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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
NELBA MARIA TEIXEIRA PISACCO
A MEDIAÇÃO EM SALA DE AULA SOB A PERSPECTIVA DE FEUERSTEIN:
UMA PESQUISA-AÇÃO SOBRE A INTERAÇÃO PROFESSOR – ALUNO –
OBJETO DA APRENDIZAGEM
PONTA GROSSA
2006
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NELBA MARIA TEIXEIRA PISACCO
A MEDIAÇÃO EM SALA DE AULA SOB A PERSPECTIVA DE FEUERSTEIN:
UMA PESQUISA AÇÃO SOBRE A INTERAÇÃO PROFESSOR – ALUNO –
OBJETO DA APRENDIZAGEM
Dissertação de Mestrado apresentada como
requisito à obtenção do Título de Mestre pelo
Curso de Pós-Graduação em Educação – Setor
de Ciências Humanas da Universidade Estadual
de Ponta Grossa.
Orientadora:
Profa. Dra. Maria Virgínia Bernardi Berger
PONTA GROSSA
2006
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TERMO DE APROVAÇÃO
NELBA MARIA TEIXEIRA PISACCO
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Educação, na Área de Concentração Formação Professores para a
Educação, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, para a banca
examinadora:
Orientadora: Professora Dra. Maria Virgínia Bernardi Berger
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
Professora Dra. Silvia Zanatta Da Ros
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Professor Dr. Ademir José Rosso
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
Professora Dra. Priscila Larocca
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
Ponta Grossa, 04 de dezembro de 2006
AOS MEUS MEDIADORES
Meu pai (In Memorian), calma e persistência, que me ensinou a olhar o que há além das estrelas.
Minha mãe (In Memorian), coragem e energia, que me ensinou a enfrentar os desafios.
Mariana, Luis, Miguel e Pedro, luzes e razão da minha vida, que me ensinam a ser mãe.
Henrique, alegria e movimento, que me ensina a ser avó e criança.
Alba, Pedro Henrique, Norberto, Ana Rita e Licério, força e afeto, irmãos que partilham sonhos.
Neli, garra e criatividade, irmã que me auxilia a descobrir as palavras.
Sérgio, carinho e renovação, que me ajuda a caminhar.
Amigos e colegas que me impulsionam a buscar novas possibilidades.
Professores Ademir Rosso, Hugo Otto Beyer (In Memorian), Priscila Laroca e Silva Zanatta Da
Ros, mediadores de complexidade, desafio e compartilhamento no presente estudo.
Professora Maria Virgínia que sintetiza afeto, cognição e espiritualidade na orientação da pesquisa.
Alunos, em especial aos co-pesquisadores, que desafiam a reinventar-me como educadora.
Mediador Supremo, que é a própria existência.
SUMÁRIO
LISTA DE ANEXOS ...............................................................................................
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ....................................................................................
RESUMO ................................................................................................................
ABSTRACT ...........................................................................................................
INTRODUÇÃO ........................................................................................................
1 REUVEN FEUERSTEIN: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E INSTRUMENTAIS
1.1 ORIGEM E QUESTÕES DA CONSTRUÇÃO TEÓRICA ................................
1.2 PRESSUPOSTOS DA TEORIA DA MODIFICABILIDADE COGNITIVA
ESTRUTURAL ................................ ...............................................................
1.3 MODIFICABILIDADE COGNITIVA ESTRUTURAL (MCE) E EXPERIÊNCIA
DE ATIVIDADE MEDIADA (EAM): CONCEITOS E RELAÇÕES ...................
1.3.1 O que é a modificabilidade estrutural cognitiva? ............................................
1.3.2 Caracterização da Experiência de Atividade Mediada (EAM) ........................
1.3.2.1 Critérios de Mediação: as categorias que caracterizam a EAM ..................
1.4 O MAPA COGNITIVO: SÍNTESE ORIENTADORA E INSTRUMENTO DE
ANÁLISE ................................................................ ......................................
1.4.1 Parâmetros do Mapa Cognitivo .....................................................................
2 A CONSTRUÇÃO METODOLÓGICA: O ESPAÇO DAS RELAÇÕES
PROFESSOR-ALUNO-APRENDIZAGEM COMO CAMPO DE PESQUISA .........
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ...................................................................................
2.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA .............................................................
2.3 TEMPO – ESPAÇO – SUJEITOS: O CONTEXTO
...........................................................
2.3.1 Os sujeitos e os papéis assumidos
............................................................................................
2.3.2 O percurso
.....................................................................................................................................................
2.4 INSTRUMENTOS/PROCEDIMENTOS PARA A OBTENÇÃO DE INDICA-
DORES ........................................................................................................
2.5 ENCAMINHAMENTO DA ANÁLISE E DISCUSSÃO ...................................
CAPÍTULO 3 - A MEDIAÇÃO EM SALA DE AULA: ANÁLISE E DISCUSSÃO
DOS INDICADORES .............................................................................................
3.1 O PLANEJAMENTO DAS AULAS – O CONFLITO ENSINO X MEDIAÇÃO
3.2 ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO ..................................................
3.2.1 Análise Geral da Freqüência - o todo é mais que a soma das partes ..........
3.2.2 Da análise particular de cada critério emerge a tessitura em rede das
categorias mediacionais ...............................................................................
3.2.2.1 Mediação de intencionalidade e reciprocidade – Critério 1 ........................
3.2.2.2 Mediação de Significado – Critério 2 ..........................................................
3.2.2.3 Mediação de Transcendência – Critério 3 ..................................................
3.2.2.4 Mediação de Sentimento de Competência – Critério 4 ..............................
3.2.2.5 Mediação da Regulação e Controle do Comportamento – Critério 5 .........
3.2.2.6 Mediação do Comportamento de Compartilhar – Critério 6 .......................
3.2.2.7 Mediação de Individuação Psicológica – Critério 7 .....................................
6
7
9
10
12
19
19
24
29
30
33
44
65
66
73
73
73
79
80
82
84
86
88
88
95
96
100
101
109
117
124
130
137
142
3.2.1.8 Mediação de Busca de Objetivos e Metas – Critério 8 ..............................
3.2.1.9 Mediação do Desafio: busca da novidade e da complexidade – Critério 9 .
3.2.1.10 Mediação da conscientização do ser humano como modificável –
Critério 10 ...............................................................................................
3.2.1.11 Mediação da busca de alternativas otimistas – Critério 11 ...................
3.2.1.12 Mediação do sentimento de pertencimento – Critério 12 ......................
3.3 SUJEITOS DA MEDIAÇÃO: A SUBJETIVIDADE PRESENTE NA
INTERAÇÃO ...............................................................................................
3.4 CONCLUSÕES/SÍNTESES DA ANÁLISE: RESPOSTAS ÀS QUESTÕES
DE PESQUISA ...........................................................................................
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: A PROVISORIEDADE DO PONTO DE
CHEGADA ......................................................................................................
REFERÊNCIAS .....................................................................................................
ANEXOS ................................................................................................................
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161
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LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1 – SÍNTESE DO PLANEJAMENTO DAS AULAS TOMADAS PARA
ANÁLISE ................................................................................................................
ANEXO 2 – PROTOCOLOS DE REGISTRO DE OBSERVAÇÃO DOS ALUNOS-
MEDIADOS .............................................................................................................
ANEXO 3 - PROTOCOLOS DE REGISTRO DE OBSERVAÇÃO DOS ALUNOS-
MEDIADOS .............................................................................................................
ANEXO 4 - MAPA COM A SÍNTESE DOS DADOS OBTIDOS NA FICHA
DE REGISTRO DOS ALUNOS ..............................................................................
ANEXO 5 - DADOS REGISTRADOS PELOS ALUNOS NO PREENCHIMENTO
DO PROTOCOLO DE REGISTRO E OBSERVAÇÃO (ANEXO 2) ......................
ANEXO 6 - QUESTÕES APLICADAS APÓS O TÉRMINO DAS AULAS PARA
LEVANTAR A OPINIÃO DOS MEDIADOS A RESPEITO DA DIFERENCIAÇÃO
DA OCORRÊNCIA DOS CRITÉRIOS ....................................................................
ANEXO 7 - RESPOSTAS DAS QUESTÕES PROPOSTAS NO ANEXO 6 ..........
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207
208
223
224
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - MODELO DE EXPERIÊNCIA DE ATIVIDADE MEDIADA ..............
QUADRO 1 - CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO..........................................................
QUADRO 2 - PARÂMETROS DO MAPA COGNITIVO .....................................
QUADRO 3 - ORGANIZAÇÃO GERAL DAS AULAS DURANTE O DESEN-
VOLVIMENTO DA PESQUISA ...........................................................................
QUADRO 4 - ROTEIRO DE PLANEJAMENTO DAS AULAS ............................
TABELA 1 - FREQÜÊNCIA GERAL DOS CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO
NA VISÃO DOS MEDIADOS ..........................................................
GRÁFICO 1 - FREQÜÊNCIA DOS CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO REGISTRA-
DOS PELOS ALUNOS CO-PESQUISADORES ................................................
QUADRO 5 - DIFERENÇAS ENTRE PROPOSIÇÃO E PERCEPÇÃO DOS
CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO ...............................................................................
GRÁFICO 2 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DE IN-
TENCIONALIDADE/RECIPROCIDADE .............................................................
GRÁFICO 3 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DE
SIGNIFICADO .....................................................................................................
GRÁFICO 4 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DE
TRANSCENDÊNCIA ..........................................................................................
GRÁFICO 5 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DO
SENTIMENTO DE COMPETÊNCIA ..................................................................
GRÁFICO 6 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DO
COMPORTAMENTO ...........................................................................................
GRÁFICO 7 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DO
COMPORTAMENTO DE COMPARTILHAR ......................................................
GRÁFICO 8 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DE INDI-
VIDUALIZAÇÃO PSICOLÓGICA .......................................................................
GRÁFICO 9 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DE
OBJETIVOS E METAS ......................................................................................
GRÁFICO 10 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DA
BUSCA DA NOVIDADE E DA COMPLEXIDADE .............................................
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45
67
83
93
96
98
99
102
110
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131
138
142
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GRÁFICO 11 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DA
CONSCIENTIZAÇÃO DO SER HUMANO COMO MODIFICÁVEL ....................
GRÁFICO 12 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DE
BUSCA DE ALTERNATIVAS OTIMISTAS .........................................................
GRÁFICO 13 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DO
SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO ...............................................................
TABELA 2 - A PERCEPÇÃO INDIVIDUAL DOS CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO
PELOS ALUNOS-MEDIADOS NO TOTAL DAS AULAS ............
QUADRO 6 – QUADRO SINÓPTICO DAS RELAÇÕES ENTRE OS
ELEMENTOS DA MEDIAÇÃO E OS CRITÉRIOS MEDIACIONAIS ..................
QUADRO 7: QUADRO SINÓPTICO DAS INTER-RELAÇÕES ENTRE OS
CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO ...............................................................................
QUADRO 8 - SÍNTESE DO PLANO DA AULA DO DIA 02 DE SETEMBRO DE
2004 ....................................................................................................................
QUADRO 9 - SÍNTESE DO PLANO DA AULA DO DIA 16 DE SETEMBRO DE
2004 ...................................................................................................................
QUADRO 10 - SÍNTESE DO PLANO DA AULA DO DIA 03 DE OUTUBRO DE
2004 ...................................................................................................................
QUADRO 11 - SÍNTESE DO PLANO DA AULA DO DIA 29 DE OUTUBRO DE
2004 ...................................................................................................................
QUADRO 12 - SÍNTESE DO PLANO DA AULA DO DIA 10 DE NOVEMBRO
DE 2004 .............................................................................................................
QUADRO 13 - SÍNTESE DO PLANO DA AULA DO DIA 17 DE NOVEMBRO
DE 2004 .............................................................................................................
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RESUMO
O presente trabalho investiga a interação em sala de aula, sob a concepção tríade
da mediação da aprendizagem. Compõem o objeto de estudo os próprios elementos
da mediação: alunos, professor e objeto de aprendizagem. A pesquisa objetiva
demonstrar como se processa a interação entre mediador, mediados e objeto da
aprendizagem, sob a perspectiva de Feuerstein. Especificamente, propõe-se:
caracterizar as relações que ocorrem entre os elementos integrantes da mediação e
os critérios mediacionais; demonstrar como os critérios de mediação ocorrem no
processo de ensino e aprendizagem e identificar as possibilidades e entraves no
planejamento e realização das aulas sob os parâmetros da experiência de atividade
mediada. O referencial teórico fundamenta-se na proposta teórico-instrumental de
Reuven Feuerstein, especialmente no que concerne à experiência de atividade
mediada, EAM - concebida como processo de intenções mediadas promotoras da
modificabilidade cognitiva estrutural - e aos critérios de mediação, que constituem
condição básica para caracterização da mediação. A metodologia propõe a
observação das práticas docentes de mediação, conforme as categoriais
mediacionais, a serem avaliadas pelos alunos e a professora em sala de aula. Numa
idéia de pesquisa-ação, o professor e os vinte e cinco alunos - do Curso Normal, em
uma escola da rede particular da cidade de Ponta Grossa - tornam-se
sujeitos/objetos da pesquisa, no sentido da avaliação das ações mediadoras. Como
instrumentos utilizam-se: planos das aulas, anotações do professor em diário,
protocolos de registro do professor e dos alunos, videofilmagem e questionários. A
análise e a discussão são constituídas no entrelaçamento de indicadores
quantitativos e qualitativos. Conclui-se que a interação: mediador – mediado - objeto
da aprendizagem, ocorre de formas distintas. As variáveis que interferem em tais
distinções referem-se a: aspectos cognitivos e subjetivos do mediador e dos
mediados, especificidades do objeto da aprendizagem, estratégias didático-
metodológicas, tempo, espaço, momento vivido pelo grupo e diferenças de cada
critério. Da interação entre cada critério e os elementos da mediação emergem
relações unilaterais, bilaterais e tríades, que demonstram a diferenciação das ações
promotoras da mediação de cada critério. Houve a ocorrência de todos os critérios
com freqüências distintas, índices superiores para os critérios de mediação de
significado, do comportamento de compartilhar e de intencionalidade/reciprocidade.
Os critérios mediacionais são interdependentes, o vínculo mais estreito deu-se entre
a mediação de significado e transcendência; porém a mediação de todos os critérios
foi permeada com aqueles que são considerados parâmetros universais e
fundamentais para a ocorrência da EAM: a mediação de
intencionalidade/reciprocidade, mediação de significado, e mediação de
transcendência. A mediação é uma via de mão dupla: na mesma aula, cada
indivíduo passa por processos distintos de interação e subjetivação, atribui sentido
próprio à mesma situação social vivenciada, constitui sua autonomia e identidade
como sujeito da aprendizagem. Apesar das interações serem distintas, os
indicadores denotam que a riqueza da interação possibilitou avanços, a utilização
dos parâmetros como orientadores da aula viabilizam a EAM no contexto escolar.
Assim, aprender e ensinar se tornam ações indissociáveis para mediador e
mediados.
Palavras-chave: ensino-aprendizagem, pesquisa-ação, experiência de atividade
mediada, subjetividade.
ABSTRACT
The present work investigates the interaction in classroom, under the trine
conception of the mediation of the learning. The object of the study is composed by
the very mediation elements: pupils, teacher, and learning object. The research main
target was to demonstrate how, under the perspective of Feuerstein, the interaction
among mediator, mediated and learning object is processed. Specifically, the
proposal is: to characterize the relationships that occur between the constituent
elements of the mediation and the mediational criteria; to demonstrate how the
mediation criteria occurs in the teaching and learning process; and to identify the
possibilities and impediments in the planning and accomplishment of the classes
under the parameters of the moderated activity experience. The theoretical reference
is based in Reuven Feuerstein's theoretical-instrumental proposal, particularly on the
concerns of the mediated learning experience (MLE) – conceived as a process of
mediated intentions that promote the structural cognitive modifiability (SCM) – and of
the mediation criteria, that constitute the basic condition for characterization of the
mediation. The methodology proposes the observation of the educational practices of
mediation, according to the mediational categories, to be evaluated either by the
pupils as by the teacher in classroom. In a research-action idea, the teacher and the
twenty-five students – of the Normal Course, at a private school in the city of Ponta
Grossa (state of Parana, Brazil) – became subject/object of the research, in the
sense of the mediational actions evaluation. As instruments, the following were used:
class plans, teacher's diary notes and recordings, teacher's and students’ records
protocols, video-recording and questionnaires. The analysis and discussion were
constituted in the interlacement of quantitative and qualitative indicators. The
conclusion was that the interaction mediator-moderated – object of the learning, took
place in different ways. The variables that interfere in such distinctions refer to: the
cognitive and subjective aspects of the mediator and of the moderated ones, the
specificities of the learning object, the didactic-methodological strategies, time,
space, the moment lived by the group, and the differences of each criterion. From the
interaction between each criterion and the elements of the mediation, some
unilateral, bilateral and trine relationships emerged, which demonstrated the
differentiation of the actions promoters of the mediation of each criterion. The
occurrence of all of the criteria, with different frequencies, superior indexes for the
criteria of mediation of the meaning, of the behavior of sharing, and of the
intentionality/reciprocity, was observed. The mediational criteria are interdependent;
the closest link was observed between the mediation of meaning, and the mediation
of transcendence; however, the mediation of all of the criteria was permeated from
those which are considered universal and fundamental parameters for the
occurrence of the MLE: the intentionality/reciprocity mediation, the mediation of
meaning, and the mediation of transcendence. The mediation is a two-way road: in
the same class, each individual goes thru different processes of interaction and
subjectivity, he attributes a self sense to a certain same lived social situation, and he
constitutes his autonomy and identity as subject of the learning. Despite the distinct
interactions, the indicators denote that the richness of the interaction enabled
progresses, and the use of the parameters as advisors of the class favored the MLE
in the school context. So, learning and teaching rendered being inseparable actions
for mediators and mediated.
Word-key: teaching-learning, research-action, mediated learning experience,
subjectivity.
Uno aprende así, poquito a poquito al
comienzo, luego más y más.
Lo que se aprende no es nunca lo que uno
creía.
El conocimiento no es nunca lo que uno
espera.
Cada paso del aprenzaje es un
atolladero...
Pero debemos dar, a pesar del miedo, el
seguiente paso, y el seguiente, y el
seguiente.
¡No debemos deternermos: iésa es la
regla!
(Carlos Catañeda)
INTRODUÇÃO
Ensinar não é transmitir informação, nem recitar
conteúdos. Ensinar tampouco é mostrar-se
conhecedor, permanecendo exibicionalisticamente
alheio ao aprendente [...], é possibilitar espaços de
significações. Promover perguntas e possibilitar
identificações, investir o outro do caráter de sujeito
pensante.
(Fernández, 2001)
Como se dá a mediação da aprendizagem em sala de aula?
A atualidade e emergência do tema “mediação da aprendizagem” devem-se a
fatores relacionados a aspectos sociais atuais e a contribuições teóricas para área
educacional, que permitem novos olhares para o processo ensino-aprendizagem.
Em nosso país percebe-se um grande avanço do acesso à escolaridade em
termos quantitativos, conforme dados a referentes matrículas da Educação Básica,
no período de 1991 a 2005 (BRASIL/MEC/INEP, 2006). No entanto, não se tem
garantias que a oportunidade da freqüência signifique ganhos reais de aprendizagem
e desenvolvimento cognitivo, que corresponda às necessidades e expectativas
pessoais e sociais num mundo em constante transformação. Há necessidade de
construir estratégias que garantam a qualidade. Portanto, há urgência de se priorizar
a aprendizagem, trazê-la para a pauta das discussões e das pesquisas referentes à
educação.
A organização de diversos aspectos do currículo enfoca prioritariamente o
ensino. Referem-se: à escolha de conteúdos, estratégias e recursos de
apresentação, avaliação, à distribuição de disciplinas/séries/cursos, formas de
registros... Será que, por vezes, a aprendizagem não é relegada?
13
Ao prescindir das variáveis internas, da individualidade ou ignorar a dinâmica
própria da aprendizagem, o ensino é reduzido à preparação e organização das
contingências que facilitam a aquisição de esquemas e tipos de condutas almejados.
Essa visão de ensino é conseqüência de uma concepção mecanicista da relação
sujeito–objeto.
O processo ensino-aprendizagem, na perspectiva simplista e linear, não
abrange a riqueza das trocas ocorridas em sala de aula, ou seja, o processo de
mediação e os aspectos socioculturais.
A noção de que a relação do homem no mundo não é uma relação direta,
mas, fundamentalmente, uma relação mediada, é apresentada por Lev S. Vygotsky
(1994,1995). Concebe a aprendizagem como interiorização das mediações –
instrumentos e signos - por meio de transformações e processos psicológicos.
A função do instrumento é servir como um condutor da influência humana
sobre o objeto da atividade: ele é orientado externamente; deve
necessariamente levar mudanças aos objetos. Constitui um meio pelo qual a
atividade humana externa é dirigida para o controle e domínio da natureza.
O signo, por outro lado, não modifica em nada o objeto da operação
psicológica. Constitui um meio da atividade interna dirigido ao próprio
indivíduo; o signo é orientado internamente. (VYGOTSKY, 1994, p. 72-73).
A mediação em Reuven Feuerstein é concebida como processo de intenções
mediadas, em que se compartilham significados e processos superiores do
pensamento, capazes de favorecer a construção de estruturas cognitivas que
organizam o indivíduo e potencializam a sua capacidade de transformação.
O desenvolvimento cognitivo acontece através de uma interação do
indivíduo e o meio ambiente. [...] A interação do organismo e o meio
ambiente pode direta ou por meio de uma experiência mediada de
aprendizagem que requer a presença e a atividade de um ser humano para
filtrar, selecionar, interpretar e elaborar aquilo que foi experimentado.
(FEUERSTEIN R., 2000).
14
O conjunto da obra de Feuerstein, a Teoria da Modificabilidade Cognitiva
Estrutural (MCE) e Experiência de Atividade Mediada (EAM), (1980, 1983, 1989,
1993, 1994, 2000, 2002), fornece subsídios teóricos e instrumentais para análise e
implementação da mediação da aprendizagem. Ou seja, focaliza a mudança do
ensinar que efetivamente viabilize o aprender. Um aprender que não se limita à
aquisição de novos conteúdos e conceitos, mas resulta em avanço cognitivo.
À luz das contribuições de Reuven Feuerstein, originaram-se as questões
que a presente pesquisa busca responder:
Como ocorrem as relações professor – aluno - objeto da aprendizagem
em sala de aula?
Quais as possibilidades e entraves na implementação da experiência de
atividade mediada no contexto de sala de aula?
Quais os critérios de mediação são reconhecidos pelos sujeitos durante
o processo de ensino aprendizagem?
Há diferenças na percepção dos critérios de mediação entre os sujeitos
mediados?
Na busca de respostas, faz-se necessário retomar o caminho de construção e
o contexto da pesquisa. “Mediação em sala de aula sob a perspectiva de Feuerstein:
uma pesquisa-ação sobre a interação professor – aluno – objeto da aprendizagem”
foi realizada em uma escola da rede privada de Ponta Grossa, em sala de aula, junto
a uma turma composta por vinte e cinco alunos na qual a pesquisadora era docente.
Os componentes do objeto de estudo dessa pesquisa são os próprios elementos da
interação: o organismo que aprende - alunos; o mediador – professor e o objeto da
aprendizagem – conteúdos e processos. A vivência experiencial da mediação da
15
aprendizagem no espaço próprio e real das relações entre os componentes do
objeto de estudo desenvolveu-se como pesquisa-ação.
O objetivo geral consiste em demonstrar como se processa a interação
entre mediador, mediados e objeto da aprendizagem, sob a perspectiva de
Feuerstein. Especificamente, propõe-se:
- caracterizar as relações que ocorrem entre os elementos integrantes da
mediação e os critérios mediacionais;
- demonstrar como os critérios de mediação ocorrem no processo de
ensino e aprendizagem e
- identificar as possibilidades e entraves no planejamento e realização
das aulas sob os parâmetros da experiência de atividade mediada.
Busca-se uma coerência entre a temática abordada, o refencial teórico, a
metodologia adotada na pesquisa e a proposta pedagógica implementada. Desejos,
utopias, práticas, teorias, vivências em sala e construção teórica transcorreram em
movimento dialético. Como teias de relações indissociáveis.
No Brasil, os estudos sobre MCE e EAM são recentes e foram iniciados por
Rubinstein (1995) e Beyer (1996). Embora proliferem em território nacional cursos de
formação nessa abordagem, os dados de pesquisa são escassos; principalmente no
que se refere à investigação da aplicabilidade da teoria e da metodologia em âmbito
escolar. Os estudos atuais, em nosso país, podem ser categorizados em três
enfoques principais de pesquisas.
No primeiro, destacam-se as pesquisas que propõem a análise de resultados
da aplicação do Programa de Enriquecimento Instrumental - PEI
1
em grupos.
1
Programa de Enriquecimento Instrumental é um dos sistemas aplicativos propostos por R. Feuerstein de
intervenção cognitiva ou psicoeducativa. Constituído de quatorze instrumentos em por objetivo geral aumentar
o nível de modificabilidade e a capacidade de aprendizagem. Segundo Da Ros (2005), com inspiração em
atividades que já haviam sido propostas por André Rey e outras pelo autor.
16
Análises de resultados de aplicação do PEI como estratégia do programa “Educar
para Vencer” da Secretaria de Estado da Educação da Bahia - implementado desde
1999 - foram apresentadas no I Fórum Internacional PEI, destacam-se R. Feuerstein
(2000), R. Feuerstein, Kozulin e Rosen (2000), Kozulin (2000), Melo e Varela (2000).
O estudo de Da Ros (2002) investigou as conseqüências do ensino mediador de
processos cognitivos superiores em um grupo de adultos com história de deficiência,
no ano letivo de 1994 em Santa Catarina. A dissertação de mestrado de Martins
(2002) objetivou verificar a mediação do PEI a um grupo de jovens com baixo
rendimento escolar, integrados a um projeto de qualificação profissional básica, no
estado do Paraná.
No segundo enfoque, destacam-se pesquisas desenvolvidas em Santa
Catarina, no qual as contribuições da Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural
e a Experiência de Atividade Mediada são utilizadas na análise e na construção
teórica das pesquisas. Uma rica construção epistemológica da MCE e EAM é
apresentada por Gomes C. (2001, 2002), a qual estabelece conexões com outras
teorias psicológicas de aprendizagem. Ao buscar definir um modelo psico-educativo,
Gomes C. (2001) estabelece critérios de análise operacional de Softwares
educacionais, baseados na MCE e EAM. O estudo proposto por Chaves (2002)
estabelece relações entre a abordagem de Feuerstein, as dificuldades de
aprendizagem e o ensino da matemática. As relações propostas por Santos (2002)
sintetizam: EAM, Teoria das Organizações em Aprendizagem e Macroergonomia. A
pesquisa de Gomes L. (2002) aborda relações entre: deficiência mental, funções
cognitivas, neuropsicologia e MCE.
O terceiro enfoque utiliza-se dos Critérios de Mediação propostos por
Feuerstein para a análise das interações professor-aluno em sala de aula. Giugno
17
(2002) investiga a mediação do professor no contexto de sala de aula, ao realizar
sua pesquisa junto a três professoras do ensino fundamental, no Rio Grande do Sul.
Toma como ponto de partida a atuação mediadora-interativa e confronta-a com as
categorias mediacionais estabelecidas por R. Feuerstein. Já Méier (2004) propõe a
investigação da percepção que o aluno do Ensino Médio tem a respeito da forma de
mediação exercida por seus professores, analisa os resultados em relação à
proposta de Feuerstein objetivando encontrar semelhanças e diferenças que possam
ser significativas na compreensão do processo de interação.
O presente estudo encontra pontos convergentes nesse último enfoque.
Assemelha-se às pesquisas de Giugno (2002) e Méier (2004) nas relações e
aplicações do referencial teórico à dinâmica da sala de aula, na utilização dos
critérios de mediação como categorias de análise das interações. Difere ao focalizar
a concepção tríade da aprendizagem na análise dos indicadores. Escolhas
metodológicas - a opção pela pesquisa-ação, a análise da qualidade das interações
estabelecidas em sala de aula, sob a ótica do mediador e dos mediados, que
simultaneamente são sujeitos e objetos da pesquisa - reforçam as diferenças.
O primeiro capítulo apresenta as contribuições teóricas e instrumentais de
Reuven Feuerstein. Focalizam-se origens, questões, pressupostos, conceitos e
relações da Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural e da Experiência de
Atividade Mediada; caracterizam-se os Critérios de Mediação e o Mapa Cognitivo.
A construção metodológica - o espaço das relações professor-aluno-
aprendizagem como campo de pesquisa - é descrita no segundo capítulo, que
objetiva a caracterização, contextualização da metodologia e a proposição das
análises.
18
A mediação em sala de aula - análise e discussão dos indicadores - é
apresentada no terceiro capítulo. Parte-se do planejamento das aulas; prossegue-se
a tessitura de indicadores qualitativos e quantitativos na análise da mediação, o
destaque a subjetividade na interação e finaliza-se com as conclusões/sínteses.
No último capítulo, considerações finais - a provisoriedade do ponto de
chegada - constam as conclusões e reflexões finais da autora.
19
1 REUVEN FEUERSTEIN: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E INSTRUMENTAIS
Não quero mudar as diferenças entre os indivíduos.
Sinceramente desejo que os indivíduos sejam diferentes.
O que me incomoda é que sendo a diversidade da
humanidade seu maior sinal de riqueza, e que nos
enriquecemos precisamente a partir dessas diferenças,
tenham sido consideradas essas mesmas diferenças
como uma desvantagem para o indivíduo e como a fonte
principal de desigualdade entre as pessoas.
2
(REUVEN FEUERSTEIN, 1983)
As origens, os pressupostos, os conceitos, as relações e a caracterização das
contribuições teóricas e instrumentais de Reuven Feuerstein são descritas no
presente capítulo.
No decorrer de seus estudos, o autor propõe uma teoria que, além de
apresentar mudanças substanciais na compreensão da inteligência, do
desenvolvimento e da aprendizagem, oferece sistemas aplicativos que
instrumentalizam a ação mediadora.
Como contribuições teóricas desenvolve a Teoria da Modificabilidade
Cognitiva Estrutural (MCE) e a Experiência de Atividade Mediada, como sistemas
aplicativos o Método da Avaliação da Aprendizagem (LPAD), o Programa de
Enriquecimento Instrumental (PEI) e Programa de formação de ambientes cognitivos.
1.1 ORIGEM E QUESTÕES DA CONSTRUÇÃO TEÓRICA
O ímpeto básico para a criação da teoria da Modificabilidade Cognitiva
Estrutural, como relata Reuven Feuerstein (2002, p. 14), não partiu de um interesse
intelectual puro. Sua origem foi à necessidade urgente e vital de encontrar meios de
ajudar milhares de crianças, cujo futuro dependia em muito de uma mudança radical
2
O texto citado encontra-se numa obra escrita originalmente em língua espanhola, as citações deste
e dos demais textos referenciados em inglês e espanhol foram traduzidos pela autora do presente
trabalho.
20
nos pontos de vista dos psicólogos, professores, tomadores de conta e elaboradores
de política educacional.
A teoria está ligada, em especial, a uma realidade sociocultural educacional
difícil que tinha a tendência a continuar assim por causa daqueles que acreditavam
na fixidez e na imutabilidade da inteligência e em outras características humanas que
os conduziam a manter tão difícil realidade.
Quando questionado pela jornalista Rita Moraes sobre qual foi o primeiro
estímulo para o seu trabalho, R. Feuerstein responde:
Nem mesmo o meu psicanalista conseguiu descobrir isso. Mas até onde
consigo lembrar, eu tinha sete anos quando comecei a ensinar. Eu comecei
a ler aos três anos e aprendi em três línguas, em iídiche, língua da minha
mãe, em hebraico, a do meu pai, e em romeno, do meu país. Quando eu
tinha oito, me mandaram um garoto de 15 que não conseguia aprender a ler
e eu consegui, na Romênia, ensiná-lo a ler em hebraico. Como? Ensinei-o a
ler uma prece. E aí não parei mais. Quando adulto, estive num campo de
concentração e depois trabalhei com crianças sobreviventes do Holocausto.
Elas tiveram que aprender por que viver e o próprio aprendizado era uma
razão. Estávamos numa escola agrícola e as crianças acordavam às 4 horas
para ordenhar as vacas. Quando voltavam, vinham ao meu quarto para
estudar Filosofia. Até hoje lembramos o que aprendemos nesses momentos
e já não somos mais crianças. (REVISTA ISTO É, 1999).
Desde o início dos anos 50, o professor R. Feuerstein
3
envolve-se ativamente
na criação de condições para a integração pluralística de diversos grupos culturais
por meio de processos educacionais orientados ao aumento da identidade cultural e
competência funcional.
3
Reuven Feuerstein nasceu na Romênia, imigrou para Israel em 1944 e atualmente reside em
Jerusalém onde dirige o instituto de pesquisas na área da mediação da aprendizagem e do
desenvolvimento da inteligência – ICELP. (International Center of Enhancement Learning Potential).
Trabalhou com Jean Piaget em pesquisas a respeito das dificuldades de aprendizagem, além de
criar uma metodologia própria para que as crianças possam desenvolver suas funções cognitivas.
21
Entre as atividades e as pesquisas desenvolvidas estão os estudos dos
efeitos dos programas de Youth Aliyah com sobreviventes do Holocausto; programas
preparatórios de jovens Sindrômicos de Down e outras deficiências no trabalho, para
que possam atuar como monitores, auxiliares ou atendentes a idosos ou deficientes,
ou como auxiliares no trabalho com o Programa de Enriquecimento Instrumental.
Continua desenvolvendo pesquisas com o PEI, a EAM, e o LPAD em diversas
populações, de adultos com alto nível de funcionamento cognitivo a crianças pré-
escolares, desde indivíduos com danos cerebrais até superdotados.
4
Por ocasião da elaboração da teoria da MCE, atuava como Diretor
Psicológico da Organização Youth Aliyah. Essa organização colocara para si
própria o objetivo de resgatar física, moral e educacionalmente crianças e
adolescentes sobreviventes do holocausto e de outras condições difíceis em
que estavam vivendo em vários países, lidar com crianças nessas terríveis
condições de vida confrontou-me com a questão profética de Ezeklian: “De
algum modo, esses ossos viverão?”.
Será possível reverter o resultado das mais difíceis condições em que essas
crianças viveram ao longo de sua infância
e adolescência nos campos de
morte do Holocausto? Poderão elas aprender a como superar danos que lhe
causaram? (FEUERSTEIN, 2002, p.14).
Na ausência de fontes teóricas que servissem de base para uma visão
otimista do ser humano e da possibilidade de modificar o curso da vida, buscaram-se
meios de provar que isso era possível. O envolvimento dos participantes em um
programa de diagnóstico e intervenção teve por finalidade confirmar o postulado e o
sistema otimista de crenças na modificabilidade de suas condições: cognitiva,
emocional, ou comportamental. A teoria da MCE é baseada num sistema de crenças
originado na necessidade vital de ver aquelas crianças desenvolvendo-se, apesar de
todas as dificuldades e contra todos os prognósticos.
4
Meier, M. (2004, p.21-24) apresenta uma consistente biografia do autor.
22
À luz dessas considerações, reporta-se às proposições de Santos (1989, p.
40-45) quanto à dupla ruptura epistemológica estabelecendo uma nova relação entre
ciência e senso comum, “onde um é feito do outro e ambos fazem algo de novo”.
A dupla ruptura epistemológica tem por objetivo criar uma forma de
conhecimento, ou melhor, uma configuração de conhecimentos que, sendo
prática, não deixe de ser esclarecida e, sendo sábia, não deixe de ser
democraticamente distribuída. [...] A nova configuração do saber é, assim, a
garantia do desejo e o desejo da garantia de que o desenvolvimento
tecnológico contribua para o aprofundamento da competência cognitiva e
comunicativa e, assim, se transforme num saber prático e nos ajude a dar
sentido e autenticidade à nossa existência. (SANTOS, B.S, 1989, p.41-42)
Observa-se essa dialética na construção da teoria proposta por R. Feuerstein,
constituindo-se como conhecimento científico com uma aplicação edificante
5
, por ter,
entre outras características, lugar numa situação concreta em que quem aplica está
existencial, ética e socialmente comprometido com o impacto de sua aplicação.
Embora a comprovação da MCE pelos dados empíricos e novos
desenvolvimento teóricos que lhe dão suporte, R. Feuerstein justifica o fato do
sistema lúcido de crenças presente na origem da teoria ser ainda um dos seus
importantes ingredientes.
Se, verdadeiramente, a teoria da MCE deve tornar-se um ponto de partida
que conduz à aplicação de sistemas gerados por teorias para o benefício
daqueles que mais necessitam deles, isso acontece porque o sistema de
crenças é produzido por uma necessidade de oferecer a uma criança, a uma
família, a um outro a possibilidade de desenvolver e alcançar seu máximo
potencial e de se materializar como imagem de Deus.
[...] Se não existe a necessidade no sistema de crenças, a melhor prova
científica, os melhores instrumentos poderão acabar não sendo usados.
O papel do sistema de crenças gerado pela necessidade de aderir a uma
visão otimista do ser humano como entidade modificável é não menos
importante no desenvolvimento de uma metodologia para criar a plataforma
científica que apóie a crença. (2002, p.14-15).
5
Santos, B:S (1989, p. 158-161) traça um perfil da aplicação edificante apontando-lhe caracteríticas
que são percebidas nos estudos de Feuerstein.
23
Ressalta, ainda: a importância de um sistema lúcido de crenças, o mais
consistente possível, como uma das metas a ser atingida pelo ser humano; as
afirmações como enunciados de crenças; e toda a crença como um fator energético
que impulsiona a busca.
As crenças de R. Feuerstein, que trazem uma nova visão de ciência ao aliá-la
à fé, configuram-se como parte indispensável à constituição da MCE. Como
prioritária, destaca-se a crença no ser humano como criatura digna de toda nossa
dedicação, o centro de seu trabalho.
Exemplificar de forma consistente a visão otimista a que se refere, ou melhor,
a abrangência que essa toma na vida, na atuação e na formulação teórica do autor,
só seria retratada com fidelidade se apresentadas sua biografia e obra. Dois
enunciados de R. Feuerstein, no entanto, merecem destaque na tentativa de síntese
e/ou ilustração: “’não devemos permitir que uma só criança fique em sua situação
atual sem desenvolvê-la até onde seu funcionamento nos permite descobrir que é
capaz de chegar’”, “’os cromossomos não têm a última palavra’”. (apud BELMONTE,
1994, p. 9).
No meio acadêmico, houve certa dificuldade em aceitar como científica uma
teoria que toma por base a fé. Sendo que, o próprio autor admite, não havendo
subsídios teóricos que dessem suporte para auxiliar a dar conta da tarefa assumida,
tomar-se uma atitude que contrariava as teorias para primeiramente ajudar e depois
comprovar a sua veracidade.
Alguns pontos destacados por Sanches e Kanhale (2003) e González Rey
(2001) na caracterização epistemológica da sociocultural de Vygotsky e seus
seguidores permitem traçar semelhanças da abordagem soviética com a construção
do autor israelense e seus colaboradores. O sujeito e o objeto são sociais, históricos
24
e ativos e estabelecem uma relação dialética. O método é, ao mesmo tempo, pré-
requisito e produto, instrumento e resultado. O critério de verdade expressa uma
dinâmica: absoluta, na medida em que explicita as determinações e contradições do
fenômeno - num dado momento histórico -; relativa, pois se modificará - uma vez que
os fenômenos estão em movimento dialético. Ao invés de natureza humana, aborda-
se a condição humana e relaciona-se ao indivíduo inserido em determinado contexto
social e histórico.
As abordagens assumem uma nova proposta epistemológica para a
psicologia e buscam compreender o homem a partir da perspectiva da gênese social
da individualidade e da superação das dicotomias sujeito-objeto.
1.2 PRESSUPOSTOS DA TEORIA DA MODIFICABILIDADE COGNITIVA
ESTRUTURA
O que torna a MCE uma hipótese plausível? Seu principal autor apresenta
três grandes pressupostos.
- Como primeiro pressuposto, R. Feuerstein considera a dupla ontogenia
6
do
organismo humano: a ontogenia biológica e a ontogenia sociocultural.
6
Ontogenia (do grego ón, ónto: ser, e gênese: origem, geração). Filogenia (do grego fu, lon: espécie,
raça, e gênese: origem, geração). Termos introduzidos por Haeckel (1866) para designar o
desenvolvimento histórico, genérico (filogenia) e individual (ontogenia) dos organismos. No
processo evolutivo da natureza viva, a filogenia e a ontogenia encontram-se indissociavelmente
ligadas, condicionam-se reciprocamente (Lei biogenética): a ontogenia é o resultado do
desenvolvimento histórico, quer dizer, é um resultado da filogenia; por outra parte, a filogenia se
forma sobre a base das mudanças individuais, ou seja, sobre a base da ontogenia. Nessa interação
se reflete a unidade da parte (o indivíduo) com o todo (o gênero), do singular com o geral, a
dialética do processo, em forma de espiral, do desenvolvimento, em cada uma de cujas etapas se
reproduzem, em forma superada, os saltos qualitativos realizados nas etapas precedentes. Darwin
expôs a idéia da unidade entre filogenia e ontogenia. Idéia que foi desenvolvida, entre outros, por
Haeckel y Michurin. (Diccionario soviético de filosofia, 1965, p. 175).
25
A ontogenia biológica, para o autor (2002, p.15), consiste na percepção do ser
humano como comunidade de células interagindo agitadamente entre si e com o
ambiente. “A entidade humana ‘biológica’ está tornando-se indivíduo”.
Por sua vez, a ontogenia sociocultural é responsável pela estrutura social,
moral e comunicacional do ser humano. Para a qual, a individualidade tem peso
muito menor, ao passo que a cooperação coletiva e a nova interação cultural
exercem papel preponderante na formação dos estados do ser humano. “É essa
parte do desenvolvimento que dá ao organismo a verdadeira natureza da entidade
humana”.
A relação entre estas duas ontogenias é marcada por uma interação
estressante contínua e altamente conflituosa. A entidade biológica
certamente impõe limites e os traz à tona, ao mesmo tempo em que a
ontogenia sócio-cultural luta por liberar o ser humano desses limites,
modificando e criando novos rumos de vida, apesar da imposição, mas
contra tal imposição da realidade biológica, neurológica e cromossômica. (R.
Feuerstein, 2002, p.15)
Há inúmeros casos publicados, em artigos de pesquisa, a respeito de
portadores de Síndrome de Down e de outras deficiências determinadas por uma
condição cromossômica; no entanto, a intervenção social e educacional pode
transformar o nível da operação cognitiva. Para R. Feuerstein (2002, p.15), “nesse
diálogo entre a ontogenia sociocultural e a ontogenia biológica, a primeira, de fato,
tem a última palavra”.
Observador pertinaz desde a infância, alia ao seu fazer profissional a
sistematização daquilo que vivencia no processo de ensinar e aprender,
construindo a base de argumentos que o autorizam a afirmar que, para
além daquilo que os seres humanos possuem como herança biológica, é a
cultura, ou seja, a herança social, a grande responsável pela constituição
do homem como sujeito que está afeto constantemente a mudanças
culturais e, que ao mesmo tempo, as constitui. (DA ROS, p. 1, 2006).
A proposição de Reuven Feuerstein encontra semelhanças em outros autores.
Maturana, Mpodozis e Varela, segundo Graciano (1997), reconceitualizam o par
filogenia/ontogenia, de tal modo que a ontogenia não é mais descrita como um
resumo visível da filogenia, paralelamente, esta passa a ser compreendida como um
26
processo de entrelaçamento entre a conservação e mudança dos distintos fenótipos
ontogênicos.
Por outro lado, esse processo aponta todo domínio de interação de um ser
vivo como um domínio cognitivo. Posto que, o ser de uma unidade autopoiética se
dá em seu fazer, e conhecer é fazer (atuar, ter uma conduta adequada no domínio
em que ela se realiza), Maturana (apud GRACIANO, 1997) desvincula a noção de
cognição da presença do sistema nervoso, associando-a ao viver. Não há como
desassociar o conhecer do ser. Infere-se que tais conceitos relacionam-se ao que
propõe Feuerstein como ontogenia biológica.
Aspectos semelhantes são ressaltados por Palangana e Silveira (2001, p.
445-446) ao afirmar que no decurso do seu desenvolvimento ontogenético o homem
entra em relações particulares, específicas, com o mundo que o cerca. Refere-se ao
mundo feito de objetos e de fenômenos criados pelas gerações humanas que o
antecederam. Esta especificidade é determinada pela natureza destes objetos e
fenômenos, bem como, pelas condições em que se instauram as relações em
questão. Assemelhando-se ao que propõe R. Feuerstein como ontogenia
sociocultural.
Aqui, não se parte do pressuposto de que o desenvolvimento ontogenético
humano ocorre em função da adaptação do homem ao meio, ao contrário,
consideram-se as relações de troca, de influências mútuas mantidas entre
ambos.
Diferentemente do comportamento animal, que se adapta e se acomoda às
variações advindas do meio no decorrer de sua ontogênese, o homem,
como postula Leontiev (1978), tem a experiência sócio-histórica.
(PALANGANA e SILVEIRA, 2001, p.449).
A transformação de ações exteriores em ações interiores intelectuais se dá,
tão somente, na ontogênese humana, devida aos conceitos, valores, habilidades,
entre outros, que são transmitidos à criança. Por meio da mediação social, ela
apreende conhecimentos, formas de pensar e sentir.
27
Segundo Vygotsky, é no curso de suas relações sociais - atividade inter-
pessoal - que os indivíduos produzem, se apropriam de/e transformam as diferentes
atividades práticas e simbólicas em circulação na sociedade em que vivem, e as
internalizam como modos de ação/elaboração próprios - atividade intra-pessoal -,
constituindo-se como sujeitos.
Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes:
primeiro, no nível social, e, depois no nível individual; primeiro entre pessoas
(interpsicológica), e, depois, no interior da criança (intrapsicológica). Isso se
aplica igualmente para a atenção voluntária, para a memória lógica e para a
formação de conceitos. Todas as funções superiores originam-se das
relações reais entre indivíduos humanos. (VYGOTSKY, 1994, p.75).
Nos estudos de Vygotsky e seus colaboradores, a aprendizagem está em
função da comunicação e do desenvolvimento. Esse não é um simples
desdobramento de caracteres pré-formados na estrutura biológica dos genes, mas o
resultado do intercâmbio entre informação biológica e contato experimental com as
circunstâncias reais de um meio historicamente constituído. Não significa uma
simples reprodução do externo no interno, mas a transformação de um processo
inter-pessoal em um processo intra-pessoal.
Reuven Feuerstein, no conjunto de sua obra, aborda a síndrome de privação
cultural, conceituada como uma capacidade reduzida das pessoas para
modificabilidade cognitiva e para responder às fontes de estimulação. Ocasionada
O segundo pressuposto apresentado por R. Feuerstein (2002, p.16) que
acrescenta plausibilidade ao conceito de modificabilidade cognitiva é a definição
modal do comportamento humano como um estado, e não como algo fixo e
imutável. O comportamento modal seria considerado modificável, da mesma forma
que os estados, uma vez que está fortemente relacionado a certas condições que
podem ser mudadas.
28
O ser humano como estado, embora sem o uso do termo, pode ser percebido
no exposto por Graciano (1997) ao sintetizar os estudos de Maturana.
Maturana afirma que não basta ser Homo sapiens sapiens para sermos
humanos, pois ainda que a fisiologia seja fundamental, é o viver humano, o
fato de vivermos com outros seres humanos imersos na linguagem, que
nos humaniza. Ou seja, é no entrelaçamento de nossa fisiologia, que
possibilita e determina nosso ser biológico, com o "modo de vida", que nos
define como uma linhagem de seres vivos, que somos humanos e, sendo
assim, nosso ser e conhecer tipicamente humanos surgem do acoplamento
de nossa corporalidade Homo sapiens sapiens, como o domínio de nossa
fisiologia, com o nosso modo de vida particular, o linguajar, como o domínio
de nossa conduta.
Ser humano, pelo proposto, não é uma condição natural é um estado
resultante de condições históricas e sociais. É na relação com o meio, segundo
Palangana e Silveira (2001, p. 446), mediada pelos instrumentos e símbolos
culturais, que o homem, diferentemente dos animais, desenvolve o pensamento e,
com ele, modos de agir e sentir. Tal formação de tais não se dá via processos fixos e
imutáveis.
A nova concepção neurocientífica, que propõe o cérebro humano como
um como organismo elástico e flexível, é o terceiro fator que dá consistência ao
conceito de modificabilidade. Argumenta Feuerstein que evidências de pesquisa e
evidência clínica estão, atualmente, se tornando cada vez mais disponíveis sobre os
efeitos do ambiente interacional do organismo na estrutura do cérebro e sobre a sua
propensão de ser configurado pela experiência, do mesmo modo que a experiência
configurou o cérebro.
Maturana, apud Graciano (1997), não aponta o sistema nervoso como órgão
sede do conhecimento, pois, em sua concepção, a cognição não é fruto da presença
do sistema nervoso. “’Tudo que o sistema nervoso faz é expandir o domínio cognitivo
do sistema vivo, é ampliar o domínio de condutas possíveis. Ou seja, quanto mais
plástico o sistema nervoso de um ser vivo, mais plástico também esse ser se torna
29
maiores e mais diversificados os seus domínios de interação’”. “’[...] Dadas às
imensas possibilidades de realização humana, essa plasticidade é essencial: o
cérebro pode servir a novas funções, criadas na história do homem, sem que sejam
necessárias transformações morfológicas no órgão físico’”. (OLIVEIRA, apud LA
TAILLE,1992, p. 24).
O cérebro humano é dotado de grande plasticidade, seu funcionamento e sua
estrutura vão sendo moldados ao longo do desenvolvimento. Ao contrário do animal,
cuja atividade é o resultado de atitudes de adaptação ao meio, adquiridas através da
hereditariedade, a criança, vivendo em sociedade, e, principalmente, sob a mediação
de pessoas, apreende comportamentos, atitudes, conceitos, sentimentos dos
homens de seu tempo. Tais aptidões constituem-se no produto do desenvolvimento
sócio-histórico. Portanto, antes de se constituírem como propriedades individuais,
são sociais.
1.3 MODIFICABILIDADE COGNITIVA ESTRUTURAL (MCE) E EXPERIÊNCIA DE
ATIVIDADE MEDIADA (EAM): CONCEITOS E RELAÇÕES
Eu diria que a característica mais importante do
ser humano é sua capacidade de modificar-se.
Não há nenhum ser neste mundo que pode
modificar-se em direção a processos mentais
superiores, que tenha maior adaptabilidade, maior
flexibilidade, ou maior mobilidade, no que se refere
os sistemas adaptativos, que o ser humano. Ele
pode modificar-se a vontade.
(REUVEN FEUERSTEIN, 1989, p. 131)
A teoria e a metodologia do trabalho de R. Feuerstein, como ressalta Da Ros
(2002, p.10), “baseiam-se no fato de não se poder, nunca, prever limites para o
desenvolvimento, nem classificar pessoas”. Embora empregue uma terminologia
apresentada por outros autores, caminha “numa direção oposta às teorias que, ao
30
abordarem a relação desenvolvimento e aprendizagem, localizam a origem dos
problemas ora nos indivíduos, ora nas condições do meio”.
Entre outras questões essa teoria põe em destaque a capacidade do seu
humano modificar sua estrutura cognitiva e a indissociabilidade entre afeto e
intelecto no processo de conquista da autonomia do sujeito. Supera a crítica feita por
González Rey (2004, p. 10) a outras teorias que levam a uma “fragmentação que
não permite compreender em profundidade o próprio processo de desenvolvimento
humano”, pois o desenvolvimento intelectual, por exemplo, tem sido objeto de
algumas teorias, enquanto o desenvolvimento moral ou da personalidade tem sido
objeto de outras.
A analogia feita por R. Feuerstein (1999) propõe: “Em cada comportamento,
temos os dois lados de uma moeda, o cognitivo e o emocional. Acrescento que essa
moeda é transparente, se você olha do lado da cognição, vê o reflexo do emocional
e vice-versa”. Afetivo e cognitivo estão estreitamente unidos, sendo que um não
funciona sem o outro. De um lado o cognitivo que utilizamos para pensar, para
aprender, para realizar atos mentais e que tem como um dos elementos básicos as
funções cognitivas ou as capacidades e formas de pô-las em funcionamento. De
outro está o que nos faz sentir, em nossa relação com os demais e conosco
mesmos: o afetivo.
1.3.1 O que é a modificabilidade cognitiva estrutural – MCE -?
... Um conceito fundamental e que permeia toda a
sua teoria e proposta metodológica de trabalho
pedagógico: o conceito de mudança, de
transformação. Sociedade em movimento e sujeito
em movimento.
(Da Ros, 2006)
31
Merece especial destaque para a compreensão da teoria, a distinção que R.
Feuerstein faz entre mudança e modificabilidade. A modificabilidade cognitiva
estrutural não deve ser confundida com mudanças biológicas ou de maturação, a
que o sujeito é afetado nem com mudanças transitórias ou pontuais, que podem
ocorrer no sujeito. O termo destaca Da Ros (2006, p. 4), exprime a idéia de um
processo voltado à autonomia do sujeito para responder não a um ambiente
constante e estável, mas a situações e circunstâncias que estão em permanente
modificação.
Assim definida, a ‘modificabilidade’ difere de ‘mudança’ no sentido de que a
mudança é produzida por processos maturacionais e de desenvolvimento,
enquanto a modificabilidade representa o afastamento notável do curso
natural do desenvolvimento de um indivíduo como determinado por sua
base genética e / ou neurofisiológica e / ou experiencial (FEUERSTEIN,
KRASILOVSKY E RAND, 1978, p.1997 apud GOMES C., 2002, p.19).
Os seres humanos são vistos como indivíduos que têm a propensão única
para modificar-se ou para ser modificado nas estruturas de seu funcionamento
cognitivo, à medida que eles respondem às demandas de mudança de situações de
vida. Mudanças ocorrem em resposta a estímulos externos e condições internas. A
modificabilidade é estrutural: quando a mudança de uma parte afeta o todo ao qual
pertence; quando o processo de mudança é modificado no seu ritmo, amplitude e
direção; quando a mudança produzida é perpetuada refletindo autonomia, natureza
auto-regulatória.
Ao apresentar a modificabilidade estrutural, R. Feuerstein (2002, p.16) não se
refere apenas às transformações no comportamento e na estrutura mental cognitiva,
mas também às relacionadas ao substrato neurológico, “que pode ser sensivelmente
afetado por certas interações e experiências no ambiente”.
Diz-se que a MCE ocorre, quando tais alterações, são caracterizadas por um
determinado grau de permanência, profundidade e quando são generalizadas.
32
Destacam R. Feuerstein e S. Feuerstein (1994) que é a modificação na propensão
do organismo de usar progressivamente formas de funções mentais mais
desenvolvidas que o torna capaz de organizar a realidade e de usar a experiência
passada como ferramenta para planejar, antecipar e facilitar a ocorrência de eventos
desejados e prevenir a materialização dos indesejados.
As transformações ocorrem devido às modalidades de defesa e de adaptação
do ser humano, a aloplástica e a auto-plástica. A primeira descrita como
adaptabilidade do organismo humano a situações que põem em risco sua existência.
A segunda definida como a propensão do organismo mudar a si mesmo no sentido
de resistir com sucesso quando confrontado com uma fonte de perigo externa ou
interna.
Num nível mais alto, a modalidade auto-plástica se manifesta pelo
desenvolvimento de condições cognitivo – afetivo - emocionais para as formas de
adaptação mais criativas e produtivas.
Na perspectiva feuersteniana, a modificabilidade do sujeito é,
necessariamente, a modificação da relação sujeito consigo próprio e com
seu entorno. O processo educativo pautado nessa proposta supõe relações
interpessoais voltadas para a premissa que aposta no vir-a-ser como
desenvolvimento. ( DA ROS, 2002, p.11).
A leitura superficial da obra de R. Feuerstein e seus colaboradores pode
ocasionar a interpretação errônea de sua teoria, atribuindo características do
comportamentalismo ao destaque que atribui à experiência ou da psicogenética, ao
abordar a adaptabilidade do organismo.
O que difere, além do uso distinto dos conceitos, é estabelecer a relação entre
modificabilidade e interação social. Ou seja, a modificabilidade é diretamente
determinada pela qualidade da interação entre o organismo e o ambiente, o que se
33
torna possível mediante a EAM. Sendo essa também responsável pela diversificação
das características comportamentais, emocionais e cognitivas do ser humano.
1.3.2 Caracterização da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM)
Se a EAM é geralmente definida como uma
interação do organismo com o seu ambiente por
meio de um mediador humano, por que
deveríamos afastar o conceito de mediação [...] da
interposição do adulto entre a criança e um perigo
eminente? Da mesma maneira, por que todos os
acontecimentos educativos não poderiam ser
considerados como EAM? Em que medida seria o
ensino, e em particular o ensino de qualidade,
considerado diferente de EAM? O perigo reside no
fato de que, faltando-lhe definição clara, a EAM
pode ser associada a todas as interações,
independentemente do fato delas envolverem
mediadores humanos, objetos ou símbolos que
intervêm como substituições mediadoras da
realidade. Computadores e televisores não são
poderosos mediadores?
(FEUERSTEIN e FEUERSTEIN, 1994)
Na busca de síntese das idéias propostas nas diversas obras sobre EAM,
para R. Feuerstein e seus colaboradores, percebe-se que o desenvolvimento
cognitivo acontece através de uma interação do indivíduo e o meio ambiente. Desta
forma, a interação é afetada por determinadas características do organismo
(incluindo aquelas de hereditariedade, maturação e similares) e qualidades do meio
ambiente (oportunidades de educação, status socioeconômico, experiência cultural,
contatos emocionais com outros significantes). Somente a hipótese de duas
modalidades coexistentes, exposição direta aos estímulos e experiência de atividade
mediada, explicaria o alto grau de modificabilidade do ser humano, que é o único ser
que pode ser alterado pela EAM.
Na primeira modalidade de aprendizagem, a exposição direta a fontes de
estímulos, os estímulos que agem sobre o organismo fluem dentro de seu sistema
34
de uma maneira aleatória, direta, não mediada. Os estímulos aparecem e
desaparecem de uma maneira totalmente assistemática como uma dupla
aleatoriedade na sua ocorrência: uma que pertence aos estímulos propriamente ditos
e outra determinada por variações de prontidão do organismo para registrá-los. Esta
dupla aleatoriedade faz com que o encontro com os estímulos na modalidade de
exposição direta seja altamente probabilístico e ligado à sorte.
A mudança, mais ou menos permanente, no comportamento do indivíduo
estará, por sua vez, ligada aos processos mentais pelos quais ela foi ativada, tal
como presumem os psicólogos cognitivistas, ou é descrita como condicionamento
pelos cientistas do comportamento. Essas teorias, segundo para Feuerstein e
Feuerstein (1994, p. 6-7), consideram a exposição direta aos estímulos como sendo
a modalidade pela qual o desenvolvimento da inteligência e dos processos
cognitivos se tornam possíveis. Piaget, enfatizando as características de organismos
e sua maturidade, introduziu a noção da atividade como sendo no mínimo tão
responsável pelo desenvolvimento da inteligência quanto as propriedades dos
estímulos aos quais o organismo está exposto.
A fórmula proposta por Piaget, para os autores, conhecida como
estímulo/organismo/resposta (EOR ou SOR), atribui ao organismo seu nível de
maturidade e seu estágio de desenvolvimento, que desempenha um papel
importante no registro e na elaboração ativa de estímulos.
Piaget fala de interação. Porém, com quem interage a criança na
perspectiva de Piaget? Não com pessoas, sim com objetos. Não se refere a
uma interação entre o organismo e os outros seres humanos na qualidade
de mediadores. Refere-se à interação entre o organismo que aprende e os
objetos. Resulta que o objeto é um ser humano, então o ser humano opera
como um objeto.
[...] pensa que quando você e eu nos encontramos e minhas idéias são
diferentes das suas, eu tratarei de assimilar seu ponto de vista ao meu, e
acomodar meu ponto de vista ao seu. Desta forma, você como ser humano,
atua como um objeto sobre meus pontos de vista e os muda.
(FEUERSTEIN, p.134, 1983).
35
Portanto, em ambas as concepções de aprendizagem ER e EOR, para R.
Feuerstein, a exposição direta a estímulos leva a um descarte relativo ou, no mínimo,
a uma subestimação do papel desempenhado pelo adulto, outro ser humano
iniciado, e pelas intenções culturalmente determinadas deste mediador, no processo
de crescimento e mudança que caracterizam o desenvolvimento humano. Destaca-
se a inigualável contribuição de Piaget, ao oferecer a mais consistente descrição do
desenvolvimento cognitivo como sendo processo de ampliação de estruturas pré-
existentes mediante o processo de assimilação e acomodação e equilíbrio.
Os resultados teóricos das investigações de Piaget são hoje em dia
imprescindíveis para compreender a complexidade da aprendizagem humana. Pérez
Gómez (1998, p. 36) ressalta a importância e a relação destes estudos para a
compreensão e orientação do processo ensino-aprendizagem: o caráter construtivo e
dialético de todo o processo de desenvolvimento individual; a enorme significação
que tem para o desenvolvimento das capacidades superiores a atividade do aluno –
desde as sensório-motoras, até as mais complexas de operação formal -; a estreita
vinculação das dimensões estrutural e afetiva da conduta e a motivação relacionada
ao nível estrutural (cognoscitivo) determinado.
As diferenças significativas existentes entre pessoas - no tocante ao grau com
o qual elas se modificam ou mudam pela assimilação de novos estímulos, mudando
estruturas existentes e pela acomodação de suas estruturas, mediante a influência
exercida pelos estímulos recentemente assimilados – são consideradas por
Feuerstein e Feuerstein (1994). Alguns indivíduos são expostos a certas
experiências durante suas vidas sem serem afetados por elas no sentido de um
direcionamento para seus maiores níveis de funcionamento, compreensão e
adaptação.
36
A exposição direta a estímulos representa uma garantia de que, de fato, o
indivíduo exposto uma vez beneficiar-se-á quando confrontado novamente
com esses estímulos? Que isso não é o caso, é evidenciado pela falta de
flexibilidade manifesta por muitos indivíduos que, apesar de terem sido
expostos a estímulos repetidos, continuam nas suas modalidades anteriores
de resposta que não são adaptáveis a mudanças de condições.
(FEUERSTEIN e FEUERSTEIN, 1994).
As variações na “modificabilidade” dos indivíduos, observável em todos os
níveis de funcionamento em relação à exposição direta aos estímulos, torna
altamente questionável a hipótese de modalidade única no desenvolvimento
humano.
Concluem os autores que os organismos, limitados por necessidade em sua
interação somente à exposição direta aos estímulos, demonstram um alto grau de
uniformidade. Seu desenvolvimento é fácil e altamente previsível. Muito pouco
desvio em relação ao desenvolvimento normativo pode ser esperado. O rumo da
vida de tal organismo está marcado por um processo uniforme de desenvolvimento
de características natas e o meio, o ecossistema no qual ele melhor vive já foi
escolhido. Mudanças na ordem e sucessão, bem como na diversidade do
desenvolvimento não existem nesta simples modalidade de exposição direta.
Desmistificando a convicção de que o aprendiz por conta própria realizava o
agenciamento da aprendizagem
7
, os estudos de L. Vygostsky e R. Feuerstein
propõem a interação.
Mas que interação é essa que se diferencia de outros conceitos de mediação?
Ao considerar que toda experiência ocorre num mundo humanizado, com
características que sustentam uma real intencionalidade sócio-histórica subjacente
ás manifestações e ordenações dos elementos com que a criança ingenuamente
7
Termo empregado por Kozulin (2002 p. 17-18).
37
experimenta a escola soviética não concebe a atividade única como intercâmbio
isolado do indivíduo com o meio físico, salienta Pérez Gómez (1998, p.42).
A experiência de atividade mediada, proposta como uma modalidade de
aprendizagem diferenciada refere-se “ao processo de interação entre a criança e o
mundo social e não a uma interação com o mundo dos objetos”, conceitua R.
Feuerstein (1983, p.134).
Para explicar a EAM Feuerstein (1997) propôs o esquema apresentado na
Figura 1. A letra S representa os estímulos externos, a letra H significa a presença
humana, um mediador que se interpõe entre o indivíduo (organismo representado
pela letra O) e os estímulos externos selecionando-os e organizando-os. Os
estímulos do ambiente chegam ao organismo de duas formas: diretamente ou
através do filtro do mediador (como mostram as linhas e setas); o mesmo acontece
com as ações do organismo (resposta – representada pela letra R): podem ser ações
diretas ao ambientes ou mobilizadas, direcionadas e retro alimentadas pela ação do
mediador.
FIGURA 1 - MODELO DE EXPERIÊNCIA DE ATIVIDADE MEDIADA
Fonte: International Center for Enhancement of Learning Potential –
Hadassah-Wizo-Canada Research Institute - ICELP – Israel
Os fatores ambientais e aqueles relacionados ao organismo são
determinantes distais do desenvolvimento cognitivo (causando respostas
diferenciadas em relação ao meio ambiente), enquanto a EAM constitui o
38
determinante proximal que influencia o desenvolvimento cognitivo estrutural e o
potencial da adaptabilidade e da modificabilidade através da experiência.
Para que a EAM aconteça, um ser humano, intencionalmente, deve colocar-
se entre o estímulo e a resposta do aprendiz, com a intenção de mediar o
estímulo ou a resposta do aprendiz. Isto é mediação no sentido de que a
situação (estímulos e respostas) é modificada pela intensidade da
qualidade, pelo contexto, pela freqüência e pela ordem e, ao mesmo tempo,
desperta, no indivíduo, a vigilância, a consciência e a sensibilidade. A
experiência de interação pode ter a qualidade de repetir ou de eliminar
vários estímulos, relacionando eventos no tempo ou no espaço, ou imbuindo
à experiência de significado. (FEUERSTEIN R., 2000, p.2).
O enfoque, a seleção, a preparação, o agrupamento e o estabelecimento de
relações entre os estímulos constituem-se no individuo no repertório de condutas
cognitivas firmes e acessíveis. Ativado nos primeiros estágios de desenvolvimento
da criança, destaca R. Feuestein (1989, p. 135),intensifica o crescimento cognitivo
por meio da exposição direta aos estímulos. A EAM é a, transmissão e a
interpretação do mundo ao qual a criança está exposta.
Em contrapartida, uma mediação inadequada, direcionada a funções
cognitivas, nas fases de entrada, processo e saída do ato mental, não desenvolve,
enfraquece ou fragiliza a contribuição para a aprendizagem e para o comportamento
cognitivo.
Ao discutir as bases da EAM R. Feuerstein (1989, p. 132) afirma que não há
nenhuma importância que os adultos sejam ignorantes ou não, idiotas ou não. O
essencial para o desenvolvimento da mente humana é que o adulto se interponha e
interprete o mundo para a criança. Sem isso, não existiria nenhuma mente
verdadeiramente humana. O que importa é a interpretação, a potencialização das
capacidades não o conteúdo mediado.
39
Encontra-se consonância de aspectos propostos pela EAM em outros autores
como González Rey (2004, p. 7- 9) ao propor que o outro não existe como acidente
comportamental.
O outro existe numa seqüência histórica de relação que vai se
transformando em um sistema de sentido
8
, a partir do qual esse outro passa
a ter significação no desenvolvimento psíquico da criança, tanto pela
produção simbólica delimitada nesse espaço de relação, como pela
produção de sentido que a acompanha. Por sua vez, estes complexos
sistemas de relações entre pessoas sempre são parte dos espaços
institucionais nos quais os relacionamentos têm lugar. São esses espaços
de sentido, que se tornam sensíveis para novas aquisições do
desenvolvimento, que definimos como unidades subjetivas de
desenvolvimento
9
.
O outro é muito mais que uma mera fonte de significações no processo de
auto-organização dos comportamentos próprios da criança. O outro, para González
Rey (op cit), “está constituído no nível dos sentidos subjetivos da história de
relacionamento da criança com ele/ela, e é precisamente essa condição o que o
privilegia a influência sobre a criança de uns e não de todos os outros que
configuram seu espaço cotidiano”.
Semelhanças são encontradas no estudo de Palangana e Silveira (2001, p.
447). Afirmam as autoras, que as capacidades e funções formadas no homem no
decorrer do processo de desenvolvimento são, “como escreve Leontiev (1978),
neoformações psicológicas, onde os processos hereditários, inatos, se apresentam
apenas como condições necessárias, mas não suficientes, para que o aparecimento
de tais capacidades se torne possível”. A capacidade lógica, por exemplo, não se
elabora em indivíduos que vivem isoladamente, que não mantêm relações com
8
O conceito de sentido utilizado por González Rey (2004, p.12) refere-se a uma formação psíquica
que integra a personalidade e a compreensão da palavra; portanto, o sentido integra de forma fluida
o cognitivo e o afetivo dentro de uma mesma definição qualitativa.
9
“As unidades cognitivas do desenvolvimento são aquelas atividades ou relações da pessoa que
comprometem os seus recursos potenciais em um momento dado deste processo, e se configuram
de forma estável ao nível subjetivo, formando verdadeiros sistemas dinâmicos.” (GONZÁLEZ REY,
2004, p.14)
40
outros seres humanos. “A ausência da interação impossibilita a formação dos
processos psíquicos em geral, logo, também do pensamento lógico”. A apropriação
da experiência social é gradativa e pressupõe uma influência mútua entre a
aprendizagem e o desenvolvimento. A apreensão de conteúdo promove
capacidades, habilidades, o desenvolvimento, enfim.
A experiência de atividade mediada, como a qualidade de interação, é
responsável pelos dois mais importantes fenômenos pertencentes apenas aos seres
humanos - modificabilidade e diversidade. Tais fenômenos, a propensão do ser
humano modificar e diversificar suas estruturas cognitivas mediante estágios de
desenvolvimento, está fortemente interligado e é à base da teoria de modificabilidade
estrutural cognitiva. Postula a importância de uma característica ímpar da
humanidade, a sua considerável plasticidade e flexibilidade, tornando o ser humano
capaz de modificar e diversificar sua estrutura cognitiva de maneira radical, o que
afetará sua capacidade de aprender a adaptar-se a situações mais complexas e
desconhecidas.
A interação proposta por R. Feuerstein não se refere apenas à relação sujeito
- meio ou fatores internos/fatores externos. Refere-se à relação mediada por outro
humano e com características especiais, ou seja, a interação sociocultural à
semelhança de Vygotsky. Os estudos de Feuerstein e Vygotsky enfatizam a
importância das forças socioculturais em configurar a situação de desenvolvimento e
aprendizagem de uma criança, bem como apontam o papel fundamental de
mediadores humanos.
O ato mediador, no sentido vygotskyano, é alicerçado por dois elementos
básicos: “os instrumentos que têm função de regular as ações sobre os objetos e o
41
signo, e os signo que regula as ações sobre o psiquismo das pessoas.” (REGO,
1995, p.50).
Para Vygotsky, o surgimento da estrutura intelectual, isto é, das estruturas
inteligentes do indivíduo, é favorecido pela história, pela presença da cultura. Esta
estrutura intelectual – que constitui o comportamento humano – tem como centro, no
seu processo de formação, a mediação, que caracteriza a relação do homem com o
mundo e com os outros homens. Na análise de Freitas (1996) Vygotsky e Bakhtin
abrem a possibilidade de redimensionar teórica e metodologicamente o estudo das
relações entre escolarização, atividade mental e desenvolvimento da criança, ao
assumirem a natureza mediada da cognição: a ação do sujeito sobre o objeto é
mediada socialmente, pelo outro e pelos signos. A atividade cognitiva é intersubjetiva
e discursiva.
Algumas das relações com a escolaridade são propostas por Fontana (1996
p. 20-21):
Nas interações cotidianas, a mediação do adulto acontece
espontaneamente no processo de utilização da linguagem, no contexto das
situações imediatas.
Já nas instituições escolarizadas, que têm como uma orientação deliberada
e explicita no sentido da aquisição de conhecimentos sistematizados pela
criança, as condições de produção do processo de elaboração conceitual
modificam-se sob vários aspectos.
Nesse contexto, a criança é colocada diante da tarefa particular de “entender”
as bases dos sistemas de concepções científicas, que se diferenciam das
elaborações conceituais espontâneas. Os conceitos sistematizados (científicos na
expressão de Vygotsky) são parte de sistemas explicativos globais, organizados
dentro de uma lógica socialmente construída e reconhecida como legítima, que
procura garantir-lhe coerência interna. Sua elaboração requer a utilização de
operações lógicas complexas – comparação, classificações, dedução, entre outros.-
42
de transição de uma generalização para outra, que são novas para acriança. Além
disso, como no contexto escolar, as atividades desenvolvendo a preensão dos
conceitos sistematizados são organizadas de maneira discursiva e lógico-verbal, a
relação da criança com o conceito é sempre mediada por algum outro conceito.
A ação pedagógica, na perspectiva da EAM, redimensiona as relações de
aprendizagem, bem como fornece valiosos subsídios para sua compreensão e
instrumentalização da mediação.
Os pressupostos sobre o desenvolvimento e a aprendizagem, embasado no
aspecto da qualidade das relações sociais estabelecidas pelo sujeito, como meio de
promoção do seu desenvolvimento são destacados por Giugno (2002, p. 63-65).
Ressalta a autora:
Ao interpretarmos o termo “experiência” como as oportunidades que o aluno
tem para de compreender e abstrair as variadas situações do seu meio vê,
em termos escolares, o enfoque recair na representatividade do professor
uma vez que é este que, sobremaneira, intervirá no processo criando
estratégias adequadas de acordo com as necessidades do aluno,
favorecendo o seu aprendizado, o seu desenvolvimento.
Nesse enfoque, referindo-se às relações de aprendizagem estabelecidas na
escola, ao mesmo tempo em que há um resgate do papel do professor como
indispensável, há necessidade de redimensionamento da qualidade das interações
estabelecidas. A EAM oferece subsídios, tanto teóricos como instrumentais, para
reflexão quanto às mudanças desejáveis. Sem determinadas características de
interação, a relação professor – aluno – conhecimento pode configurar-se em uma
mera exposição a estímulos, podendo ser substituída por outro instrumento que
forneça informações.
Para R. Feuerstein esta interação não é uma interação qualquer, não há um
social anônimo atuando sobre um indivíduo, ou em interação com este. Há um
mediador com intencionalidade, numa interação com determinadas características,
43
uma troca entre sujeitos com individualidades propiciando a modificabilidade
estrutural. A visão do papel da escola muda, ao constituir-se um espaço que vai além
da aquisição, transmissão, da verificação para potencialização das capacidades dos
sujeitos, que com maior autonomia podem aprender mais e melhor.
González-Rey (2004, p.5-8) destaca que o outro na obra de Vygotsky aparece
mais associado com o processo de uso e mediação dos signos que com uma
comunicação rica e de múltiplos canais entre a criança e os outros, principalmente
entre ela e os adultos que a integram no mundo da cultura. “Ao definir o lugar do
outro na zona de desenvolvimento, Vygotsky não considera a qualidade do
relacionamento afetivo desse outro com a criança, refere-se apenas ao apoio
instrumental que ele/ela pode dar-lhe no processo de solução das tarefas que
enfrenta”.
Semelhante à figura do mediador humano proposta por Feuerstein, González
Rey (2004, p. 8) destaca que “o outro dever ser um outro portador de sentido
subjetivo para atuar como figura significativa para o desenvolvimento”.
Assim, o anonimato do professor que segue programas não se sabe de quem,
bem como o anonimato dos alunos identificados por blocos, não pode mais ser
considerado espaço e formato propícios à construção da aprendizagem, à
metacognição e autonomia.
Como se refaz uma trajetória para a mediação esperada?
A EAM propõe a superação da dicotomia sujeito-objeto. Deixa-se de analisar
uma relação bilateral para priorizar uma relação tríade, onde a construção da
aprendizagem processa-se numa relação conflitante de seus elementos: organismo
– mediador – objeto. O mediador deixa de ser um elemento do meio e assume
identidade e características próprias.
44
Na obra de R. Feuerstein percebeu-se a crença na possibilidade do mediador
humano atuar na mudança de condições cognitivas das crianças submetidas às
situações adversas do holocausto, por outro lado, tem-se na escola a crença que
crianças e jovens aprendem pela mera exposição às informações. Se por um lado as
crenças de Feuerstein demonstram ousadia; em contrapartida, a escola, embora
acreditando-se como espaço indispensável ao desenvolvimento, não se percebe
como estruturante de aspectos cognitivos dos alunos. E deixa a desejar na
possibilidade de desenvolver o sujeito “até onde suas possibilidades demonstrem
que pode chegar”.
A EAM afeta, de maneira significativa, a capacidade do indivíduo de ser
modificado estruturalmente através da exposição direta a estímulos. Quanto mais o
indivíduo adquire a EAM, afirma R. Feuerstein (2000) maiores serão os benefícios
adquiridos por aquela pessoa em função da exposição direta ao aprendizado; quanto
menos EAM for recebida, menos uma pessoa estará apta a aprender a partir da
exposição direta e menos adaptável o indivíduo será.
As interações mediadoras que potencializam o mediado para serem
consideradas experiências de atividade mediada, caracterizam-se de acordo com
critérios ou categorias de mediação, que passam as descritas a seguir.
1.3.2.1 Critérios de Mediação: as categorias que caracterizam a EAM
Os critérios podem ser compreendidos como a descrição do vínculo entre
mediador e o aprendiz, como observa Rubinstein (1995), levando-se em
consideração tanto aspectos objetivos (cognitivos), como subjetivos (afetivos -
relacionais).
45
A qualidade da interação de EAM pode ser descrita por uma série de doze
critérios de mediação que são elucidados em diversas obras de R. Feuerstein e seus
colaboradores, apresentados no Quadro 1:
Número
do
critério
Critérios – Parâmetros – Categorias de Mediação
1
Mediação de Intencionalidade e reciprocidade
2
Mediação do significado
3
Mediação da transcendência
4 Mediação do sentimento de competência
5 Mediação do controle do comportamento
6 Mediação do comportamento de compartilhar
7 Mediação da individuação e diferenciação psicológica
8 Mediação da busca de objetivos e metas
9 Mediação do desafio: a busca da novidade e da complexidade
10 Mediação da conscientização do ser humano como mutável
11 Mediação da busca de alternativas otimistas
12 Mediação do sentimento de pertencimento
QUADRO 1 – CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO
Critérios de mediação considerados parâmetros universais
A ocorrência da EAM requer a presença de critérios considerados como
parâmetros fundamentais, que devem ser objeto de atenção deliberada por parte do
mediador. São destacados como parâmetros: intencionalidade/ reciprocidade,
significado e transcendência, por possuírem, segundo Feuerstein e Feuerstein
(1994), as condições necessárias para que se possa qualificar uma interação como
EAM.
10
10
Méier (2004, p.37) comenta que, no Congresso Internacional promovido pelo ICELP, na Holanda
em 2001, o décimo critério também foi considerado universal: mediação da conscientização do ser
humano como mutável.
46
Tais parâmetros merecem o destaque, por serem tidos como responsáveis
pelo o que todos os seres humanos têm em comum: a modificabilidade estrutural.
São categorias que tem natureza universal e podem ser encontradas em todos os
grupos sociais independentes de etnia, raça, entidades culturais e condições sócio-
econômicas.
As variáveis situacionais, no encontro mediador-mediado, apresentam
oportunidade para mediar com outros importantes critérios de experiência que
refletem e são diretamente responsáveis pelo processo de diversificação da
humanidade em termos de estilos cognitivos, sistemas de necessidades, motivação,
tipo de habilidades e estrutura de conhecimento.
Os doze critérios mediacionais, afirma R. Feuerstein (2000, p.3), oferecem
oportunidade ao mediador de fazer escolhas planejadas e sistemáticas para explorar
o potencial de mediação em situações para encorajar o funcionamento cognitivo e
estimular a modificabilidade.
A EAM não depende da linguagem na qual a interação ocorre. Segundo R.
Feuerstein (1991), todas as modalidades de interação podem ter qualidade da EAM:
gestual, cinética, mimetismo, exposição a modelos de atividades e, evidentemente,
interação verbal, desde que presentes a mediação dos três parâmetros universais.
Também independe de um conteúdo particular.
O processo de mediação vai além de uma simples e orientada tarefa de um
produto, de uma orientação de aprendizagem, objetiva tornar o indivíduo
capaz de agir independentemente de situações específicas, e isso torna o
aprendiz capaz de se adaptar às novas dimensões com as quais ele irá se
defrontar. (FEUERSTEIN R., 2000, p. 4).
47
- Mediação de Intencionalidade e reciprocidade – Critério 1
Na EAM, o conteúdo específico da interação –
independente de sua importância – é caracterizado
pela intenção não apenas de mediar para o
mediado os estímulos específicos, atividade ou o
relacionamento, mas também de compartilhar esta
intenção do mediado. [...] Reciprocidade é a
maneira de tornar uma intenção implícita num ato
explícito, volitivo e consciente.
(FEUERSTEIN e FEUERSTEIN, 1994)
Intencionalidade/reciprocidade, essa via de mão dupla, é condição
fundamental para que ocorra a EAM, pois representa o estabelecimento do vínculo
entre as partes envolvidas. Na intencionalidade o mediador determina com muita
clareza sua intenção e para tal modifica o estímulo para que este possa ser
compreendido. Muitas vezes a mediação não ocorre por dificuldades do mediador
em transportar e adaptar o estímulo, ou também, por dificuldades do mediado,
devido a não haver reciprocidade.
A interação animada por uma intenção e um esforço para criar uma relação de
reciprocidade pode ser vista como poderosa e rica em componentes
comportamentais, mentais e emocionais. Se expressa sob forma de investimento na
relação e na proposta de mudança no plano cognitivo e afetivo, notório nas atitudes
do aprendiz. Transferindo à escola: professor-mediador e aluno envolvem-se na
perspectiva de transformação da interação.
A reciprocidade torna-se possível quando mediador compartilha, com seu
interlocutor, a intenção que move a proposta de interação: coloca à
disposição do aluno processos didáticos que ele utilizará quando tomar suas
próprias decisões. A reciprocidade manifesta a interiorização do ato de
mediação. Manifesta-se como uma mediação vicariante: nela, o sujeito
torna-se seu próprio mediador.” (DA ROS, 2002, p. 37).
A qualidade dessa interação difere e transforma acontecimento qualquer num
acontecimento mediado. Há grandes diferenças entre o discurso do professor
48
quando simplesmente transmite instruções e propõe conteúdos acadêmicos daquele
que os medeia para o aluno.
A intencionalidade transforma os três parceiros envolvidos na interação: o
mediador, o mediado e o quê estão sendo mediados, afirmam Feuerstein e seus
colaboradores em diversas obras. Certas características do acontecimento
específico são alteradas de tal maneira que ele passa a ser experimentado pelo
mediado. A amplitude, a tonalidade e o destaque são modificados para que o
estímulo deixe de ser registrado por acaso e garanta que seja observado percebido.
Ao alterar o estímulo o mediador muda a si mesmo, estabelecida a reciprocidade o
aprendiz transforma-se.
Pode-se resumir esse critério em: eu quero que você aprenda e eu aceito que
me auxilie a aprender.
- Mediação do Significado – Critério 2
[...] mediar pautado na categoria significado implica
não só o envolver-se na tarefa no âmbito da
motivação, do interesse, da relevância e do
esclarecimento dos objetivos implícitos e explícitos
do estudo, mas o rompimento com formas
mecânicas de aproximação. Trata-se de
possibilitar o acesso às funções cognitivas
superiores, uma vez que abre aos signos levando-
se em conta os fatores sociais e culturais que se
manifestam na mediação.
(DA ROS, 2002, p. 38)
A mediação de significado trata principalmente da dimensão energética da
interação. O afeto ou poder emocional que o mediador coloca no estímulo e que
permite a interação mediacional vencer a resistência por parte do aprendiz, criando
mais condições para que o sujeito sinta necessidade de lidar com o objeto.
Responde as perguntas por que e para que.
49
Destacam-se dois papéis importantes da mediação de significado: determina
a qualidade da interação e sua força formativa. O primeiro refere-se em tornar
eficiente a proposição do mediador de transmitir ao mediado o acontecimento do
estímulo, a relação e os conceitos que são objetivos da interação. A busca de
superar o “deve” ser aprendido pelo “deseja” ser aprendido, ou seja, a força dinâmica
do significado que garante que o objetivo será atingido.
O mediador percebe a necessidade de buscar significado é o segundo papel
dessa categoria de mediação. Com tal percepção, o aprendiz estará direcionando
sua energia à procura de relações além das propostas pelo mediador, assim sendo,
a qualidade transcendental dessa mediação, em relação à orientação da procura
pelo significado, tem importante efeito na modificabilidade cognitiva estrutural e na
ampliação contínua do seu sistema de necessidades.
Os “significados” mediados um dia por um adulto podem ter sido esquecidos
há muito tempo ou podem ter sido transformados pelo indivíduo, em virtude
de sua personalidade ou das mudanças da cultura na qual ele vive, mas a
necessidade de orientação de procurar o “significado” que lhe foi dada por
seu mediador torna-se uma condição para sua existência. Indivíduos
privados dessa orientação e que não procuram por significado levam
desvantagem em muitos aspectos: cognição, emoção, e em toda a
dimensão energética e motivacional de sua vida. [..] Sem significado e sem
necessidade de procurá-lo, a existência se manifesta como uma maneira de
“matar” o tempo que passa. (FEUERSTEIN, R., FEUERSTEIN, S., 1994,
p.21)
Ler além das aparências daquilo que a realidade apresenta relaciona-se ao
segundo papel desse critério. Buscar os significados implícitos do conteúdo proposto
gera autonomia nos aprendizes que superam a leitura ingênua de mundo e não
ficam a mercê da manipulação.
Parece uma afirmação corriqueira dizer que o ensino deve ser significativo,
mas a proposição do significado como estruturante cognitivo e afetivo é um dos
saltos qualitativos proposto pela abordagem em estudo. Chama a atenção para o
50
empobrecimento das interações na atualidade perdidas num esvaziamento, em
muitas vezes ocasionadas pelo receio da imposição do significado do mediador –
dogmatismo ou doutrinação, nas quais se fica amarrado no momento. A ausência da
mediação de significado afeta mediador e mediado. Sem a percepção dessa
necessidade os vínculos afetivos emocionais ficam fragilizados. Inclusive o vínculo
com o objeto de ensino-aprendizagem.
Reside nessa mediação a transmissão mediada de valores, atitudes culturais
e pessoais do mediador ao mediado. Afirma C. Gomes (2002, p.89) que é o fator da
interação que mais mobiliza o aspecto afetivo, envolvendo toda a crença de mundo
do mediador e do mediado.
Ao ensinar um conceito, um valor, uma forma de fazer, destaca Méier (2004,
p. 45), o mediador não apenas explica o conceito em si. Redimensiona dentro de
uma estrutura de valores, crenças e ideais permitindo que o mediado entenda o
conceito e as inter-relações que mantém com outros conceitos inseridos em outros
contextos, teorias ou momentos históricos.
Encontramos semelhança da mediação de significado, sob a constituição da
mesma na perspectiva do mediado, no conceito de um relacionamento produtor de
sentido exemplificado por González Rey (2004, p.18):
[...] um relacionamento produtor de sentido com os pais torna-se uma via
essencial para o desenvolvimento moral da criança, do adolescente e
também do jovem, como do adulto, pois aspectos diferentes do
comportamento dos pais vão gerando uma significação diferente para a
vida dos filhos. Assim quando uma relação é produtora de sentido, esses
novos aspectos do outro podem transformar-se em elementos de
desenvolvimento da esfera moral, profissional, inter-pessoal, política, entre
outros. O outro é significativo no desenvolvimento humano apenas como
portador de sentido subjetivo.
A proposição de uma síntese para este parâmetro mediacional tão rico pode
ocasionar uma visão simplista. Porém, encontra-se na expressão: “Aprender é
51
ampliar o significado da vida”, proferida por Abenhaim (2000, p.7) abertura para
multiplicidade de reflexões e a riqueza que mediar significado possibilita.
- Mediação de Transcendência – Critério 3
Se der de comer a uma criança, respondo a uma
necessidade imediata. Porém, se organizo a
entrega dos alimentos e o ato de comê-los, de tal
maneira que ensine à criança como comer amanhã
ou quando seja maior, a interação será muito
diferente. Não me interessa simplesmente que a
criança se alimente e sobreviva, mas que sua ação
de comer adquira um significado para toda sua
vida. E não somente para ele, para a geração
seguinte também.
(FEUERSTEIN, R., 1989, p.137)
O termo transcendência não possui conotações místicas, refere-se a
transferências, significa mediar às diversas possibilidades que vão além do aqui e
agora. Ou seja, possibilitar a análise das diversas aplicabilidades, não deve ser
pontual, restrito a uma única situação ou contexto, mas passível de aplicação,
precisa ser capaz de ser útil e integrável a outras estruturas conceituais, outros
saberes, outros momentos da vida do aprendiz e em outros contextos.
O princípio da transcendência de uma experiência de atividade mediada
significa que os objetivos do mediador não estão limitados à ação que provoca
interação, mas estão dirigidos ao que está mais adiante, são mais distantes.
[...] as mediações alargam o campo de conhecimento do aluno, incluindo
não só a informação ou a necessidade imediata, mas uma rede de relações
que contempla as próprias experiências do aluno, a de seus pares, os
conteúdos científicos e populares, a dimensão presente, passada e futura
do conhecer. Isso permite ao indivíduo situar-se – e situar seu objeto de
estudo – no tempo e no contexto histórico social, ampliando sua visão e
seu leque de sentidos e significados. Outra característica das experiências
de atividade mediada é que ela é fonte de significação contínua e intensiva,
referindo tanto aos aspectos emocionais como lógicos e cognitivos da
interação, o que impulsiona o aprendiz para etapas mais elevadas de
desenvolvimento. (DA ROS, 2002, p.37-38)
52
Como propõe a síntese apresentada por Tribus (2000, p. 7) a respeito dos
estudos de Meir Ben-Hur, a mediação de transcendência ocorre em patamares
distintos. Um refere-se à possibilidade de auxiliar na ramificação lateral: na aplicação
de princípios e regras conhecidos a variados problemas e/ou contextos. Noutro
nível, apresenta-se como auxílio no desenvolvimento de regras e princípios a partir
das experiências e assim equipa o aprendiz para que possa desenvolver novas
ferramentas e na ampliação do contexto de sua aplicabilidade. As lições aprendidas
a partir da experiência aparecem em nosso cérebro na forma de estruturas neurais,
ou seja, como conexões persistentes entre os neurônios, portanto, formadoras de
estruturas.
Uma situação de aprendizagem nunca se restringe às necessidades
imediatas. O mediador deve considerar o passado, isto é, as experiências anteriores,
bem como o futuro, considerando e alertando para situações novas que ainda estão
para acontecer.
A necessidade de transcender o caráter imediato da existência de alguém
resulta nas técnicas e expressão operacional usada por cada “cultura” na
sua dedicação em transmitir-se às gerações seguintes e assegurar, desta
maneira, sua perpetuidade. É pela transcendência que culturas passam das
necessidades físicas, imediatas e individuais, para a sobrevivência e
conquistam os objetivos coletivos da existência que, para o grupo, tomam
forma de expressão “espiritual”. (FEUERSTEIN R., FEUERSTEIN S., 1994,
p.17)
Os humanos são únicos em sua habilidade de ter uma experiência em
domínio da vida, para extrair a partir da experiência e então aplicar aquelas
lições a um domínio inteiramente diferente de sua existência. Muitos animais
podem treinados para responder a uma dada situação, mas os humanos são
sozinhos em sua habilidade de retirar uma lição de uma experiência num
determinado momento e local, transmitir a sua prole as lições aprendidas e
ver a sua prole aplicar num novo momento e local. (TRIBUS2000, p.5)
Percebe-se que a transcendência é um aspecto tipicamente humano, que
possibilitou analisar a relação entre presente/passado/futuro, na qual reside a
capacidade de planejar, projetar e projetar-se.
53
- Mediação do sentimento de competência – Critério 4
Não basta ser competente, é preciso sentir-se
competente
.
A complexidade do sentimento de competência do ser humano é comentada
por C. Gomes (2002, p. 94) que elenca três aspectos:
. Pode ser construído através de sua capacidade para agir-nos diversos
ambientes: ações competentes elevam o sentimento de competência.
. Pode ser definido também pelo impacto de suas ações nas pessoas que o
cercam. As impressões, os comentários, os sentimentos das outras pessoas
em relação ao indivíduo têm papel relevante na definição do sentimento de
competência de alguém.
. Embora os dois primeiros aspectos digam respeito aos feedbacks
objetivos, percebidos diretamente através da competência das ações, há um
terceiro fator subjetivo, que diz respeito à auto-estima interna da própria
pessoa. Uma auto-estima muito baixa faz com que a pessoa tenha um baixo
sentimento de competência, mesmo sendo competente e tendo o apoio e a
admiração das pessoas ao seu redor.
A resposta do meio do sujeito que não aprende é uma imagem desvalorizada
de si mesmo. Embora possa ser o efeito inconsciente buscado por seu contexto
social, a imagem provocada redunda dialeticamente no deterioramento do aprendiz
que deve assumi-la. Nessa relação estabelecida por Paín (1992, p.77) encontra-se
semelhança na proposição dos dois primeiros aspectos citados.
Tratando-se de um sentimento internalizado, cabe ao mediador preparar o
mediado, instrumentalizá-lo para possibilitar a emergência dessa capacidade de
olhar para si mesmo e perceber-se como alguém competente. A promoção dessa
característica tão importante ao desenvolvimento saudável do ser humano não
ocorre por meio de falsos elogios e da supervalorização de atitudes. É necessário
que o aprendiz olhe para si e perceba seus ganhos reais e que experimente o
sucesso.
54
Ao abordar a intervenção psicopedagógica, Paín (1992, p.77) propõe a
procura de “devolver ao sujeito à dimensão de seu poder – poder escrever poder
saber, poder fazer -, para que dê crédito às potencialidades de seu ego (yo)” - como
forma de tratamento. A confiança conquistada no exercício da aprendizagem auxilia
na diminuição de comportamentos fóbicos e obsessivos, melhorando a linguagem do
corpo na expressão de suas próprias experiências.
É pela via da experimentação do êxito que se pode conquistar o sentimento
de competência. Ao oportunizar ao aprendiz conquistas reais, de acordo com suas
capacidades, o mediador contribui para que desenvolva um sentimento positivo em
relação a si mesmo. Algumas condições devem ser levadas em conta para que tal
contribuição possa efetivar-se: a seleção de atividades adaptadas ao que o mediado
sabe e ao esforço que se requer para alcançar o êxito; o trabalho com os pré-
requisitos necessários; estímulo à percepção de situações onde o mediado possa
desenvolver maestria; a repetição, de forma criativa, que pode ajudar a desenvolver
maestria; promoção do feedback sobre o êxito com reflexão dos motivos que o
ocasionaram; análise do processo mental que contribui para o êxito; o entendimento
das condições de êxito permite que o mediado possa estabelecer relações com êxito
em outras situações.
“A escola deveria ser um lugar especial de experiências de sucesso, de
realizações pessoais, de conquistas alcançadas, de desenvolvimento de uma auto-
imagem positiva e real.” (MÉIER, 2004, p. 47). Porém, as experiências de sucesso,
por si, não garantem o desenvolvimento do sentimento de competência. Ao mediador
cabe interpretar para o aprendiz o significado de seus sucessos.
[...] a consciência de que o sucesso não veio por acaso, mas que foi fruto
de ações realizadas pelo sujeito e que a capacidade para realizar tais
ações fazem parte do repertório pessoal possibilita o desenvolvimento do
sentimento de competência. (MÉIER, 2004, p. 47-48)
55
Embora não se encontre nas obras sobre EAM referência a tal, acredita-se
que só pode mediar sentimento de competência no outro aquele que o tenha para si.
O ponto de partida para ser mediador é acreditar-se capaz de contribuir como o
outro, sentir-se com autonomia para desenvolver autonomia nos outros. Ser
mediador na proposta em EAM exige percepção, tomada constante de decisões e
atuação imediata. Nessa perspectiva, pode assumir-se mediador quem não se
acredita competente?
- Mediação da regulação e controle do comportamento – Critério 5
[...] a regulação da conduta inclui a redução da
impulsividade da criança, a introdução de uma
freqüência diferente da direção e do ritmo da
conduta, da programação do tempo e espaço.
Seguramente, o aspecto mais importante é o
desenvolvimento de uma posição de controle
interna. Orienta-se à criança a tomar suas próprias
decisões e a ser cada vez mais responsável por
seus atos. (R. FEUERSTEIN, 1989, p. 139).
A regulação e controle do comportamento, na proposição R. Feuerstein e S.
Feuerstein (1994, p.37), consiste na existência de dois pólos antagônicos: a inibição
– em que o sujeito permanece sem ação, fica “estacado”, parado ante a necessidade
da ação e o oposto: a iniciação do comportamento – em que o sujeito começa a
atividade, a realizar a ação sem que haja qualquer tipo de reflexão, ou de
planejamento.
A mediação deste critério auxilia o indivíduo na flexibilidade e na plasticidade
necessárias para modificá-lo no tocante à inibição e à iniciação. Por meio da
orientação do indivíduo para auto-reflexão, propicia o retorno necessário para
tomada de decisões relativas à propriedade e impropriedade de certas condutas em
situações específicas. (FEUERSTEIN R. e FEUERSTEIN S., 1994, p.38).
56
Dois elementos principais são elencados pelos autores para a mediação de
regulação de conduta referentes ao aspecto cognitivo. Um diz respeito à criação de
funções cognitivas que serão usadas na coleta de dados necessários à tomada de
decisão e permitem o estabelecimento de uma orientação metacognitiva. Outro
elemento, o estabelecimento analítico da metacognição, consiste na avaliação
conjunta dos dados colhidos e na competência avaliada do sujeito seguida por uma
avaliação do evento específico.
O autocontrole, ou auto-regulação, [...] em estreita relação com os critérios
anteriores, é fundamental para a constituição do sujeito autônomo, tanto no
plano interpsíquico (quando começa a aparecer a possibilidade de mediar a
conduta nos dos pares coletivos), quanto na individual (quando o sujeito é
mediador de si mesmo – interiorização). O lema do “UM momento, deixe-
me pensar” do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), é um
exemplo e como esse critério [...] pode atuar como auxiliar para mitigar a
ansiedade gerada pelo sentimento de fracasso e controlar a impulsividade,
permitindo investir na aprendizagem. (DA ROS, 2002, p. 38).
Considerando a natureza da adaptação humana exigidas pelas condições de
vida da atualidade impostas pelas mudanças tecnológicas, torna-se de importância
vital a mediação baseada em componentes cognitivos e metacognitivos. Portanto,
urge a reflexão frente às metodologias educacionais baseadas no ensino apostilado,
ou baseadas apenas na exposição direta aos estímulos.
- Mediação do comportamento de compartilhar – Critério 6
O professor, na condição de mediador, assume o
compromisso não só de socializar a informação,
como disponibilizar os processos cognitivos
socialmente produzidos. Assim sendo, o
compartilhar possibilita a gratificação de pesquisar,
de pensar por relações, de elevar o nível e a
extensão do conhecimento, de poder considerar
pontos de vista diferentes do seu e de pensar a
produção do seu próprio pensamento.
(DA ROS, 2002, p.38)
57
O comportamento de compartilhar refere-se ao encontro dos sujeitos numa
ação de troca, de inter-relação que conduz cada indivíduo para fora do seu mundo
egoístico e, por outro lado, permite também que os outros participem da sua forma
de pensar e de agir. Na mediação do comportamento de compartilhar as trocas
refere-se a aspectos cognitivos - metacognitvos, afetivos – emocionais e culturais.
Nela a possibilidade não só do conhecimento mútuo, como também, o desvelamento
dos processos cognitivos do outro. As dificuldades e ganhos partilhados
transformam-se em aprendizagem para todos, oportuniza-se a aprendizagem a partir
da experiência do outro.
O mediador não é um mero expectador que orienta as ações dos mediados,
pois compartilha seus próprios modos de agir, sentir e pensar. Também não é um
dominador ou conhecedor autoritário que impõe a sua visão aos demais.
Compartilhar possibilita ver os outros por sua própria voz e conhecer o mundo com o
seu olhar, não estagnando as possibilidades de visões mais amplas: o outro é um
campo rico para abertura do não pensado, não vivido, não sentido e não aprendido.
O encontro de gerações e culturas diferentes, a diversidade de sujeitos.
E por ser humano precisa aprender a compartilhar e não apenas impor idéias.
Para isso precisa aprender a compartilhar, a debater. Paulo Freire diz: “A educação é
um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise
da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”.
(MÉIER, 2004, p. 50).
- Mediação da Individuação e diferenciação psicológica – Critério 7
O sentimento de diferenciação e demarcação do
espaço pessoal, seja no campo social, cívico ou
psíquico, é profundamente trabalhado nessa
perspectiva mediacional. Ele é um fator de
58
ativação do plano identificatório, em que a
subjetividade e o limite do eu são considerados.
(C.GOMES, 2002, p. 98)
O processo de individuação, na perspectiva da EAM, representa a
necessidade do indivíduo de tornar-se único, especial, diferenciado dos demais
sujeitos com os quais compartilha e é fortemente influenciado por determinantes
sociais.
A categoria subjetividade desenvolvida por González Rey (2004) assemelha-
se ao proposto por Feuerstein e seus colaboradores como categoria da diferenciação
e individuação psicológica.
[...] a subjetividade é um sistema complexo que tem dois espaços de
constituição permanente e inter-relacionada: o individual e o social, que se
constituem de forma recíproca e, ao mesmo tempo, cada um é constituído
pelo outro. Dessa forma, rompe-se definitivamente com a idéia de um
indivíduo isolado, naturalizado. A concepção histórico-social do indivíduo é
aquela que reconhece como subjetivamente constituído, na medida em que
a condição rompe com a definição natural e, ao mesmo tempo, não dilui em
uma determinação social linear e imediata. Nessa determinação é
impossível distinguir entre processos de ordem social, nos quais se produz a
ação individual e os processos psíquicos individuais que são constituintes
dessa ação. (GONZÁLEZ REY, 2004, p. 141).
Não se tratar apenas do sujeito transparente e consciente defendido pela
filosofia moderna do sujeito, mas sim do sujeito concreto, criativo e subjetivamente
constituído que não é apenas um ser discursivo. É, todavia, capaz de posicionar-se e
gerar sentidos diferenciados frente aos diferentes espaços simbólicos em que se
desenvolve na sociedade que vão da massificação ao individualismo.
O trabalho coletivo promovido pela escola pode acarretar na massificação dos
sujeitos, se desconsiderada e não estimulada a identidade individual e viabilizada a
oportunidade de manifestar-se com autenticidade, com criatividade. Um dos maiores
problemas das instituições atuais, segundo González Rey (2004, p. 174), é a
impossibilidade de assimilar em sua riqueza as lógicas diferenciadas dos sujeitos as
59
integram. As instituições, “ao invés de facilitarem a expressão criativa ao sujeito,
tentam domesticá-lo a qualquer custo, assimilando-o a um igualitarismo absurdo que
não responde a suas possibilidadesdiferenciadas e sim a um direito padronizado”.
A mediação da diferenciação individual psicológica é marcada por auxiliar o
mediado a destacar-se do todo, sem significar isolar-se do todo, pois só pode
diferenciar-se quem pertence a algum contexto. “Portanto o mediador deve enfatizar
e questionar a posição do mediado em sua comunidade e nação, assim propiciar
questões que remetem à própria identidade”. (GOMES, C., 2002, p.98).
- Mediação do comportamento de busca de objetivos e metas – Critério 8
A mediação do ato de buscar o conhecimento, de
planejar e de alcançar novos objetivos implica
liberar as amarras da percepção episódica da
realidade. Significa apropriar-se da possibilidade
de estabelecer, para si, metas que instiguem a
compreensão, buscando níveis cada vez mais
abstratos de processamento de conhecimento.
(DA ROS, 2002, p.39)
Um importante papel é desempenhado por este parâmetro no
desenvolvimento da modificabilidade, flexibilidade e propensão a aprender do ser
humano. Escolher um objetivo e procurar alcançá-lo requer ampliação da esfera de
experiência de alguém por meio da entrada num mundo que está além da realidade
sensorial imediatamente percebida, ultrapassa o “aqui e agora”.
Quando uma criança desenvolve esse tipo de comportamento, ela consegue
com maior facilidade adiar a satisfação do prazer e, portanto, não age apenas pela
gratificação imediata de suas ações. Percebe a importância da mobilização energia e
ferramentas suficientes para materialização de seus objetivos. (FEUERSTEIN R. e
FEUERSTEIN S., 1994, p.44).
60
A utilização constante de reforços, com prêmios concretos desloca o foco da
aprendizagem como conquista em si mesma, e habitua o aprendiz a esperar por
ganhos secundários. O sujeito da aprendizagem passa a buscar fora de si à notícia
de sua aquisição, do seu sucesso e deixa “de atender o sinal interno de satisfação,
que provém do equilíbrio da lógica, segundo Freud, ou do exercício de uma
operação equilibrante, segundo Piaget”, argumenta Paín (1992, p. 82).
Desloca-se o foco do objeto da aprendizagem para o ganho do reforço. Tal
conduta reflete o modelo consumista, capitalista atual, onde o ganho interno é
substituído por algo externo, material, no qual se deve ter algo a ganhar
objetivamente para aplicar a energia na aquisição - um sistema de trocas fixado em
perdas e ganhos revelados pelo prêmio dado pelo outro.
A apatia frente à aprendizagem escolar relaciona-se, em vários aspectos, com
a ausência de objetivos e metas, ou a dificuldade do estabelecimento de vínculos
dos conteúdos com a vida futura. O mundo do imediatismo, da provisoriedade pouco
contribui para despertar para a escolha de objetivos mais amplos. A não preservação
do meio ambiente, o consumo do supérfluo, entre tantos outros problemas atuais,
reflete a não disposição de ver além do momento presente.
A necessidade de enxergar o ambiente como uma entidade previsível que
permite a alguém planejar sua conduta e oferece um grau de segurança que garanta
que tais planos possam, de fato, ser executados. A importância, portanto, de mediar
a busca de objetivos e metas é indiscutível.
Uma história apresentada por R. Feuerstein e S. Feuerstein (1994, p. 44-45)
ilustra o valor transcendental dos objetivos, dos planos e dos atos necessários para
consegui-los. Conta-se que um velho homem está plantando uma árvore chamada
Johannes bread. Alguém que passava pelo local pergunta: “Porque o senhor está
61
plantando está árvore? Sabe que não poderá comer seus frutos que levarão setenta
anos para nascer.” Ele responde: “Sim, mas se meus pais não tivessem feito o que
agora estou fazendo, provavelmente não teria tido a possibilidade de saborear essa
fruta”.
- Mediação do desafio: a busca da novidade e da complexidade – Critério 9
A complexidade, como categoria de exigências
intelectuais cada vez maiores, instiga também a
querer saber mais e a querer procurar relações
entre os novos conteúdos estudados. A mediação
de curiosidade intelectual sustenta a necessidade
de projetar, investigar, debater. Aliam-se ao ato
intelectual o prazer de conhecer e a gratificação de
enfrentar o novo, desvelando os segredos do
saber.
(DA ROS, 2002, p.39)
A disposição para aprender e a procura de passar do estágio conhecido para
o desconhecido é uma necessidade inquestionável num mundo de mudanças
constantes. A propensão a confrontar-se com a novidade e a complexidade
desafiadoras, em vez de desistir, é vital para uma adaptação aos desafios da
atualidade, a mediação desenvolve um papel importante na sua concretização.
Portanto, a mediação do comportamento desafiador deve ser o objetivo da educação
que vise o preparo do indivíduo para a complexidade de nosso mundo.
A organização de atividades que permitam ao aprendiz depara-se com
situações novas de maneira gratificante é o ponto de partida para mediação do
desafio. O grau de desafio da tarefa é difícil relaciona-se a dois eixos: a familiaridade
e a complexidade que resultarão na sua facilidade ou dificuldade. (FEUERSTEIN R.,
FEUERSTEIN S., 1994, p.45). Algo muito alheio ao já conhecido não fornece
possibilidades de estabelecer relações e pode não despertar a necessidade de
62
investir na sua descoberta, por outro lado, algo muito familiar também não apresenta
como desafio. Esse eixo é subjetivo, depende do sujeito e de suas experiências
anteriores com aquele tipo de tarefa.
No eixo da complexidade, o nível da mesma é determinado pelo número de
unidades, subgrupos e grupos e suas interações presentes na tarefa. A simplicidade
é a proposição um pequeno número de unidades e interações entre elas. Os dois
extremos podem inibir a busca pelo desafio.
Alunos desafiados a aprender certamente investirão maiores esforços na
conquista dos objetivos de aprendizagem. O sentimento de desafio está
ligado ao de motivação interna. Alunos desmotivados tendem a não
aprender o quanto poderiam. Atuam em níveis medíocres. (MÈIER, 2004,
p.54).
- Mediação da conscientização do ser humano como modificável – Critério 10
-Todos os seres humanos são modificáveis.
- Esta criança específica que estou educando
(qualquer uma que poderíamos talvez duvidar da
modificabilidade) pode ser ajudada a modificar-se.
- Eu próprio sou um mediador capaz de,
efetivamente, ajudar essa criança a modificar-se.
- Eu mesmo sou modificável.
- A Sociedade, e a opinião pública, na qual estou
inserido, pode ser modificada por mim ou por
qualquer outro indivíduo inserido nela.
(R. FEUERSTEIN, 1997, p.5)
A conceituação de modificabilidade e suas implicações, o sistema de crenças
que a norteiam foram apresentados de forma ampla na parte inicial deste capítulo. A
percepção desta característica pelo mediador e pelo mediado são fundamentais para
a ocorrência da EAM.
A superação da crença geral na cristalização e na estabilidade do ser humano
necessita ser mediada. Perceber-se capaz de modificabilidade influencia fortemente
a visão de si mesmo e modifica a história de vida. A crença na modificabilidade pode
tornar-se um poderoso determinante de mudanças no indivíduo com dificuldades,
63
tendo como objetivos auxiliar o aprendiz a manter-se afastado das mudanças para
pior e ajuda-lo a reestruturar sua reabilitação e seu re-desenvolvimento.
(FEUERSTEIN R., FEUERSTEIN S., 1994, p. 46).
Com relação à escola, os mesmos autores (p. 47), observam que “na
ausência de crença na modificabilidade, ou na relutância de engajar-se num
processo aplicativo o sistema educacional se torna anêmico e manifesta uma atitude
passiva quando aceita o sujeito tal como ele é”. Chega ao extremo de rejeitá-lo por
não corresponder às expectativas.
A mediação da conscientização do ser humano com modificável torna-se uma
fonte de potencialização. Pode incentivar não só o indivíduo, mas os educadores e a
sociedade na busca de procurar por sinais de mudanças e crédito nos indivíduos,
bem como promover a organização de fatores ambientais e relacionais que possam
contribuir para a modificabilidade.
- Mediação da busca por alternativas otimistas – Critério 11
Não bastam palavras bonitas, é preciso abrir
caminhos de esperança, propor alternativas
realistas e soluções válidas para os problemas da
greve, da droga, do terrorismo, da marginalidade,
entre outros. Essa autêntica revolução deve nascer
na escola, onde se tem consciência do futuro que
nos espera.
(BELMONTE, 1994, p.14)
A mediação de uma alternativa otimista, quando iniciada nos primórdios do
desenvolvimento do indivíduo, propicia a antecipação de resultados positivos que
são levados para a vida toda; favorecendo um estilo de vida que pode alterar o
mecanismo aloplástico, especialmente a defesa frente a fatores ambientais que
ameaçam o equilíbrio físico, mental e emocional do indivíduo. Possibilita o aumento
do mecanismo autoplástico, permitindo o desenvolvimento de estratégias cognitivas
64
que permeiam as grandes soluções produzidas pela mente humana. (FEUERSTEIN
e FEUERSTEIN, 1994, p. 48-49).
Concorda-se com Belmonte (1994, p.14), ao propor a escola como um local
que deve objetivar criar condições positivas no indivíduo, incentivando-o a vislumbrar
novas possibilidades de êxito. Uma visão otimista de vida cria no indivíduo
mecanismos para superar as dificuldades, contribui para a criatividade e para a
experimentação de novas alternativas, amplia os horizontes.
- Mediação do sentimento de pertencimento – Critério 12
Não se pode estar diretamente ligado à entidade
cósmica. [...]
Para nos sentirmos seguros em nossas aventuras,
necessitamos um marco de referência estável. [...]
Apegamos-nos primeiro a um objeto muito
conhecido com o qual desenvolvemos vínculos
emocionais organizados.
Se estivermos bem inseridos na família, podemos
ir com facilidade desta ao segundo círculo, à
comunidade, e desta à nação, e logo à
humanidade.
(R. FEUERSTEIN, 1989, p. 150-151)
A mediação do sentimento de pertença é influenciada pelo ambiente cultural.
O modo como o indivíduo faz parte de um grupo e relaciona-se com a sociedade
varia de cultura para cultura. Vai da defesa extrema da privacidade, nas sociedades
tecnológicas modernas, que criam uma propensão limitada de tornar-se parte de
uma entidade maior. No outro extremo estão sociedades tradicionais rígidas que
transmitem a necessidade de pertencer como prioridade, levando o indivíduo a
abandonar sua liberdade e a expressão de sua própria individualidade como preço
por fazer parte do grupo. (FEUERSTEIN e FEUERSTEIN, 1994, p.47).
A emergência da mediação do sentimento de pertença tem diversos fatores.
A depredação da escola e dos demais ambientes públicos, a apatia frente às
65
decisões políticas, a destruição do meio ambiente serão feitas por indivíduos que se
sentem parte destes contextos? A geração de indivíduos “gelatinas” que se moldam
conforme o “pote”, a mercê da propaganda ou das exigências do primeiro grupo que
queira acolhê-lo, desestruturação familiar, a apatia frente a realidade, entre tantos
outros aspectos apontam para a importância particular do desenvolvimento do
sentimento de pertencer.
1.4 O MAPA COGNITIVO: SÍNTESE ORIENTADORA E INSTRUMENTO DE
ANÁLISE
O mapa cognitivo relaciona-se com os sistemas aplicativos fundamentados na
MCE e na EAM desenvolvidos por R. Feuerstein e seus colaboradores: o Método de
Avaliação do Potencial de Aprendizagem (LPAD) e o Programa de Enriquecimento
Instrumental (PEI). O primeiro é um método de avaliação cognitiva, enquanto o
segundo é um programa de intervenção cognitiva.
Sobre a criação de tais sistemas por R. Feuerstein, Da Ros (2002, p.23)
comenta:
Suas primeiras inquietações aparecem, sobretudo, em função da avaliação
das crianças imigrantes [...] por isso cria o LPAD (Estratégias de Avaliação
do Potencial da Aprendizagem) antes de seu programa pedagógico, o qual
advém dos novos postulados ligados ao potencial de desenvolvimento. [...]
O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) surge depois dos estudos
da avaliação do potencial, quando iniciou o trabalho com crianças imigradas
que traziam consigo perdas e privações de toda ordem, marcas da guerra,
do holocausto.
A relação e diferenciação entre mapa cognitivo, PEI e LPAD são explicitadas
por C. Gomes (2002). O mapa cognitivo tem a função de propiciar ao mediador
parâmetros de análise dos materiais ou instrumentos operacionais. É um modelo de
análise do ato mental que permite conceitualizar a relação entre as características de
uma tarefa e o rendimento do sujeito, que objetiva orientar a aplicação do PEI.
66
Conforme nos apontam Feuerstein e seus colaboradores (1993), O mapa
cognitivo não é um processo diagnóstico da condição cognitiva do indivíduo,
tal como o LPAD, mas o seu reverso, já que promove a análise dos
materiais mentais, se o LPAD fornece a análise clínica de uma pessoa ou
grupo, o mapa cognitivo oferece a análise cognitiva dos requisitos
processuais de quaisquer tarefas envolvidas nas atividades humanas.
(GOMES, C., 2002, p. 203).
Para entender a origem da deficiência cognitiva, propõe R. Feuerstein (2000):
Faz-se necessária uma análise das características da tarefa para a qual o
indivíduo foi convidado a responder. Tal análise é realizada com a ajuda do
mapa cognitivo no qual elementos críticos requerem do indivíduo respostas
relevantes para o que é solicitado nas tarefas. Os componentes da tarefa
interagem com as funções cognitivas na elaboração e na produção de
respostas que podem ser adequadas, apropriadas, facilitando o aprendizado
e a solução de problemas, ou combinadas, o que poderá gerar falha,
inadequação ou ineficiência de desempenho.
Na proposição acima constatamos a utilização do mapa cognitivo na
orientação do programa interventivo, que está direcionado, a priori, à correção de
funções deficientes ou em desuso, que caracterizem o indivíduo que tem problemas
de aprendizado e modificabilidade reduzida. No entanto, qual sua contribuição no
contexto pedagógico?
1.4.1 Parâmetros do Mapa Cognitivo
O Mapa Cognitivo pode tornar-se uma ferramenta fundamental, como propõe
Belmonte (2005), constituindo-se em uma espécie de metáfora topográfica que
decepciona os elementos e as etapas que um educador deve levar em conta quando
quer ensinar algo a alguém. Inclui sete parâmetros que possibilitam a análise da
tarefa, bem como, a interpretação do rendimento do estudante. O manejo destes
parâmetros atribui um papel muito importante na interação do professor - aluno, na
medida em que servem para validar as hipóteses relativas às dificuldades do sujeito.
67
PARÂMETROS DO MAPA COGNITIVO
A – Tema – conteúdo
B – Modalidade ou linguagens expressas
C – Funções Cognitivas
Fase de entrada (input)
1. Percepção clara e precisa.
2. Comportamento exploratório
sistemático.
3. Uso de vocabulário e
conceitos apropriados.
4. Orientação espacial eficiente.
5. Orientação temporal
eficiente.
6. Constatação constância e
permanência do objeto.
7. Coleta de dados com
precisão e exatidão.
8. Consideração duas ou mais
fontes de informação
simultaneamente.
Fase de elaboração
1. Percepção do problema e
sua definição clara.
2. Distinção dados relevantes e
irrelevantes.
3. Utilização conduta
comparativa.
4. Percepção global da
realidade.
5. Ampliação do campo mental.
6. Busca de evidências lógicas.
7. Interiorização do próprio
comportamento.
8. Exercício do pensamento
hipotético inferencial.
9. Planejamento de estratégias
e verificação de hipóteses.
10. Adoção de conduta
planificada.
11. Elaboração de categorias
cognitivas.
12. Aplicação conduta
somatória.
13. Facilidade em estabelecer
relações virtuais
Fase de saída (output)
1. Comunicação
descentralizada (não
egocêntrica)
2. Projeção de relações virtuais.
3. Expressão de respostas sem
bloqueios.
4. Respostas corretas (sem
ensaio e erro).
5. Uso de instrumentos verbais
adequados.
6. Precisão e exatidão na
comunicação das respostas.
7. Eficácia no transporte visual.
8. Conduta controlada e não
impulsiva.
D – Operações Mentais
1. Identificação
2. Comparação
3. Análise
4. Síntese
5. Classificação
6. Codificação
7. Decodificação
8. Projeção de relações virtuais
9. Diferenciação
10. Representação mental
11. Transformação mental
12. Raciocínio divergente
13. Raciocínio hipotético
14. Raciocínio transitivo
15. Raciocínio analógico
16. Raciocínio progressivo
17. Raciocínio lógico
18. Raciocínio silogístico
19. Raciocínio inferencial
E – Nível de Complexidade
F – Nível de Abstração
G – Nível de Eficácia
QUADRO 2 - PARÂMETROS DO MAPA COGNITIVO
68
O tema refere-se ao conteúdo sobre o qual se centra o ato mental. A
competência de individuo e seus conhecimentos de uma matéria específica estão
ligados diretamente a sua experiência passada, história educativa, pessoal e cultural.
Portanto, alguns conteúdos podem ser pouco familiares e exigir uma inversão de
tempo intensa e específica, tanto por parte do estudante como do professor. Como
conseqüência, quando se quer ensinar uma determinada operação cognitiva, o
conteúdo tem um papel muito importante.
As modalidades ou linguagens de apresentação da tarefa afetam o
rendimento do sujeito. Certas tarefas se podem mostrar de forma verbal, numérica,
gráfica, simbólica, pictórica ou por combinações simultâneas.
A adequação das modalidades específicas é distinta para os sujeitos segundo
seu nível de funcionamento, procedência social, econômica, e suas diferenças
individuais. É importante tratar de abordar as tarefas envolvendo a maior quantidade
de modalidades de modo a proporcionar ao sujeito a possibilidade de desenvolvê-las
e expressá-las.
As capacidades ou as disfunções com as quais o aluno enfrenta o processo
de aprendizagem, R. Feuerstein denominou funções cognitivas de entrada,
elaboração e saída. Em primeira instância as relacionadas com o input: se o aluno
vê, se ouve se entende as palavras, se sabe ou não definir o problema, entre outros.
Logo, as da elaboração: como o aluno delineia o problema, como compara como
classifica, como analisa, como tira conclusões, entre outros. e, finalmente as do
output, a resposta, condicionada a todo o processo anterior.
Funções essas, conforme C. Gomes (2002, p. 111), que foram sendo
definidas a partir da influência do construtivismo piagetiano em R. Feuerstein, assim
como de seus estudos sobre a interação das mães com seus filhos.
69
Kozulin enfatiza que, diferentemente à Piaget, o modelo de Feuerstein
define o desenvolvimento das funções cognitivas justamente através da
aprendizagem mediada. Kozulin salienta que no modelo de Feuerstein as
funções cognitivas não se encontram nem totalmente “dentro” do indivíduo,
nem totalmente no ambiente, mas sim na relação entre os indivíduos, no
sentido de que o desenvolvimento das funções cognitivas se alicerça nas
relações interpessoais. O modelo de Feuerstein acompanha o pressuposto
de Vygotsky, no sentido de que toda função cognitiva é tanto uma tendência
biológica interna, como uma influência externa promovida por fatores
culturais canalizadores. (GOMES, 2002, p. 180).
As funções cognitivas deficientes podem ser analisadas à medida que se
manifestam nas três fases do ato mental, permitindo precisar em que nível onde
deve focalizar a aprendizagem do sujeito. Esse conceito é muito importante para o R.
Feuerstein, uma vez que, por meio da análise do ato mental, o mediador pode
determinar onde se encontra a inadequação da resposta.
As fases de entrada e saída podem ser descritas como periféricas, quando
comparadas à fase de elaboração, que se constitui no núcleo do ato mental. As três
fases estão relacionadas e cada uma delas só tem sentido na medida em que está
relacionada com a outra. Embora esta divisão seja artificial, de certa maneira (no
sentido de que a atividade mental entre as fases é indivisível), ela, ajuda tanto no
diagnóstico, quanto na intervenção. As interações de duas ou mais fases são de vital
significado para o entendimento do funcionamento cognitivo.
Ressalta R. Feuerstein (2000) que o fator afetivo-motivacional tem um efeito
significativo nas três fases do ato mental.
Uma mediação inadequada, direcionada a funções cognitivas, nas fases de
entrada, processo e saída do ato mental, não desenvolve, enfraquece ou
fragiliza a contribuição para a aprendizagem e para o comportamento
cognitivo.
Estas deficiências não necessariamente aparecem in totum como um
repertório completo de características cognitivas do indivíduo que apresenta
baixo funcionamento (por exemplo, os que são privados de cultura, os
deficientes em aprendizagem, entre outros). (FEUERSTEIN R., 2000)
70
Capacidade, necessidade, orientação e operação são propriedades básicas
que devem estar funcionando bem para que uma função esteja em movimento
eficiente, destaca C. Gomes (2000, p.121).
As operações mentais, segundo Beyer (1996, p.106), são definidas como um
grupo de atividades cognitivas interiorizadas, sistematizadas e coordenadas umas às
outras.
Analisa-se o ato mental em função das estratégias empregadas pelo aprendiz
para manipular, organizar, transformar, representar e reproduzir nova informação. As
operações podem ser relativamente simples (identificação, denominação,
comparação) ou demasiadamente complexas (pensamento analógico, pensamento
transitivo ou multiplicação lógica).
As operações mentais são os elementos energizantes de nossas
capacidades. Temos muitíssimas capacidades, mas seu desenvolvimento
depende de que o professor seja eficaz em transformar esse potencial em
operações mentais concretas e em fazer que suas inter-relações sejam
percebidas. (BELMONTE, 2005)
Há uma estreita relação entre as funções cognitivas e operações mentais.
Uma síntese dessa interdependência foi apresentada por C. Gomes (2000, p. 104):
Concluindo, as funções cognitivas podem impulsionar ou transformar as
operações mentais. No caso das operações mentais mais simples que
servem de funções, elas irão impulsionar as operações mentais mais
complexas. No caso das operações mentais mais complexas que servem
de funções, elas irão transformar as operações mentais mais simples, o que
está de acordo com o pressuposto de Luria (1990) e de Vygotsky (1991),
de que as funções cognitivas mais complexas co-ordenam os processos
inferiores.
De forma complementar, Feuerstein e colaboradores também constatam
que, em uma tarefa específica, normalmente uma operação mental se
destaca como a mais complexa. Essa operação é denominada como a
operação mental, por excelência, do processo cognitivo envolvido na tarefa
específica, e as demais operações mentais em cena são denominadas
funções cognitivas.
71
O processo de pensamento é não linear, é contínuo, circular e dialético. As
operações mentais sucedem-se, sustentam-se e, em algum momento do processo
de pensamento, configuram-se como funções cognitivas.
O ato mental é analisado conforme as unidades de informação que contém,
pelo grau de novidade ou familiaridade que tem para o sujeito. O nível de
complexidade do estímulo: quantidade de elementos, novidade da matéria,
potencial de estranheza ou de fatiga. Portanto, grau de complexidade para a
realização da tarefa depende de fatores objetivos e subjetivos.
O nível de abstração que o estímulo demanda que é o grau de operação
mental exigido ao aprendiz, deve estar claro para o professor. Tal parâmetro refere-
se à distância entre o ato mental e o objeto ou o fato sobre o qual se opera. Assim,
por exemplo, o ato mental implícito no estabelecimento de produção de relações
entre os objetos, por meio do rendimento perceptivo e motor, representa um nível
inferior de abstração ao do ato mental implícito nas análises de relações entre
relações. A superação de uma visão episódica da realidade é possibilitada por um
nível superior de abstração, descortinam-se as relações implícitas que vão além do
momento presente e das aparências.
O grau de abstração é conceituado por Beyer (1996, p. 108) como o
“distanciamento espaço-temporal entre a atividade mental e o objeto ou o
acompanhamento alvo da representação”.
O nível de eficácia pode ser analisado pelo binômio: rapidez – precisão na
realização da tarefa. Seu aspecto subjetivo pode ser analisado pelo esforço pessoal
investido na realização das tarefas.
A eficácia relaciona-se a vários fatores: físicos, afetivos, ambientais
motivacionais. Outros fatores, tais como o caráter recente da aquisição e o grau de
72
cristalização dos processos, também interferem. Merece tais aspectos, a
consideração do professor.
[...] quando propõe uma tarefa aos alunos, o professor deve estar ciente da
capacidade deles para realizá-la. Aqui entra em jogo um aspecto
fundamental: uma das tarefas sintetizadoras do trabalho educativo é a
capacidade do educador de comprometer e motivar o aluno. No nível de
eficácia é onde se reflete o êxito ou o fracasso da tarefa educativa. Quando
o educador adapta a matéria ao nível de capacidade e de maturação do
aluno, há para este uma motivação intrínseca que é o resultado satisfatório
que obtém na escola. O aluno que não obtém resultados positivos, a
mudança, é um aluno que não se motiva.
(BELMONTE, 2005)
O nível de eficácia pode ser afetado pelos demais parâmetros.
O conjunto da obra de R. Feuerstein, como exposto até então, fornece
subsídios para transformação do ato de ensino para a mediação. Ou seja, a
mudança do ensinar que efetivamente viabilize o aprender. Um aprender que não se
limite à aquisição de novos conteúdos e conceitos, mas que resulte em avanço
cognitivo.
Como organizar uma metodologia de pesquisa que propicie vislumbrar tal
possibilidade no contexto de sala de aula? É o desafio descrito no segundo capítulo.
73
2 A CONSTRUÇÃO METODOLÓGICA: O ESPAÇO DAS RELAÇÕES
PROFESSOR-ALUNO-APRENDIZAGEM COMO CAMPO DE PESQUISA
Não há caminho pronto, todos construímos nossos
trajetos ao dar cada passo.
(Pisacco)
O processo construtivo remete necessariamente à
autoria. Além disso, aprender pressupõe um
sujeito que historiza. Já que, sem um sujeito ativo
e autor que signifique o mundo, significando-se
nele, a aprendizagem subjetivante é substituída
pela memória fria das máquinas.
(Fernández, 2001, p.183)
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Tomou-se como ponto de partida a elaboração do plano de ação para a
disciplina de Psicologia da Educação do Curso Normal Ensino Médio. Optou-se por
realizar o trabalho no contexto de sala de aula, espaço propício para a mediação da
aprendizagem e desenvolvimento de pesquisa. A questão que se colocou frente à
opção foi a de propiciar a vivência experiencial da mediação da aprendizagem no
espaço próprio e real das relações professor–aluno-aprendizagem, e da Experiência
de Atividade Mediada proposta por R. Feuerstein e seus colaboradores.
2.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
A intenção de um percurso que dialoga com a teoria e busca superar
abordagens que fragmentam o objeto de estudo, gera a necessidade de submeter o
processo a contínuas tomadas de decisões frente à complexa teia de possibilidades.
A configuração desse estudo foi construída numa perspectiva dialética e complexa
em constante diálogo com os fundamentos teóricos e as interações em sala de aula.
Na constituição desse diálogo destacam-se como aspectos fundamentais do
presente estudo: a natureza metodológica como pesquisa-ação, a proposta de
74
educar pela pesquisa, a complexidade em diversos níveis, a subjetividade docente e
discente e os pressupostos da Experiência de Atividade Mediada. Os indicadores
originaram-se da análise do professor e dos alunos sobre a mediação vivenciada.
A opção metodológica adotada caracteriza-se como pesquisa-ação na
perspectiva de Engel (2000) e na modalidade ensino pela pesquisa proposta por
Berger (2004).
Ao constituir-se como pesquisa-ação, busca unir a pesquisa à ação prática:
[...] procura intervir na prática de modo inovador já no decorrer do próprio
processo de pesquisa e não apenas como possível conseqüência de uma
recomendação na etapa final do trabalho. [...] não há verdades científicas
absolutas, pois todo conhecimento científico é provisório e dependente do
contexto histórico, no qual, os fenômenos são observados e interpretados.
Além disso, os próprios padrões de pesquisa estão sujeitos à mudança, à
luz da prática, não havendo, portanto, uma metodologia científica universal e
histórica. (ENGEL, 2000, p. 182-183).
Reconhecer as limitações da pesquisa-ação não significa destituir sua riqueza
como estratégia de conhecimento, mas assumir limites que estão presentes em
qualquer método científico. Fazer pesquisa neste formato é optar por uma prática
contaminada de subjetividade, comprometida e comprometedora.
Ao reportar-se a Thiollent (1988, p.21), Berger (2001, p.93) argumenta sobre
comprometimentos do método de investigação:
[...] a pesquisa-ação não deixa de ser uma forma de experimentação em
situação real, na qual o pesquisador intervém conscientemente. Os
participantes não são reduzidos a cobaias e desempenham um papel ativo,
e as variáveis não são isoláveis, considera-se que todas interferem no que
está sendo observado.
A pesquisa-ação, para Engel (2000, p. 184 -185), ao sintetizar estudos de
diversos autores, tem como características:
- o processo de pesquisa tornar-se um processo de aprendizagem para todos
os participantes, no qual se supera a dicotomia sujeito - objeto de pesquisa;
75
- a validade dos resultados está condicionada à apreensão e às mudanças
ocasionadas pelas estratégias e produtos úteis a todos os envolvidos – o
pesquisador é um praticante social, neste contexto;
- no ensino, a pesquisa-ação tem por objeto de pesquisa as ações humanas
em situações que são suscetíveis de mudança e exigem uma resposta prática,
interpretada a partir do ponto de vista das representações dos diversos atores
(professores, alunos);
- é situacional: procura diagnosticar um problema específico numa situação
também específica, com o fim de atingir uma relevância prática dos resultados e com
diferentes graus de generalização;
- é auto-avaliativa, isto é, as modificações introduzidas na prática são
constantemente avaliadas no decorrer do processo de intervenção;
- é cíclica: as fases finais são usadas para aprimorar os resultados das fases
anteriores.
Ao ensinar pela pesquisa, assume-se uma postura que também gera
comprometimento. “A atitude reflexiva em si é neutra, o que lhe imprime sentido e
significado é a direção que lhe é atribuída, ou seja, a manutenção ou a
transformação da realidade.” (Berger, 2004, p. 46). Essa modalidade de ensino está
presente no envolvimento dos alunos como co-pesquisadores do tema proposto e
como produtores de conhecimento no campo da psicologia, ao desenvolver
subprojetos de pesquisa com temática no campo da Psicologia da Educação.
Portanto, o conhecimento não é uma cópia da realidade; é construção do
ser humano, afirma Carretero (1996). Isso quer dizer que há uma relação
entre o pensar e o atuar, mas esses atos são de natureza distinta. As ações
práticas geram esquemas interiorizados, teorias subjetivas, adquiridos a
partir de nossa própria experiência, do que vemos nos outros, do lemos e
estudamos, e que vai constituindo-se o conhecimento sobre a ação. Teoria e
prática se retro-alimentam no decorrer do trabalho educativo, entretanto é
ilusão acreditarmos que refletir a ação (grifo da autora) é suficiente para
fazermos avançar o conhecimento, porque a principal característica do
76
pensamento é o distanciamento dos fenômenos, precisamente para
entendê-los melhor. (BERGER, 2004, p. 46).
O ensino pela pesquisa exige o constante exercício de aproximação e
distanciamento. Aproximação por fazer parte de uma situação prática vivenciada
pelos sujeitos envolvidos na pesquisa. Distanciamento ao analisar indicadores à luz
da realidade global na qual se insere e dos aportes teóricos utilizados como
referencial.
Encontra-se consonância nos pressupostos elencados por Demo (1997, p.5)
para proposta de educar pela pesquisa:
- a convicção de que a educação pela pesquisa é a especificidade mais
própria da educação escolar acadêmica,
- o reconhecimento de que o questionamento reconstrutivo com qualidade
formal e política é o cerne do processo de pesquisa,
- a necessidade de fazer da pesquisa atitude cotidiana no professor e no
aluno,
- e a definição de educação como processo de formação da competência
histórica humana.
A temática desta pesquisa constitui um dos campos de estudo da Psicologia
da Educação: construção do conhecimento e processos de mediação. Envolve,
essencialmente, professor e aluno que são, portanto, sujeitos e subjetividades.
As categorias sujeito e subjetividade são analisadas por González Rey (2000
e 2004), o qual aprofunda suas idéias a respeito de seus significados para a
psicologia social e para a psicologia em geral. Afirma que, “sem estudar o sujeito, e
sem conhecê-lo em suas expressões autênticas e diferenciadas, é impossível
produzir conhecimento social”. (2004, p. 174).
O conhecimento não é nutrido por informações que aparecem diante da
resposta que se subordina à racionalidade do instrumento, que é uma racionalidade
imposta pelo investigador. “Os instrumentos na psicologia não podem estar
orientados para classificar respostas e sim para conseguir formas personalizadas e
77
complexas de expressão por meio das quais o sujeito possa aparecer em sua maior
riqueza.” (GONZÁLEZ REY, 2004, p. 174).
O resgate do sujeito na perspectiva metodológica permite enfatizar sua
importância no caráter teórico da produção do conhecimento no curso diferenciado
da produção de idéias para o desenvolvimento da investigação científica.
Uma teoria da subjetividade sem sujeito seria uma teoria encapsulada no
indivíduo, que não teria como transformar-se em uma teoria que integrasse
indivíduo, sociedade, cultura e história, que é o que se pretende com essa
abordagem histórico-cultural ao tema da subjetividade. A subjetividade é um
tema ao qual só temos acesso através do sujeito em seus espaços de
relação social. Por isso o sujeito ganha uma importância metodológica que
nunca teve. As dimensões da subjetividade social aparecem de forma
implícita e diferenciada nas expressões do sujeito e nos sentidos subjetivos
que configuram sua subjetividade individual. (GONZÁLEZ REY, 2004, p.
175)
A metodologia de pesquisa, que possa dar conta dos aspectos já
apresentados, necessita assumir a complexidade como princípio. Caracterizada por
Demo (2002), a complexidade apresenta-se como: dinâmica, não-linear,
reconstrutiva, processo dialético evolutivo, irreversível, com intensidade em seus
processos e ambígua/ambivalente.
Na construção da pesquisa, defronta-se com uma teia complexa presente em
vários aspectos deste trabalho. No emaranhado de tais complexos, situa-se o
Mestrado em Educação. É possível entender pesquisa ou/e educação de uma forma
linear? A educação é ciência social? Ciência humana? Tem quais métodos de
investigação? Ela é ciência? É romance? É uma prestação de serviços? É conflito?
Quais conflitos?
O outro fio da teia remete à opção pela linha de pesquisa ensino-
aprendizagem, temática de um processo complexo, que engloba uma série de outros
processos.
78
Ao abordar a educação sistematizada, outro fio é a sala de aula: contexto com
poucas possibilidades de um enfoque linear. A complexidade da aula está presente
no encontro de dezenas de sujeitos, num contexto geográfico, físico, social, psíquico,
no inter-jogo de aspectos objetivos e subjetivos. Pode-se assumi-lo como campo de
pesquisa, propondo-se a busca da superação dos diversos dualismos constantes
nos vários níveis descritos: professor-aluno, ensinar-aprender, objetividade-
subjetividade, objeto de aprendizagem-sujeito de aprendizagem, pesquisador-
pesquisados.
Em muitos momentos a opção pela não linearidade gera insegurança. É
construir um caminho durante o percurso, enfrentar desafios constantes, questionar
as diversas possibilidades e fazer opções.
Opções essas sobre aspectos presentes na metodologia escolhida, quanto ao
conceito de autonomia, nas escolhas das contribuições teóricas, na construção da
ciência psicológica, na educação, no ser humano/social e em seus processos de
desenvolvimento e aprendizagem. Como também, sem dúvida alguma, na sociedade
em que estão inseridos todos os elementos citados e nas múltiplas relações que se
estabelecem entre os mesmos.
O aspecto dinâmico e não linear característica apresentadas por Demo (2002,
p.13-31), justificam a escolha pela complexidade. Assumir a dinâmica é assumir um
campo de forças contrárias, cuja identidade não é aquela da sempre mesma coisa,
mas da mesma coisa em processo. Pois “a dinâmica controlável não é dinâmica
propriamente, pois se restringe as rotas previsíveis. Rota propriamente criativa á
aquela que avança no imprevisível, está além do que poderíamos vislumbrar no
momento, ultrapassa o horizonte conhecido” (p.15). “É preciso ultrapassar a noção
de simples organização das partes, para atingir modos de ser: Na complexidade
79
não linear pulsa a relação própria entre o todo e as partes, feita ao mesmo tempo de
autonomia e profunda dependência” (p.17).
Optou-se por utilizar como suporte teórico principal os pressupostos da Teoria
da Modificabilidade Estrutural Cognitiva e da Experiência da Atividade Mediada, da
construção epistemológica à construção de indicadores, componentes presentes na
proposta pedagógica vivenciada, que teve por perspectiva tornar as aulas em EAMs.
Para a análise da qualidade da interação em sala de aula, utilizaram-se
aspectos da mediação sob a perspectiva de R. Feuerstein e seus colaboradores
(1983, 1989, 1991, 1994, 2000, 2002). O objeto de estudo é a interação em sala de
aula sob a concepção tríade da mediação da aprendizagem. Os elementos
integrantes do objeto de estudo dessa pesquisa são: os mediados – alunos, o
mediador – professor e objeto da aprendizagem
11
. Os critérios de mediação, que
nortearam a organização das aulas, são tomados como categorias da análise da
mediação na perspectiva do mediador e dos mediados.
Embora o destaque maior da mediação recaia sobre os sujeitos da interação,
mediados e mediador, a relação de ambos com o objeto da aprendizagem constitui,
de forma mais completa, o processo de aprendizagem.
2.3 TEMPO – ESPAÇO – SUJEITOS: O CONTEXTO
A pesquisa foi realizada no ano de 2004, em Escola particular, de natureza
confessional, situada na região central da cidade de Ponta Grossa, Paraná, em uma
turma do segundo ano do Curso Normal, junto a qual a pesquisadora ministrava a
disciplina de Psicologia da Educação. Nessa Instituição, o curso é profissionalizante
11
Empregaram-se o termo objeto da aprendizagem na ausência de outro termo que possa designar
tanto o conteúdo específico a ser aprendido quanto os processos cognitivos referentes ao ato
mental.
80
- voltado para a formação de professores de Educação Infantil e Séries iniciais do
Ensino Fundamental - e pertence ao ensino de nível médio.
2.3.1 Os sujeitos e os papéis assumidos
Os sujeitos envolvidos podem ser descritos como: professor-mediador-
pesquisador e alunos-mediados co-pesquisadores. A análise do processo de
mediação do professor e dos processos dos mediados foi tarefa de todos os
envolvidos.
Como ser professor, mediador e pesquisador na ação pedagógica mediada,
analisada como objeto de pesquisa, simultaneamente? Quais os reflexos da
formação em Experiência de Atividade Mediada na sala de aula? Esse foi outro
desafio a ser enfrentado.
O professor-mediador-pesquisador torna-se parte do objeto de sua pesquisa
no contexto de sua atuação profissional: na sala de aula, na interação com os alunos
e no ensino da psicologia. Os alunos, co-pesquisadores, analisam o processo de
mediação do professor e seus processos como mediados.
Faz-se indispensável apresentar os alunos que optaram por tornarem-se
sujeitos/objetos do presente trabalho no contexto de sala de aula, no estudo de
Psicologia da Educação.
Assemelham-se a muitos outros que compõe as turmas de ensino médio de
nossas escolas. Aqueles mesmos que nem sempre lêem os textos propostos, nem
sempre entregam os trabalhos em dia, que são criativos em suas desculpas, por
vezes, passam bilhetes ou, até mesmo, fazem cola.
81
A turma na qual a pesquisa sobre mediação da aprendizagem foi
desenvolvida assemelhava-se a tantas outras. Nem por isso deixou de ser
apaixonante e maravilhosa.
Foi-lhes apresentada a proposta de participarem da pesquisa de mestrado
como co-pesquisadores. Esclareceu-se que os indicadores nasceriam do espaço da
sala de aula a partir das observações de cada um. Destacaram-se a não vinculação
com a avaliação da disciplina para obtenção de notas ou pontos extras e a liberdade
de participação. Salientou-se que a consulta à turma, quanto à disponibilidade e
comprometimento na participação, se deu a priori da organização do projeto e
formalização da proposta.
Com a mesma rapidez com que se sai para o recreio ao ser dado o sinal,
todos aceitaram. Frente ao imediatismo, salientou-se que daria trabalho, que
demandaria preenchimento de protocolos... Mesmo assim, nenhuma desistência.
No decorrer das aulas, as tarefas de análise foram realizadas sem problemas.
Frente a algumas dificuldades ocorridas, a desistência surgiu como uma das
possibilidades, que foi posta em discussão com parceiros de pesquisa – os alunos.
Questionaram se eram eles que estavam prejudicando a pesquisa. Não eram.
Ninguém aceitou desistir. Acredita-se que nem pensaram em tal proposta. Ao
contrário, apresentaram inúmeras sugestões para sanar as dificuldades.
Entre elas, a solicitação de um maior número de aulas, a troca de carga
horária com outras disciplinas, que logo foram percebidas como inviáveis, pelos
próprios alunos. A utilização de uma aula vaga que havia nas sextas-feiras, vir no
período da tarde ou ficar até meio-dia, no sábado, foram outras soluções
apresentadas por eles.
82
As dificuldades foram consideradas como variáveis intervenientes e
categorizadas para a análise, pois estávamos numa sala real e a perspectiva era não
mudar o contexto.
Deu-se continuidade ao projeto.
Na análise dos registros escritos pelos alunos, descortinou-se encontrou-se:
uma riqueza de dados, de conceitos elaborados, de conhecimentos.
Apresenta-se a necessária revisão de conceitos sobre os educandos; pois a
capacidade dos alunos vai muito além da demonstrada em suas desculpas criativas,
já que o presente estudo só foi possível a partir do sim de vinte e cinco alunos de
dezesseis anos.
2.3.2 O percurso
O desenvolvimento da pesquisa ocorreu durante o período regular das aulas,
durante o período de junho a novembro do ano letivo de 2004, sem alteração de
calendário escolar ou proposição de conteúdos diferentes do previsto para a
disciplina de Psicologia da Educação. A carga horária era de uma aula semanal, com
duração de cinqüenta minutos. Totalizaram dezessete aulas, distribuídas conforme o
quadro demonstrativo.
83
CONTEUDOS / TEMAS
DATA
AULAS / SUBTEMAS
27/07/04 Quem é Reuven Feuerstein
05/08/04 Histórico da MCE e EAM – Sistemas de Crenças
12/08/04 Mapa Cognitivo: Operações Mentais, Funções Cognitivas,
critérios de Mediação
19/08/04 Vivência de uma EAM – (testagem dos protocolos)
26/08/04 Análise coletiva da EAM, evidenciando os critérios de
mediação (testagem dos protocolos)
A Teoria da
Modificabilidade
Cognitiva Estrutural
02/09/04 O trabalho de Reuven Feuerstein
09/09/04 Direito à Educação – Texto de Jean Piaget
16/09/04 Análise e construção de conceitos referentes ao tema
23/09/04 A visão de um mundo melhor (trechos da palestra em vídeo:
A Formação Ética da Criança – Yves La Taille)
30/09/04 O papel da escola e da família (trechos da palestra em
vídeo: A Formação Ética da Criança – Yves La Taille)
13/10/04 Síntese dos aspectos abordados nos subtemas
Formação Moral da
Criança
20/10/04 Produção de texto individual estabelecendo relações entre
os conceitos prévios e os construídos.
Orientação do Projeto
de Pesquisa – Grupos
29/10/04 Orientação aos grupos de pesquisa – atendimento por
subprojeto
03/11/04 Levantamento de conceitos da teoria
10/11/04 A construção dos conceitos essenciais à compreensão da
Teoria
17/11/04 Relação do tema com a sala de aula – análise grupal
Grupos Operativos
24/11/04 Trabalho individual – avaliação
aulas em que foram realizadas análise dos critérios de mediação
aula registrada em vídeo, com análise de critérios de mediação.
QUADRO 3 - ORGANIZAÇÃO GERAL DAS AULAS DURANTE
O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
Os conteúdos foram distribuídos em três temas abrangentes e subdivididos
em sub-temas, abordados a cada aula.
A pesquisa foi desenvolvida no decorrer do semestre, o registro dos critérios
de mediação nos protocolos (Anexo 2), pelos alunos, ocorreu em seis aulas. O não
preenchimento nas demais aulas deveu-se a três fatores distintos:
- as aulas dos dias 27/07, 05/08, 12/08, 19/08 e 26/08 foram destinadas à
aprendizagem do conteúdo referente à Teoria que subsidiou a pesquisa nos
aspectos teóricos e vivenciais da Experiência de Atividade Mediada
12
; nos dias 19 e
12
Esse conteúdo compõe o plano de ação da disciplina de Psicologia da Educação desde 1999 e pela
primeira vez foi assumido, para essa pesquisa, como proposta metodológica intencional no
processo de ensino e aprendizagem.
84
26 foram aplicados os protocolos para orientação e experimentação de sua
utilização;
- as aulas de 20/10, 03/11 e 24/11 foram utilizadas para trabalhos individuais e
avaliativos, nas quais a proposição do trabalho não se constituía em EAM;
- nas aulas dos dias 09/09 e 30/09 os alunos participaram de outras
atividades propostas pela escola;
- na aula do dia 23/09 no não houve tempo disponível no final para a
realização das anotações.
Os dados obtidos nos seis eventos coletados forneceram uma rica
constituição de indicadores que não comprometeram os objetivos do projeto
tampouco a análise final. Os fatores elencados evidenciaram novos indícios a serem
considerados na de implementação da EAM em sala de aula.
As análises da mediação foram registradas individualmente pelos alunos e
pelo professor em seis aulas, como fonte para a constituição dos indicadores.
Os indicadores de análise foram obtidos a partir dos instrumentos e dos
procedimentos descritos a seguir.
2.4 INSTRUMENTOS/PROCEDIMENTOS PARA A OBTENÇÃO DE INDICADORES
- O planejamento das aulas
O trabalho pedagógico desenvolvido propunha o encaminhamento das aulas
com base em aspectos do mapa cognitivo – critérios de mediação e ato mental:
- os planos de aula foram construídos prevendo os critérios a serem
mediados, bem como os conteúdos de Psicologia de acordo com o programa da
disciplina. (Anexo 1).
85
- Registros de observações do professor-mediador-pesquisador.
Após o desenvolvimento de cada aula, o professor-mediador-pesquisador
registrava: as falas que emergiram nas interações durante a aula, aspectos avaliados
como avanços e ou entraves do processo, a auto-análise da mediação sobre a
construção do conhecimento específico de Psicologia, em diário de planejamento e
registro.
- Protocolos de registro e observação
Ao final de seis aulas, foram preenchidos 137 protocolos (Anexo 2) pelos
alunos, com registro objetivo da freqüência dos critérios de mediação nas aulas e
relato de situações concretas de sua ocorrência (Anexo 5).
O professor-mediador-pesquisador preencheu seis protocolos semelhantes
(Anexo 3), com registro objetivo da freqüência dos critérios de mediação nos
encontros e relato de situações concretas de sua ocorrência. A cada dia de aula o
professor retomava os protocolos preenchidos pelos alunos na respectiva aula e
construía um mapa com o objetivo de sintetizar os critérios de mediação registrados
pelos alunos. (Anexo 4)
- Vídeofilmagem em sala de aula
Para registrar a dinâmica das interações vivenciadas em sala, com a
possibilidade de análise posterior, foi realizada a filmagem de uma aula. Como
propõem Bauer e Gaskell (2002, p. 149), “a filmagem tem uma função óbvia de
registros de dados de sempre que algum conjunto de ações humanas é complexo de
ser descrito por um único observador, enquanto ele se desenrola”. Pela
caracterização já apresentada da presente pesquisa, esse foi um instrumento que
86
possibilitou aos sujeitos participantes um olhar mais distanciado das interações, bem
como o contraponto com as demais informações.
Após a aula, foram preenchidos os protocolos ( Anexo 2 e 3).
- Levantamento dos fatores que interferem no reconhecimento dos
critérios de mediação
Transcorridos dois meses do início da pesquisa, doze alunos responderam a
duas questões relacionadas à diferenciação ocorrida no assinalamento dos critérios
de mediação pelos participantes da pesquisa (Anexo 6, transcrito no Anexo 7).
2.5 ENCAMINHAMENTO DA ANÁLISE E DISCUSSÃO
Para a análise e a discussão dos indicadores adotaram-se, como categorias,
os critérios de mediação propostos por Reuven Feuerstein.
Do entrelaçamento de indicadores quantitativos e qualitativos emergiram as
relações intrínsecas entre os elementos da Experiência da Atividade Mediada, do
planejamento das aulas a sua realização.
A análise estatística dos indicadores, oriundos do registro objetivo da
freqüência dos critérios de mediação (Anexo 2), indicou: a freqüência das categorias
de mediação no decorrer de todas as aulas; a freqüência a cada encontro e a
percepção individual dos alunos durante o percurso.
A análise qualitativa dos indicadores obtidos no planejamento das aulas,
registros e observações do professor-pesquisador-mediador, no relato de exemplos
da ocorrência dos critérios de mediação (Anexo 2) evidenciou: as relações distintas
entre os elementos da mediação; as inter-relações entre os critérios de mediação; a
não linearidade da construção do conhecimento; a complexidade da dinâmica do
87
ensinar e aprender no contexto de sala de aula; a categoria “subjetividade” expressa
na atribuição de sentidos e significados pelos sujeitos da pesquisa.
Tais encaminhamentos são propostos no capítulo a seguir.
88
3 A MEDIAÇÃO EM SALA DE AULA: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
INDICADORES
Há momentos em que leio os meus escritos e
acredito numa evolução significativa. No instante
seguinte, parecem puros devaneios.
Tanta vida aplicada, tanto tempo investido...
Ora me sinto um criador, ora um mero repetidor de
conceitos .
O que há de novo? O que muda depois do último
ponto? Algo além de meus próprios conceitos? Há
um produto válido, além do meu próprio processo?
Dados... Indícios... Indicadores... Categorias...
Conflitos... Resultados...
Nem artista, nem cientista. Uma professora
sonhadora imersa num texto no conflito de
sintetizar tantas idéias despertadas a brincar com
palavras e conceitos...
(PISACCO)
O planejamento das aulas é o ponto de partida da análise e discussão
propostas no presente capítulo. Na seqüência, focalizam-se os critérios de
mediação, analisa-se sua ocorrência geral e cada critério de forma individualizada.
Procede-se breve análise sobre a influência da subjetividade dos mediados na
interação. Finaliza com as sínteses e conclusões da análise proposta.
3.1 O PLANEJAMENTO DAS AULAS – O CONFLITO ENSINO X MEDIAÇÃO
A organização das aulas pressupõe a reflexão do “como” ensinar. Ao abordar
as exigências do ensinar, Freire (1997, p.101), destaca:
Não devo apenas pensar sobre os conteúdos programáticos que vem sendo
expostos ou discutidos pelos professores das diferentes disciplinas mas, ao
mesmo tempo, a maneira mais aberta, dialógica, ou mais fechada,
autoritária, com que este ou aquele professor ensina.
Uma das tarefas do professor democrático é trabalhar com os educandos a
rigorosidade metodológica com que devem se aproximar dos objetos cognoscíveis.
Diferente do discurso “bancário” meramente transferidor, Freire (1997, p. 28-29)
propõe que a metodologia não se esgote no tratamento do objeto ou conteúdo, mas
89
alongue-se à produção das condições em que aprender é criticamente possível.
Condições que exigem a presença de educadores e de educandos criadores,
instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes.
Ao contar com ferramentas teóricas para compreender os processos de
pensamento, o professor-mediador tem a possibilidade de planejar atividades e
estratégias metodológicas que possibilitarão aos alunos-mediados os
conteúdos/conhecimentos específicos propostos, ao mesmo tempo em que assegura
a formação futura. A ação pedagógica pode tornar-se promotora de estruturas de
pensamento que lhes permitirão estar mais abertos a incorporarem aprendizados
futuros.
O desafio inicial da pesquisa consistiu na seleção e organização do
planejamento das aulas com a utilização instrumentalização oferecida pela EAM, de
modo que contemple tal abrangência.
As anotações feitas pelo professor, em diário de planejamento e registro,
demonstram seus conflitos iniciais:
Definimos hoje as questões da pesquisa, a utilização dos critérios de
mediação vai oportunizar a visão das alunas sobre a minha mediação. Os
protocolos estão prontos, mas é só isso? (18 -05 - 2004)
Tenho que assumir o dilema que enfrento para poder caminhar. Acredito
que posso transformar minhas aulas em EAMs. Sei que sou mediadora na
clínica, na aplicação do PEI, conheço seus resultados. Tenho sido, ou posso
ser mediadora na sala de aula, sem deixar de construir os conteúdos
necessários à disciplina de Psicologia? (02- 06 – 2004)
Tentei planejar a aula utilizando na íntegra os aspectos do Mapa Cognitivo.
Ficou com uma cara de terapia... Não conseguirei dar conta de analisar
operações mentais e funções cognitivas deficientes ou em desuso de tantos
alunos. Mas não posso eliminá-las. Posso colocá-las como objetivos a
serem promovidos? Um novo mergulho na teoria pode dar a resposta. (04-
06-2004)
Os conflitos, ou indagações iniciais, assemelham-se às considerações de
Beltrán (1995, p.12) e Tribus (2000) quanto à aplicação pedagógica da mediação,
sob a perspectiva de Reuven Feuerstein. O primeiro autor relata uma preocupação
90
de muitos professores espanhóis: ”Como fazer que a matéria que se ensina seja um
“Instrumento” de desenvolvimento cognitivo do aluno/a?” A autora salienta:
[...] quando os professores começam a praticar EAM, eles não se sentem
muito confortáveis.
Existe uma diferença entre ensino e mediação:
O ensino está preocupado em fazer com que os estudantes dominem a
matéria. Os estudantes demonstram seu domínio através do que eles dizem
sobre o assunto, como eles resolvem os problemas colocados na matéria e
mostrando a habilidade em utilizar as ferramentas e métodos associados à
matéria. O ensino presume que a inteligência está desenvolvida e que o
domínio da matéria é o principal objetivo.
A mediação está preocupada em fazer com que os estudantes dominem os
seus próprios processos de raciocínio. [...] A mediação contempla o
desenvolvimento da inteligência como o principal objetivo e, na medida em
que a inteligência é desenvolvida, os objetivos do ensino são alcançados.
(TRIBUS, 2000, p. 8).
Os conflitos são provenientes da diferenciação entre ensino e mediação.
Percebe-se uma concepção diferenciada entre ambos, com relação à aprendizagem.
O ensino a concebe como aquisição ou construção de conhecimento, de acordo com
as proposições das abordagens psicológicas que a interpretam. A mediação a
concebe como estruturante cognitivo.
Três ressalvas feitas por R. Feuerstein e S. Feuerstein (1994, p. 50-51)
demonstram a superação do conflito vivido pelos professores sobre optar pelo ensino
ou pela mediação.
Afirmam, primeiramente, que a EAM não deve ser considerada a única
influência efetiva para o aprendiz. Ambos, ensino e a EAM são necessários para
criar condições de pensar, proporcionar a flexibilidade necessária para a adaptação
e a base suficiente para o funcionamento operacional. Destacam, ainda, que um
professor não deve atuar somente como mediador, deve também ser fonte de
informações e habilidades, pois a mediação não é a única forma de interação entre o
organismo e o ambiente.
91
A segunda ressalva destaca que não se pode considerar que a EAM ocorreu,
se a relação tríade mediador – mediado – objeto da aprendizagem não for realmente
estabelecida. Ao planejar, portanto, este círculo interdependente deve ser realmente
estabelecido e este é um dos diferenciais a constar na elaboração do plano
subsidiado por essa abordagem, pois é por meio desta relação que se desencadeia
o processo de aprendizagem ativando as operações mentais e constituindo as
funções cognitivas.
Decorrente das demais, a terceira ressalva dos autores remete à
impossibilidade de descrever a EAM como um método fixo que pode ser empregada
automática, mecânica e uniformemente a todos os indivíduos. Ao representar a
qualidade da interação e não um conteúdo particular, a EAM depende da
configuração total da interação muito mais do que seus componentes específicos.
O como da interação EAM depende de quem medeia para quem e do que
está sendo mediado. Isto representa uma grande dificuldade para
compreensão da base teórica da EAM como sendo fonte de flexibilidade. O
indivíduo que bem utiliza os parâmetros da EAM está investido de um alto
grau de liberdade para influenciar a interação humana e introduzir o tipo de
mudanças que melhor a ela se adaptem. (FEUERSTEIN e FEUERSTEIN,
1994, p.51).
O fato de ser não a única forma de interação, não invalida a utilização de
aspectos propostos pela EAM para o enriquecimento do processo ensino-
aprendizagem em sala de aula. Ao tomá-la como enriquecedora da atuação o
professor, tem a necessidade contínua de tomar decisões.
Os desafios iniciais transformaram-se em escolhas salientadas nos registros
do diário:
Acredito que achei como transformar tantos fios em colcha. A experiência de
três anos desenvolvendo projetos de pesquisa na disciplina de psicologia,
tendo os adolescentes como autores, têm demonstrado ganhos na
aprendizagem de conteúdos e avanços nos processos cognitivos. Vou
delimitar que recursos da EAM utilizo para a orientação dos projetos e
utilizá-los no planejamento. Parece haver uma estreita relação entre
mediação e educar pela pesquisa. (01-07-2004)
92
Perceberam-se no registro do professor-mediador aspectos constantes nos
dois últimos destaques realizados pelos autores. Quanto à relação tríade
estabelecida na interação, o professor-mediador referiu-se a si mesmo e na
caracterização da sua atuação, considerou os mediados e seus processos e
ressaltou o objeto da aprendizagem. A identidade e autonomia, destacadas na última
ressalva, revelaram-se no discurso do professor-mediador que demonstrou que a
utilização da EAM não é a transposição de um método fixo, mas a utilização de um
referencial teórico/instrumental que subsidiou suas escolhas. Há um contexto real de
aprendizagem, com sujeitos reais que interagem e possuem identidade própria.
A superação do desafio inicial resultou no roteiro organizado para orientação
do planejamento, que refletiu a síntese elaborada pelo professor-mediador. A
estruturação das aulas conteve aspectos constantes no Mapa Cognitivo, bem como
aspectos referentes ao plano da disciplina.
A organização das aulas, sob o formato escolhido, requereu a consideração
da interligação dos diversos aspectos e a tomada de decisões frente à configuração
específica de cada experiência, observada na caracterização ímpar de cada aula
(Anexo 1). O entrelaçamento dos elementos integrantes da mediação – mediados
(alunos – co-pesquisadores), mediador (professor-pesquisador), objeto de
aprendizagem (conteúdos/processos cognitivos) - esteve presente em todos os
momentos do planejamento.
93
TEMA
Conteúdo.
SUBTEMA
Aspectos do conteúdo a serem abordados a cada aula.
DATA
1 Objetivos relativos ao conteúdo
Objetivos referentes à (re)construção dos conhecimentos,
relacionados ao conteúdo da aula de acordo com a ementa
da disciplina de Psicologia da Educação.
2 Objetivos relativos ao ato mental
Objetivos referentes às operações mentais e funções
cognitivas a serem mediadas no decorrer da aula,
relacionados ao funcionamento cognitivo.
3 Caracterização da Mediação
Critérios de mediação a serem privilegiados na interação.
4 Vocabulário/conceitos a serem
(re)construídos
Destaque aos conceitos essenciais à construção do
conhecimento relativo ao subtema e aos conceitos relativos
ao ato mental que enfocam aspectos metacognitivos.
Os conhecimentos prévios dos alunos são tomados como
ponto de partida, objetivando-se a construção de conceitos
mais complexos.
5 Dificuldades previstas –
prováveis soluções
Levantamento das prováveis dificuldades relacionadas ao
subtema proposto, ao funcionamento cognitivo dos alunos e
às estratégias escolhidas. Antecipação de propostas de
mediação para sua superação.
6 Mobilização (diálogo de abertura
da aula – questões a serem
propostas)
Organização dos questionamentos que possibilitem a
mediação dos critérios propostos, o destaque de aspectos
relevantes do subtema abordado e do funcionamento
cognitivo.
7 Estratégias propostas
Escolha de técnicas e recursos pedagógicos que viabilizem
a inter-relação de todos os elementos do plano e a sua
implementação.
8 Material utilizado
Recursos materiais utilizados.
9 Síntese da aula – aplicações
Destaque aos aspectos que resumem o subtema em estudo
(o que aprendemos). As pontes que podem ser
estabelecidas entre a temática, o funcionamento cognitivo
utilizados na aula e outros temas da disciplina, de outras
áreas e da realidade restrita ou global.
10 Referências
Dados dos materiais utilizados como referencial teórico da
temática da aula.
QUADRO 4 - ROTEIRO DE PLANEJAMENTO DAS AULAS
O professor, como organizador da EAM, auto-analisou-se e propôs para si os
critérios de mediação que necessitavam ser mediados. Tal necessidade relacionou-
se aos conteúdos / conhecimentos, que por sua vez relacionaram-se às
necessidades de sujeitos reais, os alunos-mediados com suas características
cognitivo-funcionais, consideradas nos objetivos referentes ao ato mental e
presentes num contexto histórico-social determinado. De forma mais específica, a
94
escola, o curso, a disciplina compuseram tal contexto que emergiu da sociedade
global.
Do geral voltou-se ao restrito traçando-se objetivos e estratégias que
possibilitassem o desencadear do processo dinâmico no ensinar/aprender. A
interligação tríade não dissociou essas duas faces no planejar a aula, como
experiência mediada.
Ao planejar a mediação, o plano da aula, que anteriormente centrava-se na
proposição do conteúdo, passou a exigir do mediador a reflexão e a proposição de
estratégias para estabelecer a interação desejada de forma intencional. O outro
emergiu como sujeito com suas especificidades no decorrer do ato de planejar, pois
ao objetivar-se o desenvolvimento cognitivo do aluno-mediado, o ponto de partida
referiu-se às suas condições atuais.
Um dos ganhos, ao utilizar-se o suporte teórico e instrumental da EAM, foi a
gama de recursos que possibilitaram a análise e a orientação do processo de
aprendizagem do mediado e da qualidade da interação estabelecida. O mapa
cognitivo, os critérios de mediação funcionaram como construtores de peças de um
quebra-cabeças, que só tem sentido se integrado ao todo. Por vezes, a análise
criteriosa de uma parte seu isolamento mostrou-se fundamental para integração de
várias outras e para formação do todo. Tal isolamento nunca foi total, pois sua
análise só tem sentido em integração com as demais.
O planejamento das aulas não utilizou o programa, como proposto na
implementação do PEI. Nesse, o mediador está constantemente inquirindo e
observando para ver se o mediado tem alguma debilidade em seu funcionamento
cognitivo.
Como salienta Tribus (2000, p. 4), quando se utiliza a EAM no currículo,
estabelecem-se pontes de volta a uma aplicação específica das idéias fundamentais
95
do PEI, no entanto há uma diferença fundamental: no currículo, o professor deve
considerar a (re)construção do conhecimento e não as funções cognitivas deficientes
ou em desuso como objetivo prioritário.
Ao organizar as aulas, orientando-se pela EAM, o professor-mediador também
foi aprendiz. Além das aquisições oriundas da construção compartilhada do
conhecimento, aprendeu a planejar a interação, a melhorar a relação professor-
aluno, tendo em vista a aprendizagem. Aspecto também salientado por Zanatta da
Ros (2002, p. 120):
[...] aprendeu-se que o planejamento da mediação é parte integrante e
integrador do pedagógico, uma vez que o espontaneismo é substituído por
mediações deliberadas dentro de uma conhecida relação assimétrica entre
professor e aluno. No entanto, isso não significa uma relação autoritária.
Pelo contrário constitui-se de forma democrática e compartilhada.
Sabe-se que planejar as aulas faz parte do cotidiano do professor. Contudo,
usualmente o planejamento pedagógico leva em conta os conteúdos e seu ensino, já
o planejamento da mediação enfoca a interação tríade da aprendizagem.
3.2 ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO
Por que se destinou tanto esforço na análise dos critérios de mediação?
Para responder como a mediação aconteceu. As teorias de ensino
aprendizagem ora focalizam como o sujeito que aprende ora as metodologias de
ensino, ou o conhecimento em si. A intenção dessa pesquisa foi resgatar a unidade
do processo de ensino-aprendizagem, sob a perspectiva da relação tríade. Os
critérios de mediação constituíram-se numa rica fonte de indicadores e categorias de
análise da qualidade da interação estabelecida entre mediador - mediados - objeto
da aprendizagem.
96
3.2.1 Análise Geral da Freqüência - o todo é mais que a soma das partes
A freqüência dos critérios de mediação
13
nas aulas foi demonstrada na Tabela
1. Considerou-se como freqüência absoluta - FA - o número de alunos que assinalou
cada parâmetro e como freqüência relativa - FR – a porcentagem dos parâmetros
tomada em relação ao número de alunos presentes na aula. A média foi
estabelecida entre as seis aulas, indicando quais critérios de mediação obtiveram
maior incidência.
TABELA 1 - FREQÜÊNCIA GERAL DOS CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO NA VISÃO DOS MEDIADOS
02/09/04
16/09/04 13/10/04 29/10/04 10/11/04 17/11/04 Média
Aulas
Fonte: Protocolos dos alunos – Anexo 2
Critérios
FA FR FA FR FA FR FA FR FA FR FA FR FA FR
1
11 50.0 13 59.1 13 59.1 14 66.7 6 27.3 16 66.7
12.2 54.8
2
8 36.4 12 54.5 18 81.8 13 61.9 17 77.3 13 54.2
13.5 61.0
3
5 22.7 8 36.4 12 54.5 9 42.9 1 4.5 8 33.3
7.2 32.4
4
14 63.6 4 18.2 3 13.6 15 71.4 2 9.1 8 33.3
7.7 34.9
5
1 4.5 2 9.1 6 27.3 3 14.3 10 45.5 9 37.5
5.2 23.0
6
1 4.5 17 77.3 16 72.7 15 71.4 14 63.6 12 50.0
12.5 56.6
7
2 9.1 3 13.6 5 22.7 12 57.1 2 9.1 7 29.2
5.2 23.5
8
8 36.4 2 9.1 3 13.6 9 42.9 3 13.6 8 33.3
5.5 24.8
9
7 31.8 3 13.6 5 22.7 19 90.5 3 13.6 9 37.5
7.7 35.0
10
16 72.7 7 31.8 12 54.5 4 19.0 2 9.1 5 20.8
7.7 34.7
11
10 45.5 0 0.0 0 0.0 15 71.4 2 9.1 13 54.2
6.7 30.0
12
3 13.6 1 4.5 5 22.7 6 28.6 1 4.5 10 41.7
4.3 19.3
Total 86 72 98 134 63 118 95.2
Tomando-se a média da freqüência relativa, o critério mediação de significado
obteve índice superior aos demais com 61%. Com índices superiores a 50%
destacaram-se os critérios de mediação e do comportamento de compartilhar com
56,6% e de mediação de intencionalidade/reciprocidade com 54,8%. Na seqüência,
os critérios de mediação do desafio e da complexidade com 35%; mediação de
competência com 34,9%; mediação da conscientização do ser humano como
13
A numeração dos critérios de mediação empregada nas análises consta no Quadro 1 (p.46).
97
modificável com 34,7%; mediação de transcendência com 32,4% e mediação de
alternativas otimistas com 30%. Com índices inferiores a 30%, os critérios de
mediação da busca de objetivos e metas com 24,8%; mediação da individuação
psicológica com 23,5% ; mediação da regulação do controle do comportamento com
23% e mediação de sentimento de pertencimento com 19,3%.
A totalidade da freqüência absoluta dos critérios por aula demonstrou a
particularidade de cada evento, não havendo igualdade. Constatou-se uma diferença
de mais de 100% entre as aulas com o registro de maior e menor freqüência – quarta
aula com 134, quinta aula com 63.
Demonstrou-se a configuração da totalidade dos eventos na ótica dos
mediados. Dela emergem diversas análises referentes à ocorrência da EAM.
Como se apresentaram os índices dos três critérios considerados como
parâmetros indispensáveis à ocorrência da EAM?
A mediação de intencionalidade/reciprocidade e a mediação de significado
obtiveram índices elevados, sendo que a mediação de transcendência obteve índice
significativamente inferior. Por outro lado, a mediação de compartilhamento,
destacou-se com índice superior aos demais.
A diferenciação da mediação também foi demonstrada pela freqüência ímpar
de cada critério de mediação, apresentada no Gráfico 13, configurando-se cada
evento como único.
As diferentes freqüências dos critérios de mediação apresentaram um
desenho único para cada aula. Cada critério é percebido distintamente, pois
raramente os índices se repetiram para o mesmo critério em aulas distintas.
98
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
1
23456
A
ULAS
Critério 01
Critério 02
Critério 03
Critério 04
Critério 05
Critério 06
Critério 07
Critério 08
Critério 09
Critério 10
Critério 11
Critério 12
GRÁFICO 1 - FREQÜÊNCIA DOS CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO REGISTRADOS PELOS ALUNOS
CO-PESQUISADORES
Fonte: Protocolos dos alunos
A complexidade das relações estabelecidas em sala de aula e das interações
humanas foi demonstrada na análise estatística, que interligada aos demais
indicadores, nos apresenta fatores que caracterizam a identidade de cada aula.
O desenvolvimento do trabalho pedagógico ocorre no cotidiano escolar em
espaços de tempo determinados, vivenciados e planejados por encontros: a aula.
Denominação tão corriqueira, tão presente no cotidiano, porém é uma unidade
altamente complexa.
A aula não acontece exatamente como planejada. O que é desenvolvido em
sala de aula é vivenciado por cada um de forma distinta. O professor realmente
consegue os objetivos que está propondo?
99
Estabeleceu-se a relação entre os critérios propostos no planejamento
(Anexo1), os critérios assinalados após as aulas pelos alunos-mediados (Anexo 2) e
pelo professor-mediador (Anexo 3), da qual apresenta-se a síntese no Quadro 5.
Aulas
Critérios Priorizados no
planejamento
Critérios Registrados pelo
professor
Critérios Registrados pelos
alunos - índice acima de
30%
Aula 01
1 2 3 4 5 8 10 11
1 2 3 4 8 9 10 11 12
1 2 4 8 9 10 11
Aula 02
1 2 3 4 5 6 7 10 11 12
1 2 3 5 6 9
1 2 3 6 10
Aula 03
1 2 3 4 7 8 10 12
1 2 3 5 6 7 9 10 12
1 2 3 6 10
Aula 04
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1 2 3 4 6 7 8 9 11
Aula 05
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 12
1 2 3 4 5 6 7 12
2 5 6
Aula 06
1 2 3 4 5 6 7 12
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1 2 3 4 5 6 8 9 11 12
QUADRO 5 – DIFERENÇAS ENTRE PROPOSIÇÃO E PERCEPÇÃO DOS CRITÉRIOS DE
MEDIAÇÃO
Fonte: Planejamento, Protocolos do professor-mediador, Protocolos dos alunos-mediados
Tomando-se como referencial comparativo a incidência superior a 30% nos
registros dos alunos, constatou-se a diferença entre planejamento e ação, bem como
a percepção diferenciada da totalidade dos mediados e do professor mediador. Faz-
se necessário considerar, no entanto, que há incidência em menor grau de todos os
critérios propostos no planejamento. Conclui-se que alguns critérios foram mais
evidenciados do que outros na mediação, como também são percebidos de formas
distintas pelos mediados.
Na aula 05 há uma diferença significativa com relação aos critérios propostos
e registrados pelo professor e os critérios percebidos pelos alunos.
Observa-se, em maior ou menor grau, a ocorrência dos critérios propostos no
planejamento, com exceção do critério 11, mediação de alternativas otimistas, que
não consta nas aulas 02 e 03.
100
Tais indicadores, tomados isoladamente, podem confirmar a ocorrência ou
não da EAM?
Embora os dados quantitativos oportunizem diversas análises, não dão conta
de explicar a complexidade da mediação da aprendizagem em sala de aula. Na
busca de respostas, optou-se por interligar as diversas fontes de indicadores na
análise de cada critério mediacional.
3.2.2 Da análise particular de cada critério emerge a tessitura em rede das
categorias mediacionais
A teia complexa de relações estabelecidas nas interações em sala de aula foi
analisada a partir do entrelaçamento dos elementos e dos critérios integrantes da
mediação.
A partir dos exemplos registrados pelos alunos (Anexo 5), que demonstravam
a ocorrência de cada critério, foram identificadas relações unilaterais, bilaterais e
tríades entre os elementos integrantes da mediação.
As relações unilaterais demonstraram a percepção do critério a partir de um
dos elementos da mediação, ou seja, a partir do professor-mediador, do próprio
aluno-mediado ou do objeto da aprendizagem. Embora o destaque a um dos
elementos, percebeu-se uma tênue presença das demais. Ao evidenciar a ação do
professor-mediador, fica subentendido que ele ensina algo a alguém. Ao referir-se ao
objeto da aprendizagem, sabe-se que esse será ensinado e aprendido. Ao
exemplificar, a partir do aluno-mediado, subentende-se que ele irá aprender algo
proposto por alguém.
As relações bilaterais demonstraram a percepção do critério a partir de dois
elementos interligados em combinações distintas.
101
As relações tríades: mediados – mediador - objeto da aprendizagem,
estabeleceram o círculo completo envolvido na mediação.
Da análise particular de cada critério emergiu a tessitura em rede das
categorias mediacionais, que demonstrou a inter-relação dos critérios.
3.2.2.1 Mediação de intencionalidade e reciprocidade – Critério 1
Quando a professora teve a intenção de ensinar, e
eu de aprender.
(Aluna 11- aula 06)
A mediação de intencionalidade e reciprocidade é condição fundamental para
a ocorrência da EAM. Com ela os vínculos positivos entre os elementos integrantes
da interação são estabelecidos e/ou reforçados. Como são estabelecidos tais
vínculos? Como se interligam e se modificam durante a aula alunos-mediados,
professor mediador e o objeto da aprendizagem?
A avaliação dos alunos com relação à ocorrência da mediação do critério de
intencionalidade/reciprocidade foi demonstrada pela freqüência relativa, Gráfico 2. A
mediação desse critério ocorreu em todas as aulas com índices de freqüência
diferentes. A quinta aula obteve o menor índice, significativamente inferior aos
demais.
102
Mediação de Intencionalidade/Reciprocidade (1
)
50.0%
59.1% 59.1%
66.7%
27.3%
66.7%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 2 – FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DE
INTENCIONALIDADE/RECIPROCIDADE
Fonte: Protocolos dos alunos
Os registros do professor, após o término da aula 05, possibilitam explicar a
menor freqüência do critério nessa aula:
A dinâmica utilizada como forma de mediar o controle do comportamento
inibiu a mediação reciprocidade e compartilhamento, evidenciada na
participação de apenas dez alunos na dinâmica proposta.
A mediação de um critério pode afetar a mediação de outros. A interferência
pode ser atribuída pela diferenciação dos critérios de mediação entre si, ou pela
estratégia escolhida para orientar a mediação, conforme o registro do professor.
A incidência do critério de intencionalidade e reciprocidade tende a aumentar,
quando se intensifica a participação do professor na interlocução com os alunos.
Esse aspecto é demonstrado no registro a seguir:
Na discussão final al. 17 disse que: para tomar como verdadeiros os
conceitos, precisa da explicação do professor. (registro do professor após a
aula 05)
O momento inicial da aula, com a mobilização coletiva para focalizar o
conteúdo e a manifestação do desejo de ensinar e de despertar o desejo de
103
aprender nos alunos, configura-se como fundamental para mediação de
intencionalidade e reciprocidade.
A proposição do trabalho sem o estabelecimento da exploração inicial
(motivada pela falta de tempo) parece ter causado a mediação precária da
intencionalidade/reciprocidade e significado. (registro do professor após a
aula 05)
As maiores freqüências foram obtidas nas aulas 04 e 06.
Na aula 04 os alunos foram atendidos em pequenos grupos. Esta modalidade
de interação favoreceu a maior incidência de todos os critérios.
O tempo de duração da aula e o número de alunos na sala se configuraram
como variáveis intervenientes na qualidade da mediação.
O que dizer então de salas superlotadas, que é o padrão da maioria das
escolas em nosso país? Discutir qualidade de aprendizagem passa obrigatoriamente
pelo número de alunos por professor. Há pouca possibilidade de EAM com um grupo
de quarenta alunos. O formato de interação possível com esse padrão é a mera
exposição aos estímulos, dos quais se privilegiam os alunos que já possuem funções
cognitivas mais desenvolvidas.
Diferente da pouca exploração inicial na aula 05, o momento inicial da aula 06,
que a princípio tinha um tom de informalidade, oportunizou a mediação da
intencionalidade e reciprocidade.
O professor começou por questionar os objetivos anteriormente propostos, a
dinâmica aplicada na aula anterior, os avanços na aprendizagem do tema proposto,
sobre a disposição das carteiras na sala.
Os alunos responderam às indagações, propuseram novas questões e
sugestões, entraram em consenso e direcionaram-se aos objetivos propostos.
104
Não houve ordens diretas, os questionamentos encaminharam discussão e a
organização coletiva, oportunizou-se o estabelecimento do vínculo alunos - professor
– aprendizagem. Aspectos presentes no exemplo:
Após o professor cumprimentar os alunos e organizar seus materiais na
mesa.
Prof. – Lembram qual era a nossa proposta para hoje, discutida no final da
última aula?
Al. 15 – Discutir a relação dos conceitos de Grupo Operativo com a escola.
Al. 07 – E as moedas, professora? Trouxe? (referindo-se ao material
utilizado na dinâmica da aula anterior)
Al. 16 – É mesmo. Foi Legal.
Prof. – Havíamos proposto utilizá-las?
Al. 07 – Não.
Al. 16, 18 e 23 – Vamos!?
Prof. – Preferem utilizá-las?
Alunos respondem juntos, alguns concordando, alguns discordando.
Prof. – Primeiro vamos à organização da sala. Acreditam que esta formação
é adequada para dinâmica da moeda ou para discussão aberta? (parte das
mesas estava em semicírculo e as demais em fileiras)
Al. 22 – Em círculo ficamos, todos, frente a frente.
Prof. – Então?
Alunos organizam as carteiras e completam o círculo.
Al. 23 – Agora vamos votar: quem quer as moedas?
(...)
Prof. – Me parece que estamos diante de um grupo bastante operativo.
Então, vamos buscar em que a teoria ajuda a nos entendermos?
Primeiro vamos lembrar o que vimos na aula passada.
(...)
Prof. - Precisamos fechar a questão anterior. Proponho começar sem as
moedas, pois nossos objetivos de hoje são distintos da aula passada e a
maioria do grupo acha que jogar a moeda pode ser um impedidor para sua
participação. Vamos ver como nos saímos? Tudo bem para vocês? (dirigiu-
se aos alunos que solicitaram repetir a dinâmica da aula anterior) Primeiro
momento sem fichas, se necessitarmos recorreremos a este recurso.
(...)
Prof. – Retornamos as questões de hoje. No final da aula anterior
determinamos que a releitura dos textos, a ser realizada em casa, deveria
enfocar: qual a tarefa da escola e no que a teoria de grupos operativos pode
nos ajudar a entender as relações estabelecidas na escola. Vocês acham
que houve avanços no entendimento da teoria desde o primeiro contato,
105
após a discussão da aula passada e a leitura proposta?Quais os conceitos
que ainda nos temos dificuldades?
Os alunos passaram a expor conquistas e dúvidas. (Vídeo-filmagem, 0,20
min – 5,26 min, 17/11/04).
- Relação entre os elementos integrantes da mediação e o critério
Intencionalidade/Reciprocidade
As relações unilaterais nos registros dos alunos foram observadas por meio
do professor, dos mediados e do objeto da aprendizagem.
Na ação do professor-mediador, como registram alguns alunos, demonstra-
se a intencionalidade, o desejo de ensinar algo a alguém ao: organizar e coordenar
as atividades, ensinar o que é proposto e estimular o aluno à aprendizagem.
Al. 24 - Na organização da atividade, na coordenação do grupo. (05)
14
Al. 24 - A professora ensinou. (06)
Al. 06 - Estimulou o mediado. (03)
A percepção da reciprocidade, do desejo de aprender é uma manifestação
intrínseca, parte de uma notícia interna do aluno-mediado:
Al. 2 - Eu tive vontade de aprender. (03)
O objeto da aprendizagem tem potencial de reforçar os vínculos de amor ao
conhecimento:
14
A abreviatura Al. refere-se à palavra aluno, o numeral ao lado identifica os alunos participantes da
pesquisa. O numeral entre parênteses, após a frase, refere-se à aula em que foi realizado o registro.
A abreviatura Prof. refere-se ao professor.
106
Al. 20 - Na escola ele faz com que as crianças aprendam e possam
responder e perguntar o que ele explicou - referindo-se ao conteúdo
proposto no vídeo
. (01)
Al. 10 - É um bom assunto a ser aprendido. (06)
As relações bilaterais ocorreram em três combinações distintas.
A interação professor-mediador e aluno-mediado exemplifica o vínculo
positivo entre ambos. Estabeleceu-se o encontro da intenção e da reciprocidade por
meio:
- da forma de interação entre professor e alunos, na instigação à participação
e reflexão:
Al. 09 - Interação entre a professora conosco, a instigação a nossa
participação e reflexão. (03)
- da demonstração de interesse do professor pelo aprendizado do aluno:
Al. 25 - É visível o interesse de aprendizado do aluno com relação ao
professor. (01)
- da disponibilidade e vontade da professora em ensinar e dos alunos em
aprender:
Al. 17 - As meninas estavam dispostas a aprender e a discutir, e a
professora disposta a ensinar. (06)
Al. 05 - Da mesma forma que a professora teve vontade de ensinar, eu tive
vontade de aprender. (03)
- na manifestação do desejo de ajudar e de aceitar ajuda:
Al. 23 – Eu quero a ajuda e a professora demonstra grande disposição em
contribuir. (04)
Na interação aluno-mediado e objeto da aprendizagem o encontro, a
constituição do vínculo do aprendiz com o conhecimento, quando o conteúdo
proposto desperta o desejo, a curiosidade e tem relação à vida:
107
Al. 09 - Feuerstein passa a idéia da difusão de suas idéias e que em mim é
mútuo, pois sou encantada pela idéia de educação dele. (01)
Al. 22 - Eu quero aprender sobre o trabalho de Feuerstein. (01)
Al. 17 - Foi um assunto que me despertou curiosidade. (01)
Al. 09 - Apesar de não ter me exposto senti o conteúdo como uma tarefa
conceito utilizado na teoria. (06)
Na interação professor-mediador e objeto da aprendizagem a
manifestação do vínculo:
- na forma de promover a interação:
Al. 07 – Quando promoveu interação dos conteúdos com a turma. (03)
Al. 24 - Na busca de fomentar a discussão, o despertar para o tema. (03)
- o professor mostra a importância daquela aprendizagem:
Al. 12 - Quando nos mostrou o quanto importante é o conhecimento da
ética. (02)
A relação tríade: mediados – mediador - objeto da aprendizagem foram
maioria significativa nos registros dos alunos / co-pesquisadores. Ocorreu quando:
- o professor demonstrou intenção de ensinar algo aos mediados:
Al. 15 - A mediadora teve a intenção de nos passar conhecimento a partir do
momento em que nos levou o vídeo. (01)
Al. 09 - Houve a intenção da professora de mediar o conteúdo e minha de
refletir nele (02)
Al. 22 - De minha parte houve interesse sobre o assunto e a professora
realmente tinha a intenção que eu aprendesse. (02)
Al. 15 - Houve discussão sobre o subtema, a professora questionou e teve a
intenção de que nós fizéssemos a pesquisa. (04)
- o professor propõe algo e o aluno responde à proposta:
Al. 07 - A professora veio com o conteúdo e eu respondi e quis aprender.
(06)
Al. 21 - Quando ela proporcionou a discussão sobre o primeiro texto fazendo
com que cada dupla passasse para as outras duplas. (03)
108
- na troca de conceitos entre professor e aluno:
Al. 05 - No momento em que houve a “troca” de conceitos tanto a partir da
professora quanto a partir do aluno. A professora quer ensinar e o aluno
quer aprender. (04)
- no contato mais próximo e intencional entre professor e aluno:
Al. 09 - A professora manteve o contado intenso com a intenção de me
orientar em meu projeto. (04)
Os registros ilustram as ações externas que possibilitaram a mediação do
critério e despertaram as ações internas no aluno com relação ao objeto de
aprendizagem. O professor instigou a participação e a reflexão; demonstrou vontade,
interesse, desejo e disposição em ensinar; focalizou o conteúdo, questionou e fez
proposições. Os alunos sentiram vontade, descobriram, quiseram e despertaram
para o tema.
Nas relações bilaterais e tríades demonstram-se os vínculos diferenciados
que se estabelecem no processo de aprendizagem, e a presença da afetividade
como disparadora do cognitivo. Reporte-se à analogia da moeda transparente feita
por R. Feuerstein, cujas faces refletem o cognitivo e o emocional como
interdependentes da aprendizagem.
- A inter-relação entre a mediação de intencionalidade/reciprocidade e os
demais critérios
A mediação do critério de intencionalidade/reciprocidade foi acompanhada de
significado, compartilhamento, transcendência, controle do comportamento, busca
alternativas otimistas, conscientização do ser humano como mutável e desafio. A
aluna 09, na aula 01, demonstrou entender o porquê e o para quê do conteúdo,
portanto, atribuiu significado. As diversas relações de trocas entre professor-
109
mediador e alunos-mediados ressaltadas retratam o compartilhamento. Outros
registros destacam os desafios propostos pelo professor. Um dos exemplos de
transcendência, conscientização do ser humano como modificável e busca de
alternativas otimistas é expresso pelo aluno 17, na aula 01:
Acreditar que é possível pessoas com deficiência orgânica “aprender”.
Acreditar na educação.
A estreita ligação entre os critérios de intencionalidade/reciprocidade e
significado foi estabelecida na aula 01, na qual houve grande incidência da relação
bipolar aluno-mediado e objeto da aprendizagem nos registros. A presença do
critério de compartilhar junto ao critério de intencionalidade/reciprocidade foi
demonstrada na aula 06, na qual houve grande incidência da relação bipolar aluno-
mediado e professor-mediador.
3.2.2.2 Mediação de Significado – Critério 2
Esta aula teve um porquê, pois vou usar a teoria
dos grupos na sala de aula.
(Aluna 15 – aula 06)
O conteúdo tem um porquê para ser estudado.
(Aluna 07 - aula 02)
Mediar o critério de significado é criar condições ao aluno para atribuição de
sentido na descoberta do por que e do para quê do objeto da aprendizagem.
A freqüência relativa do critério de significado, no Gráfico 3, mostrou-se
superior a 50%, com exceção da primeira aula.
110
Mediação de Significado (2)
36.4%
54.5%
81.8%
61.9%
77.3%
54.2%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 3 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO
MEDIAÇÃO DE SIGNIFICADO
Fonte: Protocolos dos alunos
As aulas 03 e 05, com índices mais elevados, os sub-temas abordados
propiciaram relações com aspectos de situações concretas vivenciadas pelos alunos;
fator que oportunizou o entendimento mais imediato do por que e do para quê do
conteúdo da mediação.
Ao final da aula 05, no momento da síntese do dia, o professor encaminhou
como questão principal a busca de significado em estudar o tema proposto no curso
de formação de professores. Algumas considerações foram anotadas a esse respeito
no diário de registro:
Uma das minhas preocupações foi uma proposição taxativa e negativa da Al
10 frente à necessidade de entender grupos (como futura educadora). Os
demais alunos realizaram sínteses ricas ao final da aula e nos registros,
mesmo os que não participaram da dinâmica. Pareceu-me não ter lido o
texto.
Embora a relevância naquilo que ensina possa estar evidente para o
professor, não é suficiente para ser percebido e desejado pelo aluno.
Na aula 06 o professor retoma a questão, após propor um desafio ao restante
do grupo:
111
Prof. – Enquanto o pessoal busca, tem uma pergunta que eu gostaria de
fazer a você, J. (AL 10). No final da aula passada, quando foi questionado o
significado do estudo desta teoria, você colocou que não tinha entendido
ainda o porquê de estudar Grupos Operativos. Após a discussão de hoje,
você mudou em relação a isso?
Al. 10 – Tipo assim, eu acho que é bem legal saber esse negócio de líder...
Estou achando bem jóia. È legal saber.
Prof. – Quando falamos disso queríamos saber se tem um para quê estudar,
no que usar. Qual é a tua percepção hoje?
Al. 10 – Achei legal, pois mesmo nos pequenos grupos, tipo, panelinhas,
tem “bode expiatório”, “líderes”... E que um dia a gente é uma coisa no outro
dia é outra.
(Vídeo-filmagem, 19, 09 min – 22, 02 min, 17/11/06)
A atribuição de significado pode não ser imediata, mas pode ser retomada
pelo mediador. O professor-mediador, ao orientar suas aulas, tendo em vista a
mediação dos critérios, pode avaliar seus alunos e oportunizar a mediação
anteriormente não estabelecida.
A atribuição de significado pode estar ligada a fatores subjetivos, para tal a
mediação de individuação psicológica mostrou-se eficaz, bem como as
transcendências estabelecidas auxiliaram em sua percepção.
- Relação entre os elementos integrantes da mediação e o critério de
Significado
Apenas relações bilaterais e tríades entre os elementos da mediação e o
critério de significado foram demonstradas nos registros dos alunos.
A ausência da unilateralidade nos exemplos de mediação de significado pode
ser explicada pela interdependência do estímulo externo e da atribuição de sentido
subjetivo, ora revelada na relação professor - mediador e objeto da aprendizagem,
ora na relação aluno – mediado e objeto da aprendizagem, ou na relação entre os
três elementos.
112
O significado emerge de dentro para fora, ou seja, parte de alguém em
relação ao meio. Foi percebido pelo aluno nos significados demonstrados pelo
professor, ou nos significados internos que o mediador evocou no mediado.
As relações bilaterais predominaram. A maior incidência apresenta o
binômio aluno – mediado e objeto da aprendizagem, a qual foi constatada em
todas as aulas e demonstraram a descoberta do porquê e do para quê aprender
determinado tema, por parte dos alunos-mediados ao:
- descobrir no que pode ser usado:
Al. 04 - Que eu posso utilizar isso e como “lidar” com esse tipo de
deficiência. (01)
Al.22 - É importante conhecer o trabalho de Feuerstein, para utilizá-lo na
minha prática pedagógica. (01)
Al. 18 - Para descobrir como proteger crianças violentadas. (04)
Al. 21 – Identificar sintomas de depressão. (04)
Al. 22 - Saber como proceder e divulgar resultados. (04)
Al. 24 - Para que possa trabalhar com as crianças mais tarde, isso é
essencial. (02)
Al. 08 – Para proteger as crianças e aprender mais sobre pedofilia. (04)
Al. 03 - Usar em minha profissão – com minha turma. (05)
- perceber sua relação com a vida:
Al. 09 - A discussão sobre ética tem significado, pois possui extrema
importância para a vida. (02)
Al. 19 - É importante para a formação como futura educadora. (02)
Al. 16 – Auxiliamos na sala de um menino cego. – a aluna teve como
temática de pesquisa a inclusão de um aluno cego - (04)
Al. 12 - Quando foi colocado alguns conceitos fazendo um paralelo com a
realidade. (05)
Al. 23 - No estabelecer relações com o que estamos estudando, com a vida
em grupo. (05)
Al. 17 – Seremos professoras e talvez encontraremos alunos com
síndromes. (04)
113
Al. 17 - Notamos que tudo isso servirá para nosso futuro como educadoras.
(06)
- oportunizar descobertas:
Al. 22 - Quando eu percebo que eu precisarei formar a criança como ser
ético, e por isso estou aprendendo este conteúdo. (02)
Al. 21 - Quando percebemos o verdadeiro significado dos conceitos. (06)
Al. 07 – A importância de divulgar sobre violência infantil. (04)
Al. 02 - Depois de tanta discussão, o grupo operatório é uma coisa para ser
vista em todos os momentos. (06)
- despertar questionamentos:
Al. 09 - Como ser professor sem entender o grupo, a realidade, a
sociedade? (06)
Al. 14 - O que eu sou na sala? Porque eu assumo esse lugar? (06)
A atribuição de significado representa a energia que permite vencer a
resistência em lançar-se na aventura do conhecer, superar os medos que a novidade
pode conter e empreender os esforços para uma estruturação cognitiva mais
complexa e uma (re)elaboração dos conceitos a respeito da realidade.
Uma das queixas mais freqüentes dos educadores é apatia frente ao trabalho
escolar por parte dos educandos. Tal sintoma não revelaria a falta da mediação do
significado? Os professores sabem o porquê e o para quê do que ensinam?
Para tornar desejável o conteúdo aos demais, o professor primeiramente
necessitaria mediar para si mesmo seu significado. Só assim poderá provocar a
descoberta do sentido imediato e dos novos sentidos, ajudar a distinguir sentidos
objetivos e subjetivos, restritos e universais inerentes ao que ensina.
A maior autonomia na escolha e organização dos conteúdos pelo professor
pode ampliar as possibilidades de tornar-se mediador de significado.
114
Outro aspecto relacionado a esse critério é fato dos professores e pais não
serem animados pela necessidade de mediar seu próprio significado como
mediadores, como destacam R. Feuerstein e S. Feuerstein (1994), o que acarreta
num empobrecimento do vínculo entre mediadores e mediados.
Num mundo tão complexo repleto de informações e rico de instrumentos, há
dificuldade por parte dos adultos de perceberem-se como indispensáveis à formação
das novas gerações. O resgate da identidade e da conscientização da importância
dos papéis de pais e professores como mediadores parece ser o ponto de partida
para mediação de significado. De nada adiantaria atribuir significado ao objeto da
aprendizagem sem atribuir significado ao mediador que o ilumina.
A relação bilateral professor-mediador e objeto da aprendizagem tornam-
se visível na ação do mediador. O professor:
- atribuiu novos significados ao tema da medição:
Al. 20 - Este conteúdo tem um significado para mim, como a professora me
fez perceber que é importante este conteúdo. (02)
- estabeleceu pontes com a realidade:
Al. 06 - Quando ela exemplificou a ética e a lógica (alguns termos com a
realidade). (03)
Al. 12 - Quando exemplificou alguns termos com a realidade em que
vivemos. (03)
- propôs o estabelecimento de relações:
Al. 12 - Quando ela relacionou a ética com a sala de aula. (02)
- explicou aspectos estruturais do tema:
Al. 11 - A professora quer que nós saibamos o como acontece a formação
ética, explicando que se trata de valores, conduta. (03)
- questionou sobre o significado dos conceitos:
115
Al. 05 - Quando a professora pergunta se nós entendemos o conceito de
tarefa. (05)
Além de sua intenção e das características pessoais como mediador, o
professor foi buscar o potencial que o conteúdo possui para tornar-se significativo.
A relação tríade: mediado – mediador - objeto da aprendizagem
apresentaram-se em dois registros. O professor encontra elos entre conteúdo da
mediação e aluno, desperta a atribuição de significado pelo aluno, ou seja,
estabelece o sentido subjetivo:
Al. 15 - Quando a professora falou sobre a ética, a qual teve significado,
despertou interesse. (02)
Al. 15 - Fomos levadas a refletir sobre o que sabemos e por que sabemos
sobre o Down e a síndrome. (04)
As relações bilaterais configuraram quase a totalidade dos registros dos
alunos-mediados. Em sua maioria, expressaram a relação aluno–mediado e objeto
da aprendizagem. Na aula 03, no entanto, predominou a relação professor-
mediador e objeto da aprendizagem. Que fatores ocasionaram tal diferença?
A análise das estratégias distintas propostas no desenvolvimento das aulas,
os níveis de complexidade e abstração forneceram indicadores que justificam as
relações diferenciadas no registro dos alunos.
Na terceira aula, a dinâmica proposta exigiu a orientação constante do
mediador. Houve grande elaboração dos alunos, muitos questionamentos dirigidos
ao professor-mediador e devolvidos ao grupo de forma mais complexa e/ou
elaborada. Na reelaboração das questões o professor-mediador articulava o tema
com a realidade atual, como observamos nos registros do diário do professor-
mediador, após a aula:
116
Quando a aluna 09 destacava a mídia como defensora dos direitos das
crianças, propus a questão:
- Qual a coerência ética numa emissora de TV que promove uma campanha
contra o trabalho infantil e emprega crianças em seu elenco?
Bastou tal pergunta para a proposição de diversos pareceres distintos e o
emprego dos conceitos ainda em aberto propostos no vídeo. Houve
participação de todos. A discussão foi sendo enriquecida por exemplos
concretos (família, escola, mídia). Porém, diversas vezes tive que chamar a
atenção para as relações do que diziam com o tema em estudo e retomar os
conceitos. As diferentes opiniões eram manifestas, nas divergências era
solicitada a opinião ou conclusão do mediador. Queriam por vezes obter a
confirmação de qual era a opinião mais verdadeira, questão que eu devolvia
ao grupo com um novo exemplo a ser discutido. (13/10/06)
A utilização dos parâmetros propostos no mapa cognitivo foi demonstrada no
registro do professor-mediador. Destacaram-se o tema, os níveis de complexidade,
abstração e de eficácia. O questionamento foi o disparador da discussão e da
reelaboração dos conceitos em estudo que levou a maior complexidade e abstração,
demonstrando-se eficaz.
- A inter-relação da mediação de significado com demais critérios
mediacionais
No registro dos alunos, ao exemplificar o critério de significado, ficou expressa
a estreita relação entre significado e transcendência em todas as aulas:
Al. 09 – Sim, comparei algumas coisas com casos em minhas vivências em
sala de aula e concordo, o professor que não acredita que o ser humano é
modificável é responsável pela sua inércia. (01)
Al. 22 - Quando eu percebo que eu precisarei formar a criança como ser
ético, e por isso estou aprendendo este conteúdo. (02)
Al. 16 - Percebi no que é utilizado no dia a dia a lógica e a moral. (03)
Al. 17 – Seremos professoras e talvez encontraremos alunos com
síndromes. (04)
Al. 23 - No estabelecer relações com o que estamos estudando, com a vida
em grupo. (05)
Al. 15 - Esta aula teve um porque, pois vou usar a teoria dos grupos na sala
de aula. (06)
117
O significado é apreendido à medida que se relaciona a sua aplicabilidade à
vida. Quanto maior a transcendência, mais significado lhe é atribuído. R. Feuerstein
destaca em várias de suas obras que a EAM, quando animada pela intenção de
transcender, medeia no mediado o significado da interação e de seu conteúdo e
torna explícitos os objetivos primários e secundários da interação.
O significado foi permeado pelas relações de pertencimento. São freqüentes
nos registros dos alunos expressões como: “sociedade que vivemos”, “futuras
professoras”, “nosso futuro como educadores”, “nossa sala”; as quais revelaram os
vínculos sociais estabelecidos. Para atribuir significado, os vínculos sociais e
perspectivas de vida são necessários: se a nada pertenço, se não há possibilidades
futuras, qual o significado de aprender o novo, ou de lançar-me à mudança?
Comportamento de compartilhar, busca de objetivos e metas, busca da
novidade e complexidade e busca de alternativas otimistas foram os demais critérios
que contribuíram para a mediação de significado.
A mediação de significado favorece o estabelecimento do vínculo entre aluno-
mediado e objeto da aprendizagem, o despertar do desejo pela a aprendizagem de
algo. O significado desperta o desejo, o desejo mobiliza as estruturas afetivo-
cognitivas para inserção no desafio de modificar-se, de querer saber.
3.2.2.3 Mediação de Transcendência – Critério 3
Esse conhecimento não serve só para eu fazer
uma avaliação, vai servir para a minha prática.
(Aluna 22 – aula 01)
Vai além do aqui e agora, transferindo para a vida.
(Aluna 19 – aula 03)
Ir além do aqui e do agora é uma expressão que sintetiza o critério de
transcendência. Refere-se às múltiplas relações que podem ser estabelecidas entre
118
o objeto da aprendizagem e os aspectos do ato mental empregados em outros
contextos, conteúdos, fatos, áreas do conhecimento, realidade, momentos.
A freqüência relativa - Gráfico 4, mostrou índices inferiores em relação aos
demais critérios considerados essenciais a EAM, intencionalidade/ reciprocidade e
significado.
Mediação de Transcendência (3)
22.7%
36.4%
54.5%
42.9%
4.5%
33.3%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativ
a
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 4 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DE
TRANSCENDÊNCIA
Fonte: Protocolos dos alunos
A consideração apenas dos dados numéricos, pode levar à conclusão que a
transcendência foi um critério pouco mediado no decorrer das aulas. Ao interligar tais
dados com os demais registros, no entanto, constatou-se sua presença permeando
os demais critérios, como já considerado na análise do critério de significado.
Na análise da vídeo-filmagem da aula 06, a mediação de transcendência é a
mediação mais freqüente. Destacaram-se algumas pontes estabelecidas pelos
alunos, no decorrer da aula:
- conceitos da teoria aplicados para explicar aspectos da vida: operatividade;
diferenciação entre grupos operativos e não operativos; diferenciação entre líder de
mudança e líder de resistência; diferenciação entre tarefa e trabalho; cristalização de
119
papéis; circularidade de papéis; bode expiatório, sintetizador; coordenador; teoria do
vínculo; regra dos três D; depositário, depositante e depósito; lei da
complementaridade (entre outros);
- conceitos e relações com outras teorias: noção de “erro”, segundo J. Piaget;
conceitos psicanalíticos freudianos; conceitos da abordagem histórico-cultural;
referência à epistemologia convergente de J. Visca:
- aspectos da realidade em que foram aplicados e/ou exemplificados os
conceitos: os diferentes papéis assumidos em sala de aula; as panelinhas; a feira de
ciências; os conflitos entre os membros do grupo; as docências de estágio; a coleta
de material para colegas; elaboração conjunta de planejamentos; contexto familiar;
aplicabilidade ao futuro profissional; os conflitos e conquistas da comissão de
formatura (entre outros).
Para exemplificar, destacou-se um exemplo das muitas transcendências
mediadas na aula 06:
Al. 22 – Eu digo que o nosso grupo não é operativo. Diz aqui que grupo
operativo tem que proporcionar crescimento e avanço para seus membros.
Na nossa sala tem gente que não contribui para o crescimento do grupo.
Prof. – Isso poderia ter algo a ver com bode expiatório? Vocês lembram o
que é bode expiatório?
(...)
Prof. – Qual seria o problema para o grupo?
Al. 06 – É um de nós sermos somente líder.
Al. 17 – Ou sempre bode expiatório.
(...)
Al. 15 lê o conceito de cristalização no texto.
Prof. – Devolvo para você, R. (Al. 22). Esta questão da cristalização
acontece na escola? Após a leitura você continua com a opinião de a sala
não é operativa? Vocês não têm cristalizado os papéis de bode expiatório
em alguns alunos?
(Vídeo filmagem, 6,5 min – 9,9 min, 17/11/06)
120
- Relação entre os elementos da mediação e o critério de transcendência
Os registros feitos pelos alunos demonstraram, em sua maioria, a relação
bilateral entre aluno-mediado e objeto da aprendizagem. A transcendência foi
percebida ao:
- estabelecer pontes com o futuro profissional e social:
Al. 09 - Pretendo exercer essas idéias em minha prática. Além de ver alguns
aspectos que usei em meu último estágio. (01)
Al. 11 - É importante ressaltar hoje o “valor” que se dá à moral, pois, como
futura educadora, temos que salientar que imagem, dinheiro não são tão
importantes como pensam. (03)
Al. 05 - Quando saímos daqui e utilizamos esses conceitos em nossa vida.
Ex.: como estagiária, professora em sala de aula. (06)
Al. 09 - Pude comparar e olhar ao futuro quando serei professora e a
importância da teoria para suprir meus objetivos. (06)
Al. 25 - Ele (conteúdo) não prepara somente para a sala, mas também para
a inserção à sociedade. (02)
- auxiliar na compreensão de experiências vivenciadas:
Al. 24 - O que vimos no vídeo pode ser percebido em algumas crianças. (01)
Al. 13 - Traz reflexos da realidade que eu vivencio no dia-a-dia. Ex.: mídia
(03)
Al. 08 – A pesquisa nos ajuda a entender a realidade. (04)
Al. 09 - O conteúdo passado é altamente importante em nossa prática, pois
a formação ética é como a linguagem, sem um agente externo que a passe
ela não existirá. (02)
- vislumbrar mudanças:
Al. 19 - Para aplicar no cotidiano como professora para que haja a mudança
na educação. (02)
- demonstrar aplicabilidade prática:
121
Al. 07 - “Passarei” este conteúdo para os grupos que tenho. (06)
Al. 07 - Trabalhar com as crianças em sala e com filhos. (03)
Al. 24 - Além do entendimento do tema a relação com o ensino e a
publicação. (04)
Al. 16 - Percebi que o conteúdo “sairá do papel”. (02)
- despertar necessidades:
Al. 09 - Senti sim a necessidade da reflexão e da aplicabilidade desses
conceitos em toda vida. (03)
- ir além de objetivos meramente avaliativos:
Al. 15 - Este filme não se refere somente a prova, um mero conteúdo, mas
sim para a minha formação de professora. (01)
Al. 22 - Esse conhecimento não serve só para eu fazer uma avaliação, vai
servir para a minha prática. (01)
Al. 15 - O conteúdo não foi mero aprendizado para a prova, mas para a vida.
(02)
Al. 24 - O conteúdo vai além das questões da prova, tem ligação com seu
mundo. (02)
Al.15 - Saímos do conteúdo para a prova, fomos para a realidade do mundo.
(03)
Al. 22 - Esse conteúdo vais ser aplicado na minha sala de aula, não vai
servir só para eu passar de ano. (03)
Al. 17 - Essa mediação foi uma das mais fortes. Afinal estamos trabalhando
por algo não para a prova final, mas com o objetivo de conhecer o que é o
Down. (04)
Cabe ressaltar o número significativo de exemplos citados pelos alunos que
abordam a mediação de transcendência como superação do objetivo restrito de
ensinar/aprender com vista à avaliação e obtenção de nota.
Um destaque que pode parecer desnecessário, pois pensar o processo
ensino/aprendizagem na escola como apresentar algo, fixá-lo, avaliá-lo e não usá-lo
mais é, no mínimo, triste. No entanto, refletiu a abordagem mecanicista da
aprendizagem na experiência dos alunos.
122
Os exemplos que estabeleceram a relação tríade: mediado – mediador –
objeto da aprendizagem ressaltaram:
- a ação do professor ao ensinar e aprendizagem dos alunos como elementos
para percepção da aplicabilidade do tema no cotidiano:
Al. 03 - O conteúdo explicado foi compreendido e assim pudemos ver
exemplos no dia-dia. (02)
- a instigação do professor ao despertar o aluno para a possibilidade de ir
além da aprendizagem já conquistada:
Al. 09 - Instigou-me a novos questionamentos para minha pesquisa. (04)
- os questionamentos propostos como auxiliadores para o estabelecimento de
transcendência:
Al. 12 - Quando foi colocada a questão de como o grupo operativo
influenciará na minha profissão. (06)
A mediação de transcendência estabeleceu os vínculos do aprendiz com o
objeto da aprendizagem e a realidade, aspecto mais observado nos registros dos
alunos – mediados que contemplaram um destaque proposto por Freire (1997, p. 33)
sobre a relevância de se discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva
associar a disciplina cujo conteúdo se ensina.
As ações do professor - mediador que provocaram transcendência nos alunos
- mediados, segundo registros destes, assemelham-se às destacadas por Rubinstein
(1995) ao estimular o estabelecimento de relações entre atividade atual e
experiências anteriores, indicar ou estimular a aplicação de elementos da atividade
em outras situações, possibilitar a construção de conceitos e generalizações,
estimularem o reconhecimento do essencial, guiar-se por metas que transcendem o
imediatismo e a avaliação, propor e solicitar exemplos e situações hipotéticas, para
123
promover a compreensão que vão além do aqui e agora, procurar criar
necessidades.
Embora os registros dos alunos tenham demonstrado o emprego da
flexibilidade de pensamento, construção de princípios e generalizações, a percepção
desses processos cognitivos empregados e de suas aplicações não é destacada
pelos alunos.
Um exemplo de flexibilidade de pensamento e transcendência, no qual ficou
explicita a utilização de conceitos anteriormente abordados, bem como o
estabelecimento de pontes para além do conteúdo enfocado, foi registrado pelo
professor-mediador após a aula 04:
No trabalho com a pesquisa, os alunos continuam a surpreender-me. Um
exemplo das gratas surpresas está no diálogo estabelecido com a aluna 09
no momento de orientação da sua pesquisa:
- Professora, agora que estou chegando ao final da pesquisa sobre os
métodos de trabalho com autistas, surgiu uma nova pergunta: será que
somente métodos comportamentalistas podem ser empregados com eles?
- De onde surgiu está dúvida?
- Os dois métodos que eu encontrei parecem que propõe treinamento às
crianças. Se elas têm potencial, será que o melhor recurso é treiná-las?
Será que não podemos usar outras teorias psicológicas para elaborar outro
tipo de metodologia?
- Você já encontrou uma resposta?
- A senhora não conhece outro método?
- Você acredita ser possível?
- Se a educação pode mudar as crianças normais, com base nas teorias que
a gente estuda, acho que pode ajudar para todas as crianças. [...] (29/10/04)
A aluna estabeleceu inúmeras pontes: entrelaçou conceitos teóricos
anteriormente estudados com os dados de pesquisa por ela coletados, demonstrou
realizar análise e ter ido além da simples coleta de informações, analisou a
realidade, foi além do momento presente, vislumbrou novas possibilidades, enfim,
utilizou diversas operações mentais e funções cognitivas nas transcendências.
124
- A inter-relação da mediação de transcendência com os demais critérios
mediacionais
Há nos registros dos alunos o emprego freqüente do verbo “ver”. Sua
utilização retrata a relação do critério de transcendência com o critério de significado:
ver/perceber o porquê e o para quê do que está sendo mediado.
Outros critérios inter-relacionados foram intencionalidade/reciprocidade,
compartilhamento, controle do comportamento, busca de metas otimistas, desafio,
busca de objetivos e metas e sentimento de pertencimento. As pontes estabelecidas
relacionam-se a um futuro profissional, pessoal ou na inserção social; aplicações na
realidade particular ou global do que está sendo mediado.
Os alunos demonstram a superação de uma preocupação destacada por R.
Feuerstein (1999), de uma juventude que vive num mundo sem passado, sem
história, sem futuro, não há projeções de vida. Por não ter horizontes, vivem no aqui
e agora.
3.2.2.4 Mediação de Sentimento de Competência – Critério 4
Me senti capaz de seguir em frente.
(Aluna 12 – aula 04)
Mediar o sentimento de competência demanda que o professor oportunize aos
alunos experimentarem ser competentes e perceberem-se como tal.
Os índices de freqüência - Gráfico 5 - demonstraram que houve a mediação
do critério de sentimento de competência em todas as aulas, porém houve
diferenças significativas entre as aulas.
125
Mediação de Sentimento de Competência (4)
63.6%
18.2%
13.6%
71.4%
9.1%
33.3%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativ
a
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 05
GRÁFICO 5 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO DO
SENTIMENTO DE COMPETÊNCIA
Fonte: Protocolos dos alunos
Atribuiu-se a diferença entre os índices das aulas a variação da proposta
didático metodológica, ou seja, algumas estratégias são facilitadoras da mediação de
critérios específicos.
Alguns aspectos que caracterizaram a aula 04 propiciaram a mediação do
sentimento de competência
15
. O trabalho de orientação em pequenos grupos
possibilitou um contato mais intenso e pessoal com o mediador. A modalidade
didática utilizada oportunizou a autonomia do aluno, o sentir-se competente, pois o
desafiou a demonstrar características próprias. Possibilitou ao professor-mediador
ajudá-lo a analisar seus processos mentais e entender as condições do êxito.
Na aula 01, o tema proposto possibilitou a mediação do sentimento de
competência. Os conteúdos escolares influenciaram a mediação dos critérios,
demonstrando que sua escolha pode interferir na qualidade da interação.
15
Durante o ano letivo, os alunos organizaram subprojetos de pesquisa com temática referente ao
campo da psicologia, relacionando os dados obtidos à realidade local, numa abordagem qualitativa.
Os temas abordados pelos grupos foram: Autismo: Um tema esquecido na formação de
educadores; Violência contra a criança: dados da realidade local; Pedofilia: discussão necessária;
Conhecendo a Síndrome de Down; Os conhecimentos adquiridos no Curso Normal sobre o
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade; Inclusão de alunos portadores de deficiência
visual: um estudo de caso; Esquizofrenia: conhecimentos necessários aos educadores. Os alunos
eram orientados em grupos, conforme o tema da pesquisa, uma das aulas de orientação foi à aula
04.
126
O índice obtido na aula 06 é confirmado na análise da vídeo-filmagem Houve
mediação de competência, porém este não foi um dos critérios mais freqüentes.
Conclui-se que o número de vezes que o critério é mediado pode contribuir para a
sua percepção pelo maior número de alunos.
Destacam-se exemplos dessa mediação, nos recortes:
13,38 min:
Prof. – Quem arrisca nos dizer quais as teorias estudadas no ano passado
estão presentes nesta discussão?
Al.22 – Eu acho que é Piaget. Ele fala dos erros (...)
Prof. – Poxa! Você está me fazendo ver que podemos fazer algumas
relações que eu não estava realizando. Explique para nós como chegou a
tais conclusões.
(a aluna passa a explicar e o professor ressalta os aspectos lógicos de suas
conclusões)
Prof. – Mas agora, vamos ver mais o que o começo do texto propõe: “O
homem aprende a ser humano na coletividade.” (não completa o que ia
dizer)
Al. 16 e Al.13 – Vygotsky. (imediatamente)
Prof. – Muito bom!
Al. 10 – Parabéns!
25, 15 min:
Prof. – Eu vou expressar, fazer uma síntese do que vocês disseram até
então. E depois vocês vão me dizer se é verdadeiro ou não.
( o professor passa a ressaltar os ganhos do grupo, destaca aspectos
positivos da contribuição de vários alunos)
33 min, após uma consideração feita por uma aluna, anteriormente, não
ressaltada, pelo grupo:
Prof: Agora a G. (Al. 22) pôs uma coisa muito importante. (a discussão é
devolvida ao grupo, a partir da contribuição da aluna)
(Vídeo-filmagem, 17/11/04)
127
- Relação entre os elementos da mediação e o critério de competência
A relação unilateral demonstrou o sentimento de competência do aluno-
mediado a partir de si mesmo ao perceber-se capaz:
- de entender o que é proposto:
Al. 21 -- Quando eu percebi que sou capaz de entender. (03)
- de ir além do que já foi conquistado:
Al. 12 – Me senti capaz de seguir em frente. (04)
Al. 19 – Percebi que podemos superar as dificuldades encontradas até o
momento. (04)
Al 10 - Eu posso ser melhor. (06)
- de realizar com autonomia:
Al. 15 – Senti-me capaz de realizar a pesquisa. (04)
Os registros remeteram a situações que demandaram autonomia. Portanto,
mediar competência relaciona-se a quebrar relações de dependência, de seguir
modelos sem questionamentos.
Ocorreu o predomínio das relações bilaterais nos registros dos alunos-
mediados. Na interação objeto da aprendizagem e aluno-mediado a mediação do
sentimento de competência foi estabelecida a partir:
- do tema proposto, quando este salientou aspectos da competência humana
ou possibilitou ao aluno perceber-se como competente:
Al. 07 - Somos competentes e Feuerstein mostrou isso em seu vídeo
quando diz que a criança não é boba. – referindo-se ao conteúdo do vídeo
apresentado (01)
Al. 21 - Quando ele falou que o garoto era capaz e realmente o garoto
conseguiu realizar a atividade. – referindo-se ao conteúdo do vídeo
apresentado (01)
Al. 02 - Cada pessoa no grupo possui uma atividade, competência, com
essa aula pudemos perceber que somos capazes. (06)
128
Al. 15 - Me senti competente para operar e mudar - operação e mudança:
conceitos da teoria em estudo (06).
- da percepção do aluno em relação as suas capacidades e possibilidades no
desenvolvimento de atividades:
Al. 09 - Senti-me capaz de não só aprender, mas como agir nesta “realidade
ética” da sociedade. (03)
Al. 02 - Senti mais segurança para realizar o trabalho. (04)
Al. 07 – Percebi que a parte do trabalho que já fizemos está boa. (04)
Al. 15 - Senti-me competente para realizar a pesquisa. (04)
Na interação professor-mediador e aluno-mediado a mediação do
sentimento de competência foi estabelecida a partir:
- da demonstração de crédito na capacidade dos alunos:
Al. 03 - A professora demonstra acreditar que seus alunos são capazes. (02)
Al. 21 - Ela nos deixou confiantes em nós mesmos, quando disse que nós
éramos capazes. (02)
Al. 21 - Conscientizou da possibilidade de escrever o texto. (04)
- do respeito às diferenças individuais:
Al. 09 - Senti-me capaz, fui respeitada em minha individualidade. (06)
- da igualdade de oportunidades que foram oferecidas a todos:
Al. 19 - Cada um com sua opinião e transferindo para os outros a sua
opinião. (05)
Al. 25 - Todos sabem que são capazes de falar, o professor faz com que
isso aconteça. (05)
Al. 24 - Todos sabem que podem falar (06)
Na relação professor-mediador e objeto da aprendizagem os alunos
atribuíram competência ao professor no domínio do conteúdo da mediação:
129
Al. 16 - Sabia do que se tratava o assunto, ou seja, não demonstrou em
nenhum momento insegurança - referência feita ao professor. (02)
Na relação tríade: mediador – mediado - objeto da aprendizagem a
mediação do sentimento de competência foi estabelecido a partir do estímulo do
mediador à percepção de situações em que era possível obter êxito no emprego dos
conhecimentos e processos. Os verbos utilizados nos registros – realizar, conseguir,
poder, perceber - demonstraram tal percepção:
Al. 20 - Ela confia nos alunos que temos competência de realizar este
trabalho, essa pesquisa. (02)
Al. 04 - Se nós conseguiríamos realizar o trabalho e se tínhamos
dificuldades quanto a isso - pergunta da professora. (04)
Al. 09 - Falou-me e deixou-me tranqüila me sentindo capaz de realizar o
trabalho. (04)
Al. 08 - Percebi que eu posso participar da aula expressando meus
conceitos e opiniões. (08)
Al. 01 - Em relação à formatura, a professora disse: “Se vocês correrem
atrás disso, irão conseguir” e isso ajudou para que tenhamos força. (06)
Al. 22 - A frase dita pela professora me fez perceber que eu posso ir além.
(06)
Os registros dos alunos demonstraram os diversos vínculos da aprendizagem
envolvidos no sentimento de competência: o grau de familiaridade com o objeto da
aprendizagem, o vínculo positivo estabelecido pelo mediador, ao acreditar e
demonstrar o crédito no mediado e a visão positiva do aprendiz em si mesmo. Sentir-
se competente relaciona-se a visualizar exemplos de competência nos outros,
perceber que o outro nos acredita competentes.
Outro destaque foi o uso de primeira pessoa ao exemplificar, eu / nós
caracterizando o ser tocado, o se ver.
Embora o sentir corresponda a uma notícia interna, o olhar e a escuta do
outro se torna indispensável. Outro não é um outro qualquer, é portador de
130
significado, aquele o qual acreditamos ser competente também. Portanto, acreditar-
se e apresentar-se como professor competente é condição prioritária para mediar no
outro o sentimento de competência.
Concorda-se com Freire (1997), que propõe as diversas competências
necessárias à prática educativa, do qual se destaca a síntese: “A segurança com que
a autoridade docente se move implica uma outra, a que se funda na sua
competência profissional. Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta
competência.” (p. 102-103).
- A inter-relação da mediação do sentimento de competência com os
demais critérios mediacionais
Ao exemplificar a mediação de competência, os registros dos alunos
demonstraram a ligação desse critério com os critérios de mediação de
compartilhamento, de intencionalidade/reciprocidade, de significado, de
transcendência, controle do comportamento, de objetivos e metas, do desafio, de
alternativas otimistas, da individuação psicológica e conscientização do ser humano
como modificável.
3.2.2.5 Mediação da Regulação e Controle do Comportamento – Critério 5
Aprendemos o novo e equilibramos com nossos
conceitos.
(Aluna 16 – aula 06)
A mediação da regulação e controle do comportamento orienta o aluno à auto-
reflexão a respeito da propriedade ou impropriedade de suas condutas, sejam elas
cognitivas ou comportamentais, que fundamentarão a tomada de decisões.
131
A freqüência do critério de mediação da regulação do controle de
comportamento, no Gráfico 6, obteve índices abaixo de 50%.
Mediação da Regulação e Controle do Comportamento (5)
4.5%
9.1%
27.3%
14.3%
45.5%
37.5%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 6 - FREQÜÊNCIA RELATIVA DO CRITÉRIO MEDIAÇÃO
DO CONTROLE DO COMPORTAMENTO
Fonte: Protocolos dos alunos
A análise da freqüência dos critérios, no decorrer das aulas, possibilitou ao
professor-mediador a reorganização de seu trabalho com o propósito de mediar os
critérios pouco evidenciados.
Na aula do dia 03/11/04, na qual não foi utilizado o protocolo de registro,
propôs-se uma atividade individual de concentração utilizando a contagem do tempo
de permanência no estudo dos textos
16
. Após a aula o professor-mediador registrou:
O tempo de concentração do grupo como um todo é de, em média, 15
minutos. Parecem não conseguir focalizar a atenção, mesmo chegando ao
consenso da necessidade de observar seu desempenho pessoal.
A atividade individual não atrai o grupo.
Não estamos desenvolvendo a capacidade de trabalhar sozinho? Que
funções cognitivas são necessárias? (03/11/04)
Analisei os critérios de mediação. Percebo que as propostas de trabalho
pouco oportunizaram a mediação de controle do comportamento. Decidi
reorganizar a dinâmica da próxima aula focando tal critério.
16
Sobre o tema Grupos Operativos, os alunos receberam dois textos diferentes para trabalhar em
duplas, ficando cada metade da turma encarregada do estudo de um deles.
132
Vejo duas possibilidades: não tive necessidade de mediar controle do
comportamento no grupo (a participação é ótima, há grande envolvimento
com os conteúdos); o trabalho sem a interferência do professor (assumi o
papel de observadora) demonstra a necessidade do controle da
impulsividade (alguns alunos tem dificuldade de autocontrole) e não domínio
de funções cognitivas da fase de elaboração. (08/11/04)
A análise dos critérios de mediação auxiliou na avaliação do grupo, na auto-
avaliação do professor-mediador e na reorganização dos encaminhamentos
didáticos.
Ao propor a dinâmica para a aula seguinte, evidenciando a mediação da
regulação e controle do comportamento, os resultados apresentados no gráfico e os
registros dos alunos indicaram a ocorrência com um índice superior ao ocorrido nas
demais aulas.
- Relação entre os elementos da mediação e o critério de regulação e
controle do comportamento
As relações unilaterais aconteceram a partir do aluno-mediado ao perceber
a possibilidade ou a necessidade de alterar sua própria conduta:
Al. 21 - Quando podemos perceber que podemos modificar
comportamentos. (03)
Al. 03 - Devemos falar se jogarmos a moeda. (05)
A regulação mediada de comportamento cria a flexibilidade e a plasticidade
para modificar o indivíduo no tocante à iniciação ou à inibição da ação, auxilia na
auto-reflexão que leva a tomada de decisão entre a propriedade e impropriedade de
suas condutas.
As relações bilaterais apresentaram-se de quatro formas:
- aluno-mediado e professor-mediador no estabelecimento de regras:
133
Al. 06 - A professora nos mediou através da fala com a moeda. (05)
Al. 10 - Usamos a moeda para calar todas nós. (05)
- aluno-mediado e objeto da aprendizagem na percepção das mudanças
ocasionadas pela aprendizagem:
Al. 23 - Quando lemos o texto sem saber o autor desequilibrou pelo fato de
muitos de nós pensarmos em outros sem saber que Piaget é tão crítico. (02)
Al. 02 - Depois do estudo, iremos responder às mesmas perguntas que
respondemos antes de começarmos este estudo. (03)
Al. 07 - Modifiquei alguns conceitos. (03)
Al. 10 - Nova concepção. (03)
Al. 16 - Mudou vários conceitos que eu tinha. (03)
Al. 09 - Organizar as idéias pesquisadas com as aprendizagens anteriores.
(04)
Al. 16 - Aprendemos o novo e equilibramos com nossos conceitos. (06)
- aluno-mediado e os demais alunos na percepção do auto-controle
necessário ao convívio:
Al. 05 - Quando o outro fala, apesar da “vontade” eu não posso me alterar.
(06)
Al. 22 - Eu tive que me controlar com os comentários que foram feitos para
ou sobre mim. (06)
- aluno-mediado e um elemento externo proposto pelo professor-mediador e
utilizado pelos alunos como instrumento mediador da conduta:
Al. 07 - Com a moeda na mão pudemos controlar nosso comportamento.
(05)
Al. 08 - Usando a moeda para controlar a fala das alunas. (05)
Al. 12 - Quando tínhamos que jogar a moeda para falar. (05)
Al. 16 - Não poderíamos falar sem jogar a moeda. (05)
Al. 22 - Quando eu tinha apenas 2 moedas e só podia falar essas 2 vezes.
(05)
134
Nas relações, bilaterais houve sempre a presença do aluno mediado,
demonstrando uma orientação auto-reflexiva metacognitiva, como geradora do
comportamento adaptado. O aluno percebeu a intenção do professor em estabelecer
limites e os aceitou; o aluno sentiu-se desafiado pelos novos conceitos e buscou
restabelecer o equilíbrio recriando conhecimento; o aluno percebeu-se como parte
de um grupo maior, o que exigiu superar o egocentrismo e dar vez e voz aos outros;
o aluno aceitou e atribuiu novo significado a um elemento externo proposto pelo
mediador, que serviu de orientador das condutas e de lembrete as regras.
Além da mediação proporcionada pelo ser humano, segundo Kozulin (2002,
p.22), a teoria sociocultural identificou um tipo diferente de mediação - a mediação
de instrumentos simbólicos, como se observou na aula 05. O elemento externo
proposto pelo professor
17
demonstrou o potencial dos instrumentos como
mediadores na conduta dos alunos. O objeto por si só não é portador de significado,
o novo significado foi atribuído pelo professor e aceito pelo grupo, que estabeleceu
um sentido subjetivo ao objeto moeda. A moeda, que possuía o significado de
dinheiro, passou a ser o elemento de orientação da conduta.
Os símbolos podem permanecer inúteis, a não ser que seus significados
como instrumentos cognitivos sejam mediados [...] A apropriação dos
mediadores simbólicos [...], aparentemente, depende do objetivo que o
professor – ou pai – coloca para o instrumento-mediador oferecido ao
estudante. (KOZULIN, 2002, p. 22-23).
As relações tríades foram demonstradas nas interações:
17
A dinâmica proposta obedecia a algumas regras para a discussão dos alunos a respeito dos
conceitos novos retirados dos textos anteriormente lidos: aluno dispostos em semicírculo; cada
aluno recebeu duas moedas; para manifestar seu desejo de falar o aluno deveria jogar a moeda no
centro do semicírculo; após utilizar suas moedas (se ainda desejasse falar) poderia apanhar outra
jogada no centro; só poderia ser falado sobre o tema da aula – o que descobrimos de novo e o que
estamos em dúvida.
135
- mediado – mediador – objeto da aprendizagem, os alunos dispuseram-se
a aprender sobre o conteúdo proposto pelo professor e reestruraram aprendizagens
anteriores:
Al. 06 - Nos mediou sobre os grupos operativos na sala. Voltar à realidade e
achar um equilíbrio. (06)
- e aluno-mediado – demais alunos - elemento externo, a utilização de um
instrumento como lembrete às regras estabelecidas:
Al. 02 - Todos precisaram se comportar e respeitar o colega, para isso
deveria jogar a moeda. (05)
Al. 20 - Tínhamos que esperar os outros cada vez que se jogava a moeda
para falar. (05)
Nos registros dos alunos há duas percepções do controle do comportamento.
Uma refere-se ao processo de equilibração/desiquilibração presente na aquisição e
reestruturação do conteúdo aprendido. A outra remete ao aspecto do controle da
impulsividade e da participação.
O processo de reelaboração ficou evidente nos registros em que
manifestaram relações bipolares entre aluno-mediado e objeto da aprendizagem,
como também na relação tríade mediadora – mediado - objeto da aprendizagem. Os
aspectos relativos ao controle do comportamento tornaram-se evidentes nos demais
registros.
Tal diferenciação é proposta por R. Feuerstein e S. Feuerstein (1994), para os
quais a mediação de regulação de conduta consiste em dois elementos. O primeiro
relativo à criação de funções cognitivas utilizadas na colheita de dados necessários à
tomada de decisões, à fase de alimentação do ato mental, à natureza do processo
de percepção da coleta de dados, da precisão, da acuidade, e da exaustão do que é
percebido, seguido de fontes múltiplas de informações que permitem o
136
estabelecimento de uma orientação metacognitiva. O estabelecimento analítico da
metacognição é o segundo componente que resulta, após avaliar o significado do
evento específico, na decisão de executar ou não uma resposta específica e em
quais condições fazê-lo.
A mediação do controle do comportamento é indispensável para o
desenvolvimento dos alunos, porém muitas vezes não trabalhado. Salientam R.
Feuerstein e S. Feuerstein (1994) que a preocupação do professor como o “produto”
do seu aluno não propicia o controle cognitivo de comportamento. Ao demonstrar
sinais de impaciência frente aos processos de pensamento daqueles que não
respondem imediatamente, os aprendizes mais reflexivos ficam em uma posição de
desvantagem e de frustração. Reforça-se o comportamento impulsivo, expontaneísta
não controlado que passa a ser o padrão da sala de aula.
A organização das aulas propicia a pressa, o dar conta de conteúdos, livros e
apostilas em detrimento da estruturação, da reflexão, da elaboração. Passa-se da
apresentação do conteúdo para sua avaliação.
Num mundo de provisoriedade, de seguir seus impulsos sem reflexão, de
qualquer resposta ser tida como verdadeira, no qual os enunciados começam com
“eu acho”, a observação e mediação da regulação e do controle de comportamento é
indispensável.
Os educadores podem encarar controle de comportamento, como seguir
regras impostas; no entanto, refere-se ao processo de reestruturação de conceitos e
da evitação da conduta por ensaio e erros. Aspecto não contemplado em questões
avaliativas de múltipla escolha, empregada e elaborada de forma equivocada, que se
torna reforçadora de tal conduta.
137
- A inter-relação da mediação da regulação e do controle do
comportamento com os demais critérios mediacionais
Os registros não estabeleceram uma relação explícita da regulação e do
controle do comportamento com os demais critérios. Notou-se, no entanto, aspectos
relacionados: à mediação do comportamento de compartilhar - pois as regras e o
autocontrole são estabelecidos na coletividade; de intencionalidade/reciprocidade -
proposta e aceitação; de significado – o porquê e o para quê; de transcendência e
de sentimento de pertencimento.
3.2.2.6 Mediação de o Comportamento de Compartilhar – Critério 6
Ir em direção ao outro e promover uma ação de
troca, de inter-relação. Você ensina e aprende com
a pessoa ao mesmo tempo.
(Aluna 02 – aula 02)
A construção coletiva dos indivíduos, as relações de trocas, a superação do
egocentrismo são o foco da mediação do comportamento de compartilhar e um dos
desafios do professor:
A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser
humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se
comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do comunicado.
Não é intelegibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que
não se funde na dialogicidade. O pensar certo é dialógico e não polêmico.
(FREIRE, 1997, p. 42)
O critério de mediação do comportamento de compartilhar obteve altos
índices no decorrer das aulas, com exceção da primeira aula, conforme o Gráfico 7.
138
Mediação do Comportamento de Compartilhar (6)
4.5%
77.3%
72.7%
71.4%
63.6%
50.0%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 7 - Freqüência relativa do critério Mediação do Comportamento de
Compartilhar
Fonte: Protocolos dos alunos
A diferença significativa da freqüência relativa foi influenciada pela dinâmica
proposta na aula 01
18
, pois o trabalho exigiu menos trocas entre os componentes do
grupo.
O trabalho em sala de aula acontece num processo de partilha entre
indivíduos com relação ao conhecimento. Tal construção ficou demonstrada pelos
altos índices obtidos nas cinco últimas aulas e pelos registros dos alunos mediados.
Os recortes da vídeo-filmagem utilizados como exemplo nos demais critérios
demonstraram as trocas contínuas entre professor e alunos e entre os alunos.
Destacam-se, como exemplo, algumas trocas em que o tema da discussão era o
próprio compartilhamento:
Alunos discutiam situações de operatividade no grupo, diversos exemplos
foram propostos.
18
As interlocuções foram feitas em recortes feitos para o entendimento e discussão no decorrer da
apresentação de um vídeo. O tempo foi dividido em assistir e interagir.
139
Al. 03 – Que nem aqui, diz assim: “Em um grupo sadio, verdadeiramente
operativo, cada sujeito conhece e desempenha seu papel específico de
acordo com as leis da complementaridade.” Acho que isso que a M. (Al. 18)
falou. A gente ocupa papéis na verdade de acordo com essa lei. (...) Aqui a
gente é assim, faz um meio de comunicação. Todo mundo fala, todos tem
sua opinião.
Al. 08 – Nas docências a gente se torna um grupo operativo. A gente
compartilha. Uma faz planejamento, a outra troca, faz junto. (...)
Al. 05 – A lei da complementaridade. Cada um partilha o que sabe. É
assim... um exemplo claro de operatividade.
(...)
Al. 15 – É importante a gente estar em grupo. Aproveitar as idéias novas
para cada vez mais a gente crescer, para que tenha aprendizagem, para
saber como lidar com a vida.
(Vídeo filmagem, 22,59 min – 25 min)
- Relação entre os elementos da mediação e o critério do comportamento de
compartilhar
As respostas dos alunos expressaram relações tríades, pois o compartilhar
envolve o outro com quem se partilha e algo a ser partilhado. O que difere são os
conteúdos que foram partilhados, os quais caracterizaram dois eixos e enfocaram
aspectos distintos.
Conteúdos da mediação que envolveram aspectos ligados à construção
coletiva do conhecimento por meio de:
- compartilhamento de conceitos e seus significados:
Al. 04 - Compartilhou de forma que ela explicou e nós demos a nossa
opinião, do que achamos. (aula 02)
Al. 21 - Quando compartilhamos o significado dos conceitos. (aula 05)
- trocas de informações, conhecimentos e
experiências entre professor e alunos:
Al. 11 - A professora compartilhou o texto e nós, alunas, nossos
conhecimentos sobre teorias já aprendidas. (aula 02)
Al. 18 - Compartilhamento de conhecimentos entre mediador e mediados.
(aula 03)
140
- estabelecimento de relações com conhecimentos anteriores e sua
aplicações:
Al. 17 - Vimos conteúdos que já estudamos (Piaget) para interpretação de
um texto que ela nos trouxe. (aula 02)
Al. 22 - Relacionar e inter-relacionar o que eu sei sobre lógica e ética, com o
que a professora trouxe de novo. (aula 02)
- o professor partilha seus conhecimentos para auxiliar em tarefas dos
alunos:
Al. 06 - A professora mediou seus conhecimentos sobre os itens que deve
ter em um projeto. (aula 04)
Al. 14 - Compartilhar conhecimento para que se saia um trabalho melhor.
(aula 05)
- aproveitamento dos conhecimentos dos alunos:
Al. 19 – A professora aproveita nossos conhecimentos. (aula 04)
- valorização do que é realizado pelos alunos:
Al. 22 – Cada participante fez uma parte da pesquisa e trocou todas as
informações com a professora. (aula 04)
Al. 24 – O que foi realizado pela gente é aproveitado. (aula 04)
Conteúdos da mediação que envolveram aspectos metacognitivos e
transformaram-se em aprendizagem para todos, por meio: da análise coletiva de
dificuldades e ganhos e do assinalamento de aspectos do processo:
Al. 14 - Porque nós compartilhamos o que nos faz ter esse comportamento.
(aula 02)
Al. 13 - Debatemos, tive a minha opinião, mas aproveitei a opinião do outros
para que haja mais conhecimento. (aula 03)
Al. 07 - Tive o compartilhamento de idéias, leituras, dúvidas. (aula 05)
Al. 15 - Eu pude esclarecer as minhas dúvidas e mudar os meus conceitos.
(aula 05)
Al. 02 - Muitos compartilharam suas experiências e pudemos nos ver
presentes nelas. (aula 06)
141
No registro dos alunos observou-se a presença de aspectos ligados a
construção do conhecimento. Como propõe R. Feuerstein, demonstraram a
possibilidade não só do conhecimento mútuo, como também, o desvelamento dos
processos cognitivos do outro. As dificuldades e ganhos partilhados transformaram-
se em aprendizagem para todos, oportunizou-se a aprendizagem a partir da
experiência do outro.
Os exemplos dos alunos referem-se, em sua maioria, às trocas relacionadas
aos conteúdos propostos na disciplina, poucos deles abordam a troca de processos
metacognitivos.
Um dos fatores que interferiu para tal é que a criação do espaço para a
discussão e assinalamento de aspectos metacognitivos demanda tempo. A
necessária reconstrução dos conteúdos da disciplina ocupou a maior parte dos
aspectos compartilhados pelo grupo.
- A inter-relação da mediação do comportamento de compartilhar com os
demais critérios mediacionais
Embora possam parecer antagônicos, os critérios do comportamento de
compartilhar e o de individuação psicológica, os registros dos alunos demonstraram
uma estreita relação entre ambos. Diversos exemplos apresentaram o fato de ser
ouvidos, de falar de necessidades, de ser escutado, de ser respeitado na sua
diferença, de ter suas idéias aproveitadas como característicos do comportamento
de compartilhar. Demonstrando que a partilha não anula a identidade dos indivíduos
envolvidos na interação, portanto, tornar-se parte de algo concorre para o sentir-se
sujeito.
142
Outros critérios que se entrelaçaram à mediação de compartilhar foram:
intencionalidade/reciprocidade, significado, transcendência, controle do
comportamento, sentimento de competência, conscientização do ser humano como
modificável e sentimento de pertencimento.
3.2.2.7 Mediação de Individuação Psicológica – Critério 7
Levou-me a refletir sobre eu mesma.
(Aluna 09 – aula 04)
Deixar cada um manifestar sua opinião, questionar
o porquê das diferentes condutas.
(Aluna 05 – aula 05)
Contribuir para a formação da identidade como indivíduo é o objetivo do
professor – mediador. Ser visto como único e especial e sentir-se como tal é síntese
do sentimento a ser despertado nos alunos mediados.
Os índices de freqüência do critério de mediação de individuação psicológica,
conforme Gráfico 8, mantiveram-se abaixo de 30% em cinco aulas e superior a 50%
em apenas uma aula.
Mediação da Individuação Psicológica (7)
9.1%
13.6%
22.7%
57.1%
9.1%
29.2%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 8 - Freqüência relativa do critério Mediação de Individuação
Psicológica
Fonte: Protocolos dos alunos
143
A maior incidência da mediação de individuação psicológica ocorreu na aula
04. A orientação aos grupos de pesquisa oportunizou o contato mais direto com os
alunos, propiciando uma escuta maior e um atendimento às necessidades
específicas de cada grupo. A contribuição individualizada de cada aluno-mediado foi
maior, pois se tratava do conhecimento construído pelos grupos na elaboração da
pesquisa, na qual o papel do professor é de orientador.
Percebemos mediação de individuação psicológica, na aula 06, nos recortes
da vídeo-filmagem apresentados como exemplos: de mediação de intencionalidade
reciprocidade – no atendimento a uma aluna em especial; na escuta e valorização de
cada aluno – presente nos demais exemplos.
Na mesma aula, o encaminhamento do professor oportunizou a discussão de
aspectos relacionados às diferenças individuais dos próprios alunos:
Al. 03 – Eu ia dizer que tem muita diferença num trabalho que é exposto
para a turma inteira e um trabalho que é feito em grupo e entregue num
papel. Tem gente que toma a frente quando o trabalho é só falar, ir lá na
frente. Mas quando o trabalho é escrito, deixa para outro a liderança.
Al.08 – Na aula passada, mesmo: teve gente que falou e agora, os que
ficaram quietos é que estão falando. (...)
Prof. – Eu creio que o que a E. (Al.03 falou é uma coisa muito importante.
Existem características diferentes. (...)
(vídeo-filmagem, 29,30 min – 30,22 min, 17/11/04)
- Relação entre os elementos da mediação e o critério de individuação
psicológica
A relação bilateral foi estabelecida entre aluno-mediado e objeto da
aprendizagem demonstrando a percepção da individualidade na exposição e na
reflexão de:
- conteúdos relativos a aspectos afetivos/emocionais:
Al. 09 - Estou me sentindo bem em relação a minhas opiniões divergentes,
mas isso se deu reflexivamente. (aula 03)
144
Al. 09 - Levou-me a refletir sobre eu mesma. (aula 04)
Al. 23 – Eu sei o que quero. (aula 04)
Al. 23 - Me respeitaram moralmente. (aula 06)
- conteúdos relativos aos aspectos cognitivos:
Al. 06 - Tive oportunidade de expor minha opinião (aula 03)
Al. 12 - Cada um expõe o que construiu. (aula 04)
Al. 02 – Tivemos atendimento por grupo. (aula 04)
Al. 25 - Expor minhas idéias. (aula 06)
A relação tríade entre mediado – mediador – objeto da aprendizagem
demonstrou que os aspectos da dinâmica em sala de aula que oportunizam a
mediação da individuação psicológica referem-se:
- à oportunidade de manifestar-se:
Al. 05 - Deixar cada um manifestar sua opinião, questionar o porquê das
diferentes condutas. (aula 05)
- a ser escutado no que diz:
Al. 19 – Na hora em que cada um foi escutado e pode falar o que achava e precisava. (aula 04)
- a ser respeitado nas suas diferenças:
Al. 19 - O que foi passado através do filme cada um entende de maneira
individual, construindo o que lhe é passado. (aula 01)
Al. 18 - Minha opinião teve significado e foi respeitada. (aula 03)
- a ser atendido conforme sua necessidade:
Al. 07 – Cada um foi atendido conforme sua necessidade. (aula 04)
Os registros referem-se ao sentir-se e ao observar. O processo de
individuação ocorre quando me sinto indivíduo, ou sou aceito pelo que sou e/ou as
minhas idéias são respeitadas ou vejo no outro a atitude de respeito e aceitação
das diferenças dos demais.
145
- A inter-relação da mediação da individuação psicológica com os demais
critérios mediacionais
A ligação mais evidente relaciona-se ao critério de compartilhar. Sentir-se
sujeito com características, necessidades, sentimentos e idéias distintas emergiu do
espaço coletivo, pela participação e aceitação ocorridas pelo mediador e o grupo.
Intencionalidade/reciprocidade, significado, transcendência, controle do
comportamento, sentimento de competência e conscientização do ser humano como
modificável foram critérios que também permearam a mediação de individuação
psicológica.
3.2.1.8 Mediação de Busca de Objetivos e Metas – Critério 8
Eu percebi que posso mudar e lutar por um mundo
melhor e tenho em mente metas a alcançar.
2(Aluna 15 – aula 03)
A busca de objetivos e metas auxilia a adiar a satisfação do prazer pela
gratificação imediata das ações. As ações e o empreendimento dos esforços
relacionam-se a uma perspectiva maior. Portanto, mediar a busca de objetivos e
metas é propiciar a ampliação de horizontes.
Pela análise da freqüência relativa - Gráfico 9, constatou-se a presença do
critério de mediação de busca de objetivos e metas em todas aulas. Os índices, no
entanto, permaneceram na média baixa.
146
Mediação de Busca de Objetivos e Metas (8)
36.4%
9.1%
13.6%
42.9%
13.6%
33.3%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 9 - Freqüência Relativa do Critério Mediação de Objetivos e
Metas
Fonte: Protocolos dos alunos
A mediação de objetivos e metas apresentou melhores índices nas aulas 01,
04 e 06.
Na aula 06 destacam-se dois exemplos que se referem ao momento vivido
pelos alunos, no qual o professor utilizou-se para ligar o tema da aula à mediação
do critério:
Referindo-se à diferenciação entre tarefa e trabalho: (33,50 min)
Prof. – O que vocês estão fazendo aqui?
Al. 10 – Tentado ser professores.
Após o relato de alguns conflitos vividos pelo grupo com relação à formatura:
(38 min)
Prof. – (...) Eu vejo que vocês têm idéias bastantes ricas para uma série de
coisas. Eu penso que a gente não pode diminuir os sonhos da gente. Só que
eu penso assim: vocês têm que traçar metas em comum. A maior
dificuldade do grupo tem a ver com o que a F. (Al. 04) falou. É a questão da
democracia. Nós temos idéias diferentes, expomos, discutimos. Assim
fazemos uma síntese, e ela passa a ser do grupo. Não é mais minha e não é
mais sua. Vai ser grupo operativo a partir do momento que eu esqueço a
minha idéia inicial e assumo a tarefa, a idéia do grupo. Daí sim, podemos
traçar metas do que precisamos fazer para chegar lá.
(Vídeo-filmagem, 17/11/04)
147
- Relação entre os elementos da mediação da busca de objetivos e metas
A relação bilateral foi percebida entre o aluno-mediado e o objeto da
aprendizagem. Os registros demonstraram que aspectos do conteúdo podem
contribuir:
- para modificar ou dar consistência a objetivos já estabelecidos:
Al. 09 - Ajuda a construir nossa idéia, nossa prática pedagógica. (aula 01)
Al. 07 - Reven mostrou que se tem um objetivo e metas é possível alcançar
quando se quer e vai atrás. (aula 01)
Al. 09 - Busco formas de atingir uma prática ética e solidária da pedagogia e
isto ajuda a refletir sobre mim. (aula 03)
- para vislumbrar novas perspectivas:
Al. 15 - Eu pude ter uma esperança de mudar a educação através da
mediação. (aula 01)
Al. 19 - Desenvolve a busca por querer saber mais, vendo situações dadas
como perdidas com soluções através de novas técnicas. (aula 01)
Al. 09 - Buscar transpor grupos operativos e o crescimento de minhas
turmas. (aula 06)
Os exemplos que apresentam a relação tríade mediador-mediado- objeto
da aprendizagem assemelham-se aos da relação bilateral. O que difere é o
destaque ao mediador que:
- demonstrou acreditar:
Al. 13 - O professor acredita que as crianças são capazes de aprender,
mesmo aquelas que a sociedade diz serem retardadas (correm atrás de
seus objetivos). (aula 01)
- propôs objetivos:
Al. 11 - O objetivo que a professora quer que nós alcance é o conceito de
formação ética que a partir do texto, buscamos-o. (aula 02)
Al. 06 - Para alcançarmos seus objetivos e metas em relação ao projeto.
(aula 04)
- levantou perspectivas:
148
Al. 25 - Expor minhas idéias. (aula 06)
Al. 25 - Levantar perspectivas de publicação. (aula 04)
- auxiliou a traçar metas:
Al. 13 - Procuramos identificar qual é o objetivo que a escola e a tarefa têm
em nossa vida, através do diálogo entre a sala. (aula 05)
Al. 06 - Me mostrou a querer algo além. (aula 06)
Al. 15 - A professora me deixou muito alegre e me ajudou nos meus
objetivos, e consegui traçar meus objetivos. (aula 06)
Constatou-se que a ocorrência do critério tem relação com o objeto da
aprendizagem, aspecto que foi observado nos exemplos que retrataram relações
bilaterais e tríades.
Conclui-se que se o conteúdo, ou a estratégia de sua proposição, não
fornecerem a possibilidade de vislumbrar futuro, apenas a relação professor-
mediador e alunos-mediados fica vazia de conteúdos para despertar ou projetar a
busca do novo.
As metas figuraram, na maioria dos registros, como objetivos dos próprios
alunos. Os alunos não atribuem às metas como propostas do professor, mas como
objetivos próprios. Pode-se afirmar que não houve mediação? Ou que o papel do
mediador não foi relevante na busca do estabelecimento de objetivos e metas?
Um forte indício da ocorrência da mediação desse critério é justamente o
estabelecimento de metas próprias, não vistas como trabalho as ser desenvolvido
para o professor:
Al. 14 – Eu, para que possa chegar ao auge, eu tenho que alcançar meus
objetivos. (aula 03)
A. 08 – Temos um trabalho para terminar. (aula 04)
A instigação do professor-mediador é uma rica fonte de mediação desse
critério, ao questionar, apontar, focalizar e mesmo criar novas possibilidades; porém,
149
quanto mais empobrecido for o conteúdo da mediação, menos recursos terá para
isso.
- A inter-relação da mediação da busca de objetivos e metas com os demais
critérios mediacionais
A mediação da busca de objetivos e metas tem estreita relação com o
compartilhamento, controle do comportamento, sentimento de pertencimento,
sentimento de competência, individuação psicológica, otimismo, desafio,
conscientização do ser humano como modificável, intencionalidade/reciprocidade,
significado e transcendência. É a riqueza estabelecida pelos demais critérios de
mediação que possibilitam a ocorrência do primeiro.
Os objetivos foram além dos conteúdos propostos na disciplina:
Al. 03 - Com relação à formatura, ao futuro. (aula 06)
Al. 11 - Todo projeto tem objetivo e com várias pesquisas é possível
alcançá-los. (aula 04)
Al. 07 - Primeiro temos que buscar metas e depois fazer as coisas. (aula 06)
Al. 22 - Eu tento ter os mesmos objetivos que a turma, mesmo que eles
sejam utópicos. (aula 06)
3.2.1.9 Mediação do Desafio: busca da novidade e da complexidade – Critério 9
Fomos desafiadas a buscar mais do que apenas
referências bibliográficas.
(Aluna 17 – aula 04)
O texto exigia reflexão, novos conceitos,
interpretação e o estabelecimento de relações.
(Aluna 22 – aula 02)
Ao propor a curiosidade epistemológica como exigência ao ensino, Freire
(1997) salienta aspectos concordantes com a mediação do desafio. Cabe ao
professor saber que sem a curiosidade que o move, que o inquieta, que o insere na
busca, não aprende nem ensina. Que o estímulo à pergunta, à reflexão crítica sobre
150
a própria pergunta, o que se pretende com esta ou com aquela pergunta deve
ocupar o lugar da passividade, em face das explicações discursivas do professor.
O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do
professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não
apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor
e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. (FREIRE, 1997, p.96).
O critério de mediação de busca da novidade e da complexidade, conforme o
Gráfico 10, obteve baixos índices de freqüência na maioria das aulas, com exceção
da aula quatro, quando apresentou índice superior a 90%.
Mediação do Desafio: busca da novidade e da complexidade (9)
31.8%
13.6%
22.7%
90.5%
13.6%
37.5%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 10 - Freqüência relativa do critério Mediação da Busca da
Novidade e da Complexidade
Fonte: Protocolos dos alunos
O destaque significativo à mediação da busca da novidade e da complexidade
na aula 04 deveu-se a proposta de trabalho com a pesquisa que exigiu dos alunos a
superação de diversas dificuldades e análises mais aprofundadas sobre dados da
realidade.
As dificuldades enfrentadas pelos grupos de trabalho foram registradas pelo
professor no decorrer do desenvolvimento dos projetos de pesquisa. Como exemplo,
destacam-se alguns desafios do grupo que pesquisou o tema pedofilia:
151
Al. 25 - Expor minhas idéias. (aula 06)
- dificuldade de obter dados em diversas instituições da cidade: delegacia de
polícia, promotoria, órgãos de imprensa
- necessidade de autorização dos pais, por se tratar de alunas com idade
inferior a dezoito anos;
- compreensão de conceitos complexos de psicologia na descrição da
personalidade do pedófilo;
- dados históricos aprofundados sobre o tema;
- grande número de referências pesquisadas e distintas abordagens do
tema;
- necessidade de delimitar um foco de análise e estabelecer relações com a
educação e/ou formação do professor. (registros do professor: 15/08/04,
09/09/04, 05/10/04).
- Relação entre os elementos da mediação e o critério do Desafio: busca da
novidade e da complexidade
Na relação bilateral aluno-mediado e objeto da aprendizagem os registros
demonstraram diferentes características da mediação de desafio. O desafio pode
estar presente:
- como inerente ao conteúdo proposto:
Al. 05 - Quando ele encontra uma forma de ensinar as pessoas que têm
dificuldades para aprender. (aula 01)
Al. 10 - O desafio foi entender as outras pessoas. (aula 06)
- no grau de complexidade exigido para (re)construção de conceitos:
Al. 17 - Só o texto que lemos já é uma extrapolação do Piaget. (aula 02)
Al. 22 - O texto exigia reflexão, novos conceitos, interpretação e o
estabelecimento de relações. (aula 02)
Al. 07 - Trabalhar conceitos mais complexos. (aula 03)
Al. 18 - Procurando conceitos e analisando. (aula 03)
- na busca do aluno de autodesafiar-se:
Al. 25 - Expor minhas idéias. (aula 06)
Al. 19 - Busca por novos métodos de ensinar as crianças com alguma
deficiência. (aula 01)
Al. 11 - É tão revoltante o que se salienta hoje sobre moral, auto-estima que
nos desafia a buscar um mundo melhor. (aula 03)
Al. 02 – Quero tentar conseguir mais dados. (aula 04)
152
Al. 19 - Busca por conceitos mais complexos. (aula 03)
A. 06 - Para que o projeto seja de nível universitário. (aula 04)
Al. 07 – Queremos fazer um bom trabalho. (aula 04)
Al. 12 - Vamos buscar novidades e tornar mais complexo o subtema para
alcançar os objetivos abordados. (aula 04)
Al. 15 - Eu fiquei interessada em buscar novidades para a pesquisa e não
ficar apenas na “cópia”. (aula 04)
Al. 18 – Estou disposta a melhorar a pesquisa. (aula 04)
Al. 22 - O fato de coletar e analisar dados. (aula 04)
Al. 24 – Querer publicar e divulgar os dados. (aula 04)
Al. 25 – Apesar do trabalho estar ótimo, quero deixar melhor. (aula 04)
Al. 06 - Desafio de compreender com facilidade. (aula 06)
Os exemplos que apresentam a relação tríade: mediador-mediado- objeto
da aprendizagem demonstraram as ações do professor ao:
- aproveitar o que já foi realizado e desafiar a ir além:
Al. 04 – Ela desafiou a melhora do projeto. (aula 04)
Al. 05 - Quando procuramos uma outra forma ou outro lugar para conseguir
novos dados de pesquisa. (aula 04)
Al. 11 – A professora ajudou-me a buscar uma nova forma de analisar os
dados. (aula 04)
- ao instigar novos questionamentos:
Al. 09 - Desafiou-me já que me instigou a novos questionamentos em minha
pesquisa. (aula 04)
- ao lançar desafios:
Al. 02 - Foi lançado o desafio de analisar se a turma é um grupo operativo.
(aula 06)
Al. 03 - Desafio de responder. (aula 06)
Al. 18 - Foram feitos desafios para mediação. (aula 06)
Al. 19 - Desafio por novas alternativas. (aula 06)
- ao auxiliar na busca do novo, o professor promoveu a busca à
complexidade:
153
Al. 05 - Quando mudamos a nossa opinião inicial no decorrer das explicações. (aula 06)
Al. 22 - Desafiar a encontrar conceitos / a ser grupo operativo. (aula 06)
À semelhança da mediação da busca de objetivos e metas, a interação
professor-aluno é primordial para a mediação do desafio. Porém, o desafio
desprovido de conteúdo, não é desafio. Todos os registros dos alunos remetem ao
que se sentem desafiados, enfocando ora a proposta de trabalho que suscitou a
complexidade, ora os aspectos cognitivos que foram necessários à aprendizagem.
Na aula 06, após a exposição das questões disparadoras, a discussão dos
conceitos levou a opiniões distintas. O professor propõe um desafio como forma de
resolução de conflito, no exemplo a seguir:
Al. 15 – As dúvidas foram esclarecidas na aula passada. Agora eu tenho
claro o que é um grupo operativo e um grupo não operativo.
Al. 10 – O nosso grupo é um exemplo: não é um grupo operativo.
Prof. – Por que você vê dessa forma?
Al. 10 – Ninguém concorda, não se entende. (...) Sei lá.
Vários alunos falam junto, concordando e discordando com o fato de serem
ou não um grupo operativo.
Prof. – Eu vou propor um desafio: quem encontrar, nos textos, provas que
justifiquem que a nossa sala de aula é um grupo operativo ou não é um
grupo operativo, pode retomar a discussão.
Os alunos que estavam sem os textos vão procurá-los no seu material
escolar, no armário. Duas alunas que não trouxeram pedem para utilizar os
textos dos colegas ao lado. Uma aluna solicita o empréstimo de textos do
professor. Apenas a aluna 10 permanece sem o texto.
Al. 22 – Diz aqui que um grupo operativo tem que proporcionar crescimento
e avanço para todos os membros. Na nossa sala a gente (...) nem todos
demonstram crescimento.
Retornou-se a discussão com participação de diversos alunos, os quais
utilizavam os conceitos dos textos.
(Vídeo Filmagem – 5 min a 7, 12 min – 17/11/04)
- A inter-relação da mediação do desafio com os demais critérios mediacionais
154
Ao exemplificar a mediação do desafio, os registros dos alunos remeteram
aos critérios de busca de objetivos e metas, busca por alternativas otimistas,
comportamento de compartilhar, sentimento de pertença, sentimento de
competência, individuação psicológica, conscientização do ser humano como
modificável, intencionalidade/reciprocidade, significado e transcendência.
3.2.1.10 Mediação da conscientização do ser humano como modificável – Critério 10
Sinto-me capaz de mudar a mim e aos outros, pela
conscientização da ética e da solidariedade.
(Aluna 09 – aula 03)
“Na verdade, o inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio de sua
experiência vital. Onde há vida, há inacabamento.” (FREIRE, 1997, 55). O educador
tomar consciência e mediar à tomada de consciência nos educandos da flexibilidade
inerente ao ser humano é a tarefa de qualquer ação educativa.
Houve significativa diferença de índices de freqüência relativa para o critério
de mediação da conscientização do ser humano como modificável nas aulas,
conforme o Gráfico 11.
Mediação da conscientização do ser humano como modificável (10)
72.7%
31.8%
54.5%
19.0%
9.1%
20.8%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 11 - Freqüência relativa do critério Mediação da Conscientização
do Ser Humano como Modificável
Fonte: Protocolos dos alunos
155
A maior incidência na primeira e na terceira aula pode ser explicada pelos
temas abordados. Os alunos perceberam a modificabilidade do ser humano ao tomar
conhecimento de autores que evidenciaram tal possibilidade em seu trabalho.
- Relação entre os elementos da mediação e o critério da conscientização do se
humano como modificável
A relação unilateral é estabelecida a partir dos alunos-mediados que
demonstraram perceberem em si mesmos a capacidade de modificabilidade:
Al. 13 - Pude ver que tenho capacidade de mudar. (aula 03)
Al. 15 - Eu posso mudar, acreditei nisso. (aula 03)
A relação bilateral estabelecida a partir do aluno-mediado e objeto da
aprendizagem constou na maioria dos registros. A conscientização da
modificabilidade do ser humano foi percebida por aspectos distintos:
- aspectos do conteúdo da mediação que demonstraram a possibilidade da
modificabilidade do ser humano e/ou estabeleceram pontes com a realidade
vislumbrando mudanças:
Al. 04 - Que com muito trabalho e vontade é possível que a criança aprenda
mesmo tendo deficiência. (aula 01)
Al. 07 - Feuerstein trabalhando com as crianças mostra que elas e nós
professoras somos capazes de mudar. (aula 01)
Al. 09 - Com certeza mostra o quanto o ser humano é modificável, como os
avanços de aprendizagem. (aula 01)
Al. 11 - A partir do trabalho que Feuerstein realiza, percebemos que muitas
vezes o ser humano não aproveita seu potencial. (aula 01)
Al. 04 - O ser humano nasce com a lógica e que sem o meio é impossível o
aprendizado. (aula 02)
Al. 25 - Ele prova a todos que o ser humano é modificável. (aula 01)
Al. 22 - A escola, os valores mudaram, porque o ser humano é modificável.
(aula 02)
Al. 12 - Quando coloca-se a própria formação ética da criança. (aula 03)
156
Al. 16 - Pude perceber que pode ser mudado a ética pelo menos pela minha
família. (aula 03)
Al. 09 - O ser humano pode crescer e tornar-se operativo, a sociedade pode
tornar-se operativa. (aula 06)
Al. 16 - O ser humano pode mudar dependendo da operatividade. (aula 06)
Al. 21 – Sim, pois percebemos que o ser humano pode exercer diferentes
papéis dentro de um grupo. (aula 06)
- um novo conhecimento que modificou a aprendizagem anterior, o mediado
percebeu-se modificado pelo que aprendeu:
Al. 16 - Tive maior conhecimento do método – achava que era de outra
maneira. (aula 01)
Al. 16 - Eu tinha uma idéia sobre um conceito de Piaget e acabei
modificando-a. (aula 02)
Al. 10 - Mudança de atitudes a partir do que aprendemos, atitudes futuras.
(aula 03)
Al. 21 - Quando se percebe que o ser humano (nós) pode modificar a
formação ética da criança. (aula 03)
Al. 22 - Quando existe mudança de comportamento, com os conceitos
adquiridos. (aula 03)
- quando foi oportunizado superar desafios:
Al. 19 - Novos desafios, capacidade de mudar. (aula 01)
Al. 22 - Eu só posso educar um deficiente se eu acreditar que ele é
modificável. (aula 01)
Al. 11 - No nosso desenvolvimento do trabalho estamos muito conscientes
de que os Down são modificáveis, e que a sociedade pode aceitar isso.
(aula 04)
Al. 23 - Ao analisar os próprios temas. (aula 04)
Al 03 - Mudança de papel. (aula 06)
Al. 23 - Os diversos papéis, a valorização dos outros. (aula 06)
Al. 25 - Várias vezes mudamos nossos papéis no grupo. (aula 06)
Os registros que apresentam a relação tríade: mediador-mediado- objeto
da aprendizagem demonstraram que a mediação do critério ocorreu por meio do
que o professor falou. O enfoque dado pelo mediador ao objeto da aprendizagem
pode fomentar a modificabilidade.
157
Al. 05 - A partir do que a professora vai dizendo muda o pensamento (em
mim) e acaba mudando a minha conclusão. (aula 02)
Al. 07 e 12 - Na explicação do conteúdo. (aula 02)
Al. 25 - Isso é passado sempre os alunos. (aula 03)
A. 20 - Quando a professora mostra como devemos estruturar as crianças.
(aula 03)
A percepção da modificabilidade do ser humano se deu pela metacognição -
análises das próprias possibilidades de mudanças – , por vislumbrar a possibilidade
de modificabilidade como inerente ao ser humano e nas atitudes de crédito à
mudança demonstrada pelo professor.
- A inter-relação da mediação do critério da conscientização do se humano
como modificável com os demais critérios mediacionais
Os exemplos demonstraram a relação com os critérios de significado,
intencionalidade/reciprocidade, transcendência, sentimento de competência,
compartilhamento, controle do comportamento, desafio, busca de objetivos e metas,
busca de alternativas otimistas, individuação psicológica e sentimento de
pertencimento.
3.2.1.11 Mediação da busca de alternativas otimistas – Critério 11
Quando procuramos formas de alcançar nossos
objetivos.
(Aluna 05 – aula 06)
Saímos com a certeza de que realmente
poderíamos fazer um trabalho muito bom.
(Aluna 17 – aula 04)
Vislumbrar com otimismo o futuro, a realidade e própria existência e traçar
alternativas é objetivo fundamental da mediação da busca de alternativas otimistas.
158
Não um otimismo falso e uma esperança vã
19
, possibilitar traçar metas sem
desconhecer o contexto real onde se vive e as possibilidades e características
pessoais para intervenção desejada.
Os índices obtidos, Gráfico 12, oscilam de zero a 71%. Pela percepção dos
alunos, não houve mediação desse critério nas aulas 02 e 03, pouca mediação na
aula 05. Nas demais aulas, os índices foram significativos.
Mediação da busca de alternativas otimistas (11)
45.5%
0.0% 0.0%
71.4%
9.1%
54.2%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 12 - Freqüência relativa do critério Mediação de Busca de
Alternativas Otimistas
Fonte: Protocolos dos alunos
As características da aula que privilegiaram a ocorrência de índices mais altos
para o critério de mediação de busca de alternativas otimistas, referem-se a
aspectos específicos do conteúdo, nas aulas 01 e 06, ao grau de desafio e
superações oportunizados no trabalho com a pesquisa.
Nas segunda e terceira aulas, o estabelecimento de relações do tema em
estudo com a atualidade desvendaram vários aspectos negativos da realidade, fator
que explica o índice obtido para o critério. Faltou ao professor encaminhar a
discussão e abordar aspectos que vislumbrassem otimismo.
19
Expressão empregada por Freire (1997, p. 21).
159
- Relação entre os elementos da mediação e o critério da busca de alternativas
otimistas
A relação bilateral estabelecida a partir do aluno-mediado e objeto da
aprendizagem constou na maioria dos registros. A mediação de busca de
alternativas otimistas refere-se:
- a aspectos específicos do conteúdo que vislumbra otimismo:
Al. 05 - Quando Feuerstein mostra que existem outras formas para estimular
a aprendizagem de pessoas retardadas. (aula 01)
Al. 09 - Buscar idéias para ajudar mudar como o Feuerstein também mudou.
(aula 01)
Al. 13 - A inteligência vive num processo de mudanças, vão atrás de
objetivos e alternativos otimistas para mudança. (aula 01)
Al. 15 - A pessoa com Síndrome de Down tem capacidade de fazer grandes
coisas. (aula 04)
- ao grau de desafio apresentado na atividade:
Al. 14 - De quantos modos, quantos métodos, jeitos poderia realizar esta
atividade. (aula 01)
Al. 06 - Procurar com que o projeto seja de forma construtiva. (aula 04)
Al. 08 – Vamos conseguir realizar. (aula 04)
Al. 04 - Buscar alternativas para ter um bom desempenho no grupo. (aula
05)
Al. 05 - Quando procuramos formas de alcançar nossos objetivos. (aula 06)
- a percepção da possibilidade de modificar-se:
Al. 04 - É possível fazer da escola um grupo operativo. (aula 06)
Al. 09 - Somos capazes de mudar a nos mesmos e conseqüentemente a
sociedade. (aula 06)
Al. 17 - Nós somos capazes de ser um grupo operativo. (aula 06)
Os registros que apresentam a relação tríade: mediador-mediado- objeto
da aprendizagem demonstraram que a mediação do critério ocorreu:
- por meio da busca de alternativas novas:
Al. 19 - Busca por alternativas novas, desafios constantes. (aula 01)
Al. 19 - Busca por alternativas novas. (aula 06)
160
- instigação à crítica da realidade:
Al. 09 - Instigou a criticar e a pensar sobre mudanças em nossa realidade.
(aula 04)
- demonstração de otimismo:
Al. 11 - Muito otimização, mas o problema é que os Down realmente são
excluídos do mercado de trabalho, apesar do grupo acreditar nos mesmos.
(aula 04)
Al. 20 – Nos fez querer aprender, com otimismo, e segurança. (aula 06)
- demonstração da crença no outro:
Al. 17 - Saímos com a certeza de que realmente poderíamos fazer um
trabalho muito bom. (aula 04)
Al. 15 - Consegui perceber que podemos e somos capazes, pude mudar
minhas idéias negativas e acreditar em mim. (aula 06)
- auxílio à descoberta de metas:
Al. 19 - Auxiliou numa nova visão a respeito do tema de pesquisa. (aula 04)
Al. 06 - Nos mediou que temos metas. (aula 06)
Al. 14 - Cada um de nós, muitas vezes, recebe um conceito e daí em diante
e constrói uma idéia. (aula 06)
- aplicabilidade das possibilidades elencadas:
Al. 07 - Quando a professora falou da viagem de formatura. (aula 06)
Al. 08 - Na questão da formatura, mediando que somos capazes de
conseguir o que queremos. (aula 06)
Al. 25 - Com relação a nossa formatura. (aula 06)
Para mediar a busca de alternativas otimistas o professor acreditou, procurou,
demonstrou ser possível. Assim, o aluno acredita que é possível conseguir, vê
possibilidades, percebe-se capaz e passa querer.
- A inter-relação da mediação do critério mediação e o critério da busca de
alternativas otimistas
161
Há uma relação indissociável entre mediar busca de alternativas otimistas e
transcendência; pois só pode-se vislumbrar uma alternativa se aplicada a um
contexto determinado, ou na projeção do futuro.
Também figuram, como enriquecedores do otimismo, a
intencionalidade/reciprocidade, o significado, o sentimento de competência, o
compartilhamento, o desafio, a busca de objetivos e metas, a individuação
psicológica, a conscientização do ser humano como modificável e o sentimento de
pertencimento.
3.2.1.12 Mediação do sentimento de pertencimento – Critério 12
Interagir e poder expor nossas idéias nos faz sentir
parte de toda essa convivência social da escola.
(Aluna 09 – aula 02)
Hoje senti que o sentimento de grupo foi
trabalhado no sentido de uma geração que trabalha
uma nova mentalidade.
(Aluna 17 - aula 03)
Mediar o sentimento de pertencimento é possibilitar ao outro a descoberta de
que é parte integrante dos contextos sócio-culturais, dos mais particulares aos mais
universais. Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica, para
Freire (1997, p.46), é propiciar as condições em que os educandos, em suas
relações uns com os outros e com todos, ensaiem a experiência profunda de
assumir-se. “Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante,
comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque
capaz de amar.”
O critério de mediação do sentimento de competência obteve o menor índice
de freqüência relativa na totalidade das aulas analisadas. Constatou-se, Gráfico 13,
162
que os índices obtidos mantiveram-se abaixo de 15% em três aulas e superior a 40%
somente na aula 06.
Mediação do sentimento de pertencimento (12)
13.6%
4.5%
22.7%
28.6%
4.5%
41.7%
0.0%
10.0%
20.0%
30.0%
40.0%
50.0%
60.0%
70.0%
80.0%
90.0%
100.0%
Aulas
Freqüência Relativa
A
ula 01
A
ula 02
A
ula 03
A
ula 04
A
ula 05
A
ula 06
GRÁFICO 13 - Freqüência relativa do critério Mediação do Sentimento de
Pertencimento
Fonte: Protocolos dos alunos
O baixo índice de alguns critérios não significa a ausência de sua mediação.
O sentimento de pertencimento surge interligado aos demais critérios nos registros
dos alunos, ao exemplificá-los, uma vez que utilizam freqüentemente expressões
que indicam sua presença na mediação como: “futuras professoras”, “futura
educadora”, ”em minha sala de aula”, “nosso grupo”, “em minha profissão”, entre
outras. Conclui-se que os critérios não percebidos pelos alunos-mediados podem ter
relação com sistemas já constituídos, como já são de seu domínio, passam
despercebidos.
A percepção da mediação de pertencimento de forma mais significativa na
aula 06, como apresentada nos registros dos alunos-mediados, tem relação ao
subtema da aula e as relações de transcendências propostas pelo professor-
mediador. O tema abordado foi empregado como subsídio para analisar as relações
163
sociais entre os indivíduos, os diferentes papéis assumidos no contexto escolar e
para destacar as contribuições para seu futuro como educadores, como
demonstraram os exemplos da vídeo-filmagem nos demais critérios.
Pode-se destacar um momento em que o critério foi mediado de forma mais
especifica:
Os alunos discutiam se deveriam ou não encontrar nos membros do grupo
os papéis propostos no tema em estudo.
Prof. – No que isso poderia ser construtivo para o grupo? Não poderia
somente despertar mágoas, se acabamos de concluir que os papéis
circulam?
Al. 07 – Acho que construiria, só não sei se as pessoas tem maturidade para
encarar.
Prof. – As pessoas, são o seu grupo, o meu grupo.
(Vídeo-filmagem, 28 min – 28,48 min, 17/11/06)
- Relação entre os elementos da mediação e o critério de mediação do
sentimento de pertencimento
Há, nos registros, destaque à percepção do sentimento de pertencimento a
partir do aluno-mediado, apresentando a relação unilateral. Referem-se ao:
- sentir-se bem no grupo:
Al. 06 - Estou me sentindo bem. (aula 03)
- assumir futuros papéis sociais:
Al. 22 - Eu sou professora! Pertenço a essa classe e preciso fazer mais
pelos meus alunos. (aula 01)
Al. 04 – Somos professoras. (aula 06)
- sentir-se parte integrante de algo:
Al. 16 - Pertencendo a algo, grupo. (aula 03)
Al. 07 – Faço parte do trabalho. (aula 04)
- ser respeitado na sua individualidade:
Al. 19 - Cada aluna tem sua própria opinião. (aula 06)
164
A relação bilateral estabelecida a partir do aluno-mediado e objeto da
aprendizagem quando a mediação do tema abordado:
- possibilitou reflexão sobre a realidade e a sua inserção na mesma:
Al. 17 - Por ser um subtema que trata sobre nossa sociedade, vimos o tipo
de sociedade que nós e os Downs estamos inseridos. (aula 04)
Al. 19 - Visão de nós mesmos como professoras e pesquisadoras. (aula 04)
Al. 03 - Faço parte de um grupo operativo. (aula 06)
- analisar a sua participação em diferentes contextos
sociais:
Al. 10 - Analisar qual líder sou eu. (aula 05)
Al. 07 - Eu pertenço a um grupo mais ou menos operativo. (aula 06)
Al. 08 - Senti-me parte do grupo 2ºN e que tenho um papel nele. (aula 06)
Al. 21 - Quando cada um se identificou com determinados papéis. (aula 06)
Os registros que apresentam a relação tríade: mediador-mediado- objeto
da aprendizagem demonstraram que a mediação do critério ocorreu na interação
quando:
- há construção coletiva da identidade grupal:
Al. 02 - Todos pertencemos a um grupo, com a aula pudemos perceber isso.
(aula 06)
Al. 06 - Houve a mediação do grupo que pertenço. (aula 06)
- é dada a oportunidade de participação efetiva ao aluno, no contexto
escolar:
Al. 09 - Interagir e poder expor nossas idéias nos faz sentir parte de toda
essa convivência social da escola. (aula 02)
- vislumbram-se metas coletivas otimistas:
Al. 17 - Hoje senti que o sentimento de grupo foi trabalhado no sentido de
uma geração que trabalha uma nova mentalidade. (aula 03)
165
A maioria dos exemplos é elaborada na primeira pessoa – eu/nós. As
afirmações “eu sou”, “eu pertenço a algo” têm ligação com a possibilidade de
contribuição dos mediados e à escuta do que os mesmos têm a dizer numa
determinada situação ou contexto. Sentir-se como parte, demanda sentir-se
presença:
Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença que intervém,
que transforma, que fala, do que faz mas também que sonha, que constata,
compara, avalia, valora, que decide, que rompe. (FREIRE, 1997, p. 20).
Demonstrou-se que a atribuição de significado interno pelos mediados foi
despertada quando se possibilitou a reflexão de aspectos do contexto social, mais
abrangente ou mais restrito, tanto no estabelecimento das relações entre os
indivíduos em grupo, como na proposição de conteúdos/temas que propiciem tais
transcendências.
Os registros não apontam a percepção da mediação do sentimento de
pertencimento a partir da ação do mediador. Qual foi o papel do professor, ele não
mediou sentimento de pertencimento? Suas estratégias não foram eficazes?
Os indicadores revelam que os elementos da mediação estão entrelaçados na
percepção desse critério, embora com uma focalização no mediado, fator que
influenciou na não citação do professor mediador nos registros.
Conclui-se que o sentimento pertence aos alunos, ao sentirem-se como
professores, não percebem que ao serem chamados de futuros educadores, ou
serem chamados a refletir e opinar sobre a profissão e o contexto social foi mediado
o sentimento de pertencimento.
- A inter-relação da mediação do sentimento de pertencimento com os demais
critérios mediacionais
166
A mediação de sentimento de pertencimento foi permeada de
intencionalidade/reciprocidade, significado, transcendência, compartilhamento,
individuação psicológica, busca de objetivos e metas e busca de alternativas
otimistas.
3.3 SUJEITOS DA MEDIAÇÃO: A SUBJETIVIDADE PRESENTE NA INTERAÇÃO
A mediação em sala de aula ocorre na coletividade. No mesmo ambiente,
indivíduos interagem entre si no processo ensino-aprendizagem. Embora o espaço e
a situação sejam comuns, cada sujeito atribui um sentido próprio à mesma
experiência social.
Os vínculos diferenciados dos indivíduos ocasionam percepções distintas da
realidade vivida no coletivo, aspecto destacado pela categoria sentido subjetivo,
proposta por González Rey (2004):
A categoria sentido subjetivo está comprometida de forma permanente com
as ações do sujeito nos diferentes espaços sociais em que ele participa e,
por sua vez, integra a história diferenciada de seus protagonistas como um
elemento de sentido a mais na constituição subjetiva desses espaços.
(p.104)
As emoções associadas à condição de vida do sujeito se integram em sua
produção de sentido. (p.127).
Ao considerar os processos de sentido do outro, abre-se, no espaço
institucional da escola, a possibilidade de assimilar, em sua riqueza, as lógicas
diferenciadas dos sujeitos que nela se integram.
Indicadores da subjetividade dos mediados emergiram dos dados
quantitativos, como se demonstra na Tabela 2.
167
TABELA 2 - A PERCEPÇÃO INDIVIDUAL DOS CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO PELOS ALUNOS-
MEDIADOS NO TOTAL DAS AULAS
Critérios
Alunos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
TOTAL
1
2 1 0 3 1 2 1 0 2 1 1 0
14
2
2 2 0 2 2 3 1 0 1 1 1 2
17
3
3 4 3 1 2 3 3 2 1 3 1 2
28
4
4 4 1 3 2 4 1 1 1 3 1 2
27
5
5 3 1 2 1 4 0 1 3 2 2 0
24
6
2 3 0 2 2 4 1 2 5 1 2 2
26
7
6 5 2 2 2 4 1 1 2 4 2 2
33
8
2 1 1 1 2 0 0 1 1 0 2 0
11
9
5 2 5 3 0 0 1 3 2 3 3 2
29
10
2 3 1 2 2 2 2 1 2 2 2 2
23
11
1 3 3 0 0 4 1 2 2 2 1 0
19
12
4 4 1 2 2 4 1 1 2 4 1 1
27
13
1 3 1 1 0 3 0 2 0 3 1 0
15
14
0 4 0 0 1 4 0 2 0 1 2 0
14
15
2 5 5 1 1 4 1 4 1 2 2 0
28
16
3 3 2 1 1 3 0 0 1 3 1 1
19
17
5 2 2 1 1 4 0 0 2 0 3 3
23
18
0 4 3 1 2 3 4 3 6 0 1 3
30
19
3 2 2 3 0 4 5 2 4 0 3 1
29
20
2 3 0 2 1 3 0 0 0 2 2 1
16
21
5 4 0 4 3 3 1 0 3 2 2 2
29
22
3 4 3 3 2 2 0 1 2 3 0 2
25
23
3 2 1 1 2 0 3 1 2 2 1 1
19
24
2 3 4 2 0 2 1 0 1 0 0 0
15
25
5 2 1 2 1 4 1 1 1 2 2 0
22
Fonte: Protocolos dos alunos
Alguns critérios não foram registrados em nenhum evento, por alguns alunos,
e na maioria das aulas, por outros. Tomam-se dois exemplos: o critério da mediação
da busca da novidade e da complexidade número 9 - para o aluno 18 ele foi mediado
em todas as aulas, para os alunos 13, 14 e 20 não foi mediado em nenhuma aula; o
critério da mediação da individuação e diferenciação psicológica número 07 - não é
registrado em nenhum evento por 8 alunos, apenas um evento por 12 alunos e em 5
aulas é assinalado pelo aluno 19.
Quanto à totalidade de critérios assinalados pelos alunos (desconsiderando o
aluno 08 que faltou a quatro aulas) os alunos 01 e 14 registraram o total 14, menor
índice; enquanto o aluno 07 registrou 33, o aluno 18 registrou 30 e os alunos 9,19 e
168
21 registraram 29. Constatando-se uma diferença superior a 100% entre os extremos
– de 14 para 33.
Na ótica dos co-pesquisadores, Anexo 9, as diferenças no assinalamento dos
critérios de mediação deveram-se:
- ao grau de envolvimento dos alunos como co-pesquisadores:
Al. 01 - Aquele que começa a aula ciente de que deve analisar, analisa
criteriosamente. Aquele que é surpreendido pelo papel no fim da aula vai no
“chutômetro”, marca qualquer coisa.
Tenho procurado participar da melhor forma possível. Coloco os
critérios com sinceridade.
Aluno 05 – Acho que a minha participação é importante para que a proposta
da professora seja realizada.
Eu coloco no papel o que realmente vejo, procuro sempre ser
clara objetiva.
Al. 09 - O fechamento de alguns à participação.
Penso que estou ajudando a professora, pois fui extremamente
sincera no que senti durante as aulas. Apesar de ainda ter dúvidas sobre o
critério 6 e 7.
Aluna 10 – Acredito que a minha participação não foi de grande importância,
fui sincera quando respondi o questionário todas as aulas.
Aluno 14 – Sim eu acho que tudo o que eu falo/se falo é com sinceridade.
Aluno 20 – Eu considero fraco. [...] eu tento expor o que eu entendo na aula,
mas poderia ser melhor a minha participação.
Aluno 24 – Eu não participei muito, pois não coloquei as minhas idéias para
todos verem.
- aos diferentes sentidos atribuídos pelos alunos às
aulas:
Al. 01 - O modo como cada um vê a aula.
Aluno 06 – Eu encaro como uma forma diversificada de nós avaliarmos.
Aluno 13 – Encaro de forma participativa, é colocado tudo com sinceridade,
só é colocado realmente o que percebo.
Aluno 17 Tenho procurado ser bem crítica nessa questão, ponho o que
realmente foi mediado.
- à interdependência dos critérios, ou seja, a mediação de um critério
privilegiando a ocorrência dos demais:
169
Al. 02 - Nas aulas em que foram mediados mais transcendência,
comportamento de compartilhar e sentimento de competência percebemos
mais critérios.
- ao grau de conhecimento e entendimento dos co-pesquisadores a respeito
dos critérios:
Aluno 01 – [...] sinto que às vezes alguns critérios passam despercebidos.
Aluno 02 – Eu li, estudei e compreendi sobre os critérios e marquei de
acordo como que entendi.
Al. 05 - Eu acredito que os conceitos de cada critério, o que significa e onde
podem ser observados é muito importante, pois na hora de marcar, nem
sempre temos conceitos claros em nossa mente.
Al. 09 - O mau entendimento dos critérios. Não identificação dos critérios.
Al. 24 - Eu acho que as pessoas marcam os critérios que elas sabem e
escolhem, entre eles, os que acham que aconteceram.
Al. 14 - A todo o momento você está mediando. Vamos aprendendo, tendo
uma nova visão e isso nós dá resultados diferences em nosso
conhecimento.
- ao tempo destinado para o registro dos dados:
Al. 05 - A falta de tempo também influencia, pois algumas vezes você só tem
poucos minutos para responder, não oferecendo tempo para colocar as
questões (que estão no pensamento na folha).
Aluno 14 – Eu acho que podia ter usado mais tempo para interação com o
conteúdo, daí a participação seria mais ativa.
- às diferenças de cada aula e ao grau de envolvimento
ocorrido no contexto:
Al. 10 - Acredito que os fatores que me influenciaram a assinalar os critérios
foram situações vividas ou discutidas. Talvez, alguns dias, não houve
motivação para escrever ou para colocar nossa opinião.
Al. 17 - Se numa aula alguns observam uns cinco critérios e outros nenhum,
vejo que esses não estavam abertos á mediação. Porém se a maioria não
marca (menos de três), percebe-se que realmente não houve aquela
mediação.
-
às diferenças individuais e as diferentes estruturações do pensamento:
Al. 06 - A vida pessoal das pessoas pode ocasionar diferenças de
pensamento.
Al. 13 - Cada um tem um modo de adquirir a mediação, cada um adquire de
um jeito. É por isso que há diferenças, pois depende da cabeça, do modo de
pensar de cada pessoa.
Al. 20 - Os principais fatores somos nós e a professora, pois podemos ver
em nós os critérios de mediação e na proposta da professora. Pois
170
observamos tipos de mediação e podem ocorrer muitas diferenças entre
nós.
Al. 14 - Tem a ver com qual critério a gente mais se identifica. A nossa visão
do que significou, porque e para que disso.
Os indicadores emergentes dos dados quantitativos, bem como, alguns
fatores elencados pelos alunos - envolvimento dos alunos como co-pesquisadores,
diferentes sentidos atribuídos às aulas, conhecimento e entendimento dos critérios,
envolvimento ocorrido no contexto de cada aula, diferenças individuais e as
diferentes estruturações do pensamento - remetem às categorias sujeito e
subjetividade.
Reconhecer o sujeito implica reconhecer sua constituição diferenciada, sua
capacidade de expressar o mundo de seus sentidos subjetivos através das relações
que estabelece com os outros. Os alunos revelaram-se sujeitos: demonstraram
atribuírem diferentes sentidos ao mesmo contexto; trouxeram consigo suas histórias
pessoais, suas características cognitivas e afetivas. Revelação presente nos
registros diferenciados a cada aula, como também, no levantamento dos fatores que
ocasionaram as diferenciações.
Os processos de subjetivação individual, decorrentes das relações
interpessoais, integram a subjetividade social constituída na escola. A condição de
sujeito individual se define somente dentro do tecido social em que homem vive, no
qual os processos de subjetividade individual são um momento da subjetividade
social, conforme Gonzalez Rey (2003, p.206). Momentos que se constituem de forma
recíproca sem que um se dilua no outro, e que têm de ser compreendidos em sua
dimensão processual permanente. É nesse contexto que ocorre a mediação.
A ação dos sujeitos que compartilham o espaço social escolar gera elementos
de sentidos e significados nesse mesmo espaço, os quais passam a ser elementos
171
da subjetividade individual. Entretanto, essa subjetividade individual está constituída
em um sujeito ativo, cuja trajetória diferenciada é geradora de sentidos e
significações, que levam ao desenvolvimento de novas configurações subjetivas
individuais, convertem-se em elementos de sentido contraditórios nos espaços
sociais escolares nos quais o sujeito atua. Esta condição de integração e ruptura, de
constituído e constituinte, que caracteriza a relação entre o sujeito individual e a
subjetividade social, segundo Gonzalez Rey (2003, p.207), é um dos processos
característicos de desenvolvimento humano.
A diferenciação entre os mediados e seus processos distintos de
desenvolvimento, na concepção de R. Feuerstein (1989, p.153), são o ponto crucial
de sua teoria. As diferenças entre as pessoas relacionam-se com a qualidade e
quantidade de experiências de aprendizagem mediada a que foram expostas no
decorrer de suas vidas.
A capacidade para aprender não pode ser considerada como algo
universalmente e igualmente presente em todos os indivíduos. Algumas
pessoas se beneficiam de cada exposição, seja ela acidental ou incidental,
não importa o quão organizada seja a experiência, ou se ela não significa
uma situação de aprendizado. Outros têm uma capacidade extremamente
limitada de se beneficiar destas oportunidades de aprendizado. Estes
indivíduos são expostos a experiências, são confrontados com muitas e
freqüentemente poderosas fontes de estímulo, e, no entanto, são muito
pouco afetados por elas. Para os aprendizes que estão em desvantagem,
não é o suficiente disponibilizar esses estímulos; eles precisam ajudar para
que os estímulos se tornem acessíveis a eles. (FEUERSTEIN R., 2000)
Remete-se às experiências escolares anteriores vivenciadas pelos alunos-
mediados, que em maior ou menor grau, ficaram expostos aos estímulos de uma
educação bancária, como concebida por Freire (1975).
172
3.4 CONCLUSÕES/SÍNTESES DA ANÁLISE: RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DE
PESQUISA
Grande parte do esforço empreendido na análise foi dirigida à questão que
deu origem à pesquisa: como ocorrem as relações professor – aluno - objeto da
aprendizagem em sala de aula, sob a perspectiva das categorias mediacionais
de Feuerstein?
A análise individualizada dos critérios de mediação possibilitou caracterizar a
teia complexa de relações, que explica como ocorre a qualidade da interação em
sala de aula, sob a concepção tríade da aprendizagem.
O que concluir, a partir das relações estabelecidas?
Que a interação mediador-mediado-objeto da aprendizagem ocorreu de
formas distintas. As variáveis que interferem em tais distinções referem-se:
- às características próprias de cada elemento envolvido na mediação –
aspectos subjetivos e cognitivos e ações do mediador e mediados, especificidades
do objeto da aprendizagem como o grau de familiaridade, complexidade, potencial
para despertar a mediação;
- ao contexto da mediação – estratégias didático-metodológicas, tempo,
espaço, momento vivido pelo grupo e
- às diferenças de cada critério, que privilegiam relações distintas entre os
elementos da mediação.
A síntese das relações estabelecidas entre cada critério e os elementos da
mediação, das quais emergiram relações unilaterais, bilaterais e tríades, é
apresentada no Quadro 6. Destacaram-se as ações que privilegiaram a ocorrência
das mediações dos diferentes critérios no desenvolvimento as aulas.
173
(continua)
Relação entre os elementos da mediação
Critérios
de
Mediação
Relações unilaterais
Relações bilaterais
Relações tríades
I
N
T
E
N
C
I
O
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A
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D
A
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C
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- na ação do professor
. na organização da aula
. na coordenação das
atividades
. no encaminhamento do
que ensina
. no estímulo ao aluno
- a partir de uma notícia
interna do aluno
. na percepção do desejo
de aprender
- a partir do objeto da
aprendizagem
. o desejo do
conhecimento despertado
pelo tema proposto
- interação professor –
aluno na:
. forma de interação
. instigação à participação
e reflexão
. demonstração de
interesse pelo
aprendizado do aluno
. disponibilidade e
vontade de ensinar e
aprender
. manifestação do desejo
de ajudar e de aceitar
ajuda
- interação aluno -
objeto da aprendizagem
quando:
. o conteúdo da mediação
desperta o desejo
. o tema da mediação
desperta curiosidade
. o tema apresenta
relação coma vida
- professor - objeto da
aprendizagem
. na forma de promover a
interação com o conteúdo
da mediação
. no fomento à discussão
. no despertar para o tema
. no destaque à
importância daquela
aprendizagem
- interação aluno –
professor - objeto da
aprendizagem
. na demonstração da
intenção do professor em
ensinar algo aos alunos
. na proposição de algo
pelo professor e na
resposta do aluno à
proposta
. na discussão do tema
entre professor e alunos
. na troca de conceitos
entre professor e alunos
. no contato mais intenso
entre professor, aluno e
objeto da aprendizagem
QUADRO 6 – Quadro Sinóptico das relações entre os elementos da mediação e os critérios
mediacionais
174
(continua)
Relação entre os elementos da mediação
Critérios
de
Mediação
Relações unilaterais
Relações bilaterais
Relações tríades
S
I
G
N
I
F
I
C
A
D
O
- interação aluno - objeto
da aprendizagem
. na descoberta de para
que o conteúdo da
mediação pode ser usado
. no estabelecimento de
relações do conteúdo da
mediação com a vida
. nas descobertas
oportunizadas pelo tema
oportuniza descobertas
. nos questionamentos
despertados pelo tema
- interação professor e
objeto da aprendizagem
. na busca do potencial,
pelo professor, do
conteúdo para tornar-se
significativo:
- na atribuição novos
significados
- estabelecimento de
pontes com a realidade
- no estabelecimento de
relações
- na explicação de
aspectos estruturais do
tema
- no questionamento
sobre o significado dos
conceitos
- interação aluno –
professor - objeto da
aprendizagem
. o encontro de elos entre
o conteúdo da mediação e
alunos, propiciados pelo
professor, despertando a
atribuição de significado,
ou seja, auxilia no
estabelecimento de
sentidos subjetivos
T
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A
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N
C
I
A
- interação aluno - objeto
da aprendizagem
. no estabelecimento de
pontes com o futuro
profissional e social
. no auxílio da
compreensão de
experiências vivenciadas
. na percepção da
possibilidades de
mudanças
. na demonstração de
aplicabilidade prática
. no despertar de
necessidades
. na superação de
objetivos meramente
avaliativos
- interação aluno -
professor – objeto da
aprendizagem
. na ação do professor, ao
evidenciar elementos para
percepção da
aplicabilidade do tema à
vida
. na instigação do
professor, ao despertar o
aluno para a possibilidade
de ir além da
aprendizagem já
conquistada
. nos questionamentos
propostos como
auxiliadores nas
transcendências
QUADRO 6 – Quadro Sinóptico das relações entre os elementos da mediação e os critérios
mediacionais
175
(continua)
Relação entre os elementos da mediação
Critérios
de
Mediação
Relações unilaterais
Relações bilaterais
Relações tríades
C
O
M
P
E
T
Ê
N
C
I
A
- a partir de uma notícia
interna aluno
. na percepção de sua
capacidade:
- no entendimento do
que é proposto
- na superação do que
já foi conquistado
- na realização das
atividades, com autonomia
- interação aluno -objeto
da aprendizagem
a partir:
. do tema proposto,
quando este:
- salienta aspectos da
competência humana
- possibilita ao aluno
perceber-se como
competente
. da percepção do aluno
em relação as suas
capacidades e
possibilidades, no
desenvolvimento de
atividades
- interação aluno –
professor
. na demonstração de
crédito na capacidade dos
alunos
. no respeito às diferenças
individuais:
. na igualdade de
oportunidades oferecidas
a todos
- interação professor -
objeto da aprendizagem .
. na atribuição, pelos
alunos, de competência ao
professor no domínio do
conteúdo da mediação
- interação aluno –
professor - objeto da
aprendizagem
. no estímulo do mediador
à percepção de situações
em que era possível obter
êxito no emprego dos
conhecimentos e
processos
. no enfoque do professor
em: realizar, conseguir,
poder, perceber
QUADRO 6 – Quadro Sinóptico das relações entre os elementos da mediação e os critérios
mediacionais
176
(continua)
Relação entre os elementos da mediação
Critérios
de
Mediação
Relações unilaterais
Relações bilaterais
Relações tríades
C
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A
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N
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O
- a partir de uma notícia
interna
. na percepção da
possibilidade ou da
necessidade de alterar
sua própria conduta
- interação aluno -
professor
. no estabelecimento de
regras
- interação aluno -
objeto da aprendizagem:
. na percepção das
mudanças ocasionadas
pela aprendizagem
- interação aluno -
demais alunos:
. na percepção do auto-
controle necessário ao
convívio
- interação aluno -
elemento externo
. na utilização do
elemento proposto pelo
professor como
instrumento mediador da
conduta
- interação aluno-
professor– objeto da
aprendizagem:
. na disposição dos alunos
em aprender sobre o
conteúdo proposto pelo
professor e reestruturar
aprendizagens anteriores
- interação aluno-
mediado – demais
alunos - elemento
externo:
. na utilização de um
instrumento como
lembrete às regras
estabelecidas
QUADRO 6 – Quadro Sinóptico das relações entre os elementos da mediação e os critérios
mediacionais
177
(continua)
Relação entre os elementos da mediação
Critérios
de
Mediação
Relações unilaterais
Relações bilaterais
Relações tríades
C
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M
P
O
R
T
A
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E
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C
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- interação aluno-
professor– objeto da
aprendizagem:
. na construção coletiva
do conhecimento:
- compartilhamento de
conceitos e seus
significados
- trocas de informações,
conhecimentos e
experiências entre
professor e alunos
- estabelecimento de
relações com
conhecimentos anteriores
- partilha do professor
de seus conhecimentos
para auxiliar em tarefas
dos alunos
- aproveitamento dos
conhecimentos dos
alunos
- valorização do que é
realizado pelos alunos
. na metacognição:
- discussão e análise
coletiva de dificuldades e
ganhos transformaram-se
em aprendizagem para
todos
- assinalamento de
aspectos metacognitivos
envolvidos na
aprendizagem dos
conteúdos destacado
pelos alunos e professor
I P
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O
- interação aluno e
objeto da aprendizagem
. na exposição e na
reflexão de:
- conteúdos relativos a
aspectos
afetivos/emocionais
- conteúdos relativos
aos aspectos cognitivos
- interação mediado –
mediador – objeto da
aprendizagem
. os aspectos da dinâmica
em sala de aula
referentes:
- à oportunidade do
aluno de manifestar-se
- à escuta do que o
aluno diz
- ao respeito às
diferenças individuais
- à atenção às
necessidades específicas
QUADRO 6 – Quadro Sinóptico das relações entre os elementos da mediação e os critérios
mediacionais
(continua)
178
Relação entre os elementos da mediação
Critérios
de
Mediação
Relações unilaterais
Relações bilaterais
Relações tríades
O
B
J
E
B T
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A S
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M
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A
S
- interação aluno e o
objeto da aprendizagem
. aspectos do conteúdo
podem contribuir:
- na modificação ou dar
consistência a objetivos
já estabelecidos
- no reconhecimento de
novas perspectivas
- interação mediador-
mediado- objeto da
aprendizagem
. destaque as ações do
professor:
- na demonstração de
crédito na capacidade e nas
propostas dos alunos
- na proposição de objetivos
novos junto aos alunos,
quanto ao objeto da
aprendizagem
- no levantamento de
perspectivas que
vislumbraram novas
possibilidades aos alunos
- no auxílio aos alunos para
o estabelecimento de novas
metas
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- interação aluno e
objeto da aprendizagem
. o desafio pode estar
presente:
- como inerente ao
conteúdo proposto
- no grau de
complexidade exigido
para (re)construção de
conceitos
- na busca do aluno de
autodesafiar-se
- interação mediador-
mediado- objeto da
aprendizagem
. as ações do professor:
- no aproveitamento do que
já foi realizado e no desafio a ir
além
- na instigação de novos
questionamentos
- no lançar desafios
- no auxílio na busca do
novo, promoveu a busca à
complexidade
QUADRO 6 – Quadro Sinóptico das relações entre os elementos da mediação e os critérios
mediacionais
179
(continua)
Relação entre os elementos da mediação
Critérios
de
Mediação
Relações unilaterais
Relações bilaterais
Relações tríades
S
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V
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- interação aluno e
objeto da aprendizagem
. metacognição - análises
das próprias
possibilidades de
mudanças:
- um novo conhecimento
que modificou a
aprendizagem anterior, o
aluno percebeu-se
modificado pelo que
aprendeu
- na oportunidade de
superação desafios
. na percepção da
possibilidade de
modificabilidade como
inerente ao ser humano
em:
- aspectos do conteúdo
da mediação que
demonstraram a
possibilidade da
modificabilidade do ser
humano
- no estabelecimento de
pontes com a realidade
vislumbrando mudanças
- interação mediador-
mediado- objeto da
aprendizagem
. nas atitudes de crédito à
mudança demonstrada
pelo professor por meio:
- do que o professor
falou
- do enfoque dado pelo
professor ao objeto da
aprendizagem
fomentando a
modificabilidade.
. nas análises dos alunos
quanto as suas próprias
possibilidades de
mudanças
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- interação aluno e
objeto da aprendizagem
. nos aspectos específicos
do conteúdo que
vislumbram otimismo
.no grau de desafio
apresentado na atividade
. na percepção da
possibilidade de
modificar-se
- interação mediador-
mediado- objeto da
aprendizagem
. na busca de alternativas
novas
. na instigação à crítica da
realidade
. na demonstração de
otimismo por parte do
professor
. na demonstração da
crença no outro:
. no auxílio à descoberta
de metas:
. na aplicabilidade das
possibilidades elencadas
QUADRO 6 – Quadro Sinóptico das relações entre os elementos da mediação e os critérios
mediacionais
180
(conclusão)
Relação entre os elementos da mediação
Critérios
de
Mediação
Relações unilaterais
Relações bilaterais
Relações tríades
S P
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E O
- a partir de uma notícia
interna do aluno
. refere-se ao:
- sentir-se bem no
grupo
- assumir futuros papéis
sociais
- sentir-se parte
integrante de algo
- ser respeitado na sua
individualidade
- interação aluno -
objeto da aprendizagem
. quando o tema abordado
oportuniza:
- possibilidades de
reflexão sobre a realidade
e inserção do aluno na
mesma
- análises da
participação do aluno em
diferentes contextos
sociais
- interação mediador -
mediado - objeto da
aprendizagem
- na construção coletiva
da identidade grupal
- na oportunidade de
participação efetiva ao
aluno no contexto escolar
- no estabelecimento de
metas coletivas otimistas
QUADRO 6: Quadro Sinóptico das Relações entre Elementos Integrantes e Critérios da Mediação
A freqüência dos critérios de mediação e a sua percepção pelos sujeitos da
pesquisa permitem responder quais os critérios de mediação são reconhecidos
pelos participantes da pesquisa durante o processo de mediação.
Os dados quantitativos demonstraram a ocorrência de todos os critérios com
freqüências distintas. Obtiveram maiores índices os critérios de mediação de
significado, do comportamento de compartilhar e de mediação de
intencionalidade/reciprocidade.
No entanto, os resultados das demais análises indicam quatro fatores a
considerar com relação aos dados estatísticos:
- o número de vezes que o mesmo critério é mediado contribuiu para a sua
percepção pelo maior ou menor número de alunos;
- aspectos mediados por determinados critérios, que já são do domínio dos
alunos, passam despercebidos durante a mediação;
- o baixo índice de alguns critérios não significou a ausência de sua mediação,
constatando-se sua presença ao exemplificar a ocorrência de outros critérios -
181
transcendência e pertencimento, que obtiveram índices baixos nos dados numéricos,
destacam-se nos registros dos alunos como muito freqüentes na interação;
- a inter-relação e interdependência entre os critérios demonstrada na
análise individualizada das categorias mediacionais, Quadro 7.
CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO
INTERLIGADOS
MEDIADOS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
1
Intencionalidade/reciprocidade
X
X
X
X
X
X
X
2
Significado
X
X
X
X
X
X
X
3
Transcendência
X
X
X
X
X
X
X
X
4
Sentimento de competência
X
X
X
X
X
X
X
X
X
5
Regulação do comportamento
X
X
X
X
X
6
Compartilhar
X
X
X
X
X
X
X
X
7
Individuação psicológica
X
X
X
X
X
X
X
8
Objetivos e metas
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
9
Desafio/complexidade
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
10
Modificabilidade humana
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
11
Alternativas otimistas
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
12
Pertencimento
X
X
X
X
X
X
X
QUADRO 7: Quadro Sinóptico das Inter-relações entre os Critérios de Mediação
A interdependência mais evidente dos critérios deu-se entre a mediação de
significado e transcendência, apresentando-se como indissociáveis.
Estabeleceram-se redes distintas, porém a mediação de todos os critérios foi
permeada daqueles que são considerados parâmetros universais e fundamentais
para a ocorrência da EAM: a mediação de intencionalidade/reciprocidade, mediação
de significado e mediação de transcendência.
182
Sem o estabelecimento dos mesmos, há precariedade na mediação dos
demais. A falta de um deles inviabiliza a qualidade da interação como mediação.
Demonstrou-se sua importância, já destacada por Feuerstein (1997, p.17), que os
considera como as três características interacionais da humanidade, por meio das
quais ela tem “se transmitido a si mesma”.
Configuraram como variáveis intervenientes na mediação dos critérios, os
seguintes aspectos:
- a focalização de um critério específico pode interferir na mediação de outros;
- a incidência de alguns critérios tende a aumentar quando se intensifica a
participação do professor na interlocução com os alunos;
- os conteúdos escolares influenciam na mediação dos critérios,
demonstrando que sua escolha pode interferir na qualidade da interação;
- as estratégias didático-metodológicas interferem na qualidade da mediação
e na mediação de critérios específicos;
- o trabalho com a pesquisa possibilita a mediação de um número maior de
critérios;
- o momento inicial da aula, a mobilização coletiva é fundamental para
mediação de intencionalidade/reciprocidade e maximiza a mediação dos demais
critérios;
- a mediação de critérios específicos está ligada a fatores subjetivos;
- o tempo de duração da aula pode comprometer a mediação e
- o número de alunos na sala interfere na qualidade da mediação.
A verificação de convergências e divergências entre os critérios de mediação
reconhecidos pelos participantes da experiência de atividade mediada permeou a
análise e discussão, quase que em sua íntegra. Buscou–se atender a outra questão
183
de pesquisa: há diferenças na percepção dos critérios de mediação entre os
sujeitos mediados?
Sua resposta é simples: sim.
Pode-se afirmar, que embora o espaço e a situação fossem comuns a todos,
cada sujeito atribuiu um sentido próprio à mesma interação social vivenciada. Cada
indivíduo aprendeu de forma ímpar, preservando sua autonomia e identidade como
sujeito da aprendizagem.
Nega-se, portanto, a interpretação errônea da EAM, vista por alguns,
com a perspectiva de modelar os mediados. Ela estabelece e reforça os vínculos
necessários à aprendizagem: do sujeito com ele mesmo, com o objeto da
aprendizagem, com o mediador e com o contexto social. Preserva a história
individual dos mediados, amplia suas possibilidades de descobrirem-se aprendizes
capazes.
A explicação das diferenças entre os indivíduos foi discutida com base nos
pressupostos de R. Feuerstein e González Rey. Tal diferenciação relaciona-se:
- à qualidade e quantidade de experiências de aprendizagem mediada as
quais os sujeitos foram expostos no decorrer de suas vidas;
- aos processos distintos de desenvolvimento que caracterizam cada indivíduo
como único;
- aos vínculos diferenciados que os indivíduos estabelecem com a realidade,
devido aos sentidos subjetivos atribuídos à mesma;
- à modalidade de interação social estabelecida, que possibilita preservar o
sujeito em sua subjetividade.
184
A mediação é uma via de mão dupla, pois nos mesmos eventos, sob a
mediação de um único mediador, indivíduos do mesmo grupo passam por processos
distintos de interação e subjetivação.
Ao considerar os indicadores já discutidos, pode-se afirmar que houve a
ocorrência da EAM nas aulas?
Sim e não.
Dependendo do aluno, da qualidade da sua interação com o grupo, com o
mediador e com o objeto da aprendizagem pode ter sido uma mera exposição aos
estímulos. Simultaneamente, para outro mediado, os vínculos estabeleceram-se de
forma intensa, propiciando inúmeras pontes cognitivas e afetivas.
Embora os sujeitos tenham estabelecido interações distintas, os indicadores
apontam que a qualidade da interação nas aulas supera a orientação mecanicista de
aprendizagem.
Ao finalizar a análise, cabe responder: quais foram os avanços e entraves
na implementação de parâmetros da experiência de atividade mediada no
contexto de sala de aula?
Como entraves destacaram-se aspectos referentes à organização curricular e
ao cotidiano escolar, que em certos momentos, levaram o professor-mediador-
pesquisador a refletir sobre a viabilidade da pesquisa:
Hoje desanimei. Penso, sinceramente em desistir da pesquisa. A escola, por
duas vezes propôs outra atividade no horário de aula, ocupando um tempo
que já é restrito para as atividades da disciplina. Uma aula por semana
parece ser pouco para estabelecer a modificabilidade, as mudanças
necessárias e configurar-se como EAM, nos 50 min de aula, nem sempre é
possível desenvolver todas as etapas propostas. (REGISTRO DO
PROFESSOR – 30/09/04).
- categoria "tempo" - número de aulas semanais e duração hora / aula -
configurou-se como entrave importante para realização da Experiência de Atividade
185
Mediada, comprometendo a consecução das etapas previstas: o conflito / a
construção / elaboração de conceitos, a reflexão dos processos individuais e
coletivos. A necessária reconstrução dos conteúdos da disciplina ocupou a maior
parte da discussão, em detrimento do assinalamento de aspectos metacognitivos,
que demandam maior tempo;
- grade curricular com muitas disciplinas, além de propiciar a fragmentação do
processo ensino-aprendizagem, reserva pouco tempo para algumas disciplinas.
Embora a disciplina de Psicologia da Educação tenha uma carga horária maior na
primeira série, anterior a da realização da pesquisa, na segunda série a carga
horária é de uma aula semanal;
- para cumprir às exigências das muitas disciplinas, ocorre o acúmulo de
atividades a serem desenvolvidas pelos alunos, fator que afeta a disponibilidade e
motivação na realização de propostas diferenciadas, por parte de alguns;
- o número de alunos por sala é outro fator que interfere na qualidade da
interação como EAM. Embora o número de alunos na turma em que foi desenvolvido
o presente estudo seja inferior ao considerado padrão em nossas escolas, torna-se
mais difícil acompanhar os distintos processos de todos os mediados e auxiliá-los na
metacognição;
Os entraves impediram a melhoria da qualidade da interação em sala de
aula?
- os primeiros avanços decorreram da utilização do referencial teórico e
instrumental que subsidiou as escolhas do professor-mediador para planejar
atividades e estratégias metodológicas. Não como transposição de um método fixo,
mas como orientação, que privilegiou a autonomia e identidade do mediador, dos
mediados e do grupo;
186
- embora não se tenha modificado em nada as condições da sala de aula para
pesquisa, a riqueza da interação possibilitou avanços. A utilização dos parâmetros
como orientadores do processo ensino -aprendizagem demonstraram a viabilidade
da EAM ;
- a utilização dos parâmetros do mapa cognitivo possibilitou a análise e a
orientação do processo de aprendizagem do mediado e da qualidade da interação
estabelecida. O planejamento pedagógico adquiriu um caráter mais dinâmico,
enriquecido pela concepção tríade da aprendizagem;
- possibilitou o planejamento intencional da interação professor-aluno e
recursos para sua análise, oportunizou destacar aspectos metacognitivos e do
desenvolvimento cognitivo na ação pedagógica;
- os critérios propostos como categorias de análise possibilitaram ao professor
e aos alunos a avaliação: da aprendizagem dos conteúdos escolares, dos processos
cognitivos/afetivos dos mediados e dos processos do professor como mediador;
- as dificuldades e ganhos partilhados transformaram-se em aprendizagem
para todos, oportunizou-se a aprendizagem a partir da experiência do outro;
- a análise da freqüência dos critérios, no decorrer das aulas, facultou ao
professor-mediador a reorganização de seu trabalho com o propósito de mediar os
critérios pouco evidenciados, bem como, auxiliou na avaliação do grupo, na auto-
avaliação do professor-mediador e na reorganização dos encaminhamentos
didáticos;
- a perspectiva da mediação em sala de aula, sob os pressupostos de R.
Feuerstein, evidenciou a importância do professor como orientador do processo
ensino-aprendizagem. Não se negam todos os condicionantes sociais, econômicos,
históricos, estruturais e funcionais que interferem na sala de aula. Porém, a interação
187
nesse contexto acontece entre sujeitos e o conhecimento. Tomando-se esse
aspecto, nessa relação, são inegáveis a autonomia, a importância e a necessidade
do professor retomar para si a responsabilidade de orientar tal interação. Superar o
medo do abandono do conteúdo e confiar na mediação como caminho metodológico
para obter avanços estruturais cognitivos, reforçamento dos vínculos afetivos que
envolvem a construção de conhecimento não reprodutivo;
- a construção e a reelaboração mais complexa dos conceitos ocorreram no
decorrer de todo o processo. Mesmo o foco de análise não incidindo sobre o ato
mental, a utilização das operações mentais e a constituição das funções cognitivas
transcendem dos registros dos participantes da pesquisa. Evidenciou a construção
mediada da aprendizagem dos conteúdos da disciplina de Psicologia da Educação.
- a interligação dos integrantes da mediação oportunizou destacar os temas
abordados em sala de aula como contribuintes para o enriquecimento da mediação.
Não há mediação sem sujeitos, mediados e mediador, tampouco sem conteúdo a ser
mediado.
Conclui-se que, pelas possibilidades de análise e instrumentalização
descortinadas, as contribuições de Reuven Feuerstein e seus colaboradores têm
muito a acrescentar na formação de professores. Seja nos cursos de diferentes
níveis, na formação continuada durante o exercício da profissão; como recurso
orientador a pais e demais educadores. É necessário oportunizar o ingresso desse
referencial na escola, em particular.
188
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: A PROVISORIEDADE DO PONTO DE CHEGADA
É momento de olhar para o caminho,
considerar a validade do seu percurso.
As conclusões e reflexões finais da autora são apresentadas neste último
capítulo.
Todo estudo suscita mais apetites do que sensações de saciedade, mais
perguntas que respostas.
- UM OLHAR PARA O CAMINHO PERCORRIDO
Fazer parte da paisagem que se pretende olhar compromete o campo de
visão. Assemelha-se a sonhos nos quais se tem a sensação de sair próprio corpo e
ver-se como outra pessoa.
O constante exercício de aproximação e afastamento permitiu um olhar
diferenciado sobre a interação em sala de aula. Analisaram-se os próprios caminhos,
focalizando-os sob perspectiva da relação tríade, oferendo-se a outros educadores
reflexões sobre ensinar e aprender.
Amar, aprender e ensinar são verbos presentes em todos os aspectos da
vida. Pesquisar é a busca de melhorar a sua conjugação e revelar a outros o
processo e os ganhos.
Uma das alegrias proporcionadas pela pesquisa é reconhecer-se no relato
dos alunos e saber-se mediador de significado. Desvelar o porquê e para quê dos
conteúdos resulta do trabalho com disciplinas que são apaixonantes ao professor.
Isso valeria para outros educadores e para outras disciplinas?
Quando questionam do que se é professora, responde-se: “sou professora de
gente”. Gente que aprende literatura infantil, psicologia... Todos os professores são
189
professores de gente: gente pequena, grande, mais velha que a gente... Que
aprendem sobre a vida e sobre si mesmos, por meio da alfabetização, da
matemática, da filosofia, da biologia, da química, da geografia, da história, da física,
do movimento, da arte... Gente que aprende rápido, gente que precisa de mais
tempo.
Aprende-se em muitos cursos como não fazer algo. Sem saudosismo
tecnicista, mas como se ensina mesmo? Onde fica o método? Hoje se vive a riqueza
da instrumentalização tecnológica, da aparelhagem, do recurso. E a
instrumentalização da interação?
Muitos dos esforços de ensinar, por mais bem intencionados que sejam não
garantem a qualidade da interação e da aprendizagem.
Admira-se a disposição de muitos professores numa aula-show. Desfilam
personagens e performances para que os alunos memorizem os dados. Mas há
construção de autonomia? Ou temos uma educação bancária enfeitada, rebuscada,
espetacular? Há construção da aprendizagem depois do término do show? Algo
além da piada?
A educação deve constituir-se de alegria. Alegria redescoberta no aprender,
no conviver, no saber, no desafiar-se. Não a mera estratégia de memorizar e repetir.
O referencial teórico instrumental empregado, neste estudo, apresenta-se
como um aliado na busca de mudanças, independente da área de estudo
trabalhada.
É uma teoria de fé e de esperança.
Poderia ser interpretada como milagreira? Como se o mediador pudesse
utilizar um referencial teórico e instrumental como varinha mágica e os mediados
mudariam suas estruturas cognitivas?
190
O milagre existe, ele chama-se ser humano .
O valor desta pesquisa, como as demais subsidiadas pela MCE, revela-se no
resgate da importância dos mediadores humanos para a constituição de cada ser
humano. Em especial, destacou-se o papel imprescindível do professor, na
constituição da inteligência dos seus alunos.
Temos que ser uma voz que vibra em sintonia com o outro. Não somos nós
que o transformamos. A forma de nos relacionarmos com ele auxilia na sua
propensão para modificar-se, para ser mais, para ir além. Não mágica. Sim auxílio,
ajuda, instigação.
Existe uma energia que perpassa aos mediadores e os torna confiantes na
modificabilidade dos mediados, oriunda da própria transformação, a sua constante
metamorfose , a sua melhor leitura do outro.
Optar por estudar a mediação na perspectiva de R. Feuerstein é, a princípio,
um ato do resgate da fé no ser humano, na possibilidade de participar efetivamente
do seu desenvolvimento e, até mesmo, da sua alteração.
O ponto provisório de chegada é a retomada do ponto de partida: a tomada de
consciência do professor-pesquisador-mediador, sobre o seu sistema de crenças.
Acredita-se:
- que qualquer relação entre pessoas é, a priori, um encontro pessoal, um
alimento ao ser gente;
- num mundo melhor e na possibilidade de mediar nos demais a visão
otimizada da vida, da humanidade e de si mesmo;
- na escola, como espaço de geração de competência humana, de realização
pessoal e avanço social;
191
- na sala de aula, como campo propício para pesquisar e vislumbrar a
possibilidade de tornar seu contexto em ambiente rico em Experiência de Atividade
Mediada;
- nos alunos, como sujeitos capazes, com autonomia sobre sua aprendizagem
e com possibilidade de gerarem novos conhecimentos;
- que os adolescentes do Ensino Médio podem realizar pesquisa, intervir em
seus próprios processos de aprendizagem;
- que o interesse e o compromisso em melhorar as pessoas podem ser
mediados;
- que se pode inventar um jeito novo de pesquisar, ou utilizar-se de meios,
que ao mesmo tempo em que possibilitem as construções necessárias, tragam
contribuição a todos os envolvidos;
- na capacidade própria do mediador para transformar-se, modificar-se.
São essas as crenças norteadoras desta pesquisa. Sua elucidação é o
propulsor energético, que a impulsionou e orientou. Elas não nasceram para o
desenvolvimento do trabalho. Estão presentes no encontro com pessoas:
Desenvolver o presente estudo realimentou-as.
“Se as coisas são inatingíveis. Ora, não é
motivo para não querê-las. Que tristes os
caminhos se não fora a presença distante das
estrelas." (QUINTANA)
192
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198
ANEXOS
199
ANEXO 1 – Síntese do Planejamento das aulas tomadas para análise
AULA 01 - 02/09
TEMA: A Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural
SUBTEMA: O trabalho de Reuven Feuerstein
Objetivos relativos ao
conteúdo
- Conhecer o contexto social e histórico do desenvolvimento da
TMCE.
- Observar aspectos da EAM aplicados pro seu autor.
- Oportunizar o estabelecimento relações entre: os diversos materiais
que abordaram o mesmo tema; o tema e o trabalho em sala de aula; o
tema e nossas crenças.
Objetivos relativos ao ato
mental
OP: identificação, comparação, análise, síntese e raciocínio
inferencial.
FC: entrada - percepção clara e precisa, considerar duas ou mais
fontes de informação de uma vez;
elaboração - utilizar conduta comparativa, percepção global e
relacionada da realidade, pensamento hipotético e inferencial;
saída - comunicação descentralizada, respostas justificadas pela
via da argumentação
Características da
medição (critérios)
Intencionalidade/reciprocidade, Significado, Transcendência,
Competência, Busca de objetivos, Ser humano como mutável,
Alternativas otimistas.
Vocabulário/
conceitos
Modificabilidade cognitiva, experiência de atividade mediada,
mediação, organismo que aprende,
Material de apoio utilizado
Texto 1: Reuven Feuerstein – Vida e obra
Texto 2: Aspectos relevantes da EAM e TMEC
Trechos selecionados do vídeo Os transformadores – Reuven
Feuerstein,
Estratégias propostas
Apresentação da proposta do dia / objetivos
Utilização de recortes do vídeo Os transformadores – Reuven
Feuerstein para discussão coletiva e posterior elaboração de síntese
individual relacionadas aos objetivos estabelecidos.
Síntese / aplicações
Como futuros professores, a importância da crença nas crianças.
O otimismo nos leva a crescer.
Ser professor pode auxiliar o outro no seu crescimento.
A mediação pode ser aplicada em sala de aula.
A mediação como síntese das teorias já estudadas na disciplina.
QUADRO 8 - Síntese do plano da aula do dia 02 de Setembro de 2004.
200
AULA 02 – 16/09
Tema: Formação Moral da Criança
Subtema: Análise e construção de conceitos referentes ao tema
Objetivos relativos
ao conteúdo
- (Re) construir os conceitos relativos ao tema.
- Estabelecer relações entre os conceitos prévios individuais, os conceitos
propostos por Jean Piaget e elaboração coletiva.
- Comparar o contexto histórico da época da publicação do texto (Década
de 50) e a atualidade.
- Relacionar o tema à sala de aula e à Psicologia.
Objetivos relativos
ao ato mental
OP: Identificação, comparação, análise, síntese, diferenciação,
transformação mental, raciocínio divergente, raciocínio hipotético, raciocínio
lógico.
FC: entrada - percepção clara e precisa, uso de vocabulário e conceitos
adequados, considerar duas ou mais fontes de informação;
elaboração - diferenciar dados relevantes de dados irrelevantes, utilizar
conduta comparativa, ampliar do campo mental, percepção global e
relacionada da realidade, buscar evidências lógicas, pensamento hipotético
e inferencial, traçar estratégias para verificar hipóteses, elaboração e
expressão espontânea de conceitos cognitivos ou categorias cognitivas
verbais;
saída - comunicação descentralizada, comunicação de respostas sem
bloqueios, respostas justificadas pela via da argumentação, domínio de
vocabulário adequado para comunicar respostas, conduta controlada, não
impulsiva.
Características
da medição
(critérios)
Intencionalidade/reciprocidade, Significado, Transcendência, Competência,
Busca de objetivos, Individuação psicológica, Alternativas otimistas,
Conscientização do ser humano como modificável, Comportamento de
Compartilhar, Sentimento de pertencimento.
Vocabulário/
Conceitos
Criança, moral, direitos, ética, valores, formação, educação, abordagem
psicogenética, abordagem histórico-cultural.
Material utilizado
Texto: Direito à Educação – Jean Piaget
Transparências com a síntese dos conceitos prévios propostos pelos
alunos.
Estratégias
propostas
Questionamento inicial: “Afinal, ética se ensina, se desenvolve? O texto
trabalhado na aula anterior é de um autor já estudado na disciplina, quem
é?”
Discussão coletiva das questões iniciais.
Apresentação da capa do livro com o ano de publicação e autor –
comparação de épocas e estudos anteriores sobre o autor.
Apresentação dos conceitos prévios e discussão coletiva de cada conceito
frente aos novos estudos realizados.
Destaque, pelos alunos, dos principais aspectos abordados no texto.
Síntese / aplicações
A importância de mediar valores.
A luta pelos direitos humanos.
Só a busca precisa de informações pode resultar em de dados teóricos.
(autor/texto)
QUADRO 9 - Síntese do plano da aula do dia 16 de Setembro de 2004
201
AULA 03: 13/10
Tema: Formação Moral da Criança
Subtema: Síntese dos aspectos abordados
Objetivos relativos
ao conteúdo
- Oportunizar a reflexão sobre o papel da família e da escola na formação
ética da criança.
- Analisar aspectos da atual “crise de valores”.
- Sintetizar aspectos relevantes do tema abordado.
Objetivos relativos
ao ato mental
OP: comparação, análise, síntese, classificação, diferenciação, raciocínio
divergente, raciocínio hipotético, raciocínio lógico, raciocínio inferencial.
FC: entrada - uso vocabulário e conceitos adequados, orientação temporal,
considerar duas ou mais fontes de informação de uma vez;
elaboração - perceber e definir o problema
, diferenciar dados
relevantes de dados irrelevantes
, utilizar conduta comparativa, percepção
global e relacionada da realidade
, buscar evidências lógicas, pensamento
hipotético e inferencial
, planejamento da conduta cognitiva, elaboração e
expressão espontânea de conceitos cognitivos ou categorias cognitivas
verbais;
saída - comunicação descentralizada, comunicação de respostas sem
bloqueios, respostas certas e justificadas pela via da argumentação,
domínio de vocabulário adequado para comunicar respostas, conduta
controlada, não impulsiva.
Características
da medição
(critérios)
Intencionalidade/reciprocidade, Significado, Transcendência, Competência,
Busca de objetivos, Individuação psicológica, Conscientização do ser
humano como modificável, Comportamento de Compartilhar, Sentimento de
pertencimento.
Vocabulário/
Conceitos
Mundo melhor, glória x dignidade, auto estima x auto-respeito, culpa x
vergonha, confiança na criança x desconfiança na criança
Material utilizado
A visão de um mundo melhor (trechos da palestra em vídeo: A Formação
Ética da Criança – Yves La Taille)
O papel da escola e da família (trechos da palestra em vídeo: A Formação
Ética da Criança – Yves La Taille)
Texto: Direito à Educação – Jean Piaget
Estratégias
Nas aulas que antecederam, foram assistidos trechos do vídeo e realizadas
algumas interrupções para esclarecimento ou discussão de aspectos
importantes. Foi solicitada, como tarefa individual, o levantamento de alguns
conceitos utilizados pelo palestrante.
Debate proposto a partir do questionamento pelo mediador dos conceitos
elaborados pelos alunos.
As respostas eram debatidas e comparadas pelo grupo.
A cada conceito proposto, apresentava-se o desafio de exemplificar com
situações do cotidiano.
Síntese / Aplicações
Análise da mídia.
Aspectos relacionados o desenvolvimento infantil.
O papel da família e dos professores.
A necessidade de mediar a expectativa de um mundo melhor.
Análises possíveis da mediação de valores no contexto escolar.
QUADRO 10 - Síntese do plano da aula do dia 03 de Outubro de 2004
202
AULA 04: 29/10
Tema: Orientação do Projeto de Pesquisa aos Grupos
(atividade paralela às aulas desenvolvida durante todo o ano letivo)
Subtemas : de acordo coma pesquisa de cada grupo
Objetivos relativos
ao conteúdo
- Discutir a necessidade de cada grupo para elaboração do texto final das
pesquisas realizadas.
- Selecionar os aspectos relevantes da pesquisa bibliográfica realizada
frente aos dados coletados na realidade local.
- Levantar problemas e suas prováveis soluções.
Objetivos relativos
ao ato mental
OP: Identificação, comparação, análise, síntese, codificação, decodificação,
diferenciação, raciocínio divergente, raciocínio hipotético, raciocínio
transitivo, raciocínio analógico, raciocínio lógico e raciocínio inferencial.
FC: entrada - percepção clara e precisa, comportamento exploratório
sistemático, uso vocabulário e conceitos adequados, precisão e exatidão ao
coletar dados, considerar duas ou mais fontes de informação de uma vez;
elaboração - perceber e definir o problema
, diferenciar dados
relevantes de dados irrelevantes
, utilizar conduta comparativa, percepção
global e relacionada da realidade
, buscar evidências lógicas, interiorização
do próprio comportamento
, pensamento hipotético e inferencial, traçar
estratégias para verificar hipóteses
, planejamento da conduta cognitiva,
elaboração e expressão espontânea de conceitos cognitivos ou categorias
cognitivas verbais
;
saída - comunicação descentralizada, comunicação de respostas sem
bloqueios
, respostas certas e justificadas pela via da argumentação,
domínio de vocabulário adequado para comunicar respostas, precisão e
exatidão ao responder
, conduta controlada, não impulsiva.
Características
da medição
(critérios)
Intencionalidade/reciprocidade, Significado, Transcendência, Competência,
Controle do comportamento, Compartilhar, Individuação psicológica,
Objetivos e metas, Desafio e complexidade, Conscientização do ser
humano como modificável, Otimismo Sentimento de pertencimento.
Vocabulário/
Conceitos
Delimitação de tema, objeto de estudo, questões de pesquisa, metodologia,
justificativa, objetivos, conclusões, referencial teórico, artigo, levantamento
de dados, referências e os conceitos referentes a cada tema.
Material Utilizado
Texto de apoio sobre a elaboração de artigos.
Textos preliminares organizados pelos grupos.
Material bibliográfico de acordo com cada tema.
Computador da biblioteca para acesso a internet.
Estratégias
Atendimento do professor por tema do subprojeto de pesquisa, em horários
distintos para cada equipe.
Levantamento das dúvidas.
Análise da produção já realizada.
Estabelecimento de metas e prazos para as próximas etapas do projeto.
Síntese / Aplicações
Pesquisar é apenas organizar o olhar sobre a realidade, e transformá-lo em
evidências lógicas e discuti-las com o que já foi publicado.
Busca de superar os desafios do trabalho.
QUADRO 11 - Síntese do plano da aula do dia 29 de Outubro de 2004
203
AULA 05: 10/11
Tema: Grupos Operativos
Subtema: A construção dos conceitos essenciais à compreensão da Teoria
Objetivos relativos
ao conteúdo
- (Re)construir os conceitos propostos pela teoria dos Grupos Operativos .
- Oportunizar o debate de aspectos relevantes da teoria dos Grupos
Operativos.
Objetivos relativos
ao ato mental
OP: identificação, comparação, análise, síntese, codificação, decodificação,
diferenciação, raciocínio divergente, raciocínio lógico, raciocínio silogístico,
raciocínio inferencial.
FC: entrada - percepção clara e precisa
, uso vocabulário e conceitos
adequados
, precisão e exatidão ao coletar dados, considerar duas ou mais
fontes de informação.
elaboração - diferenciar dados relevantes de dados irrelevantes, utilizar
conduta comparativa
, percepção global e relacionada da realidade, buscar
evidências lógicas
, interiorização do próprio comportamento, planejamento
da conduta cognitiva
, elaboração e expressão espontânea de conceitos
cognitivos ou categorias cognitivas verbais
.
Saída - comunicação descentralizada, comunicação de respostas
sem bloqueios
, respostas certas e justificadas pela via da argumentação,
domínio de vocabulário adequado para comunicar respostas, conduta
controlada, não impulsiva.
Características
da medição
(critérios)
Intencionalidade/reciprocidade, Significado, Transcendência, Competência,
Controle do comportamento, Compartilhar, Individuação psicológica,
Objetivos e metas, Desafio e complexidade, Conscientização do ser
humano como modificável, Otimismo Sentimento de pertencimento.
Vocabulário/
Conceitos
Grupo operativo, tarefa, homem, vínculo, porta-voz, ECRO, líder de
mudança, líder de resistência, bode expiatório, sintetizador, complementar,
teoria dos 3D, tipos de grupos.
Material utilizado
Texto 1: Grupo Operativo – Uma forma de atuação.
Texto 2: Grupos Operativos com adolescentes.
Estratégias
Na aula anterior, metade da turma recebeu o Texto 1 e a outra metade o
Texto 2. Foi solicitada a leitura individual do texto e determinados os
conceitos a serem retirados do mesmo.
Dinâmica dos conceitos – alunos em círculo, estabelecidas as regras: cada
aluno recebe duas fichas – as quais dão direito a duas participações, joga-
se a ficha ao centro para poder falar; as fichas podem ser emprestadas ou
readquiridas.
Síntese / Aplicações
Respeito às regras em diversas situações da vida.
A necessidade de dar espaço ao outro.
Os conceitos falam de qualquer relação em grupo.
Pensar antes de “gastar” sua ficha – controle da impulsividade.
QUADRO 12 - Síntese do plano da aula do dia 10 de Novembro de 2004
204
AULA 06: 17/11
Tema: Grupos Operativos
Subtema: Relação da teoria dos Grupos Operativos com a sala de aula – análise do próprio
grupo
Objetivos relativos
ao conteúdo
- Utilizar-se de aspectos da Teoria de Grupo Operativo para analisar as
relações entre o grupo participante, bem como demais relações
estabelecidas na escola.
- Perceber a possibilidade da atuação docente numa perspectiva operativa.
- Estabelecer relações da teoria em estudo com as demais abordagens
psicológicas
Objetivos relativos
ao ato mental
OP: identificação, comparação, análise, síntese, classificação,
diferenciação, raciocínio divergente, raciocínio hipotético, raciocínio lógico,
raciocínio silogístico e raciocínio inferencial.
FC: entrada - percepção clara e precisa, uso vocabulário e conceitos
adequados, considerar duas ou mais fontes de informação;
elaboração - perceber e definir o problema, diferenciar dados relevantes
de dados irrelevantes, utilizar conduta comparativa, percepção global e
relacionada da realidade, buscar evidências lógicas, interiorização do
próprio comportamento, pensamento hipotético e inferencial, elaboração e
expressão espontânea de conceitos cognitivos ou categorias cognitivas
verbais.
Saída - comunicação descentralizada, comunicação de respostas sem
bloqueios, respostas certas e justificadas pela via da argumentação e
conduta controlada, não impulsiva.
Características
da medição
(critérios)
Intencionalidade/reciprocidade, Significado, Transcendência, Sentimento de
Competência, Controle do comportamento, Individuação psicológica,
Compartilhar, Sentimento de pertencimento.
Vocabulário/
Conceitos
Grupo operativo, operatividade, tarefa, homem, vínculo, porta-voz, ECRO,
líder de mudança, líder de resistência, bode expiatório, sintetizador,
complementar, teoria dos 3D, tipos de grupos.
Material utilizado
Texto 1: Grupo Operativo – Uma forma de atuação.
Texto 2: Grupos Operativos com adolescentes.
Estratégias
Questões a serem debatidas: Qual a tarefa da escola? No que a teoria dos
Grupos Operativos pode contribuir para entender as relações estabelecidas
na mesma? Avançamos na leitura? Quais conceitos temos dificuldades?
Discussão da temática em dois momentos: primeira parte empregando a
dinâmica das fichas e no outro a discussão livre.
Síntese / Aplicações
Os diferentes papéis vivenciados em grupos.
A organização da sala de aula como grupo operativo.
A síntese proposta pelo autor na elaboração teórica abrangendo diversas
abordagens.
Ser operativo é permitir a circularidade de papéis e encarar o compromisso
como tarefa.
QUADRO 13 - Síntese do plano da aula do dia 17 de Novembro de 2004.
205
ANEXO 2 – Protocolos de registro de observação dos alunos-mediados
CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO – FICHA DE REGISTRO DO ALUNO
Data da aula: ___/___/___
Tema: ________________________________________________________
Subtema abordado: ____________________________________________
Nome do aluno co-pesquisador: __________________________________
Os critérios de mediação aplicados no decorrer da aula serão assinalados nos parênteses
correspondentes e exemplificados com situações concretas vivenciadas
.
1.(__) mediação de intencionalidade e reciprocidade -.........................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
2.(__) mediação de significado .........................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
3.(__) mediação de transcendência -..................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
4.(__) mediação de sentimento de competência - ...............................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
5.(__) mediação da regulação e controle do comportamento -..............................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
6.(__) mediação do comportamento de compartilhar -.........................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
7.(__) mediação da individuação psicológica -....................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
8.(__) mediação da busca de objetivos e metas -................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
9.(__) mediação do desafio: a busca da novidade e da complexidade -................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
10.(__) mediação da conscientização do ser humano como modificável -.............................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
11.(__) mediação da busca por alternativas otimistas -........................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
12.(__) mediação do sentimento de pertencimento -..................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
Professor pesquisador: Nelba Maria Teixeira Pisacco
206
ANEXO 3 - Protocolos de registro de observação dos alunos-mediados
CRITÉRIOS DE MEDIAÇÃO – FICHA DE REGISTRO DO PROFESSOR
Data da aula: ___/___/___
Tema: ________________________________________________________
Subtema abordado: ____________________________________________
Os critérios de mediação aplicados no decorrer da aula serão assinalados nos parênteses
correspondentes e exemplificados com situações concretas vivenciadas
.
1.(__) mediação de intencionalidade e reciprocidade -.........................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
2.(__) mediação de significado -........................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
3.(__) mediação de transcendência -..................................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
4.(__) mediação de sentimento de competência - ...............................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
5.(__) mediação da regulação e controle do comportamento -..............................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
6.(__) mediação do comportamento de compartilhar -.........................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
7.(__) mediação da individuação psicológica -....................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
8.(__) mediação da busca de objetivos e metas -................................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
9.(__) mediação do desafio: a busca da novidade e da complexidade -................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
10.(__) mediação da conscientização do ser humano como modificável -.............................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
11.(__) mediação da busca por alternativas otimistas -........................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
12.(__) mediação do sentimento de pertencimento -............................................................
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
Professor pesquisador: Nelba Maria Teixeira Pisacco
207
ANEXO 4 - Mapa com a síntese dos dados obtidos na ficha de registro dos
alunos
MAPA COM A SÍNTESE DOS DADOS OBTIDOS NA FICHA DE REGISTRO DOS ALUNOS
DATA: ____/____/____
Critérios
alunos
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Professor pesquisador: Nelba Maria Teixeira Pisacco
208
ANEXO 5 - Dados registrados pelos alunos no preenchimento do protocolo de
registro e observação (Anexo 2)
1) Mediação de intencionalidade e reciprocidade
Aula 01:
(al. 05) - Quando Feuerstein faz a mediação nos alunos e eles respondem o que ele pergunta.
(al. 07) - Feuerstein foi muito intencional nas suas idéias e tudo foi recíproco.
(al. 09) - Feuerstein passa a idéia da difusão de suas idéias e que em mim é mútuo pois, sou
encantada pela idéia de educação dele.
(al. 12) - Quando ele teve a intenção de ensinar o aluno e este querer aprender.
(al. 15) - A mediadora teve a intenção de nos passar conhecimento a partir do momento em que nos
levou o vídeo.
(al. 17) - “Acreditar que é possível pessoas com deficiência orgânica “aprender”. “Acreditar na
educação”.
(al. 19) - A sociedade em que vivemos, tudo tão próximo da nossa realidade mais ao mesmo tempo
distante da sociedade .
(al. 20) - Na escola ele faz com que as crianças aprendam e possam responder e perguntar o que ele
explicou.
(al. 21) - Pois ele tem a intenção de ensinar e as crianças querem aprender.
(al. 22) - Eu quero aprender sobre o trabalho de Feuerstein.
(al. 25) - É visível o interesse de aprendizado do aluno com relação ao professor.
Aula 02:
(al. 02) - Houve interesse tanto do professor quanto do aluno.
(al. 07) - A professora perguntou, eu respondi e perguntei.
(al. 10) - Forma de comunicação.
(al. 12) - Quando nos mostrou o quanto importante é o conhecimento da ética.
(al. 09) - Houve a intenção da professora de mediar o conteúdo e minha de refletir nele.
(al. 16) - Foi mediado e tive a intenção de aprender.
(al. 17) - Foi um assunto que me despertou curiosidade.
(al. 19) - Busca por conhecimento e interesse do professor.
(al. 22) - De minha parte houve interesse sobre o assunto e a professora realmente tinha a intenção
de aprender.
(al. 25) - Durante a aula ocorre discussões.
Aula 03:
(al. 05) - Da mesma forma que a professora teve vontade de ensinar, eu tive vontade de aprender.
(al. 06) - Estimulou o mediado.
(al. 07) – Quando promoveu interação dos conteúdos com a turma.
(al. 09) - Interação entre a professora conosco, a instigação a nossa participação e reflexão.
(al. 11) - Quando promoveu a interação do conteúdo com os alunos (questionamentos).
(al. 15) - Dividir a dinâmica, escolher em conjunto a opção.
(al. 16) - Todos tiveram intenção de sair da aula com resultado de sucesso.
(al. 17) - Ela mostra a intenção de ensinar e chama o interesse dos alunos a sua aula.
(al. 21) - Quando ela proporcionou a discussão sobre o 1º texto fazendo com que cada dupla
passasse para as outras duplas.
(al. 22) - Eu tive vontade de aprender.
(al. 23) - Houve um vínculo, pois todos respeitaram o momento de leitura e discussão.
(al. 24) - Na busca de fomentar a discussão, o despertar para o tema.
(al 25) - Estimular o mediado a compartilhar experiências.
209
Aula 04:
(al. 04) – Houve discussão em grupo do subtema, grande interesse do grupo.
(al. 05) - No momento em que houve a “troca” de conceitos tanto a partir da professora quanto a
partir do aluno. A professora quer ensinar e o aluno quer aprender.
(al. 07) – A professora auxiliou e eu quis saber como escrever a pesquisa.
(al. 09) - A professora manteve o contado intenso com a intenção de me orientar em meu projeto.
(al. 10) – Muita vontade por parte da professora e das alunas para desenvolver as pesquisas.
(al. 12) – As alunas e a professora participaram ativamente.
(al. 15) - Houve discussão sobre o subtema, a professora questionou e teve a intenção de que nós
fizéssemos a pesquisa.
(al. 17) - Por ser um trabalho realizado por nós, alunos, houve intenso interesse na busca do
aprender, como também a professora estava disposta a ensinar.
(al. 18) - Quando houve discussão sobre o subtema.
(al. 19) - Ao trocar as idéias de cada grupo / tirar dúvidas / propor.
(al. 21) – A professora e as alunas do grupo querem desenvolver a pesquisa.
(al. 23) – Eu quero a ajuda e a professora demonstra grande disposição em contribuir.
Aula 05:
(al. 05) - Quando a moeda é jogada com a intenção de falar e a professora escuta e compartilha.
(al. 07) - Perguntamos, respondemos, tiramos dúvidas.
(al. 21) - Quando nós perguntamos e respondemos.
(al. 24) - Na organização da atividade, na coordenação do grupo.
Aula 06:
(al. 02) - Ensinou e a gente aprendeu.
(al. 03) - A professora quis ensinar e nós aproveitamos essa mediação.
(al. 05) - No momento em que a professora pergunta e o aluno responde com suas opiniões.
(al. 06) - A professora ensinou, houve um compartilhamento.
(al. 07) - A professora veio com o conteúdo e eu respondi e quis aprender.
(al. 08) - Houve compartilhamento de ambos os lados.
(al. 09) - Apesar de não ter me exposto senti o conteúdo como uma tarefa.
(al. 10) - É um bom assunto a ser aprendido.
(al. 11) - Quando a professora teve a intenção de ensinar, e eu de aprender.
(al. 15) - A professora teve a intenção de ensinar e eu quis aprender.
(al. 16) - Tivemos várias discussões.
(al. 17) - As meninas estavam dispostas a aprender e a discutir, e a professora disposta a ensinar.
(al. 20) - A professora fez nós discutir fazendo nos termos vontade de aprender.
(al. 21) – Sim, pois as alunas queriam aprender o assunto.
(al. 23) - Todos participamos ativos.
(al. 24) - A professora ensinou.
(al. 25) – A vontade de aprender, de compartilhar na hora do desenvolvimento do conteúdo.
2) Mediação de significado:
Aula 01:
(al. 04) - Que eu posso utilizar isso e como “lidar” com esse tipo de deficiência.
(al. 05) - Quando Feuerstein, pergunta para as crianças as cores e as figuras que aparecem nos
quadrados.
(al. 06) - Ensino através de cores e símbolos geométricos.
(al. 09) - Sim comparei algumas coisas com casos em minhas vivências em sala de aula e ªconcordo,
o professor que não acredita que o ser humano é modificável é responsável pela sua inércia.
(al. 14) - Saber o significado de – porque eles estão realizando tal atividade, o que será de
enriquecimento para ele.
210
(al.15) - Isso significou muito para mim, pois vou ser professora e assistir este filme foi fundamental.
(al.22) - É importante conhecer o trabalho de Feuerstein, para utilizá-lo na minha prática pedagógica.
(al. 25) - Ele prepara para a socialização.
Aula 02:
(al. 07) – O conteúdo tem um porque para ser estudado.
(al. 08) - Percebi a importância de saber.
(al. 09) - A discussão sobre ética tem significado pois, possui extrema importância para a vida.
(al. 10) - Reestruturação do que já sabíamos.
(al. 12) - Quando ela relacionou a ética com a sala de aula.
(al. 13) - O conteúdo tem um significado lógico.
(al. 14)- Porque eu tenho que dar a formação ética da criança.
(al. 15) - Quando a professora falou sobre a ética, a qual teve significado, despertou interesse.
(al. 16) - O assunto sairá do papel.
(al. 19) - É importante para a formação como futura educadora.
(al. 20) - Este conteúdo tem um significado para mim, como professora fez eu perceber que é
importante este conteúdo.
(al. 21) - Quando eu percebi a importância da ética da moral, e de outros aspectos.
(al. 22) - Quando eu percebo que eu precisarei formar a criança como ser ético, e por isso estou
aprendendo este conteúdo.
(al. 23) - Esse conteúdo é importante ser trabalhado porque usaremos para nosso futuro.
(al. 24) - Para que possa mas trabalhar com as crianças mais tarde, isso é essencial.
Aula 03:
(al. 03) - Atribui significado a formação.
(al. 04) - Atribui significado quanto a ética e formação.
(al. 06) - Quando ela exemplificou a ética e a lógica (alguns termos com a realidade)
(al. 07) - Quando exemplificou alguns termos com a realidade em que vivemos.
(al. 09) - Dando significados ao tema.
(al. 11) - A professora quer que nós saibamos o como acontece a formação ética, explicando que se
trata de valores, conduta.
(al. 12) - Quando exemplificou alguns termos com a realidade em que vivemos.
(al. 13) - A lógica do estudo, o que passa de bom e que significado nos trás.
(al. 14) - Você estudar se conscientizar o significado das coisas porque ela tem esse significado.
(al. 15) - A aula teve significado pois a ética e a formação são fundamentais para mim.
(al. 16) - Percebi no que é utilizado no dia a dia a lógica e a moral.
Aula 04:
(al. 07) – A importância de divulgar sobre violência infantil.
(al. 08) – Para proteger as crianças e aprender mais sobre pedofilia.
(al. 12) – Eu escolhi o tema que tem significado.
(al. 15) - Fomos levadas a refletir sobre o que sabemos e por que sabemos sobre o Down e a
síndrome.
(al. 16) – Auxiliamos na sala de um menino cego.
(al. 17) – Seremos professoras e talvez encontraremos alunos com síndromes.
(al. 18) - Para descobrir como proteger crianças violentadas.
(al. 21) – Identificar sintomas de depressão.
(al. 22) - Saber como proceder e divulgar resultados.
(al. 24) – è uma doença que atinge crianças.
(al. 25) - Trocar idéias sobre a relação com a nossa cidade.
Aula 05:
(al. 01) - Pude perceber aspectos de minha vida na aula.
(al. 02) - Pudemos entender alguns conceitos.
211
(al. 04) - Como já diz no subtema, criando conceitos.
(al. 05) - Quando a professora pergunta se nós entendemos o conceito de tarefa.
(al. 06) - Para podermos falar.
(al. 07) - O texto, juntamente com os termos novos destacados tiveram um novo significado.
(al. 10) - Palavras do texto – devião ser usadas.
(al. 11) - Houve mediação na dinâmica porque nós conseguimos perceber o significado das palavras.
(al. 12) - Quando foi colocado alguns conceitos fazendo um paralelo com a realidade.
(al. 14) - Porque das tarefas rotinas, para que elas servem.
(al. 15) - Teve significado, pois os conceitos fazem parte do meu cotidiano.
(al. 20) – A professora falava, e nós tinhamos que falar sobre o conteúdo explorado discutindo sobre o
assunto.
(al. 21) - Quando nós analisamos os conceitos expostos no texto.
(al. 22) - Pude ver que existem muitas coisas que se encaixam no meu cotidiano.
(al. 23) - No estabelecer relações com o que estamos estudando, com a vida em grupo.
Aula 06:
(al. 02) - Depois de tanta discussão, o grupo operatório é uma coisa para ser vista em todos os
momentos.
(al. 03) - Usar em minha profissão – com minha turma.
(al. 04) - Pois a mediadora propiciou esse tipo de mediação.
(al. 05) - Os conceitos e importância do uso deles no cotidiano.
(al. 06) - Tem porque estudar, para aplicarmos em todos os momentos.
(al. 09) - Como ser professor sem entender o grupo, a realidade, a sociedade!
(al. 12) - Quando foi relacionado o conteúdo com a nossa realidade.
(al. 14) - O que eu sou na sala? Porque eu assumo esse lugar?
(al. 15) - Esta aula teve um porque, pois vou usar a teoria dos grupos na sala de aula.
(al. 17) - Notamos que tudo isso servirá para nosso futuro como educadoras.
(al. 21) - Quando percebemos o verdadeiro significado dos conceitos.
(al. 24) - Houve uma aprendizagem.
3) Mediação de transcendência:
Aula 01:
(al. 09) - Pretendo exercer essas idéias em minha prática. Além de ver alguns aspectos que usei em
meu último estágio.
(al. 11) - Nós a prendemos bimestre passado sobre esses critérios de mediação e este assunto foi
ampliado e nós conhecemos o “trabalho” de Feuerstein.
(al. 15) - Este filme não refere-se somente a prova, um mero conteúdo, mas sim para a minha
formação de professora.
(al. 22) - Esse conhecimento não serve só para eu fazer uma avaliação, vai servir para a minha
prática.
(al. 24) - O que vimos no vídeo pode ser percebido em algumas crianças.
(al. 25) - Ele não prepara somente para a sala mas também para a inserção à sociedade.
Aula 02:
(al. 03) - O conteúdo explicado foi compreendido e assim pudemos ver exemplos no dia-dia.
(al. 09) - O conteúdo passado é altamente importante em nossa prática pois a formação ética é como
a linguagem, sem um agente externo que a passe ela não existirá.
(al. 15) - O conteúdo não foi mero aprendizado para a prova, mas para a vida.
(al. 16) - Percebi que o conteúdo “sairá do papel”.
(al. 18) - Relações com nosso cotidiano.
(al. 19) - Para aplicar no cotidiano como professora apara que haja a mudança na educação.
(al. 22) - Volta à educação tradicional e tecnicista.
(al. 24) - O conteúdo vai além das questões da prova, tem ligação com seu mundo.
212
Aula 03:
(al. 07) -Trabalhar com as crianças em sala e com filhos.
(al. 09) - Senti sim a necessidade da reflexão e da aplicabilidade desses conceitos em toda vida.
(al. 10) - Vivências obtidas no cotidiano.
(al. 11) - É importante ressaltar hoje o “valor” que se dá à moral pois, como futura educadora, temos
que salientar que imagem, dinheiro não são tão importantes como pensam.
(al. 13) -Traz reflexos da realidade que eu vivencio no dia-adia. Ex.: mídia
(al. 16) - O tema vai ser útil para mim.
(al. 17) - Abordou situações do meu cotidiano.
(al. 18) - Nossa realidade.
(al. 19) - Vai além do aqui e agora, transferindo para a vida.
(al. 22) - Esse conteúdo vais ser aplicado na minha sala de aula, não vai servir só para eu passar de
ano.
(al. 24) - Nós podemos perceber esse conteúdo em nosso meio.
Aula 04:
(al. 07) – Tem a ver com o meu trabalho futuro.
(al. 08) – A pesquisa nos ajuda a entendera realidade.
(al. 09) - Instigou-me a novos questionamentos para minha pesquisa.
(al. 15) - O assunto foi além de um mero conteúdo.
(al.16) – Saímos do estudo de texto em sala para perceber a realidade.
(al. 17) - Essa mediação foi uma das mais fortes. Afinal estamos trabalhando por algo não para a
prova final, mas com o objetivo de conhecer o que é o Down.
(al. 24) - Além do entendimento do tema a relação com o ensino e a publicação.
Aula 05:
(al. 15) - Saiu do conteúdo como aprendizado para a prova.
Aula 06:
(al. O4) - Posso usar na escola onde pretendo trabalhar.
(al. 05) - Quando saímos daqui e utilizamos esses conceitos em nossa vida. Ex.: como estagiária,
professora em sala de aula.
(al. 07) - “Passarei” este conteúdo para os grupos que tenho.
(al. 09) - Pude comparar e olhar ao futuro quando serei professora e a importância da teoria para
suprir meus objetivos.
(al. 10) - Talvez vá entender melhor nossa sala.
(al. 12) - Quando foi colocada a questão de como o grupo operativo influenciará na minha profissão.
(al. 15) - Saiu do conteúdo para a prova.
(al. 24) - Usamos em nossa sala de aula.
4) Mediação de sentimento de competência:
Aula 01:
(al. 01) - Quando incentiva o menino no primeiro teste.
(al. 02) - Todos os “deficientes” tem capacidade de entender e aprender só é necessário a ele um
mediador para auxiliá-lo.
(al. 05) - Quando Feuerstein fala para o menino que ele não é bobo e consegue aprender.
(al. 06) - O menino falava que iria conseguir e ele o mediava lhe falando que ele conseguia sim.
(al. 07) - Somos competentes e Feuerstein mostrou isso em seu vídeo quando diz que a criança não é
boba.
(al. 10) - Sempre estimulava o aprendiz.
213
(al. 11) - Quando coloca que o aluno é capaz de aprender.
(al. 13) - Mostra as crianças o que elas são capazes de fazer, (de montar as figuras).
(al. 17) - Ele faz a criança acreditar que pode aprender mesmo sendo algo difícil.
(al. 20) - Ele faz com que as crianças se sentirem competentes, e que são capazes de aprender, pois
tem potencial.
(al. 21) - Quando ele falou que o garoto era capaz e realmente o garoto conseguiu realizar a atividade.
(al. 22) - Se o Feuerstein pode, eu também posso, basta eu me esforçar um pouco.
(al. 25) - Dizendo que o aluno é capaz e o incentivando.
Aula 02:
(al. 03) - A professora demonstra acreditar que seus alunos são capazes.
(al. 16) - Sabia do que se tratava o assunto ou seja, não demonstrou em nenhum momento
insegurança.
(al. 20) - Ela confia nos alunos que temos competência de realizar este trabalho, essa pesquisa.
(al. 21) - Ela nos deixou confiantes em nós mesmos, quando disse que nós éramos capazes.
Aula 03:
(al. 09) - Senti-me capaz de não só aprender, mas como agir nesta “realidade ética” da sociedade.
(al. 21) - Quando eu percebi que sou capaz de entender.
Aula 04:
(al. 02) - Senti mais segurança para realizar o trabalho.
(al. 04) - Se nós conseguiríamos realizar o trabalho e se tínhamos dificuldades quanto a isso.
(al. 05) - Quando a professora perguntou se nós conseguiríamos fazer o trabalho.
(al. 07) – Percebi que a parte do trabalho que já fizemos está boa.
(al. 09) - Falou-me e deixou-me tranqüila me sentindo capaz de realizar o trabalho.
(al. 12) – Me senti capaz de seguirem frente.
(al. 15) - Senti-me competente para realizar a pesquisa.
(al. 19) – Percebi que podemos superar as dificuldades encontradas até o momento.
(al. 21) - Conscientizou da possibilidade de escrever o texto.
Aula 05:
(al. 19) - Cada um com sua opinião e transferindo para os outros a sua opinião.
(al. 25) - Todos sabem que são capazes de falar, o professor faz com que isso aconteça.
Aula 06:
(al. 01) - Em relação à formatura, a professora disse: “Se vocês correrem ats disso, irão conseguir”
e isso ajudou para que tenhamos força.
(al. 02) - Cada pessoa no grupo possui uma atividade, competência, com essa aula pudemos
perceber que somos capazes.
(al. 06) - Eu me senti competente para seguir minhas metas.
(al. 08) - Percebi que eu posso participar da aula expressando meus conceitos e opiniões.
(al. 09) - Senti-me capaz, fui respeitada em minha individualidade.
(al. 10) - Eu posso ser melhor.
(al. 15) - Me senti competente para operar e mudar.
(al. 22) - A frase dita pela professora me fez perceber que eu posso ir além.
(al. 24) - Todos sabem que pode falar
214
05) Mediação da regulação e controle do comportamento:
Aula 01:
Nenhum exemplo citado.
Aula 02:
(al. 23) - Quando lemos o texto sem saber o autor desequilibrou pelo fato de muitos de nós
pensarmos em outros sem saber que Piaget é tão crítico.
Aula 03:
(al. 02) - Depois do estudo, iremos responder às mesmas perguntas que respondemos antes de
começarmos este estudo.
(al. 07) - Modifiquei alguns conceitos.
(al. 10) - Nova concepção.
(al. 16) - Mudou vários conceitos que eu tinha.
(al. 21) - Quando podemos perceber que podemos modificar comportamentos.
Aula 04:
(al. 09) - Organizar as idéias pesquisadas com as aprendizagens anteriores.
Aula 05:
(al. 02) - Todos precisaram se comportar e respeitar o colega, para isso deveria jogar a moeda.
(al. 03) - Devemos falar se jogarmos a moeda.
(al. 06) - A professora nos mediou através da fala com a moeda.
(al. 07) - Com a moeda na mão pudemos controlar nosso comportamento.
(al. 08) - Usando a moeda para controlar a fala das alunas.
(al. 10) - Usou a moeda para calar todas nós.
(al. 12) - Quando tínhamos que jogar a moeda para falar.
(al.15 ) - Houve controle na hora de falar.
(al. 16) - Não poderíamos falar sem jogar a moeda.
(al. 20) - Tínhamos que esperar cada vez que jogava a moeda para falar.
(al. 22) - Quando eu tinha apenas 2 moedas e só podia falar essas 2 vezes.
(al. 25) - O fato de ter um momento certo para falar.
Aula 06:
(al. 05) - Quando o outro fala, apesar da “vontade” eu não posso me alterar.
(al. 06) - Nos mediou sobre os grupos operativos na sala. Voltar a realidade e achar um equilíbrio.
(al. 10) - Tô sendo filmada e é melhor fica quieta.
(al. 16) - Aprendemos o novo e equilibramos com nossos conceitos.
(al. 19) - Equilíbrio em falar discutir.
(al. 22) - Eu tive que me controlar com os comentários que foram feitos para ou sobre mim.
(al. 25) - Quando eu tenho que levantar a mão para falar.
06) Mediação do comportamento de compartilhar:
Aula 01:
(al. 06) - Podemos discutir o que aprendemos, com pessoas que não estavam na sala.
215
Aula 02:
(al. 01) - Houve uma discussão sobre quem é o autor do texto.
(al. 02) - Ir em direção ao outro e promover uma ação de troca, de inter-relação. Você ensina e
aprende com a pessoa ao mesmo tempo.
(al. 04) - Compartilhou de forma que ela explicou e nós demos a nossa opinião, do que achamos.
(al. 05) - Houve no momento de discussão entre a turma e o professor.
(al. 07) - Na troca de conhecimento do aluno com o professor.
(al. 11) - A professora compartilhou o texto e nós, alunas nossos conhecimentos sobre teorias já
aprendidas.
(al. 12) - Quando foram trocados conhecimentos aluno / professor.
(al. 13) - Interagiu a turma fazendo perguntas e compartilhar idéias.
(al. 14) - Porque nós compartilhamos o que nos faz ter esse comportamento.
(al. 15) - Foi compartilhado os alunos e a professora, esta incentiva aqueles.
(al. 16) - Trocamos idéias a todo momento sobre o assunto.
(al. 17) - Vimos conteúdos que já estudamos (Piaget) para interpretação de um texto que ela nos
trouxe.
(al. 19) - Compartilhar com os colegas as dúvidas e as sugestões.
(al. 20) - Ela pode compartilhar sobre o que o Piaget visou sobre a educação, compartilhando o que
ela sabia sobre o mesmo.
(al. 21) - Quando ela proporcionou o compartilhamento de opiniões.
(al. 22) - Relacionar e interacionar o que eu sei sobre lógica e ética, com o que a professora trouxe de
novo.
Aula 03:
(al. 02) - O mediador compartilhou seus conhecimentos com o mediado.
(al. 06) - Novos conhecimentos.
(al.07 ) - Tudo foi compartilhado.
(al. 11) - Todos assistiram o “filme”, a palestra de Yves De La Taille e compartilhamos os aspectos
salientados.
(al. 12) - Quando compartilhamos experiências sobre o tema estudado.
(al. 13) - Debatemos, tive a minha opinião mais aproveitei a opinião do outros para que haja mais
conhecimento.
(al. 14) - Eu partilho para que se eu um dia precise possam partilhar comigo.
(al. 15) - Eu compartilhei o que eu entendi do filme e a professora também.
(al.16) - Foi compartilhado com reciprocidade.
(al. 17) - Pude expressar meu parecer do assunto.
(al. 18) - Compartilhamento de conhecimentos mediador e mediados.
(al. 19) - Troca de conhecimentos entre a professora e os alunos.
(al. 25) - Durante as discussões houve partilha (troca).
Aula 04:
(al. 02) – Mostramos o que pesquisamos e a professora manifestou sua opinião.
(al. 06) - A professora mediou seus conhecimentos sobre os itens que deve ter em um projeto.
(al. 07) – Discutimos o caminho a seguir na pesquisa.
(al. 10) – Todos participaram das decisões.
(al. 12) – Apresentamos o trabalho que foi discutido por todos.
(al. 15) - Eu compartilhei o que eu tenho e pude esclarecer minhas dúvidas.
(al. 16) - Trocar opiniões apresentar partes da pesquisa.
(al. 18) - Todos participaram das decisões a respeito do que vai ser feito.
(al. 19) – A professora aproveita nossos conhecimentos.
(al. 22) – Cada participante fez uma parte da pesquisa e trocou todas as informações com a
professora.
(al. 24) – O que foi realizado pela gente é aproveitado.
216
Aula 05:
(al. 04) - Compartilhar conhecimentos (conceitos).
(al. 05) - Quando compartilhamos a aprendizagem na leitura do texto.
(al. 06) - Há hora de cada uma falar.
(al. 07) - Tive o compartilhamento de idéias, leituras, dúvidas.
(al. 11) - Sentamos em círculos e compartilhamos idéias.
(al. 12) - Quando compartilhamos o que entendemos sobre os conceitos.
(al. 13) - Compartilhamos, idéias e opiniões das colegas.
(al. 14) - Compartilhar conhecimento para que se saia um trabalho melhor.
(al. 15) - Eu pude esclarecer as minhas dúvidas e mudar os meus conceitos.
(al. 21) - Quando compartilhamos o significado dos conceitos.
Aula 06:
(al. 02) - Muitos compartilharam suas experiências e pudemos nos ver presentes nelas.
(al. 05) - Compartilhar as experiências, em exemplos, com a turma.
(al. 06) - Eu posso pensar por mim próprio.
(al. 11) - Todos deram suas opiniões e discutiram.
(al. 12) - Quando trocamos experiências vividas.
(al. 14) - Compartilhar para que se possa sair um trabalho melhor.
(al. 17) - Na discussão proporcionou esse compartilhamento.
(al. 19) - Compartilhar com os colegas o que acha, dar sua opinião.
(al. 20) - Podemos avaliar e compartilhar os nossos conhecimentos e idéias.
(al. 24) - Um fala e o outro pensa sobre a opinião.
(al. 25) - Quando você expõe suas idéias.
07- Mediação da individuação psicológica:
Aula 01:
(al. 19) - O que foi passado através do filme cada um entende de maneira individual, construindo o
que lhe é passado.
Aula 02:
(al. 19) - O aluno assimilar para si conhecimento aplicado.
(al. 23) - Alguns alunos expuseram suas idéias.
Aula 03:
(al. 06) - Tive oportunidade de expor minha opinião.
(al. 09) - Estou me sentindo em relação a minhas opiniões divergentes, mas isso se deu
reflexivamente.
(al. 18) - Minha opinião teve significado e foi respeitada.
Aula 04:
(al. 01) – Cada um foi atendido.
(al. 02) – Tivemos atendimento por grupo.
(al. 07) – Cada um foi atendido conforme sua necessidade.
(al. 09) - Levou-me a refletir sobre eu mesma.
(al. 12) - Cada um expõe o que construiu.
(al. 15) – Tirei minhas dúvidas.
(al. 17) – Tive opiniões diferentes e fui respeitada.
217
(al. 19) – Na hora em que cada um foi escutado e pode falar o que achava e precisava.
(al. 23) – Eu sei o que quero.
Aula 05:
(al. 05) - Deixar cada um manifestar sua opinião, questionar o porquê das diferentes condutas.
(al. 19) - Cada um respeitando a individualidade do outro e opiniões.
Aula 06:
(al. 02) - Questionamento sobre suas dúvidas.
(al. 04) - Tenho minhas idéias.
(al. 11) - O que eu penso eu penso, ninguém muda de opinião com apenas uma explicação.
(al. 19) - O que cada um pensa.
(al. 23) - Me respeitaram moralmente.
(al. 25) - Expor minhas idéias.
08) Mediação da busca de objetivos e metas:
Aula 01:
(al. 04) - Que é a fonte de um trabalho por isso achei importante. Na verdade era um objetivo.
(al. 05) - Quando aparece Feuerstein com seu neto, o menino tem síndrome de Down e para
Feuerstein isso é um desafio.
(al. 07) - Reven mostrou que se tem um objetivo e metas é possível alcançar quando se quer e vai
atrás.
(al. 09) - Ajuda a construir nossa idéia, nossa prática pedagógica.
(al. 13) - O professor acredita que as crianças são capazes de aprender, mesmo aquelas que a
sociedade diz ser retardada (correm atrás de seus objetivos).
(al.14) - Ele impõe metas as crianças e a partir do resultado destas metas ele vê se o objetivo foi
alcançado ou não.
(al. 15) - Eu pude ter uma esperança de mudar a educação através da mediação.
(al. 19) - Desenvolve a busca por querer saber mais, vendo situações dadas como perdidas com
soluções através de novas técnicas.
Aula 02:
(al. 11) - O objetivo que a professora quer que nós alcance é o conceito de formação ética que a partir
do texto, buscamos-o.
(al. 18) - Buscamos uma meta.
Aula 03:
(al. 09) - Busco formas de atingir uma prática ética e solidária da pedagogia e isto ajuda a refletir
sobre mim.
(al. 14) – Eu, para que possa chegar ao auge, eu tenho que alcançar meus objetivos.
(al. 15) - Eu percebi que posso mudar e lutar por um mundo melhor e tenho em mente metas a
alcançar.
Aula 04:
(al. 06) - Para alcançarmos seus objetivos e metas em relação ao projeto.
(al. 08) – Temos um trabalho para terminar.
(al. 11) - Todo projeto tem objetivo e com várias pesquisas é possível alcançá-los.
(al. 12) - A entrevista para comparar com o que pensamos.
218
(al. 15) - Nosso trabalho teve objetivos e metas.
(al. 18) – O nosso grupo quer fazer um bom trabalho.
(al. 25) - Levantar perspectivas de publicação.
Aula 05:
(al. 13) - Procuramos identificar qual é o objetivo que a escola e a tarefa têm em nossa vida, através
do diálogo entre a sala.
(al. 19) - Busca por melhoras e metas.
Aula 06:
(al. 03) - Com relação a formatura, ao futuro.
(al. 06) - Me mostrou a querer algo além.
(al. 07) - Primeiro temos que buscar metas e depois fazer as coisas.
(al. 09) - Buscar transpor grupos operativos e o crescimento de minhas turmas.
(al. 11) - Toda aula tem seus objetivos.
(al. 15) - A professora me deixou muito alegre e me ajudou nos meus objetivos, e consegui traçar
meus objetivos.
(al. 22) - Eu tento ter os mesmos objetivos que a turma, mesmo que eles sejam utópicos.
09) Mediação do desafio: a busca da novidade e da complexidade:
Aula 01:
(al. 02) - Quando faz o teste das formas que devem ser um desenho.
(al. 05) - Quando ele encontra uma forma de ensinar as pessoas que têm dificuldades para aprender.
(al. 06) - Fazer de 100% de analfabetos pelo menos 80% ir para uma escola normal.
(al. 12) - Quando ele propõe um novo problema quando o aluno já resolveu o anterior.
(al. 19) - Busca por novos métodos de ensinar as crianças com alguma deficiência.
(al. 21) - Quando ele desafiava as crianças a fazerem o que ele pedia e também quando ele
proporcionava coisas mais difíceis a elas.
Aula 02:
(al. 17) - Só o texto que lemos já é uma extrapolação do Piaget.
(al. 18) - Ajudando no trabalho do mestrado.
(al. 22) - O texto exigia reflexão, novos conceitos, interpretação e o estabelecimento de relações.
Aula 03:
(al. 06) - Tenho capacidade de ser melhor.
(al. 07) - Trabalhar conceitos mais complexos.
(al. 11) - É tão revoltante o que se salienta hoje sobre moral, auto-estima que nos desafia a buscar um
mundo melhor.
(al. 18) - Procurando conceitos e analisando.
(al. 19) - Busca por conceitos mais complexos.
Aula 04:
(al. 02) – Quero tentar conseguir mais dados.
(al. 04) – Ela desafiou a melhora do projeto.
(al. 05) - Quando procuramos uma outra forma ou outro lugar para conseguir novos dados de
pesquisa.
(al. 06) - Para que o projeto seja de nível universitário.
(al. 07) – Queremos fazer um bom trabalho.
(al. 09) - Desafiou-me já que instigou-me a novos questionamentos em minha pesquisa.
219
(al. 11) – A professora ajudou-me a buscar uma nova forma de analisar os dados.
(al. 12) - Vamos buscar novidades e complexar o subtema para alcançar os objetivos abordados.
(al. 15) - Eu fiquei interessada em buscar novidades para a pesquisa e não ficar apenas na “cópia”.
(al. 18) – Estou disposta a melhorar a pesquisa.
(al. 17) - Fomos desafiadas a buscar mais do que apenas referências bibliográficas.
(al. 22) - O fato de coletar e analisar dados.
(al. 24) – Querer publicar e divulgar os dados.
(al. 25) – Apesar do trabalho estar ótimo, quero deixar melhor.
Aula 05:
Nenhum exemplo citado.
Aula 06:
(al. 02) - Foi lançado o desafio de analisar se a turma é um grupo operativo.
(al. 03) - Desafio de responder.
(al. 05) - Quando mudamos a nossa opinião inicial no decorrer das explicações.
(al. 06) - Desafio de compreender com facilidade.
(al. 10) - O desafio foi entender as outras pessoas.
(al. 18) - Foram feitos desafios para mediação.
(al. 19) - Desafio por novas alternativas.
(al. 22) - Desafiar a encontrar conceitos / a ser grupo operativo.
10) Mediação da conscientização do ser humano como modificável:
Aula 01:
(al. 02) - O homem confinado 14 anos mudou completamente.
(al. 03) - As pessoas aprenderam a ser “normais”.
(al. 04) - Que com muito trabalho e vontade é possível que a criança aprenda mesmo tendo
deficiência.
(al. 04) - Quando ele mostra para as outras pessoas que as crianças retardadas têm soluções.
(al. 07) - Feuerstein trabalhando com as crianças mostra que elas e nós professoras somos capazes
de mudar.
(al. 09) - Com certeza mostra o quanto o ser humano é modificável, como os avanços de
aprendizagem.
(al. 11) - A partir do trabalho que Feuerstein realiza, percebemos que muitas vezes o ser humano não
aproveita seu potencial.
(al. 12) - Quando ele conseguiu recuperar o rapaz que ficou internado 14 anos em uma clínica de
doenças mentais.
(al. 15) - Pude perceber que as pessoas “retardadas” tem potencial grande e através da mediação
podem mudar.
(al. 16) - Tive maior conhecimento do método – achava que era de outra maneira.
(al. 19) - Novos desafios, capacidade de mudar.
(al. 22) - Eu só posso educar um deficiente se eu acreditar que ele é modificável.
(al. 25) - Ele prova a todos que o ser humano é modificável.
Aula 02:
(al. 04) - O ser humano nasce com a lógica e que sem o meio é impossível o aprendizado.
(al. 05) - A partir do que a professora vai dizendo muda o pensamento (em mim) e acaba mudando a
minha conclusão.
(al. 07) - Na explicação do conteúdo.
(al. 12) - Na explicação do conteúdo.
220
(al. 16) - Eu tinha uma idéia sobre um conceito de Piaget e acabei modificando-a.
(al. 22) - A escola, os valores mudaram, porque o ser humano é modificável.
Aula 03:
(al. 09) - Sinto-me capaz de mudar a mim e aos outros, pela conscientização da ética e da
solidariedade.
(al. 10) - Mudança de atitudes a partir do que aprendemos, atitudes futuras.
(al. 12) - Quando coloca-se a própria formação ética da criança.
(al. 13) - Pude ver que tenho capacidade de mudar.
(al. 15) - Eu posso mudar, acreditei nisso.
(al. 16) - Pude perceber que pode ser mudado a ética pelo menos pela minha família.
(al. 20) - Quando a professora mostra como devemos estruturar as crianças.
(al. 21) - Quando se percebe que o ser humano (nós) pode modificar a formação ética da criança.
(al. 22) - Quando existe mudança de comportamento, com os conceitos adquiridos.
(al. 25) - Isso é passado sempre os alunos.
Aula 04:
(al. 11) - No nosso desenvolvimento do trabalho estamos muito conscientes de que os Down são
modificáveis, e que a sociedade pode aceitar isso.
(al. 23) - Ao analisar os próprios temas.
Aula 05:
Nenhum exemplo citado.
Aula 06:
(al. 03) - Mudança de papel.
(al. 09) - O ser humano pode crescer e tornar-se operativo, a sociedade pode tornar-se operativa.
(al. 16) - O ser humano pode mudar dependendo da operatividade.
(al. 21) - Sim pois percebemos que o ser humano pode exercer diferentes papéis dentro de um grupo.
(al. 23) - Os diversos papéis, a valorização dos outros.
(al. 25) - Várias vezes mudamos nossos papéis no grupo.
11) Mediação da busca por alternativas otimistas:
Aula 01:
(al. 05) - Quando Feuerstein mostra que existem outras formas para estimular a aprendizagem de
pessoas retardadas.
(al. 06) - Onde o professor intervém na aprendizagem.
(al. 07) - É necessário o otimismo para que tudo se trabalhe bem.
(al. 09) - Buscar idéias para ajudar mudar como o Feuerstein também mudou.
(al. 11) - Feuerstein otimiza as crianças a modificar-se.
(al. 13) - A inteligência vive num processo de mudanças, vão atrás de objetivos e alternativa otimista
para mudança.
(al. 14) - De quantos modos, quantos métodos, jeitos poderia realizar esta atividade.
(al. 16) - Acredita que de alguma maneira tem que se aprender.
(al. 19) - Busca por alternativas novas, desafios constantes.
(al. 21) - Ele procurava várias formas de as crianças adquirirem o conhecimento.
Aula 02:
Nenhum exemplo citado.
221
Aula 03:
Nenhum exemplo citado.
Aula 04:
(al. 04) - Apesar do grupo ser otimista quanto aos Downs em relação ao mercado de trabalho, a
realidade não é essa.
(al. 06) - Procurar com que o projeto seja de forma construtiva.
(al. 08) – Vamos conseguir realizar.
(al. 09) - Instigou a criticar e a pensar sobre mudanças em nossa realidade.
(al. 11) - Muito otimização, mas o problema é que os Down realmente são excluídos do mercado de
trabalho, apesar de o grupo acreditar nos mesmos.
(al. 15) - A pessoa com Síndrome de Down tem capacidade de fazer grandes coisas.
(al. 17) - Saímos com a certeza de que realmente poderíamos fazer um trabalho muito bom.
(al. 19) - Auxiliou numa nova visão a respeito do tema de pesquisa.
Aula 05:
(al. 13) - A tarefa é importante? Qual são as respostas otimistas que a tarefa pode nos trazer e
mostrar.
(al. 14) - Buscar alternativas para ter um bom desempenho no grupo.
Aula 06:
(al. 04) - É possível fazer da escola um grupo operativo.
(al. 05) - Quando procuramos formas de alcançar nossos objetivos.
(al. 06) - Nos mediou que temos metas.
(al. 07) - Quando a professora falou da viagem de formatura.
(al. 08) - Na questão da formatura, mediando que somos capazes de conseguir o que queremos.
(al. 09) - Somos capazes de mudar nos mesmos e conseqüentemente a sociedade.
(al. 14) - Cada um de nós muitas vezes recebemos um conceito e daí em diante e construo um a
idéia.
(al. 15) - Consegui perceber que podemos e somos capaz, pude mudar minhas idéias negativas e
acreditar em mim.
(al. 17) - Nós somos capazes de ser um grupo operativo.
(al. 19) - Busca por alternativas novas.
(al. 20) - Fez nós querer aprender, com otimismo, e segurança.
(al. 25) - Com relação a nossa formatura.
12) Mediação do sentimento de pertencimento:
Aula 01:
(al. 02) - As pessoas pertencem a sociedade e participam dela normalmente após o aprendizado.
(al. 04) - Do ponto de vista do vídeo / que a criança pode permanecer na sociedade sem preconceitos.
(al. 22) - Eu sou professora! Pertenço à essa classe e preciso fazer mais pelos meus alunos.
Aula 02:
(al. 09) - Interagir e poder expor nossas idéias nos faz sentir parte de toda essas convivência social da
escola.
222
Aula 03:
(al. 06) - Estou me sentindo bem.
(al. 17) - Hoje senti que o sentimento de grupo foi trabalhado no sentido de uma geração que trabalha
uma nova mentalidade
(al. 16) - Pertencendo a algo, grupo.
(al. 18) - Pertenço ao grupo.
Aula 04:
(al. 07) – Faço parte do trabalho.
(al. 17) - Por ser um subtema que trata sobre nossa sociedade, vimos o tipo de sociedade que nós e
os Downs estamos inseridos.
(al. 19) - Visão de nós mesmas como professoras e pesquisadoras.
Aula 05:
(al. 10) - Analisar qual líder sou eu.
Aula 06:
(al. 02) - Todos pertencemos a um grupo, com a aula pudemos perceber isso.
(al. 03) - Faço parte de um grupo operativo.
(al. 04) - Somos professoras.
(al. 06) - Houve a mediação do grupo que pertenço.
(al. 07) - Eu pertenço a um grupo mais ou menos operativo.
(al. 08) - Senti-me parte do grupo 2ºN e que tenho um papel nele.
(al. 19) - Cada aluna tem sua própria opinião.
(al. 21) - Quando cada um se identificou com determinados papéis.
223
ANEXO 6 – Questões aplicadas após o término das aulas para levantar a opinião dos mediados a respeito da
diferenciação da ocorrência dos critérios
Prezado Aluno
A análise dos critérios de medição, assinalados pelos mediados, demonstrou uma diferenças significativa entre os participantes da pesquisa.
Estamos levantando dados que explicam os fatores que interferiram nessa diferenciação.
Para tal, solicito a sua participação ao responder as questões abaixo.
Antecipo agradecimentos
1- Quais os fatores que você acredita terem influenciado a escolha dos critérios de mediação, que ocasionaram diferenças significativas entre os alunos?
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2- Como você encarou a sua participação na pesquisa? Você acredita ter colaborado de forma sincera?
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Questão 1 - Quais os fatores que você acredita terem influenciado a escolha dos critérios de mediação, que ocasionaram
diferenças significativas entre os alunos?
224
ANEXO 7- Respostas das questões propostas no Anexo 6
Aluno 01 –
O modo como cada um vê a aula. Aquele que começa a aula ciente de que deve analisar, analisa criteriosamente. Aquele que é surpreendido pelo
papel no fim da aula vai no “chutômetro”, marca qualquer coisa.
Aluno 02 –
Nas aulas em que foram mediados mais transcendência, comportamento de compartilhar e sentimento de competência percebemos mais critérios.
Aluno 05 –
Eu acredito que os conceitos de cada critério, o que significa e onde podem ser observados é muito importante, pois na hora de marcar, sem
sempre temos conceitos claros em nossa mente.
A falta de tempo de tempo também influencia, pois algumas vezes você só tem poucos minutos para responder, não oferecendo tempo para
colocar as questões (que estão no pensamento na folha).
Aluno 06 –
A vida pessoal das pessoas pode ocasionar diferenças de pensamento.
226
Aluno 08 –
O mau entendimento dos critérios, o fechamento de alguns à participação e não
identificação dos critérios.
Aluno10 –
Acredito que os fatores que me influenciaram a assinalar os critérios foram situações
vividas ou discutidas. Talvez, alguns dias, não houve motivação para escrever ou para colocar nossa
opinião.
Aluna 13 –
Cada um tem um modo de adquirir a mediação, cada um adquire se um jeito. É por isso que
há diferenças, pois depende da cabeça, do modo de pensar de cada pessoa.
Aluno 14 –
A todo o momento você está mediando. Vamos aprendendo, tendo uma nova visão e isso
nós dá resultados diferences em nosso conhecimento. Tem a ver com qual critério a gente mais se
identifica. A nossa visão do que significou, porque e para que disso.
Aluno 17 –
Se numa alguns observam uns cinco critérios e outros nenhum, vejo que esses não
estavam abertos á mediação. Porém se a maioria não marca (menos de três), percebe-se que
realmente não houve aquela mediação.
Aluno 20 –
Os principais fatores somos nós e a professora, pois podemos ver em nós os critérios de
mediação e na proposta da professora. Pois observamos tipos de mediação e podem ocorrer muitas
diferenças entre nós.
Aluno 24 –
Eu acho que as pessoas marcam os critérios que elas sabem o que quer e escolhem os
que acham que aconteceram.
Questão 2 - Como você encarou a sua participação na pesquisa? Você acredita ter
colaborado de forma sincera?
Aluno 01 –
Tenho procurado participar da melhor forma possível. Coloco os critérios com sinceridade,
mas sinto que às vezes alguns critérios passam despercebidos.
Aluno 02 –
Eu li, estudei e compreendi sobre os critérios e marquei de acordo como que entendi.
Aluno 05 –
Acho que a minha participação é importante para que a proposta da professora seja
realizada.
Eu coloco no papel o que realmente vejo, procuro sempre ser clara objetiva.
227
Aluno 06 –
Eu encaro como uma forma diversificada de nós avaliarmos. Sim. (referindo-se ao ser
sincero)
Aluno 09 –
Penso que estou ajudando a professora, pois fui extremamente sincera no que senti
durante as aulas. Apesar de ainda ter dúvidas sobre o critério 6 e 7.
Aluna 10 –
Acredito que a minha participação não foi de grande importância, fui sincera quando respondi
o questionário todas as aulas.
Aluno 13 –
Encaro de forma participativa, é colocado tudo com sinceridade, só é colocado realmente o
que percebo.
Aluno 14 –
Eu acho que podia ter usado mais tempo para interação com o conteúdo, daí a participação
seria mais ativa.
Sim eu acho que tudo o que eu falo/se falo é com sinceridade.
Aluno 17 –
Tenho procurado ser bem crítica nessa questão, ponho o que realmente foi mediado.
Aluno 20 –
Eu considero fraco. Sim, eu tento expor o que eu entendo na aula, mas poderia ser melhor
a minha participação.
Aluno 24 –
Eu não participei muito, pois não coloquei as minhas idéias para todos verem.
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