partir de
algumas experiências suficientemente registradas, de modo progressivo priorizará
as experiências que conduzam à gratificação, inicialmente repetindo o que até
então foi vivenciado para, depois, começar a perceber que certas vivências, de
algum modo, envolvem alguma novidade. Aentão “a indiferenciação é [...] um
atributo das primeiras formas da mente, uma característica do período de
formação de um mundo primário de representações” (TÄHKÄ, 1987, p. 235). No
entanto,
[...] quando as alucinações têm repetidamente demonstrado-se
incapazes de produzir gratificação, ao mesmo tempo em que ali existe
um outro grupo de experiências registradas sempre levando à
gratificação, a mente primitiva inclina-se gradualmente a vir a ser
motivada para outro salto desenvolvimental: a diferenciação do self e
objeto torna-se possível pela acumulação suficiente de um mundo
indiferenciado de representações.
Parece provável para mim que o evento crucial do processo de
diferenciação é a primeira descoberta da criança que seu primeiro choro
irá levar adiante a experiência de gratificação após o desejo alucinatório
já ter-se demonstrado incapaz. Esse choro de desconforto que a primeira
vista torna-se mentalmente representado devido à sua vivenciada
habilidade de fornecer gratificação, tinha até aqui indicado a falha da
mente primitiva em controlar a tensão e sua descarga, ao mesmo tempo
em que havia funcionado como um sinal importante para a mãe do
estado de necessidade da criança. Essa posição fundamental do choro
entre a frustração e a gratificação torna-o especialmente apropriado para
vir a ser o iniciador do processo de diferenciação (TÄHKÄ, 1987, p. 239).
Continuando, o mesmo autor acrescenta que o funcionamento normal da mente
primitiva envolve “operações primitivas” relacionadas à negação e aos
mecanismos projetivos e introjetivos como necessárias para a manutenção de
condições que, de algum modo, protejam e favoreçam o processo de
diferenciação em construção.
Gaddini (1987), por sua vez, comenta que, para a mente primitiva, na fase
da diferenciação, qualquer processo de aprendizagem somente pode ser
vivenciado em termos mágicos, pois, por sua repetição, aumenta e reforça sua
própria onipotência mágica. Em função disso, a mente primitiva não distingue algo
que se repete na atualidade como uma experiência que foi reativada mentalmente
pela memória, mas como algo criado pela própria onipotência.
Além disso, diz o autor que a mente primitiva tende a representar
concretamente a si própria, pois seu funcionamento parte do que é vivido no
corpo, a partir do qual vão se construindo as funções mentais primitivas. Assim,
as sensações táteis vivenciadas pelo bebê, por exemplo, aquelas oriundas da
zona oral nos momentos em que é amamentado e das mãos que seguram o peito
ou qualquer outra coisa que esteja ao alcance da palma da mão, tornam-se
algumas das primeiras experiências que são continuamente registradas e
armazenadas pela mente primitiva.
Acrescenta Gaddini (1987, p. 319-322) que “o primeiro reconhecimento de
sua própria separação, de fato, desorganiza o sistema de funcionamento mágico,
onipotente e primitivo, e produz sua sucessiva decadência”.
A partir dos comentários de Gatti e Neri (1987), é possível entender a
mente primitiva como aquela que ainda não é totalmente mental, em função da
proximidade com a primitiva herança mental animal, predominando processos
psicossomáticos ou somatopsicóticos rudimentares, que formam o sistema
protomental. Permanece nas profundezas da mente, podendo emergir
expressando-se tanto por processos corporais quanto por comportamento de
grupo, no indivíduo e no grupo humano.
Tähkä (1988) afirma que, com o nascimento da mente, toda experiência
corporal mais elementar de satisfação torna-se uma experiência mental primitiva
de prazer, e quando essa informação sensorial indiferenciada vivencia um
registro, torna-se o protótipo de ideias mentais posteriores. Assim, as primeiras
estruturas da mente o representações iniciais indiferenciadas que,
progressivamente, por meio das operações mentais primitivas (introjeção,
projeção, negação e idealização), instauram a primeira dicotomia vivencial
primitiva entre “bom” e “mau”.
Tähkä (1988, p. 106) acrescenta que “[...] um sujeito capaz de vivenciar a si
mesmo como um sujeito – não mais incipiente e primitivo – é por definição um self
diferenciado com a existência representacional na experiência do mundo mental
do indivíduo”, sendo que “[...] poucas dúvidas que a manutenção de uma
experiência de self é a preocupação primária da mente primitiva” (p. 108).
Silva (1988) faz referência à mente primitiva enquanto condição do
funcionamento psíquico do bebê, que ainda não possui uma mente capaz de
continência e por isso necessita da função continente da mãe e de seu estado de
reverie.
4.2 Os termos congêneres
Foram encontrados autores que se referem á psique primitiva, ao
psiquismo primitivo, aos “estados mentais primitivos”, ou “estados primitivos da
mente”, que aqui serão considerados em função de haver uma estreita ligação
com o conceito de mente primitiva.
Glover (1949) faz menção a uma psique primitiva, que é indiferenciada,
caracterizada por um estágio primordial anterior à consolidação das relações
sujeito-objeto e precedente à organização da fala e à constituição do seu
significado; seus derivados ideacionais o predominantemente de natureza
corporal e concreta. Acrescenta o autor que as atividades mentais primitivas são
oriundas da necessidade de controlar ou reduzir as intensas flutuações nas
tensões vivenciadas, que são violentas e dolorosas.
Segundo Grotstein (1980), houve um crescimento na literatura acerca dos
estados mentais primitivos, contudo, em sua opinião, ainda muito a explorar
nesse campo e novas concepções psicanalíticas da organização mental primitiva
precisam ser pensadas e construídas. Além disso, sua concepção sobre os
estados mentais primitivos pode ser inferida a partir do uso de expressões como
“estados iniciais da mente” e “desenvolvimento inicial do psiquismo”. Embora cite
inúmeros autores, suas contribuições destacam as obras de Melanie Klein e
Wilfred R. Bion. O autor utiliza a expressão “mente primitiva” uma única vez nesse
texto, fazendo referência às proposições antropológicas de Lévi-Strauss, as quais,
por não serem foco do presente trabalho, não serão aqui consideradas.
Com base nas proposições de Esther Bick, particularmente sobre a função
da pele-continente, R. de Vidal (1984) faz referência a uma forma mais primitiva
de funcionamento psíquico, em que a pele funcionaria como um limite, contendo
as partes da personalidade quando ainda não uma força que as una no início
da vida.
Discutindo como o desenvolvimento psíquico inicial, ou precoce, repercute
no processo analítico, Avenburg (1984) utiliza constantemente o termo temprano,
que costuma ser traduzido da língua espanhola para o português como
prematuro, cedo, precoce, temporão. Menos frequente, embora ocorra, é a
tradução por primitivo, primeiro, primário, até porque existe essa palavra na língua
original; contudo aqui seconsiderado esse artigo do autor, porque, embora nele
predomine o uso do termo temprano, momentos em que aparece o termo
primitivo, sendo que, no texto, em certos momentos eles mantêm equivalência de
significado.
Voltando ao texto do autor, ele questiona a que se refere o que se chama
precoce em psicanálise, e responde:
Do ponto de vista da psicanálise clássica e na obra de Freud
especialmente, o conceito de precoce se refere em geral ao início da
sexualidade infantil que culmina no complexo de Édipo. Com o
desenvolvimento da psicanálise, o conceito de precoce vai retrocedendo
a níveis cada vez mais anteriores até chegar, em alguns autores, a
incluir-se o psiquismo pré-natal; em geral, no entanto, ao falar de
precoce se fala dos níveis sádico-anal e em particular do oral
(AVENBURG, 1984, p. 233-234).
Segundo esse autor, o “psiquismo precoce” se mantém atuante e repercute
em todas as atividades vitais do indivíduo para além da infância. Desse modo, o
que ocorre nos “níveis mais primitivos” do psiquismo manifesta os seus reflexos
por meio dos desejos e das fantasias expressos na transferência. Assim, os
estratos mais profundos do aparelho psíquico atualizam-se. Tais níveis mais
primitivos, tais estratos mais profundos fazem parte do desenvolvimento psíquico
precoce do indivíduo, que coincide com o desenvolvimento psíquico precoce da
humanidade.
Por sua vez, Cvik, Arbiser e Dimant (1984) explicam que a estrutura
psicológica mais primitiva é a estrutura sincicial, inserida no contexto das
proposições de José Bleger sobre a existência de uma posição prévia à posição
esquizoparanoide de Melanie Klein. Conforme citam os autores, trata-se da
“posição glischro-cárica” (de glischoros, viscoso, e karion, núcleo), que apresenta
uma ansiedade típica (ansiedade confusional), um cleo que cumpre a função
de objeto (núcleo aglutinado), mecanismos de defesa específicos (clivagem,
fragmentação e imobilização) que funcionam de modo extremamente intenso,
maciço e violento, e uma estrutura psicológica denominada sincicial.
Ao retomar algumas ideias contidas em artigo anterior (GROTSTEIN, 1980)
sobre a organização mental infantil primitiva, Grotstein (1984, p. 320) comenta
que, em sua opinião,
[...] a teoria psicanalítica necessita um conceito claro e preciso de um
estado precoce da mente, [...] considerando que a psicanálise clássica
não tem esse conceito e que a psicanálise kleiniana, a psicologia do self
e a psicologia interpessoal têm mas são incompletos.
Issacharoff (1984) também utiliza a expressão “estados primitivos da
mente”, considerando-a como um agrupamento geral no qual se incluem várias
entidades psicopatológicas, que os psicanalistas vêm estudando, particularmente
do ponto de vista da técnica, para melhor lidar na prática cotidiana da clínica. Fica
implícito na sua argumentação que os estados primitivos da mente estão
relacionados com as vivências dos estágios precoces do desenvolvimento
psíquico, quando a plena capacidade para simbolizar ainda está em construção.
Bromberg (1984) comenta que o termo “mundo ‘primitivo’” aplicado ao
estado mental de um indivíduo, ou a “primitividade” enquanto estado da mente,
tem sido usado no meio psicanalítico com significados muito ambíguos, sempre
ligado a um contexto e ao modo como é utilizado. Para o autor, a referência a um
“estado mental primitivo” é comumente entendida como a existência de uma
estruturação egoica frágil, que compromete a constituição do self e dificulta a
consideração de aspectos significativos da realidade externa e das relações
humanas.
Em Nachmani (1984) existe a referência a “estados mentais primitivos”,
sendo possível inferir que o autor relaciona essa noção com o funcionamento
psíquico característico dos primeiros anos de vida, com o infantil que permanece
atuante. Isto é perceptível, por exemplo, a partir das suas afirmações de que, para
a escola inglesa das relações objetais, é fundamental que o analista interprete os
“sistemas de fantasias inconscientes primitivas e arcaicas” (p. 448) do paciente,
bem como as ansiedades relacionadas; ou ainda, que os estados mentais
primitivos possam se fazer presentes na transferência. Além disso, o autor
também pondera que nas situações nas quais os estados mentais primitivos estão
mais atuantes, particularmente em certos quadros clínicos em que isso se
intensifica, a autoestima muito rebaixada é uma condição sempre presente, assim
como se manifesta a incapacidade de satisfazer às exigências da vida madura.
Ao discorrer sobre os estados mentais primitivos na clínica psicanalítica,
Scott (1984) questiona vários aspectos desses estados, preocupando-se mais em
demonstrar a complexidade de tais fenômenos na prática clínica e a multiplicidade
de perspectivas e questionamentos que sugerem, do que em propor possíveis
respostas. Embora concorde que os fenômenos primitivos são comuns na
transferência e na contratransferência, afirma que isso coloca em evidência o
problema de que suscitam diferentes pontos de vista sobre o desenvolvimento,
bem como diferentes interpretações dos estados clínicos. De sua posição é
possível apenas supor que os estados mentais primitivos estejam relacionados às
noções de núcleo psicótico, ansiedades primitivas, afetos primitivos, ansiedades
arcaicas ou precoces, termos que utiliza em seu artigo para discutir.
Symington (1985), por sua vez, deixa claro que sua concepção acerca dos
estados primitivos da mente relaciona-se com as experiências iniciais do bebê
ligadas à onipotência primitiva, às vivências de abandono, à segurança e sua
perda, ao terror, à necessidade de conter a si mesmo para sobreviver e ao
desenvolvimento de um pensamento que chama de unidimensional, por ser capaz
apenas de lidar com uma coisa de cada vez e ser inflexível.
Honigsztejn e Leão (1987) fazem referência à “estruturação mental
primitiva”, segundo a perspectiva kleiniana, em que as vicissitudes e a primazia
dos impulsos destrutivos precoces e do instinto de morte, assim como a
identificação projetiva, têm papel determinante em sua construção.
De acordo com Ogden (1989), existem dimensões humanas ainda
insuficientemente compreendidas no que diz respeito ao início da vida, quando
uma organização psicológica gera “um estado mais primitivo” do que a posição
esquizoparanoide. Trata-se do que o autor denomina de posição autista-contígua,
que gera um modo particular de organizar as experiências, caracterizando-se por
tipos específicos de defesa, de relação com os objetos e de qualidade da
ansiedade. Nas palavras do autor, é a “organização psicológica mais primitiva”,
anterior às posições esquizoparanoide e depressiva, que contribui para o
estabelecimento das experiências perceptíveis da fronteira sensorial de todos os
estados subjetivos subsequentes.
Robbins (1989, p. 445) refere-se a um “modo de atividade mental primitiva”,
o qual denomina de sensório-afetivo, indicando uma forma de cognição e de
experiência emocional que se caracteriza pela indiferenciação da percepção do
objeto e da ação sobre ele, pelo predomínio do pensamento não simbólico,
insuficientemente integrado. Para o autor, “o pensamento sensório-afetivo envolve
um campo de dependência, controle flexível, nivelamento, um tempo conceitual
impulsivo, e diferenciação conceitual pobre” (ROBBINS, 1989, p. 445), cuja falta
de integração envolve um estado primitivo nas dimensões de atenção focalizada e
na diferenciação conceitual, que gera incapacidade para representar afetos, o
que, por sua vez, resulta em um pensamento característico e primitivismo no
campo de articulação e formação de conceitos. Segundo o autor, esses aspectos
são peculiares à chamada organização de personalidade primitiva.
Também se encontra em Meltzer (1989) a alusão a uma vida primitiva, ou
tribal, existente nas profundezas do psiquismo, que pode ressurgir tanto em
certos comportamentos grupais quanto individuais, bem como se expressar por
meio de manifestações corporais e, inclusive, alucinações. Com isso, o autor quer
reafirmar a existência de um “nível primitivo da vida mental”, que ele também
denomina de protomental ou somatopsicótico.
4.3 Aspectos compartilhados
Neste item, a abordagem dos textos selecionados no período que vai até
1989 suscitou algumas ideias que, em princípio, parecem auxiliar nesse percurso
de clarificar melhor o conceito de mente primitiva. Tais ideias dizem respeito a
alguns aspectos que parecem comuns na abordagem dos autores acerca do
tema, os quais serão apresentados a seguir.
Certamente não absoluta correlação entre todos os aspectos que se
conjetura serem compartilhados por alguns dos autores até aqui referenciados no
tocante ao termo mente primitiva e termos congêneres (estados primitivos da
mente, estados mentais primitivos, psiquismo primitivo), porém é possível
estabelecer alguns elos entre alguns deles.
a) Os aspectos corporais e as experiências mentais primitivas
Os aspectos corporais têm destaque nos comentários sobre as
experiências mentais primitivas que constituem o que se poderia denominar de
mente primitiva, que se apresenta numa espécie de tendência a um continuum
progressivo (embora por vezes possa ser regressivo), pois principia no corpo
como a realidade inicial do bebê (FRICK, 1982), que passa a ter que desenvolver
tentativas de lidar com as sensações e as impressões relacionadas com a fome e
outros estados corporais, como também com os sentimentos despertados a partir
das funções que tenta dominar sem ter os recursos para tanto (EIGEN, 1981).
Além da fome, outros desses estados corpóreos referem-se aos
movimentos corporais, que funcionam em consonância com os afetos e impulsos
(FRICK, 1982), e às sensações táteis oriundas do contato físico do bebê com o
meio que o cerca e o faz se defrontar com a perda do limite protetor existente no
ventre materno, contribuindo para o surgimento da necessidade primária de
contato físico, principalmente com o cuidador e com o que se refere à alimentação
(GADDINI, 1982).
Dessas sensações táteis, de modo particular aquelas que se originam na
zona oral, vinculadas à amamentação, e nas mãos que tocam o seio ou outras
partes do corpo da mãe, tornam-se algumas das vivências iniciais que,
continuamente registradas e armazenadas, constroem as funções mentais
primitivas que constituem a mente primitiva a partir do que é vivido no corpo
(GADDINI, 1987).
No início da vida, os processos corporais vivenciados resultam em
memórias de experiências acumuladas de tensão e redução da tensão geradora
de prazer e conduzem a reações circulares de prazer-desprazer-prazer
(REENKOLA, 1983). A partir de tais registros formam-se as primeiras estruturas
mentais, engendrando a mente primitiva e dando início ao processo de ampliação
do psiquismo, o que origina os primeiros mecanismos visando à modulação
dessas vivências (TÄHKÄ, 1984, 1987, 1988) e marca o nascimento da
experiência psíquica. Em decorrência de algumas dessas experiências terem sido
suficientemente registradas, de modo gradativo essa mente primitiva dará
destaque àquelas que conduzem à gratificação e repetirá o que foi vivenciado em
sua tentativa de lidar com as tensões, passando posteriormente a se dar conta de
que certas vivências, mesmo de repetição, envolvem, de algum modo, uma
novidade que abrirá caminho para o posterior processo de diferenciação e
discriminação (TÄHKÄ, 1987, 1988).
No tocante aos estados primitivos da mente, indicação da existência de
um nível primitivo da vida mental que se expressa por meio de manifestações
corporais e tem suas origens nos processos corporais, nível que é denominado de
protomental ou somatopsicótico (MELTZER, 1989). também referência a uma
forma primitiva de funcionamento psíquico em que a pele funciona como um limite
às partes da personalidade ainda não integradas no início da vida, sendo esta a
função da pele-continente proposta por Esther Bick (R. DE VIDAL, 1984).
b) O nascimento da experiência psíquica e a mente primitiva
Já no item anterior se fez referência ao nascimento da experiência psíquica
a partir das vivências corporais, dando origem à mente primitiva. Em íntima
relação com este aspecto, alguns dos autores consultados referem-se à mente
primitiva, ou aos estados primitivos da mente, ou ao psiquismo primitivo, como a
instauração do desenvolvimento psíquico precoce (AVENBURG, 1984;
HONIGSZTEJN, LEÃO, 1987; REENKOLA, 1983), do funcionamento mental ou
psíquico inicial do bebê (EHRENZWEIG, 1949; FRICK, 1982; GADDINI, 1982,
1987; NOVEY, 1961; NOVICK, KELLY, 1970), a formação inicial da mente (CVIK,
ARBISER, DIMANT, 1984; OGDEN, 1989; R. DE VIDAL, 1984; TÄHKÄ, 1984,
1987, 1988). Para outros ainda, a mente primitiva corresponde ao funcionamento
mental do início da vida (MEISSNER, 1978; SYMINGTON, 1985; TUTTMAN,
1985; WEISS, 1966), ao funcionamento mental infantil (GLENN, 1965;
GROTJAHN, 1946; GROTSTEIN, 1984; JONES, 1940; KAPLAN, 1984), aos
estágios ou estados precoces do desenvolvimento psíquico (GROTSTEIN, 1980;
ISSACHAROFF, 1984; NACHMANI, 1984).
c) Características da mente primitiva
Alguns dos autores consultados neste item apresentam como
características da mente primitiva, ou do psiquismo primitivo, ou dos estados
primitivos da mente, a vigência de estados de não integração ou fragmentação
(CVIK, ARBISER, DIMANT, 1984; FRICK, 1982; GADDINI, 1982; ROBBINS,
1989; TÄHKÄ, 1984; TUTTMAN, 1985; WEICH, 1968), de indiferenciação
(GADDINI, 1982, 1987; GLOVER, 1939; ROBBINS, 1983, 1989; TÄHKÄ, 1984,
1988; TUTTMAN, 1985; WEISS, 1966), de pré-simbolismo (GLOVER, 1939;
ISSACHAROFF, 1984; ROBBINS, 1989), não existindo separação entre interno e
externo, entre o eu e o outro e estando o self e o objeto fusionados (BROMBERG,
1984; GLOVER, 1939; ROBBINS, 1989; SILVA, 1988; TÄHKÄ, 1984; TUTTMAN,
1985; WEISS, 1966).
Ressalta-se ainda o predomínio do princípio do prazer-desprazer
(REENKOLA, 1983; TÄHKÄ, 1984, 1987; WEICH, 1968), do processo primário
(KAPLAN, 1984), da onipotência (GADDINI, 1987; MEISSNER, 1978;
SYMINGTON, 1985), da tendência primitiva à identificação primária
(GIOVACCHINI, 1967; GLENN, 1965), do funcionamento pré-lógico (EISSLER,
1958), pré-subjetivo (REENKOLA, 1983) e esquizoparanoide (MEISSNER, 1978),
apresentando-se uma forma inicial de pensamento sensório-motor-afetivo
(ROBBINS, 1983, 1989).
Outra característica apresentada é a concretude, em que a mente primitiva
tende a representar a si mesma concretamente (GADDINI, 1982, 1987) e seus
derivados ideacionais são predominantemente de natureza corporal e concreta
(GLOVER, 1939; TÄHKÄ, 1984, 1987, 1988). Acrescente-se ainda a ideia de que
os estados mentais primitivos estão relacionados às noções de núcleo psicótico,
ansiedades primitivas, arcaicas ou precoces, e a afetos primitivos (SCOTT, 1984)
d) A mente primitiva é imperecível
Reafirmando a proposição freudiana de que a mente primitiva, ou
psiquismo primitivo, é imperecível, alguns autores enfatizam que os estratos mais
profundos do aparelho psíquico, que fazem parte do desenvolvimento psíquico
inicial do indivíduo, atualizam-se e se mantêm atuantes, repercutindo em todas as
atividades vitais para além da infância (AVENBURG, 1984; KAPLAN, 1984;
NACHMANI, 1984); ou ainda que a mente primitiva, ou o seu modo de
funcionamento, pode ressurgir a qualquer tempo (MILLER, 1983) e manter-se por
um longo período em suspensão, retornando em certas condições novamente
como um modo de expressão (SCOTT, 1984; NACHMANI, 1984; NOVEY, 1961)
e conservando a presença mítica de outrora como algo que ainda é (RADO,
1940).
A conservação dessa presença mítica se manifesta de muitos modos nas
mais diversas situações e condições, que a fazem atualizar-se e revelar-se. Essa
manifestação se dá pelos desejos e fantasias expressos na transferência
(AVENBURG, 1984; KAPLAN, 1984; NACHMANI, 1984; SCOTT, 1984), pelos
sonhos (GLENN, 1965; KAPLAN, 1984), pelas vivências regressivas em seus
múltiplos fenômenos e graus de intensidade possíveis (BROWN, 1942,
EHRENZWEIG, 1949; GROTJAHN, 1946; MILLER, 1983; NOVEY, 1961;
NOVICK; KELLY, 1970; REENKOLA, 1983; ZILBOORG, 1945) e pela loucura
(GLENN, 1965) em suas diferentes manifestações psicopatológicas
(BROMBERG, 1984; GATTI, NERI, 1987; ISSACHAROFF, 1984; NACHMANI,
1984; ROBBINS, 1989; SPIEGEL, 1985)
e) Mecanismos constitutivos da mente primitiva
Com o estabelecimento das funções mentais primitivas e o
desenvolvimento de tentativas de lidar com o que é vivenciado, configuram-se
estratégias constitutivas da mente primitiva. Por exemplo, nesse nível de
funcionamento, a mente primitiva não reconhece algo que se repete na atualidade
como uma experiência que foi reativada mentalmente pela memória, mas como
algo criado pela própria onipotência, que é reforçada pela repetição (GADDINI,
1987). Desse modo, a onipotência dos pensamentos é um dos seus atributos
(MEISSNER, 1978, NOVICK; KELLY, 1970; TÄHKÄ, 1984, 1987).
Encontram-se também referências aos mecanismos projetivos
(MEISSNER, 1978; NOVICK; KELLY, 1970; TÄHKÄ, 1987, 1988) e mecanismos
introjetivos (TÄHKÄ, 1987, 1988), à negação (TÄHKÄ, 1987, 1988; WEICH,
1968), à idealização (TÄHKÄ, 1988), a evitação (WEICH, 1968), à clivagem
(CVIK; ARBISER; DIMANT, 1984), à identificação projetiva (HONIGSZTEJN;
LEÃO, 1987), etc.
f) A ontogênese repete a filogênese
Partindo dessa máxima freudiana, vários dos autores consultados
mencionam, de modo direto ou indireto, que os níveis mais primitivos, os estratos
mais profundos da mente, fazem parte tanto do desenvolvimento psíquico inicial
do indivíduo quanto do desenvolvimento psíquico precoce da humanidade
(AVENBURG, 1984; NOVICK; KELLY, 1970). Haveria uma correlação entre o
funcionamento psíquico do bebê e o do homem primitivo, pré-histórico, no início
do processo civilizatório (EHRENZWEIG, 1949; EISSLER, 1958), nos estágios
evolutivos iniciais da espécie (HEIMANN, 1975), como característica do homem
ancestral (SPIEGEL, 1985).
Essa correlação entre ontogênese e filogênese permite que a expressão
mente primitiva, ou psiquismo primitivo, seja utilizada, em certas circunstâncias,
tanto para se referir ao funcionamento mental infantil quanto aos aspectos
selvagens e animais da humanidade, desde o que foi um dia vivenciado em um
tempo histórico (o do desenvolvimento humano ancestral), que se mantém como
herança encoberta pelas forças repressivas, até a sua atualização em certas
circunstâncias em termos individuais como coletivos nos grupos sociais (JONES,
1940; MILLER, 1983; NOVICK; KELLY, 1970; ZILBOORG, 1945).
g) Caracterização por oposição
Em alguns autores há indicações de uma relação de oposição que deixa
subentendida a posição que ocupa a mente primitiva em suas explanações. São
manifestações que descrevem, por exemplo, a existência de diferença entre a
mente primitiva, ou psiquismo primitivo, e uma suposta mente mais evoluída e
com funcionamento diferenciado (BROWN, 1942; EISSLER, 1958; MILLER,
1983). Grotjahn (1946) faz referência a uma mente primitiva e a uma mente
menos primitiva. Rado (1940) a mente primitiva como algo que se opõe à
mente atual e que a ela preexiste, mantendo-se presente e atuante. Por sua vez,
Rodrigué (1956) a mente primitiva como mente simples, em contraposição à
ideia de uma mente científica. Subjacente a essas afirmações está uma ideia de
progressão, de evolução, que parte de uma extremidade, a mente primitiva, até
atingir o outro extremo, a mente atual ou evoluída, havendo múltiplos e complexos
processos nesse percurso intermediário (EISSLER, 1958; GROTJAHN, 1946;
MILLER, 1983; RODRIGUÉ, 1956; SEARL, 1933; ZILBOORG, 1945).
h) A mente primitiva e o protomental.
Em apenas três textos que compõem este item foi encontrada a menção ao
termo mente primitiva, ou congênere, associado ao protomental. Um deles
(CONFORTO, 1984), embora não o explicite diretamente, deixou-o subtendido
pelo modo como trata o assunto, relacionando-o com o que na teoria bioniana é
denominado de protomental, o não pensável; nos outros dois (GATTI, NERI,
1987; MELTZER, 1989) relação direta entre o que os autores nomeiam como
nível primitivo da vida mental e o protomental.
5 REVISANDO A LITERATURA: O PERÍODO DE 1990 A 2006
5.1 A mente primitiva
Continuando com a revisão dos textos selecionados nos quais aparecem
referências à mente primitiva, ou congênere, serão abordados na sequência
aqueles que se situam no intervalo temporal de 1990 a 2006.
Gooch (1991) menciona a existência de uma “mente primitiva infantil”,
cujas experiências corporais são fundamentais para a compreensão de aspectos
que caracterizam a sexualidade adulta.
Zangrilli (1992) também comenta que a mente primitiva diz respeito ao
funcionamento característico do início da evolução da raça humana, o qual se
repete na atualidade no psiquismo infantil.
Ao discutir a ocorrência de uma evolução progressiva quanto às formas de
representação, Schust-Briat (1996) afirma que os modos e a capacidade antigos
não são perdidos, mas permanecem perenemente, e dessa maneira, o que era
antigo, o que um dia fez parte dos “estágios primitivos”, pode ser reestabelecido.
Para corroborar isso, cita a afirmação de Freud de que a mente primitiva é
imperecível, contida no texto “Reflexões para os tempos de guerra e morte”, de
1915. Assim, “modos primitivos” e “métodos primitivos” de representação juntam-
se aos usuais.
Napolitani (1997) cita Ernest Jones para falar da mente primitiva, cujas
características podem ser observadas nas crianças, nos selvagens, nos sonhos,
na loucura e em outras produções do funcionamento inconsciente, enquanto
atributo fundamental e primordial. Inspirando-se em Gatti e C. Néri, também
destaca que a mente primitiva se estrutura a partir de um sistema protomental,
que tem como fonte a hereditariedade animal.
Parton (1997) fundamenta-se na ideia de que a ontogênese repete a
filogênese, sendo o termo mente primitiva uma designação para um conjunto de
processos mentais primitivos, primordiais, originários ou primários que
progressivamente são reprimidos no decorrer do desenvolvimento da criança e de
sua inclusão na cultura, pela socialização; porém a mente primitiva permance
como parte do funcionamento mental, podendo ser ativada.
Gaburri (1997, p. 8) refere-se a “nossa mente primitiva” como uma
condição atual no funcionamento psíquico.
Partindo das concepções de Meltzer e Williams no livro La aprehensión de
la belleza, de 1990, editado em Buenos Aires, Fisch (em FISCH,
MOGUILLANSKY, MORENO; FRÁGOLA, 1998) refere-se à mente primitiva para
referir-se à condição mental em que o conflito estético é condição do nascimento
da vida psíquica, constituindo um dos elementos das experiências primordiais.
Fechine (1998), por sua vez, fazendo referência a Freud, comenta que a
mente primitiva sobrevive em todos nós, onde a ontogênese repete a filogênese,
sendo que no homem moderno persistem em seus processos psíquicos “[...]
estruturas ‘arcaicas’, primitivas ou originais” (p. 51).
Lima (1998) comenta que Melanie Klein formulou uma teoria da mente
primitiva em suas contribuições sobre as posições esquizoparanoide e
depressiva. Com essas proposições, segundo o autor, uma teoria kleiniana da
mente primitiva. Para ele, expressões como “arcaico” e “contemporâneo”
equivalem a “primitivo” e “maduro”, sendo elementos que se entrelaçam
intrinsecamente desde a formação primitiva da mente, perpassando todo o
processo de desenvolvimento, tanto do indivíduo quanto do grupo social, até a
atualidade. O autor também comenta a persistência de aspectos primitivos no
psiquismo que se manifestam constantemente na vida adulta, como objetos que
ele denomina de “selvagens”. Tais objetos “selvagens” são “[...] aqueles objetos
parciais que não se integram nem se harmonizam sob o domínio da genitalidade”
(LIMA, 1998, p. 8).
Lara (1999) comenta que Freud propôs uma explicação de como
transcorreu a passagem de uma mente primitiva para uma civilizada.
Lucioni, Rizzi e Reddavide (1999) fazem menção à mente primitiva
enquanto uma mente incipiente, que pode se manifestar em certas condições que
bloqueiam o desenvolvimento, favorecendo o surgimento de sintomatologia.
Hautmann (2000) afirma que na formação da mente primitiva está
envolvida uma dupla matriz protomental, a emotiva e a sensorial, que demarcam
o nascimento do psiquismo, a partir do qual, num continuum, desenvolvem-se
atividades mentais assimbólicas, pressimbólicas e simbólicas. As atividades
simbólicas, nesse ponto, resumem-se no início do processo de simbolização,
quando ainda em seu componente mais elementar, mas então é possível falar
da formação do self.
Dos comentários de Levisky (2000) sobre o aparelho psíquico é possível
entender que a mente primitiva é formada por estados primitivos caracterizados
pela necessidade de satisfação imediata dos desejos, pela onipotência, pela
predominância de relações parciais de objeto, pela negação da realidade, quando
reina o processo primário e o princípio prazer-desprazer.
Schore (2001) utiliza a expressão mente primitiva quando comenta que os
trabalhos de Anne Álvarez ampliaram a fronteira da psicanálise, tanto com relação
ao tratamento de transtornos graves do desenvolvimento quanto pela
apresentação de uma diretriz para quem deseja explorar de modo mais
aprofundado a mente primitiva. Para o autor, Anne Álvarez é uma pioneira na
busca de compreensão psicanalítica do desenvolvimento dos estados primitivos
da mente, por se preocupar em empreender uma busca pelos “aspectos primitivos
da mente”, não apenas como observadora, mas, sobretudo, como participante,
vivenciando com o paciente o processo analítico. Nesse percurso, seu interesse
se move particularmente em direção à forma de comunicação mais primitiva, por
envolver uma base emotiva e somática não verbal: a identificação projetiva.
Nesse mesmo artigo, o autor salienta que os estados mentais primitivos não se
resumem ao primeiro estado “mental” ou “cognitivo” que surgem na mente, mas
partem de estados ‘psicobiológicos’ e evoluem, sofisticando-se.
Tomazelli (2001) também utiliza a noção de mente primitiva ao se referir a
um estado do psiquismo em que predominam a dissociação e a fragmentação,
não discriminação entre o eu e o outro, prevalece o princípio do prazer e,
sobretudo, ainda não se consolidou o elemento depressivo no sentido kleiniano.
Para Hautmann (2002), a constituição da mente primitiva inicia-se com a
organização do self a partir do que acontece desde o período fetal, passando
pelos períodos perinatal e neonatal. Assim, a formação dos aspectos mais
primitivos da mente se processa através de um continuum que parte de uma
matriz assimbólica, organizando-se em um conjunto de elementos simbólicos.
Partindo do texto de Freud intitulado “Reflexões para os tempos de guerra
e morte”, de 1915, Oliveira (2002) afirma que há um primitivismo que perdura
desde os tempos ancestrais até a atualidade do homem civilizado. Segundo a
autora, no texto freudiano a delimitação de uma natureza humana constituída
pelas pulsões de natureza elementar comuns a todos os homens, as quais visam
à satisfação de necessidades primevas. É a emergência dessas pulsões e suas
manifestações no homem em certas condições que revela “[...] a mente primitiva
que desde sempre portou” (p. 139).
Ortega (2002) afirma que a mente primitiva está relacionada com os
processos psíquicos precoces do bebê e imersa no caos, que progressivamente
se organiza com o desenvolvimento. Ela apresenta dificuldades na percepção da
realidade e não distingue entre interno e externo quanto às experiências e
sensações, pois as referências organizadoras da psique ainda são incipientes e
predomina uma sensação de desamparo físico e psíquico.
Mills (2002) afirma que a visão freudiana da mente comporta graus
diversos de organização, desde os impulsos e processos mais primitivos
determinados pela evolução da espécie até as facetas mais refinadas da
inteligência e da autoconsciência ética. Tal variabilidade e progressão
organizativa se expressam no indivíduo e no campo social humano; contudo,
mesmo tendo-se alcançado determinado grau de desenvolvimento, é possível
que, sob certas contingências, ocorra reversão ou regressão nos processos
psíquicos aos estágios anteriores. Nesses estágios, particularmente nos mais
precoces e iniciais, predominam as formas mais primitivas ou arcaicas da vida
mental, ou, ainda, as organizações primordiais da mente, sendo estas a
expressão da “mente mais primitiva”, nas palavras do autor.
Segundo Mills (2002, p. 796), “nas fases mais primitivas da constituição
psíquica, a mente é um fluxo ativo de desejo pressionando dentro de si mesma
como impulso, clamando por satisfação, que Freud chamou de ‘prazer’”; e é a
partir do desejo pulsante que surge da natureza corporal e do fracasso da plena
satisfação que se instaura a experiência da falta, sendo este o ponto inicial da
vivência da expressão psíquica decisiva para a organização progressiva da vida
psíquica.
Em seu trabalho, discutindo sobre melancolia e perversão, Tonello (2003)
apenas faz um comentário de que múltiplas formas pelas quais o psiquismo se
organiza e que a mente primitiva é somente uma delas.
Souza (2003) faz uso da expressão “mente primitiva” no contexto de sua
discussão acerca da teoria evolucionista e da psicanálise e, citando diversos
autores, apresenta alguns pontos críticos. Entre eles destaca como um equívoco
nos campos antropológico e psicanalítico a tendência a caracterizá-la como
supersticiosa, infantil ou incapaz. Essa concepção levaria à ideia de um “primitivo
irracional”, o que, segundo o autor a entender, corrobora o pensamento
etnocêntrico. Outro ponto crítico que cita diz respeito a “[...] uma perigosa
tendência freudiana em aproximar o pensamento primitivo ao infantil” (p. 62).
Rinaldi (2003) comenta que, embora a mente primitiva seja fragmentária,
uma das primeiras experiências por ela acumuladas são as sensações táteis que
o bebê vivencia durante a amamentação. Desse modo, é possível pensar que a
expressão “mente primitiva” alude ao funcionamento psíquico característico nesse
momento inicial da vida.
Martos (2003) considera que o inconsciente, em sua natureza, é primitivo,
representando as tendências humanas mais elementares e vinculadas às
necessidades biológicas, constituindo a mente primitiva.
Schore (2003), discorrendo sobre a mente primitiva, ressalta a importância
da construção de modelos mais apurados sobre sua origem precoce e seu
desenvolvimento em direção à crescente complexidade dos estados
psicobiológicos cérebro-mente-corpo. Afirma ainda que as ideias de Freud
propõem uma arqueologia inicial da mente primitiva em sua progressão
ontogenética que espelha as condições da filogênese.
Ferrigno (2003) comenta que, através da linguagem onírica, é possível
descobrir as tendências do funcionamento característico da mente primitiva,
enquanto legado de um estágio anterior.
Cunha (2004) refere-se ao mecanismo de cisão como característico da
mente primitiva, e afirma que seu uso frequente e maciço resultaria em
adoecimento.
Almeida (2004), a partir das concepções de Bion e de Meltzer, afirma a
existência de um primeiro estado de organização da personalidade, que seria um
“estado de organização mental primitiva”, também chamado de nível
somatopsicótico da vida mental, e equivaleria à noção de aparelho protomental.
Segundo a autora, essas expressões indicam a existência de uma mente
primitiva, ou uma quase mente, remetendo “[...] para a ideia de uma mente que
ainda não é, isto é, uma mente que apenas é um protótipo, um embrião, um
esboço. É uma mente não plenamente desenvolvida” (p. 22). E para a autora,
essa menta primitiva não deve ser pensada em termos de estrutura, mas como
função e processo.
Hautmann (2005), nesse texto, apenas faz referência à mente primitiva,
sem maiores comentários. Supõe-se que o autor faça conexão entre mente
primitiva e narcisismo libidinal, narcisismo destrutivo e níveis do pensamento
primitivo, sem maiores comentários.
Avenburg (2005) cita várias vezes a expressão “mente primitiva” a partir
das ideias de Ernest Jones. Segundo o autor, a mente primitiva é aquela própria
do funcionamento infantil, ou, como em outro momento aparece, a mente primitiva
infantil. Nesse contexto, os termos “precoce”, “simples”, “primário” e “primitivo
aparecem como equivalentes na discussão do modo de funcionamento psíquico
nessa condição inicial infantil, que abre o caminho para o progresso da mente
humana rumo a formas “mais complexas”, “secundárias” e “abstratas” de
pensamento, onde o simbólico surge em decorrência de um precipitado
inconsciente de um modo primitivo de funcionar até então.
Ao discutir o sonho enquanto estado primordial da mente, Andrade (2005)
faz referência à mente primitiva, que se organiza a partir de representações pré-
verbais, de relações objetais primitivas, do processo primário e do automatismo
prazer-desprazer constituindo-se dos estados iniciais da mente. O autor parece
colocar o termo mente primordial como equivalente à mente primitiva.
Tomazelli (2005) cita a expressão mente primitiva enquanto aquela em que
não limites, predominando a onipotência como característica própria da mente
infantil que permanece como parte do funcionamento geral do indivíduo por toda a
vida.
Zimbres (2005) faz referência à “mente primitiva” como sendo uma herança
animal que persiste no indivíduo humano, mesmo com todo o desenvolvimento
posterior.
Segundo Soussumi (2006), uma mente primitiva é uma protomente,
funcionando pelo princípio do prazer-desprazer, de modo reflexo, automático,
estereotipado e pré-programado, priorizando a promoção da sobrevivência. O
autor ainda se refere à “condições mais primitivas” e ao “momento primitivo” como
aqueles que sucedem ao nascimento.
Jonte-Pace (2006), ao discutir o trabalho de Célia Brickman, comenta que,
embora os antropólogos tenham criticado e abandonado a noção de primitivo, os
psicanalistas continuam a usar a expressão, geralmente como relacionada ao
desenvolvimento precoce, inicial, ou como sinal de regressão psicológica. A
mente primitiva não seria somente um estágio evolucionário, mas ainda é parte do
homem contemporâneo pela permanência da primitividade psicológica.
Amaro (2006) argumenta que vários campos da ciência apresentam
informações de que a mente infantil do indivíduo conserva-se durante toda a vida
na forma de registros cerebrais. Tais registros foram estruturados em períodos
passados, por meio de recursos ainda imaturos e irracionais, que constituem a
mente primitiva, da qual faz parte não somente o desenvolvimento inicial do
indivíduo, mas igualmente todo o potencial herdado do desenvolvimento da
espécie.
Zanocco, De Marchi e Pozzi (2006) referem-se a mente primitiva como
aquela em que predomina o processo primário, enquanto uma “forma primitiva e
caótica de pensamento”, um “modo primitivo de funcionamento”, que caracteriza o
“funcionamento primitivo da mente”. Ela seria inconsciente e prevaleceria o
automatismo. Tal forma de funcionamento psíquico permanece em ação por toda
a vida do indivíduo, mesmo depois da maturação do aparelho psíquico.
Ao discutir a sexualidade infantil e os símbolos, Zusman (2006) utiliza a
expressão “mente primitiva” de uma forma que, por inferência, permite entendê-la
como aquela em que as capacidades de abstração, de generalização e
flexibilidade ainda não foram plenamente alcançadas, predominando, na forma de
pensar, aspectos concretos que compõem uma “mentalidade primitiva”, cujas
fantasias residuais são compostas por “memórias ontogenéticas e filogenéticas”.
Assim, é uma noção que remete ao aspecto evolutivo, tanto com relação à
espécie quanto ao indivíduo, que se mantém presente no psiquismo, podendo ser
ativado a qualquer tempo, particularmente pelos processos regressivos.
Cortiñas e Sor (2006) versam sobre a relação entre a “mente rudimentar,
primitiva” e a “mente separada, evoluída”. Embora a segunda se origine a partir
da separação que ocorre da primeira, ambas coexistem ao longo da vida em
todos os seres humanos. A mente primitiva é aquela cujo funcionamento é
primitivo, rudimentar, irracional, indiferenciado, intrinsecamente relacionado à
herança mental animal primitiva.
Figueiredo (2006) cita a expressão mente primitiva atribuindo-lhe como
características a onipotência, a ambivalência e o splitting do objeto e do ego, onde
não há senso de realidade.
Sá (2006?) aponta que não é possível considerar como antagônicos e
excludentes o primitivismo infantil e a maturidade do ser humano adulto e
ajustado, uma vez que a segunda qualidade emana da primeira. Não pode haver
oposição e excludência direta entre os aspectos adulto e primitivo, entre
maturidade e imaturidade, pois tudo o que existiu na mente primitiva da criança,
de alguma forma, mantém-se presente e atuante na mente do adulto. A noção de
mente primitiva parece remeter ao funcionamento psíquico característico do início
da vida, tanto que o autor afirma que na mente primitiva da criança se encontra
presente o mecanismo da cisão.
Petrelli (2007) faz referência a “fantasmas originários”, a “construções
primitivas” e a “esquemas herdados filogeneticamente”, que estão disponíveis na
mente do bebê ao captar e interpretar a experiência, gerando uma atividade
mental que a autora denomina de “funcionamento mental mais primitivo”. Tal
configuração está relacionada com a noção de mente primitiva, a partir da qual
ocorre
[...] a misteriosa passagem do vel sensorial ao mental da fantasia, da
imagem e depois da representação. Trata-se de um funcionamento
primitivo, de uma atividade inconsciente que continuamente transforma a
experiência sensorial e perceptiva em algo que já é mental, mas que é
intensamente vivida como muito real e concreta e colocada na maior
parte do corpo (Petrelli, 2007, p. XXIII).
Goulart (2007) destaca a importância da identificação projetiva no processo
analítico, particularmente quando aproximação de aspectos primitivos do
funcionamento mental. Nesse sentido, a identificação projetiva é compreendida
como uma modalidade de comunicação da mente primitiva.
Sarno (s. d.) afirma que são frequentes as referências ao funcionamento
primitivo da mente e suas respectivas defesas quando se discute a relação mãe-
bebê. Desse modo, fazer alusão à mente primitiva é remeter ao funcionamento
psíquico precoce da criança e à revivência, por parte da mãe, desses mesmos
processos quando na relação com o seu bebê.
5.2 Os termos congêneres
Além do levantamento efetuado acerca da expressão “mente primitiva”,
foram encontrados alguns termos congêneres, que serão apresentados a seguir.
Casalnuovo de Debeljuk (1990) faz referência a uma organização psíquica
mais primitiva ou precoce ao discutir aspectos relacionados à aquisição e
desenvolvimento da linguagem.
De acordo com Engdahl (1994), os estados mentais primitivos são aqueles
em que o funcionamento é pré-simbólico, predominando as manifestações
pulsionais e as comunicações táteis/sensoriais que emergem das vivências
afetivas e corporais do bebê.
Green (1996, p. 484) comenta que “para o fundador da psicanálise tudo
começa a partir do corpo, através de sua expressão psíquica primitiva: os
instintos”.
Segundo Wrye (1997), os estados primitivos da mente dizem respeito a
vivências somatopsíquicas que exprimem desejos e estados corporais pré-
verbais, primitivos.
Ferreira (2000), partindo das construções freudianas, pondera que o
psiquismo surge de um estado de indiferenciação. Segundo a autora, “no estado
originário, reina a estrutura mais primitiva: o id” (p. 84).
Dines (2000) afirma que nos estados primitivos da mente predomina a
satisfação imediata dos desejos.
Xavier, Padilha, Ducatti, Silva e Santos (2000), ao pensarem sobre o
desenvolvimento do psiquismo, afirmam que há um estágio psíquico primitivo,
próprio dos bebês, no qual prevalecem os estados mentais primitivos, que se
manifestam nos sonhos, nas fantasias e também na psicopatologia, evoluindo
para um estágio secundário caracterizado pelo pensamento de vigília. Pode-se
pensar, então, que nos estados mentais primitivos o processo primário regido
pelo princípio do prazer-desprazer.
Manor, Granek e Tyano (2000) fazem referência à posição autista-
contígua, proposta por Ogden, enquanto uma construção psicológica mais
primitiva do que a posição esquizoparanoide. É pré-simbólica e
predominantemente sensorial, e auxilia na consolidação das experiências.
Yoshida, Pereira, Sousa, Klein e Cordeiro (2001) comentam que por vezes
ocorrem no funcionamento psíquico primitivo ansiedades muito primitivas de
aniquilamento e fragmentação do ego. Para lidar com tais ansiedades, o
psiquismo primitivo lança mão de mecanismos que lhe são característicos: a
cisão, a fragmentação, a idealização, a identificação projetiva, o isolamento e o
controle onipotente.
Botella e Botella (2001?) afirmam que o psiquismo primitivo apresenta-se
como um funcionamento animista e assim continua como fundamento, mesmo
quando o psiquismo evolui. Manifesta-se sempre que os conteúdos inconscientes,
ávidos por se revelarem, não se apresentam pela via representacional, mas pela
via regressiva alucinatória.
Ao discutir os transtornos psicossomáticos, Hiriart (2002) afirma que estes,
do ponto de vista das relações objetais, seriam manifestações do psiquismo
primitivo. Nesse contexto, para o autor, o termo psiquismo primitivo remete ao
modo de funcionamento mental pré-edípico.
Segundo Melo (2002), as formas primitivas de pensamento, ou
protopensamentos, ou o início da mente, seriam movimentos mentais que se
processariam sobre as experiências dominadas pelos estados afetivos, dando
início ao pensar, que é mais concreto, pois as fantasias são tomadas como
coisas-em-si.
Dias (2002) refere que Melanie Klein, nos seus escritos, descreve os
mecanismos mentais primitivos do bebê na “mais primitiva infância”.
Nemirovsky (2002) cita o psiquismo primitivo relacionado com as origens, o
nascimento psíquico e períodos que se seguem imediatamente.
Dorpat (2002) refere-se aos estados mentais primitivos ao discutir o
trabalho de Judith Mitrani, em que essa autora investiga a formação de “defesas
extraordinárias” no início da infância, as quais teriam como papel evitar a
consciência de experiências traumáticas, as experiências não mentalizadas e as
relações objetais pseudoadesivas.
Urban (2003) cita os estados mentais primitivos como aqueles que
remetem às vivências iniciais da existência, inclusive aos processos pré- e
perinatais. Eles seriam, por definição, estados psicobiológicos que permanecem
mais ou menos ativos ao longo da vida de todo indivíduo.
Frochtengarten (em CINTRA; FROCHTENGARTEN; AIDAR, 2003/2004)
comenta que o primitivo é o inatual, não se restringindo ao que temporalmente
se foi, nem ao que emerge das regressões, mas, sobretudo, diz da atualidade
perene do que é psíquico.
Aidar (em CINTRA; FROCHTENGARTEN; AIDAR, 2003/2004), por sua
vez, acrescenta que o primitivo, ou a condição de primitividade, diz respeito à
atemporalidade do psíquico, que, embora relacionado à ancestralidade, ao
arcaico, ao que foi inscrito, que a regressão e em funcionamento e que jamais
se extingue. Segundo a autora, para Freud, o psiquismo primitivo não desaparece
e os estados primitivos podem voltar a se instaurar.
Cintra (em CINTRA; FROCHTENGARTEN; AIDAR, 2003/2004) afirma que
o primitivo é o inatual, sendo este sinônimo do infantil, que permanece sempre
presente.
Lucini (2004) ressalta que utiliza o adjetivo substantivado “primitivo” no seu
trabalho com o significado de “originário”, “mais antigo” (extraídos do latim prius).
Green (2004) faz menção à existência de “um tipo primitivo de atividade
mental”, ou ainda, “tipo primitivo de funcionamento mental” que, para ele,
baseando-se em Freud, é atividade instintiva, pulsional. O autor ainda comenta
que
o verdadeiro conhecimento tem que dar a ideia que a compreensão dos
estágios primitivos fornece a chave para os mais avançados modos de
pensamento. E é somente através da terceiridade que podemos ganhar
a possibilidade de compreender a relação da mente para outros talvez
porque o importa quão arcaica uma relação transferencial se
apresenta, mas como se desenvolve em uma análise, não pode mais ser
classificada como puramente arcaica, mas deve ser percebida como
uma reorganização do que se supõe evocar a arcaicidade, pois é
inteligível para a mente do analista (que não seria se fosse
exclusivamente arcaico). (GREEN, 2004, p. 133).
Doin (2005) refere-se ao psiquismo primitivo como relacionado com os
níveis pré-verbais de funcionamento.
Ao comentar o livro editado por Shelley Alhanati, Goodman (2005) destaca
que os estados mentais primitivos se originam, sobretudo, do vivido precoce (pré-
e perinatal), ao contrário do que é compreendido pelos autores das relações
objetais e intersubjetivas, os quais se centram na interação mãe-be após o
nascimento. Assim ele discute a manifestação de estados da mente anteriores ao
nascimento físico do bebê, que se manifestam em indivíduos com idades
posteriores como aspectos inefáveis, não nomeados e não simbolizados,
particulamente na relação analítica.
Picollo (2005) afirma que Bion e Rosenfeld desenvolvem suas teorias no
campo do psiquismo primitivo, particulamente no tocante às questões regressivas
e primárias, e que eles se interessan principalmente pela psicose, motivo pelo
qual descrevem o funcionamento primitivo da mente. Na leitura que Picollo faz da
teoria do pensamento de Bion, o psiquismo primitivo seria aquele em que a pauta
é o processo primário, o funcionamento pré-verbal, processo muito primitivo da
mente humana.
Segundo Finzi (2006), duas das características do psiquismo primitivo do
bebê são a bidimensionalidade e a ligação adesiva, que tendem a fazê-lo ligar-se
ao objeto externo primeiramente por meio dos sentidos. Embora isso seja
vivenciado no período inicial da vida do bebê, em idades posteriores esses
estados podem ser reativados, visto que permanecem como parte do
inconsciente.
Damous (2006) refere-se à predominância da onipotência no psiquismo
primitivo como atributo do funciomanento mental do bebê em seu processo de
desenvolvimento que permite a continuidade da sua existência.
Marinho (2006) comenta que os estados primitivos da mente podem ser
compreendidos através do modelo da relação mãe-bebê.
Pereira (2006), baseando-se em Hélio Pellegrino, expressa que é possível
pensar o psiquismo primitivo como aquele em que predomina o princípio do
prazer.
5.3 Aspectos compartilhados
A partir dos textos selecionados nesta parte da revisão da literatura,
referentes ao período de 1990 a 2006, abordados neste item, serão levantadas e
sintetizadas algumas ideias que, em princípio, parecem auxiliar nesse percurso
visando atingir o objetivo proposto por esta investigação, as quais serão
apresentadas a seguir.
Ressalte-se de novo que não há, necessariamente, correlação absoluta
entre todos os aspectos que se conjetura serem compartilhados por alguns dos
autores até aqui tratados sobre a mente primitiva e termos congêneres (estados
primitivos da mente, estados mentais primitivos, psiquismo primitivo, organização
psíquica primitiva), porém é possível estabelecer elos entre alguns deles.
a) Os aspectos corporais e as experiências mentais primitivas.
Também nessa parte os aspectos corporais têm destaque nos comentários
sobre as experiências mentais primitivas que constituem o que se poderia
denominar de mente primitiva ou termos congêneres.
intrínseca relação entre as experiências corporais e a mente primitiva
ou os estados primitivos da mente (ENGDAHL, 1994; GOOCH, 1991; HIRIART,
2002), pois é a partir do desejo em sua pulsação que emerge da natureza
corporal, bem como da impossibilidade de total satisfação que introduz a
experiência de falta, que surge o ponto inicial da vivência da expressão psíquica
decisiva para a organização progressiva da vida mental (MILLS, 2002). Esse
início demarca uma mudança de algo sensorial algo em mental, de modo que o
funcionamento primitivo culmina na transformação da experiência sensorial e
perceptiva em vivência mental, vivência que nesse estágio de desenvolvimento é
vivida como concreta e como parte do corpo (PETRELLI, 2007). Nessa
construção que permite a passagem por tais transformações há indicações de
que uma das primeiras experiências acumuladas nessa organização psíquica
primitiva são as sensações teis vivenciadas pelo bebê durante a amamentação
(RINALDI, 2003). Destarte, o ponto de partida é a base somática, a partir da qual
se desenvolve a crescente complexidade dos estados psicobiológicos cérebro-
mente-corpo (SCHORE, 2001, 2003; URBAN, 2003) e das vivências
somatopsíquicas (WRYE, 1997), que possibilitam a constituição progressiva do
psiquismo desde sua origem precoce.
b) O nascimento da experiência psíquica e a mente primitiva
O nascimento da vida psíquica ocorre a partir de experiências primordiais,
estabelecendo o surgimento da mente primitiva, dos estados primitivos da mente
(FINZI, 2006; FISCH, 1998; NEMIROVSKY, 2002). Essas experiências
primordiais podem ser de diversas ordens, dependendo de que vértice se queira
abordá-las; entretanto, tendo-se em vista os autores consultados nessa parte, é
possível citar um estado de organização mental primitiva, também denominado de
nível somatopsicótico da vida mental, equivalente à noção de aparelho
protomental, como o início da mente primitiva ou dos estados primitivos da mente
(ALMEIDA, 2004), onde os protopensamentos, ou formas primitivas de
pensamento, demarcam o seu princípio (MELO, 2002). Pode-se também afirmar
que o nascimento do psiquismo é demarcado por uma dupla matriz protomental
a emotiva e a sensorial que forma a mente primitiva e a partir da qual se
desenvolvem, num continuum, atividades mentais assimbólicas, pressimbólicas e
simbólicas elementares, que possibilitam o início e o desenrolar da formação do
self (HAUTMANN, 2000, 2002). Também há a indicação de que, a partir de
estados psicobiológicos, surgem estados mentais primitivos que constituem a
mente primitiva (SCHORE, 2001, 2003).
Do mesmo modo que foram identificados os aspectos acima indicados,
encontrou-se mencionado que os estados mentais primitivos se originam antes do
período pós-natal, indicando o pré- e perinatal, sendo que a manifestação desses
estados seriam anteriores ao nascimento físico do bebê (GOODMAN, 2005;
URBAN, 2003).
c) Características da mente primitiva
quem diga que as características da mente primitiva podem ser
observadas nas crianças, em certos grupos indígenas e aborígenes na
atualidade, nos sonhos, na fantasia, na loucura e em outras produções do
funcionamento inconsciente (NAPOLITANI, 1997; XAVIER et al., 2000). Tais
características podem ser a indiferenciação, a o diferenciação entre o eu e o
outro (CORTIÑAS; SOR, 2006; GOODMAN, 2005; TOMAZELLI, 2001), o
funcionamento pré-simbólico (DOIN, 2005; ENGDHAL, 1994; GOODMAN, 2005;
PICOLLO, 2005) e as representações pré-verbais (ANDRADE, 2005; LEVISKY,
2000; WRYE, 1997), as relações objetais primitivas ou relações parciais de objeto
(ANDRADE, 2005; DORPAT, 2002), a bidimensionalidade (FINZI, 2006), o pensar
concreto pois as fantasias são tomadas como coisas-em-si (MELO, 2002), o
processo primário que predomina como forma de funcionamento mental e o
automatismo do princípio do prazer-desprazer, com a necessidade de satisfação
imediata dos desejos (ANDRADE, 2005; BOTELLA; BOTELLA, [2001?]; DINES,
2000; LEVISKY, 2000; PEREIRA, 2006; PICOLLO, 2005; SOUSSUMI, 2006;
XAVIER et al., 2000; ZANOCCO; DE MARCHI; POZZI, 2006), a onipotência
(DAMOUS, 2006; FIGUEIREDO, 2006; LEVISKY, 2000; TOMAZELLI, 2005), a
negação da realidade (LEVISKY, 2000), em que não separação entre interno e
externo quanto às experiências e sensações (ORTEGA, 2002), bem como a
ambivalência, o splitting e a ausência do senso de realidade (FIGUEIREDO,
2006). Também é possível acrescentar que as referências organizadoras da
psique ainda são incipientes e prepondera a sensação de desamparo físico e
psíquico (ORTEGA, 2002), com ansiedades muito primitivas de aniquilamento e
fragmentação (YOSHIDA et al., 2001). Além disso, alega-se que no psiquismo
primitivo o modo de funcionamento mental é pré-edípico (HIRIART, 2002).
d) A mente primitiva é imperecível.
evidências de que a estruturação e o funcionamento próprio da mente
no início da existência se conservam por toda a vida através de registros
cerebrais que se organizam a partir dos recursos ainda imaturos e irracionais que
a constituem (AMARO, 2006). Neste sentido, o funcionamento primitivo,
rudimentar, irracional e indiferenciado, peculiar à mente primitiva, coexiste ao
longo da vida em todos os seres humanos com os aspectos mais evoluídos
(CORTIÑAS; SOR, 2006; FINZI, 2006; URBAN, 2003). Em outras palavras,
persistem nos processos psíquicos do homem moderno, do homem adulto,
estruturas arcaicas, primitivas, originais (FECHINE, 1998; TOMAZELLI, 2005;
URBAN, 2003), de modo que a mente primitiva se constitui numa condição atual
no funcionamento mental contemporâneo, pela permanência da primitividade
psicológica (GABURRI, 1997; JONTE-PACE, 2006; SÁ, [2006?]; ZANOCCO; DE
MARCHI; POZZI, 2006) como um legado não apenas de um estágio anterior do
desenvolvimento individual, mas também da espécie (CORTIÑAS; SOR, 2006;
FERRIGNO, 2003; SILVA, 1998; ZIMBRES, 2005). Desse modo, o primitivo
relacionado à ancestralidade, ao arcaico, jamais se extingue e é atemporal
(AIDAR, 2003/2004), pois é inatual e se mantém perene (FROCHTENGARTEN,
2003/2004), sendo sinônimo do infantil que permanece sempre presente
(CINTRA, 2003/2004). Assim ele perdura desde os tempos ancestrais a a
atualidade do homem contemporâneo, por meio de um conjunto de processos
mentais primitivos, primordiais, originários ou primários, de natureza elementar
comum a todos os seres humanos, como, por exemplo, as pulsões (OLIVEIRA,
2002; PARTON, 1997; SCHUST-BRIAT, 1996; ZUSMAN, 2006), ou os sonhos e
sua linguagem onírica, por meio dos quais é possível descobrir as tendências
características do funcionamento das experiências mentais primitivas
(FERRIGNO, 2003). Esse primitivo se expressa também no processo
transferencial, particularmente na relação analítica (GOODMAN, 2005; GREEN,
2004).
e) Mecanismos constitutivos da mente primitiva
Entre os mecanismos citados como constitutivos da mente primitiva, ou
congênere, aparecem a cisão (CUNHA, 2004; SÁ, [2006?]; YOSHIDA et al., 2001)
ou splitting (FIGUEIREDO, 2006), a dissociação, a fragmentação (TOMAZELLI,
2001; YOSHIDA et al., 2001), a identificação projetiva (GOULART, 2007;
YOSHIDA et al., 2001), o isolamento e o controle onipotente (YOSHIDA et al.,
2001). Ainda é enfatizado o uso da onipotência como um modo de lidar com as
vivências nessas condições (DAMOUS, 2006; FIGUEIREDO, 2006; LEVISKY,
2000; TOMAZELLI, 2005). Há ainda a menção ao processo de formação de
“defesas extraordinárias” em certas condições na infância (DORPAT, 2002) que
podem persistir por toda a vida.
f) A ontogênese repete a filogênese
Ao se afirmar que a mente primitiva não apenas faz parte do
desenvolvimento inicial do indivíduo, mas contém em si todo o potencial herdado
do desenvolvimento da espécie e se conserva como tal (AMARO, 2006), é
possível pensar que a ontogênese repete a filogênese, conforme indicam vários
autores, numa clara e direta referência à afirmação freudiana em seu texto
“Reflexões para os tempos de guerra e morte”, de que o primitivismo, os
processos psíquicos arcaicos, primordiais, primários, primitivos ou originários
perduram desde os tempos ancestrais até na atualidade da existência humana
(FECHINE, 1998; OLIVEIRA, 2002; PARTON, 1997; SCHORE, 2001, 2003;
ZANGRILLI, 1992; ZUSMAN, 2006). Neste sentido, os fantasmas originários, as
construções mentais primitivas, os esquemas herdados filogeneticamente que um
dia fizeram parte da inauguração do humano e subsistiram nos tempos seguintes,
estão disponíveis na mente do bebê quando este busca lidar com a experiência
vivida, gerando uma atividade psíquica que pode ser denominada de
funcionamento mental primitivo (LIMA, 1998; PETRELLI, 2007).
g) Caracterização por oposição.
Encontram-se nos autores que compõem este item algumas considerações
onde é possível identificar uma relação de oposição em que fica subentendida a
posição que ocupa a mente primitiva, ou congênere, em seus discursos. Desse
modo, são atribuídas à mente primitiva designações como simples, primária,
arcaica, inicial, infantil, concreta, elementar, rudimentar, irracional, assimbólica,
primordial, qualidades a partir das quais se abre o caminho para o
desenvolvimento posterior da mente humana rumo a formas mais complexas,
secundárias, evoluídas, abstratas, simbólicas, civilizadas, maduras, adultas
(AVENBURG, 2005; CORTIÑAS; SOR, 2006; FERRIGNO, 2003; HAUTMANN,
2000, 2002; LARA, 1999; LIMA, 1998; MILLS, 2002; PETRELLI, 2007). Contudo,
essa relação de oposição deve ser vista apenas como uma tentativa de
caracterizar aquilo que se está denominando como uma condição arbitrária em
que se isolam e se particularizam alguns elementos para utilizá-los como meio de
esclarecimento, mas, na essência, considera-se a totalidade do fenômeno. Não
pode haver oposição direta entre os aspectos tratados nesse item. Aquilo que um
dia existiu na mente do homem ancestral ou na da criança continua a existir na
mente do homem contemporâneo. Não subsiste como algo isolado embora por
vezes possa assim se manifestar mas como totalidade do fenômeno humano
(SÁ, [2006?]).
h) A mente primitiva e o protomental.
Surgiu em alguns autores consultados a equivalência entre mente primitiva
e aparelho protomental, ou uma quase mente que não deve ser pensada em
termos de estrutura, mas como função e processo (ALMEIDA, 2004). Para outros,
ainda, a mente primitiva se estrutura a partir de um sistema protomental
(HAUTMANN, 2000, 2002; NAPOLITANI, 1997), dos protopensamentos (MELO,
2002), ou então é uma protomente (SOUSSUMI, 2006).
6 O INTERNATIONAL JOURNAL OF PSYCHO-ANALYSIS (1990-2005)
Serão tratados aqui os artigos selecionados do International Journal of
Psycho-Analysis referentes ao período de 1990 a 2005 onde conste a expressão
“mente primitiva” ou congênere, tais como: estados mentais primitivos, estados
primitivos da mente, estados primitivos de atividade mental, psique primitiva e
mente primordial. Além destes foram encontrados também outros que se
desdobram em inúmeras variações, apresentados na sequência.
6.1 A mente primitiva
O primeiro texto encontrado é de Allegro (1990), onde o autor trata de
questões relacionadas à formulação da interpretação na prática psicanalítica,
analisando-a a partir do ponto de vista da forma linguística e do tipo de linguagem
usado no processo de construção interpretativa. Distingue a linguagem metafórica
e a linguagem explicativo-literal, cada uma delas com características e funções
diferentes. De acordo com o autor, a primeira é constitutiva do processo primário
e está relacionada com o deslocamento e a condensação, reativando os níveis
mais primitivos da mente, e serve ao propósito de expressar afetos e emoções. A
segunda é peculiar ao processo secundário, vincula-se ao pensamento lógico-
formal, reativando os níveis mais desenvolvidos da mente, e supre as finalidades
explicativas, referenciais e informativas. Para o autor, a importância de conhecer
a função dessas formas de linguagem está em permitir ao psicanalista formular
interpretações mais adequadas às necessidades clínicas.
Durante a discussão o autor acima citado utiliza expressões como “mente
primitiva” e “psique primitiva”. Embora não as defina, o modo como ele as utiliza
no contexto de sua discussão permite entender que a mente primitiva está
intimamente relacionada com o processo primário do funcionamento mental e
caracteriza-se pela ambiguidade, falta de discriminação ego/não-ego, sincretismo
e indiferenciação, cujos níveis mais primitivos da mente associa com o conceito
bioniano de “parte psicótica da personalidade”.
No segundo texto selecionado Hayman (1993) discute as ideias de Eugenio
Gaddini apresentadas no livro que é resenhado pela autora. A expressão mente
primitiva aparece como referência ao funcionamento mental dos primeiros meses
de vida, ainda centrada nos processos corporais, dos quais se originam “estados
mais primitivos”, “defesas primitivas”, “ego primitivo” e “vivências orais primitivas”,
por exemplo.
Shengold (1993), por sua vez, ao apresentar uma comunicação sobre o
simbolismo, menciona a expressão “mente primitiva”, ou “mente arcaica”,
parecendo se relacionar com o universo inicial do bebê, retratado como caótico,
indiferenciado, cujo “método primitivo inicial de funcionamento” (p. 962) é o
processo primário. Embora o processo primário se mantenha vigente, nesse
período caótico primordial do desenvolvimento psíquico inicia-se a formação do
ego corporal, introduzindo-se algum nível de discriminação, criando
progressivamente as condições para a evolução gradual até atingir o processo
secundário de funcionamento.
Caper (1994), ao abordar questões relacionadas à definição do que seja
um fato clínico psicanalítico, em certo momento utiliza a expressão “mente
primitiva” a partir de uma citação de Bion extraída de Elements of psycho-
analysis, de 1963. Nessa citação a mente primitiva é a parte dos aspectos da
personalidade que fica distanciada quando se toma algo como objeto de exame
no contexto clínico, mantendo-se a atmosfera de privação, que, por sua vez, gera
sentimentos de abandono e solidão. Caper (1994) também faz menção ao termo
“nível primitivo” de funcionamento mental.
Lussier (2000) investiga as origens do texto “Luto e melancolia”, de
Sigmund Freud, um trabalho clássico de referência psicanalítica sobre o assunto,
buscando explorar as bases sobre as quais o autor desenvolveu sua perspectiva.
Nesse contexto, em certo momento de sua discussão a autora faz uma citação de
Freud com base no texto “Reflexões para os tempos de guerra e morte”, de 1915,
reafirmando a ideia de que a “mente primitiva” é imperecível. Tal noção parte da
concepção freudiana de que a ontogênese repete a filogênese e que o “primitivo”
não diz respeito apenas ao início, ao estágio inicial, mas a algo que se consolida
como parte, como componente, que permanece dinamicamente integrado no
todo.
Outro texto selecionado é de Ferraro (2003), onde a autora trata das
relações entre bissexualidade psíquica e criatividade, ilustrando suas hipóteses
por meio de casos clínicos. De sua referência a mente primitiva é possível deduzir
que a autora remete a aspectos narcísicos e pré-edípicos a existência de uma
parte infantil e uma parte adulta no funcionamento mental, a primeira das quais
corresponderia a uma parte “incivilizada” que persistiria atuante no psiquismo, o
que lembra a concepção freudiana de que a mente primitiva é imperecível.
Lombardi (2004) tece alguns comentários sobre o trabalho do cineasta
Stanley Kubrick, em especial sobre seu filme Eyes wide shut, no decorrer dos
quais faz menção ao interesse crescente que tem surgido acerca dos “estados
mentais primitivos” e menciona a expressão “mente primitiva”; contudo não
esclarece a que se refere com esses termos, deixando apenas supor, após
sucessivas leituras do artigo, que se relacionam com o princípio do prazer, o nível
concreto de funcionamento mental, a predominância da sensorialidade, os
instintos, as pulsões, com um “animal primitivo” que persiste em cada indivíduo
apesar dos milhões de anos de evolução. Parece digno de nota que ao se referir
a “mente primitiva” o autor o faz citando outro artigo, intitulado Knowledge and
experience of time in primitive mental states, de 2003, que será comentado
posteriormente, mas sobre o qual vale ressaltar que nele essa expressão não
aparece, mas sim, termos como “estados mentais primitivos” e “níveis primitivos
de funcionamento mental”. Outro ponto que fica muito evidente no discurso do
autor é a coexistência de níveis de profundidade no psiquismo – do primitivo e do
avançado, da concretude e da abstração.
6.2 Os termos congêneres
Stein (1990) tem o propósito de apresentar as vantagens de considerar as
proposições de Melanie Klein como uma teoria descritiva de emoções intensas,
mais do que uma teoria do instinto ou do desenvolvimento. A autora menciona
termos como “estágio primitivo” referindo-se à posição esquizoparanoide, aos
“estratos primitivos da psique” e “pensamento primitivo”, defendendo que M. Klein
compreendeu sua essência para além do processo primário definido por S. Freud.
Silva (1990) analisa a presença de sons abdominais borbulhantes durante
a sessão de análise como um sinal de trabalho psíquico que se une à
conversação durante o processo, partindo da noção freudiana de sensação de
satisfação e da noção bioniana do aparelho para pensar por analogia com o
modelo do sistema digestivo. O autor concebe os sons abdominais borbulhantes
como “experiências primitivas o verbais” que podem aparecer no decurso da
sessão como expressão de momentos regressivos da análise, configurando
“estados mentais primitivos”.
Westen (1990) apresenta uma revisão das teorias das relações de objeto à
luz de dados oriundos de pesquisas empíricas que, de acordo com a autora,
auxiliam na clarificação da natureza das relações de objeto borderline. Destaca a
noção de “primitivização das estruturas” psíquicas no sentido regressivo a
estados indiferenciados e refere que as relações de objeto em pacientes
borderlines frequentemente o descritas na literatura como sendo “primitivas”.
Enfatiza, no entanto, que é necessário discriminar a existência de pelo menos
dois diferentes sentidos para o que se tem denominado de “primitivo’”: um deles
como sinônimo de desenvolvimento precoce e o outro como patológico. Desse
modo, a referência a “modos primitivos de funcionamento” mental pode ser
tomado tanto em um quanto no outro sentido.
Cavell (1991), em seu artigo intitulado The subject of mind, utiliza
expressões como “ordem mental primitiva” e “pensamentos primitivos”, que no
seu discurso estão relacionadas ao processo primário. A “ordem mental primitiva”,
na opinião da autora, seria o inconsciente tal como proposto por S. Freud, ou
seja, aquele que gera atividades mentais com características próprias, cujos
fenômenos mentais estariam atrelados ao modo de funcionamento do processo
primário.
Kernberg (1991) descreve em seu artigo uma forma particular de
regressão, que denomina de “silenciosa”, no tratamento analítico de
personalidades infantis. Em sua descrição e comentários, o autor faz referência
aos “níveis mais primitivos do desenvolvimento” psíquico e ressalta a importância
de o analista ter conhecimento do “funcionamento primitivo” do paciente, que
pode, por vezes, mergulhar em um denso “estado primitivo” de regressão; porém
alerta que as interpretações não devem se ater apenas aos “níveis primitivos”,
ignorando os níveis saudáveis de funcionamento do paciente, para que a
integração do “primitivo” com o “avançado” não seja prejudicada.
Boyer (1992) discute a ideia de que a sica pode servir a sutis e
complexas funções psíquicas, considerando que os sons musicais em si
desempenham “funções primitivas”, mais do que seus temas e letras, oferecendo
dados a partir do caso clínico de um homem com talento musical que havia
sofrido de asma e crupe graves aa idade de 6 anos. Baseando-se em diversos
autores, afirma que a sica pode ser vista como um fenômeno que supre, em
certos momentos, as “funções psicológicas primitivas” em função de ter uma
relação com formas de comunicação emocional arcaica, que auxiliam na
simbolização e expressão de “conflitos primitivos inconscientes”.
O mesmo autor comenta que a “natureza primitiva” ou precoce das
vivências de seu paciente representava processos descritos na literatura, como a
identificação adesiva e as funções iniciais supridas pela pele, propostas por E.
Bick e D. Anzieu, a imagem corporal psicótica, sugerida por D. Rosenfeld, e a
concretude das equações simbólicas, indicada por H. Segal.
Mariotti (1993) apresenta algumas ideias sobre o efeito da gravidez da
analista sobre seus pacientes, onde faz referência ao aparecimento de “processos
mentais primitivos” no paciente em sua relação com o analista. Esse
aparecimento seria uma manifestação da repetição de experiências precoces.
Fica assim implícita a ideia de que a noção de “primitivo” diz respeito às vivências
iniciais do desenvolvimento psíquico do bebê e à sua permanência na estrutura
mental, que pode se manifestar em momentos posteriores da vida.
Dunn (1993) examina a teoria freudiana das pulsões a partir de sua ligação
com o pensamento darwiniano. Comenta que a atividade pulsional tem como
componentes que lhe são inerentes as “organizações primitivas do id e o ego” e
que a teoria psicanalítica da mente inicia fazendo referência aos “estados
primitivos” como uma forma de atividade mental mais simples, se comparada com
formas posteriores, mais complexas. Fazendo uma citação de H. Loewald, o autor
usa a expressão “aparelho psíquico primitivo” para referir-se ao início do
funcionamento mental, seja no indivíduo, seja na espécie.
Likierman (1993) aborda o conceito de objeto primitivo de amor no
pensamento de Melanie Klein, rastreando algumas das influências que
contribuíram para a gênese da concepção kleiniana sobre o amor infantil precoce,
e dentro do propósito do artigo, o autor esclarece que os termos amor e objeto
bom foram utilizados por Melanie Klein num sentido muito específico, diferente da
linguagem cotidiana, sendo descrições de “estados mais primitivos” em que as
boas experiências em relação ao objeto evocam a gratificação do prazer físico e
também estados emocionais que são vivenciados idealmente e sem limites. Tais
“estados primitivos” equivaleriam aos desejos instintuais e fantasias que são
vivenciados pela criança. Vale destacar que o autor utiliza ao longo do texto os
termos primitivo, arcaico, precoce e primário como equivalentes.
Opatow (1993) pretende conceituar a psicanálise como uma teoria
fundamental, investigando a importância que teria para a teoria psicanalítica as
descobertas recentes das ciências cognitivas e do cérebro. Além disso, articula o
conceito de consciência com o intuito de desenvolver uma integração conceitual
deste com a teoria pulsional. A certa altura de suas discussões, respaldando-se
em S. Freud, usa a expressão “modos mais primitivos” de funcionamento mental
para exprimir que estes são inibidos sempre que um avanço na organização
psíquica é alcançado e sustentado por uma nova censura.
Taylor (1993) descreve um caso de torcicolo espasmódico por meio do qual
procura demonstrar a necessidade e utilidade de um novo modelo teórico de
enfermidades e desordens somáticas. Ao discutir sua compreensão do caso
clínico, chama a atenção para a necessidade de se atingirem as áreas do
“funcionamento mental primitivo”, identificando “emoções primitivas” que teriam
papel significativo na patogênese da enfermidade do paciente. Os “estados
emocionais primitivos” seriam aqueles vivenciados precocemente na vida do
indivíduo os quais poderiam ser posteriormente reativados, tornando-se
presentes. Tais estados partem de um “nível sensório-motor primitivo” de
vivenciar a experiência, onde os impulsos são caóticos e as emoções incipientes,
para progressivamente atingir um nível representacional mais amadurecido.
Mitrani (1993) examina certos aspectos resultantes de um processo
inconsciente que ocorre na mente do analista, afetando sua maneira de escutar o
material do paciente e o modo como formula suas interpretações. Dentro desse
exame a autora faz menção a uma “experiência muito primitiva” no nível psíquico,
que pode se manifestar na vivência da sensação de inexistência e de estado de
vazio, de perda, no terror sem nome, nas vivências não mentalizadas na infância
precoce, gerando tal nível de dor, ansiedade e angústia, em que o indivíduo sente
suas defesas psíquicas falharem e retorna aos “[...] meios mais primitivos de
conter sua experiência – a defesa somática” (p. 699). Ressalta a autora que todas
as pessoas, até aquelas mais bem-analisadas, estão sujeitas ao confronto com as
“experiências primitivas”, que um dia fizeram parte da infância precoce e
posteriormente reaparecem não mais como algo simplesmente do passado, mas
como algo que se faz atual.
Le Coultre (1993) trata da cisão do ego como um fenômeno central nas
neuroses. Em sua discussão faz referência à existência de uma “natureza
primitiva” nos processos psíquicos e afirma que o processo primário é uma “forma
primitiva” de lidar com a realidade. O termo primitivo, usado pelo autor na sua
forma feminina, é tomado como equivalente a arcaico.
Ferro (1993) procura situar o problema do impasse dentro de uma teoria do
campo, discutindo-o a partir de diferentes vértices, e ressalta dificuldades
emocionais com que o analista se defronta, sendo a mudança na mente do
analista o meio fundamental para que ocorra uma retomada do processo analítico,
com a possibilidade de adotar pontos de vista novos na sessão. O autor faz
alusão a “estados primitivos da mente”, a “partes primitivas da personalidade” e a
”‘emoções mais primitivas da mente humana”, que precisam ser contatados e
transformados primeiramente em um nível subterrâneo do nosso psiquismo para
que possam posteriormente ser pensados e discutidos. Com embasamento nas
proposições bionianas, alerta o autor que nem todas as “emoções primitivas”
podem ser transformadas em pensamento, e mesmo outras que passam por
transformações somente o fazem com um imenso custo emocional em termos de
sofrimento psíquico.
Hayman (1994) propõe-se em seu artigo a selecionar e examinar
detalhadamente alguns dos argumentos surgidos no período de 1943 e 1944, nas
discussões promovidas pela Sociedade Psicanalítica Britânica que ficaram
conhecidas como “Controvérsias Freud-Klein” em torno dos conceitos de “fantasia
inconsciente” e “conflito inconsciente”. A autora chama a atenção para as
dificuldades conceituais e de comunicação que ocorreram na época e ainda
ocorrem em função dos diferentes significados atribuídos a um determinado
conceito pelas diferentes linhas de pensamento psicanalítico. Ao examinar os
conceitos dentro de seu objetivo a autora utiliza as noções de “eventos psíquicos
primitivos” e “experiências afetivas primitivas”, que remetem tanto às vivências
precoces na constituição do psiquismo quanto ao que se mantém atuante no
inconsciente por toda a vida.
Sandler e Sandler (1994) debatem os conceitos de regressão e fixação,
para depois comentarem a função antirregressiva que opera desde o início do
desenvolvimento humano, funcionando em maior ou menor grau ao longo de toda
a vida, e reflete a tendência geral da mente em se defender dos conteúdos
inconscientes para que não atinjam a consciência, sendo uma fonte de resistência
no processo analítico. Nessa discussão, os autores fazem menção aos “modos
mais primitivos de funcionamento, representação e expressão” (p. 432), tendo
como suporte uma citação de Anna Freud quando examina a regressão do ego.
No texto tais “modos mais primitivos” estão vinculados às estruturas psíquicas
precoces e ao seu modo de funcionamento característico.
Steiner (1994) trata do contexto cultural no qual Sigmund Freud estava
inserido, bem como do significado de sua educação e da influência da tradição
intelectual alemã em sua obra, particularmente em sua descoberta do complexo
de Édipo e da interpretação dos sonhos, considerando-o um filho de seu tempo.
Nesse percurso o autor, ao discutir aspectos relacionados ao pensamento mítico,
fazendo um paralelo entre as concepções freudianas e as de outros pensadores,
destaca que o significado psicanalítico de “primitivo” e “menos primitivo” não
corresponde necessariamente ao que compreendem os historiadores, mitólogos e
antropólogos.
Fonagy e Target (1996), abordando as mudanças que ocorrem na
percepção infantil da realidade psíquica durante o desenvolvimento normal,
destacam uma modificação significativa na compreensão da mente no estágio
edípico. Nessa discussão os autores apontam para a permanência de “estruturas
mentais primitivas’” do ponto de vista do desenvolvimento. Tal permanência, se
não houver uma adequada integração dos “modos primitivos de vivenciar a
realidade psíquica”, pode resultar em manifestação de aspectos patológicos.
Acrescentam os autores que a ação terapêutica psicanalítica pode possibilitar um
processo de reorganização e integração dessas estruturas.
Kerz-Rühling (1996), discutindo em seu artigo a questão da validação das
hipóteses psicanalíticas na prática clínica, afirma que o método desenvolvido por
Freud é adequado para justificar suas conjecturas teóricas de acordo com as
regras da indução empírica. Ao elaborar essa discussão, a certa altura a autora
faz referência a “formas primitivas de expressão psíquica” que se manifestaram e
se desenvolveram nos estágios precoces do desenvolvimento da criança
pequena, podendo ser suscitadas em idades posteriores, via regressão. Com isto,
há o retorno de “[...] hábitos primitivos, animistas, da mente” (p. 283).
Alvarez de Toledo (1996) apresenta em seu artigo um relato dos
fenômenos observados na investigação do significado de “associar”, de
“interpretar” e das “palavras”. Faz alusão à existência de um “nível muito primitivo”
de funcionamento mental, destacando como característica a concretude existente
em qualquer indivíduo, a qual se manifesta em maior ou menor grau tanto em
estado normal quanto em estado patológico, como substrato de sua origem
primitiva, arcaica.
Cohen e Jay (1996) partem de reflexões a respeito da obra de Francis
Tustin sobre o autismo infantil com o intuito de evidenciar quais são a natureza e
a função protetora das barreiras autísticas em pacientes adultos que apresentam
resistências desafiadoras ao tratamento. Nesse percurso os autores fazem
referência à existência, no bebê, de “fantasias primitivas”, inconscientes, de fusão
corporal, relacionadas às experiências de separação que precipitam sentimentos
terríveis de desintegração corporal. Acrescentam que, em “estágio mais primitivo”,
tais vivências têm como resultado a ansiedade de aniquilação. Isso leva a pensar
que a noção de primitivo, pelo menos em princípio, está relacionada com o início
do desenvolvimento psíquico, particularmente no primeiro ano de vida, mas
constitui algo que permanece como parte do funcionamento mental para toda a
vida.
Feldman (1997) discute a identificação projetiva e o envolvimento do
analista na situação analítica. Inicia seus comentários a partir das proposições
kleinianas acerca dos processos projetivos e introjetivos enquanto mecanismos
mentais primitivos, por remeterem a vivências arcaicas que se atualizam
transferencialmente no encontro analítico, tornando possível a manifestação de
níveis primitivos de funcionamento mental. Desse modo, o que é primitivo parece
estar ligado a significações relacionadas a vivências psíquicas arcaicas, tanto
àquelas referidas ao início da vida mental quanto a suas atualizações, que se
presentificam no funcionamento psíquico posterior não somente como repetição,
mas levam em conta um propósito de lidar com o que foi suscitado e com a sua
vivência atual na intersecção com a realidade exterior.
Caper (1998) examina o conceito psicanalítico de “estados mentais
primitivos”, ou “estados primitivos da mente” e a partir disso faz uma discussão
questionando se a doença psíquica no adulto poderia ser pensada ou não como
uma regressão e/ou fixação a um “estado mental primitivo”. O autor diz: “Eu uso o
termo ‘estado mental primitivo’ para me referir a uma etapa inicial do
desenvolvimento psicológico normal” (p. 539). Também faz uso dos termos
primitivo, precoce e inicial como análogos.
Williams (1998) tece alguns comentários sobre um artigo de Robert Caper
(1998), acima indicado. Do texto de Paul Williams, o que interessa aqui é que o
autor, para fazer seus comentários, traz a contribuição de outros autores, e a
partir de suas articulações é possível entender os “estados mentais primitivos”
como uma fase inicial do desenvolvimento psíquico (que poderia ser normal ou
patológica) que se mantém como parte da estruturação subjetiva do indivíduo,
manifestando-se nos períodos posteriores, de modo psicopatológico ou o.
Ressalta que o que é considerado primitivo por vezes é tratado na literatura como
análogo a psicopatológico, principalmente quando se trata de suas manifestações
em idades posteriores.
Green (1998) procura elucidar o conceito de “mente primordial” de W. R.
Bion e analisar a transformação dos elementos beta em elementos alfa. Segundo
o autor, à primeira vista esse conceito não é tão claro e sua consistência está em
se colocar em oposição ao que se denominaria de partes civilizadas do ser
humano e se insere como uma presença da ancestralidade, relacionando-se a
uma espécie de embriologia imaginária da mente. Na opinião do autor, Bion
concorda com Freud em que uma parte primitiva na mente que não se explica
completamente a partir dos primeiros estágios das relações objetais no
desenvolvimento do bebê. Também afirma que as marcas na estrutura da mente
oriundas da filogênese e da ontogênese têm papel expressivo nos estágios
posteriores do desenvolvimento. Acrescenta que os elementos beta são os
“elementos mais primitivos da psique”, vinculados às experiências sensoriais,
sendo impensáveis e podendo corresponder aos fenômenos que permanecem
sob a predominância do princípio do prazer-desprazer. O autor supracitado
pondera que “[...] se pode dizer que a mente primordial é constituída de uma
atividade psíquica cuja raiz está no corpo, sendo esta uma forma de
pensamento, mas sem pensador” (GREEN, 1998, p. 652), que se expressa por
meio da ação, correspondendo, no ponto de vista bioniano, a evacuação.
Portanto, é uma forma de pensamento concreto, que difere do pensamento
abstrato, sendo este último desenvolvido por um pensador e podendo ser
comunicado a outro pensador. Além dos termos “mente primordial”, “elementos
mais primitivos da psique”, o autor faz uso de outras, tais como “atividade mental
primitiva”, “atividade psíquica primitiva”, “pensamentos primitivos”, “produtos
primitivos da mente”, “representações primitivas”, ”forma primitiva de
representação (pictograma)’”.
Leira (1998) se propõe a expor que a formação da estrutura psíquica no
“nível primitivo do desenvolvimentopsíquico verifica-se quando certas condições
são atendidas, tomando por base os fenômenos clínicos observados no
tratamento de uma criança de quatro anos de idade. A autora também utiliza
expressões como “nível psicológico primitivo” e “estrutura psicológica primitiva”
onde a noção de primitivo parece estar ligada às condições de funcionamento
pré-simbólico, pré-verbal, não integrado e de indiferenciação entre representação
de si e de objeto. Também utiliza primitivo, arcaico, precoce e primevo como
equivalentes.
De Masi (2000) aborda os diferentes modelos de inconsciente empregados
nas diversas teorias e cnicas psicanalíticas, culminando, na opinião do autor,
com a diferenciação entre inconsciente dinâmico e inconsciente emocional, a
partir do que se centra nas consequências disso para a compreensão da psicose.
A certa altura do texto o autor menciona a ideia de “conteúdos arcaicos,
primitivos”, existentes na mente. Parece haver uma equivalência de significado
entre os termos primitivo e arcaico.
Fonagy e Target (2000) têm como objetivo contribuir para a compreensão
de algumas dificuldades em certos pacientes borderlines surgidas durante o
processo analítico. Partem de ideias apresentadas em artigos anteriores
baseadas em uma compreensão da experiência da realidade psíquica que têm
tanto a criança normal quanto a neurótica, afirmando a importância dessa
perspectiva evolutiva para compreender os conflitos fronteiriços graves em
pacientes adultos. Ressaltam que em tais pacientes uma inadequada
integração entre os “modos primitivos de vivenciar a realidade psíquica”, que se
expressam particularmente pela permanência de um modo indiferenciado de
representar a experiência interna e a externa.
Levy e Inderbitzin (2001), ao abordarem os diferentes significados que o
conceito de fantasia adquire no emaranhado dos diferentes discursos
psicanalíticos, discutem as dificuldades de intercâmbio entre as diferentes
perspectivas e recomendam o desenvolvimento de esforços mais consistentes
entre as diversas abordagens teóricas para compor com maior consistência a
teoria psicanalítica. Nessa discussão, os autores afirmam que o termo primitivo é
utilizado muitas vezes na literatura como expressão de determinada qualidade
subjetiva de certos conteúdos da mente. Além disso, acrescentam termos como
atividade mental primitiva, pensamento primitivo, experiência mental primitiva, em
que o adjetivo “primitivo” é empregado pelos autores como equivalente a arcaico,
pré-verbal, precoce, inicial.
Willoughby (2001) discute a noção de claustrum de Donald Meltzer como
um aspecto da contenção patológica dentro do espaço interior, bem como sua
relação com os conceitos de continente e contido de Wilfred R. Bion; analisa as
suas manifestações no desenvolvimento e na psicopatologia, particularmente o
medo, a separação, o luto e a claustrofobia. A certa altura de suas
argumentações, o autor, baseado nas formulações de Bion, faz referência à
identificação projetiva como um modelo de “pensamento primitivo”, bem como
destaca o crescente interesse da psicanálise americana pelos “estados primitivos
da mente”. A ideia do que seja esse “primitivo” no discurso do autor parece ser
uma alusão aos processos e estados característicos do início do desenvolvimento
psíquico que se estendem particularmente pelo primeiro ano de vida e
permanecem como constituintes da personalidade.
Mitrani (2001), partindo das proposições de Wilfred R. Bion, apresenta um
modelo em que busca conceituar o processo de estabelecimento de um “objeto
continente” na mente do analisando durante o processo analítico. Refere-se aos
“estados mentais primitivos” que se exprimem pelas “vivências primitivas”, seja no
início do desenvolvimento mental, seja quando reativados posteriormente no
decorrer da vida. Tais ”vivências primitivas” são consideradas pela autora como
aquelas “infantis”, “não mentalizadas”, que são exemplificadas pela autora por
meio de vinhetas clínicas, como, por exemplo, as vivências de desamparo, de
terror e perda. A autora esclarece que, ao tratar desses “estados” e “vivências”,
não está necessariamente se reportando a concepções de estágios ou fases
lineares do desenvolvimento, mas à existência de ciclos dinâmicos que podem ser
detectados em determinados momentos de uma análise ou na vida em geral, em
função de sua reativação.
Lombardi (2002a) investiga algumas hipóteses psicanalíticas sobre os
“estados mentais primitivos” e os resultados que decorrem desta compreensão no
trabalho clínico em relação à corporeidade, particularmente à relação do
analisando com seu próprio corpo e sua capacidade de circular pelos diferentes
níveis de elaboração mental. O autor centra sua discussão nas teorizações de
Armando B. Ferrari sobre a relação mente-corpo e seu conceito de objeto
originário concreto, comparando-as com os trabalhos de outros autores. Lombardi
parece utilizar os termos “estados mentais primitivos” e “aspectos mais arcaicos
[ou primitivos] do funcionamento mental” como algo que remete às origens da
vida afetiva e ao nascimento do pensamento, com destaque para as fases iniciais
do desenvolvimento individual e as primeiras organizações do psiquismo.
Ressalta que nos “estados mentais primitivos” a centralidade do corpo e suas
funções é fundamental, tendo em vista a proposição de um nível sensorial pré-
simbólico (posição autista-contígua, de Thomas Ogden) que é anterior ou pode
coexistir com as posições esquizoparanoide e depressiva. Acrescenta que Ferrari
contribuiu para a discussão de diversas manifestações que precedem as formas
mais estruturadas do pensamento, com destaque para o “mundo sensorial
primitivo”. O autor parece fazer uso dos qualificativos primitivo, arcaico e originário
como similares.
Werbart (2002) faz uma análise crítica de trabalhos anteriores de Paola
Capozzi e de Franco De Masi sobre o significado dos sonhos nos estados
psicóticos. Utiliza em sua discussão vocábulos como “estados mentais primitivos”,
“estados primitivos da mente” e “estágios primitivos ou precoces do
desenvolvimento psíquico”, pelos quais deixa margem para se entender que
um funcionamento psíquico primitivo que, por um lado, é relativo ao início da
constituição do aparelho mental e, por outro, diz respeito à emergência desse
funcionamento em vivências atuais como os sonhos.
Lear (2002) faz um ensaio sobre a fantasia e a estrutura emocional,
tratando de questões que se relacionam com o modo pelo qual as fantasias
operam e como estas afetam a vida emocional em geral do indivíduo. Dentro dos
propósitos da presente investigação, do texto do autor é possível resgatar sua
afirmação de que a identificação projetiva é uma atividade mental sica que
deve ser compreendida como um “primitivo psicológico”, como um “elemento
explicativo de nível primitivo”, como um entre outros “fenômenos mentais
primitivos”. A ideia vinculada à noção de “primitivo” diz respeito aos fenômenos
descritos por Melanie Klein referentes principalmente à posição esquizoparanoide,
que remete tanto ao momento inicial do desenvolvimento no primeiro ano de vida
quanto ao que se constituiu como parte estruturante da personalidade, podendo
ser sempre atual e não apenas algo remoto.
Lawrence (2002), em seu artigo, parte da constatação de que os pacientes
anoréxicos são predominantemente mulheres, e sugere que pode haver em
determinadas formas de feminilidade alguma especificidade que predispõe a
ansiedades de intrusão, que são características desse quadro clínico. Em suas
argumentações aparece a afirmação de que as equações simbólicas, conceito
proposto por Hanna Segal seguindo as teorizações kleinianas, são “formas
primitivas de pensamento”.
Lombardi (2003a) propõe que a utilização de modelos mentais e registros
de linguagem no transcorrer de uma análise, particularmente nos casos de
psicose, pode ajudar no sentido de que o paciente amplie as possibilidades das
funções do conhecimento e a contenção das emoções onde antes não havia um
espaço mental suficientemente desenvolvido. Baseando-se em Bion, o autor
afirma que os modelos são “aproximações primitivas” relacionadas à abstração e
a manifestações da capacidade de verie do analista que lhe permitem
transformar os dados sensoriais em elementos alfa.
Tarantelli (2003) apresenta uma fenomenologia e uma metapsicologia dos
efeitos do trauma psíquico catastrófico sobre a mente, diante do qual há a
experiência de “aflição infinita”. Tal condição determina uma ruptura radical no
ser, desarticulando o psiquismo, e o lança aos “níveis mais primitivos de
funcionamento do psiquismo”. Baseando-se em René A. Spitz e Eugenio Gaddini,
a autora comenta que a “atividade mental primitiva” se organiza por processos
intrinsecamente elementares no período que se segue ao nascimento. Assim
consolidam-se “níveis primitivos de funcionamento psíquico”, em que nos
“estados mais primitivos de atividade mental” a organização psíquica básica
funciona como se fosse magicamente autossuficiente, prevalecendo o contato
com as sensações e o funcionamento corporal, formando-se um ego primitivo, ou
autossensual, conforme referência da autora a Francis Tustin.
Bergstein (2003) busca explicar o interjogo entre as posições
esquizoparanoide e depressiva, juntamente com os “estados mentais primitivos”
como aqueles que aparecem nas experiências de intensas ansiedades relativas à
fragmentação, à desintegração e ao terror sem nome. Tais ansiedades são
examinadas em relação ao que é denominado de violência gratuita, não
provocada, utilizando-se o autor da ópera Rigoletto de Verdi para demonstrar as
articulações de seus pontos de vista. O autor estabelece uma relação entre os
“estados primitivos da mente” e as experiências não mentalizadas, este último um
conceito elaborado por Judith L. Mitrani. Também relaciona os “estados mentais
primitivos” com os conceitos de posição autista-contígua (Thomas H. Ogden), de
identificação adesiva (Esther Bick e Donald Meltzer), de ego-pele (Didier Anzieu),
além das contribuições de Francis Tustin e outros. Segundo o autor, tais estados
podem ser “[...] caracterizados pela atribuição de significados a experiência pela
formação de ligações pré-simbólicas entre percepções dos dados sensoriais
brutos que venham a constituir superfícies ligadas, em que origina as
experiências do self(p. 1299). Ainda aparecem, no decorrer da discussão sobre
Rigoletto, outras expressões como “organização mental mais primitiva”,
“funcionamento mental primitivo”, “áreas mentais primitivas da mente”, “modo
mais primitivo da experiência” e “funcionamento mais primitivo”.
Lombardi (2003b) considera o tempo como objeto de elaboração no
decorrer do processo analítico de pacientes nos quais o funcionamento psíquico
manifesta de modo evidente “aspectos primitivos”, e apresenta algumas hipóteses
acerca do tempo e os diversos níveis de profundidade da mente. No decorrer do
artigo o autor utiliza com frequência a expressão “estados mentais primitivos”,
além de “níveis primitivos do funcionamento mental”, que se relacionam
estreitamente com processos somáticos, priorizando aspectos da sensorialidade,
cujos elementos exprimem-se de modo caótico e indiferenciado, com fortes
conotações de concretude.
De Masi (2004), baseando-se em considerações das neurociências e da
psicanálise, procura explicar o padrão repetitivo do ataque de pânico, dando
destaque ao estabelecimento de uma espécie de curto-circuito psicossomático
entre o corpo e o psiquismo, em que o terror reforçaria as reações somáticas bem
como a correspondente construção psíquica. Todo esse processo do ataque de
pânico, na opinião do autor, seria consequuência da falência da organização
defensiva em diferentes níveis. No percurso de suas argumentações o autor
considera a posição esquizoparanoide como um “estágio primitivo” do
funcionamento mental.
Cartwright (2005), partindo da análise da trilogia cinematográfica The
Matrix, procura ilustrar de que modo a narrativa apresentada nos três filmes pode
ser entendida como uma representação dos constantes dilemas entre as partes
psicótica e não psicótica da personalidade, particularmente no que concerne à
deturpação da realidade que ameaça quando a parte psicótica domina. O autor
utiliza a expressão “atividade mental primitiva” associando-a ao funcionamento
característico da parte psicótica da personalidade. Destaca que os elementos
beta são “elementos primitivos”, básicos, e que uma “forma primitiva de atividade
mental” apresenta-se essencialmente com elemento não verbal.
Scalzone (2005) pretende estabelecer um diálogo entre a psicanálise e as
neurociências, bem como reflete sobre as investigações neurofisiológicas mais
recentes, que parecem oferecer a possibilidade de se falar em correlação entre
certas descobertas anatomofisiológicas e alguns fenômenos e mecanismos
psíquicos. Em certa altura do texto o autor cita Eugenio Gaddini, de quem utiliza a
expressão “atividade psíquica primitiva” para se referir às condições do
funcionamento do aparelho mental no início da vida do bebê, predominando
aspectos sensoriais, a função alucinatória, a fantasia fusional e da não
discriminação entre sujeito e objeto, que somente se consolida gradativamente.
Korbivcher (2005a
4
) desenvolve considerações a respeito dos métodos de
observação dos fenômenos mentais a partir da teoria das transformações de
Wilfred R. Bion, bem como sobre a investigação de “estados mentais primitivos”,
particularmente os chamados estados autistas de pacientes neuróticos propostos
por Francis Tustin. Nessas considerações a autora faz uso dos termos “estados
mentais primitivos” e “estados protomentais” como equivalentes, referindo-se
inclusive ao “grau de primitivismo do fenômeno mental”. Desse modo, acrescenta
que os fenômenos protomentais apresentam um grau de primitivismo que
[...] os impede de serem representados na mente, o que os torna imunes
à transformação. No entanto, é possível supor que qualquer
manifestação, mesmo em um nível protomental, bem como a sua
apreensão, seria uma transformação, pois não temos acesso à
4
Este texto é uma publicação com algumas pequenas modificações de um artigo publicado na
Revista Brasileira de Psicanálise, v. 5, n. 4, p. 935-958, 2001. Ambos têm o mesmo título.
experiência em si, por mais primitiva que possa ser (KORBIVCHER,
2005, p. 1606).
A autora supracitada acrescenta que os estados protomentais causam
intensas e profundas reações no observador, em função do seu “grau de
primitivismo”.
6.3 Apreensão de elementos significativos
A partir dos autores e textos indicados nessa parte, é possível esboçar uma
tentativa de compreensão acerca da mente primitiva tendo-se como suporte
alguns elementos que sobressaem nas argumentações apresentadas acima.
indicações de que a mente primitiva está intimamente relacionada com
o processo primário do funcionamento mental (ALLEGRO, 1993; SHENGOLD,
1993), evidenciando-se a predominância do princípio do prazer (LOMBARDI,
2004).
Também surgiram indicações de que a mente primitiva refere-se ao
funcionamento mental característico dos primeiros meses de vida do bebê, desde
a sua centralização nos processos corporais a partir dos quais se originam os
desenvolvimentos que constituem o psiquismo (HAYMAN, 1993; LUSSIER, 2000;
SHENGOLD, 1993).
Destacam-se igualmente as afirmações de que a mente primitiva e seu
funcionamento não somente dizem respeito ao início, ao estágio inicial, mas se
consolidam como parte constituinte do psiquismo, permanecendo atuantes e
dinamicamente integrados aos desenvolvimentos posteriores (FERRARO, 2003;
LOMBARDI, 2004; LUSSIER, 2000). Desse modo, os autores parecem concordar
com a afirmação freudiana de que a mente primitiva é imperecível, de modo que a
ontogênese repete a filogênese.
É possível identificar alguns aspectos que caracterizam a mente primitiva,
que seriam o nível concreto de funcionamento e predominância da sensorialidade
(LOMBARDI, 2004), a indiferenciação (ALLEGRO, 1990; SHENGOLD, 1993), a
ambiguidade e o sincretismo (ALLEGRO, 1990), os aspectos narcísicos e pré-
edípicos (FERRARO, 2003), o estado caótico (SHENGOLD, 1993) e a falta de
discriminação eu-outro (ALLEGRO, 1990). O conceito bioniano de parte psicótica
da personalidade também é associado aos níveis mais primitivos da mente
(ALLEGRO, 1990; CAPER, 1994).
ainda comparações por oposição de níveis de funcionamento psíquico,
evidenciando o enfoque processual evolutivo que parte, por exemplo: do processo
primário característico da mente primitiva para o processo secundário como um
nível mais sofisticado do funcionamento mental (ALLEGRO, 1990; SHENGOLD,
1993); dos processos corporais para os processos psíquicos e a simbolização
(HAYMAN, 1993); de uma parte infantil para uma parte adulta do funcionamento
psíquico (FERRARO, 2003); do primitivo para o avançado; e da concretude para a
abstração (LOMBARDI, 2004).
Com relação aos termos congêneres, os autores e textos consultados
nessa parte evidenciam elementos que auxiliam na compreensão do tema em
questão e de certo modo confirmam o que foi identificado como se referindo à
mente primitiva, apresentado logo acima.
Utilizando expressões como ‘ordem mental primitiva’, ‘natureza primitiva
dos processos psíquicos’ ou “modos mais primitivos de funcionamento mental”, os
autores reafirmam que prevalece o processo primário como a forma primitiva de
lidar com a realidade, sendo o modo de funcionamento característico das
estruturas psíquicas precoces (CAVELL, 1991; LE COULTRE, 1993; SANDLER;
SANDLER, 1994). Se o processo primário prevalece nessas condições, também
sobressai o predomínio do princípio do prazer-desprazer (GREEN, 1998;
LIKIERMAN, 1993).
Outro dado que é possível deduzir, direta ou indiretamente, a partir da
discussão dos autores quando fazem uso de termos congêneres é que dizem
respeito ao funcionamento psíquico característico dos primeiros meses de vida do
bebê ou do primeiro ano de vida, à constituição do psiquismo no seu estágio
inicial, ao início do funcionamento mental e às vivências precoces desse período
(CAPER, 1998; COHEN; JAY, 1996; DE MASI, 2004; JAY, 1996; DUNN, 1993;
FELDMAN, 1997; GREEN, 1998; HAYMAN, 1994; KERZ-RUUHLING, 1996;
LEAR, 2000; LIKIERMAN, 1993; LOMBARDI, 2002; MARIOTTI, 1993; MITRANI,
1993, 2001; SCALZONE, 2005; STEIN, 1990; TARANTELLI, 2003; TAYLOR,
1993; WEBART, 2002; WILLIAMS, 1998; WILLOUGHBY, 2001).
Embora as noções que agregam o adjetivo “primitivo”, conforme acima,
indiquem o início do desenvolvimento psíquico do indivíduo, os autores
igualmente destacam outra perspectiva inerente à questão que se discute aqui.
Trata-se de que aquilo que se pode denominar de “aparelho psíquico primitivo”
“estados primitivos da mente”, “eventos psíquicos primitivos”, “formas primitivas
de expressão psíquica”, “atividade mental primitiva”, entre outros termos, não se
restringe a uma etapa inicial da vida, ao período inicial do desenvolvimento
psíquico.
Nessa perspectiva, o que foi vivenciado nesse processo de constituição da
mente, do psiquismo, mantém-se como parte da estruturação subjetiva do
indivíduo, permanece como constituinte da personalidade, com a coexistência de
funções primitivas com as outras funções que se desenvolvem a partir das
primeiras e se manifestam nos momentos posteriores ao primeiro ano de vida
(BOYER, 1992; COHEN; JAY, 1996; DUNN, 1993; FELDMAN, 1997; FONAGY;
TARGET, 1996, 2000; GREEN, 1998; HAYMAN, 1994; KERZ-RÜHLING, 1996;
LEAR, 2000; MARIOTTI, 1993; MITRANI, 1993, 2001; SANDLER; SANDLER,
1994; TAYLOR, 1993; WERBART, 2002; WILLIAMS, 1998; WILLOUGHBY,
2001).
O que foi vivenciado nesse nível pode ser reativado (TAYLOR, 1993) não
mais como algo simplesmente do passado, mas como algo que se faz atual
(MITRANI, 1993), que se mantém atuante no inconsciente por toda a vida
(HAYMAN, 1994). Torna-se presente não como repetição, embora por vezes
possa sê-lo, mas leva em conta o propósito de lidar com o que foi suscitado e
com a vivência atual na intersecção com a realidade exterior (FELDMAN, 1997).
Pode manifestar-se de modo “normal” ou psicopatológico (ALVAREZ DE
TOLEDO, 1996; WILLIAMS, 1998), por exemplo, nos sonhos (WEBART, 2002),
na transferência que o encontro analítico favorece (FELDMAN, 1997) e na vida
em geral (MITRANI, 2001); ou ainda nos sintomas, quando não tiver ocorrido uma
adequada integração desses “modos primitivos” de vivenciar a realidade psíquica
(FONAGY; TARGET, 1996), sendo citado porque os autores tinham como objetivo
discutir tais quadros, os pacientes borderlines (FONAGY, TARGET, 2000),
pacientes anoréxicos (LAWRENCE, 2002) e os casos de psicose (LOMBARDI,
2003).
Se permanece como parte estruturante da personalidade (LEAR, 2000) de
cada indivíduo, o estado primitivo não perece em função dos períodos e dos
processos de desenvolvimento posteriores. Ao contrário, esse estado torna-se
imperecível para utilizarmos novamente a expressão freudiana –, pois, nessa
condição no indivíduo o reflexo das marcas oriundas não somente da
ontogênese, mas, além disso, da filogênese, indicando a presença da
ancestralidade (GREEN, 1998), da constituição do psiquismo no início do
funcionamento mental da espécie (DUNN, 1993)
Algumas características desse funcionamento são a concretude (ALVAREZ
DE TOLEDO, 1996; BOYER, 1992; GREEN, 1998; LOMBARDI, 2003b), o
predomínio de um nível sensório-motor de vivenciar a experiência (TAYLOR,
1993), a importância da sensorialidade e da centralidade do corpo e suas funções
(BERGSTEIN, 2003; LOMBARDI, 2002, 2003b; SCALZONE, 2005; TARANTELLI,
2003), os estados protomentais (KORBIVCHER, 2005) e os elementos beta, que
são os mais primitivos e básicos da psique, vinculados às experiências sensoriais
(CARTWRIGHT, 2005; GREEN, 1998), as fantasias de fusão corporal (COHEN;
JAY, 1996; SCALZONE, 2005), a onipotência e a idealização (LIKIERMAN, 1993;
TARANTELLI, 2003), os impulsos caóticos e as emoções incipientes (TAYLOR,
1993), os intensos processos projetivos, introjetivos (FELDMAN, 1997) e de
identificação projetiva (LEAR, 2002); os elementos se exprimem de modo caótico
(LOMBARDI, 2003b); o funcionamento é mágico e alucinatório (TARANTELLI,
2003; SCALZONE, 2005), pré-simbólico (BERGSTEIN, 2003; LEIRA, 1998;
LOMBARDI, 2002), pré-verbal (LEIRA, 1998), o verbal (CARTWRIGHT, 2005),
não integrado (LEIRA, 1998); indiferenciação (LOMBARDI, 2003b); não
distinção entre o sujeito e o objeto (LEIRA, 1998; SCALZONE, 2005), entre o
interno e o externo (FONAGY, TARGET, 2000).
Outro aspecto que parece valer a pena destacar diz respeito à existência
de evidências de que certos termos são utilizados pelos autores como
supostamente equivalentes, entre eles: primitivo, arcaico, precoce, primário,
inicial, primevo e originário.
7 A REVISTA BRASILEIRA DE PSICANÁLISE (1990-2005)
Serão apresentados, a seguir, os artigos selecionados da Revista Brasileira
de Psicanálise editada no período de 1990 a 2005 nos quais, conforme proposto
nesta investigação, constam a expressão “mente primitiva” e outros termos
congêneres, como estados mentais (psíquicos) primitivos, estados primitivos da
mente (psique), áreas primitivas da mente, atividade mental (psíquica) primitiva,
além de outras, que se desdobram em inúmeras variações.
7.1 A mente primitiva
O primeiro texto selecionado foi o de Mello (1992) ao fazer uma reflexão
acerca da dimensão mítica na psicanálise brasileira, no qual aparece a “mente
primitiva” relacionada ao mundo arcaico do indivíduo. O termo remete ao
processo primário do funcionamento mental proposto por S. Freud, que a autora
considera muito próximo do que W. R. Bion descreveu como funcionamento
protomental, “[...] no qual as emoções primitivas de um grupo (‘suposto-básico’)
encontram-se profundamente associadas e onde não distinção entre o que é
psíquico e o que é físico, nem entre a mente individual e a coletiva” (p. 34).
Longman (1994) aborda o tema dos “estágios primitivos da mente” aludindo
inicialmente a uma conexão entre o funcionamento mental observado na primeira
infância e a natureza psíquica do homem primordial referida por S. Freud, que
indica a presença do primitivo no homem de todos os tempos. Considera que o
modo de tratar a “mente primitiva” a partir de sua constituição e manifestação na
infância é o mais frequente; contudo privilegia o vértice a partir do qual a “mente
primitiva” configura-se como de natureza psíquica primordial, em consequência
intrínseca da herança filogenética, que é individualmente realizada, “[...]
assumindo uma configuração pessoal entre todas as possíveis configurações [...]”
(p. 257) que se formam a partir do processo a-histórico e dinâmico que
caracteriza a natureza constitutiva do funcionamento inconsciente.
Braga (1995) apresenta reflexões sobre a identidade do psicanalista e seus
limites, discutindo em certo momento que a compreensão do analista, construída
a partir de determinado fenômeno clínico, é dependente do modelo de mente
subjacente a sua postura, que o coloca em contato com elementos da mente
simbólica e da mente primitiva. Referir-se a “mente simbólica” e a “mente
primitiva” parece evidenciar modos distintos de funcionamento psíquico: o
simbólico e o pré-simbólico.
Braga, M. C. (1996) propõe reflexões a propósito do trabalho com pais de
crianças e adolescentes segundo o referencial psicanalítico. A partir de uma
descrição clínica, a autora cita a expressão “mente primitiva” exemplificando como
próprios do seu funcionamento a rivalidade, a inveja e o ciúme, que são
conteúdos protomentais. Também ressalta que todos nós, seres humanos, temos
um funcionamento típico da “mente primitiva”.
Montagna (1996) debate questões concernentes à manifestação de
fenômenos psicossomáticos durante a sessão de análise partindo de um material
clínico. Ao tecer seus comentários acerca da relação entre corpo e símbolo, faz
uma citação indireta de Eugenio Gaddini, afirmando que
a mente primitiva é incapaz de distinguir entre a repetição de uma
experiência de sua reativação mental pela memória. Para a mente
primitiva, reativar uma experiência depositada na memória significa sua
‘recriação’ onipotente. [...].
Rezze (1997) faz um rastreamento do conceito de transferência,
estabelecendo como campo estudado as teorias de S. Freud, M. Klein e W. R.
Bion. Na pesquisa destaca a experiência clínica e amplia particularmente a
importância das transformações em alucinose. O autor cita a “mente primitiva”
considerando que nas relações nela desenvolvidas predominam a cisão, a
identificação projetiva e a introjetiva. Mais à frente reafirma que, para Melanie
Klein, a “mente primitiva” é a área da cisão e mecanismos correlatos, ponderando
que as teorias e as práticas kleinianas criam uma espécie de modelo no qual a
“mente primitiva” progressivamente adquire espaço para se expandir.
Mattos (1998) ressalta que as perversões seriam distúrbios do pensamento
e que as teorias de W. R. Bion seriam essenciais para a compreensão dos
estados perversos. Situa as perversões entre os distúrbios primitivos do
pensamento. Citando Claude Lévi-Strauss, postula que na mente primitiva do ser
humano há duas teorias sobre o nascimento: a autóctone (autogerada) e a genital
(concebido por uma relação sexual entre os pais).
Signorini (1999) analisa o fenômeno da premonição, tido como uma noção
bioniana que, no plano emocional, corresponderia as pré-concepções no campo
das ideias. Dando ênfase às contribuições de W. R. Bion com suas proposições
de um modelo de funcionamento mental, o autor afirma que as teorizações de
Melanie Klein sobre a “mente primitiva” abriram esse caminho que culminou com
a possibilidade de se ter um enfoque analítico em relação àquilo que ainda não
atingiu uma formação simbólica, existindo apenas como potencialidade em um
nível protomental.
Korbivcher (1999) versa sobre a relação entre “mente primitiva”,
pensamento e experiência analítica utilizando material oriundo de três casos
clínicos que, embora apresentem níveis diferentes de organização mental,
manifestam características relativas à “mente primitiva”: a concretude, a
fragmentação, a experiência do vazio, a incapacidade de pensar pensamento, o
estado de não integração, a indiscriminação, o predomínio dos elementos beta, o
físico e o mental indiscriminados e os dados organizados formando conexões pré-
simbólicas entre as impressões sensoriais. A autora enfatiza em sua análise os
“estados primitivos da mente”, termo equivalente aos estados protomentais, e faz
referência às teorias acerca da “mente primitiva” propostas por Thomas H. Ogden,
Esther Bick, Donald Meltzer, Francis Tustin e Melanie Klein.
Ao resenhar o livro Pós-autismo: uma narrativa psicanalítica de Marisa
Pelella Mélega, Braga (2000) afirma que a teoria kleiniana propõe um modo de
compreender a mente primitiva.
Também ao resenhar o livro Bion conhecido/desconhecido, de Elizabeth T.
de Bianchedi e colaboradores, Lisondo (2001), quando discute a questão do
desenvolvimento simbólico como resultado do confronto com o sofrimento, refere-
se à mente primitiva como sendo a área onde o que predomina é o despojamento
do significado e da emoção, a desmentalização, o não pensar, a onipotência e o
ódio à verdade, e afirma que, no confronto com a mente evoluída, provoca nesta
a exclusão das conquistas simbólicas mediante o estabelecimento de uma
relação parasitária.
Holovko (2002) levanta questões acerca das manifestações
somatopsíquicas a partir de um caso clínico, argumentando que algumas
manifestações somáticas do paciente podem indicar a ocorrência de um processo
transformador que gera uma maior integração. Afirma que as manifestações
psicossomáticas são decorrentes do funcionamento da “mente primitiva” por esta
ter a tendência de se livrar do aumento de estímulos, de romper com as funções
que permitem o contato e a experiência com os fatos que favorecem o
pensamento psíquico, ativando o sistema protomental.
Marques, M. (2004) constrói considerações no intuito de abordar o conceito
de perversão, que entende como sendo complexo e intrincado. Nesse percurso o
autor assegura que a concepção bioniana de “mente primitiva” é que, ao se
defrontar com a intolerância, a frustração, a incerteza e a ausência de objeto,
estabelece uma relação parasitária com a mente evoluída. Nessa condição, a
“mente primitiva” espolia a mente evoluída de suas conquistas no processo de
simbolização e a põe a serviço da onipotência, da violência e da mentira.
Valladares (2005) ressalta as relações primitivas estruturantes da
personalidade como elementos cruciais para a compreensão dos quadros
borderlines, utilizando-se de vinhetas clínicas. Reafirma a importância da noção
freudiana de neurose infantil para o entendimento das patologias na vida adulta,
bem como a contribuição kleiniana que investigou aspectos muito precoces em
crianças muito pequenas e até em bebês. Segundo a autora, é a partir desse
arcabouço que outros autores, como Bion, Winnicott e tantos outros, contribuíram
de modo inovador e valioso para a ampliação da teoria psicanalítica,
principalmente no que tange à compreensão do desenvolvimento da “mente
primitiva”. Desse modo, a noção de mente primitiva parece se relacionar com os
processos iniciais do desenvolvimento do psiquismo.
Korbivcher (2005b) analisa os processos que acontecem na mente do
analista quando enfrenta situações que lhe causam impacto por serem
manifestações da “mente primitiva”. A autora relaciona tais manifestações com
estados autísticos, impossibilidade de representação mental e predomínio de
sensações. Relembrando trabalhos anteriores seus, acrescenta a importância e
necessidade de que sejam discriminados diferentes níveis de desenvolvimento
mental na “mente primitiva”, pois é isso que permite sua manifestação em
indivíduos com níveis diferentes de organização mental, e ao analista, adequar
sua abordagem ao nível do funcionamento do paciente. Em sua opinião, a área
de investigação da “mente primitiva” é sem limites.
7.2 Os termos congêneres
Perecmanis (1990), ao analisar o sonho de uma paciente, aponta como os
aspectos mais tenros e primitivos para lidar com a ativação de altos níveis de
ansiedade e angústia, aqueles ligados ao intenso uso dos mecanismos de cisão e
projeção, à busca por gratificação onipotente, à idealização, ao controle gico e
à inveja. Nesse texto o termo “primitivo” alude ao precoce, ao inicial, ao que
ocorre nas primeiras etapas do desenvolvimento.
Steiner (1990) refere-se a áreas primitivas da mente como aquelas em que
predominam “[...] as experiências pré-verbais e não verbais relacionadas
sobretudo com os estágios mais arcaicos do complexo de Édipo e da experiência
oral” (p. 78).
Caldeira (1990) pondera que os desenvolvimentos teóricos e técnicos
trazidos por Melanie Klein abriram caminho para a expansão do conhecimento a
respeito dos estados primitivos da mente.
Harris (1990) alude a um estado primitivo de não integração no qual o bebê
tem a necessidade de que um objeto exerça a função de conter, unidas, as partes
da personalidade. Dependendo de como é exercida essa função continente, o
objeto poderá ser introjetado pelo bebê de modo integrado, como também a partir
disso introjetará igualmente a função integradora.
Zanin (1990a) menciona estados primitivos que são vinculados a objetos
internos arcaicos. O autor cita como alguns exemplos desses estados o
afloramento de angústias de perda, separação, desamparo, abandono, fantasias
destrutivas, depressão e persecutoriedade, além de outras. Estes são citados
pelo autor tendo em vista que sua discussão nesse ponto se centra no analista
quando este se sente invadido por elementos psicóticos do paciente, podendo
reviver suas próprias experiências precoces, em momentos de interrupção da
análise por parte do analisando. Aqui é preciso indicar que também foi consultada
a versão reformulada deste artigo (ZANIN, 1990b), pois, segundo o autor, a
primeira versão continha inúmeras incorreções, que modificavam o sentido
original do texto. Outra observação é que o autor utiliza o termo “primitivo” como
equivalente a primário, arcaico e precoce.
Fonagy e Moran (1990) comentam a conveniência de o trabalho analítico
com crianças pequenas favorecer a observação do funcionamento mental
primitivo em seu processo de evolução do funcionamento psicológico.
Bianchedi (1990) entende a transferência “[...] como a ampla e sempre
presente externalização do infantil e primitivo do mundo interno na relação com o
analista. A transferência é usada para reviver e elaborar as situações de
ansiedade prematuras ativas ou reativadas” (p. 363). Entende-se então que há no
mundo mental um infantil e um primitivo, que remetem a vivências no início do
desenvolvimento psíquico e à revivência de algo que é constituinte do psiquismo.
Souza (1990) cita um caso clínico em que aspectos de uma vida mental
muito primitiva coexistem com outros muito desenvolvidos. A autora faz menção
particularmente à existência de estados e fenômenos autísticos, simbiose e
estados psicóticos.
Calife (1991), partindo de um caso clínico, cita os aspectos primitivos da
mente que se faziam presentes nos encontros analíticos, expressos na sensação
de aniquilamento, na tendência à simbiose, na concretude, no narcisismo e na
onipotência.
Sandler (1991) cita a expressão “condições primitivas da mente” para
referir-se a um estado de mente que se destaca pelo primitivismo, pela
“concretificação”, sendo alguns de seus aspectos os núcleos psicóticos, o
sensório-concreto, a equação simbólica e o protomental. Refere-se ao
“primitivismo psíquico”, cujas manifestações peculiares são a “concretificação” e a
sensorialização submetidas ao princípio do prazer-desprazer, à busca de
soluções alucinatórias e à onipotência.
Andrade (1991), fundamentando-se em S. Freud, refere-se a uma forma
primitiva de atividade mental relacionada ao fator instintivo, que seria o núcleo do
inconsciente.
Lacombe (1991) comenta que na clínica psicanalítica, sob certas
condições, as formas mais primitivas do funcionamento mental eclodem de
movimentos regressivos.
Lisondo (1992) refere-se aos estados primitivos do desenvolvimento do
psiquismo como associados ao mundo primitivo infantil, aos vínculos iniciais, ao
contexto pré-genital, à onipotência e às ansiedades primitivas.
Braga (1992) faz menção ao funcionamento psíquico mais primitivo que a
psicanálise se incumbe de investigar.
Mello (1992) cita um nível mais primitivo do funcionamento mental: o
protomental na concepção bioniana ou o do processo primário conforme Freud,
que não se dissipa com o desenvolvimento do processo secundário.
Bunemer (1993) faz alusão a um “estado psíquico da infância primitiva”,
onde predominam as experiências narcísicas, a indiferenciação, a não integração,
a idealização e a onipotência. O autor também menciona “estados de mente muito
primitivos” considerando-os como não verbais e pré-verbais, e utiliza a expressão
“organização mental primitiva” como relativa aos processos e vivências do início
da construção do psiquismo, envolvendo as relações primárias.
Cypel (1993), em uma nota, cita que fenômenos mentais primitivos fazem
parte tanto da fase arcaica do desenvolvimento quanto da vida psíquica posterior.
Haudenschild (1993) refere-se aos níveis primitivos de desenvolvimento e
de estruturação psíquica relacionando-os às etapas iniciais do desenvolvimento
psíquico.
Franco Filho (1994) faz referência a aspectos muito primitivos que se
podem inferir, por exemplo, de experiências subjetivas e suas fantasias de
persecutoriedade, de intensa idealização, de onipotência, de processos
narcisistas e simbióticos.
Green (1994), partindo de concepções bionianas, menciona o pensamento
concreto como um estado primitivo da psique.
Likierman (1994), comentando posicionamentos de S. Freud e H. Segal
sobre a sublimação e a experiência estética, afirma que ambas as teorias supõem
a existência de um estado mental primitivo, a partir do qual se desenvolveria até
atingir outro estado mais evoluído. Cita a existência de uma vida mental primitiva
que, por um lado, remete aos estágios iniciais do desenvolvimento e, por outro, às
condições psíquicas que permanecem, atuantes ou não, na vida mental em geral.
Em sua resenha do livro “Mito e psicanálise”, de D. Azoubel Neto,
publicado em 1993, Cord (1994) faz referência a formas primitivas de pensamento
persistentes no homem civilizado que são consideradas fundamentais e
imprescindíveis ao funcionamento e equilíbrio da mente.
Leão (1994) indica sua preocupação com o modo pelo qual seria possível
atingir os níveis mais primitivos da psique humana.
Korbivcher (1995) conjectura que, de acordo com Melanie Klein, a
observação dos “estados mentais primitivos” vivenciados no contexto do setting
analítico são de suma importância. A autora cita a existência de um “mundo
interno primitivo”, que pôde ser representado pela sua analisanda no decorrer do
processo analítico.
Braga (1995) comenta que algumas contribuições de Freud e, mais
acentuadamente, de Melanie Klein, possibilitaram ampliar a investigação
psicanalítica para o campo dos “fenômenos mentais primitivos”, pré-simbólicos,
com peculiaridades dos desdobramentos da sensorialidade.
Riolo (1995) comenta que os mbolos, particularmente os oníricos,
representam uma forma de pensamento primitiva que professa o modo de
funcionamento do processo primário.
Shuttleworth (1995) assevera que existe no bebê uma forma primitiva de
atividade mental, vivenciada como um processo físico concreto, num estágio pré-
simbólico.
Faria (1995) cita o modo mental primitivo, relacionando-o a características
pré-simbólicas, ao funcionamento em processo primário, à fragmentação, ao caos
primevo e à parte psicótica da personalidade.
Vilete (1995) faz referência a níveis profundos e primitivos da mente, um
nível primitivo e infantil, em que o processo primário seria dominante não só como
existente no início da infância, mas também como aquele que continua a fazer
parte do psiquismo e pode ser utilizado para auxiliar nas tentativas de contato
emocional.
Vilete (1996) cita a existência de um primitivo estado de fusão com o
objeto, que o sujeito repete quando se encontra vivenciando ligações amorosas
intensas.
Amati-Mehler (1996), baseando-se nas ideias de Eugenio Gaddini, afirma
que níveis primitivos do funcionamento mental existem e interagem
concomitantemente com níveis mais amadurecidos no processo de relações
objetais, assim permanecendo por toda a vida. Nessa perspectiva, nos níveis
primitivos existem duas áreas: a) área psicossensorial mais primitiva, onde
prevalece a fusão e a onipotência, onde o aspecto funcional mais relevante é a
imitação para ser o objeto; b) área psico-oral, onde é intrínseca a fantasia de ter,
de possuir o objeto. São níveis pré-estruturais e pré-conflituais.
Petrucci (1996) aponta condições muito primitivas da mente que emergem
na sessão de análise como relacionadas aos níveis pré-verbais de
funcionamento, aos movimentos inerentes à posição esquizoparanoide.
Braga, J. C. (1996), a partir de dois fragmentos clínicos, comenta que seus
pacientes vivenciavam estados mentais primitivos aos quais se encontravam
fortemente vinculados ainda na idade adulta.
Caron (1996), ao resenhar o livro “Adolescência: reflexões psicanalíticas”,
de David Léo Levisky, 1995, comenta a necessidade e a importância de o analista
conhecer, apreender e vivenciar os estados mentais primitivos do paciente para
que o processo analítico aconteça efetivamente. Em tais estados predominam os
aspectos não verbal e pré-verbal, aqueles relacionadas às relações objetais, etc.
Lisondo, Ribeiro, Noto, Souza e Franch (1996), utilizando uma citação de
Antonino Ferro, afirmam que na sessão analítica encontram-se presentes estados
de espírito muito primitivos, os quais não tiveram acesso à condição de serem
pensados.
Marinho (1996), discutindo a noção bioniana de vínculo, refere-se a
estados mentais muito primitivos, associados à parte psicótica da personalidade.
Mattos (1996) cita que o bebê busca um estado primitivo de fusão, criando
uma condição de fusão com a mãe para se defender da angústia de perceber a
separação.
Meurer (1996) designa funcionamento psíquico primitivo como aquele em
que os mecanismos de defesa são básicos e primitivos, como a cisão, a projeção,
a introjeção e a identificação projetiva. Nele intensa ambivalência, idealização,
tendência à ação e pré-simbolismo.
Fontes (1996) menciona uma forma primitiva de funcionamento mental
como expressão de um mundo mental primitivo, no qual o processo alucinatório é
um aspecto normal no desenvolvimento do bebê que evoluirá gradativamente
para um modo simbólico; contudo essa forma primitiva de funcionamento mental
nunca será substituída plenamente, e, em maior ou menor grau, permanece
atuante, sendo útil inclusive na vida adulta, para o exercício da função materna e
do trabalho analítico. Ao fazer referência a um mundo mental primitivo, indica que
aspectos de uma vida mental primitiva coexistem com outros mais desenvolvidos.
Haudenschild (1996) refere-se a níveis mais primitivos, que correspondem
a níveis pré-verbais.
Montagna (1996), respaldando-se em Bion e Meltzer, comenta que os
estados emocionais evoluem a partir dos estados protomentais, em que o físico e
o psíquico encontram-se indiferenciados. Ainda que em meio ao processo
primário, os estados emocionais diferenciados são processados a partir do ego
corporal. Segundo o autor, “isto parece significar que nesse nível primitivo o ego
não faz representações das experiências emocionais, mas as constrói como
estados corporais e reage a elas como estados corporais e ações” (itálicos do
autor; p. 468).
Ogden (1996
5
) afirma que a posição autística-contígua é a organização
psicológica mais primitiva. Sendo parte integrante do desenvolvimento normal, ela
é anterior às posições esquizoparanoide e depressiva propostas por Melanie
Klein. Por vezes o autor se refere a ela como organização psicológica primitiva.
Laufer (1996), em seu trabalho “Realidade psíquica e a menarca”, faz
referência à existência de uma realidade psíquica infantil primitiva que permanece
atuante no psiquismo para além dos primeiros anos de vida, podendo acarretar
profundas dificuldades quando da entrada na puberdade e na adolescência,
particularmente em indivíduos com transtornos alimentares.
Aparece também em outro trabalho de Amati-Mehler (1997) a indicação,
citando Eugenio Gaddini, de uma área primitiva do funcionamento mental que é
comandada por fantasias arcaicas, nomeadas de protofantasias, ligadas a
funções corporais e aos níveis onipotentes e fusionais da organização psíquica.
As protofantasias são experiências mentais primitivas de funcionamentos físicos
associados à alimentação, ao contato de pele, etc., situando-se na fronteira entre
os elementos biológicos e os psíquicos. Posteriormente a autora volta a citar a
existência de uma área mais primitiva da organização psíquica, caracterizada
como pré-estrutural, indiferenciada, regida por um funcionamento onipotente,
fusional e mágico. Também retoma a noção de área psicossensorial mais
primitiva do funcionamento mental, mencionada acima, ao indicar seu artigo
5
Este artigo é uma tradução de outro publicado anteriormente no International Journal of Psycho-
Analysis, v. 70, n. 1, p. 127-140, 1989. A versão original foi considerada no item 4.2.
anterior (AMATI-MEHLER, 1996), e refere que diferentes níveis primitivos do
desenvolvimento da organização psíquica persistem coexistindo e interagindo
com os níveis mais amadurecidos.
Giuffrida (1997) comenta que no fenômeno da intuição incide um tipo de
comunicação primitiva cujo conteúdo comunicado também é primitivo, ou pelo
menos em sua essência faz parte dos aspectos mais primitivos do psiquismo; e
mais adiante se refere aos aspectos primitivos da mente como relacionados com
a parte psicótica da personalidade, aos elementos beta, as pré-concepções.
Cassorla (1997) afirma que as identificações projetivas m como uma de
suas funções a comunicação de aspectos primitivos que, no contexto do trabalho
do autor, estariam referidos às fantasias inconscientes, às ansiedades primitivas,
às vivências de indiferenciação, indiscriminação, aos elementos beta, enfim, aos
aspectos relacionados às vivências precoces nas fases iniciais de sua
constituição.
Costa (1997) refere-se a estratos mais primitivos das vivências de
pacientes que devem ser atingidos quando em processo psicanalítico, envolvendo
sensações corporais e elementos pré-simbólicos.
Britton (1997), a partir de uma citação de Melanie Klein, reafirma a fantasia
como a atividade mental mais primitiva, existindo no psiquismo do bebê desde
muito cedo, quase desde o nascimento.
Boyer (1997) faz menção aos estados mentais primitivos como ligados as
percepções físicas, emocionais e somatossensoriais, aos modos pré-simbólicos e
ao processo primário de funcionamento mental, às experiências autística-contígua
e esquizoparanoide
Para Levisky (1997), as relações de objeto parciais, o self primitivo, a
indiscriminação da relação self-objeto e os núcleos aglutinados compõem os
estados primitivos da mente. Aponta a vida psíquica primitiva como um amplo
conjunto de fenômenos intrincados, de extrema complexidade e profundidade do
aparelho psíquico.
Miodownik (1998) menciona camadas mais primitivas da mente, que
parecem se relacionar com os aspectos psicóticos da personalidade e com o
interjogo das posições esquizoparanoide e depressiva.
Della Nina (1998) aponta para um estado de não integração primitivo, de
indiferenciação, que ocorre no início do desenvolvimento psíquico, mas pode ser
revivido em outros momentos do curso de vida do sujeito em função de processos
regressivos.
Feldman e De Paola (1998) indicam a existência de um estado psíquico
primitivo, em que a indiferenciação entre self e objeto é uma característica
marcante.
Cassorla (1998) explicita que a captação dos fenômenos emocionais
primitivos é uma condição essencial no trabalho analítico, particularmente com os
pacientes psicóticos. Segundo o autor, tais fenômenos dizem respeito aos
aspectos psicóticos, aos aspectos arcaicos e às vivências primitivas de todo
paciente.
Cypel (1998) comenta que a noção bioniana de suposto básico auxilia no
esclarecimento de aspectos inerentes ao mundo primitivo de nossa
personalidade.
Dantas Júnior (1998) também faz menção às organizações primitivas da
mente, atendo-se a discutir os aspectos narcísicos nelas envolvidos, segundo o
propósito de seu artigo.
Herrmann (1998) também menciona a expressão vida psíquica primitiva,
porém no contexto não fica claro a que se refere, podendo-se, no ximo, supor
que diz respeito aos processos inconscientes.
Kaio (1999), na discussão de um relato clínico, menciona a expressão
aspectos primitivos da mente, ou aspectos mais primitivos do mundo mental,
como a representação de tudo o que ainda não alcançou o nível da representação
simbólica. Diz o autor quanto ao trato com sua analisanda:
“[...] a partir de seu primitivo mundo mental com o qual se vinculava,
dentro de um contexto emocional primitivo, como contendo ameaças
terroríficas e povoado de maldições [...] considerei esta experiência
como uma tentativa de se superar os mitos da maldição ligada ao
desvelamento da pré-concepção filogenética (núcleos primitivos da
mente), o mundo fantástico do inconsciente, onde se encontram os
nossos tesouros escondidos, o precioso patrimônio psíquico do ser
humano” (p. 76).
Esse mesmo autor faz menção ao mundo mental primitivo no título de
seu artigo, e posteriormente o repete relacionando-o com suas percepções a
respeito de um caso clínico em que sobressaem os aspectos primitivos da mente,
como a concretude, a sensorialidade, a indiscriminação e os elementos
protomentais.
Lisondo (1999), utilizando como suporte diversos autores, afirma que
existem vários níveis mais primitivos da mente, que se exprimem nos estados
protomental, pré-natal e soma-psicótico, estando pouco diferenciados do aspecto
corporal, perduram por todo o desenvolvimento posterior da personalidade, aos
quais se agregam os níveis pós-natais, que compõem os aspectos primitivos da
mente. Menciona ainda níveis mais primitivos da mente correlacionados aos
estados protomentais, os quais são formações arcaicas que persistem na
personalidade, e apresenta o psiquismo primitivo como aquele em que não é
possível promover as representações mentais das experiências emocionais,
vertendo-as, contudo, em estados corporais. Como o domínio dos níveis mais
primitivos da mente englobando os estados protomental, pré-natal e soma-
psicótico, onde os aspectos psíquicos estão pouco diferenciados do corpo.
Korbivcher (1999) cita os estados primitivos da mente, ou estados mentais
primitivos, como um dos níveis de desenvolvimento mental, estando vinculados
aos estados protomentais, aos elementos beta e aos níveis de concretude de
funcionamento. A autora cita a contribuição de vários autores que, segundo ela,
trouxeram maior compreensão sobre os estados mentais primitivos, inclusive com
manifestações anteriores à posição esquizoparanoide. Nesses estados
prevalecem os elementos beta, “[...] manifestações em nível protomental, nas
quais o físico e o mental não se discriminam. O poder de tais estados sobre o
objeto é considerável, dado o seu grau de não integração” (p.691).
Haudenschild (1999) especifica o funcionamento mental primitivo como
relacionado às partes psicóticas da personalidade, conforme a concepção
bioniana.
Ribeiro (1999) cita níveis primitivos e psicóticos da mente, que geram
intensas identificações projetivas e descargas das emoções, predomínio do
funcionamento pré-verbal, da tendência à ação e às somatizações.
Vieira (2000) alude a formas mais primitivas de funcionamento mental, pré-
simbólicas, indiferenciadas.
Doin (2000) menciona o primitivismo mental pelo vértice das configurações
patológicas
Steiner (2000) cita os estados persecutórios primitivos associados ao
desenvolvimento infantil primitivo.
Leal (2000) especifica o psiquismo primitivo como correspondente ao
período pré-edípico do desenvolvimento psicossexual, ao narcisismo, ou ainda,
como indica em outra parte do artigo, ao desenvolvimento primordial do
psiquismo.
Castelo Filho (2001) se refere aos aspectos mais primitivos como sendo de
natureza psicótica, vinculados à parte psicótica da personalidade.
Fagundes (2001) comenta que, ao longo do tempo, a psicanálise vem
investigando os estados primitivos da mente e tentando ampliar sua
compreensão. Para o autor, esses estados estão aquém do nível simbólico,
portanto, no nível dos signos, das não representações e do não pensado, que
utiliza o corpo como forma de expressão, constituindo os aspectos mais arcaicos
e psicóticos do psiquismo, expressos em níveis pré-genitais e fusionais de um
funcionamento indiferenciado.
França (2001), discorrendo sobre os progressos na psicanálise, indica
como um dos seus movimentos evolutivos os estudos acerca dos estados
primitivos da mente.
Korbivcher (2001
6
) enfatiza seu interesse pelos fenômenos psíquicos
referentes aos estados protomentais que predominam nos estados primitivos da
mente.
Oliveira (2001), comentando um caso clínico, cita os estados mais
primitivos como tendo relação com equações simbólicas, idealização, onipotência,
fusão, indiscriminação, objetos parciais e angústias de aniquilamento.
Costa (2001), ao discutir as origens do sentimento de identidade, refere-se
à forma mais primitiva de funcionamento mental como sendo representada pela
identificação, que também é uma forma primitiva de ligação afetiva, cujo escopo,
no princípio, é tornar-se idêntico ao objeto, para depois possuí-lo.
Salim (2001) cita a posição autista-contígua proposta por Thomas H.
Ogden como a mais primitiva organização psicológica.
Doin (2002) coloca os aspectos primitivos em oposição aos mais maduros,
havendo entre eles um processo gradual de continuidade numa linha evolutiva de
progresso. Os primeiros correspondem aos elementos não verbais, pré-
6
Esse artigo foi publicado posteriormente com algumas pequenas alterações no International
Journal of Psycho-Analysis, v. 86, n. 6, p. 1595-1610, 2005. Nessa versão em inglês o artigo foi
considerado no item 6.2 do presente trabalho. Como se tratou dele anteriormente, a versão
em português aqui será apenas indicada.
simbólicos; os segundos, aos elementos simbólicos e verbais. Aponta o psiquismo
primitivo, atendo-se aos aspectos intrínsecos dos vínculos primevos do bebê com
o objeto primário, com o meio, numa visão evolutiva. O autor também salienta que
o psiquismo primitivo se vincula às vivências corporais, protopsíquicas, pré- ou
subsimbólicas e pré-verbais.
França (2002) comenta que Melanie Klein ampliou e aprofundou a
investigação sobre os aspectos primitivos do psiquismo humano desde a mais
tenra idade.
Outeiral e Celeri (2002) ponderam que D. W. Winnicott, ao desenvolver sua
teoria sobre os aspectos pré-edípicos e a importância do ambiente no
desenvolvimento emocional, contribuiu para a ampliação do conhecimento a
respeito dos estados de mente mais primitivos.
Lombardi (2002) comenta que os fenômenos mais primitivos do
funcionamento mental exprimem dinâmicas muito arcaicas, “[...] onde o problema
mais urgente é a fragmentação de uma organização perceptiva interna, que
coloca repetidamente em crise o reconhecimento dos fenômenos sensoriais e
emocionais [...] (itálicos do autor; p. 241). Tais dinâmicas têm o corpo como o
locus inicial dos processos que culminam na simbolização dos elementos
sensoriais e perceptivos nos quais se funda o funcionamento mental.
Holovko (2002) relaciona um nível muito primitivo de funcionamento
psíquico com os fenômenos protomentais.
Miodownik (2003) faz referência aos aspectos primitivos, que emergem na
transferência, expressando-se no relacionamento da dupla analista-analisando.
Por inferência, tais aspectos podem ser concebidos como ligados às vivências
objetais precoces e todo o conjunto de conflitos, angústias e defesas
característicos.
Maltz (2003) enfatiza a relação mãe-bebê como impactante, única e
primitiva; e é na perspectiva dessa relação paradigmática entre a mãe e seu bebê
o que a autora denomina de aspectos primitivos do desenvolvimento. Por isso,
destaca como algo prioritário “[...] a busca de compreensão dos aspectos mentais
mais primitivos da vida mental nas relações iniciais pais-bebê, mais
especialmente, na fase bem inicial na relação com a mãe ou substituta” (p. 642).
Alude a camadas primitivas da mente, às quais o observador de bebês pelo
método de Esther Bick deve estar atento, tanto a si mesmo, mobilizado pelas
experiências do encontro, quanto ao bebê, que é observado na família e que
vivencia suas relações iniciais. A autora cita os estados emocionais primitivos
enquanto aqueles que remetem à primitiva relação mãe-bebê, com o impacto
emocional e a mobilização de ansiedades que lhe são características,
relacionando com o desenvolvimento psíquico precoce e com a sua permanência
na estruturação mental adulta.
Doin (2003), partindo de um enfoque que ele denomina de evolutivo, atrela
o psiquismo primitivo ao seu desenvolvimento particularmente nos dois primeiros
anos de vida, com particular ênfase na relação primária, na maternagem
primordial; contudo ele se mantém presente no psiquismo em todas as idades.
Seu estudo amplia o conhecimento que torna possíveis intervenções terapêuticas
que atingem os estados mais profundos da mente.
Goldstajn (2003) faz menção a personalidades que funcionam
predominantemente em áreas primitivas do funcionamento psíquico. Tomando o
contexto do artigo, tais áreas parecem se ligar às manifestações de dificuldade de
expressão simbólica, com a utilização de recursos primitivos, repetindo padrões
primitivos. Também se destacam no trabalho do autor, ao discutir essas questões,
a referência a área psicótica da personalidade e os elementos beta, a onipotência,
as equações simbólicas e a acentuada incapacidade de discriminação.
Celes (2003) faz referência a expressões como ‘estados ainda mais
primitivos’, ‘estado tão primitivo’. No contexto de sua discussão, remetem à
constituição primitiva do self, estando implícita a ideia do primitivo vinculado aos
processos inerentes ao desenvolvimento precoce na constituição do psiquismo e
seu caráter não perecível na consolidação posterior da vida mental.
A Comissão Editorial da Revista Brasileira de Psicanálise (2003) menciona
que as contribuições de Melanie Klein e de outros autores, como W. R. Bion e D.
Meltzer, abordam os estados de mente mais primitivos.
Levinzon (2003) refere-se a estados mentais tão primitivos, que se
expressam pelo imobilismo psíquico, caracterizando-se pela paralisação,
encapsulamento, simbiose e elementos beta, e configuram o mundo mental
particularmente no caso clínico apresentado pela autora.
Soussumi (2003) destaca o interesse e os estudos psicanalíticos que se
debruçam sobre a origem do psiquismo no corpo, centrando-se no campo
processual evolutivo dos estados emocionais-corporais primitivos em direção aos
estados plenamente psíquicos, simbólicos.
Rezze (2003) faz referência a formas muito primitivas do funcionamento
mental, compostas por elementos beta, objetos bizarros, a parte psicótica da
personalidade, que metaforicamente o autor compara ao funcionamento do bebê,
embora faça parte do psiquismo humano em qualquer idade.
Della Nina (2003), ao se reportar à vida emocional primitiva, afirma que as
ideias de D. Winnicott sobre o assunto auxiliam na investigação e compreensão
dos elementos relacionados à anorexia nervosa, tema do seu artigo.
Ribeiro e Wierman (2004) utilizam em sua discussão a experiência clínica
vivida com uma paciente que apresentava em seu funcionamento mental o
predomínio de partes primitivas. No contexto dessa discussão, as autoras
consideram como aspectos primitivos predominantes aqueles borderlines e
psicóticos. Apresentam o “mundo primitivo mental” como um psiquismo primitivo
com níveis primitivos e psicóticos da mente, em estado de concretude, que
precisa ser transcendido para alcançar a simbolização, o pensamento. Afirmam
ainda, baseando-se em S. Freud, que o psiquismo primitivo pode ser visto como
um estado mental com origem genética e que passa a fazer parte de todo
indivíduo durante a vida, mantendo-se em relação com outros estados mentais no
sujeito adulto. Segundo as autoras, é um mundo primitivo de concretude, pré-
simbólico, pré-representação e de protopensamentos.
Almeida, Marconato e Silva (2004) fazem referência aos aspectos
primitivos como aqueles que dizem respeito ao que é vivenciado pelo bebê em
termos de relações objetais, articulado com todo o processo inerente ao
desenvolvimento inicial.
Ungar (2004) comenta que nas sessões analíticas com crianças
certamente o mobilizados no analista os seus aspectos mais primitivos e
infantis, e que na análise de pacientes adolescentes isso é muito mais intenso.
Tais aspectos referem-se tanto ao que foi vivenciado nas primeiras etapas do
desenvolvimento psíquico quanto ao que permanece como imperecível, sendo
parte constituinte por toda a vida.
Marques, T. H. T. (2004), a partir de sua experiência clínica, tece algumas
considerações a propósito do que ela denomina de estados mentais primitivos. A
autora avalia que no transcurso do encontro analítico o discernimento dos estados
emocionais primitivos é algo intrincado, complexo, difícil de ser estudado,
compreendido e, sobretudo, comunicado. Compartilha o conceito bioniano de
rêverie, através do qual se torna possível a captação e o acolhimento dos estados
mentais primitivos, carregados de protoemoções, protopensamentos, caos,
indiscriminação, ambivalência, com funcionamento em nível pré-verbal. Cita um
funcionamento mental primitivo exprimindo vivências emocionais muito precoces
na relação primária com a mãe.
Sampaio (2004) comenta que a atividade de fantasia mantém-se como um
território preservado de certo grau de primitivismo no psiquismo humano.
Della Nina (2004) enfatiza que a investigação da vida emocional primitiva
trouxe grandes avanços para a teoria e a prática psicanalíticas, principalmente no
tocante à compreensão dos fenômenos psicossomáticos, que são o tema de seu
artigo. É possível pressupor que, com base em inúmeros autores, Della Nina
atribua à vida emocional primitiva pelo menos alguns aspectos pertinentes aos
processos de formação do pensamento, ao desenvolvimento das relações
objetais arcaicas, aos fenômenos protomentais e ao funcionamento pré-simbólico
e narcísico primitivo.
Silva e Yazigi (2004) mencionam o mundo primitivo de uma paciente adulta
que vivenciava condições psíquicas intrínsecas aos primórdios da vida mental.
Kahtalian (2005) utiliza a expressão psiquismo primitivo para indicar a
possibilidade psicopatológica de suas manifestações por meio da perversão, das
desordens narcísicas, das psicossomatoses, das adições, dos transtornos
alimentares e do estresse pós-traumático.
Franco Filho e Sandler (2005) mencionam as áreas primitivas da mente
como relacionadas, de certo modo, à não representação, a fantasias que não são
captadas como elementos psíquicos pelo analista, aos elementos beta, aos
refúgios autísticos e à sensorialidade. Mais adiante, ressurgem no texto as áreas
primitivas da mente como áreas de não representação, como uma parte autística
da personalidade.
Figueiredo (2005) refere-se a um estado primitivo e indiferenciado de
mente, em que predominam o narcisismo e a indiscriminação eu-outro, a não
representação, relacionando-se à parte psicótica da personalidade. A autora
também usa como expressões correlatas as de estados mentais iniciais e mente
incipiente, assim como fenômenos primitivos da vida mental que são constitutivos
do desenvolvimento psíquico, assim como os termos primitivo, primordial e
psicótico como equivalentes. Tais fenômenos situam-se na área dos núcleos
psicóticos, no campo da não representação, de uma mente incipiente. Cita a vida
mental primitiva que, na discussão da autora, aparece como elementos os
aspectos indiscriminados iniciais, onipotentes, idealizados e narcísicos.
Meurer (2005) cita estados mentais primitivos relacionados à parte primitiva
da personalidade, que corresponde à vida instintual, intensos impulsos agressivos
e sexuais.
7.3 Apreensão de elementos significativos
Nos autores e textos consultados na Revista Brasileira de Psicanálise, no
período que vai de 1990 a 2005, constam indicações que podem contribuir para
uma maior compreensão do tema, auxiliando na clarificação do conceito de mente
primitiva, objetivo do presente trabalho.
indicações de que a mente primitiva está intrinsecamente relacionada
com o processo primário do funcionamento mental (MELLO, 1992) e com o
princípio do prazer-desprazer (HOLOVKO, 2002), assim como se abrem duas
vertentes, embora não excludentes, que levam a compreendê-la tanto como o
funcionamento característico dos primeiros meses de vida do bebê, os processos
iniciais do desenvolvimento psíquico (BRAGA, 2000; LONGMAN, 1994;
VALLADARES, 2005), quanto como o que permanece atuante, que não se
restringe a um período ou idade, mas é dinâmico, a-histórico, em que a herança
filogenética é individualmente realizada (BRAGA, M.C,1996; KORBIVCHER,
1999, 2005b; LONGMAN, 1994).
Além disso, como características da mente primitiva há evidências de que:
a) seu funcionamento está muito próximo do protomental (MELLO, 2005),
ou em nível protomental (SIGNORINI, 1999), ou ainda se caracteriza por
conteúdos protomentais (BRAGA, M. C., 1996), pelo predomínio de elementos
beta e pela imcapacidade de pensar pensamentos (KORBIVCHER, 1999),
prevalecendo o sistema protomental (HOLOVKO, 2002);
b) é pré-simbólica (BRAGA, 1995; MARQUES, M., 2004), não tendo
atingido ainda as condições necessárias de formação simbólica (SIGNORINI,
1999), com impossibilidade de representação mental (KORBIVCHER, 2005b).
c) nela prepondera a onipotência (LISONDO, 2001; MARQUES, M., 2005;
MONTAGNA, 1996), a cisão, a identificação projetiva e a introjetiva (REZZE,
1997).
d) imperam as sensações (KORBIVCHER, 2005b), de forma que os
elementos sensoriais se organizam formando conexões pré-simbólicas,
expressando-se na concretude (KORBIVCHER, 1999).
e) sobressaem a fragmentação e o estado de não integração
(KORBIVCHER, 1999), sendo indiferenciada (MONTAGNA, 1996), físico e mental
não se discriminam (KORBIVCHER, 1999; MELLO, 2005) e as emoções
primitivas encontram-se profundamente associadas (MELLO, 2005).
Alguns autores, como Holovko (2002), Mattos (1998) e Valladares (2005),
dentro dos objetivos dos seus trabalhos relacionam o funcionamento da mente
primitiva com pacientes em estados patológicos, e particularmente no caso
desses três artigos consultados, são citados as perversões, as manifestações
psicossomáticas e os quadros borderlines.
Também aparecem considerações acerca da importância e da necessidade
de se discriminar a existência de diferentes níveis de desenvolvimento na mente
primitiva (KORBIVCHER, 2005b) e níveis evolutivos diferenciados em geral no
psiquismo que partem dela rumo à mente simbólica, evoluída (BRAGA, 1995;
LISONDO, 2001).
Igualmente é possível identificar no discurso de alguns autores, pelo uso
equivalente de algumas expressões e pelo modo como fazem uso de alguns
adjetivos, que concebem como análogos termos como primitivo, arcaico e
protomental (KORBICHER, 1999; MELLO, 1992; SIGNORINI, 1999).
Quanto aos termos congêneres, foram encontrados os seguintes: áreas
primitivas da mente, aspectos primitivos da mente, atividade mental (psíquica)
primitiva, camadas primitivas da mente, condições primitivas da mente, estados
primitivos da mente, estados mentais primitivos, fenômenos mentais primitivos,
formas primitivas de funcionamento mental, funcionamento mental (psíquico)
primitivo, modo mental primitivo, mundo mental primitivo, níveis primitivos da
mente, organização mental primitiva, primitivismo mental, psiquismo primitivo,
realidade psíquica primitiva e vida mental (psíquica) primitiva, entre outros.
A partir do que foi possível compreender da utilização desses termos pelos
autores, destacaram-se alguns elementos que podem ser categorizados e, desse
modo, auxiliam na compreensão do tema em pauta na presente investigação. Isto
não quer dizer que todos os autores concordem entre si quanto à definição de
cada termo, mas evidenciam aspectos que servem à construção da
argumentação que segue.
O adjetivo “primitivo”, em seus múltiplos usos nos termos congêneres,
designa inúmeros aspectos, entre eles o modo relacionado ao processo primário
de funcionamento mental que seria dominante (BOYER, 1997; FARIA, 1995;
FONTES, 1996; MELLO, 1992; MONTAGNA, 1996; RIOLO, 1995; VILETE, 1995),
indicando os níveis mais profundos e primitivos do mundo mental, incluindo-se o
princípio do prazer-desprazer (SANDLER, 1991).
Também há evidências de que se refere ao que ocorre nas primeiras
etapas do desenvolvimento psíquico, aos primeiros meses de vida do bebê,
quando se estrutura o psiquismo (HARRIS, 1990; HAUDENSCHILD, 1993;
LIKIERMAN, 1994; OGDEN, 1996; PERECMANIS, 1990; SALIM, 2001;
STEINER, 1990), ao mundo mental infantil em sua construção dos processos e
vivências (BIANCHEDI, 1990; CYPEL, 1993; LAUFER, 1996; REZZE, 2003;
VILETE, 1995) associados aos vínculos iniciais, às relações primárias ou objetais
precoces e ao contexto pré-genital (ALMEIDA, MARCONATO, SILVA, 2004;
BUNEMER, 1993; DOIN, 2002, 2003; LISONDO, 1992, 1999; MALTZ, 2003; T. H.
T. MARQUES, 2004; MIODOWNIK, 2003; OUTEIRAL, CELERI, 2002). Nessa
conjuntura, marca as formas iniciais de atividade mental no bebê e seu
funcionamento peculiar nas fases do começo de sua constituição (AMATI-
MEHLER, 1997; BRITTON, 1997; CASSORLA, 1997; CELLES, 2003; DELLA
NINA, 1998; FONTES, 1996; FRANÇA, 2002; SILVA; YAZIGI, 2004;
SHUTTLEWORTH, 1995; STEINER, 2000; UNGAR, 2004). Em termos temporais,
Doin (2003) vincula o psiquismo primitivo ao seu desenvolvimento particularmente
nos dois primeiros anos de vida.
Outro elemento a considerar é a perenidade daquilo que é vivido na aurora
da existência, tanto do ponto de vista da ontogênese quanto da filogênese,
remetendo ao que é imperecível na concepção freudiana. Neste sentido, o que foi
vivenciado nas primeiras etapas do desenvolvimento psíquico permanece como
parte de um todo, coexistindo com o resultante de cada uma das fases
posteriores e com elas se articulando e interagindo concomitantemente,
compondo dinamicamente a totalidade da vida mental do sujeito para além dos
primeiros anos de vida (AMATI-MEHLER, 1996, 1997; CELES, 2003; CYPEL,
1993; DOIN, 2003; FONTES, 1996; LAUFER, 1996; LIKIERMAN, 1994; MALTZ,
2003; MELLO, 1992; REZZE, 2003; RIBEIRO; WIERMAN, 2004; SAMPAIO, 2004;
SOUZA, 1990; VILETE, 1995). Assim, todos os desenvolvimentos posteriores
supõem o anterior (CELES, 2003; LISONDO, 1999).
Deste modo, aquilo que permanece pode ser revivido (BIANCHEDI, 1990;
ZANIN, 1990a; 1990b) e se atualiza de inúmeras maneiras, podendo apenas
para citar alguns se manifestar por meio da transferência, seja no processo
analítico, pelo relacionamento analista-analisando (BIANCHEDI, 1990; BRAGA, J.
C., 1996; CALIFE, 1991; CARON, 1996; CASSORLA, 1998; COSTA, 1997;
KORBIVCHER, 1995; LISONDO, 1996; MIODOWNIK, 2003; PETRUCCI, 1996),
seja nas manifestações relacionais cotidianas, como, por exemplo, na vivência de
ligações amorosas intensas (VILETE, 1996). Pode ainda se manifestar nos
sonhos e em toda atividade de fantasia (SAMPAIO, 2004), nas manifestações
pulsionais cujo fator instintivo seria o núcleo do inconsciente (ANDRADE, 1991;
LACOMBE, 1991) –, nas formas de pensamento supersticioso, animista, etc.
(CORD, 1994), e nos processos regressivos que se apresentam em condições
tanto patológicas quanto normais (DELLA NINA, 1998; LACOMBE, 1991).
Outras características relativas ao adjetivo “primitivo” em seus múltiplos
usos nos termos congêneres são:
a) há uso intenso dos mecanismos de cisão, projeção, introjeção,
identificação projetiva (MEURER, 1996; PERECMANIS, 1990; RIBEIRO; 1999), e
da identificação como uma forma primitiva de ligação (COSTA, 2001);
b) predomina a onipotência, a idealização, o controle mágico, a
ambivalência (AMATI-MEHLER, 1996, 1997; BUNEMER, 1993; CALIFE, 1991;
FIGUEIREDO, 2005; FRANCO FILHO, 1994; GOLDSTAJN, 2003; LISONSO,
1992; MARQUES, T. H. T., 2004; MEURER, 1996; OLIVEIRA, 2001;
PERECMANIS, 1990; SANDLER, 1991);
c) sobressai a sensorialização ou sensorialidade (BRAGA, 1995; FRANCO
FILHO; SANDLER, 2005; KAIO, 1996; SANDLER, 1991), a concretude (CALIFE,
1991; KAIO, 1999; KORBIVCHER, 1999; RIBEIRO; WIERMAN, 2004) ou
concretificação, o sensório-concreto (SANDLER, 1991), ou, ainda, o pensamento
concreto, conforme Green (1994); a manifestação de processos físico-concretos
(BOYER, 1997; SHUTTLEWORTH, 1995), intrínsecos às funções corporais
(AMATI-MEHLER, 1997; COSTA, 1997; LISONDO, 1999), através dos quais as
experiências emocionais são construídas como estados corporais e reage a elas
como sendo estados corporais e ações (DOIN, 2002; MONTAGNA, 1996), sendo
o corpo a forma de expressão (FAGUNDES, 2001);
d) prevalecem as experiências e os elementos pré-verbais e o verbais
(BUNEMER, 1993; CARON, 1996; DOIN, 2002; HAUDENSCHILD, 1996;
MARQUES, T. H. T., 2004; PETRUCCI, 1996; RIBEIRO, 1999; STEINER, 1990);
e) imperam os fenômenos pré-simbólicos (BOYER, 1997; BRAGA, 1995;
COSTA, 1997; DELLA NINA, 2004; DOIN, 2002; FARIA, 1995; KAIO, 1999;
LISONDO, 1999; RIBEIRO; WIERMAN, 2004; SHUTTLEWORTH, 1995; VIEIRA,
2000) ou pré-simbolismo (FAGUNDES, 2001; MEURER, 1996), os níveis
relacionados à não representação (FAGUNDES, 2001; FIGUEIREDO, 2005;
FRANCO FILHO; SANDLER, 2005) e à pré-representação (RIBEIRO; WIERMAN,
2004);
f) preponderam os estados de não integração (BUNEMER, 1993; DELLA
NINA, 1998; HARRIS, 1990; KORBIVCHER, 1999), de fragmentação e caos
(FARIA, 1995; LOMBARDI, 2002; MARQUES, T. H. T., 2004), de indiferenciação
(AMATI-MEHLER, 1997; BUNEMER, 1993; CASSORLA, 1997; DELLA NINA,
1998; FAGUNDES, 2001; FIGUEIREDO, 2005; VIEIRA, 2000), de indiscriminação
(CASSORLA, 1997; GOLDSTAJN, 2003; KAIO, 1999; MARQUES, T. H. T., 2004;
OLIVEIRA, 2001) entre o eu e o outro (FIGUEIREDO, 2005; MATTOS, 1996),
entre o self e o objeto (FELDMAN, DE PAOLA, 1998; LEVISKY, 1997); o físico e o
psíquico, o sensorial e o emocional, encontram-se indiferenciados
(KORBIVCHER, 1999; LOMBARDI, 2002; MONTAGNA, 1996), ou pouco
diferenciados (LISONDO, 1999);
g) distingue-se a tendência aos processos simbióticos (CALIFE, 1991;
FRANCO FILHO, 1994; LEVINZON, 2003; SOUZA, 1990), de fusão com o objeto
(AMATI-MEHLER, 1996; MATTOS, 1996; VILETE, 1996) ou de estados fusionais
da organização psíquica (AMATI-MEHLER, 1997; FAGUNDES, 2001; OLIVEIRA,
2001);
h) assinala-se a existência marcante de estados e fenômenos autísticos e
psicóticos (SOUZA, 1990), do narcisismo (CALIFE, 1991; FIGUEIREDO, 2005;
LEAL, 2000) ou de experiências narcísicas (BUNEMER, 1993; DELLA NINA,
2004) ou de processos narcisistas (DANTAS JÚNIOR, 1998; FRANCO FILHO,
1994);
i) destaca-se a correlação com a parte psicótica da personalidade
(CASSORLA, 1998; CASTELO FILHO, 2001; FARIA, 1994; FIGUEIREDO, 2005;
GIUFFRIDA, 1997; GOLDSTAJN, 2003; HAUDENSCHILD, 1999; MARINHO,
1996; MEURER, 2005; MIODOWNIK, 1998; REZZE, 2003; RIBEIRO; WIERMAN,
2004; SANDLER, 1991), com o protomental (MELLO, 1992; SANDLER, 1991),
com os estados e fenômenos protomentais (DELLA NINA, 2004; HOLOVKO,
2002; KAIO, 1999; KORBIVCHER, 1999, 2001; LISONDO, 1999; MONTAGNA,
1996), com as vivências protopsíquicas (DOIN, 2002), com as protofantasias
(AMATI-MEHLER, 1997), com os protopensamentos e protoemoções
(MARQUES, T. H. T., 2004; RIBEIRO, WIERMAN, 2004) e com os elementos
beta (CASSORLA, 1997; FRANCO FILHO; SANDLER, 2005; GIUFFRIDA, 1997;
GOLDSTAJN, 2003; KORBIVCHER, 1999; LEVINZON, 2003; REZZE, 2003).
Outros aspectos característicos citados são:
- manifestações por equação simbólica (GOLDSTAJN, 2003; OLIVEIRA,
2001; SANDLER, 1991);
- relações de objeto parciais (DELLA NINA, 2004; LEVISKY, 1997;
OLIVEIRA, 2001);
- sensações e angústias de aniquilamento (CALIFE, 1991; OLIVEIRA,
2001), bem como ansiedades primitivas (CASSORLA, 1997; LISONDO,
1992).;
- vivências nos veis pré-genitais, pré-edípicos do desenvolvimento
psicossexual (FAGUNDES, 2001; LEAL, 2000; LISONDO, 1992);
- fantasias inconscientes (CASSORLA, 1997), fantasias de
persecutoriedade (FRANCO FILHO, 1994);
- aspectos inerentes aos núcleos aglutinados (LEVISKY, 1997), às
experiências autístico-contíguas e esquizoparanoide (BOYER, 1997), à
posição esquizoparanóide (PETRUCCI, 1996), ao interjogo das posições
esquizoparanoide e depressiva (MIODOWNIK, 1998);
- os processos inconscientes ligados à vida psíquica primitiva (ANDRADE,
1991; HARRMANN, 1998).
Para alguns autores, os aspectos psicopatológicos estão em conexão com
os fenômenos relacionados ao adjetivo “primitivo”, muitas vezes utilizado para
indicar manifestações de configurações patológicas como psicoses, perversão,
desordens narcísicas, psicossomatoses ou fenômenos psicossomáticos, adições,
transtornos alimentares e estresse pós-traumático (DOIN, 2000; CASSORLA,
1998; DELLA NINA, 2003, 2004; GOLDSTAJN, 2003; KAHTALIAN, 2005;
LAUFER, 1996; LEVINZON, 2003).
São encontradas indicações da existência de concepções que supõem
níveis de desenvolvimento, estabelecendo relações expressas por oposição,
marcadas por um processo gradual de continuidade numa linha evolutiva de
progresso, tais como: dos aspectos primitivos aos mais desenvolvidos (SOUZA,
1990), ou evoluídos (FONAGY; MORAN, 1990; LIKIERMAN, 1994), ou
amadurecidos (AMATI-MEHLER, 1996, 1997; DOIN, 2002); do processo
alucinatório ao simbólico (FONTES, 1996); do corpo e dos elementos sensoriais à
simbolização, ao estado psíquico pleno (LOMBARDI, 2002; SOUSSUMI, 2003).
Outro ponto a destacar refere-se à equivalência que alguns termos
parecem ter em certos autores, para os quais o “primitivo”, supostamente,
corresponde ao primário, arcaico, precoce (ZANIN, 1990a, 1990b), ao primordial,
psicótico (FIGUEIREDO, 2005), ao infantil (BIANCHEDI, 1990; VILETE, 1995), ou,
então, ao precoce, inicial (PERECMANIS, 1990).
8 DISCUSSÃO
Considerando-se o percurso até agora realizado, é possível constatar que
não há diferenças significativas entre o que foi encontrado no International Journal
of Psycho-Analysis e na Revista Brasileira de Psicanálise sobre a mente primitiva
e os termos congêneres no período de 1990 a 2005. Por isso torna-se possível
realizar uma síntese com os principais elementos que podem contribuir para a
clarificação do conceito em pauta, os quais serão apresentados a seguir.
8.1 Síntese explicativa: uma contribuição
Os aspectos que permitem caracterizar a mente primitiva são os seguintes:
a) é intrinsecamente relacionada com o processo primário do
funcionamento mental e com o princípio do prazer;
b) nela imperam a sensorialidade e os processos físico-concretos
vinculados às funções corporais, onde os elementos sensoriais se organizam,
formando conexões pré-simbólicas, e se expressam na concretude, construindo
as experiências emocionais como estados corporais;
c) é pré-simbólica, por não ter ainda as condições necessárias para a
formação simbólica;
d) nela prevalecem as experiências e os elementos não verbais e pré-
verbais;
e) predominam a onipotência, a idealização e a ambivalência;
f) nela são utilizados maciçamente a cisão, a projeção, a introjeção, a
identificação projetiva, a identificação introjetiva e o controle mágico;
g) nela sobressaem a fragmentação e o estado de não integração e ela é
indiferenciada, de sorte que o físico e o psíquico, o sensorial e o emocional, o self
e o objeto, o interno e o externo não são discriminados, bem como as emoções
encontram-se muito associadas e os impulsos são caóticos;
h) nela as relações de objeto são parciais;
i) ela está correlacionada por alguns autores com o conceito bioniano de
“parte psicótica da personalidade”;
j) ela corresponde:
- aos estados e fenômenos protomentais e seus
desdobramentos (elementos beta, protofantasias,
protopensamentos, protoemoções).
- à posição esquizoparanoide.
- ao interjogo das posições esquizoparanoide e depressiva.
- aos níveis pré-genitais do desenvolvimento psicossexual.
De modo geral, a partir do que foi apresentado até o momento, é possível
compreender que o conceito de mente primitiva apresenta duas acepções não
excludentes:
1) refere-se ao funcionamento mental peculiar dos primeiros meses de vida
do bebê, desde sua centralização nos processos corporais a partir dos quais se
originam os desenvolvimentos do psiquismo e a constituição do sujeito.
2) é a parte constituinte do psiquismo oriunda dos estados iniciais do
funcionamento mental tanto da espécie (filogênese) quanto do indivíduo
(ontogênese), a qual permanece dinamicamente atuante junto com os
desenvolvimentos posteriores, sendo imperecível.
Pelos itens acima indicados denota-se o caráter de dinamicidade que
perpassa esse conceito e a pluralidade de abordagens possível, através dos
quais se tornou exequível a elaboração desta ntese, a qual auxilia na
clarificação do que seja a mente primitiva a partir dos discursos contidos no
material selecionado. Desse modo a síntese presta notável contribuição para o
melhor entendimento do conceito em foco, pois se supõe que o conjunto de
caracteres nela presente permite a detecção das condições que favorecem a
descrição, classificação e identificação daquilo que pode ser entendido pelo uso
da expressão mente primitiva. Não obstante, inúmeras questões foram
suscitadas, algumas das quais serão a seguir apresentadas.
8.2 Algumas questões
A primeira questão diz respeito ao fato de que tal síntese engloba
elementos oriundos de várias escolas de pensamento psicanalítico, o que foi
proposital dentro dos objetivos da presente investigação, uma vez que a intenção
não era centrar-se em alguma particularidade, seja de autor, seja de escola, mas
debruçar-se sobre o geral, a partir do foco delimitador estabelecido e discutido no
item 2, tal como se apresenta na literatura específica, e deixar emergir o que de
algum modo já estava contido nos textos publicados.
A elaboração do conjunto de caracteres clarificadores e das duas acepções
acima indicadas significou uma tentativa de contribuir para a compreensão de tal
conceito e resultou de todo o processo de investigação desenvolvido no presente
trabalho, no qual o olhar do pesquisador se dirigiu para um amplo horizonte do
que se denominou de pluralidade de abordagens psicanalíticas presentes no
conjunto da produção escrita consultada e referenciada, conforme os critérios
metodológicos adotados. Esse olhar, contudo, embora aberto às inúmeras
possibilidades que pudessem surgir, teve como elemento norteador e delimitador
a expressão mente primitiva, com a finalidade de perseguir as condições
necessárias à consecução dos propósitos definidos.
Como foi dito e aqui se quer ressaltar novamente, a pretensão não foi
unificar ou padronizar as diferentes proposições psicanalíticas, mas sim, manter a
pluralidade como uma característica essencial no campo psicanalítico. Isto não
quer dizer que se tenha perdido de vista a especificidade das construções
conceituais próprias de cada autor ou escola, mas que se tratou apenas de
elaborar uma construção que permitisse visualizar como, a partir da imersão nos
textos, vislumbram-se os elementos que auxiliam na clarificação de um conceito
que, embora usado na literatura, não tem definição precisa, priorizando-se a
perspectiva exploratória e a descritiva. Destarte, através do processo que
culminou na elaboração da síntese, buscou-se uma formalização que delimitasse
um conjunto de dados com certos atributos comuns e constituísse uma espécie
de proposição construída a partir do rearranjo dos elementos observados e
selecionados no material objeto de investigação, de modo a tornar-se possível a
enunciação de categorias que favorecessem a discussão do tema. Segundo
Castro (1977), tal processamento, enquanto proposição e enunciação, pode
favorecer a organização de certos conhecimentos de modo a tornar-se mais cil
a compreensão do que se propõe.
Dizendo de outro modo, a síntese elaborada pretendeu resumir os dados
observados no campo literário psicanalítico definido, formar um aglutinado de
elementos que se constituísse em algo que avançasse para além das indefinições
conceituais e promovesse algum avanço em relação ao tema investigado, bem
como criar uma base para possíveis ampliações na discussão.
A segunda questão refere-se a que a apresentação dos aspectos que
permitem caracterizar a mente primitiva é, de certo modo, simples, o que deu
margem a diversos questionamentos, como, por exemplo: se, após o exame da
literatura, os dados permitiram tal construção acerto ponto simples, por que a
mente primitiva não é definida com maior precisão?; será que não é definida em
função de ser um conceito por si evidente, autoexplicativo?; será um conceito
indefinível? Ademais, observando-se as categorizações apresentadas, tanto as
oriundas do International Journal of Psycho-Analysis e da Revista Brasileira de
Psicanálise, referentes ao período de 1990 a 2005, quanto as provenientes da
literatura psicanalítica em geral, nota-se certa repetição, o que é evidenciado em
cada um dos itens do presente trabalho. Pergunta-se, então: a que serve essa
repetição? Indica que o assunto está esgotado e suficientemente claro? Se assim
é, por que a definição não se consolidou? Por que é um descritor que não
aparece nos dicionários especializados? outra razão para tal repetição? Por
que, em relação a outros conceitos psicanalíticos de definição igualmente difícil,
observam-se inúmeros esforços de definição, embora sejam mantidos como
conceitos abertos?
Para tentar responder a esses questionamentos parece necessário retomar
alguns pontos apresentados no item 3 do presente trabalho, sobre conceito,
definição e concepção, tanto no sentido mais amplo quanto na especificidade do
campo psicanalítico, associados à síntese elaborada a partir do material
selecionado e apresentada acima, na tentativa de clarificar o conceito de mente
primitiva.
8.3 O conceito e a Psicanálise: transmissibilidade e compartilhamento
A expressão mente primitiva aparece na literatura ora como um conceito,
ora como uma concepção, mas não despontam esforços sistemáticos
significativos no sentido de defini-la. Talvez de fato mente primitiva não seja um
conceito psicanalítico, mas é um conceito, e como tal é utilizado por certos
autores na psicanálise. Além disso, sendo um conceito, necessita ser definido,
pois é isso que determina a sua compreensão, tendo-se em vista que sua
utilização pressupõe ter ele sido criado, ou recriado, a partir de outro campo do
conhecimento, com a função de descrever, categorizar e formular hipóteses
acerca de fenômenos sobre os quais se pretende fornecer uma explicação.
Neste sentido, qualquer conceito se identifica por um conjunto de
caracteres que permitem sua definição - portanto possibilitam sua compreensão -
e por um conjunto de ideias e propriedades, de elementos particulares a certos
fenômenos aos quais se estende esse conceito, num processo que torna possível
descrever, classificar e identificar o objeto que se pretenda cognoscível, fixando-
se da forma mais clara possível os seus limites ou, pelo menos, determinando-se
as características essenciais ou particulares que possam diminuir os equívocos a
seu respeito.
Em face dessas ponderações, é possível afirmar que a síntese
apresentada anteriormente, a partir do material selecionado, contribui para a
clarificação do conceito de mente primitiva no âmbito psicanalítico, pois seus
elementos permitem a descrição, a classificação e a identificação daquilo que
está circunscrito pelo uso dessa expressão, sem a pretensão de padronizar,
unificar ou operacionalizar, e nela não se recusaram o pluralismo e a controvérsia
que são inerentes de modo particular às construções conceituais psicanalíticas.
Se a definição de certos conceitos da teoria psicanalítica ainda é
considerada insatisfatória, é preciso, talvez, maior esforço no enfrentamento de
tais dificuldades, devendo as respostas a elas partir não somente do que emerge
do trabalho clínico, do confronto cotidiano da experiência analítica, mas também
das tentativas constantes de delimitação clara das conceituações.
Essa afirmação não desconsidera a particularidade da construção
conceitual psicanalítica conforme discutida anteriormente. Aliás, mesmo partindo-
se da afirmação de que a incerteza e a relatividade dos conceitos são os
principais ingredientes da psicanálise e de que a provisoriedade conceitual marca
a singularidade do objeto da psicanálise, criando a impossibilidade de o conceito
psicanalítico alcançar uma total e definitiva apreensão daquilo com o qual lida,
não é possível deixar de levar em conta que se está falando de um campo do
conhecimento. Deve-se igualmente considerar que, como tal, mesmo não fazendo
parte do campo científico tradicional, ele existe enquanto participante de um
mundo onde a transmissibilidade e o compartilhamento sejam possíveis, pois se
insere no mundo da linguagem, que deve transmitir o conhecimento alcançado
com clareza, ainda que com graus variados de elasticidade e flexibilidade, que
criam as bases para novos desenvolvimentos.
Em outras palavras, não se pretende que o conceito psicanalítico alcance
uma total e definitiva definição, mas sim que, ao ser exposto na sua
provisoriedade ou inacabamento, ele seja enunciado de modo claro e não seja
usado de maneira inconsistente e sem demonstrar preocupação com os
problemas que possa acarretar à comunicação (GARZA-GUERRERO, 2002;
LEVY; INDERBITZIN, 2001; MITJAVILA; POCH, 2001).
Tendo feito tais reflexões, voltemos aos questionamentos indicados acima.
8.4 Retorno aos questionamentos
Retomando os questionamentos apresentados acima, no subitem 8.2, a
partir da questão de que é de certo modo simples a apresentação da síntese dos
aspectos que permitem, segundo o presente trabalho, caracterizar a mente
primitiva e clarificar esse conceito, serão discutidos alguns desdobramentos.
Tal simplicidade é resultante do modo a partir do qual foi possível construir
um corpus de conhecimentos em forma de síntese, contendo os elementos que
permitem a descrição, a classificação e a identificação daquilo a que se refere a
expressão mente primitiva, ou, pelo menos, contribuem para que sejam
determinadas algumas características essenciais ou particulares, objetivando a
diminuição dos equívocos e indefinições acerca desse conceito.
Sendo possível essa construção até certo ponto simples, as questões que
se fizeram presentes dizem respeito ao porquê de o conceito ainda não ter sido
definido com maior precisão: se por ser autoevidente, autoexplicativo ou
indefinível. Responder a tais questionamentos não parece tarefa fácil, embora
seja possível esboçar algumas tentativas em forma de discussão.
Se um conceito é uma representação simbólica utilizada no pensamento
abstrato, ele é uma criação do intelecto humano mediada por construções
mentais dependentes do contexto em que surge, pois o esforço sistemático por
conceituar emerge da necessidade de compreender algo. Pode-se então pensar
que não existem conceitos autoevidentes ou autoexplicativos em si mesmos nos
vários campos do conhecimento. Tais propriedades somente seriam atribuídas a
um conceito a partir do momento de sua enunciação, que se expressaria em uma
definição clara e precisa, de forma que a partir desse momento ele se tornaria
autoevidente ou autoexplicativo. Mesmo assim, ele permaneceria desse modo
apenas por certo tempo, até que o conhecimento avançasse em decorrência de
novos fatos que gerassem a necessidade de ampliar sua compreensão.
Pelas ponderações acima, também não é possível pensar em um conceito
indefinível. O que pode existir é um fenômeno não compreendido, despertando o
desejo e a necessidade de entendimento, fatores que por sua vez levarão ao
desenvolvimento de conjeturas que fornecerão as bases para a construção
mental que se consolidará em um conceito, que poderá inclusive ser de difícil de
ser definido, mas não será absolutamente indefinível.
Ao discorrer sobre esses aspectos, surgiu a suposição de que se poderia
fazer a seguinte afirmação: Freud, nos seus esforços por compreender o que
emergia de suas descobertas clínicas, ao propor suas teorias da sexualidade, do
aparelho psíquico e da constituição do sujeito, tanto do ponto de vista
ontogenético quanto do filogenético, definiu a mente primitiva. O mesmo poder-
se-ia dizer de Klein apenas para ficar em dois autores clássicos ao discorrer
sobre as configurações específicas das relações objetais, das ansiedades e das
defesas nas posições esquizoparanoide e depressiva. Mas não é bem assim.
Embora as teorias de Freud e Klein, além de outros autores, sejam fundamentais
para a compreensão do que se denomina de mente primitiva, eles de fato não a
definem. Discorrer, por exemplo, sobre a gênese do psiquismo, não é
necessariamente definir o conceito de mente primitiva, embora tal teorização
possa contribuir para essa definição; ou ainda, propor que a ênfase nos estudos
acerca da mente primitiva é dada a partir deste ou daquele autor não é o mesmo
que afirmar que tais autores tenham definido com maior precisão tal conceito,
mas apenas que eles efetivamente muito contribuíram com o tema, mas que a
ênfase lhes é reconhecida ou a eles atribuída posteriormente por outros autores.
Também os questionamentos que surgiram a partir da constatação da
existência de repetições, evidenciadas em cada um dos itens do presente
trabalho pela pouca variação de uma parte para a outra em torno das
categorizações. Essa repetição, com modificações diferenciais apenas entre
autores e escolas psicanalíticas, poderia sugerir que o assunto está esgotado e
suficientemente claro; porém isso o parece verdadeiro, até porque o assunto é
polêmico, como demonstrado desde o início deste trabalho. Primeiro, nem todos
aceitam tal conceito: enquanto alguns criticam seu uso, outros simplesmente o
desconsideram; depois, entre os que o aceitam também as discordâncias são
muitas, e não apenas em torno de afiliações por escolas ou autores, e, embora
possam ser reconhecidas tentativas de esclarecimento do tema, a maioria daquilo
com que se teve contato parte do pressuposto que “a coisa” está suficientemente
clara e precisa, quando efetivamente não está.
Por outro lado, poder-se-iam pensar essas repetições como a evidência de
uma espécie de compulsão no campo da produção teórica psicanalítica, em que
se mudam alguns poucos aspectos, mas a essência continua; ou como a postura
em relação àquilo que permanece do mesmo jeito. Isso, por um lado, indicaria um
movimento de manutenção do estado das coisas, sem a procura pelo novo, por
mudanças, e por outro, a luta na tentativa de encontrar possíveis soluções e
elaborações, mesmo vivenciando-se um processo conflituoso.
Nesse contexto é preciso pensar no porquê de a definição de mente
primitiva não se haver consolidado, tanto que não aparece nos dicionários
especializados. A priori, uma hipótese levantada é que não teria havido tempo
suficiente para a sua consolidação; contudo, pelo largo tempo ao longo do qual o
assunto aparece na literatura seria lícito esperar que já se tivesse feito um esforço
mais sistemático de esclarecimento e definição, mesmo que provisória. Outra
hipótese refere-se à suposta pouca importância deste como conceito ou como
concepção; mas em oposição a ela tem-se a frequência com que aparece na
literatura consultada, nos congressos, nas conversas e em outras atividades
desenvolvidas entre pares psicanalistas, conforme afirmado anteriormente, fato
que denota a importância do tema para pelo menos alguns segmentos
profissionais psicanalíticos (certos autores e/ou clínicos), seja pela concordância
ou não, pois não consenso quanto ao seu uso, portanto não é um conceito
sem problemas no vocabulário psicanalítico.
8.5 Possíveis condições que dificultam a precisão conceitual
No confronto dessas hipóteses discutidas no item anterior e em face de
todo o percurso desenvolvido nessa investigação, evidenciaram-se dois aspectos
que estão interligados e foram de algum modo apresentados no corpo do
trabalho, mas merecem ser retomados.
O primeiro desses aspectos refere-se à constatação de que a pluralidade
de abordagens psicanalíticas, obviamente, propicia a emergência de múltiplas
proposições acerca do tema; o segundo alude a que essa multiplicidade de
proposições traz consigo dificuldades conceituais, não apenas pelas diferenças
e/ou divergências, mas, sobretudo, por nem sempre haver suficiente clareza ou
preocupação com a precisão no processo de comunicação científica.
O problema em si não é a pluralidade de abordagens psicanalíticas, nem a
multiplicidade de proposições sobre determinado tema encontradas muitas vezes
no seio de uma mesma escola de pensamento, embora isso aumente o campo
das controvérsias e favoreça a ampliação das dificuldades para o debate e o
esclarecimento compartilhado. Sem dúvida, as inúmeras linguagens diferentes
utilizadas, que expressam posições epistemológicas, teóricas e clínicas tão
distintas, propiciam desentendimentos e complicações; mas embora isso possa
ser a mola propulsora preponderante na geração das controvérsias (BERNARDI,
2002), não parece ser o único nem o principal fator que justifique os mal-
entendidos, os conceitos maldefinidos e imprecisos, os muitos termos
frequentemente empregados de modo ambíguo e com pouca clareza na
descrição clínica (HOME, 2004), sem evidenciar preocupação com a
transmissibilidade e compartilhamento (DREHER, 2008; MITJAVILA; POCH,
2001). Na realidade, ao lado destes existem outros possíveis fatores, que podem
ser apresentados da seguinte maneira: 1) a contundência de Home (2004), que
nessa atitude a possibilidade de ser a expressão de uma postura de exonerar-
se da responsabilidade intelectual; 2) as estratégias defensivas, conscientes e
inconscientes, visando à proteção dos próprios pontos de vista, tentando mantê-
los a salvo dos argumentos contrários; e 3) a existência de outros interesses
humanos de diferentes ordens, como, por exemplo, as questões de poder.
(BERNARDI, 2002).
8.6 Uma problemática focal espelhando outra mais ampla
Extrapolando essas considerações acerca da expressão mente primitiva
para os termos congêneres e outras tantas palavras às quais se agrega o adjetivo
“primitivo” na literatura psicanalítica, destaca-se uma frequência extremamente
numerosa quanto ao seu uso, tanto que fiquei tentado a apresentar um
levantamento estatístico, o que somente não levei a cabo por não fazer parte do
escopo desta investigação; mas mesmo nesses casos, as obras psicanalíticas de
referência consultadas apresentam-se, digamos, silenciosas quando se observam
os índices de verbetes. Por exemplo, verificando os índices de conceitos
analisados por Laplanche e Pontalis (1986), encontrei os seguintes verbetes: a)
cena primitiva, cuja tradução preferida foi cena originária ou protocena; b)
protofantasias (ou protofantasmas) ou fantasias (ou fantasmas) primitivas(os) (ou
originários[os]); c) recalcamento (ou recalque) originário ou primário ou primitivo.
No índice geral de Kaufmann (1996) o constam verbetes assim adjetivados,
nas indicações de termos contidos nos textos, tais como: a) cena primitiva e
atividade mental primitiva, que aparecem em citações de Freud contidas no
verbete energia; b) imaginário primitivo, no contexto explicativo do verbete
imaginário; c) maneira primitiva de pensar, também incluída em uma citação de
Freud no verbete onipotência. No sumário de Hinshelwood (1992) apenas consta
o verbete “mecanismos primitivos de defesa”. Em Chemama (1995) aparecem
como verbetes: a) cena primitiva ou cena originária; e b) horda primitiva. Em
Zimerman (2001) são verbetes: a) crueldade primitiva; b) desenvolvimento
emocional primitivo; e c) horda primitiva. Em Fédida (1985) é citado somente o
verbete cena primitiva ou originária. No dicionário de Rycroft (1975) nenhum
verbete assim adjetivado foi encontrado, enquanto em Mijolla (2005) aparecem: a)
agonias primitivas; b) cena originária ou cena primitiva; e c) primitivo. Esta é a
única obra de referência em que foi encontrado esse último verbete, e nela,
segundo Mijolla-Mellor (2005, p. 1418),
O termo primitivo” é vizinho de ‘arcaico’, do qual convém, entretanto,
distinguir na medida em que ele não remete para a noção de origem,
mas para uma descrição antropológica ou histórica de fatos da cultura
(mito, religião, lenda) ou de maneiras de pensar que permanecem no
estado inconsciente no homem civilizado moderno. [...]. A noção de
primitividade ocupa um lugar central no pensamento de Freud. Ela é, no
nível coletivo, o equivalente do infantil no nível individual.
Mesmo compreendendo-se que uma obra de referência não consegue
abarcar todos os conceitos, noções, concepções e outros termos utilizados em
um determinado campo do conhecimento, sendo necessário que o autor e/ou
organizador sempre selecione o que deve constar, chama a atenção o
descompasso entre, por um lado, a altíssima frequência com que aparecem no
discurso psicanalítico, tanto informal como formal, a expressão mente primitiva, os
termos congêneres e as inúmeras outras palavras adjetivadas por “primitivo”, e
por outro, o baixíssimo índice de presença de tais expressões nas obras de
referência. Entretanto, não se trata aqui de aprofundar-se no problema de quais
verbetes incluir em determinada obra de referência, mas de versar sobre o fato de
certos termos serem utilizados sem serem precisamente definidos ou clarificados.
Muitos deles até são definidos, mas acabam não sendo incluídos em níveis mais
sofisticados de elaboração, pela pressuposição de que estejam suficientemente
claros e/ou que a psicanálise, por ser uma forma de conhecimento específica e
muito diferenciada das outras, não necessite desses rigores formais. Ademais,
uma série de termos que necessitam maior atenção no sentido de buscar
aprimoramento conceitual, embora possam ser muito úteis na atividade clínica,
como é o caso da noção de primitivo e do conceito de mente primitiva, objeto
desta investigação.
Além disso, essa é uma questão que não se refere apenas ao conceito de
mente primitiva e outros tantos “primitivos(as)”, mas é também uma problema da
psicanálise como campo do conhecimento, pois as divergências e controvérsias
em relação a inúmeros conceitos não ocorrem apenas em função das diferentes
escolas e autores, mas deve-se a outros tantos fatores nem sempre ligados à
especificidade do processo psicanalítico de construção conceitual.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizando o presente trabalho, é preciso reafirmar que o desenvolvimento
desta investigação partiu da proposição de que o conceito de mente primitiva é
problemático no campo psicanalítico, mas é importante para alguns psicanalistas,
para os quais tem significativas consequências teóricas e clínicas.
O conceito de mente primitiva, ou congênere, é problemático no seio da
psicanálise, principalmente:
a) por ser utilizado de forma ampla e genérica, sem apresentar definição
clara e precisa que indique com maior exatidão a que se refere, sendo seu
significado apenas suposto no contexto em que é empregado.
b) pela complexidade que lhe é inerente, em vista das ltiplas
proposições sobre o tema em função da diversidade de abordagens teóricas,
técnicas e epistemológicas no campo psicanalítico, não havendo consenso, ainda
que provisório, quanto ao seu uso, mesmo no seio de uma mesma escola.
c) pela especificidade do processo psicanalítico de construção conceitual,
em que a provisoriedade é condição essencial, em face da singularidade do
objeto da psicanálise, criando a impossibilidade de que seus conceitos alcancem
uma total e definitiva apreensão da realidade com a qual lida.
Não obstante, a psicanálise é uma forma de conhecimento que, embora
específica e muito diferenciada dos outros campos do saber, somente existe e se
consolida enquanto participante de um mundo onde a transmissibilidade e o
compartilhamento sejam possíveis, por se inserir em um contexto em que a
comunicação é condição sine qua non para a sua sobrevivência e expansão.
Assim, ela deve transmitir e compartilhar o conhecimento alcançado com clareza,
ainda que com graus variados de elasticidade, flexibilidade e provisioriedade,
criando as bases para novos desenvolvimentos,o que nem sempre acontece,
como é o caso do conceito de mente primitiva, amplamente problematizado desde
o início da presente investigação.
Na busca por conhecer mais profundamente o assunto em pauta, foi
necessário recorrer à literatura em geral para conhecer mais a fundo o que e
quanto havia sido dito sobre o objeto de estudo, que serviu de aprofundamento e
preparação para ele efetivamente imergir dos estudos contidos no material
selecionado a partir do International Journal of Psycho-Analysis e da Revista
Brasileira de Psicanálise, circunscritos ao período de 1990 a 2005. É preciso
destacar que essa circunscrição teve a função de estabelecer alguns limites tanto
temporais quanto materiais, fixando uma delimitação necessária e inerente a
qualquer projeto de pesquisa, que, no caso da presente investigação, tornasse
viável a sua execução dentro dos prazos estabelecidos para o curso do
doutorado.
A partir desse material foi possível descrever as ideias que se encontravam
dispersas em diferentes textos muitas vezes subjacentes e com distintos
posicionamentos –, reorganizá-las e as reler, o que tornou possível sistematizá-
las de modo a contribuírem para a clarificação do conceito em pauta. Essa
sistematização culminou com a elaboração de uma síntese explicativa contendo
os aspectos que permitem caracterizá-las em diferentes perspectivas e ter uma
visão geral do incompleto e contínuo processo de construção do conceito em
foco. Em função disso, estabeleceu alguns dos seus possíveis sentidos e
significados, embora não definitivos, por não ser o propósito desta pesquisa,
tendo-se em vista as delimitações para ela estabelecidas. Apenas para relembrar,
o principal objetivo desta investigação foi clarificar o processo de construção do
conceito e seus desdobramentos, e não taxativamente defini-lo ou operacionalizá-
lo em sua forma última.
O que foi possível constatar, além do especificado anteriormente, remete à
condição de que tratar da particularidade desse conceito é abordar em nível micro
uma condição inerente ao nível macro na teoria psicanalítica referente a sua
mutabilidade, ao seu contínuo processo de transformação e à impossibilidade de
definição última de seus conceitos em função da natureza do seu objeto, o
inconsciente.
Surge assim o dilema: buscar a definição última de seus conceitos e assim
descaracterizar a Psicanálise, ou mantê-los indefinidos, imprecisos, ambíguos,
utilizando-os de forma ampla e genérica, ficando seu significado apenas suposto
no contexto em que é empregado.
A posição construída ao longo desta investigação e explicitada repetidas
vezes não se reduz a nenhuma das duas soluções presentes nesse dilema. A
proposição defendida é que, ao se tratar de um conceito psicanalítico - mesmo
que ainda incipiente, considerando-se o momento evolutivo de sua enunciação -
sem eliminar toda a ambiguidade, desenvolva-se um esforço sistemático no
sentido de determinar suas características essenciais, de modo a diminuir os
equívocos e estabelecer sua extensão com a maior precisão possível.
Determinar com maior precisão a extensão de um conceito é estabelecer
quais aspectos, quais elementos compõem o conjunto de dados aos quais é
possível aplicá-lo; é delimitar suas fronteiras de modo que, ao menos
provisoriamente, seja entendido o que de ele fato é, e não outra coisa. Ora, não é
isto o que acontece com o conceito de mente primitiva (ou congêneres), pois na
maioria das vezes em que aparece na literatura abordada nesta pesquisa seu
significado teve que ser inferido a partir do contexto do artigo examinado.
Sem essa determinação indicada acima um conceito assim passa a ter
uma extensão muito ampla, tornando-se frágil, e essa fragilidade se torna um dos
muitos estopins que deflagram as insistentes controvérsias (aqui em sentido
pejorativo) psicanalíticas em seus múltiplos níveis, muitas vezes desnecessárias e
infrutíferas, porque nesses casos não a preocupação com a transmissibilidade
e o compartilhamento, objetivos maiores da comunicação científica.
Tal preocupação com a transmissibilidade e o compartilhamento, a que se
alia a busca por maior precisão conceitual, o evita as controvérsias (aqui em
sentido positivo), pelo contrário, as enfrentam, pois delas podem se originar
contribuições genuínas para o aprimoramento do conceito e o avanço do
conhecimento.
Voltando à questão da problemática do conceito de mente primitiva, em
vista de tudo o que foi até o momento apresentado e discutido, somente um
caminho para lidar com a complexidade que o cerca: a constatação de que requer
mais pesquisas.
Seria esclarecedor verificar como essa questão evoluiu nos últimos cinco
anos, examinando-se os artigos publicados a partir de 2006 no International
Journal of Psycho-Analysis e na Revista Brasileira de Psicanálise, que a
presente investigação circunscreveu o material selecionado ao período de 1990 a
2005 e a dois periódicos, conforme as justificativas apresentadas, podendo-se
ampliar para outros veículos de informação.
Também seria elucidativo debruçar-se sobre a produção escrita específica
de cada uma das escolas psicanalíticas e seus autores, para aprofundar a
investigação do tema a partir do que foi possível delinear desse amplo horizonte
do que se denominou de pluralidade de abordagens, tentando assim atingir as
particularidades que provavelmente forneceriam novos elementos de discussão e
ampliação, visando a uma contínua aproximação com o objeto de estudo.
Destarte, as evidências apontam para a necessidade de um tempo ainda
maior para que novas investigações e estudos se voltem ao tema, aprofundando-
o, não somente no campo da pesquisa conceitual, mas, sobretudo, na pesquisa
clínica, de modo que a observação e a apreensão dos fatos clínicos permitam
reconstruções e novas formulações, fazendo avançar o conhecimento acerca
desse conceito.
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