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por Martín-Barbero (2001, p. 323-324) de que “o que ativa essa memória não é da
ordem dos conteúdos, nem sequer dos códigos, é da ordem das matrizes culturais”,
por isso, cada variante de Casa de Pensão pode ser entendida de acordo com o
público que a lê.
Ao focalizarmos Casa de Pensão, encontramos em Araripe Júnior
apreciações críticas que lhe conferem um lugar de destaque dentre os críticos de
renome que assistiram ao aparecimento do romance, sobretudo pelas contribuições
realizadas com a percepção de uma psicologia social objetiva na caracterização dos
personagens, guiados pelos impulsos e formas advindas do meio que serve de
cenário, tendo em vista que:
Ali [Casa de Pensão] não há reses, nem demonstrações. Os personagens
valem uns pelos outros; encontram-se e relacionam-se naturalmente,
impelidos pela fatalidade do meio; e não se perfilam, não se curvam, como
nos romances antigos, à maneira de serventes humildes, aplainando o
caminho do herói, desempenhando uma função no enredo, guiando
docilmente a ação a um fim preconcebido, embora com sacrifício das linhas
principais dos respectivos caracteres. [...] O que seu espírito [de Aluísio
Azevedo] abrange e apanha com mais facilidade é a ligação dos caracteres
entre si. Vide, por exemplo, com que rara felicidade ele, depois de
apresentar o estudante Amâncio de Vasconcelos no Rio de Janeiro, soube
agrupar em torno deste personagem os objetos e as pessoas que com
mais força deviam reagir sobre o seu temperamento. Daí uma aglutinação
nas cenas que se sucedem, que dão aos fatos descritos um encanto
indeclinável.
A vida é contagiosa. O mundo é formado por uma série de cárceres, aonde
nos é impossível escapar à influência que os detentos, de ordinário,
exercem uns sobre os outros [...] (APARIPE JR apud BOSI, 1978, p. 139).
Tanto o cenário captado pela lente do escritor, quanto os personagens,
oriundos de seres tipificados, revelam o ponto de vista de Aluísio Azevedo e o
mundo criado por intermédio da ficção. Desse modo, Casa de Pensão reúne
caracteres associados ao cotidiano assistido pelo autor, pois:
Os escritores realistas, grosso modo, podem ser vistos como alguém que
usava uma câmera, como dissemos; todavia, quando nos carregam com
eles da praça para a rua, da rua para a casa e daí para os cômodos
específicos onde vivem as personagens, fazem isso com a quantidade e a
qualidade de sugestão verbal que, por meio da leitura, traduzimos em
imagens mentais. Os cômodos, os objetos, as personagens e o próprio
movimento são parte de uma espécie de “olho da mente” que pertence ao
mesmo tempo ao autor e ao leitor. Entretanto, uma câmera móvel
executando a mesma movimentação, o faz com uma rapidez que requer a
mesma rapidez do olhar, numa célere e abrupta associação de imagens,
que pouco solicita da mente. Tudo está pronto para ser visto, e não