Cartas de Relación, de Cortés, e após assistir uma das últimas aulas da disciplina História
Medieval na qual meu professor (depois orientador) Moisés Romanazzi Tôrres explanava
acerca do prolongamento do ideal de cruzada no Novo Mundo, a ideia de articular essa
perspectiva à conquista de México-Tenochtitlán ganhou espaço em minha mente.
A pesquisa caminhou ainda incerta quando, em 2006, me deparei com o site do
professor Ricardo da Costa e, no fim daquele ano, adquiri seu livro.
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Através do contato
com os trabalhos desse especialista em mentalidade
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de cruzada e após ler as crônicas dos
outros “soldados-cronistas”, a pesquisa amadureceu e pude “mergulhar de cabeça” na
investigação. O primeiro resultado – um trabalho monográfico (2007) – recebeu
encorajamentos que me fizeram, logo depois, aprofundar os estudos no mestrado (2008-
2009). Eis o fruto dessa investigação.
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mesoamericanos na primeira metade do século XVI”. In: XXIII Simpósio Nacional de História – História-
Guerra e Paz: Londrina, 2005, p. 01. Dessa forma, acreditamos que a “conquista do México” foi a queda dos
mexicas e dos outros povos nativos que habitavam a região conhecida posteriormente como Nova Espanha,
submetidos principalmente pela aliança hispano-tlaxcalteca. Por outro lado, torna-se importante salientar que,
em nosso estudo, também analisamos alguns confrontos entre a tropa de Cortés e outras populações nativas
(tlaxcaltecas, otomies, etc.) ao longo da expedição.
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COSTA, Ricardo da. A Guerra na Idade Média. Um estudo da mentalidade de cruzada na Península
Ibérica. Rio de Janeiro: Edições Paratodos, 1998. Site: <http://www.ricardocosta.com>
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De fato, existe um grande debate quanto à utilização do termo “mentalidade”. Para esquivarmos dos
problemas desse conceito que teima em permanecer, seguimos a orientação do historiador marxista francês
Michel Vovelle. O autor admite um olhar antropológico e de “longa duração” por parte dos historiadores das
mentalidades, mas nunca com imutabilidade e de imobilização, desenvolvendo uma análise que associou a
longa e a curta duração. Segundo Vovelle, “é forçoso constatar que os caminhos da descoberta histórica atual
não passam unicamente pelos rumos do tempo longo, pelo contrário. Paralelamente, emerge com insistência,
uma reflexão quanto à mudança, seja sob suas formas brutais ou graduais. Se tentarmos, nesse plano também,
ordenar as séries nas etapas, convém partir do novo papel que em vários locais se observa atribuir ao evento”
– VOVELLE, Michel. Ideologias e Mentalidades. São Paulo, Editora Brasiliense, 1991, p. 287. Apesar das
críticas e contestações teóricas ao conceito, adotamos também a visão de Roger Chartier. Segundo o autor, a
insegurança e a dispersão do vocabulário de designação são resultados, com certeza, desses debates
interdisciplinares ou intradisciplinares cujas formas são próprias de cada campo de forças intelectuais e onde
o que está em disputa é uma posição de supremacia que é, antes de tudo, a afirmação de um determinado
termo no campo teórico, ou seja, a “hegemonia de um léxico” – CHARTIER, Roger. A História Cultural:
entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990, p. 31. Para mais sobre as críticas à
história das mentalidades, ver BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: Editora da Unesp, 2002, p.
131-132; CARDOSO, Ciro Flamarion & VAINFAS, Ronaldo. (orgs.). Domínios da História: Ensaios de
Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1997, p. 139-146; e GINZBURG, Carlo. Prefácio à
edição italiana. In: O queijo e os vermes – O cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição.
São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 15-34. Sobre o conceito de mentalidades, ver ARIÈS, Philippe.
História das Mentalidades. In: LE GOFF, Jacques (dir.). A História Nova. São Paulo: Martins Fontes, 2005,
p. 205-236; e LE GOFF, Jacques. As mentalidades: Uma história ambígua. In: LE GOFF, Jacques & NORA,
Pierre (orgs.). História: Novos Objetos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 68-83.