
Os projetos dos encouraçados e dos monitores
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encouraçados eram de Napoleão Level
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, e
as máquinas instaladas foram de projeto e construção nacionais, a cargo de Carlos Braconnot
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.
Dificuldade maior do que o reparo e a aquisição do material flutuante era o suprimento da
Esquadra de tripulações suficientes às necessidades da guerra. Navios e seus pertences adquire-se
ou se constroem de pronto, bons marinheiros não se adquire e menos ainda se formam em pouco
tempo. Nem quanto à oficialidade, nem tocante a praça-de-pré
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das diversas classes ofereciam os
corpos de Marinha pessoal correspondente ao maior número de navios que era preciso armar. Como
solução nomeou o Governo alguns oficiais de náutica, ou pilotos, segundos-tenentes de comissão;
os guardas-marinha
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foram convocados para suprir os vazios da oficialidade.
As praças-de-pré da Armada distribuíam-se pela marinhagem, Batalhão Naval e Corpo de
Imperiais Marinheiros. Um dos obstáculos a vencer era o preenchimento dos numerosos claros
existentes nesses corpos. No Corpo de Imperiais Marinheiros, que formava o grosso das guarnições,
era constituído por pessoal educado profissionalmente, militavam, em 1865, apenas 1929 praças de
um total necessário de 2496. As Companhias de Aprendizes Marinheiros encontrava-se também
desfalcada com 734 menores de um total necessário de 1017. Na carência já notada de voluntários,
e a falta de componentes de uma Marinha Mercante que cobrisse as necessidades, decidiu o governo
conceder prêmios aos que se alistasse.
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Os monitores encouraçados eram de construção mista de madeira e ferro e levavam couraça de ferro; sua única
propulsão era a vapor; dispunham de um canhão montado em torre giratória, na linha do centro do navio; e tinham
pequeno calado e ótima manobrabilidade. O projeto obedecia as linhas de seu precursor da Guerra da secessão, o
Monitor.
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Napoleão João Baptista Level nasceu na Bahia, em 20 de novembro de 1828, iniciou sua vida profissional no
Arsenal de Marinha da Bahia como aprendiz de 1ª classe da oficina de carpinteiros de machado. O talento do jovem
Napoleão Level na arte da construção naval impôs sua transferência para o Arsenal de Marinha da Corte. Com a
capacidade demonstrada nas aulas de Geometria, Desenho e Sala de Risco desse Arsenal, foi enviado para estudar
Engenharia na Europa. Enquanto estudava foi incumbido pelo Governo brasileiro da fiscalização da construção das
Fragatas D. Afonso e Amazonas, na Inglaterra. Regressou em 1852, sendo elevado ao posto de 1º construtor no Arsenal
da Corte, foi o primeiro brasileiro graduado em Engenharia Naval. Seis anos depois, foi lançado ao mar o Patacho
Iguassú, construído no estaleiro da Ponta da Areia de acordo com seus planos. Em 1860, assumiu o posto de Diretor de
Construções Navais do Arsenal de Marinha da Corte. Em fins de 1862, retornou à Europa para estudar construção de
navios com o casco protegido por couraças de metal, os navios encouraçados. Napoleão Level notabilizou-se pela
competência demonstrada no imenso esforço deflagrado pelo Arsenal de Marinha durante a Guerra da Tríplice Aliança
contra o Paraguai.
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Carlos Braconnot nasceu no Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1831. Com 15 anos de idade, matriculou-se na
Academia de Marinha. Guarda-Marinha lutou na guerra contra Oribe e Rosas, tomando parte na Passagem de Toneleiro.
Em 1852, foi mandado a Inglaterra para instruir-se na construção de máquinas a vapor. Após quatro anos de intenso
aprendizado, empregou seus conhecimentos nas Oficinas de Máquinas do Arsenal de Marinha da Corte, como 2º
engenheiro. Foi nomeado Diretor dessas Oficinas em 1863, com a eclosão da guerra da Tríplice Aliança contra o
governo do Paraguai dedicou-se intensamente ao preparo da Esquadra para o combate. Projetou e construiu as máquinas
para os navios que a Marinha necessitava, como os Encouraçados Tamandaré, Barroso e Rio de Janeiro; os Monitores
Pará, Rio Grande, Alagoas, Piauí, Ceará e Santa Catarina; e as Canhoneiras Forte Coimbra e Pedro Afonso. Também
participou ativamente no reparo dos navios que seguiam para o teatro de operações.
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Designação dos militares que não tinham patente de oficial, atualmente é denominado de praça ao militar pertencente
a qualquer corpo ou quadro do pessoal subalterno da Marinha do Brasil.
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Denominação dada aos alunos da Academia de Marinha (atual Escola Naval) em seu último ano de curso.