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banda do Aeroporto, na Vila União[bairro], onde alugou um quartinho mesmo, era só eu e meu
menino.
O narrador (BENJAMIN, 1983) não vem, necessariamente, de longe Ele é alguém
que pode ser simples, como Dona Rita, mas é o recordador e na sua memória traz consigo o
sentimento do grupo familial. A história de vida da narradora é a história da migração, da
pobreza e da mulher que vem para a cidade se submeter a morar numa invasão e sonhar com um
lar para sua família.
Morando perto do aeroporto de Fortaleza, ela trabalhava numa cantina da CAGECE
Servia a comida de todo mundo, servia minha casa também, era pertinho eu ia deixar pra ele
[filho Rogério] lá, assim eu vivi um bocado de tempo. O filho, porém, adoeceu de sarampo, e ela
teve que deixar o emprego, pois não tinha meios da vizinha que lhe ajudava ficar com seu filho.
Ele ficou de olho trancado [fortes sintomas do sarampo]. Como deixou do emprego, também
saiu do bairro Vila União. Aí voltei pro Pirambu e aluguei de novo um quartinho e fui tratar do
menino [Na sua narrativa, ela não contou que, quando chegou a Fortaleza, veio morar no
Pirambu. A informação era do conhecimento deste estudo pelo ao fato de sua mãe ter uma casa
no bairro].
Depois desse emprego, ela contou que arumou outros e voltou para Sobral. Seu filho já
contava sete anos, quando apareceu um velho na minha vida. Ela ia fazer 26 anos e ele já era viúvo,
59 anos, e queria casar com ela, ao que ela respondeu que não, pois ele tinha idade e não aceitaria
que maltratasse seu filho. Segundo ela, porque a maioria dos padrasto e madrasta maltrata, né?
Decidiram então se unir maritalmente e ele ajudaria a criar o menino Rogério. O companheiro disse
que não produzia mais filhos: Eu fui na onda do velho, o velho disse que não fazia mais nada, não
fazia mais filho, eu fui na onda dele, mulher só que nessa onda eu arrumei mais 5, justamente essas
bênçãos que eu tenho, é o Ricardo, o Ribamar, o Reinaldo a Rosana e a Regiane, cinco.
O companheiro trabalhava numa fazenda e ela o ajudava no trabalho pesado, durante
anos, criando os filhos e trabalhando, mas segundo ela o homem bebia uma pinga, cachaceiro,
ignorante, ciumento que eu não podia olhar pra cara de ninguém, eu tinha que ficar olhando
pra cara dele, aí pronto passou essa onda, aí passamo uma fase boa.
Ela contou que também sofreu nas unha dele, e explicou que ele não lhe batia, mas
sabia usar as palavras para maltratá-la na boca dele, de rapariga eu não passava.Depois de um
tempo, ele ficou desempregado, e a família voltou para o sertão, pra roça de novo, fui trabalhar
campinando, plantando, trabalho pesado, trabalho pesado de homem mesmo, aì eu tive esses
menino tudinho sofrendo, aí melhorou mais uma coisinha aí quando ele se aposentou.
Voltou para a cidade de Sobral com o cônjuge sexagenário e os filhos e, depois de
algum tempo, disse: Romilson, sabe de uma coisa, vou voltar pra Fortaleza de novo, aí voltei
pra Fortaleza de novo e até hoje tô aqui. Chegando em Fortaleza, diz ela:
Fui morar de aluguel e fui trabalhar de cigarreira nas praia no Mucuripe, no Serviluz, e aí
minha filha, todo dia eu tava com minha caixinha de cigarro pegava mercadoria alheia e
ganhava o mundo trabalhando pra poder sobreviver pra sustentar meus filhos. O dinheiro
dele não dava, o dinheiro dele só dava pra pagar a passagem e o cigarro que ele me dava
durante o mês, e eu tinha que pagar aluguel de casa e sustentar os filhos que era tudo
pequenininho. Até minha filha que um dia eu cheguei em casa, eu tinha tirado uma rede no
galego e tinha guardado o dinheiro do aluguel da casa, aí saí fui trabalhar, quando eu
cheguei o abençoado de Deus tinha ido embora. Mulher, já com 74 anos levou minha rede,
levou o dinheiro do aluguel da quarto, foi embora, me deixou