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Resumo
O primeiro contato entre protozoários do gênero Leishmania e hospedeiros mamíferos ocorre
na derme durante o repasto sanguíneo de fêmeas flebotomíneas infectadas. Os parasitos são
então expostos a um novo microambiente que consiste, principalmente, da matriz extracelular
(MEC) do tecido conjuntivo, composta por proteínas fibrosas e multifuncionais circundadas
por proteoglicanos e glicosaminoglicanos. Essa estrutura é bastante dinâmica, fornece aos
tecidos propriedades físicas e funcionais e realiza importante papel no processo de
desenvolvimento normal bem como em várias patologias. Diversos estudos sugerem que as
leishmânias possuem moléculas de adesão de superfície responsáveis pela interação entre
moléculas da MEC durante os estágios iniciais da infecção. A presença destas moléculas pode
estar envolvida na patogenia das leishmanioses e explicar o tropismo de certas espécies pela
pele, onde há abundância de componentes da MEC. Devido à importância da MEC nos
processos inflamatórios e infecciosos o presente estudo se propôs a analisar as alterações
ocorridas nesta estrutura durante a infecção murina por Leishmania (Leishmania)
amazonensis, em linhagens de camundongos com diferentes graus de suscetibilidade a este
parasito. Para isto foram inoculadas 10
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formas amastigotas de L. (L.) amazonensis no coxim
plantar esquerdo de camundongos BALB/c e C3H.He, que foi retirado após necropsia e
processado para análise histopatológica e imunohistoquímica, aos 30, 60, 90 e 120 dias após a
infecção. A cinética da lesão também foi avaliada nos mesmos tempos. O estudo demonstrou
que os camundongos BALB/c infectados por L. (L.) amazonensis apresentam um processo
inflamatório progressivo ao longo da infecção, composto de polimorfonucleares e macrófagos
parasitados, enquanto os C3H.He apresentam um processo inflamatório mais discreto. Há
diminuição do colágeno tipo I e progressivo aumento do colágeno tipo III junto às células
inflamatórias na derme reticular, até o 60º dia de infecção, nos dois modelos estudados. Nos
camundongos BALB/c, a partir do 90º dia de infecção, não se verifica a presença do colágeno
tipo I e tipo III e essa degradação é evidenciada até mesmo junto à lâmina reticular da
membrana basal. Os camundongos C3H.He após 90 dias de infecção apresentam histologia
normal semelhante a dos animais controles. As fibras elásticas e elaunínicas se mantêm
preservadas ao longo da infecção nos dois modelos utilizados. As oxitalânicas estão
degradadas no BALB/c durante toda a infecção, contudo, os camundongos C3H.He
recuperam estas fibras a partir de 90 dias de infecção. Nesses camundongos, a análise
histopatológica aos 90 dias de infecção e a imunohistoquímica aos 120 não evidencia a
presença de parasitos, corroborando para a hipótese de que estes animais são capazes de
controlar a infecção. Há infecção do tecido muscular nos dois modelos estudados, entretanto o
C3H.He apresenta regeneração muscular a partir do 90º dia de infecção. Ocorre um aumento
da fibronectina, nos camundongos BALB/c infectados, enquanto nos C3H.He há uma
diminuição desta proteína. Entretanto, não há alterações significativas da laminina entre os
modelos utilizados. Podemos concluir que a habilidade dos camundongos da linhagem
C3H.He de controlar a infecção estaria associada a sua maior capacidade de expressar
componentes da matriz extracelular que estão associados à manutenção da integridade e
homeostasia tecidual.
Palavras-chave: Leishmania (Leishmania) amazonensis, matriz extracelular, camundongo,
colágeno, fibronectina, laminina.