106
[...] quando o professor não é muito seu amigo, qualquer coisa ele te
critica, isso destrói o aluno, poda o aluno. Eu estou falando por
experiência própria [...] eu acho que a primeira coisa é aquela
confiança, a amizade, você não ir com o pensamento pré-concebido,
você aceitar o aluno como ele é, aquilo que ele trouxe. Aí, com jeitinho,
você ir trabalhando aquilo que você quer mostrar pra ele, mostrar no
que ele não faz certo, que ele tem que fazer melhor. E você ter aquele
jeitinho de falar. Porque o canto é diferente dos outros instrumentos. Se
não escolher bem as palavras, em vez de você conseguir liberar aquela
voz, você vai é trancar aquela voz (Juliana).
A fala de Juliana nos mostra que era fundamental para ela que o professor de
canto a apreendesse com as suas particularidades, que considerasse suas vivências, e
daí partisse para trabalhar com ela. Isto, segundo seu relato já mencionado
anteriormente, não aconteceu quando ela ingressou no Núcleo de Canto [erudito]. É
relevante o comentário que ela faz sobre a necessidade de o professor usar as palavras
‘com jeitinho’ com o aluno de canto para não ‘trancar’ a sua voz ao invés de ‘liberá-la’.
Partindo do argumento “a voz é emoção, não importa que seja a cantada, a falada
ou a desprovida de sentido” (COSTA; SILVA, 2008, p. 164), um posicionamento
excessivamente crítico do professor de canto pode retrair seu aluno de forma que ele se
sinta inibido em cantar. Assim, para Juliana, o receio em se expor estaria ligado ao medo
de ser insistentemente criticada, especialmente pelo professor de canto.
Viviane, por sua vez, abordou o medo em se expor no contexto de apresentações
artísticas, outro aspecto ligado às questões pedagógicas. Em seu discurso, ela nos
informou que costumava ficar nervosa no momento da apresentação, o que só percebeu
quando subiu ao palco pela primeira vez:
Essa coisa do nervosismo eu nunca nem soube, porque eu não sou
uma pessoa muito tímida [...] No final do semestre, na outra escola de
música, tem audições. ‘Vamos cantar?’ ‘Vam bora!’ Aí, chega na hora,
aquela luz em cima de mim, aquele escuro lá na frente... A voz não sai,
a respiração não vem... Eu fui saber ali na hora que eu tinha nervosismo
de palco (Viviane).
Assim como expresso pela sua fala, pouco antes da audição dos alunos do ‘canto
popular’ que já mencionamos ter presenciado, ouvimos a professora Márcia recomendar
que Viviane ‘se soltasse’. Essa recomendação aconteceu algumas vezes no contexto de
sala de aula, o que nos indica que o seu receio em se expor, talvez até por estar inserida
em formato de aulas em grupo, já aparecia em situação de aula.
Um pouco diferente de Viviane, Verônica, aluna da professora Clarisse, que
também fez parte da mencionada audição, comentou que as apresentações artísticas
são, para ela, um momento, ao mesmo tempo, de sufoco e prazer: